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Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai

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:191.~

LITTERARXO E ESTATISTlCO
DO

RIO GRANDE DO SUi.:

PO&

ALFREDO FERREIRA. RODRIGUES

ANN.O

Editores - Pintos ! C~
PelotU, llio Gru•e e Porte 1J1tre
Bhaclo 4C> ate ez:ude n Sal
r lado ímpar!? .

- 122 -

A F l ora
STEREOSCOPIOS NOS COSTUMES SUPERSTIÇÕES E LENDAS BRAZILEIRAS
E AMERICANAS •

Ampliadores, Lanternas de ampliação e de projec~ão O archeologo percorre as ruinas de u ma cidade an-


tiga, examina as columnas de uma t?aleria que tombou,
tira uma photographis. de uma parte ainda conservada,
LANTERNAS MAGICAS faz diversas excavações, copia e decifra inscripções, tudo
para reconstruir uma architectura e descobrir as leis a
COM GRANDE VARIEDADE DE VISTAS que obedeceu.
Mais instructivos e não menos interessantes sãs os
Pequenos cinemat.o graphos restos e espolios do inundo intellectual, os quaes nos re-
vetam a natureza, a organisação e estado mental das so-
com vistas coloridas, dando a illusão eied,a des de outtora. São as tradições ·q ue o pt>vo conser-
completa do movimento va nas suas lendas, mythos, contos e usos Sultérstioiosos.
Como os óbjectos materiaes caracteristieos e curiosos
que nos legaram gerações precedentes, vão parar em nos-
sos muséos, assim os despojos intellectuaes, tomando cor-
Tratados de photographia po nos costumes, idéas e lendas de cada nação, reunem-se
h oje nôs archivos da historia, estes museus do n1undo
EM PORTUGUEZ E F~~CEZ mental, que o homem observador e o historiador avida-
mente analysall1- como su bsidios para a reconstrucção de
Tratados especiaes sobre retoque um escuro passado.
Estes estudos a que nos grandes centros de cultura,
PINTURA DOS POSITIVOS P aris, Londres e Berlim, se dedicam actualm~nte eom pr~
ferencia, se propõem recolher e classificar as tradíções his-
GRAVURA CHIMICA E PHOTOGRAPHICA toricas, cosmogonicas e gentilicas conservadas na mente
. )
vulgar, nos habitos, usos e costumes. São conhecidos estes
1\t\PLII\ÇÕ ES .ETC. ETC. ~studos pelo nome de folklo'r , palavra inglez:a, que tra-
duziram por «saber tradicional popular.» Podia-se tambem
chamar «litteratura oral» que, a bem dizer, v:ive na bocca
EncarreeamQ-nos de ma.n dar ir qualquer do pó,vo, e como a litteratura é considerada a e-xpressão
artieo por enco~m~nda mais fi"el da sociedade, não pode haver material mais pre-
cioso par:·a sua historia e conhecimento do qu:e estas tra-
Dão-se ínformações detalliadas a quempedir dições: pophlares, em que vive e pulsa á alma,, 6 pensar
e .sentir de urp. povo. ,
P,REÇOS SEM ' COM PETENCIA *} Publicando aqui de novo ~on1 capitulos novos. Publicar
o bem acertado estudo sobre a só a materia nová que neste
LIVRARIA AMERICANA Flora, que tamanho interesse trabalhÔ se contem seria tirar-
despertou entre os estudiosos lhe todo o interesse. Por isso
do nosso folklor, devo pre- resolvi fazer a publicação inte-
PINTOS & C.
,, yenir que não se trata de uma gral, certo de que isso será mais
PELOTAS - RIO GRAN DE - PORTO ALEGRE simples reproducção, porem de agradavel e mais ufil aos estu-
um trabalho refundido consi- diosos.
deravelrllente a u g menta do e
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eaca levantada qne fugisse. P orem a batida não d.e u re
Depois de te? 1nos levado nossos leitores por um sultado melhor q~e a pese~ do dia anterior ; il~- aves, os
va!'iada galeria de lendas e costu1nE·s que figu re1n nas r quádruJ?edes se t~nh '.11n r ebr ado par a outra re~1ao e ap~­
giões da ayifauna, queremos desta vez conduzil-os pelo nas obtiveram o 1nd1spens~vel. A escassez faz1:a.-se s~nt1 r
amenos v.ergeis da flora brazilelra e an1ericana. Gra1nd toda aquella lua ; .u 1na noite con vers:avam os dors a1n1gos
parte destes trabalhos são sobras ou como lascas do s assentados sobre um tóro (t!le lhe servia de banco perto
vero labor de estudos criticos e histor icos. da porta, quando lhes appareceu um valente guerreiro,
que sahira d~ e:-:;curidão todo e,n \7 01vido em raios. de luz.
1 - PLANTAS LEGENDARIAS e CU!.TURAES Approx1mando-se delles, disse que era enVlado de
Nllandeyara, que ti nha ouvido sua conversa n-a escuridão
Por estas entendemos e1n geral as que se cultiva e que o mandara para propor cionar-lhes o alimento que
em escala grande para fins detenninados, como as allillen ]hes faltav::i. Para esse fim devia luctar com caà"a um, para
tici-as, as industriaes, como as textis, de tintu r aria, p ver qual u.elles era o n1ais forte, tendo o maís debil de
aquellas todas que figuram no inytho ou na histqria dis sacrificar- se e ser enterrado perto da cabana. Da sepultu-
tingui ndo-as das, medicinaes, q_u e trataremos ~a segund ra nasceria uma planta util aos hon1ens, que di\ria fructos
parte. S.ã0 v:-eg-etacs que inais de perto aco1n panham · exquisitos e sufficieutes pa.r~ sustentar em to<ilo o ten1po
ho1nem no seu -per ctttso civilisadôr ê estão sob a in:(lnen as duas familia s e a quantos ~ (}u}tjvassem.
eia iminediata deUe, con10 a ma ndioca, o milho e outros. · E im1nediatameníe começou a lu cta no pateo. O n1ais
eri gem do milho traco era Avat.y : este era o non1e de um <los caçadores.
Deu-lhe sepultu ra o sobrevivente ami go, que lam€ntava a
Que o milho é de origem an1ericana attestam-no· inevitavel separação ; o o guerreir o clesappareceu na som-
descobridores e primeiros explorarlores do novo mund b ra donde sa11ira. Aque1le tinha d e trabalhar com afinco e
Tanl bem os botanicos como Leu nis e outros 11ão se oppõe den1orar -se muito ten1po nos b 0Bq11es e noi:< campos para
a esta derivação. Uma confirmação desta opin ião en.con grangear o ali1nento in<lispensavel para a sua fan1iJia e a
tramos tambem nas lendas que corr em entre os indigen do amigo.
da Amerid_~, tanto do Sul como d.0 Norte, sobre a ori~ Em un1 dos primeirbs dias da primav:el'a foram sur-
deste pl'ec10so g~'ão. prehendidos pela ag·1•ada:vel nova de qu e no t umu1o de
Entre os g uaranis achou-se o seguinte mytho. Avaty tinha i1ascido u1na for-n1osa planta de ·g randes fo-
Em tempos perdidos na noite ela antiguidade, quan· lhas verdes e espigas douradas. Viu então o caçador cum-
do viviam os ind ios ru ui afastados uns dos outros, cad prida a promessa feita pelo luctador e tranquillisando-s.e
fan1ilia devia por si só cuida r e pro&urar o su stento n comprehendeu a gra nde sabedoda de Nhandey.ar a, que
caça ou na pesca. ' pode &ucrificar tnn ho1ne1n de be1n p 2ra o bem ae todas
Dois caçadores, porem, havia que viviam juntos as suas cr eaturas.
eram os unicos que se ajudavam na caça e repar tiam Desd e então chamam . os guaranis a-quella planta
prodncto della entre si e suas familias. avaty, em r ecordação do indio sacrificado, e os natntaes
Um dia q ua ndo foi·am pescar, disse u1n d elles : N de toda a quella terra cultivaram con1 esmero nas suas
seria possiv:el q ue Fi;J,ande.yarçt,, p grande espiritQ, _q pequenas r oças o prilrroroso gr ão, cuja espj,ga, â'<> ser pas-
1

n1anda as aves do c~ e os an1mae~ da terra para nps sada de m ão em mão1 syrn l;,0lisa a união e aff-ectuo::;a ami-
alimento e o de nossos ~ilhos, se dignasse de pôr so}Jre zade. P ois nenhu1n bon1 índio olvida que a abundan cia
terra outra éas"ta de alimentos que fosse m mais faceis q ue propor ciona esse .admir ~ vel alimento, tanto Rn '; ho-
colher ? Os fi uctos silvestres têm sua curta est~ç_ão, mens como a seus anünaes, provem do sacrificio t.c um
caça e a pesca costu1nam faltar-nos por vezes e muito amigo fiel. ·
p assariamos, se as r aízes de umas plantas e os grelos E xiste na An1erica do Norte uma variante extensa
palmeira não uos ser vissem tambem de su stento. d esta lenda, r ecolhida graças ás investigações de C. l\Ia-
Em· t aes conver sas passaram as horas ; a pesca n thews, que omjttimos para não sermos p rolixo.
foi mui abundante naquella occasião. No dia seguinte e O milho, base da alimentação dos antigos hab.i tan-
apromptar àm os dois caçadores seu s a r cos e flechai;; e tes do Mexico f\ da America Central, occupa um logar iln-
r igiram··s e ao matto em procu r,a de jacú s. Oaminh~àr· portante na sua n1yt,hologia ~ hi'storia tra dic.jon al
muito, detendo-se· por vezes para escutar o ruido de u
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Suas tradições referem que a invenção deste cereal seguem os homens. O maravilhoso vegetal chamado man-
deu-se depois da grande inundação diluvia! da antiguida- dioca nos apresenta este phenomeno ou presta-se a reali-
de americana e que foi eUectuada por Quetzalcohuatl ou s~l-.?· Antes de tratarmos este ponto apontemos os earaete-
por seu cotnpariheiro Yucateca, Oiie:rnatz. r1stieos geraes desta plant.a. · ..4
Naquella epoca os deuses, desejando encontrar com Sua origem americana está fóra de duvida, ainda
que acudir a subsistencia dos homens, se puzeram em Q}le.seja cultivad' na 4l?ia e na Africa ~ropicaes~ A scien·
marcha para descobrirem a1g·uma nlanta. eia incorpora-a na faIPilia das euphorb1aceas, que se dis~
· Cuematz chegou ao fim da estação da: chuva á mon- tinguem por. UB.1 _:;uceo Jejto~o,. muitas vez,es peqonh.ento,~que
t anha Paxil sita nos limites occidentaes de Guatemala e vertem por 1ne1sao. Da raiz que lhe confere a 1mportan..
do estado de Chiapas. eia da mais notavel e proveitosa do Brazil, levanta-se um
· Ali encontrou homens carregados de feixes de mi- arbusto de dois metros e meio de alto, cujas folhas em
lho. S~gundo um autor seriam fe1·migas, simbolo de in- ordem de dedos se parecem com,. .mãos abertas.
dustria e do trabalho, as que teriam levado a Quetzalcohuatl Planta-J3e. a mandioca, cavando a terra em monticu-
ao descobrimento de cereal tão importante. 1 los e metendo em cada um tres ou quatro pausinhos da
Em geral se attribue o achado do milho á civilisa- vara, tendo porem, o cuidado de quebral-os á mão ou de
çã.o dos, Toltecas ; parece porem que os 01mecas, antes da cortai-os á faca, pprque deitam leite clonde na.s.cem e~e
~poca daquelles, o cultivara1n. geram as raízes. Ha uma casta de mandioca que, se a .dei-
Em · todo caso, o milho anda associado a muitas di- xam criar, dá raizes de cinco a seis pálmos de comprido
vindades do pantheon mexicano. Era o emblema de Con- e tão grossas como pernas de um homem. Duram debaixo
teotl, deusa dos ce:reaes dos Astec~. O Deus Tlalo levava da terra, sem apodi;ecerem, tres a _quatro annos.
uma haste desta planta na inão. · Ouçamos agora de Gªbriel Saares, como no seculo
O earacter sagrado do miJl10 se encontra a cada XVI preparavam a comida nacional. ·
passo na liturgia dos antigos mexicanos como na dos po- « E para se aproveitaJ·em, diz o nosso fiel narrador,
vos magos. Entre estes regabam os devotos fieis o milh os indi9s e mais gente destas raizes, deyois de arrancadas,
cQm seu p1·<:,>prio sangue e os g r1ãos assim regados se dis· raspam-nas :r;n.uito bem at.é ficarem alvil)simas, o que f~­
tr ibuiam entre os crentes a maneira de pão bento. 2 zem com cascas de ost:ras, e depois de lavadas, ralam-nas
Celebravam ôS mexicanos no mez de Setembro a em uma pedra, ou ralo, que para isso tem, e depois de
festa das sacerdotizas da ~Iãe Milho, ciroumstancia que os bem raladas espremem esta massa em um engenho de
.liga aos perua~1os qu:e tan1be,m v:en~ravam em Setembro, "Qah~Q.a {especie ?~ .~esto eyJindrico) a que chama.m tupi~im
que é o mez das mulheres, a deusa Ma1na Saira (mãe: (hoie ·dizemos tip1ti) que lhe faz lanQar a á·g ua, que tem,
milho). toda fóra, e fica toda esta massa toda enxuta muito bem,
Neste mez realisavam-se os casamentos. Sendo a cul· da qual se faz a farinha que se come, que cozem em um
tnra pertiana dontinada de ~ma astrolatria ou astrono1nia alguid.;ir, piira isso feito, em o qual deitam esta massa, e
syin:bolica, não admira que Mama Sara se encontra entre- a e_nxugam sobre ·o fe>go, O}lde u,ma india a mexe. com um
as estrellas do céo; e parece corresponder á constellaQã<> meio c·abaço, como quem faz corifeitos, até que fica enxuta
da Virgem, pois é precisamente no mez de Setembro qu~ e sem nenhuma humidade e fica como cuscuz, porem mais
se acha o sol ~lesta signo. a. Da flora mexicana trat~remos branda, e desta maneira se come e é muito doce e saborosa.
mais detidamente. ~Fazem mais desta massa, depois de espreqiido o hu·
mor, filhós, o que chamam beijús...tão saborosos e de boa
A Mandioca digestão, que é o mantimento, que se usa entre gente de
Tirarem da morte ~ vida, ào veneno produzirem ali• primor e q~e f-0i inventado pela mulheres portuguezas,
que o gentio. nãp usava . delles»,4
meato e o pão quotidiano é cousa que não facilmente con . .Por serem de mais facil digestão, os productos da _
mandioca foram preferidos por muitos ao pão de trigo, o
r) Brass e ur de Bourbourg, III. 1. 4. cap, 7. Pedro Martyrf qual os governadores Thomé de Souza, D. Duarte e ~fem
P opol Vuh, In,trod. p,q,g. 8.8 ci\. doe.. -yr 1. 6. cit. por Ro$uy. de Sá não comiam no Brazil, que se não davam bem com
pt>r L. de Rasuy La Escritura 3) Coug rés d.es ·A mericanist elle.
H ieratica, pag. 48. tenu a Paris.
2) H errera, Hist. general, dec. 4) Noticia do Brazil, II livro, cap. 38.


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do punir o autor de ta:nta deshonra, perguntou quem era
Ninguem p_o deria suppor ou adivinhar que a man- seu perfido amante.
dioca, a fartura do Brazil, fosse tão perigosa aos ine:xpe- A joven respondeu que não tivera relação com ho-
riêntes. ~Porque é -a maiS' fa:mrivel peçonlra que ba no B:ea- mem algum. Admo.estou-a o vQ;lho e empregoq d~bald.~ ro-
zil e quem quer que a (agua da mandioca) bebe não es-- gos e ameaças e por fim castigos severos. Mas a joven
câpa, por mais contra-venenos que lhe deem, a qual é de persi's tiu na negativa.
qualidade que as- gallinhas, . em lhe tocando c.om o bico, . O chefe tinha deliberado matal-a, quando lhe apRa-
ou levanQ.o uma gotta para o, bico~. eaem lego da outra ~a;ni; receu um ho:mem branco, que lhe disse que não mata~se
da mortás, até os porcos, cabras, ovelhas, em bebendo o a moca, porque ella ei:.a i·ealmente inn<:>cente e nunca tinha
primeiro sorvo, dão tres e quatro voltas em redor e caem tido relação com homem.
mortas, cuja carne se faz logo negra e nojenta ; o mesmo Conteve-se o irritado morobixaba : sua filha deu ã
acontece a todo o genero de animal.5 luz uma creanca encantadora, branca, qu,.e com poucos me-
· Um abuso deste terrível veneno n0s permitte à.ar· · zes fa:lava e discorria pe:rfeitam~nte,. Não sc,5 a gente da
uma rapida vista aos costumes daquelle tempo. No sumo tribu, tambem a das nações visinhas vieram visitai-a para
esprimido se criam uns vermes brancos que são pe,çonhen- ver esta nova e desconhecida raça. Puzeram-lhe o nome
tissimos, com os quaes muitas índias mataram seus mari· de Mani e ao cabo de um anno morreu, sem que doen~a
dos e senhores. Tambem mulheres. brancas se aproveit~­ alguma ti:vesse a.nnttnciado a sua mor$e.
ram deste meio contra seus maridos. Basta lançar um Foi enterrada dentro da casa pat'erna ; regavam dia-
destes vermes na comida duma pessoa para não escapar, riamente a sepultura, segundo antigo costume da tribu.
não aproveitando-lhe remedio algum. Em breve brotou uma planta que, por inteiramente desco- ,
Que· apezar desta .,qualidade mo~·tifer.a cheg@u a ser nheéid,a, deixa,r am crescer. Floresceu e deu fructos. Oi.; •
o sustento e o pão quotidiano de um vasto paiz, é por pas's aros que destes comiam s:e embriagavam; phenomeno
certo cousa admh·avel Houve historiador que, não sem que, desconhecido dos:indios, augmentou-lhes a admiração.
razão, ten.tára dedu1.ir deste fa cto o alto gráo da intelle- Afinal fendeu-se a terra ; cavaram-na e na forma do tu-
ctualidade dos· ii;tdios1 ao menos dos seus antepassados. berculo ou da ,raiz julgaram ver representad<;> o corpo de
Não aamira pois que proêul!assetn: par~ esta planta 1 Mani. :Coméram-na ,e fizeram uma bebida: fermemtada,
Singular uma origem superior e que a encontremos no que foi seu vinho.6
dominio das lendas. E ste vinho, preparado com a mandioca cozida, é o
E' tradição, segundo Vasconcellos, que ensino~ se]J cauim,, bebida predilecta dos .s elvagens do Brazil, no tem-
uso o plantio o àpo·stolo $. Thomé; os pedaços dos ramos po dó des.c obrimente, e segun_do o visconde de B·eaurepai-
que se plantam são assim mettidos em terra que fiquem re-Rohan 7 era ainda no fim do seculo passado usada na
em forma de cruz.> Entre os guaranis do sul "ha uma província do Espírito Santo.
tradição muito .varecida áquella. Não é difficil conhecer que em mandioca, que é cor-
S. Thomé, v;endo nélles. tã<:> boa disppsi'ção par~ re- rupção de mani-oca, se conservQu o .nome cle lVIaui ; man-
ceber a luz do evangelho, tornou um talo de planta, par- diocà diz casa ou sepultura de Mani ; ou con~erme Maga-
tiu-o nas suas mãos e mandou que enterrassem estes pe- lhães; transformação de 1\{ani.
daços. Em poucos dias brotaram outras tantas plantas.
0 apostolo mandou que Ilt;e esp1témessern as raiz;.e s. e logo . O Dmbú
as torrassem com que perderiam seu veneno. Deste modo
é que ainda hoje no Brazil, no Pàraguay e Corrientes se Arvore mais vulgar e mais conhecida do que o um-
faz a farinha. bú8 (phytolacca dioica L.) não ha no Rio da Prata, di
· Tambem no vaUe do Orinoco conservam os indios a
tradição de S. Thomé. 6) Couto ·de Magalhães : O zileiro diz erroneamente phy-
Sobre a origem da maniva existe a segujnte lenda Selvagem. tollacceas ; derivá-se de cphy-
brazileira : 7) Diccionario de vocabulos 't on, » planta e «lacca,> verniz,
Em tempos remotos revelou-se gravida a filha dum brazile,iros, Rio 1889. porque os fru ctos :fornecem uma
morobixaba nas margens ao .Ama.zonas. S:eu pae, queren- 8) 'Pertence á familia dos phy- ônfa de um lindo vermelh0.
tolaccaceas. O diccionario bra-
5) Noticia do Brazil, 1I livro cap. 39.


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para um umbú ? Jergunta Granada. 9 Mas, respond«?, in·
Granada. E se não se pode dizer outro tanto do Rio Gran- felizmente não é assim. A verdadeira causa de ter f1cado-
de, é certo que todos apreciam-lhe a sombra. Por encon- em pé o umbú, é . que não serve para mais do que para
trarem-no só ond.e foi plantado, s·u ppuzeram que não era dar sombra. Seu tronco e ramas não tem applieação para
indigena. Mas os botanicos hespqnhoes enumeram-no en- cousa alguma ; nem para fazer postes, pois apodrecem an·
tre estes. Sabe-se que na epoca de deseobrimento os indi· tes de, s-eecar ; nem para o fogo,. pois não tirdem.
genas plantav:am, junto ao·s sepulchros dos seus maiores,, Personifica o vulgo igna:ro,. que no seu modo de pen··
ulJl umbt1. Pode ser que por isso lhe attribuissem um as.. sar tem muito do homem p-rimitivo, as forças da nature-
pecto triste como aos cyprestes ou salgueiros. Mas não za e todos os objectos que as manüestam ; a aroeira, por·
pareee cousa semelhante que desperte idéas de pezar éomo exemplo, é 1nalefica com seus effluvios, os cerros para
aquellas arvores que povoam nossos cemiterios. elles são bravos com seus estrondos e chammas.
O povoador do valle do Prata tem cortado em Tambem o camponez rio-platense chegou a attribl_:lir
todo o tempo quantas arvores tem tido ao alcance do á influencia do umbú a ruma dos lares ·e da fortuna. Ain-
machado. O e~tancieiro ou o capataz que, percorrendo o da impinge-lhe outras qualidades más : aquelle que se
matto, vê uma, formosa arvore de tronco direito e alto, · lhe deita na sombra, levanta-se inchado e com dor de
ex~lama : cabeça. · d
- ·Que bom pau, cortem-no ! · Alguns pensam que chegou o momento d<a rt;ll·n a. a
casa, qu~ndo . lhe tocam, as raizes d'O U!Jlbú aQs ahçerces.
Tanto os antigos hespanhoes, como os portuguezes Não é tão fac1l desarra1gar um umbuze1ro. Por mais que
e brazileiros chamavam de pau a arvore, considerando-a arranquem as raízes e restos, sempre ha de levantar a
sómente sob o ponto de vista da utilidade economica ou cabeça por um lado, e a gente, não podendo conseguir a
medicinal. A semelhante intuição obedece a divisão das sua exterminação, abandona a casa e vae estabelecer-se·
arvores no Brazil em duas grandes classes, de que a mais em outro logar longe dali.
importante é a das madei1·as de lei, comprehendendo sob E' assim muito natural que junto de uma tapéra10
este nome as arvores que fornecem as melhores madeir~s se encontre um umbuzeiro. «Está se vendo, diz o campei-
de construcção. l\1:uitas destas são. ;Jllais conhecidas pelo rot o l:llnbú traz comsigo a ruina das familias)> ; e iQrmou-
nome de pç,ir,, como pau brazil, pau ferro e outros. ·Se o ~rov,erbio :- ,Casa com umbú acaba em t.unéra.
O campo.hez brazileiro incendéia o matto em cujo
1
b umbú ,e a tapér~, inseparaveis na nat~eza, não o
são menos na corographia do Brazil e do . Rio da Prata,.
terreno quer fazer uma roça, não poupando nem arvores
fructiferas nem medicinaes.
Quando porem planta uma, é o umbú, que se desen-
em cujos textos e mappas se encontra1n mUita~ ve;z~s:
A imaginação do vulgo campestre do Rio g,.fra!a.
assevera o citado autor, quer nas tapéras duran :J l}l.01te
volve frondosamente sem cuidado nenhum, nos valles, nos ver os defuntos, os paes de familia que em di ~fiJze_s
chapadões e cochilhas. habitaran1 o logar en1 que jazem os restos da casa arrui-
nada e talvez os despojos mortaes de alguns seus paren-
O umbú apparece isolado e solitario nas pampa.s tés. Gritos, suspiros, gemici-0s e luzes demonstram· lhe. c~m
como nas cochilhas e quando tiverem desapparecido a ui· eviden·ci-a a vinda das aimas do outro mundo a taes s1~10.s.
tima parede ou c>s alicerces de uma ta.pera, elle ·a inda indi- Mi andam penand(j}, e pedem preces para seu alivio
ca t:> logar on<le e$teve uma mora.d a humana. E quando
tenha desappárecido todo vestigio de. humana habitação e ·
quando nossos olhos não descobrirem mais um indicio de. 9) R-eseiía historico-descriti- ro) Tapéra é vocabulo gua-
que planta de homem tivesse pisado a região deserta, no va de anliguas y modernas su- rani e significa povo abando-
meio dutna p1anicie ou no dorsó duma cochilha se avista persticiones de Rio de la Plata, nado propriamente, o que foi
um annoso umbú .extendendo sua rica folhagem. Qua&i por Daniel Granada. Consulta- povo~ ~os idiomas sul-america-
pode. assegurar-se que ali houve ma lar, ali dias de rego- mos e aproYeitamos diversá-S nos extendeu-se a qualquer mo-
sijo e de amargura, ali illusões -e desenganos, ali um casa- vezes este autor, m órmente radia abandonada ou para signi-
mento, um baptisado, ali feretro e luctuosos episodios. Be- quando nos referimos aos pai- ficar ruínas.
riam est~s, já alegres·, já tristes recgrdações, a explicação zes v.iSinhos do Rio da Prata e
do :vespe1to eom que, ao que parece, se ha sempre olhado do Para-guay.
-131
-132 -
-e descanso. As doridas sombras silenciosamte admoestam
aos nocturnos visitantes, ensinando-os ·com seu exemplo Alem disto precisa-se de um exercito dé animaes,
como acabam as fortunas ; em uma noite recolherão os p~ra uma tão dilatada viagem, somente para e>s -viveres,
paus, trapos, ossos, cacos e os dem~is restos que lá acha- nao se encontrando em logar algum do seu :nercurso, re-
rem e os amontoarão em um canto do solar destruido e curso algum, nem mesmo sal. Para uma tropa de cem car-
abandonado como se quizessem dizer :- Eis o que resta gas são necessarias ainda outras tantas mulas para sub..-
-de tudo.11 stituir aquellas que enfraquecem ou parecem, maltratadas.
Nãu fazem senão duas ou tres leguas de caminho por dia
A herva-mate Dividem-s,em tropas menores de dez mulas, cada um~
conduzida IJor um peão pelos apertados entre as monta-
' Quanta influencia tem exercido esta planta sobre a nhas. A carga era regularmente de quatorze arrobas .
.sorte e os costumes dos habitantes das bacias do Uru- Toda a caravana ia seguida de mais de cinco peães
guay, Paraná e Paraguay, pode1nos ver de uma memoria briosos chamados retagua1·deiros, que levantavam as ca-
que dirigiu o bispo de Buenos Aires, D. 1'1anoel Antonio hida~- e ~ud~va1n as cargas para <?Utras, para o que são
"3.0 rei de Hespanha propondo-lhe llin enigma, .a saber :
nece_s sartos cinco pessoas ; uma para se_guroar a mula e ~s:
41Com esta berva deixam os paragµayos de ser homens, outrns quatro para levantar as duas bruacas. Com mais
qúando outros com élla s.e fàzem_llo1nens. ~ Promette ao out:ra que euida das descarregadas, .duas qbé fazem os
mésmo tempo ao rei, S'e Betü~ lhe _déi· melhoras á cabeça,. rafioh'ós e urna que governa tuâa, o éapataz~ ·sãe dezenov:e·
-desatai-o ou r esolvel-e com verdade e clareza dando infor- pessç-as que, não se alimentando regulannenfé,. pTecisam
me ·em Separado. E effectivamenta ainda no mesmo anno qua$1 dê uma rez por dia.
enviou a promettida informaç-ão quê existe ainda inedita
n9 arehivo geral de Buenos Aires,12 que se estende por A viagem leva mezes, porque ora as aguas os obri-
ln folhas, e é para o estudo daquella epoca de bastante gam a passar riachos intransitaveis pelas enehentes, ora·
valor, especialmente quanto ao commercio. Aqui consigna- a secca fal-os parar por falta de pasto e por :fraqueza do
re~os apenas os pensamentos sufficientes para resolver o gade. E' quasi commum que, depois de quatro e mais me-
«erugma. » zes de viagem chega a herva das montanhas á cidade com
Começa o prelado affirmando como cousa incontes- muita mortandade de mulas e muitos trabalhos e fadigas.
-tada que o trafico da herva tem enriquecido os commer- dos peães. I
ciantes do reino. Por outro lado, ainda que não necessita Ordinariamente estes entram quasi nús, porque das
de cultura esta especie por ser arvore silvestre, com tudo suas roupas o que não foi dilacerado pelas montanhas foi
S';:St~tü.~ que. a herva aniquila e ~scr~v:isa os p~~aguayos, consumido pelos rios, quando tiveram de passar po-r elles.
na~ 1 ~rr~egu1ndo estes, por sua snnplimdade, utilidade al- a nado, conduzindo a herva carregada em ·pelotas, ou
gu~m· pelo contrario todos os seus graves atrazos pro- qua-ndo os animaes se atolam a cada vasso nos innume-
vê,l:'<tl: ' e~te chamado beneficio, suceedendo-lhes o mesmo ros lodaçaes e elles não podem deixar de enlamear-se co-
que ás ôvelhas e ab.elhas: Sendo isto assim corno é1 o paiz mo as bestas, «o que vi, diz o prelado, com indizivel com-
deva at;razar-se mu1tô, visto que sahem delle de 01tenta a paixão: considerando que a pena de galé com que na
cem mil arrobas de hervà em cada -anrr-o. :aespan.h a se castigam ou castigavam os malfeitores é uma
. Os ~hervaes_ distam ~ai.s ~de i3o legaas ~e Assumpção' delieia em comparação con1 esta faina que torna o~ infeli-
-e, os caminhos sao tão ,(:'hffimes com.o pen·g,osos, a cada zes -pa;naguayos. ainda ,m ais infelizes d.o que f6:&ça.tdas das
passo, pelos pantanos, banhados, lagoas e tiH:>ntanhas pe- g~dés e_os reduz ao num·e ro daquelles de que David diss&
ühascosas que é preciso vencer, e que D. Manoel Antonio q.u e nii-0 trabalhavam como liomens. »
conhecia por experiencia propria, pois a elle não se abria Af; mulas aln.gam·se para este transp·e rte por um
uma e_xcepção quando. visitava C'Uruguati. peso (ouro) pagavel em herva posta na cidade com prefe-
rencia a outra qualquer divida, com a condição pouco sã
l l) Não se deve confundir o Rio Grande do Sul organisado de qu_e, si perece a mula, a perda não recabe sobre o dono
nosso un1buzeiro com seu hcmo- por Alfredo Ferreira Rodrigues, e sim sobre o tropeiro, que a alu~ou, e que se ob,d ga a
n ym o do Norte, que é a:rvore 1907, pag. 125. pagar o seu valor que são dezeseis pesos ou mais, que
therebinthacea (spondias tube- 12) Arch. Gen, de Buenos correspondem a oito arrobas de herva posta na cidade.
rosa, Arruda) cit. Almanak do Aires, 12, 2, 14. Mas accresce outra circumstancia aggra-vante : em-
quanto não entregar a herva, corre o aluguei até effectuar·
-133 - - 13' -

·.se o pagamento, ainda que passem annos. Isto dá-se não Começa o miseravel paraguayo a phantasiar benefi-
poucas vezes. cios de herva: trata de conchavar peães a troco de roupa,
As vantagens ou lucros que resultam destas lidas encaixando-lh'a pela terça parte ou a metade mais que o
não são para o Paraguay e sim para os mercadores estran- ajus·t e da factura. O panno que em Buenos Aires vale
.geiros que arribam com o commercio de roupa e outros quatro reales, se lhe emmala por quatro pesos ; a baeta
;generos vindos a Buenos Aires, commummente destes que que vendem ali por tres reales a vara, se lhe enfarda por
se .chamam queb?·ados, vindos para saldar ou remediar 20. As bretanhas 14 que valem quatro pesos a I>eça, lhe dei-
as guebraduras com os simples dos paraguayos. Introdu- xa por 20, -24 e mais.
A faca que vendem por um real e meio, PQr oito rea-
-ztram como lei que o lucro que tiram de seus generos não
·será menor de trezentos por cento, segundo sua factura, les ; o linho e algodão desta terra que é um peso ôco a
e, quando tem opportunidade, quinhentos e mesmo mais ; deseseis reales e assim o demais. Todo pobre, não obstante
·que o preço da herva, porem, nunca . ha de passar de dois veste-se de tudo, ficando prompto á custa do béneficio fu-
pesos ocos1ª a arroba, ainda que se não encontre um unico turo, pois tem de ir aos hervaes, 130 leguas distantes, fa-
·sl!lrrão na cidade ; e assim são jnalteraveis os preços dos zendo a ida e a volta á expensas suas. Ali cada arroba de
outros ~eneros da pro'.Vincia. b,erva que beneficia o .hervate~ro não tem mais valor que
Suppon:hamos, pois, que um destes commerciantes um ,peso ôco e para pagar nesta especie duze:ntos pesos
trQ.uebràdos resolvesse saldar~se. Para esse fim pr0cura de rottp~ (que não equivale,m a 30 :Peso~ de piatà) St) de-
obter, fiada, uma factura de :roupas e mais um sortimento maram paquelle deserto por um anno e·, mals; mal alimen-
de outras fazendas e d,r ogas que monte tudo a tres mil tad9s, tend,o por cama o duro solo, sem outr<) a\lrígo~ do
pesos. Não falta quem o abone, ném mercador que por que sua pouca roupa ; dormindo entre v.iboras·e outras ce-
um lucro se desfaça do refugo da sua loja. Vae, pois, en- vandiJa.s p,eçonhentas e depois destes penosos·incommodos
caixotando os generos mais velhos e encantoados, sem re- tem de madrugar para buscar os ramos de hérva ás ve-
parar se estão sãos ou roidos das traças, cobrindo tudo zes longe muitas legues, fatigar-se em eortal-os, enfeixai-os
.com algumas peças da moda, galões prateados, botões dou- e trazel-os ás costas como se fossem jument-0s, é, em vez
rados, •um sortimento de fitas ornadas de prata falsa, de dormir de noite, torrar e sapecar a herva com grande
aivellorios, emfim, uns oculos para que fique desenganado cuidado e por muito tempo para que se nã.o percam as
on enganado a olhos vistos. Sendo tudo de qualidade in- fadigas do dia.
ferior, marca-se-lhe o preço supremo e ainda em cima ter- Vivem assim um anno e méll.:> ~ orno pagãos sem dou-
mina a factura, escriptura ou obrigação com a clausu.la trina e sacramentos. Com este exercicio gasta o vestuario
que passado um anno, ha de pagar oito por cento. e acabada a tarefa volta mal alimentado e peior vestido,
Para fazer face aos riscos o negociante quebrado es· encontrando assim tambem a sua família e ás vezes au-
creve um traslado ou copia da factura e eleva os preços gmentada e é esta a maior lastima. ,
J)ela terça parte, de sorte que assim já monta a quatro Pelos receios de dever e não poder satisfazer seus
mil pesos. Chega á provincia e começa a louvar os seus comprómissos ausentam-se não poucos, outros enfermam
pães e como para o faminto não ba pão ruim, existindo · e não poueos assim se fingem e tudo é enfermidade para
tantós sem roupa no Paraguay, vâm·lhe apinhar-se á ten- o pobne beneficiador paraguayo. Urge o comprimento da
da e se vestem sem olhar· pà:rà os trezentos, por cento. E factn,ra e vê-se o miseravel mais atado que a ller;va. Espé-
attingindo á Sf:»mma tnui gtossa, tem de. suJeitar á hypa~ , _ra annos e annos até ,q ue se pague e .s obrevenha ·a morte.
'theea a esta.ncia de gado, que assim fica perdida, ou a clla.. ~De tudo o que, bem considerado, se c.onve·nce o que ao
cara com a sua capoeira, cercas e casas com a clausula principio dest_e informe affirmei a V. 1.l. ser o beneficio da
dos demais bens, quando não costumam ter mais que herva. do Paraguay seu maior maleficio, sua dura escravi-
males. dão e· perdiQão achando-se mais nús quanto mais procu-
ram Q~ v~stidos.» ~ão se pode negar que uma 'vida dest~s
I3) No tempo colonial do de herva correspondesse a um não é de homens, emquanto os quebrados se arranjam.,
Paraguay não corria dinheiro, certo numero de pesos. Tres e...asstm está resolvido o celebre enigma.
maspermntavam-se o§productos pesos de berra equivaliam a
da terra. Para terem uma unidade umpesod~prata e aos taespesos
approximativa, combinaram que de herva davan1 o nome pesos 14) Panno de linho fabricado na Inglaterra.
um certo numero de arrobas ôcos. '
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Não só na historia/5· tambem no domin:io das lendas Obedeceram os indios ; tostaram, pulveris-aram e pu-
figura o mate (Ilex paraguayensis). Tem o uso da herva,. zeram em agua as folhas da herva e ninguem morreu que
no dizer de Granada, uma alta origem no que podíamos já enfermo tomára a bebida, nem adoeceu o são que usa-
chamar mythoiogia christã. Já desde o primeiro quartel ra-a como preservativo contra a peste.
do seoulo XVI c0.rria na America do Sul a lenda da esta- Esse é o motivo porque os indios de Maracayú e ao
-da do Apostolo S. ThoIIYé no Brazil e paizes limitr(:)phes. depois outras tribus, quándo bebiam. o mate,, invocav:a·m o
Chegando ao Paraguay, viu os immensos mattos de arvo- seu inolvidavel bemfeitor, particularmente nas occasiões
res do mate ; os indios, porem, 'não lhe conheciam utilida- de epidemia. ,
de alguma ; olhavam-nas até com repulsão, porque as ti- Seja que deixassem este piedoso costum~, seja que
pham por venénosas. S. Thomé achou entre os guaranis. a herva perdes&e essa virtude, uma cousa é certa: contra
muit0 boa disposição para· receber a fé e a.s ag:uas db b:a- a epidemia da variola, que"tanto dezimou as tribus gua,r;l-
ptismo. O santo, vendo a dedicação da nova grei, quiz fa- nis, não tinham remedio algum.
zer-lhe um beneficio assignalado e ensinou-lhe o uso da Ha porem outra tradição assaz diversa sobre a ap-
herva. Attrahida por sua palavra, tinha-o um dia seguido plicação e uso do mate. A darmos credito a Ruy de Mon-
grande multi-dão, quando arranco~ uma porção de herva toya,17 a herva era originariamente um dos vehiculos mais
e a ajuntou cuídadosaimente. Depois fez uma fogueira, ex- efficazes da feiti~aria ·OU magia guaranUica. Narra que
tendeu as folhas da herva de tal maneira sobre as brazas um feiticeiro Iói ensinado pelo Auh.angá (Jurupari) como
que, sem queimai-as nem fumal-as, as tostasse. Pela lenta devia beber a herva, quando quizesse consultal-o. O pagé
aeÇão do fogo perderam as folhas da herva, por meio da bebeu e desde então fazia maravilhas. Usou-a tambem co-
evaporação das substancias damnosas, as qualidades mor-" mo ingrediente nas suas feitiçarias. Lozano1B conheceu
tiferas, que por·natureza possuiani. tam}>eip, esie uso ent.re os. ,g uayanás :. ~Diz,em os feiticei-
O que serv:ia para grande consolação e regosijo dos · ros :. a herva me disse isto ou aqu1llo,» quando davam
fieis guaranis foi que as folhas pulverisadas emittiam sua- seus oraculos.
vissima fragrancia, circumstancia esta que. manifestou-lhes Os feiticeiros communicaram seu mysterio a outros
quão precioso e gostoso devia ser o benefie,io outorgado e assim pouco a pouco ficou uso geral. Dizem que nenhu-
pela mão do santo. Desfaziam as folhas tostadas e pondó- ma cousa se p~esta com tanta facilidade e disfarce a
as étn agha prQduziam uma bebida tão agrada vel como · proporcionar o feitiço cha1nado damno. Parece que e~ta
proveitosa, a mestna que hoje chamamos mate. E' Lozano bebida servia tambem de filtro e q11e havia mulheres que
que nol-o narra na sua historia da conquista. 16 faziam deste negocio um commercio.
Segundo e'- rnesmo autor, conferiu S. Thomé a esta Ainda hoje em dia pode-se por vezes fazer a obse;r-
hetva virtudes ine~ticinaes contra ~~::ites e varias doeµ.ças. v~cão que o dono da casa ou quem offerecer a cuia a s~u
Uma terrh~el , -este dizima"'ª o.s p.óvos guaranj~. Os infe- hosP,ede to1na primeiro úns goles., mas logo atira ·os. E"
lizes moradores recorreram a S. Thomé, que então andava ~ provavelmente um resto de um uso antigo que praticam,
pregando por aquellas regiões. O santo apostolo respon.. sem conhecer-lhe a origem, dizendo só que os primeiros
deu :- Em casa possuis o remedio ; a misericordia divi· sorvos não são bons. Os antigos praticavam cousa seme--
na nunca desampara os justos.• lhante, allegando, porem, que o demonio Anhangá conta·
Em seg'l!lida mandou trazer uns .r amos de· herv~: tos-. minara a herva com seu malefico influxo.
tou-os, triturou as folhas, pol·as em agua e bebeu na p;re.:.. Elles atira.v am os ptimeiros goles da hoaca para as
sença dos cireumstantes, para que não receias-sem fazer o costas, um por cima do hombro direito e outro por cima
mesmo pequenos e grandes. Bebei, accrescentou, as folhas do esquerdo.
desta· herva e com ellas sarareis os enfermos ; e vós, os Que o uso do mate estava ligado a observancias vãs,
sãos, ficareis immunes da peste.. confirma-o o facto de ter o provincial Dio.go de Torres
aecusado este us.o como , sq,perstição diabolica que acarre..
tava muitos males. Mas não conseguiram extirpar o uso
r5) Tratamol-a· em opusculo: 16) Hist. de la Conquista de ·
e A herva-herva na historia e Paraguay, Rio de la Plata, Tu
na actualidade, Porto Alegre cuman, tomo 1 cp. 8. 17) Conquista espiritual he- 18) Hist. de la Conquista L
1907. ê.f. Annuario do Rio Gran- cba por }()s reUgio~os de la Com.- capitulo 19,
de dQ Sul 1908. paüfa..de Jesus, Biib'.áo 1892, cap. 7.

10-1912

131 -138-
do mate entre os indios ; tomavam~no porem com mode- Demos a palavra a que,m. nos conservo'?- e_ transmit-
ração, uma vez por dia ; os bespanhoes o tomavam a ca- tiu a mais antiga lenda brazileira, o padr~ Simao de V~s­
da passo e ãs vezes com tanto excesso que perderam o concellos. «Diziam os que eram mais curiosos e de maior
juizo. 19 experienci~ que per tradição de seus ant~pas-:;ados. corre-
Propxledade de tomar o mate é que se toma cqm ra semJ!re, que houvera no mundo. uni dduv:10 universal
um companheko ou em roda, passaniio de mão em mão e ' em que morreram os homens todos, e que dos poucos que
de boeca em boeca. No campo homen.s e mulheres, sãos- e delle escaparam se tornara a p,ovoa~ esta sua ~erra, e fo-
enfermos, negros e brancos, todos um depois do outro ram estes os prin1eiros seus progenitores, depms daquelle
chegam seus labios sem reparo algum á mesma bomba. 20 grande diluvio.
Quem não approximaria os seus beiços do copo em que E contavam a historia na maneira segW.nte : Que
antes bebeu um dos mais chegados parentes, não escru- antes de chegar o diluvio havia um homem de grande sa-
pulisa em introduzir na bocca a bombinha que acaba de ber a que elles chamavam Payé (que vai o mesmo. que
sahir da de um extrangeiro ou desconhecido. Tanta é a m.a~o ou adivinhador,_e entre nós propheta) o, qual tinha
força dos costumes.
Tendo o m~te a qualidade de ~ctuar sobre os nel'- por nome Tam.andaré, ~ que seu grande Tupa, q~~ quer
:vos, ·considera-o ltm habil folkl()tti"QÍU; com;o um dos nra.ts dizer exeellene1a superior, ·e v~m a ser o me~m~ que Deus,
efficazes {actores eom q1:1e as fo.r·eas da natureza conc()r~ falàv-a com ·e ste e lhe descobria seus se.gredos : .e entre
rem a avivar a centelha da imaginação e os sentimentos outros lb-e commun1cára que havia de haver u~a inunda-
que informam o mundo da arte. ção da terra; causada de aguas do céo, e alag!lr o mun-
do, sem que ficasse monte ou arvore, por ma1"s alta que
As palmeiras fosse. Accrescentavam que exceptuara Deus uma p almeira ·
As palmeiras não só caracteris:nn uma paisagem co- de grande alt'lltra que ' estava no cumE\ de certo monte, e
mo tropical, mas por um seu vulto algo altivo impri- se ia as nuvens e dava um fructo a moda de cocos, e que
mem a sua physionomia uma nota d~ nobreza. Distinguin- esta palmeira lhe assi,gnalou Deus para que '$e salvasse
do-se das arvores J,?Or seu tronco elevado deSP.rovido de das. aglias elle e sua fa1nilia s~mente, ~ .que na ponto em
galhos, forte e elast1co e por suas folhas com cuidado tra- (iue o ·dito payé O\-l, p~oph'eJa a tal not1c1a_t~v:e; ~e pas·s ou
balhadas e d:tspoSt'as nas formas· élegantces de abanadolles logo Q 'IÍlonte que havia de se_r sua salv!J-çao cqm toda sua
e leques foram pür Linnea elevadaS' ã alta categoria dq;s casa. Eis que estando neste r1.o certo dia que c,orneçava a
princezas do ·reino vegetal. E dé factQ por sua folhagem chover grandes aguas, e que iam crescendo pouco a pou-
que ora se parece com uma magnifica c.Orôa, ora com aza~ co e alagando toda a terra, ·e quando já cobriam o monte
de grande ave que parece voar, por seu porte soberbo e em que estava, começou !1 subir elle e sua ge~te aquella
graça esbelta insinuam respeito e saudades. palmeira signalada, e estiveram nel1a todo o tempo que
Ao Brazil por uma riqueza désses nobres vegetaes dllrou o diluvio, sustentando-se com a fructa d_ella, o qual
deram outro.r~ segundo Couto de Magalhães, o bello no- acabado desceram, multiplicaram e tornaram a povoar a
me de Pindorama21 paiz das palmas. E o canto do exilio terra. Este era o uizer ll t
do maior Jyrico brazileiro não começa p..éla saudade aa .3
fab-u.losQ daque .es ~a ura~ ;, e se-
terra das pahneiras .'? gt:1.ndo isto .tem para si ql!te ante~ d,o dtluvH) liavi~. J~ po-
· Anda envólvida a palmeira n·as mais antigas remi- vóadores em sua terra, e que aquelle mago ou adiv1nh~­
n·i scencias que 6'Xistein sobre o nossô paiz. dor com sua familia já a povoava a~tes das ~.guas do di·
luvio e fi~ou tambem povoando depo1s delle,»2'.i .
19) Montoya, Conq. cap. 7. ga-se na parte i nferior, que se Que especie das muitas que possue o Brazil,· salvou
20) P ara quem não co11be- introdnz na cuia, p ara formar a Tamandaré, a lenda não revela. " ..
ça este instrumentó sirva de es- uma e&phera ôca e crivada de Ha uma ou outra que é capaz de sustent~ famílias
clarecimeu to o seguinte : A bom- orifícios, por onde passa o li- ou tribus inteiras como no1-o affirma Humboldt da lVIau-
ba ou bombinha é um cano del- quido coado. rieia que se eleva a uma altura de 32 metros. A carne e o
gado de prata ou metal, de um 2 r) Sept. Confer. Para o tri-
palmo de comprido, por .meio ce.n t. â:e Ancb:ieta.
do <iU.al s~.rve·m e mate ; alar- ~2) ~oticias das <rnusas. ·do Bràzil por S. VasÇonce.Uos S. J.
l. I. n. 74, 75.


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amago dos. fructos oviformes são comestiveis, do suco resi- A elegante trepadeira no Brazil é mais conhecida pelo
dente nos 1nvolucros das flores preparam o vinho de pal- nome indio maracujá.
ma e da~ folhas fabrica~ redes, como no sul do conheci- A alludida descripção da bella flor americana é cele-
do pabruto #UCU'J"[t (bactris) ou da piar;aba (attalea funi- . bre ; Lozan-0 adoptou-a quasi palavra por palavra na sua
fera) de cu]as fibras durissimas fazem tambem cordas bistoria da conquista e outros historiadores a reproduzi-
amarras e as celebres vassouras. '
A alterosa palmeira Euterpe ou assahi no valle do ram.
Amazonas e particularmente nos arredores de ·Belem do E' esta :
Pará que por seu bello aspecto enleva como a musa Eu-
terpe por suas harmonias, attinge a res peitavel altura de «A flor é o mysterio unico das flores. Tem o tama-
48 metros. nho de uma grande rosa, e neste bello campo formou a
A bebida mui. apreciada e agrad.avel que extrahem natu.r eza um como theatro dos mysterios de re'dempção
dos se}IS fructos 1nacerados em agua, chamada tambem do múndo. Lançou por fundamento cinco folhas mais
assahi e q_ue negros e indios em va~os de barro levam gros§::J.S~ ao exterior verdes, no interior sob· r<>'Sadas ; sobre
sobi:_e a cabeça_ apregoando-a e ver}.'dendo'-a pelas ruas do ~stas, po~tas em cruz, out ras cinco purpureaS', todas a uma
Para, exerce nao menor e tfl.lvez ·fat;:il att1:activo : e olitlia p.arte. E logo deste como throno sanguinee, vae
~Quem vae ao Pa11á parou · armà:ffdo uro quasi pavilhão feito. de uns semelhantes a
Quem bebe assahi ficou ». ' fios de roxo, com mistura de branco. Out:ros lhe chama-
Mas a todos vence, pov sua -u,tilidade universal a vam corõa, outros mõlho de açoutes aberto, e tudo vem
ewr_nauba (copern~ca cerifera M.) a qual deu l\'.tartiu~ o ·a ser. No' m'0io deste pavilhão, ou corôa ou môlho, se vê
notne d~ coneg? N1coláo Copernico, o grande astronomo. levantada uma columna branca, como de marmore, i·edon-
Ji2.sta, CUJ.ª patr1a é o Ceará fornece aos habitantes do ser- da, quasi feita ao torno, e rematada po:r uma preciosa ma-
t~o quas1 tud<;> quanto precisam para satisfazer os neces- çã ou bola, que tira a ovado.
sidades da ex1stencia ; para a comida e bebida os fructos
para a .construcção o tronco duro, de cujo material s~ <';Do remate desta columna nascem cinoó quasi ex-
confecc1onam tambem instrumentQs musieaes · as folhas pressas chagas, distinctas todas e penduradas cada qual do
c~r~ascabanas. ' seu fio, tão perfeitas que parece as não poderia pintar
. . Da .med.!llla prepara-se uma f.arinha. Até a necessa- noutra forma o mais destro pintor : se não que, em logar
r1a illum1naça~ é fornecida por est~ vegetal, é a celebre de sangue, tem por cima um como pó subtil, aó qual se
cera. de caruauPa que se recolhe de suas folhas e de que· applicais o dedo, fica nelle pintada a mesma chaga, forma-
fabncam velas que são tambem um artigo de exportação. da de pó, como com tinta se poderia formar. Sobre a bo-
Das mesmas folhas prepara-se um fio forte para redes la oyada do remate, se veem tres cravos perfeitissimos,
ou 'Can1a~ suspensas, tecidos e cordas. Não se encontr~ as pontas na bola, os corpos e cabeças no ar ; maís cui?
neste anugo. do homem parte alguma que lhe não sirva dareis que ioram ali pregados de industria, se a experien-
para um mister. cia v~s nã,o mostrára o contrario.
O maracujá «.-lA esta flor por isso chamam flor da pai)'ão, porq'Qe
mostra aos homens os principaes jnstrum~ptos d~lla ;
, ~4. flor da .Paixão (pas~i~ora-co~r1!J]ea) foi antigan1'eu- .quaes são, c0r.ôa) columl;la, açoutes, cravo~, e)lagas. E' flor
te .muito apreciada e celebq1da eo1no a graça dos prados que vive ~om O sol, e morre com elle •: ·O mesmp é, S~p~l­
brmco ~a natureza e d~voção da piedade chrJstã. ' tar-S'é o sol~ que fazer elle sepulchro <;laquelle seu p.1u~lhao
. Dizem que, em ~r1ncipios do secql<? 17, chegou a pri- ou corôa, já então côr de lucto, e sepultar nelle ()S ínstru-
meira planta da Amer1ca a Roma que f-01 offerecida a Pau- mentos da Paixão sobreditos, que, nascido Q ~Pl, to.r na a
l<? V. Parece que trunbem foi aqui que a piedosa phanta- ostentar ao mundo.•
S!:_.a se ap~derou desta bella flor e descnbriu-lhe as rela- Não é provavel que os feiticeiros ou pagés eonhe-
çoes r,elig1osas! co1n tanto enthusiasmo expostas por Vas- eessem estas relações em que os christãos puzel'am o ma-
concellos. Attr1buem ao padre Ferrari a paternidade do raeujá e o mysterio da redempção, segundo pretenderam
nome- flor da paixão ou passiflora - _ o qual a classificou uns -autores. Parece porem certo que os pagés de certas
na sua obra .De florum cultura, publicada em 1633.

...
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tribus indias, ao serem iniciados nas superstições diaboli- o prejuízo que causava esta planta. Um rei da Dinamarca
cas, começaram a abster-se dos fructos do maracujá.23 mandou escrevesse outro o seu medico. Na França susten-
O Tabaco tou-se these publica contra o tabaco. E cousa singular ; o
Narra Gabriel Soares que os indios do Brazil quan- medico que presidiu ás conclusões estava constantemente
do andam pelo matto e lhes falta o mantimento, matam a tomando pitadas, emquanto se provavam com evidencia
fome .e a sed_e com es~e fumo, pelo que traz.em sempre os horrorosos damnos que este uso acarretava.
coms1go, e nao ha duvida que este fumo tem virtudes con- Mas, não obstante esta guerra, tomavam, fumavam e
tra a asthrna. Dos indios passo11 depressa o uso do tabaco mascavam cada vez mais o tabaco. Inutilisadas já todas
pare os europeus. Un1 contemporaneo de Soares descreve- as outras armas, recorreram até ás censuras da igreja.
Urb~o Vill prohibiu o tabaco nos templos, onde
~os a paixão ?os ~umadores do seu,tempo. Não ha quem
tire o tabaco Jáma1s da bocca em fumaça ou do nariz em causava gfande desordem seu uso. Contam que nesta oc-
pó, e infinitos ha que nem de ambas as inaneiras se far- casião publicaram um pasquim, em que entre outras se
tam delle, só os poderia encher quen1 lhes descobrisse in- liam estas palavras :
venção, ·que eJle.s comprariam . por muito dinheiro, de o · ,«·Contra folium quod vento rapitur, ostendis poten-
metter dentro em si, pão só pelo goste e cheiro, :tnas tam· tiam tuam et stit>ulatn siccam persequeris,»
be1n pelos outros srntidos. TJieológ~s e moralistas pregavam energicamente con-
. Não podendo tanto, ·ahu·pa'iildo o funlo i 1eprimehl o tra ó rumo infet·nai, » Como acontece muitas vezes., a ifr'o-
folego qua~t<? podem, para que a ~umaça tenha t~n1po pa- hioição não impediu que o costume se exten.desse até ao
ta andar visitando, eon.s olando todas as p~rtes interiores. ponto qtte começou a constituir uma d.as rendas mais pro-
~.\os que tem fo1ne ser ve de pão.J aos que te1n sede serve ductjvas de estado. â Allemanha foi um d0s primeiFos pai·
de agua, aos que comeram em den1asia dizem que ficam zes q'u e toleraram o u so do tabaco, graças ao exemplo de
d~salijados ; se estão com calor, que os refresca; se com Guilherm_e I. pae do rei Frederico II, e do Tabakscolle-
frio, que os aquen ta ; se com mau humor1 que lh'o bota gium. Â França e outros paizes logo imitaram o éxemplo.
fóra o pó moido e tomado pelos narizes. E para que sem- . Já muito antes de dividir ao mundo civilisado em
pre o tenham. á mão, não só o trazem na algibeira, mas · dois partidos, contrario um, favoravel o outro a seu res-
quando em v1age1n, levan1 uma peça de aço, co1n que tiram peito, o tabaco tinha sua historia entre os selvagens do
lume da pederneira, ffl rindo-a. novo mundo e mais particularmente representava papel
Apezar da rapidez com que se propagou o uso do importante no dominio das lendas. As plantas que por suas
tabaco pela Europa e se extenueu ás mais remotas partes propriedades de alguma maneira se singularisam, lançam
da India e até no Japão, encontrou muitos influentes ad· raizes, florescem e fructificam no fertil e dilatado campo
versarios. Os mais poderosos monarchas se declararam do mytho e da lenda.
contra a introducção desta planta nos seus dominios. Mormente são as plantas excitantes que pagam tri-
A Russia prohibiu o uso do tabaco primeiro com a buto ás lendas, pois usava-as o feiticeh~o para accender
pena de açoutes, depois com a de ter (} nariz cortado o em seu espirito o fogo do enthusia~mo.
contraventor e fin.aln~ente com a pena capital. Na Turquia Quando os tuxavas ou homens principaes tinham de
passavam aos prnneiros fumador~.s os ~~Q?'S dos cachim- incuml;>ír-se de negocio grave, recorriam ao fei'ticeir'o. Este,
bo$' pelas ventas. O shah da FersJ:a proh1b1u o tabaco etn, na p,r~sença daquelles, tomava u~as folhas de tabaco e
toda a extensão do seu reino. l~ç~va..·as no lume e aspita:va a fumaça pelà b:oeea e na-
Na Europa conte,ntaram~se em l>Ôr direitos exor}i)j.. ' riz a~é ,cahfr no chão cumo morto. Voltando a si, dava a
tantes neste genero de mercadoda e c0m o mandar publi- respostti conforme os phantasmas que vira no êstado do
car livros contra seu uso. Jacob, rei aa Inglaterta, publir somno.
cou um tratado escripto por elle mesmo em que mostrava Onnforme Oviedo, cultivaram os indios d:as Antilhas,
de S. Dômingos e Cuba, o tabaco nas suas hol"tas e seu uso
23) Southey. History of Bra- forçado folkorista chileno D.· parecia-lhes não só proveitoso, mas coisa mui santa.
zil: cap. 34. Clemente Barahona Vega no seu Aspiravam o fumo pelas ventas, introduzindo nellas
bello trabalho - La Rosa de la. um canudinho de junco ou uma canella de ave.
Estecapitulomereceuja ntt.JA. Pasion. Todo este estudo será Entre as tribus americanas em geral 'andava intima-
tradncção hespanhola p a.lo es~ honrado por uma truducção sua. mente ligado ás ceremonias religiosas e era para ell as a
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herva santa. As tribus do norte extendiam a veneração .c aça de dia, não encontrava nada para caçar ; e quando
desta a:o apparelho ,e m que acendiam a herva. O fumo tirado ia á noite, topa:va só . com .quadrupedes. Uma noite quando
deste apparelho ch~arlo cali1>met, e asso.prado contra o and·av~ na caça, ouvtn ru1do no n:iatto e escutou que;rn se-
sol, imprimiu um cunho religioso a todas as transacções so- ria. Dizem que diss~:-Que é isto '?-quando repentinamen-
ciaes e politicas.24 te apparece o Korupira. Ao contemplai-o, viu o caçador
Tambem na bacia do A.m azonas, segundo nos refere o que tinha o cabello longo, os pé.s virados para traz e uma
P. A. Vieira, usavam os indios o tabaco em ceremonias de vara na mão.-Quem és tu '? perguntou, que caminhas de
culto ; incensavam um pagé com tabaco, que elle recebia noite'? Que estás fazendo aqui em noite tão escura'? Ten~
com a bocca aberta. 25, coragem de ousar penetrar o meu matto '? Dizem que o
ôs jndios pa.mp~s regalam na pessoa do feitíaeiro o Korupira ~alava assim, levantan~o a var.a co:q.tra elle.-
uaulicho, o anhangá tupí, que, introduzido naquelle, fala Eu v,ô n á procu,r a de caça para mim. Eu sou um homem
por sua bocca. Offerecem-lhe um ovo de avestruz e em pobre e tenho mulher e por 'isso vou á caça. Quando não
seguida tabaco, que elle fuma. Simula o feiticeiro vomitos : encontro caça de dia, caço de noite, para comer com mi-
é anhanga, é anhanga., que, depois de ter-se regalado com nha mulher.-Meu ~amarada, ..;>osso ajudar-te. Tudo quan-
o ovo e a fumaça do tabaco, se despede e sae do corpo do to quizeres, posso dar-te. Tens fumo '?
adivinho, no meio do regosijo e das acclamações do povo O caçador tirou logo fumo da sua algibeira, cortou
reunidQ, que, a g1·itos e atirando fogo 'ªº ar, o ·saú:~a. um 'peda~o e lh'o deu.
A,s sim o observou o capitão Hernandez na sua expé· Fazendo frio á nolte, accendeu o Korupira um fogo,
dição contra os indios teguelchos, que se preparavam pa- assentou-se, encheu seu cachimbo de tabaco, poz em cima
ra uma invasão em povoações christãs. uma braza e fumava o tabaco que lhe dera o homem.
Por todo o Brazil onde se falava o tupí e o guarani, Depois entretinha-se com elle e conversava.-Meu cu-
era conhecido o Ko1vpira, este ente pbantastico cujos di- nhado, disse, se cada noite me trouxeres tabaco, guarda-
verso& mytb,os conhHciam Anchieta,, Fernão Cardiml Mar- rei para ti a caça que desejares. Digo-te, para que o sai-
graf, Si.nlão de Vasconcel!-os e outros: Para os a~tores mo- bas. Não (ligas Qada a tqa mulher. Não quero gue ella o
dernos, é o senhor e génio proteetor dos mattos e da caça, 'Saiba ; podia ficar ciumenta. CoQti,n uou a falar o resto da
que pune os que a damnificam e premeia os que lhe obe- noite e chegando a aurora, despediu-se. Então virou-se e
decem e o respeitam. · foi ~se.
No Amazonas é um pequeno índio tapuyo que imita Cada noite, quando a mulher estava dormindo pro-
as vozes dos quadrupedes e das aves e assim logra o ca- fundamente, ia o pobre ao matto á caça e levava fumo ao
~ador. No ~aranhão e~9ontra-se com pr~ferencia nas mar-
gens dos rios para p~dir fumo aos canoelros ; ads que lh'o Korup'ira. Chegando lá, já o achava assentado perto de
negam, vira as canoas. No Rio Grande do Norte e na Pa- u1na fogueira e a caça já estava 'ª ·Seu lado. Eis aqui a ca-.
ça para ti ! Ah ! Ali ! Dá-me fumo.
rahyba, onde monta um veado, o caçador pode contar A mulher disse de si para si-Onde caçá meu marido,
com elle na caça, se lhe offerecer tabaco. Em o Sergipe sahiri..do á noite '? Onde achará caça agora '? Quero espiai-o.
encontra-se nas estradas e quando Uie negam tabaco para Quando seu marido foi outra vez á caça de noite,
o seu cachimbo, mata a gente, fazendo-lhe cocegas. fingiu-se dormindo, mas estava acordada. Tendo elle sabi-
Mnda de figura e de nome, nias não da sua paixão do seguiu-o. ·
pelo t.abae,o. No Rio Grande do Sql porém content~·$e por · No logar, onde o esperava, eneent,r ou o Korupira que
vezes com umas velas que lhe accendem os vaqueiros pa- logo diss,e assim :-Me.u cunhado agora termina nosso con-
ra lhes ensinar o paradeiro de uma novilha perdida ; aqui tracto, que devias encobrir á tua mulher. E por mais que
tem o nome de negrinho do pastoreio. o queiras occultar, tua mulher jli o sabe. Pensas que ella
Das muitas lendas só citarei uma : O Korupira e o esteja longe daqui '? Julgas que ella esteja em casa '? Lá
~~ . está ella. Tu não tens nada com aquillo que ella ha de
Contam que, não se sabe como, um homem e uma soffrer. O ;Korupira deu um pulo; lanQoU-se contra a m.u -
mulher vlviam em mu~ta pobreza. ~uando o homem ia 4 lheP e a matou. O homem ficou viuvo, enlouquecB11 e fugiu.
.. :Antigamente tfüba o tabaeo applica~ão na medicina.
Gabriel Soares diz que indica só as· curas mais notorias,
24) Clavel, Hist, pit. des reig. T. II, p. 103. -0omo é piatarem com seu sumo os vermes que se criam.
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Em breve tempo deu a terra o arbusto e mais as
em feridas de gente descuidada. Deu uma epidemia na flores e fructos de ouro e neve.
costa do Brazil de que foi atacado o gentio, morreram mui- E o filho gigante Prairú propoz a Sacaibú : Se que-
tos desta doença, sem se saber dónde nascia. Finalmente res artotear o valle, a serra, lá no fundo ha homens e mu-
encontraram um remedio efficaz na herva santa, o tabaco. lheres para cultivar a terra. Varnos descer a.o abysmo ahi.
Esta planta chegou a accender vivissima guerra en- Debruçando-se sobre a borda da abertura ouviram um bor-
tre os medicos, que discorriam sobre suas propriedades, borinho subterraneo como de extranho povo. Segurando
invocando a autoridade de Hyppocrates e Galeno, como se a trança de algodão que trançou, desceu Sacaibú pela corda.
já fosse conhecida por estes. Ferviam as receitas sobre o Voltando seguiu-o pela corda gente capaz de póvoar
modo de preparar o tabaco e de us~-o. A crermos a elles, o mundo, trepando em grande massa.
·faziam-se curas extraordinarias. Tomou taes proporções E vinham tribus de diversas regiões, clitna e raça,
esta mania, que estiveram a ponto de abandonar todos os mas todos feios, deformados, gagos, de olhos tortos, esbo-
outros medicamentos para ficar o tabã._co sendo o remedio ços rudes de homens primitivos.
univel'sal. Guindava mais e mais e affluindo finalmente vieram ,
A lenda d:a ~bobqra
outrós de formas b.ellas, regulares.
CJs p'r hneii·os todos subiram inusculoe:os, robustos de
(Formação do mar~ trone-o tirme, côr dé bronze pallido. .
l\llas ni:sto a .c orda estala., quebrá:1»a. A multidão
E' 'Pedra Martyr ·que jr mencÍ6ha esta lenda assaz. afunda.
original. · Eis porqu'e ha tanta gente íeia e a b~nita é r~ra.
Morreu o filho do poderoso chefe Yaia. Soluços, pran, Esta lenda parece con10 uma prophec1a. a reahsar--s e
tos, alaridos enchem os ares, echoam pela matta. Agacha- nos tempos modernos. Segundo ella o genero humano foi
do contempla o triste pai o querido filho que está morto. creado _para plantar algodão e fial-o.
Não quer vaso de terra, as igaçabas a seus olhos são mí- Este de facto enche o mercado mundial e occupa
seros sarcophagos; e os ritos cum{}rem -se, as dansas fune- centenas de milhares de trabalhadores e 1nilhões de fusos
raes começam ; em redor do defunto os fachos se accendem das grandes fabricas. _ . .
para limpar de genios máos a noite. Entre os caiapó a corda de algodao é substituida por
Numa abobora de disforme grandeza abriu ao dilec- um sip6 e entre os mexicanos por um fio de aranha.
to filho o sepulchro. Foi betn junto da eabana e em frente Rairú entre os mundrucú é puxado por um tatú pa-
da velha sapucaia. Sentou-o neste jazigo vegetal, uniu-lhe ra o abysmo, do qual sobem os primeiros homens.
ao peito com seus collares de dentes os joelhos. Poz-lhe um Caboy, o estirpe dos carayú, ouve o grito da sirieriia
par de juritys mortos aos pés e caúan que espanta as co- e manda a sua gente acuda a voz della. ,
bras, rodeou-o da flecha e maoana. Esse ascender de um outro mundo de um ab7$."-?Jl.O, e
Quando J;la outra manhã foi visitar o sepulcLro viu um earacte:ri'stico de ~nuitos mythos ameri~~nos móutfé!tate
o tuxava com ~spanto que enormes peixes se escapavam entre as tr1bus de Arizona, dos Navahos. Zi) \ • ~r
da abobora-sepulchro e as aguas que sabem, inundam a i
região e os pagés,fmulheres, -velhos e çreanc;as trepam as A anore Raliadigua
arvo;res. Goteja a abohora mais e mais, inunda a terra e Qs m.ocopios contam que existiu um~ ai:vore g_ue em
0$ extremos lares dessa agua; é ·aS'S-im que se,formou o tnatt
seu idio.ina cham~ vam .Naliadigua de d~sm,~ddl~ altura e,
A lttlld& do Algodão, que c:o.Jn ,a cop:a tocaYa o cé.o. Por ella de galh~ ~m galh~
s.~biani as almas depois de pescar em um rio ou lagoa mm
(ORIGEM DA HUMAN~DADE) piseosa. . _ ,.__ _
Porem um dla a alma de uma velha nao pode pes-
Não balanceava.. se ainda o indio entre coqueiros na car e os pescadores lhe negaram o soccorro de uma esmo-·
rede, não havia fami.fia nem cabana nem sequer na vasti· la para seu sustento. Então irritou-se tanto contra a nação
dão do mar vogava a leve igára. mocobi que, transfigurada em capivara, começou a roer as
E veiu Sacaibú, o primeiro dos homens ou quasi um
deus, cercado dos genios, seus filhos fiz.eram casa e quinta. 25) Ehrenreich, Mythen n.Leg. der Sudamerik Volker,r ~p..
Semeou o algodlo. \


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raizes da arvore por onde subiam para o céo e não desis Plantas magicas
tiu até derrubai-a para a terra para sentimento incrivel
damno irreparavel de toda a naçã-o. 96 As plantas gozam entre os índios do Amazonas de
virtudes feiticeiras ; o cu1nacá, por exemplo, é o fetiche
Anores santas da liberdade. Imagine ..se que algum delles cahe prisio,.
ne1r.o, acreditam neste case que as raízes pulveri_s adas do
Gomo tal devia ser consider.ad~ aquella de que s~· fetiche so.p1•adas sobre as cordas que ligam o gµerreiro,
Thomaz fez a cruz que segundo a lenda o acompanhava transportado á tribu inimiga, afrouxam os laços, propor-
na sua viagem pela America. Coriforme reza a Conq1tist4 cionai1do-lhe a fu~a e a liberdade.
a escolhida foi uma especie de jacarandá, uma das madei· O taiá ou tinharão (caladium bicolor) planta herba-
ras mais estimadas do Brasil. cea das aroideas tambem conhecida com os nomes de papa-
Coni a eruz de S. Thomé outra arvore tem certa re- gaio e pé de bezerro, é o f etiche da pescaria. O caboelo vê
lação, é a a1''1Jore de chuva. Pois encontraram-se diversas nas suas largas folhas orvalhadas do relento os dentes de
cruzes na America do Sul cuja origem se attribuiu á pre- perola de uma bocca myst.eriôsa que ~eija COIJl ? susurro
sença do santo apostolo ou as q~-ae~ foram invocadas co-i das auras a face calma do rro. » E os peixes eomo po1· encan-
mo pro:va de sua vinda á Ameriq.a . to acodem presa voluntaria .do feliz pescador.
Investigações I:QOdernas demonstraram q.ue e~sas, cru- " Se a enehertte suhmergi·r µ1na flor.esta, éste aoonteci-
zes podem ter outra origem que não seja chT1stã. Na Ame- 1nento -marca uma victor'ià da Oy (mãe) do rio contra a Oy·
rica céntl·al e no Mexico veneraram a Tlalo, o deus da chu.. da floresta. ~8
va e da fertiliâ.ade, e consagraram-lhe certa arvore, symbo""
lo optimo da fructificação e productividade. Nas suas es- Anores caut~chu e seringueira
culpturas e outras exhibições renres-entam a arvore em for-
ma de cruz ; assim se explica como os primeiros europeos Na bacia do Amazonas ha duas arvores cujos pro-
as derivaram de uma influencia christã ou se inclinaram ductos muito procurados nos mercados do mundo, exercem
facilmente a attribuil-as ao uroprio S. Thomé. grande influencia sobre os eostumes dos habitantes dessa.
A arvore ou a cruz é ordinariamente encimad~ der. regiãó. .
uma ave mysteriosa, a que offereçem os sacrificios P.~ra ·A. primeira é a c~stiloa ou caucheira (castilaa elasti-
obterem a desejada chuva. 27 ca)._.Ai ixplo11a~ã.o· ~o caucn"Q. é pri;mit~va e aJnea~a -~ ·e;x;ti.r -
paçao des~a utihss1ma ~rvore., No Peru, p. ex, derr1bam as
~ 6) Guevara, Anates de la V.iajantes narram de uma ~:-? arvores passando de uma região a outra região á cata ~e
E1bl. Nac. de Buenos Aires IV vore inteiramente coberta de novos pés para cortar. Assim desenvolve-se um nomadis-
d. 61. uma espessa n uvem que a ba- mo profissional e interminavel que os leva á pratica de
2 ? \ 1\l:mos neste Estado tam- nha de sorte que continuamen- todos os crimes e attentados nos inevitaveis encontros com
bex: a 'µIJa arvores de chuva, as- te gotteja a gua de sua folha- os índios. Tal maneira de viver acarreta a desorganisaQão
sim""~.ltn~min~da, não por ter gem, e os habitantes a rect- systematic_a da sociedade. O caucheiro errando de rio ~m
relação com um culto, m as por lhem em u1na caixa com qile rio, de e,s pessura em e~pessura em busca de um mato v1,r..
ter a qualidade de pluviosa. En- rodearam a arvore ; pois é a gem onde se escor.da ou se ~omizie como um foragido da
contrei em viagem pelas l\'!is- unica f-0nte de a gt1a doce na civi'li$,à·ção reçahe fiha,Imente na p arbaria e no ~elvagismo.
sões diversas yezes esta ~rvere ilha. Os naveg antes do na;v:io., !A sua passagem. foi n.é{asta. Ao ca,bo. de 30 annos de
e verifiquei, no~ ar;redores de Silpe:rne Welt de Amsterdain,! povoamento, as margens de rrcayali, tão nobilitada.s outrora
·s. Luiz Gonzaga, o facto de got- refies~aµdo ahi ein 1598 reco- pela abnegação dos 1nissionarios de Sarayaco, patenteiam
tejarem suas folhas e de estar nheceram neste phenomeno um hoje, nos seus vilarej0s dinrinutos, uma decadeneia moral
bem molhado o chão ao pé da grande beneficio da Providen~ indesctjptivel. O coronel Pedro Portillo, actual prefeito de
arvore1 emquanto os arredores eia. Tambem Fr. Bacon (Nov. Loreto, que as visitou em 1899, denunciou-a, indignado :
-~tavam bem seccos. Veja a no- Org.) vinte annos mais tarde Ali não ha leis. O mais forte, o que tem mais revolveres á
ta que fiz pag. 11 da Paran- menciona aquella maravilho _ disposi~ão, é senhor da justiça. Verberou depois o trafioo
duba Riograndense, Porto arvore. E ' mais conhecida a ilha
Alegre 1901. Esta especieé tam-. de Fe.rro pela adppção 4o seu
bem diffeFentede outra arvore meridiano cqjo uso se genera- ~-8) Mello 1\1'.oraes F.o, :Exposição .Anthropologiea, Ri0 1882•.
de
..de ekuva:, a tla ilha :Ferro. li$ou nos secttlos 17· e iS. ·
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O caeio
·escandaloso de escravos... os rastros do homem que passa
.P.elo deserto com o só effeito de barbarizar a propria bar· , P~der<?so poder-se-ia chamar este vegetal, se podero-
baria. 29 so e o dinheiro que, segundo um proverbio allemão, domi-
Muito differente do caucheiro é o sering'l!eiro, que na no mundo. As favas dessa arvore faziam as vezes de
explora a seringa ou siphoIÍia (hevea elastica). ~stabel~ce dinheiro por seculos no Mexico e muito antes do descobri-
sua cabana de folhas de palma quando pode a beira do rio; mento da America. Cortez narra que encontrou no thesou-
dá·lhe por vezes um aspecto pitore·sco o fundo verde-escu• ro de Montezuma mais de 2 e 1/2 milhões de libras deste
ro da folhagem da sipbonia cujos altos, esbeltos e pratea- dinheiro que representavam o tributo dos vasallos. E ain-
dos troncos distinctamente sobresilhem. da A. von Humboldt o encontrou na Costa Rica.
1.-Ias o poder dessas favas extende-se a mnito mais,
Elle é ligado ao terreno que cada dia como em circu- quando àpparecem sob a conhecida forma de chaeolate.
lo perpetuo percorre. Contam do celebre bispo da cidade de los Angeles,. hoje de
Da cabana levam picadas, ás seringas ; em cada u~a Z,aragdssa B. João de Palafox., que,. não usando d.e sta be-
eom um machadinho abre um orificio doâde começa a sah\J" bida formarcam disto alguma mat·e rja de ;reparo p.or ha:-
'u m sueco leitoso que é recebido em Ulfi pequeJiJ!o vaso fe1· ver ·n o seu bispado abundanc)a de cacáo. Responileu-Ihes :·
to de taquara. Voltando .p assa ·cte tPonco, a tronco e despe- , ..,~ão o i~ço por mortificar-me ; senã() porque. nã'o haja em
Ja OS pequehOS canos de taqllaTa em tnna grande Cbncha ' minha casa quem mande mais que eu; e tenho· €1bservado
·de tartaruga. E logo passa a defumar o seu contendo. Pa- que o ~hoco~ate é alimento dominante, que em se habituan-
ra a fumaça são mui ·proprias e ~ervem pozes de certa do a elle não se toma quando a pessoa quer, senão quan-
especie de palma que tem á propriedade de logo coalhar do quer elle.)t

o sueco. Quanio domina o chocolate nos que a elle He acostu-


Uma pequena quantidade, quanto cal:>e em Ull}a cuia, mam, evidencia-se pelo facto que sob a antiga dominação
deita o trabalhador sobre uma pá de madeira que vira com hesp~nhola, para maior regosijo de umas bodas, mandou
geito assim q_ue fica coberta to~a e logE? applica·a á .fu~a­ o no1vo .fazer ~a fonte de chocolate que correu todo
ça em que depois de umas rap1das reviravoltas o liquido aquelle dia publiêamente para todo o povo. «Mais é, quei-
fica duro e resistente. Assim ajunta a esta mais umas ca· xa-se Mauoel Bernardes, que em algmnas terras daquella
madas e finalmente tira da pá o SQlido involucro que é mesma corba é ordinario, em acabando de eommungar e
gomma elastica prompta para o commercio. ~ar graças, tomar-se nas capellas das igrejas, levando para
Um bom trabalhador desta maneira pode fornecer i~to de casa os apparelhos necessarios, que nunca serão
'2 a3 kg. por hora. E o kilo tem-se vendido por 1e2,mil réis, tao poucos, ~ºIl!º é de crer que são os que levam para re·
mas é o seringueiro que pouco ou nada aufere d ahi. ceber o Santissllfio. Porque que outra cousa é senão des-
Aceitando do patrão emprestado tudo, a passagem prezar a igreja, fazer a nossa cozinha a par dôs seus ai·
os instrumentos, os viveres, ep.di,vida-se de sorte que Dl.l-ll tares ? Ou~i:os sobem tão de ponto seus elogios, que não
ca mais póde sahir do estado de d~pendençia desse hom falt~- quem ~1ga que, .se ?ª. entendtment_os comessem, havia
àe bem. E se consegue sa4ir das,· di:vid~s~ paga-lhe o pa de ser _ch.ocõlate. Muito JeJu~ o en.tend1m.ento de q,u~:m, por
1rão não em d~nbeiro H)as i~ping~:_lhe fazenda.. e viv~r~ ennobrecer ~ma eoasa tao v1t, env1lece outrâ · tãq 'n obr,e · e
pelo duplo .e ti•lplo de preço QU .a,l'figos s,e m sabida ou in~. por fazér um estomago como Q.e anjo, faz uma alma de ~a:­
-teis ·para ell..i~ e no fin1 do an!1o o pQb.·~e trabalhador dey cáo:>. S~m .~.nt~egar-.se a taes excessos nem apptoval-os o
mais que poa.e paga~. EseravlSa-se, ~ssnn nem póde fugir g~ande nà~º'ralista L1nneo deu ao cacáo e seu nome bota-
1antas são as distanc!as do mundo civilisado ; perde tod dico, theoõroma ou alimento de deoses.
à vontade de trabalhar, fica desanimado e des1noralisado
E' ·a reproducção das miserias e .d.a escravidão do Planta magnetiea
antigo$ paraguayos ocoupados· no beneficio da herva-mat
nos hervaes dos colonos hespanhó'es. 00 Muito antes de collocarem sabios uma estreita lami-
n~ de feuo magnetisado sobre um quicio ou cixo nara in-
29) Euclydes da Cunha, À' ria et~. Porto Alegre 1909, on ~icar .o Norte, cresciam agulhas m.agneticas naturaes nos
margem da Historia. de damos un1a explicação por. unmen~s çampos da America e ainda hoje flore8cem em
30) A herva-mate na histo- menorisada
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grande quantidade como guias seguras atravez das suas-
ext~nS'1S savanas.
Pertence á familia das compostas esta interessante
filha da flora americana e deram-lhe diversos nomes como
plan't a-aoullia, herva de piloto, planta pola1· (silphium
laciniatum). Era cousultada pelos viajantes e guiava os
caçadores indios por gerações tnuito antes que o mundo
scientifico tomasse nota della. Pois as folhas deste arbusto
tem a propriedade de inclinarem o seu contorno ao Norte
emquanto as pa~nas ou faces das folha,s olham para o Es-
te e Oeste. Por conseguinte estas são expostas aos raios
do sol nascente e poente, porem os abraçadores do meio
dia não podem atting•il ·as de ehapa. Assim sua evapora-
ção é moderada e o seu viço protegido e conservado no ·
meio do deserto.
Uma autoridade affirma que observações repetidas
por meio da agulha . magnetica das direcções assumidas
po'r centenas de falhas tem mostFado que a crenca popu-
lar, quanto a qualidadé de indicar o Norte, não está des·
tituida de certo fundamento. Capitão Reid em uma das
suàs obras escr.eve : «Tinbamos um. guia a<;> nosso destino
tão seguro como a agulha maguetiea. Atravessavamds are-
gião da planta polar, cujas folhas a ca~a passo indicaram
o nosso meridiano;>(magnetioo). Longfello'v d@dicou ·lhe uns
bellos versos no :3eu poema «Evangeline'> . at
Plantas persontficadas
Não só na avifauna, tambem na flora encontramos
o que se pode qnalificar de uma espeeie de per,sonificação.
Ha uma f:. ·1 i lia de plantas, ~' das personadas, por
est.e nome conhecü.1<h:i, p:o r q ue sua flor se parece çom um
rosto ou uma ma$cará. Não é destas que falamos aqui,
mas cham~mos de personificadas aquellas que, por seu no·
me ou por acções ou dizei?es empres·t ados a ella.s na. fic-
ção popular, representam ou inculcam certas pesse>as. ~ten­
cionamos eqtr.e as primeiras a leguminosa o Juca da $e'l'·
ra (cesaipina ferréa M.J, o Gón-.Q_àlo Alves (asb,onium fra· .
xinjfolium Schott), 82 a arvore F1·ei Jorge (cordia sp.), o ·
João Gornes, o arbusto silv:~stre, João d~ , Puçá, o Ma-
31) São os seguintes :
cLook at this delicate plant, that lifts its he.ad from the medow ;
s ·e e how i~ leaves all 1;>oint to lhe Northas true as th~ magnet;
It is the compass flower, that the finger of Ged ha'S saspended ;. •
Here on its fragil stalk., to direct the travellers journey ; · 3J) .R. NapR.> DÍ~ Àfgentinis­
Over the sealike, pathless, limit1ess waste of the deserb. ~~~· ·~~p~plik, .. Bu~nQs . "{\ires
32) Revista do Jnstituto doCeará de lgro, pg. 17. 1876; J>"*..r:2]. ' ' ·
' '("1-

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leguminosas (cassia sericia e e. dormicus), Matapáo, tre· D. MIDICOS, PLANTAS MEDICDIAES
padeira da familia das clusiacêas (clusia insignis) que es·
trangula 9u far- secc~r. as arvores a que se enrola, o Pega. Antes de tratarmos destas, tem.o s de fazer cQnheci-
pena (mentzalia fragths flub)-, 95 a Lava-pratos óu ma· mento com aquelles.
manga (rra-ssia medica) da família das leguminosas a a La- Os medicf;>s da gente ca1n.peira, <l..iz Granada, têm si~
va-pé (centaurea sempervivens) das compostas e o Offieiàl do em gei:al os curandeiros. No P11r~guay cada districto ou
da sala que com seus filamentos enche os tra vesseil'os. povoado tinha mn, que todos os dias de festa se assentava
Bom serviço prestam tam be1n o 111ulatinho e o F'radinho á porta da igreja, aonde acudiam os enfermos, e lhe envia-
(dolichos monachalis) ambos da casta das favas o Carpin- vam suas aguas em canudos. Atirava umas gottas ao ar
teiro, ( achilleamillefolium ). tres vezes para verificar se cahiam conglobadas ou soltas
. Entre aquellas a que a imaginação popular empresta como o rocio. No primeiro caso, havia indícios de que à
d.}-zeres, podemos contar o Mal-me-quer (calendula arven- molestia era procedente do frio ; no segundo, do calor. O
s1s) de flores amarellas e brancas, da familia das compos· remedio consistia em uma infusão de bervas, que o pa-
tas ; outro Mal-me-quer ('caIJistophus sinensis). Quei:xam- ciente devia tomar. Estes curandeiro~ nem visitavatn os
se mais óutros,, o Mat111ieq11,er d.a <tampina ·(wedélia tril0· enfermos,. nem queriaI1l saber de uma descripção d~ seus
bata) ~ Malmequer grande {neliopus scab:ra), o JJlalme- incol'tlrnodos. · ·,
querziriho,. parasita da familia das orchideas (epipactis Uma celebridade medic11, o dr. ]i1onardes, occupava-
eampinari:a) e ainda uma :::;enecionea Mal*me-que-r. 86 se seriamente de uma arvore do Peru, que inostrou, <{sé
Tambem no reino v egetal as queixas encontram-se alguem ha de viver ou morrel' ». ao
em numéro niaior do que os louvores. Temos umas.ó Bem: Nas reducções jesuiticas ~abiam os enfermeiros san-
me-quer "ou a Margarida dos prados (chrysanthemum grar e applicar alguns remedios. Dahl talvez o facto que
leucanthum). Com o grito generoso Mata-me·embora offe· fóra dos curandeiros a povoação do can1po ainda hoje co-
rece-se uma gra1ninea medicinal. Roga ao transeunte uma nhece um sem numero de medicamentos para toda classe
elegante (senecio elegans) llãó me deixes, emquanto outra de moJestias. .
j eom gesto co1nposto nos insinúa Não me toque (mimosa Os jesuítas entregavam-se a estudos largos omnimo-
p~?ica); .é a. min1@sa que qualff~caD? de pudiea pela sensi· dos das plantas, me_dicin~es do P,a raná e do Uruguay. Qg,
bitidade. dellcada com que ao primeiro to<;tue encolh.e ·o s fo· padres Sigismul1d.o Asp~rger, Boav~nfura Soares e o irmão
liolos. Não só falam, nã.o só se queixam mas parece que Pedro Montenegro espalharam por toda a parte esta scien-
tam bem choram as flores como o salgueiro chorão (salix cia tão util. ·
babylonicã) e outras : As receitas do P. Asperger andavan>"'Cle mão em mã-0
e. segundo uma testemunha ins uspeita, Azara, tinham mais
~Parece que choram sempre credito no Rio da Prata que na Europa as de Hypocrates.
Aq flores do campo santo : Assim se explica como a sciencia me~ica ficou tão commum
Quando a ventania passa ' entre o vulgo no Rio da Prata. Não .ha quasi cidade nem
Cahe orvalho como pi:ant.o.>Y a7
povo em q'Qe não se encontrem vendedores de hervas me- ·
• dicinaes, que. eUes mesr~os colhem pelqs cerras, praias, ba-
No Correr deste estudo Q leitor póde convencer-se do
nhados, cQchilhas e valles. ·
Manosan1<l>$ e tatacf,ióses chan1am no Rio da Prata,
gran<fle interesse que reina pela flora entre os povos ame- certa classe de curandeiros que percotrmn os campos e as
ricànos ; não menores tem sido os· seus conhecimentos me-· cidades, promettendo cur:ls maravilhosas. Estes curandeiros
dicinaes. 88 ·
eommummente não sabern ler nem escrever. Não aprendem
Mas esta materia reservamos para a segunda parte. • sua arte em um livro nem em uma escola. Tão pou~o fazem
esforços para adquirirem um capital de sciencia medica.
35) Rev. do Jnstit. do Cea- parafraseadas por Clemente Ba- Pode-se dizer que o curandeiro via facti chegou a exercer
rá de 1908, pg. 247. rahona Vega, Santiago ae Chi· ·o seu officio. Um dia offereceu-se-lhe a occasião de ver se
36) S. Hil. Rio Grande do le 19_03, pg. 1 r.
Sul, pg. r:t•3. 38) Vêr o que escrevemos-
37) Tr~vas e 1nodin:bas po- n0 estudo A He:rva-'1!.fJJ.~e~ Por- 39) Oonz. PQl>la.s> l\iemorias de las Mii;iones de indios guara-
pulares del Brasil traduzidas e te Alegre 1907, pg. I3· ais ; colleoção de: Angelis.
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' ) - 156 - .
cur:ava. um afflicto, irnplornri.à.o a divina miserioordia, ben~ . 1. \ • ... • ' f

zenà.o, asso.p rando ou im,pondo-llie ,as mãps é.sahiu-se bem~ e um 1vaso com agti1l e assim c:> deixaram até a m'órte ou a
Repetiu a operação unia' e outra vez, sendo . feliz em todas recuper'á r a sauae. Pois na sua opinião, a a .,.ua era o re-
ou algumas. Correu a fam~ e proolamara1n-no manosantà."º medio s_p)>erano, porque sarava o corpo lavãndo de suas
Nasce pois, diz o supracitado autor, e sae o .manosanta do manch~s ~· a'lma. Entre umas tribus. parece· ter ~g.qrado o
selo da socie.clade e de determinadas ch·cumstanoias,, QO- r~pugp.:11~te Gostu~~ 4~ .matar Qs ,e~termQS deporsJ ie uns:
mo certas hervas que @rotam e C'l'esce1n sem q1ie ,alguem dias ãe ~stado gr!lv~. e as seus ancJ.ãO's, pàra não prolon-
as plante nem cultive, em terrenos aproprfa:dos : a reeéfier garel!l-&é s~us so:drimentos.
a semente que as produziu. Ao emprehend~r inconsciente- Entre os guaranis e tapes acharam ·se casos de en-
mente seu ministerio, corresponde a uma voc'ã,ção que, alh.eia te~rarem vivos os seus enfermo~ desenganados (Te.c ho,
ao culti "º intellectual,
se converte em 1nonomania. -.eeu ,H1.st. Pa~ag.) j

proce4i.mep,Jg ~~o dif.fere tló dos ~agos e feitíoe-iros dei)u- l . '

No }{exico existiu ne seculo 16, um cor.po respeita-


tros te1npos e regiões, ·sendo que a humana n::!:t.urez.a é s~tn­ vel de medi.cos, ao qual tambem relig·iosos de diversas or-
pre a mesma. -Oens fornec.eram seu contingente. Um delles,João de Unza,
A supina ignoraueia do curandeiro lhe- possibilita quando um de sei.t:S enfermos su.c cumbira, o bom do fran-
agu~lla impavidez que h:ifup.p~ ar> enfermfj), pasmadO' da ·e isca?O espiava po1· umas di~ciplina~ . i:rangre:qtas a negli-
ousadia do mânosanta', 'essa confiança e fé <ttue. ã tnan.eira gencia (lli'e talve.z ·podesse ter' comettido. Se certQ.s douto-
de auto-suge.stão pr0duzem as ve~s visivcis melhoras ou res fizessem outro tanto, accrescenta úÍn autor, con1 que
a cura eompleta. Ao mesmo t empo procura passar por -eruas espaduas deviam andar. · ·
. h omem de bem, não commetter acções más, visto que a ARé.z.ar de rec.on hecerem os euro-peus a grande he-
pr-a tica da virtude favQt:ece o exito das suas, curas. rança Q.e conheeime11tos de hervas medi~!le.s que ihe dei-
1 Para _adquirir a fo~ça ,nece,,ssaria wa.'.l'.,a operar s~l,)~e :x:ar·am as indigena;s, não se po·de dés.99tlhecer .a q;eculta ou
a imãg-ina.Çãó do seus admirad91•es recorre, quando trata aberta op.posição que medicos de alem mâr fizeram por ve-
gente reiigiosa, a piedosas ceremqnias e pratiea-s. As velas zes a seus concurrentes mexicanos.
collocadas entre o crucifixo e o paciente offuseam·lh"e os Verdade- .o u lenda, o episodio do dou tor i:lidio lem-
olhos e ajuda1n a a uto'.'s..ugestão. bra essa ho~tilidade~ Aécusado de exereieio illegal da arte
Ap:e~àr :desta apparencia tão .~fl.n.t.a, se . d~rmps c~d~· medica, entr.e gue ao s-uper·in:téndente meg)c9 d,;i ~C-~J?i:tat az-
.to a autoJ.·1dad1e ·notaveJ1 o manosanta e t>', t'IJ,t.®ío.'J J3âo 1111- teca e' no· p<>nto de s:er eond.a nmado por unper1ma, o p0bre
nistros do espírito das trévas, que, con1 o attr-a~tivo de· offe- curandeiro pediu SPUS jui~es que cheirassem o perfu1ne
recer nada 1nenos que o bem-estar physico á gente, se:·p ro- ~i'uma herva que Ih~s preseniou. Todos foram ü~ediata­
põe dominal-a. Poucó importa ao vulgo ignorante·donde. lhe ment~ ataeados de uma violenta hemor:rh~gi~ ; o aecusad.o
venha ·a cuta ,e ·a saúde ; fechanâo os. o.lhos, se põe n~s desaf.1o~qs a sustal.~a. IVI~s t_
o dos se~~ rew~d1os ,que, applh
'filãr<JS•·cl.e quêm lhe. promette e cõn~~re a saúde Oli o.Ji\r:rc· de -éara~ naQ deram resultado at'é que o inato lhes apresentou
um grande perigo. aos narizes um outro vegetal qu.e estancou o sangue como
Sabe-se que algtÍmas trjbus ameticana~ poss~am por eneanto. .
meio muitó simples e radical de suppritrih;: às enferffilda- Procurando penetrar um pouco na epooa precolom-
de.,s. Declarou-se grave, logo tratisJ?brta·1v ain~ Q· enfermó -Pa· • biana d.o s mexican0s, acharemos que ~ m~teria medica é
r~\ uma nr<>ntanl~n visi:nhaf dep,õ)rdb a 'seit I_á(lo alimentos rica na' cnrdilhei·a dtf Anahuaci mas até h~je pouc9' estuda-
da e con~ecida.
Entre os Azteques andava a clínica mistura-da com
40) A isto não obstava que que estabeleceu: ordenado a cer- praticas religios~s e ~~perstici,osas. Tornaudo-se nerigosa
eÊgisse ou ac:eitasse pela cu-Eato ·so.ldadq qu:e: çuravd1.Ç9m .a doenç~, o n1ed1co d1z1a ao enfermo ; «Oommett(•'JP um
ou? pela consúlta uma retribui-11alt.t:t1.ra.$·,· re-g1stado ·~ , ~- ü>I poocadv~ eJhe 1·e·peti:a até q:n~ fez a ~nfil;isão .de um talvez
ao ~ L1v. ·3.o·tlo ·Ace,g:. ·fd0s Pãt~n­
'Çãó.- Ma:s .rrã:'o eo~h.eço . "um ca- Já muito .:antigó. Is~? foi ~~i;a elJe a .m~<:lici~3: princ~np.I : pa-
sõ -em que o. curandeiro rece- tes._Alvará pela Contadoria Ge- ra salvar o corpo, e premso pr1me1ro Justificar a alma. Pa-
b~se ordenádQ, facto que se · ral do · Exercito do Alemtejo. rece ouvir-se uma das sentenças do sabio do antigo testa-
deu em Portugal. R,.evis~ Lusitana, vol. .J 2 1 n. mento. Essa idéa tão profunc;la .e justa encontra -~e tam-
Existe um! alvará de ~-654 3~4. pªg. 177. •Lisboa r909. bem, posto que desfigur·ad.a, 'e ntre outras tribus americanas
como nas cr·enças do tn undo antigo. Sabem os autores que
.. . • .

-..
houve uma especie de confissão no Mexico ante-colombia- Testemunhas de incontestavel autoridade nos infor-
no. Bem que differe)lte da christ~ explica o incrivel empe- mam a que estupendos result.a dos chegaram os therape,u-
..nho do~. az.t eques e:i11 receber· dos p~imeiros mis.siouarioe o tas de Anahuae.
sacramento da penitencia. · Se porem seus eonhee.imentos, fundados sobre uma
Como os antigos povos do Oriente, os babylonios e· observação e e.x;periencia secular, se elevou a preceitos cér-
outros, conheciam os mexicanos diversas catliégorias de tos e si estes pouco a pouco a altura d'uma arte ou d'uma
magos e feiticeiros; uns tinham por e$pecialidade os male- sciencia, o que aliás parece prova vel, não o sabemos. Um
fícios. Entre outras praticas, ainda hoje em vigor, onde o vasto campo de estudos tre lhes abria nos hospitaes ante-
christianjsmo ainda não lançou ratzes, os feiticeiros forma- colombianos de Mexico, Tlascala e outras"grandes cidades.
vall.1 de, argila ou por meio de péd=açoti de panno uma es- Tambew os' exercitos ,p<;>ssuiram seus medicos e· ci·
pecu~ ,d e boneca, atravessaram-na dê espinhos de agave e rurgiões que tr~ta:vam o~ ·f eridos durante: a batalha em lo·
foram co1local·a a bordo do caminho da victima. A 'pessoa gar retirado. Dispuzeram d~ um balsamo de força maravi·
enfeitiçada nevia infalliveln1ente sentir dores nas partes lhosa para sarar as feridas mais rebeldes. Para subtrahi·
maréadas pelos espinhos. remos enfermos ás dores da operação cirurgica, em algu-
Para livrar as victimas do inale.ficio havia outra elas-- mas tribus usavam de agentes anestheticos. Para o mesmo
se de. feiticeiros aos quaes incunl IJia a tarefa de neutrali- fim, segu.udo Sahagun, applieavam os grã9s de yauhtU ás
ial·o. victim~s s~cJ?ifi.eadas ao de.u s do fogo.
Mui usada foi uma cactacea clu:unada p,eyotZ que, co·· Resta fazer uma resenha de plantas medioinaes ; ·eS·
mida ou tomada em infusão é capaz de produzir uma em· colhemos algumas das mais afamadas.
brfaguez de dois a tres dias. E' ella qne dá coragem e tira
intei ramente o medo na batalha e torna a gentB insensivel Mil-homens
á fome e sP.de e preserva de todo o perigo. Para muitos foi
o p !'\yotl não só uma panacea 1 mas uma herva santa, que Esta trépadeira ou cipó é da familia das aristolochias
tinha suas festas. A raiz revelava o .futµro. e ~lembra a her- e veiu·lhe tão rara denominação de uma eecurrencia qne
va ·mate dos feiticeir'óS 'do Bi-asil austral. tivera um curanqeiro brazileiro. Expondo a energia que
·Os primeiros missionarios e seus successores no cor- tem esta planta comô conti~á-veneno da mordedura da ja·
rer dos tempos fizeram grandes esforços para extirpar as raráca, disse que tinha curado, por meio della, mdis de
inultiplas superstições cujo centro formava a !(raiz diaboli- mil homens. Outro nome é isipo-curuçú, que que1· dizer
ca» do peyotl e ainda hoje é demais conhecida. cipó de cruz, e refere-se á qualidade dos ramos que, quan-
Já os conquistador.es gabaram. a cirurgia ..e a thera- do' cortados obliquamente, offerecem a representaQão de
pe:utica dos mexican~s e 1núitos dôs hespan1i6es, qu.e seus. uma cruz.
~ais habeis patricio·s tin?am de::ienganado e reput~do J?er- Os indio~ de Missõe.s (na republ1da Argentina) "~ha­
d1dos, d.everan1-lhes a vida ; trataaas pot elles cicatriza- niavam ·na tambem cipó dó.s feiticeitos. Tinham por ·cou-
ram de pressa as feridas. Se o merito dos medicos mexi· sa assentada que o uso do isipo era remedio efficaz e pre-
canos não fosse real, Cortez não teria pedido ao impera- servativo contra o mau olhado e todo o feitiço. A vista
dor, rrão deixasse sahir medicas alguns para a America. fixa, diz Granada, serena e apparentemente meiga, --ém
E' duvidoso se Qu não formasse1n os medicos um insidiosa e perfida da jararáca que fascina e embaraça o
• vôo das ~v~s e arrasta os animaes ~suas crueis e devora-
pr.p.prio corpo Qu elass.e da população,. Pareoe.ao m~nos que
$(~fil ignoTarem outros COnhe~imentos llílediC~S, UilS se de- doras faucés, valia tarttô paira os· indidS e0mo o encanto e
d1ca1·a1n particularmente á cirurgia que outros eram den- quebranto dos feiti~eiros e bruxas.
tistas e occulistas; pois eneontra1n· se e:>sas palaTras no Os indiQS barbaros, como o homem primitivo, notan-
voeabulal'io da língua. do uma appa-r ente semelhança entre as cousas, logo tiram
Houve medieos da côrte, privilegio que para alguns a conclusão que entre ellas existe uma occulta correspon-
podia ficar fatal; sucçumbindo o augusto enfermo, diversos deneia. O isipo-curuçú desvirtua o veneno da jararáca ;
medicos: deviam ~companhal-o par;i c.L outra vida, onde cQn- por conseguinte servirá tambem, concluem, para temedio
tiriuatjam o se1·viçt>. contra a fascina~ão.
Fóra de parteiras, havia tan1ben1 \f c1u toras ou senho- Querem t_a mbem que o cipó tnil·hofilens por uma cer·
ras med.i cas que tratavarra as mu1Ler1:·i-- ta sympathia preserve da mordedura da jararáca. Para
. télf ~-
- 160 -
4o q~~ trazei:c,
~on~eguil-o; nãC:.' lia ' c:rutc'.â ~ou~ qrie,,!azeJ;
Junto a qualquer parte do corpo um toco deste mp6, para
' ... '~'~4 ·,
des,euida:va, voltavam ' as vaceaa, :c9mQ se ali estivessem
.... , .. . ·'

suas· crias esperando -o leite. Gomeçon a ,obs.erv,ar .op.m at"'·.


que fique ,pr.ese;rvaqo da ,aggi;ess.i jo do P~l'igoso repti). ·Se te~ão : entãQ pôde conven._eer~se da •verdade do que ant-e.-
é~ta trepadeira contem ~m vei;eno mortifé1fo para. a jar~ . ~ra só suspeita. , ,
racan eomo asseguratµ,, nao .seria par,a extr~nhar que o seu . Umas viboras grandes enroscadas nas pernas das
cheiro ti ves$e o e ffeí~o de afugentai-a. Cousa. semelhante vaccas pareciam mamar tranquiltam.ente. Não podendo
afíirn1;\ l-Iumboldt ,que ~Q.pcede com o .guaco do Pent 41 matal-as, poz, depois de se terem retirado as cobras, em
Çrê e asst:~gu,r:-i .a gc_nfe do campp 9:ue. a~ cobras, ~n­ redor do collo das vaceas uns ramos d.e ll'lil·homens f! des-
ros<m.ndt)·Se nas p·:\tas das vaecas lelte1ras., lhes tiptm o de aquelle te1npo er;n deante n-ão voltaram mais as vibo.ras ,
l t-i.t:,, º1l?iuifio q ta>, a~ve· se nQtal;e,' é. pou.co con(orn1e ,c om a sacar o leite. . 1 •
os ens1n2s da zool9g1'1 qig~· affira\a ,que estes r~pt!s não · · Entre as opiniões ..sup~sticiosas me:.r~~ ~inda men- ·
tem org~o$ _apropnadqs _p~ r3; m{lw.a r ne!D . chup!lr )fquidQ . , ção; a seguinte. A .mulher qu~ .d~fuma um qu1,tr.to com o ,
algll,m. 'I er ao outrqs meio~ ne ti:~ar. o leJ~e '? De.ix;ar~am .as ciÍ>,ó mil-hom~ns não espera ,em .vãq a.os que dea.eja ·q ue1$
vac51at?. correr p 1eit~ ~ o,ahü·9 ~-ª~ !~uo~·s aheirtaJh quando' . •tem.
v1S,) ' •. , 1
.,,..
excnaQa ~ PSlfl .~pt.uç~, de.;;t~ qphid1o_s ~ , . h ) , , ' i} oi llJ• R\1 r f Pau *'ªJato. . .i'mn~oh e.l:''fl••:ii 1• · ···~1 (~'r
SeJa como for., e()n!a-m ~ll~ uma~ vacc~~, leJt~1ta~ em , r
~m Jl,O.Vq: d~.,e~rpp0 :v.91~~lf~lll . ao .;p~tp ç9;i,n, upere~. seecos.
1
1 ., )Iui · c~lebr,~d:e ~é o :;p.(41.4; (gJiªy~eµ~:·pff.ie.) ou ·
sà.n/o,
tiuspe1tando o dópo qu~i }o,;;~eni ~pbr~s ..qu,Ef ~l\es t1r~s~em! 1 1 galli/Jtane, i<ila 1·fam1ha )das tereb1nthae,eas. HA d}v~e.rs.as: esp,e·.
o le~te, apartou·as da sua querencl'a. 4- Poren1, logo que se eies, das qtiae& uma é cb:amada:· qu'Jbrf!L·maf),/i~o p,Qr ,s~ul r,
rat.a dureza. Ba uma ,especie.qu.é eomyaram1Loz:ano p Gu,e~
41) Attribuen1 ao colmilh~ ' lho ·d:~ jacaré. Frei P ed ro J osé vara á; caroba do 1Btazil. 43 São arvQres ,:rnl.Ji ·aro.nuuicas ..e.
ou Qente d~ · jac{iré igual ou ge, J?~rr&, fra.n:cis,ca n~, fóra da resjIÍ.of)as, grossas e altas, de madeira Íõ.!!ti.spima. e excellenr 1
ain ~a major for~ p,res~rvaliv~: d~·s.cy1p~o da sua viagem na te para arc.hitectura. En.tre as vi:rtu~es me.diein.aes q~e lpea ,
Qu e~n tra7.. um deoJe de.jacaré A01~~a.;<lo Sul,,e&crevcu ~ ·Obra att:ribuem in.sig,ne$ medicos é cl.e notar a de cui:ar as-cha-
á raiz da carne est,á li~+e' ,do - Go.verno d.os r~gulares da J gas dos pulmões. ~ •
m nlefici<;> e de -todo ve1,J.eno da.- Am~rica ..; foi reitor e cb at).ceUer . Segundo o irmão Montenegro, tem a resin~ destas
d o en1 comida e bebida. Nã.o da real t; p_çntific,ia universipa~ 1 arvores virt1.1de ainda maior : a de .e urar a. tisica em es-
será 1sen1 interesse .uem fo~a de . ç}e de· Cordoba em Tu,cuman.• tadp adeantado. . . .. . · ~ i .. ....

proposito sab~r: o, que se deµ (:B;r P. Fr. :?. I osé d ~ Parr~s, Oia- Muitos usam copos feito.s desta madeira para beber 1 >
com frei Pedro J osé de Parras. rio e Derrotero de s u Viaje agua, preservando-se assim contra as ditas molestias.
Naveganclo no l)aran 4, .i~-0po u , por el ~iQ d~ la Pl:;ita, anno · A re$peito desta planta existe a s-egu\nte fabula ou
rom .a opinião das J"Írtu~e,s - gue e;i.e .t74:a e ~R9siguie11tes, p.a lenda. A producção desta arvore é um dos mais raros pro-
os s~nta:f~sinos i~np,v t~wqm a~ s ~~v. de l~ Bibi. Pubh efe J;lu~· digios da nature~a ; é 'de saber qoo ms suas flo.res se
colJ;uilhos do j acfU'é c~pq:=i G ·n9s, ~!!s J~or D. R. T,e1ie$.) cria;m ce·r tas borboletas:, que se poctem CQ.ID razão chamar i
VPU~\19 e nio.rdedura •d,as ·coh'a,s . Ta.Jll,l;i,~IA o , ;~. J?~nike ,&. J.. seus fructos ; p()is nãê ·dá outro$. 1 Ores_c:etlraté c~r.to tam:á- ·
veneno~a::;. Airda q~.~ .t}ve.s:;.~ ~P.Jft , qut! .o, c:à-º~Ji\l:rl,ho do jf}.o~r~ ê.· nh6;'quando S'eritifido COOl ·tra'.tU1'àl ms.t in·ctQ a proxirqida.i · 'i
esta- · ~.pj~~ão to,~a,s as a:F,>pare°'- u~ cpptra.y1o:·e:qa g.er~l; ~lle , • de ~o seu fim, ·con vettem. em 1ve'getal!s.-na r:.;Tid·a. animal} tor- ' .
das-..ll~ f~pq.lQ, quii ,· ~8Ã1v~~fl\Mj­ ~~,qWOt ,tra~tfl .J~l?h pr,q,s~ ~~µ µ~ ~l 1 i
na.ndo~se~ em plá'nta ,e ar'YO~é; 1 SU:a 'SU:bstap,.oja rde 1 boJ.;b0le~a~ 1 "1 ;>
S,e ã a verdftde ou falsicl.ad~ do,, 1 ~'.fás ·como s.é effootna es~a ma,rpayiltiosa ·:con'\"éf.$~') t · ·J
,clôf bf~9.º?· ,e~~ tf! ,PJ.mbew . çp•.., ;
que...çra. cwu~a ipdi1ptt~v,aj,O).~~­ ;np o~.,h~Rªt\4".óes, ;põ~m um · Não,tha 'cousa· .maisi simples no mu.nd~: Ab ''t empo deterpii1-1 l ,
te ad :nitti<la pe~OE:i ,.n~t~raei; ,d~ , cplmiJhp .~mbttti~91 em 'p,rat~ ~ nad(')1cosem-se ras:- borboletas ~t>m :a. 1terr-lt1·introduzindo-lhe .
Santa, Fé ,e fez a qperietlçia ao q,~llo dos filhos., ~ :1 os pesinhosf que com facilidade F.s e trattsfórmam, em~ raizes.1 • ·
com dofa cachorros. • ~J ~Q.u~rencia,- 1 togai; ondie .•1 Vae orescendo e· de raiz tão idebil leva.nta9'.se uma arvore ·
Saltiu -1 b e o ex peritn e,nt-0 c<?n- • 9 ~i;nal co!\)tu,ma paf.ar, to11-1an~ , , robusta e mui alta ; cousa verdadeiramente digna de admi- _
f orme com o que lhe assevera- do-llre affei~, <}'h sor,te qu~ h\ , } raç~o que de uma borboleta inutil se forme uma ~11vore
ram , e . foi tãQ. convencido pa se:rppt'e. se encontr~ (Porandu- tão forte e proveitosa.
verdade desta opitlião, que tra- bij.1 Ri<;>-grand~~· Porto Ale-.
zia sempre comsigo um colmi- vre 1903, pag. 9.) 43) Uma bignoneacea, jaca· lias diversas que se impõe ()
randá procêra. E' pois a fami· nome de páo santo.
· . Diversos autores antig~s 4' referem neste teor e como e apenas tinham passado tres di,_. quando já não perten-
realidade a supposta metamorphostl das borboletas · um cia ao numero dos vivos. :i~
d_eJ.!es, que nos deixou s~us manusc:riptos e morreu no'prin- · Para curar-se do mal dos ~ios da aroeira, dizem,.
e1p10 do sec~lo 19, exprime porem uma duvida e abona-se basta uma fricção com canna. MM&tefficaz, mais simples
com a autoridade de outros. e experto remedio .é recorrer a_o rem~io superior da sy~­
pathia. Entre as diversas man1pulaçoes que empregam, fi-
Balsamo das Missões (schinus molle) gura tambem a seguinte. O d9ente saúda um .ran;to da
aroeira, mas ás avessas do tempo. Da manhã, lhe diz :-
. Esta ~erebinth~cea é arvore alta de madeira branca Boa tarde, senhora aroeira. E quando for tarde, dirá :-
solid~ e muito p_ropria para construc~ão; suas folhas são Bom dia, senhora aroeira.
estreitas, compridas, dentad~s, parecidas ás do salgueiro ; Como pore1n seja preferivel preoover-se do 1n.al, os
suas flores pequenas brancas, dispostas em forma de ca- homens de campo, quando tem que cort~_r uma aroelra ou
ch~; sua semente é semelhante aos grãos de pimenta. Da de -p àssar por baixo del~a, usa~ daquella _mesma fo~ma
res~na de ~ua....s folhas e ramos preparavam os jesuítas das sympathica. Mas meus lei.tores nao dev~ rir, se deseJam
an~gas m1ssoes do Paraná e Uru.guay um remedia para que lhes conte a l'everenma com. que a s;auda1"!1. .
feridas, ulc.eras, do.enças, ~m~ ve.rdadeira panacéa. Chama· - Primeiro dete1n-se o lenhen~o ltl poU:oá d1stanc1a .c~m
va-&e balsamo de a{J~t.araib.q, ou balsamo de !\fis~õ'es. grande respeito, como. se s~ a~r~enta:s'.se P,e~~nte .ª d1v1n-
Contam atgentinos q u.,e n~o lia corrent~oo, ou pa,ra- d1ltl'ê: Emqua.n.t<:> a sanda, naR e .n~rmi\füdo nem sequé1'. pes-
guayo. que, ~o ,Pa~sar por•uma prac},fl ou caminho onde haja taneja.~, tão fixa deve ter ~vista no o!)Je~t.o .ti.~ sua atte~Q!º·
um f11Uuaraiba, !!ªº se achegue a ~Ile e lhe arranque um Tres vezes consecutiv~s ha de re:p~tlr a saudaçao.
raminho~ Este poe no chapéo ou na sua guayaca ~para Terminada esta ceremonia, não ten'ha meÇlo de que a aroei..
leval-o contente .par!1 cas.a, com o fiín de applicar suas fo- ra o damne. Chega·se ainda com o chªpéo na 1não, mas
lhas a quantas 1:nd1spos1ções ou males tenha sua familia sem ulterior reverencia descarga vigorosos golpes de ma-
A fé que lhes merece esta planta f~iticeira é illimitada. • chado ao tronco, até dar em terra com a arvore, que ha de
_ , Semelhante a esta quanto -á ímportancia e applica- servir-lhe de lenha no fogão ou de postes no curral. Com·
~ao, e a ~rvore anguay, conhecida sob o nome de ba~amo tanto que a saudem com muito appar~to e deferencia, con-
do Brazil. sente em que a derrubem e de.sp~dacem.
Nas regiões. banhadas pelo Uruguay, é famoso um Lembra o animismo dos antigos que consideravam
gener<!. do supracitado balsamo das Missões ou aguaraibá. certas arvores habitadas de nymphas ou dryades.
que nao é outro do que a nossa
Salsaparrilha
Aroeira (astronium urundeuva) Um cipó mui conhecido e não menos apreciado é<>
da salsaparrilb.a (smilax japecanga). E' o historiador Lo-
. E' temida por seus effluvios que excitam de tal ma- zano que nos informa gue se cria esta planta em tanta
neira o sangue. a algumas pessoas, em. só passar por bai- a.bundancia nas margenii do Rio N~gro, n_este Es~ado· do
xo desta tereb1nthacea ou mesmo sõ C:Qm appraximare.m-se Rio Grande do Sul, que a elle se attribue serem muito sau-
della, que adoecem de um modo .al~Jllante, A uns põe em d·àveis as aguas daquelle rio. Quem pofs· q~izer i:enovar a
es~ado . qu~ os ass.emelha a ata~~<;l.os de $aram.po, a c>utros ·pelle e o saqgu~ e . curar-se d~ doen~a mui.to ~u1m, desça
de1x~ turg1dos e inchados. Decla~a·se uma febre, assoma-
lb:
~s sangue a.os. olhos, annu.via-.s:e--lli.~s a Vista. C9ntam. que
-nas ont;la$ dQ lbo Ne,g~o e sah1rá. como rténa~cJ<l.P.
'fambem os bod1e1'nos hab1tant.es do R1P Negro n~
entre ~877 e 1878 fallec~u um in$iividuo e~ Oatalan (Esta .. Repubijca do Uruguay têm a c0nvicçã0 que ~uas aguas são
do ·Or1e!1tal) pela acção ~orbifica d~ aroeira. Lavrára com saturadas da salsapaJJrilha e diversos navios fazem QOa
seus peaes paus de aroe1ra co,JD o fim de fazer um galpão provisão deste liquido salutar. G. Rahola, Sangre Nuevo:,
Adoeceu com os symptomas ordina.rios do mal da aroeirâ Barcelona, 1905, p. 237.
44) Lozano. Historiade la uma cinta, vocabulo usado 110
m. BOTABICA RO llBIICO PBBCOLOllBl.UO
Conquista I. cap. 9. Rio Grande do Sul . Por ordem de Philippe II. foram recolhidos os co-
45) Bolsa de couro presa a nhecimentos botanicos dos antigos Mexicanos. Dos restos
-163 -
• • , - r , ,...
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des~ee . mou~entos,_.em parle,_c;le~ti:J;Iidqs peia ad-V:ersidadé ramaram a maneira de sacrifieio umas gottas do seu san-
dós t~mpos, . u,m exame attento ~ cnter}oso deduziu que a gue,_tir~do das orelhas, $Obre as. plaµjap, adqW,ridas.
bot.aruca desse pqvo superava a.ª.
·e· muitos povos do antj-
g-0 . munÃo~ Que a comnrl~sao ~espanhola che.fiad~ peló
.= Si os inonarcaf? do 1\1exjco mostraram sua· opulen-
ma,ein luxuosas planta,ções, não .menos se interessar$m pe-
pro1tomedico Hernandez elll pouco tempo compoz uma J~ ereaQão de ja1·dins botanicos que servissem · ~mbem á
botani c~ toc\a desconbeci'da não admir;.~, ·q uando chegamos· .eultura de plantas medicinaes. ·
a sabe~· que os Jnc!fosJhe~:Jndicar~m máís de 1~oó liorpes de ~ darmos ~r~dito a Solis a.~ i:>,QSsuíam para todas as
. ~nferm1d,ades, o~mt~o que é ·eonfirma,<.la p9~ Gomara e ou-
plan~as e que. 1nu1to ant~s do adv~PtP. , d~ Oorte~ ex1stiani
lª~~1ns botarucos em .....çl~versas cwla~es de Anahuac, nas·'· tros; e a propria li,ngua pahua o atiesta, sendo mui · nu-
qua1es ~e estudai·a-m, nao só. as plant.a,S locaes mas exoticas tneros~s os termps botanieos do seu..1voca l;>ulariq exprhnin-
e foram subplettid·a s a div~rs,as e~pe.rie.ncias. ' ·l}o mmtai;; · v:eze~ as proprie.clades c~r.~c~i:isti,cas do vegetal
·q!Jt~de Efra, dé é~feit~, ""~µ'ti:~.. 9s~ me~icanos a esti}lla ' , ·~ &UijS ~i:>plica~oes~ , . , .· ~ ,.
e aprema~ao d.~ f,lora. ApJ?are-cer em y~Óllcq com, -um .ra- . !fao adllllra, que Hu1nbô}<I:t ~ ~mJ,lpJapQ. ,c.om Q,s jn·
maJ~ete :113: tpão' ~ra' ~.má ~i~tl~Pc~n. spc1~1, ilp1' ~i.{~nal dd d.'.1~S,,.-aprtm,<ilera~n esse gra,µ,d e ·n!lm~o '4e PJ.a):i.;ia? officinaes
nobJeZ! ~ c~rt~~ i;>lant~s1 ~~1!1,ll ·p~~-ervp.9.as a9is wPr1nc~pa,e~, · Jl· nue s,e:, i;~f~re.pi nas su;~s .obt~~s. , . i, • ,. 1 1• 1 •
da JJ.~Ç,aq, e ~lg~~8i$ SR ap lli~11S\PÓ~; rN;e11h;uIJla, P~SSQa 'e'ra • , ~ 11 t,Ei?te~ f~ctos ,falam a.lt.P, ero),~VQX 9:-9.S:,,.!iteques, ,~n-
ad~1p~fad.~ 1 á p,r~sehça. de~ie , §e,çiJ~;v~r ·um \1am~lh~t§. ô~es· !111-neiande um elevado gr·á o de cn\tura. :-.!PeZ"~li 4e. p9s~ui­
mo.:es,ty.l°i , do~~1~va rlos , teJ11·I?lqs.,. TI~lç, o deus da ,·ç~tuva .re® j~ nq ~a.4.e .1né,d~a os..l'>®.~d:i.Qitfl\Qs ,~~,. $al~~wo e ou-
reç~b)a ,as Rn~1cí~~ ~as ilf)r.és -~a ~fJni~,Yªffl e até esta so- t,~QS· ~uia e$pee1e de j~~çli;rn,. hot.am~@i ºSi:;h1stP,riadpres .~on-
le~n,~dade , era proh1b1qo cli~Jra1~-lh'é~ O, perf,UJ,nj3. 4 COfPO- • . ~1deP!lll;l. ~Q{llo, os primeirçs ,nP ee~thdp- .Propr10 '-e. mQderJio,
raQâQ c;l9S .fior,i stas . cel~~ray~ r~.s,Sp,. epQ<fa a ,festa (t.a sua t istQ e, tqes que, s~ abririnn .ao R~bijçÇl, a,,quelle~ ,que esta-
deu~.à tutelar. Parec~ q:q~ se Ç~l~~roti t:'.!mbem uma gran:. , beleceram os senados das cidades de Bi?a e l?El:dµa de 1543
de . f:~$ta flora~, uma espéCie ~é «oatalh~ de flores » do· nos- a 16J.6. e ~e$sep Í()ram pre~e~dos pelo,~. dQS. mexicapos.
so tempo moderno. ' , -,Por certo. é um, facto inter~aiíe d~ ethnologia que
Os' povos .tributarios ?~via.111,. pagar seus impostos houve um po~o americano, do qual aql,\elles 'Que vieram
eJA,,flores. Quas1 todbs os dias ent;a'\l'am .ua capital (Je Me- trazer a civilisação para a nova de;;~ob.e.rta, ah1a~--poderam
nc'o c~rros de roseiras, de j'a.Swin~ e)ot,Ireiros que os va- r apr~~d~r ao menos a art~ d~, melhor oin:;ervar a natureza.
sallos iam plantar nos terrenas de s·e u senhor. Suas colle- . Outro ~ facto, c,o~sequep.çi~ ~~fura-1 d-0 enthusiasmo-
cções augmenta.val'D: de difl ~-D}. ~<!}a,, as vezes a preço de que nutr~ est~ povo pela flqra, é_qae,, ce.:x:ist~µi no .seu ..vo-
cum bates sangu1narios. ca..~larjo muitQs synonimos qu~ desi.gnaip :a ine.srna planta
~~s.il!l ~'? ultin;io imperap.ot ~riqou emb.a ixadores a e Qi\la,ndQ 5-e comparam entte si. se ~eha qu~ não s..ão uma
um rei v1s11llio pedindo-lhe uma arvdre cfe 'flores 'mui bel- · ple:ca ·}ux>tapQ~iQão de · terrnO.~. lpea~~d)u prov:~n~laes, mas
~as1 e .de SUílVÍSSin10 }>erf1f'IÍ10._ 0 . réi recusou O pedido e O' qn~Jende(U a , d.a r unia de~c-F1pç~o..e~8,A~ do .typ9 vegetal.
nnJjerador .lhe .decl?rou a-_~-errá. e Ih~ 1evóu e9ni· ~l' cubi- .. . , ~~e~ .àe~g.L!am a for;rµa e~. o a~~ecto' ~a planta, as
1
çada a1,vdre a êoroa 'e il vida. !! ! ,.. •· • • 1 c9ndiçoes do liab1tat, a natt1rez~, a cons1stencia das folhas
1
, • ~·s'~a ·~aí:tã~ P.~1~s f1~~e~ ,e ·R~~tj~4$...e~t>l~Gtl a 'e xistep-
e d,.a flor, .a:s cores, a-s- .d.i~en~i~s e os pormenores mini·
.•
c1a dê ~agn.~'ícQs. par9,tt~s <iVte ~;5t'ís tl:t"rde, foJ(altl o o~jeotd 1!11-os. :A ra,1.z, a ~aste,, a~ fol~t!-~.f .a ~or, 10 rrt,Jcto 'e.xprime~·­
~e. p0,r u1na ra·t!1Qal da,raate'r1·$t1[c~, i qu~ eJl:tl'a na compos1-
de 1~ditll~aQ.ãô dos' ·coi,:q;itf st~dor~~ Um déss~s fqi fP~p}ado ç~o de out:r;os teri;nos '3 ·Se ·~nqdifie~· segundo as particula·
d,e ~il ..c:~ar.<>s ého:rm~s é béll~$. pafJi, )rfôyavelment~
1
ser;Y,i- ~1d,ades de cada ijm do~ orgão$. Que o eal.l.le por ex. s~ja
"reqi de ~pr1~0 ~ ~l~ntas '.tli~i~ dé'Iiê~?~~·· Q'-.~!1 r<\im, de l:Juan2. • lenho.s o ou herbaoeo,, cober-to de ·es.Dinho.s "-0.u de. tal classe.
tep~c, s.e~n:d~ aff1rma Cor~~z, ~e,ch~ du~~ 1egti8t~ de ch·-
cumferenc1a. \qlUando um dia O Sêll dórtd ~hha aÔqUiridO de espinhos, que seja• cylindrico,··n,a:à.q>.sp;í Q.esen'7'olvido em
tal ou tal dir~cxão; tudo isso, e : idiomar ·nahua- 1(mexicano) o
raras e bellas plantas, procuradas em lonwnquas terras'
levantou as mãos ao céo ·parc!l -cynden grac~ tJO Senhor ar/. traduz sem diff1cuidade, r de sbrte qu~sahe:· ·quasi um re-
trato da planta. 46 ' 1 li • J,,,. ·
na~reza e quando 1.!º tercei~~ anno appa~eeeram flores, I l!'.fl'l~..._
r,'. -' r"--'WV ....

deitou a chorar ao ver como foi, be.m·succ-edida a empresa. . ~.


"'!_ • •- ,-~
- - - - - - - - - - Jt1i 1 1 4.

Mas OH creados e-xploradores tinham ·jejuado oJt<t 1 J 46) A. Gerste, No.~es sur-la 'medicine ~·-la.l:iotanique des.
anciens Mexicains. • ' ; .:., ;. ' /
-dias e fizeram offerta de incenso ao deus das flores e der·
(.' .. ....
'
,,
~·...
,,/ )
~ .
'
Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai
www.etnolinguistica.org
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Sem' entrar em ·1nais outros pormenores basta rela- Charada. casal-17"
tar o resultado de investigações çonscienciosas) a saber : Ao meu amigo A1·eimor
A botanica inexicana mostra-se mais adiantada que a ~on­
temporanea do velho mundo a qual só desde Tournfort no Não vi, nem penso v&r um par mais parecido.
i:ieculo xvrt, come~ou a determinar co1n precisão os limites Vendo-os dir-ee-ia que um nascera expressamente,
cumpl"indo ordem f ormal do Deus omnipotente,
. dos ~generos das plantas.. para. na mansão terrea ao outro ser unido.
A geographla botan1ca de data tão recente na. Euro·
pa já o.ccupoU a a:t~enção dos mexicanos. Dexam a c1da~e~,. Ha pouco satisfiz meµ intimo dezejo
de. lêt! daquelle pa-r ~11 am.oi;os'a s cartas~
províncias, montanhas os nomes dos ve~etaes que ah se cheiinhas de expansões e de ternuras fartas,
encontram. Examinando o mappa de Mex1co topamos ai~­ que, de algumas citar não desperdiço o ensejo.
Uma bella manhã, erguendo-se do l~ito,
da com nomes indigenas e se lhes pedirmos a ethymolog1a assim ELLA contava as ancias do seu peito :
muitas vezes sahirá um nome de planta. Keu anjo : sonhei comtigo: Não sei se pela impressão
A cidade de Ahuacatlan é o logar onde abunda o eu dormia, tu ve.J avas que me fe.z essa tristeza,
a}luacatle {persea gratissima) ôu o nosso abacate. Chilte~­ e a tua amada guardavas que sendo do somno presa
pint~a, região ondé cr(ij!ce Q chiUecpintli ·<Iu.e dá u~na pi- f,iom sindera devoção. continuei a <sonhar.
'l'u ã minha c'â'b~ceit'a Vi-te, n:teu aJ1jo, mettido
menta mui forte. . eras do meu abandono, no burel de um franciscano!
Huaxtepec, n'nm planalto, onde cresce o huaaxion da innocencia do meu somno, Que horror ! Se não fosse engano,
{leguminosa). Xochiyetla é a loealidade onde prospera o meu amparo e }ll'Otecçiio. não podíamos casar.
iabaco-flôr ou o tabaco perfumado. Xoconocheo, local onde Keu querido anjo da guarda, Longe vã tão triste agouro.
nem eu sei dizer-te quanto Que sonhô mau que son.hei ;
'Se colhem as cochenillas. !\1isq_u itlau, paiz do misquitle ou tinha de puro e de santo mas, felizmente, accordei
e;> sonho que então sonhei ! e dissipou-se a visão.
'<la nlanta mimosa..
, Dizem. que tambem nos poucos restos das s.u as pr~~ . M.eu dehm.sor adorádo,
estavas de mim tão perto . .,.
Se nasÇemos um para o outro,
como sempre tu me dize~·,
-Ou.cções poetieas se reflecte essa attracÇão ou quas1 fasci- ~as, em e.eguida desperto, seremos,. muito felizésL
nação pela flora. olhei, não te vi, chorei 1 sem maguas no coraçao.
Eis uns fragmentos poeticos : Tomando a penna então. jocunda lid~ aquella,
«Tua morada, ó Autor da vida, é em todo logar. As ELLE as sim dissipav·a osvãos receios della :
D~ecança mulher querida, S ublime vaso que encerras
:alcatifas que a ado1·na1n são as flores, bellos tecidos de flo- nao acredites em sonhos ; bondade santa e divina ·
res. E' la que as erianç.as te dirigem sua reza.» ou sanhudos <>\.1 risonhos formo1nu·a peregrina '
Um dos grandes S,aerificios para quem Gontempla a ~ão passam de, um~ illueão. gue dizer 1,1em mesmo sei;
brerldade 'd a vida e o nada dos prazeres hi,nnanos, é Os teus encantos n,1e preqdeJll, p~ra pod~r pros.ternar·me
as t:uae graças me ligam ante itµagein tãq sagrâda,
.abandonar as flo:res odoriferas. ~choro quando pe!lso que e não ba, por maia que digam meiga mulher adorada, ·
um dia essas bellas flores não serão mais para mim.;) quem quebre tanta prisão. num altar te colloquei.
Não temas, não, que te fuja, Guardo-te a ti, tu me guardas:
P.e C. Teschauer 8. J. (Rio Grande do Sul) q11e te olvide um só momento se velo o teu somno puro,
e nas grades de um convento tu velas por meu futuro ;
Euigma-16 v6 meu porvir clausurar. tens forças que ninguem crê.
Pr~ro a súave cadeil~ Com t.Uiis palavr~s doces,
llllllllllll.I carmhoea doe teus braços
e ._ctuelles perpetuoa laços
com afa,goe, co,m Oàl'inhoa,
anjo, puzesté-me anjinhos1
(4 lettr:as) que ee dio ao p~ do altar. estou ã tua merçê.-~
Nessas almas irmãs o amor deitou raiz.e s.
Com os treze páos que acima estão Caearam-se depois. Foi-am muito felizes.
um pergaminho, leitor, terás, Gonçalo da Ounha.
que em outras eras foi muito .usado
pelo mestre-escola e juiz de paz Logogriphos- 18 e 19 (Por syllabas)
dizem outros ser uma pelle Quatro caturras tresandandé a vinho- 3-1
de bezerro, já preparada. negavam o poder que o papa tem ; -· 2-1
Forceja, pois, leitor, se queres e eu segui socegado o meu caminho
ver-te livre desta embrulhada. por vêr que a turra não findava bem.
A. S. Marques (Rio Grande) Thansiata (Porto Alegre)
,

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