Economia

Varejo a granel cresce e ganha ruas de Belo Horizonte

Venda fracionada de farinhas, sementes, frutas secas, grãos, condimentos e chás, dentre outros produtos conquista consumidores da capital

Por Adriana Diniz
Publicado em 03 de janeiro de 2022 | 04:00
 
 
 
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Hábito comum dos brasileiros até a década de 70, o varejo a granel voltou para ficar em Belo Horizonte. A venda fracionada de farinhas, sementes, frutas secas, grãos, condimentos e chás, dentre outros produtos, que começou timidamente fora dos corredores do Mercado Central há cerca de cinco anos, agora encontra ponto nos mais variados bairros da cidade. Pesquisa específica sobre esse movimento ainda não foi realizada, mas a analista do Sebrae-MG Laurana Viana garante haver a percepção de crescimento desse tipo de comércio.

“É uma tendência que voltou com tudo no mundo fitness, com alimentos fracionados e naturais, por vários motivos. Os mais fortes são o preço e o consumo consciente”, afirma Laurana Viana. Como o perfil do mercado fitness é de famílias de duas a três pessoas, o consumo é menor. Comprando a granel, tem-se uma variedade maior de produtos a um preço menor, pois não há perda da data de validade nem desperdício, frisa a analista. E a pegada ecológica desse tipo de varejo faz toda a diferença, ao eliminar embalagens de papelão e plástico que acondicionam os produtos nas gôndolas dos supermercados.

A expansão da rede Sr. A Granel em plena pandemia é prova disso. Considerada pioneira na capital fora do circuito de mercados e feiras, a primeira loja abriu as portas na Savassi em 2016, conta o gerente geral em BH, Diogo Vieira Ramalho. Hoje são sete unidades na capital, três delas inauguradas neste ano – centro, Santa Efigênia e Cidade Jardim.

E, como a demanda por uma alimentação saudável não para de crescer, há planos para a abertura de pontos na Pampulha, no Cidade Nova e no Floresta. Com um mix de 850 a mil produtos, a rede tem mais 14 lojas no interior do Estado. Todas com nutricionista de plantão para orientar sobre o consumo.

Dicas. Além do certificado de origem dos alimentos, os produtos a granel precisam ter data de validade e etiqueta. Devem ser expostos em vasilhame transparente, sempre tampados. A alta rotatividade garante o frescor. Laurana Viana enfatiza que a higienização do ambiente é tudo: observe piso, paredes e teto.

Pesquisa de comerciante revela demanda em regiões periféricas

O comerciante Mateus Rabelo inaugurou a Viver Mais Natural, Saúde a Granel há três meses, no centro comercial do Barreiro, em função da concorrência.

“Pesquisei o mercado de BH desde março e identifiquei que a demanda por produtos a granel está crescendo nas regiões periféricas”. Ele frisa que o Brasil é o quarto maior consumidor mundial de produtos naturais: “A maioria dos meus clientes tem mais de 60 anos e quer envelhecer com saúde”.

Araci Bicalho, que abriu a Empório Nacional no bairro Gutierrez em 2016, também percebe o crescimento de lojas a granel na cidade. “A Covid veio para isso. Mais de 90% das pessoas (clientes) estão preocupadas em ter alimentação mais saudável”, afirma. A clientela da comerciante também é voltada para o consumo consciente. Muitos costumam levar sua própria embalagem, normalmente de vidro, ou compram saquinhos de pano para acondicionar os produtos.

Culinária e inflação contribuem

Além do núcleo familiar menor, do preço atraente e do consumo consciente, a chef e proprietária da escola gastronômica e vegana Le Brunch, Lêda Maria Nardelli, acredita que a “gourmetização” imposta pelas dezenas de programas culinários na TV levou as pessoas a cozinhar mais. E receitas que exigem variedade maior de ingredientes e condimentos são encontrados com mais facilidade a granel: “A diversidade é muito positiva. São muitas pequenas quantidades”. 


A analista do Sebrae-MG Laurana Viana lembra que o brasileiro teve que cortar gastos em função da alta da inflação – 10,74% em 12 meses, de acordo com Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). “Na ponta do lápis, viu que é mais barato cozinhar em casa do que comprar comida fora, como aconteceu nos primeiros meses da pandemia, em 2020”, explica.

Crescimento. O acumulado de vendas do varejo como um todo no Estado, até outubro de 2021, mostra um crescimento de até 6,8%, revela o economista-chefe da Federação do Comércio de Minas Gerais (Fecomércio-MG). No país, o índice foi de 6,3% no período. O economista atribui o fato à retomada do atendimento presencial do consumidor, impulsionado pelas rodadas do auxílio emergencial e pelas datas comemorativas.

Mas, segundo ele, o panorama é de incerteza em 2022. Além de ser período eleitoral, há novas variantes do coronavírus e desafios conjunturais, como alta da inflação e a taxa básica de juros a 9,25%, que deixou o crédito mais caro.

 

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