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Dicionrio de Regionalismos do Rio Grande do Sul

Zeno Cardoso Nunes


e
Rui Cardoso Nunes
Membros efetivos da Academia Rio-Grandense de Letras
e da Estncia da Poesia Crioula

Dicionrio
de
Termos
do
Rio Grande do Sul
12 Edio

MARTINS LIVREIRO - EDITOR


PORTO ALEGRE
2010

- Zeno Cardoso Nunes - Rui Cardoso Nunes

Direitos desta edio:


Martins Livreiro - Editor

Capa: Tadeu Martins

Nunes, Zeno Cardoso


Dicionrio de regionalismos do Rio Grande do Sul, por Zeno
Cardoso Nunes e Rui Cardoso Nunes. Apres. de Hugo Ramrez. Porto
Alegre, Martins Livreiro Ed., 2010
552 p.

CDU 806.90(816.5)-3

Catalogao elaborada pela Biblioteca Pblica do Estado em 30.09.82

Edio Revista pelos Autores.

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Aos confrades

da

ACADEMIA RIO-GRANDENSE DE LETRAS

e da

ESTNCIA DA POESIA CRIOULA,

nossa homenagem

APRESENTAO

Zeno Cardoso Nunes e Rui Cardoso Nunes so dois gachos autnticos,


melhor moda serrana. Homens de Cima-da-Serra, trazendo nas veias o sangue
bandeirante dos velhos conquistadores dos itaimbs e sertes do altiplano, so
mais para quietarres do que temperamentais como os filhos da Fronteira
platina. Tranqilos, vm construindo, ao longo dos anos, uma obra literria plena
de
profundo telurismo. Poetas, embalados pelos ritmos do velho Portugal, tranam
no decasslabo os tentos de seu mgico encantamento diante da terra fechada e
enevoada onde nasceram, olhos e emoo erguidos em asas de uno e enlevo
at os hemiciclos verde-azulados dos candelabros do Sul, em cujos tocheiros
pousam pssaros amantes das alturas.
Arrancados de sua querncia e repontados para a cidade grande pela guilhada
da necessidade, deitaram razes no colo das doces colinas porto-alegrenses e
passaram a viver vida de funcionrios exemplares. E criaram ao seu redor
pastiais fartos de estima e considerao pessoal, estancieiros grados do rodeio
da
amizade.
A par de seus belos e lricos versos, construram, em paciente e carinhosa
tropeada pelos escampados largos da fala dialetal do gacho, este livro, o
Dicionrio de Regionalismos do Rio Grande do Sul. A obra pretende abraar todas as
tropilhas vocabulares. fecunda em termos e modismos, ensejando uma ampla
viso do panorama dialetal gacho.
A obra os consagra, sem dvida, mas consagra mais ainda ao Movimento
Tradicionalista Gacho, de que so os dois irmos expoentes de primeira linha.
Aps o valioso servio de aliciamento da juventude e do povo em geral em torno
da cultura viva do Rio Grande do Sul, o Movimento Tradicionalista Gacho erigiu
um inestimvel acervo espiritual que se transmitir pelos sculos afora
mediante o testemunho bibliogrfico, filmico, discogrfico, artistico. No campo
bibliogrfico, a par de centenas e centenas de livros em prosa e verso que
complementaram em definitivo a estrutura literria do gauchismo no Brasil,
avultaro
os trabalhos exponenciais de que a Antologia da Estncia da Poesia Crioula
exemplar e altamente representativa, e a que este Dicionrio de Regionalismos do
Rio Grande do Sul valoriza sobremaneira.
Pertencem Zeno Cardoso Nunes e Rui Cardoso Nunes Academia Rio-Grandense
de Letras e Estncia da Poesia Crioula, duas entidades em que o esprito
gacho encontrou sempre a melhor acolhida. Estas instituies como os
amigos e companheiros de ideais culturais podem sentir justo orgulho diante deste
volume que melhor as justifica como expresses sociais atuantes, ambas, da mesma
forma que a Academia Brasileira, endividadas com o povo na tarefa de
dicionarizao da lngua portuguesa do Brasil, a que os regionalismos da querncia
Rio-Grandense do notvel colaborao.
A obra valoriza, sobremodo e antes do mais, o patrimnio semantolgico e
coloquial do Brasil, em sua rea de cultura meridional. E enseja uma dupla
perspectiva de integrao sociolgica, tanto dentro de nosso pas, onde a fala do
rurcola gacho algo saborosamente peculiar, como, ainda e alm fronteiras,
entrelaando, atravs da comunidade lingstica, importantes regies de idntica
sociognese, da Argentina, do Brasil e do Uruguai. Estes aspectos, sensveis a
qualquer observador, dizem muito deste glossrio dialetolgico. Mas h mais;
h o aspecto afetivo concernente a nossas idiossincrasias de brasileiros da
gaucholndia, fartamente dinamizadas pela beneditina pacincia destes dois irmos,
almas eleitas na seara do servio comunidade onde vivem e atuam, aos quais o
Rio Grande do Sul passar a dever por demais.

Porto Alegre, 13 de agosto de 1982.


HUGO RAMIREZ,
da Unio Brasileira de Escritores de SP,
da Academia Rio-Grandense de Letras,
da Academia Paranaense de Letras e
da Estncia da Poesia Crioula.

NOTA DOS AUTORES

Este dicionrio, iniciado h mais de meio sculo, em So Francisco de


Paula,
continha, de incio, apenas os termos mais tipicamente gachos utilizados pelos
habitantes do interior de nosso Estado.
Aos poucos, porm, se foi enriquecendo com palavras e expresses colhidas
no s na linguagem falada no territrio rio-grandense, que tivemos oportunidade
de percorrer e de auscultar de ponta a ponta, mas, tambm, em centenares
de obras, em prosa e verso, por ns compulsadas, entre as quais os dicionrios,
vocabulrios e glossrios j vindos luz, principalmente os de Antnio lvares
Pereira Coruja, Jos Romaguera Corra, Roque Callage e Luiz Carlos de Moraes.
Assim, deixou este livro de ser o trabalho modesto, inicialmente pretendido
por seus autores, pois nele esto registradas, para apreciao dos interessados,
mostradas nos exemplos de consagrados mestres, as vozes regionais, de
mltiplas origens, que tanto enriquecem e embelezam a colorida e vigorosa linguagem
falada em nossa Querncia.

Porto Alegre, 13 de agosto de 1982.


ABREVIATURAS

adj. = adjetivo,locuo adjetiva

adv. = advrbio,locuo adverbial

A.Maia = Alcides de Castilhos Maia

antiq. = antiquado

arc. port. = arcasmo portugus

art. = artigo

Aureliano = Aureliano de Figueiredo Pinto

B. - Rohan = Henrique de Beaurepaire-Rohan

Callage = Roque Oliveira Callage

cast. = castelhano, castelhanismo

conj. = conjuno, locuo conjuncional

Coruja = Antnio lvares Pereira Coruja

desus. = desusado

ed. = editor, editora, edio, editado por

EPC = Estncia da Poesia Crioula

esp. = espanhol, espanholismo

ex. = exemplo

expr. expresso

fig. = figurado, figuradamente

gir. = gria

Globo = Editora Globo, Editora Globo S.A., Livraria do Globo

IEL = Instituto Estadual do Livro

interj. = interjeio

livr. = livraria

loc. = locuo

Moraes = Lus Carlos de Moraes

num. = numeral

P.A. = Porto Alegre


p. = pgina, pginas

pl. = plural

plat. = platino, platinismo

por ext. = por extenso

p.p. = particpio passado

prep. = preposio, locuo prepositiva

pron. = pronome

p. us. = pouco usado

RJ = Rio de Janeiro

Romaguera = Jos Romaguera da Cunha Corra

RS = Rio Grande do Sul

s. = substantivo, locuo substantiva

Simes Lopes = Joo Simes Lopes Neto

Sulina = Livraria Sulina Editora

Teschauer = Pe. Carlos Teschauer, S. J.

URGS = Universidade Federal do Rio Grande do Sul

v. = ver, vide

v. = verbo, locuo verbal

var. = variante

ABAGUALADO, adj. Semelhante a bagual, arisco, sestroso, espantadio. //


Por ext.: Indivduo grosseiro, inculto, rstico, amatutado, selvagem,
abrutalhado, estouvado.

ABAGUALAR-SE, v. Tornar-se bagual.

ABAIXAR A GRIMPA, expr. Desmoralizar, abater, tirar a cisma. Fazer


algum acomodar-se, aquietar-se, usando de medidas enrgicas.

ABALOSO, adj. Que abala. Diz-se de andar de cavalo que abala ou sacode
muito. Pesado, desagradvel.
ABANCAR-SE, v. Assentar-se. 1 Significa tambm comeo de ao: "O cavalo
abancou-se a corcovear". // Var.: bancar-se.

ABANHEM, s. Lngua geral dos tupis- guaranis. Var.: abanheenga e


avanheenga.

ABANHEENGA, s. O mesmo que abanhem.

ABARBADO, adj. Cheio de afazeres, sem tempo para coisa alguma,


sobrecarregado de trabalho.

ABARBARADO, adj. Diz-se do indivduo com maneiras de brbaro. Arrojado.


temerrio, temvel, abrutalhado, grosseiro, estouvado, rude.

ABARBARAR-SE, v. Adquirir hbitos ou maneiras de brbaro. Tornar-se


abarbarado,

"Vivendo longe de gente,


naquele triste tundo,
abarbarou-se o vivente,
virou potro chimarro."

ABARBAR-SE, v. Encher-se de afazeres, Tornar-se muito atarefado, sem


tempo para coisa alguma. Assoberbar-se de servio.

ABARRACAR, v. Colocar-se o homem em um canto, em conversa com mulher.

ABATATAR, v. Abater, desmoralizar, entristecer, humilhar.

ABATEDOIRO, s. Abatedouro.

ABATEDOURO, s. Matadouro. Lugar onde as reses so abatidas para consumo.


Var. abatedoiro.

ABATUMADO, adj. Diz-se do bolo que ficou duro e pesado por insuficincia
de fermentao da massa. Var. abetumado.

ABATUMAR, v. Tornar-se abatumado.

ABAXAR, v. Abaixar. (Arc. port. em uso atual no RS).

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ABEIRANTE, adv. Que est prximo da beira. // Prximo a determinada


idade.

ABEIRAR-SE, v. Aproximar-se da beira, andar rente beira. //


Aproximar-se de uma certa idade. // Var.: aveirar-se (p. us.).

ABERTA, s. Clareira.

ABERTO, s. Grande aberta ou clareira, na mata.

ABESTRUZ, s. O mesmo que avestruz. Nome dado ema. Nhandu, xuri.

ABETUMADO, adj. O mesmo que abatumado.


ABICAR, v. Ficar a vaca, no perodo de gravidez, com os tetos
entumecidos de leite, indcio de prxima pario.

ABICHAR, v. Criar bicheira. Ser o animal atacado de vermes causados por


larvas depositadas em suas feridas pela mosca varejeira.

ABICHORNADO, adj. Aborrecido, triste, desanimado, vexado, envergonhado,


acovardado, aniquilado, magoado, acabrunhado, macambzio, abatido. V.
abichornar.

"A bichornados, pela melancolia dos dias frios, cada um buscava,


nas reminiscncias mais remotas, o causo, que viesse a ser o melhor da
tarde." (Benito Jos Fattori, Campo Solitrio, p. 22).

ABICHORNAR, v. Tornar abichornado. Segundo Valdez, este vocbulo tem sua


etimologia nas palavras castelhanas abochornar e bochomoso, com acepo
figurada de corar de vergonha, irritar, e de vergonhoso, que causa
vergonha e vituprio. Segundo o Visconde de Beaurepaire-Rohan, o radical
desses termos o nome, tanto portugus como castelhano, bochorno, com a
significao de estado atmosfrico que predispe ao abatimento e
lassido. Acredita Romaguera Corra que esa palavra se derive do termo
portugus bicho, pois h uma certa analogia entre o estado do animal que
tem bichos e bicheira e que, por isso, anda triste, inquieto e abatido e
o dos indivduos que esto sob a impresso de uma desgraa, tristeza ou
desastre moral qualquer.

ABICHORNAR-SE, v. Tornar-se abichornado. Abater-se. V. abichornar.

"Deixem-me tomar um trago.


que estas so outras quarenta:
minha goela est sedenta,
mas nem assim me abichorno,
pois o velho, como o forno,
pela boca que se esquenta."
(Jos Hernndez, Mart n Fierro,
traduo de J. O. Nogueira Leiria).

ABOBRA, s. Abbora.

ABOBREIRO, s. Matungo. pilungo. cavalo sem valor.

ABOCANHAR, v. Apossar-se indevidamente de coisa alheia.

"O certo que o teatino


Tornou-se enfim um grado.
Chegando a abocanhar tudo,
Tornando-se um pente fino."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
P.A., Martins Livreiro - Editora,
1978, p. 56).

A BOCHE, loc. adv. Em grande quantidade, com abundncia. (Esp.).

A BOLA PE. expr. O mesmo que de bola p.

ABOLETADO, adj. Indevidamente instaLado em determinado lugar.

ABOLETAR-SE, v. Instalar-se. Ocupar,


indevidamente, determinado lugar. //
Receber ou ganhar qualquer coisa. 1.
Apoderar-se de algo ou ocupar
determinado lugar, por esperteza:
"A boletou-se com o que no era seu"; "Abo-

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letou-se no terreno alheio e l ficou."

ABOMBACHADO, adj. Diz-se do feitio


de calas muito largas, com forma de
bombachas.

ABOMBADO, adj. Cansado e ofegante por efeito de trabalho em dia de


calor. Exausto, esfalfado, arquejante. Diz-se dos animais, e, por ext.,
das pessoas.
( platinismo usado tambm em So Paulo).

"Dia quente, de mormao.


A gente vinha abombada.
Custou-se a achar uma aguada
Onde o boi bebesse a gosto,
E era j quase sol posto,
No se tinha andado nada."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
21. ed., P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1978, p. 32).

ABOMBADOR, s. e adj. Pessoa que cansa o cavalo, ou outro animal, por no


saber utiliz-lo. // Animal que abomba facilmente.

ABOMBAMENTO, s. Estado do animal que abombou.

ABOMBAR, v. Ficar o animal impossibilitado de continuar a marcha por


cansao devido ao calor.

"Diz-se que o cavalo abombou, quando, tendo feito grande viagem


em dia de calor, fica em estado de no poder mais caminhar; mas, depois
de refrescar, pode continuar a marcha" (Coruja).

"Nas indagaes a que tenho procedido nada pude encontrar de


muito satisfatrio a respeito da origem do verbo abombar. Cheguei a
pensar que fosse de procedncia guarani; mas estou hoje convencido do
contrrio. Entre os chilenismos apontados por Zorobabel Rodrigues,
encontra-se o v. pron. abombar-se, e o adjetivo abombado, significando:
1 perder em parte a lucidez das faculdades mentais; 2 brio ou antes
ligeiramente embriagado, dizendo-se tambm bomba na frase estar em
bomba. O nosso verbo abombar ser por acaso o resultado da comparao do
cavalo, que, por fatigadssimo, no pode caminhar, com o homem, a quem
outro tanto acontece no estado de embriaguez?" (B. - Rohan).

"Jaques Raymundo, em Elemento afro-negro na lngua portuguesa,


diz que o timo da palavra em estudo est em Ku-bamba, do dialeto de
Zambese, significando estar cansado, estafado, ter sede." (Moraes).

ABOMBAR-SE, v. Tornar-se ofegante pelo calor ou por excesso de esforo


fsico. aplicvel s pessoas e aos ani mais.
"Quanto mais sonho, tanto mais me abombo,
e vou, sempre depois de cada tombo,
buscando um novo sonho que console."
(Kraemer Neto, Soneto, in Correio
do Povo, P.A.).

ABONO, s. Adubo ou estrume em terras de plantao.

ABORRIR-SE, v. Aborrecer-se, entristecer, tornar-se melanclico,


zangar-se. (1 verbo portugus, pouco usado na literatura nacional, mas
ainda utilizado no Rio Grande do Sul).

ABRASIADO, adj. Vermelho como brasa. (Arc. port. em uso atual no Rio
Grande do Sul).

ABRIR A BARBA, expr. Ir-se embora.

ABRIR A BOCA, expr. Gritar, esbravejar, descompor, chorar.

ABRIR A PARADA, expr. Tornar sem

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efeito aposta ajustada em carreira ou rinha.

ABRIR A PERNA, expr. Desembaraar-se do animal quando este leva uma


rodada.

ABRIR BOQUEIRAO, expr. Tirar o cavalo, na carreira, grande distncia de


seu adversrio.

ABRIR CAMPO FORA, expr. Sair da raia, o cavalo. Abandonar a cancha.


Fugir, escapar.

ABRIR CANCHA, expr. Abrir espao para algum passar.

ABRIR O CAVALO, expr. Dar o fora, retirar-se. // Abra o cavalo,


significa: retire o que disse.

ABRIR O CHAMBRE, expr. Fugir. O mesmo que abrir o pala.

ABRIR O JOGO, expr. Abrir a parada, desfazer a aposta, desistir do jogo.


1 Manifestar intenes anteriormente ocultas.

ABRIR O OLHO, expr. Tomar cautela, precaver-se.

ABRIR O PALA, expr. Fugir, desaparecer, ir embora. O mesmo que abrir o


chambre, abrir os dedos.

ABRIR O PEITO, expr. Pr-se a cantar.

ABRIR O PULSO, expr. Dar mau jeito no pulso por esforo excessivo.

ABRIR OS DEDOS, expr. O mesmo que abrir o pala.

ABRIR OS PANOS, expr. Fugir. ir embora, abrir-se.


ABRIR-SE, v. Ir-se embora. Fugir. Contar o que sabe. // Afastar-se, o
cavalo, da raia.

ABRIR-SE COMO GAITA, expr. Exprimir-se com alarde, sem qualquer reserva.

ABROIO, s. Abrolho. Espcie de carrapicho. ( palavra castelhana. O 1


tem som de "h" aspirado).

ABRUTALADO, adj. O mesmo que abrutalhado.

ABRUTALAR, v. Tornar grosseiro. Abrutalhar.

ABSOLUTISTA, s. Nome que os farrapos davam aos legalistas. O mesmo que


caramuru, camelo, galego, corcunda.

ABUGRADO, adj. Que descende de bugre. Inditico.

ABUSAR, v. Desconsiderar, provocar, ofender.

ACABANADO, adj. Diz-se do vacum que tem os chifres virados para baixo e
tambm dos cavalos que tm as orelhas cadas.

ACABAR COM A CASCA, expr. Matar.

ACABOCLADO, adj. Abugrado.

A CABRESTO, expr. Conduzido pelo cabresto. Submetido.

ACACULAR, v. Encher em excesso, abar rOtar.

ACALCANHADO, adj. Gasto pelo uso, acabado, envelhecido.

"Coitado, est meio acalcanhado, mas, bonzo, ainda." (Simes


Lopes. Contos Gauchescos).

ACAMPAR-SE, v. Dar incio a determinada ao que perdura por algum


tempo.

"Ontem, reli 'Cu e Campo',


"Pampa Bravo'... Hoje, me acampo,
como qualquer ndio-vago,
a vaguear, contigo. Dimas,
tragueando um nctar de rimas,
Pelos Caminhos do Pago."
(Rui Cardoso Nunes, Poema)

ACARNEIRADO, adj. Diz-se do cavalo


que apresenta a testa arredondada, se-

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melhante do carneiro.

ACAUSO, s. Acaso.

ACEADAO, adj. Muito aceado.


ACEADAMENTE, adv. Garbosamente, fogosamente. "O cavalo em que ia trotava
aceadamente, mascando o freio com impacincia."

ACEADO, adj. Diz-se do cavalo que anda com garbo, sem que para isso seja
necessrio ser castigado. ( palavra portuguesa tomada com outro
sentido).

ACERTAR, v. Adestrar o animal para qualquer um dos trabalhos nos quais


vai ele ser utilizado.

ACERTAR DE BOCA, expr. Ensinar o animal a obedecer ao freio.

ACERTAR NA MOSCA, expr. Atingir em cheio o objetivo.

ACHADIO, adj. Achadio, que se acha com facilidade.

ACHADO, s. Acontecimento imprevisto que traz benefcios. Ocorrncia


favorvel. Coisa que vem a calhar.

ACHAFUNDAR, v. O mesmo que chafundar.

ACHAMBONADO, adj. Achamboado. Grosseiro, tosco, mal feito, deselegante,


mal vestido.

ACHAMBONAR, v. Achamboar. Tornar ou tornar-se chambb. Proceder


achamboadamente.

ACHATAR A PATA, expr. Fugir a disparada.

ACHEGA, s. O mesmo que achego.

ACHEGAMENTO, s. Unio. (Arc. port.


em uso atual no Rio Grande do Sul).

ACHEGO, s. Amparo, encosto, auxlio, proteo.

"Menina, minha menina,


do teu pai eu tenho medo;
dize-lhe que nos gostamos,
e que eu no sou mau achego."
(Quadra popular).

ACHEGOS, s. Pequenos ganhos aciden tais.

ACHICAR, v. Tornar pequeno.

ACHICAR-SE, v. Acovardar-se, fazer-se pequeno, humilhar-se.

"Y ya que al mundo viniste


Con el sino de cantar,
No te vays a turbar
No te agrands ni te achiques
Es preciso que me expliques
Cul es el canto del mar."
(Jos Hernndez, Martn Fierro).

ACHURRAS, s. Midos do animal, vsceras, fressuras.


ACIMENTADO, adj. Tornado em cimento.

AO, adj. Albino, melado. // , tambm, SUfIXO para a formao de


superlativos: Bandido, bandidao; lindo, lindao.

ACOAR EM SOMBRA DE CORVO, expr. Tomar atitudes inteis em vez de


procurar resolver objetivamente os problemas.

ACOCAR-SE, v. Acocorar-se. Var.: acrocar-se.

AOITA-CAVALO, s. V. aouta-cavalo.

AOITEIRA, s. Parte do relho ou rebenque, constituda de tira ou tiras


de couro, tranadas ou justapostas, com a qual se castiga o animal de
montaria ou de trao. Var: Aouteira, aoutera, soiteira.

AOITERA, s. Aoiteira.

AOITERAS, s. Pontas das rdeas, que podem ser usadas, tambm, para
aoitar o cavalo. (Do cast. azo te, aoite).

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ACOIVARAR, v. Fazer coivara.

ACOLCHOADO, s. Edredo.

ACOLHERADO, adj. Unido o animal a outro pela colhera. // Andar uma


pessoa acolherada com outra, significa andar uma pessoa sempre junto de
outra.

ACOLHERAR, v. Unir dois animais por meio de uma pequena guasca amarrada
ao pescoo. Atrelar ou ajoujar animais por meio de colhera. // Unir,
juntar, com relao a pessoas.

ACOLHERAR-SE, v. Juntar-se, associar-se, amancebar-se.

ACOO, s. Latido do co.

ACOQUINAR, v. Intimidar, acovardar, dasalentar, inquietar, amofinar,


amedrontar, assustar, importunar, aborrecer. Var.: Acoquinhar. (Esp.).

ACOQUINAR-SE, v. Incomodar-se, aborrecer-se, amofinar-se.

ACOQUINHAR, v. O mesmo que acoquinar.

ACORDEONA, s. Cordeona.

AOUTA-CAVALO. s. rvore da famlia das Tiliceas (Lunea divaricata,).


Produz madeira apropriada a obras de marcenaria. Suas flores so
aromticas e tm propriedades peitorais. (O Vocabulrio da Academia
Brasileira de Letras s registra aoita-cavalos ou aouta-cavalos, p.
29).

AOUTEIRAS, s. O mesmo que aoiteiras.

ACRIOULADO, adj. Diz-se do animal que se adaptou a um meio diferente do


seu, adquirindo as qualidades dos naturais desse meio. // Aplica-se, por
ext., s pessoas.

ACRIOULAR-SE, v. Acostumar-se o animal recm-chegado com os demais


existentes no local, dos quais toma os hbitos. // Em sentido figurado,
aplica-se s pessoas.

ACROCAR, v. Acocorar-se, pr-se de ccoras.

ACUAO, s. Ato de acuar.

ACUAR, v. Acoar, latir, ladrar.

ACUCHILAR, v. Agredir algum faca.


Arremeter de faca contra algum. Esfaquear. (Do esp.: cuchillo, faa ou faco).

"Lascou-me fogo e errou (havia de ser!) e ali mesmo lo


acuchillei, como rs, no sangradouro..." (A. Maia, Alma Barbara, RJ,
Pimenta de Mello & C., 1922, p. 85).

AUCRE, s. Acar. (Arc. port. em uso atual no Rio Grande do Sul).

ACUPAR, v. Ocupar. (Arc. port. em uso atual no Rio Grande do Sul).

ADELGAAR, v. Reduzir o excesso de peso e de volume do cavalo,


tornando-o mais apto para as corridas ou para o trabalho. Alevianar.

"Uma semana levava


tosando, groseando os cascos,
adelgaando os seus pingos."
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, Martins Livreiro-Editor,
1981,p. 27).

ADICIONADO, adj. Diz-se do cavalo que sofre de doena crnica ou que tem
qualquer defeito fsico, especialmente nos rgos locomotores.
adicionado o animal rengo, manco, ou com qualquer defeito nas juntas,
embora leve.

ADICIONAR, v. Produzir doena crnica ou defeito em animal cavalar ou


muar.

ADICIONAR-SE, v. Tornar-se o animal


adicionado. Adquirir, o animal, defeitos fsicos ou molstias crnicas nos

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rgos locomotores, que o tornem incapaz para determinados trabalhos.

ADONAR-SE, v. Apropriar-se de qualquer coisa por meio de astcia,


esperteza ou velhacada.

ADONDE, adj. Em que, em tal lugar. (Arc. port. ainda muito usado no Rio
Grande do Sul).

ADRAGANTE, adj. Tratante. Que no cumpre suas promessas.


ADREDE, adv. Com antecedncia. A DURAS PENAS, loc. adv. De modo penoso,
com grandes dificuldades.

AFAMILHADO, adj. O mesmo que afa miliado.

AFAMILIADO, adj. Que tem famlia. Que tem encargos de famlia. Casado,
amasiado, amancebado.

AFAMILIAR, v. Adquirir famlia. Casar-se.

AFEITADO, adj. Barbeado.

AFEITAR, v. Cortar a barba.

AFEITAR-SE, v. Enfeitar-se, barbear-se.

AFERVENTAR, v. Apressar, importunar.

AFIADO, adj. Diz-se do que est em ex celentes condies para a execuo


de um trabalho ou para o cumprimento de uma misso.

AFICIONADO, s. O que tem propenso e gosto para uma arte, jogo ou


esporte.

AFILAR, v. Vaiar, caoar, troar com algum. (P. us.).

AFIVELAR, v. Contratar, ajustar, firmar, acertar: "A carreira ficou


afivelada", isto , ajustada, contratada.

AFOCINHADOR, adj. Diz-se do cavalo que tropea freqentemente.

AFOCINHAR, v. Cair de ventas no cho. Tropear.

AFOMENTAO, s. Maada, caceteao, amolao, aborrecimento.

AFOMENTAR, v. Maar, importunar, cacetear, amolar, aborrecer, enfadar.

FRICA, s. Faanha, proeza.

AFRICANO, adj. Plo de gado vacum, que consiste em ter o fio do lombo, a
parte inferior das costelas, paletas e pernas de cor branca, e o
restante de cor preta ou vermelha. Em geral, nas partes brancas, h
pintas caractersticas, e no restante do plo, nas partes pretas ou
vermelhas, a colorao tambm no uniforme.

AFRISSURAR-SE, v. Apressar-se.

AFRONTAR-SE, v. Abombar.

AFROXAR, v. Afrouxar. Fraquejar, entregar-se, dar-se por vencido. //


Soltar. // Deixar escapar, revelar (segredo).

AFROXAR A PONTA, expr. Dar mais liberdade tropa de gado, permitindo


que ela se alongue sobre a estrada, podendo andar com maior desembarao.
// Fig.: conceder determinadas liberdades, que em geral descambam para o
abuso; afrouxar a disciplina.

AFROXAR O GARRO, expr. Ser dominado pelo medo. // Cansar.


AFROXAR O LAO, expr. Atirar o lao para laar. // Afrouxar o lao para
que a rs se solte.

AFROXAR OS CACHORROS, expr. Soltar os ces para que procurem a caa.

AFROXAR OS QUARTOS, expr. Cansar.

AGACHADA, s. Arremetida, investida,


repente, ataque brusco, alardeio,
prosa, jactncia, vanglria, astcia, ardil,
esperteza, remoque, faanha, proeza,

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piada, sada, disparate. // Partida repentina e violenta a que o


cavaleiro obriga o seu animal, parado ou j em marcha. // Interpelao
brusca e desagradvel que uma pessoa faz a outra.

AGACHADEIRA, s. Narceja. Tomou essa denominao por se agachar ao


pressentir o caador.

AGACHADO, s. Galope de cavalo.

AGACHAR-SE, v. Comear, subitamente, a fazer alguma coisa. Dar incio,


principiar. Dispor-se. Lanar-se. Atirar-se. "A mula agachou-se a
velhaquear", isto , comeou subitamente a vertiaquear. "O peo
agachou-se a comer" i. , comeou a comer. // Var.:gachar-se.

AGALHAS, s. Velhacaria, trampolinice, parlapatice, fanfarrice. // Este


termo usado na expresso de agalhas. Um sujeito de agalhas, significa
um sujeito velhaco, esperto, finrio, e, tambm, parlapato, fanfarro,
tolo, presumido, gabola. (Vem de agalla, do casteLhano, que significa
excrecncia que se forma em algumas rvores, e que, em portugus, tem o
nome de ns-de-galha).

"Se tinha agalhas o negro!


Com ele trouvar quem ousa?
No se cansa nem repousa;
Eu que agora abria o olho
Aonde este negro zarolho
Foi aprender tanta cousa?"
(Arajo Goes, Manduca Cipriano).

"Era um chinoco de agalhas"


(Simes Lopes. Contos Gauchescos
p. 12.)

AGALHUDO, adj. Esforado, audacioso, forte, ousado. (P. os.).

AGARRADEIRA, s. Salincia que se faz, com a utilizao da faca ou de


outro instrumento cortante, na planta do casco do animal de montaria, a
fim de que ele tenha maior firmeza nos terrenos escorregadios.
Preparam-se agarradeiras, tambm, nos animais destinados a corridas.

AGARRADO, adj. Apegado, afeioado.

AGARRADOR s. e adj. Pessoa que sabe manter-se com segurana no lombo do


animal que corcoveja. O agarrador no se segura com as mos e sim se
equilibra em cima do animal.

AGARRAR v. Resolver-se. Tomar uma deliberao. "Agarrou e foi embora",


isto , resolveu ir embora, e foi.

AGARRARSE v. Manter-se, sem cair, no lombo do animal que corcoveia. (Vem


de garras, unhas).

A GATAS, adv. Penosamente, dificilmente, vencendo grandes obstculos.

AGATURRR, v. Agarrar, segurar, prender, capturar.

AGAUCHADO, adj. Com jeito de gacho. Com maneiras e ares de gacho. Que
usa vestimenta de gacho. Que tem hbitos de gacho. "Francisco era um
paulista agauchado que usava bombachas e tomava chimarro."

AGAUCHAR.SE, v. Tomar hbitos ou modos de gacho.

AGONIADO, adj. Muito preocupado. Aflito.

AGORA!, interj. Usada para chamar a ateno de algum pegado em


flagrante.

AGORINHA adv. Neste momento, recentemente, h pouquinho tempo.

AGRADAR, v. Exprime possibilidade, simpatia ou opo por alguma coisa:


"Agrada-me que o Jango ganhe esta eleio", isto , meu
palpite que o Jango ganhe esta eleio.

AGRANDAR, v. Tornar grande, chegar a grande.

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AGREGADO, s. Pessoa pobre que se estabelece em terras alheias, com


autorizao do respectivo dono, sem pagar arrendamento, mas com
determinadas obrigaes, como sejam cuidar dos rebanhos, ajudar nas
lides de campo, zelar pela conservao das cercas e executar outros
trabalhos.

GUA, s. Este termo empregado nas seguintes expresses usadas no


regionalismo gacho: Aquentar gua para o mate dos outros, beber gua
nas orelhas de algum, no beber gua nas orelhas dos outros, enfiar
gua no espeto.

GUA-BENTA, s. Cachaa, destinada a ser bebida ocultamente.

AGUACHADO, adj. Diz-se do cavalo que, por ter permanecido solto no campo
durante longo perodo de tempo, est muito gordo, pesado, barrigudo,
imprprio para trabalho forado imediato. Var.: aguaxado.

AGUACHAR, v. Tornar-se aguachado, isto , gordo, barrigudo, pesado,


destreinado, imprprio para o trabalho.

"Otra creacin lxica pampeana fue el vocablo aguachar, aplicado


al caballo que por falta de ejercicios, engorda y a raiz de cualquier
esfuerzo suda inmediatamente y queda exhausto." (Lothar Hessel,
Intercambios Culturales en el poema Antnio Chimango", Separata da
Revista Organon n 14 da Faculdade de Filosofia da URGS, p.9).

AGUACHAR-SE, v. Ficar aguachado.

AGUACHENTO, adj. Diz-se do fruto muito aguado e por isso inspido.

AGUADA, s. Lugar utilizado pelos animais para beberem gua. Bebedouro.


Chamam-se campos de boas aguadas os que possuem bastante gua,
apropriada para os animais beberem.

GUA-DA-GUERRA, s. Nome usado para designar o Lquido de Dakin,


germicida largamente utilizado na Guerra de 1914.

GUA-DE-CHEIRO, s. Perfume, extrato.

"Botei gua-de-cheiro nas melenas,


depois que vim da sanga bem lavado,
e solito, cantando as minhas penas,
fui pra o baile do rancho do outro lado."
(Valdomiro Sousa, Chimarro, P.A.,
Tip. Goldman, 1951,p. 60).

AGUA, s. rvore da famlia das sapotceas (Chrysophyllum lucumzfolium).

AGUAP, s. Planta aqutica encontrada principalmente em gua parada. Em


pocas de enchente, como planta flutuante, segue, s vezes, a
correnteza, cobrindo grandes reas. (Do tupi: auap).

AGUAPEZAL. s. Lugar em que existe grande quantidade de aguaps.

GUAS ABAIXO, expr. Direo, para corrida de cavalos, no sentido em que


a cancha fica em declive.

GUAS ACIMA, expr. Direo, para corrida de cavalos, no sentido em que a


cancha fica em aclive.

AGUATEIRO, s. e adj. Animal utilizado para o trabalho de transportar


gua em pipa. Diz-se do cavalo ruim, quase imprestvel. Var. : Aguatero.

AGUATERO, s. e adj. O mesmo que aguateiro.

AGUAXADO, adj. O mesmo que aguachado.

GUEDA, s. gata.

AGUENTAR O REPUXO, expr. Mos-

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trar-se corajoso, enfrentar situao difcil, revidar um insulto.

AGUENTAR O TIRO, expr. Topar a parada, sustentar com brio uma opinio,
enfrentar com herosmo as dificuldades.

"Que eu tenha fora nos braos,


coragem no corao,
para agentar o tiro,
e a minha gente conduzir.

E me d sorte e bom vento


para eu ganhar seu sustento
e os trapos pra eles vestir."
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1981, p. 114).

AGUENTE, s. Resistncia fsica. Resistncia ao cansao. Usado com


relao ao animal capaz de correr grandes tiros.

AGUILENHO, adj. Aquilino.

"Mas a alucinao foi-se, depressa, e, batendo as plpebras,


aturdido, surpreso, o gacho relanceou ao aposento seus grandes olhos
aguilenhos, esgaziados de febre" (A. Maia, Runas Vivas, Porto, Lello
& Irmo, 1910, p. 13).

AGULHO, s. Um pequeno peixe da fauna martima de Torres, RS, Bellone


trachura, segundo Rudolf Gliesch. Esse peixe tem as maxilas muito
prolongadas, em forma de bico, e armadas de muitos dentinhos agudos.
(Moraes).

AGULHAS, s. Vrtebras da espinha do animal vacum, acompanhadas de carne.


palavra usada sempre no plural.

AHIJUNA!, interj. Exprime admirao e tambm raiva.

AI-CUNA!, interj. Exprime entusiasmo, dor, admirao, surpresa, raiva.

AI! CUNA!, interj. Exprime surpresa, admirao, raiva. expresso


inculta. (Do cast.: "Ah! Hijo de una...!").

ALCUNA!, interj. Exprime admirao. "Alcuna! que bravo soldado!"

AI NO MAIS!, expr. No momento, no ato.

AIPIM, s. Mandioca mansa, macachera.

AIPO-BRABO, s. Planta da familia das umbelferas (Apium Australe). Aipo


do Rio Grande. Var.: aipo-bravo.

"Erva de folhas roxo-pecioladas polimorfas; flores brancas


pequemnas, dispostas em umbelas compostas. planta condimentar e til
interna e externamente na cura de feridas causadas por arma de fogo, e
principalmente no combate das molstias da pele". (Pio Corra).

AIPO-BRAVO, s. O mesmo que aipo-brabo.

AI QUE (SE) VER, expr. Usa-se para exaltar uma qualidade boa ou m: "Ai
que se ver como este leite gordo." Exprime, tambm, dvida ou opinio
contrria geral: Afirma uma pessoa: "O Borges vai ganhar facilmente
esta eleio", ao que o outro responde "Ai que se ver" com a
significao de "veremos depois".

AJAPA, s. O mesmo que inhapa.


AJEITAR, v. Diligenciar. Usar de meios adequados para conseguir
determinada coisa. Entrar em acordo. Ajustar algum assunto com outra
pessoa. Harmonizar partes em litgio.

A JEITO, expr. A feio, a calhar; de modo propcio, apropriado,


favorvel, oportuno.

AJOUJO, s. Tira de couro cru com a qual se unem, dois a dois, pelos
chifres, que so furados, nas extremidades, para esse fim, os bois da
carreta ou do arado.

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AJUDANTA, s. Mulher que presta ajuda em qualquer servio.

AJUPE, interj. Palavra usada pelos tropeiros para estimular os animais.

AJUTRIO, s. Prestao de ajuda a algum para a realizao de qualquer


trabalho.

"Um se faz de domador!


Traz a eguada pra mangueira
e convida os piazotes
a le dar um ajutrio:
Mode galopear uns potros ..."
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, Globo, P.A., 1959,
p. 61).

A LA BRUTA, expr. Ex-abrupto, inesperadamente, grosseiramente.

A LAO E ESPORA, expr. Com muita dificuldade, com muito esforo,


vencendo grandes obstculos.

ALACRANADO, adj. spero, de superfcie cheia de esfoladuras e de talhos,


como que denteada e espinhosa. // Diz-se do animal cheio de chagas ou
feridas.

ALACRANAR, v. Produzir esfoladuras, chagas, feridas. Tornar alacranado.

A LA CRIA, expr. Ao Deus dar, aventura. Foi-se a la cria, significa


foi-se embora, foi-se ao deus-dar, caiu no mundo, foi-se de escapada,
fugiu.

"A lambisgia tem namorado. Bem bom. melhor que se case e


va... la cria!" (Zeferino Brasil, Juca, o letrado, Fundao de
Educao e Cultura do Sport Club Internacional, 2 ed., P.A., 1975, p.
38).

"Tive china ... tive amores,


tudo se foi a-la-cria!"
(Dimas Costa, Pelos Caminhos do
Pago, Sulina, 1963, p. 19).

A LA FARTA, adv. Com abundncia, com fartura:

"Comeu-se carne a la farta"


(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
21. ed., P.A., 1915, p. 5).

A LA FIJA, adv. Na certa; com certeza de no errar, enganar-se ou


perder. Indubitavelmente, certamente. 1 Imediatamente, logo,
incontinente. ( expresso castelhana, usada na fronteira).

A LA FRESCA, interj. Exprime admirao, espanto, surpresa, descrena.

A LA GORDACHA, adv. Com fartura.

ALAMO, s. Alemo. O mesmo que lamo.

ALAMBRADO, s. Aramado. Cerca feita de arame para manter o gado nas


invernadas ou potreiros. // O campo cercado, no s por arame mas tambm
por cerca de pedra ou outro qualquer tapume. ( vocbulo de origem
platina).

"Foi nesse perodo de reorganizao que se desenvolveu em maior


escala esse grande reformador dos costumes e da vida rio-grandense - o
Alambrado.
Como invasor e elemento de evoluo mudou a face do Rio Grande.
Em poucos anos, o aramado apoderou-se dos campos, estendeu-se por toda
parte, fixou a divisa entre os lindeiros, subindo coxilhas, descendo
baixadas e atravessando sangas para divisas de aguadas.
Os fazendeiros cercearam a primitiva liberdade que campeava
pelas nossas vastas campinas,onde cruzavam livremente cavaleiros e
animais; pois que com o alambrado retalharam seus campos em invernadas,
invernadinhas, piquetes, currais e bretes; at nas cidades ele penetrou
dividindo terrenos.
Fecharam-se os atalhos, abriram-se os corredores!...

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Que golpe profundo deu o alambrado nos costumes da minha terra!


Os campos fechados e os gados amansados tiraram o primitivo
encanto da vida pastoril.
Acabaram-se as grandes cavalhadas, reduziram-Se as eguadas,
diminuiu-se a peonada."
(Severino de S Brito, Trabalhos e Costumes dos Gachos, P.A.,
Globo, 1928, reed. pela Cia. Unio de Seguros Gerais, p. 25-26).

"Tanto a gente como a tropa


Vinha muito aborrecida
Daquela marcha batida
Por dentro de um corredor.
O alambrado um pavor
Pra quem anda nesta lida."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1978,p. 57).

ALAMBRADOR, s. Pessoa que faz alambrados.

ALAMBRAR, v. Fazer alambrado. Cercar um terreno com arame.

A LA PUCHA, interj. Exprime admirao, espanto.


ALARIFAO, s. e adj. Aumentativo de alarife.

ALARIFAGE, s. O mesmo que alarifagem.

ALARIFAGEM, s. Ao de alarife. Qualidade de alarife. Proeza de alarife.


Esperteza, velhacagem, trapaa.

ALARIFO, s. Aumentativo de alarife.

ALARIFE, s. e adj. Vivo, esperto, finrio, velhaco, perspicaz, atilado,


desordeiro, venta-furada, ventana, trapaceiro. Bandido, ladro, pessoa
de maus costumes, que percorre a campanha para roubar e praticar
tropelias de todas as espcies. Usa-se neste caso, no plural: aquela
regio est infestada de alarifes. O vocbulo de origem rabe e
significa arquiteto, construtor, mestre de obras. Romaguera Corra, alm
de conceitos repetidos, em parte, acima, diz, ainda, o seguinte sobre a
palavra alarife:

"Supomos que foi transportado no de Portugal, onde foi


recolhido pela primeira vez por Viterbo, segundo Vieira, mas sim da
Espanha, onde a influncia rabe se exerceu tambm, e da para as
repblicas hispano-americanas, donde fomos busc-lo; pois se tivesse
vindo de Portugal, o seu uso se teria estendido a outros estados do
Brasil, o que no se d. Por extenso e forada analogia se adulterou a
significao desse vocbulo mui usado no Rio Grande". (Romaguera)

ALARMAR OS GANSOS, expr. Fazer rudo; alertar o inimigo.

A LAS TANTAS, expr. A tantas horas, l pelas tantas.

ALAZO, s. e adj. Cavalo que tem cor de canela. Plo de cavalo


arruivado. // Var.: lazo. Fem. alaz; pl., alazes e alazes. // Entre
as variedades de alazo ocorrentes entre ns, so mais conhecidas as
seguintes: Alazo-bragado, alazo -cabo s-negros, alazo-cruzado,
alazo-estrelo, alazo-malacara, alazo-requeimado, alazo-rosilho,
alazo-ruano, alazo-salino. // (Vem do rabe, al-hian. cavalo nobre).

"Numa saudade que evoca


e toca em meu corao,
tenho aqui a imagem viva
do meu cavalo alazo!"
(David F. da Cunha. Cavalo da Mata).

ALAZO-BRAGADO, ad). Diz-se do animal de plo alazo que tem branca a


barriga ou a virilha.

ALAZO-CABOS-NEGROS, adj. Diz-se

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do animal de plo alazo que tem pretos os membros, a crina e a cola.

ALAZO-CRUZADO, adj. Diz-se do animal de plo alazo que tem brancos um


p e uma mo, diagonalmente, ou seja, p direito e mo esquerda ou p
esquerdo e mo direita.
ALAZO-ESTRELO adj. Diz-se do animal de plo alazo que tem uma pequena
mancha branca na testa.

ALAZO-MALACARA, adj. Diz-se do animal de plo alazo que tem a frente


aberta, ou seja, que apresenta uma listra branca que se estende da testa
at ao focinho.

ALAZO-REQUEIMADO, adj. Diz-se do animal de plo alazo que tem cor de


canela, bem carregada, com tons ruivos, assemelhando-se e at
confundindo-se com o tostado-requeimado.

ALAZO-ROSILHO, adj. Diz-se do animal de plo alazo entremeado de


alguns fios brancos, ou de pequenas manchinhas brancas, sendo tambm
chamado, neste ltimo caso, de alazo salino.

ALAZO-RUANO, adj. Diz-se do animal de plo alazo que tem brancas ou


amarelas as crinas e a cola.

ALAZO-SALINO, adj Diz-se do animal de plo alazo, salpicado de


pequenas manchas brancas.

ALBARDO, s. Faixa de terra entre lagunas, banhados ou charcos. (Do


esp).

AL CABO, adv. Ao cabo, at que enfim, finalmente.

ALADA, s. Altura do cavalo, do cho s cruzes. (P. us.).

ALADO, adj. Diz-se do gado que vive bravio, no campo ou no mato,


esquivando-se ao custeio. (Procede de alzade rebelde, ou de alado, do
portugus, significando alevantado, exaltado).

-"Diz-se do gado ou do animal que se torna selvagem por falta de


costeio ou cuidado de seu proprietrio. Antigamente, quando as estncias
constituam verdadeiros latifndios, sem cercas que as limitassem,
existiam grandes quantidades de vacuns alados. Na caa ou pega desses
animais, era onde se revelava, ento, o verdadeiro gacho ou campeiro
rio-grandense. Foi essa tarefa uma escola de audcia e de coragem, que
contribuiu decisivamente para a formao da alma da nossa gente. Nas
loucas cavalgadas, na apanha da rs ou do gado arredio, o homem acometia
o animal no seu ligeiro cavalo, s levando como arma uma faca para
desembara-lo de algum enredo no lao, esse indefectvel companheiro, e
das traioeiras boleadeiraS. Laado o animal ou peado pelas "trs
marias", era imediatamente passado pelos maneadores, jazendo ali, at
que, terminada a caada, que s vezes se prolongava pelo dia todo, o
gacho voltava sobre seus passos colhendo o fruto do labor da jornada:
algumas dezenas de peas. H casos de um s homem subjugar o bravio
animal, apenas ajudado pelo seu cavalo, mestre em cinchar. Um sinuelo de
gado manso conduzia as feras ao aprisco abandonado. Ao eqino tornado
selvagem, reservava-se o nome de bagual, reservando-se alado para os
demais animais, aves, porcos, etc." (Moraes).

"Deus fez os campos sem fim,


com gado alado e sem dono,
se criando do capim
no mais completo abandono."
(Zeno Cardoso Nunes. Ladro de
Gado).
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alcoviteiro. ( vocbulo j em desuso na campanha).

ALCAIDE, s. Cavalo ruim, velho, sem


serventia. Aplica-se, tambm, s coisas
e s pessoas.

ALCANAR, v. Apanhar e entregar qualquer coisa a outrem.

"A erva verde!


cor de esperana
Que vibra na mo
Da china que alcana
Junto com o mate
O seu corao ...
O gosto amargoso
To bom quanto quente...
Amargo gostoso
Igualzito a saudade
No peito da gente."
(Terezinha Odete, Piquete de
Sonhos, in Antologia Potica,
organizada por Nelson Fachinelli, P.A.,
Ed. Proletra, 1981, p. 107).

ALCANCE, s. Ato de correr o parelheiro atrs do competidor, poupando as


fras para arremeter no final, ganhando a carreira.

ALCANCILHOS, s. Torneio. Espcie de evoluo das cavalhadas.

ALAR, v. Fazer com que o cavalo levante a cabea, por ao das rdeas.

ALAR A COLA, expr. Alvoroar-se para sair, assanhar-se, ficar


impaciente para ir embora.

ALAR A PERNA, expr. Montar a cavalo.

ALAR-SE, v. Tornar-se alado. Fugir para os matos ou para os banhados,


tornar-se bravio, asselvajar-se. Diz-se principalmente do gado vacum,
mas se emprega tambm em relao aos outros animais domsticos. 1 Tomar
a pessoa atitude de desobedincia ou tomar uma resoluo inesperada.

ALCATRA, s. Anca do boi ou da vaca;


parte de rs constituda dos ossos da bacia acompanhados da respectiva
carne. // Assento. Traseiro. // "Bater a alcatra na terra Ingrata":
morrer. 1 Var. alcatre.

ALCATRE, s. O mesmo que alcatra.

ALCATRUZADO, adj. Abichornado, tristonho, melanclico, abatido,


desengonado, desajeitado, que caminha mal.

ALCE, s. Folga, trgua, descanso. Alento. Melhora de estado fsico.


Engorda. Diminuio da marcha de um animal para poup-lo. // No dar
alce significa no dar folga, no dar descanso, no dar trgua. // Ato
de fazer com que o cavalo levante a cabea por ao das rdeas.
ALDAGRANTE, adj. O mesmo que aidragante.

ALDEAR, v. Juntar, em povoao ou aldeia, indgenas que vivem errantes.

ALDEA, s. O mesmo que aldeia.

ALDEIA, s. Toldo, povoao de indgenas. Arrabalde de vila ou cidade


onde esto edificados os ranchos da populao pobre, constituda em sua
maioria de mestios. Pequeno povoado.

ALDEIAMENTO, s. Ato de reunir em aldeia os indgenas que vivem


dispersos. // Aldeia.

ALDRAGANTE, adj. Vagabundo, tratante.

ALECRIM, s. rvore boa para construo, de grande porte, existente no


Alto-Uruguai; de cor vermelha e de grande resistncia e dureza. 1
tambm nome de uma planta arbustfera, espcie de vassoura, de flores
lilases muito apreciadas pelas abelhas; em alguns campos essa planta h
em tal

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quantidade que considerada praga.

ALECRIM-DO-CAMPO, s. Planta utilizada, em cozimento, para banhos contra


febres.

ALEGRETE, adj. Diz-se do indivduo que, levemente embriagado, manifesta


alegria.

A LEITE DE PATO, expr. Usa-se para significar que o jogo no a


dinheiro.

ALEMBRAR, v. Lembrar. (Arc. Port. atualmente em uso no Rio Grande do


Sul).

ALEMOAR-SE, v. Tornar-se semelhante aos alemes, germanizar-se.

ALERTEAR, v. Ficar alerta, espertar.

ALEVIANADO, adj. Diz-se do animal tornado mais leve, mais leviano, mais
apropriado para o trabalho ou para as corridas.

ALEVIANAR, v. Submeter o animal a


exerccios para que se torne leve para
as corridas ou para o trabalho.

ALEXANDRE EM PUNHO, expr. Sovina, usurrio. (P. us.).

ALGARIADO, adj. Diz-se do indivduo agitado, nervoso, sem calma, sem


ponderao. Alvorotado.

ALGARIAR-SE, v. Tornar-se algariado. Alvorotar-se, atrapalhar-se,


vexar-se.
ALHADA, s. Embarao, apuro, dificuldade.

LIAS, adv. Deturpao de alis, largamente usado por gente inculta.

ALIGEIRAR, v. Tornar mais veloz o cavalo por meio de exerccios.

ALIMAL, s. Deturpao de animal, de largo emprego entre os habitantes da


campanha, e usado, principalmente, para significar o cavalo.
"Era o carroceiro que veio aqui em casa na busca de uma pequena
carga, a lamentar-se de seus tropeos profissionais. H muito que eu no
escutava queixas desse gnero. Menos ainda o alimal, corruptela to
comum em nosso Interior."
(Srgio da Costa Franco, Achados e Perdidos, P.A., Martins
Livreiro-Editor, 1981,p. 9).

ALIMANADA, s. Animalada.

ALIVIO, s. Deturpao de alvio.

ALMCEGO, s. Alfobre. Viveiro de plantas.

"Provavelmente foi tomado de


almcega, confundindo o rego que
separa os canteiros, com o viveiro
das plantinhas". (Moraes).

ALMA-DE-GATO, s. O mesmo que anum branco. tambm chamado,


impropriamente, de rabo-de-palha.

ALMA PENADA, s. Assombrao.

ALMARIO, s. Corruptela de armrio.

ALMIDON, s. Deturpao de amido.

A LO BRUTO, loc. adv. Impetuosamente, a fora, sem muita conversa,


violentamente.

A LO GRANDE, loc. adv. Fartamente, com abundancia.

ALOITAR, v. lutar.
"Eram ento trs crioulos forudos aloitando e rolando pelo
pasto, e o brinquedo de vez em quando, assim num repente, virava em
briga sria." (Reinaldo Moura, Romance no Rio Grande, P.A., Globo, 1958,
p. 65).

A LO LARGO, loc. adv. Futuramente, com o tempo, medida que o tempo for
passando, aos poucos.

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A LO LEO, expr. Sem rumo certo.


"Soltou as rdeas do pingo
e foi andando, a lo lo,
sentindo que um negro vu
lhe apagava a luz da vida!"
(Dimas Costa, Pelos Caminhos do
Pago, P.A.,Sulina, 1963,p. 40).

"Como ndio que anda vago


troteando sempre a lo lo
foste um pedao do cu
nos fandangos da querncia!"
(Niteri Ribeiro, Guitarra,
Tronqueira de Guajuvira, P.A., 1955,
p. 49).

"Eu era quase um menino


quando cheguei por aqui.
Desde o velho Inhandu
fui me criando teatino,
meio de peso do Destino,
redemoinhando a lo lo.
Por copa tinha o chapu.
Por galpo, o firmamento.
Por msica, a voz do vento
penteando as nuvens do cu."
(Antnio Augusto Fagundes, Com a
Lua na Garupa, P.A., Martins
Livreiro-Editor, 1981, p. 16).

A LO LOCO, loc. adv. Impensadamente.

A LO MENOS, conj. Ao menos, a menos


que.

ALONJAR-SE, v. Afastar-se, distanciar-se, alongar-se.

ALPARGATA, s. O mesmo que alpargatas.

ALPARGATAS, s. Alpergatas.

AL PEDO, loc. adv. A loa, em vo, sem


objetivo determinado. Var.: alpedo.
"Seu pai no foi melhor do que ningum,
mas se est velho assim
no foi al pedo."
(Colmar Duarte, Sesmarias dos
Ventos, P.A., Ed. Movimento,
1979,p. 19).

"Sabem amigos, aqueles!


o que a alegria bruta
de jogar a vida alpedo
numa carga de vanguarda!"
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1981. p. 77).

ALPEDO, adv. O mesmo que a pedo.

ALPEDRO, adv. Expresso platina que significa a esmo, toa, andar ou


caminhar sem rumo.

AL PERO, adv. A toa.


ALPISTA, adj. Arisco, desconfiado, asassustadio, ressabiado,
espantadio. Var.: arpista.

ALPISTAR-SE, v. Tornar-se arisco, desconfiado, espantadio. Var.:


arpistar-se.

ALTANADO, adj. Altivo, provocante, arrogante, malcriado.

ALTERADO, adj. Enraivecido.

ALUMIAR A COLA NA MACEGA, expr. Morrer.

ALUMIAR AS IDEIAS, expr. Beber um trago de cachaa para avivar as


idias.

ALVOROAR, v. Entrar a fmea no cio, reinar.

ALVOROTAR-SE, v. Assustar-se, agitar-se.

AMAAROCAR, v. Transformar em maaroca, dar forma de maaroca.

AMACHONAR-SE, v. Amachorrar.

AMACHORRADA, adj. Diz-se da gua ou vaca que se tornou estril; que tem
jeito ou ares de machorra. // Diz-se, tambm, da mulher, no s na
acepo j expressa, como no sentido de que tem

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procedimento de homem, de macho.

AMACHORRAR. v. Ficar estril ou tornar-se estril, a fmea do animal. O


mesmo que amachonar-se. Transformar em machorra, tornar estril uma
fmea.

AMACIAR O PLO, expr. Agradar algum para conseguir um favor. // Aplicar


uma surra.

AMACOTAR, v. Tornar macota.

AMADRINHADOR, s. O que amadrinha. Indivduo que acompanha o domador


montado em cavalo manso, a fim de ajud-lo a conduzir o redomo.
Cavaleiro que reponta o potro que est sendo domado. Ajudante do
domador. 1 Pessoa que advoga uma causa de outra, protegendo-a e
procurando justificar suas faltas.

AMADRINHAR, v. Exercer a funo de amadrinhador. Acompanhar o domador,


montado em cavalo manso, para evitar que o potro enverede por lugares
perigosos. // Acostumar os cavalos ou os muares a se manterem juntos,
acompanhando um cavalar, em geral uma gua mansa, denominada
gua-madrinha, qual se amarra um sincerro ao pescoo. // O mesmo que
madrinhar. 1 Com a mesma acepo, h o termo platino apadrinar.

"Quanto mais tempo sobre o tempo passa


mais avulta dos bravos a memria,
emponchados nas pginas da histria
amadrinhando os rumos de uma raa."
(Guilherme Schultz Filho, Cesta de
um Clarim, P.A., Assemblia
Legislativa do Rio Grande do Sul, 1961,
p. 30).

"Apadrinhar, s. - Acompanar um jinete, em caballo manso, a otro


que monta un potro o redomn, educando a ste con el buen gobierno y
oportunos movimientos del suyo". (Daniel Granada, Vocabulrio Rioplatense
Razonado, Tomo 1, Montevideo, Biblioteca Artigas, 1957, p. 71).

AMAGAR, v. Levar o cavaleiro o corpo para trente a fim de acompanhar o


impulso do cavalo.

AMANAR, v. Ficar mano a mano, isto , em igualdade de condies.

AMANHECIDO, adj. O mesmo que tresnoitado; que passou a noite em claro,


sem dormir.

AMANONCIADO, adj. Diz-se do cavalo manso sem que tenha sido montado.

AMANONCIADOR, s. Pessoa que se encarrega de amansar ou amanonciar


animais de montaria.

AMANONCIAR, v. Amansar um cavalo sem o montar. Domesticar um animal,


tirar-lhe as manhas, por meios brandos, sem o molestar. Fazer carinhos
com as mos nos potros que esto sendo domados a fim de tirar-lhes as
ccegas. Var.: Amanosear, amanunciar, amanusear e manosear.

AMANOSEAR, v. O mesmo que amanonciar.

AMANSAR DE BAIXO, expr. Tirar todas as ccegas do animal que vai ser
domado, antes de mont-lo.

AMANSAR O MATE, expr. Tomar os primeiros mates, em geral muito amargos.

AMANUNCIAR, v. O mesmo que amanonciar.


"Fez-le muitos cumprimentos,
Muita festa, muito enguio
At mandou-lhe um petio.
E nele o dar era raro;
Gacho de muito faro
Pra amanunciar um novio."

29

(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,


21. ed., P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1978, p. 68).

AMANUSEAR, v. O mesmo que amanoncear.

AMARELINHO, s. Variedade de fumo crioulo, de cor amarela, de qualidade


excelente, produzido no municpio de Cachoeira do Sul.
"Pla tambm tua cherenga,
descasca um amarelinho,
e vai cortando fininho
a fina flor de Cachoeira"
(Amndio Bicca, Fechando um
Baio, in No Reino da Poesia, P.A.,
Assoc. de Cultura Literria, 1951,
p. 34).

AMARGO, s. Mate, chimarro, mate amargo, mate sem acar. bebida usada
em todo o Estado do Rio Grande do Sul.

"Do amargo
Com o porongo africano,
a bomba peninsular,
e erva do ndio americano
- trs continentes a dar
a sua contribuio
democrata reunio
fraterna, que anima e puxa
e acende a veia gacha
nas chamas de um chimarro."
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, P.A., Globo, 1959,
p. 147).

AMARGO-DE-APOJO, s. Chimarro espumante. (P. us.).

AMARRADO, adj. Diz-se do indivduo acanhado, atado, sem desembarao.

AMARRADOR, s. Lugar onde se amarram OS animais.

AMARRAR, v. Ajustar, contratar, firmar um negcio. // Atar. // Amarrar


ou atar uma carreira significa ajustar as condies de uma corrida de
cavalos.

AMARTILHAR, v. Emartilhar, engatilhar, martilhar.

AMATUNGADO, adj. Diz-se do cavalo que aparenta ser ruim como o matungo,
com jeito ou aspecto de matungo.

AMBICIONEIRO, adj. Ambicioso.

A MEIA ESPALDA, loc. adv. Aplica-se a uma forma de laar que prende o
animal pelo fio do lombo, pelo peito e por um dos membros dianteiros.

A MEIA GUAMPA, expr. Meio embriagado, levemente brio.

A MEIA RDEA, expr. A galope moderado.

AMELHORADO, adj. Melhorado.

AMILHADO, adj. Diz-se do animal tratado com milho.

AMILHAR, v. Tratar o animal com milho.

AMIUDAR, v. Diminuir a marcha do animal cavala.

AMO CAALO, expr. Expresso usada para acalmar o cavalo.

AMODE, adv. Tem o significado de parece: "Amode que foi ontem que ele
chegou".

AM DE QUE ou AM QUE, loc. Por amor de..., parece que..., julgo que...
Ex.: "Fulana no vai festa? - Am que sim", isto , parece que vai.
(Usadas por gente inculta).

AMOITAR, v. Deitar, cair, derrubar. Deitar, cair: "Sentei-lhe o mango e


ele amoitou ali mesmo." Derrubar: "Amoitei o quebra no primeiro
prancho".

AMOITAR-SE, v. Encolher-se, no expender opinio para no se


comprometer.

30

AMOJAR, v. Mungir, encher de leite.

AMOLADOR, s. Importunador, pessoa aborrecida, impertinente.

AMOLAR, v. Aborrecer, incomodar, importunar, fastidiar, cargosear.

"O vocbulo amolar, com o sentido de: enfadar, molestar,


aborrecer, usado em diversos pases da Amrica, logo se trata de um
americanismo ou de um termo pan-americano, j registrado no Dic. de la
Lengua Espaola (16 edio, pg. 78) que lhe d como timo o latim
ad-mola." (A. Tenrio d'Albuquerque, Falsos Brasileirismos, RJ, Ed.
Gethio Costa, p. 65).

AMONTAR, v. Colocar-se sobre o animal de montaria. O mesmo que montar.

AN! AN!, expr. Significa afirmao ou negao conforme a pronncia


adotada: Em tom breve, afirma; com pronncia destacada, nega.
pronunciada nasalmente. usada nos lugares em que predomina o elemento
colonial de origem alem.

ANCA, s. Quarto traseiro dos quadrpedes. Garupa do cavalo. O traseiro


do vacum.

ANCA DE VACA, adj. Certa conformao dos quartos do cavalo.

"O meu pingo tordilho, anca de vaca,


Pingo solto de patas e altaneiro,
cavalito de brigar de faca,
De virar o balco dum bolicheiro."
(Vargas Neto, Trou pilha Crioula e
Gado Xucro, 2 ed., P.A., Globo,
1959,p. 15).

ANDADOR, adj. Diz-se do cavalo cujo


passo habitual a andadura, espcie de
marcha muito cmoda para o cavaleiro. O mesmo que esquipador. Diz-se,
tambm, do cavalo despachado, que
no lerdo.

ANDADURA, s. Marcha do cavalo andador. Marcha ou andar do cavalo:


"Animal de tima andadura."

ANDANTE, s. Viajante, transeunte.

ANDAR, s. Montaria: "Este cavalo de andar do patro", isto , o


cavalo de sua montaria, de seu uso. Cavalo manso de andar o que foi
adestrado para montaria. H animais mansos, que no so de andar.

ANDAR A GALOPE, expr. Andar ligeiro, com pressa, rapidamente.

ANDAR COM A BARRIGA NO ESPINHAO, expr. Andar com fome, magro,


desnutrido.

ANDAR COM A BORDA N'GUA, expr. Andar em precrias condies.

ANDAR COM A CINCHA NA VIRILHA, expr. Necessitar urgentemente de


dinheiro, estar em grande apertura financeira.

ANDAR COMO BOLAS SEM MANICLA, expr. Andar s tontas, intil.

ANDAR COMO CACHORRO GAUDRIO, expr. Andar toa, gauderiando.

ANDAR COMO CACHORRO QUE ROUBOU TOUCINHO, expr. Andar ressabiado,


arredio, desconfiado. O mesmo que "andar como cachorro que lambeu
graxa".

ANDAR COMO CHIMANGO EM TRONQUEIRA, expr. Andar triste, abatido, jururu.

ANDAR COMO COBRA QUE PERDEU A PEONHA, expr. O mesmo que "Andar como
cobra que perdeu o veneno".

ANDAR COMO COBRA QUE PERDEU O VENENO, expr. Andar aflito, desinquieto.

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ANDAR COMO GAJO EM TAPERA, expr. Andar abandonado, esquecido, taciturno,


triste.

ANDAR COMO NEGRO FUGIDO, expr. andar ressabiado, desconfiado, arredio.

ANDAR COMO PAU DE ENCHENTE, expr. Andar de um lado para outro, ao sabor
dos acontecimentos.

ANDAR COM OS ARREIOS NAS COSTAS, expr. Estar sem cavalo de montaria, ou
andar montado em animal ruim.

ANDAR COM RETOVO, expr. Apresentar-se sob aspecto diferente do


verdadeiro.

ANDAR CORRIDA, expr. Estar a fmea no cio.

ANDAR CORTANDO ARAME COM OS DENTES, expr. Andar sem dinheiro.

ANDAR DE BIQUEIRA, expr. Estar o brio impossibilitado de beber.

ANDAR DE CABRESTO CURTO, expr. Andar a pessoa sob controle, com suas
atividades delimitadas.

ANDAR DE CAMBO E CANGALHA, expr. Andar muito vigiado e cerceado em sua


liberdade.

ANDAR DE CAVALO DE TIRO, expr. Andar muito prevenido, ser precavido.


ANDAR DE CEPO, expr. Andar dc namoro.

ANDAR DE COLA ALADA, expr. Andar alvoroado para ir embora, para fugir.

ANDAR DE EM PLO, expr. Andar a cavalo sem arreios, assentado


diretamente no lombo do animal, ou usando apenas um pequeno forro.
baixeiro ou pelego. // Var. Andar em plo.

ANDAR DE LOMBO DURO, expr. Andar mal humorado, brabo, desconfiado.

ANDAR DE MARCA QUENTE, expr. Andar zangado, enraivecido, ressabiado,


como o animal que acaba de ser queimado pelo ferro em brasa da marca.

ANDAR DE ORELHA EM P, expr. Andar prevenido, atento, de sobreaviso.

ANDAR DE ORELHA MURCHA, expr. Andar infeliz, desanimado, descoroado.

ANDAR DE PELO A PLO, expr. Viajar num s cavalo, sem mudar.

ANDAR DE PICA-FLOR, expr. Andar vadiando.

ANDAR DE PONTA, expr. Andar de rixa com algum, alimentar prevenes.

ANDAR DE RDEAS SOLTAS, expr. Andar vontade; governar-se, dirigir-se.

ANDARECO, s. e adj. Cavalo de marcha ligeira mas incmoda. Diminutivo de


andador. Diz-se em tom depreciativo em relao marcha de certos
animais pequenos e ruins. Animal feio, ordinrio.

ANDAR EM PLO, expr. O mesmo que


andar de em plo.

ANDARENGO, s. e adj. Caminhador, andador, andejo, pessoa que viaja


constantemente a cavalo.

"... guasca andarengo, vido de horizonte, atrado pelas


encruzilhadas." (A. Maia, Alma Barbara, RJ, Pimenta de Mello & C.,
1922).

"Por fim, rematando o descante de seus amores e de suas penas, o velho


Silvano, andarengo sem lar e sem famlia, mas cheio de ternura

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pela sua terra, pelo cho verde e ondulado em que toda a vida tinha
campereado e trazia no corao, desferiu os ltimos versos e os ltimos
acordes" (Darci Azambuja, Romance Antigo, P.A., Globo, 1940, p. 210).

ANDAR ENTRE A QUARTA E A MEIA PARTIDA, expr. O mesmo que andar entre a
quarta e a meia quartilha.

ANDAR ENTRE A QUARTA E A MEIA QUARTILHA, expr. Querer e no querer.


Andar vacilante, sem uma resoluo definitiva. O mesmo que Andar entre a
quarta e a meia partida.

ANDAR ENTRE SAN JUAN Y MENDONZA, expr. Andar embriagado, cambaleando.


ANDARIVEL, s. Paus fincados entre os trilhos da raia para evitar que os
parelheiros saiam da linha que devem seguir, misturando-se. ( termo em
desuso).

ANDAR MATANDO CACHORRO A GRITO, expr. Andar sem dinheiro, na maior


misria.

ANDAR NA PONTA, expr. Andar saliente em alguma coisa, destacar-se, dar


as cartas, mostrar-se, dar a nota chique nas reunies sociais.

ANDAR NA PONTA DOS CASCOS, expr. Andar alardeando felicidade e boa


disposio.

ANDAR NA TINIDEIRA, expr. Andar em situao angustiosa, em apertura, em


dificuldades por falta de dinheiro.

ANDAR NA TIORGA, expr. Andar bbado. // Andar bem vestido, com roupas
domingueiras.

ANDAR PELAS CARONAS, expr. Andar mal, andar em dificuldades.

ANDAR PELO CABRESTO, expr. Ser conduzido por outra pessoa.

ANDAR TROCANDO ORELHAS, expr. Andar alerta, vigilante.

ANDOLINA, s. Grampo para cabelo.

ANDORINHA, s. Prostituta, geralmente a que anda de cidade em cidade.

ANDORINHA DO MAR, s. Pssaro da costa de Torres, tambm chamado trinca


de reis. H trs variedades: o de bico chato, o mdio e o ano.

ANGLICA, s. rvore da famlia das tubiceas.

ANGICO, s. Madeira especial para construo. H as seguintes variedades:


angico amarelo, angico do banhado, angico cedro, angico sujo, angico de
monte. Na classificao de Martins, mencionado como accia angico. Em
seu Vocabulrio, indaga Luiz Carlos de Moraes: "O nome vulgar desta
rvore no ter relao com o da tribo africana sua tocaia?"

ANGOLA, s. Angolista.

ANGU, s. Piro de farinha de milho. Fig.: mexerico, intriga, confuso,


barulho, arranca-rabo.

ANGURIAR-SE, v. Entristecer-se, aborrecer-se, angustiar-se.

ANGURREADO, adj. Aborrecido, tristonho, angustiado, agoniado,


desanimado, adoentado. O mesmo que angurijado e angurriento.
"Para falar a verdade, ia at meio angurriado como se fosse
morrendo."
(N. Pereira Camargo, Histrias da Fronteira, P.A., Ed. Combate
Ltda., 1968, p. 25).

ANGURRENTO, adj. O mesmo que angurreado.

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ANGURRIADO, adj. O mesmo que angurreado.

ANGURRIENTO, adj. O mesmo que angurreado.

ANHAPA, s. O mesmo que inhapa.

ANILHO, s. Anel de couro, integrante da colhera, que circunda o pescoo


do animal.

ANIMAL, s. Animal cavalar, especialmente o macho. Ver um animal


significa ver um cavalo, uma gua, um garanho, e no um muar ou um
bovino. muito empregado tambm na sua verdadeira acepo.

ANIMALAO, s. Cavalo bonito e bom. O mesmo que animalo.

ANIMALADA, s. Tropa de animais cavalares.


"Ao tropear da animalada, em alvoroo, juntavam-se, vindos de
trs, de longe, de toda a imensido noturna, sons de luta, estrupidos,
clamores..." (A. Maia, Runas Vivas, Porto, Lello & Irmo, 1910,
p. 10).

ANIMALO, s. O mesmo que animalao.

ANIMAL DE TIRO, s. Cavalo de resistncia. Animal que vai puxado pelo


cabresto, para mudana na viagem.

ANIMALITO, s. Animalzinho, cavalo pequeno.

ANOQUE, s. Utenslio, assemelhado a grande saco de couro, destinado


fabricao da decoada.

ANSIM, adv. Corrupo de assim.


"E ansim foi que muita gente
Ao princpio duvidava."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1978, p. 63).

ANTA, s. e adj. Pessoa interesseira, experta, fingida, falsa, mendaz,


sabida, que de tudo procura tirar vantagens.

ANTECIPO, s. Adiantamento de dinheiro.

ANTONCES, adv. Deturpao de ento.

ANU, s. Nome de uma dana dos bailes campestres do Rio Grande do Sul.
Nesta dana, depois de feita a roda.

"dizia o marcante: roda grande, a esta voz todos se davam as


mos e ao dito do mesmo marcante: tudo cerra, a um tempo cerravam a
sapateada de mos dadas; voz de cadena faziam os danantes mo direita
de dama como na quadrilha. Acabado isto, cantava o tocador de viola:
O anu pssaro preto,
Passarinho de vero,
Quando canta meia noite
D uma dor no corao.
Folgue, folgue, minha gente.
Que uma noite no nada.
Se no dormires agora
Dormirs de madrugada."
(Cezimbra Jacques, Costumes do
Rio Grande do Sul, P.A., Tip.
Gundlach Becker, 1883, p. 93-94).

AO TRANCO, expr. Na marcha natural, no apressada, do animal de


montaria.
"Ao tranco, rumo da noite,
cruz velha, vou te deixando,
mas vens seguindo os meus passos
cada vez mais, agourando."
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, //, P.A., Sulina, 1963,
p. 96).

APADRINHAR, v. Acostumar um animal com outros. // Interceder por algum.

APADRINHAR-SE, v. Colocar-se uma pessoa sobre a proteo de algum.

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APARADOS, s. Denominao dada aos contra-fortes da Serra Geral no Estado


do Rio Grande do Sul. Os aparados so despenhadeiros verticais e
abruptos, de impressionante beleza, cuja altura varia de 400 a 1200
metros, aprumo. Esto situados entre o Rio Grande do Sul e Santa
Catarina, nos municpios de Bom Jesus, Cambar do Sul e So Francisco de
Paula.
"Mostro a todos minha terra,
os Aparados da Serra
cheios de sol e de luz,
essa paisagem estranha
que d beleza campanha
nas bandas de Bom Jesus!"
(Rui Cardoso Nunes, Rodeio Serrano,
in jornal Administrao, P.A.,
1973, p. 7).

A PAR DE, loc. adv. Ao lado de outro, em marcha.

APARIO, s. Assombrao, viso, fantasma.

APARTAO, s. Ato de apartar, separar, animais que se encontram juntos e


que sero levados para lugares diferentes, por motivo de venda ou
simples mudana de campo.

APARTAR, v. Escolher, separar, animais que se encontram juntos e que


tero destinos diferentes.

APARTE, s. Apartao, separao, principalmente em relao ao gado


bovino.
"Em aparte se fala quando "se tira de l pra c", isto , quando
se separam animais para fins diversos." (Henrich A. W. Bunse, So Jos
do Norte. P.A., Mercado Aberto/IEL, 1981, p. 67).
A PATA DE CAVALO, expr. custa de um esforo violento.

A P, loc. adv. Sem dispor de montaria, ou dispondo apenas de maus


animais: "A estncia est a p", significa que a estncia no dispe de
bons animais para montaria. // Em sentido figurado, usa-se para
significar que se est desprovido de alguma coisa: "Estou a p de trato
para os animais". "O nosso partido est a p de bons oradores", ou seja,
no dispe de bons oradores.

APEIAR, v. Apear, descer do cavalo, desmontar. // Desembarcar da


diligncia, da carreta, do automvel.

APENDOAR, v. Criar pendo.

APERADO, adj. Ricamente ajaezado. encilhado com esmero (o cavalo). Bem


vestida, a pessoa.

APERAGEM, s. Apero.

APERAR, v. Encilhar, selar, pr os aperos no cavalo de montaria. Ajaezar


o cavalo de sela.

APERO, s. O mesmo que aperos.

APEROS, s. Arreios. Preparos necessrios para encilhar o animal. As


partes dos arreios que servem para o governo, segurana e ornamento do
cavalo: rdeas, cabeada, cabresto, bual, peitoral, rabicho, maneia,
etc. Preparos, jaez.
"Os aperos do cavalo eram de couro tranado, com argolas e
bombas de prata; presas ao lombilho, a mala do poncho enfiada nas
rodilhas do lao; e na frente as boleadeiras." (Darci Azambuja,
Coxilhas, P.A., Globo, 1956, p. 81).

"Tenho um apero que de fato lindo,


feito de couro de zebu bragado."
(Joo Batista Soares. Campeiradas,
So Leopoldo, Tip. Luz Ltda.,
1978,p. 231).

APERREADO, adj. Emagrecido, enfraquecido, enfezado, tristonho,


acovardado, abatido, aborrecido, fatigado,

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triste, pensativo, enclenque.

"Quando me lembro dos pagos


Fico triste e aperreado;
L deixei o mano Juca,
Monarca quebra e largado:
Ningum pisou-lhe no poncho
Que no ficasse pisado!"
(Versos de um escritor rio-grandense,
escritos no Paraguai).

"Caramba! Ver a pequena assim aperreada e consentir que ele


fizesse o que no deixo um caracar fazer juriti!" (Apolinrio Porto
Alegre, O Vaqueano, P.A., Globo, 1927,p. 33).

APERREADOR, s. e adj indivduo que aperrea.

APERREAR, v. Aborrecer, importunar.

APERREAR-SE, v. Aborrecer-se, zangar-se.

APERTADO, s. e adj. Lugar estreito, desfiladeiro, por onde passa caminho


ou rio. O que se encontra embaraado: "O apertado mandou lembrana",
diz-se por gracejo em relao a uma pessoa que est atrapalhada, sem
saber como sair das dificuldades.

APERTADO COMO QUEIJO EM CINCHO, expr. Metido em apuros, em dificuldades.

APERTAR, v. Sujeitar a rs, quando derrubada, apertando-a de encontro ao


solo. Acalcar.

APERTAR A CHUVA, expr. Intensificar-se a queda da chuva.

APERTAR ESTRADA, expr. Andar apressadamente, em fuga, devorando


distncias.

APERTAR O CHO, expr. Empreender viagem, ir-se embora.

APERTAR O PASSO, expr. Andar mais velozmente, acelerar a marcha.

APERTENCER, v. Pertencer.

APERTENCES, s. O mesmo que pertenas (s.f.) ou pertences (s.m.).

APESSOADO, adj. Diz-se da pessoa de boa presena, de boa aparncia, de


boa estatura, vestida com elegncia.

APESTEAR, v. Adoecer.

APICHAR-SE, v. Acovardar-se, amedrontar-se, achicar-se.

APINCHAR, v. Atirar, arremessar, lanar, jogar, alcanar: "Quando o


Chico apinchou o lao o boi j ia entrando no mato"; "Apincha da as
minhas botas".

"E quando amanheceu,


apinchada pelas coxilhas,
havia muita geada..."
(Benito Jos F attori, Campo Solitrio,
Farroupilha, Livr. Brentano,
1958).

APINHADO, s. Aglomerao, aglomerado, poro de coisas muito juntas.

APINHOSCADO, adj. O mesmo que apinhado.


"Muita gente acampava na linha do mato que margina o arroio;
porm no apinhoscada como atrs." (A. Maia, Runas Vivas, Porto, Lello
& Irmo, 1910, p. 150).

APINHOSCAR-SE, v. Juntar-se, agrupar-se, reunir-se, apinhar-se.

APLASTADO, adj. Cansado, abatido, esmorecido, fatigado, desanimado.


Diz-se do animal e, p. ext., das pessoas. Var.: aplastrado.

"Deixou-se apenas pegado,


Pra no se ficar de a p,
Um redomo pangar
Que vinha um tanto aplastado."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
21. ed. P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1978, p. 13).

(Conta-se que Borges de Medei-

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ros, ao ler a stira, discordou dessa assertiva, dizendo que um gacho


deixa pegado, sempre, um animal manso, em boa forma, e nunca, um
redomo, principalmente se este estiver aplastado.)

APLASTAR, v. Tornar aplastado. Tirar as foras. Cansar, abombar, abater,


desanimar. ( vocbulo castelhano no sentido de amassar, machucar,
abater, reduzir a plasta, deixar outrem confuso, conforme R. Corra.
pois, usado no sentido figurado e bem podia dizer-se, forando um pouco,
que se deriva do portugus plasta, segundo o autor citado). Var.:
Aplastrar.

APLASTAR-SE, v. Tornar-se aplastado, perder as foras. Var. :


Aplastrar-se.

APLASTRADO, adj. Abombado, aplastado.

APLUMADO, adj. Aprumado.

APLUMAR, v. Aprumar.

APOJADURA, s. Ato de apojar, apojamento.

APOJAMENTO, s. Ato de apojar, apojadura.

APOJAR. v. Ato de deixar o terneiro mamar, para provocar a lactao. Na


mesma ordenha, apoja-se a vaca, geralmente, duas vezes. O leite tirado
aps a segunda apojadura mais rico em gordura e de melhor sabor. "Quem
ordenha bebe o apojo", isto , quem faz determinada coisa, aproveita-se
da melhor parte.

APOJO, s. O leite mais gordo extrado da vaca aps a segunda apojadura.

"Fica disto convencido:


Quem ordenha bebe o apojo."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1978, p. 52).

APONILHADO, adj. Atacado de ponilha. // Em sentido figurado, com o rosto


cheio de espinhas. // Significa, tambm,junto a outro, unido a outro.

APONILHAR, v. Ser o couro atacado de ponilha.


APORREADO, s. e adj. Cavalo mal domado, indomvel, que no se deixa
amansar. Aplica-se, tambm, p. ext., ao homem rebelde.

"No relincha aporreado


Que do lombo me cuspisse;
Depois de eu me ver montado,
Tentar o bruto tolice."
(Manoel Faria Corra, Rumo aos
Pagos, P.A., Globo, 1925, p. 32).

APORREAMENTO, s. Ato de aporrear.

APORREAR, v. Domar o cavalo de modo incorreto, de forma a deix-lo


velhaco, cheio de manhas, ou rebelde ao ponto de no se deixar mais
amansar.

APORREAR-SE, v. Tornar-se o animal velhaco, indomvel, imprestvel, por


defeito de doma.

APORRINHAR, v. Aborrecer, incomodar, importunar.

APOSSEAR-SE, v. Apossar-se.

APOTRADO, adj. Com jeito e manhas de potro. Diz-se do cavalo manso que
se tornou semelhante a potro por ter estado muito tempo em liberdade. //
Fig.: Irascvel, grosseiro.

APOTRAR-SE, v. Adquirir jeito de potro. Tornar-se o cavalo semelhante a


potro, por talta de custeio. // Por extenso, aplica-se s pessoas, com
o significado de portar-se mal, tornar-se xucro, zangado, grosseiro.

"No te apotres que domadores no faltam". (Simes Lopes Neto,


Cousas Gachas).

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APOUCAR, v. Definhar, emagrecer.

APRECATAR-SE, v. Acautelar-se.

APRESILHAR UM LAAO, expr. Dar uma lambada, aplicar uma relhada.

APRONTAMENTO, s. Ato de tomar medidas para realizar algum intento.


Aparelhamento, enfeite. Aprontes.

APRONTES, s. Aprontamento.

APRUMAR-SE, v. Melhorar de sorte, de negcios, de sade, de fortuna.


Endireitar-se, arranjar-se. Pr-se de p.

APUADO, adj. Alegre pela bebida.

APUAR-SE, v. Tornar-se meio embriagado por bebidas alcolicas.

APUAVA, s. Aru.

APURADO, ad). Apressado, impaciente.


APURAR, v. Apressar, acelerar a marcha.

APURAR-SE, v. Ficar em apuros. Ficar cheio de servios. // Andar


depressa, aligeirar o passo. // Perder a calma. // Estar em dificuldades
financeiras.

APURO, s. Pressa, azfama.

AQUENTAR GUA PARA O MATE DOS OUTROS, expr. Levar a efeito preparativos
que vo ser proveitosos para outros; o mesmo que fazer a cama para os
outros se deitarem.

AQUERENAR-SE, v. Aquerenciar-se, acostumar-se a determinado lugar.


Aplica-se aos animais, e, p. ext., s pessoas.

AQUERENCIADEIRA, s. gua com a qual se acolhera ou se junta outro animal


para ser aquerenciado. gua-madrinha.

AQUERENCIADO, adj. Diz-se do animal acostumado a viver em determinado


lugar, ou em companhia de outros animais. // Tambm se aplica s
pessoas.

AQUERENCIADOR, adj. Que torna os animais aquerenciados. Diz-se do campo


que, por ser bom, preferido pelos animais.

AQUERENCIAR, v. Acostumar o animal a viver em determinado lugar que no


o de seu nascimento. Habituar o animal com a companhia de outros.

AQUERENCIAR-SE, v. Acostumar-se o animal a determinado lugar que no o


de sua moradia habitual. Ambientar-se. Habituar-se, o animal, com a
companhia de outro ou de outros. 1 Aplica-se, tambm, s pessoas.

AR, s. Dor de olho. Mal que, segundo crena popular, causado por golpe
de ar.

ARAGANEAR, v. Haraganear.

ARAGANO, s. Haragano.

ARAMADO, s. Alambrado, cerca de arame.

"Vejo o mar sem aramados,


Vejo o espao sem fronteiras
Eu fao da vida inteira
Um canto de liberdade!"
(Haroldo Masi e Luiz Coronel, E
Terra, e Cu e Mar, Cano. 1968).

ARAME DE ESPINHO, s. Arame farpado.

ARANHA, s. e adj. Pessoa enleada, trapalhona, embaraada, desajeitada,


vagarosa para a execuo de um trabalho, pouco expedita. // Carrinho
alto, de duas rodas, de trao animal, para conduzir pessoas.

ARANHO,s. Agua.

ARANHAR, v. Embaraar-se, atrapalhar-se, ter dificuldade em executar


determinado trabalho.
ARATACA, s. Cavalo pequeno e ruim.

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ARCO-DA-VELHA, s. Arco-ris.

AREADO, ad). Diz-se da pessoa completamente sem dinheiro. "Estou


areado", isto , estou completamente sem dinheiro.

AREAR, v. Ficar totalmente sem dinheiro.

AREJAR, v. Adoecer por efeito do ar.

ARENAL, s. Areal.

ARENGAR, v. Matreirar, no se deixar pegar, tornar-se esquivo. Usa-se em


relao ao cavalo, principalmente. // Por extenso, aplica-se s pessoas
que falam de mais, que discutem por qualquer motivo. O mesmo que
arenguear.

ARENGUEAR, v. Arengar.

ARENGUEIRA, adj. Diz-se da tropa que se mostra difcil de conduzir, que


custa a tomar o caminho que lhe indicado pelos tropeiros.

ARENGUEIRO, adj. Diz-se do cavalo que arenga. Por extenso: pessoa


intrigante, querelante, mexeriqueira, levae-traz.

ARGOLAO, s. Argolada. Pancada dada com a argola do relho ou do lao.


Argola grande, vistosa, de bonito efeito.

"Um argolao na cabea com o "rabo de tatu", e o cuera caiu


testavilhando." (Mrcio Dias, Brumas da Minha Saudade, P.A., p. 36).

ARICUNGO, s. e adj. Matungo, pilungo, sotreta, arataca. Cavalo de


qualidade inferior, que no vaie nada. // Diz-se tambm, por extenso,
das pessoas muito magras e feias.

ARISCAR-SE, v. Tornar-se arisco.

ARISCO, ad). Diz-se do gado esquivo, xucro, assustado, que no se deixa


apanhar facilmente.

ARMA BRANCA, s. Faca, punhal, faco, espada, adaga. O mesmo que ferro
branco.
"Faca sempre ativa e alerta. Ativa nos trabalhos, e alerta nas
canchas de osso e de carreiras, nos rinhadeiros, nos bailes e nos
comcios eleitorais. Nunca chega a dormir dentro da bainha. Ostensiva na
cintura, ou discreta na cava do colete. De cabo de prata ou de osso,
quanto mais velha , mais linda. Parece fria e sem vida, mas o sangue
lhe corre por fora. ela que salta na frente nas lutas de corpo a
corpo. Que se chama de arma branca, mas que sai rubra do entrevero.
feminina de nome, no simbolismo viril." (Nilo Ruschel, O Gacho a P,
P.A., Sulina, 1959, p. 95).

ARMAO, s. Elegncia. Aprumo.


ARMADA, s. Laada corredia que se faz com o lao quando se pretende
atir-lo para prender a rs. "Ser de armada grande" ou "usar armada
grande", significa ser pachola, conversar fiado.

ARMAR O LAO, expr. Preparar a armada, aprontar o lao para jog-lo


sobre a rs que se pretende pegar.

ARMAR O PEALO, expr. Preparar o lao para atirar o pealo. // Fig.: usar
de artimanha para apanhar outrem em falta.

ARMAR O ROLO, expr. Desencadear a briga, o conflito, o barulho.

ARMAR-SE, v. Tomar o cavalo, quando montado, posio garbosa. Tomar o


touro ou o galo atitude galharda para entrar na briga.

ARMAR-SE O TEMPO, expr. Tornar-se o tempo ameaador para chuva.

ARMAZENEIRO, s. Aquele que armazena, dono de armazm.

AROEIRA, s. rvore da famlia das Anacardiceas (Schinus noite), cuja


proximidade causa em certas pessoas uma espcie de eczema com inchao e
muito prurido, de carter passageiro. (Para evitar esse mal, o gacho ao
passar por uma aroeira a cumprimenta,

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dando-lhe "boa tarde" pela manh e "bom dia" tarde ou noite). O


cerne da aroeira usado para esteios e moires.

"Da Aroeira
Aroeira tem fresca sombra . -
mas esta sombra tem blefes.
Tem semelhana que assombra
com a sombra de certos Chefes
que aprendem com borlantim.
Depois do tamoeiro e o jugo,
o amigo... est que um refugo
com o couro que um camoatim."
(Aureliano, Romances de Estncia
e Querncia, P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1981, p. 135).

ARPISTA, adj. Arisco, desconfiado, prevenido, assustadio. O mesmo que


alpista.

ARPISTAR-SE, v. Mostrar-se arpista, tornar-se arisco, desconfiado,


prevenido, assustadio. O mesmo que alpistar-se.

ARRAIO, s. Arrabalde (Registro do Pe. Teschauer).

ARRANCADA, s. Ato de arrancar. Sada violenta. Primeiro mpeto.


Movimento inesperado.

" no palcio de Solano Lopez,


em plena capital do Paraguai...
Ele agoniza, a imaginar galopes
e arrancadas, na febre, em que se esvai!"
(Antnio Loureno, Andrade
Neves, in Correio do Povo).

ARRANCAR, v. Sair violentamente, inesperadamente. Pular, saltar.

ARRANCA-RABO, s. Discusso acalorada, disputa, bate-boca, barulho,


briga, rezinga, conflito, rolo.

ARRANCAR PELUDO, expr. Retirar a viatura do atoleiro.

ARRANCHAMENTO, s. Rancho, choa, casebre, moradia de campo, com todas as


suas dependncias, como sejam galpes, currais, mangueiras, lavouras,
etc.

ARRANCHAR-SE, v. Instalar-se em moradia de campo.

ARRANCO, s. Ato do cavalo iniciar a carreira.

ARRANZEL, s. Aranzel, lenga-lenga, discurso enfadonho.

ARRASTADOR, s. Pessoa incumbida de efetuar o transporte de toras de


madeira, em zorra, carreto ou de arrasto.

ARRASTAR A ASA, expr. Namorar, galantear.

ARRASTAR OS PS, expr. Danar, espalhar os ps. // Andar muito devagar,


por doena ou velhice, arrastando os ps.

ARRASTO, s. Transporte de toras de madeira, em carreta, em zorra, ou de


arrasto.

ARREADA, s. Apresamento de gado alado ou de gado pertencente ao


inimigo. Arriada.

"Desde 1870 havia charqueadas no continente. Para abastecer tais


empresas, ou para o aproveitamento do couro das reses, grupos de
colonos, fugindo da vida policiada, erravam pelos campos sem pouso
certo, enriquecendo-se com a rapinagem dos armentos. A essa indstria
chamavam arreadas" (Rubens Reys de Barcelos, Estudos Rio-Grandenses,
P.A., Globo, 1955, p. 26).

"Arreada, f. Extraccin furtiva o violenta de ganado


ajeno."(Daniel Granada, Vocabulrio Rioplatense, Tomo 1, Biblioteca
Artigas, Montevideo, 1957, p. 75).

ARREADOR, s. Relho de aoiteira comprida com que o tropeiro toca os


animais. // Indivduo empregado no servio de arreada.

ARREAMENTO, s. Arreios. Conjunto de peas com que se encilha um cavalo


para montar.

ARREAR, v. Arrebanhar, apresar gado alado ou pertencente ao inimigo.

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ARREATA, s. Pea de couro cru com que se aperta a carga no cargueiro.


ARREBANHAR, v. Apoderar-se de cavalares e muares, e tambm de gado
bovino, com invaso dos respectivos campos, para uso das foras, durante
as revolues, sem o necessrio consentimento dos donos, e sem
deixar-lhes documentos que lhes permitam pleitear qualquer indenizao.
Potrear. // Por extenso, reunir objetos espalhados ou dinheiro
emprestado a vrias pessoas: "Vou arrebanhar meus trastes", "Vou
arrebanhar uns cobres que tenho espalhados por a".

ARREBENTAR, v. Cansar, estafar, tornar imprestvel o cavalo,


submetendo-o a esforo excessivo.

ARREBENTAR O CARTER, expr. Dizer verdades que abalam, que confundem a


pessoa com quem se discute: "Fulano pensou que tinha me vencido, mas
arrebentei-lhe o carter contando o que ele tinha feito, na Jaquirana,
quando fugiu dos provisrios".

ARREBENTAR-SE, v. Realizar grande esforo.

ARREBENTAR UM LAO, expr. Ser vlido, ser ainda muito forte, apesar da
idade: "O velho Chico, apesar de seus oitenta anos, ainda capaz de
arrebentar um lao".

ARREGANHADO, adj. Diz-se do cavalo ou muar que, em tempo de calor


intenso, depois de marcha muito forada, tendo bebido pouca gua,
atacado de uma espcie de espasmo, caracterizado pela contrao dos
maxilares e das narinas, o qual o impossibilita de continuar a viagem ou
o trabalho em que estiver sendo utilizado. O animal acometido desse mal
fica sujeito a recadas, que o tornam imprestvel para o servio pesado.

ARREGANHADOR, s. e adj. Animal que facilmente fica arreganhado. //


Indivduo que, por incria, torna, freqentemente, o animal arreganhado.

ARREGANHAMENTO, s. Ato de arreganhar. (Queima de trapos diante das


ventas ou sangria no cu da boca, eram remdios utilizados para tratar o
animal acometido de arreganhamento).

ARREGANHAR, v. Ficar o cavalo, por excesso de servio, por passar sem


beber por longo tempo, em dias de calor intenso, extremamente cansado,
estafado, exausto, com o corao batendo fortemente, com os beios
contrados de modo a deixar ver os dentes, com as ventas distendidas, e
com os maxilares cerrados a ponto de no se poder tirar-lhe o freio.

ARREGANHAR OS DENTES, expr. Ameaar. // Significa, tambm, encarangar ou


morrer encarangado.

ARREGANHOS, s. Ameaas (Usado somente no plural).

ARREGLADO, adj. Combinado, estabelecido, composto, ajustado, concertado,


posto em ordem.

ARREGLAR, v. Combinar, estabelecer, ajustar. Arrumar, pr em ordem


qualquer assunto ou negcio, entrar em acordo ou ajuste com outrem,
Desfazer mal-entendidos.

ARREGLO, s. Ato de arreglar. Arranjo, combinao, ajuste de negcio (em


geral no muito lcito). Trato, convnio, concesso num negcio.

ARREIAR, s. Intimidar-se, afrouxar, desistir de determinado


empreendimento.

ARREIOS, s. Conjunto de peas com que se arreia um cavalo para montar.


So peas dos arreios: Baixeiro, enxergo, xergo, xerga, suadouro,
carona, lombilho, serigote, bastos, socado, cincha, pelegos, coxonilho,
badana, sobrecincha, peitoral, rabicho, freio, rdeas, cabeada, bual,
bualete, cabresto, maneia, mala de poncho, etc. Os arreios servem de
cama para o gacho, principalmente quando em viagem. Este vocbulo s
usado no plural.

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(V. as expresses sacudir os arreios, espalhar os arreios e sair


vendendo os arreios).

"Quando foi dormir, nessa noite, Prudncio ainda estava nas


nuvens. Se acordou nos arreios, como os outros, que quarto com cama s
para o mulherio ou pra algum velho", (Antnio Augusto Fagundes, Destino
de Tal, p. 22).

"Antes que ficasse escuro,


As camas foi-se arranjando
C'os arreios e tratando
De ver lenha pra o fogo,
Que um bom fogo o galardo
De um pobre que anda tropeando."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1978, p. 13).

ARRELIAO, s. Incmodo. Amolao.

ARRELIENTO, adj. Implicante, provocante.

ARREMATADO, adj. Terminado, finalizado, bem acabado. // Cansado,


esfalfado, exausto.

ARREMATAR, v. Dar o ltimo toque, concluir, terminar. // Cansar,


estafar.

ARREMATE, s. Feira ou leilo de gado. Var.: Remate.

ARREMEDIADO, adj. Remediado.

ARRENDADO, adj. Diz-se do redomo que, com bocal, obedece perfeitamente


s rdeas, antes de passar a usar o freio.

ARRENDAMENTO, s. Ato de arrendar.

ARRENDAR, v. Fazer o redomo obedecer ao governo das rdeas, ainda com


bocal, antes de usar o freio.

ARRENEGAR, v. Arreliar.

ARRETADO, adj. Arreitado.

ARRETAR, v. Arreitar.
ARRETO, s. Arreitamento.

ARRIADA, s. Saque, assalto, depredao. // Tropeada.

ARRIADO, s. e adj. Galo de rinha que, por ferido ou por exausto da luta,
no podendo mais brigar ou manter-se de p, sustenta-se apoiando a
cabea no cho.

ARRIAR, v. Ceder por medo. Afrouxar.

ARRIBA, s. Favor. Viver de arriba o mesmo que viver custa de outrem,


viver sem pagar, ter tudo de graa, de favor. V. de arriba.

"Caminhar dias e meses


Viver de arriba na terra,
E pelear algumas vezes
Eis no que consiste a guerra".
(Pai do Sul, Gauchadas e Gauchismos,
p. 169).

ARRIBAR, v. Adquirir melhor aspecto fsico, melhorar de sade,


convalescer, comear a engordar ou criar carnes depois de um perodo de
magreza. Diz-se de pessoas e de animais. // Fugir, ausentar-se sem
permisso.

ARRIMAR-SE, v. Aproximar-se, achegar-se.

ARRINCONAR, v. Arrincoar, acampar, acantonar. O mesmo que enrinconar e


rinconar.

ARRIPIAR CARREIRA, expr. Desistir de um intento, afrouxar o garro.

ARRISCADA, s. Aventura muito perigosa.

ARRISCAR O PELEGO, expr. Arriscar a vida. Expor-se ao perigo.

ARROCINADOR, s. Pessoa que arrocina cavalos.

ARROCINAR, v. Completar a doma do animal, deixando-o bom de rdea, sem


manhas, apto para todo o servio.

ARRODEAR, v. Contornar um obstculo, andar em volta.

ARRODILHAR-SE, v. Ajoelhar-se. ( espanholismo, de arrodillarse).

ARROLHADOR, s. e adj. Medroso, molengo, que facilmente se deixa derrotar


ou intimidar. // Frvateiro que desfolha

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a erva-mate.

ARROLHAMENTO, s. Ato de desfolhar a erva-mate.

ARROLHAR, v. Confundir, intimidar o adversrio, derrot-lo antes de


chegar s vias de fato. Reunir animais em um grupo que ocupe uma espcie
de circo pequeno ou roda.

ARROLHAR A PONTA, expr. Encurtar a marcha do gado, pondo-se o tropeiro


na frente da tropa.

ARROLHAR-SE, v. Encolher-se. Fugir intimidado, amedrontado, derrotado.


// Juntar-se em grupo animais espalhados no campo ou em marcha. //
Reunir-se (pessoas). (Do espanhol arrollar-se).

ARROUCADO, adj. Enrouquecido.

ARROXAR, v. Apertar, embaraar, apurar, meter em dificuldades.

ARROXO, s. Aperto, dificuldade, embarao.

ARROZ-DE-CARRETEIRO, s. Comida feita de arroz cozido com guisado de


charque. Var.: arroz-carreteiro, carreteiro.

" hora da cancula,


solta os bois na estrada.
Arma a trempe e aquece gua para o chimarro.
Em seguida corta a carne ou charque,
mistura com arroz e faz sobre o fogo
da trempe aquele tradicional carreteiro."
(Cel. A. Dias de Oliveira, Ermo de
Saudade, P.A., Globo, 1938, p. 90).

ARROZEIRO, s. e adj. O plantador de arroz, relativo ao arroz.

ARRU, adj. V. aru.

ARRUINAR, v. Ficar ruim, piorar.

ARRUINAR-SE, v. Adoecer, ter os males agravados.

ARRUIR, v. Destruir, desmoronar.

ARTERICE, s. Travessura.

ARU, adj. Apuava, puava, fu. Diz-se do cavalo espantadio, quebra,


indcil, desconfiado, que no se deixa apanhar facilmente. // Usa-se
como substantivo para significar indivduo brigo, valento, puava.
(Parece provir de aru, do guarani, que significa mau).

ARVELA, adj. Velhaco, caborteiro, ventana.

ASA DE TELHA, s. Perdigo, na gria do caador.

S AVE-MARIA, expr. tardinha, ao escurecer.

S BRINCAS, expr. Significa, no jogo de bolitas, que a partida de


brincadeira, feita de graa, sem nus para os jogadores. o contrrio
de s devas.

S CHANCHAS MOURAS, expr. Lugar imaginrio para onde se manda os outros


ou se deseja ir, para escapar de importunaes.

S DEVAS, expr. Significa, no jogo de bolitas, que a partida para


valer. o contrrio de s brincas, quando no h nus para os
perdedores.

ASPA, s. Chifre, corno, ponta, guampa. V. as expresses bater aspas e


estar de aspa torta.

ASPAO, s. Golpe com as aspas. Guampada. Chifrada. Cornada.

ASPA DE BOI BRASINO, expr. Usada para exaltar alguma coisa: "Esta faca
est como aspa de boi brasino", isto , est muito bem afiada.

ASPA-TORCIDA, s. O mesmo que aspa-torta. (Pl. : aspas-torcidas).

ASPA-TORTA, s. Indivduo turbulento, desordeiro, ventana, quebra, puava.


O mesmo que aspa-torcida ou aspa-virada. (Pl. : Aspas-tortas).

ASPA-VIRADA, s. O mesmo que aspa-torta. (Pl.: Aspas-viradas).

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S PECHADAS, expr. Aos encontres.

ASPEREJAR, v. Tratar com aspereza, descompor, repreender com violncia.


Var.: asprejar.

ASPREJAR, v. O mesmo que asperejar.

ASPUDO, s. e adj. Animal que tem chifres grandes e ponteagudos. Cornudo.


// Homem cuja mulher lhe infiel.

ASSADEIRA, s. Espcie de forma para assar carne.

ASSADO, s. Pedao de carne preparado labareda ou s brasas. Pedao de


carne, destinado a assar, mesmo antes de ser assado. Churrasco. (V. as
expresses meter-se em assado, ver-se em assado e assado do lombo).

"Asado del campo - Famoso asado del Rio de la Plata, que los
hombres del campo hacen al aire libre. Ensartan en un asador de hierro,
del largo de una espada, o, no tenindolo, en un palo cualquiera
descortezado y con punta, un costillar de vaca o de vaquillona. Con
ramas del monte hacen una fogata al aire libre, buscando la sombra de un
rbol. Cuando est bien presidida la hoguera, pero sin esperar a que se
convierta en brasas, clavan en tierra el asado un poco inclinado hacia
el fuego, cuidando de darlo vuelta una y otra vez segn se va asando la
carne de cada uno de sus lados, y de tenerio siempre a banovento
(digmoslo as), a fim de que las llamas no lo quemen. Hacen una
salmuera, y con un manojito de ramas la vai echando sobre la carne de
tiempo en tiempo. - Qu cosa ms sencilla? Pero tambien - qu cosa ms
intil, si llega a faltar el ojo y pulso experimentados, la haquia que
slo los hombres del campo poseen? Brillat Savarin dice que para hacer
bien mi asado es preciso haber nacido con un don especial, que no pude
suplir el arte. Si hubiese conocido el asado de los criollos del Plata,
sin duda hubiera discernido a stos la palma de superioridad en la
materia, y hubiera puesto aquel en la primera pgina de su libro famoso,
proclamando que, como sano y apetecible, no hay plato en el arte
culinario que pueda disputarle la preferencia." (Daniel Granada,
Vocabulrio Rioplatense Razonado, Tomo 1, Montevideo, Biblioteca
Artigas, 1957, p. 81-82).
ASSADO DE COURO, s. Carne assada com o respectivo couro. (V. assado).

"Tornavam, alguns, a carne saborosa, com certo modo local de


prepar-la: abrindo, na terra, um buraco em que acendiam fogo; tiravam
fora a brasa e as cinzas, depois do grau de calor requerido, e metiam no
lugar dois pedaos de carne cortados com o couro, virados msculo com
msculo e o couro para fora; tapavam o buraco e acendiam outro fogo por
cima; pouco tempo bastava para cozinhar o churrasco tenro, suculento,
delicioso..." (Fernando Osrio, Fogo Morto, Pelotas, Globo, 1930, p.
84).

"Asado cosi cuero - Un buen trozo de pecho o de anca adobado,


con su correspondiente cuero, el cual lia de sobresalir tres o cuatro
dedos, a fin de que, cuando se encoja al quemarse, no deje descubierta
por un lado la carne, flecha la fogata de que se habia en el art.Asado
del campo, exponen a las liames la parte donde est ei cuero, hasta que
ste quede bien chamuscado. Entretanto se van formando las brasas, sobre
las cuales, a corta distancia, se coloca despus ei trozo del lado de la
carne, bien estirado de antemano con unos palitos atravesados por dentro
y acomodados los extremos de los mismos en unos cascotes

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o troncos. Cmenlo caliente y fiambre, siendo de una y otra manera tanto


o ms estimado que el anteriormente descrito." (Daniel Granada,
Vocabulrio Rioplatense Razonado, Tomo 1, Montevideo, Biblioteca
Artigas, 1957, p. 82).

ASSADO DO LOMBO, expr. Diz-se do cavalo com o lombo inchado por efeito
dos arreios. Isso ocorre quando, estando o animal suado, em dia frio ou
chuvoso, se retira, de uma s vez, o arreiamento.

ASSADOR, s. Pessoa que se incumbe de preparar o assado. // Espeto em que


se enfia a carne para ser assada.

ASSADURA, s. Inflamao cutnea, produzida pelo calor, geralmente em


crianas ou em senhoras.

ASSALTAR, v. Chegar um grupo de pessoas, de surpresa, em casa de uma


famlia amiga, para realizar um baile ou uma pequena festa, improvisada.

ASSALTO, s. Baile ntimo, festa improvisada por um grupo de pessoas que


chegam, de surpresa, em casa de uma famlia amiga. Em geral, os
assaltantes levam instrumentos musicais e iniciam o assalto com uma
serenata.O assaltado costuma, nessas ocasies, obsequiar os assaltantes
com comidas e bebidas, abatendo galinhas e carneando uma de suas
melhores reses para o churrasco.

ASSEADAO, adj. Diz-se do cavalo muito asseado ou brioso.

ASSEADO, adj. Diz-se do cavalo garboso, belo, elegante, bom. // Diz-se,


tambm, de objetos de luxo ou bem acabados.

ASSENTADA, s. Partida falsa, incio de carreira dada pelos parelheiros,


do ponto de partida, com interrupo antes do lao de largada. Conforme
o trato da carreira, h 1, 2 e 3 assentadas, e, s vezes, mais. //
Parada repentina que faz o cavalo que vem a galope. ii Ocasio, vez:
"Desta assentada ele vai embora mesmo". Var.: sentada.

ASSIADO, adj. Limpo, asseado.

ASSIM COMO, loc. adv. Num dado momento. "Assim como a Santa apontou."
(No Galpo, Darcy Azambuja).

ASSINALADO, adj. Diz-se do animal marcado, na orelha, com um corte


convencional que indica seu proprietrio.

ASSINALAR, v. Praticar, na orelha ou nas orelhas de um animal, recortes


determinados que permitem identificar seu proprietrio.

ASSISTIR-LHE O PAU, expr. Surrar, espancar, esbordoar.

ASSOBIADEIRA, s. rvore de pequeno porte de cuja semente se pode fazer


assobios. O mesmo que assobieira. // Marreca de cor bruno-cinzenta em
cima, com faixas pretas transversais na cabea, esbranquiada em baixo,
com grandes manchas pretas no peito, com duas faixas amareladas sobre as
asas, e base e lados do bico amarelos.

ASSOBIEIRA, s. O mesmo que assoliadeira.

ASSOLEADO, adj. Diz-se do animal cansado por ter andado muito ao sol.
Acovardado pela cancula. Meio abombado. Assonsado.

ASSOLEAMENTO, s. Ato de assolear.

ASSOLEAR, v. Cansar-se por ter andado muito ao sol. quase o mesmo que
assonsar.

ASSONSADO, adj. Diz-se do animal meio abombado, meio cansado.

ASSONSAR, v. Ficar meio abombado, meio cansado. quase o mesmo que


assolear e aplastar.

ASSUCEDER, v. Acontecer, ocorrer.

"No te metas com as crias da Brgida; at mortes j houve l; e

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quem encilha aquelas farpelas, o menos que pode assuceder-le ficar sem
querer com alguma tropilha baguala..." (A. Maia, Tapera, 2 ed., RJ, F.
Brieguiet & Cia., 1962, p. 23).

ASSUNTAR. v. Pensar, matutar, pesquisar, descobrir, escogitar,


conversar, tentar negcio.

ATADO. adj. Indeciso, amarrado, sem iniciativa.

ATALHAR O CAMINHO, expr. Ir pelo caminho mais curto.

A TALHO DE FOICE, expr. A jeito, na ocasio propcia.

ATALHO DE REBENQUE, expr. Encurtamento do tempo de viagem pelo uso do


rebenque no animal. Usava-se, por gracejo, para significar a diminuio
do tempo de viagem pelo uso do rebenque.

ATAMANCAR-SE, v. Ajustar-se, endireitar-se.

ATAMBEIRADO, adj. Parecido com tambeiro. Diz-se do novilho meio


domesticado, um tanto manso.

ATAPERADO, adj. Transformado em tapera. // Lugar com muitas taperas.

ATAR, v. O mesmo que amarrar. Ajustar, contratar, unir, vincular,


conchavar, expor, redigir com nexo. "Atar carreira", significa tratar ou
ajustar corrida de cavalos. "Atar uma rinha", ajustar uma briga de
galos.

ATAR A CABEA, expr. Ficar preocupado.

ATAR A COLA A CANTAGALO, expr. Dar um tope, bem em cima, na cauda do


cavalo de montaria. O mesmo que atar a cola l onde a Maruca prende o
grampo.

ATAR A COLA L ONDE A MARUCA PRENDE O GRAMPO, expr. O mesmo que atar a
cola a canta galo.

ATARANTAR-SE, v. Estontear-se, confundir-se.

ATAR CARREIRA, expr. Contratar corrida de cavalos.

ATARDADO, adj. Retardado, atrasado.

ATASCAL, s. Atascadeiro, lamaal.

ATEMPADO, adj. Adoentado, enfermio, desarranjado.

"Andava sempre atempado:


Volta e meia... era churrio,
Pontadas pelo vazio.
Dor de barriga, enxaqueca,
Catapora, tosse seca
Mas, nunca tinha fastio.
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
21. ed., P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1978, p. 26).

ATIAR, v. Aular, iscar o cachorro contra algum.

"O prprio cavalo como que se interessava: - ao grito do


cavaleiro, atiando o co, estacava, espontneo" ... (A. Maia,Runas
Vivas, Porto, Lello & Irmo, 1910, p. 41).

ATILHAR, v. Prender com atilho.

ATIRAR O FREIO, expr. Estar o cavalo, quando montado e andando, alegre,


escarceando, querendo ir para a frente. Ao terminar uma marcha, quando o
animal chega atirando o freio, demonstra que ainda est em plena posse
de suas foras, estando em condies de andar ainda muito.

ATIRAR-SE POR UM CANHADO ABAIXO. expr. O mesmo que despenhar-se por um


canhado abaixo.
TODA, adv. Com muita pressa, a toda marcha.

TODA RDEA, expr. A todo galope, a toda velocidade.

TODO O TRAPO, expr. toda a brida, disparada, toda a pressa.


(Provm da expresso todo o pano).

ATOLADOR, s. Pntano, lodaal, atoledo.

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ATOLEDO, s. Pntano, lodaal, atolador, atoleiro.

ATOPETADO, adj. Completamente cheio, lotado: "O campo estava atopetado


de gado".

"Abateram os ranchos dos agregados, os varais das xarqueadas, os


jiraus e os paiis outrora atopetados de mantimentos" (Joo Maia, Pampa,
P.A., Globo, 1928, p. 95).

ATOPETAR, v. Encher totalmente.

ATORADO, adj. Diz-se de pessoa sem haveres, que nada possui.

ATORAR, v. Cortar, torar. // Utilizar atalho para encurtar caminho.

"entrariam sem demora na Estncia, esquecendo direita o


boliche do Bento e atorando coxilhas em reta." (A. Maia, Runas Vivas,
Porto, Lello & Irmo, 1910, p. 78).

ATOSSICAR, v. Dar maus conselhos, instigar para o mal, importunar com


pedidos ou insinuaes.

A TOURITOS FLACOS TODOS PEALAM, expr. (Fig.) Significa o desrespeito da


maioria das pessoas a quem no est em condies de defender-se.

ATOURUNADO, adj. Metido a touruno. Mal castrado.

ATOURUNAR, v. Tornar touruno o bovino. Castrar mal. Castrar touro j


adulto.

ATRASADO, adj. Pobre, arruinado.

ATROPELADOR, adj. Que atropela. Atrevido.

ATROPELAR, v. Aligeirar, andar depressa, apressar, investir, enxotar.

"Sou tourito que atropela


e no qualquer porqueira
que me ataca na porteira!
Eu entro e dano de espora!"
(Dimas Costa, Fanfarronada, P.A.,
Ed. Lamar, 1977, p. 9).

ATROPELAR CAMPO FORA, expr. Enxotar, espantar para que v embora.


ATROPELAR O PETIO, expr. Aligeirar-se, andar depressa.

ATROPILHADO, adj. Reunido em tropilha.

ATROPILHAR, v. Reunir cavalos em tropilha. A tropilha, em geral,


constituda de animais de um mesmo plo. Entropilhar.

ATUCANAR, v. Causar aborrecimento a algum com pedidos insistentes.

AFINQUE, conj. Embora, ainda que, conquanto. (Esp).

AVACADO, adj. Diz-se do boi ou novilho que tem conformao de vaca, que
se parece com vaca.

AVALOADOR, s. Avaliador.

AVALOAR, v. Avaliar.

AVANHEENGA, s. O mesmo que abanhem.

AVE, adj. Matreiro, esperto, finrio, gavio, arisco, perspicaz,


astucioso, velhaco, alarife, ventana, quebra. Diz-se de cavalares e
muares e, tambm, de pessoas.

AVE DE PENACHO, s. Sujeito finrio, muito astucioso.

AVEIRAR, v. Abeirar.

AVENTAR, v. Ficar exposto ao vento, sofrer ao do ar.

AVENTAR A SANGRIA, expr. Corrigir a sangria da rs mal sangrada para que


corra bem o sangue.

AVESTRUZ, s. Nome dado ema. O mesmo que nhadu, xuri. Var.: Abestruz.

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AVESTRUZEIRO, s. e ad). Pessoa que se ocupa em aprisionar emas para


tirar-lhes a plumagem. // Cavalo ou co, adestrado para a caa da ema.

"Quando o ndio Nico apontava na coxilha, em direo casa


(...) j se tomava cuidado com o xarque no varal, por causa do Topete,
conhecido avestruzeiro das redondezas." (Clemenciano Barnasque, No Pago,
2 ed., P.A., Globo, 1926, p. 75).

AVEXADO, adj. Contrafeito, aborrecido por algum incmodo.

AVEXAR, v. Molestar, perseguir, envergonhar.

AVEXAR-SE, v. Vexar-se, aborrecer-se, envergonhar-se.

"V contando o caso e no se avexe." (A. Maia, Tapera, 2 ed.


RJ. E. Briguiet & Cia., 1962).

AVIOS, s. Conjunto de objetos indispensveis para determinado fim.

AVIOS DE CAA, s. Conjunto de objetos usados numa caada: espingarda,


cartuchos, polvarinho, chumbo.

AVIOS DE FOGO, s. Objetos necessrios para a obteno de fogo: isqueiro,


pederneira, fuzil.

AVIOS DE MATE, s. Objetos necessrios para fazer ou tomar mate: cuia,


bomba e erva.

AVIOS DE PESCA, s. Petrechos necessrios para fazer uma pescaria:


linhas, chumbadas, anzis, iscas, etc.

AVIVENTAR, v. Avivar. "Aviventar a picada", significa abrir novamente a


picada j fechada pela vegetao em conseqncia da falta de uso.

AVIVENTAR O PASSO, expr. Acelerar a marcha.

AVOADO, s. e adj. Pessoa insensata, estabanada.

AZARAR, v. Dar m sorte.

AZEDINHA, s. Begonicea cujas folhas tm sabor azedo. As razes e folhas


so usadas em cozimento contra febres.

AZEITEIRA, adj. Namoradeira.

AZOINAR, v. Aborrecer, incomodar, inticar, enfadar.

AZONZADO, adj. Meio zonzo, meio tonto, apalermado, abobalhado.

AZONZAR, v. Tornar zonzo. Var.: azonzear.

AZONZEAR, v. O mesmo que azonzar.

AZOUGADO, adj. Esperto, inquieto, desassossegado.

AZULAR, v. Fugir, desaparecer, disparar, retirar-se apressadamente, ir


embora.

"Os desordeiros azularam ao pressentirem a aproximao do Tio


Sinh, pois sabiam que o velho no era de brincadeiras." (ZCN).

"... uma inrcia mortal arraigava nos nimos, abrolhando


desgostos; dois filhos azularam, cheios de tdio; uma das raparigas
fugiu" (A. Maia, Runas Vivas, Porto, Lello & Irmo, 1910, p. 132).

AZULAR-SE, v. Sumir-se, fugir.

AZULECER, v. Tornar-se azul.

" a nossa nica estao de matiz e crepsculo: adoam-se os


tons violentos, a nvoa azulece e doira-se," (A. Maia, Crnicas).

AZULEGO, adj. Diz-se do animal cavalar de plo oveiro, de pintas


miudinhas brancas e pretas, que de longe parece azul. um plo muito
raro.
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BA-BA-DE-BOI, s. Fios resinosos que flutuam no ar, provenientes de uma


espcie de palmeira, muito semelhante baba dos bois.

"A baba-de-boi um sinal certo de chuva quando flutua no ar."


(Darcy Azambuja,No Galpo).

BABA-DE-MOA, s. Doce feito de ovos, tambm chamado ovos moles.

BABADOR, s. Pea de metal articulada no meio, que se prende nas


extremidades das pernas da brida, s vezes substituda por corrente. 1
Pea de pano que se coloca sobre o peito das crianas para que estas no
se enxovalhem com a baba ou a comida.

BABAQU, s. V. baba quara.

BABAQUARA, s. Toleiro, matuto, ignorante, grosseiro, bobo, atoleimado,


boc.

BABAUS!, interj. Acabou-se!

BACADA, s. Choque produzido no veculo por acidente do terreno.


Solavanco, baque.

BACALHAU, s. Azorrague, aoite, relho, chicote. Tira de couro cru,


torcido, para servir de corda. // Coisa seca. // Pessoa muito magra. //
Enchimento de emergncia que se faz no pneumtico do automvel, quando o
mesmo est rompido, para preservar a cmara de ar.

BACALHAU DE PORTA DE VENDA, expr. Pessoa muito magra, esmirrada,


demasiadamente seca.

BACANA, adj. Lindo, macanudo, especial, muito bom.

BACARA, s. Terneiro de ventre. Tapichi, nonato. (Composto hbrido de


baca, vaca, e ta, filho, na lngua guarani).

BACIA, s. Tambor, circo onde brigam os galos.

BACUDO, s. Matuto, caipira.

BADANA, s. Pele macia e lavrada que se coloca, na encilha do cavalo de


montaria, por cima dos pelegos ou do coxonilho, se houver. H badanas de
couro de vrios animais, sendo as melhores as de couro de cervo ou de
veado pardo. // Ovelha velha e magra que j no pare. V. a expresso
secar badana.

BADERNA, s. Conflito, desordem, briga, tumulto, rolo.

BADERNEIRO, s. e adj. Pessoa que promove baderna. O mesmo que


badernista.
BADERNISTA, s. e adj. O mesmo que baderneiro.

BADULAQUES, s. Trastes, utenslios, mveis velhos. termo empregado


sempre no plural.

BAFA, s. Barulho, tumulto, bafaf.

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BAFOR, s. Exalao morna, de mau cheiro, resultante de suores. (Voe.


registrado por Arthur Ferreira Filho, in Narrativas de Terra e Sangue,
P.A., Ed. A Nao, l974,p. 115).

BAGACEIRA, s. Gente de classe baixa, gentalha. pessoa reles, de maus


costumes.

BAGADU, s. Nome dado, por apodo, aos moradores da cidade baixa de Porto
Alegre, da Praa da Harmonia ponte do Menino Deus. (Atualmente, em
desuso).

BAGAGEIRO, s. e adj. Pessoa que costuma ou gosta de conviver com


bagagem, ou seja, com gente de nfima classe. / Diz-se tambm do
parelheiro, que, nas corridas, chega no ltimo lugar.

BAGAGEM, s. O mesmo que bagaceira. // O cavalo que nas corridas de prado


chega em ltimo lugar.
"Eu, dos filhos do meu pai,
sou o de maior coragem.
Quando chego no Rocio,
fao correr a bagagem."
(Quadra popular).

BAGUA. s. O mesmo que bagual.

BAGUAL, s. e adj. Eqino selvagem, isto , ainda no domado. Cavalo novo


e arisco. Potro domado recentemente. Cavalo manso que se tornou
selvagem. Reprodutor, pastor, animal no castrado. // Espantadio,
bisonho, arisco, abrutalhado, rude, grosseiro, bravio, indomito, bonito,
vistoso, muito grande. Aplica-se tambm a pessoas, tanto no sentido
pejorativo como elevado.

"O cavalo, como sabido, foi importado pelos espanhis, mas


abandonado, tornou-se alado, propagando-se consideravelmente pelos
pampas do sul de Buenos Aires. Os ndios que os habitavam acomodaram
sua lngua o nome que os conquistadores davam ao quadrpede que no
conheciam, chamando-lhe Cahuallu, Cauellu, Cahual. Os espanhis, tomando
por sua vez, dos pampas esse ltimo vocbulo, ligeiramente modificado,
passaram a chamar bagual ao cavalo que ali acharam selvagem, com o que
distinguiam do manso ou sujeito ao domnio do homem. Adjetivou-se a voz
castelhana ao voltar transformada a seus lbios dos lbios dos ndios.
Estudos posteriores, porm, me autorizam a apresentar outra origem ao
termo em apreo, sem, entretanto, querer firmar uma opinio inabalvel.
Dou-a a ttulo de sugesto aos estudiosos. O ndio guarani, ou os que
falavam o abanhenga, no conhecendo o cavalo antes da chegada dos
europeus, no tinham nome para designar o animal extico, e da a
formao por eles da palavra mba-guara ou mbauara, como fizeram em
relao ao boi, tambm deles desconhecido, que passaram a designar por
tapiraciuiacauara. Tapira, por ser grande como a anta; cita, por ser
ruminante; ac, por ter chifres, e aura, reduo de retamaura, conforme
explica Afonso de Freitas, no seu vocabulrio Nheangatu. Assim, quanto
ao cavalo teriam formado, na sua lngua elstica, o nome mba-guara,
pois mba significa coisa, objeto, e guara, j acima foi dada a
significao. Assim, pois, mba-guara, significando coisa estranha ou
desconhecida. Foi fcil ao portugus ou ao espanhol transformar a
palavra em bagual, para o cavalo selvagem, procedente dos animais
trazidos pelos primeiros nos meados do sculo XVI, para So Vicente e
da se espalhado por todo o sul do Brasil e o Prata." (...). (Granada,
Vocabulrio Rioplatense Razonado, in Moraes).

"A muito bagual puava


J tenho charqueado a espora,

50

nos que que nem Crsto montava


Salto em plo e vou me embora."
(Manoel Faria Corra, Rumo aos
Pagos).

"Encurralado como cachorro


eu olho para o fundo
de mim mesmo
como num algibe
e ainda posso e sei dizer
bom dia bagual."
(Clvis Assumpo, Marcado pelos
Guascaos do Minuano, Canoas,
Ed. La Salle, 1977, p. 18).

"Passou a contrafazer, insensivelmente, ao cabo de uns poucos de


anos, a existncia dos caudilhos clebres, dirigindo guerras contra
pontas de gado ou tropilhas bagualas" (A. Maia, Runas Vivas, Porto,
Lello & Irmo, 1910, p. 37-38).

BAGUALADA, s. Manada de baguais. // Estupidez, grosseria.

" no varzedo alegre que aos relinchos


Retoa a bagualada arisca, enquadrilhada,
Enquanto o rebanho de capinchos
No remanso do arroio faz morada."
(Pery de Castro, Coisas do Meu
Pago, P.A., Globo, 1926. p. 65).

"Respondo numa agachada


Sem muito tempo disperso:
A rima o tropel dos cascos
da bagualada do verso."
(Zeca Blau, Trovas da Estncia do
Abandono, P.A., p. 35).

BAGUALO, s. e adj. Aumentativo de bagual. Fem. bagualona.

BAGUARI, adj. Vagaroso, pesado, lerdo, mole. (Este vocbulo, registrado


pelo Padre Teschauer, est em desuso).

BAH!, interj. Exprime espanto.

BAIACU, s. Peixe de nossas costas ocenicas (Lacoscephalus Levigatus)


que, quando irritado, enche-se de ar, ficando como uma bola, e nadando,
ento, de ventre para cima.

BAIACURU, s. Planta herbcea cujo bolbo empregado contra as


hidropsias.

BAIANADA, s. Fiasco, servio de campo mal executado, feito por pessoa


no entendida no assunto ou por baiano. Grupo de pessoas que no sabem
montar a cavalo ou que no conhecem os servios de campo.

BAIANO, s. e adj. Maturrango. Indivduo que no sabe montar a cavalo, ou


que no sabe executar trabalhos de campo. Essa denominao, que se
estende a todos os filhos do norte do pas, provm do fato de, para as
guerras do sul, terem vindo numerosas tropas constitudas de nortistas,
principalmente baianos, os quais no sabiam andar a cavalo nem conheciam
as lidas da campanha. Da chamar-se baiano a quem no cavaleiro,
denominao essa que se tornou extensiva a todas as pessoas que no
sabem montar, mesmo quando rio-grandenses. O termo usado tambm no
Uruguai, e em Corrientes, na Argentina.

"... esta denominao dada na campanha a todo nortista, e


tambm a todos os que no sabem montar a cavalo; aos corpos de
infantaria. Muito teriam de se admirar os gachos se fossem aos sertes
do norte e ali vissem como os baianos da Bahia, de Pernambuco, Cear,
Piau, Gois etc. sabem montar e domar os potros." (Angelo Dourado,
Voluntrios do Martrio, Pelotas, Carlos Pinto & Cia., 1896).

"Pedro Antunes, int parecia baiano: s andava de carro nas


viagens, usava cala, botim e um pala de seda que nunca enfiava, no
comia carne de brasa, nem de espeto, careteava para o chimarro e nos
passeios (o que o mundo: - um homem de fortuna como aquele!)

51

escarranchava-se no lombo de uma mula paulista e l se ia mui concho..."


(A. Maia, Alma Brbara, RJ, Pimenta de Melo & C., 1922, p. 149).

BAIAQUARA, s. Matuto, guasca, babaquara.

BAILANTE, s. Casa em que se realizam bailes populares.

BAILARECO, s. O mesmo que baileco.

BAILARICO, s. O mesmo que baileco.

BAILECO, s. Baile sem muita importncia. Danata, danarola, bailareco,


bailarico.

BAIO. adj.Diz-se do animal cujo plo tem cor de ouro desmaiado. No Rio
Grande do Sul as variedades de baio tm as seguintes denominaes:
baio-amarelo, baio-branco, baio-cabos-negros, baio-encerado,
baio-lobuno, baio-oveiro, baio-ruano, baio-sebruno, baio-tobiano. //
Chama-se baio, tambm, ao cigarro crioulo, feito com fumo em rama e
palha de milho. // (O termo vem de Badius, do latim, cor de ouro
desmaiado).

"Tenho meu cavalo baio


Ferrado de pata e mo,
Para tirar uma dama
Da garupa de um pimpo."

"Tenho meu cavalo baio


Calado das quatro patas.
Para dar um galopito
Ao palcio das mulatas."
(Quadrinhas populares).

"Fechando um baio
Pra matar o tempo e o vcio
logo aps o chimarro,
o guasca, com precauo,
pla a trara afiada,
sem atender pra mais nada
dentro ou fora do galpo.
Pega uma palha de milho
que no esteja avariada,
depois de bem aparada
passa na boca, molhando,
e vai no lombo sovando
da sua "desembainhada"

Pincha a palha atrs da orelha


depois de hav-la sovado,
e tranqilo, descansado,
naquele gesto moroso,
pucha dum naco cheiroso,
que descasca com cuidado.
Depois de limpo a preceito,
entre os dedos apertado,
com muito tino e cuidado
vai picando o "amarelinho",
na calma, devagarinho,
pra que saia bem cortado.

Correm na plancha do "ferro"


as rodelinhas picadas
que, logo depositadas
na palma da mo esquerda.
muito mais finas que cerda
ficam, quando desmanchadas.

Guardando o "fala verdade"


e o crioulito cheiroso,
e amassando, vagaroso,
na esquerda, com a direita,
as rodelas so desfeitas
soltando um cheiro gostoso.

Fica ento na mo calosa


uma pelota dourada
que, depois de estirada
na palha com muito jeito,
se fecha um "baio" a preceito,
que o mimo da gauchada.

Dobra as pontas do palheiro.


Tira fogo dos avios .
E a faiscama surdiu
queimando a isca da guampa,
onde acende o baio pampa,
fruta do pago bravio.

Pla tambm tua xerenga


descasca um "amarelinho"
e vai cortando, fininho,
a fina flor de Cachoeira
- "amarelo bananeira" -
que macio e bem fraquinho!

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Pita um palheiro e vers


como tua alma se expande;
o crioulo coisa grande
em qualquer parte que estejas,
porque toda vez que o beijas,
beijars nele o Rio Grande!"
(Amndio Bicca).

"Pico um baio, enrolo, acendo,


dou uma tragada comprida,
preciso iludir a vida,
quero afogar esta mgoa!
Eta fumito ordinrio
arde mais do que a cachaa,
e esta maldita fumaa
me enchendo os olhos de gua!
(Dimas Costa, Tarca, P.A., Martins
Livreiro-Editor. 1981, p. 54).

BAIO-AMARELO, adj. Diz-se do cavalo baio, de plo cor de gema de ovo, um


pouco mais carregada, em geral sem lista de mula.

BAIO-BRANCO. adj. Diz-se do cavalo baio de plo bem claro, quase branco,
ligeiramente amarelado.

BAIO-CABOS-NEGROS, adj. Diz-se do cavalo baio que tem pretos os membros,


as crinas e a cola.

BAIO-ENCERADO, adj. Diz-se do cavalo baio, de plo cor de cera,


uniforme, sem listas-de-mula.

BAIO-LOBUNO, adj. Diz-se do cavalo baio, de plo semelhante ao do lobo,


geralmente com listas-de-mula e cabos-negros.

BAIO-OVEIRO, adj. Diz-se do cavalo baio em que se notam manchas brancas


e amarelas.
BAIO-RUANO, adj. Diz-se do cavalo baio com crinas e cola brancas ou
amarelo-claras.

BAIO-SEBRUNO, adj. Diz-se do cavalo baio parecido com o baio-encerado,


porm com tons pardos em certas partes do corpo, notadamente nos
membros, cabea e pescoo. em geral sem listas-de-mula.

BAIO-TOBIANO, adj. Diz-se do cavalo baio que apresenta manchas claras


caractersticas do tobiano.

BAITA, adj. Grande, crescido, importante. "Que baita homem", isto , que
homem grande!

BAITACA, s. Pessoa que fala muito.

BAIXADA, s. Terreno baixo que fica ao p de morros ou coxilhas. Plancie


pequena entre montanhas.

BAIXAR O COCO, expr. Corcovear, velhaquear.

BAIXEIRO, s. Espcie de manta de l, integrante dos arreios, que se pe


no lombo do cavalo, por baixo da carona. Semelhante a enxergo, xergo,
xerga, suadouro. Var: baxeiro e baxera.

BAIXO DAS CRUZES, adj. Diz-se do animal que tem as cruzes mais baixas do
que a anca.

BAIXO DE TRS, adj. Diz-se do animal que tem as cruzes mais altas do que
a anca.

BALACA, s. Gabolice, mentira, peta, bazfia, jactncia, fanfarronice.

BALAIO, s. Dana antiga, introduzida no Rio Grande do Sul pelos


aorianos. uma espcie de fandango, figurando ao lado da Tirana, Car,
Feliz-amor, Chimanita, Ribada, Quero-mana. A msica era acompanhada de
versos, como estes:

"Mandei fazer um balaio


Pra guardar meu algodo;
Balaio saiu pequeno:
No quero balaio, no."

"Corta, meu bem, recorta,


Recorta o teu bordadinho;

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Depois de bem recortado


Guarda no teu balainho."

"Balaio, meu bem, balaio


Balaio do corao,
Moa que no tem balaio,
Bota a costura no cho".

BALANANTE, adj. Que balana.


BALANCEADO, adj. Que no bem certo do juzo. Meio doido. // Diz-se do
negociante prestes a falir. // Diz-se, tambm, do parelheiro preparado
para correr certo tiro: "O tostado est balanceado nas quatro quadras".

BALANCEADO DOS CASCOS, expr.


Apalermado, adoidado.

BALANCEAR, v. Atuar na rdea do cavalo a fim de mant-lo pronto para


entrar em ao. / Ofegar. Respirar Curto e apressado, agitando o corpo
no ritmo da respirao.

BALANCEIO, s. Ato de balancear O Cavalo. // Ato de embalar.

BALANCIM, s. Porteira constituda de travessas de madeira colocadas


verticalmente e ligadas entre si por fios de arame na direo
horizontal. Pea de ferro ou de madeira, com um gancho em cada
extremidade, para atrelagem de animais a carroas e mquinas agrcolas.

BALANDRAU, s. Nome dado ao poncho de pala, ou simplesmente pala, o qual


tem como a opa uma abertura, no meio, por onde se enfia ao pescoo.
(Vocbulo j em desuso, segundo Callage).

"E outra vez, por debaixo do seu balandrau remendado, comeou a


gargantear a guaiaca, e logo lhe foi caindo na mo uma ona..." (Simes
Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 169).

BALANDRONADA, s. Fanfarronada, gabolice, compadrada, gauchada, tirada.


(Do cast. baladron, fanfarro).

BALANGAR, v. Balanar. (P. us.).

BALANQUEAR. v. Blasonar, bazofiar.

BALAQUEAO, s. Gabolice, conversa fiada.

BALAQUEAR, v. Gabar-se, mentir, conversar fiado, bazofiar, blasonar,


vangloriar-se.

BALAQUEIRO, s. Gabola, mentiroso, blasonador, fanfarro.

BALAQUICE, s. Gabolice.

BALASTRACA, s. Antiga moeda de 400 ris. Pataco argentino ou uruguaio.

BALDA, s. Manha, mania, defeito, vcio.

"Toda camisa tem fralda, todo ladro mente e furta. gua que tem muita
balda carece de rdea curta." (Hugo Ramrez, in Cancioneiro de Tropas).

BALDOSO, adj. Diz-se do cavalo que tem baldas, manhoso.

BALDRAME, s. Pea reforada de madeira, posta sobre os alicerces, na


qual descansam os barrotes do assoalho.

BALDRANA, s. Planta medicinal usada em infuso para lavagens uterinas.


Vegeta nos lugares midos. H duas espcies: a grande e a pequena. O
mesmo que bardana.

BALIZA DE CHEGADA, expr. Marca que, nas corridas de cavalo, assinala o


fim da cancha.

BALIZA DE SADA, expr. Marca que, nas corridas de cavalo, assinala o


incio da cancha.

BALSA, s. Jangada feita de toros de ma-

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deira ou de tbuas, unidas por amarras, que so conduzidas, de rio


abaixo, para no ponto de destino serem desfeitas e vendido o respectivo
material. Certas balsas so providas de acomodaes para a famlia do
balseiro e at de lugar para os animais de muncio. // Pelota ou barca
de couro de boi apropriada travessia de rios. Barril ou cocho em que
se salga a carne para o charque. A poro de carne contida no recipiente
tambm se chama uma balsa de carne.

BALSEIRO, s. e adj. Diz-se de ou pessoa encarregada de conduzir balsa.

BAMB, s. Espcie de jogo, por meio de quatro metades de caroo de


pssego, comum entre os campeiros. semelhante ao jogo da pena, dos
colegiais. (Possivelmente provm de mbamba, do idioma Quimbundo, que
significa jogo).

BAMBAQUER, s. Nome de certo baile campestre tambm denominado fandango.


Var.: Bambaquerer.

"Dana dos negros semelhante ao "batuque" paulista, e que foi


usual nas regies de concentrao agrcola no Rio Grande do Sul, ao
tempo da escravido." (Barbosa Lessa, O Boi das Aspas de Ouro, P.A.,
Globo, 1958, p. 182).

BAMBEAR, v. Tornar-se bambo, balanar, vibrar, ceder. tambm utilizado


com a acepo de bandear: "A bala bambeou a parede do rancho,"

BAMBEAR O CORPO, expr. Gingar.

BAMBURRAL, s. Vegetao arbustfera que viceja em locais midos, em


roas e em cercados abandonados. Taquaral, bambuzal.

"s meninas les dizia


Coisas de seus namorados,
s velhas de seus pecados,
cometidos noutras eras,
no bamburral das taperas,
ou no fundo dos cercados."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
21. ed., P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1978, estrofe 24).

BAMBUZAL, s. Taquaral.

BANANA, s. Pessoa sem energia, molengo.

BANANA-D'GUA, s. Banana-an. Pl.: bananas-d'gua.

BANANA-DA-TERRA, s. Variedade de banana de grande tamanho. Pl.:


bananas-da-terra.

BANCA, s. Importncia em dinheiro arbitrada pelo banqueiro, em


determinados jogos de cartas, para limitar as apostas. Jogo reunido na
mesa.

BANCAR, v. Bancar jogo, fazer jogo, aceitar a parada. V. Bancar nas


rdeas.

BANCAR NAS RDEAS, expr. Parar repentinamente o cavalo pela ao das


rdeas. Tambm se banca nas rdeas para mudar de direo, com violncia,
para a direita ou para a esquerda, ou para contornar um obstculo.

"... balanceava o zaino nas rdeas, bancava, de arranque, para


empin-lo, obrigando-o a priscar, brioso, curveteante, largava-o de novo
a galope." (A. Maia, Runas Vivas, Porto, Lello & Irmo, 1910, p. 41).

BANCAR-SE, v. Assentar-se. Montar. Sentar-se.

BANDA, s. Lugar, regio, paragem. "Sou de outras bandas", isto , sou de


outras paragens, de outro lugar, de outra regio.

BANDO, s. Grande quantidade de pessoas ou de coisas. "No casamento do

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Chico havia um bando de gente".

"Fez-se um bando de fiambre,


Ningum foi nisso mofino".
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
21. ed., P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1978, estrofe 4).

BANDEAR, v. Atravessar, varar, passar para o outro lado. "A bala bandeou
a parede", isto , atravessou a parede. "O cachorro bandeou o rio a
nado", isto , atravessou o rio a nado. "O deputado bandeou-se para
outro partido", isto , passou-se para outro partido.

BANDIDAO, s. Aumentativo de bandido.

BANDIDAGEM, s. Banditismo.

BANDOLEIRO, s. Denominao dada aos revolucionrios, em 1923, pelas


tropas legalistas.

BANDNIO, s. Instrumento musical, semelhante acordeona. Gaita de foles


com vrios teclados.

BANDORIA, s. Bando sedicioso. Motim.

BANGU, s. Espcie de liteira, com teto e cortinados de couro. Meio de


transporte consistente de vara comprida, conduzida por dois homens, um
em cada extremidade, que a apoiam sobre os ombros, no meio da qual,
suspensa, coloca-se a carga. Era utilizado, tambm, para conduzir
cadveres de indigentes ou de escravos.
"Negro ggo quando morre
Vai pra tumba de bangu.
Os parentes vo dizendo:
Aribu tem que com."
(Popular).

BANHADAL, s. Banhado grande, vrios banhados prximos, terrenos


alagadios.

BANHADETE, s. Diminutivo de banhado.

BANHADINHO, s. Diminutivo de banhado.

BANHADO, s. Charco, pntano, brejo, terreno baixo e alagadio coberto de


vegetao. Tremedal.

BANHAR, v. Submeter o gado a banhos destinados a extinguir o carrapato,


a sarna e demais parasitas, bem como a livr-lo do ataque de moscas e
mutucas.

BANHEIRO. s. Lugar, arroio em que se toma banho. / Grande tanque de


cimento onde preparado o banho carrapaticida e por dentro do qual o
gado obrigado a passar, a nado.

BANZAR, v. Arreliar, rezingar, brigar.

BANZ, s. Arrelia, disputa, rezinga, briga, barulho, desordem.

BANZO, adj. Tristonho, pensativo, melanclico.

BAQUE, s. Solavanco, bacada.

BARALHAR AS COBERTAS, expr. Brigar, envolver-se em conflitos.

BARALHAR O FERRO, expr. Brigar a arma branca.

BARATINAR, v. Balaquear, prosear. jactar-se de coisas que no capaz de


realizar. Enganar com argumentos falsos.

BARBA-DE-BODE, s. Pasto ordinrio, de pouco valor nutritivo, que vegeta


em parte da regio serrana e da depresso central do Estado do Rio
Grande do Sul.

BARBA-DE-FARELO, s. Denominao que os participantes de Terno de Reis


do ao dono de casa que no os recebe. Significa usurrio, po duro,
carancho.

"O terno no obtendo resposta esclarecedora, ele se retira, mas


nunca sem deixar um versinho dedicado ao dono da casa, classifican-

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do-o de usurrio, po duro, carancho, ou de barba-de-farelo. Abaixo


damos diversas quadrinhas:

"Eu vou parar de cantar


Vou seguir o meu destino
Que este barba-de-farelo
No pertence ao ser divino.

Meu povo vamos embora


Para a conscincia eu apelo
Jesus Cristo que compense
Este barba-de-farelo.

Este terno cantou agora


E torna a recant
Este barba-de-farelo
No tem nada pra nos d."
(Joo Carlos Paixo Cortes, Terno
de Reis, P.A., 1960, p. 71).

BARBA-DE-PAU, s. Parasita, com aparncia de barba, que d em certas


rvores. // usada contra hemorridas.

BARBA-DE-VELHO, s. Parasita que vive em certas rvores, formando fios


longos, parecidos com os da barba, de onde lhe vem o nome. ("lematis
Aostralio", a sua classificao botnica.)

BARBALHADA, s. Barba espessa.

BARBAQU, s. Tipo de forno utilizado para a secagem da erva-mate. O fogo


feito em um buraco que ligado por condutores de calor ao carijo ou
tatu, de forma que a erva recebe o calor indiretamente.

BARBARIDADE, s. Barbarismo. // interj. Exprime espanto, admirao,


estupefao, surpresa: Cu-pucha, barbaridade! // Muito, em grande
quantidade, intensamente: "Aquela moa bonita barbaridade", isto ,
muito bonita. "Foi um tiro de lao lindo barbaridade", isto , muito
lindo. "Aquele rio tinha peixe barbaridade", isto , tinha peixe em
grande quantidade. "Eu te quero barbaridade", isto , te quero
intensamente.

"Que bamburral,barbaridade!", exclamou o Jango, que fora o


primeiro a penetrar na necrpole" (A. Maia, Runas Vivas, Porto, Lello &
Irmo, 1910. p. 70).

BARBATIMO, s. rvore da famlia das leguminosas, com grande teor de


tanino, utilizada nos curtumes.

BARBELA, s. Corrente que liga as cambas do freio, rodeando a queixada do


cavalo na parte inferior.

BARBICACHO, s. Cordo, cadaro, ou trana de couro, com as extremidades


presas carneira do chapu, uma de cada lado, que passa por baixo do
queixo da pessoa que o usa, para, nos dias de vento ou nos servios de
campo, manter o chapu firme na cabea. Na parte inferior do barbicacho,
costume colocar-se uma borla.

"Segundo os haveres, o gosto, o capricho,


Envergam a roupa mais bela e decente,
Um pala vistoso, chapu meio ao lado,
Com seu barbicacho do queixo pendente."
(Taveira Jnior, Provincianas).

"E entocou-se cova a dentro


com jeito de malcriado:
cigarro preso nos queixos,
chapu velho bem quebrado.
E a borla do barbicacho
nica flor sobre o peito..."
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, P.A., Globo, 1959,
p. 34).

BARDANA, s. O mesmo que baldrana.

BARRA, s. Jogo infantil.

BARRACA, s. Casa de comrcio que negocia principalmente com couros,


pelegos, cabelo, l, e outros produtos da indstria pastoril.

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BARRACAMENTO, s. Ajuntamento, abarracamento, acampamento em barracas. //


Grupo de pessoas acampadas.

BARRA-DO-DIA, s. Aurora, alvorada.

BARRANCO, s. Obstculo, embarao realizao de qualquer negcio.

BARRANQUEAR, v. Encostar a um barranco.

BARRANQUEIRA, s. Lugar cheio de barrancos.

BARRAQUEIRO, s. Proprietrio de barraca, ou seja, de estabelecimento


comercial que negocia com produtos da indstria pastoril.

BARREAR, v. Rebocar paredes com barro convenientemente preparado.

BARREIRO, s. Joo-de-barro, Joo-barreiro, forneiro. // Local salitroso


procurado pelos animais que o lambem em busca de sal. Lambedor.

BARRIGA, s. A l tosquiada da barriga dos ovinos.

BARRIGA DA PERNA, s. Parte carnuda


da perna formada pelos msculos gmeos.

BARRIGA-VERDE, s. e adj. Catarinense, filho do Estado de Santa Catarina.


A denominao tem origem em uma faixa de cor verde que os legionrios
catarinenses usavam, como distintivo, apertando o ventre, nas guerras do
sul do pas, contra os platinos e contra os paraguaios.

BARRIGUEIRA, s. Pea integrante dos arreios. Faz parte da cincha e


constituda de uma espcie de trama de barbante ou tiras de couro, com
uma argola em cada extremidade, que, presa ao travesso pelos ltegos,
circunda a barriga do animal, a fim de manter Seguro o lombilho. //
Couro da regio da barriga do animal. // Carne da barriga da rs. //
Manta de charque, da carne da barriga da rs.

BARROAR, v. Latir demonstrando medo.

BARRO, s. Latido medroso.


BARROSO, adj. Diz-se, em relao aos animais bovinos, do plo branco
amarelado ou branco acinzentado. Ocorrem vrias tonalidades, como sejam,
o barroso-claro, o barroso-amarelo, o barroso-vermelho, o
barroso-fumaa. Aplica-se tambm, muito raramente, em relao aos
eqinos, para significar o plo do animal cor de barro escuro, o qual,
quando est pelechado, torna-se sebruno.

BARULHAR, v. Fazer barulho ou bulha.

BASEADO, adj. Diz-se do indivduo experiente, sagaz, capaz, inteligente


e, por isso, confiante em si.

"A estncia era grande, amigo!


Alm de vinte invernadas
De gado fino povoadas
Ainda tinha dois potreiros
Em cada uma morava
E meio capatazeava
Baseado e velho posteiro."
(Zeca Blau).

BASTEIRA, s. Parte acolchoada do serigote ou lombilho, que assenta sobre


o lombo do animal. // Ferida ocasionada no lombo do animal por defeito
dos arreios. Quando localizadas na regio dos rins essas feridas, mesmo
cicatrizadas, reabrem com facilidade, o que desvaloriza bastante o
animal. // "Para curar basteira, usar o p do serigote queimado", isto
, deixar de encilhar o animal.

BASTEIRADO, adj. Diz-se do animal que apresenta no lombo sinais de


basteiras, isto , manchas de plo branco oriundas de antiga cicatriz ou
escoriaes provenientes do atrito do lombilho com a pele.

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BASTEIRAR, v. Ocasionar escoriaes no lombo do animal.

BASTEIRAS, s. Lugar do lombo do animal onde assentam os bastos do


lombilho. Manchas de plo branco ou escoriaes produzidas nesse lugar
pelo atrito dos bastos.

BASTO, s. Lombilho de cabea muito pequena. Diz-se, tambm, bastos.

BASTOS, s. Partes acolchoadas e paralelas do lombilho ou serigote, que


assentam no lombo do animal. // Lombilho de cabea muito pequena. /
Naipe de paus, nos jogos de baralho.

BASTRAR, v. Recuar.

BATA, s. Roupo caseiro para homem. // Blusa larga, usada pela mulher,
para dormir.

BATACAO, s. Vitria inesperada de um cavalo, cuja pule d um grande


dividendo.

BATAR, adj. Diz-se do galo de penas de cor clara, salpicado de preto,


amarelo ou vermelho. Pintado. (Vem de mbatara, do guarani).
BATATA, s. Divisa, galo.

BATATINHA-DO-CAMPO, s. Azedinha de flor amarela. Macachim.

BATE-BARBAS, s. Discusso acalorada, bate-boca.

BATE-BOCA, s. Discusso, briga, Bate-barbas.

BATE-COXA, s. Baile, dana, arrasta-p.

BATELO, s. Espcie de bote, acionado a dois remos de voga ou ginga,


usado nos rios da bacia do Guaba.

BATE-NO-QUARA, s. Roupa de uso dirio.

BATER, v. Grassar. "A gripe bateu na Vila e derrubou todo mundo."


Treinar galos de rinha. // Procurar: "Bati toda a restinga", isto ,
procurei em toda a restinga.

BATER A ALCATRA NA TERRA INGRATA, expr. Morrer. Cair no cho.

BATER A CANASTRA, expr. Morrer.

BATER A LINDA PLUMAGEM, expr. Fugir, desaparecer, ir embora.

BATER A PASSARINHA, expr. Ter palpite, antever um acontecimento.

BATER A PRIMEIRA, expr. Fazer a primeira nesse jogo. // Ganhar o tiro,


anteceder-se.

BATER AS BOTAS, expr. Morrer.

BATER ASPAS, expr. Andar parelho com outro. // Encontrar-se com outra
pessoa para dirimir dvidas. // Bater guampas.

BATER BRUACAS, expr. Sair a caminhar toa.

BATER CHAPA, expr. Brigar de faco ou de adaga.

BATER COM A COLA NA CERCA, expr. Morrer.

BATER COM AS COALHEIRAS, expr. Cair, morrer.

BATER ESTRIBO, expr. Ir conversando com algum, lado a lado, a cavalo.

BATER GUAMPAS, expr. O mesmo que bater aspas.

BATER MARCA NA ESTRADA, expr. Sair a disparada, a cavalo.

BATER NA BOCA, expr. Vangloriar-Se diante do inimigo. // Ir, na


carreira, o animal vencedor, correndo livre, na frente, sem grande
esforo.

BATER NA MARCA, expr. Chicotear o

59
cavalo, fustig-lo, apress-lo. // Seguir viagem. Tocar estrada afora.
Cobrir a marca.

BATER O PACAU, expr. Morrer.

BATER ORELHAS, expr. Correr juntos. Andar parelhos. Ter a mesma fora.

BATIDA, s. Ato de pr dois galos a brigar, durante seu treinamento, a


fim de aquilatar o valor de um deles, ou de ambos.

BATINGA, s. rvore cuja madeira utilizada para varas de porteira,


cabealhos de carroa e outros usos.

BATISTRIO, s. Certido de batismo.

BATOCAO, s. Golpe que o galo d com os batoques durante a rinha.

BATOQUE, s. Esporo do galo, quando ainda no desenvolvido


completamente, ou quando rombudos. // Aparelho de proteo que se coloca
sobre os espores ou batoques. Pessoa de pequena estatura.

BATUIRA, s. Pssaro de cor escura, com manchas castanhas e brancas.

BATUQUE, s. Denominao dada no Rio Grande do Sul s casas de culto


africano. Candombl, macumba. Religio de negros praticada tambm,
atualmente, por brancos de todas as categorias sociais.

"Batuque ou par, assim so denominadas no Rio Grande do Sul,


principalmente em Porto Alegre, as casas de culto africano. Isto ,
diramos, as de prtica de religio da gente de cor, dos negros e
mulatos, dos mestios enfim.
As heranas pagas, o que lhes sobreviveram no perodo da
escravido, poca da chegada dos estoques tribais que aportaram no
Brasil, e a respectiva evoluo atravs dos sculos.
Portanto, o batuque no apenas uma dana, como se o conceitua
no resto do pas. Certo que tem de admitir-se o batuque num estgio de
diversificao, ampliado, em plena mobilidade de aspecto. Insista-se ser
muito mais do que uma festa, ou simplesmente uma cerimnia coreogrfica.
No Rio Grande do Sul, batuque religio de negro.
(Dante de Laytano,A Igreja dos Orixs, P.A., Ed. da Comisso
Gacha de Folclore, p. 31).

BAUTIZAR, v. Deturpao de batizar. Ocorrem bautismo e bautistrio.

BAXAR, v. Baixar. Descer. Apear. // No sentido incoativo: "O homem


baxou-se a beber cachaa at de madrugada"; "A mula baxou-se a
velhaquear".

BAXEIRO, s. O mesmo que baixeiro.

BAXERO, s. O mesmo que baixeiro.

BAXO DAS CRUZES, expr. V. Baixo das cruzes.

BAXO DE TRS, expr. V. Baixo de trs.

BEBE-EM-BRANCO, adj. Diz-se do cavalar que tem o focinho branco.


BEBER GUA DE BRUO, expr. Abusar dos prazeres do sexo.

BEBER GUA NA ORELHA DOS OUTROS, expr. Depender de favores de outros. //


Andar de cochichos, fazendo intrigas.

BEBER UM TRAGO, expr. Tomar um clice de cachaa.

BEBO, s. e adj. Corruptela de bbado.

BEJU, s. Bolo de massa de mandioca. (Do guarani mbeju).

BELDOS, 5. Espcie de tijolo vermelho destinado a ladrilhar o interior


da casa. (Espanholismo usado s na fronteira).

60

BELENDENGUE, s. Miliciano de cavalaria que defende a fronteira.

BELENDENGUES, s. Cavalaria de veteranos para a defesa da fronteira.

BELISCAR NO ANZOL, expr. Estar o peixe tocando na isca e,


conseqentemente, mexendo com a linha.

BEM-QUERER, s. A pessoa amada.

BEM-TE-VI, s. Pssaro que vive perto das habitaes, cujo canto parece
dizer bem-te-vi.

BENEFICIADO, adj. Castrado.

BENEFICIAR, v. Castrar.

BENS, s. Propriedades, riquezas, haveres.

BENZINHO-AMOR, s. Nome de uma variedade de bailes campestres chamados,


geralmente, fandangos.

BERGAMOTA, s. Fruto da bergamoteira. O mesmo que laranja-cravo,


laranja-mimosa, mimosa, mexerica, mexeriqueira, mandarina. Var.:
vergamota.

BERIBA, s. Nome dado aos habitantes de Cima da Serra, descendentes de


bandeirantes, ou aos tropeiros paulistas, os quais geralmente andavam em
mulas e tinham um sotaque especial diferente do da fronteira ou da
regio baixa do Estado. Var.: beriva, biriba e biriva.

BERIBADA, s. O mesmo que berivada.

BERIBS, s. Os homens provindos de So Paulo ou do Paran para comprar


muares. Var.: Berivs.

BERIVA, s. O mesmo que beriba.

BERIVADA, s. Conjunto de berivas ou beribas.

BERIVS, s. O mesmo que beribs.


BERNENTO, adj. Diz-se do animal atacado de berne.

BERRAADA, s. Berreiro, berrao.

BERRAR, v. Chorar aos berros. Gritar.

BERRAR COMO UM TOURO, expr. Falar forte e corajosamente, desafiando os


opositores.

BERZABUM, s. Balbrdia, tumulto, conflito, briga, bafaf, gangolina.

"At que enfim estava livre daquele berzabum de gente que


comeara desde manh." (Luiz Carlos Barbosa Lessa, O Boi das Aspas de
Ouro, P.A., Globo, 1958, p. 144).

BETAS, s. Dificuldades, apuros. Ver-se em betas, significa ver-se ou


achar-se em posio embaraosa, difcil, arriscada ou crtica;
encontrar-se em dificuldade: "Vi-me em betas para sair daquele negcio."
(H em portugus a palavra betesga, beco, ruela sem sada, que,
provavelmente, corrompendo-se, originou o termo betas, empregado na
expresso ver-se em betas, em vez de ver-se em betesga).

BIBI, s. Planta herbcea parecida com o lrio, de flores roxas, com trs
ptalas, que produz no subsolo um bolbo muito adocicado, semelhante a
uma pequena cebola, do tamanho de uma avel, denominado tambm bibi, o
qual se come cru ou cozido, tendo excelente paladar principalmente
quando misturado com leite. Existe tambm no Uruguai, com o mesmo nome.

BIBLIOGRAFIA SUL-RIO-GRANDENSE, s. constitudo de mais de seis mil


livros o atual acervo bibliogrfico do Rio Grande do Sul. Tratam da
matria, entre outros, os seguintes autores: Pedro Leite Villas-Bas,
Notas de Bibliografia Sul-Rio-Grandense, P.A., A Nao / IEL, publicado
sob os auspcios da Secretaria de Educao e Cultura, 1974; Ari Martins,
Escritores do Rio Grande do Sul, P.A., Co-edi-

61

es URGS, em convnio com o IEL, DAC-SEC-RS, 1978; Pedro Leite


Villas-Bas, Panorama Bibliogrfico do Regionalismo, Cadernos Gachos n
4, ed. da Fundao Instituto Gacho de Tradio e Folclore, P.A., RS,
1978).

BIBOCA, s. Buraco, gruta, vale profundo, precipcio, furna,


barranqueira. (Do tupi, ibi, terra, boc, fenda).

BIBOCO, s. Aumentativo de biboca.

BICAO, s. Bicada.

BICHADOR, s. Pauzinho semelhante a esptula com que se retiram os vermes


das bicheiras dos animais.

BICHO, s. Sujeito importante, bem conceituado.

BICHAR, s. L grossa para ponchos. / Poncho ou cobertor feito dessa l,


com listras brancas e pretas ao comprido. Chama-se tambm poncho de
Mostardas, por ser fabricado nesse municpio. Var.: Vichar.
BICHAREDO, s. e adj. Pessoa disposta para tudo, principalmente para
peleias. "Fulano um bicharedo no ferro", isto , um indivduo hbil
no manejo do faco. // De boa qualidade: "Comprei um capote bicharedo",
isto , comprei um capote muito bom, muito bonito. / Bicharada,
bicharia, grande quantidade de insetos, vermes, bichos que se apresentam
como pragas.

BICHAS, s. Lombrigas, vermes intestinais.

BICHEIRA, s. Ferida nos animais, contendo vermes depositados pelas


moscas varejeiras. Para sua cura, alm de medicao, so largamen te
utilizadas as simpatias e benzeduras.

BICHO, s. V. as expresses matar o bicho e virar a bicho.

BICHOCAR-SE, v. Tornar-se bichento.

BICHOCO, adj. Diz-se do cavalo extremamente gordo, que fica com os


membros locomotores inchados por falta de exerccio, a ponto de se
tornar imprestvel. Diz-se tambm do fruto bichado.

BICHO DE UNHA, expr. Diz-se do animal corredor. // Por extenso, diz-se


de pessoa ou animal dotado de qualidades excepcionais.

BICO. s. Biscate. Pequena dvida. "Pague tudo quanto bico;" (Zeca


Blau, Trotas da Estncia do Abandono, P.A., Grafipel, p. 24).

BICO-BLANCO, adj. O mesmo que bico-branco.

BICO-BRANCO, adj. Diz-se do animal que tem branca a ponta do focinho. O


mesmo que bico-blanco.

BICOTA, s. Beijoca, beijo, boquinha.

BICUDO, s. e adj. Atrevido, hbil no manejo das armas. "Dois bicudos no


se beijam" expresso de largo uso.

BID ou BID, s. Mesinha de cabeceira. (Aportuguesado do francs bidet).

BIFE-A-CAVALO, s. Bife com ovos.

BIFE-A-P, s. Bife com ovos e batatas fritas.

BIGORRILHA ou BIGORRILHAS, s. Sujeito fraco que quer arrotar valentia.

BIGU, s. Ave aqutica de cor preta que vive nos rios e lagoas. (Vem do
tupi, mby-gud, p redondo). Var.: bingu.

"Foi quando o seu Juca do Mato, pondo um acento grave na voz e


encarando um a um os circunstantes, afirmara que vira um ninho de bigu
com trs avezinhas ainda implumes". (Francisco Pereira Rodrigues, O
General).

"No deixem morrer meu rio,

62
Me ajudem por favor!
O bigu, que mergulhava, j morreu,
Agua-p no d mais flor."
(Paulinho Pires, Milonga, 8 Califrnia
da Cano Nativa, Uruguaiana,
1978).

BIGUANCHA, s. Piguancha.

BIJUJA, s. Dinheiro.

BINGU, s. O mesmo que bigu.

BIONGOS, s. Bibocas, casebres, biriquetes, esconderijos.

BIQUEIRA, s. Espcie de embornal, feito de couro ou de cip, que se


coloca no focinho do animal para este no pastar. usada, em geral,
para parelheiros ou animais de trato, que comem a hora certa. //
Piteira, ponteira de vidro ou de ambar, para fumar. // Enfeite de couro
na ponta do calado. // Instrumento, s vezes o cabo do relho, com que
se torce o focinho do animal para subjug-lo, e tambm para anestesi-lo
a fim de marc-lo ou castr-lo, pois a dor do focinho, ocasionada pela
biqueira, torna o animal menos sensvel a qualquer outra. // Estar de
biqueira, ou andar de biqueira, diz-se das pessoas proibidas de usar
bebidas alcolicas e que estavam a elas habituadas.

BIRIBA, s. O mesmo que beriba. // adj. Curto, com aluso a um pau que
serve de cacete.

BIRIQUETE, s. Viela, caminho estreito, esconderijo.

BIRIVA, s. O mesmo que beriba.

BIRUTA, s. Apara de madeira; maravalha.

BISCA, s e adj. Pessoa ordinria, cafajeste, sem carter, ruim, de mau


comportamento, coisa -toa.

BISCAIO, s. Faco grande, usado pelos trabalhadores de mato. Este termo


usado no Alto Uruguai.

BISPADO, adj. Diz-se do feijo que, por descuido, a cozinheira deixou


queimar.

BISPAR, v. Perceber, compreender, descobrir as intenes de outrem.

BLUSONA, s. Doena que ataca as plantaes de arroz.

BOA, s. Partida final que se joga como ltima esperana para os que
perderam, no jogo de vspora.

BOA CARNADURA, expr. Qualidade da pessoa ou animal que engorda


facilmente ou que se restabelece, com rapidez, de ferimentos recebidos.
antnimo de m carnadura.

BOBAJADA, s. Tolice, bobagem.

BOBO, s. Apalermado, pateta, tolo.


BOB, s. Bobo, tolo.

BOBO DE BOCA, expr. Diz-se do animal recm enfrenado que ainda no sabe
obedecer bem ao das rdeas.

BOCA, s. Emprego, colocao. "J estou procurando uma boca para quando
deixar o Exrcito."

BOCA DA NOITE, s. O anoitecer.

BOCA DA SERRA, s. Garganta pela qual se tem acesso ao planalto.

BOCAGEM, s. PaLavreado, palavro, palavra imoral.

BOCAL, s. Pea oca, de prata ou de outro metal, e tambm de couro, que


envolve o loro na parte inferior, imediata ao estribo. // s. Tira de
couro ou de pano que se ata na boca do redomo, para servir de freio,
durante a doma, a qual presa s rdeas. // adj. Oral, verbal.

"... recebeu este de passagem ordem bocal que j marchasse por


terra distncia de 8 lguas com a fora de seu esquadro, e levasse
por diante cavalos para montar..."

63

(Mem. de Fr. Pedro de Abreu, n 14, P.A., 1921).

BOAL, s. O mesmo que bual.

BOALETE, s. O mesmo que bualete.

BOALIZADOR, adj. Que boaliza, que bestifica, que torna estpido:

"... onde o esprito de religiosidade era sobremaneira intenso e


desvirtuado, ao ponto de confundir suas fronteiras, no raro, com as do
fanatismo boalizador e enervante." (Joo Maya, Hist. do R.G. do Sul, 4
ed., P.A., 1904, p. 192).

BOCALMENTE, adv. Oralmente, verbalmente. "A ordem foi dada bocalmente e


no por escrito".

BOCHA, s. Jogo de origem espanhola, muito usado na fronteira, que


consiste em atirar-se bolas de madeira em cancha de terra, previamente
preparada. esporte largamente praticado pelos rio-grandenses de origem
italiana. A bola de madeira com que se pratica esse jogo. // A expresso
bocha ou boche significa a rodo, em grande quantidade.

BOCHE, s. Usado na locuo adverbial boche: muito, em grande


quantidade.

BOCHINCHADA, s. Ato de promover conflito ou bochinche. // Pndega,


pagodeira.

BOCHINCHE, s. Baile de plebe, arrasta-p, espcie de batuque,


divertimento chinfrim prprio de gentalha. Desordem, briga. Anarquia,
desleixo, m direo dada a qualquer empreendimento, por inaptido ou
ignorncia. Var.: Boch incho.

BOCHINCHEIRO, s. e adj. Indivduo implicante, baderneiro, turbulento,


desordeiro, provocador de bochinches. / Var.: Bochinchero.

"Tive fama de quebra e bochincheiro.


No carregava insulto nem pirraa,
E por uma chinoca bonitaa,
Peleava sem comer, um dia inteiro!

Sempre puxava o meu faco primeiro,


Quando entrava disposto numa arruaa;
E no fandango, por qualquer cachaa,
Eu atorava a gaita do gaiteiro!

De uma feita, num baile no povoado,


Entrei por no ter sido convidado
com meu chapu quebrado bem na testa!

Como algum quis chamar "seu" Delegado,


Resolvi pr na sala o meu Tostado
E terminei, num upa, com a festa!"
(Alfredo Costa Machado, Coisas do
Pago, P.A., Livr. Andradas, 1955, p.
79-80).

"Era levado da breca,


bochincheiro, mal-domado,
mas tinha por predicado
ser guasca justo e decente."
(Dimas Costa, Pelos Caminhos do
Pago, P.A., Sulina, p. 26).

BOCHINCHERO, s. e adj. O mesmo que bochincheiro.

bOCHLNCHO, s. O mesmo que bochinche.

BOCO, s. Buraco em que, no jogo de gude, deve entrar a bola.

BOC, s. e adj. Bobo, tolo. pateta, boboca, acrianado, lorpa. / Pequena


bolsa de couro cru ou de fazenda, usada a tiracolo. Bornal.

BOC-DE-MOLA, s. Boneco ridculo que, impulsionado por uma mola, sur-

64

gia da caixa em que estava guardado ao ser ela aberta. // Boboca.

"E, ansim por diante, ensinando


As letras co'a parecena,
Era esta a maior sabena
Daquele mestre d'escola.
Um grande boc-de-mola,
Digo sem fazer-le ofensa."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1978, p. 30).
BOCOI, adj. Boc.

BOCRIO, s. Bate-boca, destampatrio, discusso forte.

BODEGA, s. Pequena venda de campanha, boliche.

BODEGO, s. Bodega bem sortida. Aumentativo de bodega.

BODEGUEIRO, s. Dono de bodega, caixeiro de bodega.

BODOQUE, s. Arco que atira pedras em


vez de flechas.

BOlA, s. Comida, almoo,janta, refeio, qualquer alimento.

BOIADA, s. Poro de bois mansos, especialmente os utilizados nas


carretas. Tropa de bois.

BOIADEIRO, s. O encarregado dos bois de servio, nas granjas de arroz.

BOI-BARROSO, s. Cantiga popular em que so exaltadas as qualidades e os


mistrios de um boi desse plo. So inmeras as quadras escritas a
respeito de tal boi, a maioria de autores desconhecidos. A seguir,
algumas dessas quadras:

"Meu boi barroso,


Que eu j contava perdido,
Deixando o rastro na areia
Foi logo reconhecido.

Montei no cavalo escuro


E trabalhei logo de espora
E gritei aperta, gente,
Que o meu boi se vai embora!

No cruzar uma picada,


Meu cavalo relinchou,
Dei de rdea par'a esquerda,
E o meu boi me atropelou!

Nos tentos levava um lao


Com vinte e cinco rodilhas,
Pra laar o boi barroso
L no alto das coxilhas!

Mas no mato carrasquento


Onde o boi 'stava embretado,
No quis usar o meu lao,
Pra no v-lo retalhado.

E mandei fazer um lao


Da casca do jacar,
Pra laar meu boi barroso
No redomo pangar.

Eu mandei fazer um lao


Do couro dajacutinga,
Pra laar meu boi barroso
L no passo da restinga.

E mandei fazer um lao


Do couro da capivara,
Pra laar meu boi barroso:
E lacei de meia cara.

Pois era um lao de sorte,


Que quebrou do boi a balda
Quando fui cerrar o lao,
S peguei de meia espalda!

Das guampas do boi barroso,


Todo mundo se admirou:
Deu pra cem navios de guerra,
E das guampas inda sobrou.

A me do boi barroso
Era uma vaca malhada
Dava dez baldes de leite
E cem guampas de coalhada.

O pai do boi barroso


Era um touro baio pampa
Com duas braas e meia
Da cola ponta da guampa.

65

A av do boi barroso
Era uma vaca franqueira:
Com aspas de duas braas
No passava na porteira.

O av do boi barroso
Veio de Cima da Serra,
Cada berro que ele dava
Fazia tremer a terra."

"E nunca sendo laado


por nenhum guapo campeiro,
fama ganhou de encantado
o boi barroso matreiro."
(J. O. Nogueira Leiria, Rinces
Perdidos, P.A., Sulina. 1968, p. 72).

"L longe estava o ranchito


e a filharada esperando,
talvez at j chorando
de fome. Mas orgulhoso
lutava pra no clamar,
e disfarando a desdita
foi assobiando a coplita
da cano do Boi Barroso."
(Dimas Costa, Tarca, P.A., Martins
Livreiro-Editor, 1981, p. 19).

"Boi Barroso
Sempre que a lua embarriga
teu fantasma a gente avista,
passando o pago em revista,
fiscalizando o rinco;
porque tu s na verdade,
o gnio da liberdade
resguardando a tradio!"
(Aparcio Silva Rillo, Cantigas do
Tempo Velho, P.A., Globo, 1959).

BOI CARREIRO, s. Indivduo pacato, bom, paciente, trabalhador.

BOICININGA, s. Nome tupi da cobra cascavel.

"A boicininga - a cascavel amaldioada - toda se meneava,


chocalhando os guizos, como por aviso, fueirando o ar com a lngua, como
por prova..." (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul,P.A.
Globo, 1973,p. 163).

BOI-CORNETA, s. Boi de um s chifre, por ter quebrado o outro, ou por


ser aleijado de um deles. O boi-corneta, em geral, causa complicaes na
tropa de que faz parte. / Por ext., indivduo indisciplinado, trfego,
rixento, arengueiro, inquieto, que d mau exemplo.

BOI-DA-PONTA, s. O boi da junta que puxa na ponta.

BOI-DA-QUARTA, s. Boi da junta que vai entre a ponta e o coice, nas


carretas puxadas por trs juntas ou mais.

BOI-DE-ARRASTO, s. O boi empregado para o arrasto de toras de madeira.

BOI-DO-COICE, s. O boi que puxa junto carreta, no coice.

BOIEIRA, s. Estrela d'alva. Planeta Vnus.

"Tonto de sono, olhei para a boieira,


Estrela grande amadrinhando a lua,
E senti no peito a pele nua
Vibrando na carcia da manh"
(Alcy Jos de Vargas Cheuiche,
Versos do Extremo Sul, Canoas,
Ed. La Salle, 1966, p. 49).

"No cu reparo a boieira


Na noite calada e fria.
Parece at que me espia
A grande estrela xereta .
No tem fogo de carreta
Onde no meta o nariz.
At de guia se diz,
Quando se perde um sotreta."
(Ciro Gavio, Querncia Xucra,
p. 53).

"L vem a estrela boieira


pela mo da madrugada!
Vem sonolenta, cansada
de camperear no infinito ...
Parou o rodeio da noite,

66

das estrelas fez sinuelo,


depois, sem muito atropelo,
foi chegando a despacito."
(Nilza Laydner de Castro, in
Antologia da EPC, P.A., Sulina, 1970,
p. 71).

BOI-FRANQUEIRO, s. Boi originrio de Franca, em So Paulo, trazido para


o Rio Grande pelos primeiros paulistas que povoaram a regio serrana. O
boi-franqueiro caracterizado pelo grande tamanho dos chifres e pelo
avantajado esqueleto.

BOIGUAU, s. Cobra grande. (Do Tupi).

BOI-LADRO, s. Usado na expresso apanhar como boi-ladro, que significa


apanhar uma grande surra.

BOI MANSO QUE ARROMBA A PORTEIRA, expr. Em sentido figurado, diz-se do


indivduo de boas maneiras que consegue passar por bom, quando na
verdade no o .

BOI-NEN, s. Terneiro no nascido, nonato, terneiro de barriga.

BOlOTA, adj. Rendido, quebrado, que sofre de hrnia inguinal.

BOITAT, s. Fogo-ftuo. Vem do guarani, mboi, cobra, e tat, fogo, cobra


de fogo. uma emanao de hidrognio fosforado, muito leve, que tende a
seguir o cavaleiro que viaja noite obedecendo ao deslocamento de ar
que o mesmo produz. Para a maioria dos estudiosos palavra do gnero
masculino.

"O boitat, do guarani mboi, cobra, e tat, fogo, cobra de fogo,


mais uma crendice do que uma lenda. Conta-se entre a gauchada das
estncias que, nos passeios e nas viagens noite, aparece um fogo
volante, s vezes em forma de cobra, outras vezes em forma de pssaro,
voando na frente do cavaleiro, impedindo-lhe a marcha. . porm, crena
entre a gente do campo de que o boitat se deixa atrair pelo ferro. E
ento, o meio para ver-se livre do ataque dele consiste em desatar o
lao dos tentos e arrast-lo pela presilha, previamente presa esta
argola da cincha. Desde ento, o boitat, atrado pelo ferro da argola
do lao, deixa assim de embaraar a marcha do andante, e seguindo-o
atrs na altura do extremo do lao at amanhecer o dia, ora em que o
abandona, deixando-o ir em paz. (Joo Cezimbra Jacques, Assuntos do Rio
Grande do Sul, P.A., Of. da Escola de Engenharia, 1912,p. 159).

"Qual boi-tat qual nada! O Alexandre caiu na asneira de


acreditar que fosse isso mesmo, e desenrodilhou o lao preso nos lentos,
para ver se o tal de boi se grudava na argola, e o deixava em paz, mas
perdeu o pulo e no dia seguinte l se ia de embrulho, para a cidade dos
ps-juntos." (Joo Maia, Pampa, P.A., Globo, 1925, p. 38).
"Boi e tat so duas palavras guaranis que significam serpente e
fogo, e que naturalmente foram aplicadas, ou que assim devemos entender
que o foram, designando
o fogo-serpente, ou o fogo que serpenteia, visto to bem
adequar-se ao objeto de que nos ocupamos; de definir to tacitamente
essa luz vaga, que conhecemos pela denominao de fogo efmero, ou fogo
ftuo." (Jos Bernardino dos Santos, Boi-Tat, in Revista do Partenon
Literrio, 1869, Separata da Revista do IHG doR. G. do Sul,P.A., 1951,
p. 87).

"Tudo o que morre no mundo se junta semente de onde nasceu,


para nascer de novo: s a luz da boitat ficou sozinha, nunca mais se

67

juntou com a outra luz de que saiu. Anda sempre arisca e s, nos lugares
onde quanto mais carnia houve, mais se infesta. E no inverno, de
entanguida, no aparece e dorme, talvez entocada.
Mas no vero, depois da quentura dos mormaos, comea ento o
seu fadrio.
A boitat, toda enroscada, como uma bola tat, de fogo! - empea
a correr o campo, coxilha abaixo, lomba acima, at que horas da noite!
um fogo amarelo e azulado, que no queima a macega seca nem
aquenta a gua dos mananciais; e rola, gira, corre, corcoveia e se
despenca e arrebenta-se, apagado e quando um menos espera, aparece,
outra vez, do mesmo jeito!
Maldito! Tesconjuro!
(Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo,
1973,p. 137).

BOLA, s. Usada na expresso como bola sem manicla, que significa: sem
rumo, s tontas. // Boleadeira. // Var.: Bolas.

"Joga o lao, campeiro, atira a bola,


que esse rude trabalho nos consola,
nos conforta e alegra o corao!"
(Rui Cardoso Nunes, Tro pilha
Perdida).

BOLACHA, s. Repreenso, bofetada, tapa.

BOLA-CHARRUA, s. Pedra de boleadeira, muito grosseira, com um sulco


central para passar as sogas, que pertenceram aos ndios charruas,
encontradas em algumas regies da fronteira. Bola-pampa. Bola-perdida.

BOLAO, s. Tiro de bolas, golpe ou pancada dado com as bolas ou com a


boleadeira. // Muito dinheiro, sendo, neste caso, sinnimo de boiada.

BOLADA, s. Feita, vez, ocasio: "Daquela boiada descemos a serra." //


Muito dinheiro.

BOLANDINA, s. Agitao, azfama, atrapalhao. Trapalhada,


trampolinada.

BOLA-PAMPA, s. O mesmo que bola-charrua.


BOLAP, s. Vau de um rio cheio que o cavalo s pode atravessar quase
nadando. Parece provir do castelhano volapi que significa a meio voo,
ou seja, parte andando, parte voando. Numa travessia a bolap no h
nado completo, mas tambm o animal, quase submerso, no tem condies de
assentar, com firmeza, os ps no fundo do rio.

BOLA-PERDIDA, s. O mesmo que bola-charrua.

BOLAS, s. O mesmo que boleadeiras. Bola.

"derrubando avestruzes a bolas" (A. Maia, Runas Vivas, Porto, Lello &
Irmo, 1910, p. 40).

BOLCAR, v. Virar, rolar. O mesmo que volcar. Volcar a terra com o arado.

BOLEA, s. Lugar, na carruagem, onde assenta o cocheiro.

BOLEADA, s. Boleio. Ato de bolear.

BOLEADEIRA, s. Instrumento de que se servem os campeiros para apreender


os animais e tambm para, nas guerras, abater os inimigos. Consta de
trs pedras redondas retovadas com couro e ligadas entre si por cordas
tranadas ou torcidas que tm o nome de sogas. As duas pedras maiores,
de igual tamanho, so ligadas, uma outra, por uma corda, ou soga, de
aproximadamente um metro e meio de comprimento; a terceira pedra, menor
que as duas anteriores, ligada, por uma soga com a metade do
comprimento da primeira, ao meio da soga maior. A pedra menor tem o nome
de manicla ou manica. Pa-

68

ra usar as boleadeiras o campeiro segura com a mo direita a manicla e


imprime s outras duas bolas um movimento rotativo, a fim de conseguir
impulso para lan-las sobre o pescoo, o lombo ou a anca do animal,
que, assustado, aos coiceS, procura livrar-se delas, ficando, porm,
completamente enredado. Alm de pedras, empregam-se, para confeccionar
as bolas, pedaos de panela ou quaisquer cacos de metal retovados com
couro.

"(...) parece fora de qualquer dvida que as boleadeiras vieram


por herana dos ndios campeiros, charruas, minuanos e tapes, que as
empregavam para a caa, e, depois de conhecerem o boi e o cavalo,
passaram a empreg-las nos arreados que faziam nos rebanhos alados."
(Moraes).

"E tu, peceta, ond' que te meteste todo esse tempo? J sei:
andaste de boleadeiras quebrando o gado e aplastando o cavalo, comigo
aqui tua espera, como se fosse teu negro cativo..." (A. Maia, Runas
Vivas, Porto. Lello & Irmo, 1910, p. 26).

"E a vozeria reboava, ecoava o


tropel, boleadeiras silvavam, brilhavam lminas, trocavam-se tiros,
ginetes e animais tombavam de roldo, ou eram pingos em arremessada carreira aps a
queda dos cavaleiros." (A.
Maia, Tapera, RJ, F.
Briguiet & Cia., 1962, 2 ed., p. 73).
BOLEADO, s Arredondado. torneado. // adj. Amalucado, adoidado. que no
muito certo da bola. // Derrubado pelas boleadeiras.

BOLEADOR, s. Homem adestrado no manejo das boleadeiras. // Cavalo que se


joga ao cho para livrar-se do cavaleiro.

BOLEAR, v. Arremessar as bolas sobre o animal, para apanh-lo. Pegar de


surpresa. / Cativar pelo bom trato, fascinar. (Cf. bolear-se).

"No potreiro de teus olhos


Cupido me boleou:
Que esperana de fugir-lhe!
Logo o boal me passou!"
(Popular).

BOLEAR A PERNA, expr. Apeiar-se, descer do animal de montaria.

BOLEAR-SE. v. Jogar-se ao solo o cavalo com o cavaleiro, com os arreios,


ou mesmo desencilhado. // Decidir-se a empreender uma viagem ou passeio:
"Com chuva e tudo, ele se boleou para o baile".

"A cousa foi que o ndio se boleou serra a baixo, sem avisar
ningum ..." (A. Maia, Alma Brbara, RJ, Pimenta de Melo & C., 1922, p.
81).

BOLEEIRO, s. Cocheiro.

BOLICHAR, v, O mesmo que bolichear.

BOLICHE, s. O mesmo que bolicho.

BOLICHEAR, v. Exercer a profisso de bolicheiro. Mascatear ou vender em


pequena escala. O mesmo que bolichar.

BOLICHEIRO, s. Dono de boliche. Taberneiro. // Freqentador de boliches.


// O mesmo que bolichero.

BOLICHERO, s. O mesmo que bolicheiro.

BOLICHO. s. Casa de negcio de pequeno sortimento e de pouca


importncia. Bodega. Taberninha. // Casa de jogo. // Certo jogo de
origem espanhola. O mesmo que boliche.

"Uma gurizada que vai crescendo na indolncia, no vcio, nos


balces dos bolichos..." (Sylvio Jlio, Pampa, Fortaleza, 1919, p. 258).

"BolichO

69

a fonte aberta no pago


Onde ao fechar da semana,
A gauchada se irmana
Ao p da carta ou de um trago."
(Chico Ribeiro).

"Nas tardes poeirentas de vero o bolicho sopra na cara do


viajante o seu hlito forte de cachaa." (Slvio Duncan, Paisagem Xucra,
P.A., Globo, 1958, p. 36).

" melhor que tu conheas


o poder do meu capricho:
pra matar uma saudade
basta a canha do bolicho."
(J. O. Nogueira Leiria, Rinces
Perdidos, P.A., Sulina, 1968, p. 123).

BOLITA, s. Pequena bola de vidro ou de gata com que os meninos jogam; o


jogo feito com essas bolas.

BOLIVIANO, adj. Diz-se do cavalo que no tem dono conhecido, teatino. /


Moeda de prata, da Bolivia, que circulou no Rio Grande do Sul e que
valia de 600 a 900 ris.

BOLO, s. Confuso. / Ajuntamento de gente. // Logro, briga.

BOLSA, s. Saco de estopa.

BOLSOQUIAR, v. Revistar os bolsos dos mortos em combate, para tirar o


dinheiro e outros valores que possam conduzir.

BOM ANDAR, expr. Bom cmodo, do cavalo. Andar agradvel para o


cavaleiro.

BOMBA, s. Canudo de prata ou de outro metal, tendo em uma das


extremidades um bojo crivado de furinhos, que introduzido na cuia
cheia de erva, e, na outra, uma parte achatada, s vezes revestida de
ouro, por onde se suga o mate.

BOMBACHAS, s. Calas muito largas, presas por botes logo acima do


tornozelo. a vestimenta predileta dos homens do campo do Rio Grande do
Sul que a usam tanto para o trabalho como para passeio. Na obra Notcia
Descritiva da Provncia do Rio Grande de So Pedro do Sul, de Nicolau
Dreys, que esteve aqui em 1817, na descrio da indumentria gacha no
h referncia s bombachas, o que indica que seu uso relativamente
moderno em nosso Estado.

"(...) no um artigo de vestimenta caracterstica do


verdadeiro gacho, pois que ela no originria da Amrica do Sul, e
muito menos do pampa. antes uma vestimenta turca, que, da Turquia foi
importada para a Espanha e desta para o Prata e dali para o Rio Grande
do Sul." (Cezimbra iacques, Assuntos do Rio Grande do Sul, P.A., Of. da
Escola de Engenharia, 1912, p. 32).

..."O morto, deposto no catre, forrado de um cobertor de algodo


podo trajava bombacha azul" (A. Maia, Runas Vivas, Porto, Lello &
Irmo, 1910, p. 30).

BOMBEADOR, s. Aquele que bombeia, espiona, vigia, espreita. // O mesmo


que bombeiro.

BOMBEAR, v. Espionar, espreitar, explorar, vigiar, espiar, perscrutar,


olhar, ver, observar. Examinar, sem ser percebido, o campo inimigo, a
fim de lhe conhecer a fora, os recursos e as intenes.

BOMBEIRO, s. Espio, esculca, observador, explorador do campo inimigo.


"... e ele viera ver como bombeiro, o que faziam na praa."
(Apolinrio Porto Alegre, O Vaqueano p. 86).

BOM DE BOCA, expr. Fcil de alimentar, que come o que lhe for servido.

BOM DE RDEAS, expr. Diz-se do animal de montaria que obedece


prontamente ao das rdeas.

BOM NO PAU, expr. Diz-se do cavalo de carreira que muito resistente.

BONANCHO, adj. Bondoso, calmo, cavalheiro, franco.

BONECA, s. Espiga de milho antes de granar. // Moa, mulher bonita.

BONECRA, s. O mesmo que boneca.

"Entn foi ver a bonecra, com o poncho de pano azul e as botas


de cano grande." (Aureliano, Romances de Estncia e Querncia, P.A.,
Globo, 1959, p. 39).

BONITAO, adj. Bonito, muito bonito.

BONZO, adj. Muito bom.

BOQUE, s. Buraco para o jogo de bolita.

BOQUEIRO, s. Sada larga para um campo, depois de um desfiladeiro, de


uma estrada estreita, de um lugar apertado. // Distncia muito grande
que, numa carreira, um cavalo leva sobre o outro.

BOQUEJAR, v. Conversar.

BOQUEJO, s. Conversa.

"Ento comeou a correr um boquejo de ouvido pra ouvido..."


(Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p.
171).

BOQUINHA, s. Beijo, bicota.

"No, Niccio, no presta! Moa solteira que d boquinha antes


de casar, perde o noivo ou casa velha." (Barbosa Lessa, O Boi das Aspas
de Ouro, P.A., Globo, 1958, p. 145).

BOQUINHA-DA-NOITE, s. O anoitecer.

BORDONEAR, v. Executar msica em

70

viola ou violo usando as cordas mais grossas, que emitem sons mais
graves.

BORLANTIM, s. Saltimbanco. Artista de circo de cavalinhos. // Andar com


borlantins, significa andar em ms companhias.
BORQUILHO, s. e adj. Pessoa que tem as pernas tortas. Cambota.

BORRACHO, s. Chifre preparado para conduzir liquido, fechado com um


tampo fixo de madeira na parte mais larga, e com uma pequena abertura
na parte mais estreita, onde se coloca a rolha. H borraches de todos
os tamanhos, de poucos centmetros at mais de um metro, uns feitos com
simplicidade, outros artisticamente trabalhados. So usados, em geral,
para conduzir bebidas alcolicas.

BORRACHEIRA, s. Bebedeira, embriagues.

BORRACHO, s. Bbado, brio, embriagado.

BORRACHUDO, s. Pequena motuca diurna que ataca em bando.

BORRA-DE-CAF, s. P de Caf umedecido, usado como remdio, na campanha,


para estancar sangue de ferimento.

BORRA-TINTAS, s. Mau pintor. Mau profissional.

BORREGA, s. Ovelha de um ano.

BORREGADA, s. Rebanho de borregos.

BORREGAGEM, s. Poro de borregos. Borregada.

BORREGO, s. Cordeiro de idade inferior a um ano. // Em sentido figurado:


s. Pessoa pacfica; // adj. bem jovem, novo.

BOSINUDO, adj. V. Buzinudo.

BOSTEIRA, s. Bosta, excremento de gado.

71

BOTA, s. Calado prprio para andar a cavalo, feito de couro, que


envolve o p e a perna. // Dificuldade, obstculo: "Vai ser difcil
descalar aquela bota", isto , livrar-se daquela dificuldade. // V. as
expresses bater as botas, bota de garro, e meter as botas em.

BOTADA, s. Investida, agachada, feita, vez, ato de botar. // Cotejo


entre parelheiros ou galos de rinha.

BOTA DE GARRO, s. Bota feita de couro verde, de vaca ou de potro. Para


confeccion-la, abatido o animal, retirado o couro da coxa e adaptado
ao p e perna da pessoa que vai us-la, de modo que a ponta do jarrete
da vaca ou do potro corresponda ao calcanhar do homem. A costura feita
com certa folga para permitir a entrada e a retirada do p. Os dedos, em
geral, ficam de fora.

BOTADOR, s. Vara com que se empurra a embarcao. // adj. Que no se faz


de rogado para iniciar a briga, arrojado, atrevido.

BOTO, s. Pequena pea de couro tranado que se abotoa na presilha para


unir duas extremidades de partes do arreamento.

BOTAR, v. Pr.
BOTAR A BOCA NO MUNDO, expr. Gritar, esbravejar, reclamar.

BOTAR A COLA NO LOMBO, expr. Disparar, fugir.

"O animal, quando corre, levanta a cola e parece que a coloca


sobre o lombo. Nota-se isso especialmente com os cavalos alados que,
quando perseguidos, fogem pondo a cola sobre o lombo." (Walter Spalding,
Ba de Estncia).

BOTAR A CORRIDA FORA, expr. Atrapalhar o negcio de outrem, fazer perder


a oportunidade de realizar determinado empreendimento, deixar de ganhar
uma carreira por impercia.

BOTAR CRIA, expr. Parir, reproduzir.

BOTAR NO CEPO, expr. Prender algum, por castigo.

BOTAR O P NO MUNDO, expr. Fugir, ir embora.

BOTAR OS CACHORROS, expr. Atiar os cachorros. // Em sentido figurado,


falar mal de algum. Descompor.

BOTAR OS QUEIXOS, expr. Descompor.

BOTAR SAL NA MOLEIRA, expr. Fazer com que o opositor se submeta,


reconhecendo que no tem razo.

BOTAR-SE, v. Arrojar-se, atirar-se, jogar-se, lanar-se.

"O campeiro botou-se em cima do rival com fria de touro


brasino". (Simes Lopes, Contos).

BOTECO, s. Pequeno botequim.

BOTEIRO, s. Aquele que governa um bote. // Fabricante de botes. //


Fabricante de botas.

"Z Macaco boteiro por uma questo de preconceito de cor. Foi


recomendado como capataz de uma estncia do Rosrio, mas o homem velho
quando o viu disse: - No serve! Negro com posio encrenca no
galpo!" (Ivan Pedro de Martins, Caminhos do Sul, P.A., Globo, 1946, p.
67).

BOTEJA, s. Botelha, garrafa.

BRABO, adj. Feroz, raivoso, irado, selvagem, zangado, colrico. // Ruim,


pssimo, incomum.

"No Rio Grande do Sul se faz diferena entre bravura (valentia)


e brabeza (raiva) e entre bravo (valente, herico) e brabo (raivoso,
colrico)." (Manuel do Carmo, Canta-

72

res da Minha Terra).


"Dia brabo, calor de acender as macegas. At a sombra do umbu
parecia descer quente dos galhos." (A. Maia,Alma Brbara, RJ, Pimenta de
Melo & C., 1922, p. 6).

"e a gauchada redemoinhava, braba." (A. Maia, Runas Vivas,


Porto, Lello & Irmo, 1910,p. 142).

BRAA, s. Medida antiga, ainda muito usada no Rio Grande do Sul. A braa
linear equivale a 2,20 m e a braa quadrada a 4,84 m2.

BRAA-DE-SESMARIA, s. Medida antiga, de superfcie, usada no Rio Grande


do Sul. A braa-de-seSmaria mede 2,20 m por 6.600,00 m, ou seja,
14.520,00 m2.

BRAA-DESOL, expr. Distncia aparente que falta para o sol desaparecer


no horizonte. "Ainda estvamos com duas braas de sol, e tratamos de
sair do mato enquanto no escurecia completamente."

BRAADA, s. Movimento do brao.

BRACEADOR, adj. Diz-se do cavalo que braceia. // Nadador.

BRACEAR, v. Andar, o animal, com largos movimentos laterais dos membros


anteriores. // Nadar, nadar de braada. // Em sentido figurado: lutar
pela vida, trabalhar intensamente.

BRAO, s. V. as expresses empinar o


brao e sentar o brao.

BRAOLADA, s. Pequeno pedao de linha do espinhel na extremidade da qual


se prende o anzol.

BRAGADO, adj. Plo do cavalo ou do bovino que tem a verilha ou a barriga


branca e o resto do corpo de outra cor. No animal bragado, em geral h
partes brancas tambm na frente da cabea e nas pernas.

BRANCO, adj. Plo de cavalo que, em geral, quando novo, foi tordilho.

BRANCO-COUROS-NEGROS, adj. Diz-se do cavalo de plo branco e de pele


preta. Ao contrrio dos melados, os animais deste plo so muito
apreciados.

BRANCO-MELADO, adj. Diz-se do cavalo que apresenta o plo e a pele


brancos e tem os olhos de cor clara. Albino. Em geral os animais deste
plo andam com os olhos remelentos, no enxergam bem nos dias muito
claros, sendo pouco apreciados para montaria.

"Cavalo branco melado, nem dado nem bem comprado". (Ditado


popular).

BRANCO-OVEIRO, adj. Diz-se do animal branco com manchas pronunciadas de


outra cor.

BRANDEZA, s. Brandura.

BRANDO DE BOCA, expr. Diz-se do animal que sensvel ao das rdeas.


Por extenso, aplica-Se s Pessoas que facilmente se deixam convencer.

BRANQUEAR, v. Caiar de branco. Parede branqueada o mesmo que parede


caiada.

BRANQUILHO, s. Nome de uma rvore que produz bom carvo para forjas.

BRASEDO, s. Brasido, braseiro.

BRASINO, adj. Da cor da brasa. Plo de vacum, de cachorro ou de gato,


vermelho, com listras pretas ou muito escuras. V. a expresso aspa de
boi brasino. (Etim.: Vem de brasa).

BREQUE, s. Carro de quatro rodas, para paSsageirOS, puxado por cavalos.


D-lhe o nome o freio de alavanca de que dotado, situado na bolia, ao
lado do condutor.

73

BRETE, s. Pequeno curral destinado ao recolhimento das ovelhas que vo


ser tosadas. // Espcie de corredor que comunica com a mangueira ou
curral, dentro do qual o animal fica com seus movimentos tolhidos,
podendo ser marcado, assinalado, vacinado, castrado, tosado, etc., sem
ser derrubado. / Corredor estreito que d acesso ao banheiro de
carrapaticida. // Corredor que conduz charqueada ou ao trem de
transporte de gado.

BRINCO, s. Sinal que feito na orelha do bovino, do suno e do ovino,


consistindo em um corte horizontal que faz com que fique pendente uma
pequena lasca da parte inferior daquele rgo, semelhando um brinco. //
Apndice gorduroso que existe nos maxilares de alguns porcos e no
pescoo de alguns ovinos e caprinos.

BRIQUE, s. Bricabraque. Estabelecimento que compra e vende objetos


usados, ferro velho, obras de arte, etc.

BROACA, s. O mesmo que bruaca.

BROCA, s. Cavidade que, originando-se na parte mole do casco do animal


cavalar ou muar, vai pouco a pouco subindo, at chegar parte superior,
quase o impossibilitando de andar. // Fome, vontade de comer.

BROCHA, s. Corda ou tira de couro com que se prende o boi canga,


ligando os canzis por baixo do pescoo do animal.

BROCHAR, v. Atrelar os bois canga, colocando-os entre os canzis e


passando a brocha por baixo dos respectivos pescoos.

BROMA, s. Troa, gracejo, mofa, caoada, brincadeira. // Demora. // (


vocbulo hispano-americano, usado principalmente na fronteira).

"El que gana su comida


Geno es que en silencio coma;
Ansina, vos, ni por broma
Quers llamar la atencin:
Nunca escapa el cimarrn
Si dispara por la loma."
(Jos Hernndez, Martn Fierro,
Buenos Aires, Ed. Sopena Argentina,
1945, p. 88).
BRUACA, s. Espcie de mala de couro cru, com alas laterais, apropriada
para ser conduzida em lombo de animal, pendurada cangalha, uma de cada
lado. Cada bruaca comporta 3 arrobas de carga, ou seja 45 quilos. O par
de bruacas, que a carga de uma mula, comporta mercadorias com o peso
de 90 quilos. // Mulher sem pudor, desleixada, ordinria, rameira. //
Pessoa gaiata, brincalhona.

BRUM-BRUM, adj. Dizia-se do negro africano que falava mal, de modo


ininteligvel. Diz-se de qualquer pessoa que se expressa incorretamente,
com dificuldade, ou que gagueja.

BRUXA, s. Espcie de mariposa. // Ente fantstico que durante a noite


enreda as crinas dos cavalos preparando nelas estribos para seu uso. //
Boneca de pano.

BUAL, s. Espcie de cabresto com focinheira. uma pea de couro que


faz parte dos arreios e colocada na cabea e pescoo do cavalo.
Compe-se das seguintes partes: focinheira, cabeada, fiador e cedeira.
(V. as expressses passar o bual e passar um bual de couro fresco).

BUALAR, v. Pr o bual em; embualar.

BUALETE, s. Pequeno bual. Cabresto aperfeioado.

BUCHA, s. Mau negcio. V. as expresses

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levar bucha e responder nas buchas.

BUCHADA, s. Conjunto do estmago e intestino da rs, quando carneada. /


Iguaria preparada com estmago e tripas de rs.

BUCHA POR SE DESTAPAR, expr. Diz-se do parelheiro que ainda no se


tornou conhecido como tal. uma expresso irnica da gria dos
carreiristas.

BUCHO, s. Estmago. // Mulher muito feia.

BUDUM, s. Catinga, fartum, mau cheiro do corpo humano.

BUENACHO, adj. Muito bom, excelente, generoso, afvel, bondoso,


cavalheiro. Var.: Buenao.

"O gado foi descambando


Que a correnteza era forte;
Mas o dia era de sorte
E o Lautrio, buenacho,
Ganhou porto logo abaixo
Com todo o primeiro corte."
(Amaro Juvenal, Antonio Chimango,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1978, p. 45).

BUENAO, adj. O mesmo que buenacho.


"Sem desmerecer ningum,
eu ressalto um companheiro,
que sempre foi o primeiro,
nas horas ms e nas boas,
para quem eu peo as loas.
Pra o buenao secretriO,
para o peo extraordinrio,
Pedro Leite Villas-Boas!"
(Chico Gaudrio, Correio do Povo
de 29.6.68).

BUENO. adj. e adv. Bom, bondoso. Est bem,muito bem,perfeitamente.


(Esp.).

BUFIR, v. Bufar.

BUGIADO, adj. Qualificativo do cavalo cujo plo lembra o do bugio.

BUGIO, s. Guariba.

BUGRA, s. Feminino de bugre. ndia.

BUGRADA, s. Poro de bugres. Indiada. Gauchada.

BUGRE, s. ndio, silvcola. Nome depreciativo aplicado aos selvagens do


Brasil.

BUGREIRO, s. Caador de bugres.

BUNDINHA, s. Habitante da cidade, pretencioso e janota, ignorante das


lides campeiras. Designao dada pelo homem do campo ao da cidade, com
sentido pejorativo. V. almofadinha, cola-fina.

"Nunca foi assim to maula


Como os bundinhas de agora
A peonada de outrora
Que j deu to boa cria,
De modo que se dizia
Ser gente vinda de fora."
(Homero Prates, histria de D.
Chimango, RJ, Livr. Machado,
1927, p. 89).

BUNGADA, s. Pechada, choque.

BUNGAR, v. Chocar, pechar. ( palavra de origem africana).

BUQUE, s. Cadeia.

BURABA, s. Burara.

BURACADA, s. Poro de buracos, terreno esburacado, buraqueira. O mesmo


que buracama.

BURACAMA, s. O mesmo que buracada.

BURINDANGAS, s. Burundangas. Ninharias.

BURLEQUEADOR, s. e adj. Vadio, vagabundo, madrao, passeador,


caminhador. Indivduo que vive nas estradas, a passear de um lado para
outro, sem procurar ocupar-se com qualquer trabalho til. Var.
Burliqueador.

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BURLEQUEAR, v. Vacliar, vagabundear, gastar o tempo em folias, caminhar


toa, entregar-se a passeios e visitas sem finalidade til. Var.:
burliquear.

BURLIQUEADOR, s. e adj. O mesmo que burlequeador.

BURLIQUEAR, v. O mesmo que burlequear.

BURRINHO, s. Nome dado a inseto de cor acinzentada que ataca as


hortalias, principalmente o tomateiro. Aparece em nuvens, como praga, e
custico em contato com a pele.

BURRIQUETE, s. Filhote de miraguaia.

BURRO BURREIRO, s. Burro inteiro, isto , no castrado, que vive com as


burras e no com as guas.

BURRO-CHORO, s. Hechor. Jumento no castrado utilizado para cruzar, ou


acasalar, com as guas. O produto do cruzamento, burros e mulas rsticos
e sbrios, timos para o trabalho, hbrido e, conseqentemente, no se
reproduz.

BUSCA!, interj. Palavra com que se incita o co a procurar a caa.

BUSCAR FOGO, expr. Permanecer em visita muito pouco tempo, no


demorar-se.

BUSCAR PLEITO, expr. Procurar briga.

BUSO, s. Violo, viola ou qualquer instrumento de corda. Var.: Buzo.

"Sentaram todos, Os busos,


com cordas sobressalentes,
cravelhas e parafusos,
soltaram notas ardentes."
(Manoel Faria Corra, Rumo aos
Pagos, p. 94).

BUTI, s. Espcie de coqueiro pequeno e sua fruta. Butiazeiro. O buti


muito apreciado para misturar na cachaa.

BUTIAZAL, s. Butiatuba. Mato de butiazeiros. Plantao de butis ou


butiazeiros.

BUTIAZEIRO, s. Buti. Espcie de coqueiro pequeno que produz o buti. Do


butiazeiro extrai-se a crina vegetal.

BUTIFARRA, s. Carne cozida, cortada em tiras compridas, para venda em


carreiradas, festas etc.

BUZEIRA, s. Bozerra. Var. Buzera.


BUZERA, s. O mesmo que buzeira.

BUZINA, s. Orifcio no centro da roda do carro, onde introduzido o


eixo. Tal orifcio mais largo na parte de dentro do que na de fora,
disso lhe advindo a denominao. Chama-se contra-buzina a uma rodela de
ferro que se coloca na parte de fora da buzina quando esta se encontra
gasta. // s. e adj. Raivoso, irritado, colrico, atrevido, zangado,
furioso, brabo, mau, valento, bandido, estrina, endiabrado. // Ficar
buzina, encolerizar-se.

BUZINUDO, adj. Diz-se do carro ou da carreta que rechina ao andar por


estar com folga nas buzinas.

BUZO, s. O mesmo que buso.

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CALO, s. Deturpao de cavalo, muito em uso no Rio Grande do Sul. Var.:


ca-alo.

"Menino, o ca-alo seu. Eu lhe prometi um de minha marca. A o


tem." (Manoelito de Ornellas, Mscaras e Murais de Minha Terra, P.A.,
Globo, 1966, p. 195).

"- Ca'alos, me parece, como o senhor diz, quem faz o dono."


(A. Maia, Alma Brbara, RJ, Pimenta de Melo & C., 1922, p. 35).

CABANHA, s. Estabelecimento pastoril destinado criao e seleo de


reprodutores de gado de raa.

CABANO, adj. Diz-se do cavalo que tem as orelhas cadas. Diz-se, tambm,
do vacum que tem os cornos virados para baixo, um ou ambos.

CABEA-CHATA, s. Denominao dada aos cearenses, e, s vezes, por


extenso, aos demais nortistas.

CABEADA, s. Pea de couro que, cingindo a cabea do animal e


passando-lhe por trs das orelhas, serve para segurar-lhe o freio na
boca. H cabeadas chapeadas de prata ou feitas inteiramente desse ou de
outros metais.

CABEA DE PASSARINHO, expr. Diz-se de pessoa distrada, leviana,


desatenta, irresponsvel.

CABEALHO, s. Pea comprida de madeira, ao lado da qual so atrelados os


animais de trao.
CABEDAL, s. Bens, propriedades, riquezas.

CABELAMA, s. Abundncia de cabelos, grande cabeleira, plos muito


crescidos. Pelame. O conjunto dos plos ou cabelos de um animal.

CABIDE, s. Cavalo muito magro, com os ossos mostra, esqulido.

CABOCLO, s. Descendente de ndio. // , tambm, o nome de uma vespa.

CABOR, s. Ave de rapina, espcie de mocho.

CABORTAGEM, s. Ato de cabortear, velhacaria.

CABORTAR, v. O mesmo que cabortear.

CABORTEAR, v. Negar-se o animal a deixar-se pegar, esquivar-se


aproximao das pessoas, mostrar-se infiel, tornar-se arisco. //
Proceder mal, a pessoa, procurando enganar por meio de artifcios,
velhacarias, manhas, lbias. // Var.: Cavortear, cabortar.

CABORTEIRICE, s. Ato de cabortear, trapaa, velhacada. O mesmo que


cabortice.

CABORTEIRO, s. e adj. Cavalo ou outro animal, manhoso, arisco, infiel,


velha-

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queador, que no se deixa pegar. Indivduo velhaco, esperto, manhoso,


mau, mentiroso, trapaceiro, tratante, que vive de expedientes. / Var.:
Cavorteiro.

"No h de tripudiar sobre as luminosas tradies do Rio Grande


um Presidente da Repblica desabusado e cabo rteiro, afastado do
cumprimento da lei." (Jos Antnio Flores da Cunha, in Joo Neves da
Fontoura, Memrias, 2 vol., P.A., Globo, 1963, p. 192).

CABORTICE, s. O mesmo que caborteirice.

CABOS, s. Nome dado aos membros do eqino ou do muar, para referncia a


plo.

CABOS-BRANCOS, adj. Diz-se do cavalo de qualquer plo que tem brancas as


quatro patas.

CABOS-NEGROS, adj. Diz-se do cavalo de qualquer plo que tem negras as


quatro patas.

"Cabos negros: (...) olhos, cabelos e sobrancelhas negros (nas


mulheres);" (Everton Florenzano, Dicionrio Espanhol-Portugus).

CABRA, s. Sujeito de baixa classe. Mestio de mulato e negro.

CABRESTEADOR, adj. Diz-se do animal que cabresteia bem, isto , que,


conduzido pelo cabresto, acompanha facilmente o condutor que o vai
puxando. // Por extenso, aplica-se ao indivduo que se deixa conduzir
por outrem sem nenhuma resistncia.

CABRESTEAR, v. Andar o animal cavalar ou muar conduzido pelo cabresto,


sem resistir. Obedecer, o vacum, ou qualquer animal, facilmente,
trao do lao ou de qualquer corda. // Permitir o indivduo que outro o
conduza sem nenhuma resistncia.

"- Pila foi o nico poltico que no cabresteou; os demais


libertadores aceitaram o osso que o Getlio lhes ofereceu ... e foram
ser embaixadores..." (Jorge Cardoso de Oliveira).

"Aqui sim... Entrego as fichas!


Foi quando ento cabresteei,
e cabresteei de verdade!
Porque o bicho delicado:
- sabe domar aporreado
com cabrestitos de seda."
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1981, p. 78).

CABRESTILHO, s. Cabresto pequeno. // Correias de couro ou de metal que


seguram as esporas aos ps.

CABRESTO, s. Pea de couro que apresilhada ao bual ou bualete para


segurar o cavalo ou o muar. V. a expresso sentar no cabresto.

CABRITA, s. Criana arteira.

CABRITILHA, s. Couro de cabrito, cortido.

CABRITINHO, s. Moreno, mulato.

CABRITO, adj. Diz-se do vacum que possui chifres curtos e levantados


como os dos cabritos. / Coisa roubada. Contrabando.

CABRIVA, s. rvore cuja madeira tima para construes. Tem aroma


muito agradvel e usada como medicamento peitoral.

CABUNGO, s. Recipiente para matrias fecais. Foi substitudo pelo tigre


que, em noites escuras, era mandado despejar nas ruas. Talvez proceda do
dialeto quibundo, no qual kibungo significa sentina. // Chapu velho.

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CABUR, s. Pequena coruja cujas penas do sorte a quem as possua.


Indivduo trigueiro, puxando a caboclo. Caboclinho de pouca idade.

CACARIAS, s. Conjunto de objetos velhos, sem serventia. Cacarecos.

CAAR VEADO, expr. Levantar-se de noite, com dor de barriga, para ir


latrina. Urinar na cama.

CACETE, s. Pessoa importuna, impertinente.

CACHAO, s. Porco no castrado, barrasco, varro.


CACHECOL, s. Manta.

CACHETADA, s. Bofetada, soco, paulada.

CACHIMBO, s. Pedao de pau com um fiel em uma das pontas, no qual se


enfia o beio do animal que se pretende sujeitar, e se vai torcendo at
que o animal se entregue. Usa-se, tambm, como cachimbo o fiel do relho
e respectivo cabo. Biqueira. // Clice de flor.

CACHO, s. A cola, o rabo do cavalo. V. a expresso quebrar o cacho.

CACHOPA, s. Grupo de flores na ponta de um ramo.

CACHORRETE, s. Pequeno cachorro, no sentido de pea de madeira, de


beirada de rancho.

CACHORRO, s. Pea de madeira que, na construo do rancho, colocada na


beira do telhado ou das quinchas, junto ponta dos caibros, para tornar
um pouco mais horizontal sua inclinao. // V. a expresso h cachorro
na cancha.

CACIMBA, s. Fonte de gua potvel. Vertente.

CACOS, s. Arreios velhos, de m qualidade.

CACUNDA, s. Corcunda.

CACURUTO, s. Cocuruto.

CADEIA. s. Entrelaamento dos pares ao danarem o fandango e outras


danas.

CADELA?, expr. O que dela?

CADELE?, expr. O que dele? O campeiro, s vezes, pergunta: "Cadele


ele?"

CADENA, s. N falso. Forma de, distncia, sem perigo, retirar o lao


que segura um animal bravio, com o auxlio de outro lao, preso argola
do primeiro. // Entrelaamento dos pares nas danas do fandango e do
pericon.

CADETE, s. Amigo do estancieiro e familiar da estncia, que presta


servios durante os rodeios.

CAFICHA, s. Bonita, vistosa, luxuosa.

CAFIFE, s. Bandeijinha ou pequeno cofre em que se recolhe o barato no


jogo de cartas ou no de vspora. // Por extenso, o barato.

CAFUA, s. Cadeia. Priso para colegiais, quarto escuro.

CAFUND, s. Lugar ermo e solitrio, gruta.

CAFUN, s. Delicada presso que se faz na cabea de algum, dando


estalinhos caractersticos com as unhas, para faz-lo adormecer.

CAGAO, s. Grande susto. Medo.


"Esto se divertindo nossa custa. Porque o cagao (esta
palavra no est nos dicionrios, vem de diarria emotiva,
naturalmente), um fato! Esto com toda a certeza rindo de ns."
(Ramiro Frota Barcelos, Estncia Assombrada, Livr. Porto Alegre Editora,
1947, p. 156).

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CAGARRETA, s. Homem baixo.

CAIAMBOLA, s. Escravo fugido que s vezes se acoitava em quilombos. O


mesmo que canhembora, canhambora, canhambola, calhambora, quilom bola.

CABA, s. O mesmo que cava.

CAICUE, adj. Diz-se do mate de erva velha, lavada.

CAIEIRA, s. Jazida de cal. O mesmo que calera.

CAIGU, adj. Montaraz, silvestre, bravio.

CAINGANGUE, s. Indivduo dos Caingangues, indgenas dos quais ainda


existem tribus no Rio Grande do Sul.

CAINHO, adj. Sovina.

CAIPORA, s. Caapora, curupira // Indivduo azarado. // Azar, m sorte,


caiporismo.

CAR DE COSTAS, expr. Ficar extremamente surpreendido com alguma notcia.

CAR DE PONTA CABEA, expr. Cair de cabea para baixo.

CAIR NGUA, expr. Sair-se mal em qualquer empreendimento.

CAIR NA TIGUERA, expr. Fugir, ir-se embora, sair a vagabundear. O mesmo


que cair no mato.

CAIR NA VIDA, expr. Prostituir-se.

CAIR NA VOLTEADA, expr. Vir o animal ao rodeio ou mangueira com os


outros, embora no estivesse planejada a sua recolhida. Ser pegado por
acaso. Ser enganado, ser pegado em falso.

CAIR NO JEITO, expr. Vir feio.

CAIR NO MATO, expr. O mesmo que cair na tiguera.

CAVA, s. Mato ruim, carrasquento. Terra pobre de humus, de pouca


fertilidade.

CAIXETA, s. Caixa de madeira, com tampa corredia, destinada a


acondicionar marmelada, goiabada e outros doces, de consistncia
pastosa, a esses assemelhados. // rvore da famlia das Urticceas.

"C'um naco de marmelada,


Que tirou de uma caixeta,
Arranjou-lhe uma chupeta" ...
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1978,p. 17).

CAJETILHA, s. Sujeito presumido, pelintra, janota, almofadinha,


peralvilho, pilantra, peralta, casquilho, faceiro, canalha. Nome dado
pelos habitantes da campanha aos rapazes da cidade, O J tem som
aspirado, espanhola. (Vem de cajeta, peralta, peralviiho, na
Argentina).

"Um cajetilha da cidade duma vez que a viu botou-lhe uns versos
mui lindos" ... (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A.,
Globo, 1973, p. 13).

CALAGUALA, s. Planta da familia das Filceas (Aspidium capense).

CALANDRA, s. Calhandra.

CALASSARIA, s. Bando de vagabundos, de preguiosos, de vadios.

CALAVEIRA, s. e adj. Indivduo velhaco, caloteiro, caborteiro,


vagabundo, tonto, tratante. Var.: Calavera. ( espanholismo).

"Diante da casa a porteira,


mas, a ramada no oito.
Triste o fim do calaveira;
a p e de freio na mo"
(Hugo Ramrez, in Cancioneiro de
Trotas).

CALAVEIRADA, s. Procedimento do calaveira, velhacada, calote, tontice,


vagabundagem. Var.: Calaverada.

80

CALAVERA, s. O mesmo que calaveira.

CALAVERADA, s. O mesmo que calaveirada.

CALADO, adj. Diz-se do animal de qualquer plo que tenha os ps


brancos.

CALO, s. V. a expresso estar de calo.

CALAR A PONTA, expr. Colocar-se um tropeiro frente da tropa em


marcha, para obrig-la a andar mais devagar.

CALAR AS PUAS, expr. Calar as esporas.

CALAR NO TRINTA, expr. Fazer com que o inimigo se renda, apontando-lhe


o revlver.

CALCULAR, v. Imaginar, supor.

"Ningum calcula como a vida boa


nas paragens cobertas de garoa
do meu pago distante, que eu adoro."
(Zeno Cardoso Nunes, Querncia).

CALDEAR, v. Tomar caldo. (Usado em Cima da Serra, conforme Romaguera


Corra. Atualmente, no se emprega esse verbo com tal sentido).

CALDEIRO, s. Buraco grande na estrada ou no campo, aberto pelas chuvas


ou pelas pisadas dos animais.

CALEADO, adj. Caiado, branco como a cal.

CALERA, s. Caieira.

CALHA, s. Conduto feito de madeira, de regular dimenso, destinado a


levar a gua para irrigar as lavouras de arroz.

CALHANDRA, s. Pssaro canoro muito admirado pelos gachos. o rouxinol


americano, segundo o naturalista Buffon.Vive nos campos, na proximidade
das casas, mas no se adapta ao cativeiro. Gosta de bicar o charque nos
varais. Tem canto prprio e imita outros pssaros.

"Salta, ao fogo, a Salamandra,


o charqueador, quando h embarque,
inquietos como calhandra
bicando em varal de charque"...
(Hugo Ramrez, in Cancioneiro de
Trovas).

CALHORDA, s. Indivduo desprezvel.

CALIENTE, adj. Quente (Esp.).

CALIFRNIA, s. Carreira de que participam mais de dois parelheiros.


Penca. // Competio: Califrnia da Cano Nativa do RGS, festival de
msica rio-grandense, realizado anualmente em Uruguaiana, pelo Centro de
tradies Gachas Sinuelo do Pago.

"Acabavam de correr uma califrnia: levantara-a de pescoo um


potrilho pangar" (A. Maia, Runas Vivas, Porto, Lello & Irmo, 1910,p.
142).

CALIFRNIA DO CHICO PEDRO, loc. s. Invases guerreiras levadas a efeito


no territrio do Uruguai, em 1849 e 1850, pelo Coronel Francisco Pedro
de Abreu (mais tarde general e Baro do Jacu), pelo fato de haver o
governo daquele pas onerado com pesadssimos impostos os campos dos
brasileiros l residentes. Durante essa peleja, na qual foi derrotado
Chico Pedro, muitos abusos e extorses foram praticados.

CALOMBO, s. Raa de gado bovino, outrora abundante no Rio Grande do Sul


e hoje desaparecida, na qual os touros apresentavam pescoo muito curto,
com uma salincia volumosa, ou calombo, semelhante a uma inchao, na

81

parte anterior. Parece tratar-se de descendncia degenerada de gado


zebu, cruzado com outras raas revelia dos preceitos da zootecnia. /
Protuberncia, tumor, inchao.
CALOR, s. Coragem.

CALOTEADO, adj. Logrado, enganado, que no foi pago do que lhe era
devido.

CALUNDU, s. Mau humor, aborrecimen~


lo.

CALUNGA, s. Boneco articulado para


entreter as crianas. (li palavra de ori-
gem africana).

CAMALOTE, s. Denominao dada a ilhas flutuantes formadas de gua-ps,


que descem os rios. O mesmo que periant na Amaznia.

CAMANGA, s. Negcio escuso. // Amores clandestinos.

CAMARGO, s. Caf forte com leite cru, quente da vaca, tirado na hora, na
mesma vasilha em que se encontra o caf. ( termo usado em Bom Jesus e
adjacncias).

CAMBADA, s. Grupo de pessoas suspeitas, de alarifes, de desordeiros.

CAMBAIAR, v. Tornar cambaio.

CAMBO, s. Pedao de pau furado nas duas extremidades, utilizado para


unir duas ou mais juntas de bois, umas s outras, de modo que possam
puxar ao mesmo tempo.

CAMBAR, v. Mudar de lugar a carga da embarcao. Cair para um lado.

CAMBARA, s. rvore da famlia das Compostas, que tem propriedades


medicinais.

CAMBIAR, v. Trocar, permutar, transacionar. "Cambiei o burro por uma


vaca de cria". // Mudar de lugar.

CAMBICHO, s. Apego, paixo, rabicho. Inclinao irresistvel por uma


mulher.

CMBIO, s. Troca, mudana. // Dinheiro mido para troco.

CAMBISTA, s. Vendedor de bilhetes de loteria. Bilheteiro.

CAMBOAT, s. rvore da flora rio-grandense que d madeira excelente para


lenha, por isso preferida para guarda-fogo ou trafugueiro. Var.:
Camboat.

CAMBOAT, s. O mesmo que camboat.

CAMBOIM, s. rvore da famlia das Mirtceas de que h diversas


variedades no Rio Grande do Sul. V. a expresso passar o camboim. Var.:
cambuim.

CAMBONA, s. Chaleira rstica, constituda de uma lata com ala de arame,


usada principalmente pelos carreteiros e tropeiros.

"Velha cambona crioula


De destino andejo e vago
Andars sempre no pago
Em teu gauderiar eterno,
Em tropeadas pelo inverno,
Nas rondas ou num galpo,
Simbolizando um braso,
Chamuscado pela glria
No fogo xucro da histria
Da gacha formao."
(Ubirajara Raffo Constant,
Xucro, P.A., p. 15).

"Por isso cambona antiga


Quando te vejo ao baldrame
Destranada a ala de arame
J sem uso freguesia
No entanto sem serventia
Co'esta gua enferrujada
Te quero em manh de geada
Pra aquecer minh'alma fria."
(Tadeu Martins, Tarcas de Estncia
Antiga, P.A., Grf. Mau Ltda.,
p. 20).

"E enquanto chia a cambona

82

coberta de picum,
emponchada no brilho da alvorada,
boleia a perna dona madrugada
para abrir a cancela da manh..."
(Aparcio Silva Rillo, Cantigas do
Tempo Velho, P.A., Globo, 1959,
p. 44).

CAMBOTA, s. e adj. Diz-se de ou pessoa que tem as pernas tortas, em


arco. // Cambalhota. // Camba de rodado.

CAMBOTADO, s. Pea de madeira, por natureza curva, apropriada para


cambotas de carreta.

CAMBUIM, s. O mesmo que camboim.

CAMBULHA, s. Molho de chaves. Poro de coisas.

CAMBUQUIRA, s. Grelo de aboboreira. Guisado de grelos de aboboreira, que


se come com carne assada.

CAMELADA, s. Grupo de camelos; os camelos.

CAMELO, s. Nome que os republicanos, na Revoluo Rio-grandense de 1835,


davam aos legalistas. O mesmo que galego, caramuru. // Relativamente
derrota que os imperialistas sofreram no rio Inhandu, onde para escapar
tiveram que se lanar gua, existe a seguinte quadrinha popular:

A vinte e cinco de maio,


No passo de Inhandu,
Camelo virou capincho
Ningum me contou: eu vi.

CAMINHAMENTO, s. Distncia que medeia entre duas estaes, em


levantamento topogrfico.

CAMINHAR, v. norma entre os criadores, na venda de gado de cria,


considerar os terneiros recm-nascidos como inexistentes, isto , como
se ainda estivessem no ventre da vaca. Quando, porm, eles devem ser
considerados no nmero de reses vendidas, o vendedor, ento, declara que
vende tudo o que caminha.

CAMOATIM, s. Vespa social da famlia dos vespdeos que fabrica um mel


muito apreciado. A colmia dessas vespas. V. a expresso tirar camoatim
sem poncho.

CAMONDONGO, s. Camundongo.

CAMORRA, s. Rixa, contenda, provocao, indireta, desafio. V. a


expresso comprar a camorra.

CAMOTE, s. Namoro, paixo, predileo de uma pessoa por outra, o


namorado. (Vem do mexicano camotli, espcie de batata, doce como o mel).

CAMPANHA, s. Zona de campo, apropriada criao de gado. Local


distanciado da cidade; interior. // Parte baixa do Estado.

"A topografia do Rio Grande apresenta os seguintes traos


caractersticos principais. dentro do seu territrio que o planalto
brasileiro alcana o seu declive final para o sul. O grande muro alpino
de rochas paleozicas (granito, gnaisse, xistos arcaicos) da Serra do
Mar ou Serra Geral, que desde a Bahia, ao norte, segue a costa
brasileira, formando o gigantesco paredo do planalto contra a
beira-mar, ao entrar no Rio Grande, muda de direo, recuando terra a
dentro e acabando bruscamente na proximidade de Porto Alegre. O prprio
planalto termina igualmente por uma descida ngreme que atravessa a
maior parte do Rio Grande na direo leste-oeste cerca de 29 graus
latitude sul. Da resulta a separao do Estado em duas metades, um
planalto ao norte e uma baixada ao

83

sul, atingindo para leste uma diferena de altitude de 500 metros que
para o oeste diminui at completo nivelamento. A primeira destas
metades, como dizem os rio-grandenses, em Cima da Serra, e portanto um
prolongamento dos Estados de Santa Catarina e Paran (na poca em que
foi escrito o notvel livro, Paran ainda se limitava com o R.G. do
Sul), e forma um planalto desigual, ondulado de morros chatos e cortados
por numerosos cursos d'gua. A outra rea, abaixo da serra, limitada ao
norte pelo vale do Rio Jacu geralmente denominada a Campanha,
corresponde em todos os seus caracteres mais aos Estados limtrofes a
oeste e ao sul Corrientes, Entrerrios e Uruguai, e consiste em um
terreno chato e aberto interrompido por alguns espiges irregulares
compridos e baixos denominados Coxilhas, ao redor dos quais o terreno
retoma o seu carter ondulado." (C.A.M. Lindmann. A vegetao no Rio
Grande do Sul).
"Vasto, verde estendal da campanha nativa,
oficina ancestral das bravuras da raa,
onde, ao grito revel do gacho que passa,
tremula desdobrada uma flmula altiva.
Meiga terra de amor, de esperana e de graa,
dilatada extenso que as energias aviva,
predestinando luta a gente primitiva
que um campo de batalha a seus destinos traa.
Meio ambiente fatal de que flui e dimana
o forte corao da gente pampeana;
e onde se constitui, de distncia em distncia,
o cl das geraes primeiras que plantaram,
nos desertos do pampa, os esteios da Estncia..."
(Aurlio Porto, A Campanha).

CAMPANHISTA, s. Guerrilheiro da campanha.

CAMPEADA, s. Ato de campear. Campeada.

CAMPEADOR, s. e ad). Pessoa que procura animal perdido no campo. Pessoa


que procura qualquer coisa. O que campeia.

CAMPEAR, v. Procurar pelo campo. Buscar. Esquadrinhar. // Usa-se,


tambm, em sentido figurado.

"Da por diante, quando qualquer cristo perdia uma cousa, o que
fosse, pela noite velha o Negrinho campeava e achava, mas s entregava a
quem acendesse uma vela, cuja luz ele levava para pagar a do altar de
sua madrinha, a Virgem Nossa Senhora, que o remiu e salvou e deu-lhe uma
tropilha, que ele conduz e pastoreia, sem ningum ver." (Simes Lopes,
Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973,p. 185).

"Largava o pensamento e andarengueava horas cansadas, campanhas


afora, campeando, campeando o que no perdera." (Cyro Martins, Paz nos
Campos, P.A., Globo, 1957,p. 31).

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"Campeio tua presena


Em todo este rinco;
Relinchando de saudades,
Dando patadas no cho.
(Quadrinha popular).

"Enrolada no teu poncho


da cor do resto das brasas,
os meus olhos criam asas
te campeando, sem descanso..."
(Perptua Flores, Poemas, P.A.,
1968, p. 44).

CAMPECHANO, adj. Pertencente ou relativo ao campo. Campeiro.

"Da querncia desgarrado,


hoje embualo o passado
em cantigas campechanas!"
(R.C.N., Tropeiro de Saudades).

"Fez bem, o poeta Zeca Blau, ao fixar em seus poemas o nosso


modo de falar campechano to pitoresco e rico e que ele maneja com a
maestria de poucos." (Morena Flores, Poncho e Pala, Almanaque do Correio
do Povo, P.A., 1968,p. 252).

CAMPEIRAO, s. e adj. Homem muito campeiro, profundo conhecedor da lida


de campo.

CAMPEIRADA, s. Poro de campeiros, pees ou empregados de estncia.

"De lao e bolas nos tentos


Pronta a lesta campeirada,
Ej nos pingos montada,
Dividida em vrios grupos,
Segue rumo diferente,
s ordens do capataz."
(Taveira Jnior, Provincianas).

CAMPEIRAGEM, s. O ato de executar servios de campo. Ato de campeirar.


// Conjunto de campeiros. // Var.: camperagem.

" atorada da campeiragem respondia, atordoante, como um grande


coro selvtico, o ladrar bravio dos ces, acuando de perto a novilha"
(A. Maia, Runas Vivas, Porto, Lello & Irmo, 1910,p. 114).

CAMPEIREAR, v. Trabalhar com o gado, no campo.

CAMPEIRO, s. e adj. Pessoa que executa com habilidade os servios de


campo, que monta bem, que vive e trabalha no campo, que entende de tudo
o que se relaciona com a criao de gado. // Aplica-se tambm aos
objetos de uso no campo ou apropriados para trabalhos de campo: freio
campeiro, botas campeiras, chapu campeiro, aos animais do campo: veado
campeiro. O campeiro do Sul equivale ao vaqueiro do Norte.

"E o bravo campeiro


No potro bizarro,
Folheiro se ostenta
Fumando o cigarro."
(Taveira Jnior, Provincianas).

CAMPERAO, s. O mesmo que campeirao.

"Era um homem de respeito,


Trabalhador, camperao;
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1978, p. 37).

CAMPERAGEM, s. O mesmo que campeiragem.

CAMPEREADA, s. Excurso pelo campo para verificar a situao do gado, ou


para recolher determinadas reses. Ato de camperear. O mesmo que campear.

CAMPEREAR, v. Percorrer o campo verificando as condies do gado, ou


procurando alguma rs. Campear.

CAMPEREIO, s. Ato de camperear.


CAMPESTRE, s. Pedao de campo cercado de mato. Clareira gramada.

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"Desembocou num campestre, de gramado fofo, que tinha um cheiro


doce que ele no conhecia." (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do
Sul, P.A., Globo, 1973, p. 163).

CAMPO, s. Nome dado s extensas pastagens, apropriadas criao de


gado, existentes no Rio Grande do Sul. Campina. (V. as expresses abrir
campo fora, cortar campo, estar o no campo fora, largar campo fora,
queimar campo, sair campo fora, etc.).

"Corre, triste, o trem pela estrada.


Para trs tudo ao longe vai ficando:
verdes campos bordados de saudade,
velhas matas e pssaros cantando."
(Carmem Vianna, Vento Verde,
P.A., Centro de Poesia e Artes do
R.G.S., 1965, p. 65).

CAMPO ARTIFICIAL, s. Campo cuja pastagem foi plantada pelo homem.

CAMPO COBERTO, s. O mesmo que campo sujo.

CAMPO DA NOSSA SENHORA, s. Campo cujo proprietrio desleixado, no qual


os animais alheios pastam livremente como se estivessem em logradouro
pblico.

CAMPO DE AREIA, s. Campo em que o solo de areia, no produzindo boa


pastagem.

CAMPO DE LEI, s. Campo de tima qualidade.

CAMPO DOBRADO, s. Campo com altos e baixos, com coxilhas e plancies,


como so, em geral, os campos de Cima da Serra.

CAMPO FINO, s. Campo de boa pastagem.

CAMPO FORA, expr. V. sair campo fora.

CAMPO FROUXO, s. Campo de fraca lotao, que comporta pouco gado, que
no d bom engorde.

CAMPO GROSSO, s. Campo de macega spera e dura.

CAMPO LIMPO, s. Campo sem vassouras ou outros inos.

CAMPO NATIVO, s. Campo primitivo, que no foi plantado. O mesmo que


campo natural.

CAMPO NATURAL, s. O mesmo que campo nativo.

CAMPOS NEUTRAIS, s. Faixa de campos do litoral, entre a Lagoa Mirim e o


mar, desde o Taim at o Arroio Chu, compreendendo parte do municpio de
Rio Grande e todo o de Santa Vitria do Palmar. Essa rea, em vista de
tratado entre a Espanha e Portugal, era considerada neutra, no havendo
sobre ela nenhuma soberania.

CAMPO PARELHO, s. Campo plano, sem ondulaes muito sensiveis.

CAMPO SUJO, s. Campo inado de vassouras e de outros vegetais de pequeno


porte, alm da macega. O mesmo que campo coberto.

CAMUNHENGUE, adj. Leproso.

CANA, s. Cachaa, aguardente de cana-de-acar. O mesmo que caa.

CAA, s. O mesmo que cana.

CANA DE RDEA. s. Tira de guasca de cada uma das rdeas. As canas das
rdeas podem ser trabalhadas, tranadas ou torcidas. Podem ser feitas,
tambm, de sedenho ou de outro material.

CANALETA, s. Pequeno canal ou rego em que corre gua.

CANARINHO, s. Espcie de canrio, procedente, segundo parece, da Ilha da


Madeira.

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CANCHA, s. Lugar plano, com vrias quadras de comprimento por algumas


braas de largura, com duas trilhas, preparado especialmente para
corridas de cavalos; lugar apropriado para jogar a pla; lugar
apropriado ao jogo da tava ou jogo do osso. // Lugar em que se depositam
os tijolos antes da queima. / Lugar onde se bate a erva-mate antes de
mand-la para o moinho. // Nas charqueadas, lugar onde a rs morta e
esfolada. / Paradeiro habitual de animal ou de pessoa; lugar em que a
pessoa ou animal se sente bem, se sente forte, se sente vontade. /
Campo de futebol. // V. a expresso "abrir cancha." ( vocbulo
quchua).

CANCHALGUA, s. Planta da famlia das Iridceas, Sisyrinchium vaginatom,


utilizada em infuso para tratamento dos rins e da bexiga. (Para
Cezimbra Jacques, o nome desta grama medicinal vem da lngua Charrua).

CANCHEAO, s. Ato de bater a erva-mate, depois de crestada, at quase


reduzi-la a p.

CANCHEADO, adj. Diz-se do mate picado em pedacinhos muito pequenos.

CANCHEADOR, s. Instrumento usado para canchear o mate. // Pessoa que


cancheia a erva-mate.

CANCHEAR, v. Triturar, moer, bater as folhas de erva-mate, depois de


secas no carijo, reduzindo-as a pedacinhos muito pequenos. Para esse
trabalho usa-se um faco de pau.

CANCHEIRO, adj. Diz-se do cavalo j habituado a correr nas canchas,


treinado, adestrado para correr em canchas. // Por extenso, aplica-se
ao indivduo que tem prtica de determinado trabalho; que executa, com
desembarao e habilidade, determinadas tarefas. // s. Empregado
encarregado de cuidar das canchas.
CANCOROSA, s. Erva medicinal (Yodina rhombifolia), usada interna e
externamente para o tratamento de feridas em geral.

CANDEEIRO, s. Carreiro. Homem que, de aguilhada ao ombro, segue adiante


do carro de bois, como que ensinando-lhes o caminho. // Candieiro.

CANDIEIRO, s. Pequena lmpada de folha, para alumiar, afunilada,


abastecida com querosene ou leo vegetal, antigamente muito usada na
campanha. Candeeiro. Lamparina. // Os tradicionalistas rio-grandenses
consideram esse pequeno utenslio um smbolo de gauchismo, e, nas festas
cvicas em que se comemora a revoluo farroupilha, na Semana Crioula,
o candieimo utilizado como pira votiva que permanece acesa, no galpo ou
na praa pblica, durante o tempo de realizao das solenidades. Nome de
uma variedade de bailes campestres a que geralmente chamam fandango.

CANDIERO, s. O mesmo que candieiro.

CANDIL, s. Denominao, pouco usada, de candieiro.

CANDINHA, s. O povo em geral, a populao, a gente, indeterminadamente.


Usa-se somente na expresso filhos da Candinha.

CANDOMBE, s. Candombl, dana africana.

CANDONGA, s. Ao do candongueiro.

CANDONGUEAR, v. Fugir o cavalo com a cabea quando se quer enfren-lo,


pr-lhe o bual, tos-lo. // Aplica-se s pessoas, no sentido de
tornar-se mesquinho, manhoso, arteiro, esquivo, inquieto, impaciente,
questionador por

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coisas sem importncia.

CANDONGUEIRO, adj. Aplica-se ao animal manhoso que foge com a cabea


quando se quer por-lhe o freio, o bual, ou tos-lo. // Diz-se do
indivduo mesquinho, manhoso, arteiro, esquivo, inquieto, impaciente,
que questiona por coisas sem importncia.

"A Tudinha era a chinoca mais candongueira que havia por aqueles
pagos." (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo,
1973,p. 13).

CANELA, s rvore abundante no Rio Grande do Sul e da qual existem muitas


variedades.

CANELUDO, adj. Diz-se do indivduo ou do animal que tem as canelas muito


compridas ou grossas.

CANGA, s. Pea de madeira em que se colocam os bois para puxar a carreta


ou para fazer andar o engenho.

"O sol vai se levantando


na coxilha do rodeio,
at parece um boi manso,
redondo, bem amarelo,
puxando a canga, sozinho,
do dia que vem chegando."
(Laci Osrio, Legendas, P.A.,
Cadernos Horizonte, 1953,p. 16).

CANGALHA, s. Pea de trs paus, unidos em tringulo, que se coloca no


pescoo dos porcos e de outros animais, para que no possam atravessar
as cercas que protegem as reas cultivadas. Pea do arreamento do animal
de carga, constante de uma armao de madeira acolchoada internamente
com bastos feitos de uma palha denominada tiririca.

CANGAR, v. Colocar os bois na canga.

CANGAR-SE, v. Casar, constituir familia.

CANGERANA, s. rvore de porte elevado apropriada para a feitura de


dormentes, postes e vigas (Cabralia cangerana).

CANGOTE, s. Deturpao de cogote. Nuca, pescoo, congote, cachao. V. a


expresso estar de cangote duro ou estar de cangote grosso.

CANGOTILHO, s. Cogotilho. Touso que se faz nas crinas do animal


acompanhando a curvatura do pescoo. Quando o touso vai s at a metade
do pescoo se denomina meio-cangotilho.

CANGOTUDO, adj. Que tem o cangote grosso. Cogotudo.

CANGUARA, s. Cachaa, aguardente, canha, cana.

CANGURRAL, s. Vegetao arbustiva, nociva s pastagens.

CANHA, s. Cachaa, aguardente, canguara, cana.

CANHADA, s. Vale, baixada entre coxilhas ou serras.

"...e desapareceu na canhada, onde os olhos de Belinha o


perderam de vista." (E. Contreiras Rodrigues, Amores do Capito Paulo
Centeno, P.A., Globo, 1937, p. 81).

CANHADO, s. Canhada grande, funda, extensa. V. a expresso atirar-se,


ir, despenhar-se, por um canhao abaixo.

CANHAMBORA, s. Escravo fugitivo.

CANHONAO, s. Fato ou notcia de grande repercusso.

CANHOTO, s. Pea de madeira ou de ferro que, nos engenhos de serrar


madeira, adaptada ao mancal de uma polia, transmite o movimento desta,
transformando-o em movimento de ascenso

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da serra.

CANINANA, s. Nome dado a uma das maiores cobras do Rio Grande do Sul. No
venenosa. conhecida tambm por papa-pinto ou parelheira.
CANINHA, s. Aguardente de cana-de-acar, cachaa, canha, cana,
canguara, etc.

CANJICA, s. Espcie de sopa de milho descascado e quebrado que se come


geralmente com leite e acar ou rapadura. usada, tambm, como comida
de sal, cozida com charque.

CANJICAS, s. Os dentes. V. as expresses estar com as canjicas de fora e


mostrar as canjicas.

CANSO, adj. Diz-se do cavalo que cansa com facilidade.

CANTAGALO, adj. Diz-se de certa maneira de atar a cola do cavalo.

CANTAR A BUENA DICHA, expr. Descompor, dizer as verdades. O mesmo que


cantar a tirana.

CANTAR A TIRANA, expr. O mesmo que cantar a buena dicha.

CANTAR DE GALINHA, expr. Diz-se do galo de briga, quando vencido e se


comporta como galinha.

CANTAREM OS FERROS, expr. Tinirem as armas brancas no combate, na briga.

"Quando eu cheguei na bodega,


tinha acabado a refrega,
no cantavam mais os ferro.
Contando tudo por junto
havia quatro defunto:
dois home, um gato e um perro."
(ZCN).

CANTAR O FACO, expr. Entrar em usou faco, na briga.

CANTINA, s. Estabelecimento vincola.

CANTO CHORADO, s. V. a expr. trazer de canto chorado.

CANTORINA, s. Cantiga, cantilena.

CANXEAO, s. O mesmo que cancheao.

CANZ, s. Instrumento musical que consiste em uma taquara na qual se


praticam regos transversais e que se faz soar passando por eles uma
varinha do mesmo material. usado pelas crianas e serve tambm para
tocar nos batuques.

CANZIL, s. Cada um dos dois paus existentes em cada ponta da canga,


entre os quais colocado o pescoo do boi. O canzil feito de madeira
resistente e muitas vezes utilizado tambm como arma.

CANZURRAL, s. Mato composto de pequenos arbustos, prejudicial ao


desenvolvimento das pastagens.

CAOLHO, adj. Zarolho, vesgo, torto de um olho.

CAPA, s. Capadura, capao, castrao. V. touro de capa. // Parte da


sela que protege as pernas do cavaleiro do contato com o cavalo.
"... quando, para as marcaes e a capa de touros, paravam o
rodeio do fundo, fronteiro ao Posto." (A. Maia, Runas Vivas, Porto,
Lello&Irmo, 1910,p.33).

CAPAO, s. Capa. Capadura. Castrao. Ato de castrar os animais. poca


em que se procede a essa operao.

CAPADETE, s. Porco castrado, ainda no cevado.

CAPADO, s. Porco castrado. Carneiro ou bode castrado.

CAPADURA, s. Cicatriz proveniente da capao. // Capa, capao,


castrao. // A regio escrotal do animal. // V. a expresso estar de
capadura ou estar de

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capadura cada.

CAPANGA, s. Indivduo valente e devotado a uma pessoa importante, em


geral fazendeiro ou poltico, que o toma a seu servio para
guarda-costas ou para enfrentar inimigos quando necessrio.

CAPANGADA, s. Conjunto de capangas.

CAPO, s. e adj. Diz-se de ou o animal capado. // Indivduo fraco,


covarde, vil, pusilnime. // Pequeno mato isolado no meio do campo.
(Etim.: Do guarani coei, mato, bosque, e pa, ilha, ou seja, ilha de
mato).

CAPAR DE MACETE, expr. Castrar sem extrair os testculos, desligando-os


com uma pancada de macete na parte superior do escroto.

CAPAR DE VOLTA, expr. Castrar por inverso dos testculos. // Inutilizar


os planos de algum.

CAPAR NA MARCA, expr. Castrar o animal na ocasio em que ele marcado.


O sistema de capar na marca tem adeptos e opositores, pois alguns
criadores acham que sendo o animal muito novo na ocasio da marcao seu
desenvolvimento pode ser prejudicado pela falta dos testculos.

CAPATAZ, s. Administrador de uma estncia ou de uma charqueada ou ainda


o responsvel pela conduo de uma tropa. Pessoa que, nas lides
pastoris, incumbida de chefiar o pessoal. V. a expr. talho de capataz.

"E ele, Prudncio, era capataz. Capataz, veja bem. Acima dele s
o Patro mesmo. Tinha que lidar com os ndios brutos, xucros, muitas
vezes bandidos, gente que matava um dando uma risada. Capataz de
estncia grande a pior vida do mundo. E o primeiro que se levanta -
para dar as ordens - e o ltimo que se deita - para ver se foram
cumpridas. Trabalha como qualquer peo e ainda tem que cuidar do
trabalho dos outros. E se alguma coisa sai errada - Capataz relaxado!"
(Antnio Augusto Fagundes, Destino de Tal, p. 70).

"ecoava, sonorosa,
a gargalhada gostosa
do capataz Odorico!"
(R.C.N., Caada em Mato Grosso).

CAPATAZAR, v. O mesmo que capatazear.

CAPATAZEAO, s. Ato de capatazear.

CAPATAZEAR, v. Exercer as funes de capataz. Var.: Capatazar.

CAPELISTA, s. Habitante de capela ou povoao. Designao antiga dos


moradores de Viamo, no Rio Grande do Sul.

CAPELOA, s. Mulher que puxa o tero no cemitrio. (Voc. registrado por


Arthur Ferreira Filho, in Narrativas de Terra e Sangue, P.A., Ed. A
Nao, 1974,p. 115).

CAPENGA, s. e adj. Indivduo que tem uma das pernas mais curta. Coxo,
manco.

CAPENGAR, v. O mesmo que capenguear.

CAPENGUEAR, v. Coxear, mancar. Var.: Capengar.

CAPETAGE, s. Requebro, momice, negao.

CAPIM, s. Nome comum s diversas espcies de gramas e ervas rasteiras


existentes nos campos de criao.

CAPINA, s. Mondadura, limpeza feita com a enxada nas plantaes. O mesmo


que capinao. // Repreenso, admoestao, censura.

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CAPINAO, s. O mesmo que capina, no sentido de limpeza feita com


enxada.

CAPINADEIRA, s. Mquina agrcola destinada capina das plantaes.


Carpideira.

CAPINADOR, s. Pessoa que capina. Mondador, carpidor.

CAPINAR, v. Limpar o terreno ou a lavoura, com a enxada ou com a


capinadeira, segando as ervas ms que se pretende destruir.

CAPINCHO, s. O macho da capivara. Filhote de capivara.

CAPITANIA DEL REI, s. Antiga denominao do Estado do Rio Grande do Sul.

CAPITANIA DE SO PEDRO, s. Antiga denominao do Estado do Rio Grande do


Sul.

CAPITO-DO-MATO, s. Autoridade incumbida de prender os pretos cativos


que fugiam, no tempo da escravatura.

CAPIXUIM, s. Palavra da gria militar antiga, significando repreenso,


descompostura.

CAPOEIRA, s. Local em que existiu uma roa, e que, abandonado, se cobriu


de vegetao arbustfera. // Tiguera ou tigera. // Gaiola usada para o
transporte de aves.

CAPOEIRO, s. Aumentativo de capoeira. Capoeira em que os arbustos j


adquiriram grande desenvolvimento.

CAPONADA, s. Conjunto de capes (mato). Conjunto de capes (animais


castrados: carneiros, cabritos, porcos, aves; no se aplica em relao
aos vacuns, eqinos e muares).

CAPONETE, s. Pequeno capo, matinho.

"Quando Piedra Sola apareceu, deixado por morto a um clarear do


dia, sangrando e mutilado beira de um caponete, houve muita indignao
para o brbaro crime..." (Aureliano, Memrias do Coronel Falco, P.A.,
Ed. Movimento, 1974, p. 198).

CAPOROROCA, s. Ave branca, semelhante ao cisne,da famlia dos Anatideos,


que habita o Rio Grande do Sul. // rvore cuja madeira de pouco valor.

CQUI, s. Fruto do caquizeiro. (A palavra, no Rio Grande do Sul,


paroxtona, sendo oxtona nos demais Estados).

CAQUIZEIRO, s. rvore frutfera, de origem japonesa, que produz o cqui.

CAR, s. Nome de uma das variedades de bailes campestres.

CARACA, s. Rugas que aparecem na base dos chifres dos vacuns que vo
envelhecendo.

CAR-CAR, s. Carancho, ave de rapina. ( vocbulo guarani).

CARACAX, s. Chocalho, espcie de reco-reco, com que se entretm as


crianas.

CARACO, interj. Exprime surpresa, admirao. (Do esp. carajo).

CARACU, s. Designao dada ao osso da rs que contm o tutano. // Em


sentido figurado, resistncia, coragem. // Raa crioula de gado bovino,
de plo curto e liso.

CARA DE TERNEIRO MAMO, expr. Diz-se da pessoa de boca mole, com cara de
boba.

CARAF, s. Cricima.

"A forma caraf exclusiva das misses, no Rio Grande do Sul."


(Mozart Pereira Soares, Erva Can-

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cheada, P.A., Edies Querncia, 1963,p. 126).

CARAGUAT, s. Gravat. Planta filamentosa muito comum em todo o Rio


Grande do Sul.

CARAGUATAL, s. O mesmo que caraguatazal.


CARAGUATAZAL, s. touceira de caraguats. Area coberta de caraguats. O
mesmo que caraguatal.

CARAJA, s. Espcie de taquara cuja rama se conserva sempre verde. O j


desta palavra se pronuncia espanhola, com som gutural. // Bugio.

CARAJAZAL, s. Area coberta de carajs.

CARAJO, intetj. Exprime admirao. Oj gutural. Tem o mesmo sentido de


caramba.

CARAMBA, interj. Serve para exprimir espanto, entusiasmo, admirao:


"Caramba! Que mulher bonita!" Tem o mesmo sentido de carajo!,
barbaridade!, puxa!.

CARAMINGUS, s. Arreios velhos, muito ordinrios, quase sem prstimo. //


Cacarecos, badulaques, coisas de pouco valor. // Dinheiro mido e
escasso.

CARAMURU, s. e adj. Denominao que os republicanos de 1835 davam aos


legalistas. O mesmo que camelo e galego.

"H muito lombilho novo


Carona de couro cru,
Pois j vai chegando o tempo
De encilhar caramuru"
(Apollinrio Porto Alegre, Can cioneiro
da Revoluo de 1835, P.A.,
Globo, 1935, p. 68).

CARANCHEAR, v. Ir a festas e divertimentos sem ter sido convidado. //


Tirar e comer pequenos pedaos de churrasco que est sendo assado.
Trabalhar, em oficinas tipogrficas, em muito servio, sem ser empregado
efetivo.

CARANCHO s. O mesmo que car-car, ave de rapina muito comum nos campos
do Rio Grande do Sul. // Pessoa que vai a festas e divertimentos sem ter
sido convidada. // Indivduo que entra de graa em baile onde
obrigatrio o pagamento de ingresso. // Jogador excedente, em roda de
jogo de nmero de parceiros limitado, que fica aguardando oportunidade
de substituir algum dos jogadores em possveis impedimentos.

"Siriri passarinho
que peleia com carancho,
por isso quando me prancho
a te lembrar fachudaa! -
sinto inveja da fumaa
da chamin de teu rancho!"
(Lauro Rodrigues, A Cano das
Aguas Prisioneiras, P.A., Martins
Livreiro-Editor, 1978, p. 85).

"Aos poucos foi o Chimango


Se perpassando a carancho,"
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
P.A., Editor, 1978, p. 46).

"E os poderosos desses mundos,


vidas garras de caranchos,
prontos ao golpe inerme presa,
fecham os olhos tristeza
que ronda as horas desses ranchos."
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1981, p. 83).

CARA-NEGRA, s. e adj. Ovino de cara preta.

CARANGUEJO, s. Dana antiga no Rio Grande do Sul, provavelmente de


origem aoriana. Ainda se canta, no Estado, alguns de seus versos:

"Caranguejo no peixe,

92

Caranguejo peixe ,
Caranguejo s peixe.
Na enchente da mar."

CARO, s. Admoestao, repreenso, censura. // Negativa de um pedido de


casamento ou de um convite para danar. / V. as expresses dar caro e
levar caro.

CARANO, adj. Diz-se do boi preto muito retinto.

CARA-VOLTA, s. Volta instantnea para trs, meia volta. Meno de


voltar, de tornar para trs. / Partido que um dos carreiristas d ao
outro e que consiste em ficar o seu cavalo voltado em direo contrria
do lao de chegada, por ocasio da sada.

"No mesmo instante deu cara-volta no pingo, esporeou-o de leve,


e a galopito retornou para o Posto de seus cuidados." (Luiz Carlos
Barbosa Lessa, O Boi das Aspas de Ouro, P.A., Globo, 1958, p. 26).

CARA-VOLTA E LUZ, expr. Vantagem que se d, em carreira de cavalos, e


que consiste em ficar o parelheiro que d a vantagem voltado para trs,
no partidor, e, ainda, para ganhar a corrida, ser obrigado a fazer luz.

CARCHEADA, s. Pilhagem, carcheio.

CARCHEADOR, s. Ladro de gado, pessoa que pratica carcheio, que furta,


que rouba.

CARCHEAR, v. Roubar, furtar, despojar, apoderar-se indevidamente de


animais e coisas alheias, por ocasio das revolues, pretextando
necessidades militares.

"E, agora, voltando, traz


tarequeiras que um espanto.
Peleou e venceu... o que eu digo:
Como era rico o inimigo!
se o vencedor carcheou tanto..."
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, P.A., Martins Livreiro-
Editor, 198l.p. 126.
CARCHEIO, s. Ato de carchear. Furto, roubo, praticado quase sempre nos
tempos de revoluo. Ato de despojar os vencidos ou mortos dos valores
que tinham em seu poder. Qualquer modo sumrio, como por exemplo o jogo,
de apoderar-se dos bens alheios.

"E gritaro que um carcheio,


Que lingia, que mau jogo!"
(Zeca Blau, Trovas da Estncia do
Abandono, P.A., Grafipel, p. 76).

"E atravs da campanha invadida


e deserta, a vingana e o carcheio
eram o rasto dos bandos sanguissedentos..."
(A. Maia, Alma Brbara,
RJ, Pimenta de Melo & C.,
1922, p. 98).

CARDO-SANTO, s. Planta medicinal, da famlia das Papaverceas. (Argemone


mexicana).

CAREAR, v. Por os galos de rinha cara a cara, quando j se encontram


exaustos, para que continuem a briga.

CAREIO, s. Ato de carear.

CAREPA, s. Caspa, erupo cutnea. V. a expresso levado da carepa.

CARGOSEAR, v. Discutir com teimosia e jactncia. Teimar. // Contar


proezas fantsticas. / Importunar, perseguir, blasonar, cacetear,
prosear, insistir, implicar com algum, fazer corte insistente a algum.
// O mesmo que gargosecar.

CARGOSO, adj. Teimoso, importuno, impertinente, renitente, opinitico,


blasonador. O mesmo que gargoso.

"E at um garniz cargoso


vai rebolando orgulhoso

93

o soveuzito feioso
feito de couro com plo."
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1981, p. 17).

CARGUEIREAR, v. Trabalhar com animais cargueiros. Transportar carga em


animais cargueiros. Meter coisas em cargueiro. "Comeou-se a cargueirear
de tudo: panos, guas de cheiro, armas, minigncias, remdios, o diabo a
quatro..." (Simes Lopes, Contos Gauchescos).

CARGUEIRO, s. Animal utilizado para conduzir cargas, em geral muar. //


Pessoa que monta mal, que no sabe andar a cavalo.

CARGUINCHO, s. e adj. Carquincho. Magro, seco, enrugado, encarquilhado.


CARIBOCA, s. Mestio de sangue ndio e europeu.

CARIJADA, s. Carga de erva-mate comportada pelo carijo para o trabalho


de secagem.

CARIJO, s. Denominao dada a um jirau de varas destinado secagem da


erva-mate.

CARIJ, adj. Diz-se da ave pedrez.

CARIMBOTO, s. Alcunha depreciativa que os farrapos davam aos legalistas,


O mesmo que absolutista, camelo, caramuru, corcunda, galego,
restaurador.

CARNADURA, s. V. as expresses boa carnadura e m carnadura.

CARNAL, s. Lado do couro que est pegado carne do animal.

CARNEAO, s. Ato de carnear.

"Era dia de carneao, para os agregados do Posto" (A. Maia,


Runas Vivas, Porto, Lello & Irmo, 1910,p. 109).

CARNEADEIRA, s. Faca especial para carnear.

CARNEADOR, s. Indivduo encarregado de carnear. Magarefe. Carniceiro.


Empregado de charqueada incumbido de desmanchar a rs abatida.

CARNEAR, v. Matar, esfolar e esquartejar a rs destinada a consumo


imediato ou ao preparo de charque.

CARNEIRA, s. Ovelha. (Desus.).

CARNIA, s. Rs morta, em estado de putrefao, abandonada no campo. //


Animal morto. // Lugar onde se carneou e onde ficaram o sangue e outros
restos da rs abatida.

"De uma velha carnia


abu-se um corvo
demandando uma pousada."
(Edmar Pery Mendes de Castro,
Antologia da Estncia da Poesia
Crioula, P.A., Sulina, 1970, p. 105).

"Eram gavies, corvos e caranchos. Certamente rondavam uma


carnia, e a carnia era ele." (Cyro Martins, Paz nos Campos, P.A.,
Globo, 1957, p. 238).

CARNUDO, adj. Diz-se do animal em estado mdio, que no est gordo nem
magro.

CARONA, s. Pea dos arreios, constituda de uma sola ou couro, de forma


retangular, geralmente composta de duas partes iguais cosidas entre si,
em um dos lados, a qual colocada por cima do baixeiro ou xergo, e por
baixo do bombilho, e cujas abas so mais compridas que as deste. //
Carne magra e dura. // Conduo obtida gratuitamente. // V. as
expresses andar pelas caronas, levar carona, mundo e carona, no
agentar carona ou no agentar carona dura, tomar carona e comer
carona.
94

"Todos biam satisfeitos;


Tiram logo umas milongas,
Rudes, broncas de seus peitos;
Puxam causos, falas longas;
Depois deitam, sob a quincha,
Nas caronas, sem delongas,
E ali mesmo o sono os cincha."
(Padre Pedro Lus, O Gnio do
Pampa, Santa Maria, Ed. Palotti,
1955,p. 108).

"E exemplarmente solidrio com o meu desconforto, ajeitou-se


numa carona, e comeou a chupar, com excessivo prazer, um chimarro
proletrio." (Aureliano, Memrias do Coronel Falco, P.A., Ed.
Movimento, 1974,p. 204).

CARONA-BAIXEIRA, s. Segunda carona, em geral de couro cru, que alguns


campeiros usam sob a primeira.

CARONAO, s. Pancada, golpe com a carona.

CARONEADO, adj. Ludibriado, cansado, estafado.

CARONEAR, v. Bater no animal com uma carona. // Dar ao animal trabalho


excessivo. // Enganar, ludibriar, preterir.

CARPA, s. Barraca, tenda de campanha, lugar onde se joga.

"Dentro de uma carpa foi assassinado pelo prprio filho por


questes de jogo." (Darcy Azambuja, No Galpo, p. 137).

CARPETA, s. Jogo, jogatina; casa onde se joga; a mesa de jogo; pano que
cobre a mesa de jogo.

CARPETEADOR, s. e adj. O mesmo que carpeteiro e carpetista.

CARPETEAR, v. Freqentar carpetas, jogar.

CARPETEIRO, s. e adj. Jogador, o que tem o vcio de jogar. O mesmo que


carpeteador e capetista.

CARPETISTA, s. e adj. O mesmo que


carpeteador e carpeteiro.

CARPIO, s. Capina.

CARPIDEIRA, s. Mquina agrcola destinada capina das plantaes.


Capinadeira.

CARPIDO, s. Cancha de carreira.

CARPIDOR, s. e adj. Pessoa que pratica a carpio.

CARPIM, s. Meia de homem. Meias curtas para homens e para crianas.


(Usa-se em geral no plural).

CARPINTEIRO-DA-COSTA, s. Minuano.

CARPINTEIRO-DA-PRAIA, s. Vento do sudoeste, sempre acompanhado de chuva.


Minuano sujo, pampeiro.

"Sabe a lua que pra peixe


o vento se carpinteiro,
sabe mil causos que ouviu
do pescador, seu parceiro.
S no sabe ser criana
porque foi velho primeiro."
(Gilberto Carvalho, Negro da Gaita,
Prodeco Ltda., P.A., 1981, p. 35).

CARPIR, v. Capinar, limpar as hortas e lavouras, trabalhar com a enxada.


(Com o significado de lamentar-se, este verbo pouco usado no Rio
Grande do Sul).

CARQUEJA, s. Planta medicinal da famlia das Compostas.

CARQUINCHO, adj. Magro, enrugado, encarquilhado, seco. O mesmo que


corquincho.

CARQUINHA, adj. Diz-se do velho ou velha encarquilhados.

CARRABOIAL, s. O mesmo que carraboual.

CARRABOUAL, s. Ladeira penhascosa.

95

Var.: corraboial.

CARRADA, s. Carga completa de um carro ou de uma carreta. V. a expresso


ter carradas de razo.

CARRAMANCHO, s. Caramancho.

CARRAPATAL, s. Campo em que abundam os carrapatos.

CARRAPATAR-SE, v. Agarrar-se com toda a fora.

CARRAPATEADO, adj. Diz-se do bovino que est imune de carrapato.

CARRAPATEAR, v. Proteger o animal dos carrapatos por meio de


carrapaticidas.

CARRAPICHO, s. Erva daninha dos campos cujos frutos munidos de acleos


se apegam l das ovelhas e ao plo e crina dos animais.

CARRAPICHO-RASTEIRO, s. Planta empregada contra a blenorragia.

CARRASQUENTO, adj. Diz-se do mato espinhoso, enfezado, de vegetao sem


valor.
CARREGAO, s. Utilizado na expresso de carregao, que significa de
qualidade inferior.

CARREIRA, s. Corrida de cavalos, em cancha reta. Quando participam da


carreira mais de dois parelheiros, esta toma o nome de penca ou
califrnia. // Carreiramento, carreirada.

"- Eu s gosto de carreira em cancha reta.


Muito mais divertido.
Ele se recorda bem e, depois, o Horcio e o Clementino falam
muito nessas carreiras. Sempre saem brigas. O Horcio conheceu um
sujeito muito esperto, que armava botequim numa barraca ao lado da
cancha. A barraca, bebidas, copos iam numa carroa, puxada por um
cavalinho de plo pelado aqui e ali. Depois das corridas principais,
atam-se carreiras menores. O sujeito sempre achava quem quisesse correr
com o seu matungo de plo pelado. Quantas corresse, quantas ganhava: o
espertalho disfarara em matungo puxador de carroa um parelheiro..."
(Dyonlio Machado, Os Ratos).

"Deu-se, afinal, a largada


E os pingos na disparada
Levantaram muita poeira -
Em quadra e meia o tordilho,
Correndo firme no trilho,
J resolveu a carreira."
(Jacyr Menegazzi, Carreira).

CARREIRADA, s. Carreira, carteiramento. // Reunio para a realizao de


carreiras.

"Carreirada
Fui a uma carreirada
L na raia do Feitio
Ia se bater um cuera
Com meu potrilho mestio.

Caramba barbaridade
Me bateu o corao
Botei a mo no relgio
J eram horas pois no.

Quando eu cheguei na raia


Avistei meu contendor
Puxando seu parelheiro
Pra o lugar do partidor.

Os cavalinhos partiram
Co a ligeireza do raio
Gritei mais cinqenta facho
Na luz do potrilho baio.

Escute meu companheiro


Eu lhes digo como foi
No var da quadra e meia
Era luz de cont boi.

Gritaram que no pagavam


Que tinha sido lingia
96

Num desrespeito ao juiz


Num menospreso justia.

Quebrei meu chapu na testa


Puxei o faco pra diante
Como que vocs no pagam
Su patota de tratante.

Dei facada e cortei negro


Como quem lanha toicinho
Afinal correram todos
Fiquei peleando sozinho."
(Dcima recolhida por Nara Ana
Osrio Marques em So Francisco
de Paula).

CARREIRA DE MAU JOGO, expr. Corrida de cavalos em que permitido


atrapalhar o competidor, excludo, em geral, o direito de segurar-lhe as
rdeas. Podem os corredores segurar a cola do cavalo adversrio e, com
um pucho, atravess-lo na cancha antes do lao de chegada, empurr-lo
para fora do trilho por cima de vassouras e de cupinzeiros, bem como
praticar qualquer ato que prejudique sua carreira.

CARREIRA DE UM CAVALO S, expr. Carreira ganha com grande facilidade.

CARREIRA ENCARDIDA, s. Corrida de cavalos muito parelhos, cujo resultado


difcil de ser previsto.

CARREIRA GRANDE, s.A carreira principal, em uma carreirada.

CARREIRAMENTO, s. Carreira, carreirada.

"s. Disputa entre animais em corrida em campo raso. o esporte


predileto dos habitantes das nossas campinas- Divertimento ao ar livre,
concorre pata o fortalecimento dos nossos patricios, e para o
desenvolvimento da criao cavalar. As carreiras se efetuam na pista
denominada cancha. Ordinariamente essa pista no menor de quadra e
meia (uma quadra tem 132 metros). Outrora corriam-se 20 quadras e mais.
Notam-se na cancha: o partidor ou local da sada;o lao de chegada ou
ponto final do tiro a ser corrido; as balizas de sada e as de chegada,
isto , marcas que determinam o comeo da cancha ou o fim do tiro. No
geral correm s dois cavalos, cada um no seu trilho. Em uma mesma
carreira podem-se assinalar diversos tiros. Assim, por exemplo, comum
haver lao na quadra e meia, nas duas, etc ... At o final. Nesses
laos h um julgador ou juiz para cada partida. Assim tambm h o juiz
de partida cujo encargo verificar, a, o cumprimento de todas as
condies da carreira. A cancha pode ser perfeitamente plana, ou
inclinada (cancha a subir e cancha a descer), o mesmo trecho em aclive e
trechos em declive. O tiro pode ser curto ou largo (comprido).
Entende-se por tiro curto o de quadra e meia a trs quadras, e da em
diante, tiro largo. Momentos antes da hora marcada para o incio da
carreira, os interessados vo cancha proceder sua medida e
balizamento, assinalando visivelmente os laos no terreno, por meio de
balizas ou traos praticados sobre a grama, aps o que os parelheiros
so conduzidos ao partidor. H sempre um contrato escrito ou verbal para
a realizao da carreira. Quando ela de importncia, pelo vulto da
parada, o contrato sempre escrito. Nesse so estipuladas todas as
condies de disputa: parada, peso com o qual corre cada cavalo, dia e
hora, tiro a se correr, o lado em que deve correr cada cava-

97

lo, partidos que se concedem, modo de sada, isto , se vontade dos


corredores ou se obedecendo a certas condies, etc." (Moraes).

CARREIRISTA, s. Proprietrio de parelheiros. Pessoa que se dedica a


corridas de cavalos ou que as freqenta e as aprecia.

CARREIRO, s. Cocheiro, condutor de carruagem (e no de carreta ou carro


de bois). // Trilho deixado pelos animais quando estes habitualmente
transitam pelo mesmo lugar; o carreiro da paca, o carreiro da formiga,
etc. Carreira, fileira, fila; Gaita de dois carreiros, isto , com duas
fileiras de teclas.

CARRETA, s. Veculo tosco e pesado, de duas rodas, grande, com tolda ou


no, puxado por diversas juntas de bois.

"Carreta
Quando ao Rio Grande chegou,
Segundo os tentos da histria
Suas canastras de glria
Foi ela que transportou" ...
(Chico Ribeiro).

"Embora durmas, carreta,


O teu derradeiro sono
Entre o pasto do abandono,
Coberta de solido,
H de erguer-se deste cho
Um altar em tua homenagem
Eternizando tua imagem
No seio da Tradio."
(Vaterloo Camejo, Cinzas do meu
Fogo, P.A., 1966,p. 73).

"Velha carreta esquecida,


desengonada e capenga,
foste a maior andarenga
que o Rio Grande conheceu.
Quase a ningum hoje importas,
no museu das coisas mortas
o Progresso te esqueceu!"
(Apparcio Silva Rillo).

"Da Carreta
Levaste os templos de pedra
para os altos das Misses.
Levaste as armas de guerra
de milcias e Drages
de hericas beligerncias.
Levaste os lares primeiros
e as culturas dos pioneiros
para os foges das Estncias."
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, P.A., Martins Livreiro
Editor, 1981, p. 145).

"Por la falda de la loma


dejando a un costado el monte
dibujando el horizonte
la vieja carreta asoma
pinta el sol su policroma
en las piedras del camino
y a paso lento y cansino
se aieja por el sendero
al grito del carretero
apurando al buey barcino"
(Roberto G. Morete, Por las Huellas
del Recuerdo).

CARRETADA, s. Carga completa de uma carreta.

CARRETAMA, s. Grande nmero de carretas. Var.: Carretame.

CARRETAME, s. O mesmo que carretama.

CARRETO, s. Carreta curta, pequena, puxada por uma nica junta de bois,
usada no servio domstico das estncias. // Veculo reforado, sem
leito, de duas rodas, puxado por muitas juntas de bois, destinado ao
transporte de toros.

CARRETEADA, s. Cada viagem que faz uma carreta.

CARRETEAR, v. Exercer a profisso de carreteiro, viajar com carretas.

CARRETEIRA, s. Estrada que permite a passagem de carretas.

98

CARRETEIRO, s. Pessoa que tem a profisso de viajar com carreta. //


Pescoceiro. // Prato campeiro, constitudo de arroz com guisado de
charque.

"Aninhado na volta do braseiro


Dorme um cusco de plo indefinido,
E a panela de casco j encardido,
Bafejante, requenta o carreteiro."
(Jorge Moraes, Carreta do Destino).

CARRETILHA, s. Carreta pequena, com cobertura de zinco, em geral bem


pintada, puxada por uma s junta de bois, utilizada na campanha para o
transporte de famlias. // Maxilar. CARRINHOS, s. Os maxilares inferior
e superior. Diz-se tambm carretilhas.

CARTEAR, v. Jogar, dar as cartas no jogo.

CARU, s. Inflamao sobre a pele.

CARUMB, s. Jaboti macho; bem desenvolvido.


CARUNCHADO, adj. Imprestvel, em mau estado.

CARURU-DE-CACHO, s. Planta usada contra lceras malignas.

CASA-GRANDE, s. Morada de fazendeiro.

"Denominara-Se outrora, em
tempos de rebeldia e de invaso, a
Casa Grande; fora um estabelecimento glorioso, opulento, quase
feudal." (A. Maia, Runas Vivas,
Porto, Lello & Irmo, 1910, p. 42).

CASAR MAL A FILHA, expr. Meter-se o indivduo em dificuldades das quais


no consegue sair-se bem.

CASAS, s. Sede de uma fazenda de criao.

CASCA-DE-ANTA, s. Planta usada contra dispepsia e clicas intestinais.

CASCARRIA, s. Excremento seco que adere l das ovelhas ou ao plo de


outros animais.

CASCAR-SE, v. Atracar-se, agarrar-se. Iniciar ao: o cavalo cascou-se a


velhacax.

CASCATA DO CARACOL, s. Situada no Parque Estadual do Caracol, em Canela,


RS, esta Cascata, com uma queda d'gua de cento e trinta um metros de
altura, proporciona ao visitante um espetculo de rara beleza.

"Eu canto, no meu poema,


o divinal diadema
de fogo e luz do arrebol!
Mostro, em Gramado e Canela,
a pitoresca e to bela
Cascata do Caracol!"
(Rui Cardoso Nunes, Rodeio
Serrano).

CASCORRIENTO, adj. Diz-se do que est coberto de feridas com cascas. //


Diz-se das ovelhas que tm a l impregnada de excrementos secos.

CASCUDO, s. Bofetada, soco. // Peixe da gua doce, de pele spera.

CASO, s. Histria, conto, narrao, relato, anedota. Causo.

CASQUEIRA, s. V. a expresso levado da casqueira.

CASQUINHA, s. Espcie de doce feito da casca da laranja ou da cidra. //


Avarento.

CASSIA, s. O mesmo que perfumes. (No encontramos o vocbulo empregado


com esta acepo. Teschauer, no entanto, o registra).

CASSUCHA, s. Choupana, casebre (desus.).

CASTELHANADA, s. Grupo de castelhanos. // Dito, exagero de castelhano.

CASTELHANO, s. O natural do Uruguai ou da Argentina. // adj. Relativo ao


99

Uruguai ou Argentina.

CASTILHISMO, s. Doutrina poltica dos seguidores de Jlio de Castilhos.

CATANA, s. V. a expresso meter a catana.

CATERET, s. Dana rural cantada. Tem nome de origem tupi, mas se


mostra, em sua coreografia, bastante influenciada pelos africanos.

CATETO, s. Tipo de milho de cultivo muito antigo no Rio Grande do Sul.

CATETE, s. Tipo de milho parecido com o cateto.

CATIMBAO, s. Cerro que faz parte da Serra do Caver, em Alegrete, Rio


Grande do Sul.

CATINGA, s. Morrinha, mau cheiro.

CATINGA-DE-MULATA, s. Erva cujas razes, em infuso, so utilizadas no


tratamento do reumatismo, em uso externo. Pertence famlia das
Geraniceas. Seu nome botnico Pelargonium zonale.

CATIRA, s. Dana caipira.

CATRAMBIAR, v. Virar de catrmbias, ou seja, levar um tombo, ficando de


pernas para o ar. // Levar a breca.

CATRE, s. Espcie de jangada ou balsa, preparada com madeira destinada


ao uso das populaes da beira do Uruguai e do Ibicu, descidas no tempo
das enchentes. // Cama rstica.

CATURRA, s. O mesmo que caturrita. // Qualidade de banana que chamam


d'gua no Rio de Janeiro.

CATURRITA, s. Variedade de papagaios que andam em bandos, muito daninhos


aos pomares e lavouras.

CATURRITAR, v. Tagarelar, falar em excesso.

CAUDA-DE-SORRO, s. Planta cujo cozimento usado contra inflamaes da


bexiga e da uretra.

CAUDILHEIRO, adj. Relativo a caudilho.

CAULA, adj. Diz-se de pessoa sovina (p. us.).

CAUNA, s. Erva-mate de m qualidade, geralmente muito amarga. (Do tupi


ka'a una, erva negra).

CAUSISTA, s. Contador de causos.

CAUSO, s. Caso, conto, acontecimento, histria, narrativa. (Nos galpes


das estncias gachas, nas longas noites de inverno, beira do fogo,
nunca falta um contador de causos).
CAVACO, s. Contrariedade, acanhamento, aborrecimento. "F. deu o cavaco",
isto , ficou aborrecido, decepcionado.

CAVACOS, s. Pequenos pedaos de charque que ficam espalhados pelo cho,


aps o recolhimento das mantas que se encontravam nos varais, secando ao
sol ou ao vento.

CAVALARIANO, s. Soldado de cavalaria.

CAVALEIRADA, s. Proeza, ao irregular.

CAVALEIREANO, s. O mesmo que cavaleriano.

CAVALERIANO, s. Cavaleiro, ginete, soldado de cavalaria. O mesmo que


cavalariano e cavaleireano.

CAVALETE, s. Pea de madeira apropriada para colocar os arreios. //


Armao de madeira utilizada para serrar lenha.

CAVALHADA,s. Poro de cavalos.

CAVALHADAS, s. Torneio em que doze cavaleiros cristos enfrentam doze


mouros, efetuando diversas escaramuas e provas de equitao, que
terminam, aps propostas de paz, pelo aprisionamento dos campees
mouros.

CAVALINHO, s, Couro curtido de cavalo.

100

CAVALO DADO NO SE OLHA O PLO, expr. Para receber um presente ou


favor no se impem condies.

CAVALO DA PORTA, s. Animal sempre mo para qualquer servio leve da


estncia.

CAVALO DE BRIGAR DE FACA, s. Cavalo de timas qualidades, de agilidade,


de destreza, de boa rdea.

CAVALO DE CEGO, s. Animal de montaria que quer parar em todas as portas,


como se o cavaleiro pretendesse pedir esmolas.

CAVALO DE COMISSRIO, s. A supremacia da autoridade, a razo do mais


forte: O cavalo do comissrio sempre proclamado ganhador da carreira,
embora a tenha perdido, porque a autoridade no pode ficar diminuda com
a derrota.

CAVALO DE LEI, s. Parelheiro muito veloz, capaz de percorrer duas


quadras (264m) em 16 segundos ou menos.

CAVALO DE RDEA NO CHO, s. Cavalo muito manso.

CAVALO DE SE LAVAR COM UM BOCHECHO D'GUA, expr. Cavalo bem nutrido, de


belas formas.

CAVALO DE SE TOUREAR A POLCIA, expr. Cavalo muito bom, de tanta


confiana que, montado nele, se pode enfrentar a polcia sem grande
risco.

CAVALO DE TIRO, s. Animal que se leva a cabresto, para muda ou para


qualquer outro fim.

CAVALO ENCAPADO, s. Parelheiro que usa capa. // Fig.: Parelheiro que,


alm do dono e do tratador, ningum mais sabe a velocidade que tem.

CAVALO-ORELHA-DE-BURRO,s. Cavalo de orelhas grandes e em p.

CAVALO PASSARINHEIRO, s. Animal assustadio, que no merece confiana.

"Mulher sardenta e cavalo passarinheiro, alerta companheiro."


(Ditado popular).

CAVALO-PEITO-DE-POMBA, s. Cavalo de peito saliente.

CAVALO REIONO, s. O mesmo que cavalo reno.

CAVALO REONO, s. Em sentido figurado, pessoa muito humilde a quem todo o


mundo se julga com direito de mandar. O mesmo que cavalo reino.

CAVALO-SEM-CABEA, s. O mesmo que mula sem cabea.

CAVALO SOLTO DE PATAS, s. Animal muito corredor. Excelente parelheiro.

CAVAQUEAR, v. Dar o cavaco, ficar aborrecido ou decepcionado.

CAVOD, s, Orifcio que fica na parede da taipa aps a retirada dos


andaimes.

CAVORTEAR, v. O mesmo que cabortear.

CAVORTEIRO, adj. O mesmo que caborteiro.

CAXERENGUENGUE, s. Faca velha, faca sem cabo, imprestvel, ordinria;


xerengue, xerenga. (Vem, provavelmente, do guarani, kiceringuengue, do
nome kic, faca). Var: caxirenguengue e caxiringuengue.

CAXETA, s. Caixeta. // Figueira brava, Cecropia adenapus.

CAXIRENGUENGUE, s. O mesmo que caxerenguengue.

CAXIRINGUENGUE, s. O mesmo que caxerenguengue.

CEMINTRIO, s. Cemitrio.

"Disse um: Isto est mui triste,


Com ares de cemintrio;"

101

(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,


P.A., Martins Livreiro-Editor,
1978,p. 62).
CENTAURO, s. e adj. Denominao dada, no Rio Grande do Sul, aos gachos
que, nas revolues, peleavam a cavalo.
// Hbil cavaleiro.

"Por isso, amalgamados, esculpidos como num bloco nico, o


cavalo e o homem, que o tem preso ao tenteio das rdeas, reatam na
coxilha, na mais surpreendente das realidades, a existncia mitolgica
dos Centauros." (Roque Calage, O cavalo e o gacho, in Seleta em Prosa e
Verso, de Alfredo Clemente Pinto, 54. ed., P.A., Martins
Livreiro-Editor, 1980,p. 178).

"E ali estavam de novo,


na Praa, por entre o povo,
defendendo seu rodeio,
tendo por Deus os gatilhos,
os dois centauros caudilhos,
aguardando o bombardeio!"
(Rui Cardoso Nunes, poema).

CENTRO DE TRADIES GACHAS, s. Designao de entidades de cultura


nativista, fundadas a partir de 1948, e integrantes do Movimento
Tradicionalista Gacho. Existem vrias centenas dessas entidades, no s
no Rio Grande do Sul, mas tambm em outros Estados da Federao, em que
se radicaram rio-grandenses. (V. CTG).

"Simbolismo retrato, imagem, expresso, cor, voz e pensamento.


Simbolismo este movimento tradicionalista, criando em todas as cidades
do Estado os "Centros de Tradies Gachas", que mantero acesos, tambm
simbolicamente, os foges do nosso cho, sem permitir jamais apagar-se o
esprito da hospitalidade, do cavalheirismo, da honradez, da bondade, da
fora temperada de bravura, apangio e galardo dos homens nascidos
neste bero de grama verde e cortinado de cu azul que o Rio Grande,
nossa querncia, nosso rinco, nossos pagos e, nume tutelar de um
passado de glrias e desafrontas, sentinela avanada do Brasil!" (Ramiro
Frota Barcelos, Tradicionalismo, Conferncia, So Leopoldo, Centro
Cvico Cultural Leopoldense, 1955, p. 20).

"Os cetegs que, espalhados pela imensido dos pampas e das


coxilhas da serra, como bandos de quero-queros vigilantes, deram os
primeiros gritos de alerta em nosso Pago, despertando a Querncia para a
luta em prol da preservao de nosso patrimnio moral e cvico
encontraro neste rgo um companheiro da causa tradicionalista e um
defensor de nossa cultura." (R. C.N., Quero-quero, P.A., 1962, p. 1).

"Nosso folclore, vasto e complexo, a rigor, poderia ter


sucumbido, h muito, pela transformao econmica e social do Rio
Grande, definitivamente engajado no processo desenvolvimentista do
Brasil. Isso, contudo, no ocorreu. O pesquisador pelo qual espero
encontrar msicas, poesias, danas, lendas, trajes, costumes, ditos e
provrbios, vivos, vivssimos, nos Centros de Tradio Gacha. Por
teatrais que paream, esses Centros - com seus artificialismos - tm o
mrito surpreendente de conservar ainda pulsteis pocas j mortas e de
manter acesas as brasas do velho fogo." (Mozart Victor Russomano,
Simes Lopes Neto e Darcy Azambuja, 1975, p. 11-12).

102
CEPO, s. O mesmo que cepo colombiano ou cepo de campanha.

CEPO COLOMBIANO, s. Castigo brbaro que se aplica a um indivduo,


atando-o a um toro ou a um banco, com os membros em posies foradas. O
mesmo que cepo e cepo de campanha.

CEPO DE CAMPANHA, s. Castigo semelhante ao cepo colombiano, usado no


Prata. // Priso para delinqentes, na campanha.

CEPO DE PACINCIA, s. Indivduo muito paciente.

CERCADO, s. Lugar cercado para lavoura.

CERDA, s. Crina.

CERDEAR, v. Tosquiar. Cortar as cerdas do animal. Var.: cerdiar.

CERDIAR, v. O mesmo que cerdear.

CERNOSO, adj. Que tem bastante cerne.

CERRAR, v. Reunir. "Est cerrado o rodeio", isto , todo o gado j est


reunido no rodeio.

"O rodeio, de umas quinhentas reses, j estava cerrado" (A.


Maia, Runas Vivas, Porto, Lello & Irmo, 1910,p. 110).

CERRAR A NOITE, expr. Escurecer.

CERRAR A PONTA, expr. Diminuir a marcha da tropa de gado, atacando-a na


frente.

CERRAR AS ESPORAS, expr. Esporear.

CERRAR AS PERNAS,expr. Apertar com as pernas o animal e impeli-lo para a


frente. V. cerrar pernas.

CERRAR DE CIMA, expr. Estar mandando, exercer autoridade, estar a


cavaleiro.

CERRAR O NAMORO, expr. Intensificar o namoro. Aproximar-se cada vez mais


da pessoa que se namora.

CERRAR O NEGCIO, expr. Ajustar definitivamente o negcio.

CERRAR O RODEIO, expr. Reunir, apertar o gado no rodeio.

CERRAR O TEMPO, expr. Ameaar chuva. // Em sentido figurado, haver


briga, luta, conflito.

CERRAR PERNAS, expr. Montar a cavlo e arrancar, partir, avanar, tocar


para a frente.

"Cerremos Pernas!...
Meus irmos da vida rude,
Mas que linda a toda prova,
Agora que a era nova,
Tudo vai no modernismo,
Cantemos em altos brados,
A esses tais inovadores,
Do nosso Pampa - os primores;
Da nossa gente - o civismo!
Cantemos, guasca soberbo,
Coisas aqui da querncia,
Todo o brilho da existncia
Que leva o filho do Pampa.
Cantemos as nossas glrias:
- Civismos alevantados
Dos nossos antepassados
que dormem no frio da campa.
(...)
Usemos bombacha larga,
Usemos leno ao pescoo,
Tenhamos alma de moo:
Gacho no envelhece!
Defendamos nossa Ptria,
Briguemos por nossos brios,
Aceitemos desafios,
Que a vida assim enobrece!"
(Pery de Castro, Coisas do meu Pago,
P.A., Globo, 1926, p. 13-14).

CERRILHADA, s. Sucesso de pequenos cerros formando uma cadeia.

CERRITO, s. Pequeno cerro. Elevao

103

maior do que uma coxilha. Lugar elevado e pedregoso.

CERRO, s. Elevao, monte, morro.

CEVA, s. Comida que se deposita em lugar certo, guisa de engodo, para


que os animais, aves ou peixes, que se pretende caar ou pescar, se
habituem a freqentar o lugar onde ela colocada. // Local em que
depositado o engodo. // Ato de cevar. Cevadura. // Local onde se prendem
animais, com allimentao especial, para engordar. // Anteparo lateral
usado nas carretas para formar o lugar destinado carga.

CEVADOR, s. Pessoa que prepara o chimarro e o distribui entre os que o


esto tomando.

CEVADURA, s. A quantidade de erva necessria para preparar uma cuia de


mate. O mesmo que cevadura de erva. // Ceva, ato de cevar.

CEVADURA DE ERVA, s. V. cevadura.

CEVAR MATE, expr. Preparar o mate e servi-lo s pessoas que o esto


tomando.

"No que chegava do campo


O padrinho, ele j rente
Co'a chaleira d'gua quente
Pra cevar o mate amargo."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1978, p. 40).

CHCARA, s. Pequeno stio de plantao e de criao, prximo a povoados


ou cidades. Usa-se, tambm, chacra. (Do quchua, chacra).

"A palavra indgena chcara significa, propriamente, plantao.


Pouco a pouco os portuguses e espanhis alargaram-lhe a
significao..." (Auguste de Saint'Hilaire, Viagem ao Rio Grande do Sul,
RJ, Anel Editora Ltda., 1935, p. 163).

CHACAREIRO, s. Proprietrio de chcara. Pequeno criador de gado, pequeno


agricultor. // Empregado incumbido de cuidar de chcara. // O mesmo que
chacreiro.

CH-CH, s. Provocao que feita ao animal vacum, para faz-lo sair do


lugar em que esteja. // Briga.

CHACRA, s. O mesmo que chcara.

CHACREIRO, s. O mesmo que chacareiro.

CH-DE-BUGRE, s. Planta medicinal, tambm chamada erva da pontada, com


copa larga e folhas verdes e brilhantes. Casearia silvestre, Sw.).

CH-DE-CASCA-DE-VACA, s. Surra de relho.

"Mango amansa os quebra-freios,


Arreador, mula que empaca...
Quem esparrama os arreios
quer ch-de-casca-de-vaca."
(Hugo Ramrez, in Cancioneiro de
Trovas).

CH-DE-VARA-DE-MARMELO, s. Surra.

CHAFUNDAR, v. Atolar-se, cair ngua. Var. achafundar.

CHAG, s. O mesmo que tah ou tajan.

CHAIRA, s. Pea comprida de ao, com cabo de osso ou de madeira, que


serve para assentar o fio das facas.

CHAIRAR, v. Afiar a faca na chaira. // Aparar bem rente a crina do


animal.

CHAIREL, s. Manta do selim de andar das senhoras.

CHALANA,s. Lancho chato.

CHALE-CHALE, s. Planta medicinal da famlia das Sapindceas, Allophilus


educalis. (V. fruta-de-pomba).

104

CHALEIRA, s. e adj. Diz-se de ou o indivduo bajulador, engrossador.

CHALEIRER, v. Bajular, lisongear.


CHALRAR, v. Conversar, prosear, palrar, chanlar.

CHAMA,s. Passarinho utilizado, na gaiola munida de alapo, para atrair


os outros que se pretende pegar.

CHAMADOR, s. e adj. Diz-se de ou o que vai frente da tropa ou dos bois


cangados, para guiar a marcha.

CHAMAR, v. Ir frente da tropa ou da carreta para guiar os bois.

CHAMARISCO, s. Coisa que chama, que atrai. O mesmo que chamariz.

CHAMA-RITA, s. Var. de chimarrita.

CHAMAR NAS ESPORAS, expr. Picar o cavalo com as esporas. // Em sentido


figurado, repreender ou censurar algum. // O mesmo que procurar nas
esporas.

CHAMARRITA, s. Var. de chimarrita.

CHAMBO, s. e adj. Diz-se de ou o indivduo relaxado, mal trajado.


Indivduo que executa mal os seus trabalhos.

CHAMECHUNGA, s. O mesmo que sanguessuga. Var.: chamichunga.

CHAMICHUNGA, s. O mesmo que sanguessuga.

"Mas a nossa confiana, de verdade,


no estava nas palavras da orao;
estava grudada como chamichunga
naqueles seis esteios de angico,
quatro palinos de nabo atracados no cho!..."
(Mozart Pereira Soares, Erva
Cancheada, P.A., Ed. Querncia, 1963,
p. 26).

CHAMPORREADO, adj. Diz-se do objeto mal preparado, grosseiro, tosco.

CHAMPORREAR, v. Estragar, amarrotar.

CHAMUSCAR, v. Esgueirar-se.

CHAMUSCO, s. Tiroteio, briga, conflito, encontro de foras armadas.

CHANCHITO, s. Leito, porquinho.

CHANCHO, s. O porco, o suno. V. as expresses fazer-se de chancho rengo


e s chanchas mouras.

CHANCHULIM, s. Conduto da secreo do leite da vaca, tambm chamado


tripa leiteira, de timo paladar quando assada nas brasas. preparado
em forma de trana e assim posto no espeto para ser assado. Var.:
chinchulim. (Vem do quchua, chanchulli).

CHANFALHO, s. Faco.

CHANGA, s. Pequeno trabalho de transporte, servio avulso, biscate,


feitos por changadores ou homens do ganho. // O pagamento dado por esses
servios. Ganho, lucro, negcios.

"Cativo ao brete das ruas


Como pssaro perdido,
Negaceando alguma changa
Pra o prato to diminudo."
(Gilberto Carvalho e Marco Aurlio
Vasconcelos, Toada, 8 Califrnia
da Cano Nativa, Uruguaiana,
1978).

CHANGADOR, s. Carregador, indivduo que se incumbe de carretos, que se


ocupa de fazer changas. Ganhador. Trabalhador por jornal.

"Havia, entretanto, entre os changadores, um homem destemido,


cuja vida era uma lenda, que se disps a salvar a mestia condenada
morte." (N. Pereira Camargo, Histrias da Fronteira, P.A., Combate
Ltda., 1968, p. 49).

"Changador. s. M. Denominacin antigua de los gauchos. Vaquero y


acopiador de cueros en la poca colonial." (Fernando O.

105

Assuno, Pilchas Criollas,


Montevideo, 1976,p.406).

"Maestros en la faena eran los changadores santafesinos. Este


vocablo es la versin casteliana de la palavra portuguesa iangadeiro, el
que trabaja en la iangada, o balsa (de changadam, palabra del idioma
malaioln que los portugueses trajeron de sus posesiones de la India)
com que se pasaban cueros y ganado de una orilla a otra de los rios."
(Bruno y Beatriz Premian, El Caballo, Buenos Aires, Edigraf, 1975, p.
127).

CHNGAR, v. O mesmo que changuear.

CHANGUEAR, v. Ter a profisso de


changador, ocupar-se de changas.

"E hoje... - a p, bombacha remangada,


changueando aqui e ali o po difcil
com que matar a fome dos guris."
(Apparcio Silva Rillo, Caminhos de
Viramundo, P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1979, p. 68).

CHANGUEIREAR, v. Correr pouco, correr mal, correr como um changueiro.


Var.: Changuerear.

CHANGUEIRITO, s. Diminuitivo de changueiro. Var.: Changuerito.

CHANGUEIRO, s. Parelheiro medocre, para pequenas corridas. Changador.

CHANGUEREAR, v. O mesmo que changueirear.

CHANGUERITO, s. O mesmo que changueirito.


CHANGUERO, s. O mesmo que changueiro.

CHANGUI, s. Concesso ao adversrio. Dar ou no dar changui: Conceder ou


no conceder vantagem ao competidor, fazer ou no concesso ao rival,
dar ou no dar quartel ao inimigo. expresso empregada, geralmente, em
relao a corridas de cavalos. (Vem do castelhano e significa
palavrrio, palavras sem fundamento)

CHANISCO, s. Partes pudendas da mulher. (P. us.).

CHANTAR, v. Aplicar, dizer asperamente. "Chantei-lhe a mo na cara",


isto , apliquei-lhe uma bofetada; "Chantei-lhe na cara toda a verdade",
isto , disse-lhe toda a verdade, com a maior franqueza.

CHO, s. Querncia, pago. Local, assunto, atividade de preferncia de


algum. "O cho do meu cavalo a cancha em descida", isto , o tipo de
cancha a que o meu cavalo mais se adapta a cancha em descida.
"Peleando de adaga eu estou no meu cho", isto , estou fazendo o que
gosto de fazer, o que sei fazer. "Cair no cho de algum" significa
ser-lhe agradvel, despertar-lhe simpatia.

CHAPADA, s. Plancie em cima de uma montanha.

CHAPADO, s. Chapada muito extensa.

CHAPEADO, s. A parte de prata ou de


outro metal da cabea do lombilho.
Cabeada de animal chapeada de prata
ou de outro metal, no todo ou em
parte.

CHAPE-CHAPE, s. Terreno spero e seco; cho duro.

CHAPELO, s. Chapu de abas largas, usado pelos mexicanos.

"O gacho parece um mexicano,


com seu enorme chapelo de pano!..."
(Rui Cardoso Nunes, Tropilha
Perdida).

CHAPETO, s. e adj. Indivduo sonso,

106

tolo, boal, inbil, inepto, ignorante, inexperiente, que se


deixa enganar com facilidade.

CHAPETONADA, s. Asneira, tolice, erro, engano. V. a expresso pagar


chapetonada.

CHAPU-DE-COBRA, s. Cogumelo com forma semelhante de um guarda-chuva.


(PL: chapus.de.cobra). O mesmo que chapu-de-judeu.

CHAPU-DE-JUDEU, s. O mesmo que chapu-de-cobra.

CHAPOEIRADA, s. Tisana em que so usadas diversas ervas medicinais.


"Chiru de cueras branqueadas,
curtido de cha poeiradas
e arisco da medicina."
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1981, p. 78).

CHAPULHAR, v. Chapinhar.

CHAR, s. Animal que tem o plo crespo. O mesmo que xar.

CHAR-CH-CH, s. Provocao, zombaria.

"Vim l de Piratini
fazendo char-dz-ch,
procurando um trovador,
para venc-lo num j."
(Olavo Rgio Pinheiro).

CHARENGO, adj. Diz-se do animal defeituoso.

CHARLA, s. Palestra, conversa.

"Era ali que amavam descansar,


ao calor das chamas, entre charlas,
das galopadas e dos pialos do dia."
(A. Maia, Runas Vivas, Porto, Lello
& Irmo, 1910, p. 89).

CHAROL, s. Couro envernizado para a feitura de sapatos e outros


trabalhos.

CHARQUE, s. Carne de gado bovino, salgada e seca, em mantas. // O


charque tem , nos Estados do Norte, as seguintes denominaes: No Par,
carne seca; na Bahia, carne do serto; em Pernambuco, carne do Cear; em
Sergipe e norte da Bahia, jab. O charque fabricado no norte, da Bahia
ao Maranho, chamado carne de sol e muito mais saboroso que o feito
no Rio Grande do Sul, no Uruguai ou na Argentina. (Etim.: Do araucano
cha-qui, ou do quchua charki, significando tassalho e tambm seco).

CHARQUEAO, s. Ato de charquear. Charqueio.

CHARQUEADA, s. Saladeiro, estabelecimento onde o gado abatido para a


fabricao do charque. // Em sentido figurado, no jogo, fazer
charqueada, significa derrotar o adversrio, deixando-o sem dinheiro.

"A atual cidade de Barra do Ribeiro teve origem na Charqueada de


Antnio Alves Guimares, instalada na Sesmaria que lhe fora concedida
por D. Luiz de Vasconcelos e Sousa em 1870." (Lus Alberto Cibils,
Tapes, Camaqu, Guaba e Barra do Ribeiro, P.A., Ed. Champagnat,
1959,p.179).

CHARQUEADOR, s. Saladeirista, dono de charqueada, fabricante de charque.

CHARQUEAR, v. Cortar a carne do bovino em mantas de certa espessura,


salg-la e sec-la, transformando-a em charque. // Cortar, dar talhos,
ferir uma pessoa ou um animal. // Executar mal um trabalho, faz-lo
matado.
CHARQUE-DE-VENTO, s. Charque preparado para o consumo das estncias,
constitudo de mantas finas, com pouco sal, secadas ao vento. muito
saboroso, porm tem pouca durao. (Pl.: Charques-de-vento).

107

"Depois servido o almoo ou jantar, constitudo de excelente


feijoada, bom churrasco, charque de vento, assado ao espeto e com piro
dgua fria, carne de ovelha tambm ao espeto, arroz com couve, etc., no
faltando a boa canjica com leite." (O. M., com comentrios de Lothar
Hessel, Cadernos Gachos n 5, P.A., 1978, p. 14).

CHARQUEIO, s. O mesmo que charqueao. // Derrota do inimigo,


acompanhada de grande matana. Carnificina.

CHARQUE SALGADO, s. Charque preparado para exportao.

CHARRUA, s. e adj. Uma das tribos indgenas que habitavam o Rio Grande
do Sul na poca do seu povoamento. // Indivduo pertencente a essa
tribo. // (Era uma tribo belicosa, de ndios altivos e bravos, que nunca
aceitaram a civilizao nem o cristianismo, e que nunca se submeteram
aos conquistadores). (Etim.: Parece provir do quchua, de Char-uhas, que
significa ribeirinhos).

"Quando alinho o pensamento


para as bandas da querncia
me vem reminiscncia
a velha "Pedra Furada",
masmorra que foi broqueada
pela mo de algum charrua
que morto se perpetua
naquela furna assombrada."
(Jos Paim Brites, "Pedra Furada",
in Antologia da EPC, P.A., Sulina,
1970,p. 121).

"No morre o sangue crioulo,


o nobre sangue guerreiro,
que o guasca herdou do charrua," ...
(Antero Corra de Barros, Gacho
No Morre Nunca, in Versos Crioulos,
P.A., ed. do "35 Centro de
Tradies Gachas", 1951, p. 71).

CHASQUE, s. Mensageiro, estafeta, prpno, pessoa que se despacha levando


uma mensagem. // Carta, aviso, recado, desafio. // O mesmo que chasqui.
(Vem do quchua, chasqui, que significa correio, estafeta, mensageiro).

"Saem chasques a meia rdea e


bombeiros vm chegando..."
(Lo Santos Brum, Gente Guapa,
Jaguaro, Livr. A Miscelnea, 1965,
p. 25).

"Um ms decorreu sem recebermos notcias; do exrcito sabiamos


pelos jornais e por uma ou outra correspondncia da cidade; mas, os
chasques no saam da estrada, entre a nossa e as estncias vizinhas,
cujos donos tambm tinham parentes na luta." (A. Maia,Alma Brbara, RJ,
Pimenta de Melo & C., 1922,p. 76).

CHASQUEIRO, adj. Diz-se do trote duro, largo e incmodo do animal de


montaria. Trote chasqueiro o andar que em outros estados chamam de
trote ingls.

"s vezes a cabresto, outras vezes encilhado, troteava e seguia


sempre num trote chasqueiro de quem anda apurado ou de quem leva perdida
a estribeira do pensamento." (Pi do Sul, Farrapo, P.A., Globo, 1935, p.
105).

CHASQUENTO, adj. Diz-se de pessoa bem vestida, que causa boa impresso.
Bonito, engraado, interessante.

CHASQUI, s. O mesmo que chasque.

CHATADA, s. Repreenso, caro, quinau. Resposta ou indireta desagradvel


para a pessoa que a recebe.

CHATEAO, s. Ato de chatear.

CHATEAR, v. Aborrecer, amolar. // Aga-

108

char-se.

CHATO, adj. Aborrecido, enjoado.

CHAVASCA, s. Faco, espada.

CHAVEAR, v. Fechar chave.

CH, interj. O mesmo que ch.

CH, interj. Equivale a tu a, ou tu simplesmente. Usa-se, tambm, como


vocativo: "Como vai, ch?"; para chamar a ateno: "ch! que mulher
bonita!". Pronuncia-se tch maneira espanhola. // O mesmo que ch, ch
e tch.

"- Olha, ch! - bradou com escrneo, retirando-se." (A. Maia,


Runas Vivas, Porto, Lello & Irmo, 1910, p. 88).

"Mas no adianta, tch! Pra que capricho?


o sonho como canha de bolicho:
nunca se fica no primeiro gole!"
(Kramer Neto, Rodeio Peleagudo,
in Correio do Povo de 23-3-1968).

"Diante do que dissemos e reunimos, que soluo oferecermos ao


problema? De que lugar e idioma saiu o vocativo (no a interjeio
simples) ch? Qual a sua geografia lingustica?
J confessamos no acreditar que o ch vocativo tenha nascido na
Amrica, rebento de nenhum linguajar indgena. Seu bero deve achar-se
na prpria Espanha, que o conhece e usa nas regies levantinas. Nestas,
o idioma que o possui o valenciano.
Portugal ignora absolutamente o ch. O Brasil inteiro, com
exceo do Rio Grande do Sul, nunca o empregou. Na Amrica Espanhola,
ele vive em toda a Argentina, Uruguai e Bolvia.
Ora, l na Espanha o vocativo ch tpico da lngua valenciana
e se usa nas plagas levantinas. Pensamos que nesta parte da
Pennsula Ibrica e neste dialeto que se originou o caso.
O ch dos gachos brasileiros veio para o nosso pas, entrando
no Rio Grande do Sul, depois de circular entre argentinos, uruguaios e
bolivianos. No era, todavia, do idioma espanhol. Este o tomara do
valenciano." (Slvio Jlio, Literatura, folclore e lingstica da rea
gauchesca no Brasil, RJ, A. Coelho Branco F, 1962, p. 286).

CHEGADOR, s. e adj. Indivduo audacioso, avanador, agressivo, valente,


brigador, que no recua, que ataca resolutamente o inimigo.

CHEGAR A JEITO, expr. Abordar o assunto com boas maneiras, na ocasio


oportuna, a fim de conseguir o pretendido.

CHEGAR EMBRULHADOS, expr. Em corridas de cavalos, chegarem juntos os


dois parelheiros de modo a no se saber com segurana qual deles passou
na frente.

CHEGAR NA TALA, expr. Chegar ao lao, o parelheiro, nas corridas,


vergastado energicamente pelo corredor.

CHEIRAR A DEFUNTO, expr. Haver perigo iminente de um conflito de


conseqncias graves.

CHELPA, s. Dinheiro em geral. Cdula de dinheiro.

CHERETA, s. Intrometido, conversador, pessoa que se mete onde no


chamada.

CHERUME, s. Cheiro. // Resqucio, vestgio de alguma coisa: "Comeram


tudo e nem o cherume deixaram."

CHI, Interj. Exprime pasmo, horror.

109

CHIBARRO, s. O bode no castrado. Veado macho, na gria do caador. //


Em sentido figurado, pessoa que exala mau cheiro das axilas.

CHIBIO, s. Partes genitais.

CHIBO, s. Cabrito at um ano. Cabrito inteiro, no castrado. Chibarro.


// Catinga. // Contrabando; produto do roubo.

CHICHO, s. O mesmo que ovo de galinha. (Desconhecemos o emprego deste


termo, que registrado por Teschauer).

CHICO, adj. Pequeno. // s. O mesmo que guarda-fogo.

"La ley es tela de araa


- En mi inorancia lo esplico -.
No la tema el hombre rico;
Nunca la tema el que mande;
Pues la ruempe el bicho grande
Y slo enrieda a los chicos."
(Jos Hernndez, Martn Fierro).

"Faremos uma bandeira


dos frangalhos
de todas as bandeiras.
As ptrias chicas
so contornos
da Grande Ptria,
construdos
no exlio forado,
na fome encomendada,
no-desemprego da inteligncia."
(Paulo Cesar Gutierres Guggiana,
Ode Amrica Latina, in 1
Mutiro Literrio, Sant'Ana do
Livramento, Centro Cultural Jos
Hernndez, 1981, p. 44).

CHICO-A-GRANDE, expr. Condio de carreira em que um dos competidores


pe como corredor em seu parelheiro uma criana e o outro uma pessoa
grande, ou seja, peso de criana contra peso de adulto.

CHICOCHOELHO, s. Rtula ou osso mvel da articulao do joelho do bovino,


acompanhado de carne. Chicosuelo.

CHICO-DA-RONDA, s. Denominao de uma das variedades de bailes


campestres a que chamam geralmente fandango. O mesmo que Chico-puxado ou
Puxado.

CHICOLATEIRA, s. Vasilha de folha empregada para aquecer gua e para


fazer caf. Var.: Chocolateira.

"H coisas que no se esquecem: o caf do carreteiro, tomado de


um sabor particular, com a brasa acesa que se atira na chicolateira
quando a bebida j est fervendo; e o guisado do carreteiro, to bom
quanto o caf." (Joo Neves da Fontoura, Memrias, I vol., P.A., Globo,
1958,p. 149).

CHICO-PLEITO, s. Coisa sem importncia.

CHICO-PUXADO, s. Variedade de fandango, tambm chamado chico-da-ronda e


puxado.

CHICOSUELO, s. O mesmo que chicochoelho.

CHICOTAO, s. Pancada com o chicote. Chicotada, relhada, relhao.

CHIFRAO, s. Golpe com os chifres, chifrada, guampada, guampao.

CHILCA, s. O mesmo que chirca.

CHILENAS, s. Esporas com rosetas muito grandes.

"No meu rancho, pendurado,


descansa um par de chilenas,
evocando meu passado,
recordando minhas penas."
(Antnio Augusto de Oliveira,
Rastro de um Charrua, P.A., Martins
Livreiro-Editor, p. 58).

"... os laos distendiam-se aos tires dos pingos espicaados s


viri-

110

lhas pelo resotear de ferro das chilenas" (A. Maia, Runas Vivas, Porto,
Lello,p. 115).

" preciso cravar as chilenas


limpar as feridas
tantas e tantas
afastar as assombraes muitas
e olhar o perigo cara a cara
como faziam os de ontem."
(Clvis Assumpo, Marcado pelos
Guascaos do Minuano, Canoas, Ed.
La Salle, 1977, p. 21).

Ningum me pisa no poncho!


Pardo velho abarbarado
Tenho chilenas de prata
E pala branco bordado.
(Quadra popular).

"E as hipertrofiadas chilenas devem o nome semelhana com as


tilintantes esporas do "huaso" do Chile." (Antnio Augusto Fagundes,
Indumentria Gacha, Cadernos Gachos n 2, P.A., Ed. Fundao Instituto
Gacho de Tradio e Folclore, 1977, p. 12).

CHILENO, s. e adj .Vacum da raa de gado denominado chileno.

CHIMA-CHIMA, s. Ave de rapina semelhante ao chimango.

CHIMANGADA, s. Grupo de chimangos.

CHIMANGO, s. Alcunha dada no Rio Grande do Sul aos partidrios do


governo na revoluo de 1923. // Ave de rapina muito comum na campanha
rio-grandense, parecida com o caracar, porm menor do que este. //
Tenaz feita de arame para pegar brasas nos foges. // V. as expresses
triste como chimango em tronqueira, e no gastar plvora em chimango.

CHIMANGUICE, s. Ao prpria de chimango.

CHIMARRO, s. e adj. Mate cevado sem acar; preparado em uma cuia ou


cabaa e sorvido atravs de um tubo metlico, com um ralo na extremidade
inferior, ao qual se d o nome de bomba. // Caf, ch ou qualquer outra
bebida servida sem adoar. // Gado bovino que foge ao custeio e passa a
viver em estado selvagem. // Co que se tornou selvagem e vive fora de
toda a sujeio, alimentando-se dos animais que mata. // Qualquer animal
domstico que se torne alado.

"Eis o que a cuia me ensina:


Quando chegou Silva Paes,
J Sep entre os ervais
tomava o seu chimarro,
feliz, na paisagem guasca.
Sep que soberbo e ousado
sucumbiu, despedaado,
por amor deste Rinco."
(Valdomiro Sousa, Chimarro).

"Senhora dona da casa


Eu sou muito pedincho
Mande-me dar que beber
Mas que seja um chimarro."
(Quadrinha popular).

"Cedo provei o chimarro. Via todo o mundo mamando nas bombas de


prata, via o topete da erva de um verde diferente dos outros porque a
vida nele adormecera e esperava, e era como uma aluso misteriosa ao
sabor que deveria subir l de dentro da cuia. Via o mate correr entre
homens e mulheres, entre os homens da casa da fazenda e no galpo, e
pelos alpendres das manhs acesas ou das tardes tristes, o mate obscuro
das mulheres negras da cozinha nas tardes escuras de chuva, quando elas
andavam silenciosas, descalas sobre os ladrilhos gastos, com a cuia na
mo." (Reynaldo Moura, Romance no Rio Grande, P.A., Globo, 1958, p. 71).

111

" vontade, discretearemos sobre os problemas do mundo e da


vida, tomando um chimarro notvel - um chimarro de topete igual ao que
o Bento Gonalves tomava sombra da arqui-histrica figueira de Belm
Velho, ou do arquilendrio cipreste de Pedras Brancas." (Otelo Rosa, A
Moa Loira, P.A., 1939,p. 161).

"a correria dos preadores, o alarido dos ces, inclusive dos


cachorros-chimarres, que, aos milhares se acoitavam nos banhados e
restingas, volvidos ao estado selvagem, mais ferozes que lobos, vivendo
da caa de potrancos e bezerros." (Arthur Ferreira Filho, Histria Geral
do Rio Grande do Sul, p. 20).

"Estes campos dilatados


encontram-se povoados
de um tal gado chimarro,
quer vacum, quer cavalar.
Impossvel de avaliar
pois se acha tresmalhado
vagando na imensido."
(Hlio Moro Mariante, Fronteira do
Vaivm, P.A., Imprensa Oficial,
1969,p. 31).

"Catita estremeceu, vendo que estava cercada por uma matilha de


ces chimarres. Esses animais, criados nas charqueadas, s vezes se
multiplicam prodigiosamente, e vagam em bandos pelos campos, como lobos
carniceiros; ..." (Jos de Alencar, O Gacho).

"Estes cachorros (chimarres), de origem europia e trazidos


pelos primeiros aquerenciadores, haviam-se multiplicado prodigiosamente
e eram muito ferozes; chegaram a tornar-se to temveis e prejudiciais
criao pastoril que mais tarde houve de organizar-se expedies a
propsito para extermin-los. Viviam em matilhas, e os esconderijos eram
conhecidos pela quantidade de ossamentos que eles arrastavam e pelas
disparadas dos gados que perseguiam, para apanhar os terneiros e
potrilhos que, em chusma, fatigavam depressa e apresavam para em seguida
devor-los entre brigas." (Simes Lopes, Terra Gacha, P.A., Sulina,
1955,p. 89).

CHIMARREAR, v. Chimarronear, tomar chimarro, matear, tomar mate-amargo.

CHIMARRITA, s. Denominao de uma antiga dana popular e de uma poesia


cantada com acompanhamento de viola ou violo. denominada tambm
chamarrita. Parece provir dos Aores, onde existe, segundo o Sr. Josino
dos Santos Lima, a sua ascendente com o nome de Chama a Rita. As
principais quadxinhas da Chinaarrita, registradas por Simes Lopes Neto,
no seu livro Cancioneiro Guasca, so as seguintes:

Vou cantar a Chimarrita


Que hoje ainda no cantei;
Deus lhes d as boas noites,
que hoje ainda no lhes dei.
Vou cantar a chimarrita
Que uma moa me pediu;
No quero que a moa diga:
ingrato! No me serviu.
A Chimarrita que eu canto,
Veio de Cima da Serra,
Rolando de galho em galho
At chegar nesta terra!

Chimarrita, quando nova,


Uma noite me atentou
Quando foi de madrugada,
Deu de rdea e me deixou!

112

A Chimarrita uma velha


Que mora no faxinal,
Comendo a triste canjica
E gro de feijo sem sal.
Chimarrita mulher pobre,
J no tem nada de seu;
S tem uma saia velha
Que sua sogra lhe deu.
Chimarrita no seu tempo
J muito potro domou:
Agora quer um sotreta,
Nem um rodilhudo achou!

Chimarrita altaneira,
No quebra nunca o corincho:
Diz que tem trinta cavalos,
E no tem nem um capincho.
Chimarrita diz que tem
Dois cavalinhos lazes:
Mentira da chimarrita,
No tem nada, nem xerges!

Chimarrita diz que tem


Quatro cavalos oveiros:
Mentira da Chimarrita,
S se so quatro fueiros.
Chimarrita diz que tem
Sete cavalos tostados:
Mentira da Chimarrita,
Nem perdidos, nem achados!

Chimarrita diz que tem


Dois zainos e um tordilho:
Mentira da Chimarrita,
Nem um cupim p'r'o lombilho!
Chimarrita diz que tem
Trs cavalos tobianos:
Mentira, tudo mentira,
Nem garras, pingos, nem panos!

Tironeada da sorte,
A Chimarrita rodou;
Logo veio a crua morte
E as garras lhe botou.

Chimarrita morreu ontem,


Ontem mesmo s'enterrou:
Quem chorar a Chimarrita
Leva o fim que ela levou.
Coitada da Chimarrita,
Vou rezar por ser cristo:
A pobre da Chimarrita
Viveu como um chimarro!
Chimarrita morreu ontem,
Ontem mesmo s'enterrou;
Na cova da Chimarrita
Fui eu quem terra botou!

Chimarrita morreu ontem,


E ainda hoje tenho pena;
Do corpo da Chimarrita
Vai nascer um'aucena!
Chimarrita morreu ontem,
Mas pra sempre h de durar;
As penas da Chimarrita
Fazem a gente pensar...
Aragana e caborteira
A Chmarrita mentiu;
No censure a dor alheia
Quem nunca dores sentiu!
Quem sabe se a Chimarrita
Na alma criou cabelos...
Quem v uma bagualada,
V mais vultos do que plos...
Quanta maldade se disse
Da Chimarrita, coitada!
A pedra grande faz sombra...
E a sombra no pesa nada!
Chimarrita generosa,
Oh! Chimarrita, perdoa!
Quem te chamava de m,
No era melhor pessoa!
Aqui paro, na sada,
Do fim desta narrao,
A moa, se est contente,
Me d o seu galardo!

Eu disse o que a bisav


Da minha av ensinou;
Se algum sabe mais que eu,
J no' st'qui quem falou!

113

Chimarrita morreu ontem,


Inda hoje tenho d;
Na cova da Chimarrita,
Nasceu um p de cidr.
Chimarrita, mulher velha,
Quem te trouxe l do Rio?
- Foi um velho marinheiro
Na proa de seu navio.

A Chimarrita no campo
Co 'os bichos todos falou
Na morte da Chimarrita
O bicharedo chorou.

O trevo de quatro folhas


Da Chimarrita feitura:
Com ele se quebra a sina
Que o mal sobre ns apura.
- E outros muitos. -

CHIMARRONA, s. Planta borraginea do Brasil.

CHIMARRONEAR, v. Tomar mate-dchimarro, chimarrear.

CHIMB, adj. Diz-se do gado vacum que tem o focinho curto e achatado. //
Emprega-se tambm em relao s pessoas de nariz chato ou pequeno e
arrebitado.

CHIMBEAR, v. Gauderiar, vadiar, vagabundear. O mesmo que chimbiar.

CHIMBIAR, v. O mesmo que chimbear.

CHIMBO, s. Gaudrio, teatino, cavalo cujo dono desconhecido. //


Aplica-se s pessoas no sentido de vagabundo, vadio, desocupado, gacho
na acepo pejorativa.

CHIMIA, s. O mesmo que chimier.

CHIMIER, s. Doce feito com frutas e melado de cana, de consistncia


pastosa, para ser comido com po, guisa de manteiga. (Do alemo,
schmier).

CHIMIQUE. s. Pedao de barbante que os carroceiros amarram ponta da


aou teira do relho para produzir estalo.

CHIMPAR, v. Dizer.

CHINA, s. Descendente ou mulher de ndio, ou pessoa do sexo feminino que


apresenta alguns dos caractersticos tnicos das mulheres indgenas. //
Cabocla, mulher morena. Mulher de vida fcil. // (Parece provir do
quchua, xina, que significa aia).

"Muitas chinas percorriam


Pelas margens dos banhados
Levando cada uma delas
De dez a doze soldados."
(ABC da Batalha do Passo do
Rosrio).

"De modo china, que atamos


o dejamos la carrera...
no ser la vez primera
que se me niegan al "bamos",
los que deberas amamos,
todo queremos o nada!
Y si tu f est meyada
por el filo de la intriga,
te ganar como amiga
al perder-te como amada."
(Decimas de Sandlio Santos,
Editorial Fogn, Montevideo, 1954,
p. 14).

"Os anjos moram no cu,


mora o perfume na flor,
dos guascas que andam ao lu
a china tolda de amor."
(Hugo Ramrez, iii Cancioneiro de
Trovas).

CHINARADA, s. Grande nmero de chinas, ndias ou caboclas. O mesmo que


chinaredo, chinerio, chineiro, chinedo.

CHINAREDO, s. O mesmo que chinarada.

CHINCHA, s. O mesmo que cincha.

CHINCHADOR, s. e adj. O mesmo que cinchador.

CHINCHAR, v. O mesmo que cinchar.

114

CHINCHULIM, s. O mesmo que chanchulim.

CHINCO, s. Papa-lagartas. Ave da famlia dos Cuculdeos. O mesmo que


cucu.
CHINEAR, v. Andar procura de chinas. Estar com prostitutas.

CHINEDO, s. O mesmo que chinarada.

CHINEIRO, s. Diz-se do indivduo que anda sentpre procura de chinas ou


prostitutas. // Chinarada.

CHINERIO, s. Chinarada.

CHININHA, s. Caboclinha, filha de china, china ainda menina, chinoca,


chinoquinha, piguancha.

CHINITA, s. Copo de aguardente (desus.).

CHINOCA, s. O mesmo que chininha.

"Chinoca, tu foste embora


Mas deixaste no Rinco
A lembrana dos teus olhos
Na cor do meu chimarro."
(Lus Alberto Ibarra, Cano do
Sul, P.A., Secretaria da Agricultura,
1958,p. 14).

"Botei o p no estribo
meu cavalo estremeceu...
Adeus chinocas que ficam
quem vai embora sou eu."
(Quadra popular, in Vida Esportiva,
seo Querncia, de Roberto Eilert).

CHINOCO, s. Chinoca bonita, vistosa, fornida.

CHINOQUINHA, s. Caboclinha, rapariguinha, chininha.

"Agarrado cintura das chinoquinhas do Rinco, toda a beleza da


terra estava, para mim, naquelas trancas terminadas num lao de fita
azul ou vermelha, soltas s costas;" (Manoelito de Ornellas, Mscaras e
Murais de Minha Terra, P.A., Globo, 1966,p. 194).

CHIPA, s. Bolo que os ndios das Misses preparavam com a massa de milho
fervido, socado e passado na peneira, misturado com leite, assado no
borralho. Atualmente a chipa feita de polvilho e queijo ralado, em
forma de rosquinha, assada no forno. (Chip a pronuncia guarani).

CHIQUEIRADOR, s. Relho de aoiteira comprida, utilizado para tocar os


animais, para separ-los ou reuni-los, nos servios de campo.
Enchiqueirador.

CHIQUEIRAR, v. Enchiqueirar.

CHIQUEIRO, s. Pequeno curral ou encerra a que se recolhem terneiros


mansos, porcos, ovelhas ou outros animais.

Cachorrinho est latindo


L pra banda do chiqueiro:
Cala a boca cachorrinho,
No sejas mexeriqueiro.
(Quadrinha popular).

CHIQUITO, adj. Pequenino.

CHIRCA, s. Erva daninha que inutiliza as pastagens. Diz-se, tambm,


chilca.

CHIRCAL, s. Terreno em que h grande quantidade de chirca.O mesmo que


chilcal.

"Saudade! lagoa mansa


perdida no aguapezal,
dos tahs pelo chircal
acordando o descampado;"
(Rubens Dario Soares, Minha Ultima
Tropeada, Cruz Alta, 1981, p.
33).

CHIRIPA, s. Acerto, por acaso, de uma tacada no jogo de bilhar. Ganho,


por pura casualidade, em qualquer jogo. Bambrrio.

CHIRIP, s. Vestimenta rstica, sem costuras, usada antigamente pelos


homens do campo. constitudo de um metro

115

e meio de fazenda que, passando por entre as pernas, preso cintura


em suas extremidades por uma cinta de couro ou pelo tirador. H, tambm,
chirips de luxo, bordados e com franjas. O chirip serve de calas ou
de bombachas. Atualmente usado apenas nos CTGs, por conjuntos
folclricos.

A gaita matou a viola


O fsforo matou o isqueiro;
A bombacha, o chiri p,
A moda, o uso campeiro.
(Quadra popular).

"... as boleadeiras em lao sobre os chirips listrados" (A.


Maia, Runas Vivas, Porto, Lello & Irmo, 1910,p. 120).

CHIRIPEAR, v. Acertar por casualidade, ganhar por chiripa.

CHIRIPEIRO, s. e adj. Chiripento.

CHIRIPENTO, s. e adj. Diz-se de ou indivduo que ganha no jogo por


casualidade; que acerta em qualquer assunto por puro acaso. O mesmo que
chiripeiro ou chiripero.

CHIRIPERO, s. adj. O mesmo que chiripento.

CHIRISCA, s. Nada. Nem o mnimo.

CHIRU, s. e adj. ndio, caboclo, moreno carregado, que tem traos de


indgena. Acaboclado, inditico. Xiru.

CHIRUA, s. e adj. Feminino de chiru. China, ndia, cabocla.


"E na garupa, mui refestelada trazia uma chirua, com ar de
querendona..." (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A.,
Globo, 1973, p. 15).

CHIRUADA, s. O mesmo que chiruzada.

CHIRUAZINHA, s. Caboclinha.

CHIRUZADA, s. Grande nmero de chirus, de um ou de ambos os sexos.

CHIRUZINHO, s. Diminutivo de chiru.

CHIRUZOTE, s. Chiruzinho j meio crescido.

CHISPA, s. Fasca.

CHITA, adj. Cor do plo do cavalo oveiro, salpicado de pequenas manchas.


(V. oveiro-chita).

CH, inteij. Exprime desprezo: "Ora ch! No tenho medo de ti nem de


toda a tua raa!"

CHOCOLATEIRA, s. Vasilha de folha usada para aquecer gua e para


preparar caf. O mesmo que cambona.

CH-GUA, interj. Exprime espanto, desagrado, desprezo, e tem a


significao de: "Ora, no me amole!""Ch-gua minha madrinha, vaca
magra no caminha", locuo utilizada para exprimir debique, zombaria,
troa, desfrute.

CHOFERAR, v. O mesmo que choferear.

CHOFEREAO, s. Ato de choferear.

CHOFEREAR, v. Guiar automvel.

CH-MICO, interj. Exprime desprezo, espanto, escrneo: "Ora, ch-mico!


Pensei que fosse coisa muito superior."

"Tinha seis braas e meia


E mais dois parmos e pico
Na minha vida, ch -mico!,
Nunca vi coisa mais feia."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
21 ed., P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1978,p. 28).

CH-MOSCA, interj. Exprime surpresa.

CHORADA, s. Algazarra que fazem os ces no momento do levante do veado.

116

CHORADEIRA, S. Lamrio. Pedidos insistentes e humildes.

CHORO, s. Pedido ou requerimento acompanhado de muitos lamentos. (No


temos conhecimento do uso deste termo, que registrado por Teschauer).

CHORAR PITANGA, expr. Queixar-se sem motivo. Lamuriar-se.

CHORO, s. Pequena quantidade a mais de leite que os vendedores


ambulantes lanavam na vasilha do comprador para ressarci-lo de pequenas
quebras.

CHORO DO GADO, expr. Lamento do gado, onde morta uma rs.

"Vagaroso, escarvando o cho a espaos, um grande touro avanou,


farejou a terra, e, de pescoo estendido, como se fitasse, evocativo, as
sombras nutantes sobre os longes da noite, atroou o escampo com um longo
mugido repassado de angstia. Outras reses acudiram, em tropel, ao berro
trgico e principiou, indescritvel, cheio de amargura, inarticulado,
porm expressivo, no silncio do plaino, sob o crescente plido, o coro
funerrio dos irmos do pampa vtima do homem.
Litania selvagem, de vozes incompreendidas, dir-se-ia haver
naqueles sons, ora esmorecidos em infinita mansido, suaves de soluo,
ora ameaadores, em despedaadas exploses brutescas, mais do que um ato
instintivo, - um adeus amigo, uma solidariedade consciente, uma
desordenada revolta contra o destino implacvel. Era como se imprevista
vibrao de ignoto e de saudade abalasse aquelas conscincias obscuras
numa primeira intuio, rompendo subitnea luz de incerta
religiosidade, a treva densa, imperscrutada, misteriosa, do ser animal.
E era como se o amor, um amor fraterno inteligente, purssimo, todo de
alma, unisse no mesmo culto morturio, em face do acampamento mudo, os
feros coraes dos touros xucros ..."
(A. Maia, Runas Vivas, Porto, Lello & Irmo, 1910,p. 179).

"No v, isso que acontece nos lugares onde se sangra uma rs


pra carnear. De noite vm as pontas de gado chorar e babar ali. E
berram, e choram, e babam e andam na volta. No se cansam de berrar, de
chorar, de babar, de andar em volta. coisa triste. Parece coisa do
outro mundo, que deixa um medroso. At os cachorros ficam nervosos e
estropiados por dentro, com aquela chorao to triste, aquela tristeza
to aflita." (Sylvio da Cunha Echenique, Fagulhas do meu Isqueiro,
Pelotas, Ed. Hugo, 1963, p. 59).

"Mas de tarde sempre fico triste,


porque o gado parece at que reza missa,
e fica a soluar,
cavando terra,
onde o companheiro foi sangrado.
Depois vo se esparramando,
no paSSito,
berrando,
num gemido muito feio.
At parece um adeus de despedida...
o "tero" da saudade do rodeio."
(Vargas Neto, Tropilha Crioula e
Gado Xucro, P.A., Globo, 2 ed.,
1959, p. 45).

" frente da fazenda antiga,


Velho solar histrico dos pampas,
Berram as reses mansas
Em torno de poas de sangue ene-
117

(grecido.
Berram dolorosamente irm sacrificada
Aqueles mugidos dolorosos,
Gemidos de saudade,
Vo pelas canhadas e coxilhas,
Como uma msica plangente e funerria.
Naquela hora crepuscular,
Quando o dia agoniza,
E o pampa repousa na quietude verde,
Vm as reses chorar
sobre o pasto manchado de vermelho-negro...
Rquiem solene na amplitude agreste.
Longos, dolorosos bramidos de saudade,
Prece, talvez, das vacas mansas
No seu ritual ignorado
Miserere brbaro dos pampas!"
(Manoelito de Ornellas, Miserere
Brbaro).

CHORONAS, s. Esporas de ferro, de grandes rosetas, que retinem quando


movimentadas, usadas pelos domadores.

CHORRO, s. Jorro.

CHOURM, s. Doente, sarnento.

CHOURIO, s. Parte acolchoada do rabicho, que colocada por baixo da


cola do animal.

CHUCHERIAS, s. Miudezas, ou bugigangas.

CHUCHO, s. Calafrio, tremor de frio, sezes febre intermitente. Tremor


por medo.

CHUCRO, adj. Bravio, esquivo, no domado; amargo. "Gado chucro", gado


bravio; "Cavalo chucro", cavalo no domado; "Caf chucro", caf sem
acar, amargo. Var.: Xucro.

118

CHULA, s. Dana masculina, constante de sapateados e evolues em torno


de uma lana largada no cho.

"Velha Chula individual


que vem de remotas eras,
da solido das taperas
perdidas num ervaal.
Marcaste o pampa imortal
no repicar das chilenas,
nos olhares das morenas,
saudando os sapateadores.
Abrem o peito os cantores.
Berra a cordeona dos baixos.
Chula dana de ndio macho
em desafio, por amores..."
(Antnio Augusto Fagundes, Danas
Gachas, Antologia da Estncia
Poesia Crioula, P.A., Salina, 1970,
p. 189).

CHULEADO, adj. Diz-se do jogo em que se chuleou, em que houve chuleio.

CHULEAR, v. Torcer (na acepo esportiva). Ir examinando aos poucos a


carta ou as cartas do baralho, descobrindo-as lentamente, na expectativa
de conseguir formar o jogo desejado. // Estar na espectativa e com
esperana de conseguir qualquer coisa.

CHULEIO, s. Ato de chulear.

CHULEPENTO, adj. Diz-se do que tem chul.

CHUMBEADO, adj. Embriagado, bbado, tragucada, chupado. // Baleado.

"S me afasto daqui chumbeado de morte. Eu brigo no lombo de meu


cavalo, em meu torro natal e de minha mulher." (Jhamil Barreiro, Outras
Estrias, in Escritores do Brasil, organizado por Aparcio Fernandes,
RJ, Ed. Arte Moderna
Ltda., 1981,p. 236).

CHUMBEAR, v. Atingir com tiro de chumbo.

CHUPADO, adj. Embriagado.

CHUPO, s. Inseto hemtero de que h vrios gneros com diversas


espcies, podendo todas transmitir o Trypanosoma cruzi, agente
etiolgico da Doena de Chagas. Tryatoma infestans a espcie
domiciliria e dominante no Rio Grande do Sul, onde chamado tambm
finco ou frade. No norte, tem a denominao de barbeiro. Nos pases de
lngua espanhola da Amrica, chamam-no de vinchuca.

" mais conhecido no Norte e alhures sob a denominao de


barbeiro, porque suga geralmente a face na regio da barba, sempre a
mais exposta e descoberta durante o sono.
No Rio Grande do Sul, tem os nomes vulgares de chupo ou finco,
e nos pases americanos, de lngua espanhola, de vinchuca."
(Raul di Primio, Doena de Chagas e Regionalismo Gacho, P.A.,
Globo, 1959, p. 23).

CHUPAR, v. Beber, embriagar-se.

CHUPISTA, adj. Bbado, borracho.

CHURRASCADA, s. Reunio de pessoas para participarem de um churrasco.

CHURRASCO, s. Assado. Carne assada diretamente sobre as brasas ou


labaredas, com ou sem o emprego de espeto. Em geral, no churrasco, a
carne mal cozida, e comida ainda meio sangrenta. iguaria usada desde
a mais remota antiguidade. Homero, na Ilada, e Virglio, na Eneida,j
se referiram a ela. // Chama-se, tambm, churrasco, o pedao de carne a
ser assado, mesmo quando ainda cru.

"... e duas mantas de carne fresca estalejavam chamuscadas,


fumarentas, ao espeto. O churrasco perfumava o rancho com o cheiro ativo
dos tecidos sangrentos mal tostaqdos" (A. Maia, Ruinas Vivas, Porto,
Lello & Irmo, 1910, p. 89).

CHURRASQUEADA, s. Ato de churrasquear.

CHURRASQUEADOR, adj. Apreciador de churrasco, o que gosta de comer


churrasco.

CHURRASQUEAR, v. Preparar e comer o churrasco. Comer churrasco. Por ex


tenso, tomar qualquer refeio, comer, alimentar-se.

CHURRASQUEAR NO MESMO ESPETO, expr. Terem duas ou mais pessoas grande


amizade, entre si. "Churrasqueamos no mesmo espeto", isto , somos
grandes amigos, nos damos muito bem.

CHURRASQUITO, s. Diminutivo de churrasco.

CHURRIADO, adj. Plo de gado vacum, no qual, sobre o pelame


predominante, em geral osco, vermelho ou preto, aparecem listras de
outra cor, brancas ou esbranquiadas, como se fossem feitas por um
lquido que tivesse escorrido. // Borrado.

CHURRILHO, s. Diarria, desinteria que ataca o gado. O mesmo que


churrio. // Tambm se aplica s pessoas.

CHURRIO, s. O mesmo que churrilho.

CHURUMELA, s. Escrito maudo, de leitura desagradvel. Discurso maante.

CHUSPA, s. Bolsinha feita da pele do papo da ema, ou de outro material,


destinada a guardar dinheiro, fumo, papel de cigarros, miudezas. (Do
quchua).

CHUSQUE, adj. Gracioso, airoso, elegante. (Cast.).

CHUVA DE MOLHAR BOBO, expr. Chuva mida, garoa. (Expresso registrada

119

por Arthur Ferreira Filho, in Narrativas de Terra e Sangue, P.A., Ed. A


Nao, 1974, p. 115).

CHUVISQUEIRO, s. Chuva mida, chuvisco.

CIDR, s. Planta medicinal empregada no tratamento do estmago, dos


intestinos, e como calmante dos nervos. (Lippia citriodora.).

CIGARRARIA, s. Charutaria, tabacaria.

CIGARRO CRIOULO, s. Cigarro enrolado em palha de milho.

CILHA, s. Tira de couro ou de pano com que se aperta a sela por baixo do
ventre dos animais.

CILHADO, adj. Diz-se do animal que, no lugar da cilha, apresenta plos


de cor diferente da do resto do corpo.
CILHO, adj. Diz-se do cavalo que tem o espinhao encurvado para baixo
no lugar em que se colocam os arreios, entre a anca e as cruzes. Selado.
// Cilha grande, cilha mestra.

CIMBRAR, v. Pealar de um modo especial.

CINCERRO, s. Campainha grande que se pendura ao pescoo da


gua-madrinha, a cujo som os outros animais se habituam, mantendo-se
sempre reunidos.

"De um cincerro batida incompassada


andei tocando tropa pela estrada,"
(Zeno Cardoso Nunes, Querncia).

"Ouo, como ecos tristes do meu canto,


de um quero-quero os gritos de ansiedade,
e, como algum gemendo, imerso em pranto,
um cincerro a bater na soledade!"
(Rui Cardoso Nunes, Almas
Penadas, p. 27).

CINCHA, s. Pea dos arreios que serve para firmar o lombilho ou o


serigote sobre o lombo do animal. A cincha compe-se de: travesso,
constitudo de uma pea retangular de couro, com uma argola em cada
extremidade, que colocado sobre o lombilho, no local em que se senta o
cavaleiro; barrigueira, constituda de uma espcie de trama de barbante
ou tira de couro, com uma argola em cada extremidade, que, presa ao
travesso pelos ltegos, cinge o cavalo pelo lado da barriga; ltego,
tira de couro que, presa a uma das argolas do travesso o une argola
da barrigueira, para apertar os arreios, no lado de montar, esquerda
do cavalo; sobre-ltego, tira de couro que prende a argola do travesso
argola da barrigueira, no lado de laar, direita do cavalo. //
Tambm chamada chincha.

" bruto - barbaridade -


de se agentar o tiro,
quando a cincha da saudade
nos aperta o corao."
(Antnio Augusto de Oliveira,
Rastros de um Charrua, P.A., Martins
Livreiro-Editor, p. 59).

CINCHADOR, s. Pea de ferro ou couro presa argola do travesso da


cincha, do lado direito do animal, que serve para nela apresilhar-se o
lao. // adj. e s. Diz-se de, ou aquele que cincha. Cavalo cinchador o
que sabe cinchar, conservando o lao sempre esticado. // Tambm se diz
chinchador, para qualquer das significaes.

CINCHO, s. Cinta larga de tecido que, nos arreios de luxo, substitui,


s vezes, a sobrechincha.

CINCHAR, v. Montado, manter um animal preso a uma das extremidades do


lao, a do lado da armada ou da argola, e ter a outra extremidade, a da
presi-

120
lha, ligada ao cinchador e, conseqentemente, argola do travesso da
cincha, do lado direito do cavalo de montaria. // Puxar, arrastar pela
cincha. // Apertar a cincha. // Tambm se diz chinchar, para qualquer
das significaes.

CINCHO, s. Pequena rvore, Soracea Ilicifolia, cuja casca, quando


fendida, exuda um leite de cor vermelha, de propriedades custicas, e
neutralizante do efeito irritante da seiva do mata-olho. // Forma de
madeira utilizada para o fabrico do queijo.

CINCO MANDAMENTOS, s. Os cinco dedos da mo. A mo.

CINTO-DE-COURO, s. Cinta larga de couro cru que se usa para evitar a


fuga de presos em viagem. Suas extremidades esto providas de ilhoses
que permitem ser ela apertada ao corpo do paciente, pelas costas, com
tiras de couro, semelhana dos antigos espartilhos de senhoras. Aos
lados a cinta provida de presilhas para ligar ao corpo os braos do
prisioneiro.

CIOBA, s. Indivduo pedante e adulador.

CIP-CRUZ, s. Chiococa anguicida. Tem propriedades medicinais para o


tratamento da asma, de mordedura de cobra, etc.

CIP-DE-SO-JOO, s. Pyrostegia venasta. Trepadeira de flor amarela.

CIP-SUMA, s. Planta medicinal usada como depurativo. Paraguaia.

CIRCO, s. Formao em crculo de pessoas a p ou a cavalo, no campo, com


a finalidade de conter reunidos, em pequeno espao, animais que vo ser
pegados para utilizao.

CIRCUNSTANTES, s. As pessoas presentes em uma festa ou reunio.

CISCAR, v. Brigar, entrar em conflito.

CISCO, s. Partcula de qualquer corpo cada no olho.

CISQUEIRO, s. Caixote ou lugar onde se lanam coisas inteis ou o cisco.

CLARO, s. Clareira, local limpo no mato.

CLAVADA, s. O fato de, quando se atira o osso, no jogo desse nome, cair
ele de ponta e, depois, lentamente, deitar-se dando a "sorte". Ato de
clavar. // Logro, velhacada.

"Num bolicho de campanha,


de volta de uma tropeada,
botei ali uma olada
a maior da minha vida:
dezoito sorte corrida,
quarenta e cinco clavada!
(Joo da Cunha Vargas, Gaudrio,
in Antologia da EPC, P.A., Sulina,
1970. p. 236).

CLAVAR, v. Produzir a clavada. // Enganar, lograr, trampear.


CLAVO, s. Prejuzo, logro, perda, calote.

CLINA, s. Crina, cerda, cabelo comprido. ( palavra castelhana e do


portugus antigo).

CLINUDO, adj. e s. Animal no tosado, de clinas grandes. // Por


extenso, aplica-se ao indivduo cabeludo.

COALHAR, v. Aglomerar, agrupar, reunir, juntar: "O pomar est coalhado


de frutas".

COALHEIRA, s. Um dos estmagos do animal bovino que, por conter muito


cido, usado para coalhar ou coagular o leite para o preparo de
queijo. // Mulher velha e feia.

COARADOR, s. O mesmo que quarador.

COARAR, v. Corar, no sentido de ficar, a roupa, exposta ao sol para


branquear. // Permanecer por muito tempo num lugar.

COAR O GADO, expr. Deixar, quando se

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est tocando gado para o rodeio, propositadamente, que se vo


desgarrando as reses de que no se necessita.

COBRA MANDADA, s. Coisa feita com premeditao, de forma velhaca. "O que
aconteceu ao teu primo foi cobra mandada", isto , o acontecimento em
que teu primo se viu envolvido, j havia sido velhacamente preparado
para ele.

COBRA NARIGUDA, s. Cobra inofensiva das dunas do litoral rio-grandense,


(Leptophis d'Orbigny.).

COBRE, s. Dinheiro de pouco valor.

COBREIRO, s. Erupo que se alastra pela pele e que atribuda ao fato


de ter passado pelo corpo ou por sobre a roupa, quando estendida no
quarador ou em outro lugar, uma cobra ou qualquer outro animal
peonhento. (Segundo a crendice popular, se o cobreiro fechar, isto ,
se uma ponta da erupo atingir a outra, a pessoa morre. Para evitar que
tal fato ocorra aconselhado que se escreva, com um palito molhado em
tinta a Ave-Maria s avessas ao redor de toda a erupo).

COBRIR A MARCA, expr. Bater na marca.

COADEIRA, s. Aparelho para os porcos se coarem, livrando-se dos


piolhos e aplicando-se, ao mesmo tempo, um desinfetante.

COCO, s. Uma rvore da flora do Rio Grande do Sul: Erytroxylon


Palleterianum.

COAR AS CANELAS, expr. Ter cimes.

COAR-SE, v. Fazer meno de sacar as armas.


COCEIRA, s. Comicho.

COCHA, s. Destreza, nimo, coragem. Perder a cocha: desanimar.

COCHE! COCHE!, interj. para chamar os porcos. V. cur! cur!.

"Na lngua quchua, coche porco. No Minho Cuche! Cuche!"


(Moraes).

COCHO, s. Recipiente de madeira ou de outro material, de vrias formas e


de vrios tamanhos, que serve para diversos fins: para colocar sal para
o gado nos rodeios, para dar rao aos animais domsticos, para lavar
mandioca, para o fabrico de farinha, etc.

COCO, s. Cabea.

COCRE, s. Croque.

COCUMBI, s. Dana festiva de africanos.

COCURUTA, s. O mesmo que cucuruto.

COCURUTO, s. O cimo de uma coxilha. Salincia do terreno. Montculo. //


Corcunda. A giba do zebu. Calombo. Inchao.

CODILHO, s. Perda. Levar codilho, o mesmo que perder.

CODORNA, s. Perdiz, codorniz.

COERANA, s. Coirana. Planta arbustfera, perene, de at dois metros de


altura, que apresenta certas propriedades medicinais, e, no entanto,
possui um princpio txico que mata o gado. (Solanum inaequale).

COERO, s. Corno. Individuo que consente na infidelidade da mulher ou da


amiga.

COGOTILHO, s. Tosadura que se faz nas crinas do cavalo, acompanhando a


volta do pescoo e baixando progressivamente entre as orelhas e para o
lado das cruzes, onde, em geral, ficam algumas crinas compridas para que
nelas o cavaleiro se segure. (V. meio-cogotilho).

122

COGOTUDO, s. e adj. Pessoa ou o animal que tem o cogote muito grosso.


Pescoudo.

COICE, s. Lugar prximo carreta,junto ao cabealho, onde vai a junta


de bois do coice. A parte traseira de uma tropa. O mesmo que couce.

COICEAR, v. Escoucear, dar coices.

COICEIRO, adj. Diz-se do animal que tem o costume de dar coices. O mesmo
que couceirO.

COIMA, s. Parada de jogo de osso. // A percentagem que cabe ao


proprietrio da cancha de jogo de osso.
COIMEIRO, s. O depositrio da coima, ou seja, da parada, no jogo de
osso. // Indivduo que explora o jogo, em carreiras.

"O coimeiro Breno preparou a cancha de taba, armou a roleta na


lana da carreta e comeou a gritar:
Quem quer arriscar a sorte?! Quem quer ficar rico na roleta?!
Venham s olhar o jogo, amigos!" (Ivan Pedro de Martins, Caminhos do
Sul, P.A., Globo, 1946, p. 47).

COIRANA, s. Coerana.

COIREADA, s. O mesmo que coureada.

COIREADOR, s. O mesmo que coureador.

COIREAR, v. O mesmo que courear.

COISAS DO ARCO DA VELHA, expr. Referncias a respeito de pessoas, que


causam espanto ou admirao.

COIVARA, s. Roa de mato derrubado e queimado. (Do tupi, coyurra, queima


de roa).

COIVARAR, v. Encoivarar. Fazer a coivara. Reunir os ramos que sobraram


da queima da coivara em montes e tornar a queim-los.

COLA, s. Encalo, rastro. // A cauda dos animais. ( termo antiguado em


Portugal, nesta acepo, mas muito usado no Rio Grande do Sul).

"Quando ato a cola do pingo,


E ponho o chapu do lado,
E boto o lao nos tentos,
Por Deus que sou respeitado."
(Quadra popular).

COLA ATADA, s. A cauda do cavalo atada de modo a formar um tope.

COLA DE SORRO, s. Variedade de capim, Andropogon condensatus.

COLA E LUZ, expr. Partido que se d nas corridas de cavalos e que


consiste em sair o parelheiro favorecido na frente, devendo seu
competidor, para ganhar, fazer luz no lao de chegada.

COLA-FINA, s. Denominao que o homem do campo d aos habitantes da


cidade, que no entendem das lides campeiras.

"Cola fina - Os cavalos de trato, cavalos de cocheira, cuidados


com carinhos especiais, como os de prado, por exemplo, ou do andar de
elegantes, tm, por isso, a cola fina, lisa, sempre bem penteada e
lustrosa. Por isso denomina o gacho de cola-fina ao homem da cidade, ou
que no entende da vida do campo." (Walter Spalding, Ba de Estncia).

COLEAO, s. Ato de colear, conluio,


apaniguao, aliana para fins incon-
fessveis. Coleada.

COLEADA, s. Coleao.
COLEAR, v. Fazer cair o animal vacum,
puxando-o pela cola ou cauda.
COLEAR-SE, v. Conluiar-se.

COLHERA, s. Pea de couro ou de metal


utilizada para prender dois animais,

123

um ao outro, pelo pescoo. O conjunto dos animais atrelados pela


colhera. // Figuradamente, dois indivduos que andam sempre juntos. (Do
castelhano collera significando cadeia dos forados das gals).

COLHUDO, adj. e s. Cavalo inteiro, no castrado. Pastor. Figuradamente,


diz-se do indivduo valente, que enfrenta o perigo, que agenta o
repuxo.

COLINCHO, adj. Rabo, em relao aos animais. De cabo ou ala muito


curtos, em relao a objetos.

COLMILHUDO, s. Diz-se do animal cavalar de grandes colmilhos, portanto


j velho. // Figuradamente, aplica-se s pessoas de idade avanada.

COLONISTA, s. Os portugueses procedentes da antiga Colnia do


Sacramento.

COLORADO, s. e adj. Cavalar ou muar de pelo vermelho. // Encarnado,


vermelho vivo. "Baeta cobrada", significa baeta encarnada, bem vermelha.
// tambm qualificativo de um partido poltico do Uruguai, bem como de
membro desse partido.

"s branca como jasmim,


colorada como a rosa.
Por teu amor eu daria
Minha terneira barrosa."
(Quadra popular).

"Em cima daquele cerro


Tem uma sela dourada
Pra assentar meu amor
Co'a divisa colorada."
(Quadra popular).

COLOREADO, s. O vermelho, a cor vermelha.

COLOREAR, v. Mostrar-se em sua cor vermelha, apresentar a cor vermelha.

"O mato estava cobreado de pitanga". "A moa coloreou quando soube da
chegada do antigo namorado". "Os lenos dos maragatos enforcavam na
coxilha". "Mal pelaram as adagas e j o sangue coloreou a testa de um
deles."

COLUDO, adj. Diz-se do animal que tem a cola grossa, isto , com muito
cabelo.

COMADRES, s. Hemorridas.

COM A PULGA ATRS DA ORELHA, expr. Desconfiado.


COMBUCA, s. Porongo grande, com pequena abertura, que utilizado para
guardar objetos. ( termo de origem tupi).

COMEDOR, s. A sala de jantar.

COMER CARONA, expr. Passar muito trabalho.

COMER COLA. expr. Ir sempre atrs na corrida de cavalos. Perder a


carreira por grande diferena.

COMER DE VIANDA, expr. Comer de marmita. Comer refeio fornecida a


domiclio, em marmita.

COMER E VIRAR O COCHO, expr. Ser ingrato, no reconhecer os favores


recebidos.

COMER MOSCA, expr. Estar distrado, deixar-se iludir, estar atoleimado


(chulo).

COME-UNHA. s. Usurrio.

COMO. adv. Tanto quanto, coisa de: "Eu vinha como a uma lgua quando
comeou o tiroteio". // Usa-se, ainda, em frases como estas: "Como para
que o senhor deseja o faco?", isto , para que o senhor deseja o
faco?" Diz-se em resposta: "Como para abrir picada", isto , para ser
usado em abertura de picada.

CMODO, s. O andar do animal. Diz-se


de bom ou de mau cmodo, o cavalo

124

ou o muar, conforme seu andar for agradvel ou desagradvel para o


cavaleiro que o monta.

COM O P NO ESTRIBO, expr. Prestes a partir.

COMO QUER, loc. conj. O mesmo que como quera.

COMO QUERA, loc. conj. Como quer que seja, de qualquer modo, seja como
for, apesar disso, ainda assim, bem provvel, possivelmente.

"Como quera, tou com vontade de no faz mais festa" (Darcy


Azambuja, No Galpo).

COMPADRADA, s. Fanfarronada, bazfia, jactncia, gabolice, gauchada,


arrogncia, galhardia, palavrrio de sujeito conversador. ( vocbulo
uruguaio).

"No sou homem de com padradas, tenho uma cavalhada flor, de


marca grande." (A. Maia, Runas Vivas, p. 156).

COMPADRE, s. Diz-se do que pratica a compadrada. Pretencioso,


jactancioso, pernstico, pachola, cheio de si. // Diz-se, tambm, para
exaltar as qualidades de um objeto: "Que poncho compadre tem o Janguta",
isto , que poncho lindo tem ele. // Diz-se, ainda, em relao ao cavalo
monarca, faceiro. ( vocbulo uruguaio).

COMPADREAR, v. Praticar ou fazer com padrada.

COMPANHA, s. Companhia. (Os dicionrios registram o termo como desusado


ou antigo, nesta acepo. Entretanto, no Rio Grande do Sul,
principalmente na fronteira, tem ele uso bastante freqente). "Fulano
veio festa em minha companha", isto , comigo, em minha companhia.

"se andarem com gente estranha,


devem ser mui precavidos,
pois por iguais sero tidos
se a maus fizerem companha."
(Jos Hernndez, Martn Fierro,
traduo de J. O. Nogueira Leiria).

COMPANHEIRA, s. Mulher amancebada, amigada, amasiada, que vive com o


homem como se fosse casada.

COMPOR, v. Preparar o parelheiro para disputar carreira, submetendo-o a


trato especial e a variados exerccios. Emprega-se o termo tambm em
relao a galo de rinha. // No Rio da Prata dizem compoer.

COMPOSITOR, s. Pessoa que prepara o parelheiro para a corrida, e,


tambm, o galo para a rinha.

COMPOSTURA, s. Preparao do cavalo para corridas. Tempo empregado no


preparo do animal para corridas. Estado ou condio em que se encontra o
animal preparado para as corridas. "O parelheiro est em compostura,
para correr no prximo ms." "Este parelheiro est em boa compostura",
isto , em bom estado para correr. "O tostado passou da compostura",
significa que o exercitaram em excesso, de maneira a prejudicar o seu
estado fsico, diminuindo-lhe a capacidade de correr.

COMPRAR A CAMORRA, expr. Reagir a a uma provocao. Picar-se.

"E relanceou os olhos pelos redores, esperando que algum


comprasse a camorra; ningum se picou." (Simes Lopes).

COMPRAR A PARADA, expr. Aceitar um desafio feito a outra pessoa, para


jogo ou para briga. Tomar dores por outro. // Meter-se em negcio
alheio. // Comprar parada.

COMPRAR PARADA, expr. O mesmO que comprar a parada.

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COMPROMISSO, adj. Importante. "Negcio de compromisso", isto , negcio


importante. "Carreira de compromisso", isto , carreira de grande
importncia, pelo vulto da parada ou por qualquer outro motivo.

COM UM P ATRS, expr. Prevenido, pronto para defender-se, para safar-se


de uma situao desagradvel.

CONCHAVADA, s. Criada, empregada, peona ou pioa, fmula.

CONCHAVADO, s. Trabalhador assalariado, peo de estncia, empregado,


criado de servio, pessoa que est a soldo de outrem.

CONCHAVAR, v. Contratar os servios de algum, tomar algum como peo ou


empregado.

CONCHAVAR-SE, v. Alugar-se, ajustar-se, entrar para o servio de uma


estncia ou de uma casa, empregar-se como peo. // Amasiar-se,
amancebar-se.

CONCHAVO, s. Ajuste de emprego. Emprego domstico. // Significa tambm


combinao entre duas ou mais pessoas.

CONCHO, adj. Confiante. Empregad na expresso mui concho com o sentido


de despreocupado, muito confiante.

CONCLUDIR, v. Deduzir, concluir, inferir.

CONDE DE BARALHO, expr. Diz-se do cavalo muito bom, monarca, bonito,


semelhante ao em que monta o conde no baralho espanhol.

CONDENADO, adj. Mau, perverso, endiabrado, safado. "Fulano um


condenado", isto , safado, mau.

CONFIANA, s. Empregado, animal, ou pessoa amiga, de confiana, com quem


se pode contar em qualquer situao.

CONFORME, adv. Logo que, medida que.

CONGONHA, s. Erva-mate verdadeira, legtima, de boa qualidade. Erva-mate


preparada com folhas secas na sombra, sem o calor do fogo. (Vem do tupi,
ggi ou cogoi, folha, erva).

Quem quiser que eu cante bem


D-me um mate de congonha,
Para limpar este peito
Que est cheio de vergonha.
(Quadrinha popular).

CONGONHAR, v. Matear, tomar mate, tomar mate de congonha.

CONJUNTA, s. Tira de couro, macia, comprida, com trs centmetros de


largura, com que se prende o boi ao jugo pela base dos chifres.

CONTRRITO, adj. Aterrorizado, espantado. (Antiq. em Portugal).

CONTESTAR, v. Responder, replicar.

CONTiNENTE, s. Denominao popular do Estado do Rio Grande do Sul desde


os tempos coloniais at Revoluo de 1835.

"Nas vetustas paredes do solar


Ainda ecoam as vozes dos Farrapos,
Em ordens, confabulaes guerreiras
Dos invictos centauros do decnio
Que pgina soberba, imperecvel,
Do Continente motivo de orgulho
Da altiva gente que aqui nasceu."
(Adecarlice Ferreira Porto Alegre,
Oblata, P.A., Ed. Thurmann, 1958,
p. 45).

CONTINENTE DEL REI, s. Antiga denominao do Estado do Rio Grande do


Sul.

CONTINENTE DE SO PEDRO, s. O mesmo que Continente.

CONTINENTE DE SO PEDRO DO SUL, s. O mesmo que Continente.

CONTINENTE DE VIAMO, s. Antiga denominao do Estado do Rio Gran-

126

de do Sul.

CONTINENTE DO RIO GRANDE, s. Antiga denominao do Estado do Rio Grande


do Sul.

CONTINENTE DO RIO GRANDE DE SO PEDRO, s. Antiga denominao do Estado


do Rio Grande do Sul.

CONTINENTINO, adj. Continentista.

CONTINENTISTA, s. e adj. Habitante do Rio Grande do Sul, especialmente o


revolucionrio de 1835.

"este vocbulo provavelmente nasceu da necessidade de se


diferenar os naturais do R.G. do Sul dos ilhus catarinnenses e
aorianos." (Moraes).

CONTRABUZINA, s. Pea oca de ao, de forma tronco-cnica, com a qual se


reveste a buzina, para impedir o desgaste originado do atrito do eixo
com a roda.

CONTRAMARCA, s. a marca aplicada em dois lugares e tem por fim indicar


que o animal que a traz deixou de pertencer ao proprietrio dela.

CONTRAPONTEADOR, s. e adj. Diz-se de ou a pessoa que tem o hbito de


contrariar, de contrapontear.

CONTRAPONTEAR, v. Contrariar, contradizer, retrucar, atrapalhar, aborrecer.

CONTRAPONTEAR-SE, v. Altercar, ter desinteligncia.

CONTRATAR, v. Fazer contrato ou pacto com algum.

CONTRA VOLTA s. Volta, volteio, giro em sentido contrrio ao anterior.

CONVENTILHO, s. Prostbulo.

CONVIDANTE, adj. Convidativo, que convida.

CONVIDAR O CAVAlO NAS PUAS, expr. Cravar as esporas no cavalo.

CONVIDAR-SE, v. Combinarem-se os corredores, na carreira de cavalos,


para a largada dos parelheiros, isto , para o incio da corrida.
COPAR A BANCA, expr. Aceitar o jogo. (No jogo de cartas, quando h
banqueiro e quando este anuncia o mximo da banca, um dos jogadores
declara "copo a banca", o que significa que ele jogar contra o
banqueiro, devendo pr na mesa a importncia arbitrada).

COPAS, s. Peas convexas e redondas, de prata, postas nas extremidades


do bocal do freio campeiro. Muitas vezes se usam moedas, de prata ou de
nquel, para substituir aquelas peas. O freio campeiro que tem essa
guarnio chamado freio de copas.

COQUEIRO, s. Jeriv, (Coco Romansoffiana).

CORAONADA, s. Aquilo que o corao diz ou dita. Pressentimento,


palpite.

CORAJUDO, adj. Diz-se de quem tem coragem. Corajoso, valente.

CORCOVEADOR, adj. Diz-se do animal, cavalar ou muar, que corcoveia.

CORCOVEAR, v. Pinotear. Dar o animal corcovos, isto , dar saltos,


curvando o lombo para lanar fora de si o cavaleiro.

CORCOVO, s. Pinote, pulo, movimento que faz o cavalo para lanar do


lombo o cavaleiro.

CORCUNDA, s. Alcunha que os farrapos davam aos legalistas. O mesmo que


absolutista, camelo, carwnuni, galego, restaurador.

CORDA, s. Terno chulo com que os campeiros s vezes designam o lao.

COR DE BURRO QUANDO FOGE, expr. Diz-se de uma cor, com inteno

127

depreciativa: "Ele est com uma roupa cor de burro quando foge." / Plo
de animal de cor indefinida.

CORDEIRAGEM, s. Rebanho de cordeiros; poro de cordeiros.

CORDEIRO, adj. Manso, pacfico.

CORDEONA, s. Gaita de foles, sanfona, acordeona. Var.: Cordiona.

"A cordeona um instrumento


que se parece mulher:
se nos alegra um momento,
nos faz chorar, quando quer."
(Lus Alberto lbarra, Cano do
Sul, P.A., Secretaria da Agricultura,
1958, p. 34).

CORDIONA, s. O mesmo que cordeona.

COREAR, v. Esfolar, tirar o couro. // Matar.

CORINCHO, s. Topete, bazfia, pimponice, proa, prosa, fanfarronada,


arrogncia, petulncia. (Este termo, em geral, usado na expresso
quebrar o corincho).

"Em uma localidade deste Estado, no tempo da monarquia, numa


inquirio de testemunhas sobre crime de morte, uma daquelas declarou
que o ru dissera que havia de escangalhar o corincho e tirar a vida a
muita gente boa; a vista do que o juiz, que era nortista e no conhecia
a terminologia rio-grandense, perguntou ao oficial de justia presente:
Quem era esse tal corincho e se no estava arrolado como testemunha! A
gargalhada na sala do tribunal foi geral e o juiz ficou desde ento
sabendo o que significava corincho, embora custasse-lhe isso o pagamento
de uma chapetonada, conforme nos disse o nosso patrcio informante do
caso. Suponho que este vocbulo derivase do hispano-americano curiche."
(Romaguera).

"E Nicomedes sempre se saia bem, no s quebrando os corinchos


das crias tidas como rebeldes, para uma doma que no deixasse a herana
de uma balda, como tambm proporcionando espetculos emocionantes
queles que desconhecem os arrojados lances das lides campeiras do Rio
Grande." (D'vila Flores, ltimo Rastro, P.A., Imprensa Oficial, 1958,
p. 22).

CORNAO, s. Coroada, chifrada, marrada. Pancada com os cornos.

CORNADA, s. O mesmo que cornao.

CORNEADOR, adj. Diz-se do animal bovino que costuma dar cornadas.

CORNEAR, v. Dar cornadas, chifradas, marradas.

CORNETA, s. e adj. Diz-se de ou o vacum a que falta um dos chifres ou


que possui um deles quebrado. (O boi corneta sempre ocasiona problemas
na tropa em que anda, pois, no estando em igualdade de condies com os
outros para brigar, est constantemente fugindo e dando trompzios a
torto e a direito). // Por extenso, diz-se do indivduo intrometido,
trapalho, indisciplinado, trfego, rixoso, arengueiro, inquieto, que d
mau exemplo.

"Dice el refrn que en la tropa


Nunca falta un gey corneta:"
(Jos Hernndez, Martn Fierro).

CORNETEAR, v. Fazer o papel do individuo corneta, isto , do


intrometido, do trapalho, do arengueiro.

CORNO, s. Marido cuja mulher prevarica.

CORNUDO, adj. Que tem grandes cornos.

COROAR, v. Capinar, na lavoura inada de mato, um determinado circulo e

128

nele abrir a cova para o plantio do gro.

COROBICHO, adj. Diz-se do cavalo forte, resistente, muito bom.

CORONILHA, s. rvore (Scutia Buxifolia, Reiss) cuja madeira muito


resistente. // Em sentido figurado, indivduo forte, guapo, disposto,
resistente, valente. // Avarento.

CORPEADA, s. Negaa com o corpo.

CORPEAR, v. Fazer negaa com o corpo. Usar de esperteza para


defender-se.

"Est disposto a esperar com pacincia que chegue a sua hora,


mas enquanto lhe sobrarem foras h de corpear, porque corpeando que
se vive." (Cyro Martins, Paz nos Campos, P.A., Globo, 1957, p. 152).

CORREAME, s. Peas que formam o arreamento das viaturas.

CORREDEIRA, s. Trecho encachoeirado de rio ou arroio. / Churrilho,


caganeira.

CORREDOR, s. Estrada que atravessa campos de criao, deles separada por


cercas em ambos os lados. H, entre as cercas, regular extenso de
terra, onde, por vezes, se arrancham os que no tm onde morar. //
Jquei. Indivduo que monta o parelheiro nas corridas de cavalo. //
Indivduo encarregado de, nas rinhas, entrar no tambor para instigar
briga os galos j cansados. // Anel de tiras de couro, ou tentos,
tranadas, ou anel metlico, usado para apertar a costura de peas do
arreamento.

-"E todos marcam no corredor o trao de suas vidas. O corredor


vai de coxilha em coxilha, de sanga em sanga, entra e sai por cidades,
sobe e desce pelos campos, arrastando a grande corrente das vidas de
todos os tipos, grandes e pequenas, humildes e hericas, cheias de dores
e cheias de esperana. Em seu p baila muito do que forma a vida das
coxilhas todas." (Ivan Pedro de Martins, Caminhos do Sul, P.A., Globo,
1946,p. 204).

"Era profundamente doloroso o ver-se dezenas e dezenas de


pessoas de todas as idades, em longas e vagarosas filas, palmilhando
corredores, cortando campos, passando fome e frio, para alcanar algum
lugar onde pudessem viver." (Francisco Pereira Rodrigues, Terra Afogada,
P.A., Martins Livreiro-Editor, 1979,p. 151).

"Corredor comprido e reto como este t pra v. Os herdeiros


dividiram com olho de gavio. Coisa a perder de vista. Sobe e desce
coxilha na mesma direo. D pra enxergar o fim do mundo..." (Tau Golin,
Trs lguas de volta, P.A., Martins Livreiro-Editor, 1980, p. 30).

CORREIO, s. Grande quantidade de formigas que, de vez em quando,


invadem as habitaes, percorrendo-as canto por canto, em perseguio a
todos os insetos nelas existentes, e que, a seguir, desaparecem assim
como surgiram.

CORRENTOSO, adj. Diz-se do rio ou arroio cujas guas correm com grande
rapidez. (Segundo Granada o vocbulo empregado tambm no Rio da
Prata).

CORRER EM CONDIES, expr. Correr bem. Processar-se a carteira na forma


ajustada.

CORRER NA ORELHA, expr. Em carreira de cavalos, correrem os parelheiros


em igualdade de condies.
129

CORRETISMO, s. Tendncia afetada de, na linguagem falada ou escrita,


manter rigorosa pureza e correo.

"E dos que tm feito estas vs e temerrias tentativas, para


alardearem um corretismo balofo..." (Cezimbra Jacques, Assuntos do Rio
Grande do Sul, P.A., 1912,p. 14).

CORRIDA, s. O mesmo que carreira. // Vide a expresso botar a corrida


fora. // adj. Diz-se de animal fmea quando no cio.

"gua corrida, sem pastor... sempre acha um retalhado..."


(Mrcio Dias, Brumas da Minha Saudade, p. 32).

CORRIDO, adj. Diz-se do galo de rinha que, por ter sido vencido, foge
dos outros, ressabiado de brigar. Animal no cio.

CORRIMAA, s. Carreira, tropel, feito pelas crianas em suas


brincadeiras.

CORRUIRA, s. Pequeno pssaro da famlia dos Trogloditdios. Currura. Em


outras partes do pas tem os nomes de cambaxirra, carria, garria,
garrio, garrincha, etc.

CORTADO, s. A quarta parte da antiga moeda chamada boliviano. //


Inquietao, apuro: "Esse novo fiscal traz os comerciantes num cortado."
// Ornato em relevo que se faz cortando; recorte.

CORTA-MORTALHA, s. Ave noturna que segue o viajante e que emite um som


semelhante ao que produz uma fazenda que se rasga. (Os supersticiosos
dizem que o corta-mortalha de mau agouro, que prenuncia desgraas).

"Como um corta-mortalha, mau, de agouro,


que rasga pano diante do tropeiro
lhe trazendo notcias de desgraa,
- uma leva de tristes pensamentos
de runas, de luto e sofrimentos,
rasgando pano em nossas mentes passa."
(Zeno Cardoso Nunes - O Dia" V").

CORTAR, v. Separar, apartar. "Da tropa que veio da invernada velha


cortamos vinte reses", isto , separamos vinte reses. "Depois de viajar
umas duas horas, me cortei dos companheiros". Ao verbo cortar-se no
sentido de separar-se, s vezes junta-se a expresso que nem tento. II
Secar, dividir, separar as guas de um arroio ou de um rio: "O arroio
cortou-se por causa da seca", isto , teve o seu curso interrompido pela
seca.

"Atendendo solicitao do bravo revolucionrio cortou-se da


fora e, a cavalo, apareceu, em terreno limpo, a fim de ter o
entendimento pedido pelo inimigo." (S. Faria Corra, Serro Alegre, 1933,
p.62).

CORTAR A CONVERSA, expr. Interromper a conversa.


CORTAR A PARTIDA, expr. Sustar o corredor a largada de seu parelheiro,
no lao de sada, embora tenha dado a impresso de que iria correr. Em
grande nmero de casos as partidas so cortadas por velhacaria ou por
habilidade dos corredores que procuram, na largada, obter vantagem sobre
seu competidor. // Em sentido figurado, cortar a partida significa
negar-se, usar de subterfgios.

CORTAR CAMPO, expr. Viajar fora das estradas, atravessando os campos.

"E vinha mesmo o cascudo do Bertoldo, no pela estrada real, mas


do rumo da chacrinha, cortando campo em direo ao caponete,

130

acampamento dos aramadores." (Aureliano, Memrias do Coronel Falco,


P.A., Ed. Movimento, 1974, p. 203).

CORTAR-SE, v. Mudar de rumo, tomar direo diferente da que vinha


seguindo.

CORTAR-SE DE DINHEIRO, v. Ficar desprovido de dinheiro.

CORTAR-SE QUE NEM TENTO, expr. O mesmo que cortar-se, com o sentido de
separar-se, mudar de rumo: "Vou com eles at o Passo e de l me corto
que nem tento para a cidade".

"Sou torena e meio abarbatado,


Se me pisam no poncho j me esquento,
E puxo do faco enferrujado,
Por vida - que daqui me no ausento
Sem deixar algum diabo codilliado,
E ento j me corto que nem tento."
(Popular).

CORTAR UMA PONTA, expr. Separar da tropa um grupo de animais, sem


escolh-los. (Quando um estancieiro vende parte do gado por uma ponta
cortada, vende reses boas e ms, separadas sem escolha, pelo corte de
uma ponta da tropa, evitando a sada de somente as melhores reses, o que
desvalorizaria o restante do gado).

CORTAR VOLTA, expr. Desviar-se. Procurar enganar. Usar de subterfgios.

CORTE, s. Condio de abate para consumo, em relao ao gado. Gado de


corte , pois, aquele que est em boas condies de carnes e de gordura,
podendo ser vendido a charqueadas, aougues ou frigorficos, para abate
e consumo. No gado de corte no se incluem vacas de cria nem animais com
menos de trs anos, excetuados os atuais terneiros precoces, que podem
ser abatidos aos dois anos de idade. // Emprega-se, tambm, em sentido
figurado.

"A cordeona chorosa j no chora


na tirana, no chote, como outrora,
quando o campeiro sua mgoa expande!
Tudo vai se findando, guasca forte!
O tempo vai tirando para o corte
as tradies mais lindas do Rio Grande!"
(Rui Cardoso Nunes - Tropilha
Perdida).

CORTICEIRA-DO-MATO, s. Seivo ou seibo. Corticeira do banhado. Erythrina


crista galli, pertencente s PapilionCeas.

CORUJA-DO-CAMPO, s. Uma variedade de coruja do campo, que habita em


tocas. (Speotyto cuniculria).

CORUJEIRO, adj. Bom, excelente, esplndido, agradvel vista: "Esporas


corujeiras", isto , esporas lindas, agradveis vista. // Diz-se,
tambm, da pessoa sempre disposta para tudo. // O mesmo que corujudo.

"Conto contigo, ndio velho corujeiro". (Callage).

CORUJUDO, adj. O mesmo que corujeiro.

COSCORO, s. Indivduo rstico, atrasado.

COSCS, s. Rosetas de ferro, colocadas no meio do bocal do freio


campeiro, para fazer bulha. ( corrupo do castelhano coscoja).

"Sob o umbu, de maneia, o cavalo de Roberto mosqueava-se


sombra, mordendo o coscs do freio." (A. Maia, Alma Brbara, RJ.,
Pimenta de Melo & C., 1922, p. 66).

131

COSCOSEAR, v. Movimentar o coscs, produzindo o seu rudo


caracterstico.

COSCOSEIRO, adj. Diz-se do cavalo que faz funcionar com freqncia o


coscs.

COSQUENTO, adj. O mesmo que cosquilhento e cosquilhoso.

COSQUILHENTO, adj. O mesmo que cosquento e cosquilhoso.

COSQUILHOSO, adj. Coceguento. Muito sensvel s ccegas. O mesmo que


cosquento, cosquilhento e cosquilhudo. // Em sentido figurado, diz-se de
quem suscetvel, de quem se melindra facilmente.

COSQUILHUDO, adj. O mesmo que cosquilhoso.

COSTA, s. Margem de um rio, arroio, lagoa, mar, oceano, banhado, regio,


mata, plancie, cerca, etc.: "Pernoitamos na costa do rio Camaqu e na
manh seguinte andamos vrias horas pela costa de um alambrado."

COSTA ABAIXO, expr. Terreno a descer, declive. // Em sentido figurado,


um disparate, uma tolice: "Nunca vi coisa mais costa abaixo do que
isso."

COSTA ACIMA, expr. Terreno a subir, aclive. // Em sentido figurado:


Coisa sem p nem cabea, disparate, tolice. // O mesmo que costa arriba.

COSTA ARRIBA, expr. O mesmo que costa acima.

COSTANEIRA, s. A primeira tboa tirada de um toro cilndrico, nas


serrarias ou engenhos de serrar madeira.

COSTANEIRO, s. Tropeiro que segue em um dos flancos da tropa.

COSTEADO, adj. Diz-se do gado que trabalhado freqentemente, e, por


isso, manso.

COSTEAR, v. Submeter a costeio. Trazer o gado freqentemente ao rodeio


ou mangueira para que fique bem manso e acostumado a obedecer os
campeiros que lidam com ele. // Seguir pela costa de rio, arroio, lagoa,
mar, oceano, banhado, regio, mata, plancie, cerca, etc. // Corrigir
defeitos de um indivduo por meio de castigo. // Fazer algum sofrer,
por desforra.

COSTEIO, s. Ato de sujeitar o gado a rodeios freqentes, ou de


recolh-lo, seguidamente, mangueira ou curral, para amans-lo e
acostum-lo a obedecer aos campeiros que lidam com ele. // Castigo, ato
de corrigir algum: "A professora deu-lhe um bom costeio", isto ,
tratou-o com energia para que se corrigisse de seus defeitos.

COSTELHAR,s. O mesmo que costilhar.

COSTILHAR, s. Parte da carne da rs que cobre as costelas. As costelas


do vacum com a carne que as cobre. O assado ou churrasco feito dessa
carne. O costilhar muito saboroso, especialmente se for de rs bem
nova.

COTEJAR, v. Comparar, avaliar. Cotejar um cavalo com outro fazer ambos


correrem para verificar qual deles est em melhores condies de
carreira. Cotejar dois objetos examin-los, prov-los, experiment-los
para verificar qual deles o melhor ou o mais bonito.

COTEJO, s. Ato de cotejar. Comparao que se faz entre dois cavalos ou


entre objetos para verificar qual o melhor.

COTO, s. Indivduo que tem um brao mutilado. // Faca pequena e


ordinria. // Coto, coisa pequena.

COTUBA, adj. O mesmo que cutuba.

COTUCAO,s. Ato de cotucar.

COTUCAR, v. O mesmo que cutucar.

COUCE, s. O mesmo que coice.

132

COUCEIRO, s. O mesmo que coiceiro.

COURAMA, s. Grande quantidade de couros.

COUREADA, s. Ao de courear. Var.: Coireada.

COUREADOR, s. Aquele que coureia. Var.: Coireador.

COUREAR, v. Tirar o couro de animal, morto no campo, de peste, magreza


ou desastre. No se aplica courear em relao aos animais abatidos para
consumo, usando-se, neste caso, tirar o couro.

COURO-CRU, s. Couro no curtido, seco pelo tempo.

COURO NONATO, s. Couro do terneiro encontrado no ventre da vaca


carneada.

"Produtos exportados pela Mesa de Rendas de Quara... Couros


nonatos secos, couros nonatos salgados ..." (Relat. da Secret. de
Estado, Anexo de julho de 1916, P.A.).

COVA DE TOURO, s. Escavao que o touro faz com os chifres e as patas,


como provocao, quando se prepara para a luta.

COVOADA,s. Vale entre duas coxilhas.

COXILHAS, s. Grandes extenses onduladas de campinas cobertas de


pastagem, que constituem a maior parte do territrio rio-grandense e
onde se desenvolve a atividade pastoril dos gachos.

"No sentido figurado coxilha o Rio Grande livre, o Rio Grande


tradicional, a sua vida de guerras e a sua vida de estncias, o trabalho
campesino, em suma". (Callage).

"O termo evocativo como poucos. Quando se diz - coxilhas - vem


logo lembrana 35, 93 e 23; as guerrilhas e as escaramuas; o minuano
a cortar as carnes com o frio irresistvel; umas carretas num pouso ao
luar; um gacho a galopar de pala ao vento; baguais correndo s
soltas..." (Manoel do Carmo, Cantares da minha terra).

"Coxilhas do Rio Grande,


Coxilhas do meu pago
que eu revelo, prazeiroso, agora!
Sob a toalha verde dos gramados,
sois os altares onde a tarde reza
o rosrio de mil contas da Saudade!"
(Roberto Osrio Jnior, Versos de
Ontem e de Hoje, Alegrete, Cadernos
do Extremo Sul).

COXILHO, s. Coxilha grande, muito extensa, espcie de chapado.

"Outro gado ver, de raa estranha,


nos campos l da Serra e da Campanha,
povoando coxilhes, vrzeas escampas!"
(Rui Cardoso Nunes, Tro pilha
Perdida).

COXINILHO, s. Tecido de l, tinto geralmente de preto, que colocado


sobre os arreios, para cmodo do cavaleiro. Var.: Coxonilho.

COXONILHO, s. O mesmo que coxinilho.

COZIDO, s. Fervido, puchero.

CRACA, s. O mesmo que caraca.

CRACR, s. Termo onomatopaico designativo da voz da coruja.


CRANO, adj. Boi preto muito retinto. O mesmo que carano.

CRAVADOR, s. Espcie de furador de ao, usado para trabalhar em couro.

CRAVINA, s. Pequeno pssaro de plumagem cor de sangue, encontrado no Rio

133

Grande do Sul.

CRAVO-DE-DEFUNTO, s. Denominao de uma variedade de cravo de cor roxa.

CRAVO-DO-MATO, s. Planta medicinal da famlia das Bromeliceas, usada


como diurtico e contra a blenorragia. (Tillandsia Dianthoidea).

CRECA, s. Careca, calvcie.

CRESCER, v. Tomar atitude agressiva contra algum: "O touro cresceu para
cima do peo", isto , investiu contra ele. // Encher, o rio. Aumentar,
o rio, o seu volume de gua: "Como o rio estava crescendo e a chuva
ainda no havia parado, achei melhor atravess-lo antes que isso fosse
impossvel."

CRESUDO, adj. Crescido, com bom desenvolvimento fsico.

CRESPO, adj. Difcil, spero. Animal que tem o plo encarapinhado.

"Fora uma agachada crespa, segundo a frase favorita do gacho no


relato romanciado de tais lances." (A. Maia, Runas Vivas, Porto, Lello&
Irmo, 1910, p. 9).

CRIA, s. Filho, de animal ou de pessoa. "Comprei uma vaca de cria" isto


, comprei uma vaca e um terneiro, filho da vaca. "Tenho de ir para casa
cuidar das crias", isto , cuidar dos meus filhos. O termo serve tambm
para indicar procedncia: "Aquele touro cria da Fazenda Velha", isto
, procede da Fazenda Velha; Serve ainda o vocbulo para designar pessoa
de descendncia humilde criada a expensas ou sob o patrocnio de outrem:

"Mulato velho mui srio


cria de Dona Maruca."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
21 ed., P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1978, p. 15).

"Meu vcio o mate amargo


e chinas da cima grande.
Sou cria deste Rio Grande.
Me criei meio a cavalo.
No gosto de errar pialo.
Perdoem a petulncia,
mas nasci l numa estncia
nas margens do So Gonalo."
(Jos Machado Leal, Um Tropeiro
no Rodeio).

CRIAO, s. O conjunto de animais de uma estncia. (Uma estncia de


3.000 bovinos, localizada em Bag, possuia a seguinte criao: 50
touros, 1,7%; 20 bois mansos, 0,6%; 800 novilhos, 26,7%; 1.000 vacas de
cria, 33,3%; 400 vaquilhonas, 13,3%; 200 vacas de invernar, 6,7%; 530
terneiros, 17,7%).

CRIADEIRA, s. Fmea que alimenta os filhos. Quando dispe de bastante


leite considerada boa criadeira e m em caso contrrio.

CRIADO, adj. Bem desenvolvido, corpulento, grande.

CRIADOR, s. Estancieiro, fazendeiro. // adj. Campo de boa pastagem, onde


o gado se cria bem.

CRIATURA, s. Criana, feto; pessoa do sexo feminino.

CRICIMA, s. Gramnea (Chusquia uruguayensis). Vegeta nos matos da


regio serrana, constituindo timo pasto.

CRINUDO, adj. De crinas compridas, de cabelos compridos.

CRIOULINHO DO PASTOREIRO, s. O mesmo que Negrinho do Pastoreio.

CRIOULINHO DO PASTOREiO, s. O mesmo que Negrinho do Pastoreio.

CRIOULITO, s. Creoulinho, Diminutivo de crioulo.

CRIOULO, s. e adj. O natural de deter-

134

minado lugar, regio, estado, pas: "O Clio crioulo de Canguu", isto
, natural de Canguu. // O cavalo aqui existente desde a poca da
colonizao, que, aqui aclimatado, veio a constituir uma raa com
caracteres bem definidos. // O animal oriundo de uma determinada
fazenda, regio, ou lugar: "O Zaino crioulo da Fazenda do Borracho".
// Cigarro de fumo em rama enrolado em palha de milho.

"Ordinariamente no via os lugares: estava sempre entregue a si


prprio, absorto nos seus clculos e devaneios, de olhos semicerrados ao
aspirar fumaas do crioulo, que, sem interrupo enrolava, afrouxava,
apertava, acendia e reacendia (A. Maia, Alma Brbara, RJ., Pimenta de
Melo & C., 1922, p. 23).

CRIOULO DA MARCA, expr. Diz-se do animal que nasce na propriedade de


determinado estancieiro e recebe a sua marca.

CRIOULO DO PASTOREIO, s. O mesmo que Negrinho do Pastoreio.

CRISTO, s. Pessoa, ente: "Faz tempo que no vejo esse cristo". // Um


dos partidos do torneio das cavalhadas.

CRISTEAR, v. Enganar, iludir, lograr, passar a perna, fazer de bobo:


"Ele no entendia do jogo e os parceiros o cristearam."

CRISTEL, s. O mesmo que clister (antiq. em Portugal).

CRISTIANO, adj. Cristo.


CRISTO, s. Paciente, pessoa que vtima de logro, velhacada, fraude,
roubo, dano, insulto, vexame, violncia fsica. "Jogaram a noite inteira
e o cristo foi o Chico que perdeu tudo o que tinha."

CRITIQUEIRO, s. Criticador, pessoa que habitualmente fala mal dos


outros.

CRIVA, s. rvore de casca grossa como uma espcie de cortia,


incombustvel, que vegeta nos campos.

CRIVADO, adj. Cheio de alguma coisa: "Caminho crivado de buracos", isto


, cheio de buracos; "Cabea crivada de piolhos", isto , cheia de
piolhos; "Mulher crivada de filhos", isto , que tem muitos filhos.
"Morreu crivado de balas", isto , atingido por muitas balas.

CRIVAR, v. Encher de alguma coisa: "Crivou a mulher de filhos", isto ,


produziu muitos filhos na mulher; "Vou crivar de balas aquele patife",
isto , vou dar-lhe muitos tiros.

CROQUE, s. Pancadinha na cabea, dada com as falanges dos dedos


indicador ou mdio, guisa de castigo.

CRUEIRA, s. Pedao de mandioca que fica na peneira, quando se passa nela


a massa da mandioca, antes de ser levada ao forno, na fabricao da
farinha.

CRUZ, s. V. as expresses fazer cruz na marca e fazer cruz no lombo.

CRUZA, s. Cruzamento de raas; produtos do cruzamento. L de ovelha


mestia. // Segundo ferro de arado que se passa num terreno, cortando o
primeiro transversalmente.

CRUZADA, s. Encruzilhada, cruzamento, encruzada, ato de cruzar. //


Passagem, travessia.

CRUZADO, adj. Diz-se do cavalo calado em diagonal. // s. Antiga moeda


de valor equivalente a Cr$ 0,40.

CRUZADOR, adj. Vagabundo, errante; indivduo sem ocupao que anda de


pouso em pouso.

135

CRUZAR, v. Atravessar, transitar, atalhar, transpor. // Vagabundear,


errar. // Ao de os galos se apoiarem mutuamente pelo pescoo, depois
dos revos (na gria dos rinhedeiros).

CRUZEIR, s. Variedade de cobra jararaca muito venenosa, tambm chamada


urutu.

"Enroscada como fumo


em balco de bolicheiro,
uma cruzeira bombeia
pra atirar no que rodeia
malevo bote certeiro!"
(Santos o Tropeiro, Gente Guapa,
Jaguaro, A Miscelnea, 1965, p.
17).

CRUZES, s. Garrote do cavalar e do muar. A parte compreendida entre o


dorso e o pescoo do animal. Agulha, cernelha. Parte do lombo onde se
unem as paletas.

CRUZO, s. Encruzilhada, atalho, caminho pouco conhecido.

CTG, s. Sigla de "Centro de Tradies Gachas". // Pl.: CTGs, CETEGES.

CUCA, s. Variedade de po, doce.

CUCHARRA, s. Colher tosca, de madeira ou de chifre, usada no campo. //


Denominao de uma das formas de pealar. (V. Pealo).

"... junto s tronqueiras, de tirador cinta e armada feita,


esperava, para um tombo de cucharra, o primeiro novilho que sasse, aos
pinotes, disparada, investindo, do interior." (A. Maia, Runas Vivas,
Porto, Lello&Irmo 1910,p. 34).

CUCU, s. Papa-lagartas. Ave da famlia dos Cuculdeos. O mesmo que


chincoa.

CU-PUCHA, interj. Exprime admirao, espanto: "Cu-pucha! Que morena!"


// O mesmo que Cuepucha!, Cu!, Pucha!, Cu-puna!, Cu! Puna!, Cuna!,
Eh! Pucha!, Epucha!

CUEPUCHA! interj. O mesmo que Cu-pucha!

CU-PUNA, interj. O mesmo que Cu-pucha!

CU! PUNA! interj. O mesmo que Cu-pucha!

CUERA, s. Cicatrizes no lombo do cavalar ou do muar, provenientes de


feridas ou mataduras ocasionadas pelo uso de arreios defeituosos. Essas
cicatrizes, ao contato do serigote ou lombilho, podem transformar-se
novamente em feridas. Unheira. Tubuna. // Homem ruim, maleva. // Gacho
forte, destemido. (Cf. qera).

"Desatinado, violento,
O cuera de Livramento
Esfaqueou Juca Machado"
(Jacyr Menegazzi, Carreira).

CUERO, adj. Covarde, poltro.

CUERUDO, adj. Diz-se do animal que sofre de cueras.

CUFAR, v. Morrer.

CUIA, s. Cabaa. Porongo, ou, mais propriamente, cabea de porongo que


se usa para preparar o mate. Recipiente de barro, de loua ou de
madeira, usado para se tomar mate. A cuia de chimarro, ou de mate,
feita de cabea de porongo, , muitas vezes, guarnecida de prata,
artisticamente lavrada. // Cabea.

"Botar fora no pude. uma cuia de chimarro que minha mulher


ganhou ainda antes de casarmos, e que nos acompanha desde as frias
manhs de Cruz Alta. Vinte e sete anos de uso, pelo menos. jeitosa
para um mate a dois, econmi-

136

ca, maneira de cevar! S que, por ltimo deu de molhar as mos e a roupa
da gente, como nen mal ensinado. No mais que uma pequena rachadura bem
no pescoo do porongo, mas dano bastante para exigir sua substituio.
Aposentei-a, sem jog-la fora, que uma coisa assim, misturando o calor
das mos da gente em tantos anos de serventia, at vai ganhando uma alma
prpria. E capaz de ter memria e sensibilidade." (Srgio da Costa
Franco, Achados e Perdidos, P.A., Martins Livreiro-Editor, 1981, p. 31).

"Cuia

Casco de morena cor,


com teu bojo olente e morno
lembras, ao tato, o contorno
de um seio, quente de amor."
(Joo Otvio Nogueira Leiria, in
Curriculum Vitae de Dario de
Bittencourt, P.A., Etica Impressora
Ltda., 1953, p. 169).

CUIDAR, v. Julgar, pensar:

"Tirana minha tirana


Tirana do ariru
A mulher matou o marido
Cuidando que era tatu."
(Quadra popular).

CUITELO, s. e adj. Beija-flor. Mimoso.

CULAPE, s. Culepe.

CULATRA, s. A retaguarda de uma tropa de gado. // Parte traseira da


carreta.

"Vai s um peo na culatra,


Vo dois contendo a dianteira,
E o gado desce a ladeira
Correndo em busca da aguada."
(Ribas Silveira, Odissia do Tropeirismo,
Irati, Paran, Irmo Martins,
p. 67).

CULATREAR, v. Seguir na culatra da


tropa, conduzindo-a. Sair no encalo ou em perseguio de
algum.

CULATREIRO, adj. Diz-se do boi da culatra.

"Boi culatreiro bebe gua barrenta". (Adgio popular).

CULEPE, s. Susto. Var.: culape.


CULO, s. O contrrio da sorte no jogo de osso ou tava. Posio em que,
caindo o osso, o jogador perde a partida. M sorte. Estar de culo: estar
caipora.

"Eu finquei uma clavada


Que embicou soltando barro!
At o velho Canabarro
Que ali estava e o Alanco
Se levantaram, ch-mico!,
Pra ver que sorte bonita.
Porm a tava maldita
Virou num culo de bico.
(Sejanes Quirino Dornelles, Tava
Carregada, poema).

"... levantou do cho uma das peas, um tarso de rs polido com


o uso, arremessando-o perito, s canhas, mal sofrido. 'Culo! suerte!
suerte! culo!'" (A. Maia, Runas Vivas, Porto, Lello & Irmo, 1910, p.
61).

CUMPLEANOS, s. Aniversrio. Data do nascimento. (Cast.).

CUNA!, interj. O mesmo que cu-pucha!

"Forma reduzida de ai-cuna; esta, por sua vez, procede do


americanismo aljuna!, que j contrao de ah! hijo de una! (No
dicionarizado)". (B. Holanda).

CUNH, s. Jovem ndia. palavra guarani.

"E as morenas cunhs de olhos profundos


tecendo abrigos para as Redues."
(Aureliano, Romances de Estncia e

137

Querncia, II, P.A., Sulina, 1963, p.


17).

"No testamento de Irala foram reconhecidos nove filhos, trs


vares e seis mulheres, prognie de sete cunhs favoritas." (Manoelito
de Ornellas, Gachos e Bedunos, RJ, Jos Olmpio, 1976,p. 12).

CUPI, s. Puxado que se faz nos oites das casas. Alpendre, varanda.
(Vocbulo de origem tupi, ogupi, significando declive da casa ou do
teto).

CUPIM, s. O cogote grosso e saliente dos touros das raas zebu e


calombo. // Montculo de barro muito duro feito pelos cupins.
Cupinzeiro.

CUPINCHA, s. Companheiro, amigo, comparsa.

CUPINUDO, adj. Diz-se do bovino que tem grande cupim ou giba. Pescoudo,
que tem grosso e saliente o toutio. // Em sentido figurado, aplica-se
ao indivduo forte, ousado, valente, respeitado, temido, que se
distingue dos demais em qualquer atividade.
CUPINZAMA, s. Quantidade de cupinzeiros, ou seja, de montculos de
barro, consistentes, de forma arredondada, feitos pelas trmites ou
formigas brancas.

CURE! CURE!, interj. Serve para chamar os porcos para serem tratados.

CURIANGADA, s. Bando de curiangos.

CUROTE, s. Corote. Barrilzinho. Pequeno barril em que os carreteiros


conduzem gua para a viagem.

CURRALADA, s. Poro de currais.

CURRALO, s. Curral grande. Mangueira onde o gado encerrado.

CURRURA, s. O mesmo que corrura.

CUSCA, s. Feminino de cusco.

"Meu cusco perdeu o entono


quando viu a cachorrinha
e lhes juro que a bichinha
tambm gostou do meu baio.
Mas namoro s de longe,
que a cusca era mais cuidada
que touro de exposio."
(Alcy Jos Cheuiche, Rodeio Fino-
tiPo. Fundao Educacional de Alegrete,
org. por Moacir Santana,
1979, p. 46).

CUSCADA, s. Bando de cuscos; os cuscos. // Em sentido figurado, gente


ordinria, imprestvel, fraca. // Cuscama.

CUSCAMA, s. O mesmo que cuscada.

CUSCO, s. Co pequeno, co fraldeiro, co de raa ordinria. O mesmo que


guaipeca, guaipeva, guaip. / Em sentido figurado, pessoa de baixa
estatura e de pequena importncia. (Segundo L. Segvia, citado por
Moraes, o ndio quchua usava a interjeio Cuz! Cuz! para chamar os
ces. Em castelhano gozque co pequeno. Talvez seja essa a origem do
vocbulo).

CUSCOZINHO, s. O mesmo que cusquinho.

CUSCUZ, s. Bolinhos de farinha de mandioca. // Na maior parte do Estado,


cuscuz um prato de farinha de milho cozido no vapor, que se come, em
geral, de mistura com leite gordo (Segundo Jaques Raymundo, este
vocbulo de origem nigro-arbica).

CUSPIR, v. Derrubar, o cavalo ou muar, corcoveando, ao cavaleiro que o


monta.

No relincha aporreado
Que do lombo me cuspisse.
Depois de eu me ver montado,
Tentar o bruto tolice.
(Manoel Faria Corra, Rumo aos
Pagos).

138

CUSPIR NO LOMBO, expr. Partido, nas corridas de cavalo, que consiste em


permitir que o adversrio, coloque qualquer peso, por menor que seja, no
lombo de seu parelheiro. "Ponho quarenta quilos no meu Tordilho e mando
cuspir no lombo de seu Alazo", isto , no me interessa o peso do
jquei que ir correr no Alazo.

CUSQUINHO, s. Diminutivo de cusco.

"Eu tinha um cusquinho overo


quando eu era piazito."
(Barbosa Lessa, poema in Versos
Crioulos, P.A., Ed. do '35 Centro de
Tradies Gachas, 1951, p. 117).

CUSTAR CARO, expr. Ser difcil de obter ou de realizar.

CUTIA, s. Planta, da famlia Rutaceae, que produz varas muito


resistentes.

CUTICAR, v. O mesmo que cutucar.

CUTUBA, s. e adj. Diz-se de ou o indivduo forte, valente, respeitado,


temvel, disposto, destemido, de muito merecimento e valor. Bonito.
Taura, torena, toruna. // O mesmo que cotuba. // Usa-se tambm em
relao a coisas e animais.

CUTUBAO, adj. Superlativo de cutuba.

CUTUCAR, v. Contundir. Espetar com a aguilhada. Esporear. Fustigar com a


extremidade de uma vara ou com outro instrumento. // O mesmo que cotucar
ou cuticar.

CUXILAR, v. Cochilar. Dar rpidas dormidas recostado em uma cama,


sentado em uma cadeira, em um banco de carro andando, montando num
cavalo, etc. // Em sentido figurado, distrair-se.

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DADO, s. O que usual, habitual, de uso corrente; o que foi combinado.


"O dado do lao ter, pelo menos, oito braas de comprimento", isto ,
o comprimento mnimo usado para o lao de oito braas. "Isso no foi
dado", isto , isso no se combinou.

DAGA, s. Adaga.

D-LE QUE D-LE, expr. O mesmo que dle que dle.

DANA-DE-RATO, s. Balbrdia, reviravolta, confuso.

DANAROLA, s. Bailarico, danata, baileco.

DANATA, s. Bailarico, baileco, danarola.

DANINHAR, v. Danificar.

DANISCO, adj. Mau, diablico, prfido, que incomoda ou que maltrata.

DAR ALCE, expr. Contemporizar, dar uma folga ao inimigo. Geralmente se


usa a forma negativa: "no dar alce" isto , no dar folga, no dar
tempo de o inimigo se restabelecer.

DAR A MO, expr. Deixar-se pegar o cavalo, no campo ou na mangueira, sem


necessidade do uso do lao.

DAR A LONCA, expr. Deixar-se surrar, dar o couro, apanhar. // Morrer.

DAR CARO, expr. Negar-se a moa a danar quando convidada pelo rapaz,
ou vice-versa.

DAR CH DE GARFO, expr. Dar indiretas ofensivas a algum.

DAR CHANGUI, expr. Fazer concesso ao rival.

DAR COM OS BURROS NGUA, expr. Ser mal sucedido.

DAR CORDA, expr. Puxar conversa para induzir o interlocutor a ir


contando o que sabe. Estimular algum a que discorra sobre determinado
assunto. // Corresponder ao namoro. // Afrouxar o lao, com o animal
preso, para que ele v se afastando at onde lhe for permitido.

DAR CRIA, expr. Parir.

DAR DE RDEA, expr. Fazer, por meio de um movimento de rdeas, que o


cavalo se volte para o rumo desejado, s vezes oposto ao que ele ia
seguindo. // Encaminhar-se a algum lugar. "O cavaleiro deu de rdea e
sumiu-se na escurido da noite."

"Pois quero ver se me aprumo


Dando de rdea no rumo
Daquilo que les dizia."
(Balbino Marques da Rocha, A
Estncia de Don Sarmento, p. 22).

"Despedi-me do presidente do meu tribunal de confisco. Montei e

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dei de rdeas. Tranqueando com dignidade. Com a alma leve." (Aureliano,


Memrias do Coronel Falco, P.A., Ed. Movimento, 1974, p. 179-180).

DAR LAAO, expr. Ser excelente, ser o mximo, como coisa saborosa,
coisa boa, e, ainda, como formosura de animais ou de pessoas. "Aquela
moa d laaos", isto , linda, bela, formosa.

DAR LAMBUGEM, expr. Dar pequeno partido nas corridas de cavalos.

DAR LUZ, expr. Estabelecer, no ajuste da carreira, que, na chegada ao


lao final ou a um dos laos intermedirios, o parelheiro que oferece a
vantagem - faa luz, isto , que haja, para quem observa lateralmente a
competio, um espao, por pequeno que seja, entre a cauda do animal que
ganha e a cabea do que perde. A luz pode ser dada tambm na partida dos
animais. // Fig.: Dar vantagem em qualquer competio.

DAR NA MESMA, expr. Acontecer de forma idntica. Ser a mesma coisa.

DAR NO JEITO, expr. Vir feio, vir a calhar.

DAR O COURO, expr. O mesmo que dar a lonca.

DAR O PELEGO, expr. Dar a vida.

DAR O PREGO, expr. Afrouxar o garro, cansar. Morrer.

DAR PANCA, expr. O mesmo que dar pancas.

DAR PANCAS, expr. Destacar-se, salientar-se, sobressair-se,


distinguir-se, portar-se heroicamente, levar a primazia, seduzir,
brilhar pela formosura ou elegncia, causar admirao. O mesmo que dar
panca.

DAR RODEIO, expr. Permitir que um vizinho a quem falta gado pare rodeio
em seu campo, para verificar se as reses faltantes ali se encontram.

DAR-SE ARES, expr. Aparentar.

DAR UMA CHAMADA, expr. Passar uma descompostura, dar um caro.

DAR UMA CHARADA, expr. Fazer uma insinuao maliciosa.

DAR UMA CHISPADA, expr. Ir rapidamente a um lugar.

DAR UMA FACADA, expr. Pedir dinheiro emprestado.

DAR UMA VOLTA, expr. Fazer um passeio.

DAR UM TIRO NO ESCURO, expr. Praticar um ato impensadamente, sem atentar


para suas conseqncias.

"Jogar tudo para a frente


dar um tiro no escuro.
Qual o nosso futuro?
A dvida s aumentando
E o Governo exportando
Somente pra pagar juro."
(Joo Sem Terra, poema satrico).

DAR VAZO, expr. Deixar que os sentimentos se externem. Permitir que os


instintos se manifestem.

DE AGALHAS, loc. adj. Forte, audaz, admirvel, vistoso.

DE ARRIBA, expr. De graa, gratuitamente.

DE ATRAVESSADO, loc. adv. De travs, de lado, de esguelha.

DEBOCHEIRA, s. Grande troa, deboche, zombaria.

DE BOLA P, expr. Condio em que se encontra um rio que, por estar


cheio, se atravessa ora andando ora nadando, sem que o animal consiga
assentar os ps com firmeza, O mesmo que a bola p. V. bolap.

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DE CABO A RABO, expr. Integralmente, de modo completo, de ponta a Ponta.

DE CARACAR, loc. adv. De Pouco ou de nenhum valor. O mesmo que de


Cacaraca.

DE CHAROLA, loc. adv. Com acompanhamento de muitos admiradores.

DECLARAMENTO, s. Declarao, explicao. (Antiq. em Portugal).

DE COMPANHEIROS, loc. adv. Em companhia, Juntos.

DE CORPO QUADRADO, loc. adv. De trax distendido e ombros levantados, em


posio de quem quadrou o corpo.

DE CORTE, expr. Diz-se do gado destinado venda para abate.

DE CRIA, expr. Diz-se do gado destinado reproduo.

DE EM PLO, expr. Sem colocar forro algum no lombo do cavalar ou muar,


para mont-lo. O mesmo que em osso ou em plo.

"E o Chimango ali se via,


Numa gua velha de em plo,
Atacando o sinuelo
Que era s pra o que servia."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1978, p. 40).

"s vezes corria toa,


solto, em violento furor,
em um tremendo atropelo,
tal se levasse de em plo
um guarani boleador"
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1981, p. 45).

DE ENCHOFRE, adv. O mesmo que em chofre.

DE ESCOTEIRO, adv. A cavalo, sem conduzir animais, cargueiros, viaturas


ou qualquer coisa que cause embarao marcha: "Eu, indo de escoteiro,
em dois dias chegarei l."

DEFENDER O PELEGO, expr. Defender a vida.

DEFUNTAR, v. Morrer.

DEFUNTEAR, v. Matar, assassinar. // Terminar de consumir (A garrafa de


cana apresentada ao peo est quase no fim; ele olha, v a pequena
quantidade de lquido existente e pergunta: "Patro, posso defunte
esta?", isto , posso beber todo este resto de cachaa?).

DEFUNTEIRO, s. Pessoa que trata de enterros. // Gato-pingado no sentido


de indivduo que acompanhava os enterros, a p, com tocha ou archote. //
adj. Prprio de funeral, de enterro.

DEGAS, s. Eu, eu prprio, a minha pessoa: "O degas aqui no vai nessa
conversa", isto , eu no vou nessa conversa, a minha pessoa no vai
nessa conversa.

DEGOLADO, adj. Diz-se do animal de pescoo muito fino no local da juno


com a cabea.

DEITAR O CABELO, expr. Fugir disparada.

DEITAR O PEALO, expr. Atirar o lao para pealar.

DEIXA, s. Espao alagado que os rios deixam quando voltam ao primitivo


leito, depois da enchente. Leito antigo de um rio, do qual h claros
vestgios.

DEIXAR CAIR O REBENQUE, expr. Fustigar com o rebenque.

DEIXAR CORRER O MARFIM, expr. No interferir.

DE J HOJE, expr. H pouco tempo, momentos atrs.

DE JEITO, adv. De forma propcia, de

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modo oportuno.

DE LAO A LAO, expr. Em toda a extenso.

DLE, expr. Serve para significar ao continuada. D-lhe.

"E dle sapateadas, e dle risadas, e dle viola, e dle canto.


E o chiru sempre agarrado nas costelas da mesma china, que era a
pinguancha melhor daquele festo." (Pi do Sul, Farrapo, P.A., Globo,
1935, p. 108).

DLE BALA, expr. Serve para significar ao continuada: "Amanhece e


anoitece e o Chico sempre dle bala", isto , sempre fazendo determinada
coisa, sempre praticando determinada ao.

DLE E DLE, expr. O mesmo que dle que dle.


DE LEI, expr. De boa qualidade, de real valor. Aplica-se a coisas,
animais e pessoas.

DELE QUE DELE, expr. Serve para significar ao continuada: "Era dle
que dle, com chuva e com sol, de dia e de noite", isto , praticava-se
determinada ao, constantemente, ininterruptamente. // V. d-le que
d-le, dle, dle bala, dle e dle, d-le que d-le.

D-LE QUE D-LE, expr. O mesmo que dle que dle.

DELERIADO, adj. Desmaiado, sem sentidos.

DE MANO, expr. O mesmo que na orelha ou elas por elas. Em igualdade de


condies. Diz-se, tambm, de mano a mano.

DE MANO A MANO, expr. O mesmo que de mano.

DE MOS ABERTAS, loc. adj. Generoso, liberal, no apegado ao dinheiro.

DE MI FLOR, loc. adj. O melhor possvel, excelente.

DENGUE, s. Prostbulo, cabar. // Faceirice, manha.

"Toda china tem seu dengue,


todo o guasca seu cambicho.
Toda a tropa o seu perrengue
e todo o mato o seu bicho"
(Humberto Feliciano de Carvalho,
Minha Estncia, 2 ed., Uruguaiana,
Livr. Novidade Editora, 1964, p.
57).

DENTAMA, s. Grande quantidade de dentes, Dentadura toda igual.

DENTE SECO, s. e adj. Diz-se de ou o indivduo destemido, audacioso,


valente, que no tolera desaforo, que no foge luta.

"O rolo ia sendo preto,


Mas toda a gente interveio
E meteu-se pelo meio;
Que nenhum era bem peco,
O mulato um dente seco,
o ndio no dava rodeio.
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1978, p. 25).

DENTUO, adj. Diz-se do indivduo que tem os dentes grandes, ou os tem


saltados por ser proeminente seu maxilar superior.

DE ORELHA EM P, expr. De sobreaviso, atento.

DE P, expr. V. Sair em p.

DE PECHADA FEITA, expr. Pronto para dar uma pechada.

DE PONTO FIXE, expr. Diretamente, com o rumo determinado: "Os cavaleiros


foram de ponto fixe para a bodega..."
DEPSITO, s. Quantia a ser paga ao

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adversrio pelo carreirista que desistir da corrida.

DE POUCAS CARNES, expr. Magro, descarnado.

DE RANCHO, expr. Denominao dada pelo soldado ao camarada que com ele
vive na mesma barraca ou tem a cama prxima sua no alojamento. //
Usa-se, ainda, com relao amante do soldado. ( expresso de
caserna).

DE RASTRO, expr. Cansado, fatigado, extenuado.

DE RDEA NO CHO, expr. Diz-se em relao ao cavalo completamente manso,


de toda a confiana. // Figuradamente, se aplica ao indivduo submisso,
vencido, apaixonado.

DE RELANCINA, adv. De repente. (V. relancina).

"Nunca apartes sem sinuelo,


o que a experincia ensina.
No opines de atropelo,
nem julgues de relancina."
(Zeca Blau, Poncho e Pala, P.A.,
Sulina, 1966, p. 44).

DERREAR, v. Esmorecer, desanimar.

DERRETER, v. Fugir, sumir-se, desaparecer.

DERRUBAR A CRIA, expr. Parir, a vaca ou outro animal.

DESABAR O TEMPO, expr. Chover forte.

DESABAR O TEMPORAL, expr. Ocorrer grande temporal, com trovoadas.

DESABOTINADO, adj. Insensato, adoidado, estouvado, estourado, valento,


quebra, venta furada, velhaco, desenvolvido, disposto, resolvido a tudo.

DESACOLHERAR, v. Tirar o animal da colhera; solt-lo.

DESACOROAR, v. Descorooar, desanimar, desistir. O mesmo que


desacorooar.

DESACOROOAR, v. O mesmo que desacoroar.

DESAFORAMA, s. Grande quantidade de desaforos, de insultos, de ms


palavras.

DESAGUACHADO, adj. Diz-se do cavalo que, depois de um longo perodo de


inatividade, foi novamente exercitado e est em condies de prestar
servio.

DESAGUACHAR, v. Exercitar, submeter a treinamento, um cavalo que esteve


inativo por muito tempo e, por isso, engordou e ficou em ms condies
fsicas para o trabalho.

DESAGUACHE, s. Ato de desaguachar. Adelgaamento, treinamento, do animal


pesado e gordo por falta de exerccio.

DESAPONTE, s. Encalistrao.

DESAPONTAR-SE, v. Vexar-se, envergonhar-se.

DESAPRESILHAR, v. Desprender, abrir a presilha.

DESAQUERENCIADO, adj. No aquerenciado.

DESARME, s. Desarmamento.

DESARROLHAR, v. Espalhar, esparramar o gado que se encontra arrolhado,


isto , agrupado, ocupando pequena extenso de terreno.

DESARROLHAR-SE, v. Amolecer o lombo o animal que estava de lombo duro e


voltou calma. // Desenvolver-se corporalmente: "O rapaz, tomando leite
gordo e respirando o ar do campo, comeou a desarrolhar-se", isto ,
comeou a desenvolver-se, a crescer.

DESARROLHAR A PONTA, expr. Permitir que a tropa ande com mais


desembarao, adiantando os ponteiros,

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ou seja, os pees que marcham na frente.

DESABADO, s. e adj. Indivduo desajeitado, deselegante, desastrado.

DESBARRANCADO, s. Eroso no terreno, escavao, corte.

DESBARRANCAR, v. Desfazer os barrancos, tirar a terra, aplainar o


terreno. Cair o barranco, fender-se o solo.

DESBARRIGAR, v. Adelgaar, desaguachar, alevianar.

DESBOCADO, adj. Diz-se do cavalo de boca muito sensvel que, menor


presso do freio, agita bruscamente a cabea, no governando bem.

DESBOLOTAR, v. O mesmo que descascarrear.

DESBRAVEJADO, adj. Diz-se do terreno limpo de inos ou de mato.

DESBRAVEJAR, v. Limpar, roar o terreno.

DESCALABRO, s. Desapontamento. // Empregado, tambm, no sentido de


desiluso, desastre, coisa inesperada.

DESCAMBADA, s. Declive, descida de uma coxilha ou lomba para uma


quebrada ou vale. O mesmo que descambado.

DESCAMBADO, s. O mesmo que descambada.


DESCAMBAR, v. Descer de uma coxilha ou cerro para uma quebrada ou um
vale.

DESCAMBAR A MADEIRA, expr. Surrar, espancar. // Em sentido figurado,


atacar, censurar, criticar, falar mal de algum. // O mesmo que meter o
pau.

DESCAMBAR BORDOADA, expr. Esbordoar, surrar, espancar.

DESCAMBAR O FACO, expr. Espancar de faco.

DESCAMBAR O LAO, expr. Surrar, espancar.

DESCAMBAR O RELHO, expr. Surrar, espancar.

DESCANCHAR, v. Agredir, acometer: "O bandido descanchou -lhe o pau",


isto , deu-lhe pauladas.

DESCANGOTAR, v. Desarticular a nuca, descogotar.

DESCANHOTAR, v. Andar com desembarao e rapidez.

DESCARNADO, adj. Magro, sem carne.

DESCASCADINHA, s. Mulher clara.

DESCASCAR, v. Tirar da bainha a faca ou o faco. Puxar a arma branca.


Desembainhar, pelar.

DESCASCAREAR, v. O mesmo que descascarrear.

DESCASCARREAR, v. Retirar do ovino as bolas de excremento que ficam


presas l. O mesmo que desbolotar. Var.: descascarear.

DESCOBERTA, s. Nome dado a patrulhas ou partidas de reconhecimento, em


operaes de guerra no Estado.

DESCOGOTADO, adj. Diz-se do animal, cavalar ou muar, que em virtude de


puxes do cabresto ou do lao, ficou com as partes sseas do pescoo
fora do lugar.

"A fita do teu cabelo


bual, maneia e lao;
Descogotado e lunanco
Inda por ti movo o passo!"
(Quadrinha popular).

DESCOGOTAR, v. O mesmo que descogotear.

DESCOGOTEAR, v. Luxar algumas vrtebras cervicais do animal, cavalar ou


muar. Tirar do lugar, dando puxes, por meio do cabresto ou do lao, as

146

partes sseas do pescoo do animal cavalar ou muar.

DESCONTAR-SE, v. Sofrer alterao para pior no estado fsico.


DESCONTO, s. Alterao no estado fsico do parelheiro que o
impossibilita de tomar parte na carreira. Qualquer decadncia ou perda
fsica de animal ou de pessoa. // Perda de rs, prejuzo.

DE SEGUIDO, loc. adv. Seguidamente.

DESEMBARRIGADO, adj. Sem barriga, delgado, adelgaado, desbarrigado.

DESEMBARRIGAR, v. Adelgaar, fazer desaparecer a barriga.

DESEMBESTAR, v. Disparar, o animal, no obedecendo ao freio. // Em


sentido figurado, significa no obedecer a conselhos, agir
obstinadamente.

DESEMBUCHAR, v. Confessar segredos, contar tudo o que sabe.

DESEMPENHO, s. Pessoa muito diligente. "Aquele cabra um desempenho


em servio de campo", isto , uma
pessoa diligente para efetuar servios
de campo.

DESENCILHADOR, adj. O que desencilha; o que tira a sela ou os arreios do


animal.

DESENCILHAR, v. Tirar os arreios ou a sela de cima do animal.

"Rumbeia pra onde quiseres


meu velho pingo tordilho;
que eu hoje te desencilho,
pra nunca mais por-te a mo."
(Firmino de Paula Carvalho, Antologia
da Poesia Quaraiense, org. por
Joo Batista Maral, P.A., 1977,
p. 70).

DESENFREAR, v. O mesmo que desenfrenar.

DESENFRENAR, v. Retirar o freio da boca do animal, cavalar ou muar.

DESENGANAR, v. Quebrar a resistncia do animal, tornando-o manso e fiel.

DESENLAAR, v. Tirar o lao do animal.

DESENTREVERAR, v. Separar o gado misturado no campo.

DESENTROPILHAR, v. Desfazer a tropilha, introduzindo nela animais de


outros plos. Var. destropilhar.

DESFLORAR, v. Tirar a uma tropa de gado os melhores animais, as reses


mais bonitas e mais gordas. // Enfraquecer ou arruinar ligeiramente um
cavalo, por mau trato, quase o inutilizando para a corrida.

DESGARRAR, v. Retirar as garras (pontas) do couro. // Apartar-se dos


outros, perder-se dos companheiros.

"O meu som transforma o fado


Do gacho desgarrado
Das iluses da existncia!"
(Hiplito Lucena, Ferro Velho,
P.A., Tip. do Centro S.A., p. 23).

"O minuano repOnta


os ltimos pees
desgarrados."
(Jos Rodrigues, Noite do Tempo
Antes, P.A., Ed. Flmula, 1982,
p. 53).

DESGARRONAR, v. Cortar o garro ou jarrete do animal.

DESGOVERNO, s. Ausncia de governo.

DESORIENTAO, desnorteamento.

DESGRANIDO, adj. Vivo, esperto, decidido, desgraado, levado do diabo.

"Nis fumo naquela toada...


nessa dana desgranida
em que um taura arrisca a vida
s pra honrar a patacoada!"
(Aureliano, Romances de Estncia e

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Querncia, P.A., Martins Livreiro-


Editor, 1981, p. 87).

DESGUAMPAR, v. Ao de atrofiar os cornos da rs quando ainda nova, a


fim de permitir-lhe maior desenvolvimento corporal. Tirar as guampas da
rs, usando da serra ou de qualquer outro meio.

DESGUARITADO, adj. Diz-se do animal desgarrado, abandonado, isolado,


perdido, separado do rebanho ou dos companheiros.

"eram os maulas que andavam rastreando a furna encantada e que


agora fugiam, desguaritados, como filhotes de perdiz ..." (Simes Lopes,
Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 173).

DESGUARITAR-SE, v. Perder-se, extraviar-se; desgarrar-se da tropa ou do


rebanho; separar-se dos companheiros. // Aplica-se a pessoas e a
animais.

DESIMPACIENTE, adj. Muito impaciente.

DESLAMBIDO, adj. Delambido, cnico, sem-vergonha.

DESLAVADO, adj. Desavergonhado, cnico.

DESLOMBAR-SE, v. Esgotar-se, extenuar-se, exaurir-se.

DESMANCHO, s. Aborto, mau sucesso. // Contrariedade.

DESMANEAR, v. Tirar a maneia do animal.

DESMONTAR, v. Vencer de forma humilhante para o contendor.


DESMUNHECAR, v. Cortar o tendo das munhecas do animal para impedi-lo de
andar. Quebrar ou decepar a mo de.

DESNUCAR, v. Desarticular as vrtebras do pescoo. Matar a rs,


fincando-lhe, na regio da nuca, um estilete ou ponta de faca at que
atinja a medula, ocasionando morte instantnea.

DESOBRIGADO, adj. Diz-se do animal que anda de bom grado, sem que haja
necessidade do uso de esporas ou de rebenque.

DE SOPETO, expr. De repente, de improviso, inesperadamente,


prontamente, repentinamente. Var.: de sopeto.

DE SOPETO, expr. O mesmo que de sopeto.

DESOVAR, v. Desembuchar, revelar.

DESPACHADO, adj. Diz-se do animal voluntrio, que anda sem que o


cavaleiro precise de usar esporas ou relho. // Diz-se, tambm, da pessoa
arguta, desembaraada, agil em dar respostas prontamente.

DESPACHAR, v. Defecar.

DESPACHAR TERRENO, expr. Andar o animal com bastante velocidade: "O meu
Zaino despacha terreno", isto , anda com bastante velocidade.

DESPACITO, adv. Devagar, pouco a pouco, vagarosamente, devagarinho.


Var.: de espacito.

"Con mi tropa por la vida


continuar despacito,
mientras que por lo infinito
tleve esta luz encendida"
(Hipolito Ballere, Tropero de
Sueos).

"Isso fechando um crioulito,


que deixa a mo amarela,
mas feito, assim, despacito,
em palha branca e cheirosa
cortada pela mo dela."
(Zeca Blau, Poncho e Pala, P.A.,
Sulina, 1966. p. 39).

DESPALETAR, v. O mesmo que despaletear.

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DESPALETEAR, v. Desarticular a paleta ou omoplata do animal, o que pode


ocorrer ao ser ele laado, pealado, boleado, ou por ocasio de uma
rodada, ou, ainda, durante a execuo de qualquer trabalho de campo.

DESPALMADO, adj. O mesmo que despalmilhado.

DESPALMILHADO, adj. Diz-se do cavalo estropeado, desferrado, doente da


parte mole do casco. Despalmado.
DESPALMILHAR, v. Ficar o animal despalmilhado. Ficar com o casco mole.
Molestar-se o animal na parte mole do casco. Despear-se. Estropear-se.

DESPARRAMADO, adj. Esparramado.

DESPARRAMAR, v. Esparramar.

DESPARRAMAR-SE, v. Esparramar-se.

DESPEADO, adj. Diz-se do animal que est com os cascos gastos e por isso
claudica no andar. Despalmilhado.

DESPEAR, v. Tornar-se despeado, despalmilhar.

DESPELAR, v. Despenar, desfolhar.

"Eram uns por cima dos outros


Parecia um formigueiro
Quando esto de correio
Despelando um pessegueiro."
(A Graviela, autor ignorado, Tip.
d'A Luz, 1930, p. 4).

DESPENCAR-SE, v. Atirar-se, disparar, correr desabaladamente.

DESPENHAR-SE POR UM CANHADO ABAIXO, expr. Sofrer malogro, insucesso;


agir com precipitao e temeridade.

DESPENQUE, s. Ao de lanar-se a galope, ao de partir. disparada.

DESPILCHADO, adj. Que ou aquele que no tem pilchas, isto , que no tem
dinheiro, jias, adornos, objetos de valor.

"Foi sempre um gacho quebralho, e despilchado sempre, por ser


muito de mos abertas." (Simes
Lopes, Contos Gauchescos e Lendas
do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 87).

DESPILCHAR, v. Tirar a algum os objetos de valor pertencentes aos


arreios, dinheiro, jias, adornos, roupas, etc. // Roubar, ganhar no
jogo o dinheiro de algum.

DESPILCHAR-SE, v. Desfalcar-se das pilchas.

DESPOIS, adv. Depois. ( arcasmo portugus usado ainda no Rio Grande do


Sul).

DESPONTADO, adj. Diz-se do bovino que tem as pontas dos chifres


aparadas.

DESPONTAR, v. Cortar as pontas dos chifres do vacum. // Contornar um


obstculo.

DESPONTAR O VCIO, expr. Satisfazer o vcio, embora incompletamente,


contentando-se com coisa inferior que pretendia: "Este fumo ruim,
mas serve para despontar o vcio", isto , na falta de outro melhor ele
serve para satisfazer o vcio.
DESPONTAR UM RIO, expr. Atravessar um rio, contornando-o pelas
nascentes, onde menor seu volume de gua e, conseqentemente, mais
fcil a passagem. Usa-se, tambm, o verbo despontar com o sentido de
contornar em relao a um banhado, um mato, uma lagoa ou qualquer outro
obstculo.

DESPONTE, s. Ato de despontar.

DESPOTISMO, s. Beleza; grande quantidade. "Aquela morena um


despotismo", isto , uma beleza. "Era um despotismo de gente naquela
festa", isto , havia l grande quantidade de gente.

149

DESPROPRIO, s. Absurdo, disparate, ofensa, improprio.

DESQUARTADO, adj. Diz-se do animal que tem os quartos pouco providos de


msculos ou de gordura.

DESQUARTAR-SE, v. Sofrer o animal desarticulao dos membros


posteriores. // Perder a gordura, ficando com os quartos finos.

DS-QUE-M'INTENDo, expr. Desde que estou no uso da razo.

DESQUINAR, v. Emparelhar o tento de lonca, suprimindo-lhe as quinas.

DESSOCADO, adj. Diz-se do animal cavalar que sofreu certa operao que
lhe dificulta a carreira.

DESSOCAR, v. Efetuar certa operao nas mos do animal matreiro, a qual


consiste na inciso dos tendes de determinados msculos daqueles
membros, com o fim de dificultar-lhe a carreira.

DESTALAR, v. Retirar o talo da folha do coqueiro, para que o animal


possa com-la com maior facilidade.

DESTAPAR, v. Descobrir, manifestar.

DESTAPAR-SE, v. Salientar-se. Tomar a dianteira, em corridas de cavalo.

DESTAQUEAR, v. Retirar o couro, ou a pessoa, das estacas. Desestaquear.

DESTERNEIRAR, v. Separar das vacas as suas crias.

DESTETADEIRA, s. Tabuleta. Pedao de tbua que se prende ao focinho dos


bezerros, para impedi-los de mamar.

DESTOPETEAO, s. Ato de destopetear.

DESTOPErEADO, adj. Diz-se do animal a que foi tirado o topete.

DESTOPETEAR, v. Cortar o topete do cavalo, ou seja, as crinas que


existem entre suas orelhas, para que no lhe caiam sobre os olhos.

DESTORCER-SE, v. Trabalhar com desembarao, rapidez e eficincia.


Multiplicar-se, esforar-se muito para conseguir determinado resultado.
DESTORCIDO, adj. Desembaraado, gil, destro, decidido. Var. Destrocido.

" destorcida e bem falante; e olhava pra gente, como o sol olha
pra gua: atravessando!" (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do
Sul, P.A., Globo, 1973, p. 102).

"ndio bom e destorcido,


Clemente foi conhecido
No mais distante rinco.
(Jacyr Menegazzi, Alma do
Gacho).

DESTORNILHADO, adj. Diz-se do que no tem o juzo muito certo.

DESTRATAR, v. Insultar, maltratar com palavras.

DESTRIPAR, v. Extrair os intestinos.

DESTROCIDO, adj. O mesmo que destorcido.

DESTROPILHAR, v. O mesmo que desentropilhar.

DESUNHAR, v. Disparar, correr, fugir de um perigo iminente, sumir-se. //


Trabalhar intensamente.

DE SUPETO, loc. adv. De repente, de golpe, imediatamente.

DESVRIO, s. Desvario.

DE TIRO SECO, expr. De golpe, de um mpeto.

DE UMA FEITA, expr. Certa ocasio.

150

DE UMA VEZ, expr. De todo, completamente.

DE UMA VIAJADA, expr. De uma s vez, de um s golpe.

DE UM TUDO, expr. Tudo o que necessrio. De tudo.

DEVAGAR NAS PEDRAS, expr. Significa agir com cuidado, com prudncia, com
calma, com cautela, sem afoitar-se.

DEVAS, adv. Deveras. Usado somente na expresso s devas.

DE VEREDA, adv. Imediatamente, de momento, na mesma ocasio, logo a


seguir, sem detena, de repente, repentinamente, facilmente, de golpe,
de uma vez.

"Atirei um anzol ngua,


De vereda foi ao fundo,
No respeito cantador
Nem que venha do outro mundo."
(Quadrinha popular).

"E como, por ele, rogo...


tambm grato e de vereda,
a ambos envio, logo,
um abrao do Cabeda!"
(Manoel Cabeda Perez).

DEVOLVER, v. Vomitar.

DIABRETE, s. Criana muito arteira. (


arcasmo).

DIACHO, s. Diabo. " o diacho", isto , o diabo. "Que diacho!", isto


, que diabo!

DIGESTIR, v. Digerir, suportar, agentar (antiq. em Portugal).

DILUTO, adj. Misturado com gua, o vinho ou qualquer bebida.

DINHEIRAL, s. O mesmo que dinheirama.

DINHEIRAMA, s. Muito dinheiro. O mesmo que dinheiral. "Dei uma


dinheirama por essa tropa", isto , essa tropa custou-me muito dinheiro.

DIREITEIRO, s. Bacharel em direito, com sentido depreciativo.

DIREITO COMO LISTA DE PONCHO, expr. Em linha reta.

DISCUTISSO, s. Discusso.

DISPARADA, s. Disperso de animais, a galope, em vrias direes.

DISPARADOR, adj. Diz-se do animal que tem o hbito de tomar o freio nos
dentes e disparar, sem obedecer s rdeas. // Espantadio, que por
qualquer barulho dispara, escapa, foge. // Diz-se tambm do indivduo
com ares de valente, mas que se esquiva luta ao mais leve arreganho do
adversrio. Medroso, covarde, nervoso.

DISPARAR, v. Estourar, debandar, dispersar-se, a tropa de gado vacum,


quando assustada.

DISPARIDADE, s. Coisa desajeitada, despropsito. // Palavra ou frase


insensata.

DISPARO, s. Estouro, de tropa de gado.

DISPOSTO, adj. Animado, brincalho, valente.

DISTRATAR, v. Faltar ao respeito com uma pessoa, no dar-lhe o trato


adequado, ofend-la com palavras.

DITAS, s. Hemorridas.

DITRIO, s. Mexerico.

DITRIMINAR, v. O mesmo que determinar (Alentejo).

DIVISA, s. Limite entre propriedades.

DIXOTE, s. Motejo, mofa, dito jocoso ou de provocao.


DOBLA, s. Dobra, moeda antiga de Por-

151

tugal, cujo cunho e valor variaram nos diversos reinados.

DOBLO, s. Dobro, antiga moeda de ouro.

DOBLE, s. Dobro. (Em apostas de carreira ou rinha de galo, o apostador


que der doble e perder dever pagar dois por um ao ganhador).

DOBLE E LUZ, loc. s. Partido que um dos competidores oferece ao outro,


nas corridas de cavalos, e que consiste em o que d a vantagem pagar
dobrado se perder, sendo necessrio, para ganhar, que seu parelheiro
faa luz.

DOBRADA, s. Ondulao do terreno, quebrada.

DOBRADO, adj. Diz-se do terreno acidentado, de morros e vales, de altos


e baixos.

DOBRAR, v. Vencer, convencer.

DOBRAR O COTOVELO, expr. Beber, levar o copo boca.

DOCE DE BOCA, expr. Bom de rdea.

DOMA, s. O ato de domar. Ato de amansar um animal xucro. O mesmo que


domao.

DOMAO, s. O ato de domar, isto , de encilhar e amansar um potro


chucro. O mesmo que doma.

"Ao mesmo tempo, outra carta determinava ao governo da capitania


enviar para Pernambuco certo nmero de gachos peritos na domao de
animais xucros, a fim de ensinar essa arte aos nortistas e despertar
neles o gosto pela cavalaria." (Arthur Ferreira Filho, Histria Geral do
Rio Grande do Sul, p. 47).

DOMADOR, s. Amansador de potros. Peo que monta animais xucros.

"Domador, rei das coxilhas,


Quando o bagual encilhas,
Ests a vida arriscando;
E ao montar, se corcoveia,
Mesmo o que mais gineteia,
corre perigo, em rodando."
(Jos Barros Vasconcelos,
Domador).

DO OUTRO LADO, expr. Do outro lado da fronteira, isto , na Argentina ou


no Uruguai.

DOR DE VIVA, s. Sensao dolorosa proveniente de pancada sobre o nervo


existente na juno do mero com o rdio e o cbito.

DORME-DORME, s. Dorminhoco; ave de bela plumagem da famlia dos


Ardedeos.

DORMIDA, s. Sono. Pouso no fim da jornada.

"O dormi perto do fogo


uma dormida inzonera,
o marmibondo me morde
fao fogo a noite intera."
(Popular, O Pala Velho).

DORMILO, s. e adj. Dorminhoco.

DORMINHOCO, s. Pssaro de bela plumagem que est sempre em atitude de


estar dormindo.

DORMIR NAS PALHAS, expr. Retardar uma providncia, no tomar cautela,


facilitar, desprevenir-se, descuidar-se, atrasar-se.

DORMITOREIRO, s. Indivduo que se ocupa com arranjo de dormitrios.

DOURADILHO, adj. Plo de cavalo, vermelho-claro, amarelado, com reflexos


cor de ouro; plo cor de pinho desmaiado; plo mais claro que o
colorado, puxando a dourado; plo castanho-baio. (Este termo se emprega
exclusivamente em relao a animais cavalares e muares).

152

DOURADINHA, s. Erva medicinal da famlia das Malvceas ( Valtheria


Doradinha).

DRAGA, s. Grade de desterroar. Instrumento de agricultura, espcie de


grande ancinho mecnico.

DRAGO, s. Pssaro que vive nos banhados, em bandos.

DUDA, s. Dvida.

DUDAR, v. Duvidar.

DURASNAL, s. Pessegueiral. Mato de pessegueiros abandonados, reduzidos


ao estado silvestre. (Vem do Castelhano, de durazno, pssego).

DURINDANA, s. Faca, punhal.

DURO, adj. Forte. resistente. // Cruel, difcil, violento.

DURO DE BOCA, expr. Diz-se do animal que no obedece ao das rdeas.


O mesmo que duro de queixo. // Por extenso, aplica-se, tambm, s
pessoas teimosas.

DURO DE PELAR, expr. Difcil de fazer, trabalhoso. O mesmo que duro de


roer.

DURO DE QUEIXO, expr. O mesmo que duro de boca.

DURO DE ROER, expr. O mesmo que duro de pelar.


153

154

GUA, s. e adj. Individuo ordinrio, covarde, salafrrio.

EGUADA, s. Manada de guas.

GUA-MADRINHA, s. gua a cujo pescoo se pendura um cincerro e com a


qual se acostumam os outros animais da tropa, mantendo-se sempre a ela
reunidos. // Em sentido figurado, depreciativamente, se aplica a pessoa
que mantem outras reunidas em torno de si, orientando-as e dando-Lhes
conselhos.

"E a lua gua-madrinha, meu amor,


Da tropilha grandota das estrelas,
Na invernada de Deus Nosso Senhor."
(Vargas Netto, Tro pilha Crioula e
Gado Xucro, P.A., Globo, 1959,
p.6).

EGUARIO, adj. Diz-se do cavalo que, na manada, s acompanha guas;


rufio, garanho, pastor. // Em linguagem de galpo diz-se, tambm, de
homem que s anda em roda de mulheres.

EH, interj. O mesmo que Eh! Eh!

EH! EH!, interj. O mesmo que xi! ou chi!


Exprime surpresa, pasmo, receio. Tambm se usa eh!

EH! PUCHA!, interj. Exprime admirao, espanto, pasmo, dor. O mesmo que
Eh! Puxa!, Epucha!, La Pucha!, Pucha!, Cu! Pucha!, Cuna!, Cu! Puna!

Vivo corrido da sorte,


Rebenqueado da saudade,
Somente para te ver;
Eh! Pucha! barbaridade!
(Quadrinha popular).

Eu namorava uma bela


Eh! Pucha! ... Moa bonita!
Me trazia pelo freio,
Como ningum acredita,
Mas por Deus que era linda
Com seu vestido de chita!
(Dos versos de um rio-grandense no
Paraguai).
EH! PUXA!, interj. O mesmo que Eh! Pucha!

EIRA-PU, s. Abelha silvestre parecida com a tubuna.

ELAS POR ELAS, expr. Uma coisa pela outra. O mesmo que na orelha, de
mano, ou de mano a mano.

EMA, s. Denominao da Rhea americana ou abestruz do Brasil e de outras


partes da Amrica. Nhandu.

EMALAR O PONCHO, expr. Enrolar o poncho para at-lo nos tentos do


lombilho, com ou sem mala-de-poncho. // Preparar-se para viajar.

"Depois seu dono achicou-se


Ao peso dos seus sessenta.

155

Nem com fumaa na venta


Seu fol'go se arregla mais!
Est de poncho emalado,
Com o palet bem dobrado
Pra a tropa do Nunca Mais."
(Zeca Blau, Poncho e Pala, P.A.,
Sulina, 1966,p. 16).

EMARTILHAR, v. Engatilhar a arma.

EMASSILHAR, v. Colocar a massa nos vidros de uma vidraa.

EMBALANTE, adj. Embalador.

EMBANDEIRADO, adj. Diz-se do indivduo que de um momento para outro


ficou em boa situao material.

EMBANDEIRAR-SE, v. Melhorar de situao material, arranjar-se,


endireitar-se.

EMBARCAR, v. Morrer (gr.).

EMBARRAR O PASTEL, expr. Estragar o que estava bom. Pr um plano a


perder.

EMBARRIGAR, v. Criar barriga, comear a engordar, por abundncia de


alimento. // Ganhar, encher-se, fartar-se, locupletar-se com dinheiro
alheio. // Engravidar.

EMBELECOS, s. Coisas suprfluas, de pouco valor; bugigangas; objetos de


adorno, agradveis vista.

EMBIOCAR, v. Encolher-se, esconder-se, fugir da discusso. ( termo


tupi).

EMBIRA, s. O mesmo que imbira.

"Fiquei encantado! E como j queria utiliz-lo na viagem,


emalei-o atando-o com uma embira larga, descascada a capricho." (Simes
Lopes, Casos do Romualdo, P.A., Globo, 1952, p. 92).

EMBODOCAR-SE, v. Tomar a forma do arco do bodoque, arquear-se,


curvar-se. Arquear o cavalo o lombo para corcovear.

EMBOLAR, v. Cair de repente, como se fosse boleado.

EMBONECAR, v. O mesmo que embonecrar.

"Ela vem, sempre lindaa,


como planta embonecando,
cumprimenta meio arisca
no seu no-quero-querendo.
E o meu olhar atrevido
todo o seu corpo envolvendo."
(Zeca Blau, Poncho e Pala, P.A.,
Sulina, 1966, p. 24).

EMBONECRAMENTO, s. Aparecimento das bonecas do milho.

EMBONECRAR, v. Criar espiga o milho.

EMBORCAR, v. Cair de borco, Virar a canoa ou o veculo, ficando para


baixo a parte superior.

EMBORQUILHAR, v. Emborcar. Virar a terra para o cultivo. Bolcar. Volcar.

EMBRABAR, v. Embrabecer, zangar-se, comear a ficar brabo.

EMRRABECER, v. Enfurecer-se, zangar-se.

EMBRAMAR, v. Enraivecer-se.

EMBRETADA, s. Apertura, dificuldade, perigo, apuros, enrascada.

EMBRETADO, p. p. Encerrado no brete. // Metido em apertos, em apuros, em


dificuldades; enrascado, emaranhado.

EMBRETAMENTO, s. Ato de embretar. EMBRETAR, v. Meter animais no brete.


// Sitiar, enrinconar: "As foras revolucionrias embretaram o inimigo,
no lhe deixando possibilidade de fuga." // Meter-se em apuros,
envolver-se em negcios difceis.

EMBROMA, s. Demora ou delonga em realizar qualquer servio. Embromao.

EMBROMAO, s. O mesmo que embroma.

156

EMBROMADO, adj. Brumoso, escuro.

EMBROMADOR, s. Indivduo que embroma ou demora a fazer alguma coisa. //


Caoista, o que gosta de fazer troa ou capetagem.

EMBROMAR, v. Levar muito tempo a fazer alguma coisa ou a realizar algum


negcio. Andar devagar, com displicncia. // Brincar, gracejar, troar,
pr ao ridculo algum. ( vocbulo castelhano, com a significao de
enganar a algum).

EMBROMEIRO, adj. Diz-se do indivduo que embroma ou demora a fazer


alguma coisa. Embromador.

EMBRULHO, s. e adj. Diz-se de ou o indivduo que causa confuso,


embarao, atrapalhao, complicao. (Fem.: embrulhona).

EMBUADELA, s. Ato de embualar.

EMBUALADO, s. e adj. Enganado, logrado, iludido.

"Mas o embualado j tocava a trote largo." (Simes Lopes,


Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 36).

EMBUALADOR, s. O que pe o bual no animal. // Em sentido figurado:


Velhaco, embaador, intrujo, enganador, trampolineiro, espertalho,
trapaceiro.

EMBUALAR, v. Colocar o bual no animal. // Em sentido figurado:


Enganar, iludir com boas maneiras, abusar da boa f.

"E, mui na maciota, vo enganando a uns e outros, vo


embualando a ingnuos e papalvos, a crdulos e parvoeires," ...
(Alvaro Porto Alegre, Ronda da Histria, P.A., Ed. Thurmann, 1956, p.
17).

EMBURRO, s. Emburramento.

EMBUTIDO, s. Carne, fgado, sangue e outros produtos, acondicionados em


tripa, para se conservarem: salame, lingia, mortadela, pat, morcela
ou morcilha, queijo de porco, etc.

EM CHOFRE, expr. Subitamente, repentinamente, de chofre, O mesmo que de


enchofre.

EM CIMA DO LAO, expr. Imediatamente, em seguida, ao p da letra. "O


maragato respondeu em cima do lao", isto , respondeu prontamente,
imediatamente.

EM OSSO, adv. O mesmo que de em plo.

EMPACADO, adj. Calado, srio, taciturno.

EMPACADOR, adj. Diz-se do animal, cavalar ou muar, que tem o hbito de


empacar.

EMPACAMENTO, s. Ato de empacar.

EMPACAR, v. Emperrar, deter-se, parar, no querer mais andar,


obstinar-se em no seguir. Aplica-se principalmente a cavalares e
muares, mas usa-se, tambm, em relao a bovinos e outros animais. // Em
sentido figurado, gaguejar.

"- Se j entendeu, deixe eu seguir no rastro do causo, que no


sou mula de gringo para estar empacando a toda hora (Barbosa Lessa, O
Boi das Aspas de Ouro, P.A., Globo, 1958,p. 113).
EMPACHADO, adj. Diz-se do animal cavalar ou muar que, embora manso, tem
a balda de dar corcovos logo que encilhado. // Diz-se do indivduo de
ventre volumoso; rotundo, cheio.

EMPACHAR, v. Obstruir um orifcio, enchendo-o de pano ou de estopa. //


Ensurruar.

EMPACHAR-SE, v. Comer em excesso.

157

Ficar com o intestino obstrudo por ter comido em demasia.

EMPACHE, s. O mesmo que empacho.

EMPACHO, s. Indigesto. Estado de quem comeu em excesso ficando com o


estmago sobrecarregado de alimentos. // Obstruo intestinal, priso de
ventre. // Coisa com que se tapa um orifcio. // O mesmo que empache.

EMPACHOLADO, adj. Metido a pachola, vestido como um pachola.

EMPAIOLAR, v. Arrecadar, armazenar em paiol.

EMPALAMADO, adj. Doente, achacado. O mesmo que empalemado.

"Fica logo empalamado


O guasca mais resistente."
(Manoel Faria Corra, Rumo aos
Pagos).

EMPALAMAR-SE, v. Ficar doente.

EMPALEMADO, adj. O mesmo que empalamado.

EMPALHADOR, s. Preguioso, embromeiro, que leva muito tempo a fazer um


trabalho ou a concluir um negcio.

EMPALHAR, v. Demorar, retardar a concluso de um trabalho ou de um


negcio.

EMPANDILHADO, adj. Diz-se do indivduo que anda em pandilhas.

EMPANDILHAR-SE, v. Reunir-se em pandilha.

EMPANTUFAR-SE, v. Encher-se, enfunar-se, mostrar-se orgulhoso.

EMPAQUETAMENTO, s. Ato de empaquetar-se.

EMPAQUETAR-SE, v. Tornar-se paquete, enfeitar-se, vestir-se


luxuosamente. Endomingar-se.

"Ginetes chegavam de todos os lados, caracoleando os pingos,


estancieiros opulentos, com squito, rapazes de vilas fintimas,
domadores, pees, militares, vagabundos, mais ou menos empaquetados, do
vesturio chaparia reluzente, de mau gosto, dos arreios" ... (A. Maia,
Runas Vivas, Porto, Lello & Irmo. 1910, p. 1955).
EMPARDAR, v. Reunir em parelhas, combinar dois a dois, igualar.

EMPARVAMENTO, s. Ato de emparvar.

EMPARVAR, v. Fazer a parva, ou seja, a meda de trigo ou de arroz. //


Tornar parvo.

EMPASTALHADO, adj. Empastado.

EMPATAR, v. Igualar. Diz-se, em corridas de cavalos, quando os dois


parelheiros passam juntos no lao de chegada.

EMPATE, s. Empacho, obstruo intestinal.

EMPEAR, v. Comear. ( provincianismo transmontano e minhoto, usado, no


Brasil, apenas no Rio Grande do Sul, talvez por influncia platina).

EMPEO, s. Comeo, princpio.

EM PLO, loc. adv. O mesmo que de em plo. Tambm se usa empelo.

EMPELO, adv. O mesmo que em plo.

EMPENDOAR, v. Aparecer o pendo ou flor, no milho, no trigo e em outras


plantas.

EMPERRADO, adj. Empacado, obstinado.

EMPERREAR, v. Empacar. Negar-se o animal a caminhar.

EMPILCHADO, adj. Diz-se da pessoa que tem pilchas. // Rico, que possui
muitos haveres.

EMPILCHAR-SE, v. Cobrir-se de pilchas,

158

de jias, de enfeites, de objetos de valor. Encher-se de dinheiro.

EMPINADO, adj. Bbado, embriagado, alcoolizado.

EMPINAR, v. Levantar uma coisa por uma de suas extremidades, de modo que
ela fique em posio inclinada. // Beber, embriagar-se.

"Na sombra de uma carreta


Boliou a perna e foi sentando,
Puxou da faca e do fumo
Descascou e foi picando,
Pediu um trago de canha
E aos poucos foi empinando."
(Rui de Oliveira Brando, Do
Salatino).

EMPINAR O BRAO, expr. Dar-se ao vcio da embriaguez.

EMPINAR-SE, v. Pr-se o cavalo em p, apoiando-se nos membros


posteriores.
EMPIPOCAR, v. Criar pstulas, bolhas ou borbulhas. // Estalar,
arrebentar. // O mesmo que espipocar, pipocar, papocar e espocar.

EMPONCHAR, v. Cobrir com o poncho.

"A noite em poncho os capes.


Os quero-queros alertas
patrulham vrzeas desertas,
montam guarda nos rinces..."
(Guilherme Schultz Filho, Gesta de
um Clarim, Ed. da Assemblia
Legislativa do RGS, p. 17).

"J a noite emponchava o campo todo,


botando estrelas, na gua, a rodo."
(Padre Pedro Lus. Pedro Trapeira,
Santa Maria, Ed. Pallotti, 1971,
p. 2).

EMPONCHAR-SE, v. Cobrir-se com o


poncho. Revestir-se como de poncho:

"... as rvores emponcham-se de folhas tenras (A. Maia, Alma


Brbara, Rio, 1922,p. 24).

EM POUCAS PALETADAS, expr. O mesmo que em quatro paletadas.

EM QUATRO PALETADAS, expr. Em pouco tempo, rapidamente, com facilidade.

EM RIBA, loc. prep. Em cima.

EM SEGUIDA, loc. adv. J, sem demora, imediatamente.

EMULITAR-SE, Desaparecer, esconder-se, ocultar-se, encantar-se, como a


mulita ao entrar na toca.

ENANCAR-SE, v. Montar nas ancas do animal.

ENCABAR, v. Colocar cabo em machado, martelo, enxada ou em qualquer


ferramenta.

ENCAFIFAR, v. Encalistrar, ficar contrariado ou aborrecido.

ENCAIPORAR-SE, v. Tornar-se caipora.

ENCALISTRAR, v. Acanhar-se, vexar-se, envergonhar-se, encafifar.

ENCAMBICHADO, adj. Enamorado, apaixonado.

ENCAMBICHAR-SE, v. Enamorar-se, apaixonar-se.

ENCANGALHAR, v. Colocar a cangalha no animal. Colocar qualquer coisa em


cangalha.

ENCARANGADO, adj. Enregelado, tiritante, encolhido de frio.

ENCARANGAR, v. Ficar enregelado a ponto de ficarem hirtas as mos e os


dedos.
ENCARAPITADO, adj. Amontoado, superposto, trepado.

ENCARDIDO, adj. Feio, carregado, ameaador, complicado, difcil de


entender.

ENCARIJAMENTO, s. Ato de encarijar.

159

ENCARIJAR, v. Ato de submeter a erva-mate ao carijo.

ENCAROADA, s. Certa qualidade de terra roxa.

ENCAROAR, v. Intumescer. // No ter fluncia no discurso.

ENCARREIRAMENTO, s. Corrida de cavalos. Carreiras. Carreiramento.

ENCASQUETAR, v. Obstinar-se em realizar alguma coisa. Meter na cabea


uma idia fixa.

ENCASTIADO, adj. Oriundo do cruzamento de espcies diferentes.

ENCASTIAR, v. Cruzar, acasalar, espcies diferentes.

ENCERRA, s. Ato de recolher o gado ao curral ou mangueira. //


Mangueira ou curral grande para encerrar uma tropa de gado. // Chiqueiro
para encerrar terneiros. // Espcie de curral feito no campo para
apanhar baguais, de feitio muito semelhante ao dos currais de peixes.
Armadilha prpria para apanhar avestruzes, veados e animais alados.

ENCERRAR, v. Prender o gado na encerra.

ENCESTAR, v. Meter em jacs.

ENCHER BARRIGA DE CORVO, expr. Morrer o animal.

"Eu tinha um pingo tordilho,


Que era o melhor pra o lombilho
De todos que j encilhei.
Mas nunca falta um estorvo
J encheu barriga de corvo
O meu cavalo de lei..."
(Vargas Netto, Tro pilha Crioula e
Gado Xucro, P.A., Globo,
p. 27).

ENCHIQUEIRADOR, s. Relho de aoteira comprida utilizado para tocar o


gado. // Pessoa encarregada de recolher ao chiqueiro os terneiros,
porcos ou outros animais. O mesmo que chiqueirador.

ENCHIQUEIRAR, v. Recolher os animais ao chiqueiro. // Meter algum, por


fora ou manha, em lugar de difcil sada, cercar: "O batalho
enchiqueirou o inimigo entre o banhado e a lagoa".

ENCILHADA, s. Cada uma das vezes que se encilha e monta o animal: "Este
potro j levou trs encilhadas". // Caro, repreenso, censura,
descompostura. // Poro de erva que se coloca sobre a j usada, para
fortalecer o mate.

"Boto erva nova ou dou uma encilhada, pai? - perguntou Romero


com a cuia na mo." (Serafim Machado, Por que acredito em Lobisomem,
P.A., Globo, 1975, p. 142).

ENCILHADELA, s. Diminutivo de encilhada. Encilhada pouco demorada.

ENCILHADO, adj. Diz-se do animal que est com os arreios colocados no


lombo. // Diz-se do mate do qual se tirou um pouco da erva usada,
substituindo- a por nova, para torn-lo mais forte.

ENCILHADOR, s. Pessoa que encilha o animal.

ENCILHAR, v. Colocar os arreios no animal. // Substituir parte da erva


j usada por outra nova, para tornar o mate mais forte. // Repreender,
censurar, descompor.

"Os restantes haviam aceito um amargo, que, sempre taciturno e


frio, o Jango Souza encilhava, renovando-lhe a cevadura de erva" (A.

160

Maia, Runas Vivas, Porto, Lello & Irmo, 1910, p. 63).

"Vai dar um calorzinho nest'gua, e encilha o mate, para


oferecer-lhe um amargo." (F. Contreiras Rodrigues, Amores do Capito
Paulo Centeno, P.A., Globo, 1957, p. 100).

ENCLENQUE, adj. Adoentado, enfermio, empalamado, frgil, atempado,


fracalho, molestado, ferido, guenzo por algum defeito fsico;
impossibilitado de sair. // Covarde, dbil de carter.

ENCOLHER-SE, v. Contrair-se o cavalo, ameaando corcovear.

ENCOMPRIDAR, v. Alongar, fazer durar.

ENCOMPRIDAR OS ESTRIBOS, expr. Encompridar os loros.

ENCONTRO, s. O peito do animal entre as espduas. Usa-se geralmente no


plural.

ENCORDOADO, adj. Enfileirado. Serrania encordoada aquela em que os


montes esto enfileirados, um aps o Outro, sem soluo de continuidade.

ENCORDOAMENTO, s. O conjunto das cordas; as cordas. "Vou comprar um


encordoamento para o meu violo", isto , vou comprar um conjunto de
cordas para o meu violo.

ENCORDOAR, v. Marchar um atrs do outro formando filas. // Aplica-se a


animais e, figuradamente, a pessoas. "Abaixo de grito e de cachorro, o
gado saiu da restinga e encordoou para o rodeio."

ENCORRENTADO, s. O indivduo preso com correntes, acorrentado,


encadeado.
ENCORUJADO, adj. Encolhido, aborrecido, acabrunhado, tristonho.

ENCORUJAR-SE, v. Retrair-se, evitando o contato com as outras pessoas.


Isolar-se, acabrunhado e aborrecido.

ENCOSTAR, v. Aproximar a fmea do reprodutor, para ser coberta. //


Cotejar: "Encosto meu tordilho no teu zaino", isto , fao correr o nieu
tordilho com o teu zaino. "No teu galo eu encosto este meu franguinho
preto", isto , com o teu galo fao brigar este meu franguinho preto.

ENCOSTAR A MO, expr. Esbofetear.

ENCOSTAR O LAO, expr. O mesmo que encostar o relho.

ENCOSTAR O PAU, expr. O mesmo que encostar o relho.

ENCOSTAR O RELHO, expr. Surrar, esbordar, castigar, bater de relho.

ENCOSTE, s. Ato de aproximar a fmea do reprodutor, para ser coberta. //


Cotejo entre parelheiros ou galos de briga. // Em sentido figurado,
proteo, encosto.

ENCOSTELAR, v. Emparelhar, ficar rente com outrem, encostar-se a outrem,


andar junto.

ENCOXILHADO, adj. Diz-se de um campo acidentado, formado de coxilhas.

ENCURTAR OS LOROS, expr. Calar-se.

ENDOMINGADO, adj. Diz-se de quem est em trajes de domingo, com suas


melhores roupas, vestido para passeio.

ENDOMINGAR-SE, v. Vestir-se bem, com roupa de passeio.

ENDURECER AS CONJUNTURAS, expr. Morrer.

ENDURECER O LOMBO, expr. Encolher-se o cavalo, tornar-se de lombo duro,


contrair-se ameaando corcovear. // Figuradamente, teimar, zangar-se,
rebelar-se contra uma determinao.

161

ENEGRECER, v. Encher-se, acumular-se, fazer-se um ajuntamento: "A praa


enegreceu de gente", isto , encheu-se de gente.

ENFARDADA, s. Dependncia do saladeiro onde se enfarda o charque.

ENFATIOTAR-sE, v. Meter-se na fatiota, vestir-se bem, endomingar-se.

ENFEITAR-SE, v. Entrar a menina no perodo da puberdade, tornando-se


garrida e lou. // Ficar a franga adulta, cacarejando como sinal de
prxima postura. // Tornar-se bonito quem no o era. Endireitar-se.

ENFERNAR, v. Incomodar outra pessoa enraivecer, amolar.

ENFESTADO adj. Diz-se do pano largo que vem dobrado ao meio na


respectiva pea. // Reforado, dobrado, de compleio robusta.
ENFESTADOR, s. Vendeiro que conta ou mede dobrado a sua mercadoria com
intuito de enganar o comprador.

ENFESTAR, v. Alterar para mais uma conta. Aumentar qualquer coisa.


Adulterar, aumentando, com inteno velhaca.

ENFEZAMENTO, s. Ato de enfezar.

ENFEZAR, v. Infernizar, impacientar, irritar. // Divertir-se


intensamente no carnaval.

ENFIAR, v. Encalistrar, encabular.

ENFIAR GUA NO ESPETO, expr. Trabalhar inutilmente.

ENFOGUEIRAR, v. Colocar em p, para a fogueira, a lenha da coivara e


demais material destinado ao fogo.

ENFORQUILHADO, adj. Preso em forquilha. Montado a cavalo


deselegantemente.

ENFORQUILHAR-sE, v. Em sentido figurado, montar a cavalo


deselegantemente.

ENFRENAR, v. Enfrear. Colocar o freio na boca do animal, cavalar ou


muar. Passar a usar o freio, no redomo, em vez do bocal.

ENFRINAR MAL O CAVALO, expr. Ser mal sucedido.

ENFRUDO, adj. Infludo, animado. (Antiq. em Portugal).

ENGAMBE LADO, adj. Enganado capciosamente, logrado. Engabelado.

ENGAMBELADOR, adj. Diz-se do que engambela.

ENGAMBELAR, v. Enganar jeitosamente. Agradar, captar a simpatia de


outrem, para engan-lo. Iludir com promessas vs.

ENGAMBELO, s. Palavras tendenciosas ou pequenos presentes utilizados


para agradar algum, com a inteno preconcebida de engan-lo, logr-lo,
iludi-lo. // Lambiscarias que se come para disfarar a fome enquanto no
se dispe de alimento adequado.

ENGARUPADO, adj. Montado na garupa.

ENGARUPAR-SE, v. Montar na garupa. // Em sentido figurado, acompanhar:


"A desgraa engarupou-se com o coitado" isto , est acompanhando o
coitado que se encontra numa fase de caiporismo.

ENGATANHADO, adj. Agadanhado, em forma de gadanho.

"E de dedos engatanhados socou-o todo para dentro da guaica,


sentindo-lhe o peso e o sonido afogado." (Simes Lopes, Contos
Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 168).

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ENGAZOPADOR, adj. Diz-se da pessoa que engana ou ilude intencionalmente
a outrem. Trapaceiro, velhaco.

ENGAZOPAMENTO, s. Ato de engazopar.

ENGAZOPAR, v. Usar de velhacada, fazer trapaas, enganar, iludir,


mentir, impingir.

ENGENHO DE SERRA, s. Nome dado s serrarias mecnicas.

ENGENHO DE SOQUE, s. Moinho em que a erva-mate triturada em cochos de


madeira por mos-de-pilo.

ENGORDE, s. Estado de gordura do animal: bom engorde ou mau engorde.


Finalidade, destino estabelecido para o gado: "Na invernada de fora
esto os animais de engorde", isto , os que esto sendo engordados para
o corte.

ENGRAXATARIA, s. Engraxateria.

ENGROLIO, s. Trapaa, embrulho, embrulhada.

ENGROSSAMENTO, s. Ao de engrossar, de exagerar as qualidades boas de


algum. Bajulao, chaleirismo, lisonjeamento.

ENGRUDE, s. Grude, cola. (Cast.).

ENGUIAR, v. Parar por desarranjo (a mquina, o relgio, etc.).

ENGUIO, s. Atrativo, lisonja.

"Fez-le muitos cumprimentos


Muita festa, muito enguio."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
21. ed., P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1978, p. 68).

ENLAADOR, s. e adj. Laador.

ENLAAR, v. Laar, jogar o lao para prender o animal. V. lao e


laador.

"Enlaar ou simplesmente laar um dos servios mais pitorescos


das estncias gachas, constituindo uma verdadeira diverso entre os
nossos campeiros. O autor deste modesto trabalho tem um captulo num de
seus livros de contos regionais, Rinco, em que mostra a grande, a
extraordinria habilidade com que certo campeiro de nome Maneco Pereira,
residente no municpio de So Gabriel, fazia uso do lao. De fato,
ningum como o referido gacho para um tiro certeiro, para um pealo de
cucharra ou de sobre-lombo. Fazia-o de qualquer maneira, pelas costas,
de olhos vendados, e at com os dedos do p direito. Em companhia de
Alcides Maia assistimos, em 1915, essa prova gauchesca que Maneco
Pereira repetiu, dezenas de vezes, sem errar." (Callage).

ENLIAR, v. Enlear.

ENOVELAR-SE, v. Emparelharem-se os cavalos na carreira de forma a no se


conseguir perceber qual o que leva vantagem sobre o outro. "Os
parelheiros chegaram enovelados no fim da cancha", isto , chegaram
juntos, ou melhor, quase juntos, sendo difcil distinguir o vencedor de
to pequena que foi a diferena entre eles.

ENQUADRILHADO, adj. Posto em quadrilha, integrante de quadrilha.

ENQUADRILHAMENTO, s. Ao de enquadrilhar.

ENQUADRILHAR, v. Reunir animais cavalares em quadrilha. Reunirem-se,


andarem juntos, animais ou pessoas: "Aqueles tipos andam sempre
enquadrilhados", isto , andam sempre juntos, agrupados, reunidos.

ENQUARTADO, adj. Diz-se do vacum ou cavalar que tem os quartos bem


provi-

163

dos de carne ou de msculos. // Por extenso, aplica-se a pessoas,


principalmente mulher de quartos largos, cadeiruda.

ENQUARTAR, v. Adquirir gordura ou msculos nos quartos.

ENQUIZILAR, v. O mesmo que enquizilhar. (Usa-se tambm na voz


reflexiva).

"A peonada j nem podia arranhar nas violas, porque o velho se


enquizilava e mandava logo um piazito dizer l fora que no queria
bochinchadas em casa." (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul,
P.A., Globo, 1973, p. 110).

ENQUIZILHAMENTO, s. Ato de enquizilhar.

ENQUIZILHAR, v. Enraivecer, aborrecer a Outrem. O mesmo que enquizilar.


(Usa-se tambm na voz reflexiva).

ENRABAR, v. Prender pelo cabresto um animal cauda do outro para


conduzi-los em marcha. // Unir, por meio de corda ou de corrente, uma
viatura parte traseira de outra. // Andar rabadilha de algum.
Acompanhar de peito, persistentemente, outra pessoa.

ENRABICHADO, adj. Diz-se do indivduo que anda sempre muito agarrado a


determinada pessoa. // Apaixonado.

ENRABICHAR-SE, v. Andar preso a outra pessoa. Enamorar-se, apaixonar-se.

ENRASCADA, s. Dificuldade, embarao, embrulhada.

ENREDADA, s. Trama, embarao, trapalhada, enredo, confuso, intriga.

ENREDADO, adj. Enleado nas rdeas, no lao, no aramado. Emaranhado.

ENREDAR O RASTO, expr. Despistar, lograr, enganar.

ENREDAR-SE NAS QUARTAS, expr. Atrapalhar-se, perturbar-se, embaraar-se,


desatinar-se.

ENREDIA, s. Trama, rede, enredo, emaranhamento, entranado.


ENRESTADO, adj. Farto, saciado.

ENRESTAR-SE, v. Saciar-se, comer ou beber a fartar, comer at no poder


mais. // Praticar qualquer ao at fartar-se.

ENRINCONAR, v. Arrinconar. Rinconar. Pr os animais a pastar em rinco,


ou seja, em campo cercado de matos, rios ou outros acidentes naturais.
// Embretar.

ENRINCONAR-SE, v. Meter-se, refugiar-se em um rinco.

ENRODILHADO, adj. Embaraado, acanhado, encolhido.

ENRODILHAR-SE, v. Enredar-se, embaraar-se, acanhar-se, encolher-se.

ENROLAR O PONCHO, expr. Preparar-se para viajar.

ENSEBAR AS CANELAS, expr. Fugir medrosamente.

ENSURROAR-SE, v. Comer at no poder mais. Encher-se, como quem enche um


surro. Fartar-se.

ENTABULAR, v. Reunir um certo nmero de guas, acostumando-as a viverem


juntas, formando uma manada, com um garanho ou pastor, o qual as mantm
agrupadas em determinado lugar do campo e cuida delas com muito zelo.

ENTAFULHAR, v. Encher uma mala, gaveta ou outro recipiente, de modo


atabalhoado, sem cuidado, negligentemente.

ENTANGUIR, v. Entanguecer.

ENTALONAR-SE, v. Cravar os garres. Firmar-se nos calcanhares. (P. us).

164

ENTECADO, adj. Enfezado, sem vio, dbil, achacado. // Inerte, imvel,


sem ao.

ENTECAR, v. Enfermar, enfezar-se. // Ficar imvel, sem ao.

ENTERRO, s. Tesouro enterrado, constitudo de moedas de prata e de ouro,


alfaias e outros valores. (Dizem os que acreditam na existncia dos
enterros, que, em sua sada precipitada da Amrica, os Jesutas
ocultaram sob o solo, em vrios lugares do Rio Grande do Sul e do Prata,
as suas riquezas, no havendo porm provas de que tal afirmativa tenha
fundamento).

"As pessoas que vm assistir a estas assombraes, mesmo as que


no vm, so de opinio que isso tudo deve ter por motivo algum enterro
de dinheiro." (Ramiro Frota Barcelos, Estncia Assombrada, Livraria
Porto Alegre Editora, 1947, p. 181).

ENTERTER, v. Entreter.

ENTERTIMENTO, s. Entretimento.
ENTICADOR, s. e adj. Indivduo implicante, que tem o costume de
escarnecer de outrem. O mesmo que enticante.

ENTICANTE, s. e adj. O mesmo que enticador.

ENTONADO, adj. Soberbo, arrogante, enfatuado, convencido, que tem


entono.

ENTONCE ou ENTONCES, adv. Ento, pois. (Arc. port. em uso no RS).

"Louvado seja Jesu-Cristo, patrcio! Boa-noite! Entonces, que


tal te foi de susto?..." (Simes Lopes, Contos Gauchescos eLendasdo Sul,
P.A., Globo, 1973, p. 12).

ENTRADO, adj. Diz-se do indivduo que toma liberdade facilmente com


outras pessoas; confiado, abusado.

ENTRANTE, adj. Em princpio, novo, que est comeando. "No ms


entrante", isto , no ms que est comeando.

ENTRAR, v. Comear, principiar.

ENTRAR EM CURRAL DE RAMA, expr. Meter-se em complicaes. Expor-se a


perigos.

ENTRAR O RIO NA CAIXA, expr. Voltar o rio ao seu leito natural depois de
ter sado campo fora durante as enchentes.

"Dia e meio ali ficou-se


Parado beira da enchente.
Mas mui pronto, felizmente,
Foi-se apresentando a baixa,
Entrou logo o rio na caixa,
Ansim muito de repente."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1978, p. 43).

ENTRAR POR MORTO, expr. No ser contado, no negcio, para efeito de


pagamento. Ocorre nas transaes de gado, quando os terneiros, at
determinada idade, no so computados na contagem, como se no
existissem.

ENTREGAR AS FICHAS, expr. Entregar-se, ceder, concordar.

ENTREGAR-SE, v. Perder o animal todo o sestro, por efeito da doma,


tornando-se manso, confiante e dcil. Desenganar-se.

ENTREPELADO, adj. Diz-se do eqino que tem plos brancos, pretos e


vermelhos misturados, dando a impresso de rosceo. Diz-se, ainda, do
animal de

165

vrios plos, de tal maneira misturados, que no se consegue saber qual


o predominante. // Figuradamente, aplica-se a indivduo que muda
facilmente de partido poltico ou que adota ao mesmo tempo idias
contraditrias.

"Entrepelado, que lindo,


por ser um plo esquisito:
eu aceitava me rindo
porque sempre achei bonito."
(Raul Sotero, ABC sobre plos de
cavalo, in Aurlio Porto, Dicionrio
Enciclopdico do Rio Grande do
Sul, 19 vol., P.A., Ed. Minuano
Ltda., 1936,p. 17).

ENTREPERNA, s. A carne da regio de entrepernas do bovino, que serve


para assado ou churrasco. O assado ou churrasco preparado com essa
carne.

ENTREVEIRO, s. O mesmo que entrevero.

..."advinhava, sentia a beleza da luta, na embriaguez das


arremetidas, no renhido dos entreveiros, no delrio das resistncias."
(A. Maia, Runas Vivas, Porto, Lello & Irmo, 1910, p. 36).

ENTREVERADO, adj. Misturado.

ENTREVERAR, v. Misturar, entremeter, confundir. // Participar de um


entrevero.

ENTREVERAR OS PELEGOS, expr.


Casar-se, ajuntar-se com mulher.

ENTREVERO, s. Mistura, desordem, confuso, de pessoas, animais ou


objetos. // Recontro em que as tropas combatentes, no ardor da luta, se
misturam em desordem, brigando individualmente, corpo a corpo, sem mais
obedecer a comando, usando predominantemente a arma branca. O entrevero
uma luta de extermnio, em que o sangue corre com abundncia e os
mortos e feridos so inumerveis, pois, em geral, cada participante
briga com fria e deciso, preferindo morrer a recuar ou entregar-se.

"Uma bala atravessa-lhe o chapu. Forma-se um entrevero sumamente


desigual. Um tiro, disparado queima-roupa, abate-lhe a montaria. E
quando Anita cai por terra, envolvem-na e a tomam prisioneira."
(Lindolfo Collor, Garibaldi e a Guerra dos Farrapos, P.A., 1958, p.
265).

"Resvala as mos nos vincos desta arma crua;


e imagina quanto golpe ela aparou
legendas que bandeou nos xucros entreveros!"
(J. A. Pio de Almeida, Claves da
Harpa e do Vento, P.A., Sulina,
1970, p. 40).

"Necessria ao carreteiro
para as cordas consertar
ou, mesmo num entrevero
se no puder evitar."
(Cardo Bravo, Faca, poema).

ENTROpIGAITADO, adj. Zambo, tonto, perturbado, confuso, desnorteado,


embriagado.
"Quero falar e no posso,
Pois fico entropigaitado,
E escuto, ento, religioso,
O teu falar adorado!"
(Pery de Castro, Coisas do meu Pago,
P.A., 1926, p. 105).

ENTROPILHADO, adj. Reunido tropilha.

ENTROPILHAR, v. Formar pequena tropa, ou tropilha, de animais cavalares


que tenham o mesmo plo.

"Hoje so raros os estancieiros que entropilham os seus animais


por terem relegado para o rol das coisas sem valor o rebanho cavalar."
(Moraes).

166

..."Depois do entrelaamento dos rabos, a canalha se


entropilha..." (Hlio Osrio Marques, Cano de Protesto...).

"Assim, a impulso do prezado patrcio, entropilhando os poemas


de sua antologia." (Vasco Mello Leiria, apresentao de Chimarreando a
Rima, So Gabriel, 1981, p. 5).

"So Francisco de Paula, minha Terra,


quantas gratas lembranas entropilhas
para mim, na campanha aqui da Serra,
entre as dobras do poncho das coxilhas."
(Rui Cardoso Nunes, Revendo o
Pago).

ENTROPILHAR-SE, v. Reunir-se, juntar-se em tropilha. Formarem as pessoas


grupos ou magotes.

ENTROUXAR, v. Introduzir goela abaixo. Empurrar, atochar, entulhar.

ENTROVISCADO, adj. Diz-se da pessoa meio embriagada.

ENTUNA, s. Caminhada pelos montes, caando ou vadiando. // A caa. (P.


us.).

ENVARETADO, adj. Desapontado, tolhido, encalistrado, encabulado. //


Diz-se, tambm, do galo que enxerga pouco.

ENVARETAR, v. Desapontar-se, encalistrar-se, zangar-se, encabular,


atrapalhar-se, em conseqncia de caoada ou gracejo de outrem. //
Receber o galo de rinha pancada ou golpe nos olhos, ficando cego ou com
a viso reduzida.

ENVEREDAR, v. Tomar uma determinada direo. Seguir com destino


exclusivo a certo lugar. Dirigir-se direta e precipitadamente para um
rumo. "Deixamos a estrada e enveredamos para a beira do rio"; "Mal
comeou a festada, o gado todo enveredou para o mato"; "insultado,
enveredou logo contra o ofensor". // Tambm significa guiar, encaminhar:
"Ns o enveredamos pelo bom caminho."
ENVERGADURA, s. Importncia atribuda a uma pessoa, valor.

ENVIDAR, v. Jogar, apostar, arriscar no jogo.

ENVITE, s. Envide.

ENVOLVER, v. Preocupar: "Fulano est envolvido com sua plantao", isto


, est preocupado, atarefado com sua plantao.

ENVULTAR, v. Correrem os cavalos um ao lado do outro, podendo um estar


mais avanado do que o outro, mas sem que haja luz entre ambos.

ENXERGO, s. Xairel de l que se coloca sobre o lombo do cavalo, por


baixo dos arreios. O mesmo que baixeiro.

ENXUGAR, v. Matar, assassinar.

ENXURRADA, s. Chuva prolongada e muito forte.

ENZAMBUAO, s. Erupo cutnea. Brotoeja.

ENZAMBUAR, v. Cobrir-se a pele de exantemas, brotoejas ou manchas.

EPUCHA!, interj. O mesmo que Eh! Pucha!

EPUXA!, interj. O mesmo que Eh! Pucha!

RA... RA..., interj. Voz usada pelos tropeiros e carreteiros para


estimularem os animais a andarem.

"E cantando l se vai:

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ra. ra, ra boi da ponta


ns j temo chegando!
E cantando l se vai:
ra. ra. ra boi do coice,
segue o piazito cantando..."
(Luiz Menezes, Antologia da EPC,
P.A., Sulina, 1970, p. 219).

ERGUER-SE, v. Ir-se embora o hspede: "Ele levantou muito cedo e


ergueu-se", isto , ele levantou muito cedo e foi-se embora.

ERMO, s. Irmo. vocbulo largamente usado pela gente rstica da


campanha. (Etim.: Parece provir do latim germanus, que originou hermano
na Espanha e irmo e mano em Portugal).

"Perdo, gente povoeira,


Do que disse de vocs,
Foi quase s brincadeira;
Nem tudo assim que penso,
Nem tudo est no bom senso
Do teu ermo campons."
(Pery de Castro, Coisas do meu
Pago, P.A., Globo, 1926, p. 141).

"Mui franco, o dono da casa,


Moo guapo e bonancho,
Ofereceu logo o galpo,
gua, lenha, mate doce;
Parecia at que fosse
A tropa de um seu ermo."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1978, p. 34).

ERONIA, s. O mesmo que ironia.

ERRADA, s. Perdida em viagem. // Caminho que pode levar o viajante a desviar-se de


seu itinerrio. "V sempre
pela estrada geral, evitando uma errada
que existe direita, depois do passo".
"V sempre em frente, que no tem
errada".

ERRAR O PEALO, expr. Sair-se mal na investida. Enganar-se. No obter


vantagem julgada fcil de ser alcanada. O mesmo que errar o pulo e
errar o vau.

ERRAR O PULO, expr. O mesmo que errar o pealo.

ERRAR O VAU, expr. O mesmo que errar o pealo.

ERVA, s. V. erva-mate.

ERVA-CANCHEADA, s. Produto obtido mediante a triturao dos ramos de


erva-mate, aps a secagem.

ERVA-CANCROSA, s. Planta medicinal da famlia das Santalceas (Iodina


rhombtfolia H e A).

ERVA-CANA, s. Variedade de erva-mate de m qualidade, amarga. (Ilex


amara).

ERVA-DA-PONTADA, s. Ch de bugre. Erva medicinal (Casearia silvestris).

ERVA-DE-BICHO, s. Erva cujas folhas tm propriedades altamente


causticantes (Polygnonum acre).

ERVA-DE-BUGRE, s. Planta de efeitos depurativos e anti-reumticos.

ERVA-DE-LAGARTO, s. Erva com propriedades medicinais (Eupatorium


oblongifolium). usada contra mordedura de cobra.

ERVA-DE-PASSARINHO, s. Planta parasita, com propriedades medicinais, que


se desenvolve nas rvores. (Loranthus engenio ides).

ERVA-DE-SANTA-MARIA, s. Erva empregada como vermfugo e como inseticida


(Chenopodium ambrosixide).

ERVA-DE-SO-JOO, s. Denominao dada a duas plantas, uma da famlia das


Compostas (Ageratum conyzoides Lin.) e outra da famlia das Solanceas
(Jaborosa montividensis Casar.). O mesmo que erva-de-So-Jos.
ERVA-DE-SO-JOS, s. O mesmo que

168

erva-de-So-Joo.

ERVA-DE-TOURO, s. Erva de aroma muito agradvel que se emprega em


mistura com o mate e que tem propriedades diurticas (Poiretia
glandulosa).

ERVAL, s. Plantao de erva-mate; mato em que predomina a erva-mate.

ERVA LAVADA, s. Erva j sem fortido por ter servido para muitos mates.

ERVA-MATE, s. Planta da famlia das aqifoliceas (Ilex paraguaiensis,


St. Hil.), tambm chamada mate, de cujas folhas se prepara o chimarro.

" uma rvore que se encontra vegetando no estado silvestre numa


extensa regio de clima temperado quente da Amrica do Sul; seu porte
faz lembrar o da laranjeira. O caule um tronco de cor acinzen- tada,
que mede, geralmente, de 20 a 25 centmetros de dimetro, podendo
alcanar 40 centmetros nas rvores anosas. A altura varivel, depende
tambm da idade, da natureza do solo e das condies climticas. Quando
as erveiras crescem livremente em solo frtil e profundo, no raro
atingem 10 metros, ao passo que as plantas submetidas ao regime de poda,
quando ainda novas, geralmente no passam de 6 metros. As folhas, que
constituem a parte mais importante da planta, so alternas, oblongas e
estreitas na base ou cuneiformes, coriceas, com nervuras salientes e
dispostas segundo o tipo peninrvio. As suas bordas so providas de
pequenos dentes visveis, principalmente, da metade do limbo para a
extremidade; o peciolo tem cerca de um centmetro de comprimento e
mostra-se um tanto torcido." ... (Joo Cndido Ferreira Filho, Cultura e
Preparo da Erva-Mate, RJ, Graf. Guarani, 1948, p. 5).

ERVA-MINUANA, s. Planta usada contra feridas e lceras.

ERVA-SANTO-FILHO, s. Praga das lavouras do vale do rio Taquari.

ERVATEIRO, s. e adj. Indivduo que negocia com erva-mate, ou que se


dedica colheita e industrializao desse vegetal.

ERVA-TOSTO, s. Erva com propriedades medicinais, usada contra as


doenas do fgado.

ESBARRANCADA, s. Vala produzida por eroso pluvial. O mesmo que


esbarrancado.

ESBARRANCADO, s. O mesmo que esbarrancada.

ESBARRAR, v. Abancar o cavalo. Parar o animal de repente, riscando a


terra com as patas traseiras e quase assentando no cho.

ESBARRO, s. Encontro, esbarro, repelo. // Censura, repreenso.

ESBODEGADO, adj. Cansado, exausto, esbaforido.


ESBODEGAR-SE, v. Cansar-se, esbaforir-se, exaurir-se.

ESCABRIADO, adj. Ressabiado, arrependido.

ESCABRIAR-SE, v. Ressabiar, arrepender-se.

ESCAMURRENGAR, v. Tornar-se casmurro, entristecer.

ESCANDESCENCIA, s. Priso de ventre.

ESCANDESCER, v. Produzir priso de ventre, peso na cabea, e outros


males.

ESCANZURRADO, adj. Cansado, sovado, estafado, surrado, escangalhado,


descomposto, estirado.

169

ESCANZURRAR, v. Tornar ou tornar-se escanzurrado em conseqncia de


trabalho excessivo.

ESCARAMUA, s. Ato de obrigar o cavalo, por meio de movimentos de rdea


e de pernas, a efetuar diversas evolues, como arrancar para a frente,
voltar-se para trs, volver para a direita ou para a esquerda, parar e
partir repentinamente, etc. Numa escaramua o cavaleiro hbil
experimenta o animal e se identifica com ele, verificando se foi bem
domado, se forte e dotado de agilidade, se tem boa rdea, etc. //
Movimentos rpidos de cavalaria, na frente do inimigo, com constantes
mudanas de direo e ataques e retiradas repentinas, para desnorte-lo.
// Emprega-se tambm em sentido figurado: "O moo fez uma escaramua
para ir embora, mas acabou ficando", isto , fez meno de ir embora,
preparou-se para ir embora, mas acabou ficando. O mesmo que
escaramuada, escaramuceada, escaramuceio.

ESCARAMUADA, s. O mesmo que escaramua.

ESCARAMUAR, v. Fazer escaramuas.

" selvagem corcel de crinas crulas,


minha curiosidade, Mar, aguas,
quando aljofras, com teu colar de prolas
de espuma, a areia e nela escaramuas."
(Rui Cardoso Nunes, Cime do Sol,
in Anurio de Poetas do Brasil, org.
por Aparcio Fernandes, RJ, Folha
Carioca Ed. Ltda., p.415).

ESCARAMUCEADA, s. O mesmo que escaramua.

ESCARAMUCEIO, s. O mesmo que escaramua.

ESCARAPETEAR, v. O mesmo que escrapetear.

ESCARCEADA, s. Ao de escarcear. O mesmo que escarceado.

ESCARCEADO, s. O mesmo que escarceada.


ESCARCEADOR, adj. Diz-se do cavalo, e, figuradamente, da pessoa que
escarceia.

"Pra cavalo escarceador


no se d milho em bornal!"
(Chico Ribeiro, Filosofia Campeira,
P.A., A Nao S.A., 1964. p. 61).

ESCARCEAR, v. Levantar e abaixar briosamente a cabea, curvando, com


garbo, o pescoo. // Aplica-se aos cavalos, e, figuradamente, s
pessoas.

"Chegou ceditu, me lembro.


num pingo zaino escarceando
faceiro, atirando o freio."
(Antnio Augusto Fagundes, com a
Lua na Garupa, P.A., Martins
Livreiro-Editor, 1981, p. 52).

ESCARCEIO, s. Escarceada.

"S preciso cuidado


c'os escarceios danados
da ventana da saudade,"
(Dirceu A. Chiesa, O Gnio dos
Pagos, P.A., Livr. Continente, 1950,
p. 23).

ESCARPATEAR, v. Passar, pular por escarpas.

ESCARPETEADOR, adj. O mesmo que escrapeteador.

ESCARPETEAR, v. O mesmo que escrapetear.

ESCARRANCHADO, adj. Enforquilhado, montado, esganchado.

ESCONDER O LEITE, expr. Negar a pessoa o que havia prometido ou o que se


esperava dela. // Dissimular. // Mostrar-

170

-se medroso.

ESCORA, s. Espera, emboscada, cilada.

ESCORADOR, s. Indivduo valente, que no foge da luta, que enfrenta o


inimigo.

ESCORAR, v. Ficar de emboscada para surpreender a pessoa que se quer


agredir, ou espera do animal que se pretende caar. Armar cilada. //
Enfrentar o inimigo, topar a briga, aceitar o combate.

ESCORAR DE FORQUILHA, expr. Colocar uma forquilha como escora. Amparar,


proteger.

ESCORREDOR, s. Pequeno curral junto ao banheiro carrapaticida, onde,


depois do banho, o gado permanece por algum tempo, at que lhe escorra a
gua do corpo.

ESCOTEIRO, adj. Diz-se do cavaleiro que viaja s, sem conduzir


cargueiros, sem ser acompanhado de viaturas, sem embarao ou impedimento
de qualquer espcie.

ESCRACHETAR, v. Rebentar, acabar, destruir: "Escrachetei-lhe a fua".

ESCRAPETEADOR, adj. Diz-se do animal que escrapeteia.

ESCRAPETEAR, v. Correr o animal de um lado para outro, galopar em todas


as direes, escaramuar. Reagir o animal, quando se tenta prend-lo,
pateando, corcoveando, dando pinotes. // Andar a pessoa em movimento
constante, de um lado para outro, relutando em fazer alguma coisa que
lhe desagradvel. // Receber, uma pessoa, com maus modos, a outra
pessoa de cujas intenes est desconfiando. // Zangar-se, vociferar. //
O mesmo que escarpetear ou escara petear.

"O povo como o boi manso.


Quando novilho atropela,
Bufa, pula, se arrepela.
Escrapeteia e se zanga;
Depois... vem lamber a canga
E torna-se amigo dela."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
21. ed., P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1978, p. 55).

ESCRESPAR-SE, v. Irritar-se.

ESCREVER, v. Caminhar ziguezagueando. Dirigir veculo ziguezagueando.

ESCUDRINHAR, v. Investigar, perscrutar com cuidado.

ESCUITAR, v. Corruptela de escutar.

"Escuite no mais... Chegou o dia do baile, estava tudo


arreglado, era aquela a noite..."(A. Maia, Alma Brbara, RJ, Pimenta de
Melo & C., 1922, p. 145).

ESFOGUETEAR, v. Ativar o cavalo, esporeando-o e batendo-lhe com o


chicote, sem permitir, porm, que ele dispare.

ESFREGA, s. Esforo, trabalho em demasia. "Levei uma esfrega", isto ,


fiz um grande esforo, trabalhei demais.

ESFREGO, s. Cucurbitcea cujas fibras constituem esfrego para lavar


louas e panelas.

ESFRIAR, v. Acalmar.

ESGANCHADO, adj. Escarranchado, esgarranchado, enforquilhado, montado.

ESGARRANCHADO, adj. O mesmo que esganchado.

ESGARRANCHAR-SE, v. Montar.

ESGRAVATAR, v. Esgaravatar.
ESMERIL, s. Mau chofer, que estraga qualquer automvel que lhe seja
entregue.

171

ESMOLEIRO, adj. Que d esmolas, caritativo, esmoler. // O vocbulo


tambm usado com o sentido oposto.

ESMULAMBADO, adj. Tornado em mulambos. Maltrapilho.

ESMULAMBAR, v. Tornar-se em mulambos.

ESMURREGAR, v. O mesmo que esmurrengar.

ESMURRENGAR, v. Esmurrar muito, dar muitos murros.

ESNOCAR, v. Deslocar, sofrer luxao.

ESPALHAR O P ou ESPALHAR OS PS, expr. Danar. // Fugir.

ESPALHAR OS ARREIOS, expr. O mesmo que sair vendendo os arreios.

ESPARRAMAR, v. Espalhar, dispersar.

ESPARRAME, s. O mesmo que esparramo.

ESPARRAMO, s. Separao, disseminao de objetos, de animais ou de


pessoas. O mesmo que esparrame. V. fazer um esparramo.

ESPELOTEADO, adj. Fraco do juzo, aloucado.

ESPELOTEAR, v. Proceder como um espeloteado. Dar por paus e por pedras.

ESPELOTEIO, s. Espeloteamento.

ESPERA, s. Emboscada, cilada, escora. Fazer uma espera significa


aguardar, escondido, a vinda de algum para atacar ou agredir, ou a
passagem da caa, que vir trazida pelos ces, para abater.

ESPETO, s. Coisa difcil de fazer, maadora, inconveniente. Complicao,


espiga, contratempo.

ESPICHAR A CANELA, expr. Morrer.

ESPICHAR O LAO, expr. Atirar o lao para prender a rs.

ESPICHAR OS COBRES, expr. Entregar o dinheiro em pagamento.

ESPIGA, s. Extremidade da haste a que est fixada a marca de ferro que


se imprime a fogo na rs, para identific-la. // Mau negcio. Coisa que
se compra e, aps, se verifica que no corresponde expectativa. Coisa
que se compra por preo superior ao corrente no mercado.

ESPINHAR-SE, v. Zangar-se, tomar o peo na unha, dar o cavaco.

ESPINHEL, s. Aparelho de pesca, constituido de uma linha comprida, de


algumas dezenas de metros, tendo de espao a espao, presa a ela, uma
linhazinha curta, de um palmo mais ou menos, munida de anzol. Cada
espinhel tem de 25 a 50 anzis. Espinel.

ESPINILHO, s. rvore que produz uma flor amarela muito apreciada pelas
abelhas. Sua madeira tima para lenha, prestando-se, tambm, para
trama de cerca. (H duas variedades: Acacia cavenia, Hook e Arm., e
Xantoxylon precox, St. Hil.).

ESPINHO, s. Faca ponteaguda.

ESPORA, s. Individuo que em tudo se intromete. Sujeito que aparece onde


no chamado. Intrometido.

O sacristo, sem demora,


tendo alcanado meu gesto
meteu-se logo de espora
e atirou seu manifesto.
(Faria Corra, Rumo aos Pagos,
p. 89).

ESPOREAR, v. Incitar, amolar algum com dichotes.

ESPUMENTO, adj. Espumoso.

ESQUECIDO, adj. Diz-se do animal que,

172

por anomalia da dentio, no tem os colmilhos. Aplica-se ao galo adulto


a que nunca apareceram as esporas, ou que as tem atrofiadas. // Sem
movimento, devido a uma paralisia: "Esquecido de um brao, de uma
perna", significa sem movimento em um brao ou em uma perna.

ESQUENTADO, adj. Colrico, zangado.

ESQUENTAR-SE, v. Encolerizar-se, zangar-se.

ESQUILA, s. Ato de esquilar, tosquia. ( palavra castelhana muito usada


na fronteira).

ESQUILAR, v. Tosquiar. ( palavra castelhana).

ESSE, s. Parte do faco ou da adaga, entre o cabo e a lmina, com forma


semelhante da letra "S".

"O negro urrou como um touro na capa... a rumo no mais avanou o


brao, e fincou e suspendeu, levantou a velha, estorcendo-se,
atravessada no faco, at o esse...;" (Simes Lopes, Contos Gauchescos e
Lendas do Sul, P.A., Globo, 1957, p. 136).

ESTACA, s. Pedao de pau, fincado no cho, utilizado para amarrar a soga


com que se prende o animal.

ESTADO, s. Luxo, grandeza. Viver num estado: Viver a la gordacha.

EST DIREITO, expr. Est bem, est certo. Estou de acordo. Pode ser como
voc prope.
ESTADO, s. Condio fsica em que se encontra o animal. Boas condies,
bom estado; ms condies, mau estado; melhorar de condies, tomar
estado. Usa-se especialmente em relao a parelheiros ou galos de rinha.

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, s. Nomes dados, anteriormente, Terra


Gacha: O Estado do Rio Grande do Sul, situado na extremidade meridional
da Repblica Federativa do Brasil, da qual parte integrante e
autnoma, teve, no passado, entre outras, as seguintes denominaes: So
Pedro, Capitania del Rei, Rio Grande, Provncia do Tape, Porto de So
Pedro, Provncia del R ou Provncia del Rey, Rio Grande de So Pedro,
Rio de S. Pedro, Colnia do Rio de S. Pedro, Rio de S. Pedro do Sul,
Terra dos Tapes, Governo do Rio de Janeiro, Governo do Rio Grande,
Continente de Viamo ou del Rei, Governo do Rio Grande de So Pedro do
Sul, Continente do Rio Grande, Continente do Rio Grande de So Pedro,
Continente do Rio Grande de So Pedro do Sul, Continente do Rio Grande
do Sul, Provncia ou Governo de Buenos A ires, Capitania do Rio Grande,
Capitania do Rio Grande de So Pedro, Capitania do Rio Grande de So
Pedro do Sul, Capitania de So Pedro, Capitania do Rio Grande do Sul,
Capitania de So Pedro do Sul, Capitania de So Pedro do Rio Grande,
Capitania de So Pedro do Rio Grande do Sul, Provncia de So Pedro do
Rio Grande, Provncia del Rei, Provncia do Rio Grande de So Pedro do
Sul, Provncia de So Pedro do Sul, Provncia do Rio Grande de So
Pedro, Provncia do Rio Grande, Provncia de So Pedro, Provncia de So
Pedro do Rio Grande do Sul, Provncia do Rio Grande do Sul, Estado
Rio-Granden se, Rio Grande de So Pedro do Sul, Rio Grande do Sul.

"Em concluso e tendo em vista quanto foi exposto, indicamos a


seguir as denominaes atribuidas terra gacha e que podem ser con-

173

sideradas como oficiais, desde que ou foram assim declaradas


expressamente, ou constam em documentos da mesma natureza, ou em mapas
de autores consagrados e oficialmente reconhecidos. Essas denominaes
so as seguintes: 1. So Pedro - Foi o primeiro nome dado oficialmente
Barra do Rio Grande e o 'nico que ficou e se estendeu, depois, a todo o
territrio', no entender dos acatados historiadores General Souza Docca
e Coronel Rego Monteiro, vindo da expedio de Martim Afonso de Souza de
1531-1532, e dado em homenagem a seu irmo Pero Lopes de Souza. E
tambm, na feliz expresso do Coronel Rego Monteiro, o nome que 'durante
cerca de trs sculos batizou o nosso Rio Grande - Rio Grande de So
Pedro'. Aparece pela primeira vez no mapa de Gaspar Viegas, do ano de
1534. 2. Capitania del Rei - Essa denominao deve ser posterior ao ano
de 1534, quando foi feita a diviso do Brasil em Capitanias
Hereditrias. Ento, segundo o Visconde de So Leopoldo, como o Rio
Grande no ficara pertencendo a nenhum donatrio, para distingui-lo das
Capitanias do Norte, foi denominada Capitania del Rei, isto ,
pertencente Coroa. 3. Rio Grande - Aparece esse nome, pela primeira
vez, em um mapa de Pierre Desvaliers, de 1550, segundo ensina o P.
Carlos Teschauer, S.J. E foi usado em muitos documentos oficiais e
publicaes diversas, a partir de 1715.4. Rio Grande de So Pedro -
'Invocao que fama lhe deram os jesutas das Misses do Uruguai'; de
acordo com o Visconde de So Leopoldo, esse nome empregado para
indicar a terra rio-grandense em documentos que datam do ano de 1721,
tendo servido para batizar nosso Estado 'durante cerca de trs sculos',
nas palavras do Coronel Rego Monteiro, antes referidas. 5.Rio de So
Pedro - Denominao muito usada em documentos oficiais antigos, sendo o
de data mais recuada que encontramos, a Consulta do Conselho
Ultramarino, de 28 de janeiro de 1736. 6. Continente do Rio Grande -
Essa designao passou a ser usada alguns anos depois da fundao do
Presdio Jesus-Maria-Jos, em 1737, pelo Brigadeiro Jos da Silva Pais e
figura, entre outros muitos documentos, no Auto de Posse do Coronel Jos
Marcelino de Figueiredo como Governador, datado de 23 de abril de 1769,
e em Relatrio do Vice-Rei Lus de Vasconcelos e Souza, apresentado ao
Governo de Lisboa, com data de 2 de outubro de 1784. 7. Continente de
Viamo ou del Rei - Consta esse nome no mapa organizado ao ser instalado
o Senado da Cmara da Vila do Rio Grande de So Pedro, em data de 16 de
dezembro de 1751. 8. Governo do Rio Grande - Passou a ser empregado esse
nome depois de ter sido o Rio Grande elevado categoria de governo
independente, igual a Santa Catarina e Colnia do Sacramento, mas ainda
subordinado ao Rio de Janeiro, pela Carta-Patente de 9 de setembro de
1760. E aparece em Alvar de 16 de dezembro de 1812, quando j era
adotada oficialmente a denominao de Capitania de So
Pedro.9.Continente do Rio Grande de So Pedro - Esse nome aparece, alm
de outros, em dois documentos oficiais do ano de 1769: o termo de
homenagem pres-

174

tado pelo Coronel Jos Marcelino de Figueiredo para o cargo de


Governador do Rio Grande (16 de maro, no Rio de Janeiro) e o auto de
sua posse na elevada funo (23 de abril, no Arrayal do Viamo'). 10.
Capitania de So Pedro - Nome oficial dado terra rio-grandense pela
Carta-Patente de 19 de setembro de 1807, que elevou o Governo do Rio
Grande a Capitania-Geral e nomeou seu primeiro Governador e
Capito-General o Conselheiro e Brigadeiro D. Diogo de Souza, cuja posse
ocorreu a 9 de outubro de 1809, constando no respectivo auto a mesma
denominao. 11. Provncia do Rio Grande de So Pedro do Sul - Embora
oficialmente adotado em virtude da aceitao do regime constitucional
decorrente da Revoluo do Porto, de 24 de agosto de 1820, essa
denominao j constava no Alvar de 26 de agosto de 1819, que criou o
cargo de Juiz de Fora para as vilas de Rio Pardo e de So Joo da
Cachoeira. E aparece, posteriormente, em muitos outros documentos
oficiais, especialmente em Avisos, Portarias e Ofcios do Ministro da
Guerra do Imprio para o Presidente da Provncia, assim como na Ordem do
Dia n 61, baixada pelo ento Conde de Caxias na Vila de Jaguaro, a 4
de junho de 1852. 12. Provncia do Rio Grande do Sul - Nome oficial da
terra rio-grandense a partir da Independncia do Brasil e consagrado
pela Constituio Imperial de 25 de maro de 1824. 13. Estado
Rio-Grandense - Denominao oficialmente adotada pelos revolucionrios
farroupilhas, quando proclamaram a Repblica Rio-Grandense em 1836,
aparecendo em muitos documentos oficiais do glorioso decnio. 14. Estado
do Rio Grande do Sul - Nome oficial da terra gacha depois da
proclamao da Repblica a 15 de novembro de 1889, constante do Decreto
n 1 do Governo Provisrio, e consagrado na Constituio de 24 de
fevereiro de 1891 e pela Constituio Poltica de 14 de julho de 1891,
assim como pelas posteriores Constituies do Estado, de 29 de junho de
1935, 8 de julho de 1947 e, ainda, ultimamente, pela de 14 de maio de
1967." (Riograndino da Costa e Silva, Notas Margem da Histria do Rio
Grande do Sul, P.A., Globo, 1968, p. 108-110).

ESTADO RIO-GRANDENSE, s. Denominao do Estado do Rio Grande do Sul,


adotada pelos farrapos.
ESTAFAREU, s. Grande tumulto, estardalhao, confuso, um caso srio, um
deus-nos-acuda.

ESTALEIRO, s. Denominao dada a paus suspensos em forquilhas altas,


onde colocada a carne para secar. // Local, no mato, onde se depositam
os toros a serem transportados para a serraria.

ESTNCIA, s. Estabelecimento rural destinado criao de gado,


constitudo de grande extenso de campo dividido, por cercas de arame,
em diversas invernadas, casa de residncia do proprietrio, casas de
empregados, currais, mangueiras, galpes, lavouras, banheiro
carrapaticida e outras instalaes. Fazenda de criao. Fazenda.

"A estncia no apenas, assim, uma fonte de riqueza, centro da


fortuna do gacho onde circulam os bens materiais em abundncia, um
negcio. Sim, um negcio. Mas, nas fazendas preparam-se de revolu-

175

es a heris, de uma resistncia a transformaes at a Repblica.


Esta, teve seu instante maior quando os conspiradores reuniram-se numa
estncia para deliberar a vitria da causa que se aproximava derrubar o
trono." (Dante de Laytano, A Cozinha Gacha na Histria do Rio Grande do
Sul, P.A., Esc. Sup. de Teologia So Loureno de Brindes, 1981, p. 33).

"Tinha uma estncia asseada,


Galpo coberto de zinco,"
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
21. ed., P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1978, p. 66).

"Eis os motivos simultaneamente histricos e lingsticos que


nos foram a declarar que o vocbulo de origem latina estncia pertence
com idntico direito, quer quanto etimologia, quer quanto fontica e
morfologia, ao luso e ao castelhano. Dizemos o mesmo relativamente ao
campo semiolgico at 1493, pois antes as acepes das palavras eram
iguais em Portugal e Espanha. Com o descobrimento da Amrica o termo
estncia, conservando as antigas significaes, adquiriu a nova de
propriedade rural, herdade, fazenda." (Slvio Jlio, Literatura,
folclore e lingustica da rea gauchesca no Brasil, RJ, A. Coelho Branco
F, 1962, p. 323).

"E onde se constitui, de distncia em distncia


o cl das geraes primeiras que plantaram,
nos desertos da pampa, os esteios da Estncia."
(Aurlio Porto, Farrapada, RJ,
Papelaria Velho, 1938, p. 22).

"Na estncia do Juquita


Pras bandas do Jaguaro,
Se rene a peonada,
Toda noite no galpo."
(Lourival Leite Villas-Bas, Fandango
no Galpo).

ESTNCIA DA POESIA CRIOULA, s. Entidade literria fundada a 29 de junho


de 1957, em Porto Alegre, com a finalidade de congregar os poetas
tradicionalistas gachos, estudar as origens e a evoluo da poesia
crioula, zelar pela sua pureza e autenticidade, promover a sua
divulgao e, sobretudo, pugnar pela preservao do patrimnio cultural
e moral nela consubstanciado.

ESTANCIEIRO, s. Proprietrio de estncia. Fazendeiro.

ESTANCIOLA, s. Pequena estncia. Fazendola.

ESTANDARTE, s. Espantalho, monstrengo.

ESTANHAR, v. Balear, atirar contra lgum.

ESTAQUEADO, adj. Esfalfado, abombado, estrompado, rebentado.

ESTAQUEADOR, s. Indivduo que tem a incumbncia de estaquear o couro da


res. // O lugar onde habitualmente se estaqueia o couro. //
Estaqueadouro.

ESTAQUEADOURO, s. Lugar onde se estaqueiam os couros das reses abatidas,


tanto nas estncias como nos matadouros ou charqueadas. Var.:
Estaqueador.

ESTAQUEAMENTO, s. Estaqueao. Ato de estaquear o couro, para secar, ou


uma pessoa, como castigo. // O mesmo que estaqueio.

ESTAQUEAR, v. Estender e entesar o couro por meio de estacas a fim de o


secar. H vrias formas de estaquear o couro: Pode ele ser esticado e
preso ao

176

cho por meio de estacas; pode-se estic-lo, em vrias direes,


cruzando varas compridas com as extremidades presas s suas bordas;
pode-se estaque-lo, ainda, pregando-o, espichado, sobre uma parede. //
Parar de repente. // Ficar imvel, confuso. // Amarrar um indivduo a
quatro estacas, de dois a quatro palmos de altura, pelos quatro membros,
ficando o corpo suspenso no ar, de rosto voltado para cima. Esse
suplcio brbaro era geralmente inflingido a bandidos ou soldados que
praticavam grandes faltas. Em certos casos, para aumentar a eficincia
do castigo, a pessoa que o determinava tomava chimarro sentado sobre a
barriga do supliciado.

"Para captur-los, fez vrias tentativas o Capito Morais, da


Guarda Cvica da Provncia, famoso pelo gosto com que esta queava os
presos que lhe caam s mos. Este oficial havia prometido tomar mate
sentado na barriga do chefe do bando, a quem tencionava erguer nas
quatro estacas, mas falhou fragorosamente." (Arthur Ferreira Filho,
Narrativas de Terra e Sangue, P.A., Ed. A Nao, 1974, p. 60).

ESTAQUEIO, s. O mesmo que estaqueamento.

ESTAR A BAIXO, expr. Estar em situao de dependncia.

ESTAR ABICHORNADO, expr. Estar aborrecido, acabrunhado, triste, abatido.


ESTAR A MANO, expr. O mesmo que estar de mano.

ESTAR A MEIA GUAMPA, expr. Estar meio embriagado.

ESTAR A PAU, expr. Estar em jejum.

ESTAR BUZINA, expr. Estar raivoso, zangado, brabo, colrico.

ESTAR CHEIRANDO A CHAMUSCO, expr. Estar prestes a haver conflito.

ESTAR COM A BARRIGA NO ESPINHAO, expr. Estar muito delgado. Estar


famlico, esfomeado. Estar muito magro.

ESTAR COM A PULGA NA ORELHA, expr. Estar desconfiado, preocupado,


prevendo que vai acontecer algo desagradvel.

ESTAR COM AS CANJICAS DE FORA, expr. Estar rindo.

ESTAR COM COMICHO NO LOMBO, expr. Estar adotando procedimento


provocante de forma a merecer uma surra.

ESTAR COMO CARANCHO EM TRONQUEIRA, expr. Estar triste, abatido,


abichornado.

ESTAR COM O CAVALO PELA RDEA, expr. Estar pronto para sair. Estar
prevenido.

ESTAR COMO COBRA QUE PERDEU O VENENO, expr. Estar desinquieto, agitado,
irritado, sem sossego.

ESTAR COM O DIABO NO CORPO, expr. Estar furioso. Estar insuportvel.

ESTAR COM O P NO ESTRIBO, expr. Estar prestes a sair. Estar pronto para
sair.

ESTAR COM OS DIAS CONTADOS, expr. Estar para morrer, ou por doena, ou
por extrema velhice, ou por ter desafiado a ira de um inimigo que no o
poupar.

ESTAR DE ASPA TORTA, expr. Estar zangado, de mau humor.

ESTAR DE CALO, expr. Estar a rs


muito gorda, apresentando, entre as
pernas, pores cadas de carne gordurosa, imitando bolsas ou cales.

177

ESTAR DE CANGOTE DURO, expr. O mesmo que estar de cangote grosso.

ESTAR DE CANGOTE GROSSO, expr. Estar gordo, o animal cavalar ou muar. O


mesmo que estar de cangote duro.

ESTAR DE CAPADURA, expr. Estar o animal gordo a ponto de apresentar a


regio escrotal volumosa por acmulo de graxa. O mesmo que estar de
capadura cada.

ESTAR DE CAPADURA CADA, expr. O mesmo que estar de capadura.


ESTAR DE CARIJO ACESO, expr. Estar namorando. ( expresso usada na zona
ervateira das Misses).

ESTAR DE CULO, expr. Estar caipora, sem sorte.

ESTAR DE FREIO NA MO, expr. Estar em prontido para atender a qualquer


misso ou chamado.

ESTAR DE LOMBO DURO, expr. Estar o cavalo encolhido, ameaando


corcovear. // Em sentido figurado, estar a pessoa zangada, irritada,
disposta a no fazer o que os outros queiram, a no ceder.

ESTAR DE MANO, expr. Estar quite. Estar um indivduo em igualdade de


condies com outro, no jogo ou em qualquer assunto.

ESTAR DE MARCA QUENTE, expr. Estar ressabiado, exasperado, irritado,


muito brabo.

ESTAR DE PITO ACESO, expr. Estar assanhado.

ESTAR DE TIRAR COURO E CABELO, expr. Estar uma coisa muito quente, estar
de pelar. // Estar uma coisa muito difcil de ser feita.

ESTAR DE TIRAR LEXIGUANA, expr. Estar excessivamente frio.

ESTAR DE VIRAR E ROMPER, expr. Estar em timas condies para alcanar


determinado objetivo. Estar muito arteiro, muito gaiato.

ESTAR EM PONTO DE BALA, expr. Estar perfeitamente preparado para algum


empreendimento. // Estar muito zangado, irritado, brabo.

ESTAR LOBUNO DE FOME, expr. Estar com muita fome, a ponto de mudar de
cor.

ESTAR MASCANDO O FREIO, expr. O mesmo que estar mordendo o freio.

ESTAR MORDENDO O FREIO, expr. Estar ansioso por fazer determinada coisa.
Estar pronto para entrar em ao.

ESTAR NA CEVA, expr. Estar o animal preso, com aUmentao especial, para
engordar, antes de ser abatido.

ESTAR NA PINDABA, expr. Estar sem dinheiro, sem recursos.

ESTAR NA TALA, expr. Estar em aperturas, em dificuldades, por falta de


dinheiro.

ESTAR NA TINIDEIRA, expr. Estar totalmente desprovido de dinheiro.

ESTAR NA TIORGA, expr. Estar bbado. // Estar corretamente vestido com


roupas domingueiras.

ESTAR NO MATO SEM CACHORRO, expr. Estar sem meio de sair das
dificuldades em que se encontra.

ESTAR NOS PERNAMBUCOS, expr. Estar vontade, na situao que sempre


desejou.
ESTAR NOS TRINQUES, expr. Estar bbado. (Vem do alemo: trinken, beber).

ESTAR O RIO CAMPO FORA, expr. Estar o rio muito cheio, fora do leito.

178

ESTAR POR UMA DEPENDURA, expr. Estar em grande misria. // Estar em


perigo de vida. // Estar dependura.

ESTAR POTRO, expr. Estar disposto, forte, pronto para agir. Estar brabo.

ESTAR SAINDO FAISCA, expr. Estar brilhante, cintilante. //


Figuradamente, diz-se de um animal ou de um objeto que est em timas
condies: "Esta faca est saindo fasca", isto , est muito bem
afiada.

ESTAR TININDO, expr. Estar sem nenhum dinheiro. // Estar vibrando de


contentamento ou de raiva. // Estar perfeitamente preparado para fazer
determinada coisa.

ESTEIRO, s. Estero.

ESTENDER O CAVALO, expr. Preparar o cavalo para correr tiro longo.

ESTENDER O LAO, expr. Arremessar o lao para prender a rs.

ESTENDERETE, s. Pequeno tendal de secar roupa.

ESTENDIDO, adj. Diz-se de determinada forma de o parelheiro iniciar a


carreira, recebendo o sinal de largada j correndo.

"H parelheiros de pulo e outros estendidos. Se de pulo e o


corredor largou estendido, saiu mal. No caso contrrio d-se o mesmo. O
de pulo logo que se volta pra a sada encolhe-se para pular mais longe,
ao sinal do corredor; o parelheiro que sai estendido deve receber o
sinal para sair, j vindo correndo. Ainda h os parelheiros de estouro.
Estes vo ao passo para o lao de sada e pulam no instante em que
recebem o sinal." (Herclito, O Campeiro Rio-Grandense).

ESTIADA, s. Parada momentnea da chuva.

"A chuva de vero passou. Veio a estiada.


O sol a pino. A terra inda molhada."
(Zeno Cardoso, Briga de Touros).

ESTIAR, v. Parar a chuva, momentaneamente.

ESTICA, s. Aprumo, elegncia. "Estar na estica" significa estar bem


trajado, enfeitado, vestido com aprumo.

ESTICANTE, adj. Que estica, que se pode esticar.

ESTICAR A CANELA, expr. Morrer.

ESTICAR O MOLAMBO, expr. Morrer.

"A policia uma noite prendeu o borracho, que resistiu,


entonado; apanhou estouros... e foi para o hospital, golfando sangue; e
esticou o molambo." (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul,
P.A., Globo, 1973, p. 122).

ESTILINGUE, s. Forquilha de madeira munida de elsticos, com que os


guris atiram pequenas pedras. O mesmo que beca, bodoque, funda, peteca,
seta, baladeira, atiradeira.

ESTIRADA, s. Estiro. Caminhada longa.

ESTIRADO, adj. Morto. Estendido.

ESTIRO, s. O mesmo que estirada.

ESTIVA, s. Ponte tosca sobre um crrego ou arroio, feita de varas ou


paus atravessados. // Grande quantidade espalhada. // Grande quantidade.

ESTIVADO, adj. Cheio, repleto.

ESTORNICADO, adj. Diz-se do traje muito apertado, que tolhe os


movimentos do corpo.

ESTOURO, s. Disperso, em todas as direes, dos bois de uma tropa em


marcha, tomados de pnico sbito e inexplicvel. O mesmo que estouro da
boiada.

179

"Como sofrenada de sopeto


pelo grito dum chimango
que passa rente ao lombo da tropa,
a gadaria pra,
para arrancar num trovo
de cascos, levantando uma tormenta
preta
de poeira que cobre o infinito
verde da canhada.
Por entre o negrume
da nuvem xucra
relampeiam as guampas afiadas
da arreada em disparada
o pampeiro corporizado
que'vem trazendo nas patas,
aramados, tronqueiras,
taipas e mangueiras..."
(Lo Santos Brum, Disparo de Tropa,
Antologia da EPC, PA., Sulina,
1970, p. 266).

"Ds que a tropa d o estouro


No tem que fazer mais conta,"
(Amaro Juvenal, Antnio
Chimango).

ESTOURO DA BOIADA, s. O mesmo que estouro.

"No mundo no teme a nada


quem doma potro de em plo;
nem estouro de boiada
arrepia seu cabelo!"
(Rui Cardoso Nunes,Pago Imortal).

ESTRABULEGA, s. e adj. Indivduo estourado, estovado, pndego, prdigo,


insensato, extravagante, desordeiro, traquinas, que faz estrabuleguices.

ESTRABULEGUICE, s. Ao prpria de estrabulega. Desordem, doidice,


extravagncia, pndega, coisa fora do comum.

ESTRADA-DE-ARRASTO, s. Picada ou trilha utilizada especialmente para o


transporte de toras de madeira, ou arrasto.

ESTRADEIRICE, s. Esperteza, velhacada, dolo, mau procedimento.

ESTRADEIRO, adj. Diz-se de pessoa que anda sempre fora de casa, que vive
constantemente na estrada. // Alarife, esperto, conquistador, velhaco.

ESTRAFEGO, s. Uso, utilizao constante. "As botas esto no estrafego",


isto , esto sendo usadas permanentemente.

ESTRALAADA, s. Rumor que faz o animal quando dispara por dentro do


mato, quebrando galhos de rvores. // Em sentido figurado: desordem,
zanga, descompostura em altas vozes.

ESTRALAR, v. Estalar (antiq. em Portugal). Dar estalos.

ESTRAMBLICO, adj. Estrambtico.

ESTRANHAR, s. Desavir-se, desacertar-se, entrando em luta. "Os dois


tauras se estranharam e j se misturaram no ferro", isto , se
desentenderam e comearam a brigar de faco.

ESTRANHAR O CORPO, expr. Fazer negaa com o corpo, desviar o corpo.

ESTRANZILHADO, adj. Estafado, esfalfado, extenuado, abombado, abatido,


alquebrado. // Diz-se do cavalo, e, figuradamente, da pessoa.

"De volta ao pago, ao tranquito,


Com o pingo estranzilhado ;"
(Firmino de P. Carvalho, Gerao
pelas Caronas, Pelotas, 1957, p.
16).

ESTRANZILHAR, v. Estafar, esfalfar, abombar, extenuar, abater,


alquebrar, inutilizar o cavalo de servio.

ESTRANZILHAR-SE, v. Estafar-se, fatigar-se o cavalo.

180

ESTRAPILHAR, v. Fazer em trapos a roupa.

ESTRAPILHO, adj. Maltrapilho.

ESTRAVIADO, adj. Diz-se da pessoa vestida com desalinho, com roupas


amarrotadas. // Significa, tambm, acanhado, desconfiado, desajeitado,
encabulado.

ESTRAVIO, s. Estado de desalinho em que se acha uma pessoa.

ESTRELA, s. Mancha branca na testa de animal cavalar, muar ou vacum.

ESTRELA-BOIEIRA, s. Estrela d'alva. O planeta Vnus.

ESTRELEIRO, adj. Diz-se do cavalo que, ao correr, menor presso do


freio, levanta exageradamente a cabea, diminuindo a marcha, o que o
torna imprestvel para a lida de campo. A denominao tem origem no fato
de o cavalo erguer a cabea como se olhasse para as estrelas. Var.
estrelero.

ESTRELO, adj. Diz-se do animal que apresenta uma mancha branca na testa.

ESTREPOLIA, s. Desordem, algazarra, baderna.

ESTRIBO, s. Utilizado, com significao especial, nas seguintes


expresses: Estar com o p no estribo, mate do estribo, negar o estribo,
para o estribo, perder os estribos.

ESTRIBO DE MEIA PICARIA, s. Estribo de metal branco ou de prata, de


entrada de dimenso mdia, s permitindo a introduo da ponta do p.

ESTROMBAR, v. Romper, arrombar, rasgar.

ESTROMPADA, s. Esfalfamento.

ESTROMPADO, adj. Diz-se do animal cansado, estragado, arrebentado,


estafado. // Estpido, bronco, estouvado, quebrado, aleijado, gasto.

ESTROMPAR, v. Estafar, cansar, arrebentar, estragar, tratando-se de


animal cavalar ou muar.

ESTRONCAR, v. Destroncar.

ESTROPIADO, adj. Diz-se do animal sentido dos cascos, com dificuldade de


andar, em conseqncia de marchas por estradas pedregosas.

ESTROPIAR, v. Cansar, deixar exausto, estragar dos cascos o animal de


montaria.

ESTROPIAR-SE, v. Tornar-se estropiado.

ESTROUXAR, v. Colher todos os favos da colmia.

ESTROUXO, s. Ato de estrouxar.

ESTRUPCIO, s. Barulho, desastre, estrpito, alvoroo, acidente, briga,


incidente lamentvel, ocorrncia desagradvel e inesperada.

"Com tua delicadeza


Tu bem mostras qu's dos nossos!
Esquece os meus estrupcios .
Amigo, aperta estes oSsos!"
(Damasceno Vieira, Os Gachos).
"Era ele, s ele, o calor, a quentura de sua l, que estava
causando todo aquele estrupcio na cidade." (Simes Lopes, Casos do
Romualdo, P.A., Globo, 1952, p. 98).

ESTURDIO, adj. Diz-se do indivduo trajado fora de moda, de forma


esquisita.

EXTRAVIADO, adj. Diz-se do indivduo vestido com desalinho, com roupas


amarrotadas. Significa, tambm, acanhado, desconfiado, desajeitado,
encabulado. Estraviado.

EXTRAVIO, s. Estado de desalinho em que a pessoa se encontra. Estravio.

181

182

FACADA, s. Pedido de dinheiro feito por indivduo vadio, incapaz de


trabalhar, que no pretende restitui-lo.

FACA DE RASTO, s. Grande faca, ou faco, apropriada para abrir caminho


no mato.

FAALVO, adj. Diz-se do cavalo que tem um grande sinal branco no


focinho.

FACO, s. Espcie de adaga que serve tanto para brigar como para o
trabalho de mato. No aumentativo de faca.

"Faco velho de ao temperado


nas forjas de um ferreiro plo-duro,
tu foste irmo da foice e do machado,
nos trabalhos violentos do roado,
quando abriste picadas ao futuro!"
(Zeno Cardoso Nunes).

FACEIRAO, adj. Muito faceiro.

FACEIRO, adj. Diz-se do cavalo elegante, garboso, brioso.

FACHADO, s. Boa aparncia. V. a expresso fazer um fachado.

FACHA, s. Cara. Usada na expresso irnica: que facha!

FACHINAL, s. V. Faxinal.

FACHO, s. O ar livre. Usado na expresso sair ao facho.

FACHUDAO, adj. Superlativo de fachudo. Muito lindo, muito bonito, muito


garboso, muito fachudo.

"Chinocas fachudaas, de peitos de laranja..." (Clemenciano Barnasque,No


Pago, p. 43).

FACHUDO, adj. Diz-se do cavalo de bela estampa ou do cavaleiro que monta


com garbo. Lindo, airoso, elegante, distinto, garboso, belo, bonito,
trajado com esmero, que tem ares distintos. (Derivado de facha, figura,
rosto, parecer, tanto em castelhano como em portugus).

FAISCA, s. Pessoa esperta, gil, viva. // Mulher leviana. Aplica-se


tambm ao cavalo. // V. a expresso estar saindo fasca.

FAISCAMA, s. Conjunto de fascas.

FAISCAMENTO, s. Desprendimento de fascas ou fagulhas, do tio ou das


brasas.

FALTO, s. Faeton, aranha.

FAIXA, s. Tira de pano, larga e comprida, que o gacho usava enrolada na


cintura, prendendo o chirip.

FALARAZ, s. Falrio, falatrio.

FALA-VERDADE, s. Arma de uso pessoal: faco, faca de ponta, pistola,


etc.

FALHA, s. Interrupo casual ou intencional de uma viagem. "Por causa da


enchente tivemos dois dias de falha na beira do Santa Cruz", isto ,
interrom-

183

pemos a viagem por dois dias. "Um dia de falha no ir nos atrasar
muito, por isso, ao passar em Porto Alegre, no deixarei de visitar o
compadre..."

FALHADA, adj. Diz-se da vaca, da gua ou de qualquer outro animal fmea,


que, apesar de servida pelo macho, no ficou para dar cria.

FALHAR, v. Interromper uma viagem ou qualquer servio: "Depois de uma


semana de via gem,falhamos um dia para descanso dos animais;" "Por causa
da chuva, falhamos trs dias escola." Deixar de conceber, no ficar
prenhe, no agarrar cria, a fmea de qualquer animal, embora servida
pelo macho: "A gua baia falhou este ano."

FALHUTO, adj. Falhado; que apresenta falhas. "A espiga de milho est
falhuta", isto , apresenta falhas, no est bem granada.

FAMILHA, s. O mesmo que famlia (Alentejo).

FAMLIA, s. Filhos. O fato de ter ou no ter filhos significa ter ou no


ter famlia.

FANDANGO, s. Denominao genrica de antigos bailes campestres,


constitudos de danas sapateadas, executadas alternadamente com canes
populares, com acompanhamento de viola. Entre essas danas esto as
seguintes: anu, balaio, bambaquer, benzinho-amor, car, candieiro,
cerra-baile, chimarrita, char, chico-puxado, chico-da-ronda,
feliz-amor, feliz-meu-bem, galinha-morta, joo-fernandes, meia-canha,
pagar, pega-fogo, recortada, retorcida, sarrabalho, serrana, tatu,
tirana. Trata-se de danas portuguesas, alegres e ruidosas, trazidas
pelos reinis ou aorianos, as quais se arraigaram aqui no Rio Grande,
tomando feies caractersticas do nosso meio.
Hoje essas danas esto quase abandonadas nos bailes populares,
sendo praticadas, porm, nos centros de culto s tradies gauchescas,
que existem em grande nmero em todo o territrio do Estado. Atualmente
o termo fandango serve para designar qualquer baile ou divertimento. //
usado ainda para significar tumulto, desordem, conflito, arruaa,
briga, folia, gangolina, barulho.

"H jogadas e h bochinchos,


e fandangos bem marcados,
cantores de Vai de Serra
seguem com seus amores..."
(Olyntho Sanmartin, Santo Anto
Abade, in Antologia da EPC, P.A.,
Sulina, 1970, p. 288).

FANDANGUEAR, v. Danar em fandango, ou em qualquer outro baile.


Participar de pndegas, patuscadas, folias.

"- E agora, seu Neco, que que vai? No teve resposta. Seu Neco
sorria ao comentrio de Paulo: Puxa, amigo velho, que chinocas que sabem
fandanguear! Todo o mundo bom no p." (Lothar Hessel, Brava Gente, So
Paulo, Ed. Saraiva, 1959, p. 8).

FANDANGUEIRO, adj. Diz-se da pessoa que gosta de fandango, que


habituada a danar o fandango, que gosta muito de bailes. Fandanguista.

"Menina case comigo


Que bom marido lhe vai;
Fandangueiro e jogador,
Tomador cada vez mais!"
(Quadrinha popular).

FANDANGUISTA, adj. O mesmo que fandangueiro.

FNEGA, s. Medida para cereais, equivalente a 100 quilos. Usa-se somente


na fronteira.

184

FANISCO, s. Pessoa magra e de estatura pequena.

FANISQLJINHO, s. Diminutivo de fanisco.

FANTASIA, s. Graa, beleza (Alentejano antiq.).

FAQUEAR, v. Pedir dinheiro, pechar.

FAQUISTA, s. Facadista. Indivduo que vive a pedir dinheiro.


FAREJAR CATINGA AGOURENTA NO AR, expr. Pressentir acontecimento
desagradvel.

FARINHA DE CACHORRO, s. Farinha que obtida socando amendoim com


farinha de mandioca e acar. Tambm feita de pipoca que no estala,
bem socada, com acar. Passoca.

FARO, s. Tino, discernimento.

FAROL, s. Lampeo a querosene usado nos ranchos.

FAROLAGEM, s. Fanfarrice.

FAROLEAR, v. Aparentar alguma cincia ou fora que no tem.

FARRA, s. Bebedeira, troa, divertimento, em geral com licenciosidade.

FARRANCHO, s. Pndega, troa, folia, baderna, grande farra, grossa


pagodeira.

FARRAPADA, s. Conjunto de farrapos, os revolucionrios republicanos de


1835.

"A guerra estava no fim, e a farrapada se viu pelas caronas."


(A. Maia, Alma Brbara, P. 84).

FARRAPIADA, s. e adj. Narrao dos feitos hericos dos farrapos.


Farrapo. (p. us.).

"Desobrigando-nos da grata tarefa que tomamos a peito, guardamos


nossos trabalhos, editando Farrapiada, com chave de ouro." (Gen. Borges
Fortes, nota em Farrapiada, de Aurlio Porto).

"Farrapada, vela! A Ptria em ti confia,"


(Aurlio Porto, Farrapada, RJ,
Papelaria Velho, 1938,p. 14).

FARRAPO, adj. e s. Alcunha deprimente que os imperiais davam aos


revolucionrios de 1835. O apelido aviltante, alusivo misria em que
se encontravam os farrapos, transformou-se, porm, em vista do civismo e
da bravura que sempre demonstraram, em legenda de glria e de herosmo
de que se orgulham todos os seus descendentes.

"Est provado luz de documentos indiscutveis, que nunca


passou pela idia dos revolucionrios de ento, o propsito de
constituir o R.G. do Sul um pas definitivamente separado do resto do
Brasil. Quem compulsar o notvel trabalho do Ten. - Cel. Emlio de Sousa
Doca, lido em sesso solene do Instituto Histrico e Geogrfico, no 20
de setembro de 1932, disso se convencer, se dvida tiver." (Moraes).

"Pra que quero mais glrias na vida,


Se de glrias transborda meu carro?
J peleei junto ao Netto valente,
Militei com David Canabarro.
Fui soldado de Bento Gonalves,
Joo Antnio me viu a seu lado;
Na peleia fui sempre valente,
Sempre guapo no pingo montado.
Esse grande, imortal Garibaldi,
Que da Itlia c veio por guapo,
Teve em mim um fiel companheiro,
Destemido, valente farrapo.
Andei junto na guerra a Portinho,

185

De faanhas eternas, virentes;


Combati com Frutuoso, com Guedes,
Trabuzanas famosos, valentes.

De Rio Pardo me achei na batalha;


Que vertesse meu sangue, Deus quis,
No recontro imortal, legendrio,
Que - Porongos na histria se diz.

Poncho-Verde foi outra peleia


Onde a vida arrisquei pelos meus
E, se l no tombei retalhado,
que a vida guardada por Deus.

Nas peleias mais rijas, ementas,


Sempre firme na frente me achei;
Que na frente o lugar dos farrapos
Que combatem com crena na lei."
(Assis Brasil, Canto Farrapo).

"E o velho Antnio, galhardo,


Por amor de seu rinco,
Foi preso de armas na mo.
Lutando atrevido e guapo.
O neto dum farrouplha
Nesse topo de coxilha,
Lembrava um heri farrapo."
(Zeca Blau, Trovas da Estncia do
Abandono de Da., Braslia Comarca,
O Estouro, p. 68).

"Mas tem-se esperana ainda


de que, dando a lio linda,
que do Passado aprendeu,
nossa gente altiva e guapa
retire a lana farrapa
que colocou no museu."
(Rui Cardoso Nunes, Lana
Farrapa).

FARREAR, v. Sair pndega, folia, troa, para divertir-se, passear,


beber.

FARRISTA, adj. Diz-se da pessoa que gosta de farras. Folio, divertido,


beberro, turbulento.

FARROMA, s. Fanfarronada, fanfarrice, farronca, farromba, jactncia,


bravata, prospia, gabolice, provocao.
"Prefiro o ar livre, os capes de fresca alfombra sob os sis
pampeanos, e, noite, para sair de madrugada, um fogo de gachos, com
viola e farroma, sob ramadas 'abertas." (A. Maia, Alma Brbara, RJ,
Pimenta de Melo & C., 1922, p. 111).

"Da Farroma
Meu amigo Juan Castillo,
bom, da presilha at a ilhapa!
No meio da charla guapa
l vem alguma farroma.
E esta, veio hoje de inhapa,
ansim no mais sem embroma:
- Compr una casita em Roma
para matear con Don Papa..."
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1981, p. 148).

FARROMEAR, v. Praticar farromas, provocar, fanfarronear, bravatear.

FARROMEIRO, adj. Fanfarro, jactancioso, gabola, bravateiro.

"- Queria dizer que um era farromeiro e largado e outro meio


carancho, assim como quem anda de vigia..." (A. Maia, Alma Brbara, RJ,
Pimenta de Melo & C., 1922,p. 148).

FARROUPILHA, adj. e s. O mesmo que farrapo. Diminutivo de farrapo. O que


pertenceu Repblica de Piratin, de 1835. O revolucionrio republicano
de 1835. Os nativistas do Rio Grande do Sul, que, antes da revoluo de
1835, j se batiam pela brasilidade na administrao da provncia.

"Mais vale uma farroupilha,


Que tenha uma saia s,
Do que duas mil camelas
Cobertas de ouro em p."
(Quadrinha da poca da Revoluo
de 1835).

186

"Ao fogo arrimo a chaleira


E sinto que se entropilha
Toda a histria farroupilha,
Na brasa viva e candente...
Eu sinto que est presente
Cada heri na madrugada,
Esperando a clarinada
Para pelear novamente."
(Cyro Gavio, Querncia Xucra,
p. 54).

"E quando ao romper da aurora


a tua voz se descora
pelos grotes das coxilhas,
a cavalgada dos ecos,
pelos ermos e penhascos
repete o rufar dos cascos
das legies farroupilhas..."
(Lauto Rodrigues, Invernada Vazia,
Gaita, p. 49).

"Abre essa gaita, gaiteiro,


num chotis bem requebrado!
Que minh'alma se debruce
nos barrancos do teclado,
como a rezar uma prece,
sobre o altar das coxilhas,
num culto ao guasca tombado
nas peleas farroupilhas."
(Dimas Costa, Pampa Bravo, Abre
essa gaita, p. 37).

"Perseguir lei. Mas nisto


O vulco dos farroupilhas
Sobre o dorso das coxilhas,
Fundo como fundo abismo,
Ao lampejo das espadas
Solta as pliades forjadas
No Ideal do Patriotismo."
(Pe. Pedro Luiz, O Gnio do
Pampa, p. 72).

FATIOTA, s. Conjunto das roupas do homem: cala, colete e palet.

FAXINA, s. Limpeza geral. // Gravetos muito secos, que queimam


rapidamente, apropriados para comear fogo.

"H um adgio gacho que diz: Amor de china como fogo de


faxina." (lvaro Porto Alegre, Ronda da Histria, Ed. Thurmann, 1956, p.
13).

FAXINAL, s. Lugar baixo, de certa extenso, coberto de vegetao pobre,


com bastante gua mas dispondo de grandes reas enxutas, habitvel para
homens e animais. No brejo, nem banhado. // O mesmo que faxina.

FAZ-DE-CONTA, s. e adj. Diz-se de ou o marido que se deixa enganar pela


mulher. Corno.

FAZEDOR, adj. Benfazejo, que faz o bem.

FAZER A CAMA PARA OS OUTROS SE DEITAREM, expr. Fazer uma coisa que outra
pessoa venha a desfrutar.

FAZER AS PAZES, expr. Pacificar-se.

FAZER A VIAGEM DO CORVO, expr. Sair e demorar muito a regressar.

FAZER BOCA, expr. Comer alguma coisa para que o vinho fique com melhor
sabor. // Fazer alguma coisa como incio de uma ao mais importante.

FAZER CORPO DE COBRA, expr. O mesmo que fazer corpo de mico.

FAZER CORPO DE MICO, expr. Mostrar grande agilidade ao defender-se de


ataque de arma branca.

FAZER COSTADO, expr. Ajudar, colocar-se ao lado de outro.


FAZER CRUZ, expr. Considerar determinada coisa definitivamente perdida.
Desistir de procurar coisa perdida.

FAZER CRUZ NA MARCA, expr. Perder um animal ou objeto sem ter


possibilidade de vir a encontr-lo.

"Se no fosse to campeira


A peonada e de truz.

187

Tinha o dono feito cruz


Na marca e havido porquera."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
21. ed., P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1978, p. 42).

FAZER CRUZ NO LOMBO, expr. Resoluo, determinao, propsito de jamais


montar em determinado animal: "Fiz cruz no lombo daquele pilungo" isto
, tomei a deliberao de nunca mais montar nele. Resoluo,
determinao, propsito de jamais emprestar determinado animal a quem
no o tenha tratado bem por ocasio de emprstimo anterior: "Fulano pode
fazer cruz no lombo do meu cavalo", isto , pode perder a esperana de
mont-lo, por que nunca mais permitirei que ele o monte.

FAZER DAS TRIPAS CORAO, s. Fazer o impossvel para conseguir


determinada coisa de que se necessite.

FAZER E ACONTECER, expr. Ameaar, prometer fazer muitas coisas, que


ficam s em ameaas e promessas, pois no chegam a ser feitas. // Fazer
o que bem entende: "Na minha casa eu fao e aconteo e ningum tem nada
com isso."

FAZER FESTAS, expr. Agradar. Cumprimentar a algum com muita amizade. //


Demonstrar o animal, principalmente o co, intenes amistosas,
manifestando sinais de alegria.

FAZER LUZ, expr. O mesmo que ganhar de luz.

FAZER O BEM, expr. Fazer o favor, o obsquio. "Fulano, faa o bem de


fechar aquela porta."

FAZER OUVIDOS DE MERCADOR, expr. No dar ateno ao que os outros lhe


esto dizendo.

FAZER PELEGO, expr. Cometer erro nas danas gauchescas. "No baile de
ontem houve muito pelego". "Voc precisa aprender a danar; chega de
fazer pelego."

FAZER-SE DE CHANCHO RENGO, expr. Fazer-se de desentendido. Fazer-se de


tolo. O mesmo que fazer-se de sancho rengo.

"O Reduzo foi se fazendo de sancho rengo... e foi se encostando


pra janela da sala de jantar... e por ali foi comendo e bebendo, como
soldado estradeiro, que no se aperta..." (Simes Lopes, Contos
Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 78).
FAZER-SE FUMAA, expr. Desaparecer, fugir, ir embora.

"Mas eu, na mesma horinha, ainda armado do ferro ensangentado,


ganhei na noite e me fiz fumaa." (Sylvio da Cunha Echenique, Fagulhas
do meu Isqueiro, Pelotas, Ed. Hugo, 1963, p. 77).

FAZER TROPA, expr. Adquirir gado para formar uma tropa. Tropear.
Conduzir gado.

FAZER UMA VACA, expr. Contribuir, cada integrante de um grupo de


pessoas, com determinada quantia em dinheiro, para formar uma
importncia maior, necessria a uma certa finalidade. O mesmo que fazer
vaca.

FAZER UM BARRO, expr. Cometer ao criminosa.

FAZER UM ESPARRAMO, expr. Externar admirao ruidosamente. // Dar grande


importncia a uma coisa insignificante.

FAZER UM FACHADO, expr. Fazer

188

boa figura, pela tima aparncia, elegncia ou beleza.

FAZER VACA, expr. O mesmo que fazer uma vaca.

FECHAR-SE EM COPAS, expr. Calar-se.

FEL-DA-TERRA, s. Planta medicinal, usada como tnico, digestivo e


febrfugo. (Scoparia sp).

FELIZ-MEU-BEM, s. Variedade de baile campestre. uma das danas que tm


a denominao genrica de fandango.

FELOR, s. O mesmo que flor. (Alentejo).

FELORIDO, adj. Florido.

FEREDIMENTO, adj. Cheio de feridas. Feridento.

FERIDA, s. Pessoa ruim, covarde, imprestvel.

FERIDA BRABA, s. Ferida de mau carter; ferida cancerosa. // Em sentido


figurado, pessoa ruim, ordinria, covarde e m.

FERRAR A CARRETA, expr. Revestir de ferro as rodas da carreta.

FERRAR NO SONO, expr. Dormir profundamente.

FERRAR O NAMORO, expr. Intensificar, acirrar o namoro.

FERRAR OS DENTES, expr. Morder.

FERREIRO, s. Araponga.
FERRO, s. Arma branca.

FERRO-BRANCO, s. Arma branca. Faca, punhal, faco, espada, adaga. V. a


expresso baralhar o ferro.

FERVEDOR, s. Olho dgua que brota do cho formando borbulhas.

FERVER, v. Haver discusso acalorada, agitao, briga. // Divertir-se


intensamente: "Aquela moa ferveu a noite inteira", isto , divertiu-se
muito durante toda a noite.

FERVIDO, s. Cozido. Puchero.

FERVO, s. Briga, conflito, tumulto, luta.

FESTAR, v. Participar de festas populares.

"Enquanto ns aqui estamos festando,


nas ptrias l da Eursia ensanguentada
a metralha est dando gargalhada,"
(Zeno Cardoso Nunes, Ano Novo,
1941).

FESTO, s. Festa, farra, festejo, divertimento, baile. // Tdio,


indisposio, impacincia, aborrecimento.

"- Haviam de ver! ... Ou bem se faz ou no se faz; e aquela


intrigante e linguaruda ia ficar sabendo como se perpara um festo..."
(A. Maia, Tapera, RJ, F. Briguiet & Cia., 1962, p. 98).

"O que le conto que o seu major Vieira, ainda em cadete, se


casou com a nh Velinda, e aquele tal Menininho Jesus ainda hoje o
figuro do oratrio e o mesmssimo do prespio que, h mais de
cinqenta anos, se arma sempre na estncia, no festo do Natal." (Simes
Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 127).

FIADOR, s. Parte do bual que cinge o pescoo do cavalo, passando-lhe


pela regio jugular. // Ala colocada no cabo do relho para se
introduzir o pulso,

189

tambm chamada fiel. // Homem que marcha na frente da tropa de gado para
regular-lhe a marcha, alm do ponteiro. // V. a expresso ganhar de
fiador.

"Fala-se noutra pegada


Para a troca de patro,
Consagrando cada peo
Como fiador da largada."
(Chico Gaudrio, poema, 1981).

FIAMBRE, s. Alimento para a viagem, geralmente carne fria, assada ou


cozida.

FIANA, s. Confiana, segurana. Cavalo de fiana, ou simplesmente


fiana, o cavalo de timas qualidades, no qual se tem confiana para
as viagens ou para o trabalho.

FICADO, adj. Diz-se das reses de corte que no foram vendidas na poca e
que, por isso, permanecero na invernada para venda no ano seguinte.

FICAR BUZINA, expr. Irritar-se, zangar-se, encolerizar-se.

FICAR A MANO, expr. O mesmo que ficar de mano.

FICAR DE MANO, expr. Ficar em igualdade de condies, um indivduo com


outro, no jogo ou em qualquer assunto.

FICAR SAPATEIRO, expr. No conseguir ganhar nenhuma vez em jogo de


cartas ou em corridas de cavalos. No fisgar nenhum peixe, na pescaria.
No danar nenhuma marca durante um baile.

FICAR XAVIER, expr. Ficar encalistrado, desenxabido, encabulado.

FIDALGO POBRE, s. Variedade de gara de cor azul-cinzenta.

FIDO, s. Massa de farinha de trigo.

FIEL, adj. Ala de couro ou de corrente de metal, colocada em uma das


extremidades do cabo do rebenque ou do relho, na qual se enfia a mo que
vai segurar qualquer daqueles trastes campeiros.

"E o chicotinho tecido


De prata e de tento fino
E com fiel de corrente?
Foi batuta de regente
Nos valseios do destino
De muito chiru valente."
(Zeca Blau, Poncho e Pala, P.A.,
Sulina, 1966, p. 30).

FIGOS, s. Doena de pele que se manifesta em forma de pequenas bolhas de


gua, ou como frieiras, nos ps e nas mos. (O termo, de uso na
campanha, empregado sempre no plural).

FIGUEIRA, s. rvore gigante, Uro stigma ficus, abundante no Rio Grande


do Sul, que d pequenos frutos comestveis, de tronco no muito elevado,
porm dotada de grande copa esparramada, cobrindo vasta rea, e
produzindo excelente sombra. , como o umbu e o pinheiro, uma das
rvores simblicas do Rio Grande.

"Na crista da onda maior,


sombra da figueira brava
ao lado da mangueira grande,
a casa velha da estncia
abre o sorriso das dez janelas."
(Felipe de Oliveira, Recuo
Nostlgico).

FIGUEIRILHA, s. Batatinha do campo que, seca e cortada em pequenos


pedaos ou moda, se mistura ao fumo do cigarro crioulo para
aromatizar-lhe a

190
fumaa. cabea para baixo. // Morrer.
"Mas que cheirinho bom tem mesmo essa tal figueirilha. Eu estava
sentindo mas no sabia donde que vinha." (Lothar Hessel, Brava Gente,
So Paulo, Saraiva S.A., 1959, p. 97).

FIJA, adv. Na certa. (Cast.).

FILA TESTA, s. Fila da testa, da frente, da vanguarda.

FILHO DA MACEGA, s. Filho natural. Filho de pai desconhecido.

"Ele mesmo se chama filho das macegas


Sem bero pra nascer, sem morada certa,
Tem pai adotivo que o padrinho e o patro
Seu lar o rancho ou apenas o galpo.
Seu mundo, pago e querncia,
O campo verde com a sua vastido!"
(Ramiro Frota Barcelos, Romanceria
Gauchesca, So Leopoldo, Ed.
Rotermund, 1966, p. 45).

FILHO DE TIGRE SAI PINTADO, expr. Tal pai, tal filho; o filho se
assemelha ao pai.

FILHOS DA CANDINHA, s. O povo em geral, a populao: "Dizem os filhos da


Candinha", isto , diz o povo, murmura-se, comenta-se, fala-se por a.

FINCO, s. O mesmo que chupo.

FINCA-P, s. Teimosia, esforo, persistncia, resistncia em ceder.

FINCAR AS CRAVELHAS NO CHO, expr. Levar uma rodada. Cair do cavalo.

FINCAR AS GUAMPAS, expr. Cair de


cabea para baixo. // Morrer.

FINCAR AS GUAMPAS NO CHO, expr. Cair, levar um tombo.

FINCAR AS GUAMPAS NO INFERNO, expr. Morrer. (Aplica-se em relao a


pessoa indesejvel).

FINCAR O LAO, expr. Surrar de lao. // Atirar o lao para prender a


rs.

FINCAR O P, expr. No recuar, teimar, obstinar-se. // Fugir.

FINCAR O P NO MUNDO, expr. Fugir, ir embora.

FINCAR O RELHO, expr. Surrar de relho.

FINCAR UMA BOFETADA, expr. Dar uma bofetada.

FITAR AS ORELHAS, expr. Entesar, levantar as orelhas.

FIXAR-SE, v. Olhar, prestar ateno. O x tem som de ch.

FIXE, adj. Fixo, firme.


"Do mesmo talho varou os dois coraes, espetou-es no mesmo
ferro, matou-os da mesma morte, fazendo os dois sangues, num de cada
peito, correrem juntos num s derrame... que foi lastrando pelo cho
duro, de cupim socado, lastrando... at os dois corpos baterem na
parede, sempre abraados, e depois tombarem por cima do balco, onde
estava encostado o tocador, que parou um rasgado bonito e ficou olhando
fixe para aquela parelha de danarmos morrentes e farristas ainda! ..."
(Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p.
98).

191

"E, de noite, a peonada


Veio ali, de ponto fixe."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1978, p. 62).

"Quem havia de dizer


Que aquele homen to miche
Que o Lautrio num boliche
Descreveu to bem um dia
A essa altura chegaria
E nela ficasse, fixe."
(Homero Prates, Histria de D.
Chimango, RJ, Livr. Machado,
1927. p. 25).

FLACO, adj. Fraco, magro, desnutrido. (Esp.).

"Eu madrugava e anoitecia montado no meu cavalo, percorrendo o


campo, com dois pees apenas, trabalhando de sol a sol, levantando o
gado flaco que afundava nos atoleiros vizinhos aos tremedais, salvando
da morte certa, uma por uma, as vacas magras que no tinham fora para
erguer as patas cravadas nos banhados."(ManoeLito de Ornellas, Terra
Xucra, p. 112).

"Me parece que lo veo


Con su poncho calamaco,
Despus de echar un gen taco,
Ans principiaba a hablar:
Jams ilegus a parar
Ande veas perros flacos."
(Jos Hernndez, Martin Fierro,
Buenos Aires, Ed. Sopena Argentina,
1945, p. 87).

FLAQUEIRO, adj. Emagrecido, um tanto fraco, mas podendo ainda fazer


algum esforo.

FLAQUITO, adj. Diminutivo de flaco.

"Veio ao mundo to flaquito,


To esmirrado e chochinho
Que, ao finado seu padrinho
Disse espantada a comadre:
- Virgem do cu, Santo Padre!
Isto gente ou passarinho?"
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1978,p. 16).

FLAUTEAR, v. Troar de algum, debicar, debochar. // Vadiar.

FLECHAR, v. Ir em rumo certo, sem se deter. "Os cavalos mal se viram


soltos flecharam para a querncia."

FLECHILHA, s. Grama ou capim muito comum em vrias zonas do Estado do


Rio Grande do Sul (Stipa neesiana,). de superior qualidade para a
criao de gado. (Encontra-se, tambm, em bons escritores, flechilha
grafada com X).

"L no se via macega,


Tudo grama de forquilha
Trevo era mato e flechilha."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
21 ed., P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1978, p. 35).

"Quem cruzar hoje aqui nestas coxilhas,


h de ver j cobertas das flechilhas
as taperas de um tempo promissor!"
(Rui Cardoso Nunes, Tropilha
Perdida).

FLECHOSO, adj. Que se assemelha a uma flecha ou seta.

FLECOS, s. Franjas.

FLETAO, s. Aumentativo de flete.

FLETE, s. Cavalo bom e de bela aparncia, encilhado com luxo e elegncia.

FLOR, adj. Muito bom, excelente, bonito, belo, lindo, grande, gordo. O
mais lindo, o melhor, a poro mais fina, o mais apurado.

FLOR DE CAMPO, s. Campo muito bom, de excelentes pastagens, boas


aguadas. abrigo para o inverno, etc.

FLOR DE CAVALHADA, s. Cavalhada muito boa.

FLOR DE CAVALO, s. Cavalo excelente.

FLOR DE CHINA, s. China muito linda, muito prendada.

FLOR DE GADO, s. Gado excelente, fino, de raa selecionada, de grande


valor econmico.

FLOR DE TOMBO, s. Queda espetacular.

FLOR DE TROPA, s. Tropa muito boa, de gado gordo, bonito, pesado,


excelente.

FLOREADO, adj. Embriagado, tonto, perturbado; a meia embriaguez.


FLOREAR-SE, v. Tornar-se floreado, ficar meio embriagado.

FLOR E FLOR, expr. Duas vezes flor. Duplamente bom.

FLOREIO, s. Embate de arma branca, de pequena durao. // Susto, revs,


corrida, derrota acontecida a alguma pessoa em negcio, combate ou em
qualquer competio. // Exerccio a que se submete um parelheiro ou galo
de briga, como treinamento.

FLOUXO, adj. O mesmo que floxo.

FLOXO, adj. Frouxo, fraco, medroso. // Diz-se tambm do campo de


pastagem inferior. Var.: Flouxo.

FOGACHAR, v. Despedir fogachos, deitar fogo.

FOGO, s. Grande fogo que se acende no

192

galpo das estncias para o preparo do mate e do churrasco. // O lugar


em que se faz o fogo e que o ponto de reunio dos tropeiros e pees.
// O mesmo que fogo de cho. Esse fogo, tradiconalmente acolhedor,
possui tambm a conotao de smbolo de hospitalidade, visto que
qualquer forasteiro, mesmo desconhecido, admitido ao convvio dos que
se renem em torno dele. Tem, ainda, o significado de pago ou de
querncia.

"H dois sculos j que o fogo alumia


o rancho de torro, a casa do posteiro,
o acampamento, o pouso, o galpo do estancieiro,
quer sucedendo o sol, quer precedendo o dia.

luz da labareda, ao calor do braseiro,


onde se assa o churrasco e a chaleira chia,
como diante do altar de onde a vida irradia,
que o guasca comunga em ritual campeiro.

Farol de noite aceso ao vaqueano sem rumo,


o seu fogo sagrado incensa o cu azul,
quando aceso de dia, elevando o seu fumo.

E as sombras que ele agita em macabro bailado


so as das geraes do Rio Grande do Sul
agachadas em torno, adorando o passado."
(Pi do Sul. O Fogo Sagrado).

"E o fogo do carreteiro,


na escurido que se expande,
parece uma estrela grande

193

entreverada com as outras


que fogoneiam no cu."
(Juca Ruivo, Tradio, CTG de Ira,
1957, p. 34).

"Fogo de cho que no se apaga nunca,


s rito que nos une e nos congraa
no culto desse amor que no se trunca,
que Querncia natal nossa alma enlaa.
No pde do progresso a garra adunca,
que os costumes crioulos despedaa
e de gado estrangeiro os campos junca,
apagar teu fulgor que histria passa!
Bendito seja aquele que te atia,
porque, ao teu claro de luz mortia,
revivero as glrias do Rinco.
Hoje ests mais aceso do que outrora,
transformado em fanal, em clara aurora:
num smbolo de luz da tradio.
(Rui Cardoso Nunes,Fogo de Cho).

FOGO DE CHO, s. O mesmo que fogo.

FOGO DE PALHA, s. Atividade de pouca durao, prpria de indivduo sem


perseverana.

FOGO MORTO, s. Vestgios do fogo feito anteriormente e j extinto. (H


quem acredite que reavivar o fogo morto causa de desgraas).

FOGUEAR, v. Despedir, irradiar, lanar de si raios, cores, chamas.

FOGUETE, adj. Diz-se de criana muito arteira, muito traquinas, ou de


indivduo muito desinquieto.

FOGUISTA, s. O mesmo que fogueiro.

FOLGO, s. Corruptela de flego.

FOLHEIRITO, adj. Diminutivo de foiheiro. Muito folheiro.

"Quando boleamo a perna, em riba mesmo da trincheira, j Andrade


Neves riscava o campo na frente, folheirito, folheirito, manoteando a
espada" (A. Maia. Runas Vivas, Porto, Lello& Irmo, 1910,p.47).

FOLHEIRO, adj. Airoso, garrido, alegre, satisfeito, desembaraado,


desempenado, despreocupado, elegante, garboso, vistoso, lindo, taful,
louo, bem disposto, de boa aparncia. // Que faz ou obtem as coisas
com facilidade, sem embaraos.

"Sr. Saldanha da Gama


L do Rio de Janeiro,
Nos seus barcos a vapor
No anda muito folheiro..."
(Simes Lopes, Cancioneiro
Guasca, P.A., Globo, 1954, p. 259).

FOLHO, s. Doena que d nas patas do cavalo.

FORA, adv. Usado na expresso "vida de fora", que significa vida do


campo, distante da cidade.
"Vida de fora melhor:
tem mais ar, mais alegria .
L fora, j bem cedinho,
canta o galo no poleiro;
se ouve a voz do canarinho
quase sempre o dia inteiro."
(Edoardo Granata, Trovas e
Trovoadas, P.A., Tip. Santo Antnio,
1977,p. 125).

FORCEJAR NAS QUARTAS, expr. Esforar-se, esmerar-se, empenhar-se.

FORUDO, adj. Robusto, vigoroso, que

194

tem muita fora.

FORJAR, v. Fazer o cavalo barulho com as ferraduras.

FORNEIRA ou FORNEIRO, s. Joo-de-barro.

FORQUILHA, s. Sinal, para identificao, que se faz nos bovinos, sunos


e oVinOS, constitudo de uma forquilha recortada na ponta de uma das
orelhas do animal. // Grama excelente para a alimentao do gado.

FORRAR O PONCHO, expr. Ganhar bastante dinheiro. Conseguir um negcio


muito lucrativo.

FORROBOD, s. Desordem, bochinche, baile popular.

"Deus ajude que no venham brigar por aqui. Que faam seus
forrobods l por longe!" (Lothar Hessel, Brava Gente, So Paulo,
Saraiva S.A., 1959, p. 134).

FORTALEZA, s. Ponto turstico situado no Parque Nacional de Cambar do


Sul, RS, Fortaleza fica no alto da serra e cercada, em grande parte,
por escarpas de at 1000 metros de altura. Em dias de claridade, ela
proporciona, aos que a visitam, a viso de uma das paisagens mais lindas
do mundo.

"Mostro, em Cambar do Sul,


sob o mesmo cu azul
que emponcha toda a beleza
do universo do meu pago,
para gudio do ndio-vago,
a lindaa Fortaleza.

Aqui no meu verso a ponho


porque ela parece um sonho,
uma paisagem sem par!
Do alto dela, l da crista
da verde serra, se avista
a praia branca do mar!"
(Rui Cardoso Nunes, Rodeio
Serrano)
FRADE-FEDORENTO, s. Nome comum dos opilies.

FRANGO, s. Espiga de milho assada.

"- Vamos aos frangos, seu Alcides?


Que fazer o infeliz, se no avanar para as espigaS, que s
ento ele ficou sabendo serem conhecidas por frangos naqueles pobres
stios serranos." (Joo Maia, Pampa, Ed. Globo, p. 107).

FRANGUEAR, v. Comer milho assado, especialmente milho catete.

FRANQUEIRO, s. Raa de gado vacum de grande corpulncia, muito ossudo,


de chifres longos e demasiadamente abertos. oriunda do municpio de
Franca, no Estado de So Paulo.

"O tal era de raa fran queira, e tinha umas aspas abertas,
quase de braa, cada uma, e grossas, na proporo." (Simes Lopes, Casos
do Romualdo, P.A., Globo, 1952, p. 196).

FRECHAR, v. Correr velozmente, disparar, fugir. // Seguir em linha reta.


// Emprega-se flechar com o meSmO sentido.

FREGE, s. Conflito, baguna, briga. // Hotel ou penso muito ruim.

FREIO DE COPAS, s. Freio campeiro cujo bocal guarnecido nas duas


extremidades por peas de prata ou de outro metal redondas e convexas.
As vezes essas peas so substitudas por moedas, de prata ou de nquel.

FREIO DE MULA, s. Freio grosseiro que se usa para domar as mulas, desde
o incio da doma, pois sendo animais indceis, dificilmente podem ser
amansadas com bocal de couro, como os

195

cavalos.

FRENAR, v. Freiar.

FRENTEAR, v. Atacar a tropa pela frente, impedir o gado de disparar pelo


campo. // Deparar-se, defrontar-se.

FRESCAL, adj. Meio fresco, oreado, em meio preparo, que ainda no


alcanou a consistencia devida. Diz-se, em geral, da carne e do queijo.

FRESCATA, s. Passeata pelo campo, folgana. Ato de pr-se vontade,


desapertar-se.

FRESCO, adj. Desempenado, gil, lampeiro. no cansado. Pederasta.

FRISSURAS, s. As vsceras da rs. Midos.

FRIRA, s. Friagem. Frio intenso.

FRONTEIRIO, s. O mesmo que fronteiriSta.

FRONTEIRISTA, s. Pessoa que nasce na fronteira com o Uruguai ou a


Argentina. Habitante da regio da fronteira.
FRONTINO, adj. Diz-se do cavalo que tem malha branca na testa.

FRUTA-DE-POMBA, s. O mesmo que chale-chale.

FRUTILHA, s. Morango.

FRUTOS DO PAS, s. Denominao dada a produtos naturais da pecuria:


couro, l, cabelo, sebo, e outros.

FRUZU, s. Fuzu.

FU, adj. Ressabiado, arisco, desconfiado, espantadio, sestroso,


manhoso, aru, puava, quebra, bagual, ou vrias dessas qualidades ao
mesmo tempo.

FUCHICO, s. Fuxico.

FUEIRAR, v. Alancear, furar, espetar.

FUEIRO, s. Estaca para amparar a carga da carreta ou carro de bois. // O


fueiro, que feito de madeira muito resistente, , freqentemente,
usado como arma: "Dei de mo num fueiro e, em poucas paletadas, amoitei
os dois quebras".

FUFIA, s. Baile, festa, festejos.

FULEIRO, s. e adj. Farrista.

FULERIA, s. Festa licenciosa, farra.

FUMAA, adj. Diz-se do vacum de pelagem cor de fumaa, barroso fumaa.


// adj.Zangado. brabo, irritado. // s. Jactncia, prospia: Ela tem uma
certa fumaa de gente grada", isto , pensa, quer aparentar que gente
grada.

FUMACEAR, v. Mostrar-se em bando numeroso, mais ou menos compacto.

FUMEIRA, s. Bolsinha para guardar o fumo cortado e desfiado, geralmente


feita de borracha.

FUMO BRAVO, s. Planta da famlia das Solonceas (Solanum auriculatum).

FUMO CRIOULO, s. Fumo em rama, em corda, enrolado. O mesmo que fumo em


corda, fumo em rama, fumo em rolo.

FUMO EM CORDA, s. O mesmo que fumo crioulo.

FUMO EM RAMA, s. O mesmo que fumo crioulo.

FUMO EM ROLO, s. O mesmo que fumo crioulo.

FUNDA, s. Estilingue.

FUNDO, s. Lugar afastado. Cafund.

FUNGU, s. Bruxaria, feitio.

FURADO, s. Brao de rio, corrente que se desvia do curso geral para


contornar uma ilhota.

FURO, s. Sinal para identificao, que se faz nos vacuns, sunos e


ovinos, consistindo em um furo recortado em uma das orelhas do animal.
// Descobrimen-

196

to de um segredo. // Sada, explicao, maneira de solucionar um


negcio, de contornar um obstculo, de resolver uma dificuldade.

FURUNGAR, v. Insistir enfadonhamente a respeito de um assunto. Cacetear


com queixas e pedidos, de forma a indispor quem o ouve. Intrigar com
mexericos insistentes.

FUSCO-FUSCO, s. Lusco-fusco.

"Era j fusco-fusco. Pegaram a acender as luzes." (Simes Lopes,


Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 93).

FUSIL, s. O mesmo que fuzil.

FUTRIQUINHA, s. Coisa velha, sem valor.

FUXICAR, v. Coser com grandes pontos, sem muito cuidado, pano ou roupa.
// Bulir, remexer em qualquer coisa: "O que ests a fuxicar nessa
gaveta?" // Intrigar, enredar, furungar.

FUXICO, s. Costura mal feita. // Enredo, intriga.

FUZARQUEAR, v. Fazer fuzarca. Farrear.

FUZIL, s. Pea de ao ou pedao de lima, utilizado para tirar fascas da


pedra-de-fogo, para acender a isca, feita de trapos de algodo meio
queimados, contidos no isqueiro de guampa ou de porongo.

FUZILAR, v. Fugir apressadamente. Dar no p.

197

198

GACHAR-SE, v. O mesmo que agachar-se.

GACHO, adj. Abaixado, baixo, cado, pendido para baixo: "O criminoso
estava de cabea gacha", isto , estava cabisbaixo; "Aquele tordillio
gacho de frente", isto , tem os membros anteriores mais baixos que os
posteriores; "Esse boi tem as aspas gachas", isto , tem as aspas cadas
para baixo.

"Depois... de focinho gacho


garrou ladera em descida
na fria despavorida
de um louro num costa-abaixo!"
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1981, p. 87).

GADNHAR, v. O mesmo que gadunhar.

GADO, s. Gado em bom estado, de boa aparncia, de boa raa, de


excelente qualidade.

GADARIA, s. Poro de gado, grande quantidade de gado, o gado existente


em uma estncia ou em uma invernada.

"A casa, os lavoures, a gadaria,


o fogo amigo que nos aquecia,
tudo licou perdido no passado."
(Zeno Cardoso Nunes, Tapera).

GADEIRO. adj. Relativo ao gado.

GADELHUDO, adj. Diz-se de pessoa com os cabelos muito crescidos, //


Aplica-se tambm ao cavalo muito crinudo. //
Intrpido, audaz.

GADO, s. O gado vacum. Quando o rio-grandense quer referir-se a outro


gado que no seja o vacum, ele o especifica, chamando-o gado langero,
asinino, muar, cavalar etc.

"Ao contrrio do resto do Brasil, cuja colonizao assentou na


base da explorao agrcola, o Rio Grande do Sul nasceu e se formou
custa do gado. Tornou-se a criao desde o incio, o eixo de sua vida
coletiva. J dissemos em outro lugar que a formao gacha sob inmeros
aspectos apresenta-se como obra exclusiva do pastoreio, da gadocracia."
(Antnio Carlos Machado, Vozes da Querncia, p. 29).

"O gado que os Jesutas introduzem, em 1634, no territrio que


se estende a Oriente do Rio Uruguai, e que vai constituir o casco da
pecuria sul-riograndense e uruguaia, procede, em suas origens
primitivas, dos rebanhos brasileiros de So Vicente, a introduzidos um
sculo precisamente antes, por ordem do donatrio dessa capitania Martim
Afonso de Sousa." (Aurlio Porto, Histria das Misses Orientais do
Uruguai, Vol III, P.A., Livr. Selbach,

199

1954, p. 242-43).

"SSabe-se tambm, segundo o testemunho de Prudncio de Mendoza,


no seu livro Histria de la Ganaderia Argentina, que o casco do gado
vacum trazido pela Expedio de Salazar Espinoza, desdobrou-se nos
rebanhos do pampa, criando as riquezas da pecuria do Prata e do
Paraguai ." (Manoelito de Ornellas, Mscaras e Murais de minha Terra,
P.A., Globo, 1966,p. 150).

"O gado no Rio Grande - Dizem historiadores que, anos antes


(1512) da viagem em que foi trucidado pelos ndios charruas, viera Solis
ao Rio da Prata em viagem secreta e nessa, sobre a costa de Maldonaldo,
perdera alguns navios, salvando-se nessa ocasio uns poucos cavalos
inteiros e guas, que internaram-se nas fartas pastagens e foram
procriando: datar da, pois, o aparecimento destes animais nos campos
do Uruguai e do Rio Grande.
Quando Ferno de Magalhes chegou ao esturio do Prata, foi por
ele acima, estanceando na ilha de So Gabriel e da mandou sob o comando
do seu capito Juan Serrano subisse a nau "Santiago" em busca do canal;
o explorador remontando, achou a foz do Uruguai, pelo qual entrou e
seguiu at regular distncia, regressando com a notcia do novo rio;
foi, pois, Serrano, o descobridor do grande rio histrico.
O governador (adelantado) Pedro de Mendoza (1524) desembarcou no
Prata trazendo uma expedio preparada com carter colonizador; alm de
colonos, ferramentas, trouxe 100 cavalos e guas.
Durante o governo de Domingo de Irala (1544-56), os irmos Goes,
portugueses de nao, introduziram em Assuno oito vacas e um touro;
esta foi, parece, a origem de todo o gado vacum do Paraguai. Logo que os
jesutas sentiram-se seguros contra os ndios de Guaira (em cujo
territrio a conquista espanhola havia lanado a fundao de Vila Rica
(1580) e depois de Ciudad Real), foram sendo conduzidos para essas
paragens e utilizados os plantis desses animais.
No relato de outros historiadores foi o governador Hernandarias
de Saavedra (1600) o verdadeiro introdutor do gado nas terras da margem
esquerda do Uruguai.
Na Argentina havia prosperado de modo assombroso a procriao
dos primeiros casais bovinos provenientes do Paraguai e outros,
introduzidos pelos governadores Mendoza e Garai.
Ilernandarias ordenou que se passasse de Buenos Aires, em
jangadas, para o lado fronteiro, 100 vacuns e duas manadas de guas.
Um decnio transcorrido havia j esparsas muitas pontas de gado
- vacum e cavalar - que seguiram desenvolvendo-se admiravelmente.
Da em diante foi incontestvel a multiplicao dos rebanhos
chucros que discorriam pelas amplas campanhas sulinas.
(Simes Lopes, Terra Gacha, P.A., Sulina, 1955, p. 86-87).

GADO CHIMARRO. s. Gado alado, xucro, sem custeio.

GADO DA PORTA, s. O gado manso que pra habitualmente perto da casa da


estncia.

GADO DE CORTE, s. Gado gordo, ou em

200

bom estado, destinado a ser abatido.

GADO DE CRIA, s. Gado para criar, gado novo que ainda est em
desenvolvimento. Totalidade do gado existente em uma estncia em que o
estancieiro no se dedica a invernar, mas apenas a criar.

GADO DE INVERNAR, s. O gado magro que se compra para invernar, para


vend-lo mais tarde, depois que estiver gordo, como gado de corte.
GADUNHAR, v. Gatunar, gatunhar, gadanhar, pegar com as unhas, prender
com fora nas mos, agarrar de repente.

GAFEIRA, s. Doena da pele que ataca os animais cavalares,


principalmente no focinho e no lombo. Os animais melados so os mais
sujeitos a essa doena.

GAFEIRENTO, adj. Que tem gafeira.

GAGINO, s. Galo que tem as penas com aspecto semelhante s da galinha.

GAITA, s. Sanfona, acordeona.

"Velha gaita abandonada,


Relquia da gauchada
Que sempre alegre te ouviu,
Teu compasso delicado
Faz reviver o passado
Deste Rio Grande bravio!"
(Jos Barros de Vasconcellos, Gaita
Velha, in Voz do Sul, n 1, P.A.,
set., 1958, p. 8).

"Desafios so lanados
por gachos respeitados
que saltaram l dos matos
com fanhosas gaitas velhas,
so poetas de bom quilate,
que, ao descante, tomam mate."
(Olyntho Sanmartin, Santo Anto
Abade, in Antologia da EPC, P.A.,
Sulina, 1970, p. 288).

"A gaita hoje est louca de amargura;


geme e chora como um corao partido
nas mos morenas do gaiteiro.
Di uma dor profunda em seu gemido.
Quando a gaita se abre toda,
o homem parece crucificado,
implorativo, doloroso ...

Depois se encurva, corcoveia, ondula,


vai-vem!
Lembra o mar!
Lembra tudo o que cruciante
na tortura de gritar!

Cordeona trmula,
turva de raiva contida,
cheia de humana amaragem,
h um gemido de trova em
teu soluo
- h um soluo de amor em teu gemido..."
(Augusto Meyer, Giraluz).

GAITADA, s. Gargalhada.

GAITEIRO, s. Tocador de gaita, sanfona, acordeona.


GAIUNA, s. Negaa.

GAJETA, s. Espcie de bolacha ou de biscoito. ( termo castelhano).

GAJO, s. Pessoa de pouca importncia.

GALA, s. Galadura, mancha da fecundao no ovo, esperma, smen.


(Parece-nos incorreta esta definio. Na realidade o que o gacho
denomina galas so as calazas, substncia albuminosa espessa, parecidas
com barbantes, que ligam a gema a cada um dos plos do ovo, mantendo-a
mais ou menos fixa no centro do mesmo).

GALO LARGO, s. Militar de alta graduao.

201

GALEGADA, s. Nome dado por apodo aos legalistas de 1835.

GALEGO, s. Alcunha que os farrapos davam aos legalistas. O mesmo que


absolutista, camelo, caramuru, restaurador corcunda.

"O farroupilha mui livre,


E denodado, mui bravo,
E brao da liberdade
E o galego vil escravo."
(Apolinrio Porto Alegre, Cancioneiro
da Revoluo de 1835, P.A.,
Globo, 1935, p. 55).

GALETO, s. Galo no adulto. Frango. Assado de frango.

"O galeto, constitudo de franguinho novo, do primeiro canto,


assado, com polenta, salada e vinho, , provavelmente, o nico prato
tpico do Rio Grande do Sul. Foi ideado pelos descendentes de imigrantes
italianos, que eram grandes apreciadores de passarinhadas. Tendo o IBDF
e a conscincia ecolgica impedido a continuao das passarinhadas,
recorreram os seus aficionados ao saboroso galeto que a elas muito se
assemelha. O assunto merece ser estudado pelos interessados na cozinha
gacha." (Corita Costa Cardoso, pesquisa).

GALGO, adj. Esfomeado, faminto. Aflito por alcanar um objetivo,


sedento, desejoso de qualquer coisa. Gastrnomo.

GALGUINCHO, adj. Magricela, esfomeado.

GALHO, s. Emprego, ocupao subsidiria. Gancho, biscate, bico. //


Dificuldade, problema.

GALHEIRO, s. Galhudo, o veado macho, de chifres muito grandes e com


diversas pontas.

GALINHA MORTA, s. Cantiga popular, executada viola ou ao violo, nos


bailes e festas da campanha ou nos divertimentos galponeiros. Sua letra
tem inmeras variantes, entre as quais a seguinte:

"Vou cantar a galinha morta:


Por cima deste telhado.
Viva branco, viva negro,
Viva tudo misturado.

Eu vi a galinha morta,
Agora, no fogo fervendo...
A galinha foi pra outro,
Eu fiquei chorando e vendo!

Minha galinha pintada...


Ai! meu galo carij
Morreu a minha galinha,
Ficou o meu galo s.

Minha galinha pintada...


Ai! meugalo garniz!
Morreu a minha galinha
Fica o galo sem mulher...

Minha galinha pintada,


Com to bonito sinal!
Meu compadre me roubou
Pelo fundo do quintal.

Minha galinha morta


Bicho do mato comeu:
Fui ao mato ver as penas,
Dobradas penas me deu.

A galinha e a mulher
No se deixam passear:
A galinha o bicho come...
A mulher, d que falar!

Eu vi a galinha morta,
A mesa j estava posta;
Chega, chega, minha gente,
A galinha pra quem gosta!

Minha galinha pintada,


Pontas d'asas amarelas:
Tambm serve de remdio
Pra Quem tem dor de canelas."

202

GALINHEIRO, s. Campo ou mato onde a caa de pena abundante.

GALISTA, adj. Diz-se do aficionado s brigas de galos.

GALOADO, adj. Agaloado.

GALOPE, s. Cada uma das montadas que se d no potro ou redomo com o fim
de amans-lo, repasse: "Este potro j tem dois galopes", isto , j tem
duas lies de doma, j foi encilhado duas vezes. "Este um animal do
primeiro galope", isto , foi encilhado uma nica vez. // Treino a que
se submete o cavalo de corrida: "O parelheiro est em galopes", isto ,
est sendo obrigado a galopar, na cancha, para desenvolver-se. //
Admoestao, censura, castigo, capina, susto: "Este galope que ele levou
hoje lhe servir de lio para toda a vida". // Trabalho, canseira,
lida: "A doena do guri manteve o pessoal da casa num galope", isto ,
deu muito trabalho. // Velocidade, pressa, rapidez: "O trabalho vai a
galope", isto , se desenvolve rapidamente.

GALOPEAO, s. O mesmo que galopeada.

GALOPEADA, s. Galopada, ato de galopear. O mesmo que galopeao.

GALOPEADO, adj. Diz-se do cavalo que esteve ou est em preparo para


corridas. // Diz-se do potro cuja doma j foi iniciada. // Diz-se do
andar do cavalo que se assemelha ao galope, que tem rapidez que se
aproxima da do galope.

GALOPEADOR, s. e adj. Aquele que galopeia. Corredor, jquei, domador,


pessoa que monta o animal para galope-lo.

GALOPEADURA, s. Exerccio a que se sujeita o potro ou redomo, galope.

GALOPEAR, v. Galopar. Montar um potro ou redomo para amans-lo e


ensin-lo a ser obediente s rdeas. Treinar o parelheiro para a
carreira.

GALOPITO, s. Diminutivo de galope.

"E deu de rdea, a galopito, para o acampamento." (Simes Lopes,


Contos Gauchescos e Lendas do Sul Sul, P.A., Globo, 1973, p. 106).

GALPO, s. Construo existente nas estncias destinada ao abrigo de


homens e de animais e guarda de material. // Varanda, alpendre,
galeria aberta junto casa de habitao. // , tambm, estbulo ou
estrebaria, da vindo animal de galpo, para significar o que tratado
e dorme no estbulo, e animal a meio galpo, para indicar o que
tratado no estbulo mas pernoita no campo. // O galpo caracterstico do
Rio Grande do Sul uma construo rstica, de regular tamanho, coberta
de santa-f, na fronteira, ou de taboinhas, nos campos de Cima da Serra,
em geral com parte da rea assoalhada de madeira bruta e parte de terra
batida, desprovido de porta e s vezes at de uma das paredes, onde o
fogo de cho est sempre aceso. Serve de abrigo e aconchego peonada da
estncia e a qualquer tropeiro, viajante ou gaudrio que dele necessite.
No galpo se prepara e se come o churrasco, se toma chimarro, e, tambm
nele, nas horas de folga, ao redor do fogo, se improvisam reunies de
que participam democraticamente patres e empregados, viajantes,
tropeiros, carreteiros e gaudnios, nas quais se contam causos de
guerra, de tropeadas, de carreteadas, de servios de campo, de caadas,
de pescarias, de amores, de assombraes, ao mesmo tempo que se bebe uma
canha, se toca uma cordeona, se dedilha uma viola, se canta uma modinha
ou se re-

203

cita uma dcima. (Etim.: Vem de calpulido do idioma nahuatel ou mexicano


- R. Mendona; vocbulo da lngua asteca - Zorob. Rodrigues; palavra
de origem quchua, segundo outros autores).
"Meu primeiro encontro com o galpo foi de espanto. Vi o
braseiro a palpitar, em fagulhas vermelhas e o tronco das cabrivas a
arder e a espoucar s gotas espessas da graxa dos costilhares,
espichados nos espetos negros de ferro, cravados de p como estandartes
margem dos rodados de ao de velhas carretas inservveis, que
emolduravam agora os foges cobertos de cinza. Em cima, os tetos de
palha santa-f, galvanizados de picum. Ao lado, a chaleira chiando, com
a tampa de flandres a danar em cima, premida pelo vapor. E em cepos de
troncos de rvores mais velhas que os velhos tapejaras de em torno,
homens sentados roda do fogo, com a cuia do chimarro a correr de mo
em mo e de boca em boca, enfeitada de topete verde. Charla, conversa
grande; contos de gesta; estrias de brigas e de assombraes, de
aventuras e de amores, de lances dramticos e episdios pitorescos."
(Manoelito de Ornellas, Terra Xucra, P.A., Sulina, 1969, p. 69).

"Com a chegada de seu Fausto, a peonada reunida no galpo da


Estncia Alegre, naquele comeo de noite, interrompeu por alguns
momentos a palestra que era inda sobre a grande gineteada havida durante
a tarde, porm, ansim que o maduro postero e causista, colocando-se
entre eles, terminou de abancar-se em um grosso pedao de tronco, o qual
tava forrado com um peleguito, foi o prprio capataz, que tambm fazia
parte da roda, quem primero falou, dizendo-le ansim: - "Seu Fausto: Ns
tava charlando sobre a gineteada de hoje, e como sabemos que vanc
tambm foi grande ginete, queremos que, a esse respeito, nos conte algo
de seus tempo." O velho gacho, que j entonces saboreava um amargo,
atiou o fogo do cigarro com um assoprozito, deu uma talagada e,
enquanto botava a fumaa fora, olhava pra quincha, como se buscasse no
alto o recuerdo das cosas passadas. Despois, abaixando os olhos pra boca
da cuia, deu otro chupo na bomba e empeou desta maneira sua charla:
..." (Natlio Herlein, Os Causos do "seu" Fausto, p. 25).

"Setembro chegou lustroso


Da estncia do Pai-do-Cu.
Passou aquentando fogo
Nas brasas dos seus galpes.
Vem dando as cartas pra o jogo
Do truco das estaes.
(Zeca Blau,Poncho e Pala, p. 68).

"L fora no galpo, beira do fogo, os pees tambm, mateando,


contavam os rudes "casos". Ora da vida campeira, das marcaes ao p e
ao sol dos dias quentes, dos rodeios pelas madrugadas frescas, de
estouros de tropas, e trabalhos e perigos; ora casos de amor, de
guerras, de entreveros. As chamas inquietas davam tons vermelhos face
dos mateadores, que chupavam cigarros, sentados em crculo, atentos ao
relato. ... Ao calor da narrao os rostos enrgicos aproximavam-se mais
do fogo, e ficavam, iluminados e ansiosos, num circulo vivo dentro da
treva que enchia o

204

galpo. E contaram ainda outros casos de sua existncia vibrante de


lutas." (Darcy Azambuja, Fogo Gacho, No Galpo, P.A., Globo, 8
Edio, p. 18).

"Apeia e amarra, meu irmo do Norte,


essa jangada que teu punho forte
trouxe ao rodeio grande do Rinco!
Descansa agora dessa maratona,
ouvindo a voz chorosa da cordeona,
no aconchego crioulo do galpo!"
(Rui Cardoso Nunes, Queimadas,
Hino ao Jangadeiro, p. 56).

"Ainda Slvio Jlio, escritor pernambucano que conviveu alguns


anos com os gachos pampeanos, quem nos diz: "Em perptua evoluo o
rio-grandense mostra-se produto ldimo do meio em que se desenvolveu. A
sua histria reflexo da eterna alegria fanfarrona dos galpes".
(Ramiro Frota Barcelos, Tradicionalismo Conferncia, So Leopoldo,
Centro Cvico Cultural Leopoldense, 1955, p, 9).

"No aconchego dogalpo


em torno ao fogo de cho
a peonada mateava.
L fora uma lua branca
mais branca do que mortalha
a coxilha amortalhava,
e o minuano esse vento
que corta como navalha
zunia e assobiava.

Havia um peo esquisito


conhecido por Teatino
que quando estava inspirado
falava como um doutor
sobre as manhas do destino,
e tambm contava causos
ouvidos com ateno
por moo, velho e menino.

Depois de um mate espumante,


a pedido da peonada,
de um jeito manso e buenacho
foi que o Teatino contou
a histria que segue abaixo: ..."
(Zeno Cardoso, O Causo do
Pinheiro).

GALPONEIRO, s. e adj - Relativo ao galpo. Pessoa habituada no galpo.

"E a mesma ironia que transparece de um adgio crioulo, de uma


anedota galponeira, de um caso crivado de reticncias..." (Augusto
Meyer, Estudo Crtico, in Antnio Chimango, 3 ed., P.A. Globo, p, 13).

GAMBELAR, v. Engambelar.

GAMBELO, s. Festa, carcia, carinho, no sentido de enganar, iludir. //


Gulodice, coisa boa, gostosa, agradvel, deliciosa.

GAMBETA, s. Movimento desordenado que faz o indivduo ou o animal com o


corpo e com as pernas, fugindo para um e outro lado, para escapar ao seu
perseguidor. // Manha, ardil, // Procedimento irregular, manhoso, pouco
decente.

"Isso que velho de gambetas.


Tem mais voltas que o Camaqu,
(E. Contreiras Rodrigues, Amores
do Capito Centeno, P.A., Globo,
1937, p. 102).

"Mas nisto o nhandu deu com a boca do rinco, viu o campo largo,
e fazendo umas gambetas fortes, esparramando as asas, por fim aprumou o
corpo e cravou a unha, num troto galopeado, de comer quadras" ...
(Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p.
109).

GAMBETEAO, s. Ato de gambeterar, de fazer gambetas.

GAMBETEADOR, adj. O que gambeteia,

205

isto , o que foge, com movimentos irregulares de corpo e de pernas,


para um e outro lado, para escapar perseguio. // Manhoso, ardiloso,
enganador, pouco decente. // Aplica-se, tambm, ao cavalo espantadio ou
passarinheiro.

GAMBETEAR, v. Fazer gambetas, isto , fugir manhosamente com o corpo


para um e outro lado de modo a escapar ao perseguidor. Ladear o corpo,
esquivar-se, para evitar o golpe do adversrio. // Proceder
irregularmente, ardilosamente, de forma pouco honesta.

"Gambetear: (verbo) Hacer gambetas. Excusarse. Zafarse."


(Diccionrio de Modismos Argentinos, p. 95).

GAMBETEIRO, adj. Diz-se do indivduo ou do animal que faz gambetas.

GANAS, s. Desejo sbito, vontade. Este termo usado ordinariamente no


plural.

GANDOLA, s. Pea do vesturio, usada por militares em substituio ao


capote. Bluso.

GANDULAR, v. Viver pedindo coisas emprestadas. Desejar tudo que v.


Pedinchar, puuquear, filar.

GANDULO, s. e adj. Pessoa que vive custa dos outros, que deseja tudo o
que v. Vagabundo, pedincho, parasita, pedinte, filante, puuca. (
vocbulo castelhano usado tambm em Portugal).

"Porm, de tal novidade


Muito gandulo aproveita -
E tem logo a cama feita."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
21 ed., P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1978, p. 71).

GANGOLINA, s. Ameaa de revoluo, briga, conflito, rusga, rixa, rolo,


barulho, desordem.

GANHADOR, adj. Indivduo sem escrpulos para quem todos os lucros so


bons.
GANHAR, v. Encaminhar-se para algum lugar, meter-se, esconder-se: "O
criminoso ganhou o mato", isto , meteu-se no mato, escondeu-se no mato.
// Receber, contrair: "Ganhar uma gripe", isto , contrair uma gripe. //
Ter um filho: "A empregada ganhou uma criana", isto , a empregada deu
luz uma criana. Esta ltima acepo mais usada na zona de
colonizao alem.

GANHAR ABANANDO, expr. Vencer a carreira de cavalos com grande


facilidade.

GANHAR BATENDO NA BOCA, expr. Vencer a carreira de cavalos com grande


facilidade.

GANHAR BRICANDO, expr. Vencer a carreira de cavalos com grande


facilidade.

GANHAR DE BOQUEIRO, expr. Vencer a corrida de cavalos, fazendo grande


luz.

GANHAR DE FIADOR, expr. Vencer, em carreira de cavalos, s pela


distncia que vai da testa at garganta do animal.

GANHAR DE LUZ, expr. Vencer o parelheiro, em corridas de cavalos,


atingindo o lao de chegada distanciado do contendor, de forma a haver,
para quem observa lateralmente, algum espao entre a cola do ganhador e
a cabea do perdedor. O mesmo que fazer luz.

GANHAR DE MANO, expr. Anteceder-se na disputa de determinada coisa;


chegar em primeiro lugar para pedir o que

206

se deseja. O mesmo que ganhar de mo.

GANHAR DE MO, expr. O mesmo que ganhar de mano.

GANHAR DE MEIA COSTELA, expr. Vencer a carreira, estando, no lao de


chegada, a cabea do perdedor altura da meia costela do ganhador.

GANHAR DE MEIO CORPO, expr. Vencer a carreira excedendo o competidor de


meio corpo ao passar pelo lao de chegada.

GANHAR DE MEIO PESCOO, expr. Vencer a carreira, estando, no lao de


chegada, a cabea do perdedor na altura da metade do pescoo do
ganhador.

GANHAR DE PALETA, expr. Ganhar a corrida, estando, no lao de chegada, a


cabea do perdedor altura da paleta do animal vitorioso.

GANHAR DE QUEIXO TORTO, expr. Vencer a carreira com grande facilidade.

GANHAR DE REBENQUE ERGUIDO, expr. Vencer a carreira com grande


facilidade.

GANHAR DE VAZIO, expr. Vencer a carreira, estando, no lao de chegada, a


cabea do perdedor altura do vazio do parelheiro ganhador.
GANHAR DE VIRILHA, expr. Vencer, nas corridas de cavalos, de forma que o
perdedor, no lao de chegada, esteja com a cabea defronte virilha do
parelheiro vitorioso.

GANHAR DIVIDINDO A CANCHA PELO MEIO, expr. Passar o parelheiro vencedor,


na corrida de cavalos, pelo lao de chegada, quando o que perde vem
ainda na metade da cancha. Isso, em geral, no acontece, empregando-se a
expresso para significar a vitria muito fcil e com grande luz.

GANHAR DOMANDO, expr. Vencer a carreira com grande facilidade.

GANHAR NA ESTRADA, expr. Ir-se embora, largar-se na estrada, viajar.

GANHAR NA NOITE, expr. Desaparecer na escurido da noite. // Ficar


acordado at tarde da noite.

GANHAR NA TALA, expr. Ganhar o parelheiro a carreira com grande esforo,


apanhando de rebenque.

GANHAR NA TAMPA, expr. Ganhar a carreira por diferena muito pequena.

GANHAR NOS PELEGOS, expr. Ir deitar-se, meter-se na cama.

GANHAR O LADO DE LAAR, expr. Conquistar a confiana de algum,


ganhar-lhe o lado bom.

GANHAR O TIRO, expr. Chegar em primeiro lugar; anteceder-se para


conseguir vantagens.

GANIAR, v. Ganir.

GANJA, s. Vaidade, orgulho, empfia, soberbia, atrevimento, presuno,


importncia. "Dar ganja" quer dizer dar importncia, dispensar
consideraes a quem delas abusa passando a julgar-se superior aos
demais. (Segundo Jaques Raymundo, termo de origem bunda nganji, que
significa soberbia, atrevimento).

GANJENTO, adj. Vaidoso, presumido, enganjento, presunoso, atrevido, que


tem ganja.

GANZELO, adj. Diz-se do cavalo grande, lerdo, desajeitado, tardo,


pesado, moleiro.

GARALHADA, s. Gralhada.

GARANTONHAS, s. Aspecto do tempo, quando est feio ou ameaador de


chuva.

207

GARAPA, s. Coisa boa, certa, fcil de ser obtida.

GARATEIA, s. Espcie de fateixa, no linguajar dos marinheiros da bacia


do Rio Guaba.

GARFIAR, v. Fugir, desaparecer, escapulir-se.


GARGALEJADO, adj. Diz-se do rudo
que lembra o do gargalejo.

"E quando firmei a vista no ndio, ele arregalou os olhos, teve


uma ronqueira gargalejada e finou-se, nuns estices..." (Simes Lopes,
Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 69).

GARGALEJO, s. Gargarejo.

GARGANTA, s. e adj. Indivduo conversador, prosa, mentiroso,


jactancioso, fanfarro.

GARGANTEAR, v. Virar um saco, uma bolsa ou outro recipiente, para fazer


sair-lhes o contedo.

"A o coitado perdeu quase o dia inteiro a gargantear a guaiaca


e a aparar ona por ona, uma atrs da outra, sempre uma a uma! ..."
(Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul; P.A., Globo, 1973, p.
170).

GARGANTILHO, adj. Diz-se do animal cavalar que tem o plo da garganta


manchado de branco aparentando uma gargantilha.

GARGOSEAR, v. O mesmo que cargosear.

GARGOSO, adj. O mesmo que cargoso.

GARGUELEJAR, v. Gargarejar.

GARITA, s. Porte da locomotiva.

GAROA, s. Chuvisco. ( vocbulo de origem peruana, gara, usado tambm


no Chile e em outros pases hispano-americanos).

GAROAR, v. Chuviscar.

GARRA DE COURO, s. (Fig.) Coisa que no tem valor algum, que no serve
para nada.

GARRAIO, adj. Ordinrio, ruim, de m qualidade. empregado em relao a


animais cavalares e vacuns.

GARRO, s. Jarrete do cavalo, ou de qualquer animal ou de pessoa. V. a


expresso afrouxar o garro.

GARRAS, s. Arreios velhos, grosseiros, gastos pelo uso.

GARRAS DE DOMAR, s. Arreios prprios para a doma.

GARREADO, adj. Derreado, em apuros, cansado, perseguido; que sofreu o


garreio.

GARREAR, v. Tirar as garras do couro. // Tosquiar, no ovino, a l que


no faz parte do vu. // Derrear.

GARREJO, s. Ato de garrear, na acepo de tosquiar.

GARROTEADO, adj. Diz-se do couro que ficou macio em conseqncia de ter


sido sovado.
GARROTEAR, v. Sovar e bater o couro at deix-lo bem macio.

GARRUCHA, s. China Velha.

GARUA, s. O mesmo que garoa.

GARUAR, v. O mesmo que garoar.

GARUPA, s. Arbusto cujas folhas, em infuso, so usadas para doenas do


aparelho digestivo. // Nome de rio da fronteira, no municpio de Quara.

GS, s. Presuno, bazfia.

GASGUITA, s. Rapariga intrometida, desenvolta, desinibida.

208

GASTAR PLVORA EM CHIMANGO, expr. Desperdiar esforos, sem proveito


algum.

"Quero voltar ao meu pago,


Comer churrasco e mogango.
Gastei plvora em chimango,
Nesta vida de cidade,
E guasqueado da saudade
O meu corao encerra
A nostalgia da terra
E do pampa a liberdade."
(Alcy Jos de Vargas Cheuiche,
Versos do Extremo Sul; Canoas,
Ed. La Salle, 1966, p. 85).

GASTURA, s. Mal do estmago, azia, fome, enfarte.

GATAS, s. O vocbulo usado na expresso a garoa que significa: a duras


penas, a muito custo, com dificuldade, mal-mal, por milagre, com grande
esforo.

GATEADA, s. Libra ou ona, moeda de ouro.

"E os pataces vinham vindo, e as gateadas iam-se amontoando."


(A. Maia,Alma Brbara, RJ, Pimenta de Melo & C., 1922, p. 83-84).

"- Foi na lei! A carreira de parada morta; perdeu o cavalo


baio, ganhou o cavalo mouro. Quem perdeu, que pague. Eu perdi cem
gateadas; quem as ganhou venha busc-las. Foi na lei!" (Simes Lopes,
Contos Gauchescos e Lendas do Sul; P.A., Globo, 1973, p. 181).

GATEADO, adj. Plo de animal cavalar ou muar, que se aproxima do amarelo


desmaiado, puxando um pouco a avermelhado. definido tambm como
amarelo avermelhado e como "baio com as crinas cor de flecha". O animal
gateado apresenta, em geral, raias de mula nos membros e faixa mais
escura que se estende, pelo fio do lombo, das cruzes at raiz da
cauda. H gateados com raias por todo o corpo e alguns possuem a faixa
crucial, ou seja, uma faixa que desce pelas espduas, atravessando, nas
cruzes, a do fio do lombo. Existem muitas variedades de gateado, entre
as quais as seguintes: Gateado-bragado, gateado-cabos-negros,
gateado-claro, gateado-escuro, gateado-estrelo, gateado-malacara,
gateado-oveiro, gateado-pangar, gateado-rosilho, gateado-ruano, e
gateado-ruivo.

GATEADO-BRAGADO, adj. Diz-se do cavalo gateado que tem, na barriga ou na


virilha, uma mancha branca de regular tamanho.

GATEADO-CABOS-NEGROS, adj. Diz-se do cavalo gateado que tem crina, cola


e membros de cor escura.

GATEADO-CLARO, adj. Diz-se do cavalo gateado de plo amarelo desmaiado,


avermelhado, claro.

GATEADO-ESCURO, adj. Diz-se do cavalo gateado, de plo amarelo


desmaiado, avermelhado, meio escuro.

GATEADO-ESTRELO, adj. Diz-se do cavalo gateado que apresenta uma pequena


mancha branca na testa.

GATEADO-MALACARA, adj. Diz-se do cavalo gateado que tem a frente aberta,


isto , tem brancas a testa e a frente da cabea at o focinho.

GATEADO-OVEIRO, adj. Diz-se do cavalo gateado que tem no corpo grandes


manchas brancas.

GATEADO-PANGAR, adj. Diz-se do cavalo gateado que tem meio


esbranquiados o focinho, a barriga, os sovacos e as virilhas.

GATEADO-ROSILHO, adj. Diz-se do cavalo gateado que tem plos brancoS

209

em todo ou em parte do corpo.

GATEADO-RUANO, adj. Diz-se do cavalo gateado que tem as crinas e a cola


brancas.

GATEADO-RUIVO, adj. Diz-se do cavalo gateado que tem as crinas de cor


ruiva carregada.

GATEADOR, adj. Diz-se do caador que usa de astcia e manha para


conseguir aproximar-se da caa e mat-la. Diz-se, tambm, do cavalo
ensinado a participar dessas negaas. // Significa, ainda, astucioso,
manhoso, ardiloso, gatuno, ladro.

GATEAR, v. Andar, cautelosamente, fazendo negaas, rastejando,


caminhando de gatinhas, usando de ardis, de astcia, de manhas, para
conseguir aproximar-se da caa e mat-la. Significa, tambm, roubar,
furtar. (Etim.: "O termo vem, como claro, da astcia e agilidade do
gato para dar o bote" - Moraes; " vocbulo castelhano significando
andar o homem a quatro ps como os animais quadrpedes" - Campano).

"Manoelito sabia negacear: gateava com uma pertincia de ndio e


mais ardentemente que os Outros anelava a sensao da presa" (A. Maia,
Runas Vivas, Porto, Lello & Irmo, 1910, p.41).
GATEIO, s. Ato de gatear, ou de fazer negaas para iludir a caa e
apanh-la. // Roubo, furto.

GATIMANHAS, s. Negaas, trejeitos, requebros.

GATINHAS, s. Usado na expresso da gria cagar de gatinhas, que


significa andar em dificuldades, estar em apuros. (Chulo).

GATO, s. Bebedeira, porre, embriaguez.

GATO PINGADO, s. Pessoa sem significao social.

GATUNHAR, v. Gadunhar. Apoderar-se de alguma coisa sorrateiramente, de


surpreSa.

GAUCHAO, s. Gacho s direitas, cavaleiro dextro, perito nas lides do


campo, desempenado, destemido. Aumentativo de gacho.

GAUCHADA, s. Grande nmero de gachos. // Faanha de gacho, cometimento


muito arriscado, proeza no servio de campo. // Ao nobre,
impressionante, corajosa.

"Gosto da vida do campo,


Dessa eterna gauchada:
Na cidade eu morreria
Comendo carne cansada."
(Autor ignorado).

"Ao raiar do dia, de novo montaram. E quando o sol clareou a


extensa paisagem, viu agauchada, desdobrar-se, diante de seus olhos, a
empolgante perspectiva de longas planuras, a deslumbradora viso da
campanha imensa." (Mrio Lima Beck, Nova Querncia, P.A.,Livr. Selbach,
1935, p. 28).

GAUCHAGEM, s. Grande nmero de gachos. // Var.: Gauchada, gaucharia,


gaucherria, gaucheria.

GAUCHO, s. e adj. Homem simples, de maneiras agauchadas, que no aceita


os costumes muito requintados da cidade. // Cavalheiro, franco. //
Rstico, inculto.

GAUCHAR, v. Praticar o gacho os seus costumes. Mostrar-se ou proceder


como gacho. Levar a vida que levam os gachos. // Andar sem paradeiro
certo. // Var.: Gaucherear ou gaucherrear.

GAUCHARIA, s. Faanha, cometimento arriscado, ao nobre ou corajosa,

210

prpria de gacho. Gauchada, gauchagem, gaucheria, gaucherria.

GAUCHEREAR, v. Gauchar.

GAUCHERREAR, v. O mesmo que gaucherear.

GAUCHERIA, s. Gaucharia.
GAUCHERRIA, s. Gaucharia.

GAUCHESCO, adj. Relativo ao gacho.

"Completava, de imaginaO, as narrativas e sem descanso ia


medindo a zona lendria das refregas, atravs das tradies gauchescas."
(A. Maia, Runas Vivas, Porto Lello & Irmo, 1910, p. 35).

"Viste a paz e os entrechoques


das gauchescas contendas,
hericas beligerncias,
misticismos e legendas;"
(Nilza Castro, Baqueria de los
Piales).

GAUCHISMO, s. Costume, hbito de gacho. Palavra, expresso ou


construo caracterstica da fala gacha.

GAUCHITO, s. Diminutivo de gacho.

"Morena bela e faceira,


esses teus olhos bonitos
j prenderam,j estragaram,
mais de cinqenta gauchitos"
(Pery de Castro, Coisas do meu
Pago, P.A., Globo, 1926, p. 65).

GACHO, s. e adj. Habitante do Rio Grande do Sul. // Habitante do


interior do Rio Grande, dedicado vida pastoril e perfeito conhecedor
das lides campeiras. // Habitante da Argentina e do Uruguai, da regio
de campanha, com origem e costumes assemelhados aos dos rio-grandenses.
// Primitivamente: Changador, gaudrio, ladro, contrabandista,
vagabundo, coureador, desregrado, andejo, ndio ou mestio, maltrapilho,
sem domiclio certo, que andava, de estncia em estncia, traba- lhando
em servios que fossem executados a cavalo. // Remanescentes de tribus
guerreiras que habitavam a Argentina, o Uruguai e o Rio Grande do Sul.
s vezes amestiados com portugueses e espanhis, nmades, hbeis
cavaleiros, extremamente valentes, desprendidos de tudo, inclusive da
vida, valorosos, leais, hospitaleiros, ocupados alguns com as lides da
vida pastoril primitiva, outros com roubo de gado ou contrabando, e
outros, ainda, a maioria transitoriamente, com a vida militar em que
exerciam funes de bombeiros, de chasques, de arrebanhadores de gado e
de cavalos, de vaqueanos, de isca para o inimigo, ocupando postos que
variavam de soldado raso a general. // Animal ou objeto sem dono, ou
cujo dono desconhecido. // (Etim.: Existem centenas de hipteses a
respeito da origem da palavra gacho, que, apesar dos esforos dos
pesquisadores, continua envolta em denso mistrio).

"Gacho. - Do r. gach, proveniente do persa gauchi, boizinho,


formado de gau-, "boi ou vaca", mais -chi, sufixo diminutivo, e que, por
sua vez, veio do snscrito gah-, "boi, gado vacum"; este, por seu
turno, oriundo da raiz indo-europia gwo-, gwow-, "boi, vaca". Cast.
ant. chaucho, com sentido equivalente (do r. chach, de chaoch,
"tropeiro"), a par de gauche; e este, que se documentou primeiro (sc.
XVIII), foi tambm, ao que nos parece, a primeira transcrio rabe na
forma genitiva, seguindo-se-lhe a nominativa, que prevaleceu: gaucho.
Envolvendo assim originariamente a idia de gado, j que a
riqueza primitiva era constituda pelos
211

rebanhos, como fonte de ganho e de lucro, de alimento e de utilidade,


donde "os bens" dos povos antigos, pastores e nmades, passou acepo
de "criador ou guardador de gado"; pastor, tropeiro; que se dedica a
trabalhos correlativos e com seus usos e costumes caractersticos.
Perdendo j a acepo pejorativa em que era tido o termo at
meados do sculo XIX em ambas as bandas do Prata, para assumir a de
homem digno, batalhador e independente, a par de destemido, bravo e
patriota, generalizou-se o curioso nome para designar gentilicamente os
filhos do Rio Grande do Sul, bem como os naturais do interior do Uruguai
e de parte da Argentina."
(Propcio da Silveira Machado, O Gacho na Histria e na
Lingstica, P.A., 1966, p. 79).

"Gaucho, m. Hombre del campo, baqueano, diestro en el manejo del


caballo, del lao, de las boleadoras, de la daga y de la lanza,
esforzado, altanero y amigo de aventuras. D. Emilio Daireaux (El abog.
etc., Trat. de dcho civ. para la Rep. Arg., 2 ed.) deriva la voz del
rabe chaouch, propiamente tropero, em Espafia chaucho, corrompido em
Amrica en gaucho, al pasar de boca de los chilenos por la de los indios
de la Pampa." (Daniel Granada, Vocabulrio Rioplatense Razonado, Bibl.
Artigas, // Tomo, Montevideo, 1957, p. 29).

"Conforme Buenaventura Caviglia, ilustre homem de letras do


Uruguai, o termo procede de garracha ou garrucha, simlacro de lana de
que habitualmente eram portadores os ndios charruas e minuanos, que, ao
que parece, foram os primitivos gachos. // Para alguns pesquisadores,
gacho vem de cachu ou cauchu, do araucano, com as acepes de camarada,
vagabundo, e, ainda, de esperto, fino, arteiro, astucioso. // J.
Corominas, glotlogo e professor em Chicago, considera o termo de
"origen incierto" e acrescenta "quiz sea lo mismo que guacho "hurfano"
(en Colombia guaucho y gaucho id:), que procede del quichua ujcha
(antes ukcha) "pobre, indigente, hurfano, de donde primero guaucho y
"despus gaucho." // Para Martiniano Leguizamon "la palabra gaucho deriv
por metstesis de guacho'. // Para Aurlio Porto, o termo vem de guah,
do guarani, canto triste, e de che, do quchua, gente, donde
guah-che, gente que canta triste. // Diz o padre Antnio Ruiz de
Montoya, em seu Vocabulrio da Lngua Guarani, que guah significa
canto dos ndios; e os ndios e mestios daquele tempo, os primitivos
gachos, eram muito afeioados msica e seu canto era naturalmente
triste." (Diversos autores).

"O gacho ou campons rio-grandense, habituado a uma vida toda


cheia de perigos, um dos melhores soldados do mundo, pela sobriedade,
valor, constncia e rapidez com que pode mover-se de um ponto a outro
mui distante; afeito a todas as intempries, identificado com o cavalo,
que por assim dizer, o completa, o rio-grandense, ou melhor o gacho
rio-grandense, nas vrias guerras que o pas tem sustentado, h mostrado
quanto apto para a luta." (Romaguera).

""Gaucho, s. m. ndio do campo

212
sem domiclio certo. Cavalo gucho quase o mesmo que cavalo teatino,
que no permanente em parte alguma." (Coruja).

"Tambm no Prata evolura o gacho, diversificando-se em tipos


particulares. Na segunda metade da centria passada, ao tempo em que
Joo Mendes no Brasil deparava com um gacho diverso do de Dreys, na
Argentina abundavam os gachos que, consoante distino do general
Mansilla, se agrupavam em torno de certos tipos como o gaucho neto, o
paisano gaucho, o indio gaucho e o gaucho malo.
A respeito dos dois primeiros, diz-Mansilla em 1870: "Son dos
tipos diferentes. Paisana gaucho es el que tiene hogar, paradero fijo,
hbitos de trabajo, respeto por la autoridad, de cuyo lado estar
siempre, aun contra su sentir. El gaucho neto es el criollo errante, que
hoy est aqui, mafiana all, jugador pendenciero, enemigo de toda
disciplina; que huye del servicio cuando le toca, que se refugia entre
los indios si da una putialada, o gana la montonera si esta asoma. El
primero tiene los instintos de la civilizacion; imita al hombre de las
ciudades en su traje, en sus costumbres. El segundo ama la tradicin,
detesta al gringo; su lujo son sus espuelas, su chapeado, su tirador, su
facn. El primero se quita el poncho para entrar en la villa, el segundo
entra en ella haciendo ostentacin de todos sus arreos. El primero es
labrador, picador de carretas, acarreador de ganado, tropero, peon de
mano. El segundo conchaba para las yerraS".
J o indio gaucha definiu o general como "un indio sin ley, ni
sujecin a nadie, a ningun cacique mayor, ni menos a ningun
capitanejo;que campea por sus respetos;que es aliado unas veces de los
otros, otras enelnigo; que unas veces anda a monte, otras se
arrimaaIatoldera de un cacique; que unas veces anda por los campos
maloqueando, invadiendo meses enteros seguidos; otras por Chile
comerciando, como ha sucedido ultimamente".
Finalmente o gaucho maia aparece retratado em corpo inteiro no
Martn Fierra (cuja primeira parte Jos Hernndez escreveu na cidade
brasileira de Santana do Livramento, durante o seu exlio)."
(Lothar F. Hessel, Aspectos Sociais e Literrios do Gacho, p.
17).

"Produto natural do meio brbaro, o gacho um amlgama de raas e


nacionalidades. Vem de todos os pontos, atrado pelas facilidades
propiciadas na campanha. So egressos da sociedade, criminosos e
fascinorosos, que a defesa natural e a luta pela subsistncia congregam
em certos lugares defesos incurso de foras espanholas e portuguesas,
que lhes do caa contnua. Percorrem os campos. Deles tangem grandes
arreadas de gado chimarro, isto , alado, para rinces recnditos e
indevassveis, onde estabelecem as suas fainas, a que do o nome de
vacarias. A fazem largas matanas de reses, de que s aproveitam o
couro e as graxas. Estabelece-se assim um intercmbio de produtos entre
as vacarias e as povoaes mais prximas, Rio Grande, Rio Pardo,
Montevidu. Em troca de produtos bovinos, recebem erva-mate e
aguardente, de que so vi-

213

dos, e outros. Criam tambm grandes quantidades de cavalos, ven


dendo-os, juntamente com outros roubados at prpria Fazenda Real, aos
portugueses e aos espanhis." (Aurlio Porto, Provincia de So Pedro,
maro de 1946,apud Augusto Meyer, Gacho Histria de uma Palavra, Ed. do
IEL, P.A., 1957, p. 50).
"Asi fue como la Banda Oriental se sembr de vagabundos, que se
denominaron primero changadores (1729), luego gauderios (1763), y ms
tarde gauchos (1790)." (Liborio Justo, Pampas y Lanzas, Ed. Palestra,
Buenos Aires, 1962).

"Do homem da natureza ao gacho, a transio fcil, e somos levado,


pela continuidade do assunto, a dar aqui os esclarecimentos que havemos
prometido sobre essa singular associao cujos membros so designados no
Sul por essa denominao, a qual, todavia, perdeu nessa aplicao alguma
cousa do significado desfavorvel que lhe era primitivamente inerente.
Os gachos, nmades, habituados nas margens do Rio da Prata,
principalmente nas campinas ao N. de Montevidu, estendem-se igualmente
em todo o territrio banhado pelo Paraguai, Paran e Uruguai, at o
Oceano, em todas as partes onde h estncias ou charqueadas em que
servem de pees.
Os gachos parecem pertencer a uma sociedade agyne, como dizia
Algarotti, que viviam de seu tempo os Trtaros zaporojos; pelo menos, os
gachos aparecem geralmente sem mulheres e manifestam mesmo pouca
atrao para elas, felizmente para seus vizinhos, a quem sua
multiplicao, acompanhada de desejos tumultuosos, poderia causar
desassossego: formados originariamente do contato da raa branca com os
indgenas, eles se recrutam incessantemente dos mesmos produtos, e ainda
de todos os indivduos que nessas imediaes nascem, sem ordem e sem
destino, com o gosto to geral de uma vida fcil e de perfeita
liberdade.
Sem chefes, sem leis, sem policia, os gachos no tm da moral
social, seno as idias vulgares, e sobretudo uma sorte de probidade
condicional que os leva a respeitar a propriedade de quem lhes faz
benefcio ou de quem os emprega, ou neles deposita confiana: entregues
ao jogo com furor, esse vcio, que parecem praticar como um meio de
encher o vcuo de seus dias, a fonte dos roubos e s vezes das mortes
que cometem. Joga o gacho tudo que possui, dinheiro, cavalo, armas,
vestidos, e sai s vezes do jogo inteiramente ou quase nu; nessa posio
que o gacho se torna temvel, pois que, perdendo tudo o que tem, no
perde ainda o desejo de desafiar outra vez a fortuna, nem a esperana de
ach-la menos cruel; e por mais temvel que se torne nesse estado, no
de desesperao, mas de profunda mgoa, os movimentos interiores do
gacho escapam aos olhos do observador, nunca se altera nele aquela
superfcie de impassibilidade que faz a parte mais saliente de seu
carter; ele diverte-se, sofre, mata e morre com o mesmo sangue frio.
Geralmente, jogar as cartas e fumar o cigarro so os gostos
dominantes do gacho; para jogar, no primeiro lugar que se encontra,

214

mesmo no meio do campo, o gacho estende no cho o seu xirip, o qual


serve para receber as cartas, enquanto que a faca resta fincada em terra
do lado direito de cada um dos concurrentes, para estarem prontos a
qualquer acontecimento ou dvida que possa ocorrer.
As armas do gacho so as que se usam no Rio Grande: a faca, a
espada, a pistola, quando a pode comprar, e, sobretudo, o lao e as
bolas; estas duas ltimas armas so, s vezes, as nicas que tem, e
nunca o gacho visto sem elas; verdade que excele em manej-las; com
elas, assenhoria-se do jaguar, da ona, do boi, do cavalo, do avestruz,
e vimos no Camaqu um rapaz matar com as bolas um abutre voando. O
gacho timo cavaleiro: identificado aparentemente com o cavalo,
nasce, vive e morre com ele; nunca o gacho recusou montar qualquer
cavalo, e nunca se importou com seus vcios ou suas qualidades. Nas
plancies imensas em que vagueia, quando o seu cavalo est estafado, ele
o larga onde se acha, e transporta seu grosseiro arns para o primeiro
que se apresenta e que seu lao lhe submete; sobre o cavalo, o gacho
afeta todas as posies e toma indiferentemente a que sua comodidade ou
interesse do momento lhe sugere; estando de vedeta, deita-se s vezes
sobre o flanco do cavalo que se acha encoberto do inimigo, de modo que,
nessas campinas povoadas de animais selvagens, a vista no pode
discernir, a certa distncia, se o cavalo est pastando solto ou se o
homem o acompanha; por isso que, na guerra contra Artigas, todos os
oficiais traziam, geralmente ao tiracolo, culos de alcance. O gacho
faz as mesmas evolues no combate e procura sempre opor o cavalo bala
esperada; pouco lhe importa perd-lo, pois tem sempre outros cavalos
prontos para o suprir; em tudo o gacho brinca com o cavalo e parece
desafi-lo: em seus exerccios, f-lo pular de barranco em barranco, por
cima de alguma dessas fendas profundas que no so raras no pas; s
vezes, o cavalo cai no precipcio e morre; mas o cavaleiro, erguido
sobre os estribos, acha-se sempre pronto para aproveitar o derradeiro
ponto de apoio, deixar a sela e lanar-se do outro lado.
Nas guerras precedentes, os gachos no combatiam em linha; a
natureza de suas armas e seus costumes poucas facilidades lhes
proporcionavam para isso: na presena do inimigo, espalhavam-se em
diferentes direes, sempre galopando, aproximando-se e afastando-se
alternativamente com a mesma velocidade, evitando habilmente os golpes
do adversrio, e hostilizando-o continuadamente, ora com as armas de
fogo, que correndo sabem carregar, ora com o lao e as bolas. Dizem que
recentemente apareceram com prtica de evolues mais regulares.
A faca arma particularmente usada nas questes que sobrevm
entre eles; tem uma sorte de duelo em que a faca no deve empregar-se
seno cortando, e nesse caso, dirigem-se reciprocamente os golpes
cara; o ponto de honra exige que o inimigo fique marcado ostensivamente,
mas no ordena de o matar; s vezes, volvem em jogo esse costume
brbaro.

215

Certo de seus mantimentos, enquanto o lao no lhe faltar, e no


tendo vestido seno o estrito necessrio, isto , o xirip, pedao de
baeta amarrado em redor do corpo, da cintura para baixo e por cima do
xirip, o cinjidor, espcie de avental de couro cru, destinado a receber
a frico do lao, quando o animal faz fora sobre ele, uma camisa, se a
tem, uma jaqueta sem mangas, um par de ceroulas com franjas compridas
nas extremidades inferiores, s vezes um par de calas por cima, um
leno, quase sempre amarrado na cabea, um chapu roto, raras vezes um
ponche completo, e em lugar deste, um pedao de baeta vermelha, o gacho
parece apreciar o dinheiro menos para suprir suas precises, que so
poucas, do que para satisfazer suas paixes ou alguns gostos
instantneos. Ele quer dinheiro principalmente para jogar ou para
adquirir a posse de algum brinquedo que, como nas crianas, excitou sua
cobia passageira; por isso pouco trabalha o gacho enquanto tem
dinheiro; o tempo passa-se em jogar, tocar ou escutar uma guitarra
nalguma pulperia, e s vezes, porm com raridade, danar uma espcie de
chula grave, que vimos praticar por alguns deles. Quanto ao mais, pouca
propenso parecem ter para os licores espirituosos, e a embriagus
cousa quase nunca aparecida entre esses homens cujas disposies
taciturnas e apticas pouco se conciliam com a loquacidade e movimentos
desordenados da bebidice.
O arns do gacho ordinariamente obra de suas mos, e j demos
algumas informaes sobre o seu modo de proceder, cortando uma tira de
um couro seco e puxando-a repetidas vezes pelas apertadas aberturas de
um pedao de pau fendido, at conseguir, por esse meio e com bastante
pacincia, amolecer o couro e torn-lo flexvel e prprio para servir os
mesmos usos de qualquer couro surrado.
O freio feito de pau duro, ordinariamente de nhanduvaz
embutido em cada uma de suas pontas um pedao de chifre cortado segundo
o seu comprimento: a rdea est presa na extremidade inferior daquele
pedao de chifre, O barbicacho uma guasca, e s vezes uma argola de
ferro, quando se encontra. Os estribos so formados de um rolinho de pau
suspenso horizontalmente por duas guascas, de modo a descrever um
tringulo em que entra somente o dedo grosso do p. As esporas do gacho
tm uma roseta, de mais de uma polegada de dimetro. Suas botas so, de
ordinrio, fabricadas da pele crua tirada inteira da perna de um cavalo
ou de um boi, secada depois sobre uma forma grosseira e amarrada
fortemente na extremidade inferior para formar a ponta do p.
Todos os exerccios de manejo e de picaria dos mestres de
equitao da Europa so familiares ao gacho, e alguns dos exerccios
mais difceis so mesmo entre eles divertimentos de crianas; um gacho
nunca desce do cavalo para apanhar suas armas ou qualquer objeto que
deixou cair; por um movimento rpido, ele se debrua do cavalo at a mo
chegar ao cho, sem por isso retardar o andar do cavalo, seja qual for a
velocidade de seu passo."
(Nicolau Dreys, Notcia Descri-

216

tiva da Provncia do Rio Grande de So Pedro do Sul, Globo, IEL, P.A.,


1961, p. 160).

"O que ressalta, porm, de uma larga pesquisa para fins


genealgicos em todos Os arquivos eclesisticos do Rio Grande do Sul,
sobre as bases estruturais da nossa formao, j autoriza a estabelecer
rumos mais precisos nessa direo.
As primeiras famlias que se estabelecem no Continente, ocupando
estncias que se estendem desde Tramanda at os campos de Viamo, so
todos de origem mestia. Contam-se entre estas oito filhos do
capito-mor da Laguna, Francisco de Brito Peixoto, que no foi casado,
mas, que de vrias ndias da terra, de nao carij, teve esses filhos
que foram os primeiros povoadores do Rio Grande do Sul."
(Aurlio Porto, Histria das Misses Orientais do Uruguai, Vol.
IV, P.A., Livr. Selbach, 1954, p. 412).

"Os elementos de que se formou a populao do Rio Grande diferem


em muito do que originaram a dos outros territrios do pas. Foram, na
verdade, portugueses os primeiros povoadores, mas portugueses que j no
eram, por sua vez, iguais aos que tinham imigrado antes para a Amrica.
Eram aorianos, e nos Aores a primitiva populao lusitana se havia
modificado sob o influxo do meio. Era uma raa forte e persistente,
singularmente prediposta para construir slido tronco a uma nova
populao. Os portugueses do continente que vieram mais tarde
encontraram, j formado, esse tronco original, e, unindo-se a ele, no
podiam deixar de sofrer o seu influxo." (Assis Brasil, A Guerra dos
Farrapos).
"Antes de irmos adiante notaremos que o rio-grandense difere
essencialmente nos costumes dos habitantes das outras provncias do
Brasil, assemelhando-se muito neste ponto aos habitantes das repblicas
do Prata; fenmeno este que se pode atribuir uniformidade de climas do
Rio Grande do Sul com essas repblicas e posio topogrfica desta
provncia que separa-se das outras regies do Brasil por altas serras e
medonhas brenhas, ao passo que com aqueles pases, no havendo
separao, s cessa o contato em tempo de guerra." (Joo Cezimbra
Jacques, Costumes do Rio Grande do Sul, P.A., Ed. Gundlach, 1883, reed.
pela Cia. Unio de Seguros Gerais, p. 48).

"Sob a forma americana do gacho, j no era o espanhol, j no


era o portugus, que aparecia, nem o matuto ou o sertanejo. No era o
bandeirante, no era o aoriano, o ndio, o lagunense... E era tudo
isso! que se individuou num vinco de diferenciao, numa surpreendente
plasticidade mental, numa expresso, ativa e inteligente, de adaptao
assombrosa da alma que se veio elaborando, de ponta a ponta do Rio
Grande, ao ritmo do corao do Brasil, embalando o sentimento mstico da
coeso de um povo... Determinantes histricas lanavam as sementes
eternas da raa..." (Fernando Osrio, Fogo Morto, Pelotas, Globo, 1930,
p. 48).

"O gacho, que despreza a prpria vida e a vida dos seus


semelhantes, que, cruel, subjuga o potro e, para se alimentar, crava com
jbilo

217

cru, aquecido a borbotes vermelhos, a faca afiada no sangradouro da rs


colhidavolta silvante do lao. tem o culto animista dos pequenos seres
que o cercam e o culto de certos vegetais, ele, o manejador feroz, do
machado, o rijo devassador de picadas hravias, h ritos inconscientes,
sobreviventes, no respeito desses feras homens a um animalejo que lhes
passe ao alcance ou na saudao que atiram muitas vezes sem palavras, a
velhos umbus da estrada..." (A. Maia, Alma Brbara, RJ, Pimenta de Melo
& C., 1922, p. 134-35).

"Pr em evidncia o tipo do gacho rio-grandense dentro das


condies naturais e culturais em que se formou, no ser uma operao
gratuita, de interesse puramente acadmico. Ao contrrio disso, o que
buscamos agora responder ao desafio de um problema vivo, cheio de
implicaes polticas e sociolgicas, e ainda exposto a freqentes
deformaes. Com efeito, da confuso reinante acerca da origem e
caracterizao histrica do brasileiro do extremo sul decorrem
desacertos que atingem aspectos vitais da tradio rio-grandense e a
prpria posio do Rio Grande do Sul perante a comunidade nacional.
Dentre as causas que podero ser invocadas para explicar tais
desacertos no ser das mais ostensivas, mas nem por isso das menos
influentes, a ligeireza com que se admite e proclama a identidade do
nosso gacho com o gacho platino. E da, por extenso, o conceito
verdadeiramente peregrino de um Rio Grande meio portugus-meio espanhol.
Nem faltam, j o vimos, os que consideram o Rio Grande em face da
Histria do Brasil como uma espcie de captulo parte, que se tivesse
extraviado acidentalmente do tempestuoso contexto da formao platina.
Tambm responde por grossos erros de interpretao o paralelo fcil, por
vezes at servil, entre situaes que, se verdade que se armaram em
reas geograficamente contguas, no menos verdade que pertencem a
tradies antagnicas, cujas relaes de vizinhana, durante todo o
ciclo da nossa formao, no foram outras se no os incidentes e guerras
de fronteira.
Ao tempo das crises da demarcao da raia meridional, que
comearam com a fundao do presdio de Rio Grande, para no recuarmos
at Colnia do Sacramento, em 1860, e que a bem dizer s tiveram
remate efetivo com a liquidao da Guerra do Paraguai, em 1870, os
homens do Rio Grande e do Prata, j marcados por um antagonismo atvico,
seriam lanados uns contra os outros numa violenta reativao de
rivalidades imemoriais, herana subjacente de velhas disputas
peninsulares.
Pois apesar de tudo, apesar dessa realidade histrica saltar aos
olhos com a eloqncia que os prprios fatos carregam em si, ainda h
quem ponha em dvida a autenticidade das razes luso-brasileiras do Rio
Grande do Sul, obstinando-se na insinuao do nosso meio-castelhanismo
congnito.
No haveria nenhum desdouro em que assim fosse, pois aos
espanhis, no menos que aos lusitanos, assistem iguais direitos mais
alta cidadania histrica. Mas o reconhe-

218

cimento desta verdade no autoriza a interpretar errnea ou


tendenciosamente o processo de que resultou a formao social e poltica
do Rio Grande do Sul.
Pontos de parecena entre os tipos sociais do gacho
rio-grandense e do gacho platino existem, sem dvida, mas se restringem
s pecoliaridades decorrentes do mesmo sistema bsico de atividades - o
pastoreio desenvolvido num cenrio fsico semelhante, e parcialmente
fundado, em ambos os lados, na experincia e na prtica do campeador
nativo. Fora disso, porm, fora desses fatores circunstanciais,
suscitadores de aes e reaes equivalentes, tudo o mais so traos que
caracterizam tipos autnomos, ativamente extremados um do outro, e
chamados a desempenhar um drama de fronteira no qual haviam de atuar
como inimigos.
(Moyss Vellinho, Capitania d'El-Rei, P.A., Globo, 1964, p.
155).

"Desenvolveu-se ultimamente, em uma banda da intelectualidade


historiogrfica do Rio Grande do Sul, desmedido e delirante lusitanismo
continental e arico, que seria um tanto perdovel, se no o forjicasse
mentirosa e furibunda negao de outros fatores constitutivos da
populao do gloriosssimo estado. Ningum, que seja honesto, negar
nunca o papel importante que tiveram portugueses e ilhus na evoluo do
povo admirvel daqueles rinces fortes e belos. Entretanto, injusto,
falso, absurdo, ridculo pretender ocultar que, alm de to fortes
influxos, a sociedade gacha recebeu, quando se formava, elementos j
brasileiros, oriundos de So Paulo e do norte de nosso pas, elementos
platinos, elementos hispano-americanos, elementos hispnicos, elementos
amerigenas, etc. Uns direta, outros indiretamente.
Da paixo cega pelo lusitanismo continental e arico, com
excluso incompreensvel das demais foras que entraram na composio da
gente sul-rio-grandense, passaram alguns escritores a uma espcie de
dio ao resto, sobre tudo ao castelhano, ao platino e ao
hispano-amergena. Por qu? Fato fato. O que aconteceu, aconteceu.
Tolo despautrio e vo parece esse erro de torcer e ocultar a verdade.
Ela sempre triunfa.
Achamos que a potncia e originalidade mental do homem das
planuras meridionais de nossa ptria reside, capitalmente, na variedade
das fontes do seu esprito. Das mesclas e harmonias que ele extraa dos
esforos e ideais importados, derivou magnfico mundo novo, atravs das
exigncias da adaptao a uma vida cheia dos mais intensos e ativos
caracteres. Como nos fsicos, tambm nos cruzamentos psquicos h
possibilidades e riquezas imensas. O mesmo, nas combinaes sociais de
ordem tnica e histrica."
(Slvio Jlio, Literatura, folclore e lingustica da rea
gauchesca no Brasil, RJ, A. Coelho Branco F, 1962, p. 407).

"El gaucho del Rio Grande del Sur.


En el Brasil se llama gaucho a todo nacido en el Estado de Ro
Grande del Sur, mas el autntico es el que a caballo se ocupa de la
industria ganadera. Hay gauchos del

219

de Paran, Santa Catarina y en el mismo Mato Grosso.


Descienden de ndios, portugueses, bandeirantes, de habitantes
de otras regiones del Brasil y de los antiguos pobladores espaioles de
las llanuras cisplatinas.
Fijadas las fronteras del Estado despus de mochas guerras
contra los castellanos y luego de obtenida la paz tras enconadas luchas
polticas, se distribuyeron tierras a los militares y a los inmigrantes.
especialmente a los de las islas Azores, con la intencin de fomentar la
economia agrcola. En cambio, los recin ilegados dieron preferencia a
la industria pecuaria. Era ms fcil.
Nacieron as grandes estancias, ms de una de las cuales a su
vez fu cuna de una ciudad. Porto Alegre, la capital del Estado, tuvo,
en efecto, su origen en una estancia.
Luego de una gran crisis econmica, la regin conoci la
prosperidade y isto se vi a las claras en los arreos guarnecidos de
plata y en las caronas hechas de piei de yaguaret.
El hablar diario del gaucho brasileo es rico en palabras
castellanas: aquerenciar, guasca, pingo, bagual, pen, cimarrn,
maneador, etc. Por lo dems el fogn, el asado, el mate, la estancia, la
vida misma en poco o nada difiere de la de los gauchos de las llanuras
uruguayas y argentinas. A pesar de ello, el gaucho del Ro Grande del
Sur resalta por su propria, inconfundible y reca personalidad, rodeada
de un halo de hermosas leyendas y un historial interminable de luchas.
Desde muy temprano este gaucho di a sus hermanos del Plata
arneses, costumbres y palabras. Estos a su vez, as como los indios de
las misiones, le dieron otro tanto. De tal modo recebi el poncho al que
llama pala, el lomillo, los pellones, el lazo, las chilenas y las
nazarenas, las botas altas y las boleadoras. Acept el chirip con
cierta resistencia por considerarlo cosa de indio pobre. El tirador es
un delantal de cuero crudo ornado com flecos que o protege de los
tirones del lazo.
Tpico de su indumentara es el sombrero de ala amplia; la
guaiaca (del quichua huayaca, bolsa) o emturn de cuero con un bolsillo
grande; las bombachas anchas y cadas. Lleva el facn con el filo hacia
arriba y siempre acompaado por la chaira o afiador. Va casi siempre
arremangado; el pauelo farrupilha que entao llevaba a media espalda
(como todos los otros gauchos) es herencia de aquel que usaba, anodado
de diversas maneras, en la Guerra de los Farrapos. Aunque le gusta la
guitarra, alegra sus asados con la msica del acorden."
(Bruno y Beatriz Premiani, El Caballo, Buenos Aires, Edigraf,
1975,p. 137).

"A julgar pela autoridade dos arquivos, antes do vocbulo gacho


o que aparece nos documentos de uma e outra banda a palavra gaudrio,
que Bernardo Ibaez de Echavarri introduz em 1770 na sua traduo
castelhana do dirio do padre Tadeu Xavier Henis sobre a guerra dos
Guaranis. Aparece ento aplicada aos aventureiros paulistas que
desertaram das tropas regulares, identificando-se com a vida rude dos
coureadores e ladres de gado: 'hombres Paulistas, que tienen la

220

propiedad y costumbre de vender lo que no es suyo a los quales en el


pais llaman gauderios'.
Seja ou no uma interpolao do tradutor, como afirma
Buenaventura Caviglia e indiretamente se deduz de uma nota de Rodolfo
Garcia ao criticar a fidelidade de Echavarri, a observao coincide com
as deseres numerosas que o prprio Gomes Freire de Andrada consignou,
quando em 1754 chegavam s Misses os 'paulistas e lagunistas
aventureiros'. Ora, qualquer desertor fatalmente era um novo candidato
sociedade dos 'coureadores', 'changadores', 'gaudrios', associao de
rapinagem mais ou menos organizada que chegou a constituir grave
problema para os guardas volantes da campanha.
Esses homens sem lei nem rei, que moravam na sua camisa, debaixo
do seu chapu", mantendo-se num equilbrio estvel entre o ndio e o
branco, foram aproveitados muita vez nas armeadas e na guerra como
campeiros ou bombeiros, mas o seu entendimento com as tropas regulares
de espanhis ou portugueses era um ajuste condicionado s obrigaes
momentneas do servio, combinadas entre as partes, e representava uma
espcie de parntese na sua vida habitual de gaudrios. A sua atividade
marginal estende-se por mais de um sculo da histria do pampa,
perdurando ainda no contrabandista menos abarbarado, quase paisano dos
ltimos tempos, o mesmo carter que distinguia o antigo changador.
Dois modernos historiadores da cidade de Buenos Aires, em obra
documentada, mostraram repetidamente o que foi o esforo de represso
empreendido pelos alcaides da 'hermandad', auxiliados pelos guardas da
campanha: um corre-corre interminvel. Os campos, no obstante,
continuavam cheios de 'vagabundos', 'changadores' e outros desocupados,
que viviam dos gados alheios, do contrabando e da venda de couros e
graxa aos portugueses. "Eran los sujetos, comentam, quienes ms tarde,
a fines del siglo XVIII, se llam gauchos".
O pioneiro do tema, Emilio Coni, afirma, baseado em pesquisas de
don Jos Torre Revello, que a palavra foi citada pela primeira vez em
documento de 1790, justamente um parecer propondo a criao de uma
partida volante, para que "perseguiese y arrestase a los mochos
malvolos, Ladrones, Desertores y peones de todas castas, que llaman
Gauchos o Gauderios..."
Em pesquisa recente, Ricardo Rodrigues Molas encontrou diversas
referncias ao mesmo vocbulo, na segunda metade do sculo XVIII, e j
em 1774 aponta os primeiros testemunhos. De suas acuradas investigaes
no Archivo General de la Nacin, ressai a formao, na fronteira com o
Brasil, de um grupo social constitudo de pees, desertores e ndios,
entregues ao contrabando e ao roubo de gado, muitas vezes a soldo dos
estancieiros de Rio Pardo, ou de hacendados da Banda Oriental. Observa
Rodriguez Molas: "En el documento referido aparece la palavra gaucho
para denominar a ladrones de ganado en la region fronteriza com el
Brasil. Se trata de una comunicacion del comandante del Real de San
Carlos, don Nicols de Elorduy, al gobernador Juan Jos de Vrtiz y
Salce-

221

do, fechada en 24 de setiembre de 1774". O documento reproduz em cpia


fiel a preciosa nota remetida por um subalterno de nome Ignacio Paredes,
que escreve ao seu superior: "Io por salir tan pronto fui con mui poca
Jente que casi los Gauchos me han hecho burla"; e mais adiante: "E nel
Campo se rreconoze que hai muchos Gauchos". Nas comunicaes oficiais o
termo brbaro substitudo por cuereadores. (...)
(...) Mais interessante no caso e mais trabalhoso tambm -
seria mostrar como adquiriu lentamente o termo novos matizes de sentido,
conforme as reaes de meio e momento; como afinal chegou a enfeixar
todo um conjunto de sentidos, que poderiam discriminar-se, a trao
grosseiro, do seguinte modo: logo de inicio, para os capites generais
ou autoridades e primeiros proprietrios de terras - ladro, vagabundo,
contrabandista, coureador: para os capites de milcias e comandantes de
tropas empenhados em guerras de fronteiras - bombeiro, chasque, vedeta,
isca para inimigo, bom auxiliar para o muncio e remonta; nas guerras de
independncia do Prata, ou nas campanhas do sul - lanceiro, miliciano; a
contar de certo momento histrico, no Rio Grande do Sul, para o homem da
cidade - o trabalhador rural, o homem afeito aos servios do pastoreio,
o peo de estncia, o agregado, o campeiro, o habitante da campanha; na
poesia popular, um sinnimo de bom ginete, campeiro destro, com
tendncia para identificar-se com os termos guasca, monarca, e
finalmente, para todos ns, um nome gentlico, a exemplo de carioca,
barriga-verde, capichaba, fluminense.
(Augusto Meyer, Prosa dos Pagos, RJ, Livr. So Jos, 1960, p.
19-22 e 35).

"Ouvindo outro dia o grande repentista Jaime Caetano Braun, numa


de suas gineteadas, sem amadrinhadores, pelos potreiros da poesia
gauchesca, chamou-me ateno, mais uma vez, a singular contribuio de
alemes e seus descendentes aos valores culturais tipicamente
rio-grandenses.
O fenmeno no de hoje, vem de longe. Ento no se pode deixar
de lembrar que Carlos von Koseritz foi dos primeiros a preocupar-se com
o cancioneiro popular gacho, reunindo e publicando quadras, mais tarde
includas por Slvio Romero nos "Cantos Populares do Brasil".
Antecipou-se de muitos anos ao "populno" que viria a ser coligido por
1. Simes Lopes Neto.
Carlos Jansen, outro alemo nato e, como Koseritz, tambm
"brummer", alm de ter participado da redao de "Guaba" (indicado por
Guilhermino Cesar como "o primeiro peridico literrio de importncia
que aqui se publicou"), ainda escreveu "O Patu", novela que lhe abriria
lugar entre os precursores do nosso regionalismo.
Nos domnios da dialetologia logo ocorre o nome de Carlos
leschauer, o qual tambm ilustrou outros campos da cultura
rio-grandense, sobretudo nos estudos de antropologia e histria,
integrando a numerosa e notvel galeria de humanistas e cientistas da
Companhia de Jesus, de atuao marcante

222
em tantos setores da vida rio-grandense, mesmo em atividades prticas,
como o cooperativismo, de que foi fundador, no Estado, o padre Teodoro
Amstad.
Ainda no se fez o levantamento completo das atividades
culturais desses jesutas, tarefa para a qual me parece naturalmente
indicado o padre Artur Rabuske. Em razo da diversificada e vultosa
contribuio jesutica, o trabalho seria enorme, mas no se pode deixar
de empreend-lo, pelo que significa dentro do nosso processo cultural.
Figura na copiosa bibliografia do padre Teschauer uma histria
da erva mate, publicada no "Anurio" de Graciano Azambuja. Por falar
nisso, no recordo se Barbosa Lessa observou, na sua excelente
monografia sobre o "Chimarro", a disseminao do hbito do mate-amargo
nas reas rio-grandenses de colonizao alem. Estou para dizer que hoje
se toma tanto mate nessas reas quanto nas de pura cepa crioula, o que
ilustra uma das muitas facetas da aculturao dos descendentes de
imigrantes teutos aos nossos usos e costumes mais tradicionais.
Encontrando-me outro dia em Estrela, observei trs senhoras, em
diferentes pontos da cidade, tomando mate nas janelas de suas casas e
assim reeditando a clssica postura janeleira, com uma inovao: a
companhia da cuia de chimarro.
Por sua vez, o grande Augusto Meyer, alm de tomador de mate era
inveterado pitador de crioulo, tendo levado esses hbitos guascas aos
lugares ilustres onde pontificou, como a Universidade de Hamburgo. E me
disse certa vez que, se tivesse sido contemporneo de Alcides Maya na
Academia Brasileira de Letras seria homem para trocar o ch dos
acadmicos pelo chimarro galponeiro, tomando-o de mano com o velho
escritor gacho.
Pelas duas correntes de sangue, a alta e a baixa, como se diz no
Stud Book, Augusto Meyer era alemo puro de "pedigree". Poucos,
entretanto, so os nossos escritores to impregnados do sentimento do
pago. Sobretudo na sua obra potica h manchas pampeanas da maior
autenticidade e pureza. Embora depurada pelo intelectualismo mais
refinado, a sua poesia de feio regionalista tem a simplicidade e a
marca do nativismo campeiro. E sendo "o nosso Erasmo", como enfatizou
Alceu Amoroso Lima, pde conciliar o universo do seu enorme saber com o
mundo xucro da antiga campanha rio-grandense.
O teuto-brasileirismo de que falava Jos Fernando Carneiro
parece mais bem definido no Rio Grande do Sul, motivo pelo qual entendo
que a expresso mais apropriada seria teuto-gauchismo. No consigo
explicar, mas existe algo de misterioso, algo de mgico na identificao
de alemes e seus descendentes com a alma gacha. Talvez seja por isso
que o maior e, sobretudo, o mais crioulo dos nossos "payadores" atenda
pelo nome de Jaime Caetano Braun.
o assunto poderia ir longe, permitindo, inclusive, algumas
incurses no terreno das nossas refregas caudilhescas, onde o jeito de
pelear de um certo capito Pimba (de sobrenome Heigert), nada tinha de
prussiano, puxando parelho com o estilo de Honrio Lemes, tambm
conhecido por Leo do Caver e

223

Tropeiro da Liberdade. (Dezembro, 1978)."


(Carlos Reverbel, Teuto Gauchismo, in Saudaes aftosas, P.A.,
Martins Livreiro-Editor, 1980, p. 67-8).

"O gacho, entanto, no s e apenas uma resultante biolgica


das miscigenaes: , tambm, uma resultante psquica de muitas
influncias psicolgicas, desde a agressividade do tape, do charrua, do
minuano, at o aventurismo bandeirante e esse idealismo algo mstico que
os jesutas lhe insuflaram no nimo, formando a civilizao dos Sete
Povos. E a terra, com seu calor, sua seiva, seu encanto e seu capricho,
esteve presente nesse trabalho de modelao fsica e anmica do homem."
(Moacir Santana,A Nova Cidade de Deus, P.A., Globo, 1952, p. 83).

"Gacho eu sou,
nasci feliz,
nesta terra formosa onde estou,
sob o cu do meu lindo pas.

Vim l de fora,
sou laador,
s no pude laar at agora,
o teu amor.

Gacho forte
pra querncia voltarei,
do potreiro dos teus olhos
nunca mais me afastarei!"
(Manoel Faria Corra, Cano Gacho
sou - Conta-nos, Joo Mozart
de Melo, que, na noite de 11 de
maio de 1954, quando era velado,
em Porto Alegre, o corpo de Manoel
Faria Corra, esta cano estava
sendo cantada por um coro na
cidade de Nevada, nos Estados
Unidos).

"Sou monarca nestas plagas.


E livre como o pampeiro.
A campanha meu palcio.
O valor meu escudeiro!

No me seduzem os tronos,
Nem das grandezas o brilho.
Eu tenho tambm um trono
De baixo do meu lombilho!

Pernoito pelas coxilhas,


Sozinho, mas sem receios.
Meu cobertor meu poncho;
Minha cama, os meus arreios!

De lao e bolas nos tentos,


No lombo do meu ginete,
No h quem no me respeite
Nestes campos de Alegrete!

Conheo estes pagos todos,


Como a estncia onde nasci,
Do Uruguai ao Atlntico,
Do Paran ao Chu!"
(Gabriel Pereira. Cano do
Gacho).
"Gacho
Fusin sangunea.
Prestancia ibrica quemada en soles indios.
Nexo herico.
Aurora de flechas, amanecida en filos de facn y botes de lanza,
Centauro de fuego en los rudos cuerpo a cuerpo.
Nervio hecho dolor en cuerdas de guitarra.
Lujo de cicatrices y fiesta de rodajas,
que sern seuelos dei recuerdo
en los ocasos lentos.
Sueo de hornero, majestad de guila.
Hosquedades grvidas de ternura
estrujando en el beso.
Corazn. - Vidalita, madurado en silencios.

224

(Dcimas de Sandlio Santos,


Montevideo, Ed. "Fogon", 1954, p. 67).

"Eu nasci c no Sul, bem na coxilha,


Onde sibila o glido minuano,
E se avista o gacho soberano
Sobre o pingo, no encalo da tropilha.

Deste querido pago eu sou vaqueano


Conheo a sua histria Farroupilha.
Os feitos dos seus filhos na guerrilha,
So glrias eternais de que me ufano.

Seu grande corao Porto Alegre,


A cidade sorriso, sempre alegre,
Bero de um povo altivo e varonil.

Quando, ao citar seu nome, a alma se expande,


Logo se v que falo do Rio Grande,
Sentinela avanada do Brasil!"
(Eugnio Venncio Mascarello,
Minha Terra, in No Reino da Poesia,
ed. da Assoc. de Cultura Literria
de Porto Alegre, 1951, p. 9).

"Gente herica e fadada a um futuro ainda em denso


Vu oculto, porm fatal como o destino
Que no falhando nunca, ou fere de inopino
Ou salva, h no gacho o destemor nativo,
A resistncia, o brio, o carter altivo
Que se no dobra nunca; a vontade inflexvel
De vencer ou morrer quando luta. O impossvel
No o detem, jamais! Seu querer uma reta:
O caminho mais curto entre o desgnio e a meta .
Laos, bolas e poncho, ao corcel rdea solta,
E ei-lo pronto peleja. o gnio da revolta,
Magnnimo entretanto. Ao vencedor estreita
A mo sem se abater. Ao vencido respeita
Se bravo. Se cobarde, o despreza. Um valente
Da fora nunca abusa: odeia nobremente
E mesmo na vingana justo e no bandido.
Alma errante do Pampa, o seu 'fogo' querido
Abre para o inimigo acossado. O churrasco
E o 'amargo' lhe oferece e protege-o. Carrasco
Nunca foi nem ser. Da terra do Cruzeiro,
Exemplo de nobreza, o mais lindo luzeiro.
Atilado, v tudo e, ponta do chicote,
Apara sempre a tempo o disfarado bote.
Se erra e o erro reconhece, emenda-o a um gesto breve,
Sem guardar da traio o ressaibo mais leve.
Trovador instintivo, ama o descante viola;
Improvisa e a poesia harmoniosa se evola
De sua alma, espontnea e doce, como o aroma
Do corao da flor e para tema toma
Sempre o amor, a saudade, a ingratido, o brio,
E gosta de cantar versos em desafio.
Nos dias de 'rodeio' ou de 'carrei-

225

(ra", cedo
Tem o pingo encilhado e vai para um "brinquedo",
De fado e pistola, arrastando as "chilenas".
Amoroso e sensual, morre pelas morenas
Sertanejas gentis de dez lguas em torno...
O gacho! O gacho! Ei-lo alheio ao suborno
Do forte, contra o forte a lana levantando,
E avanando! avanando! avanando! avanando!
(Zeferino Brazil, Alma Gacha, ed.
da Livr. Seibach, P.A., 1935, p. 17).

"Herdou dos espanhis o exagero e os rompantes,


do luso - o aventurismo e o gosto da saudade,
do charrua a amizade aos cavalos velozes,
e o delirante amor sua liberdade."
(Ernani Fornari, O Gacho).

"ALMA GAUDRIA
(Sociognese do Gacho)
"Os rasteadores da Histria
campearam minha memria,
do tempo nas noites grandes,
e me encontraram na Taba,
nos araxs do ameraba
da cordilheiria dos Andes!

Dos sc'los na densa bruma,


a minha origem se esfuma!
Sou alma xucra e gaudria
que vem de tempos sem fim!
Ningum sabe de onde vim,
se de Atlntida ou Sibria!

Talvez fosse um lemuriano,


guardasse n'alma o arcano
da lengendria Lemria
- minha primeira Querncia,
tragada pela violncia
de cataclismos em fria!
Talvez malaio, australiano
ou mongol, ou tasmaniano,
antes de vir para a Amrica!
Sou, hoje, o guasca sulino,
mestio com beduno
l da Pennsula Ibrica!
Sou mescla de vrios sangues!
Dos temidos Caingangues
sinto a fibra em minha raa!
Destas coxilhas sou filho,
cruza de branco caudilho
com amerndia lindaa!
Fui Charrua e Minuano!
Enfrentei o lusitano
nos campos de Caiboat!
Na regio missioneira,
iluminei a fronteira
nas guerrilhas de Sep!
Fui guerreiro, andei lutando...
Surgi mil vezes peleando,
mil vezes tombei na guerra,
eternizando na histria,
numa legenda de glria,
as tribos de minha Terra!
Marquei, com sangue estrangeiro,
deste Torno Brasileiro
as fronteiras que ele tem!
E nelas, qual marco vivo,
deixei meu sangue nativo,
as demarcando tambm!
E se algum, num dia aziago,
quiser tomar este pago,
ser das coxilhas monarca,
h de sentir pelo lombo,
no impacto de cada tombo,
que nossa Terra tem marca!"
(Rui Cardoso Nunes, Alma Gaudria,
P.A., Ed. Pallotti, 1977, p. 13-
14).

GAUDERIAO, s. Ato de gauderiar.

GAUDERIAR, v. Vagabundear, andar

226

errante, de casa em casa, sem ocupao sria, vivendo s expensas de


outrem. Gandular, filar. Vagamundear. Viver sem eira nem beira.
Tornar-se gaudrio.

"Pois o bugre velho meu av, deu ela a meu pai quando deixou de
gauderiar e se parou nos foges." (A. Maia, Alma Brbara, RJ, Pimenta de
Melo &C., 1922, p. 83).

"Gauderiei terra bendita


querendo saber quem s,"
(Fernando T. C. Saraiva, Das Coivaras
do Tempo, P.A., 1958, p. 78).

GAUDRIO, s. e adj. Pessoa que no tem ocupao sria e vive custa dos
outros, andando de casa em casa. Parasita, amigo de viver custa
alheia. Denominao dada ao antigo gacho, em sentido depreciativo. //
ndio-vago, andarengo. // Co sem dono, errante, que acompanha qualquer
pessoa mas logo a abandona para seguir outra, sem aquerenciar-se em
parte alguma. // Pessoa que viaja muito. Gacho.

"Ressalve-se, todavia, a figura dos gaudrios, sem lei nem rei,


aos quais vrios documentos fazem referncia, especialmente ao tempo das
guerras. Sobre seu nmero no se pode ter idia precisa, e quase certo
que nem batizassem filhos nem se deixassem arrolar em recenseamentos."
(Srgio da Costa Franco, Origens de Jaguaro, IEL/UCS, 1980, p. 97).

"Hacia fines del siglo XVIII estos inestables pobladores


frontenizos fueron designados por los paulistas con otra palabra
portuguesa, gauderios que, para resumir, significaba juerguistas y
vagabundos (gaudrio en Brasil llaman tambin al renegrido, ave sin nido
propio)." (Bruno y Beatriz Premian, El Caballo, Buenos Aires, Edigraf,
1975, p. 128).

"Houve histria e correu lenda


que escutei numa fazenda
que foi do pai do meu pai,
sobre o Vasco, esse gaudrio
que hoje est no cemitrio
de onde nem gacho sai."
(Jos Jlio Barros, "... E a de '30'
ele no fez. ", indito).

"Nasci gaudrio, me criei ufano,


amando a terra, venerando o pago
e duvidando que de um ndio-vago
a sua histria fosse desengano."
(Luiz Alberto de Menezes, Tropa
Amarga, indito).

"Gaudrio vertente humana


serpenteando pelo cho
que de rinco em rinco
vai buscando novo alento;
inconstante como o vento
num upa - mudando rumo,
- sol nascente - sol a prumo...
s estrada no pensamento!"
(Marco Polo Giordani, De Rumo
Feito, P.A., Martins livreiro-Editor,
1981, p. 51).

"Gaudrio... ndio-vago ... Andarengo... o gacho, sem eira nem beira,


que vive solto, sem querncia, sem destino, cruzando pelos caminhos da
vida. Porm, sempre aonde retorna, recebido com muita alegria, muito
carinho... e muita curiosidade!" (Dimas Costa, Pelos Caminhos do Pago,
P.A., Sulina, 1963, p. 142).

"Como ele anda sempre de gaudrio, na estrada, talvez no demore


a aparecer." (E. Contreiras Rodrigues, Amores do Capito Paulo Centeno,
P.A., Globo, 1937, p. 99).

227

"Campiei alm do mundo


meu brete definitivo
Agora,
a boleadeira que trancei
do amor
vai ter uma manicla.
E o rancho do gaudrio
um ponto fixo
no mapa do Rio Grande."
(Lus Alberto Ibarra, Cano do
Sul, 1958).

GAVAR, V. Gabar.

GAVIO, adj. Diz-se do cavalo arisco, matreiro, que dificilmente se


deixa apanhar. Fem.: gaviona.

"A amplitude dos campos, a suavidade do clima, a beleza das


noites enluaradas e dos dias plenos de sol, a flora sem a agrestia e as
as perezas do serto, as aves e os animais de pequeno porte, sem maior
ferocidade, as enormes pontas de gado alado, as manadas de guas
gavionas, tudo isso compunha um quadro, de esplndido efeito, de
paisagem animada, aguando a imaginao e desafiando o esprito criador
do homem." (Salgado Martins, Aspectos do Continente de So Pedro, in
Correio do Povo de 23-3-1968).

GAVIONAO, adj. Diz-se do animal muito matreiro, muito arisco, muito


gavio.

GAVIONAR, v. Fugir, o animal, correndo pelo campo, procurando no se


deixar apanhar. Tornar-se o animal gavio, matreiro, arisco. //
Aplica-se tambm s pessoas: "Tanto gavionou, que acabou brigando com a
noiva." // Significa, ainda, andar esquivo, fugir, vagabundear.

GAVIONICE, s. Ato de gavionar, esperteza, alarifagem, velhacada.

GEBO, s. Zebu.

GEBITO, s. Diminutivo de gebo ou gebu.

GEBU, s. Zebu.

GEMER NAS PUAS, expr. Estar sofrendo castigo moral ou tendo


aborrecimentos, em conseqncia de faltas cometidas.

GENEROSO, s. Ente fantstico, prazenteiro e brincador, que, conforme


lenda missioneira, entrava invisvel nas casas, passeava nos quartos e
salas fazendo estalar o madeiramento, fazia tinirem as cordas da viola,
assobiava nas juntas das portas e janelas, soprava as chamas das velas
devagarinho, e fazia muitas outras brincadeiras.

"E muitas vezes - at o tempo dos farrapos -, quando se danava


o fandango nas estncias ou a chimanita nos ranchos do pobrerio, o
Generoso intrometia-se e sapateava tambm, sem ser visto; mas
sentiam-lhe as pisadas, bem compassadas no rufo das violas... e quando o
cantador do baile era bom e pegava bem de ouvido, ouvia, e por ordem do
Generoso repetia esta copla, que ficou conhecida como marca de estncia
antiga: sempre a mesma...

Eu me chamo Generoso,
Morador em Pirap:
Gosto muito de danar
Coas moas, de palet..."
(Simes Lopes, Contos Gauchescos
e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1957,
p. 343).

"Sobre a madrugada, metidos na teorga, comeam a ver


almas-de-outro-mundo. Ento o chiru manda parar as violas e improvisa:

- Meus senhores e senhoras,

228

No quero mentir, eu vi
A assombrao do fandango;
O Generoso anda aqui."
(Pi do Sul, Farrapo, Globo, 1935,
p. 108).

"Ou no ser o Generoso


num fandango de terreiro,
repinicando, manhoso,
a viola dum carreteiro?"
(Dirceu A. Chiesa, O Gnio dos
Pagos, P.A., Livr. Continente, 1950,
p. 74).

GENTALHA, s. Gente de classe inferior. Gentama. Gentinha.

GENTAMA, s. Reunio de muita gente; multido; grande nmero de pessoas.


Gentarada, gentalha. Gentinha. Grande quantidade de gente de classe
inferior.

"Gentama perambulante
que nunca-esquenta-lugar.
H o gaudrio e o teatino,
gachos bem haraganos,
que tm como seu destino
o destino dos ciganos.
So, como muito lhes convm,
graxeiros e coureadores,
os da Terra-de-Ningum."
(Hlio Moro Mariante, Fronteira do
Vaivm, P.A., Imprensa Oficial do
Estado, 1969, p. 31).

"E logo no derredor a gentama tambm se foi arrodilhando..."


(Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p.
32).

"Quem so,
De onde provm esta gentama de feio asitica,
Pele cor-de-canela,
Face triangular,
Olhos amendoados?!"
(Ramiro Frota Barcelos, Romanceria
Gauchesca, So Leopoldo, Ed.
Rotermund, 1966,p. 18).

"Singularizava-se pelo alce do porte com que encarava aquela


gentama." (Cyro Martins, Paz nos Campos, P.A., Globo, 1957, p. 13).

GENTARADA, s. Gentama, gentaria, multido.

GENTARIA, s. Gentarada, gentama, reunio de muita gente.

GENTERIO, s. Grande quantidade de gente. Multido, gentama, gentalhada,


gentarada, gentaria, gentinha.

GENTINHA, s. Gentalha. Gente de classe inferior.

GERVAOZINHO, s. Espcie de gervo que d nas hortas.

GIBU, s. Zebu.

GINETAO, s. Superlativo de ginete. Pessoa que cavalga bem e com garbo.

GINETE, s. Pessoa que monta bem, com firmeza e com garbo. Bom cavaleiro,
domador. // O vulto de um homem a cavalo.

GINETEAO, s. Ato de ginetear.

GINETEAR, v. Montar a cavalo com firmeza e com garbo; andar em animal


arisco ou xucro, fazer o animal corcovear, agentar corcovos.

"Atrs dos gachos, que se iam acercando do terreiro, outros


cavaleiros gineteavam com galhardia." (Aurlio Porto, O Tesouro do
Arroio do Conde, P.A., Globo, 1933, p. 34).

"Por Ti... - A mais linda triguera!


gineteio a vida intera
no lombo do meu Destino!..."
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1981, p. 88).

"Muito cedo, pouca idade,

229

Gineteava de verdade,
Apenas por distrao."
(Jacyr Menegazzi, Alma do
Gacho).
GIRADOR, s. Virador. Pessoa diligente na conduo de seus negcios.

GIRO, adj. Diz-se do galo de plumas escuras com penas brancas e


prateadas.

GOIACA, s. O mesmo que guaiaca.

GOIANZEIRO, s. Capinzal, matagal cerrado.

GOLA-DE-COURO, s. Soldado, milico, miliciano.

GOLE, s. Cafezinho, xcara de caf. Emprega-se tambm um goles. (Usado


em Bom Jesus, conforme registro feito pelo Prof. Breno Osrio Marques).

GOLPE, s. Trago, gole. (Portugus antigo).

GOLPEADO, adj. Diz-se do indivduo que toma resolues irrefletidamente,


de golpe. Impulsivo, leviano, tonto.

GOLPEAR. v. Puxar com violncia o lao, quando laado o animal. //


Jogar-se, arremessar-se, atirar-se: "Golpear-se no cho", isto ,
arremessar-se no cho.// Latejar.

GOLPEAR NA BOCA, expr. O mesmo que bater na boca.

GOLPE DE HOMEM, s. Homenzarro.

GOLPE DE GENTE, s. Grupo de pessoas.

GORDACHO, adj. Gordao, gordalhao, gordalhudo, gordalho, gordo,


gordalhufo, muito gordo, gordssimo, gorducho.

GORDUCHO, s. Diz-se do indivduo muito gordo, pesado e lerdo. Aplica-se


somente a pessoas.

GOSTOSURA, s. Grande gosto, intenso prazer.

GOVERNAR, v. Obedecer o cavalo ao das rdeas. Com este verbo, ora o


animal agente ora paciente da ao de governar: "O cavalo governa
mal", isto , no sabe obedecer convenientemente ao das rdeas; "O
cavaleiro governa mal o seu cavalo", isto , o cavaleiro no sabe
governar o animal. // Possuir juzo anormal: "Fulano no governa bem",
isto , no regula bem da cabea.

GOVERNICHO, s. Denominao deprimente que os imperialistas deram ao


governo republicano de 1835. // Governo efmero instalado no Rio Grande
do Sul em 1891 por uma dissidncia do Partido Republicano Rio-Grandense,
o qual teve a durao de sete meses.

GOVERNO DO RIO GRANDE, s. Antiga denominao do Estado do Rio Grande do


Sul.

GRALHA, s. Ave da famlia dos Corvdeos que, no Sul do Brasil,


considerada como plantadora de pinheiros.

"O pinheiro de que falo,


por uma gralha plantado,
de pequenino e mirrado
como um ponto na planura,
com os sculos passando,
foi crescendo, foi se alteando,
ficando de tal altura
que o cu j estava tocando."
(Zeno Cardoso Nunes, O Causo do
Pinheiro).

GRAMEAR, v. Agentar, aturar, sofrer, suportar.

"Sempre na mesma querncia,


com a mesma emoo sentida,
livres da inveja e da injria
vamos grameando a penria
dos impossveis da Vida."
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1981, p. 21).

GRANAR O CATETE, expr. Realizar-se o fato como estava previsto. "Ele


pretendia conseguir aquilo tudo, mas no granou o catete", isto , no
se realizou o que ele pretendia.

GRANDUMBA, adj. Diz-se de pessoa grandalhona, porm mole, pouco ativa.

GRANEAR, v. Granar. Criar gro, o milho, o trigo etc.

GRANITO, s. Assado que se tira de cima do osso do peito da rs, e que


formado de grnulos rijos de tecido gorduroso.

GRO-DE-GALO, s. Denominao de um arbusto que produz uma frutinha


amarela do tamanho de uma ervilha (Celtis tala, Gil.).

GRAPIAPUNHA, s. rvore gigantesca cuja madeira presta-se para pranches


e vigas (Apuleia praecox).

GRASPA, s. Aguardente obtida pela destilao das borras do vinho;


aguardente destilada do bagao de uvas, tambm chamada bagaceira.

GRAVAT, s. Caraguat.

GRAVATA, s. Degola, decapitao. O mesmo que gravata colorada.

GRAVATA COLORADA, s. Gravata, degola, decapitao. "Passar a gravata


colorada", significa degolar.

GRAVAT-DO-CAMPO, s. Planta da familha das Umbelferas.

GRAVATAZAL, s. Lugar onde existe grande quantidade de gravats.

GRAVATEADOR, s. O que gravateia, o que degola, o que passa a gravata


colorada. Degolador, magarefe, bandido.

GRAVATEAR, v. Degolar, decapitar, assassinar por degolamento, passar a


gravata colorada.

GRAXAIM, s. Guaraxaim, sorro, zorro.

230
Pequeno animal semelhante ao co, que gosta de roer cordas,
principalmente de couro cru e engraxadas ou ensebadas, e de comer aves
domsticas. Sai, geralmente, noite. muito comum em toda a campanha.
Seu nome cientfico Canis azara.

"La vem o guaraxaim


Com cara de disfarado:
Ele vem comer galinha
E soltar cavalo atado".
(Quadrinha popular).

GRAXEAR, v. Namorar.

"... e, todavia, Neco Alves, se assim pensava, no sentia assim:


respeitava as mulheres, graxeava delicadamente com todas as moas
bonitas da redondeza..." (A. Maia, Alma Brbara, RJ, Pimenta de Melo &
C., 1922, p. 28).

GRAXEIRA, s. Panela grande ou caldeiro onde se fervem os ossos e se


derrete o sebo da rs, para extrair a graxa. // Lugar onde, nas
charqueadas ou nas estncias, instalado esse caldeiro.

GRAXENTO, adj. Que tem muita graxa, gordo, graxudo, lambuzado de graxa.

GRAXUDO, adj. Diz-se do animal que tem graxa, que est gordo. Graxento.

GRIMPA, s. Ramo de pinheiro. espinhento e muito fcil de queimar,


prestando-se para a feitura de fogueiras, em poucos segundos, as quais,
embora tenham pequena durao, servem para fazer-se sapecadas de
pinhes, ou para aquecer o caminhante nos dias de frio intenso. //
Petulncia, atrevimento. (V. as expresses abaixar a grimpa e levantar a
grimpa).

GRINDLIA, s. Planta medicinal usada em xaropes.

GRINFO, s. Moreno, crioulo, namorado.

231

GRINGADA, s. Reunio ou grupo de gringos. Gringalhada.

GRINGALHADA, s. O mesmo que gringada.

GRINGO, s. Denominao dada ao estrangeiro em geral, com exceo do


portugus e do hispano-americano.

"S com a chegada dos gringos


dos frigorficos introduziu-se o uso
compulsrio da balana nas operaes de gado para abate." (Carlos
Reverbel, Um Capito da Guarda
Nacional, P.A., UCS - Martins
livreiro, 1981, p. 20).

"Gringo, de modo geral, no Rio Grande do Sul, o italiano, mas


tambm denominam assim os de outras nacionalidades, exceto o portugus,
que galego." (Valter Spalding, Tradies e Supersties do Brasil, RJ,
Organizao Simes, 1955,p. 156).

"Gringo guasca da coxilha,


j ningum o colhe e pega
com o freio na macega,
nem lhe passa o maneador.
Flor de Roma ou da Alemanha,
come carne, bebe canha,
bom de queixo no que for!"
(Padre Pedro Lus Bottari, O Gnio
do Pampa, 3 ed.).

GRITAR BURACO, expr. Desafiar, nas canchas de carreira, qualquer


competidor. O mesmo que gritar sem reserva.

GRITAR SEM RESERVA, expr. Significa, em carreira de cavalos, desafiar


qualquer competidor, no temer adversrio algum, venha de onde vier. O
mesmo que gritar buraco.

GRITO, s. Voz de alarma.

GRITO ENVULTADO, expr. Condio de corrida de cavalos em que, no quarto


obrigado, o juiz dar o sinal de largada quando os parelheiros
envultarem defronte ao lao de sada.

GROSSEIRA, s. Urticria, jacomea, coceira.

GROTA, s. Socavo, furna, gruta, desbarrancado, vale profundo.

GROTO,s. Aumentativo de grota.

GRUDAR, v. Dar, pespegar: "O cachorro grudou os dentes no menino", isto


, deu-lhe uma mordida; "O domador grudou um relhao no aporreado"; "O
bandido grudou uma bofetada no bodegueiro mas caiu ali mesmo varado pela
faca."

GRUDE, s. Namoro, derrio.

GRULHA, s. e adj. Valente, animoso, destemido, orgulhoso, audacioso,


temido por suas faanhas. Grulho.

GRULHAO, s. e adj. Muito grulha.

GRULHO, s. Sabugo que, depois de debulhado o milho, serve para certo


jogo, que consiste em cada jogador segurar um sabugo por uma das
extremidades, para que seu competidor bata nele, com outro sabugo,
tentando quebr-lo. Tambm chamado jogo do turco. // Em sentido
figurado, pessoa valente, resistente, guapa.

GRUMAT ou GRUMT, s. Corumbat. Nome de um peixe de gua doce.

GRUNIR, v. Trabalhar intensamente, afanosamente. // Sofrer muito, ou


resistindo a dores, ou esforando-se para conseguir algo. Suportar
incmodos, aborrecimentos; curtir, agentar. " O mesmo que gurnir.

GRUPETE, s. Pequeno grupo.

GUABIJU, s. Fruta silvestre, comestvel, semelhante jabuticaba, porm


um pouco menor e que no cresce presa ao tronco como aquela. // Nome da
rvore que d esse fruto. Guabijueiro, guabi-

232

luzeiro.

GUABIJUEIRO, s. rvore da famlia das Mirtceas, que produz o guabiju.


Guabiju, guabijuzeiro.

GUABIJUZAL, s. Lugar onde h muitos guabijuzeiros.

GUABIJUZEIRO, s. O mesmo que guabijueiro ou guabiju.

GUABIROBA, s. Fruta silvestre, comestvel, de cor amarela, muito


custica quando ainda no bem madura.

GUABIROBEIRA, s. rvore da famlia das Mirtceas, que produz a


guabiroba.

GUACHINHO, s. Diminuitivo de guacho, muito usado em Cima da Serra.


Guachito.

GUACHITO, s. Diminuitivo de guacho, muito usado na Fronteira. Guachinho.

GUACHO, s. e adj. Animal ou pessoa criado sem me ou sem leite materno.


(O Vocabulrio Ortogrfico da Lngua Portuguesa, organizado de acordo
com as instrues aprovadas pela Academia Brasileira de Letras, na
sesso de 12 de agosto de 1943, registra guaxo, com 'x' em vez de 'ch'.

"Guacho - vocbulo corrente no Rio Grande do Sul, no se


trata, porm, de um brasileirismo e sim de um americanismo.

Lemos em A. Malaret:

"Guacho (del quich. huachu, ilegtimo, o del aimar, huajch e


watcha: quejar-se), adj. Chile, Peru y Rio de la Plata: Hurfano, sin
padres, tanto persona como animales, extensivo a cosas para indicar que
estn solas sin compaeras. 2) Chile: Planta que h nacido sin ser
sembrada. 3) Peru: Pedao de billete de loteria. 4) Ecuad.: Surco del
arado. En Colombia dicen guachico (del quich. huachicuk, surco,
camelln). 5) Mex. Sinnimo de guacho: la persona del interior de la
Repblica. 6) C. Rica e Panam: arroz aguado, espcie de sopa espesa,
carne a base de arroz que sirve ordinariamente a los peones. Huevo
guacho. Bol. y Urug. El que no incumba la hembra". (Dicionrio de
Americanismos, 3 edio, pg. 444).
Como se v o vocbulo empregado em quase todos os pases da
Amrica.
D. Eleutrio Tiscornia definiu:
"Guacho: Animal tierno sul madre. Se dice comumente de las rezes
del ganado vacuno, cabalar e lanar". (Martin Fierro, pg. 37, Ed.
documentada por Manoel Lisandro Borda escreveu o seguinte, pgina 179
de Voces Tucumanas Derivadas del Quichua:
Guacho: Voz comn em la provncia, pero ms em la Capital y
entre personas ms o menos cultas.
El campesino sacie usar la forma pura guascho".
Juan B. Selva, notvel fillogo argentino, escreveu pgina 137
de Q'ecimiento del Habia: Guacho (del quichua; es dado tambin como der.
del aimar o chibcha: animal que se cria sin madre, hurfano, bijo
ilegitimo. Esta voz se usa en toda la Amrica del Sur, con ligeras
variantes de significado".
O Mestre argentino declara ser voz orginria do quchua e de uso
em toda a Amrica do Sul. Como, pois, classific-la de brasileirismo? Em
escritores rio-grandenses, encontramos, por vezes, o vocbulo guacho,
como nos trechos seguintes:
"... criados guachos, em casa foram garroteados a faco". (Ma-

233

noel Acauan, Ronda Charrua, pg. 116).

"Na relva fresca escabujava um potrilho guacho (ibidem, pg.


167).

"... s cria de guacho para a mo".


(F. Contreiras Rodrigues, Gauchadas e Gauchismos, p. 82).

Jos Hernndez empregou guacho na seguinte passagem de Martin


Fieira:
"Le dije 'Que le aproveche,
Que habia sido pa el amor
Como guacho pa la leche".
(Versos n 1818, 1819 e 1820).

(A. Tenrio D'Albuquerque).

"Eu no fui criado guaxo,


Graas ao Deus Soberano.
Mamei at o sobre-ano
Sem misrias nem surpresas,
Porm conheo as tristezas
Dos guaxos - sem lar nem teto
Sei que a fome de afeto
a mais cruel das pobrezas.

E por ter pena dos outros,


Que andam soutos na terra,
Que quando esse guaxo berra
Meu peito xucro se amansa,
Pois eu sinto - na confiana
Que inspiro ao pobre borrego
O mesmo anseio de achego
Que eu tive - quando criana."
(Jaime Caetano Braun, Potreiro
de Guaxos, P.A., Ed., Champagnat,
1965,p. 17).

GUACO, s. Planta medicinal de que h no Rio Grande do Sul duas


variedades, a saber: Guaco da Serra, Mikania officinaus, Mart, e Guaco
do quintal, Mikania scandens, Wild, ambas da famlia das Compostas.

GUAUZAL, s. Campo grosso, coberto de capim guau.

GUAIACA, s. Cinto largo de couro macio, s vezes de couro de lontra ou


de camura, ordinariamente enfeitado com bordados ou com moedas de prata
ou de ouro, que serve para o porte de armas e para guardar dinheiro e
pequenos objetos. Var: Goiaca. (Etim.: Vem do quchua, huayaca, que
significa bolsa).

"... outros empenhavam as palavras em apostas, calculavam tiro e


peso de cavalos, batiam nas guaiacas pejadas de dinheiro" (A. Maia,
Runas Vivas, Porto, Lello & Irmo, 1910,p. 156).

"- Pois amigo! No lhe conto nada! Quando botei o p em terra na


ramada da estncia, ao tempo que dava as - boas-tardes! - ao dono da
casa, agentei um tiro seco no corao... no senti na cintura o peso
da guaiaca". (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul, 4 ed.,
P.A., Globo/Inst. Nacional do Livro, 1973, p. 8).

"Nesse instante estudava as guaiacas. Que guaiacas! A do


Antnio, principalmente. Toda de couro trabalhado, guarnies de prata.
Estofadinha, talvez de puras onas. Alis a guaiaca estava de acordo com
o apero do animal, do freio ao estribo, tudo luzindo de prata peruana.
Bem que diziam que na fronteira chegava muita prata do Peru." (Lothar
Hessel, Brava Gente, So Paulo, Saraiva S.A., 1959, p. 32).

"A bombacha eu vesti, a mais rodada,


minhas botas de cor bem amarela.
Com a guaiaca de couro e recheada,
a cavalo me fui pra casa dela."
(Anita R. Gonzales, Meu Rio Grande
do Sul, P.A., Sulina, 1953, p.
37).

234

GUAIACANAN, s. e adj. Uma das naes indgenas que habitavam o Rio


Grande do Sul; estes ndios viviam pelos campos da Vacaria, e logo foram
extintos.

GUAIAMBE, s. O mesmo que guaimb.

GUAICURU, s. Planta adstringente usada contra hemorragias e fluxos


intestinais.

GUAIMB, s. Planta parasita que nasce geralmente no alto das rvores de


grande porte, e de l lana razes para o solo, soltas ou enroladas no
tronco, como verdadeiras cordas de um centmetro ou mais de dimetro.
Das cascas dessas razes se confeccionam cestos, cordas e outros
utenslios. As folhas so grandes, de cor verde-escura, lembrando as do
inhame, porm mais resistentes. Seu fruto comestvel, quando assado. O
guaimb, que vive tambm no cho, formando grande reboleira, tambm
planta de adorno nos jardins. Suas folhas tm propriedades medicinais
tanto em cozimento como em maceraKo. da famlia das Arceas:
Philodendron Sp. (Seu timo tupi Ym-mb, que significa planta que se
arrasta, planta rasteira).

GUAINXUMA, s. O mesmo que guanxuma.

GUAIP, s. O mesmo que guaipeca.


GUAIPECA, s. Co pequeno, cusco, cachorrinho de pernas tortas, cozinho
ordinrio, vira-lata, sem raa definida. // adj. Pequeno, de minguada
estatura. // Aplica-se, tambm, s pessoas, com sentido depreciativo. //
O mesmo que guaip, guaipeva e guapeca. (Parece provir do guarani).

"D-lhe uns tires na canela,


Pra que no fique guaipeca."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
21 ed., P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1978, p. 16).

GUAIPECADA, s. Uma poro de guaipecas.

GUAIPEVA, s. O mesmo que guaipeca.

GUAIPEVADA, s. O mesmo que guaipecada.

GUAIQUICA, s. Pequeno animal, raro no Rio Grande do Sul.

GUAJUVIRA, s. rvore (Patagonula americana) que produz excelente madeira


de construo.

GUAMERIM, s. Arbusto de pequeno porte, de madeira de extraordinria


dureza. Os revolucionrios de 1893 preparavam lanas com as hastes deste
arbusto.

GUAMPA, s. Chifre, corno, aspa. // Chifre preparado para ser usado como
copo ou como vasilha para guardar lquidos. H guampas com trabalhos
artsticos, como esculturas feitas nelas a canivete, ou revestimentos de
prata ou de ouro. Existem pequenas guampas, providas de uma tira de
couro ou corrente metlica fina, que so conduzidas na parte dianteira
do serigote e usadas para beber gua, nas travessias de rios e arroios,
podendo ser enchidas de cima do cavalo. (Etim.: Parece provir do
quchua; vocbulo muito usado nas Repblicas Platinas; no Chile dizem
guampara).

"Ir ao curral e, mesmo na porteira,


Uma guampa beber de leite quente,
Sovar a palha e ir picando o fumo,
A conversar com essa boa gente..."
(Mcio Teixeira).

"Dependuradas vasilhas de vrias formas e guampas cheias de


leite; ..." (Ovdio Chaves, Cho de Infncia, P.A., Sulina/IEL, 1980, p.
21).

"Pelas tardes feiticeiras,


A vagar no verde pampa

235

Ou nas coxilhas peladas,


Devastava as laranjeiras
Bebia apojo na guampa
E errava pelas canhadas."
(Hugo Ramrez, Cancioneiro da
Estrada, Uruguaiana, Livr. Novida-
de Editora, 1956, p. 32).

quase incrvel ver-se aqui nos pampas


onde h florestas de luzentes guampas
faltar a carne que d fora e nutre!
Se algum disso culpado, oculte o nome,
pois a mo de quem v os filhos com fome
toma a forma da garra de um abutre!"
(Zeno Cardoso Nunes, Carne
Racionada).

"Do nosso gado bom, gado fraqueiro, resta l um que outro par de
guampas!" (Rui Cardoso Nunes, Tropilha Perdida).

GUAMPAO, s. Guampada. Golpe dado com a guampa. // Guampa grande,


bonita, bem trabalhada.

GUAMPADA, s. Chifrada, guampao. Golpe dado pelo bovino, com as guampas.


Pancada com uma guampa. // O lquido contido em uma guampa.

GUAMPA-TORTA, s. Indivduo valente, ventana, quebra, destemido. //


Criador de casos, intrometido.

GUAMPEAR, v. Laar o animal pelas guampas. // Agredir, o vacum, com as


guampas ou chifres. // Ser infiel, a mulher, ao homem com quem vive.

GUAMPINHA, s. Pequena guampa, provida de uma tira de couro ou corrente


fina, que o gacho costuma conduzir presa cabea do lombilho, para
beber gua, sem apear-se, nas travessias de rios ou arroios. Comumente
esculpida a canivete e enfeitada com aplicaes de prata, e at de ouro,
fazendo parte dos arreios.

GUAMPUDO, adj. Que tem grandes chifres, chifrudo. // Diz-se, tambm, do


homem cuja mulher lhe infiel.

GUANXUMA, s. Guaxima. Arbusto baixo, de razes profundas, muito resistente. O


cozimento de suas folhas e
hastes usado para a cura da caspa e
como tnico para o abelo. // O
mesmo que guainxuma e guaxuma.

GUAPEAR, v. Mostrar nimo, coragem, valor, resistncia: "A gauchada


continua guapeando apesar de agredida por todos os lados". Resistir
ao do tempo, durar: "Este poncho j tem dez anos de uso, mas ainda
est guapeando"; "A doena do velho tem sido longa, mas ele vai
guapeando, apesar da idade avanada."

GUAPECA, s. O mesmo que guaipeca.

GUAPETAO, adj. Muito guapo, valente, animoso, valoroso. Guapeto.

GUAPETAGEM, s. O mesmo que guapeza.

GUAPETO, adj. Muito guapo, valente, animoso, valoroso, fanfarro.


Guapetao.

GUAPETONAGEM, s. O mesmo que guapeza.

GUAPETONEAR, v. Guapear, mostrar nimo, coragem, valentia. // Ostentar


fanfarrice, aparentar ares de valento.

GUAPEZA, s. nimo, valor, resistncia, bravura, fortaleza, valentia;


guapice.

GUAPITO, adj. Diminutivo de guapo.

GUAPO, adj. Forte, vigoroso, valente, bravo.

"Na terra boa e frtil que era tua,

236

Aperfeioando o arado do charrua.


Para o labor das lutas pastoris,
Tu - ndio macho, Tiaraju valente -
Foste o supremo chefe desta gente,
Dos guapos, indomveis, guaranis."
(Fernandes Barbosa, Sep - o
Morubixaba Rebelde, P.A., Tip. Santo
Antnio, 1964, p. 10).

GUAPORITI, s. Fruto do guaporitizeiro.

GUAPORITIZEIRO, s. rvore que vegeta em geral na beira dos rios e que


produz um pequeno fruto comestvel.

GUAR, s. Um quadrpede candeo, carniceiro, que vive nos banhados, hoje


raro no Rio Grande do Sul. Seu couro, provido de plos altos,
apreciado para pelego. // Ave de bela plumagem cor-de-rosa
(Phoenicopterus chilensis), tambm denominada flamingo.

"No se chegue pra meu lado


Com manhas de sorra mansa
Que eu sou guar ressabiado
Que guaipeca no alcana."
(Vargas Netto, Tro pilha Crioula e
Gado Xucro, P.A., Globo, 1959, p.
34).

GUARAIPO, s. Espcie de abelha, que produz mel muito apreciado, com


propriedades medicinais. Guarapu. Essa abelha, quando pressente a
aproximao de algum, pra de trabalhar, ficando em completo silncio,
para despistar o possvel melador. // Em sentido figurado, aplica-se ao
indivduo ladino, velhaco, dissimulado.

GUARAPA, s. Caldo de cana.

GUARAXAIM,s. O mesmo que graxaim.

"Cobra bicho traioeiro,


Guaraxaim disfarado,
Quando se sente pegado
Deita e se finge de morto."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1978,p. 19).
GUARDA-FOGO, s. Grande toro de lenha que conserva sempre aceso o fogo do
galpo. O mesmo que trafugueiro, chico, pai-de-fogo e me-do-fogo.

"O guarda-fogo o tio


Onde o foguito amanhece;"
(Chico Ribeiro, Filosofia Campeira,
p. 20).

"O inverno. O fogo caseiro.


O guarda-fogo de angico.
e as labaredas lambendo
os gravetos muito secos
que o braseiro retorcia."
(Ovidio Chaves, Cho de Infncia,
P.A., Sulina/IEL, 1980, p. 14).

GUARECER, v. Restabelecer-se, fortalecer-se, sarar, melhorar de estado


fsico.

"Livre de tal solitria


O Chimango guareceu,
No engordou, mas cresceu
E ficou mais espertinho;
Foi pra casa do padrinho
Que de pena o recebeu."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
21. ed., P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1978, p, 29).

GUARIBA, s. Pelego curtido e pintado, em geral forrado de pano.

GUARUPU, s. Abelha silvestre semelhante mandaaia.

GUASCA, s. Tira, correia, corda de couro cru, isto , no curtido. //


Denominao dada aos rio-grandenses pelos filhos de outros Estados, pelo
fato de neste, em vista da predominncia da indstria pastoril e da
carncia de outros materiais, haver sido generalizado o emprego do couro
para as mais diversas finalidades. Esta designao, a princpio, teve
significado pejorativo, sendo hoje perfeitamente aceita pelos
rio-grandenses que dela se orgulham.

237

Denominao dada, no Rio Grande do Sul, pelos habitantes das


cidades aos moradores da campanha. // Homem rstico, forte, guapo,
valente. // Gacho, // (Pop.) O pnis. (Etim.: Parece provir do quichua,
huasca, que significa soga, cordel).

"O escasso comrcio de couros mantido pelos jesutas, a dar


crdito observao de Cardiel, encontra explicao na urgncia do seu
aproveitamento para diversos fins. Quanto s Misses, so os padres
Anton Sepp e Muriel que nos fornecem documentos mais caractersticos da
chamada idade do couro. Entrava na confeco de tudo: caixas e arcas,
cestas e sacos, toldos de carretas ou embarcaes; pelotas, redes, os
prprios caixes morturios eram feitos de couro, em vez de pregos,
correias, em vez de paredes internas, armaes de madeira revestidas de
couro; retovavam-se os canhes, e eram de couro todos os ranchos dos
antigos posteiros. Refere um documento citado por Muriel e reproduzido
em Teschauer: "Os couros, ainda falando dos de curso comercial, se
consomem quase todos nos povos para vrios usos... No h nas casas
caixa grande nem pequena nem cesto que no se fabrique inteiramente de
couro. Os gros e legumes se guardam no em celeiros seno em sacos de
couro. De couro se fazem as correias que se usam em vez de cordas de
maromas, seja para obras pblicas, seja para privadas, e para travar
entre si os pavimentos e as estacadas. Quando o carro ou outro veculo
se estraga ou uma parte dele comea a apartar-se de outra, no se compe
com pregos, seno com tiras de couro. A cobertura dos carros de couro.
As escadinhas fabricadas de taquaras que usam para os galinheiros,
tambm lhes pegam couro. A maior parte dos canhes que tm, so de
madeira igualmente forrada de couro. Os botes para passar os rios que
chamam pelotas, so inteiramente de couro. As vigotas dos edifcios ou
dos telhados se prendem, no com pregos como em outras regies, seno
com cordas de couro at formarem grade. Suas casinhas muitas vezes as
cobrem no com madeira mas com couro. Suas armas no s as tm colocadas
sobre um tecido de correias, mas muitas so inteiramente de couro. As
paredes em muitas partes so ali uma construo que chamam de taipa
francesa e se reduz a uma grade feita de estacas e troncos travados com
troos de correia e revestida de barro".

Um viajante que passara por Montevidu durante a sua primeira


fase de construo, observou quarenta casas de couro e s duas de
material. A mesma observao faria outro viajante, ao passar pelo Rio
Grande, como ressalta de uma das pginas mais interessantes de Alfredo
Varela na sua Histria da Grande Revoluo, pgina que poder servir de
moto a estes comentrios, alm de esboar um resumo vivo da idade do
couro no Continente: "Era com o couro bruto, escreve o historiador
gacho, que se obrava o fechamento das poucas aberturas da casota, e
tinha o mesmo preponderante emprego na elaborao de quase todos os
mveis domsticos: estrados dos leitos, assentos dos escabelos, forro da
poltrona nica destinada ao patriarca. Com a pele assim

238

rstica se faziam os apeiros da faina dominante, os laos, maneadores,


lombilhos, caronas, maneias, rdeas, cabeadas, sogas, cabrestos,
rebenques, como em parte o arreador e as boliadeiras... Da a alcunha de
guascas. Quanto s habitaes, Strasser, que nos visitou por essa remota
quadra, ao pintar o que era a nascente presdio, mais tarde nossa
primeira vila, menciona o palcio do regedor local... Em seu torno havia
algumas construes, retangulares sempre, cobertas de telha ou palha,
mas, na quase totalidade, no ultrapassavam as da gente do comum, junto
s devesas ou potreiros, cortes ou invernadas, currais ou mangueiras das
ptrias estncias. Isto , forradas por inteiro de couro incurtido. Por
inteiro, do teto base; madeira unicamente a da armao interna".

No ser redundncia abrir o livro de Saint-Hilaire e assinalar


as pginas 88 e 90, onde podemos ver confirmado em pleno sculo XIX o
mesmo complexo cultural: "Les estanceiros (sic) tuent un grand nombre de
bestiaux pour leur nourriture (observam os seus olhos infatigveis),
mais la consommation des cuirs est peu prs dans la mme proportion,
parce que, comme je l'ai dit, on les emploie dans ce pays mille usages
diffrents". E veja-se nesta vinheta final um verdadeiro smbolo dessa
fase de transio: "No transporte de areia e tijolos usado, guisa de
carreta, um couro, puxado por dois bois, que por sua vez so atrelados
por meio de uma corda de couro."
Tudo isto est contido do vocbulo Guasca, sntese daquela
idade, alcunha um tanto crua com que se cognominaram os nossos
campeiros, generalizada mais tarde entre os brasileiros do norte para
designar indistintamente os filhos do Rio Grande. Em Coruja e Romaguera
Correia ainda vem a palavra com laivos da sua origem, apresenta-se de
certo modo como dictrio, pois reflete a opinio do pracista que deseja
apartar-se do homem da campanha, ou do nortista um tanto desdenhoso.
Mas o sentido predominante acabou desbancando qualquer restrio
no seu uso, a ponto de manifestar-se neutro na obra de um dos nossos
escritores mais ponderados na economia da frase: Machado de Assis. No
Quincas Borba, diz D. Fernanda a Carlos Maria, referindo-se, em caloroso
elogio, a uma filha do Rio Grande: - " uma guasca de primeira ordem".
Guasca, alis, no tardou muito em corresponder a uma inteno
elogiosa, a ser pronunciado como um ttulo de hombridade e destemor, o
que transluz do nosso populrio. Falava-se em guasca largado como quem
dissesse quebra largado, torena, monarca das cochilhas. Como quem diz -
gacho.
(Augusto Meyer, Gacho, Cadernos do Rio Grande, P.A., Globo,
1957,p. 11-15).
"Utilizado praticamente para todos os fins, o couro cru deu
origem ao apelido de guasca ao nosso homem do campo, termo que, de seu
primeiro sentido depreciativo passou a ter, mais tarde, uma significao
lisonjeira, 'um ttulo de hombridade e destemor'." (Rita Canter,
Impresses Regionalistas e Outras Crnicas, P.A., Ed. Difuso de
Cultura, 1962, p. 26).

239

"Coice vil de gente manca


Na honra e brio da alma guasca
E patada de potranca
Em pau-ferro, que no lasca."
(Padre Pedro Luiz, O Gnio do
Pampa, p. 50).

"Brigada de guascas, de ao forjado


no fogo das lutas do pampa viril,
Brigada, s a glria do nosso passado,
Brigada, s a guarda do nosso Brasil."
(Zeno Cardoso Nunes, Brigada
Gacha).

GUASCAO, s. Pancada, golpe dado com guasca. Relhao, relhada,


chicotada, chibatada, correada, aoite, guascada, guasqueada. //
Lembrana, recordao grata: "O guascao da saudade", isto , a saudade
originada por lembranas, por recordaes gratas. (Etim.: Do
americanismo guascazo).

"A fisionomia do homem


fechada nos limites do barbicacho
com os movimentos marcados
pelos guascaos do minuano pela cara."
(Clvis Assumpo, Marcado pelos
Guascaos do Minuano, Canoas, Fd.
La Salle, 1977, p. 13).
GUASCADA, s. Grupo ou reunio de guascas. // Guascao, pancada com
guasca. // Guascaria.

GUASCA LARGADO, s. Valente, disposto, destemido, forte.

GUASCARIA, s. Grande quantidade de tiras de couro cru, ou guascas. //


Casa que vende guascas. // Muitos camponeses.

GUASQUEAO, s. Ato de guasquear.

GUASQUEADA, s. O mesmo que guascao. // Exerccio a que submetido o


parelheiro: "Amanh vou dar uma guasqueada no meu cavalo", isto , vou
faz-lo correr, castigando-o com o rebenque, ou guasca, para ver do que
ele capaz.

GUASQUEADOR, s. e adj. Indivduo que guasqueia, ou seja, que d pancadas


com guasca, chicote ou relho; que gosta de castigar o animal que monta.
// Diz-se de ou o indivduo que submete o parelheiro guasqueada.

GUASQUEAR, v. Surrar, aoitar, espancar, chicotear, fustigar com guasca


ou com qualquer outro aoite.

"Era como capivara


E guasqueando o malacara
Com seu rabo-de-tatu
Pinchou-se ngua e gritou."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
21 ed., P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1978, p. 43-45).

GUASQUEAR O PARELHEIRO, expr. Submeter o cavalo de corrida a uma


carreira simulada, antes da verdadeira, para tirar-lhe o tempo.

GUASQUEIO, s. Ato de guasquear.

GUASQUEIRO, s. Pessoa que trabalha em guascas. // Adj. Raro: "Os cobres


andam guasqueiros e o pior que no se encontra servio em parte
alguma".

"Na campanha sempre existiram os guasqueiros, os homens que do


couro cru fazem verdadeiras obras-primas nas tranas, nos passadores,
nos botes de tento fino e em muitos trabalhos que exigem muita
pacincia, muito boa memria para saber resolver de cor os intrincados
da trama dos tentos, que um verdadeiro quebra-cabea." (Luiz G. Gomes
de Freitas, Gauchadas, 1957, p. 201).

"O chiru velho, de cara retovada, achego antigo da venda,


guasqueiro de profisso, arrastou o cepo para

240

baixo do galpo aberto, donde se via a cancha pisoteada e deserta,


sentou a faquinha na baiana, e empeou a desquinar uns tentos, devagar.
(Cyro Martins, Paz nos Campos, P.A., Globo. 1957. p. 16).

GUASQUINHA, s. Diminutivo de guasca. Aplica-se tanto a tiras de couro


cru como a pessoas.

GUASSATUNGA, s. Casearia inae quilatera, Camb. rvore cujas flores so


muito apreciadas pelas abelhas, produzindo excelente mel. A madeira
desta rvore inadequada para qualquer construo, pois suas fibras
rompem-se facilmente. Suas folhas, em infuso, so usadas para tratar a
picada das vboras, tendo, ainda, diversas outras aplicaes medicinais.
Tambm classificada como Cascaria parvifolia. Pertence famlia
Bizaceae.

GUATAMBU, s. rvore da famlia das Apocinceas.

GUATAPAR, s. Espcie de veado do mato.

GUAVIROVA, s. O mesmo que guabiroba.

GUAVIROVEIRA, s. O mesmo que guabirobeira.

GUAXA, s. Rebenque curto e grosso usado para doma.

"Guaxa: Espcie de rebenque que tem o cabo muito curto e grosso e a


soiteira chata, isto , em forma de tala, no atingindo em seu todo mais
de noventa centmetros. o relho usado para domas, porque, segundo os
domadores, quando bate, estala, assusta o potro, mas no o machuca.
Compe-se de fiel, cabo, palmatria e tala que uma soiteira chata. O
fiel feito de uma tira chata, de couro, que serve de pegamo. O cabo,
que retovado de couro cru, no ultrapassa a trinta centmetros. No
arremate do cabo com a tala os caprichosos usam corredores que fixam a
palmatria ao retovo e tala. Esta, de couro sovado ou garroteado,
dever ter dez centmetros de largura por sessenta, mais ou menos, de
comprimento." (Gregrio Antnio Bonilla, Pesquisa).

GUAXO, s. O mesmo que guacho.

GUAXUMA, s. O mesmo que guanchuma.

GUECHA, s. O mesmo que gueixa.

GUECHINHA, s. Diminutivo de guecha.

GUEIXA, s. Mulher nova e bonita. Potranca, poldra, gua nova. // gua,


gua velha, mula.

"s. gua adulta. termo muito em voga em todo o Estado do R.G.


do Sul. Em certas regies substitui a palavra gua, que a gente inculta
considera pouco delicada ou feia, para ser pronunciada em roda ou
perante pessoas de respeito. Vem aqui a propsito lembrar uma passagem
de que fui testemunha. Um indivduo no Municpio de Palmeira, veio
presena da autoridade queixar-se de que lhe haviam roubado uma gua,
assim se expressando: "Com perdo da m palavra, a gua foi roubada na
noite passada." R. Corra (ob. cit.) d para esse vocbulo a
significao de mula, com a etimologia de hechor. Confesso-me,
entretanto, surpreendido com tal significado. Talvez alguma vez por
apodo, tenha o ilustre autor ouvido, mas posso aqui deixar registrado
que no ele assim usado no R.G. do Sul. - R. Callage (ob. cit.)
registra o vocbulo como gua velha. Outra opinio com a qual absoluta-

241
mente no posso concordar, em que me pese o nome ilustre do finado
patrcio. Encontra-se no dialeto aoriano a palavra guecho, significando
o animal ainda novo, o novilho. Assim, pois, no temos dvida de que a
palavra nos veio daquele arquiplago, e que no R.G. do Sul s se aplica
no feminino, e somente gua. sabido que na fronteira o vocbulo
quase desconhecido, ao passo que na zona do Estado onde a influncia
aoriana indiscutvel o seu uso correntssimo. Na gria de carreira,
por desprezo, se diz que o cavalo do adversrio guecha." (Moraes).

GUENZO, adj. Fora de prumo; que foi tirado de sua posio normal;
inclinado; pendido para um lado; inseguro; bamboleante.

GUERREIRO, adj. Diz-se do cavalo que, cansado dos trabalhos nas foras
beligerantes, ou delas desgarrado, vai parar nas estncias sem que se
saiba quem seu dono.

GUINCHA, s. Poldra, potranca, gua nova, gueicha. //) Mulher


despudorada.

"Ele s olhava-lhe para as ancas, e os seios, e para a grossura


dos braos; era, - mal comparando -,como um pastor no faro de uma
guincha..." (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A.,
Globo, 1973, p. 23).

GUINILHA, s. O cavalo andador, de marcha muito apressada e incmoda.

GUISADO, s. Picadinho de carne fresca ou de charque.

GUITA, s. Soldado de polcia. Tem sentido depreciativo.

GURI, s. Criana, menino, piazinho, servial para trabalhos leves nas


estncias.

GURITA, s. Corruptela de guarita. Denominao dada a certos altos, de


formas caprichosas, de imponente aspecto, existentes na Serra de
Caapava, em lugar de difcil acesso, margem esquerda do rio Camaqu.
As guritas esto ligadas histria do Rio Grande, pois, nelas, se
reuniram para deliberar, muitas vezes, os revolucionrios de 1835,1893,
1924 e 1926.

GURIZADA, s. Rapazio, meninada, muchachada, gurizeiro.

GURIZEIRO, s. Gurizada; grupo de guris, grupo de moas.

GURIZINHO, s. Diminutivo de guri.

GURIZOTE, s. Guri j um pouco crescido, mocinho.

GURNIR, v. O mesmo que grunir.

GURUPI, s. Pessoa que, nos leiles, faz lances falsos elevados, de


combinao com o leiloeiro, para aumentar o preo das mercadorias que
esto sendo vendidas. Intrometido, leva-e-traz, alcoviteiro.

GUSSANO, s. Gusano, verme.

GUSTAR, v. Gostar, apreciar, admirar. (Esp).


242

H CACHORRO NA CANCHA, expr. Significa que h qualquer coisa


atrapalhando a execuo de determinado plano, assim como um co na raia
atrapalha a corrida.

HAEDO, s. Coxilha localizada no sul do municpio de Livramento.

HARAGANAR, v. O mesmo que haraganear.

HARAGANEAR, v. Andar solto o animal por muito tempo, sem prestar servio
algum, tornando-se arisco. // Em sentido figurado, aplica-se s pessoas,
significando vadiar, gauderiar, vagabundear, andar sem ocupao, passear
de um Lado para outro sem procurar servio. // O mesmo que haraganar,
haranganear e araganear.

HARAGANO, adj. Diz-se do cavalo que por haver estado solto durante muito
tempo, sem prestar servio, tornou-se arisco, espantadio. // Em sentido
figurado, mandrio, velhaco, vagabundo, vadio, ocioso, preguioso,
esperto, vivaracho, matreiro. Var.: aragano. (Etim. palavra castelhana
com o significado de mandrio, ocioso, preguioso, e diz-se de quem foge
ao trabalho e vive na ociosidade).

"H o gaudrio e o teatino,


gachos bem araganos,
que tm como seu destino
o destino dos ciganos."
(Hlio Moro Mariante, Fronteira do
Vaivm, P.A., Imprensa Oficial do
Estado, 1969, p. 30).

"No verso lao o minuano


esse corcel hara gano
que dos Andes vem, bravio,
escramuar na coxilha,
comandando a gris tropilha
dos dias de neve e frio!"
(Rui Cardoso Nunes, Rodeio
Serrano).

"E no chegar do solstcio


da luz do Direito Justo,
teu grito no trar susto
como este livro agourento,
que agora eu solto hara gano
como pastor orelhano
pras guas do Pensamento..."
(Lauro Rodrigues, A Cano das
guas Prisioneiras, P.A., Martins
Livreiro-Editor, 1978, p. 125).
"Segue, carreta, segue
com teu destino haragano.
Eu tambm sigo o destino
no brete do desengano."
(Lus Alberto Ibarra, Cano do
Sul, P.A., Secretaria da Agricultura,
1958, p. 28).

HARANGANEAR, v. O mesmo que haraganear.

"... castelhanos de pinta na tes-

243

ta, haranganeando em viagens de sair ao escurecer e voltar de manh..."


(Darci Azambuja,No Galpo).

HARANGANO, adj. O mesmo que haragano.

HARPISTA, adj. O mesmo que arpista.

HARPISTAR-SE, v. O mesmo que arpistar-se.

HASTE, s. Planta da famlia das Mirtceas (Eugenia chartacea), cujo


tronco linheiro presta-se para a fabricao de hastes de lana.

HSTIA, s. Corruptela de haste.

HAVERA, v. Corrupo de havia.

HECHOR, s. Asno ou burro que serve de garanho para fecundar as guas, a


fim de promover a hibridao de que resulta o gado muar, isto , as
mulas. O mesmo que burro-choro, (Etim,: vocbulo castelhano antiquado
e significa fazedor).

HEP, interj. Usa-se no campo para excitar os animais a andarem. O h


aspirado.

HERU, s. Herdeiro, dono, proprietrio. (Ant. em Portugal).

HOM!, interj. Hum!

HORNEIRO, s. O mesmo que Joo-de-Barro. (Cast.).

"Companheiro do gacho
Joo-de-Barro ou Joo-Barreiro,
tambm o chamam de homeiro
os gachos castelhanos,
a esse pssaro aragano,
habilidoso pedreiro."
(Cardo Bravo, Joo-de-Barro,
poema).

HORTELEIRO, s. Hortelo.

HOSCO, adj. O mesmo que osco.


HOSPE, s. Corruptela de hspede.

"E no havia hospe que tivesse comido daquela mesa ou dormido


naquele teto," (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul,
P.A.,Globo, l973,p. 111).

244

IAP, s. O mesmo que inhapa.

IBICUI, s. Afluente do rio Uruguai que nasce no municpio de Santa


Maria, banha So Gabriel, Rosrio, Alegrete e Uruguaiana, esquerda, e
So Pedro, So Vicente, So Francisco de Assis e Itaqui, direita.

"O Ibicu um extraviado


que desgarrou da tropilha.
Na fralda duma coxilha
sobre as pontas dum banhado
nasceu flaquito, aperreado
na Serra de So Martinho.
Cresceu e tranqueou sozinho
como gacho teatino
peleando com o destino
e abrindo o prprio caminho.

Tudo lhe veio ao contrrio


at a lei da gravidade
Preferiu a liberdade
a ser mero caudatrio.
Virou a revolucionrio
tomou rumo da fronteira
e ponteando a montonera
da qual se tornou caudilho
o velho guasca andarilho
percorre a campanha inteira."
(Guilherme Schultz Filho, Galponeiras,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1981, p. 112).

IBIROCAI s. Arroio, afluente do Ibicu, da margem esquerda; fica entre


os municpios de Alegrete e Uruguaiana.

IDO, adj. Corrido (gria do rinhedeiro).

IGUALA, s. Igualha. Igualdade de condio, classe, posio ou categoria


social.

ILHAPA, s. A parte mais grossa do lao, presa argola, tendo de quatro


a cinco palmos de comprimento. A ilhapa feita separadamente do corpo
do lao e a ele ligada por uma trama especial feita com os prprios
tentos. A razo da maior grossura e de ser separada, sofrer ela atrito
e desgaste mais intensos, podendo ser substituda quando necessrio. O
peso da ilhapa tem, tambm, importncia no manejo do lao, influindo nas
condies de equilbrio necessrias perfeita movimentao da armada.

"Quando pego no meu lao


Desde a ilhapa at presilha,
Retine que nem um ao
Nas guampas de uma novilha"
(Popular)

IMBA, s. Buraco no cho em que, no jogo de gude, deve entrar a bola.

IMBIRA, s. Arbusto de cuja casca se preparam cordas. planta


considerada txica. H as variedades branca, Daphnopsis racemosa, e
vermelha, RoIlimia salicifolia, aquela da famlia das Thimeliacea, e
esta das Amonaceae. Embira.

IMITANTE, adj. Parecido, semelhante.

245

IMPERADORICE, s. Condio, posio de imperador.

IMUNDcIE, s. Grande quantidade, abundncia: "Era uma imundcie de


caa", isto , havia caa em grande quantidade.

"Eguada xucra, potrada orelhana, isso, era imundcie, por esses


campos de Deus; miles e miles!" (Simes Lopes, Contos (Gauchescos e
Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 45).

INANA, s. Luta, briga, conflito.

INCHADO, adj. Diz-se do fruto ainda no bem maduro. // Envaidecido,


lisonjeado, cheio de si, faceiro.

INCHAR, v. Atingir o fruto o estado de quase maduro. // Envaidecer-se,


ficar lisonjeado, faceiro, cheio de si.

INCHERIDO, adj. Convencido, metido, presumido, ganjento.

INCHUME, s. Inchao, inchao, calombo, tumor.

INO, s. Plantas daninhas que medram nos terrenos cultivados.

INCOMODATIVO, adj. Incomodador.

INDIADA, s. Grupo de gachos, gauchada. Peonada. Agrupamento de homens.

INDIADO, adj. Inditico. Diz-se do individuo da cor do nosso indgena.

NDIO, s. Homem do campo. Peo de estncia. Indivduo valente, bravo,


disposto, destemido, valoroso.

"Este ano (1932) assinalou tambm o aparecimento de um magnfico


poeta regionalista, Joo Otvio Nogueira Leiria, ndio dos "Campos de
Areia" de So Chico de Assis." (Pedro Leite Villas-Bas, Um Quarto de
Sculo de Literatura Rio-grandense 1929-1954, in Revista da Academia
Rio-Grandense de Letras n 1, P.A., 1980, p. 129).

NDIO-VAGO, s. Vagabundo, malandro, gaudrio. // Pessoa que viaja muito.

INDIVDUA, s. Feminino de indivduc entre gente inculta.

INDUSTRIALISTA, adj. Industrial.

INFERNIZADO, adj. Diz-se do indivduc que est aborrecido, arreliado,


irado, enfadado, incomodado, apoquentado, amargurado.

INFERNIZAR, v. Aborrecer, impacientar, arreliar, enfadar, incomodar,


apoquentar, amargurar.

INFLADOR, s. Bomba manual para inflar pneumticos.

INGRIBA, s. Disputa, questo, contenda, desaguisado, conflito, rixa,


confuso, desordem.

INHANDUV, s. rvore da famlia das leguminosas, que produz excelent


madeira. Os gachos primitivos a utilizavam para a feitura de seus
freios. O mesmo que nhanduv e nhanduvai.

INHAPA, s. O que o vendedor d de presente ao comprador, alm do que


este adquiriu mediante pagamento; o que se recebe alm do combinado. O
mesmo que anhapa, aiapa, lapa e mota. (Etim.: No quchua se encontra
yapa ou yapana com a significao de coisa dada pelo vendedor, alm do
que foi vendido).

INHATIUM, s. Arroio no municpio de So Gabriel.

INHATO, adj. Que tem nariz curto e arrebitado; que tem nariz chato; o
mesmo que chimb.

INH, s. Onomatopia designativa da voz dos sapos e das rs.

INQUIZILAR, v. Impacientar, importu-

246

nar, incomodar, aborrecer, zangar.

"Nunca se vira tamanho bochincho. Um servio to sem patro. E


dirigido pela Lei. Era aquela correria de teses e cuscos. Apartaes
toa. Com um mundaru de gente a inquizilar a criao. E a berraada
infernal da vacaria. E o berreiro da terneirada que parecia
choramingar," (Aureliano, Memrias do Coronel Falco, P.A., Ed.
Movimento, 1974, p. 178).

INSTORMENTO, s. Corruptela de instrumento.

"Foi logo direito aos troos,


Trouxe de l o instormento,"
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1978.p. 15).
INSTROVENGA, s. Instrumento ou mquina, de pouco valor.

"Essa instrovenga no aprovou.


Rebenta mais do que caminha."
(Darcy Azambuja,No Galpo, P.A.,
Ed. Globo, 1960, p. 43).

INT, prep. At. Significa, tambm, "at logo", at outra vista.

INTEIRO, adj. Diz-se do animal no castrado. Diz-se tambm de um animal


que, aps uma viagem ou trabalhos prolongados, ainda est na plenitude
de suas foras.

INTENDENTE, s. Prefeito de municpio, antigamente.

INTENTOR, s. O que prope demanda ou que intenta ao.

INTERTER, v. O mesmo que entreter.

INTICANCIA, s. Desafio, provocao.

INTICANTE, adj. O que intica; provocante. O mesmo que enticante.

INTICAR, v. Provocar, desafiar, mecher com algum. O mesmo que enticar.

"Meio chumbeado, arrastando


Chilena e mango no cho
Com todos foi inticando
Quebrando a paz do galpo."
(Lourival Leite Villas-Bas,
Fandango no Galpo).

INTIMAO, s. Ostentao, bazfia.

INTRUSAR-SE, v. Usurpar um cargo, uma autoridade, uma jurisdio.

INVENTIVEL, adj. Que no se pode achar ou inventar.

INVERNADA, s. Grande extenso de campo, cercado. Nas estncias,


geralmente, h diversas invernadas: para criar, para engordar, para
cruzamentos de raas, para desterneirar vacas, etc. // Usa-se, tambm,
em sentido figurado.

"Na invernada do abandono


vou cumprindo meu destino,
como cachorro sem dono,
como cavalo teatino."
(ZCN)

INVERNADOR, s. Pessoa que tem como profisso engordar bovinos para o


corte.

INVERNAGEM, s. Ato de invernar.

INVERNAR, v. Dedicar-se profisso de invernador. Colocar o gado


destinado engorda em certa invernada. // Ficar a pessoa, a comitiva, a
tropa, impossibilitada de seguir viagem devido ao mau tempo. Ir a um
lugar e l demorar-se mais do que se esperava.
INVERNISTA, s. Invernador.

INVITAR, v. Convidar, oferecer.

INVITE, s. Convite. Convite para jogar. // Oferecimento de uma coisa.

IP, s. Ip. (No Rio Grande do Sul, esta palavra pronunciada


geralmente com

247

o e aberto). Madeira de lei e planta medicinal.

"H trs espcies desta madeira de lei: amarelo, preto e azul.


Este ltimo o mais raro e o melhor. Uma carreta deste passa de pais a
filhos e chega aos netos. O preto tem o segundo lugar. O amarelo o
ltimo." (Lothar F. Hessel, Os Glossrios de Joo Mendes da Silva, P.A.,
Graf. da Universidade do Rio Grande do Sul, 1959, p. 15).

IRAMIRIM, s. Uma variedade de abelhas que fazem sua casa em buracos, no


cho, fabricando mel de excelente qualidade. Essas abelhas so comuns
nas Misses e em toda a regio serrana. So desprovidas de ferro.

IR AO CEPO, expr. Ir para o lugar de namoro. Ir o noivo fazer a corte


sua noiva. (P. us.).

IR AO PELEGO, expr. Esbordoar, espancar, surrar algum.

IR AOS PS, expr. Defecar.

IRAPU, s. Abelha silvestre que faz um mel vermelho e desagradvel, que


tambm toma o nome de mel de irapuci. Embora no seja venenosa como a
abelha da Europa, ela agride o homem, sendo dolorosas as suas ferroadas.
(Vem do guarani, ira-pu, que significa colmia suspensa).

IRATIM, s. Variedade de abelha silvestre, existente em Cima da Serra,


que produz grande quantidade de cera e um mel que doce no vero e
amargo no inverno.

"Esta abelha faz o mel nos ocos dos paus e na porta faz um
canudo de uma resina semelhante cera que termina em forma de trombeta.
A porta do Iratim considerada, pelos roceiros, como anti-histrica,
devendo para isso ser queimada nas brasas em recinto fechado onde o
doente possa receber a fumaa. crena dos moradores da Serra que o mel
do Iratim embriaga quando se bebe no mato e que aps a ingesto se
pronuncia a frase: "Vamos embora". Dizem eles que a pessoa que bebe esse
mel, proferindo essa frase, entontece e logo adormece no podendo sair
do mato seno muitas horas depois." (Joo Cezimbra Jacques, Assuntos do
Rio Grande do Sul, P.A., Oficinas Grficas da Escola de Engenharia,
1912, p. 202).

IR NO PACOTE, expr. Ser logrado, enganado, iludido.

IR PARA O CEPO, expr. Emparelhar os cavalos para a carreira, no lao de


sada, de onde arrancaro sem partidas a um sinal do juiz. // Ir para a
obrigao. // Ir conversar com a namorada.
IR PAR O LAO, expr. Submeterem, as pessoas em contenda, o seu caso
apreciao judicial, quando no conseguem soluo amigvel. // Ir para o
castigo.

"Quem resmunga vai pra o lao


Pois a regra obedecer."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
21 ed., P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1978, p. 71).

IR POR UM CANHADO ABAIXO, expr. O mesmo que despenhar-se por um


canhado abaixo.

IR-SE, v. Morrer.

IR-SE A LA CRIA, expr. Largar-se na estrada, ir embora. O mesmo que


mandar-se a la cria.

ISABEL, adj. Plo de cavalo de cor entre branca e amarela. Cor de


camura. Cor baa, pardacenta. (P. us.).

248

ISCA, s. A mecha que se coloca no isqueiro. Nos antigos avios de fogo,


de guampa ou porongo, se usava como isca pedaos de pano de algodo,
parcialmente queimados, os quais eram acesos por fascas produzidas pelo
atrito de um pedao de lima, chamado fuzil, com a pedra-de-fogo.

"A isca! - cu puna! - tinha virado em piro, pois eu j nem


tinha fio enxuto. Ao demais, frfo eu nunca usei na minha vida. Nem
quero simiante luxo, que eu nao troco p'lus meus avio." (Lo Tito,
Aventuras de um Tropeiro, P.A., Gundlach, 1940, p. 9).

ISCAR, v. Atiar, aular o co para agredir.

ISONERO, adj. Desassossegado. sem descanso.

ISQUEIRO, s. Aparelho para acender o cigarro, constitudo de pequeno


recipiente de guampa ou de porongo dentro do qual colocada a isca, de
pedra-de-fogo e de fuzil. O fuzil , geralmente, um pedao de lima.

ITAIMB, s. O mesmo que taimb.

ITAMB, s. O mesmo que taimb.

IXE!, interj. Indica desdm ou ironia.

249

250
J

JAC, s. Cesto grande feito de taquara, com uma ala de couro cru de
cada lado, destinado a transportar coisas em cargueiro. (Os jacs so
pendurados cangalha, um de cada lado do animal. A carga completa que o
animal conduz de seis arrobas, trs em cada jac, ou seja, 90 quilos
ao todo).

J-COMEA, s. Comicho, coceira, sarna.

JACUBA, s. Bebida-piro que se prepara com gua quente, farinha de


mandioca e acar. s vezes, a gua substituda por cachaa ou leite e
o acar por mel. A jacuba preparada com cachaa tida como excelente
remdio para diarria.

JAGUAN, adj. Diz-se do animal que tem o fio do lombo e a barriga


brancos e o lado das costelas vermelho ou preto, donde o
jaguan-vermelho e o jaguan-preto; Aplica-se ao gado vacum, e tambm,
muito raramente, a outros animais. (Etim.: vocbulo guarani, com a
significao de cachorro fedorento, ou seja, o nosso zorrilho, animal de
cor preta com duas listras longitudinais na parte superior do corpo).

"O tatu foi encontrado


Lno serro de Bag,
De bola e lao nos tentos,
Atrs de um boi jaguan."
(Popular).

JAGUARA, s. Co ordinrio.

JAGUARAO, s. Nome dado a um campo de boa qualidade, onde o pasto est


muito alto, a ponto de dobrar-se. (P. us.).

JAGUATIRICA, s. Carnvoro feldeo, tambm chamado maracaj e


gato-do-mato-grande.

JANTAROLA, s. Jantaro, jantar opparo, banquete.

JAPA, s. O mesmo que inhapa.

JARACATI, s. rvore da famlia das caricceas, existente no alto


Uruguai.

JARARACA, s. Nome de uma das mais venenosas cobras do Rio Grande do Sul
(Botropus jararacae). // Mulher feia, faladeira, intrigante.

JARARACA-CRUZEIRA, s. Cruzeira, urutu.

JARARACA-DA-PRAIA, s. Cobra da famlia dos Viperdios (Lystrophis


dorbignyi, D. B.), existente no Rio Grande do Sul.

JARAU, s. Cerro existente no municpio de Quara, no Rio Grande do Sul,


onde, conforme lenda do tempo das Misses Jesuticas, estavam escondidas
grandes riquezas.

JARDINEIRA, s. Carro de quatro rodas, puxado por cavalos, muito usado


nas estncias. // Dana antiga.
251

JARUVA, s. Espinilho. ii Dana antiga, usada em festejos pblicos.

J SE VIERAM, expr. Maneira usual de se manifestarem os assistentes de


uma carreira por ocasio da largada.

JATA s. Abelha amarela que faz um mel muito doce.

JEITO, s. Direo, rumo: "Siga no jeito daquela coxilha at varar o


arroio", isto , siga na direo daquela coxilha... (V. a expresso
chegar a jeito).

JERIV, s. Jerib. Espcie de palmeira existente em diversos pontos do


Estado. As folhas do jeriv podem ser utilizadas como trato para
animais. // Fig.: Pessoa muito alta e magra. O mesmo que
jeriv-sem-folhas.

JERIV-SEM-FOLHAS, s. Pessoa muito alta e magra.

JERIVAZAL, s. Terreno onde h grande nmero de ps de jeriv.

JERIVAZEIRO, s. O mesmo que jeriv.

JERRA, s. Banquete campestre, piquenique.

JETA,s. Azar, m sorte.

JIBIA, s. Cobra lendria no Rio Grande do Sul. (Diz Moraes que nunca se
constatou a existncia desse ofdio no Rio Grande do Sul).

"A cobra jibia que comeu tantos olhos de viventes." (Darcy


Azambuja, No Galpo).

JINJIBIRRA, s. Espcie de cerveja de gengibre, outrora muito usada em


Porto Alegre, principalmente nos festejos de Natal.

JIRAU, s. Construo rstica constituda de uma espcie de leito ou


soalho, em geral feito de varas brutas, destinado a receber produtos da
lavoura ou da pecuria, ou o que nele se queira guardar. Armao onde se
deposita a erva-mate para secar. Pode ser coberto ou descoberto,
construdo sobre as linhas das casas ou galpes, suspensos por cordas,
ou em armaes especiais. // Sto.

JO, s. Frutinha de cor encarnada caracterstica, comestvel, porm no


apreciada.

JOANINHA, s. Jacund. // Alfinete de segurana.

JOO-BARREIRO, s. O mesmo que joo-de-barro.

JOO-DE-BARRO, s. Ave da familia dos Dendrocolaptdeos (Furnarius rufias


Gm.), muito comum no Rio Grande do Sul, tambm chamada joo-barreiro,
barreiro, forneiro e horneiro.

"S eu sei, que de emoo


da minha alma se extravasa,
vendo o casal de barreiros
que enfeita a frente da casa.

Tem altivez e arrogncia


de um taura que foi caudilho
sempre alerta e cauteloso,
a mo campeando o gatilho.

Ouvindo um canto mais alto


parece que se empertiga.
- Heri fronteiro do pago
pensando em fora inimiga.

Tem sempre o todo altaneiro


de um lanceiro de vanguarda,
arroubos de rebeldia
da guapa cria galharda.
(Jos de Figueiredo Pinto, Conversa
com Joo - Barreiro, in Antologia
da EPC, P.A., Sulina, 1970, p.
131-33).

"Agora o vejo em diferente aspeto,


Na sua atividade de engenheiro
Ou mais exatamente de arquiteto
Reconhecido pelo mundo inteiro.

252

A obra milenar do prprio teto


Executa-a, paciente, o Joo-barreiro.
De barro faz um slido concreto
Que resiste ao inverno traioeiro.
Antevendo o quadrante da tormenta,
A frente da morada, nesse inverno,
Para o lado contrrio, ento, a orienta.
E, cioso do romntico agasalho,
Para o idlio de amor mais doce e terno,
Assenta o ninho no mais forte galho!"
(Roberto Osrio Jnior, Horizonte
do Pago, Canoas, Ed. La Salle,
1970, p. 37).

JOO-FERNANDES, s. Denominao de uma das variedades de bailes


campestres chamados geralmente fandango.

JOO-GRANDE, s. Pessoa alta.

JOGADOR, s. Osso do peito das aves, em forma de forquilha.

JOGAR A MANO, expr. O mesmo que jogar de mano.

JOGAR DE MANO, expr. Jogar em combinao com outrem, comprometendo-se,


ambos, a dividirem entre si, igualmente, os lucros ou prejuzos. //
Jogar um contra o outro, em igualdade de condies.
JOGAR O PELEGO, expr. Arriscar a vida.

JOGO DO OSSO, s. Jogo muito usado na fronteira, principalmente pela


baixa camada social. Consiste no arremesso de um osso de garro de
vacum, chamado tava ou taba, sobre uma cancha plana, de cho nem muito
duro nem muito mole. Se o osso cai com o lado arredondado para baixo
culo e perde quem o arremessou. Se fica para baixo o lado chato do osso
suerte e ganha quem efetuou o lanamento. Se ficar equilibrado sobre
uma das extremidades, ocorre uma clavada. Ao lado da raia fica o
depositrio da parada, chamado coimeiro.

"Vanc sabe como se joga o osso?


Ansim:
Escolhe-se um cho parelho, nem duro, que faz saltar, nem mole,
que acama, nem areento, que enterra o osso.
sobre o firme macio que convm. A cancha com uma braa de
largura, chega, e trs de comprimento; no meio bota-se uma raia de
piola, amarrada em duas estaquinhas ou mesmo um risco no cho, serve, de
cada cabea da cancha que o jogador atira, sobre a raia do centro:
este atira daqui pra l, o outro atira de l pra c.
O osso a taba, que o osso do garro da rs vacum. O jogo
s de culo ou suerte.
Culo quando a taba cai com o lado arredondado pra baixo: quem
atira assim perde logo a parada. Suerte quando o lado chato fica
embaixo: ganha logo e sempre.
Quer dizer: quem atira culo perde, se suerte ganha e logo
arrasta a parada.
Ao lado da raia do meio fica o coimeiro que o sujeito
depositrio da parada e que a entrega logo ao ganhador. O coimeiro
tambm que tira o barato - para o pulpeiro. Quase sempre algum
aldragante velho e sem-vergonha, dizedor de graas.
um jogo brabo, pois no ?
Pois h gente que se amarra o dia inteiro nessa cachaa e parada a

253

parada envida tudo: os bolivianos, os arreios, o cavalo, o poncho, as


esporas. O faco nem a pistola, isso, sim, nenhum aficionado joga; os
fala-verdade que tm de garantir a retirada do perdedor sem debocheira
dos ganhadores... e, cuidado... muito cuidado com o gacho que saiu da
cancha do osso de marca quent!..."
(Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo,
1957,p. 213).

"Surgem brigas e facadas


e brigam as namoradas,
roubam no jogo do osso.
a cachaa vai rolando
sendo tudo um alvoroo."
(Olyntho Sanmartin, Santo Anto
Abade, in Antologia da EPC, P.A.,
Sulina, 1970, p. 289).

JORNA, s. Bebedeira. Tomar uma jorna: embriagar-se.

JORNADEAR, v. Viajar a cavalo, caminhar.


"Eu iajornadeando pela estrada,
sem nem sequer pensar no meu destino."
(R.C.N., Serrana).

JUDIARIA, s. Malvadeza, maus tratos.

JUEIRA, s. Peneira de taquara.

JUGO, s. Pea de madeira usada guisa de canga com que se unem os bois
carreta ou ao arado. O jugo colocado na parte posterior dos chifres
e a eles ligado pelas conjuntas.

JUIZ, s. Pessoa que julga a chegada dos parelheiros, nas carreiras, em


cada lao. O mesmo que julgador.

JUIZ DE PARTIDA, s. Pessoa que verifica, no incio das corridas de


cavalos, o cumprimento de todas as condies da carreira, e que d o
sinal de largada.

JULGADOR, s. Pessoa que julga a chegada dos parelheiros, nas carreiras,


em cada lao. O mesmo que juiz.

JUNCO, s. Planta com que, em alguns lugares, se preparam os acolchoados


dos lombilhos.

JUNQUIDITO, adj. Diminutivo de junquido.

"... e deu-lhe uma tunda grande


junquidito num moeiro."
(Zeca Blau, Negrinho do Pastoreio).

JUNQUIDO, adj. Jungido.

JUNTA,s. Parelha de bois mansos que puxam lado a lado.

JUNTA DA PONTA, s. A junta de bois que puxa mais distanciada da carreta,


na ponta.

JUNTA DO COICE, s. A junta de bois que puxa mais prxima da carreta.

JUNTAR, v. Apanhar: "Chico, junta do cho o relho, isto , apanha do


cho o relho.

JUNTAR AS ESPORAS, expr. Cerrar as pernas, fincando as esporas no animal


de montaria.

JUNTAR OS TRAPOS, expr. Casar, amasiar-se.

JUNTAR O TORRESMO, expr. Economizar, juntar dinheiro, enriquecer.

JURURU, adj. Cabisbaixo, tristonho, abatido, melanclico, pensativo.

JUSTAR, v. Contratar, conchavar-se para um determinado trabalho.

254
L

LBIA, s. Habilidade na conversa.

LAAO, s. Pancada dada com o lao. Relhao, guascao, correada. Golpe


dado com corda, vara ou qualquer outro aoite. V. as expresses
apresilhar um laao e dar laao.

LAADA, s. Astcia, engodo, armadilha: "Prepararam-lhe uma laada e ele


caiu como um patinho". Armar uma laada o mesmo que preparar as coisas
para iludir ou apanhar em falta uma pessoa.

"Enfiando o p na laada,
cada qual no seu papel,
vivo e prenda assanhada
so que nem mosca no mel."
(Hugo Ramrez, in Cancioneiro de
Trovas).

LAADOR, s. e adj. Homem destro no manejo do lao, que laa com percia,
que quase no erra tiro de lao. // Campeiro que durante os servios de
campo encarregado de laar as reses. // Pessoa que laa, que gosta de
laar, bem ou mal.

"Narraremos, a seguir, algumas proezas dos laadores


rio-grandenses, inigualveis na arte de laar, as quais parecem
fantsticas mas so reais:
Em Santa Maria, em 1952, Euclides Guterres, empregado de uma
estncia, laou um pequeno avio que fazia um vo rasante sobre o local
em que ele se encontrava. O aparelho era pilotado por Irineu Noal que
fazia um vo de recreio pelo interior do municpio. Felizmente a hlice
cortou o lao e o aparelho, apesar de danificado, conseguiu aterrissar.
O fato, registrado nos arquivos da Base Area de Santa Maria, com
projeo mundial, foi relembrado pelo jornalista Vitor Moraes, em
reportagem do "Correio do Povo" de 24 de outubro de 1978.
Em Cima da Serra, principalmente nos municpios de So Francisco
de Paula, Bom Jesus e Vacaria, existiram, e existem ainda, exmios
laadores, capazes das mais fantsticas proezas. Dentre eles citaremos:
Norberto Osrio Marques, de So Francisco de Paula, que atirava,
com extraordinria percia e segurana, enormes armades ornamentais que
iam cerrar-se nas guampas, s vezes de poucas polegadas, de um zebuzinho
de sobreano, em doida disparada, e ainda sem pegar-lhe as orelhas.
O velho Geraldino, de So Francisco de Paula, que, j com mais
de oitenta anos de idade, laava at no escuro, pelo tropel, sem perder
uma

255

nica armada. Certa ocasio, quando ainda mais moo, o velho Geraldino
participou de um cotejo, com outro laador afamado, num rodeio perto da
Fazenda dos Morrinhos. Seria considerado vencido o que errasse o
primeiro pealo. A disputa terminou em empate, pois os dois laadores
derrubaram todo o gado do rodeio, quase duzentas reses, sem que nenhum
perdesse uma armada.
- Aquela ona me escapou, disse o Anastcio, do municpio de Bom
Jesus, porque no consegui chegar a tiro de lao e ela se embrenhou num
banhado onde no dava para entrar a cavalo. Cheguei a fazer a armada e
se tivesse conseguido chegar mais perto no tinha deixado a bicha ir
embora. - E no deixava mesmo, disse outro campeiro, pois esse ndio j
laou tamandu, zornilho e at um lagarto. Ele capaz de laar at um
gato solto no campo, quanto mais uma ona.
Certa ocasio, em Bom Jesus, um velho campeiro que havia l,
passeando a cavalo no campo com um de seus netos, desafiou-o: - "Vamos
ver quem que bota a armada mais antiga naquela novilha. Voc pode
atirar primeiro a sua, mas tem que deixar a rs continuar correndo at
que eu coloque a minha." A armada mais antiga no significa a que chegou
primeiro s guampas da rs, mas sim a que ficou por baixo. O rapaz, que
era destro nas lidas de campo, laou facilmente a novilha pelas guampas
e acompanhou-a para que ela continuasse correndo enquanto ia cerrando
aos poucos sua armada. Mal esta terminava de cerrar, j a novilha
entrava por dentro de um enorme armado jogdo pelo velho, o qual subiu
como se fosse uma coisa viva e veio cerrar-se por baixo da armada do
rapaz.
Houve muitos casos, em nossas guerras e revolues, de gachos
laarem metralhadoras e as arrancarem de seus ninhos na cincha do
cavalo." (Z.C.N.)

"De chofre, no campo, nos ares reboa


Feroz estampido, que parte do gado:
Novilho altaneiro, veloz como o raio,
do circ'lo se escapa, dispara enraivado.
Mas logo amestrado,
Bizarro campeiro,
Qual Pgaso alado,
Vencendo o espao,
Dos tentos - o lao
Desata - pendente
Com arte enrolado.
No vo fogoso que leva o cavalo,
Seguindo o novilho, tentanto alcan-lo,
O lao desdobra, formando uma armada,
Que os ares aouta com baita rodilha
Que presa fenece na forte presilha.
N'ardente corrida
O lao volteia,
E o impulso tenteia,
Medindo a distncia;
E aps, meneando-o,
Sacode-o nos ares
- O altivo campeiro!
E o lao no espao flutua, se estira,
Se alonga qual serpe silvando irritada,
E ao torvo novilho, nas aspas terrveis,

256

L vai alcan-lo na fuga arrojada!


E a fera raivosa, medonha rugindo,
Fazendo investidas, nos ares se empina;
E o bravo campeiro, sustendo-lhe as iras,
Sujeita-a no lao - na extensa campina!"
(Taveira Jnior, Provincianas.)

"Mas, depois, viera a guerra e Mximo, protegido de um chefe


governista, incorporou-se s foras republicanas, ao passo que o pai,
acompanhando o estancieiro em cujo campo morava, alistou-se na gente de
Juca Tigre, sucumbindo logo em seguida no Inhandu, quando numa
atropelada tentava tomar a tiro de lao um canho do inimigo." (A. Maia,
Tapera, 2 ed., RJ, F. Briguiet & Cia., 1962, p. 85).

"Comuns, tambm, os relatos de canhes e metralhadoras laados e


arrastados pelos gachos, faanhas muito a gosto para serem contadas
roda do fogo-de-cho, enquanto arde um assado e a cuia de chimarro
impera, soberana". (Hlio Moro Mariante, A Idade do Couro, 2 ed., P.A.,
RS-Brasil, Instituto Gacho de Tradio e Folclore, 1979, p. 96).

"Entre os laadores - que os h habilssimos - comum ouvir-se


contar proezas extraordinrias. No assunto, o causo de maior efeito foi
narrado por Inrio Silveira, natural de So Gabriel, referindo-se a um
certo Maneco Pereira, gacho ainda moo, que laava at com os dedos do
p. Possua o famoso campeiro um cavalo de estimao, que definia como
sendo um animal mantedo, pescoo de papagaio, cabea de gafanhoto,
perna de cabra, peito de pomba, lombo de veado e anca de viva. Montado
nesse cavalo, no errava tiro de lao, afirmando que 'de bicho vivente
s no tinha pealado cobra e barbuleta." (Arthur Ferreira Filho,
Narrativas de Terra e Sangue, P.A., Ed. A Nao, 1974,p. 101-102).

LAAR, v. Atirar o lao e por meio dele aprisionar ou apreender o


animal, a pessoa ou o objeto sobre o qual ele lanado. O mesmo que
enlaar.

"arte de manejar o lao. Para laar o operador est a p ou a


cavalo. Em ambas as situaes ele far a armada, segurando o lao com a
mo direita, prxima da argola, porm suficientemente afastada, para lhe
permitir fcil e cmodo manejo. Por ela deixa correr o lao at que se
forme a armada do tamanho que deseja, com o cuidado necessrio para que
ele no se tora, enquanto que, com o auxlio da esquerda vai acomodando
as rodilhas. Feita a armada, as rodilhas ou so distribudas pelas das
mos, ou permanecem somente na esquerda. O comum, porm, dividi-las.
D-se o tiro de lao, reboleando-o sobre a cabea ou atirando-o de tino.
Essa ltima a maneira mais difcil de se acertar o tiro e a que mais
recomenda o laador, mormente se se trata de laar animais cavalares,
porque, sendo esses mais nervosos do que os vacuns, se espantariam e se
poriam a correr, se vissem o laador reboleando o lao. O laar de tino
pega o animal de surpresa, da boa regra de laar, prender o vacum pelos
chifres, deixando livres as orelhas. A armada, no trajeto pelo ar vai se
cerrando e, ao atingir o animal, deve estar reduzida ao

257

minimo necessrio. Se se laam animais cavalares, a laada deve


prend-los pela garganta e no no grosso do pescoo." (Moraes).

"Gacho bom laador,


laa boi de toda a idade;
Chinoca, com teu amor
Lao at a Felicidade!"
(Natlio Herlein, Trovas Chinoca,
habanera).

"Se ele vier para c,


Vir agentar repucho,
Visto que laar navio
No novo pra gacho."
(Simes Lopes, Cancioneiro Guasca,
P.A., Globo, 1954, p. 260).

LACEIRA, s. Latada, enramada, ramada.

LAO, s. Corda tranada de tiras de couro cru, de comprimento que varia


entre oito e dezoito braas, ou seja de dezessete a quarenta metros;
constitudo de argola, ilhapa, corpo do lao e presilha. // Ponto
inicial e final em carreiras de cavalos.

"O lao, arma de que fizeram algum uso os rio-grandenses em


diversas guerras em que se tm empenhado, foi encontrado, segundo
Nicolau Dreys, nas mos dos indgenas; porm ignora-se de quem os
receberam. Acrescenta o mesmo historiador acima, que Thevenot j havia
encontrado o lao entre os povos da ndia e que o Padre Verbiest viu os
guerreiros da Tartria manejarem-no. O campeiro rio-grandense bem raras
vezes anda sem o seu lao, que ele carrega enrolado e atado a uma das
tiras de couro (tentos) existentes na parte posterior do lombilho. O
gacho faceiro carrega o lao com variada e requintada elegncia. Alm
de ser uma arma de valor para apreender o inimigo, serve para o campeiro
em qualquer lugar segurar o cavalo para seu uso ou a rs para sua
alimentao." (Romaguera).

"O lao quando no est sendo utilizado conservado enrodilhado


e guardado sobre o cho ou assoalho e nunca suspenso na parede ou
cabide, porque assim se tornaria ressequido. No se deve tambm
lubrific-lo com sebo ou outra graxa, e sim passar-lhe um pedao de
carne verde, especialmente fgado de rs ou ento, cobri-lo por alguns
momentos com a bosta existente no bucho da rs, quando ainda quente,
aps a morte. O lao lubrificado com leo, graxa ou sebo, ficaria muito
mole, no permitindo uma armada bem aberta. A feitura do lao obedece
ainda um costume anti-higinico para o tranador. Toda a trana
molhada saliva, para que melhor e mais perfeita se apresente. Cada
perna vai saindo do seu manojo, recebendo a dose de saliva que a
amolece e a ajusta ao tranado. O lao, segundo Dreys, foi encontrado
entre os ndios, ignorando-se, porm, de quem os receberam. Assim tambm
nas Judias e na Tartria, desde os tempos remotos, j existia o lao,
conforme verso de Thevenot e do Pe. Verbiest (R. Corra, ob. cit.). O
portugus, bem como o espanhol, no conheciam o uso do lao na poca da
conquista. Quanto a isso no h dvidas, O seu uso foi encontrado entre
os ndios guaranis das Misses, vindo do Paraguai; das Misses
espalhou-se para outros ndios, depois de conhecerem bois e cavalos."
(Moraes).

"A sorte atirou-me o lao

258

E me guiou para aqui,


Maneou-me nestes campos
Que se chamam Tuyuty.
Por Deus que tenho saudades
Dos pagos em que nasci."
(Dos versos de um rio-grandense
na campanha do Paraguai).

"O tatu foi encontrado


No serro de Viamo,
De bola e lao nos tentos
Repassando um redomo."
(Quadra popular).

"Eu vi cupido montado


No seu cavalo picao,
De bolas e tirador,
De faca, rebenque e lao."
(Quadra popular).

"Quem no se sente orgulhoso


de ser filho desta terra,
dentre todas do Universo
a mais formosa e mais rica,
vendo um campeiro gacho,
ou vendo um cabra do Norte
subjugar um touro forte
num lao ou numa mussica?!"
(Catulo da Paixo Cearense, Um
Caboclo Brasileiro, RJ, Ed. A
Noite, p. 45).

"Meu lao
(...)
Mais tarde, quando eu morrer,
Velho traste de galpo;
Ao parar o corao
Que to alegre, hoje, soa,
Lao velho, guasca, -toa,
Eu te quero enrodilhado,
No meu caixo de finado,
Fazendo vez de coroa."
(Cyro Gavio, Querncia Xucra,
p. 117).

LAO DE CHEGADA, s. Ponto final do tiro a ser corrido, pelos


parelheiros, nas carreiras.

LAO DE SADA, s. Ponto inicial da carreira.

LACRAIA, s. Espcie de canoa.

LACRANADO, adj. Alacranado.

LACRANAR, v. Lacerar.

LADEADO, adj. Inclinado, pendido para um lado, de costado.

LADEAR, v. Desviar, contornar, tirar da frente.

L DE BORREGA, s. L de ovelha nova que tosada pela primeira vez.


L DE DENTRO, expr. Forma de os habitantes da fronteira se referirem aos
do norte do Estado e do litoral. Os habitantes dessas zonas so l de
dentro. (P. us.).

L DE FORA, expr. Forma de os habitantes do interior se referirem aos da


fronteira; so l de fora os habitantes desta regio. (P. us.). Forma de
os habitantes da cidade se referirem aos moradores da campanha.

"Quando eu vim de l de fora


Oito dias de viagem;
Trocar um amor por outro
Eu no tenho essa coragem.

Eu no sou filho daqui,


Sou filho de l de fora,
Ando cumprindo o meu fado
Acabando vou-me embora."
(Quadrinhas populares).

L DE PONTA,s. L de fios compridos e de qualidade inferior.

LADO BRABO, s. O lado direito do cavalo. Lado de laar.

LADO DE LAAR, s. O lado direito do cavalo, no qual conduzido e


utilizado o lao. O lado brabo. // Por ext., aplica-se ao vacum, a
outros animais e at a objetos. // Figuradamente, usa-se em relao s
pessoas. // V. a expr. pelo

259

lado de laar.

"- Responde a tudo - disse o


negro escravo; - responde rdea,
responde espora, responde ao lao
e lana. Vem da outra banda com
muita fama. lstima que ainda
rengueie do lado de laar." (Felix
Contreiras Rodrigues, Farrapo,
P.A., Globo, 1935, p. 205).

LADO DE MONTAR, s. O lado esquerdo do cavalo, pelo qual se monta. // Por


ext., o lado esquerdo de qualquer animal, e at de pessoas e objetos. V.
a expr. pelo lado de montar.

LADO MANSO, s. O lado esquerdo do cavalo. O lado de montar.

LADRONAO, s. Ladroao, ladravas.

LA FRESCA, interj. Exprime admirao, espanto, descrena, surpresa. O


mesmo que ala fresca.

LAGARTEAR, v. Aquecer-se ao sol, nos dias de inverno, como o lagarto.

LAGARTO, s. Ladro.

LAGOO, s. Lagoa grande e profunda que se forma no curso das sangas.


LAGOES, s. Denominao de um arroio, no municpio de Erval, tributrio
do rio Jaguaro, margem esquerda.

LAGUNOSO, adj. Que tem muitas lagunas.

LAIA, s. Raa, espcie, qualidade, gnero, classe.

LAJEADO, s. Arroio, regato ou rio que corre sobre leito de pedras. //


Trecho mais ou menos plano do terreno, onde afloram rochas de grandes
dimenses.

LAMO, s. Forma popular de alemo. O mesmo que alamo.

"O romance teria, ainda, um elemento novo - os lamos que se


haviam infiltrado por aquelas picadas, desde o ano de sua chegada a So
Leopoldo, na infncia do primeiro Reinado." (Guilhermino Cesar, Histria
da Literatura do Rio Grande do Sul, P.A., Globo, 1956, p. 317).

"Depois que apareceram uns lames e uns ingleses, melados, que


compravam o cabelo: por isso s vezes se cerdeava;" (Simes Lopes,
Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 45).

LAMBADA, s. Relhada, laao.

"Anda bem no p do gato, se no a lambada pega..." (Marina


Maciel, O Bal da Rosa).

LAMBANA, s. Intriga, embrulhada, briga, bate-boca, enredo.

LAMBANCEADOR, s. Lambanceiro.

LAMBANCEAR, v. Fazer lambana, intrigar, conversar demais.

LAMBANCEIRO, adj. Diz-se de pessoa que faz lambana. Conversador,


intrigante, rixento, que gosta de questionar.

LAMBO, adj. Porcalho, imundo, maltrapilho.

LAMBAREIRO, s. Nome de uma pea volante do engenho de serrar madeira.

LAMBARIZEIRA, s. Linha de pescar lambari.

LAMBEDOR, s. Terreno salitroso onde os animais que necessitam de sal vo


lamber a terra. // Adj. Diz-se do adulo, do engrossador, do
lambe-esporas.

LAMBE-ESPORAS, s. e adj. Indivduo bajulador leva-e-traz, engrossador,


adulo.

LAMBER A CANGA, expr. Tornar-se manso, confiante, submisso, afeioado. A


expresso tem origem no fato de o

260

boi manso, mesmo quando liberto, solto no campo, gostar de aproximar-se


de sua canga e de lamb-la.
LAMBER A CRIA, expr. Permanecer o pai em casa mimando o filho recm
nascido. (A expresso se origina no hbito que tm muitos animais,
principalmente a vaca, de lamber o filho logo que este nasce, no se
afastando dele para nada).

LAMBER ESPORAS, expr. Adular, engrossar, bajular.

LAMBETA, adj. e s. Indivduo lambanceiro, intrigante, leva-e-traz,


delator. O mesmo que lambeteiro.

LAMBETEAR, v. Proceder como lambeta. Fazer mexericos ou alcovitices.


Adular, delatar.

LAMBETEIRO, s. e adj. O mesmo que lambeta.

LAMBISCARIA, s. Lambisco.

LAMBUJA, s. Vantagem que se d sem ter sido pedida; partido concedido ao


adversrio.

LAMENTO, adj. Lamacento, lamoso, lodoso.

LAMPAO, s. O mesmo que lampada.

LAMPADA, s. Pancada com relho ou com qualquer outro aoite. Laao,


lambada, lampao.

LAMPEO, adj. Diz-se do animal cavalar ou muar que tem a cara branca.

LAMRIO, s. Lamria, choradeira.

LANAO, s. Golpe de lana, lanada.

LANANTE, s. Descida. Forte declive num cerro ou coxilha; qualquer


terreno em declive. // Emprega-se, tambm, em sentido figurado.

"No lanante e no repecho,


na planura e na lomba,
na coxilha e no cerro,
na barroca e na sanga
la te vais contra o vento."
(Aureliano,Romances de Estncia e
Querncia, P.A., 1981, p. 149).

"Quando eu o escuto, relembro


a primavera, em setembro,
juncando os campos de flor!
E sinto - barbaridade! -
desembestar a saudade
pelos lanantes da dor!"
(Rui Cardoso Nunes, Cu e
Campo).

LANAR UM PEALO, expr. Lanar uma indireta.

"Que o pealo era pra ela


Logo a moa compreendeu,"
(Versos populares).
"O tatu desceu a serra
Com fama de laador;
Tira lao, bota lao,
Bota pealos de amor."
(Quadra popular).

LANCHA, s. P grande.

LANCHO, s. P muito grande. Aumentativo de lancha.

LANGANHENTO, adj. Langanhoso, languinhento. Ranhoso, viscoso.

LAPACHO, s. Nome dado algumas vezes ao ip na divisa com a Argentina.

LAPSIO, s. Panao, panzio, golpe de


espada ou faco. Ferimento.

"(...) mas nesse dia, laando mal um touro, sofreu violento


lapsio, quando o lao arrebentou pelo meio." (Arthur Ferreira Filho,
Narrativas de Terra e Sangue, P.A., Ed. A Nao, 1974, p. 47).

LA PUCHA, interj. Exprime admirao, espanto, pasmo, dor, O mesmo que


Eh! Pucha!, Eh! Puxa!, Epucha! Pucha!, Cu! Pucha!, Crina!, Cu! Puna!

"Quando me lembro, la pucha!,

261

Da china que deixei l,


Sinto um repuxo por dentro,
Que nem sei o que ser."
(Vargas Netto, Tropilha Crioula,
p. 51).

LARANJEIRA-DO-MATO, s. Planta da familia Deuphorbiaceae actinostemon con


color, Mull. Arg.

LARANJO, adj. Diz-se do animal vacum que tem cor de laranja.

LARGADA, s. Arrancada. Ato de largar o animal na carreira. Sada.


Partida. Arranco. Agachada. Gauchada. Faanha, proeza. // Tirada. Dito
chistoso, piada.

LARGADO, adj. Diz-se do animal que, por muito quebra, por indomvel, foi
abandonado no campo, imprestvel para os arreios. Diz-se tambm do
animal que se encontra solto h muito tempo, sem prestar servio, tendo
se tornado infiel e arisco. // Por extenso, aplica-se ao homem, com a
significao de malvolo, turbulento, animoso, valente, corajoso,
desordeiro, desabusado, inculto, irrecupervel, impossvel de ser
corrigido.

"Eu sou um quebra largado,


Por Deus e um pataco,
E, se duvidam, perguntem
moada do rinco.
(Quadrinha popular).

"Quando me lembro dos pagos


Fico triste e aperriado;
L deixei o mano Juca,
Monarca quebra e largado:
Ningum pisou-lhe no poncho
Que no ficasse pisado."
(Versos de um rio-grandense na
campanha do Paraguai).

"Nas altas cavalarias,


Em que sou guasca largado,
Tenho sempre mo o relho
E o pingo rinchando ao lado."
(Mcio Teixeira, Cancioneiro
Gacho).

LARGADOR, s. Partidor. Lugar de incio da carreira. // adj. Diz-se do


galo de briga, que, por lhe faltarem qualidades combativas, desiste da
peleja.

LARGAR, v. Iniciar a corrida, ao sinal do juiz, nas carreiras de


cavalos.

LARGAR A MO, expr. Dar uma bofetada.

LARGAR AS PATAS, expr. O mesmo que largar os ps.

LARGAR CAMPO FORA, expr. Deixar que v embora.

LARGAR COM UM COURO NA COLA, expr. Despedir de maneira descorts,


despachar, mandar embora rispidamente. "Vou largar aquele cafageste com
um couro na cola", isto , vou mand-lo embora rispidamente.

LARGAR DE CEPO, expr. Fazer o cavalo sair, na carreira, repentinamente,


ao sinal do juiz, sem partidas. O mesmo que largar de tronco.

"mas de repente, como um parelheiro largado de tronco, saltou


pra diante e de vereda atirou-se no manancial..." (Simes Lopes, Contos
Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 31).

LARGAR DE MO, expr. Desistir de um empreendimento. Abandonar. No se


preocupar mais com determinado assunto. "Como no conseguiu a
colaborao de ningum, ele largou de mo os problemas do clube". "O
velho, a conselho do mdico, largou de mo o cigarro". "Aquela mulher
largou de mo a filharada."

LARGAR DE TRONCO, expr. O mesmo que largar de cepo.

262

LARGAR OS CACHORROS, expr. Passar descompostura, escorraar.

LARGAR OS PS, expr. Coicear, escoicear. // Descompor, fazer grosserias.


// O mesmo que largar as patas.
LARGAR-SE, v. Ir-se embora.

LARGO, adj. Comprido (Cast. usado na fronteira).

LARGO RATO, expr. Longo tempo (Cast. usado na fronteira).

LASCA, s. Chispa, fasca, na expresso sair lasca.

LASTIMADO, adj. Ferido, machucado, pisado.

"Acuda, tatu, acuda,


Me acuda seno eu morro,
Venho todo lastimado
Das dentadas de um cachorro."
(Quadrinha popular).

LASTIMADURA, s. Pisadura, escoriao, machucadura, ferimento.

LASTIMAR, v. Ferir, machucar, pisar, contundir, causar ofensa fsica que


deixe marca. "Ao prenderem o ladro lastimaram-no em vrias partes do
corpo."

LASTIMAR-SE, v. Machucar-se, ferir-se.

"- Como vai a rapaziada?


- Boa, menos o Andr,
Que levou uma rodada
E lastimou-se num p."
(Taveira Jnior).

LASTRO, s. O estrado, a parte da cama sobre a qual assenta o colcho.

LATA, s. Telha de zinco. // A cara. // Ficha de metal, usada nas


estncias, entregue ao esquilador ou tosador cada vez que este solta uma
ovelha tosada, para controle de seu trabalho e respectivo pagamento.

LTEGO, s. Parte da cincha, constitudo de uma tira de couro cru


devidamente sovada, com trs ou quatro centmetros de largura e mais de
um metro de comprimento, a qual, presa a uma das argolas do travesso o
une argola da barrigueira, para apertar os arreios, no lado de montar,
esquerda do animal. A tira de couro semelhante, que fica do lado
direito, chamada sobreltego.

LAUS' SUS-CHRIS', expr. Corruptela de "louvado seja Nosso Senhor Jesus


Cristo".

"Mentira! Nem uma princesa


lhe deu afetos de amor!
E nem mesmo um s cristo
lhe abriu as portas do mundo,
embora, humildemente,
andasse ao lu, repartindo,
Laus' Sus-Chris' a toda gente."
(Dimas Costa, Carta Me Natureza,
P.A., Ed. Lamar, 1979, p. 68).

"Eh! Laus' Sus' Cris'! Deus atira o lao na lua,


que desgarrou,
que se meteu pela mangueira da lagoa."
(Ruy Cirne Lima, Passo Velho).

LAVADO, s. Encargo de lavar a roupa; trouxa de roupa lavada. "Fulana


pegou o lavado de D. Beltrana", isto , tomou a incumbncia de lavar a
roupa da casa de D. Beltrana. "Este o quinto lavado que fao esta
semana", isto , a quinta poro ou a quinta trouxa de roupa que lavo
esta semana.

LAVAGEM, s. Repreenso, censura, descompostura. // gua passada nos


pratos e panelas, antes de serem lavados com sabo, contendo gordura e
restos de comida, que se utiliza como alimentao para os porcos e
outros animais.

LAVORAR, v. Lavrar, desenvolver-se, alastrar-se.

263

LAVOURO, s. Aumentativo de lavoura.

LAVRA-MO, s. Planta da famlia das Compostas (Chuquiragua tomentosa


Bak).

LAZO, s. O mesmo que alazo.

LAZEIRAS, s. Feridas que se alastram pelo corpo, de pessoas e de


animais.

LE, pron. Lhe. (Este vocbulo, empregado na linguagem popular do Rio


Grande do Sul por influncia castelhana, , tambm, forma do portugus
arcaico). Pl.: Les.

"- Graas le dou, tio Jordo: a sua mezinha foi tiro e queda."
(A. Maia, Alma Brbara, RJ, Pimenta de Melo & C., 1922, p. 132).

"Foi ansim como ler conta,


Neste fogo, junto ao rio,
Quem muita coisa j viu
Quer na guerra, quer na paz;"
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1978, p. 56).

LEO-BAIO, s. Puma, suuarana.

LECHEGUANA, s. O mesmo que lchiguana.

LECHIGUANA, s. O mesmo que lichiguana.

LEGRE, s. Ferramenta de ao, de ponta curvada, apropriada para


emparelhar o casco do cavalo.

LGUA, s. Medida intinerria equivalente a 3.000 braas ou a 6.600


metros. O mesmo que lgua de sesmaria.

LGUA DE SESMARIA, s. O mesmo que lgua ou sesmaria.

LEI, s. Boa qualidade. "Gado de lei", gado de boa qualidade; "Cavalo de


lei", cavalo de boa qualidade; "Madeira de lei", madeira boa para
construo, de grande durabilidade.

LEITE DE MACEGA, s. Diz-se do leite tirado da vaca que, em cima da


serra, se alimenta, quase que exclusivamente da macega do campo. Esse
leite , para o gacho da regio serrana, muito mais saboroso do que o
tirado de vaca que se nutre do pasto de campo de baixo da serra, ou de
vaca de trato.

LENGA-LENGA, s. Conversa comprida e desagradvel, choradeira, lamria,


alegao, queixa.

LENHEIRA, s. Lugar, no mato, em que se tira lenha.

LENHEIRO, s. Lenhador, tirador de lenha.

LEPRA, s. Pessoa ruim, imprestvel. // Gafeira, sarna, toda a doena de


pele dos animais.

LERDEAR, v. Andar vagarosamente. Andar com preguia. Demorar.

LERDO, adj. Vagaroso, lento, pesadio, preguioso, molengo.

LEVADO, adj. Travesso, endiabrado, moleque.

LEVADO DA BRECA, expr. Travesso, endiabrado, moleque, engraado,


manhoso, jocoso, alegre, divertido, satrico, ardiloso, velhaco,
valente, brigo, forte, audaz, respeitvel, temvel, frtil em
expedientes. // Negcio levado da breca, significa negcio difcil,
perigoso, de resultados duvidosos. // O mesmo que levado da carepa,
levado da casqueira, levado do diabo.

LEVADO DA CAREPA, expr. O mesmo que levado da breca.

LEVADO DA CASQUEIRA, expr. O mesmo que levado da breca.

LEVADO DO DIABO, expr. O mesmo que levado da breca.

LEVANTADO, adj. Diz-se do cavalo que est adelgaado, alevianado,


preparado

264

para carreira.

LEVANTA-P, s. Baile, arrasta-p.

LEVANTAR, v. Adelgaar, alevianar, preparar o cavalo para a carreira. //


Retirar o gado do campo ou do lugar em que se encontra. // Crescer a
pastagem de um campo.

LEVANTAR A GRIMPA, expr. Reagir, no submeter-se, mostrar-se altaneiro,


soberbo.

LEVANTAR POLVADEIRA, expr. Promover agitao, provocar intranquilidade.

LEVANTE, s. Momento em que o co faz sair a caa de seu esconderijo.


LEVAR A CARGA, expr. Insistir na conquista de uma mulher. // Arremeter
contra o inimigo.

LEVAR BUCHA, expr. Ser logrado em negcio. // Comprar, por boa, coisa de
m qualidade.

LEVAR CARO, expr. Ser o rapaz rejeitado pela moa que convida para
danar, ou vice-versa.

LEVAR CARONA, expr. Ser o oficial preterido em sua promoo. O mesmo que
tomar carona.

LEVAR CLAVO, expr. Sofrer prejuzo, ser logrado, enganado, ludibriado.

LEVAR NA PARADA, expr. Possuir uma cota na parada pela qual foi ajustada
a carreira.

LEVAR NO PACOTE, expr. Lograr, enganar, ludibriar.

LEVIANO, adj. Leve, de pouco peso.

LEXIGUANA, s. O mesmo que lichiguana.

LHANURA, s. Plancie, planura.

"a doura das lhanuras verdejantes e a meiga candura do olhar


namorado da Chinoca." (Naiade Anido, Sentimento de Identidade na Poesia
Gacha).

"O silncio parecia dilatar as lhanuras, engrandecer as colinas,


prolongar ilimitada na atmosfera luminosa, toda a vasta perspectiva
pampeana..." (A. Maia, Runas Vivas, p. 13).

LHEGALH, adj. Lagalh.

LHEGUELH, adj. Lagalh.

LHEGUELHU, adj. Lagalh.

LIAA, s. Haste do centro da palma do jeriv.

LIBUNO, adj. O mesmo que lobuno.

LICHIGUANA, s. Espcie de abelha ou marimbondo (Nect atina lecheguana


Latr.), que fabrica mel de sabor muito agradvel. dotada de ferro e
defende com bravura a colmia. Frio. // O mesmo que lecheguana,
lechiguana, lexiguana, lixiguana, lixigoana. (Etim.: Do quchua,
lachihuana). // V. a expr. tirar lichiguana.

"O radical de lechiguana modificou-se na Argentina, Uruguai e


Rio Grande do Sul. Procurar essa forma no mundo, o que produz
disparate, como o de leche e iguana (leche de iguana) a gerar o vocbulo
lechiguana. Corretamente, em vez do moderno lechiguana, deve-se levar a
estudo o termo lachiguana, que o antigo e autntico. Pertence tudo ao
quchua. Desde o sculo XVI foi anotado para denominar a colmia de
abelhas no Peru." (Slvio Jlio, Literatura, folclore e lingtstica da
rea gauchesca no Brasil, RJ, A. Coelho Branco F, 1962, p. 249).
"Tranquei portas e janelas e sa para buscar um porongo de mel
de lexiguana, por ser o mais fino."

265

(Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo. 1973, p.


151).

"Vinha fazer 'mesma cousa: a noite 'st de se tirar lechiguana;


o vento di que nem lao e, parando, geada grande, nacerta. Vai
amanhecer tudo branco"... (A. Maia, Runas Vivas, Porto, Lello & Irmo,
1910,p. 107).

LIDE, s. Lida, faina, trabalho.

LIGA, s. Sorte, felicidade no jogo, nos amores ou em qualquer outra


coisa. O mesmo que potra.

LIG, s. O mesmo que ligal.

LIGAL, s. Couro cru de bovino com o qual se cobrem as cargas


transportadas por animais, para proteg-las da chuva.

LIGAR, v. Estar com sorte no jogo, nos amores, nos negcios ou em


qualquer assunto. // s. Ligrio.

LIGRIO, s. Couro de terneiro tirado de forma a se poder fazer dele uma


carona. O mesmo que ligar.

"Vanc no sabe o que um ligar? No s, no sr., o couro de


terneirote pra fazer carona: tambm uma tira de guasca, chata, assim
duma meia braa, com um furo dum lado e uma meia ponta do outro.
Conforme boleava um animal e ele caa, o campeiro chegava e passava-lhe
o ligar em cima do garro e apertava, cochava moda velha; hom! ...
era mesmo como botar uma liga de mulher, com perdo da comparao."
(Simes Lopes, Contos Gauchescos, p. 80).

LIGEIRA, s. Diarria, soltura de ventre, caganeira.

LIGEIRICE, s. Ligeireza.

LIGEIRO, s. Nome dado ao indivduo que viaja a p pela via frrea.

LIGEIRO DE PATAS, adj. Diz-se do cavalo veloz, corredor.

LINDAO, adj. Muito lindo. Fem.: lindaa.

"Querida china gacha


Linda a, como o pecado,
Este teu corpo delgado,
Com cintura de violo,
Faz com que meu corao,
Pelo desejo cinchado,
Se borque pra todo o lado
Relinchando de paixo!"
(Ubirajara Raffo Constant, Pago
Xucro, P.A., p. 25).
"Lindaa ficou, como uma Nossa Senhora!" (Simes Lopes, Contos
Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 79)..

LINDONA, adj. Muito linda. Aplica-se a pessoas e animais: moa lindona,


gua lindona, mula lindona.

LINDURA, adj. Lindeza, beleza.

LINGUA-DE-VACA, s. Erva alimentcia que d gaudria nas lavouras


(Chuzptalia nutans hemsley). O suco das razes e folhas usado contra
ictericia e molstias do estmago.

LINGUAGEM GAUCHESCA, s. Portugus falado pelos gachos da zona pastoril


do Rio Grande do Sul, ao qual se agregaram elementos uruguaios,
argentinos, paraguaios, guaranis, tupis, quchuas, araucanos, fricos e
de vrias outras procedncias. (V. Poesia Gauchesca).

"O linguajar vivo e cotidiano da gente gacha no Brasil , de


fato, rico, cheio de caractersticas prprias, ligado fortemente
histria,

266

ao trabalho e famlia sul-rio-grandense. Nenhum outro, em nossa


ptria, possui tantas variedades e fontes, tantos recursos e expedientes
semnticos.
Portugueses, aorianos, brasileiros, fricos, amerigenas,
espanhis, etc., no lhe faltam tesouros lxicos, sintticos e
semiolgicos no emprego dirio da fala. Tem o de que dispomos no resto
de nosso territrio e ainda elementos castelhanos, platinos, quchuas,
araucanos, caribes, nuaruacos, guaranis, que no conhecem os nortistas,
os nordestinos, os mineiros, os goianos, os matogrossenses, os cariocas.
(...)

Acontece que a fala popular do Rio Grande do Sul vem


lxico-morfologicamente enriquecida de centenas de vozes e locues no
sabidas do resto dos brasileiros, locues e vozes que ela recebeu
atravs da Amrica Espanhola. Quem, atento e imparcial, segue os passos
de Cezimbra Jacques, Simes Lopes Neto, Alcides Maia, Contreira
Rodrigues, Roque Calage, Ramiro Barcelos, Mcio Teixeira, Luis Carlos de
Moraes, Augusto Meyer, nunca duvida de to evidente verdade.
No glossrio de Aurlio Buarque de Holanda, onde a objetividade
cientfica predomina, isto fcil de averiguar. Embora o erudito autor
desconhea as fontes hispano-americanas e especialmente platinas do
gauchismo brasileiro, o fato se manifesta cristalino e inegvel.
Faa Aurlio Buarque de Holanda uma excurso pelos livros
rioplatenses que em seguida mencionamos, e compenetrar-se- da
aproximao lingistica dos pampeanos argentinos, uruguaios e do Brasil.
1) Antonio D. Lussich: Los tres gauchos orientales y otras poesias,
prlogo de Mrio Falco Espalter, Montevideo, reimpresso de 1937. 2) El
Viejo Pancho: Paja brava, 4 edicin, Montevideo - Buenos Aires, Agencia
General de Libreria y Publicaciones, 1926. 3) Javier de Viana; Yugos,
O.M. Bertani, Editor, Montevideo, 1912. 5) Javier de Viana: Abro/os.
tercer miliar. 1 edicin pstuma, Montevideo, 1936. 6) Alejandro
Magarios Cervantes: Caramur, edicin de Claudio Garcia y Cia.,
Montevideo, 1930. (Alejandro Magarios Cervantes n. em 1825 e m. em
1893. Escreveu Caramuru em 1848). 7) Carlos Reyles: El Gaucho Florido
(La novela de la estancia cimarrona y del gaucho crudo) Impressora
Uruguaya, Montevideo, s. d. 8) Roberto Payr: Pago Chico y Nuevos
cuentos de Pago Chico, Editorial Losada S.A., Buenos Aires, 1940. 9)
Benito Lynch: Los Caranchos de la Florida, 4 edicin, Editorial
Ibrica, Buenos Aires, 1926. 10) Benito Lynch: El ingls de los gesos,
Coleccin Contempornea, Editorial Espasa-Calpe, Madrid, 1924. 11)
Benito Lynch: Palo verde y otras novelas cortas, Espasa-Calpe Argentina
S.A., Coleccin Austral, Buenos Aires, 1940. Nem de longe desejamos
exteriorizar conhecimentos, pois isso que a se acha apenas um punhado
de obras platinas que contm dezenas de termos, ditos e construes dos
Contos Gauchescos e Lendas do Sul. Propomos a Aurlio Buarque de Holanda
um confronto de tudo, para organizarmos depois o vocabu-

267

lrio sul-rio-grandense de origem hispnica, americanista e


amerigenista, incontestavelmente grande e significativo." (Slvio Jlio,
Literatura, folclore e lingstica da rea gauchesca no Brasil, RJ, A.
Coelho Branco F, 1962, p. 80 e 84-85).

"As vozes de diversas origens que se incorporaram ao portugus


falado na zona pastoril do Rio Grande do Sul no o empobreceram ou
abastardaram, mas, ao contrrio, o enobreceram e embelezaram, dando-lhe,
ao mesmo tempo, invulgar colorido e extraordinrio vigor." (ZCN).

"Consultar o vocabulrio gacho rasgar viso interior


paisagens retrospectivas, enquadradas na moldura da histria.
O vocbulo ento no apenas a carnia magra ou polpuda em que
a etimologia vem dar a sua bicada. Na perna de cada letra esto
entecidas sugestes e sugestes para o leitor fantasista, amigo da
pachorra que devaneia e do fumo crioulo bem palmeado. Enquanto a fumaa
escreve no ar a garatuja indecifrvel, salta do texto um termo vivo, que
os olhos apalpam e o ouvido reproduz, buscando o seu eco no poo da
memria.
Vozes que nascem, carreando outras vozes, sopros de geraes
repetindo a mesma eufonia incerta, silabadas e modismos em que a fora
do sentimento gravou a sua marca, transbordando de bocas duras ou
carinhosas, vestgios do esprito moldados no barro, s vezes simples
sobrevivncia da vida rude nos trabalhos e dias.
Algumas ainda arrastam a espora, atravessam o tempo num passo
decidido. Outras dizem de campos abertos ao galope, e da peleia, da
cancha reta ou da longa viajada. Esta sabe a galpo; aquela abre no
fundo da lembrana uma vrzea ao sol-entrar, quando o cheiro dos pastos
verdes mais ativo e os banhados refletem uma nesga de cu mais
profunda.
H os catelhanismos petulantes, palavras que parecem a toda
hora cobrar um queijo, topar qualquer parada. H os falsos
castelhanismos de muito bom portugus, quinhentismos retovados ou
conservados na provncia, surdindo improvisadamente na boca de um peo.
No faltam as que sugerem as finais das nossas toadas, embebidas na
lonjura... E h tambm palavras de dedo no lbio, impondo silncio:
querncia, pagos, rinco."
(Augusto Meyer, Prosa dos Pagos).

"A fonmica-sinttica deve nortear-se, na Dialectologia das


zonas gauchescas, pelas mesmas regras do idioma luso-brasileiro e do
castelhano. No convm que estacione na aclaratria anlise dos casos
insulados da fala, porm a isto acrescentar o estudo do tom
caracterizado, do estilo que abrange a personalidade do linguajar dos
guascas. Desta sorte que descobrimos as possibilidades de uma
literatura, no s no Rio Grande do Sul, como do Rio Grande do Sul, cujo
veculo no poder ser seno a ndole, a feio, o modo de empregar o
portugus pelos campeiros do pampa fronteirio.
Nenhum vocabulrio sozinho exercer as funes emancipadoras que
tem a fonmica-sinttica da rea gauchesca. a sua atmosfera

268

espiritual.
Estudados os vocbulos realmente representativos e regionais da
vida diria das campanhas do Rio Grande do Sul, suas correlaes na
frase, as maneiras semnticas de adapt-los s condies tradicionais da
labuta entre guascas, o estilo espontneo que h na conversao das
estncias, para caracterizar a Dialectologia total, no fragmentria,
das zonas onde trabalha o cavaleiro pampeano, ento o glotlogo poder
decidir se a lngua portuguesa adquire novas energias e coloridos de
acordo com os imperativos do existir material e espiritual daquele povo.
Em havendo singularidades diferenciais nas atividades, nas vestes, nas
comidas, quando confrontadas a outras de outras gentes, o lxico e a
fonmica-sinttica devem corresponder aos bsicos dictames da emoo e
do pensamento, quer como inveno improviso, onomatopia, quer como
metaforizao necessria de termos e expresses usuais."
(Slvio Jlio, Folclore e Didectologia do Brasil e
Hispanoamrica, Petrpolis, RJ, 1974, p. 25).

LINGUIA, s. Trapaa.

LINHA, s. Denominao dada linha divisria entre o Brasil e o Uruguai.

"No outro lado da linha,


L pra banda Oriental,
Vou arriscar minha vida
No partido liberaL"
(Simes Lopes, Cancioneiro Guasca,
P.A., Globo, 1954,p. 180).

LINHEIRO, adj. Diz-se do tronco de rvore que tem as fibras dispostas de


tal modo que pode, com facilidade, ser transformado em lascas compridas,
regulares e direitas.

LINJERA, s. Indivduo que vive de um lado para outro, andando a p ou de


carona; espcie de andarilho, de ndio-vago.

LINTERNA, s. Lanterna (antiq. em Portugal).

LIO, s. Enredo, trama, confuso (Cast.).

LIONANCO, adj. Lunanco.

LISTA DE MULA, s. listra que corre desde a cernelha at cauda dos


cavalares.

LISTAR, v. Listrar, riscar.


LIVIANO, adj. gil, leve.

LIVRE, s. Nome dado aos republicanos rio-grandenses de 1835, depois de


proclamada a independncia da provncia.

"O Neto gritou na frente,


O David na retaguarda:
- Esta corja de cativos
Para os Livres no so nada!"
(Popular).

LIVRETA, s. Livro pequeno ou caderno para anotaes ou contas.

LIVRO, s. O menor dos estmagos do bovino ou dos ruminantes em geral. Em


portugus chama-se folhoso por ser constitudo de muitas folhas.

LIXIGOANA, s. O mesmo que lichiguana.

LIXOGOANA-DO-CAMPO, s. O mesmo que lichiguana.

LIXIGUANA, s. O mesmo que lichiguana.

LOBISOMEM, s. Indivduo muito feio.

LOBUNO, adj. Diz-se do plo escuro acinzentado, do cavalo ou do vacum. O


que tem cor de lobo. O mesmo que libuno e lubuno. (Em Cima da Serra

269

se usa lobuno somente para cavalares: A um bovino de tal plo se chama


barroso -fumaa ou simplesmente fumaa).

LOITA, s. Luta.

"Viu o bando sem tardana


Que a loita perdida estava".
(Manoel do Carmo, Cantares, p.
137).

LOMBA, s. Lombada. // Declive ou aclive das fraldas de pequenos morros


ou de coxilhas baixas.

"precipitou-se declive abaixo e se foi parar alm dos chores,


onde a lomba terminava" (Erico Verssimo,Noite, p. 10).

LOMBADA, s. O mesmo que lomba. Pequena elevao de terra.

LOMBEAR-SE, v. Torcer o lombo, o animal meio arisco, quando montado.


// Retorcer o corpo por motivo de pancada recebida, de qualquer dor
fsica ou de ccega: "Dei-lhe uma relhada que ele saiu se lombeando." //
Ter preguia. Retardar a realizao de um servio por preguia ou medo
responsabilidade. Remanchar, marombar.

LOMBEIRA, s. Preguia, modorra, moleza no corpo.

LOMBIAR, v. Ferir a sela o lombo do cavalo.


LOMBILHAR, v. Encilhar com freqncia o animal, obrigando-o a trabalhos
e exerccios para que ele se torne manso. O mesmo que piquetear.

LOMBILHARIA, s. Estabelecimento comercial onde se fabricam ou se vendem


lombilhos.

LOMBILHEIRO, s. Indivduo que fabrica ou que vende lombilhos e objetos


de montaria em geral.

LOMBILHO, s. Denominao da pea principal dos arreios. uma espcie de


sela, muito semelhante ao serigote, usada no Rio Grande do Sul.

"Deitado de costa, de pescoo torcido sobre o lombilho que lhe


servia de travesseiro, o velho apertava ao peito uma linda trana negra,
de cabelo crespo, meio desatada, suja de terra e j embebida em
sangue..." (A. Maia, Alma Brbara, RJ, Pimenta de Melo &C., 1922, p.
137).

LOMBINHO, s. Pea de carne, muito macia, tirada da regio lombarda rs.

LOMBO DE COXILHA, s. Cimo de coxilha.

LOMBO DE SEM-VERGONHA, expr. Ordinrio, safado, muito sem-vergonha.

LOMBO-SUJO, s. Nome deprimente dado aos civis que tomaram parte em


revolues no Rio Grande do Sul, tanto ao lado do governo como contra
este. Em 1893, os governistas davam esse apelido aos rebeldes. //
Figuradamente, aplica-se a indivduo reles, desprezvel.

LONCA, s. Denominao dada a parte do couro do cavalar ou do muar,


tirada dos flancos, da regio que vai da base do pescoo at s ndegas.
A lonca no curtida. utilizada para fazer tentos ou para retovo.
Para pelar a lonca se usa faca ou cavadeira de pau, aps curtimento com
cinza. (A palavra de origem platina, lonja, que significa couro
descarnado, com plo ou sem ele).

LONJURA, s. Grande distncia, longura,

270

longitude.

"... como tapera esquecida na lonjura da distncia," (Rubens


Dario Soares, Minha ltima Tropeada, Cruz Alta, 1981, p. 33).

"Ou como uma ave que emigra,


retardatnia seguindo,
para sempre se sumindo
sobre as lonjuras do mar."
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1981, p. 73).

"No relgio das planuras


as mos e patas do baio
so qual ponteiros de prata
a consumir as lonjuras."
(Gilberto Carvalho, Negro da Gaita,
Prodeco Ltda., P.A., 1981, p. 37).

"Era a ruminao de distncias. O ponto visto no horizonte permanecia


horas a fio, inaltervel, esperando na lonjura." (Manoelito de Ornellas,
Terra Xucra, P.A., Sulina, 1969, p. 48).

LONQUEADOR, s. e adj. Indivduo que lonqueia. Diz-se, tambm, lonqueiro.

LONQUEAR, v. Preparar o couro, em geral do cavalar ou do muar,


limpando-o e raspando-lhe os plos, a fim de utiliz-lo depois para a
feitura de tentos, tranas, costuras e retovos. // Courear, no sentido
de tirar o couro de animal morto no campo, de peste, magreza ou
desastre. // Ganhar no jogo todo o dinheiro de algum. // Surrar,
espancar, esbordoar, ferir. // Matar.

LONQUEIRO, adj. O mesmo que lonqueador.

LORO, s. Tira de couro cru ou de sola que prende o estribo ao travesso


do lombilho.

LOROTA, s. Conversa sem importncia, jactncia mentirosa, pabulagem,


fanfarrice, banalidade, mentira, embuste.

LOROTAGEM, s. Conjunto de lorotas.

LOROTAR, v. Contar lorotas.

LOROTEIRO, s. e adj. Indivduo mentiroso, fanfarro, embusteiro,


contador de lorotas.

LOSCANHA, sdj. Diz-se do indivduo aluado, meio louco.

LUBUNO, adj. O mesmo que lobuno.

"... depois que apeou e atou o lubuno soga, foi que


verificou..." (N. Pereira Camargo, Histrias da Fronteira, P.A., Ed.
Combate Ltda., 1968, p. 43).

LUNANCO, adj. Diz-se do cavalo que tem um quarto mais baixo do que o
outro. // Aplica-se tambm a pessoas.

"A fita do teu cabelo


bual, maneia e lao;
Descogotado e lunanco
Inda por ti vou no passo."
(M. Teixeira, Cancioneiro Gacho).

LUNANQUEAR, v. Ficar o cavalo com uma anca mais alta que a outra por
luxao de uma das articulaes coxo-femurais. // Causar esse defeito ao
cavalo, tornar lunanco.

LUNAR, s. Lana com forma de meia lua. // Marca em forma de lua nova
que, segundo a tradio, Sep trazia sobre a testa.

"Sep Tiaraju no tem superiores. Ele o nico superior! A


todos vencer porque a sua lana invencvel. o enviado das florestas
e das guas para a salvao do povo guarani. Ele traz na testa um lunar
e esse lunar o seu prprio destino."

271

(Anselmo F. Amaral, Sep Tiaraju, P.A., Publica da Assemblia


Legislativa do Estado, 1976, p. 5).

LUNAREJO, adj. Diz-se do animal que tem lunares no plo, ou seja,


manchas ou sinais que permitam distingui-lo facilmente dos outros. (Vem
de lunar, vocbulo tanto portugus como castelhano. Na fronteira o j
pronunciado com som gutural).

LUZ, s. Espao compreendido entre a cauda do animal que vai na frente,


nas corridas de cavalos, e a cabea do que vai atrs. O termo usado
nas expresses dar luz, tirar luz, fazer luz, luz morta, luz curta, luz
e doble, luz, ganhar de luz e outras.

LUZ CURTA, s. Pequena luz, isto , distncia diminuta, em corridas de


cavalos entre a cauda do cavalo que ganha e a cabea do cavalo que
perde. O mesmo que luz morta.

LUZ E DOBLE, s. O mesmo que doble e luz.

LUZITA, s. Diminutivo de luz.

LUZ-MALA, s. Boi-tat , fogo-ftuo.

LUZ MORTA, s. O mesmo que luz curta.

272

MACACA, s. Gripe. (P. us.).

MA DO PEITO, s. Estremidade do osso esterno do animal.

MACAIO, s. Fumo ruim.

MACAMBZIO, adj. Tristonho, abichornado, sorumbtico.

MACANA, s. Mentira, embuste.

MAANICO, s. Dana gacha. // Corruptela de maarico, ave dos banhados


do nordeste do Rio Grande do Sul.

"O Maanico uma dana gauchesca. O nome uma corruptela de


Maarico, ave dos banhados do nordeste do Estado. A corridinha na dana
imita o vo do pssaro. O Maanico dana nascida no RS, mas sofre
influncia dos motivos coreogrficos portugueses. Classificao: pares
soltos semi-independentes." (Carmen Almeida de Melo Mattos, aula
ministrada em Curso de Introduo ao Folclore e ao Tradicionalismo
Gacho, maro, 1976).

MACANUDO, adj. Bom, superior, poderoso, forte, prestigioso, inteligente,


belo, rico, macota, admirvel, excelente, respeitvel.

M CARNADURA, expr. Diz-se de pessoa que tem dificuldade de engordar ou


que demora a restabelecer-se de ferimentos recebidos. ( antnimo de
boa-carnadura).

MAAROCA, s. Intriga, mexerico.

MAAROCAR, v. Fazer enredo ou maaroca. Emaranhar.

MACAXIM, s. Azedinha. // Batatinha do trevo branco do campo.

"Mais doce que macaxim Expresso ouvida em Bag e assim


explicada pelo Dr. Flix Contreiras Rodrigues: Macaxim o nome que do
batatinha do trevo branco do campo. sumamente adocicada. Este trevo
e mais o rosa, que superabundam nos campos bageenses, indicam inverno
frio e mido (chuvoso). Quando existe em maior quantidade o de flor
amarela, significa inverno frio e seco, com geadas. Esta explicao foi
confirmada por diversas pessoas. A expresso mais doce que macaxim
empregada para significar algo muito doce e meio enjoativo por isso, ou
ento, segundo o gosto de outros, para indicar coisa muito boa,
agradvel. Esta quadrinha explica bem a frase:

Por que me fazes sofrer,


por que me tratas assim,
se so teus lbios, morena,

273

mais doces que o macaxim?"


(Walter Spalding, Ba de Estncia).

MACEGA, s. Arbusto rasteiro que viceja em geral nos campos de m


qualidade. Pastagem. Capim alto.

"O laranjal enrubece


Ao disco argnteo da lua.
E a estrada deserta e nua
Logo aos olhos te aparece:
Uma restinga enverdece
Beijando a fralda a um regato:
E l... no fundo do mato
Arde o roado e fumega
O menfar - a macega."
(Lobo da Costa).

"Bebi gua deitado na macega


beira de um arroio claro e manso
que seguia cantando o seu caminho."
(Zeno Cardoso Nunes, Querncia).

MACEGA-BRAVA, s. Espcime do reino vegetal, cuja classificao


Erianthus augustifolium, Nees.
MACEGAL, s. Terreno coberto de macegas.

MACEGA-MANSA, s. Gramnea (Erianthus saccharoides, Nees) que constitui


boa pastagem.

MACEGA-VERMELHA, s. Espcime vegetal cuja classificao Andropogen


apathiflorus Kunt.

MACEGOSO, adj. O mesmo que maceguento.

MACEGUENTO, adj. Diz-se do campo em que existe muita macega. O mesmo que
macegoso.

MACELA, s. Planta medicinal usada em travesseiros, contra a insonia ou


enxaqueca, e em infuso para desarranjos gstricos. (Diz-se que sua
eficcia maior se for colhida na sexta-feira santa, antes de nascer o
sol). Var.: Marcela.

MACETA, adj. Diz-se dos animais cavalares e muares que apresentam os


machinhos mais grossos que de ordinrio, o que lhes dificulta a marcha.

MACETAR, v. Deixar maceta o animal de montaria, o que s vezes ocorre em


conseqncia de viagem por caminhos ruins e pedregosos. O mesmo que
macetear.

MACETE, s. Garrote de sovar couro. // Instrumento rstico utilizado para


a castrao.

MACETEAR, v. O mesmo que macetar.

MACETUDO, adj. Maceta cuja doena ou defeito est muito desenvolvido. //


Figuradamente, diz-se de animal ou pessoa velha, intil, imprestvel.

MACHAC, s. Balaiozinho que os negros amarravam aos ps para as suas


danas, os quais, cheios de frutinhas secas, serviam de chocalho.

MACHAO, s. e adj. Aumentativo de macho.

"dos que comigo na velhez machaa,


ainda vero pelo porvir da raa
quem sobre o pampa nos orgulhar."
(Fernando T. C. Saraiva, Das Coivaras
do Tempo, P.A., 1958, p. 109).

MACHERIO, s. Grupo de machos.

MACHINHOS, s. A parte fina dos ps dos animais cavalares e muares, logo


acima dos cascos. (Tambm usado no singular).

MACHO, s. Burro.

274

MACHONA, s. Mulher com jeito de homem.

MACHORRA, s. Vaca ou ovelha que no d cria. Toda fmea estril.


Machona.

MACHUCO, s. Pisadura, contuso, machucadura.

MACOTA, adj. Grande, alto, poderoso, influente, numeroso, vultoso,


macanudo, bom de qualidade, superior em qualquer sentido. "Tropa
macota", tropa numerosa, de gado muito bom; "fortuna macota", fortuna
grande; "capote macota", capote de boa qualidade; "moa macota", moa
bonita, prendada. (Etim.: vocbulo da lngua bunda, segundo Serpa
Pinto, significando fidalgo, chefe de tribo, conselheiro do sova).

"A para os meios de Quaraim, nos campos do major Jordo, entrei


uma vez numa correria macota" (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas
do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 46).

MACOTAO, adj. Muito macota.

MACUCO, s. Ave do mato, semelhante ao perdigo (Titamus solitarius).

MADEIRA-DE-LEI, s. Madeira dura, resistente s intempries.


Figuradamente: coisa boa, forte, duradoura.

"Minha Querncia madeira-de-lei:


dela fiz meu rancho e repouso."
(Nelson Fachinelli, Temas da Querncia).

MADEIREIRO, s. Dono de engenho de serrar ou beneficiar madeira;


comerciante de madeira; tirador de madeira, nas matas. // Adj. Relativo
madeira.

MADORNA, s. Sonolncia, modorra,


pequeno sono.

MADORNENTO, adj. Relativo a madorna, sonolento, modorrento.

MADRINHA, s. O mesmo que gua-madrinha.

MADRINHAR, v. O mesmo que amadrinhar.

MADRINHEIRO, s. O rapaz que cavalga a gua madrinha, seguindo na frente


da tropa, para regular a marcha da mesma.

MADURZIO, adj. Bastante maduro, idoso.

ME-D'GUA, s. Ente fantstico que vive nos rios e nos lagos, e que
aparece na forma de uma moa de cabelos negros e longos.

ME-DO-FOGO, s. Grande tio que, no fogo do galpo das estncias,


conserva o fogo para o dia seguinte. O mesmo que trafugueiro, chico,
pai-de-fogo e guarda-fogo.

MAGANGABA, s. O mesmo que mamangava.

MAGOTE, s. Pequeno grupo.

MAIORAL, s. O boleeiro da diligncia; o capataz da tropa ou da estncia.

MAIS PRIMEIRO, expr. Em primeiro lugar. "Fui eu que cheguei mais


primeiro", isto , em primeiro lugar. ( expresso chula).
MAITACA, s. Espcie de papagaio daninho s roas e aos pomares (Pionus
maximiliani Kuhl).

MAL, s. Lepra.

275

MALACARA, adj. Animal que tem a testa branca, com uma lista da mesma cor
que desce at o focinho. Desta denominao excetua-se o cavalo de cor
bem escura, que, sendo malacara, se chama picao. Animal de frente
aberta, de testa branca. Se o animal tiver branca toda a frente da
cabea, se chama lampeJo e no malacara. O animal malacara pode ser de
vrios plos, donde o zaino-malacara, o vermelho-malacara, o
baio-malacara, o tostado-malacara, e outros. (Etim.: O termo pode provir
de malha na cara ou da expresso espanhola mala cara. Neste ltimo caso
a significao no seria de cara ruim ou cara feia, e sim de cara m
para a guerrilha, visto que, sendo branca, em corpo de outra cor, se
apresentaria muito visvel para o inimigo).

MALA-DE-GARUPA, s. Pequeno saco, com uma abertura longitudinal no


centro, que se carrega na parte posterior do lombilho ou serigote,
guisa de alforjes, por baixo dos pelegos.

MALA-DE-PONCHO, s. Pea de couro, de lona ou de brim, em que se envolve


o poncho enrolado quando no est em uso, a fim de carreg-lo nos
tentos, por trs da cabea posterior do lombilho, descansando na garupa
do animal.

MALAMPANA, s. O mesmo que manapana.

MALA-NOS-TENTOS, loc. adj. Diz-se do indivduo independente, sem


ocupao certa, gaudrio:

"Gacho mala nos tentas


Por no ser de meios termos,
Nunca votei em governo
Nem ganhei o seu salrio;"
(Zeca Blau).

MALDADE, s. Pus proveniente de lcera.

MAL-DA-TERRA, s. Anciostomase.

MAL-DE-VASO, s. Ferida cancerosa na raiz dos cascos de cavalares e


muares. (Etim.: Do castelhano, em que vaso significa tambm casco de
cavalo).

MAL-DOS-CASCOS, s. O mesmo que mal-de-vaso.

MALEBRA, s. e adj. O mesmo que maleva.

MAL E MAL, adv. Escassamente, imperfeitamente. "O dinheiro mal e mal deu
para o negcio", isto , deu escassamente para o negcio.

MAL ENJAMBRADO, expr. Mal vestido.


MALEVA, s. e adj. Bandido, malfeitor, malfazejo, desalmado, perverso,
desapiedado, malvolo, mau, genioso, velhaco, cruel, de maus instintos.
Cavalo infiel, que por qualquer coisa corcoveia. // O mesmo que malevo e
malebra.

"O menino maleva foi l e veio dizer ao pai que os cavalos no


estavam." (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo,
1973,p. 182).

"Pra cabortero, ladro e maleva no hai lei como maniad, lao


ou trabuco." (Lo Tito, Aventuras de um Trapeira, P.A., Gundlach, 1940,
p. 76).

"E quando uma rs maleva


queria ficar revel,
o lao a achava na treva
guiado pelo tropel."
(Zeno Cardoso Nunes, Ladro de
Gado).

MALEVAO, s. e adj. Aumentativo de maleva. O mesmo que malevo.

276

MALEVO, s. e adj. O mesmo que malevao.

MALEVO, s. e adj. O mesmo que maleva.

MALEVOLO, s. Bandido, bandoleiro, assassino, ladro, que vagueia pelos


campos e matos. mais usado no plural: "Naquele mato existem uns
malvolos que a polcia no consegue pegar".

MALFEITO, s. Bruxaria, feitio.

MALHADOR, s. Lugar em que o gado se deita para ruminar e descansar.

MALHO, adj. Malzinho, pouco mal.

MALMEQUER, s. Planta do campo, da famlia das Compostas, que d flores


amarelas (Aspilia sp.).

MALO, adj. Mau, violento, irascvel, rancoroso, bandido, brigo. (


vocbulo castelhano, empregado somente na fronteira).

MALOCA, s. Bando de malfeitores,de salteadores, de gente de m vida. //


Favela. Agrupamento de ranchos.

MALOQUEIRO, s. Aquele que vive em maloca ou em grupo de bandidos.


Habitante de maloca.

MAL PARADO, expr. Perigoso, difcil, ameaador, com referncia a uma


situao ou circunstncia em que o indivduo se encontre.

MAL-PENTEADA, s. A mulher, a china.

MALTRATADO, adj. Diz-se do animal de montaria que est ferido no lombo


por uso incorreto dos arreios.
MALTRATAR, v. Molestar, pisar, ferir o lombo do animal de montaria pelo
uso inadequado dos arreios.

MALUDO, s. e adj. Cavalo inteiro, pastor, garanho. Diz-se do animal de


grandes testculos, lembrando uma mala.

MALUNGO, s. Denominao dada a indivduo de baixa condio social. Os


negros escravos chamavam de malungos os companheiros de bordo ou de
viagem. (Vem do congus, mu-alungo, no barco).

MAMADEIRA, s. Denominao que no


Rio Grande do Sul dada cobra limpa-campo (Pseudo boa clelia).

MAMADO, adj. Embriagado.

MAMA-EM-ONA, s. Caa-dotes, interesseiro, casado com mulher feia.

MAMANGABA, s. O mesmo que mamamgava.

MAMANGAVA, s. Espcie de grande vespa, muito venenosa, cuja picada


produz dor intensssima, calafrios e febre. O mesmo que mangang,
mangangaba, mamangaba, mangangava e mamangaba. // Frio intenso por falta
de cobertas.

"meu pala era velho,


Mas inda me arremediava.
Depois que perdi meu pala
Fui conhec a mamangava."
(Pala velho, de um cantador de
Jaquirana).

MAMO, adj. Mamado, bbado, tomado, embriagado. (Cast.).

MAMO, s. e adj. Diz-se de ou o terneiro de sobreano que ainda mama.

MAMAR, v. Embriagar-se.

MAMBIRA, s. e adj. Matuto, homem rude, caipira, rstico, desajeitado,


no acostumado cidade. Pessoa que no sabe caminhar nem vestir-se como
os

277

habitantes da cidade. (Do tupi-guarani, mambir, atado, embaraado).

"At parece mentira


Que semelhante mambira
Assim passasse o boal."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
21 ed., P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1978, p. 65).

MAMBIRADA, s. Reunio de mambiras: grupo de pessoas que no esto


habituadas vida da cidade.

MAMICA-DE-CADELA, s. rvore cuja madeira de cor amarela e de muita


densidade, com acleos, em forma de mamas, sobre a casca. As folhas
tambm so providas de espinhos. da famlia Rostaceae (Xantoxalon
rhoifolium Lam. Ver. Petiolatum Engl.).

MAMONA, s. e adj. Diz-se de ou a terneira de sobreano que ainda mama.

"E cortar sobre a carona


um churrasco de mamona
na beirada do fogo;
e, da trova na porfia,
descantar causos do dia
na roda do chimarro."
(Antnio Augusto de Oliveira,
Rastro de um charrua, P.A., Martins
Livreiro-Editor, 1981, p. 26).

MAMPAR, v. Comer.

MAMULO, s. Grande mama. Coisa que tenha semelhana com mama.

"Esta B. tem dois mamulos.


E, para nunca esquec-lo,
Lembre-se de um pessuelo
Na garupa atravessado,
Um bolso pra cada lado
E um travesso pra sust-lo."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
21 ed., P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1978, p. 30).

MANADA, s. Magote de guas ou burras, ordinariamente de trinta a


cinqenta, acompanhadas por um garanho ou um burro-choro, destinadas
reproduo.

"Um pastor gordo e feliz


reponta ao longe a manada."
(Homero Prates, Ao Sol dos Pagos,
RJ, 1939, p. 37).

"E me vejo, voando como o vento,


num pingo baio, que era um pensamento,
repontando a manada pela estocia."
(Rui Cardoso Nunes, Vozes da Querncia).

MANAMPANA, s. O mesmo que manapana.

MANANCIAL, s. Sumidouro, tremedal, paul, pntano. Nascente, vertente. //


Var. Manantial.

"Secundou o tiro e a bala quebrou o ombro do Chico, que deu um


urro e estorceu-se todo; quis firmar-se, porm o brao so afundava-se
no barro, acamando os capins j machucados; com esses tires e arrancos
o manantial todo tremia e bufava, borbulhando..." (Simes Lopes, Contos
Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 31).

"Yo no soy cantor letrao,


Mas si me pongo a cantar
No tengo coando acabar
Y me envejezco cantando:
Las copias me van brotando
Como agua de manantial."
(Jos Hernandes, Martin Fierro).

"Rugosa e antiga figueira


opulento vegetal
que beira do manancial

278

projeta sua ramagem."


(Cardo Bravo, Figueira, poema).

MANANTIAL, s. O mesmo que manancial.

MANAPANA, s. Espcie de beiju espesso feito de farinha de mandioca e


temperado com acar e erva-dOCe. O mesmo que manampana e mamampana.

MANCADA, s. O mesmo que polca mancada.

MANCADOR, s. e adj. Animal que anda mancando. Aplica-se ao mau cavaleiro


que, por descuido ou incria, torna mancO o animal.

MANCAR, v. Manquejal. Tornar-se manco. Tornar manco.

MANCARRO, s. e adj. Cavalo velho, sem valor, quase imprestvel. O mesmo


que pilungo e matungo. // Cavalo bom.

"Maneei os mancarreS e com um olho no padre, outro na missa,


por entre as ramas da restinga, fui espiar a peleia." (Simes Lopes,
Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 104).

MANCHA, s. Carbnculo do gado vacuns. mais freqente no gado bovino,


mas ataca tambm outros animaiS. tranSmissivel ao homem, que comumente
contrai essa peste ao tirar o couro de uma rs morta pela mesma.

MANCHADO, adj. Diz-se do plo do animal vacum ou cavalar que, sobre


determinado fundo, apresenta zonas de outra cor.

MANCO, adj. Diz-se do animal que claudica dos membros anteriores.

MANDAAIA, s. Espcie de abelha silvestre, sem ferro, que d excelente


mel.

MANDADO, s. Raio. Forma abreviada de


mandado-de-deus.

MANDADO-DE-DEUS, s. O raio, o cOrisco. Tambm se diz apenas mandado.

MANDAGUARI, s. Uma das espcies de abelhas silvestres existentes no Rio


Grande do Sul. parecida com a tubuna.

MANDALETE, s. Pessoa, geralmente menino ou velho, que trabalha nos


servios leves de uma estncia, em geral na transmisso de recados ou
ordens.

MANDAR, v. Arremessar alguma coisa contra algum. "Mandei-lhe a argola


do relho bem na idia", isto , dei-lhe com a argola do relho na cabea.

MANDAR CASCO, expr. O mesmo que mandar pata.

MANDARINA, s. O mesmo que tangerina.

MANDAR PATA, expr. Ser o parelheiro muito corredor. Correr velozmente.

MANDAR-SE A L CRIA, expr. Largar-se na estrada. Ir-se embora. O mesmo


que ir-se a la cria.

MANDAR-SE CAMBIAR, expr. Ir-se embora.

MANDAR-SE DIZER, expr. Exprimir-Se bem acerca de determinado assuntO,


demonstrando conhec-lo perfeitamente: "O padre mandou-se dizer naquele
sermo sobre o casamento".

MANDAR-SE DIZER NA ESTRADA, expr. Ir-se embora.

MANDAR-SE MUDAR, expr. Ir-se embora.

MANDARUV, s. Maranduv.

MANDA-TUDO, s. Manda-chuva, pessoa de grande influncia.

MANDI, s. Peixe (Pimellodela lateristriga M. Tr.) do Rio Uruguai e de


Seus afluentes. O mesmo que mandim.

279

MANDIM, s. O mesmo que mandi.

MANDINGA, s. Mandraco, feitio.

MANDORI, s. Abelha silvestre.

MANDRACA, s. Feitio, mandinga.

MANDRACO, s. Amuleto usado pelos jogadores.

MANDRAQUEIRO, adj. Feiticeiro.

MANDRIO, adj. Vadio, preguioso.

MANDUBI, s. Amendoim (palavra tupi). O mesmo que mendubi.

MANDURUV, s. Maranduv.

MANA, s. O mesmo que maneia.

MANEADO, adj. Diz-se, em sentido figurado, de pessoa embaraada, sem


iniciativa. // Diz-se tambm do cavalo mau corredor, de pouca
velocidade.

MANEADOR, s. Tira de couro cru bem sovada, de dois dedos de largura por
seis braas de comprimento, mais ou menos, que o campeiro conduz no
pescoo do animal ou em baixo dos pelegos, para servir de soga durante
as paradas em viagem. // adj. Diz-se do que maneia, ou prende o animal
com maneia. // V. a expresso passar os maneadores ou passar o maneador.

" preciso ter pacincia


- os costumes da querncia
exigem certo ritual -
um maneador mal atado,
pode dar mau resultado,
deixar baldoso um bagual."
(Jos Barros de Vasconcellos,
Maneador, in Antologia da EPC, P.A.,
Sulina, 1970, p. 241).

MANEAR, v. Prender com maneia ou com qualquer corda.

"Cavalo maneado tambm pasta." (Ditado popular).

MAN-BOC, s. Bobalho, aparvalhado, tolo, pateta, palerma. O mesmo que


Man-de-Souza.

MAN-DE-SOUZA, s. O mesmo que Man-Boc.

MANEIA, s. Pea constituda de dois pedaos de couro, ligados por uma


argola, que serve para prender uma outra as patas do animal, a fim de
que este no possa fugir. Cada um dos pedaos de couro formadores da
maneia que, com um furo em uma extremidade e um boto na outra, envolve,
como se fosse uma pulseira, a canela do animal maneado. Mana.

"Vi ento o que uma mulher rabiosa...: no h maneia nem bual


que sujeite: pior que homem! ..." (Simes Lopes, Contos Gauchescos e
Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973,p. 18).

"Gacho de corao
o que de nada receia
e que s teme a maneia
da saudade do rinco."
(Dirceu A. Chiesa, O Gnio dos
Pagos, P.A., Livr. Continente,
1950, p. 9).

MANERAR, v. Maneirar.

"Vem, gacho, manera esse lirismo,


busca o Novo, guardando o sonho antigo.
Leva o 'amargo' no peito, em simbolismo,
e procura da Lua, vem comigo!"
(Maria Dinorah Luz do Prado,
Quadrilogia Campeira, Dirio de
Notcias, P.A., 13-1-1974, p. 7).

MANETA, adj. Diz-se da pessoa que tem falta de um brao.

MANETEAR, v. Tornar-se maneta. // Mancar.

MANGA s. Linha formada de pessoas a

280
p ou a cavalo para obrigar o gado a passar por determinado ponto ou
faz-lo entrar para a mangueira. // Cercas divergentes de pedra ou de
pau que levam entrada da mangueira, dispensando a presena de pessoas,
no lugar em que esto construdas, para o encurralamento do gado.

MANGAO, s. Ato de mangar, isto , de demorar, de remanchar.

MANGAO, s. Pancada com o mango.

MANGANG, s. O mesmo que mamangava.

MANGANGABA, s. O mesmo que mamamangava.

MANGANGAVA, s. O mesmo que mamangava.

MANGAR, v. Demorar, remanchar, estar com delongas. // Reinar, provocar.

MANGO, s. Relho de cabo grosseiro, de madeira, e aoiteira larga, de


couro cru, no tranada. Rebenque pesado e grosso, com tala de couro
cru.

"Veio o dono com parte de tetia


j le traquei meu mango bem na idia!"
(Vargas Neto, Tropilha Crioula).

MANGOLO, s. Rapaz alto, forte e preguioso.

MANGORRA, s. Tristeza, aborrecimento, melancolia. // Mangao, disfarce.

MANGORREAR, v. Aborrecer, entristecer. Trair, engodar, enganar.

MANGOTE, s. Ala de couro do arreamento de trao em que passado o


varal da carroa. // Diminutivo de mango.

MANGRUEIRO, adj. Arreliento, impertinente, exigente.

MANGRULHO, s. Baliza que indica um baixio.

MANGU, s. Basto grosseiro que usavam os negros guisa de bengala.

MANGUARI, s. Indivduo alto e magro.

MANGUEAO, s. Ato de manguear.

MANGUEADOR, s. e adj. Diz-se de ou o que mangueia, que forma a manga.

"empreenderam-se noite volteadas, para apanhar as reses


aladas, com dezenas de mangueadores e numerosos sinuelos." (A. Maia,
Runas Vivas, Porto, Lello & Irmo, 1910, p. 43).

MANGUEAR, v. Guiar o gado na travessia de algum rio, flanqueando-o a


cavalo ou de canoa. // Conduzir, andando-lhe no flanco, o gado na
direo da mangueira, do rodeio, de uma aguada ou do grosso da tropa. //
Enganar, iludir. Procurar, com manhas e artifcios, conduzir outrem a
determinado assunto que se deseja abordar.

MANGUEIRA, s. Grande curral construdo de pedra ou de madeira, junto


casa da estncia, destinado a encerrar o gado para marcao,castrao,
cura de bicheiras, aparte e outros trabalhos.

"manguera, f. - En las estancias, mataderos, etc., corral


grande, cercado de postes o de piedra, para encerrar ganado." (Daniel
Granada, Vocabulario Rioplatense Razonado, Montevideo, Biblioteca
Artigas, Tomo II, 1957,p. 90).

MANGUEIRAO, s. Mangueira grande, para encerra de tropas.

MANHA, s. Queixume, choro. // Vcio, balda, caborteirice do animal. //


Figuradamente: velhacada, astcia.

MANHEIRO, adj. Muito manhoso. Diz-se da criana que, sem motivo, vive
chorando, fazendo berreiros. // Diz-se, tambm, do boi vagaroso e do
cavalo lerdo.

281

MANHEIRAR, v. Fazer manha, fazer berreiro, chorar, teimar, mostrar-se


descontente, aparentar doena, queixar-se, a criana, por motivo
insignificante ou sem motivo algum: "Porque no lhe deram a boneca, a
menina manheirou a tarde inteira"; "No sei por que est manheirando
tanto hoje esta criana". // Mostrar-se o indivduo vagaroso e de m
vontade na realizao de um trabalho: "H mais de trs meses voc vem
manheirando e no apronta essa mangueira. " // Custar o gado a obedecer
volteada: "Os bois esto manheirando para sair do mato". // Empacar ou
mostrar-se desobediente o animal de montaria: "O cavalo do guri
manheirou desde que saiu de casa." // Esquivar-se, ocultar-se, ser
difcil de encontrar, a caa ou o peixe. // Ser o fogo difcil de
acender e de se manter aceso. // Apagar-se, freqentemente, o cigarro de
palha, necessitando ser aceso de momento a momento.

MANHEIRENTO, adj. Que faz manha freqentemente, que se mostra


habitualmente manheiro, muito manheiro. O mesmo que manhento e
manherento.

MANHEIRO, adj. Manhoso, caprichoso, que tem o hbito de manheirar. //


Criana manheira a que teima, que chora, que faz berreiros, que se
queixa por motivo insignificante ou sem motivo algum. // Trabalhador
manheiro o que faz de vagar e com m vontade o seu servio. // Gado
manheiro o que custa a obedecer volteada. Cavalo manheiro o que
empaca, que no atende ao das rdeas, que se recusa constantemente a
obedecer ao cavaleiro. // Negcio manheiro o que demora a ser
decidido, que se mostra difcil de realizar; diz-se tambm do
estabelecimento comercial de pouco movimento, que d pouco lucro. //
Fogo manheiro o difcil de acender e de se manter aceso. // Fumo ou
cigarro manheiro o que se apaga freqentemente.

"China arisca, caborteira,


Morena do meu deleite,
No banca a vaca manheira,
Que vive escondendo leite."
(Oscar da Cunha Echenique).

"Cito ainda Ganbaldi


gacho-gringo manh eiro
que metido a marinheiro
organizou nossa esquadra."
(Moiss Silveira de Menezes, 1
Antologia de Poetas Brigadianos, P.A.,
Ed. Pallotti, 1982, p. 65).

MANHENTO, adj. O mesmo que manheirento.

MANHERENTO, adj. O mesmo que manheirento.

MANICA, s. O mesmo que manicla.

MANICLA, s. A menor das trs bolas que formam a boleadeira. a que se


toma na mo para lanar a boleadeira sobre o animal que se deseja
apanhar. // V. a expresso andar como bolas sem manicla.

MANILHA, adj. Inteligente, vivo. (Des.).

MANO A MANO, expr. Em igualdade de condies. Jogar ou brigar mano a


mano significa participarem do jogo ou da briga somente duas pessoas,
uma contra a outra, em igualdade de condies.

MANOJO, s. Novelo que o tranador do lao faz com cada um dos tentos da
trana, o qual se vai desenrolando, medida que ele trabalha, por
efeito de uma laada especial.

MANO-JUCA, s. Denominao que o habitante da cidade d ao campons,


pessoa de fora, com ares de rstico.

282

MANOSEADO, adj. O mesmo que amanonciado.

MANOSEADOR, s. O mesmo que amanonciador.

MANOSEAR, v. O mesmo que amanonczar, amanunciar, amanosear ou amanusear.

MANOSEIO, s. Ato de manosear.

MANOTAO, s. Pancada que o animal cavalar ou muar d com uma das patas
dianteiras ou com ambas. // Bofetada, pancada com a mo, dada por
pessoa. // Em sentido figurado, desfeita, afronta.

"E tudo mais em S. Pedro


Vai morrendo, pouco a pouco,
A manotaos e a soco" ...
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1978, p. 72).

MANOTEADO, adj. Roubado, furtado.

MANOTEADOR, adj. Diz-se do animal cavalar ou muar que costuma dar


manotaOS.

MANOTEAR, v. Dar manotaos. // Pegar, segurar, agarrar rapidamente


qualquer objeto: "Mano teei a pistola antes que ele puxasse da faca." "O
ndio torceu o corpo e manoteou a aspa do touro." // Roubar, furtar,
gadunhar.

MANOTEAR COLUDOS, expr. Roubar ovelhas.

MANQUEIRA, s. Peste da mancha, carbnculo.

MANSARRO, adj. Diz-se do animal muito manso. // Figuradamente, pessoa


de muita pacincia.

MANSO COMO UM CEPO, expr. Diz-se do cavalo completamente manso.

MANSO DE BAIXO, expr. Diz-se do animal que embora sendo manso para se
lidar com ele, pr-lhe o cabresto, conduzi-lo para qualquer lugar, no
foi ainda amansado para montaria.

MANSO DE EM PLO, expr. Aplica-se ao cavalo que se deixa montar sem os


arreios.

MANTA, s. Grande pedao de carne de rs, seco ao sol.

MANTEAR, v. Repartir a carne do bovino em mantas.

MANTENEDOR, s. Chefe de cada partido, mouro ou cristo, nas cavalhadas.

MANTENER, v. Manter, no sentido de prover do alimento necessrio.

MANTEDO, adj. Diz-se do animal que se mantm em bom estado, embora com
raes deficientes.

MO, s. Unidade de medida para o milho no debulhado, equivalente a 64


espigas.

MO DE LEITO, s. Indivduo avarento, seguro, usurrio, somtico,


mo-de-finado.

MO-DE-TRAGO, s. Rodada de trago em regozijo por uma gauchada.

MOPATIA, s. Homeopatia. Var.: Mompatia.

"Diz que era fome canina,


Que o rapazinho sofria;
Por isso, num certo dia,
Foi levado na garupa
A um baiano, um tal Chalupa
Que aplicava mopatia."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1978, p. 27).

MO PELADA, s. Quadrpede, semelhante a um co selvagem, que vive no


mato.

MARACOTO, s. Variedade de pssego muito desenvolvido.

283

MARAGATADA, s. Grupo, reunio, poro, conjunto de maragatos.


MARAGATAGEM, s. Ao prpria de maragato. Maragatice. Maragatismo.

MARAGATEAR, v. Exercer atividade poltica de maragato. Praticar aes


prprias de maragato.

MARAGATICE, s. O mesmo que maragatagem.

MARAGATISMO, s. O mesmo que maragatagem. // Credo poltico dos


maragatos.

MARAGATO, s. Denominao dada ao revolucionrio ou partidrio da


revoluo rio-grandense de 1893, adepto do credo poltico pregado por
Gaspar da Silveira Martins e adversrio do partido ento dominante,
chefiado por Jlio Prates de Castilhos. // Revolucionrio ou partidrio
da revoluo rio-grandense de 1923, adepto do partido liderado por
Joaquim Francisco de Assis Brasil e contrrio a Antnio Augusto Borges
de Medeiros, governador do Estado. // Federalista.

"Na provncia de Len, Espanha, existe uma comarca denominada


Maragateria, cujos habitantes tm o nome de maragatos, e, que, segundo
alguns, um povo de costumes condenveis; pois, vivendo a vagabundear
de um ponto a outro, com cargueiros, vendendo e comprando roubos e por
sua vez roubando principalmente animais; so uma espcie de ciganos. Aos
naturais da cidade de So Jos, no Estado Oriental do Uruguai, do neste
pas o nome de maragatos, talvez porque os seus primeiros habitantes
fossem descendentes de maragatos espanhis. Pelo fato de os rebeldes em
suas excurses irem levantando e conduzindo todos os animais que
encontravam, tendo apenas bagagens ligeiras, cargueiros, etc. Como os da
Maragateria e porque (com excees) suspendiam com o que encontravam em
suas correrias, aplicou-se-lhes aquela denominao, que alis eles
retriburam com outras no menos delicadas aos republicanos, a despeito
da correo em geral observada por estes em toda a luta." (Romaguera).

"Ainda hoje (1897), que 11 sculos so decorridos, os maragatos


constituem um ndulo distinto no meio da populao lionesa. So ainda os
brberes antigos: usam a cabea raspada, com uma mecha de cabelo na
parte posterior; falam uma linguagem que no bem castelhana, a qual
apresenta uma pronncia arrastada, dura e lenta, e so geralmente
arredios." (Oliveira Martins, apud Vocabulrio Sul-Rio-Grandense, P.A.,
Globo, 1964, p. 289).

"Trouxera consigo, alm do irmo Aparcio, um grupo de maragatos


do Departamento de S. Jos, nome por que eram conhecidos os imigrantes
de certa regio da Espanha, e, que, pelo prestgio do chefe, se extendeu
a todos os rebeldes da Revoluo Federalista e at, posteriormente, a
qualquer adversrio da situao castilhista do Rio Grande." (Arthur
Ferreira Filho, Revolues e Caudilhos, 2 ed., Passo Fundo, p. 34).

"J. F. de Assis Brasil, o velho lder poltico maragato, lana


"A Atitude do Partido Democrtico Nacional na Crise da Sucesso
Presidencial do Brasil", um trabalho que merece ser lido e meditado"
(Pedro Leite Vilas-Bas, Um Quarto de

284

Sculo de Literatura Rio-Grandense - 1929-1954" in Revista da Academia


Rio-Grandense de Letras, n 1, P.A., 1980, p. 125).

"Velho tropeiro Vicente,


que amas tuas origens
fibra de velhas razes,
em solo duro e ingrato.
Teimoso remanescente
duma raa em extino
s caudilho mara gato
sem armas nem munio,
peleando valentemente
na defesa deste cho!"
(Cardo Bravo, Rebeldia, poema).

MARANDUV, s. Marandov. Espcie de lagarta cujo contato produz


queimaduras na pele.

MARATIMBA, s. e adj. Matuto, roceiro.

MARCA, s. Instrumento de ferro usado pelos estancieiros para marcar seu


gado a fim de diferen-lo do de outras estncias. Depois de aquecida ao
fogo a ponto de ficar em brasa a marca assentada no animal. O sinal
impresso a fogo no corpo do animal pelo instrumento descrito tambm se
chama marca. Os cavalos so marcados na perna, as guas, na picanha; o
gado vacum manso, na perna; o gado vacum chucro, nas costelas.
Atualmente se usa marcar na perna ou na cara do animal, para no
desvalorizar o couro. A aposio da marca uma segunda vez se denomina
contramarca e significa que o animal que a recebeu deixou de pertencer
ao seu primeiro dono.

"Joo Simes Lopes Neto no era ruralista, no dispunha sequer


de um palmo de terra, nem de gados de cria ou de invernar, embora fosse
dono de uma marca, devidamente registrada na prefeitura de Pelotas."
(Carlos Reverbel, Um Capito da Guarda Nacional, P.A., UCS - Martins
Livreiro-Editor, 1981,p. 124).

MARCA-BORRADA, s. Indivduo trampolineiro, velhaco, desprezvel.

MARCAO, s. Ao de marcar os animais de uma estancia. Reunio de


campeiros para a realizao do trabalho de marcar o gado. Esse trabalho,
apesar de fatigante e perigoso, executado com muita alegria,
constituindo verdadeira festa para a gauchada que dele participa ou que
simplesmente o assiste.

"Enfim, via-se toda a alegre azfama de uma marcao, que , nas


campinas rio-grandenses, um dia de festa, pois ela constitui, apesar dos
seus inmeros perigos e acidentes, um dos melhores divertimentos do
gacho." (Gabriel Peixoto, Alma Gacha, P.A., Globo, 1926, p. 2).

"As marcaes duram sempre de trs a quatro dias. Durante esse


ligeiro tempo, a velha estncia como que ressurge do seu passado de
grandeza e de domnio. L dentro a famlia inteira se desdobra em
ocupao de toda ordem. L fora, nos galpes, corre um sussurro de
ntima jovialidade. E a peonada composta de moos e velhos se
distribuindo a cavalo e a p, de boleadeiras na mo, de laos armados,
pronta a percorrer o campo, bombiando as invernadas de gado, tirando
terneiros dos atoleiros e das restingas.
Formam-se, ento, entre eles, diverses tradicionais. Jogam,
pealos a cigarros, a tragos de canguara e levam, em cada tiro, a
certeza da parada ganha. Destros laadores rebuscam-se assim da
obrigao dos

285

vcios, sem uma s vez falhar a armadilha do lao. Quando o no acertam


na parte determinada previamente, reboam, em pilhrias, as vaias
inofensivas, enquanto l um que outro manga com as rodilhas mal-armadas.
Outros exigem com desdm:
- Pealos de cucharra no se agenta. Tem que s de todo o lao.
- Este ainda no presta ermo... pealo de sobrelombo.
De novo, ento, o lao esfuzia nas mos possantes do pealador e,
l adiante, o terneiro a correr cai, preso pelas patas.
- Ansim me venha, parcero! O tiro foi bueno.
E com outras mil proezas comea, desse modo, o intenso perodo
das marcaes. O gado todo estaciona nos mangueires de pedra, sombra
dos umbus e cinamomos. Da para o transcurral saem presos, um a um, os
orelhanos a serem marcados.
Permanece ainda em quase todas as estncias o mesmo costume
antigo. Forma-se todo o pessoal, inclusive os vizinhos e agregados que
vo prestar tambm seus ajutrios. O capataz escolhe quatro laadores,
e, para cada um, dois apertadores geis. Junto ao tronco conduzida
ento a terneirada que vai receber no couro novo a inicial do nome do
estancieiro. As vezes, com dificuldade, a cria derrubada. Um dito
qualquer desaponta o terno que trabalha para subjug-la:
- Que flacos! ... - Andam mesmo que zorros pendurados na cola
dos terneiros.
Um outro arremeda:
- Qu-qu! ...
o guaraxaim, o zorro. Para eles o smbolo de fraqueza, da
covardia, e quando o campeiro se enquadra nessa comparao humilhante
por qualquer um ato que denota timidez, os outros o sitiam em chufas
deprimentes, em risos escarninhos, ao borboletear-se frases ambguas.
De cuia na mo, chupando o amargo, o estancieiro intervm, ante
a morosidade do servio:
- Que andassem c'os diabos. Que no fossem lerdos, estavam
maando o animal...
Depois do terneiro estendido no cho, a marca em brasa assenta
sobre o quarto direito, queimando plo e couro. Um cheiro de carne
tostada recende ento, no ar, estimulando o apetite para o churrasco do
meio-dia. Marcado o terneiro, recebe ele na orelha, com ligeiro corte de
faca, um outro sinal imperecivel. o registro, a confirmao, a
garantia do primeiro. Alguns fazendeiros usam marcar a rs na paleta.
So raros. O que permanece em voga o costume primitivo, de uso quase
geral nas estncias centenrias. Nos dias de marcao recrudesce em
todas as mangueiras, a mesma atividade, o mesmo af de manh tarde.
Por todos os lados os apertadores gritam:
- Chega a marca, marqueiro! .
Ao que este logo responde:
- Aperta manheiro...
E assim, sucessivamente, cem, duzentas, trezentas cabeas de
crias novas, sofrem a mesma operao em fins de agosto a princpio de
setembro, quando a safra tima e a produo abundante.
Com o mesmo entusiasmo seguem-se depois a domao, ou mais

286
propriamente a doma de potros, a tosa da eguada, a marcao de potrilhos
e de gado xucro, a pega dos baguais venenosos, a capao de touro, tudo
isso num multiplicar intenso de energia, atividade e audcia." (Callage,
Terra Gacha, 2 edio, p. 76).

"Ampliemos o quadro: Grande festa


Foi sempre em toda estncia a marcao;
Nesses dias de lides fervorosas
Dos campeiros se alegra a multido;
Todos querem porfia nos pealos,
Uma palma ganhar - de distino.

Da vizinhana as belas camponesas


Tambm a festa vm abrilhantar;
Com seus formosos olhos e sorrisos,
Vm leda moada estimular;
Quantos ali, porm, a errar pealos,
No se deixam por elas pealar?

Bem gordas vaquilhonas nesses dias


No poupa o estancieiro; gosto seu
Com profuso tratar os convidados,
Que jamais em bem tratar ningum perdeu.
De mais, nunca a franqueza da cidade
Como a do campo lhana pareceu.

E enquanto se trabalha na mangueira,


E sucedem-se os pealos com fervor,
Chiam assados - o melhor petisco
Que ao campeiro consola e d vigor;
De mo em mo a cuia espuma o mate,
E animao tudo, vida, amor."
(Taveira Jnior, Provincianas).

MARCA DE FAZENDA VELHA, expr. Diz-se para significar coisa muito


conhecida, que permanece sempre igual, que no muda nunca.

MARCADO, s. e adj. Diz-se de ou o homem que gosta de enganar os outros.


Velhaco. trampolineiro, espertalho. Aplica-se, especialmente, ao homem
que negocia procurando iludir os outros.

MARCADOR, s. Indivduo encarregado de aquecer a marca e lev-la para


sentar no animal. Marqueiro.

MARCA GRANDE, s. A marca principal de uma estncia, destinada a marcar o


gado do proprietrio. Chama-se marca grande no por seu tamanho mas sim
por sua importncia em relao s outras marcas, usadas no gado dos
dependentes do estancieiro. // Diz-se, tambm, de marca pertencente a
estancieiro que possui muito gado ou vrias estncias.

MARCAR, v. Aplicar a marca no animal; fazer o servio de marcao. o


mesmo que ferrar, isto , aplicar o ferro quente na rs, nos outros
Estados. A marca pode ser aplicada na cara, pescoo, flanco, perna,
paleta ou picanha do animal, conforme a vontade de seu proprietrio.

MARCAR NA PALETA, expr. Anotar, assinalar, no esquecer, o mau


procedimento de determinado indivduo: "Aquele patife me logrou, mas vai
ficar marcado na paleta para o resto da vida", isto , vai ficar sendo
reconhecido como velhaco enquanto viver. O mesmo que marcar na picanha.

MARCAR NA PICANHA, expr. O mesmo que marcar na paleta.

MARCELA, s. O mesmo que macela.

MARCHA, s. Modo especial de andar dos animais de montaria. Existem a


marcha batida, a marcha troteada, a mar-

287

cha galopeada, etc.

MARCHA BATIDA, s. Modo de andar do animal de montaria, bastante clere e


confortvel para o cavaleiro.

MARCHADOR, adj. Diz-se do animal que em vez de trote tem outro modo de
andar, denominado marcha.

MARCHA GALOPEADA, s. Modo de andar do animal de montaria que se


assemelha ao galope.

MARCHANTE, s. O que sustenta uma amsia. // O que paga para os outros.


// Dono de matadouro.

MARCHA TROTEADA, s. Modo de andar do animal de montaria em que este


parece que anda a passo com os membros posteriores e troteia com os
anteriores. marcha muito apreciada pelo bem-estar e comodidade que
proporciona ao cavaleiro.

MAR, s. Dono da banca em que vendido o peixe, na gria dos pescadores


de Porto Alegre. (Desus.).

MAREADO, adj. Um tanto brio, meio embriagado.

MARIA-BACOMB, s. O mesmo que Maria-macumb.

MARIA-MACOMB, s. O mesmo que Maria-macumb.

MARIA-MACUMB, s. Brinquedo infantil que consiste em as crianas se


esconderem para que uma delas, que ficou de costas para as outras ou com
os olhos vendados, as encontre e agarre alguma. O mesmo que
Maria-macomb ou Maria-bacomb.

MARIA-MOL, s. O mesmo que Maria-mole.

MARIA-MOLE, s. Arbusto que d nos campos e que indica a boa qualidade


dos mesmos. A Maria-mole j foi acusada de planta geradora e
transmissora da ferrugem do trigo: "Examinados no Museu Nacional um p
de Maria-mole e um de trigo que lhe era vizinho, o encarregado do estudo
identificou em ambos a existncia da Puccinia rubigo vera, como
consta do ofcio dirigido Fiscalizao dos Trigais." (Chc. e Quint.,
fev de 1912, p. 3). A transcrio acima, em nossa opinio, nada prova
contra a Maria-mole, pois tanto pode ter ela transmitido a ferrugem ao
trigo como o trigo a ela.
MARIA-PRETA, s. rvore da famlia Ebenaceae (Macreightia obovata
Mart.).

MARIC, s. rvore de pouco crescimento, muito espinhosa, tambm chamada


espinho-de-cerca, da famlia Mimoseae (Mimosa sepiaria Benth).

"... e as cercas de maric pareciam verdes fitas cobertas de


neve." (Carlos Jansen, O Patu, P.A., URGS, 1974, p. 75).

MARICAZAL, s. Lugar onde cresce com abundncia o maric.

MARIMBAU, s. Instrumento musical usado antigamente pelos pretos


africanos.

"Meu pai um negro velho


Tocador de marimbau,
Minha me uma coruja
Que mora no oco do pau."
(Quadrinha popular).

MARIMBONDO, s. Frio, por falta de cobertas.

"Depois que perdi meu pala


Sucede desta maneira:
O marimbondo me morde,
Fao fogo a noite inteira."
(Pala Velho, de um cantador de
Jaquirana).

MARINHEIRO, s. Gro de arroz com casca, encontrado no arroz j descasca-

288

do. // Joio.

MARIPOSA, s. Espcie de draga puxada a boi, cavalo ou burro, e utilizada


em escavaes para audes.

MARMOTA, s. Instrumento que permite ver cenas fotografadas, em terceira


dimenso e em tamanho natural.

MAROMBA, s. Cabo de ao ou de fibras colocado transversalmente sobre um


curso dgua, com uma extremidade presa em cada margem, no qual se
seguram os tripulantes de uma barca para puxarem-na de um para o outro
lado. Ii Espcie de sardinha grande. // Situao em que se encontra uma
pessoa que est jogando com pau de dois bicos, isto , que est
defendendo ora uma, ora outra, de duas idias contrrias, para agradar
s duas partes.

MAROMBAR, v. O mesmo que marombear.

MAROMBEAR, v. Utilizar a maromba para puxar a barca. // Jogar com pau de


dois bicos, isto , defender ora uma ora outra de duas idias contrrias
para agradar aos que as professam. O mesmo que marom bar.

MARQUEIRO, s. O indivduo que nas marcaes tem o encargo de aquecer a


marca e conduzi-la para assentar na rs. O mesmo que marcador.
MARQUESA, s. Espcie de cama muito larga.

MARRANO, adj. Diz-se de gado ruim.

MARRO, s. e adj. Gado bravio, selvagem, chimarro. // Barro, varro.

MARRECA-DO-PAR, s. Irer. Ave da famlia dos Anatdios, tambm chamada


marreca-piadeira, marreca-viva, marreca apa, apa, chega-e-vira.

MARREQUINHA, s. Flor de corticeira.

MARROTE, s. Porco pequeno, ainda no castrado.

MARTEL, s. Copo de um quarto de garrafa, usado para bebida nos boliches


de campanha.

MARTELO, s. Sinal para identificao que se faz nos vacuns, sunos e


ovinos, consistindo em dois recortes, em esquadro, na parte inferior de
uma das orelhas do animal. // Qualificativo dado cabea do cavalo que
tem o frontal saliente, dando-lhe um feio aspecto. // Tesoura utilizada
para tosar ovinos.

MARTILHAR, v. Engatilhar, emartilhar. Preparar o cavalo para partir com


rapidez.

MARTILHO, s. Gatilho (raramente usado).

MARTIM, s. Abreviatura do nome do conhecido pssaro martim-pescador.

"Num galho de amarilho, um martim retrata-se corrente."


(Clemenciano Barnasque, No Pago, p. 39).

MARTIM-PESCADOR, s. Pssaro que vive nas costas dos rios e arroios,


alimentando-se de peixes, que sabe caar com extrema percia.

MARUCA, s. Designativo familiar de Maria.

"Vamos, Maruca, vamos,


Vamos pra Jundia,
Com os outros voc vai,
S comigo no quer ir!"
(Popular).

MASCADOR, s. e adj. Galo que, na pelea, pega freqentemente o adversrio


com o bico, mas no lhe desfere a pancada com os tarsos.

MASCAR, v. Mastigar.

MASCAR O FREIO, expr. Fazer o cavalo, com o maxilar, movimentos que

289

semelham o de mastigar o freio, produzindo um rudo caracterstico. Esse


procedimento denota alegria e boa disposio do animal.

MASSAP, s. Terra vermelha, argilosa, parecida com a terra roxa de So


Paulo.

MATA, s. O mesmo que matadura.

MATA-BICHO, s. Cachaa servida em copo; trago de cana. // Caf preto,


tomado em jejum.

MATA-BOI, s. Corda com que se une o eixo mesa da carreta, para que ele
no salte fora por ocasio de algum solavanco.

MATA-CAVALO, s. Planta espinhosa da famlia das Solanceas, cujos


frutos, de cor amarela, tm fama de ser venenosos. // Indivduo que usa
excessivamente seu cavalo, ocasionando-lhe esgotamento.

MATA-COBRA, s. Joo Ningum, pessoa sem merecimento. // Cacete, porrete,


usado como bengala.

MATADO, adj. Diz-se do animal cheio de mataduras produzidas pelos


arreios. // Diz-se, tambm, de trabalho mal acabado, feito
apressadamente.

MATADORA, s. e adj. Mulher encantadora, muito bonita.

MATADURA, s. Ferida no lombo do cavalo, proveniente do mau uso dos


arreios. O mesmo que mata.

MATAMBRE, s. Carne que fica entre as costelas e o couro da rs. D um


assado muito saboroso. (Etim.: Vem do castelhano, mata hambre, mata
fome, por ser a primeira carne que se pode tirar do bovino abatido).

"Matambre - a carne que cobre as costelas e a primeira que se


tira depois de courear, constituindo um assado muito saboroso." (Dante
de Laytano, A Cozinha Gacha na Histria do Rio Grande do Sul, P.A.,
Esc. Sup. de Teologia So Loureno de Brindes, 1981, p. 46).

MATA-OLHO, s. rvore pertencente famlia Euphorbiaceae (Pachistroma


iliciofolyum Mull). Tem uma seiva acre e irritante quando em contato com
as mucosas ou mesmo com a pele, motivo pelo qual os derrubadores de mato
a tratam com grande precauo. Acredita-se que a fumaa produzida por
sua combusto origine oftalmias e at cegueira. // Indivduo caloteiro,
velhaco, trapaceiro.

MATA-PIAVA, s. Cacete usado para pescar piava, batendo-lhe na cabea


quando ela aflora superfcie da gua.

MATAR, v. Causar esgotamento ou cansao excessivo ao animal de servio


pelo seu emprego imoderado; produzir-lhe esfoladuras no lombo pelo mau
uso dos arreios.

MATAR CACHORRO A GRITO, expr. Andar sem dinheiro, estar na misria,


viver em grandes aperturas: "Aquele coitado est matando cachorro a
grito", isto , est desempregado, sem dinheiro, mal de finanas, em
grandes aperturas.

MATAR O BICHO, expr. Ingerir cachaa ou outra bebida alcolica; tomar um


gole de qualquer bebida espirituosa. // Tomar caf preto, pela manh, em
jejum. // Divertir-se.

MATE, s. Infuso de erva-mate (Ilex paraguayensis, St.-Hil.) preparado


em cuia de porongo e sorvida por meio da bomba. (Bem ou mal preparado, o
mate ser sempre uma bebida saudvel, tnica, estimulante e
reconfortante. No entanto, para que ele atinja o mximo de suas boas
qualidades, devem

290

ser observadas, para a sua feitura, as seguintes regras: Coloca-se a


erva, que deve ser de boa procedncia, nem muito grossa nem muito moda,
em uma cuia feita de cabea de porongo, enchendo-a at pouco mais de
dois teros de sua capacidade. Para quatro ou cinco pessoas, pode-se
usar uma cuia com capacidade de um quarto de litro, na qual se colocam
aproximadamente cento e trinta gramas de erva. Segurando-se a cuia com a
mo esquerda, tapa-se sua boca com a direita, emborcando-a e
sacudindo-a, de maneira que os pauzinhos e a erva mais grossa, de menor
densidade, fiquem ocupando a parte do fundo que, no caso, est voltado
para cima. A seguir, deita-se a cuia, de forma que a erva se aloje em um
dos seus lados, onde se procura acam-la com branda presso dos dedos.
Coloca-se depois, no espao vazio, pequena quantidade de gua fria ou
morna, lentamente, aos poucos, ao mesmo tempo que se reconduz a cuia
posio normal, terminando de ench-la, com cuidado, para que a erva, j
parcialmente embebida de gua, no se acame no fundo. Aguarda-se de
quinze a vinte segundos para dar tempo erva de absorver mais um pouco
da gua j posta na cuia. Com esse procedimento, de um lado da cuia fica
a erva, meio molhada, e, do outro, certa quantidade de gua e o espao
por onde se vai colocar a bomba. Segurando a cuia com a mo esquerda,
pega-se a bomba com quatro dedos da mo direita, tapando o bocal com o
polegar da mesma mo e se a introduz na cuia, pelo lado em que foi posta
a gua, fazendo com que o ralo penetre at o fundo, onde se encontram a
erva mais grossa e os pauzinhos, o que evita entupimento da bomba,
proporcionando um mate mais voluntrio, ou seja, que pode ser chupado
mais facilmente. , tambm, para evitar que a bomba entupa que os
entendidos na feitura de mate tapam o bocal da mesma, com o dedo
polegar, ao introduzi-la na cuia, pois acreditam que no havendo sada
para o ar, a presso deste impedir a entrada, nos furinhos do ralo, de
fragmentos de erva que poderiam entupi-lo parcialmente. A introduo da
bomba feita com a erva esquerda do preparador, para que o mate no
saia canhoto, isto , para que ao ench-lo, a chaleira, segura com a mo
direita, fique em posio adequada colocao da gua. esquerda de
quem ceva o mate fica uma pequena salincia da erva, ocupando a metade
da boca da cuia, denominada topete, a qual o cevador cuidar para que
no desmorone quando estiver pondo a gua quente. Para que o mate
apresente melhor specto, o topete poder ser aumentado com a colocao,
sobre ele, de mais um bocado de erva. O topete no feito apenas com
finalidade esttica, pois ele vai sendo derrubado, aos poucos, medida
que o mate cevado, de modo a conservar sua fortido uniforme por
bastante tempo. Quando o mate comea a enfraquecer, pode ele ser
encilhado, mediante o acrscimo de um pouco de erva nova sobre a que
est sendo utilizada, da qual retirada uma pequena parte. A gua,
aquecida de preferncia em chaleira de ferro, dever apenas chiar, e
nunca ferver, pois o mate mais saudvel e mais saboroso em temperatura
moderada, de 70 a 80 graus centgrados, alm de, como qualquer outra
bebida, ser nocivo sade se for tomado excessivamente quente. O mate
deve ser tomado em sorvos longos e lentos; no com excessiva fora,
mesmo quando no esteja fluindo com facilidade atravs
291

da bomba. Para melhor entendimento deste verbete convm examinar os


termos mate-chimarro, mate-amargo, chimarro, amargo, verde, congonha,
erva, erva-mate, cuia, bomba, topete, mate-doce, terer,
mate-do-estribo, matear, verdear, congonhar, chimarrear e outros que a
leitura dos citados ir sugerir).

"A erva-mate em histria natural toma o nome de Ilex


paraguayenses. Tambm a denominam ch do Paraguai.
Os ndios guaranis a denominavam cogoi e ca, sendo esta ltima
palavra mais usada. A palavra congonha, como a denominavam em So Paulo
e em Minas Gerais, cabe erva encestada, uma palavra composta de
cogoi e da partcula nha, encestar, isto , por em jac ou em cesto.
O mate tem entre os ndios guaranis uma origem mitolgica.
Comearam eles a usar como bebida a erva-mate, cad por indicao de um
paj, feiticeiro. Segundo a lenda, tendo anhang aparecido a esse paj,
narrou-lhe as virtudes e os males do ca. E desde ento comearam a
us-la com as devidas precaues para tirar dela as vantagens tnicas e
medicinais, evitando seus inconvenientes.
No s os pajs como os caciques nas grandes decises, nos
conselhos, nada resolvem sem tomar alguns tragos de mate. Tal a conta
que tm de suas virtudes.
Os ndios guaranis usam o ca em infuso com gua no muito
quente, a que chamam caay, mate, e com gua fria, como refresco tnico,
a que chamam terer. Na opinio deles, a gua quente, fervendo, tira-lhe
as virtudes e faz mal.
Segundo autores notveis, o mate tomado noite provoca
insnias. excitante e tnico do sistema nervoso. O seu uso moderado
estimula a imaginao e facilita o trabalho intelectual. Por sua ao
tnica promovendo o equilbrio fisiolgico, constitui um sedativo do
sistema nervoso. O mate chimarro que goza dessas propriedades. Porm,
para que ele d resultado, no deve ser tomado com gua muito quente.
Tomado com gua fria, o terer, alm de ser um refresco, mais enrgico
em as ditas virtudes medicinais." (Joo Cezimbra Jacques, Assuntos do
Rio Grande do Sul, P.A., Of. da Escola de Engenharia, 1912).

"Tendo na mo a cuia de mate - quente como uma presena humana -


e chupando lentamente na bomba, Ana Terra s vezes ficava sentada
sombra duma laranjeira, na frente de seu rancho, tentando lembrar-se das
coisas importantes que tinham acontecido desde o dia em que ele chegara
quele lugar." (Erico Verssimo, O Tempo e o Vento, P.A., Globo, 1950,
p. 134).

"Quando ela me passa o mate


eu sinto um forte desejo
de em vez de chupar a bomba
sorver-lhe a boca, num beijo."
(Hugo Ramrez, in Cancioneiro de
Trovas).

"Mate bueno
de gosto amarguento,
de erva batida
na concha da mo,
de bomba de prata
chapeada de ouro,
de cuia cozida
com cinza e carvo.

292

Mate gostoso,
cevado de novo,
recm escorrido,
ainda espumante,
que a gente tragueando
se sente contente
e esquece um momento
a gacha distante.
Mate que encerra
em seu gosto esquisito
o mesmo amargor
da saudade febril
que vem da lembrana
de uns olhos profundos.
Mate que lembra
os ervais to bonitos
que vivem da seiva
do imenso Brasil,
- a terra mais frtil
das Terras do Mundo !!! -"
(Lauro Rodrigues, Minuano, P.A.,
Globo, 1944, p. 29).

"Em seguida traz o mate


cevado por ela mesma
numa cuia aparelhada,
vem de pezinho estalando
na chinelita bordada.
Eu, chiru mui marombero,
vou mateando e dando prosa,
porque sempre o assunto vem,
mas meu feitio est todo
naquele lindo vaivm.
Traz o mate topetudo
e leva a cuia vazia,
tocando-se os nossos dedos
e nesse leve roar
trocamos fundos segredos.
Nesse andar dela pra c,
a minha ida ao seu encontro,
(eu fachudo, ela garrida)
est pra um ndio como eu
o encanto guasca da vida.
Ela vai encher a cuia,
a cuia vou lhe alcanar.
O tempo assim vai correndo,
quando em silncio imagino
que a bomba agulha tecendo
as tranas do meu destino.
Meu alazo est inquieto,
fazendo bulha no freio.
Chego na porta, bombeio,
e vejo dois barreirinhos,
trabalhando no seu ninho,
que j est quase no meio.
Vendo l fora os barreiros,
eu penso em ns aqui dentro:
carregando eles o barro
com tanto empenho e carinho,
e ns, no vaivm da cuia,
trilhando o mesmo caminho!
- Que est neste chimarro
o barro pra o nosso ninho!
(Zeca Blau, Poncho e Pala, P.A.,
Sulina, 1966, p. 24-25).

"E entre o amargo e a tragada


tranqueiam na madrugada
tantos recuerdos perdidos.
E o chimarro macanudo
vai entrando pelo sangue!
Vai melhorando as macetas,
curando as juntas doridas
como gua arisca de sanga
sobre loncas ressequidas.
O peito avoluma e arqueia
como cogote de potro.
E as ventas se abrem gulosas
por cheiro de madrugada.
- Potrilhos em disparada
num Setembro de alvoroto.
Ah! sangue velho... Descubro
porque hoje ests de viglia:
- Dois sculos de Fronteiras,
de madrugadas campeiras,
de velhas guardas guerreiras
bombeando pampa e coxilha!
Por isso que hoje no dormes!
Ouviste a voz de ancestrais:

293

- O chimarro principia!
Alerta! O campo vigia!
Da meia noite pra o dia
um taura no dorme mais."
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, 2 ed., P.A., Martins
Livreiro-Editor, 1981, p. 18-19).

"E assim que o mate amargo


tem muito de pago e china.
E a tradio que ensina
que o chimarro, no passado,
foi erva amaldioada
e por isso foi queimada
por um conselho sagrado."
(Dimas Costa, Carta Me Natureza,
P.A., Ed. Lamar, 1979, p. 27).
"O mate que a china alcana
na despedida, verdade,
tem o verde da Esperana
e o amargo da Saudade."
(Lus Alberto Ibarra, Cano do
Sul, P.A., Secretaria da Agricultura,
1958, p. 30).

"Me assento sobre um pelego


Que, num cepo, se conserva.
Passo a mo na lata d'erva
Feita de folha madura...
Essncia charrua e pura,
Que traz o gosto do pampa.
Com rude naco de guampa
Vou medindo a cevadura.
Ajeito a erva na cuia,
Reclinada na canhota.
Toda a erva que se bota
Deve ter medida certa...
Depois, com gua j esperta,
Fao o topete dum lado,
Que fica meio inclinado
No dedo grande que aperta.
Enquanto a lenha crepita,
E meu chimarro no sai,
Me lembro que o Paraguai
Nos legou esta liturgia...
Dizque, l, com gua fria;
Quente aqui, como um desejo.
Caramba, quase no vejo
Minha chaleira que chia."
(Cyro Gavio, Querncia Xucra,
Ed. Porto Alegre, 1966, p. 53).

"Amargo doce que eu sorvo


Num beijo em lbios de prata!
Tens o perfume da mata
Molhada pelo sereno,
E a cuia, seio moreno
Que passa de mo em mo,
Traduz no meu chimarro,
A velha hospitalidade
Da gente do meu rinco!"
(Glauco Saraiva, No Reino da Poesia,
Ed. Assoc. de Cultura Literria
de Porto Alegre, 1951,p. 51).

"Do mate.

H uma rvore importante


que nasce sem se plantar.
Sua folha estimulante
depois de se a sapecar.
planta mas chamam erva.
Dizem que as foras conserva
dos que a tomam no freqente.
chupada de um porongo
com canudo e gua-quente."
(Hlio Moro Mariante, Fronteira do
Vaivm, P.A., Imprensa Oficial do
Estado do Rio Grande do Sul,
1969, p. 32).

MATEADOR, s. Aquele que gosta de tomar mate, que toma muito mate. O
mesmo que matista.

MATE-AMARGO, s. O mesmo que mate-chimarro. Chimarro, amargo, verde.

"Potreiro grande, aqui no pampa largo,


onde guardas as 'prendas' do costume:
um rancho alegre perto do tapume,
a chinoca, o cavalo e o mate-amargo."
(Valdomiro Sousa, O Gacho no

294

Morre, in No Reino da Poesia, ed.


da Assoc. de Cultura Literria de
Porto Alegre, 1951,p. 39).

"Yo he conocido esta tierra


en que el paisano vivia
y su ranchito tenha
y sus hijos e mujer...
Era una delicia el ver
cmo pasaba sus dias.
Entonces ... cuando el lucero
brillava en el cielo santo
y los galos con su canto
nos decan que el da llegaba,
a la cocina rumbiaba
... el gaucho que era un encanto.
Y sentao junto al jogn
a esperar que venga el dia,
al cimarrn se prendia
hasta ponerse rechoncho,
mientras su china dormia
tapadita com su poncho."
(Jos Hernndez, Martn Fierro).

"El mate amargo

No s que tiene de rudo, no s que tiene de spero.


no s que tiene de macho,
el mate amargo.
El sirve para todo;
para lo bueno, para lo malo;
l lava los dolores del pecho a cada trago;
es el cralo todo em la casa de gaucho;
alegra la alegra y destie la pena,
el mate amargo.
El es el contemporneo de la bota de potro
Y de las nazarenas, y de la guitarra;
pero de la guitarra que usaba cintas
como las chinas
cintas celestes o cobradas.
En el campo
no hay boca masculina que rehuse besarlo,
as manos callosas que no le hagan un hueco
al mate amargo.
L Cmo me siento suyo! L cmo lo siento mo,
al mate amargo!;
Yo lo llevo disuelto en la sangre
como uno jugo americano.
No s que tiene de smbolo
el mate amargo.
Por el pico plateado de la bombilla
canta de madrugada como um pjaro gaucho."
(Fernn Silva Valds, apud Tito
Saubidet, Vocabulario y Refranero
Criollo, Buenos Aires, 1958).

"Como su gusto es amargo, las


clases acomodadas lo usan com
azcar; pero em la campaa este
rengln ha sido antes muy caro, y
por eso los gauchos se han acostumbrado a tomar mate amargo, es
decir, sin azcar. Esta falta de ingrediente usado por la gente de los
pueblos ha producido la clasificacin de cimarrn silvestre com que
se designa por antonomasia el mate
amargo, que es de uso general en la
campaa." (Hilrio Ascasubi, apud
Vocabulario y Refranero Criolo,
Buenos Aires, 1958).

MATEAR, v. Tomar mate, chimarrear, verdear, congonhar.

" por isso meu patrcio


Que no mateio solito
Embora o verde bendito
Pra mim seja mais que vicio.
o meu ltimo muncio
Que no dispenso nem largo
E peo a Deus, sem embargo,
Na xucreza do meu canto,
Que no Cu me guarde um Santo
Parceiro pra o Mate Amargo!"
(Jaime Caetano Braun, Potreiro de
Guaxos, p. 55).

295

MATE-CHIMARRO, s. Mate amargo, mate sem acar.

MATE COMPRIDO, s. Mate em que se colocou quantidade insuficiente de


erva, ficando espao excessivo para a gua.

MATE CURTO, s. Mate em que se colocou quantidade excessiva de erva,


deixando-se pouco espao para a gua.

MATE DE ARMADA CURTA, s. Mate muito quente, a ponto de queimar a boca.


MATE-DOCE, s. Mate com acar ou com mel. muito apreciado pelas
mulheres.

"... la tia Clodomira dej de acompaarlos a la hora del mate


dulce, que despus da siesta saboreaban reunidos..." (Gregorio Alvarez,
Trenza Nativa, Buenos Aires, Editorial Escorpio, 1965, p. 131).

"Quanto a mim, mate divino


Inspirador de cantores,
Foste o filtro dos amores
Que enfeitiou meu destino
Pois este andejo teatino
Ao sorver-te a vez primeira,
Se adonou dessa maneira,
- Deus permitiu que assim fosse -
Da que encheu o mate doce,
Minha doce companheira!"
(Jaime Caetano Braun, Potreiro de
Guaxos, p. 31).

MATE-DO-ESTRIBO, s. Ultimo mate, tomado j na ocasio de pr o p no


estribo para montar e ir embora. O ltimo mate que se d pessoa que
est prestes a sair, a p ou em qualquer conduo. // O mesmo que
mate-do-estrivo, mate para o estribo ou mate para o estrivo.

"- Bueno ... sej se vai, entonces tome otro mate pr o


estribo..." (Natalio Herlein, Os "Causos" do "Seu" Fausto, p. 79).

MATE-DO-ESTRIVO, s. O mesmo que mate-do-estribo.

MATE ENSILHADO, s. Mate cuja erva foi parcialmente substituda, para


torn-lo mais forte.

MATEIRO, s. Pessoa que explora a erva-mate.

MATE PARA O ESTRIBO, s. O mesmo que mate do estribo.

MATE PARA O ESTRIVO, s. O mesmo que mate do estribo.

MATRIA, s. Pus que sai das feridas.

MATEZINHO, s. Diminutivo de mate. O mesmo que matinho.

MATINHO, s. Matezinho, diminutivo de mate.

"Do recanto em que 'stou vejo


Matinhos 'stares tomando;
Quando chega a minha vez
Os pauzinhos 'sto nadando."
(Quadrinha popular).

MATISTA, s. O mesmo que mateador.

MATREIRAO, adj. Muito matreiro.

MATREIRAR, v. O mesmo que matreirear.

MATREIREAR, v. Tornar-se o animal arisco, matreiro, recalcitrante,


difcil de trazer para o rodeio ou para a mangueira. Fugir para o mato,
esconder-se para no se deixar pegar. Mostrar-se esquivo, arredio. // Em
sentido figurado, mostrar-se a pessoa esperta, matreira; excusar-se com
evasivas a ultimar um negcio, a chegar a um acordo, a ceder alguma
coisa.

MATREIRO, adj. Diz-se do animal arisco,


esquivo, recalcitrante, que se esconde
no mato para no se deixar pegar. //
Diz-se, tambm, da pessoa muito es-

296

perta, difcil de convencer, que raramente cede ou entra em acordo, que


est sempre de m-f e com evasivas.

MATUNGADA, s. Poro de matungos. Cavalhada, mesmo no sendo constituda


exclusivamente de matungos. O mesmo que matungama.

MATUNGAMA, s. O mesmo que matungada.

MATUNGO, s. Aumentativo de matungo. Cavalo grande, ruim, ordinrio,


lerdo, pesadio, sem vivacidade.

MATUNGO, s. Cavalo velho, ruim, imprestvel. O mesmo que pilungo,


sotreta, urucungo, mancarro. H no Rio Grande do Sul a tendncia de
estender o uso do termo a qualquer cavalo, embora novo e bom. //
Aplica-se, tambm, s pessoas. // (Etim.: palavra usada em Cuba, com a
significao de dbil, enfezado, fraco, definhado, particularmente em
relao aos animais. Segundo J. Raimundo, palavra da lngua banta).

"Qual matungo apaixonado


Atrs da gua-madrinha,
Assim pena, assim padece
Esta bem triste alma minha."
(Quadrinha popular).

"Encilhar o matungo, ir, ao tranquito,


Dar uma volta por aqueles pagos...
E, na venda mais prxima apeando,
Cantar ao violo, tomando uns tragos."
(Mcio Teixeira, Na Estncia).

"Alguns matungos, mais cansados que seus donos, tambm pateavam o


corredor, num passo de tomara-que-um-dia-eu-chegue-l." (Tau Golin, Trs
Lguas de Volta, P.A., Martins Livreiro-Editor, 1980, p. 49).

MATURRANGADA, s. Grande nmero de maturrangos. // Erro cometido em


assunto de pecuria. // Servio de campo mal feito, por quem no conhece
a lida ou monta mal a cavalo; trabalho executado por maturrango. // O
mesmo que maturrengada ou baianada.

"Mas tambm engraado


Ver uma maturrangada
Quando o cabra meio tonto
Fica com a perna apertada
Dizendo logo de pronto
Mas que gua desgraada."
(Edegar Motta, Pginas de minha
Terra, P.A., Martins Livreiro-Editor,
1980, p. 44).

MATURRANGAR, v. O mesmo que maturranguear.

MATURRANGO, s. Indivduo que monta mal a cavalo, que no entende dos


trabalhos de campo. Baiano, no sentido de mau cavaleiro. Indivduo
inbil, bisonho, pouco prtico, em qualquer atividade. O mesmo que
maturrengo. ( vocbulo hispano-americano).

"Maturrango: El que no sabe andar bien a caballo. Maturrangos


llamaban los gauchos de la poca de nuestra Independncia a los soldados
espaoles que les hacan la guerra, por ser poco jinetes." (Justo P.
Saenz (h), Equitacin Gaucha, Buenos Aires, Ed. Peuser, 1959, p. 248).

"Era uma vez, era e no era


um monarca num pingo,
um menino e um matungo,
um menino maturrango
e o matungo malacara."
(Augusto Meyer, Segredos da Infncia,
P.A., Globo, 1949, p. 125).

"Sei que tu s maturrango,


Porm, dou-te a preferncia."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
P.A., Martins Livreiro-Editor,

297

1978, p. 48).

MATURRANGUEAR, v. Fazer coisas de maturrango, mostrar-se mau cavaleiro,


no saber executar os servios de campo ou execut-los mal. O mesmo que
maturrangar e maturrenguear.

MATURRO, s. Besta velha, ou cega, imprestvel para o trabalho.

MATURRENGADA, s. O mesmo que maturrangada.

MATURRENGO, s. O mesmo que maturrango.

MATURRENGUEAR, v. O mesmo que maturranguear.

MAU JOGO, s. Trapaa. Trancamento com a perna ou qualquer outro


procedimento, de um dos corredores de parelheiro, para atrapalhar a
corrida do cavalo adversrio e ganhar a aposta. s vezes estabelecido
o mau jogo nas condies da carreira, excluda, em geral, apenas a
permisso de segurar as rdeas do adversrio.

MAULA, adj. Ruim, pusilnime, mau, covarde, tmido, medroso, frouxo,


mole, fraco, ordinrio, sem prstimo, sem energia. // Aplica-se a
animais e a pessoas. (Etim.: palavra castelhana).

"O mais maula levava pelos meos dois pares de bolas;" (Simes
Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P. A., Globo, 1973, p. 46).
"Quero montar, neste dia
de festana e de alegria,
da saudade o pingo maula,
e percorrer toda a serra,
os campos de minha terra,
de So Francisco de Paula!"
(Rui Cardoso Nunes).

"Essa indiada nada maula


toda a Serra percorria,
de So Francisco de Paula
aos confins da Vacaria."
(Zeno Cardoso Nunes, Ladro de
Gado).

MAULITA, adj. Diminutivo de maula.

MAXAMBOMBA, s. Trole para carga e descarga de embarcaes. Carro de dois


pavimentos, movido a vapor, existente outrora em Porto Alegre.

"A maxambomba era um pesado carro, movido a vapor, comportando


em cada viagem vinte passageiros. Esse carro comeou a trafegar em 19 de
novembro de 1864 e logo depois cessou por no serem satisfatrios seus
resultados." (G. H. Maseron, Notas para a histria de Porto Alegre).

MAXIXE, s. Espcie de pepino comestvel.

MAZANZA, adj. Macambzio, triste, moleiro, pateta, desapontado,


corrido, desajeitado, mazombo.

MAZANZAR, v. Mostrar-se mazanza.

MAZUNGA, s. Desarranjo, desordem; desarrumao, relativamente a roupas


guardadas em malas ou gavetas. (O vocbulo parece ser de origem
africana).

MECHIFLARIAS, s. Quinquilharias, bugigangas, coisas sem valor.

MECHINFLRIO, s. Quinquilharia, bugiganga, ninharia, coisa sem valor. //


Enredo, intriga, confuso, coisa embrulhada. // O mesmo que mexinflrio.

MEGANHAS, s. Soldados de polcia. (Desus.).

MEIA-CANHA, s. Antiga dana de roda, executada ao som de uma polca,


muito usada antigamente no Rio Grande do Sul. uma das variedades de
bailes campestres chamados fandangos. Parece no tratar-se de dana de
ori-

298

gem castelhana como o nome deixa transparecer, pois era danada


principalmente no interior e na zona nordeste do Estado.

"Levantava-se o moo com o leno na mo, dava com esse um sinal


a uma moa e ela saa tambm com um leno na mo; esta dava o mesmo
sinal a um moo e ste saa, repetindo-se isso at que fossem tirados os
moos e moas que quisessem danar. Feito isso, formava-se a roda, a
msica tocava uma polca. O moo saindo, ento, colocava-se no meio da
roda, sempre danando e fazendo sinal a uma moa, que saa e tambm ia
para o meio. A roda anda para um lado e os dois no centro ao contrrio.
Depois de muitas negativas e requebros, o moo d um sinal e a msica
pra e, ento, na frente da dama, tomando um ar imponente, recita:

Eu plantei a sempre-viva
Sempre-viva no nasceu.
Tomara que sempre viva
O teu corao com o meu.

A moa respondia:

Tu plantaste a sempre-viva
Sempre-viva no nasceu,
porque teu corao
No quer viver com o meu.
Incontinente toca a msica, o par se liga, dana um pouco, e a
moa ento leva o moo para o lugar dele na roda, e, ficando sozinha, d
sinal a outro moo e este sai, repetindo-se as escaramuas." (Antnio
Stensel Filho, descrio da media-caa danada no Paraguai).

"No costumbrismo l de fora, Hugo Ramrez no se esquece de


focalizar, no captulo XVI, intitulado 'O Fandango e a Peleja', o
colorido coreogrfico da meia-canha," (Rui Cardoso Nunes, Comentrio
sobre Rio dos Pssaros,).

"Meia-canha e canha inteira,


Meia-Ganha e canha e meia.
Enquanto a gaita floreia,
a roda fecha a porteira.
Linda essa dana campeira!
a Polca-de-relao!
Os versos vm e se vo,
'desempenho', uma risada.
No fica gente parada.
Nunca se perde a esperana.
A Meia-Canha uma dana
romntica e engraada."
(Antnio Augusto da Silva Fagundes,
Danas Gachas, in Antologia
da EPC, P.A., Sulina, 1970, p. 192-
93).

MEIA-DOBLA, s. Moeda que vale a metade da dobla ou dobra.

MEIGUA, adj. Lunanco.

MEIA-LUA, s. Sinal com forma de um crescente, localizado na testa de


alguns animais.

MEIA-RDEA, adj. Diz-se da andadura do cavalo com velocidade maior do


que a do galope ordinrio, porm menor do que a de carreira. Diz-se,
ainda, da viagem apressada, acelerada.

MEIA-RS, adj. Diz-se do animal que tem as patas brancas de um lado.

"Com patas brancas de um lado


o que chamam meia-rs."
(Firmino de Paula Carvalho, Plos).

MEIO, s. Meio-real. Cem ris, ou seja, metade do valor da moeda oriental


que correspondia a duzentos ris, dois tostes.

MEIO CANGOTILHO, s. O mesmo que meio -cogotilho.

MEIO-COGOTILHO, s. Tosadura que se

299

faz nas crinas do animal, baixa entre as orelhas e elevando-,se


progressivamente, at o meio do pescoo, acompanhando-lhe a curvatura.
Da metade do pescoo at s cruzes, neste toso, a crina no cortada.

MEIO-REAL, s. Cem ris, metade de um real que na fronteira gacha


equivalia a duzentos ris ou dois tostes. O mesmo que meio.

MEIO-TOURO-MEIO-GALO, s. e adj. Indivduo valente, guapo, peleador.

MELADO, adj. Diz-se do cavalo que tem o plo e a pele brancos. Albino.
Os animais desse plo tm em geral os olhos ramelosos e no enxergam bem
nos dias claros.

"Mostra-se preocupado esse gacho com o desinteresse existente


para esse assunto, havendo paisanos de boa cepa que mal distinguem
douradilho de colorado, baio-encerado de sebruno, bragado de tobiano,
gateado de baio-amarelo, melado de baio-ovo-de-pato. E, por falar nestes
ltimos plos,j Virglio, nas suas "Gergicas", se ocupou do assunto,
isto , antes do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, "Noble es el
rucio azul, noble el castao, de blancos e melados desconfio." O gacho
antigo tambm no gostava desses plos, tanto que a est o ditado:
"Cavalo branco ou melado, nem dado, nem bem comprado", ainda corrente. A
pelagem melada a albina, que se carateriza pela ausncia de pigmento
na pele, nos plos e nos olhos, ou seja, falta-lhes a melanina, de cuja
intrincada constituio molecular e oxidao dependem as suas diferentes
tonalidades. Os melados enxergam mal, por isso so assustadios. E,
tambm, so dorminhocos por que cerram as plpebras para resguardarem da
luz os olhos despigmentados." (Sylvio da Cunha Echenique, excerto de
artigo publicado no Correio do Povo).

"O Melado de olho branco,


De todos o mais lacaio:
No monto nem pra um ensaio.
Ou pra matar uma bronca;
Nem o couro d pra lonca
E perseguido de raio."
(Firmino de P. Carvalho, Gerao
pelas Caronas, Pelotas, Ofigraf,
1957, p. 53-54).

MELADOR, s. Indivduo que se dedica extrao do mel silvestre.

MELANCIA, s. Designao dada durante a revoluo de 1923 aos indivduos


que, dizendo-se partidrios do governo, que usava como distintivo a cor
verde, eram, no intimo, adeptos da oposio que adotava a cor vermelha
como emblema. Note-se que a melancia do Rio Grande do Sul verde por
fora e vermelha por dentro.

MELAR, v. Ir ao mato procurar e apanhar o mel da abelha silvestre.

"Tranquei portas e janelas e sa para buscar um porongo de mel


de lexiguana, por ser o mais fino. E fui;melei;e voltei."
(Simes Lopes, Lendas do Sul, P.A., Globo, 9 ed., 1976, p.
46).

MEL DE CHO, s. Mel de abelha silvestre, cuja colmia feita no solo.

MEL DE PAU, s. Mel de abelha silvestre, cuja colmia feita em oco de


pau.

MELEIRA, s. Qualquer colmia de abelhas silvestres.

MELEIRO, s. Espcie de pica-pau.

MELRIA, s. Lisonja, agrado.

300

MEMRIA, s. Jia, anel. ( palavra antiga e quase em desuso).

MENDUBI,. s. Amendoim. O mesmo que mandubi.

MENEAR, v. Dar golpes com a mo. Executar qualquer coisa com as mos.
Manejar.

MENEAR CASCO, expr. Correr muito, o parelheiro.

MENEAR O CORPO, expr. Fazer negaa com o corpo.

MENSTRUS, s. Mastruo.

MENSUAL, s. O assalariado, o empregado. // adj. Mensal, por ms.

MEQUETREFE, adj. Diz-se do indivduo vagabundo, tratante, capadcio,


acanalhado, fanfarro.

MERCADINHO, s. Quitanda. Pequeno estabelecimento comercial que negocia


com frutas, verduras e cereais.

MERIN, s. Tecido ou pano de l merina. O mesmo que merino.

MERMA, s. Quebra, diminuio, perda de quantidade ou de peso em uma


mercadoria ou em qualquer coisa. "Depois de ensacada a l houve uma
merma de muitos quilos". "A merma do rio foi grande". ( termo
castelhano).

MERMAR, v. Diminuir, decrescer, minguar, perder em valor, em peso, em


quantidade ou em velocidade.

"Plata, a falar a verdade, foi coisa que sempre mermou na minha


guaiaca..." (A. Maia, Alma Brbara, P. 85).
"O gado, aqui, no merma: o campo de qualidade, agenta
qualquer peso." (A. Maia, Runas Vivas, Porto, Lelo & Irmo, 1910, p.
59).

"E quebrando a calma do ambiente


Onde mermara a conversa,
Foi pedindo ao bolicheiro:
Um naco de fumo bueno,
Duas latas de pescada...
Deps... um liso da branca
Pra refrescar a memria."
(Marco Polo Giordani, Terra de
Heris, P.A., 1973,p.21).

"Carregaram no Chimango
Que j no tinha mais gente,
Pois a que havia, descrente,
Aos poucos ia mermando
Como gado magro quando
Chega o inverno de repente."
(Homero Prates, Histria de D.
Chimango, RJ, Livr. Machado,
1927, p. 63).

"E ansim, tudo na Estncia


Vai mermando devagar,
Tudo de pernas pra o ar,
Nem tem mais vergonha a gente ;"
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1978, p. 72).

MERMAR O CORPO, expr. Procurar o indivduo a cavalo tornar o corpo mais


leve no se firmando muito nos estribos.

MESA, s. O soalho do carro ou da carreta.

MESQUINHDOR, s. e adj. Cavalo que mesquinha.

MESQUINHAR, v. Fugir o animal com a cabea no permitindo que se lhe


ponha o freio ou o bual. // Figuradamente, procurar a pessoa fugir de
qualquer assunto ou esquivar-se de fazer qualquer coisa; mostrar-se
ressabiado ou desconfiado. Mostrar-se mesquinho, pouco generoso.

MESQUINHO, adj. Diz-se do animal que foge com a cabea, no permitindo


que se lhe ponha o freio ou o bual. // Figuradamente, diz-se de pessoa
aris-

301

ca, difcil, desconfiada, sucetvel, cheia de precauo.

MESTRE, s. Moiro grosso que serve de apoio principal cerca de arame,


o qual colocado em suas extremidades ou ngulos.

METER A CATANA, expr. Falar mal de algum.


METER A PATA, expr. Cometer gafe.

METER AS BOTAS, expr. Falar mal de algum, criticar acremente.

METER A VIOLA NO SACO, expr. Calar-se. Deixar de pavonear-se.


Acovardar-se.

METER NAS IMBIRAS, expr. Recolher o preso ao xadrez; amarrar o


criminoso.

METER O CAVALO, expr. Interferir, decidir, atuar, apartear. O mesmo que


meter o petio.

METER O PAU. expr. Atacar, criticar, censurar, falar mal de algum. O


mesmo que descambar a madeira.

METER O P NA LAADA, expr. Cair na armadilha preparada pelo


antagonista.

METER O PETIO, expr. O mesmo que meter o cavalo.

METER-SE EM ASSADO, expr. Envolver-se em questes complicadas, meter-se


em embrulhos.

METIDO, adj. Intrometido, abelhudo, que se faz passar por pessoa


importante.

MEXER, v. Incomodar, incitar, levar bulha, ridicularizar, zombar de


algum.

MEXERICADA, s. Balbrdia, desordem, confuso, mistura de coisas ou de


animais que deviam estar separados.

MEXERICO, s. O mesmo que mexericada. Mao de palha seca, de milho,


amarrado a um suporte qualquer, na beira do rio, sobre o qual se faz
passar a linha de pescar, para que, quando o peixe a puxar, produza
rudo que alerte o pescador.

MEXIDA, s. Intriga, coisa embrulhada. // O mesmo que mexericada e


mexerico, no sentido de balbrdia, confuso, desordem, mistura de
objetos ou de animais que deviam estar separados.

MEXIDO, s. Nome dado ao feijo, carne picada, ou qualquer outro gnero


alimentcio, em geral sobra da refeio anterior, que se prepara
mexendo-se, a quente, em panela ou frigideira, com farinha de mandioca.

MEXINFLRIO, s. O mesmo que mechinflrio.

MIANGO, s. Pequena poro, pedacinho.

MIANGOS, s. Cacarecos.

MICHARIA. s. Coisa de pouco valor, coisa sem importncia.

MICHE, adj. O mesmo que mixe.

"O tal dono da invernada


Tinha tambm um boliche,
Negocinho muito miche,
Fumo, cachaa e mais nada;"
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1978, p. 62).

MICUIM, s. Inseto parasita de minsculas dimenses, quase invisvel, que


vive nos gramados e nos arbustos, e que ataca o homem e os animais.

MIJACO, s. Flictena, tumor ou abcesso que aparece na sola dos ps das


pessoas que andam descalas, principalmente das crianas de zona rural.
Acreditam os camponeses que o mijaco seja proveniente de contato
demorado da pele da sola do p com a urina do cavalo. Var.: Mijico.

302

MIJICO, s. O mesmo que mijaco.

MILES, adj. Milhares, grande quantidade.

"E miles de gente cortou estrada, rumo aos campos de Caapor, pra ver o
boi encantado que tinha as aspas de ouro." (Luiz Carlos Barbosa Lessa, O
Boi das Aspas de Ouro, P.A., Globo, 1958, p. 20).

"- Estncia de marca grande, rapaziada: so miles e miles de


cabeas, tudo animalada linda e parelha como esta." (A. Maia, Runas
Vivas, Porto, Lello & Irmo, 1910, p. 59).

"Com o arco-ris, nossos campos nimba!


Nossos telhados, toma por marimba,
e tamborila com teus miles dedos."
(Rui Cardoso Nunes, Chuvinha).

MILEVA, s. Caador que no tem conduo nem recursos para participar de


caadas, indo a elas s expensas de um companheiro. ( termo da gria
dos caadores).

"Mileva o caador
Que no tem auto pra viagem,
Leva o dono do auto,
Que sabe tirar vantagem."
(Joo do Brejo, Mileva").

MILHADO, adj. Diz-se do animal que adoece por haver comido milho em
excesso. // Figuradamente, bbado, brio, embriagado.

MILHO-CATETO, s. Milho proveniente da mescla de diversos tipos, de


cultivo muito antigo no Rio Grande do Sul.

MILHO-CATETE, s. Tipo de milho (Zea mays amillaceae) de cultivo muito


antigo no Rio Grande do Sul, podendo ser considerado natural da regio.
H o amarelo e o claro, ambos ricos em teor farinceo.

MILHO-CRIOULO, s. Milho (Zea mays indurata) de cor vermelha, duro, de


cultivo muito antigo no Rio Grande do Sul, principalmente na fronteira.

MILHO-QUARENTO, s. Tipo de milho cultivado h muito tempo no Rio Grande


do Sul.
MILICADA, s. Grupo de milicos. Os milicos. O mesmo que milicama.

"Se empez en aquel entonces


A rejuntar caballada,
Y riunir la milicada
Tenindola en el cantn,
Para una despedicin
A sorprender a la indiada."
(Jos Hernndez, Martn Fierro).

MILICAMA, s. Grupo de milicos. Milicada.

"Esse pingao quando ouvia o charachach de um entrevero e


sentia o faro de sangue, a alaza do combate, os gritos da milicama e
aquele cheiro esquisito de plvora, suor de cavalos, poeira... cheiro de
guerra, vossemec sabe... pois a carecia de ginete para lo sustentar,
porque disparava, no da luta, que no era pingo pra isso, mas l pra
frente, querendo comandar, fazendo o sinuelo no mais. (Hlio Moro
Mariante, O Dente do Minuano, in Revista da Academia Rio-Grandense de
Letras, n 1, P.A., 1980, p. 52).

MILICO, s. Soldado, militar, policial, miliciano, de qualquer classe ou


posto.

MILONGA, s. Espcie de msica dolente, crioula, de origem platina,


cantada com acompanhamento de guitarra ou violo. // Figuradamente,
mexericos, dengues, manhas, desculpas descabidas.

"Eu sou a velha milonga,


consolo de ndio esquecido,

303

gemendo sigo o gemido


do rodado das carretas.
Em noite tordilha ou preta
vou rompendo, tento a tento,
silncios de acampamento,
enquanto o ndio no deita."
(Guido de Jesus Machado Moraes,
Rodeio Emotivo, Fundao
Educacional de Alegrete, org. por Moacir
Santana, 1979, p. 16).

MILONGAGEM, s. Dengue, manha, requebro, pieguice.

"... no vale a pena de falar nestes chicos pleitos de


namoriscos e milongagens de crianas." (Simes Lopes, Novos Contos
Gachos, p. 39).

MILONGUEIRO, s. e adj. Cantador de milongas. // Manhoso, dengoso,


labioso, piegas, jeitoso para enganar os outros.

MINGO, adj. Pequeno, menor, mnimo: "o dedo mingo", o mnimo; "a costela
minga", a menor costela.
MINGUINHO, adj. Diminutivo de mingo.

MINHOCA, s. Nome usado para qualquer oligoqueto. // Isca.

MINIGNCIAS, s. Miudezas, tarecos, bugigangas, quinquilharias,


ninharias, restos, coisas sem importncia. // Sovinice.

MINISTRADA, s. Grupo de ministros. Os ministros.

MINUANA, s. Nome de planta da famlia das Enoterceas.

MINUANO, s. Indgena dos minuanos, tribo que antigamente habitava o


sudoeste do Rio Grande do Sul; relativo aos minuanos. // Vento frio e
seco que sopra do sudoeste, no inverno. Vem dos Andes, passando pela
regio onde habitavam os ndios minuanos, dos
quais tomou o nome. O minuano modifica a atmosfera, dissipa as nuvens,
enxuga as estradas, e prenuncia tempo firme e seco. Sua durao
geralmente de trs dias. Chama-se tambm carpinteiro-da-costa ou minuano
claro. H, ainda, o minuano sujo ou carpinteiro-da-praia, que o vento
de sudoeste acompanhado de chuva. (V. Pampeiro).

"Recebido de frente, nas coxilhas e escampados, o minuano


navalliante, cruelmente frio. O gacho recebe-o, porm, com satisfao,
adivinhando nele duros dias de inverno, mas de tempo firme e seco. O
minuano hoje um smbolo do Rio Grande, um admirvel preparador de
resistncias." (Callage).

"Poderoso exaustor, limpa completamente


os miasmas e gases deletrios
que sobem dos monturos e pauis,
as impurezas todas que andam no ar.
Num relmpago espana o leito dos caminhos
que atravs da campanha serpenteiam,
no mesmo andar que na cidade o p das ruas
e a fumaa das fbricas dissolve.
De tal sorte que aps sua passagem
renovadora e clarificadora,
do norte ao sul, no pampa ou na montanha,
uma vera delcia o respirar."
(Mansueto Bernardi).

o v~to-mito do Pago.
Ronda trs dias e noites,
assobiando nos capes.
Voz de fantasmas andejos,
gemidos de entes penando,
lamentos de assombraes .

304

Bebe as guas dos caminhos


pelo cho em que ele passa,
consome as pragas da terra,
tempera o cerne da Raa!"
(Mozart Pereira Soares, Eva Cancheada,
P.A., Ed. Querncia, p. 29).
"Minuano

O minuano
que passa
esparrama a fumaa
do fogo de cho.
Minuano,
tu s a era
renascendo da tapera
da lenda, da tradio;
no teu gemido
se abriga
a gauchada cada
pela glria do Rinco."
(Lauro Pereira Rodrigues, Minuano.
P.A., Globo, 1944,p. 11).

"Na rua uma lua branca


mais branca do que mortalha
a coxilha amortalhava
e o minuano esse vento
que corta como navalha
zunia e assobiava."
(Zeno Cardoso Nunes, O Causo do
Pinheiro).

"Minuano de Junho

Ouo esta noite toda em vigilia


Doridas queixas do minuano,
Forando trancas, portas, janelas
No te recebo, vento aragano,
Nau da amargura que, a todo o pano,
O mar da vida como encapelas!"
(Zeca Blau, Poncho e Pala, p. 65).

"E o minuano assopra o fogo


que se aviva e que se aclara,
se retempera e levanta
como a saudade que canta
nos lbios do tapejara."
(Apparcio Silva Rillo, Caminhos de
Viramundo, P .A., Martins Livreiro-
Editor, 1979, p. 42).

"Quanta emoo
ao rever a Casa onde passei a infncia!
Senti
a carcia do minuano
diluindo pensamentos tristes
e voei nas asas da distncia
onde danaram minhas fantasias ..."
(Lia Corra, Bom Jesus, in Antologia
da EPC, P.A., Sulina, 1970, p.
127).

"Carregado de mensagens,
o minuano traz lamentos
talvez de povos sofridos,
enquanto todos os ventos
cantam os cantos perdidos."
(Perptua Flores, Raiz y Nube,
Argentina, Ed. Figaro, 1976, p. 85).

"Esses uivos do Minuano


nas noites frias de invernos
so os lamentos eternos
do Negro do Pastoreio,
que vem chorar no rodeio
os seus queixumes mais ternos.
So os protestos veementes
de tantos injustiados,
que bradam desesperados
pedindo reparao
E um grito de maldio
de inocentes castigados ."
(Guilherme Schultz Filho, Galponeiras,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1981, p. 66).

"Primeiros frios rgidos do ano.


A noite longa e as chuvas so constantes.
Parece haver na voz do minuano
Guaraxains em bandos ululantes.
Em planaltos imensos e distantes,
sob o sopro do vento soberano,
h pinheiros antigos soluantes
que gemem como geme um ente

305

(humano.

E a peonada no galpo se abriga,


ouvindo cousas da fazenda antiga
e se aquecendo em volta da fogueira.
E o mate vai de mo em mo passando,
enquanto um preto velho vai contando
o 'causo' do fantasma da mangueira."
(Jos Jlio Barros, Noite de Inverno
na Estncia).

"L fora est o minuano,


sempre forte, a assobiar,
lembrando, com seus lamentos,
tristes murmrios do mar."
(Helosa Vaesken Guilln, Vento
dos Andes).

"Mas quando o minuano assobia na Serra,


eu penso escutar a trombeta de guerra
dos ndios serranos chamados Caaguaras.
ecoando nos campos, na fria do vento
que rijo sibila, num longo lamento,
fazendo de inbias as ocas taquaras!"
(Rui Cardoso Nunes, Os Caaguaras,
in Iconografia Potica do Indio do
Rio Grande do Sul, Seleo de
Hugo Ramrez, P.A., 1976, p. 36).

MINUANO-CLARO, s. Minuano. Carpinteiro-da-costa.

MINUANO-SUJO, s. Vento sudoeste acompanhado de chuva.


Carpinteiro-da-praia, pampeiro.

MIO-MIO, s. Erva do campo, da famlia das Compostas, muito venenosa.

"erva mui txica que cresce em reboleiras nos campos de boa


qualidade. Sua folha, quase sempre verdoenga, um custico poderoso,
pelo que os campeiros a empregam para curar as ovas dos cavalos,
socando-as de mistura com um pouco de sebo (dos rins) e colocando essa
mistura nas partes afetadas. Ingerida, essa planta mata em poucas horas
um animal. O gado vacum e cavalar que vem da margem direita do Ibicu,
onde no h essa erva, quando chega outra margem, desde que os
tropeiros no tenham cuidado, come o mio-mio por ele desconhecido,
morrendo completamente inchado e com uma sede devoradora, acompanhada de
tenaz diarria. Os animais da margem esquerda do Ibicu e os dos campos
em que abunda essa planta, por instinto a evitam. Seu nome cientfico
Baccharis cordifolia." (Romaguera).

"Silncio pesado havia,


Nenhuma aragem bulia
Com as moitas de mio-mio."
(Hermelindo Cavalheiro, O Negrinho
do Pastoreio, P.A., Globo,
1954, p. 11).

MIRADA, s. Olhada, olhadela. Ato de mirar, olhar, fitar, cravar a vista.

MIRAR, v. Olhar, ver.

MIRADOR, s. Mirante, miradouro, miradoiro.

MIRIM, s. Pequena abelha silvestre da regio serrana, que fabrica


excelente mel, com propriedades medicinais. desprovida de ferro e faz
sua colmia em ocos de rvores, em cavidades nas paredes das casas e at
em buracos no solo. Nome do mel fabricado pela abelha mirim. ( termo da
lngua guarani e significa pequeno).

MIRIM-AZEVEDO, s. Abelha silvestre, muito pequena, cujo mel azeda em

306

certa estao do ano.

MIRIM-GUAU, s. Abelha silvestre, da regio serrana, que produz


excelente mel, com propriedades medicinais. (Em guarani, mirim significa
pequeno e guau, grande).

MIRIM-GUARUPU, s. Abelha silvestre, maior que o mirim-azedo, que fabrica


mel muito saboroso.

MIRONES, s. Espectadores.
MISSIONEIRO. s. e adj. Indgena das antigas misses jesuticas. //
Habitante da regio Missioneira do Estado. // Relativo s msses.//
Missionrio, aquele que realiza misses.

"A trova do missioneiro


por gosto no mais cantando,
faca marca coqueiro:
sai da bainha cortando."
(Zeca Blau, Poncho e Pala, P.A.,
Sulina, 1966, p. 43).

"Entrefechado espinheiro
que se abre ao calor do afago,
um caso a parte no pago
o gnio do missioneiro:
dele nos vm as legendas
da crisma da nossa f,
o exemplo que deu Sep,
a tropilha azul das lendas,
as artes do Generoso,
a toada do Boi Barroso
e heranas da bruxaria
Nem h no Rio Grande inteiro
rinco como O missioneiro
na florao da poesia."
(Hugo Ramrez, Misses).

MISSES, s. Regio do Rio Grande do Sul, do Mato Castelhano barra do


rio Ibicu, onde estavam localizados os Sete Povos de Misses.

"O nascimento, glria e morte das Misses Orientais, parcela dos


trinta povos, que compunham a Provncia Jesutica do Paraguai, foram
episdios que se consumaram numa poro geogrfica que s alguns
decnios aps a expulso da Companhia, veio a incorporar-se, por
capitulao militar, ao territrio rio-grandense. Antes, a rea dos Sete
Povos, ainda que desde muito negaceada pelos luso-brasileiros,
pertencia, toda ela, ao domnio espanhol. Os fastos da crnica
missioneira ocorreram, assim, do outro lado da nossa fronteira histrica
e poltica, sendo, portanto, inteiramente estranhos aos fatores ativos
da nossa tradio. A temerria experincia da Companhia de Jesus foi
levada a efeito em termos da mais viva hostilidade ao mundo
luso-brasileiro. Era natural, j por isso, e nas penosas circunstncias
em que se realizou, que nada tenha transmitido, nenhum legado cultural,
queles que acabaram senhores do territrio onde uma vez haviam sido as
Misses Orientais da Provncia do Paraguai.
Na verdade, a anexao dos antigos Sete Povos ao Brasil, em
1801, no trouxe como consequncia nenhum processo local de aculturao.
J no havia ali o que assimilar. Dos restos de gente que tinham sobrado
entre as runas, sombras apticas e estuporadas, a rigor nenhum ser vivo
em condies de receber nem transmitir qualquer tipo de influncia. Dos
campos de trabalho e de guerra que, ao lado do esplendor e das festas
litrgicas, emprestaram, um dia, vida e calor clausura missoneira,
nenhum vestgio humano. Depois do colapso, que se verificou, desde o
abalo da primeira viga at o ltimo desmoronamento, sob a inteira
responsabilidade das

307
guarnies espanholas, pouco ficou de tudo alm de escombros, histrias
de subterrneos, tesouros escondidos, vagas supersties. Passados mais
de trinta anos sobre a expulso dos jesutas, quando Borges do Canto e
Santos Pedroso rechaaram dali, num golpe fulminante, os comandos
castelhanos, viu-se que o decantado fastgio das Misses Orientais j
pertencia ao mundo das coisas imponderveis e que os aguerridos
catecmenos de outrora, relaxada a frrea disciplina em que viveram sob
os jesutas, iam j de regresso, em marcha batida, e sem o aprumo
antigo, para a sua condio de brbaros: neles se haviam deteriorado
para sempre o vigor da herana selvagem. Eram os sobejos escarmentados
de uma experincia frustrada de civilizao.
Como se o que restara j no fosse to pouco, algum tempo depois
as reiteradas faanhas de Andresito Artigas atrairiam e sacrificariam
muitos desses pobres ndios. A seguir Fructuoso Rivera irromperia ali de
surpresa e arrastaria em dezenas de carretas quase tudo do pouco que
sobrara. Atrs do caudilho oriental, desarvorados, se foram por assim
dizer os ltimos detritos daquela populao condenada, numa surda e
arquejante transmigrao. Tinha-se apagado de todo a tradio jesutica.
"A invaso de Rivera, - conclui Aurlio Porto, - o xodo dos
remanescentes das populaes indgenas que seguem o caudilho em sua
retirada, o despovoamento completo dos Sete Povos de massas dessa
origem, marcam inegavelmente o fim do regime missioneiro." Por isso j
em 1882 Alcides Lima sentenciava: "As misses em nada influram no
carter da formao rio-grandense." Destrudo o passado, outra histria,
outra experincia, sob inspirao poltica antagnica, iam comear ali,
no exclusivo interesse da estruturao definitiva do Rio Grande do Sul.
No se tratava de um simples processo de enxertia. Era uma planta nova
que ia meter ali novas razes. Uma civilizao diferente, sob outra
bandeira, sob outro signo cultural, nasceria e tomaria corpo sobre os
destroos de uma construo que se erguera ao arrepio dos tempos.
S uma coisa nos ficou do passado morto: O papel de depositrios
de runas alheias. Depositrios por sinal nem sempre zelosos. Uma vez,
folheando o oramento de certa Prefeitura, surpreendeu-nos a consignao
de uma taxa para a venda, a tanto por metro cbico, do material das
velhas taperas missioneiras! Hemetrio Veloso da Silveira, por sua vez,
teve ocasio de identificar esse mesmo material at na construo de
chiqueiros! Viu ainda com melancolia uma venervel pia batismal servindo
para dar milho e sal a muares! No era preciso chegar a esse grau do
desrespeito para mostrarmos que nada nos diziam particularmente os
entulhos dos Sete Povos...
O certo que a vida pregressa das misses jesuticas, estranha
e hostil formao rio-grandense, j estava inteiramente desmantelada,
sociologicamente inerte, quando a antiga rea missioneira foi anexada ao
domnio luso-brasileiro. A densidade demogrfica dessa rea era
praticamente igual a zero: 1 habitante para 53 km!"

308

(Moyss Vellinho, Capitania d'El-Rei, P.A., Globo, 1964, p. 102).

"A Guerra das Misses, se assim pode ser classificada essa


seqncia de brbaras chacinas, em que dois exrcitos disciplinados e
aparelhados com as melhores armas do tempo se atiram contra chusmas de
ndios quase indefesos, uma das pginas mais dolorosas da histria das
Misses.
No se pode ainda, de s conscincia, pesar a responsabilidade
que cabe aos Jesutas nesse transe que destri a sua prpria obra e
arrasta, conseqentemente, queda a mesma Companhia. Conforme
Capistrano de Abreu, a maior culpa que pesaria sobre os Padres seria a
de acreditarem-se poderosos para ajudarem as duas Cortes a 'consumar
facilmente esse ultraje humanidade' e 'bem caro pagaram esse excesso
de fraqueza ou de vaidade: quando os ndios se levantaram, desmentindo
ou antes engrandencendo seus Padres, mostrando que a catequese no fora
mera domesticao e a vida interior vibrava-lhes na conscincia, aos
Jesutas foi atribuda a responsabilidade exclusiva em um movimento
natural, humano e por isso mesmo irresistvel'.
O relato dos encontros e combates que se seguem at chacina de
Caaibat, em que tombam milhar e meio de ndios, um atestado vivo da
incria desses infelizes, que lavram com o seu prprio sangue um dos
maiores protestos da histria sul-americana contra a iniqidade que
pesou sobre os seus destinos. Acompanharam-nos os Padres. IngnuoS, ou
intencionalmente votando-se a um sacrifcio que seria superior s suas
foras, no poderiam desertar nessas horas amargas que lembravam as
primeiras arremetidas dos bandeirantes sobre as primitivas aldeias
crists do Tape."
(Aurlio Porto, Histria das Misses Orien tais do Uruguai, 2
Parte, P.A., Livr. Selbach, 1954, p. 216).

"Somente em janeiro de 1756 fizeram juno os dois exrcitos.


Dias depois morre, numa escaramua de vanguarda, o cacique Sep Tiaraju.
No desistiram, porm, da luta os missioneiros e, reunidos em grande
nmero, sob o comando do cacique Nicolau Neenguiru ofereceram batalha ao
exrcito luso-castelhano, nas margens do arroio Caibat, nascentes do
rio Cacequi, lugar que, mais tarde, se chamaria Campo da Cruz.
A tropa guarani, colocada atrs de leve sistema de trincheiras,
foi atacada de frente e envolvida por ambos os lados. O Cel. Toms Lus
Osrio atacou a ala direita missioneira, desbordando-a, enquanto os
espanhis realizavam idntica manobra pela ala esquerda.
Caibat no foi, a rigor, uma batalha. Foi uma tremenda matana
de ndios, carecedores do necessrio preparo militar com que enfrentar
os dois exrcitos peninsulares. Faltou aos jesutas a devida autoridade
para impedir que seus pupilos se lanassem naquele matadouro, visto que
protestavam obedincia ao soberano espanhol.
Confrontem-se as baixas: os ndios deixaram no campo 1200
mortos, inclusive seu chefe, ovalente Nicolau Neenguiru. Os espanhis

309

tiveram dois mortos e dois feridos, e os portugueses, dois mortos e


dezoito feridos. O nmero de mortos dos guaranis foi trezentas vezes
maior que o de seus opositores.
No obstante essa derrota catastrfica, o nimo varonil dos
ndios no foi quebrado. Continuaram oferecendo resistncia, sempre que
as condies do terreno o permitissem. Ficaram mais prudentes.
Lutam, a 22 de maro, na Boca do Monte, e a 3 de maio, no
caminho da Capital das Misses, no povoado de So Miguel. Depois, a 10
de maio, no arroio Churiebi, atual Chuni, onde sofrem sangrenta derrota,
com baixas insignificantes para os exrcitos da demarcao.
Da para diante no houve mais resistncia organizada. Os
guaranis incendiavam as povoaes que eram obrigados a abandonar e,
guiados pelos padres, transpunham o rio Uruguai, ou internavam-se na
densa floresta."
(Arthur Ferreira Filho, Hist ria Geral do Rio Grande do Sul,
P.A., Globo, 1974, p. 4546).

"Como sempre estivemos convencidos da impossibilidade da


existncia de tesouros enterrados pelos jesutas, aqui damos em nota 7)
as relaes das grandes quantidades de alfaias que o governo do Brasil
arrecadou nas misses, depois que destas se apropriou. (...) 7) Como uma
prova de que os jesutas no esconderam tesouros em parte alguma,
fazemos meno da extraordinria quantidade de prata e objetos de ouro
das igrejas alm do Uruguai, destrudas e saqueadas por ordem do general
Chagas Santos. Essa prataria e a arrecadada da igreja de So Borja,
dando um total de oitenta ou mais arrobas, consta da certido fornecida
pelo almoxarife Antnio Pedro Fraso de Lima ao cnego Gay e por este
transcrita na nota 49 da sua citada obra. Esse documento oficial diz o
seguinte: 11 custdias com o peso total de 3 arrobas, 6 libras e 2
onas. 7 mbulas com 23 lb. e 2 onas, 49 patenas com 8 1/2 libr., 52
clices com 1 arroba e 31 1/2 libr., 10 cruzes grandes com 2 arrobas, 18
lib. e 10 onas, 15 ditas menores, 4 coroas, 8 purificadores, 5
hostirios, 37 sacras com 5 arrobas e 5 lib., 16 vasos de santos leos,
5 palmas com 5 libras e 6 onas, 2 bacias, 12 estantes com 2 arrobas e
29 lib., 8 pares de galhetas, 1 par de ditas e campainha dourada, 14
turbulos, 12 navetas, 2 saleiros com salvas, 6 vasos para flores, 3
ditos para sete lustres, 1 bordo de So Jos, 19 campainhas, 2 salvas
para galheteiros (prata dourada), 82 castiais com 13 arrobas, 2 Cristos
de prata, 2 barrilinhos de prata, 1 braseiro com 2 libras, 2
incensadores, 2 chaves de sacrrio, 27 pratos para galhetas com 29 lib.
19 ditos com 19 lib. 3 caldeirinhas com hissope, 7 varas de cereais com
3 1/2 arrobas, 44 canudos vazios, 4 ciriais com 1/2 arroba, 1 conxa de
batismo, 6 copos, 35 colheres de clices, 7 relicrios de prata, 2
lminas de dar a paz, prata quebrada 17 arrobas, 1 rosrio de ouro com
topzio, 1 relicrio de dito. Essa foi a prata vinda dos povos da margem
direita do Uruguai. A levada para Porto Alegre, pertencente igreja de
So Borja constava: 1 cruz paroquial, 2 tocheiros grandes, 1 terno de
sacras,

310

2 estantes, 1 Santo Cristo, 2 turbulos com naveta, 3 clices com


patenas, 1 caldeirinha com hissope, 1 jarro, 1 vaso, 1 purificador, com
tampa e prato, 1 custdia dourada, 1 almpada, 1 serpentina com 7 luzes,
1 caixa para hstias, 12 campainhas, 4 castiais grandes de banqueta, 1
relicrio de prata, 1 bordo de So Jos, 2 arandelas, 2 coroas de Nossa
Senhora, 1 par de galhetas com salva dourada, 1 campainha dourada, 1
rosrio de ouro, o que tudo excedeu, muito de seis arrobas. 8) Entre os
sonhadores com tesouros dos jesutas conhecemos em So Miguel um capito
de navio mercante por nome Joaquim Jos Pereira que abandonou a
profisso e a famlia e viveu por mais de dez anos a fazer escavaes. A
ltima, na igreja, foi no espao da capela mor, onde perfurou tanto o
sub-solo, que encontrou uma abundante veia e t-lo-ia sepultado, se um
dos seus escravos no o tivesse salvado. Desanimado depois disso,
retirou-se para So Joo do Monte Negro, onde faleceu com mais de
noventa anos. Teve ele um filho, muito ajuizado, que foi professor em
Porto Alegre, no bairro do Menino Deus. De um outro sonhador de tesouros
jesuticos, d notcia o Comrcio de Joinvile (Santa Catarina) nos
termos seguintes: "Da freguesia da Penha de Itapocoroi nos comunicam que
no morro da Prainha, situado praia daquela freguesia, h um ms para
c trabalha pertinazmente o Sr. Antnio Silveira, fazendo profundas
escavaes e cortes extraordinrios em busca de cinqenta mil contos e
um Santo Incio de ouro, com o peso de 80 quilos, ali deixados pelos
jesutas, quando expulsos do Brasil. O Sr. Silveira guia-se nesses
trabalhos por um mapa que acredita deixado por aqueles religiosos, e
morando numa gruta daquele morro, diz, que se no encontrar a riqueza
por cujo fim trabalha, acabar doido e morrer imediatamente, conforme
lhe diz uma voz intima, que o guia nessa dificlima tarefa." Essa
notcia vem transcrita no Jornal do Comrcio de Porto Alegre, de 17 de
maro de 1906." (Hemetrio Jos Velloso da Silveira, As Misses
Orientais e seus Antigos Domnios, 1909, reed. pela Cia. Unio de
Seguros Gerais, P.A., 1979. p. 195 e 197-98).

"Casa das Armas e prata de Misses. - 29 - Este


estabelecimento digno de ateno, tanto pela elegncia do interior e
boa distribuio, como pelo asseio, limpeza e bom trato com que se cuida
do armamento.
Em um repartimento desta mesma Casa se conservam ainda os
despojos das Misses situadas alm do Uruguai, conhecidos em geral por
prata de Misses. Ali se v um retbulo quase inteiro, todo construdo
em prata macia, com a imagem da Virgem e Apstolos em relevo; clices,
castiais, ptenas e outras alfaias do mesmo metal e de ouro; assim como
vestimentas, frontais de tisso (sic) de ouro e outras de veludo, alvas e
toalhas finssimas, missais de todos os tamanhos e riqueza, outros
muitos objetos do servio das igrejas, tudo riqussimO, mas quase tudo
em mau estado por sua antigidade e mau trato.
As coisas que so de prata puramente ainda chegam a um peso de
64 arrobas (cerca de 940 kg). Pode portanto dizer-se que existem hoje

311

em Porto Alegre grandes fragmentos da riqueza do Imprio Guarantico.


Contudo, estamos longe de pensar que estes despojos possam valer uma s
folha de louro ao nosso exrcito. Atribui-se ao Marqus de Alegrete
(Assumiu a 13 de novembro de 1814 como capito-general, sucedendo a D.
Diogo de Sousa, e passou o cargo ao Conde da Figueira a 19 de outubro de
1818) a ordem positiva para se incendiarem as igrejas de Misses alm do
Uruguai e tirar-lhes tudo o que lhes fosse pertencente. Esta ordem fora
comunicada pelo General Curado (Joaquim Xavier Curado) ao Marechal
Chagas (Francisco das Chagas Santos), comandante ento em Misses, que a
fez cumprir e conduzir os despojos para esta provncia, e sinos at
onde puderam transitar.
Eis o fruto da anarquia militar e dissoluo do tempo do Marqus
de Alegrete. No sabemos quem tem a culpa de feitos to desastrosos, que
tanto eclipsaram o brilho das nossas armas, se da Corte se no tivesse
ordenado, como j se ordenou em outro tempo, a restituio, e s resta
cumprir esta disposio equitativa, filha da sabedoria, integridade e
retido, reparando os danos no autorizados pelo direito da guerra,
quando ser possa, logo que alguma forma de governo ganhe estabilidade
entre aqueles povos.
Com este procedimento digno de um povo brioso e honrado,
publicando-se os nomes dos culpados por no ser justo que a honra do
exrcito fique comprometida por causa dos erros de alguns indivduos,
fica salva a honra nacional e reconhecida a boa f e integridade do povo
brasileiro." (Antnio Jos Gonalves Chaves, Memrias Economopolticas
sobre a Administrao Pblica do Brasil, RJ, Tip. Nacional, 1822, reed.
pela Cia. Unio de Seguros Gerais, em P.A., 1978, p. 107-108).
"Ouro, prata, cristais - A no ser no arquivo secreto da Ordem e
nesse mesmo, escrito, diz-se, em grego e hebraico e pouco em latim, e
ainda assim parte em cifra, no tem a crnica leiga informao certa
para transmitir quanto captao dos metais preciosos pelos jesutas no
Rio Grande.
Diz-se que extra am minrio de prata na Misso de S. Loureno;
que colheram abundante ouro nos crregos de (hoje) Lavras e So Sep; em
Canguu e outros lugares das serras existem ainda velhas galerias
cavadas por mos mestras e atribudas aos padres.
Ocuparam-se, pois, de minerao?
certo que foram acusados de explorar minas clandestinamente:
poderia ser uma acusao maldosa, mas podia ser uma verdade obscurecida
pela dificuldade da prova.
Todos os padres aprendiam o abaa-nenga, mas proibiam aos ndios
usar de outra lngua que no a sua, nativa. Desta forma ficava
impossibilitada a comunicao correntia deles com os conquistadores
platinos e lusitanos e portanto impenetrvel o segredo do que se passava
naqueles sertes, alm do mais, hostis para o estranho.
O certo que as suas igrejas possuram algumas centenas de
arrobas de prata em obras; lmpadas, candelabros e outras alfaias,
muitas das quais de provvel fatura local, pois

312

que havia ndios ourives - discpulos dos padres.


Nessa poca raro aparecia moeda cunhada, na colnia; nos
pagamentos corriam as barrinhas de ouro e de prata, de peso e valor
conhecidos; os saldos dos negcios das Misses eram enviados para a
Europa ao Padre Geral da Ordem e nesse saldo de negcios ningum poder
afirmar que no fossem agregados os lingotes fundidos nas redues, por
um valor que se no pode determinar.
Da metrpole, sempre vida e insacivel das riquezas do Novo
Mundo que no desciam como ddiva piedosa aqueles dons, ricos, das
igrejas.
Outra no menos curiosa indagao a referente aos cristais
preciosos, abundantes no latifndio missioneiro - azuis, roxos,
amarelos, vermelhos -, rubins, topzios, ametistas, safiras que, no
podiam, de forma alguma, escapar inteligente busca dos padres e que
foram, por certo, brilhar na Europa, lapidados e vendidos por preos de
alta cotao."
(Simes Lopes, Terra Gacha, P.A., Sulina, 1955, p. 118-20).

"Ao lado de Cacambo, Caitetu,


Pind, Lindia e de Tatu-Guau
- que nunca desonraram teus brases -
Tu - meu Sep, heri Morubixaba -
No foste, apenas, Chefe de uma taba,
Foste o fanal divino das Misses."
(Fernandes Barbosa, Sep, P.A.,
Tip. Santo Antnio, p. 10).

MISTURADA, s. Moa de cor morena, cabocla, mulata, mestia. //


Denominao de uma dana executada no final dos bailes, constituda de
valsa, polca e outras marcas, desempenhada quase sempre com o mesmo par.

MISTURAR-SE, v. Brigar.
MISTURAR-SE NA BALA, expr. Brigar a tiros.

MISTURAR-SE NO FERRO, expr. Brigar de faco, de faca ou de espada.

MITRA, s. Astcia, manha. Usa-se tambm como adjetivo, com o significado


de astucioso, manhoso, finrio, mitrado.

MITRAO, s. Ao prpria de mitra ou mitrado. // Tratantada, esperteza.

MITRADO, adj. Esperto, finrio, astucioso, manhoso, sagaz, vivo,


atilado. O mesmo que mitra.

"Nisto, um aspa-torta, gacho mui andado no mundo e mitrado,


puxou-me pela manga da japona..." (Simes Lopes, Contos Gauchescos e
Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 29).

MIUALHA, s. Gente mida, crianada, pequenada, miudagem, garotada.

MIUDAGEM, s. Poro de objetos de pouco valor, de coisas midas, de


restos de mercadorias que esto em liquidao. Gado mido, em geral gado
de cria, terneirada. Grupo de midos, com a significao de meninos,
guris, garotos, crianas.

MIDO, s. Menino, guri, garoto, criana. // Animal pequeno.

MIDOS, s. Dinheiro em moedas de pequeno valor. // Vsceras dos animais


de corte, bovinos, sunos, ovinos e aves.

MIXANGA, s. Caipira.

MIXE, adj. Apoucado, enfezado, peque-

313

no, pfio, ruim, insignificante, ordinrio, desprezvel, sensaboro, de


m qualidade, pouco desenvolvido, que no tem prstimo, sem animao,
sem brilho.

"- Veja vanc, que desgraados; to ricos - e por um mixe couro


do boi velho! ..." (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul,
P.A., Globo, 1973, p. 44).

MIXRDIA, s. Confuso, balbrdia, misturada, intriga, mexerico.

MOAFOS, s. Roupa velha, maltratada, de pouco valor.

MOADA, s. Grupo de jovens. Rapaziada.

"A esta, querida entre todas as suas recordaes, elegia


habitualmente para narrar moada, nas grandes reunies da estncia"
(A. Maia, Runas Vivas, Porto, Lello & Irmo, 1910, p. 32).

MOCHA, adj. Mulher de seios pequenos.

MOCHAO, s. O mesmo que muchacho.

MOCHAR, v. Enganar, iludir algum, faltar a um compromisso.


MOCHO, s. Uma raa de gado bovino, sem chifres ou com os chifres
atrofiados. // Rs desprovida de chifres, de qualquer raa.

MOCOT, s. Patas de bovino, sem cascos; o alimento preparado com essas


patas.

MOCOTOZADA, s. Prato preparado com as patas do bovino. Mocot.

MOCUREIRO, s. Pessoa sem habilidade na sua arte ou no seu ofcio. Mato.

MODA, s. Cano, modinha, toada.

MODE, adv. Devido a, por causa de.

"J falara com o seu Aires, da venda, mode o gado que tinha na
Estncia" (A. Maia., Runas Vivas, Porto. Lello & Irmo, 1910, p. 103).

MOEIRO, s. Moiro, mouro, moero, palanque.

MOERO, s. O mesmo que moeiro.

MOFINO, adj. Avarento, mesquinho.

MOGANGO, s. Fruto do mogangueiro, muito saboroso, que se come cozido ou


assado, puro ou com outros alimentos, principalmente com carne ou leite.

MOIRAMA, s. O mesmo que mourama.

MOIRONADA, s. Poro de moires, uma partida de moires. O mesmo que


mourama.

MOJAR, v. Amojar.

MOLAR, s. Variedade de pssego com o caroo solto.

MOLHO, s. rvore (Schinus dependens), tambm chamada assobiadeira.

MOLITO, adj. Frouxo, lascivo, indolente.

MOMBUCA, s. Variedade de abelha silvestre.

MOMPATIA, s. Homeopatia.

MONARCA, s. Gacho que monta com garbo e elegncia, em animal bom e bem
parelhado. Adj. Diz-se do cavalo faceiro, garboso, voluntrio e guapo.

" sinnimo de gacho na sua mais alta significao, pois


monarca se refere exclusivamente ao que monta com garbo e elegncia em
montaria altura do montador. Para o monarca das coxilhas no h
segredos, no h dificuldades que ele no vena, e, dominando o cavalo
com a sua intrepidez de cavaleiro, ele o verdadeiro dominador do meio
em que vive. Da o termo monarca." (Callage).

"Que saudades eu no tenho

314
Daqueles tempos passados,
Em qu'eu montava um tordilho
Com arreios prateados
E riscava campo fora
Entre os monarcas largados!"
(Dos versos de um rio-grandense no
Paraguai).

"Falava-se em guasca largado, como quem dissesse quebra-largado,


torena, monarca das coxilhas. Como quem diz - gacho.
A violenta expanso de individualismo, quase narcisismo, que
palpita ainda em tais vocbulos! Palavras de sangue quente, revelam o
excesso de vitalidade que se apega ao desafio por desfastio e ebriez
de si mesmo, como o touro escarva a terra. menos que egolatria e mais
do que bravata, uma fora que se gasta por necessidade.
E h um fundo ingnuo em tamanho entono. Ainda que mal compare,
seria neceSSriO recorrer ao motivo musical do Siegfried moo, aquele
que Nietzsche amou tanto, para sentir a energia matinal, a pulsao da
vida, mas tambm a cegueira que anima o rapsodo de si mesmo, o eu
embebedado pela contemplao do eu e elevado nota mais aguda, ao
cantar:

Sou valente como as armas,


Sou guapo como um leo,
ndio velho sem governo,
Minha lei o corao.

Quando ato a cola do pingo


E ponho o chapu do lado
E boto o lao nos tentos,
Por Deus! que sou respeitado!

No tenho mancha nem medo,


No temo inverno ou vero;
Meu culto o das raparigas
E do mate chimarro.
Quando me ausento dos pagos,
Isto por curto intervalo,
Reconhecem minha volta
Pelo tranco do cavalo.

Sem dvida, pela voz do cantor fala a exaltao da coragem


pessoal, que da infncia de todos os povos e anda em qualquer
cancioneiro ou romanceiro ou epopia."
(Augusto Meyer, Prosa dos Pagos, RJ, Livr. So Jos, 1960, p.
18).

MONARCAO, s. Aumentativo de monarca.

MONARCADA,s. Grande nmero de monarcas; os monarcas em geral.


Monarquismo, monarqUeao.

MONARQUEAO, s. O mesmo que monarquiao.

MONARQUEAR, s. O mesmo que monarquiar.

"Gente cruzava por eles, descuidosa, ao tranco: primeiro, foi um


velho, arrastando um couro, preso a cincha; depois, um gacho em trajes
de monarqUear." (A. Maia, Runas Vivas, Porto, Lello & Irmo, 1910, p.
77).

MONARQUIA, s. Vida, condio, costumes, usos do gacho monarca.

"Todos cantam, trovam versos


Com sua sabedoria
S eu me ponho a cantar
Pela lei da monarquia!"
(Quadrinha popular).

MONARQUIAO, s. Ato de monarquiar. Monarqueao, monarquismo.

MONARQUIAR, v. Montar bem a cavalo, com elegncia e garbo, como um


monarca. Imperar, dominar. Andar o cavalo garbosamente.

MONARQUISMO, s. O mesmo que mo-

315

narquiao.

MONDONGO DURO DE PELAR, expr. Coisa difcil de fazer.

MONDONGUDO, adj. Diz-se do parelheiro ruim, para ridiculariz-lo ou


depreCia-lo.

MONDRONGO, adj. Diz-se da pessoa mole, preguiosa, sem iniciativa.

MONEAR, v. Fazer monadas, macaquices, trejeitos.

MONJOLEIRO, s, Indivduo que toma conta do monjolo.

MONJOLO, s. Engenho tosco, movido a gua, utilizado para socar milho ou


qualquer outro produto.

MONTADO, adj. Diz-se de animal domstico que se tornou bravio e vive no


campo. (P. us.).

MONTANHA-RUSSA, s. Doce de vrios cremes, servido em taas, tendo por


cima certa quantidade de merengada e sobre esta uma ameixa.

MONTEVIDU, s. Cicatriz de ferimento recebido na guerra ou em briga.


(P. us.).

MOQUEAR, v. Sapecar ou passar pelo fogo a carne da caa a fim de


conserv-la ou de tirar-lhe a catinga.

MOQUETA, s. Caipira.

MOQUETE, s. Sopapo, soco, tapa.

MORAMA, s. Certa poro de moires de cerca ou de alambrado.

MORANGO, s. Frutilha, fruto do morangueiro.

MORCILHA, s. Tripa de boi recheada com sangue e algumas miudezas de


porco e diversos temperos, O mesmo que morcela.

MORDAA, s. Pedao de pau com mais ou menos dois palmos de comprimento e


uma ou duas polegadas de dimetro, fendido longitudinalmente at alm do
meio, utilizado para amanciar tiras de ouro cru. // Tambm se chama
sovador.

MORENA, s. Moa da campanha, gacha. // Negra.

MORINGA,s. Moringue, quartinha.

MORISQuETA, s. Careta, momice. // Negaa, gambeta que o animal faz com a


cabea ao ser enfrenado ou tosado. // Pulo que o cavalo d como sinal de
contentamento. Corcovo.

MORMAO, s. Quentura, calor intenso.

"Mas de vero, depois da quentura dos mormaos, comea ento o seu


fadrio." (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo,
1973, p. 137).

"Uma hora eles passam nessa luta


de esforos colossais,
mas, envoltos na furia do mormao,
sentem fraquear os msculos de ao,
lutar nem podem mais."
(Zeno Cardoso, Briga de Touros).

"... enquanto torra as coxillias um mormao de sol forte..."


(Lo Santos Brum, Gente Guapa, Jaguaro, Livr. A Miscelnea, 1965, p.
17).

MORO, adj. O mesmo que mouro.

MOROCHA, s. Moa morena, mestia, mulata, rapariga da campanha.

"Chimarro bueno e gostoso


como beijo de morocha,
que braseiro perigoso
em boca em que desabrocha."
(Dirceu A. Chiesa, O Gnio dos
Pagos, P.A., Livr. Continente, 1950,
p. 41).

316

MOROCHO, s. Moreno, caboclo, mestio.

MOROINADA, s. Quantidade de moires. O mesmo que morama.

MOROSCA, s. Morocha, mestia, cabocla, qualquer pessoa morena e jovem do


sexo feminino.

"no se dominou em face da morosca e sentando na rede,


atirou-lhe com desplante uma graola." (A. Maia,Runas Vivas, p. 66).

MORRENTE, s. e adj. Moribundo, que est morrendo.


MORRINHA, s. Catinga dos animais de caa.

MORRINHENTO, adj. Diz-se de coisa maante, enervante, prolongada. //


Enevoado, com relao ao tempo: "O dia todo foi morrinhento".

MORRUDAO, adj. Muito morrudo.

"Estendido nos pelegos, a cabea no lombilho, com o chapu sobre


os olhos, fiz uma sesteada morrudaa." (Simes Lopes, Contos
Gauchescos).

MORRUDO, adj. Grande, volumoso, corpulento, grosso, bem criado, gordo,


avultado, comprido, alto, fora do comum, muito numeroso. "Tropa
morruda", tropa de muitas cabeas, muito grande, de gado muito bom.
"Pessoa morruda", pessoa corpulenta. (Vem de morro).

"Caramba! rugiu o mulato, que pechada morruda!" (Apolinrio


Porto Alegre, O Vaqueiro, p. 31).

"- Papai, a vem uma tropa morruda, o corredor est coalhado de


novilhos, j esto abrindo a porteira." (Luiz G. Gomes de Freitas,
Gauchadas, 1957, p. 36).

"O missioneiro benzeu, e ento fincamos uma cruz morruda, de


cambar, para vigia s almas dos quatro mortos." (Simes Lopes, Contos
Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 32).

MORTO, s. Pau enterrado ao qual se prende o rabicho destinado a firmar o


palanque mestre do aramado.

MOSCAR-SE, v. Fugir (Alentejano antiq.).

MOSQUEADOR, adj. Diz-se do animal que mosqueia.

MOSQUEAR, v. Movimentar o cavalo a cola para espantar as moscas que o


perseguem, ou fazer tal movimento quando aoitado ou esporeado.

MOSQUEAR-SE, v. Estar inquieto, sacudir as moscas.

MOSQUEDO, s. Mosqueiro. Grande quantidade de moscas; lugar onde h


muitas moscas.

MOSQUITEIRO, s. Reunio de espectadores de qualquer festa domstica, os


quais permanecem defronte s portas e janelas, no lado de fora da casa,
para observarem o que ocorre e geralmente emitirem crticas mordazes.

MOSSA, s. Sinal, para identificao, que se faz nos bovinos, ovinos e


sunos, consistindo em uma mossa recortada em uma das orelhas do animal.

MOSTRADO, adj. Balaqueiro, exibido, sado, prosa.

MOSTRAR AS CANJICAS, expr. Rir.

MOSTRAR-SE, v. Balaquear-se, exibir-se.

MOTA, s. Presente que o negociante d a seu fregus, depois de uma


compra feita pelo mesmo. // Inhapa ou iapa. // Gorjeta, molhadura,
propina que se d a algum por algum servio prestado. // Presente,
esmola.

"... eu levianito e mui concho, que tinha alimpado o meu nome e

317

inda levava de mota, na garupa, aquela florzita." (A. Maia, Alma


Brbara, RJ, Pimenta de Melo & C., 1922, p. 86).

"E foi um alegro por aqueles pagos, porque logo o ganhador


mandou distribuir tambeiros e leiteiras, cvados de baeta e baguais e
deu o resto, de mota, ao pobrerio." (Simes Lopes, Contos Gauchescos e
Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 181).

MOTUCA, s. O mesmo que mutuca.

"Picada pela motuca,


gadaria foge sem rumo...
Enroscada como fumo
em balco de bolicheiro,
uma cruzeira bombeia,
pra atirar no que rodeia,
malevo bote certeiro!"
(Santos, o Tropeiro, Gente Guapa,
Jaguaro, Livr. A Miscelnea, 1965,
p. 17).

MOURAMA, s. Moirama, mouronada. Uma partida de moures ou moires.


Poro de moires ou moures.

MOURO, adj. Plo de animal negro salpicado de branco. mais escuro que
o tordilho-negro. Tem uma cor meio puxando a azul escuro que faz lembrar
nosso granito ou ardsia. // Um dos partidos no torneio denominado
cavalhadas. // Var.:Moro.

"Em todo poncho h uma gola,


Em todo enterro um tesouro,
Em toda cincha uma argola,
Em toda manada h um mouro."
(Humberto Feliciano de Carvalho,
Minha Estncia, Uruguaiana, Livr.
Novidade Editora, 2 ed., 1964,
p. 58).

"O meu cavalo de guerra


chamava-se "Liberdade!
Chomico! Quanto saudade
me alvorota o corao!
Era um mouro fanfarro,
crioulo da prpria marca
e eu ia como um monarca
na testa de um esquadro."
(Guilherme Schultz Filho,
Galponeiras, P.A., Martins Livreiro-Editor,
1981,p. 17).

"Quantas vezes, montando um pingo mouro,


eu cruzei, como um rei, esta avenida,
com aperos de prata, em tardes de ouro,
sob o olhar da serrana mais querida?!"
(Rui Cardoso Nunes, Revendo o
Pago).

MOURONADA, s. Partida de moures; poro de moures. Mourwna, moironada.

MOVER A CRIA, expr. Abortar, a vaca ou a gua.

MOVIMENTADO, adj. Animado, o comrcio ou o meio social de uma


localidade.

MOVIMENTO TRADICIONALISTA GACHO, s. Ao cvica, social, desportiva e


cultural, de culto sistemtico s tradies gachas, atravs de
entidades denominados Centros de Tradies Gachas (CTG), em nmero
superior a 300, com aproximadamente dois milhes de associados. O
Movimento Tradicionalista Gacho usa a sigla MTG.
Nossos irmos do Prata, uruguaios e argentinos, tambm h muito
cultuam as tradies gachas.

"Ainda em 1914 havia mais de duzentos pequenos clubes cuja


finalidade ostensiva era perpetuar a tradio gacha. S em Buenos Aires

318

havia mais de cinqenta desses clubes. Os seus associados reuniam-se de


vez em quando, noite, tocando violo, cantando canes gachas,
escrevendo jornais gachos, representando peas gachas." (Madaline
Wallis Nichois, O Gacho, RJ, Ed. Zelio Valverd S.A., 1946,p. 115).

MUCHACHA, s. Feminino de muchacho.

"Quando voltarmos, virs um oficialo bonito e guapo, que mame


olhar com orgulho e as muchachas tambm..." (A. Maia, Alma Brbara, RJ,
Pimenta de Melo & C., 1922, p. 75).

MUCHACHADA, s. Grupo de muchachos. Rapazio, meninada, moada. //


Travessura prpria da mocidade. Brincadeira. Criancice.

MUCHACHITO,s. Menino, gurizinho.

MUCHACHO, s. Rapaz, moo. // Suporte em que descansa o cabealho ou a


parte traseira da carreta. // Var.: mochao ou muchao.

"O couro bate na porta.


Vai o muchacho de arrasto
deixando atrs o seu rasto
rabiscado em linha torta;"
(Juca Ruivo, Tradio, Ed. do CTG
de Ira, 1957, p. 36).

"Pertinho estava o carreto, antigo, j meio desconjuntado, com


o cabealho no ar, descansado sobre o muchacho." (Simes Lopes, Contos
Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 43).

MUCHACHOTE, s. Rapazote, mocinho.


MUCHAO,s. O mesmo que muchacho.

MUUM, s. Enguia do Brasil. // Em sentido figurado, pessoa de cor preta,


negro.

MUCUREIRO, s. Indivduo que atira mal, no esporte da caa. Mau caador.


O mesmo que mocureiro.

MuDADOR, s. Lugar onde habitualmente so trocados os cavalos, que


estavam sendo usados, por outros descansados.

MUI, adv. Forma apocopada de muito, de uso freqente na fronteira.

MUITO SIM SENHOR, expr. Muito vontade, com displicncia,


descuidosamente, sem preocupao, com toda a calma. "Estavam todos
preocupados, quando o guri apareceu muito sim senhor", isto , apareceu
com toda a calma, sem afligir-se.

MULADA, s. Grande nmero de mulas. Tropa de mulas.

MULADEIRO, s. Condutor de mulas, arrieiro, almocreve.

MULA-DE-PADRE, s. O mesmo que mula-sem-cabea.

MULA-SEM-CABEA, s. Ente fantstico em que transformada a mulher que


vive amancebada com padre. O mesmo que mula-de-padre, burra-de-padre,
cavalo-sem-cabea.

MULHERENGO, adj. Prprio de mulher, mulheril, feminil.

MULITA, s. Espcie de tatu de pequeno porte, de carne muito saborosa. A


mulita, em cada pario, produz de oito a onze filhotes, todos do mesmo
sexo. Mentira, logro, engano. Pregar ou passar mulita significa enganar,
lograr.

"O tatu mais a mulita,


lei da sua criao,
Sendo macho no pode ter irm,
Sendo fmea no pode ter irmo."
(Quadra popular).

"E a virge disse: - Mulita, como paga do leite de tuas filhas e


da fora de teus filhos, daqui por delante sempre que tengas ninhadas,
seran solamente de machos ou sola-

319

mente de fmeas." (rico Verssimo, O Tempo e o Vento, P.A., Globo,


1950, p. 89).

MUMBUCA, s. Variedade de abelha silvestre existente na regio serrana.


Produz muito mel e cera.

MUMUCA, s. Ente fantstico, espcie de papo, com que alguns pais


asSustam as crianas a fim de que parem de fazer manha.
MUNDO, s. Grande quantidade. "Um mundo de gente compareceu s
carreiras", O mesmo que mundaru.

MUNDARU, s. O mesmo que mundo.

MUND, s. Mundu.

MUNDEIRO, s. Vagabundo, andejo. O mesmo que mundero.

MUNDERO, s. O mesmo que mundeiro.

MUNDU, s. Armadilha para apanhar caa. // Traio.

MUNDO E CARONA, expr. Trabalhos, provaes. A luta pela vida, a


experincia adquirida com o tempo. "Fulano, para se endireitar, precisa
de mundo e carona", isto , precisa de passar trabalho, de lutar pela
vida, de adquirir experincia.

MUNGRIENTO, adj. Sujo, relaxado.

MUNHATA, s. Batata-doce.

MUNHECA,s. Mo.

MUNCIO, s. Gado de corte que segue as foras, para alimentao dos


soldados. Rs, quase sempre terneira ou novilha, que incorporada
tropa de gado vacum para ser abatida, durante a viagem, para alimentao
dos tropeiros. // Gnero alimentcio que o tropeiro conduz consigo para
as necessidades da viagem. // Munio de boca.

"Esperavam que o fogo se transformasse em braseiro para assar a carne do


muncio recm abatido." (Edy Lima, Minuano, RJ, Irmos Pongetti, 1959,
p. 257).

"Carneou-se ali o muncio:


Era um tourito brasino
Gordacho e de pelo fino
Que repontava o matambre;"
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1978, p. 14).

MUNTAR, v. Colocar-se sobre o animal de montaria, O mesmo que montar.

MUQUIO, s. Lugar sujo e em desordem. // Piolho da roupa, tambm chamado


muquirana.

MUQUINHAR, v. Vadiar, vagabundear.

MURCHAR AS ORELHAS, expr. Aquietar-se. A expresso "quando um burro fala


o outro murcha as orelhas", muito usada no Rio Grande do Sul, significa
que quando uma pessoa est falando as outras devem permanecer caladas.

MURINGA, s. Moringa, quartinha.

MURRINHA, s. Cheiro acre dos animais e tambm das pessoas. // Cheiro das
roupas servidas. // Preguia, moleza, lassido. // Morrinha.

MURRINHENTO, adj. O mesmo que morrinhento.


MURTILHO, s. rvore da famlia das Mirtceas.

MUS, s. Jogo de cartas, oriundo da Espanha, usado na fronteira.

MUSCAR-SE, v. Fugir apressadamente, desaparecer. Moscar-se.

MUSSITAR, v. Murmurar, segredar, cochichar.

MUTREITA, s. Gordura excessiva do gado vacum. "Estar de mutreita",


signifi-

320

ca ser muito gorda a carne ou o animal.

MUTRETA, s. Velhacaria, maroteira. // Negcio escuso. // Golpe de mgica


que esconde inteno de logro.

MUTRETEIRO, s. Fazedor de mutretas. Patife, velhaco.

MUTUCA, s. Mosca grande, de picada dolorosa, que irrita os animais. //


adj. Diz-se do galo de briga ruim, ordinrio para a rinha.

MUTUQUEIRO, s. Nefito em brigas de galo.

MUXIBA, s. Pelancas, pedaos de carne magra, retalhos de carne que se d


aos ces. // Seios de mulher, magros e cados.

321

322

NABO, s. A parte mais grossa do moiro, palanque, tronqueira, poste ou


esteio, que fica enterrada no cho.

NACA, s. Naco, pedao, poro, fatia.

NACO, s. Naca. Pedao de fumo ou de carne.

NA ESTICA, adv. Elegantemente vestido.

NAIPES, s. Baralho, cartas de jogar.

NAMBI, adj. Diz-se do animal cavalar ou muar que tem uma orelha, ou
ambas, cada, cortada, enrolada, atrofiada, murcha, muito pequena. (
uma abreviao de nambi xor, do tupi, ou de nambi yero, do guarani,
com a significao de orelhas cadas ou derrubadas).

NAMBIJU, adj. Diz-se do animal vacum de plo baio-pangar que tem as


orelhas amarelas.

NAMBU, s. O mesmo que inambu ou inhambu.

NANIQUICE, s. Pequenez, pouca altura.

NO AGUENTAR CARONA, expr. No suportar afrontas sem reagir. O mesmo que


no aguentar carona dura.

NO AGUENTAR CARONA DURA. expr. O mesmo que no agentar carona.

NO AGUENTAR O BANCO, expr. No se demorar, em visita. O mesmo que no


esquentar o banco.

NO AQUENTAR BANCO, expr. No se demorar, em visita. O mesmo que no


esquentar o banco.

NO BEBER GUA NAS ORELHAS DOS OUTROS, expr. No depender de favores:


"Eu no bebo gua nas orelhas desse indivduo", isto , no dependo de
favores desse indivduo.

NO CORRER EM CONDIES, expr. Correr mal o cavalo por impercia do


corredor.

NO DAR CHANGUI, expr. No fazer concesso ao adversrio.

NO DAR RODEIO, expr. Ser o gado sem costeio, bravio, alado, xucro,
chimarro. // No temer, no afrouxar, no agentar desaforo. // No
deixar o adversrio em sossego.

NO ENJEITAR PARADA, expr. Enfrentar o que vier. No se negar a nada.


Estar pronto para tudo o que acontecer.

NO ESQUENTAR O BANCO, expr. No se demorar. O mesmo que no aquentar


banco ou no agentar o banco.

NO ESTAR DE ARTES, expr. No estar bem disposto.

323

NO ESTAR PARA CLAVO, expr. No estar disposto a sofrer prejuzo.

NO FAZER MOSSA, expr. No causar qualquer abalo.

NO GASTAR PLVORA EM CHIMANGO, expr. No perder tempo dando ateno a


quem no a merece.

NO GRANAR O CATETE, expr. No se realizar o que estava planejado. No


se conseguir o que se pretendia.

NO LEVAR DESAFORO PARA CASA, expr. No voltar para casa sem ter
revidado ofensa recebida.

NO LEVAR QUALQUER UM PARA COMPADRE, expr. No aceitar a amizade ou a


companhia de qualquer pessoa.

NO LIGAR UM PITO, expr. No dar a menor importncia.

NO MAL COMPARANDO, expr. Comparao depreciativa em que o falante,


embora ofendendo, manifesta a inteno de no ofender: "Aquele taura,
no mal comparando, como porco: come e vira o cocho."

NO-ME-TOQUE, s. rvore (Chuquirega spinescens Back) da famlia das


compostas, com espinhos muito agudos, reunidos em grupos, disseminados
pelo tronco.

NO-ME-TOQUES, s. Melindres, dengues, atitudes efeminadas.

NO OLHAR PLOS NEM MARCAS, expr. No rejeitar o carreirista competidor


algum, seja ele qual for.

NA ORELHA, expr. Em corrida de cavalos, significa que o jogo feito em


igualdade de condies, sem vantagem para qualquer dos competidores. O
mesmo que de mano, de mano a mano, elas por elas.

NO RESULTAR, expr. No produzir o efeito desejado.

NO ROAR PLO, expr. Nas corridas de cavalos, correr o parelheiro


sempre na frente, distanciado do competidor.

NO SER TRIGO LIMPO, expr. No ser boa pessoa, no se prestar para


brincadeiras, ser valente, atrevido, turbulento, velhaco, trapaceiro,
perigoso, irascvel.

NO SERVIR PARA RETALHADO, expr. No ser dos que se deixam desmoralizar,


ou dos que admitem a infidelidade da mulher.

NO TER MAIS VOLTA, expr. No ter remdio. Estar perdido. Ter chegado ao
fim.

NO TER ONDE CAIR MORTO, expr. No possuir nada, ser muito pobre.

NO TER VALIA, expr. No ter valor, no ter utilidade para nada.

NO VALER UM PITO, expr. No ter valor algum, ser totalmente intil. O


mesmo que no valer um sabugo.

NO VALER UM SABUGO, expr. O mesmo que no valer um pito.

NAPEVA, adj. De pernas curtas, diz-se de galinceos e de ces.

NASCIDO, s. O mesmo que nascida, isto , abcesso, tumor, leiceno,


furnculo.

NAS OBRIGADAS, expr. Em corrida de cavalos significa que os disputantes


devem largar logo, imediatamente. Em sentido figurado, ser obrigado a
tomar uma atitude.

NA TALA, expr. Debaixo de relho, em aperturas, em dificuldades. Usa-se


principalmente com os verbos trazer e estar.

NAZARENAS, s. Esporas grandes. Usa-se tambm como adj.: esporas


nazarenas.
324

NEGAA, s. Esconderijo feito com ramos de rvore, em forma de crculo,


no qual o caador se oculta para atirar nos marreces ou marrecas.

NEGADA, s. Mudana brusca de direo ou parada e retomo sbitos que faz


o animal que se assusta.

NEGADOR DE ESTRIBO, expr. Diz-se do animal que se esquiva quando o


cavaleiro vai colocar o p no estribo, para montar.

NEGADOR DE FREIO, expr. Diz-se do animal que procura evitar que se lhe
coloque o freio.

NEGALHAS, s. Pequena poro, quantidade insignificante.

NEGAR O ESTRIBO, expr. Negar-se o animal a ser montado, afastando-se no


momento em que o cavaleiro procura apoiar o p no estribo. //
Figuradamente, faltar a compromisso, mostrar-se esquivo, negar-se a
prestar um favor ou a fazer alguma coisa por outra pessoa. // Tambm se
aplica mulher que repele proposta de amor, ou que se recusa a danar
com determinado par.

"E o sujeito quis retouar, porm ela negou-lhe o estribo,


porque j trazia mais de quatro pelo beio, que eram dali, da querncia,
e aquele tal dos versos era teatino..." (Simes Lopes, Contos Gauchescos
e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 13).

NEGCIO, s. Estabelecimento comercial, casa de negcio, armazm.

NEGRINHO, s. Designao carinhosa que se d a crianas ou a pessoas a


que se tem afeio.

NEGRINHO DO PASTOREIO, s. Espcie de anjo bom dos pampas que ajuda as


pessoas a encontrarem as coisas perdidas. crena que tenha sido ele,
em outros tempos, um escravo pretinho que morreu de maus tratos. A ele
se prometem toquinhos de vela e pequenos nacos de fumo para que ajude a
procurar animais ou coisas perdidas. A lenda do Negrinho do Pastoreio
tem variantes, sendo as verses mais correntes as de Cezimbra Jacques e
de J. Simes Lopes Neto. Em ambas o negrinho um pobre escravo que no
tem ningum por si, que sofre constantes maus tratos de um estancieiro
cruel, e que termina sendo colocado em um formigueiro para que as
formigas o devorem. Isto, porm, no acontece, pois o negrinho,
milagrosamente curado de todos os seus ferimentos, ergue-se do
formigueiro e vai para o cu. chamado, tambm, Negrinho do Pastorejo,
Crioulo do Pastoreio, Crioulo do Pastorejo, Crioulinho do Pastoreio e
Crioulinho do Pastorejo. Essa lenda, que genuinamente rio-grandense,
tem inspirado belas pginas da literatura gauchesca.

"Havia um estancieiro cruel para os escravos e para a peonada.


Uma feita comprou ele uma boa ponta de novilhos. Era inverno rigoroso e
fazia frio de rachar.
Esse gado, para ser aquerenciado no campo da estncia, mandou
ele que fosse pastorejado por um crioulito de quatorze a dezesseis anos.
Quando chegava o entrar do sol trazia o negrinho o gado do
pastorejo e o encerrava no curral, sendo de antemo contados os ditos
animais pelo estancieiro.
Um dia, na contagem, deu ele falta de um novilho, e, sem mais
demora, encostou o cavalo no da pobre criana e deu-lhe a valer com
grosso e pesado relho, deixando-lhe

325

o corpo seminu cheio de lanhos a correr sangue. E depois que bateu


barbaramente, vontade, nas costas do infeliz, disse-lhe: - Vai me dar
conta do novilho ou, do contrrio, vers o que te acontece.
Ao ouvir a ordem do cruel senhor, o crioulo deu de rdeas ao
cavalo e partiu procura do novilho.
No caminhou muito tempo para avist-lo pastando em uma coxilha.
Ao lanar-lhe as vistas, desatou um frgil lao dos tentos, fez a armada
e cerrou pernas no cavalo e aproximando-se do novilho distncia
necessria, atirou o lao certeiramente, laando-o. Em poucos tires
secos que deu o animal altaneiro, partiu-se o lao e saiu ele
disparada, sem que, por mais empenho que fizesse o crioulo, fosse
possvel faz-lo dar volta.
Desenganado o desditoso preto voltou, dando parte ao cruel
senhor. Este amarrou-o de ps e mos e depois de tornar a dar-lhe muito,
fez abrir um formigueiro e deitou-o nu entre as formigas.
No dia seguinte, vindo ele ver a sua vitima para continuar o
cruel castigo, sendo acompanhado pelas pessoas da estncia, ao
aproximarem-se do formigueiro, viram, ele e os demais presentes,
erguer-se uma nuvem e, envolvido nela, subir o mrtir ao cu,
desaparecendo.
Desde ento os camponeses consideraram a vtima como um santo e
comearam a dirigir-lhe promessas.
E ficou entre eles esse uso: quando perdem qualquer coisa til,
prometem logo velas ao Crioulo do Pastoreio, as quais costumam acender
ao achar o objeto perdido.
E assim que no raro verem-se nas estncias, atrs das
mangueiras ou currais e mesmo ao redor das povoaes, velas acesas
noite, cravadas no terreno."
(Joo Cezimbra Jacques, Assuntos do Rio Grande do Sul, P.A., Of.
da Escola de Engenharia, 1912, p. 157).

"Ia, enfim, realizar o seu sonho, fazer uma promessa ao negrinho


do pastoreio.
Ouvira contar a sua triste histria e a lenda dos seus milagres.
Atirado dentro de um formigueiro, por ter perdido a tropilha de
tordilhos, o negrinho ficara sendo o achador de tudo que se perde no
campo. Cavalos extraviados, facas cadas do cinto, bombas de rdeas,
dinheiro, tudo ele fazia voltar ao dono, que lhe pedisse. S por um
biquinho de vela e um naco de fumo. A vela, para sua madrinha que
Nossa Senhora, e o fumo para ele, que pitador."
(Darcy Azambuja, Coxilhas, Negrinho do Pastoreio, P.A., Globo,
1956,p. 123-24).

"No antigamente no havia criana mais atormentada do que o


Negrinho do Pastoreio. Ningum
apostaria uma ponta de cigarro na
mudana do seu destino. Ningum.
Pois no cambiou a sua sorte! E de
que jeito, com a Virgem Nossa Senhora de sua madrinha e fazendo
milagres, levantando pela cola os
agoniados. Antes, tinha vida de pele
de tambor, pancada e mais pancada
no seu lombo descarnado. Por d c
aquela palha cantava o tranado.
Bastou que a Virgem Santa lhe passasse a ponta dos dedos pelo peleguinho da
carapinha tmida para

326

ele sarar das feridas, o choro parar e o ranho secar no seu nariz
chimb. Desde ento o Negrinho anda por a misturado com a escurido das
noites, de tio aceso, semeando o bem. Buenao, o guri! s enxergar
vela acesa na coxilha e l est ele para desentalar o mais entalado.
s ter f, s direitas, nele e na Nossa Senhora." (Sylvio da Cunha
Echenique, Fagulhas do meu Isqueiro, Pelotas, Ed. Hugo, 1963, p. 194).

"Desde ento e ainda hoje, conduzindo o seu pastoreio, o


Negrinho, sarado e risonho, cruza os campos, corta os macegais, bandeia
as restingas, desponta os banhados, vara os arroios, sobe as coxilhas e
desce s canhadas.
O Negrinho anda sempre procura dos objetos perdidos, pondo-os
de jeito a serem achados pelos seus donos, quando estes acendem um coto
de vela, cuja luz ele leva para o altar da Virgem Senhora Nossa,
madrinha dos que no a tm." (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas
do Sul, P.A., Globo, 1957, p. 335).

"O Negrinho do Pastoreio tem o dom de devolver os objetos


perdidos, com a retribuio de um naco de fumo crioulo, em rama, ou de
um toquinho de vela que se acende na boca do formigueiro." (J.A. Pio de
Almeida, Uma Visagem do Gacho, Correio do Povo, Caderno de Folclore,
14/12/1976, p. 7).

"El Negrito
(...)

Dicen que en aquella estancia


se lo cambiaron por un perro;
que era un grano de pimienta
la cabecita del negro.
Tena los dientes muy blancos;
pero como andaba siempre serio,
de noche no se vea
el negrito del pastoreo.
Cuidaba miles de ovejas,
que abrillantaban los cerros .
y siempre a boca de noche
las traa pa los chiqueros,
antes que soitase las suyas
el dulce pastor San Pedro.
Como es fcil confundir
para un nulo gaucho y negro,
una majada de estrellitas
y una majada de corderos,
las encerraba temprano
el negrito del pastoreo.
Y en mitad de una gran tormenta
donde con tanto centelleo,
se le destrenz el chicote
de los rayos al infierno;
por ms cuidado que puso;
por ms que que se hinc en el suelo
y hasta le pidi prestada
una estrellita a San Pedro,
perdi una oveja el humilde
negrito del pastoreo.

Lo mandaron a pie a buscarla


por seis leguas del potrero.
Jess le encendi la luna,
con pena del nio negro...
Empez a comcrlo el hambre...
cay rendido de sueo
y las hormigas terminaron
con el negrito del pastoreo.
Las hormigas lo han credo
algn cascarudo muerto...

Lo enterraron sin velorio


y no pudo alzar el vuelo;
porque no son cuatro luces
las velas: son cuatro dedos...
Y como no le sealaron
el camino de los ciclos
anda perdido por los campos
el negrito del pastoreo.
Tal se mezcl su oveja

327

con la majada de San Pedro.


Estriba en cualquier cabito
y sube a pedir rodeo...
pero la luz se le acaba
en el camino del cielo
y cae chisporroteando
como los otros insectos.

Por eso cuando se pierde


de un alfiler hasta un beso
se le promete una luz
y l lo encuentra en un momento
Tiene que ser un cabito
y tiene que arder en el suelo;
porque es muy himilde el nima
del negrito del pastoreo."
(Yamand Rodriguez, Poesias
Completas, Buenos Aires, Ed. Dayca,
1964,p. 11).

"Negrinho do Pastoreio!
meu santo piedoso e rude,
d-me tudo o que eu campeio
e encontrar ainda no pude.
Um coto de vela acesa
tenho sempre para ti,
por ver se me fazes presa
de todo o bem que perdi!"
(Zeca Blau, Poncho e Pala, P.A.,
Sulina, 1966, p. 102).

"E hoje crena firmada


que qualquer prenda extraviada
a gente pode encontrar:
- Basta acender um toquinho
de vela para o Negrinho
que ele ajuda a procurar...

Muitas velas se acenderam


e louvaes se renderam,
por alma do judiado,
que, quando est gineteando,
em seu baio pastoreando,
deixa o cu iluminado...

Deixa o cu iluminado,
pois cada lume levado
sem que o perceba ningum,
para o reino da Rainha,
para aquela que madrinha
daqueles que no a tm...

Cristo que perca o que seja


e que o perdido deseja
de qualquer forma encontrar,
acenda um coto de vela,
que no dele mas Dela,
e o que perdeu h de achar."
(Athos Damasceno Ferreira,
Negrinho do Pastoreio).

"Negrinho
Toma o teu toco de fumo,
pra continuar teu vareio
de repontar os tordilhos.
Passas nas horas sem rumo,
Negrinho do Pastoreio,
sem dormir nos cochonilhos.
Nos largos ventos da noite
eu te acompanho o tropel
por horas mortas e incertas.
Por que que o destino foi-te
to recargoso e cruel
pelas coxilhas desertas?!
Toma o teu toco de vela,
para clarear o teu rumo
sem que a tropilha se esconda.
Quando o trovo se escancela,
num raio enxugas teu fumo
nos teus galopes de ronda.
Todos os guris felizes,
em galpo, ranchos e estncias,
dormem seu sono profundo.
Entre tatus e perdizes,
nem pensas nessas infncias
dos felizardos do mundo.
Segue o teu fado, a tua sina,
cuidando a tua tropilha
que nem te deixa ter sono.
A cerrao e a neblina
so a cilada e a armadilha
com que te prova o teu dono.
s s, nas noites do Pampa,
Quando a intemprie castiga!

328

s s tu que campereias,
sem nem voz para a cantiga
que te acompanhe em teu rumo.
- S tu s bem homem, Negrito!
pitando o teu cigarrito
de uns guaxos nacos de fumo...

Tambm ns, Negrito amigo,


c pelo nosso borralho,
imitamos teu trabalho,
campeando o que no perdemos
quando o sossego se corta:
- para toadas querendonas,
campeando imagens gavionas
nas rondas da noite morta.".
(Aureliano de Figueiredo Pinto,
Romances de Estncia e Querncia,
2 ed., P.A., Martins Livreiro-Editor,
1981,p. 63-64).

"No pastoreio dos sonhos


cruzando a ronda do tempo
se a tropilha se extraviou,
acende o coto de vela
numa prece de ternura...
que o Negrinho
por certo
vir pelo pampa aberto
com o sonho que se perdeu."
(Nilda Beatriz Castro de Freitas,
Pastoreio, in Antologia da EP
P.A., 1970, p. 205).

"Perdi, Negrinho a Esperana


E hoje vivo na Amargura.
Nesta vela que te acendo,
Peo de volta a Ventura."
(Linz Alberto lbarra, Cano do
Sul, p. 26).

"Dilogo
- Negrinho do Pastoreio,
Velho amigo, escuta aqui:
Eu quero a faca de prata
Que na invernada perdi.
- Pronto, Patro! Eis a faca
To bonita, que perdeu!
Agradea boa Virgem,
Que o milagre no foi meu!
prodigioso Negrinho,
Inda preciso de ti:
Quero agora que procures
A minha paz, que perdi...
- Nesse caso, Patrozinho,
Nada me cabe fazer...
Somente certa pessoa
Lhe pode a paz devolver!
- Negrinho, no me abandones!
Em teu poder tenho f!
Responde-me: Essa pessoa
Onde se encontra? Quem ?
- O Patrozinho pergunta...
Pois no sabe? Como no?!...
Estou vendo a imagem dela
Dentro do seu corao!"
(J. P. Barcellos Penna, Sem cabea
e outros versos gauchescos, p.
51).

NEGRINHO DO PASTOREJO, s. O mesmo que Negrinho do Pastoreio.

NEM DE PEDO, expr. De forma nenhuma; nem por nada do mundo.

NEM VAI SER CARREIRA, expr. Se usa para significar que a corrida vai ser
ganha por um dos parelheiros com extrema facilidade. // Por extenso,
aplica-se a qualquer competio: "A eleio em So Chico nem vai ser
carreira, ganha o Fulano", isto , a eleio em So Chico vai ser ganha
pelo Fulano com extrema facilidade.

NEN, s. Nenm, beb, a criancinha.

NHANDIJU, s. rvore do Rio Grande do Sul que produz madeira resistente e


durvel, usada para moires e para postes.

NHANDU, s. Nome tupi da ema ou avestruz. ( alterao de ndu, do


tupi, palavra que entra na composio de nomes de rios, de madeira e
outros: Inhandu, rio dos avestruzes; inhandu-

329

v, certa madeira de lei).

NHANDU-TAT, s. Avestruz de fogo. (Etim.: do tupi, ndu, avestruz, e


tat, fogo).

NHANDUV, s. O mesmo que inhanduva.

NHANDUVA, s. O mesmo que inhanduv.

"Oh! velho temerrio! Firme nos estribos, com o bon levantado


sobre o cocuruto da cabea, a espada apontando como um dedo, faiscando,
o velhito ponteou aquela tormenta, que se despenhou pelo lanante abaixo
e afundou-se e entranhou-se na massa cerrada do inimigo, como uma cunha
de nhanduva, abrindo em dois um moito grosso de guajuvira..." (Simes
Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 84).

NHANH, s. Tratamento que os escravos davam s senhoras, principalmente


s meninas e moas.

NHONH, s. Tratamento familiar dado aos meninos, pelos escravos.

NICADA, s. Ato de nicar.

NICAR, v. Bater com uma bola de vidro em outra, no jogo infantil da


bolita.

NILO, adj. Plo de gado vacum. Diz-se da rs que tem a cabea branca e o
resto do corpo de outra cor. O mesmo que pampa.

NINHAR, v. Andar procura de ninhos para lhes tirar os ovos.

NINHO DE GEADA, s. Lugar em que a geada cai intensamente todos os anos.

NIQUELEIRA, s. Porta-nqueis, pequena bolsinha.

NO BICO DA CHOCOLATEIRA, expr. NOBREZA, s. Seda preta engomada e muito


lustrosa que se usava antigamente.

NO CLARO, expr. A dinheiro, vista.

"Trezentos mil ris no claro, tinha enjeitado uma semana antes,


por barato. E era." (Darcy Azambuja,No Galpo).

NO GRITO, expr. No ato, no momento, imediatamente, em seguida.

NOITE DE CACHORRO, s. Noite em que a pessoa no conseguiu dormir


descansadamente em vista de constantes contratempos.

NO MAIS, adv. No mais, sem mais, sem mais prembulos, sem mais nem
menos, sem mais aquela, simplesmente, to somente, unicamente, apenas.

"Por a, no mais, se atravessou um dos da roda para falar da


serra do Acegu." (Sylvio da Cunha Echenique, Fagulhas do meu Isqueiro,
Pelotas, Ed. Hugo, 1963, p. 159).

NO MATO SEM CACHORRO, expr. Em grandes dificuldades, em apuros.

NOMBRADA, s. Herosmo, rasgo.

NOMBRAMENTO, s. Nomeao.

N-NAS-TRIPAS, s. Apendicite, ocluso intestinal.

NONATO, s. No nascido. O terneiro tirado do ventre da vaca que foi


carneada. O mesmo que tapichi, bacara ou vacara.

NO ORA VEJA, expr. Sem conseguir o que pretendia, o que esperava, o que
de direito lhe cabia. Desiludido, enganado, logrado, decepcionado.

"Como diabo ia ele levar a caa, aquela? ... E quando estava


botan-

330

do as suas contas,o nhandu deu em patear, a se revirar todo e mal


apanhou livre uma perna, priscou e se foi a la cria, deixando o caador
no ora-veja! ..." (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul,
P.A., Globo, 1973, p. 109).

NOQUE, s. O mesmo que ano que.

N-REPUBLICANO, s. Modo de atar o leno que os republicanos


rio-grandenses de 1835 usavam como distintivo.

NO SACAR DA ORELHA, expr. No momento em que as orelhas dos parelheiros


ficam desembaraadas, isto , logo que a linha perpendicular cancha
que as contenha no mais coincida com elas, por terse adiantado um dos
cavalos.

NO SOFLAGRANTE, adv. O mesmo que no sufragante.

NO SUFRAGANTE, adv. Imediatamente, prontamente, no momento em que, ao p


da letra, no mesmo instante. O mesmo que no soflagrante.

NO TOCO, adv. No ato de, no flagrante.

NO TRANCO, adv. Na marcha natural, no apressada, do animal de montaria.

NOVE, s. Jogo de cartas.

NOVIO, s. e adj. Cavalo novo. // Pessoa inexperiente.

NOVILHITO, s. Diminutivo de novilho.

NOVILHO, s. Vacum novo. Os machos, para receberem essa denominao,


devem ser castrados.

NOVILHO CORPO DE BOI, s. Novilho bem desenvolvido.

NUEL, adj. Implume, sem penas, recm-nascido.

NUM DE REPENTE, adv. O mesmo que num repente.

NUM PENSAMENTO, adv. Muito rapidamente, num abrir e fechar de olhos, num
instante, num v.

NUM PROVISO, adv. Num momento, de repente, num instante, imediatamente,


de improviso.

NUM REDEPENTE, adv. O mesmo que num repente.

"Ficamos, num redepente e por alguns minutos imveis que nem


esttua," (Natlio Herlein, As Trs Marias, Univ. de Caxias do Sul,
1980, p. 97).

NUM RELANCIM, adv. Num relance, repentinamente.


NUM REPENTE, adv. De repente, repentinamente. O mesmo que num de
repente, e num redepente.

NUM UPA, adv. Num abrir e fechar de olhos. De golpe, de sopeto, muito
rapidamente, sem delongas.

"Apeou num upa e desenganchou o arame do moiro, tornando a


montar." (N. Pereira Camargo, Histrias da Fronteira, P.A., Ed. Combate
Ltda., 1968, p. 12).

"Tamanho no te preocupa,
Sejam homens ou animais,
Vences a todos num upa,
Tambm assim, demais..."
(Oscar da Cunha Echenique, Quero-quero).

NUM V, adv. Num instante, num pensamento, muito rapidamente, num abrir
e fechar de olhos, num vu.

"... o rapaz que era influidito de nascena, se desmasiou e


insultou uma escolta do Comandante. Ora, a cachorrada pulou nele num v.
Resistiu com flego de guapo! Mas eram quinze, e ele um." (Ciro

331

Martins, Campo Fora, P.A., Ed.


Movimento, 1978, p. 74).

"E, num v, deu-se o estouro..." (Amaro Juvenal, Antnio Chimango).

NUM VU, adv. O mesmo que num va.

NUTRIA, s. Rato-do-banhado.

NUVEM, s. e adj. Espertalho, velhaco, vivo, finrio, matreiro, esperto,


perspicaz, atilado, pouco escrupuloso, de procedimento pouco limpo.

332

OBEDEENA, s. Obedincia (antiq. em Portugal).

OBRIGAO, s. A famlia, os filhos.

OCA, s. Perfurao redonda feita na roda do carro.

OCHE!, interj. Expresso usada pelos carreteiros para fazer os bois da


carreta pararem ou diminurem a marcha. Usa-se, tambm, para acalmar o
boi que se vai pegar. O mesmo que ooche! ou h!

"Oche, boi! Oche, boi! disse o velhito,


E a boiada parou. Depois da apeada
E largando a picana, despacito
Foi desunindo os jugos da boiada."
(Eugnio Guerra Severo, O Carreteiro,
Ed. Documento, 1978, p. 5).
DE CASA!, interj. Expresso com que o gacho se anuncia frente de
uma casa em que vai chegar. Var.: de casa!

"Basta um -de-casa!
e o Gacho tem abertas
as portas do corao."
(Nelson Fachinelli, Minta Terra).

DE CASA!, interj. O mesmo que de casa!

OFICIALADA, s. Grupo de oficiais. Os oficiais.

H!, interj. O mesmo que oche!

H! L!, interj. Exprime admirao: "h! L! Homem feio!", isto , que


homem feio!

OIGAL!, interj. O mesmo que oigal!

OIGAL!, interj. Exprime admirao, espanto, alegria.

"Ganhou o tostado. Oigal peleia linda!" (Darci Azambuja, No


Galpo, 2 ed., p. 105).

"Cachorrinho est latindo


L no fundo do quintal.
Dona dele - faz trs anos -
(Oigal!, velho Blau Nunes...)
foi no mato cortar lenha,
se sumiu no tremedal..."
(Ovdio Chaves, in Rodeio Emotivo,
Fund. Educ. de Alegrete, organiz.
por Moacir Santana, 1979, p.
36).

OIGAT!, interj. O mesmo que oigal!

OIGAT!, interj. O mesmo que oigal!

OLADA, s. Ocasio, oportunidade, sorte, potra, momento propcio que


deve ser aproveitado para se conseguir algo. Estar de olada significa
estar com sorte, sobretudo no jogo.

OLHADA, s. Ao de olhar, reparo.

OLHEIRA DE SOL, s. Ao forte do sol, soalheira, sol intenso. "Sai dessa


olheira de sol que te faz mal."

333

OLHO-D'GUA, s. Manancial, vertente.

OLHO-DE-BOI, s. Tremedal, atolador profundo.

OLHO-DE GATO-LADRO, s. Olhar desconfiado.


OLHOS-DE-BONECA, s. Planta da famlia das Sapindceas.

OMBRUDO, adj. Que tem ombros largos, espadado.

OMILDOSO, adj. Humildoso, humilde.

ONA, s. Moeda antiga, de ouro.

ONDE CANTA O GALO, loc. adv. Muito encima, bem no alto, a cantagalo. V.
as expresses atar a cola a cantagalo e quebrar o cacho a cantagalo.

"E bem montado, vinha, num bagual lobuno rabicano, de machinhos


altos, peito de pomba e orelhas finas, de tesoura; mui bem tosado a meio
cogotilho, e de cola atada, em trs tranas, bem alto, onde canta o
galo! ..." (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul).

ONTONTE, adv. Anteontem, antes de ontem.

"Seguiu tudo ontonte pra Porto Alegre e..." (Aureliano,Memrias


do Coronel Falco, P.A., Ed. Movimento, 1974, p. 100).

OOCHE!, interj. O mesmo que oche!

RA, interj. Corruptela de fora. Usada para se espantar ou tocar por


diante os animais, principalmente os vacuns.

"ra... ra... ra...


Marcha boiada..."
(Clber Mrcio, Ultima Tropeada,
p. 159).

ORACA, s. Alma-de-gato.

OREAR, v. Arejar, ventilar, secar imperfeitamente ao vento, ao sol, ou


ao fogo, a roupa, o charque fresco, a estrada, ou qualquer outra coisa.
(Orear castelhano no sentido de arejar, abanar).

OREGONES, s. O mesmo que origones.

ORELHA-DA-SOTA, s. O jogo de cartas. "Fulano gosta da orelha-da-sota",


isto , gosta do jogo de cartas.

ORELHA-DE-GATO, s. Planta medicinal usada em gargarejos.

ORELHADOR, s. Campeiro que orelha o redomo para o domador poder montar.

ORELHA LIVRE, expr. Condio de carreira estabelecendo que basta que a


orelha de um dos parelheiros exceda do outro para que esteja ganha a
carreira. Pequena vantagem, equivalente ao dimetro de uma orelha, que,
na carreira, um cavalo leva em relao ao seu adversrio.

ORELHANO, s. e adj. Animal sem marca nem sinal.

"Estabelecida a paz, levou cinco anos em cruzada pela Serra e


pelo sul da Provncia, ora carreteando, ora conduzindo tropas, ora
volteando animaladas orelhanas." (A. Maia, Runas Vivas, Porto, Lelo &
Irmo, 1910, p. 32).

"Um dia aos pagos da Serra


chegaram muitos fulanos,
cercaram terra e mais terra,
marcaram os orelhanos."
(Zeno Cardoso Nunes, Ladro de
Gado).

"- ndio velho sem governo,


minha lei o corao...
- A est a psicologia do teu povo
no lirismo orelhano do rinco."
(Zeca Blau, Poncho e Pala, P.A.,
Sulina, 1966, p. 89).

334

"Gado Orelhano
Encerrado o rodeio, o 'tio' Toledo
- capataz bonacho e respeitado -
disse em voz alta: - Apartem todo o gado,
todo o gado de marca, enquanto cedo.

E num upa, no mais, foi apartado.


Pra o pessoal bem montado foi brinquedo...
- era o rodeio grande dos Macedo,
todo de pampa e durham colorado.

Quando escapava um bicho de 'mau plo',


numa corrida pelo chapado,
voltava j no lao, pra o sinuelo.
Feita a ponta e a culatra, pela estrada,
rumo fazenda, para a marcao,
segue o gado orelhano da invernada."
(Valdomiro Sousa, Chimarro, P.A.,
Tip. Goldman, 1951, p. 62).

ORELHAR, v. Segurar o animal, cavalar ou muar, que est sendo domado,


por uma ou pelas duas orelhas, para facilitar que o domador o monte. (V.
o termo orelhador).

ORELHAR AS CARTAS, expr. Chulear as cartas, no jogo de baralho. Jogar.


(O jogador orelha a carta decisiva puxando-a, com a mo direita, para
cima, e segurando-a, com a esquerda, para no deix-la sair).

ORELHAR A SOTA, expr. Jogar cartas.

ORELHAR UMA ESPERANA, expr. Alimentar uma esperana.

ORELHUDO, adj. O mesmo que orelhano.

ORIAR, v. Ouriar, eriar.

ORIENTAL, adj. Diz-se da Repblica do Uruguai; de seus habitantes e de


suas coisas, apesar de no estar ela situada ao oriente do Rio Grande do
Sul.

ORIGON, s. O mesmo que origone.


ORIGONES, s. Fatias de polpa de pssego, secas ao sol, as quais podem
ser comidas ao natural ou cozidas. O mesmo que oregones. (Em portugus
chama-se origone ou orijone ao doce de pssego seco). V. queixo de
origones.

ORIJONES, s. V. origones.

ORINA, s. Urina.

ORIZCOLA, adj. Que cultiva arroz: "Pases orizcolas".

OROPA, s. Europa. Nome da abelha europia ou domstica. Abelha europia


que tendo fugido, em enxames, do cortio, passa a fazer seu mel no mato,
em ocos de rvores.

"Se aparecia algum gringo


Desses que vm l d'Oropa,
Que no qualquer que topa."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
21 ed., P.A.,Martins Livreiro-
Editor, 1978, p. 37).

"Naquele tempo no se chorava um angico oco para furar uma


oropa." (Clemenciano Barnasque, No Pago).

ORRE!, interj. O mesmo que orre diacho!

ORRE DIACHO!, interj. Exprime satisfao por ter acontecido algo de mau
a um adversrio ou a um inimigo.

OSCO, adj. Plo de gado vacum, semelhante ao zaino dos equinos, podendo
ser mais ou menos carregado. Vermelho enfarruscado. Plo cor de pinho.
Por vezes se nota na rs osca o plo vermelho nos lados das costelas e
tostado escuro no resto do corpo; outras

335

vezes, escuro o corpo, com excesso da cabea que vermelha. Tambm


se escreve hosco. (Etim.: Para alguns estudiosos vem de hosco, do
castelhano, que significa fusco. Para outros, vem do portugus, de fosco
ou de fusco).

OSCO-REQUEIMADO, adj. Plo de vacum osco em que predomina a cor escura.

OSSAMA, s. Ossamenta, quantidade de ossos.

OSSAMENTA, s. Carcaa, esqueleto. // Em sentido figurado, o corpo da


pessoa.

OTA!, interj. Exprime admirao: "Ota! Animal bueno aquele!".

OTA L!, interj. Exprime admirao e espanto: "Ota l! Que mulher


horrvel! ".

OVADO, adj. Diz-se do cavalo que tem ovas ou inchaes, provenientes da


dilatao de certas membranas entre a pele e os ossos ou cartilagens.
OVAS, s. Tumores moles que aparecem em geral nos machinhos dos animais
cavalares.

OVEIRO, adj. Diz-se do plo do animal que tem o corpo de uma cor com
manchas de outra. As manchas do a impresso de um remendo sobre o plo.
Malhado. (Etim.: Parece provir de overo, do castelhano).

OVEIRO-ALAZO, adj. Diz-se de cavalo alazo com manchas de outra cor, em


geral brancas.

OVEIRO-BAIO, adj. Diz-se do animal baio com manchas de outra cor, em


geral brancas.

OVEIRO-CHITA, adj. Diz-se do animal cujo plo salpicado de pequenas


manchas.

OVEIRO-GATEADO, adj. Diz-se do animal gateado com manchas de outra cor,


em geral brancas.

OVEIRO-LOBUNO, adj. Diz-se do animal lobuno com manchas de outra cor, em


geral brancas.

OVEIRO-NEGRO, adj. Diz-se do animal que tem o corpo branco com manchas
pretas ou vice-versa.

OVEIRO-ROSADO, adj. Diz-se do animal rosado com manchas de outra cor, em


geral brancas.

OVEIRO-ROSILHO, adj. Diz-se do animal rosilho com manchas de outra cor,


em geral brancas.

OVEIRO-SEBRUNO, adj. Diz-se do animal sebruno com manchas de outra cor,


em geral brancas.

OVEIRO-VERMELHO, adj. Diz-se do animal que tem o corpo branco com


manchas vermelhas ou vice-versa.

OVEIRO-ZAINO, adj. Diz-se do animal zaino com manchas de outra cor, em


geral brancas.

OVELHEIRO, adj. Diz-se do co adestrado desde tenra idade para guardar e


proteger o rebanho. // Diz-se, tambm, do co que tem o mau hbito de
perseguir os rebanhos para comer ou simplesmente para matar as ovelhas.

"- cachorro ovelheiro, o que desde mui tenra idade criado


junto ao rebanho, que ele, quando j crescido, guarda e protege dos
ataques dos outros ces ou de animais selvagens, no o abandonando seno
para ir ao estabelecimento comer sua rao hora certa. hora de
recolher as ovelhas, ele as reune e as conduz ao curral, em cuja entrada
passa deitado e vigilante durante a noite, levantando-se mui cedo para
acompanh-las ao campo. Tambm se emprega em referncia ao

336

co que tomou o hbito de assaltar as ovelhas para as matar e com-las


ou unicamente para as ferir ou mat-las." (Romaguera).
OVO-DE-SAPO, s. Denominao dada a pequenos glbulos rseos que se
encontram aderidos s plantas aquticas ou s pedras da beira dgua, e
que contm no seu interior um lquido transparente. Apesar de
denominados ovos-de-sapo, so, na realidade, ovos de uma variedade de
caracol.

OVO-GUACHO, s. O ovo que o avestruz pe fora do ninho, no campo, ao


acaso. Acredita-se que o avestruz pe esse ovo com a inteno de, mais
tarde, quebr-lo para atrair grande quantidade de moscas com que
alimentar seus filhotes, recm sados da casca. Ovo de qualquer ave,
posto fora do ninho, ou em ninho alheio.

OVOS, s. Os testculos.

337

338

P, s. O omoplata da rs. A carne dessa regio do animal vacum no


considerada de boa qualidade.

"Levou tempos o Chimango,


ruim como carne de p"
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
21 ed., P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1978, p. 30).

PABLO, adj. Ftuo, gabarola, impostor, pedante, prosa, soberbo,


presumido, mentiroso, fanfarro.

PABULAGEM, s. Pedantismo, gabolice, vanglria, impostura.

PACAU, s. Jogo de cartas usado na fronteira. // Indivduo a que falta um


dedo. // Bater o pacau significa morrer.

PACHO, s. Tampo para vedar.

PACIENCIOSO, adj. Paciente, calmo, tlerante.

PAOCA, s. Comida feita com charque aferventado ou assado, socado no


pilo ou cortado e desfiado, misturado com farinha de mandioca. Dura
muitos dias, sendo timo alimento para conduzir em viagens longas. O
termo atualmente se aplica a qualquer comida seca mexida com farinha de
mandioca. // Coisa complicada, embrulhada, confuso, mistura. Poro de
coisas amarfanhadas. ( palavra tupi).

"depois de saborear a paoca de charque, com caf preto, de chaleira,


adoado com rapadura," (ZCN, Serventias da Cachaa).
PACOTILHA, s. Quadrilha de malfeitores.

PACOVA, s. Espcie de banana grande.

PACU, s. Peixe do rio Uruguai e de seus afluentes.

PFIA, s. Empfia, impostura, vaidade.

PAFIOSO, adj. Enfatuado, presumido, vaidoso, impostor.

PAGAR, s. Baile popular, fandango.

PAGAR A MULA ROUBADA, expr. Ser obrigado a prestar contas dos atos maus
ou dos crimes que tenha praticado.

"No venha, seu almirante,


General de gua salgada:
No venha porque bem pode
Pagar a mula roubada."
(Simes Lopes, Cancioneiro Guasca,
P.A., Globo, 1954, p. 260).

PAGAR CHAPETONADA, expr. Ser logrado, pagar preo excessivo por um


objeto, sair-se mal em um negcio por falta de prtica. Sofrer as
conseqncias da prpria tolice.

PAGAR DEPSITO, expr. Perder, para o competidor, o depsito em dinheiro


efetuado no ato de contratar uma car-

339

reira que, por qualquer razo, deixa de realizar-se. // Em sentido


figurado, significa afrouxar, recuar por estar com medo.

"Esta carreira, j agora, tens que correr de qualquer jeito...


No adianta mais querer pagar depsito..." (Sylvio da Cunha Echenique,
Fagulhas do meu Isqueiro, Pelotas, Ed. Hugo, 1963, p. 147).

"Pagar depsito asneira,


O que se tem a fazer
- Gritavam uns - correr
Qu'isso no brincadeira."
(Homero Prates, Histria de D.
Chimango, RJ, Livr. Machado,
1927,p. 146).

PAGAR VAL, expr. O mesmo que pagar vale.

PAGAR VALE, expr. Recuar, desistir de apostar, temer qualquer coisa, no


aceitar o desafio ou a provocao.

PAGO, s. Lugar em que se nasceu, o lar, o rnco, a querncia; o


povoado, o municpio em que se nasceu ou onde se reside. Geralmente
usa-se no plural. (Etim.: Para Roque Callage, parece ser uma corruptela
de plaga; Para Luiz Carlos de Moraes, Romaguera Corra,
Beaurepaire-Rohan, a palavra deriva-se do latim pagus, aldeia, lugar
pequeno; na opinio de Propcio da Silveira Machado "... provm o
conhecido vocbulo do lat. pagus, oriundo do gr. pagos, colina,
outeiro;").

"Este vocbulo um dos mais usados na vida campesina do Rio


Grande. Ele resume, para o gacho, um pedao afeioado e querido da
terra que o viu nascer. No h quadrinha, no h poesia do cancioneiro
crioulo que no tenha a palavra pago, ora refletindo saudades ,ora
exaltando herosmo e grandezas, tudo o que dignifica e eleva o corao e
o sentimento do homem nativo. No h palavra como essa que to
apropriadamente traduza a nostalgia do campnio rio-grandense. 'L nos
meus pagos...' e nesse expressar vai todo um retrospecto vida passada
no torro natalcio." (Callage).

"Uma vez, no Rio de Janeiro, o invicto Osrio disse ao grande


tribuno Silveira Martins: - Conselheiro, fique V. Ex. aqui manejando a
poltica, porque eu vou pra o sul, para os nossos pagos, de que me acho
h muito afastado e de que tenho saudades." (Augusto Daisson, margem
de alguns brasileirismos, P.A., Globo, 1925, p. 102).

"Se tudo pode acabar,


Nesta terra que o Sol banha
E a que o tempo faz estrago,
A lembrana h de restar
Para lembrar a campanha
Na agreste glria do pago!"
(Hugo Ramrez, Cancioneiro da
Estrada. p. 33).

"s a folha lendria, escrita a fogo,


que guarda muitos feitos do meu pago,
num simbolismo so e sem arrogo..."
(Horcio Paz, Meu Cigarro de Palha,
in No Reino da Poesia, ed. da Assoc.
de Cultura Literria de Porto Alegre,
1951, p. 48).

"Confiamos em Deus! Vencidas as barreiras


Da tirania, em breve, e o dspota esmagado,
Com honra voltaro nossas hostes guerreiras,
Aureoladas de glria, ao pago bem amado."

340

(Zeferino Brasil, Voltaro, in Flores


da Cunha, de Regina Portela Schneider,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1981,p. 118).

"Ouvi touros berrando na coxilha,


senti do minuano o rude afago
e vi se derramando pelo pago
o mais lindo luar que no cu brilha."
(Zeno Cardoso, Querncia).

"Meus pagos no so aqui


Nem daqui eu quero ser;
Meus pagos so Quara:
Onde nasci, vou morrer."
(Quadrinha popular).

"Quando eu vim l dos meus pagos


Muita menina chorou,
Eu tambm chorei meu pouco
por uma que l ficou."
(Quadrinha popular).

"Agora me estou lembrando


Dos pagos de Jaguaro,
Amores que foram meus
Agora de quem sero?"
(Quadrinha popular).

"Venho rever-te, meu pago,


De novo sentir o afago
Das plagas onde sonhei
Na doce manh da vida,
Na adolescncia florida,
Que alm... j longe deixei."
(Hermelindo Cavalheiro, Revendo o
Meu Rinco, in Antologia da Poesia
Uruguaianense, elaborada por
Humberto Feliciano de Carvalho,
Uruguaiana, 1957, p. 80).

" Pago Feiticeiro


Eu te revi!
Em tuas noites de poesia
tranqila saudade
desfeita em lgrima
rolou pela minha face!"
(Lia Corra, Bom Jesus, in Antologia
da EPC, P.A., Sulina, 1970,
p. 127).

"No altar da minha crena


- Fogo rude de galpo -
Eu rezo minha orao,
No catecismo do pago."
(Ciro Gavio, Querncia Xucra, p.
21).

" sempre com alegria


Que pisamos nosso Pago,
o mesmo gosto do trago
Quando a garrafa se empina
o perfume da campina
Quando a grama reverdece,
a doura de uma prece
Brotando em lbio de china."
(Vaterloo Camejo, Cinzas do meu
Fogo, P.A., 1966, p. 17).

"E l numa fazenda ao sol da primavera,


vai de flores vestir-se o pomar da tapera
onde outrora viveu feliz este ndio-vago!
E pela madrugada a voz do passaredo
de novo trinar nos ramos do arvoredo,
enchendo de harmonia a solido do pago!"
(Rui Cardoso Nunes, Queimadas, p.
8).

"E h tambm palavras de dedo no lbio, impondo silncio:


querncia, pagos, rinco." (Augusto Meyer, Prosa dos Pagos, p. 11).

PAIAO, s. Bobo, palhao.

"No meio da gurizada,


Quando brincava de lao,
Era Chimango, o paiao."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
21 ed., P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1978, p. 26).

341

PAI-DE-FOGO, s. O mesmo que guarda-fogo, trafugueiro, e me-de-fogo.

"depois, batendo no pai-de-fogo com outro tio e colocando em


riba uns gravetos secos, foi num upa e a gua da cambona j estava
esquentando." (Natlio Herlein, As Trs Marias, Univ. de Caxias do Sul,
1980,p. 101).

PAIO, s. e adj. Diz-se de ou o indivduo toleiro, escessivamente


crdulo.

PAISANO, adj. Do mesmo pas. // Amigo, camarada. Campons, no militar.

"O campo o pagus e o campons paganus de onde veio o nosso


paisano. (Miranda Neto, O Esprito Farroupilha, Correio do Povo,
17.9.80).

"Miradle. No es el chacal
que confiado en la sorpresa
espera su fcil presa
tendido en el pajonal.
Es el paisano oriental
que sentimientos encierra,
lleva su sangre a la guerra,
lucha con ansia indomable
y compra a golpes de sable
la libertad de su tierra."
(Elias Regules, Versos Criollos,
Montevideo, Libreria Mercurio,
1918,p. 52).

"Os paisanos das duas terras brigavam, mas os mercadores sempre


se entendiam..." (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A.,
Globo, 1973, p. 90).

"Soldados continentinos, paisanos


bons ginetes, todos na luta unidos."
(Jos Rodrigues, Noite do Tempo
Antes, P.A., Ed. Flmula, 1982,
p. 67).

PAISERO, s. O mesmo que paiseiro.

PAISEIRO, s. Cavalo crioulo. O mesmo que paisero.

PAJADOR, s. Poeta e cantor popular que canta improvisando versos,


geralmente em desafio com outro, e acompanhando-se ao violo.

"Essa aptido inventiva proporcionou o surgimento de um


arqutipo da raa: o pajador, um profissional da poesia e da msica,
rapsodo errante que andava de pago em pago, luzindo as habilidades de
seu talento." (Manoelito de Ornellas, A Origem da Poesia Crioula na
Stira Poltica, Urgs).

"Los payadores joviales,


que en el vuelo repentista
glosan al que est ala vista
con elogios colosales...
y a veces en sus triviales
giros d improvisacin,
llevan la imaginacin,
por caminos que superan
y el pensamiento temperan
con belleza y emocion."
(Dcimas de Sandlio Santos,
Montevideo, Editorial Fogn, 1954, p.
21).

PAJONAL, s. Pantanal, banhado extenso; capinzal bravo, restolhal,


restolhada; terreno coberto de santa-f e outras gramneas. (
espanholismo. O j aspirado).

PALA, s. Poncho leve, feito em geral de brim, vicunha ou seda, de feitio


quadriltero, com as extremidades franjadas. Usa-se enfiado ou em torno
do pescoo, como cachecol. (Etim.: Provavelmente vem do castelhano
palio, capa, que por sua vez vem do latim pallium).

"E a lua, na noite clara,


parecendo um ndio-vago,
passeia no cu do pago

342

vestida de pala branco."


(Fernando Otvio Miranda O'Donnell,
Trova da Noite Clara, in Antologia
da EPC, P.A., Sulina, 1970,
p. 211).

PALANQUE, s. Esteio grosso e forte cravado no cho, com mais de dois


metros de altura e trinta centmetros aproximadamente de dimetro,
localizado na mangueira ou curral, no qual se atam os animais, para
doma, para cura de bicheiras ou outros servios. // Moiro. // Em
sentido figurado, aplica-se ao individuo forte, vigoroso, resistente:
"Fulano um palanque".
"Palanque o nome de mouro, no sul do pas, principalmente no
Rio Grande do Sul e sul de Mato Grosso." (Bernardino Jos de Souza,
Ciclo do Carro de Bois no Brasil, SP, Companhia Editora Nacional, 1958,
p. 370).

"Esse palanque de cerne,


cravado a pulso caboclo
com quatro palmos no cho,
sofre o destino crioulo
de palanquear redomo."
(Zeca Blau, Poncho e Pala, P.A.,
Sulina, 1966, p. 59).

"Vivera um sculo inteiro!


Era agora um prisioneiro
no cativeiro da idade.
Era escravo do passado
de corpo e alma amarrado
ao palanque da saudade!"
(Zeno Cardoso Nunes, Morte de Pai
Joo).

"Hacte amigo del Juez;


No le des de qu quejarse;
Y cuando quiera enojarse
Vos te debs encoger,
Pues siempre es geno tener
Palenque ande ir a rascarse"
(Jos Hernndez, Martin Fierro,
Buenos Aires, Ed. Sopena, Argentina,
1945, p. 88).

PALANQUEAO, s. Ato de palanquear. Ato de prender o animal xucro ao


palanque, para amans-lo. O mesmo que palanqueio.

PALANQUEADOR, s. o que palanqueia.

PALANQUEAR, v. Prender o animal ao palanque, para amans-lo, tirar-lhe


os sestros, encilh-lo, curar-lhe bicheiras, ou para outros fins. //
Fazer a corte insistentemente a uma moa.

"Quando a Justia liberdade mente


ou palanqueia povos soberanos,
o lugar do homem, se decente,
no xadrez, sombra dos tiranos."
(Gandhi).
(Padre Pedro Lus, Pedro Tropeiro,
Santa Maria, Ed. Pallotti, 1971,
p. 4).

... "Assim me ficou na mente


pincelada de emoo
a viva recordao
da rocha oca e furada,
onde ficou palanqueada
minha alma soturna e aflita"
(Jos Paim Brites, "Pedra Furada ",
in Antologia da EPC, P.A., Sulina,
1970, p. 123).
PALANQUE-DE-BANHADO, s. Indivduo sem convices, sem firmeza, que vai
para onde puxado, ora para um lado ora para outro.

PALANQUEIO, s. O mesmo que palanqueao.

PALANQUEIRO, s. Pessoa que palanqueia, palanqueador. // Diz-se do animal


rebelde ou baldoso que necessita ser palanqueado freqentemente.

PALANQUE-MESTRE, s. Moito reforado, colocado nas extremidades das


cercas de arame, nas baixadas e nos

343

lugares altos, para torn-las firmes e durveis. // Fig.: Homem forte e


respeitado.

"Em cada fundo de canhada, ou no topo de cada coxilha, chantava


um moiro reforado, a que chamam palanque-mestre, em Cuja cabea, em
lugar bem visvel, previamente aplainado, imprimia-se com ferro em brasa
a marca do fazendeiro." (Arthur Ferreira Filho, Narrativas de Terra e
Sangue, P.A., Ed. A Nao, 1974, p. 88).

PALEAO, s. Ato de palear, paleio, padejo.

PALEAR, v. Remover, com a p, terra de um lugar para outro. Padejar.

PALEIO, s. O mesmo que paleao. Padejo.

PALETA, s. Omoplata ou espdua do animal, O mesmo que p. Aplica-se


tambm s pessoas. // Figuradamente, pessoa intrometida, intrusa,
desmancha prazeres, que atrapalha com sua presena a realizao de um
negcio ou de qualquer coisa. // ( vocbulo castelhano, significando
p, denominao vulgar de espdua ou omoplata).

"Foi o tranca de um paleta


Que chegou, fazendo alardes,"
(Homero Prates, Histria de D.
Chimango, RJ, Livr. Machado,
1927,p. 145).

PALETADA, s. Choque com a paleta. Arremetida, investida, impulso. "Em


quatro paletadas, desmunhecando uns, cortando outros, o cho ficou
estivado..." (Simes Lopes, Contos Gauchescos, pg. 32).

PALETA-SEM-CARCU, s. Pessoa intrometida, metedia, intrusa,


desmancha-prazeres.

PALETEADOR, adj. Diz-se do que paleteia. // Diz-se, tambm, do indivduo


que atrapalha o negcio de outrem.

PALETEAR, v. Esporear ou bater com os calcanhares na paleta do animal.


// Impedir ou dificultar a realizao de negcio alheio, metendo-se nele
sem ser chamado. // Estorvar, embaraar a realizao de qualquer coisa.
// Carregar a carga sobre as paletas: "Paleteamos sacos a tarde
inteira."
PALHA, s. Folha de coqueiro usada como pasto para os cavalos.

PALHAO, adj. Feito de palha; colmeado de palha. O mesmo que palhio.

PALHEIRO, s. Cigarro de fumo crioulo, enrolado em palha de milho.

PALHETA, s. Chapu de palha, palhinha, picareta.

PALHETAR, v. Salpicar, mosquear, sarapintar, entremear.

PALHIO, adj. O mesmo que palhao.

PALHONA, s. Cadeira de palha ou de vime.

PALMEAR, v. Pegar, agarrar, empunhar: "Palineei a faca e arremeti contra


o bicho", isto , peguei a faca e arremeti contra o bicho. // Bater com
a palma damo.

PALMEAR O FUMO, expr. Desmanchar o fumo atritando-o com as palmas das


mos.

PALMEAR PORONGO, expr. Tomar chimarro.

PALOMETA, s. Peixe de gua doce com mais ou menos um palmo de


comprimento. Palombeta.

PALPITOSO, adj. Desejoso.

PAMPA, s. Denominao dada s vastas plancies do Rio Grande do Sul e


dos pases do Prata, cobertas de excelentes pastagens, que servem para
criao de

344

gado, principalmente bovino, cavalar e langero. Apesar de haver sido


usado algumas vezes no feminino, o termo considerado do gnero
masculino pela maioria dos estudiosos da matria. // Nome dado aos
antigos ndios que habitavam o pampa. // adj. Plo de cavalo que tem uma
orelha de uma cor e a outra de cor diferente; que tem uma cor de um lado
e cor diferente do outro lado; que tem uma parte notvel do corpo de uma
cor e o restante de outra. Sendo o animal preto ou de pelagem bem
escura, com a testa e ps brancos, picao e no pampa. O cavalo
tobiano , tambm, s vezes, chamado de pampa. Diz-se, ainda, do gado
vacum de plo vermelho escuro com a cabea branca, ou com a cara e
papada brancas. O gado da raa Hereford tambm chamado de gado pampa.
// ( palavra da lngua quchua: pampa, campo aberto, planura, savana).

"Pampa. Imagen del mar de la tierra. Del quchua: plaza, campo


abierto, llanura, sabana.
Inmensa llanura de pocas arboledas pero de rica vegetacin, que
va del sud de la ciudad de Buenos Aires y de las provincias de Santa Fe,
Crdoba, San Luis y Mendoza hasta terminar en el Ro Negro.
Pampas: tribus de raza pampa araucana que vagaban por la pampa
austral entre la Patagonia, el Ro de la Plata y la cordillera de Los
Andes. Eran indmitos, esforzados y bravos. Su lengua era un dialecto o
idioma hermano del araucano. Crean en un Dios, ser poderoso, Guneche, y
en un Genio del mal, Hualicho o Huecuf."
(Tito Saubidet, Vocabulario y Refranero Criollo).

"E se dos pampas parte, com endereo a todo o Brasil, esta


sincera e espontnea homenagem, outra permanece, aqui, aos regionalistas
e excelsa intelectualidade gacha, representada na pessoa do egrgio
Prof. Ruy Cirne Lima." (Raul di Primio, Doena de Chagas, e Regionalismo
Gacho, P.A., Globo, 1959, p. 8).

"Lembrando maneira de Martin Fierro ou d'El Viejo Pancho, o


rumor dos galpes, a algazarra dos fandangos, o lirismo agreste das
gaitas e dos violes e as noites grandes de lua do pampa misterioso."
(Manoelito de Ornellas, Smbolos Brbaros, P.A., Globo, 1943, p. 17).

"Eu ia, a toda a brida, toa, pelos Pampas,


Os touros apanhando a lao pelas guampas,
Repontar os baguais, as guas, os potrancos,
Rodando nos cupins, saltando nos barrancos."
(Mcio Teixeira, Gaucha das).

"Basta olhar para ti e j se nos depara


O que tu s em tua enCarquilhada estampa:
Uma relquia antiga ou uma jia rara
Que o passado deixou no infinito do pampa!"
(Mrcio Dias, Rancho).

"Lanas partidas, retinir de espadas,


Desbaratar de fortes e trincheiras,
Alaridos e furor de cavalgadas!
Toda a histria do pampa, herica e ardente,
pondo em meus nervos sensaes guerreiras,

345

e o orgulho marcial da minha gente!"


(Raul Totta,Folhas ao Vento, P.A.,
Globo, 1954, p. 28).

" quase incrvel ver-se aqui nos pampas


onde h florestas de luzentes guampas
faltar a carne que d fora e nutre!
Se algum disso culpado oculte o nome,
pois a mo de quem v os filhos com fome
toma a forma da garra de um abutre!"
(Zeno Cardoso, Carne Racionada).

"Aqui est o meu Rio Grande,


nos seus largos horizontes,
nas suas tardes dolentes
no azul do infinito,
no pampa a perder de vista,
nos seus rios, cus e lagoas
e nos olhos contemplativos
dos que miram longe a lua
nessas noites veludosas
da minha terra natal."
(Rita Canter, Rio Grande, in Antologia
da EPC, P.A., Sulina, 1970, p.
59).

"Das lides campeiras da minha Pampa,


a doma a mais braba e perigosa
preciso ter Alma corajosa
para ser domador na terra escampa."
(Ribeiro Hudson, Domador,
poema).

"Pampas!
Quietude das soledades
no sem fim das amplides."
(Hlio Moro Mariante, Fronteiras
do Vaivm, P.A., Imprensa Oficial
do Estado do RGS, 1969, p. 19).

"Em baixo relevo da esttua de Alencar, no Rio de Janeiro, o escultor


figurou o duelo do gacho Manoel Canho, personagem que no exprime o
filho da Pampa, nos azedumes do romancista que nunca viajou pelo sul do
Brasil." (Fernando Osrio, Traos Eternos do Rio Grande, P.A., Globo,
1928, p. 33).

"Lagoa, um ninho de gua


no verde quieto dos pampas.
Lagoa, espelho do cu.
Lagoa, retrato do mundo:
De tanto brilho, por cima,
de tanto lodo, no fundo!"
(Heitor Rossato, Lagoa do campo).

"Viva o Norte, viva o Sul,


viva este cu resplendente,
explendidamente azul!!
Os nossos imensos pampas,
se alastrando infindamente
por suas amplas verduras,
parecem o cu da terra,
abrindo seus braos verdes,
para abraar e beijar
o cu azul das alturas!"
(Catullo da Paixo Cearense, Um
Caboclo Brasileiro, p. 44).

PAMPEANO, adj. Relativo ao pampa, pertencente ao pampa. O mesmo que


pampiano.

... "uma dessas noites pampeanas indescritveis" (A. Maia,


Runas Vivas, Porto, Lelo &Irmo, 1910, p. 91).

"Na tristeza brumal das tardes, ds-me a idia


Da grande alma pampeana envelhecida e exangue,
A qual dormindo sonha a sangrenta epopia
Escrita com faces e lgrimas de sangue!"
(Mrcio Dias, Rancho).

346
"Meus versos, sados de humildes choupanas,
levando a poesia das Letras pampeanas,
entraram nas salas de egrgios palcios!"
(Rui Cardoso Nunes, Museu das
Taperas).

"Homem prudente, sensato,


Clemente foi o retrato
Do verdadeiro pampeano,
Homem viril, de coragem,
Que, na rudeza da imagem,
Se confundia ao minuano."
(Jacyr Menegazzi, Alma do
Gacho).

"Meio ambiente fatal de que flui e dimana


o impetuoso caudal das foras que plasmaram
o forte corao da gente pampeana;"
(Aurlio Porto, Farrapada, RJ,
Papelaria Velho, 1938, p. 22).

"E, quando, nas madrugadas


das invernias pampeanas,
o vento sobre as savanas
passar uivando no cu,
ns dois iremos ao campo,
como nos idos de outrora,
fantasmas dentro da aurora,
surgidos do mausolu."
(Lauro Rodrigues, A Cano das
guas Prisioneiras, P.A., Martins
Livreiro-Editor, 1978, p. 52).

PAMPEIRO, s. Vento impetuoso que sopra de sudoeste, vindo dos pampas


argentinos. O minuano se origina desse vento e dele sempre precedido,
embora, muitas vezes, fora do territrio rio-grandense. No obstante,
pode haver a ocorrncia do pampeiro sem que lhe siga o minuano. //
Conflito, briga, barulho, rolo, discusso.

"O vendaval soprava do sudoeste. Era o pampeiro, acostumado a


varrer os campos e os mares. Pela agressividade do vento, os navios
ficaram desnorteados, vagando a esmo sobre as guas." (Anselmo F.
Amaral, Os Campos Neutrais, p. 24).

"s o Rio Grande altaneiro,


Que fez do vento Pampeiro
Seu desejo de amplido!
- Seu sonho de Liberdade
Que mora e vive, em verdade,
Nas coxilhas do rinco."
(tila Guterres Casses).

PAMPIANO, adj. O mesmo que pampeano.

"O silncio parecia dilatar as lhanuras, engrandecer as colinas,


prolongar ilimitada, na atmosfera luminosa, toda a vasta perspectiva
pampiana..." (A. Maia, Runas Vivas, p. 13).

PANZIO, s. Panao. Pancada dada de prancha com o faco ou com a espada.


Planchao, pranchao, planchada, pranchada.

PANA, s. Indivduo ridculo. // Ventre, abdomen.

PANDIJERO, s. Pandilheiro.

PANDILHA, s. Bando, grupo, quadrilha, de malfeitores ou de animais. //


Cada um dos indivduos que entram em conluio ou pandilha. // Vadio,
biltre, ocioso, pulha, desavergonhado, falto de palavra.

PANDILHEIRO, s. Indivduo que integra uma pandilha.

PANDORGA, s. Papagaio de papel. // adj. Pateta, tolo, toleiro,


atoleimado, ingnuo, bobo, mole, sem vivacidade.

"Oh! aquela pandorga, Waldemar.

347

Viajei com ela para a infncia.


O meu quintal surgiu ensolarado.
E com ele o menino dos cavalinhos de pau,
dos laos de cip,
das pandorgas coloridas,
dos barcos de papel
que fugiam na gua das sarjetas...
- No posso ver uma pandorga,
sem chorar!"
(Lila Ripoll, O Corao Descoberto,
RJ, Ed. Vitoria Ltda., 1961, p. 35).

PANDORGUEIRO, s. Pessoa que faz ou que solta pandorgas.

PANDULHO, s. Barriga, pana.

PANELA, s. Lugar fundo nos rios ou arroios onde as guas formam


redemoinho. local perigoso mesmo para os bons nadadores. // Pea de
ferro que serve de dormente para os trilhos das vias frreas. //
Denominao de cada um dos compartimentos subterrneos de um
formigueiro. // Tesouro enterrado, constitudo de moedas de prata e de
ouro; o mesmo que enterro. // Buraco, cova, toca, loca.

PANELA-DE-DINHEIRO, s. Dinheiro enterrado. O mesmo que enterro.

PANELO, s. Aumentativo de panela.

PANGAR, adj. Diz-se do plo do cavalo ou do muar de tom vermelho


amarelado, de intensidade varivel, mostrando-se mais claro, como que
desbotado, no focinho, no baixo ventre, na garganta, nas virilhas e no
sovaco. Este plo definido, tambm, como: semelhante ao do veado; mais
claro que o douradilho castanho claro puxando a baio. // Significa,
ainda, matungo, cavalo ruim, embora sejam excelentes os animais deste
plo.

"Pangar. Yeguarizo o vacuno que lleva una decoloracin en las


zonas inferiores del cuerpo, la qual es aparente, sobre todo en el
hocico, vecindad del prpado inferior, axilas, bajo vientre y babillas.
Se diria que estas regiones hubieran sido sometidas a la accin
prolongada del agua, la que habra as lavado el color primitivo. Estas
partes desteidas semejan el color de la caa de la India." (Emilio
Solanet, apud Tito Saubidet).

"O Horcio acordou da madorra, encurtou as rdeas, guasqueou o


pangar, olhou para frente e viu..." (Darcy Azambuja, Coxilhas, P.A.,
Globo, 1956, p. 24).

"Ao lado do aramado, morto, o bagual pangar." (Ciro Martins,


Campo Fora, P.A., Ed. Movimento, 1978).

PANHEIRO, s. Companheiro.

"E como ia dizendo, panheiros, saltei ao lombo do urcasso, ..."


(A. Maia, Runas Vivas, p. 174).

PAPA, s. Batata inglesa. Sopa feita com batata inglesa.

PAPA-AREIA, s. Alcunha que os habitantes de Pelotas do aos naturais da


cidade do Rio Grande.

PAPAGAIO, s. Pea da espora onde presa a roseta.

"Nas portas de Cerro Largo


Cerrando pernas ao baio:
Acuda, senhora Rosa!
Acuda seno eu caio:
Que as esporas 'sto quebradas
S me resta o papagaio
Seno eu lhe mostraria
Como rasgava este baio!"
(Versos populares).

PAPA-LAGARTAS, s. Ave da famlia dos Cuculdeos. O mesmo que chinco e

348

cucu.

PAPA-OVO, s. Ave do Rio Grande do Sul, da famlia dos Formicarideos.

PAPA-PINTO, s. Mussurana. Cobra no venenosa de cor preta ou parda, tida


como comedeira de pintos. (H quem diga que esse ofdio mama nas vacas,
e tambm nas mulheres, que ela faz carem em letargia,
impossibilitando-as de reagirem).

PAPA-SEBO, s. Alcunha que os habitantes da margem da Lagoa dos Patos do


aos pelotenses.

PAPATA, s. Negociata, roubalheira, mamata.

PAPEIRA, s. Peste que ataca a regio da garganta do vacum. // Bcio.

PAPELO, Fiasco, ao ridcula.

PAPILHA, s. Barbela do galo.


PAPILHEIRO, adj. Diz-se do galo de briga que, na rinha, faz presa na
papilha do competidor.

PAPO-BRANCO, s. Nome vulgar de um colibri.

PAPU, s. Capim Guatemala. Gramnea forrageira que viceja nas lavouras,


durante a primavera, prestando-se para feno quando ainda tenra. (Panicum
plantagineum, Link-Papuam.).

PAPUDO, s. e adj. Indivduo que tem papo. Balaqueiro, jactancioso,


blasonador. O termo empregado para insultar, provocar, depreciar,
menospre zar outra pessoa, embora esta no tenha papo: "Conheceu,
papudo?"; "Quero ver qual o papudo que me enfrenta hoje!".

PAQUETE, adj. Elegante, chique, faceiro, bem vestido, com vestes


domingueiras. "Com essa roupa nova voc est todo paquete." termo
usado nas repblicas do Prata e na fronteira do Rio Grande do Sul.

PARAO, s. O mesmo que parao de rodeio.

PARAO DE RODEIO, s. Ato de parar rodeio, ou seja, de reunir o gado em


determinado lugar do campo.

PARACATAS, s. Sapatos rsticos, de couro de garro, enfiados com tentos,


usados na lavoura.

PARADA, s. Fanfarrice, presuno, pedantismo, jactncia, vanglria,


gabolice, farroma, bravata, conversa fiada. // Importncia em dinheiro
pela qual se contrata uma corrida de cavalos ou uma rinha de galos.
Valor da aposta. Uma jogada. // Um encontro entre adversrios. // V. as
expresses comprar a parada, levar na parada, no enjeitar parada,
parada morta.

PARADA MORTA, s. Clusula de contrato de carreira de cavalos ou de rinha


de galos que obriga ao pagamento integral da aposta o dono do animal que
deixar de competir, seja qual for o motivo, mesmo por doena.

"Cinco quadras, parada morta. Eu vou arriscar no zaino: o dono


fregus e do partido;..." (A. Maia, Runas Vivas, Porto Lelo & Irmo,
1910,p. 127).

PARADEAR, v. Fanfarronear, bravatear, blasonar, prosear, vangloriar-se,


jactar-se, gabar-se, conversar fiado, pregar mentiras.

PARADEIRO, s. Paradouro, parador. // adj. Paradista.

PARADISTA, adj. Fanfarro, blasonador, prosa, presunoso, pomadista.

PARADO NA BALIZA, expr. Enganado, logrado. Diz-se que um parelheiro


perde parado na baliza quando seu corredor no atende ao sinal de
largada, permanecendo parado no lao de sada,

349

enquanto seu adversrio corre, ganhando a carreira.


PARADOR, s. Paradouro. // Peo ou qualquer campeiro que ajuda a parar
rodeio. // adj. Diz-se do cavaleiro que sai de p quando roda seu
cavalo.

PARADOURO, s. Lugar onde habitualmente o gado manso passa a noite, em


geral prximo da casa da estncia. Var.: Parador.

"Mas, enquanto atiravam os canhes, martelando durante quase


meia hora, as pontas de reses da fazenda foram deixando os paradouros e
por fim foram se reunir no local onde se parava o rodeio semanal, como
se tivessem sido repontadas pelos campeiros..." (Ary Simes Pires,
Chirip-Tradio, Ed. Pallotti, 1955, p. 12).

PARAGATA, s. Alpergata.

PARAGUAIA, s. Ver CYp -suma.

PARASO, s. Nome dado ao cinamomo, na fronteira do Rio Grande do Sul.

PARA O ESTRIBO, expr. Para concluir, para finalizar, para remate: "Mais
uma cana, para o estribo, pediram os moos."

PARAPARAR, v. Entreparar. Deter-se um pouco, fazer uma pausa diminuta, e


depois prosseguir na corrida.

PARAR, v. Hospedar-se, albergar-se, alojar-se, estar de pousada. "O moo


est parando no hotel", isto , est hospedado no hotel.

PARAR A ORELHA, expr. Prestar ateno.

PARAR A RS, expr. Colocar o animal que est sendo carneado, depois de
esfolar um dos lados, de espinha para baixo, a fim de se poder esfolar o
outro. Esta expresso, segundo Romaguera Corra, usada em alguns
lugares da fronteira.

PARAR ESTACA, expr. Ficar ereto como se fora um pau fincado.

PARAR PATRULHA, expr. Resistir a uma agresso. Responder a uma ofensa.


Rebelar-se contra alguma coisa. // Enraivecer-se, zangar-se, no temer
um ataque.

PARAR RODEIO, expr. Reunir o gado no rodeio. Essa reunio do gado


feita com a finalidade de marcar, assinalar, castrar, curar, dar sal,
apartar, examinar etc. // Emprega-se, tambm, em sentido figurado.

"Vou-me embora, vou-me embora,


prenda minha,
tenho muito que fazer!
Tenho que parar rodeio,
prenda minha,
no campo do bem querer!"
(Popular).

"Paro, no campo das rimas,


um rodeio de obras-primas
do Arquiteto universal,"
(Rui Cardoso Nunes, Rodeio
Serrano).
PARAR RODEIO NAS IDEIAS, expr. Rememorar, recordar, lembrar os fatos
passados.

PARAR-SE, v. Ficar, tornar-se. "A cavalhada est se parando linda." "A


menina est se parando moa."

PARCERIA, s. Grupo de parceiros de jogo.

PARCHE, s. Remendo de borracha que se aplica para tapar o furo de uma


cmara de ar.

PARDAVASCO, adj. Diz-se do indivduo de cor parda, em geral mestio de


negro com ndio. Acaboclado, amulatado, pardo escuro, mulato, pardusco.

350

, tambm, aumentativo de pardo.

PARDO, s. Mulato. // Veado pardo.

PAREDO, s. Encosta abrupta da serra.

PAREGATO, s. Brinquedo infantil que consiste em sentarem muitos meninos


em um s banco, fazendo presso das extremidades para o centro at que
um deles salte fora pela compresso recebida.

PARELHEIRA, s. Denominao dada cobra caninana.

PARELHEIRO, s. Cavalo preparado para a disputa de carreiras. Cavalo de


corrida. (Deve provir de parelha, j que a maioria das corridas
realizadas, anteriormente, no Rio Grande do Sul, eram apenas de dois
cavalos).

PARELHO, adj. Diz-se do campo que se estende sem ondulaes. Liso,


plano, sem asperezas.

PARENTALHA, s. Parentela. Os parentes.

PARI, s. Tapume de pedras soltas, para apanhar peixes.

PARIPAROBA, s. Planta medicinal usada contra os males do fgado e do


bao, gastralgias, azias, hemorridas e priso de ventre.

PARLAPASSADA, s. Combinao, ajuste prvio, conluio.

PAROLAGEM, s. Conversa fiada, jactncia, prosa sem importncia.

PARRANDA, s. Associao de velhacos organizada para burlar os incautos.


// Ladroeira.

"- Pois ... jogaram o osso, armaram a sua parranda... mas


nenhum pagou nada ao coimeiro! Que trastes! ..." (Simes Lopes, Contos
Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 99).

PARTIDA, s. Pequenas corridas que se realizam no incio da cancha, por


ocasio, da sada da carreira, para acerto da largada dos parelheiros.
As partidas so executadas com o fim de conseguir que os parelheiros
saiam juntos, o que nem sempre acontece, pois cada corredor quer largar
em melhores condies, e corta a partida, com esperteza e habilidade,
at conseguir sair com vantagem sobre seu adversrio. Quando os
competidores no se acertam para a sada, o juiz de partida manda largar
de cepo. V. as expresses cortar a partida, juiz de partida e largar de
cepo. Usa-se, tambm, em sentido figurado.

"Yo he visto muchos cantores,


Con famas bien otenidas,
Y que despus de alquiridas
No las quierem sustentar:
Parece que sin largar
Se cansaron en partidas."
(Jos Hernndez, Martin Fierro).

PARTIDO DE CAPIVARA, s. Condio de carreira que consiste em ficar o


parelheiro que recebe o partido em posio normal de sada e o que o
concede com a cabea voltada para o lado oposto ao do lao de chegada.

PARTIDOR, s. Extremidade da cancha da qual tem incio a carreira. Lugar,


no prado, de onde iniciada a corrida. // Adj - Diz-se do cavalo
treinado em fazer partidas, nas corridas, sem se cansar.

PARTIR, v. Obrigar os parelheiros a pequenas corridas, no incio da


cancha, antes de solt-los a toda brida na disputa da carreira.

PARTISTA, adj. Diz-se do cavalo arisco, assustadio, manhoso. // Diz-se


da pessoa exigente, impertinente, suscetvel, luxenta, sestrosa, cheia
de melindres,

351

cheia de partes.

PARVA, s. Meda de forragem, de trigo, de arroz.

PASCVIO, s. Pacvio, parvo, estpido.

PASMADO, adj. Diz-se do indivduo ou do animal atacado de pasmo.


Arreganhado.

PASMAR, v. Contrair um espcie de reumatismo, torcicolo, espasmo que


dificulta os movimentos das articulaes. ii freqente o cavalo pasmar
quando, estando suado, recebe um golpe de ar. Arreganhar.

PASMO, s. Espasmo, torcicolo, reumatismo, arreganhamento. Nome dado a


toda a doena que o campons considera ser proveniente de um golpe de
ar.

PASQUAL, s. Sono importuno, sonolncia.

... "para combaterem o pascual, que tambm os acometia, iam


puxando conversa." (Luiz Arajo Filho, Recordaes Gachas, p. 87).

PASSADO, adj. Confiado, intrometido, que abusa da confiana que nele


depositaram.
PASSADOR, s. Pea de tentos tranados em forma de anel ou de pequeno
canudo, que serve para juntar partes dos aperos de cabea, do peitoral,
da maneia, do rabicho, dos loros etc. H passadores metlicos, alguns de
luxo, feitos at de prata lavrada, com incrustaes de ouro.

PASSAGEIRO, s. Pessoa encarregada de manobrar a barca que faz a


travessia dos cursos de gua.

PASSAR, v. O mesmo que passar para dentro.

PASSAR ABANANDO, expr. Em corridas de cavalos, passar na frente,


abanando o chicote, sem necessidade de us-lo, ganhando facilmente a
carreira.

PASSAR A GRAVATA COLORADA, expr. Proceder degola, decapitar,


assassinar por degolamento.

PASSAR A PERNA, expr. Enganar, burlar.

PASSAR AS RAIAS, expr. Exceder-se, abusar.

PASSAR DA COMPOSTURA, expr. Exagerar a compostura do parelheiro, de


forma a deix-lo demasiadamente delgado, com prejuzo de suas
qualidades.

PASSARINHA, s. O bao da rs. // V. a expresso bater a passarinha.

PASSARINHADA, s. Prisco, salto que o animal de montaria d para um lado,


quando se assusta de qualquer coisa existente na beira da estrada. //
Iguaria da cozinha da regio de imigrao italiana do Rio Grande do Sul,
atualmente substituda pelo galeto.

PASSARINHAR, v. Espantar-se, assustar-se o animal de montaria de


qualquer coisa existente na beira da estrada, priscando para os lados.

PASSARINHEIRO, adj. Diz-se do animal de montaria que, andando na


estrada, se assusta de qualquer coisa, priscando para os lados.
Assustadio, cheio de sestros.

"Mulher sardenta e cavalo passarinheiro, alerta companheiro." (Ditado


popular).

"Havia dias em que de nada se assustava, noutros tornava-se


passarinheiro e por qualquer coisa, uma folha seca, um tronco de pau, me
atirava ao cho." (Visconde de Taunay, Dias de Guerra, So Paulo, 1920,
p. 24).

352

"Cavalo passarinheiro, at de vento se assusta". (Ditado


popular).

PASSARINHO-DE-VERO, s. Passarinho de plumagem de cor vermelho-sangnea


no corpo e na cabea, e parda na parte superior das asas. Tem um topete
semelhante ao do tico-tico, com o qual regula de tamanho. Chama-se
tambm verozinho. A fmea mais feia do que o macho. Sua classificao
zoolgica Rubineo-MiqUim.
PASSAR LINGUA, expr. Revelar a outrem um segredo,dar com a lngua nos
dentes.

PASSAR MEL NOS BEIOS,expr. Agradar com o fim de enganar.

PASSAR NAS IMBIRAS, expr. Recolher preso ao xadrez, amarrar o criminoso.

PASSAR NO LISO, expr. Ser reprovado em todos os exames do fim do ano.

PASSAR NOS MANEADORES, expr. Prender, amarrar o prisioneiro.

PASSAR O BUAL, expr. Enganar, iludir, lograr, usar de esperteza ou de


velhacada. Subjugar. O mesmo que passar o bual de couro cru. V. a
expresso passar um bual de couro fresco.

PASSAR O BUAL DE COURO CRU, expr. O mesmo que passar o bual.

PASSAR O CAMBOIM, expr. Surrar, espancar.

PASSAR O MANEADOR, expr. Prender, amarrar, atar, segurar para que no


fuja.

PASSAR O PLANO, expr. Passar o conto, enganar.

PASSAR PARA DENTRO, expr. Entrar para dentro de casa. Quando algum
chega a uma casa o dono da mesma o convida a entrar dizendo: "Passe", ou
"passe para dentro".

PASSAR POR DEBAIXO DO PONCHO, expr. Passar ocultamente, contrabandear.

PASSAR-SE, v. Exceder-se. Abusar do conceito em que tido. Faltar com o


respeito devido a algum.

PASSAR UMA NOITE DE CACHORRO, expr. Passar mal a noite, sem dormir ou
com frio.

PASSAR UM BUAL DE COURO FRESCO, expr Enganar. lograr, passar um bual,


porm com grande habilidade, de forma que o embualado totalmente
enganado, ludibriado em absoluto.

PASSAR UM PEALO, expr. Em sentido figurado: enganar, lograr, prender,


segurar algum; iludir com artimanhas, preparar armadilha para pegar
incauto; dar indiretas, fazer aluses.

PASSAR UM PITO, expr. Repreender, de scompor.

PASSEIRO, s. Pessoa que nos passos de rios ou arroios d passagem de


canoa ou barca mediante pagamento de seu servio.

PASSITO, s. Diminutivo de passo.

PASSO, s. Lugar no rio ou no arroio onde costumam passar os viajantes, a


cavalo, a nado, a bola p, ou embarcados. // Maneira de andar o animal
de montaria, cmoda para o cavaleiro, porm lenta.

PASTAGEM, s. Regio coberta de gramneas, onde pasta o gado. //


Servido, por poucas horas, em geral para pernoite, de campo de outrem,
mediante pagamento: "O Joca cobrava de pastagem dois mil ris por noite,
por cabea.

PASTEIRO, s. Pessoa que vende pasto.

PASTEJAR, v. Pastorear.

353

PASTELO, s. Indivduo moleiro, pamonha.

PASTIAL, s. Lugar em que h pasto em abundncia.

"Campeiro precatado! reponte o seu gado da querncia da boitat:


o pastlal, a, faz peste..." (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas
do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 138).

PASTOR, s. Garanho. Cavalo inteiro reservado para fecundar as guas.

PASTOREIO, s. Lugar em que se pastoreia ou pastoreja o gado. O gado


submetido a pastoreio. Pastorejo.

"E assim o Negrinho achou o pastoreio. E se riu..." (Simes


Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 183).

PASTOREJADOR, s. Pastoreador.

PASTOREJAR, v. Pastorear. // Em sentido figurado, cortejar, requestar.

PASTOREiO, s. Pastoreio. Ao de pastorejar.

PATA-BRABA, adj. Corredor, veloz.

PATACO, s. Antiga moeda de prata no valor de dois mil ris. (V. a


locuo interjetiva por Deus e um pataco.).

PATAO, s. Pancada com a pata. Coice.

PATACOADA, s. Gabolice, jactncia, exibio.

PATA-DE-VACA, s. rvore cujas folhas, em cozimento ou misturadas com o


mate, tm propriedades medicinais. So usadas como diurtico,
antidiabtico e como depurativo do sangue.

PATALEAR, v. Espernear, patear, dar com as patas.

PATARATA, s. Assombrao, fantasma.

PATAS, s. Ps, de animais ou de pessoas.

PATATI-PATAT, s. Conversa comprida, sem objetividade, tangenciando o


assunto.

PATE, s. O mesmo que empate.

PATENTE, s. Latrina.

PATI, s. Denominao de um peixe de gua doce.


PATO, s. Jogo do pato. Esporte de uso campeiro na rea gacha brasileira
e no Prata. Hoje, cultivado preferentemente na Argentina e no Uruguai.

PATOLA, s. Tolo, bobo, pateta.

PATO ROUCO, s. Indivduo de voz rouquenha.

PATOS, s. Tribo de ndios que habitava a regio lacustre do Estado.

PATRO, s. Designao dada ao presidente de Centro de Tradies Gachas.

PATRO-GRANDE, s. Deus. Var.: Patro- Velho.

"Quando o nosso Patro Grande


resolver que eu passe desta
pra aquela outra invernada,
o sino, na badalada
to triste da despedida,
ter notas do sincerro
do madrinheiro de tropa
que madrugou para a vida."
(Gevaldino Ferreira, Seara Alheia,
P.A., Ed. da Academia Rio-Grandense
de Letras, 1971, p. 136).

PATRO-VELHO, s. O mesmo que Patro-Grande.

PTRIA, s. Animal sem dono ou pertencente ao Estado.

PATRIADA, s. Ao, tropelia, rebelio, movimento armado, em geral


infrutfero, como o dos ptrias.

PTRIAS, s. Denominao dada aos n-

354

dios e outros naturais das Misses que, s ordens do caudilho oriental


Artigas, invadiram o Rio Grande do Sul em 1816. Aos argentinos e
uruguaios foi dada tambm essa denominao na guerra de 1825, contra o
Brasil.

"Os Ptrias nos perseguiram


Com guerrilhas pelos flancos;
Para mais nos consumirem
Botaram fogo nos campos."
(O ataque do Rosrio).

PATRICIO, s. Coestaduano.

PATRIOTA, s. Nome que se dava aos civis que espontaneamente pegavam em


armas para integrarem as foras irregulares do Governo, na revoluo de
1893.

"Esse termo era usado em sentido deprimente, consoante a paixo


partidria que ento imperava na parte adversa. Sem deixar de reconhecer
que houve, por parte dessas foras, excessos condenveis, o que alis
tambm se passava no outro partido, essas milcias cvicas, nas quais
serviram cidados ilustres e grandes patriotas, prestaram reais servios
ao R.G. do Sul e deram provas sobejas da virilidade de uma gerao."
(Moraes).

PATRIOTADA, s. Grupo de patriotas, ou seja, de civis em armas a favor do


governo, nas ltimas revolues rio-grandenses. // Ao de patriotismo
duvidoso, praticada por civis em armas, partidrios do governo. //
Rebelio infrutfera.

PATRONA, s. Feminino de patro.

PATRONAGEM, s. Designao dada diretoria de Centro de Tradies


Gachas.

PATU, s. Saquinho ou bolsinha, semelhante a um breve, que trazida


pendurada ao pescoo ou presa roupa, contendo amuletos que os
portadores acreditam preserv-los de tiros, de facadas, e de outros
perigos e malefcios.

"Luis tinha aberto a bolsinha do patu, e, deixando o envlucro


na mesa do inqurito, ficara com a carta de Cristo. Era uma dessas
epstolas do Redentor compostas por sacerdotes fanticos ou
especuladores, que infelizmente ainda fazem tantas vtimas entre o povo
ignorante. A carta do cu prometia proteo contra incndios, temporais,
epidemias, peste, fome, priso e qualquer martrio do corpo; era um
passaporte universal no s para a terra, como para o cu, e apenas
custava dois mil ris e uma missa anual." (Carlos Jansen, O Patu, P.A.,
URGS, 1974, p. 169).

PATUDO, adj. Diz-se do que tem ps ou patas muito grandes.

PAU-A-PICAR, expr. Fazer cerca ou parede de pau-a-pique.

PAU-A-PIQUE, s. Tipo de parede ou cerca rstica que se faz com varas de


madeira dispostas verticalmente, nas cercas, e vertical e
horizontalmente, unidas por cordas, cips ou pregos, e barradas, nas
paredes.

PAU-DE-AMARRAR-GUA, s. Indivduo desmoralizado, ridculo, imprestvel.

PAU-DE-ARRASTO, s. Pedao de madeira ou tronco de rvore em que se


amarra a soga que prende o cavalo ou muar posto a pastar, o qual pode
ser arrastado, com dificuldade, de maneira a ficar delimitada a rea de
deslocamento do animal. // Por analogia, animal lerdo, pesado, que
caminha com dificuldade. // Por extenso, aplica-se

355

s pessoas, com a significao de mau par para dana.

PAU-DE-BUGRE, s. Planta da famlia das nacardiceas.

PAU-DE-CUTIA, s. Planta da famlia das Rutceas (Esenbeckia grandiflora,


Mart.).

PAU-DE-ERVA, s. P da Ilex paraguaienses. // Pauzinhos que flutuam na


cuia do mate quando este j est muito lavado.

PAU-DE-FUMO, s. Designao depreciativa de negro.

PAU-DE-MALHO, s. Planta da famlia das Leguminosas.

PAU-EM-SER, s. rvore do mate ainda no podada.

"Chama-se pau-em-ser a rvore que ainda no foi podada."


(Hemetrio Velloso, Misses Orientais, nota, p. 181).

PAU-FERRO, s. rvore da famlia das leguminosas, de madeira extremamente


dura.

"Saudade como pau-ferro


Que dura sempre no cho
Cortado se que no erro
No mato do corao."
(Gen. Serafim Vargas).

PAULISTA, adj. Diz-se da pessoa que por qualquer coisa fica desconfiada.

PAUS, s. Pequenos pedaos de galhos que permanecem na erva-mate depois


de ter sido ela reduzida a p: "Tire os paus da cuia que o mate ficar
melhor"; "Esta erva muito fina, quase no tem paus."

PAUTEAR, v. Tagarelar. Mangar. Entreter-se conversando. Gastar o tempo


conversando sobre coisas inteis.

PAVENA, adj. Diz-se do indivduo turbulento, puava, ventana, quebra,


venta-furada.

PEALAO, s. Ato de pealar.

PEALADOR, s. O que peala, o que atira pealos, o encarregado de pealar,


nos servios de campo.

PEALAR, v. Prender com o lao pelas mos ou patas dianteiras o animal


que est correndo, atirando-lhe o pealo que o lana por terra.
Figuradamente, armar cilada para apanhar algum em falta, enganar, pegar
de surpresa. (Parece vir de pear).

"Estes versos so rodilhas


De um tiro de lao armado,
Para pealar nas coxilhas
Lindezas do pago amado."
(Pi do Sul, Gauchadas e Gauchismos).

PEALAR A CHIBA, expr. Liquidar com outrem, ganhar-lhe uma aposta. (Chiba
significa cabrita).

PEALO, s. Ato de arremessar o lao e por meio dele prender as patas do


animal que est correndo e derrub-lo. Existem muitos tipos de pealo,
entre os quais o pealo de cucharra, o pealo de sobrecostilhar ou de
costilhar, o pealo de sobrelombo, o pealo de rebolqueada, de bolqueada
ou de reborqueada. Em sentido figurado, significa cilada, logro, engano,
armadilha. // So expresses de uso corrente armar o pealo, deitar o
pealo, lanar um pea lo, sacudir um pealo, passar um pealo, errar o
pealo. // Var.: Pialo.
PEALO DE BOLQUEADA, s. O mesmo que pealo de rebolqueada.

PEALO DE CUCHARRA, s. Pealo que consiste em jogar-se o lao fazendo-se


um rpido movimento de toro com o punho de modo que a armada do lao
se apresente na frente das mos

356

do animal a ser pealado. Para este tipo de pealo no se costuma


rebolear o lao, mas sim jog-lo de tiro, com armada sem rodilhas.

"Do pealos de cucharra


Que do cho levantam p;
Do outro de sobrelombo,
Quem no faz isso pong;"
(Popular).

PEALO DE REBOLQUEADA, s. Pealo em que o pealador faz um movimento de


toro do punho para a direita. Tambm se denomina pealo de bolqueada ou
de reborqueada.

PEALO DE REBORQUEADA, s. O mesmo que pealo de rebolqueada.

PEALO DE SOBRECOSTILHAR, s. Pealo em que o lao jogado de trs para


diante, sobre as costelas do animal. Tambm chamado pealo de
costilhar.

PEALO DE SOBRELOMBO, s. Pealo que se aplica arremessando o lao sobre o


lombo do animal para que a armada, contornando-o, prenda-lhe as mos
pelo lado oposto ao em que se encontra o pealador. muito usado para
derrubar terneiro.

PEO, s. Homem ajustado para o trabalho rural. Conchavado. Empregado


para conduo de tropa. // Associado de Centro de Tradies Gachas.

"E por nascer campons


no aprendi nem a ler,
sofrimento meu viver,
no conheo uma iluso,
lavrei, plantei, domei potros,
constru riqueza aos outros,
nunca fui mais do que peo."
(Vitor Melo Ferreira, 1 Antol. de
Poetas Brigadianos, P.A., Ed.
Pallotti, 1982,p. 114).

"A roupa do peo, extremamente funcional, tinha como


caractersticas as botas de garro de potro, o tirador (avental de couro
cru), o chirip oriental, muito semelhante ao do ndio" ... (Maria
Aparecida Alencar de Castro,A Origem e Evoluo dos Trajes Tpicos do
Rio Grande do Sul, Correio do Povo, 21-10-73).

"Pealando de todo o lao,


desgarronando novilho
e quebrando 'corumilho'
de potros e redomes,
os pees de estncia, campees
das duras lides da terra,
tropeavam e faziam guerra
ao lado de seus patres."
(Jos Paim Brites, Peo de Estncia).

"Aos patres de minha terra


eu clamo com humildade
dar trabalho e liberdade
aos pees desta Querncia,
que tenham tambm tenncia
ao velho adgio que diz:
- um homem s feliz
se faz o bem na existncia!"
(Nelson Fachinelli, Meu Rio Grande
Brasileiro).

"Sem ter mancha que me oprima


O dever minha reza,
Sou peo de quem me estima,
Patro de quem me despreza."
(Manoel Faria Corra, Rumo aos
Pagos).

"Peo o nobre empregado


Pra toda a lida campeira,
o guasca que na mangueira,
Demonstra muito valor."
(Ubelino Prestes de Aguiar, Velha
Carreta, P.A., Martins Livreiro-Editor,
1979, p. 41).

"Peo,
Domador, capanga, guerrilheiro!
El Cid do pampa,

357

Andejo, romanesco, fanfarro.


Sua humilde lealdade o verso no exprime
No h palavra que traduza a sua devoo!
Sempre a sorrir, a desprezar perigos,
Dotado de felina agilidade,
Serena bravura,
Tem a fora e a coragem de um leo."
(Ramiro Frota Barcelos, Romanceria
Gauchesca, So Leopoldo, Ed.
Rotermund, 1966, p. 44).

"Era o primeiro debuxo


Desse peo analfabeto
Que, rfo do medo e do afeto,
Sem lei, sem rei e sem luxo,
Dava as tintas do gacho
estrepolia e escarcu.
Tinha de rancho o chapu
E na planura um regalo:
Ser livre sobre um cavalo,
Entre a querncia e o cu."
(Jos Nelson Corra, Dcima do
Joo Coar, P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1981, p. 37).

"Ao trote manso dum tordilho negro,


inda folheiro, baralhando o freio
e desde a madrugada - o campo aberto,
rumbeia pra os caminhos que vm vindo,
o velho Peo de Estncia do Rio Grande:
- quebrou queixo de potros campo fora
- apartou na pelada do rodeio...
cruzou coxilhas repontando tropa...
- riscou estrada roda de carreta
- pachola cabeceira duma cancha,
pra ganhar a carreira na largada..."
(Capito Caraguat, Peo de Estncia,
in Tradio, P.A., 20.2.1977).

PEA, s. O pnis do animal cavalar, muar ou asinino. // Pessoa ruim,


ordinria.

PECETA, s. Animal de mau cmodo, lerdo, pequeno, feio, manhoso, sem


valor. Matungo, sotreta. // Homem velhaco, malicioso, tratante.

PECHADA, s. Choque, encontro, ccliso. Golpe dado com o peito. Embate


entre dois cavaleiros que correm em direes opostas. Embate de um
cavaleiro com um animal, com uma rvore, com uma cerca, com qualquer
coisa. // Pedido de dinheiro, facada. (O termo vem do castelhano pecho).

"Foi como o trovo e logo o raio..., pois como um raio o gacho


carregou e atirou a montaria contra o touro! Oigal! Pechada macota!"
(Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p.
115).

PECHADOR, adj. Que d pechadas ou encontres freqentemente. // Que tem


por hbito pedir dinheiro emprestado. Pedincho, faquista.

PECHAR, v. Dar pechada, dar encontro, chocar-se, colidir, abalroar. //


Pedir alguma coisa, especialmente dinheiro.

"E vamos ver aquele velhito que


ali chega ao tranco, com a barbicha
esfiapada por todos os ventos, com
os olhinhos fujes e salteadores, a
pechar-me amanh, j sei, num
capo gordo..." (Aureliano,
Memrias do Coronel Falco, P.A.,
Ed. Movimento, 1974, p. 23).

358

PEUELOS, s. Espcie de alforje duplo, de couro ou de lona, usado na


garupa do cavalo, em que o viajante conduz roupas e outras utilidades.
Var.: Pessuelos.
P-DE-AMIGO, s. Sistema de peia do animal cavalar ou muar que consiste
em passar-se, pelo grosso do pescoo, junto s cruzes, um lao, maneador
ou outra corda, em que se d um n pelo qual corre uma laada que vai
prender uma das patas traseiras e levant-la a um palmo ou dois de
altura, deixando o animal apoiado apenas em trs ps, o que lhe
dificulta os movimentos e o impossibilita de dar coices. // Em sentido
figurado, passar um p-de-amigo significa criar para outrem uma situao
de compromisso de que no possa fugir.

"No sejas arisca, prenda,


Basta, para meu castigo,
Que seguro j me tenhas
Com maneia e p-de-amigo."
(Popular).

"- Diabo !.. parece que tenho areia nos olhos... e um


p-de-amigo na goela... Ah! saudade! ..." (Simes Lopes, Contos
Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 33).

P-DE-CHUMBO, s. Designao depreciativa dada aos portugueses.

"Galego p-de-chumbo
Calcanhar-de-frigideira
Quem te deu a honra
De casar com brasileira."
(Quadra popular, in Alvaro Porto
Alegre, Fraseologia Sul-rio-grandense,
P.A., Ed. da UFRGS, 1975, p.
85).

"Era mesmo uma pena, lhe digo... casar uma brasileira mimosa com
um p-de-chumbo, como aquele desgraado daquele ilhu... s porque ele
tinha um boliche em ponto grande" ... (Simes Lopes, Contos Gauchescos e
Lendas do Sul, P.A., 1973, p. 71).

PEDIGREE, s. Assento genealgico dos animais. // Animais valiosos, de


boa procedncia. // Em sentido figurado, aplica-se tambm s pessoas. //
( vocbulo ingls adotado pelos nossos pecuaristas).

"A Parca andou fazendo algum estrago


na tropilha de lei de nosso Pago,
no fino pedigree de nossa Estncia."
(Rui Cardoso Nunes).

PEDINCHA, s. e adj. Diz-se de ou o indivduo pedincho, filante, pouca.


Pessoa que tem o hbito de pedir.

PEDIR BEXIGA, expr. Acovardar-se, pedir penico.

PEDIR FREIO, expr. Estar o cavalo impaciente, atuando no freio, forando


a mo do cavaleiro, para seguir com maior celeridade. // Figuradamente,
aplica-se s pessoas, significando: Estar pronto para partir, ansioso
para entrar em ao, para tomar certa iniciativa, para realizar
determinado trabalho.

PEDIR PENICO, expr. Acovardar-se.

PEDIR RODEIO, expr. Solicitar ao dono da estncia permisso para parar


rodeio, com o fim de reculutar reses extraviadas.
"O dia estava perdido,
Ps-se a tropa em pastoreio,
A fim de pedir rodeio
Nas estncias de mais perto,
Que o que faltava, por certo,
Estava naquele meio."
(Amaro Juvenal, Antnio Chiman-

359

go, P.A., Martins Livreiro-Editor,


1978, p. 60).

PEDO, s. e adj: Termo usado na expresso castelhana alpedo, toa,


inutilmente, em vo. // Estar de peda, significa estar embriagado.

PEDRA-BRABA, s. Pessoa ruim, velhaca (p. us.).

PEDRA-DE-FOGO, s. Pedao de gata ou de pedra muito dura, do qual se


tiram chispas, batendo-lhe com o fuzil, para acender o isqueiro.

PEDRAS, s. Nome dado, s vezes, s boleadeiras.

PEGADO, adj. Diz-se do animal preso soga ou cabresto, ou em estrebaria


ou piquete, pronto para ser utilizado a qualquer momento.

PEGA-FOGO, s. Variedade do baile ou dana campestre chamada fandango.

PEGAMENTO, s. Renda de entremeio.

PEGA-PEGA, s. Leguminosa nativa dos campos, pertencente famlia das


Papilionceas. usada em flagelaes em membros paralisados.

PEGAR, v. Comear, principiar a fazer alguma coisa: "A mulher pegou a


dizer desaforos", isto , comeou a dizer desaforos.

PEGAR DE BICO, expr. Fazer o galo a presa com o bico, na gria dos
galistas.

PEGAR O COMEO, expr. Comear, iniciar, ter comeo.

PEGUENTO, adj. Pegadio.

"A estrada pesada, com lama


vermelha, peguenta como grude ..."
(Darcy Azambuja, No Galpo).

PEITEIRA, s. Tira de couro colocada no parelheiro guisa de peitoral,


na qual o corredor pode segurar-se durante a corrida. Peitoral.

PEITORAL, s. Pea dos arreios que cnge o peito do animal e a cabea


dianteira do lombilho. H peitorais simples, constitudos apenas de uma
tira de couro cru, e outros de luxo, tranados caprichosamente ou
revestidos de metal e at de prata lavrada.

PEITUDO, s. Trovador, cantador, possuidor de bom peito. // Empreendedor,


arrojado.

PEIXE-DOURADO, s. Dourado.

PEIXEIRA, s. Travessa em que servido o peixe.

PELADO, s. Rapador, campo onde o pasto est escasso. // Lugar em que a


caa est rara, por ter sido muito freqentado por caadores. // Pessoa
que perdeu os seus haveres; indivduo pobre, sem dinheiro.

PELADOR,s. Rapador, pelado, campo de pastagem escassa.

PELADURA, s. Susto, desastre, prejuzo no jogo.

PELANCA, s. Pele flcida, pelhanca. // Veterano.

PELAR, v. Desembainhar a faca, a espada, a adaga, o faco. //


Apoderar-se indevidamente dos haveres de algum.

"Pelam, ento, da cintura


os ferros e, acocorados,
mandam dentes na gordura."
(Manoel Faria Corra, Rumo aos
Pagos, p. 103).

PELAR A CORUJA, expr. Ganhar um jogo, uma carreira. // Liquidar um


inimigo. Matar, assassinar.

PELAR DE LUZ, expr. Ganhar de luz uma carreira. Ganhar folgadamente.

PELAR O FERRO, expr. Desembainhar a faca, a adaga, o faco, a espada.

360

PELEA, s. O mesmo que peleia.

pELEADOR, s. e adj. Pelejador, lutador, brigo, turbulento, rusguento,


rixento.

"Sobre suas virtudes de cavaleiro exmio e gil peleador, corre


anedotrio copioso e pitoresco, que vale por um retrato dessa singular
figura de caudilho rio-grandense." (Arthur Ferreira Filho, Revolues e
Caudilhos, 2 ed., Passo Fundo, p. 52).

PELEAGUDO, adj. Arriscado, perigoso, que ameaa ser de conseqncias


funestas. Violento, brbaro, terrvel. O mesmo que peliagudo.

"L puxa, seu Ramo, tou ruim! A cousa t peliaguda pro meu
lado!" (Brasil Dubal, Fronteira Inclemente, P.A., Ed. Movimento, 1976,
p. 183).

"Naquele buchincho peleagudo, no Uruguai, o Nico, no escuro e


sem reparar, le carregara com balas doutro calibre..." (Manoel Marques
da Silva Acauan, Ronda Charrua,p.43).

"Choveu plata, la farta, na gua linda:


davam luz, davam doble, davam tudo...
E fui topando o que sobrava ainda!

Pua e rebenque desde o partidor...


Carreira! Preo peleagudo!
A sentena pra mim foi de fiador!"
(Roberto Osrio Jnior, Horizontes
do Pago, Canoas, Ed. La Salle,
1970, p. 130).

"Era a turma macanuda,


uma indiada peleaguda
do Sul de nosso pas."
(R.C.N., Caada em Mato Grosso).

PELEAR, v. Brigar, lutar, combater, pelejar, teimar, disputar.

PELECHAR, v. Mudar o animal o plo, o que acontece, geralmente, no


princpio do vero. Var.: Pelichar. (Etim.: palavra castelhana, tendo
tambm, nessa lngua, o significado de convalescer).

"A eguada j est pelechando." (Joo Fontoura, Nas Coxilhas).

"Os potros no apresentam bom aspecto, estando ainda peludos,


comeando a pelichar." (Assis Henrique Magalhes, A Doma e a Inspirao
Regionalista, in Escritores do Brasil, organizado por Aparcio
Fernandes, RJ, Ed. Arte Moderna Ltda., 1981, p. 90).

PELECHO, s. Ato de pelechar.

PELE-DE-LIXA, s. Varola hemorrgica.

PELEGA, s. Nota, dinheiro de papel, de valor aprecivel.

"Ganhei nas patas do zaino uma pelega de 100$000." (Simes


Lopes, Contos Gauchescos).

PELEGADA, s. O mesmo que pelegama.

PELEGAMA, s. Certa quantidade de pelegos. // Certa quantidade de


pelegas, isto , de notas de dinheiro de papel de valor aprecivel.

PELEGO, s. Pele de carneiro ou de ovelha, de forma retangular, com a l


natural, que se coloca sobre os arreios, para tornar macio o assento do
cavaleiro. Passo errado nas danas gauchescas. O pelego, ou seja, o erro
no passo de dana geralmente provoca rima e caoadas dos circunstantes.
// Agente disfarado do governo que atua politicamente nos sindicatos de
trabalhadores. // A vida. // Etim.: do cast. pelleio.

"Deixamos de sugerir que levem pelegos a fim de evitar


interpretaes errneas." (Jos Joo Zanini, Boletim de Visita n 8, da
Affisvec,

361

1964, p. 3).

"Meu senhor que est danando,


Me queira, pois, desculpar,
Seo pelego for de venda,
Me traga, quero comprar."
(Quadrinha popular).

"El primer cuidao del hombre


Es defender el pellejo.
Llevte de mi consejo,
Fijte bien en lo que hablo:
El diablo sabe por diablo,
Pero ms sabe por viejo."
(Jos Hernndez, Martn Fierro,
Buenos Aires, Ed. Sopena Argentina,
1945, p. 87).

PELEGO BRANCO, s. Nome dado pelos fronteiristas aos naturais de Taquari.

PELEGUEADO, adj. Batido com pelego.

"Ai saudades do meu pago


que me trazem pelegueado
Vejo na cuia e na bomba
um quero-quero emborcado."
(Hugo Ramrez, in Cancioneiro de
Trovas).

PELEGUEAR, v. Tirar o pelego. Matar. // Trabalhar em pelegos. // Bater


com um pelego no potro palanqueado para tirar-lhe os sestros e faz-lo
perder o medo do homem, no incio da doma. // Errar na dana, fazendo
pelego.

"J vai alta a noite velha,


sacudida de minuanos,
pelegueando a alma da gente..."
(J. O. Nogueira Leiria, Campos de
Areia, P.A., Globo, 1932, p. 33).

PELEGUEAR A NATUREZA, expr. Enfrentar dificuldades.

PELEGUITO, s. Diminutivo de pelego. Pelego pequeno ou com pouca l.

PELEIA, s. Peleja, pugilato, contenda, briga, rusga, disputa, combate,


luta entre foras beligerantes. (Do cast. pelea).

"Ao caudilho orgulhoso e seguro de si, repugnava usar suas


armas, honradas em peleias picas, para ter-las com a adaga de um
desclassificado." (Arthur Ferreira Filho, Revolues e Caudilhos, 2
ed., Passo Fundo, p. 53).

"Mas o mais triste de v


no que ia acontec
nessa peleia maluca,
que os dois ermo da Rita,
a tal chinoca bonita,
eram amigo do Juca"
(Zeno Cardoso Nunes, Covardia).

"Peleia
Eu le conto, compadre, a seu pedido:
Era uma rusga antiga, e o que se deu
foi num fandango lindo e divertido,
que houve no rancho velho do Amadeu.

Quando a Finoca logo me escolheu,


pra uma polca de dama, o tal bandido
se veio de fado, mas recebeu
meu mango pelas guampas, o atrevido!
Depois... (Virge do Cu!) foi um trovo
de ferro e bala e grito, porque o cuera
era um tigre, peleando de faco.
Pra le encurtar o causo, eu fiquei manco,
o rancho pegou fogo - hoje tapera -
e ele... enterrou-se, l no 'posto branco'!"
(Valdomiro Sousa, Chimarro, P.A.,
Tip. Goldman, 1951, p. 66).

362

PELEIAR, v. O mesmo que pelear.

PELIAGUDO, adj. O mesmo que peleagudo.

PELICHAR, v. Pelechar.

PELIENTO, adj. Peleador, briguento.

PELINCHO, s. Nome de um pssaro conhecido tambm por rabo-de-palha e


alma-de-gato.

PLO, s. Pelagem, pelame. A cor do plo dos animais.


Os plos de cavalares e muares mais conhecidos so os seguintes:
Alazo, alazo-bragado, alazo-cabos-negros, alazo-cruzado,
alazo -estrelo, alazo-malacara, alazo-oveiro, alazo-requeimado,
alazo-rosilho, alazo-ruano, alazo-salino;
Baio, baio-amarelo, baio-branco, baio-cabos-negros,
baio-sebruno, baio-encerado, baio-lobuno, baio-ruano, baio-tobiano;
Branco, branco-melado, branco-cabos-negros, branco-oveiro;
Chita;
Colorado;
Douradilho;
Gateado, gateado-bragado, gateado-cabos-negros, gateado-claro,
gateado-escuro, gateado-estrelo, gateado-malacara, gateado-oveiro,
gateado-pangar, gateado-rosilho, gateado-ruano, gateado-ruivo;
Lobuno;
Melado;
Mouro;
Oveiro, oveiro-alazo, oveiro-baio, oveiro-chita,
oveiro-gateado, oveiro-lobuno, oveiro-negro, oveiro-rosado,
oveiro-rosilho, oveiro-sebruno, oveiro-vermelho, oveiro-zaino,
Pangar;
Picao, picao-bragado;
Preto;
Rosilho, rosilho-alazo ou rosilho-lazo, rosilho-mouro,
rosilho-prateado, rosilho-vermelho;
Sebruno;
Tobiano, tobiano-baio, toviano-sebruno, tobiano-colorado,
tobiano-gateado, tobiano-rosilho, tobiano-vermelho, tobiano-zaino;
Tordilho, tordilho-branco, tordilho-negro, tordilho -oveiro,
tordilho-prateado, tordilho-rodado, tordilho-rosado, tordilho-sabino,
tordilho-salino, tordilho-vinagre;
Tostado, tostado-claro, tostado-requeimado, tostado-bronzeado;
Vermelho, vermelho-pinho, vermelho-requeimado;
Zaino, zaino-negro, zaino-pangar, zaino-pinh o, zaino-re
queimado.

Conforme determinadas caractersticas que o animal apresente,


pode ele ser, ainda, quanto ao plo:
Bragado, bico-branco, cabos-negros, calado, crespo, cruzado,
estrela, lampeo, lista-de-mula, lunarejo, malacara, manchado, meia-rs,
rabicano, mano, tapado.
Os plos de bovinos mais freqentemente encontrados so os
seguintes:
Africano, baio, barroso, barroso-amarelo, barroso-fumaa,
branco, chita, churreado, colorado, jaguan, osco, oveiro, pampa,
preto, rosilho, salino, vermelho.
Em um mesmo animal, tanto nos cavalares e muares como nos
bovinos, podem aparecer, mesclados, vrios dos plos referidos.

"Pelage. Capa o colar del pelo de un animal. Los pelos ms


conocidos de yeguarizos sou los seguientes:
Blanco: plateado, mosqueado, albino, rosado, sabino, porcelano,
ojos negros o anteojeras negras, blanco huevo de pato, paloma,
sucio y azulado.

363

Bayo: blanco, huevo de pato, amarilo, naranjado, encerado, cebruno,


ruano, dorado, rodado, atigrado y cabos negros.
Gateado: claro, pardo, pangar, rubio y barcino.
Cebruno: claro, obscuro y barcino.
Picazo: lucero, lista, malacara, pampa, overo, zarco, rabicano,
bragado, testerilla, mascarilla, galn.
Lobuno: claro o torcaz y pardo.
Alazn: claro, tostado, dorado, ruano y requemado.
Colorado: comn, requemado y malacara.
Doradillo: pangar.
Zaino: colorado, negro, pardo, pangar y zaino mula.
Oscuro: comn, renegrido y tapado.
Tordilho: blanco, negro, plateado, rodado, overo, mosqueado, sabino,
zafranado y rucio.
Moro: claro, oscuro y overo.
Rosillo: blanco, colorado, rubio, ruano, moro y gateado.
Overo: negro, gateado, bayo, lobuno, cebruno, alazn, zaino, tostado,
manchado, tobiano, rosado y azulejo.
Las capas cuyos nombres obedecen a detalles existentes em qualquier
parte del cuerpo son:
Galn, entrepelado, pangar, nevado, mosqueado, sabino, salpicado,
aporotado, lunarejo, rodado, atigrado, barcino, tiznado, chorreado,
ruano, raya de mula, raya cruzada, yaguan, fajado, lagarto, bragado,
marucha mora, rion o anca mora, paleta overa, lomo blanco, cuadril
blanco, panza blanca, rabicano, revezados y remolinos, crespo, tapado.
Particularidades de los miembros:
Calzado. Princpio de calzado, calzado alto.
Maneado.
Media res, cruzado, uno, dos, tres y cuatralbo.
Bota con delantal.
Cabos negros, mano mora, cebrado, ranillas y espejuelos o castaas.
Particularidades de la cabeza:
Pelos blancos en la frente: estrella, lucero, corazn, testerilla,
mascarilla, lista, malacara, pampa, pico blanco, picazo, boca de mula,
gargantilla, fiador, zarco y lista tuerta. (Tito Saubidet, Vocabulario y
Refranero Criollo).

"No verdade somente existirem entre eles 3 cores; tm todas


as tonalidades que se observam nos cavalos domsticos. Talvez ao tempo
de Azara predominassem apenas 3 cores, enriquecidas depois de outras,
mormente durante a guerra, por mestiagens contnuas entre cavalos
selvagens e domsticos." (Auguste de Saint-Hilaire, Viagem ao Rio Grande
do Sul, RJ, Anel Editora Ltda., 1935, p. 249).

"O plo, - dizem, - influi na atividade e boas qualidades do


cavalo. Assim, 'o tordilho ngua melhor do que canoa'. Atravessar rio
a nado no lombo de um tordilho, garantia de xito, haja o perigo que
houver.
O lobuno fraco-canso, dizem eles, O menor esforo deixa-o
cansado, abombado.
O tubiano, o bragado e o melado so animais que no merecem
confiana. Mas o tapado , no geral, bom para todo servio. O tostado,
porm, no tem dvida: serve para todo e qualquer trabalho, O baio
perigoso e de pouco prstimo em

364

grandes caminhadas. H, entretanto, excesses, principalmente para o


tostado de pata branca que, nesse caso, cavalo de qualidade. Animal de
pata branca, alis, sempre bom. Exemplo o pica o, marron e branco,
que sempre excelente. Tambm o bragado cavalo de boa marca, quando
de pata branca. O branco no presta e, alm disso, atrai o raio.
perigoso..." (Walter Spalding, Tradies e Supersties do Brasil Sul,
RJ, Organizao Simes, 1955, p. 86).

"Os plos tm sua influncia


No tino dum bom campeiro:
Picao d carroceiro;
Todo rosilho chubrega;
Ruano flaco e o lobuno;
De garro frouxo o cebruno;
Mas zaino-negro no nega!
Pangar nunca deu maula
E quando encordoado um raio.
Tapeie o chapu num baio;
Gacho de facha e brilho
Que queira ser respeitado,
Pra o campo enfrene tostado,
Mas num rio cheio, o tordilho.

Bragado, Deus nos acuda!


da quadrilha o que eu deixo,
Se hs de le quebrar o queixo
Antes le puxes a cola!
Traioeiro alazo-manchado;
Plo bem triste o melado
Na estncia se d de esmola.
Malacara bom de campo,
E o gateado e o douradilho.
- Se lembram do meu potrilho?
Quem no guarda desaforo
E ganha com luxo a plata,
Na cancha o cacho desata,
E grita em riba dum mouro.

Com oveiro tenho m f;


Tobiano do memo naipe
Pois nele a maldade entaipa,
Tem bicho no lombo, arvel.
Tobiano, Deus me perdoe,
Abranda s que se amoe,
Mais mansa uma cascavel."
(Zeca Blau, Trovas da Estncia do
Abandono).

"Y voy a decirte duro


el pelo que ms me agrada,
de las vacas la chorriada,
de los pingos el oscuro,
de las muchachas, dejuro
com cualquier color me amuelo
perdices que cain al vuelo
no se avergua el estao
y a mancarrn regalao
nunca se le mira el pelo."
(Elas Regules, Versos Criollos,
Montevideo, Libr. Mercurio, 1918,
p. 107).

"De cavalo dado no se olha o plo." (Ditado popular).

"Rasgo a bolsa, companheiro,


Quando encontro um douradilho!
Pingo alazo d cancheiro
Como o tostado e o rosilho;
O gateado caborteiro
E o de confiana o tordilho!

O preto, o zaino, o pinho,


O azulego, o colorado;
s vezes perco a opinio
Vendo o meu baio encerado,
Que nas raias deste cho
J foi o mais respeitado!
O pangar, o tubiano,
O lubuno, o entrepelado,
O sebruno, o rabicano,
O mala-cara, o bragado,
Picao, baio, ruano
E o mouro casco riscado! ...
Pelo muito que rolei
Neste cho ... devo saber ...
E, como sei, levarei
Ao que deseja aprender;

365

"Todo o pingo d de lei,


Basta o caboclo querer"! ..."
(Chico Ribeiro, Filosofia Campeira,
P.A., Ed. A Nao S.A., 1964, p.
25).

"Pra carreira em cancha reta,


O Mouro d bom de pata.
O Tobiano no se trata.
Lobuno muito sotreta.
Com Sebruno no se meta,
Que afrouxa quando se enfrena.
Se todo o Ruano d pena,
Tordilho pra um rio a nado.
Quem ala a perna em Tostado,
Dispensa mango e chilena.
O Pangar d afamado
E arisco e frouxo o rosilho;
Piqueteiro o Douradilho
E bom de campo o Gateado.
Pra quase tudo o Tapado;
E Oveiro d bem lacaio.
O Zaino-queimado um raio
D um pingo que um desassombro
Mas quem traz o arreio ao ombro
Nem sempre montava um Baio.
O Malacara um pngao
Que a gente encosta no freio
Num aparte ou num rodeio
Ou mesmo em tiro de lao.
Numa troteada o Picao;
Conhece quem tem percia...
Retovado de malcia,
Sem serventia o Melado.
No monta Alazo-manchado
Quem quer fugir da polcia.
Do restante, emparelhado,
Tanto faz um como outro,
Cavalo criado ou potro,
Quer seja Ruo ou Bragado
- Co'a exceo do Colorado -
tudo, se no me engano,
Gavio, coiceiro e haragano;
Do Malhado aos Azulegos,
Seja claro e Cabos-negros,
Seja escuro e Rabicano."
(Jos Nelso Corra, Dcima do Joo
Guar, P.A., Martins livreiro-Editor,
1981,p. 52).

PLO-A-P LO, expr. lidar contnuo, duro, rude, ininterrupto. V. as


expresses andar de plo a plo, viajar de plo a plo, andar de em
plo, andar em plo.
"Se foi Revoluo
de plo a plo no mais!
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, P.A., Editor, 1981, p.
126).

PLO-DE-RATO, adj. Diz-se da pelagem acinzentada, de cor semelhante do


rato.

PLO-DURO, adj. Crioulo, genuinamente rio-grandense. Diz-se de pessoas e


de animais.

"Depois, o canto da raa loura


que pousando na querncia
misturou as cabeleiras
do plo-duro e do gringo."
(Jos Machado Leal, Herana e Terra,
P.A., Sulina, 1981, p. 82).

"Faco velho de ao temperado


nas forjas de um ferreiro plo-duro.
tu foste irmo da foice e do machado
nos trabalhos violentos do roado
quando abriste picadas ao futuro!"
(Zeno Cardoso Nunes, Facdo).

"Pingo, sendo plo-duro,


Quebrando, amigo, um milhito,
Eu vos afirmo, eu vos juro,
At no branco acredito!"
(Chico Ribeiro, Filosofia Campeira,
p. 26).

PELO LADO DE LAAR, loc. adv.


Abruptamente, sem rodeios, rudemente.

"Quando ia a entrar na venda,

366

saiu-lhe o castelhano, pelo lado de laar..." (Simes Lopes, Contos


Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 38).

PELO LADO DE MONTAR, loc. adv. Jeitosamente, com tato, delicadamente.

PELOTA, s. Couro de bovino, ajeitado em forma de cesto, que serve de


canoa para atravessar um curso de gua.

"Quando a passagem difcil, seja por causa de uma enchente


grande, seja por causa de uma correnteza muito violenta, e um homem no
sabe nadar bastante para se arriscar, ele se coloca num couro com as
roupas e uma parte das bagagens; isso chama-se passar em pelota, porque,
com efeito, o couro tendo as bordas levantadas parece uma bola: a corda
se prende na cauda de um cavalo e assim ele passa, no sem perigo,
porque se o cavalo mau nadador, pouco dcil ou est cansado, a pelota
de couro corre grande risco de encher-se dgua ou de ser arrastada com o
animaL" (Arsne Isabelle, Viagem ao Rio Grande do Sul, traduo de Dante
de Laytano, P.A., Tip. do Centro, 1946, p. 30).

"De um couro se faz pelota,


Quando no se tem canoa."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
P.A., Martins livreiro-Editor,
1978, p. 21).

"Montando lerdas pelotas,


espantando com os remos
bandos de brancas gaivotas,
pela lquida savana,
sobe a extensa caravana
de bravos aventureiros."
(Guilherme Schultz Filho, in Antologia
da Poesia Crioula, P.A., Sulina,
1970, p. 41).

PLO TAPADO, s. Pelagem do cavalo de cor uniforme e no classificada


como clara: o zaino, o tostado, o preto etc.

PELOTEIRO, s. Pessoa que puxa a pelota, a reboque, nadando, segurando


com os dentes a corda que a prende.

"Vestimo-nos s pressas, pois as


roupas vieram em terceira viagem,
pagamos os dois excelentes peloteiros e corremos para o laranjal..."
(Visconde de Taunay, Dias de
Guerra, p. 177).

PELUDEAR, v. Retirar com grande dificuldade, fazendo muita fora, uma


carreta presa num atoleiro. V. a expresso tirar um peludo.

"s dez, o sol ainda peludeia para empurrar as nuvens cor de


chumbo. E o cu aos pucos vai se manchando de azul." (Helosa Assumpo
Nascimento, Haragano, So Paulo, Club do livro, 1967, p. 15).

PELUDO, s. Tatu peludo, tatupeba. // Servente de circo encarregado de


retirar de cena os objetos deixados pelos artistas. // Embriaguez,
bebedeira. // (V. as expresses tirar um peludo e trote de peludo).

PENAROSO, adj. Que causa pena. Pungente, penoso, peSaroso.

PENCA, s. Carreira em que tomam parte muitos animais. Califrnia. //


Grande quantidade.

"Vo se atracar numa penca,


Dessas que rasgam os palas,
Um lote de pees das falas
E posteiros de invernadas."
(Chico Gaudrio, poema).

PENDENTE, s. Declive, lanante, vertente.

PENDER, v. Mudar a direo da marcha.

367
"O Otvio ia direito a Caxias, mas, chegando em Nova Petrpolis, pendeu
para o Gramado."

PENDURICO, s. Pequena pea, constituda de uma argola e tiras de couro


ou barbantes, que o caador de aves usa presa cintura para pendurar a
caa abatida.

PENDURUCALHO, s. Pingente, coisa que est dependurada. Penduricalho.

PENEIRA, s. Chapu de palha, palheta, picareta.

PENEIRAR-SE, v. Corcovear, velhaquear, pinotear. Sacudir-se todo e sair


aos corcovos o animal que est sendo domado.

"Mas o domador, distante, camisa de algodo branco, inchada


brisa da manh, firme nos estribos, com a ateno presa no servio,
olhar fixo na coma ventaneada do potrilho, rosetas correndo da paleta
ao osso do quadril, nada escutava, nada via, nada sentia, seno o
balano brusco do futuro parelheiro peneirando-se brutalmente,
barbaramente, desesperadamente, campo fora, aos gritos do
amadrinhador..." (Joo Fontoura, Nas Coxilhas, p. 171).

PENICO, s. Pinico. Ato de pinicar. Belisco.

PENICAR, v. Pinicar, beliscar, cutucar, ferir o cavalo com a roseta da


espora.

"Amanguei o corpo e penicando de esporas, toquei a galope


largo." (Simes Lopes, Contos Gauchescos).

PENITENTE, s. Padecente, sofredor.

P-NO-CHO, s. Apelido dado ao soldado de corpo provisrio do municpio


de Palmeira.

PENSO, s. Preocupao, cuidado.

PENSO, adj. Inclinado, pendente.

PENTE-FINO, s. e adj. Indivduo velhaco, finrio, manhoso, ladino,


espertalho, pouco escrupuloso, que de tudo tira proveito.

PEOA, s. O mesmo que peona.

PEONA, s. Feminino de peo. Conchavada, criada, servente, O mesmo que


peoa, pioa ou piona.

"Estancieiras ou peonas, tudo a mesma cousa... tudo bicho


caborteiro..." (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A.,
Globo, 1973, p. 19).

PEONADA, s. Grande nmero de pees ou pees. O conjunto de pees ou


pees de uma estncia, de uma tropa, de uma empreitada de obra. O mesmo
que pionada ou pionagem.

"O tal capataz Delfino


No se embrulha na primeira:
Que o mundo no tem porteira
Nem porta com taramela!
E tal qual numa novela
Deixa o Dollar na escalada
E promete pra peonada
De lhes encher a panela."
(Chico Gaudrio, poema satrico).

"E me ajustei numa estncia


pra domar uma bagualada
onde tinha um dito baio
respeitado da peo nada."
(Dcima popular, cantada por Plnio
Benjamin Maciel).

"Fandango baile gacho,


que se dana em cho batido:
A peonada bailando
um chote bem sacudido."
(Nelson Fachinelli, Temas da
Querncia).

368

"Na cumieira
do galpo
h uma goteira
caindo numa talha
de lata,
que atrapalha
o sono da peonada
estirada na palha."
(Odion Tupinamb, Santo Antnio
sobe a lomba, P.A.).

PEQUENITATE, adj. Muito pequenino.

"Um dia um estancieiro regalou-me um pingo tordillio,


pequenitate, mas mui mimoso." (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas
do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 68).

P-RACHADO, s. P-rapado. Indivduo de condio humilde, pobreto.

PERAU, s. Despenhadeiro, itaimb, precipcio, declive spero que d para


um rio.

"Montou no galho bem alto,


que dava para o perau."
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, p. 33).

PERDER A COCHA, expr. Desanimar.

PERDER OS ESTRIBOS, expr. Deixar escaparem dos ps os estribos a um


movimento brusco do animal. // Figuradamente, significa perder a calma,
perder a pacincia, descontrolar-se, ficar atrapalhado.
"Ela tinha uns olhos guapos
Para dizer a verdade.
Quando olhava para mim
No me sentia vontade,
Perdia logo os estribos,
Caramba!... Barbaridade!"
(De um poeta gacho).

PERDER-SE, v. Desequilibrar-se e cair o animal que vai correndo. //


Prostituir-se, a mulher.

..."por sinal que era um douradilho, pata braba - perdeu-se com ele e
rodou, lanando-o longe." (Vieira Pires, Querncia, p. 21).

PERDIDA, s. Errada, tomada de caminho diferente do que se pretendia


seguir. (Na gria do caador de veado, designa o fato de, em sua
corrida, acuado pelos ces, saltar o animal perseguido, depois de
enredar o rasto, para dentro de um cerrado e nele permanecer vigilante,
pronto para reiniciar a fuga. Aps muito trabalho, d-se o relevante e
tem comeo nova perseguio).

PERDIDAO, adj. Superlativo de perdido.

PERDIGO, s. Variedade de perdiz maior do que a cadorna (Rhynchotus


ruzzescens).

PEREBA, s. Ferida de mau carter, de crosta dura, que sai geralmente no


lombo dos animais. // Mazela, sarna, cicatriz. // Aplica-se, tambm, s
feridas que saem nas pessoas. // Figuradamente, ponto fraco. // Var.:
Pereva, // (Parece provir do tupi-guarani, perebi, mancha de sarna).

PEREBENTO, adj. Que tem ou que sofre de perebas.

PEREQUE, s. Discuo, briga, barulho, rolo.

PERERECA, s. Pessoa pequena, buliosa, inquieta, que caminha rodopiando.


// Pio (brinquedo) rodando aos saltos.

PERERECAR, v. Dar o pio (brinquedo) saltos ou pulos.

PEREVA, s. O mesmo que pereba.

PERICO, s. O valete das cartas de jogo.

PERICON, s. Dana originria do pampa platino.

"Voz de aura! El pabelln


aflorando en las golillas

369

como ayer en las cuchillas


y siempre en el corazn.
Amargo de cimarrn,
sabor de patria oriental,
floraciones del ceibal
y repicar de iloronas
van punteando en las bordonas
el pericn nacional.

Baile criollazo! Sin l


no hay fiesta gaucha ninguna,
de noche es plata de luna,
de tarde es oro de miel,
es alegre cascabel
y ondulacin de juncal
es armonioso y marcial
chistoso y galanteador
y forma en guardia de honor
el Pabelln Nacional." ...
(Dcimas de Sandlio Santos,
Montevideo, Editorial "Fogn", 1954,
p. 36).

PERIGAR A VERDADE, expr. Parecer inverossmil um caso que se est


contando. "Se eu lhe disser exatamente o que aconteceu, at periga a
verdade", isto , at posso passar por mentiroso.

PERNEIRA, s. Bota de couro de potro. uma espcie de bota de couro cru


garroteado, usada no campo, que tirada, inteiria, da perna do potro e
moldada do cavaleiro. De couro de terneiro tambm se faziam perneiras.

PERNETEAR, v. Mancar, claudicar, coxear, pernear, espernear, patalear.

PERRENGADA, s. Poro de perrengues. // Grupo de indivduos fracos e


covardes. // Cavalhada ruim, matungada, pilungada.

PERRENGAGEM, s. Fraqueza, covardia, frouxido.

PERRENGUE, adj. Frouxo, covarde, ordinrio, desordeiro, sem prstimo,


sem mrito, em relao a pessoa. Sotreta, matungo, pilungo, que sofre de
manqueira crnica, em relao ao cavalo. (Etim.: Para alguns estudiosos
vem de p rengo, para outros vem de emperrar).

PERSONAL, adj. Pessoal (plat).

PRTIGO, s. Cabealho da carreta.

PERUANO, s. Cigano.

PESADO, adj. Diz-se de indivduo importante, poderoso, conceituado,


respeitado. // Azarado.

PESCANTE, s. Bolia de carruagem.

PESCOCEADOR, s. e adj. O mesmo que pescoceiro.

PESCOCEAR, v. Mover o redomo constantemente o pescoo para todos os


lados. No obedecer o redomo ao do lao, fugir ao bual com
movimentos de pescoo, no se deixar enfrenar, no permitir que toquem
nele. // Em sentido figurado, furtar-se a pessoa manhosamente, alegando
motivos descabidos, a pagar suas dvidas, a cumprir suas promessas, a
satisfazer seus compromissos. // Dar cachaes.

PESCOCEIRO, s. e adj. Diz-se de ou o animal ou a pessoa que pescoceia.


"Pra pegar um pescoceiro
Que h sempre algum na tropilha,
Desses que pouco se encilha,
No precisas ter cansao;
Que os bobos puxem o lao,
Fica-te tu na presilha."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
21 ed., P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1978, p. 51).

PESO DE CRIANA, s. Partido que se d em corrida de cavalos, constante


de permisso de que o parelheiro adversrio seja montado por corredor
muito leve, podendo, mesmo, ser um menino.

PESQUEIRO, s. Lugar onde se costuma

370

pescar.

pESSEGUEIRO-DO-MATO, s. rvore da famlia das rosceas, considerada


txica para o gado, relativamente comum no Rio Grande do Sul.

PESSUELOS, s. O mesmo que peuelos.

PESTEADO, adj. Diz-se de animal enfermo. // Aplica-se, tambm, s


pessoas.

PESTE DA MANQUEIRA, s. Peste da mancha, carbnculo.

PESTEIRA, s. Doena, achaque.

PETIADA, s. Poro de petios.

PETIO, s. Aumentativo de petio. Cavalo baixo, porm corpulento. //


Aplica-se, tambm, s pessoas. // Fem.: petiona.

PETICINHO, s. Diminutivo de petio.

PETIO, s. Cavalo pequeno, curto, baixo. Por extenso, pessoa de pequena


estatura.

PETIOTE, s. Peticinho. Aplica-se tambm s pessoas.

PI, s. Menino, guri, caboclinho. Designao dada a menor descendente de


ndio, que, nas estncias, presta pequenos servios, como dar recados,
pastorear ovelhas, recolher vacas de leite, cevar mate, e outros.
Diminutivos: Piazinho, piazito. Aumentativo: piazote. (Parece provir do
guarani).

"Vocbulo expresso de ternura com que as ndias guaranis


tratavam os filhos e as crianas em geral. Ey min che pi, - vem meu
querido. Vem meu amor." (Joo Cezimbra Jacques, Assuntos do Rio Grande
do Sul, P.A., Oficinas grficas da Escola da Engenharia, 1912, p. 240).

"Piazito carreteiro,
de bombacha remendada,
vai cantando pela estrada
a cano do boi barroso
que a tradio lhe ensinou.
Piazito carreteiro,
do cusco amigo e companheiro,
que nunca teve infncia,
pois no pde ser criana
porque a vida no deixou!"
(Luis Alberto de Menezes, in Antologia
da EPC, P.A., Sulina, 1970,
p. 219).

"Em fundo de magia transita um heri ainda no alcanado em toda


a sua grandeza, que teria sido, possivelmente, um piazito carreteiro.
Depois, quantas vezes esse obscuro piazito no teria sido convocado pela
Histria para se fazer o captulo mais comovente da gesta Farroupilha,
ou, como Osrio, para ser mescla de poeta e guerreiro sob o jugo do
destino?" (Moacyr Santana, in Antologia da EPC, P.A., Ed. Sulina, 1970,
p. 359).

"Chu!

Pequeno arroio do meu pago!


Pi sotreta...
Sempre a repontar o sinuelo das guas
que nascem distantes e morrem no mar."
(Anselmo Francisco do Amaral, in
Antologia da EPC, P.A., Sulina,
1970, p. 85).

"Depois de sua lida,


descansa o pi
pensando na vida
e ouvindo o galpo
que gesta de histria
de glria e de luta,
contada em silncio
no fogo de cho..."
(Carlinhos Castillo, Pi de Campanha,
in Tradio, P.A., 20.3.1977).

371

"Natal, rodeio fraterno


que a histria glorificou!
Esse Pai que te marcou
semeou Paz nos corredores.
Conheceu os dissabores,
que a humanidade oferece,
mas tinha sempre uma prece,
perdoando ofensas e dores!"
(Dias Francisco Fiorenzano, in
Antologia da EPC, P.A., Sulina, 1970,
p. 311).

PIALO, s. O mesmo que pealo.


... "e o sibilar dos pialos." (A. Maia, Runas Vivas, Porto,
Lelo & Irmo, 1910, p. 33).

PIO, s. O mesmo que peo. Pl.: pies e pieS.

... "quando no campo mourejavam os escravos, quando os pies se


ausentavam" (A. Maia, Runas Vivas, Porto, 1910, p. 98).

PIAVA, s. Piaba. Peixe muito apreciado pelo seu sabor.

PIAZADA, s. Ajuntamento de pis. Gurizada, merunada, garotada.

"Somente quando o Rio Grande


consolidou a fronteira,
o ensino abriu a porteira
piazada gacha."
(Kraemer Neto, Nos tempos da
velha escola, P.A., Sulina, 1969, p.
36).

PIAZINHO, s. Diminutivo de pi. O mesmo que piazito.

PIAZITO, s. O mesmo que piazinho.

PIAZOTE, s. Aumentativo de pi. Piazinho j meio crescido. Rapazote,


gurizote, meninote. (Para Romaguera, diminutivo de pi).

PICAO, adj. Diz-se do cavalo de plo escuro com a testa e as patas


brancas. // s. O pato selvagem, na gria dos caadores. // O trem de
ferro. (Etim.: Para alguns corruptela de pigaro ou picarso; para
outros tem origem no vocbulo platense picazo).

PICAO-BRAGADO, adj. Diz-se do cavalo picao com mancha branca na


barriga, na virilha ou no sovaco.

PICADA, s. Caminho, geralmente estreito, que se faz no mato, para


trnsito de cavaleiros ou de viaturas rsticas.

PICANA, s. Aguilhada. Vara comprida, com um prego na ponta, usada para


conduzir e para ferroar os bois de trao. (Etim: Parece provir de
picaa, vocbulo platino que serve para designar a parte do animal que
se fere com aquele instrumento).

PICANEAR, v. Ferir o boi com a picana.

PICANHA, s. Parte posterior e lateral da regio lombar da rs. Anca do


animal vacum ou cavalar.

PICO, s. Erva (Bidens pilosos) cuja semente preta e alongada adere


roupa das pessoas e ao plo dos animais. Goza da fama de possuir
propriedades teraputicas. Usa-se o cozimento de ramas e folhas em
gargarejos e lavagens para ligar feridas. // Pego. // O ferro da
aguilhada.

PICA-PAU, s. Alcunha dada pelos federalistas, na revoluo de 1893, aos


partidrios do governo. O feminino de picapau, em relao mulher deste
ou adepta do governo, era pica-poa ou pica-paula. // Espingarda de um
s cano, carregada pela boca, utilizada para a caa de pequenos animais.
O mesmo que taquari. // Arado primitivo, de uma s relha, puxado a bois.
PICA-PAULA, s. Feminino de pica-pau.

PICA-POA, s. Feminino de pica-pau.

PICARDIA, s. Perfdia, maroteira, desfei-

372

ta, ao vil. Procedimento zombeteiro.

pICARETA, s. Palheta, chapu de palha.

PICARIA, s. V. estribo de meia picaria.

PICAR-SE, v. Zangar-se (Alentejano antiq.).

PICARSO, adj. de cor grisalha. O mesmo


que pigarso.

PICHO, s. Filhote, cria.

PICHOLEIO, s. Jogo de cartas, ou outro qualquer, que em geral se


improvisa nas ramadas e barracas, no intervalo das carreiras, na
campanha.

PICHURUM, s. Puxiro, muxiro, pixurunI.

PICO, s. e adj. Pedacinho, pequena quantidade, diminuta frao.

... "e como pelo caminho percorrido, deixando uma lgua e pico
direita..." (A. Maia, Runas Vivas, p. 83).

"Gurizote eu era, de treze anos e pico. No podia entrar em


baile de gente grande," ... (Paulo de Gouva, O Gacho que eu no
conheci, Correio do Povo, Caderno de Folclore, 14/12/1976, p. 2).

"Um socilogo, que se fazia preceder de certo renome, realizara


no Teatro So Pedro, em Porto Alegre, uma conferncia de durao um
tanto prolongada, dessas que andam l pela hora e pico, como dizem os
nossos bons vizinhos do Uruguai." (Arthur Ferreira Filho, Conferncia
sobre Alcides Mia, Academia Passofundense de Letras).

PICO, s. Mala de fazenda com abertura no meio.

PICUM, s. Fuligem que se acumula sob o teto dos galpes ou das cozinhas
de cho. Teias de aranha enegrecidas de fuligem, sob o teto das casas. O
mesmo que pucum. (Etim.: Do tupi, apepocama.).

"Este ndio Juca era homem de passar uma noite inteira comendo
carne e mateando, contanto que estivesse acoc'rado em cima quase dos
ties, curtindo-se na fumaa quente... Era at por causa desta catinga
que chamavam-lhe - picum." (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do
Sul, P.A., Globo, 1973, p. 57).

PIGUANCHA, s. China, chinoca, caboclinha, moa, rapariga. // Mulher de


vida fcil. // O mesmo que biguancha, pinguancha, picuancha.
"A piguancha era linda e valia solita a pena de uma rascada."
(A. Maia, Alma Brbara, RJ, Pimenta de Melo & C., 1922, p. 85).

"Chinita, aquela piguancha,


que era to indiferente,
depois que eu virei valente,
s corre na minha cancha!"
(Humberto Feliciano de Carvalho,
Minha Estncia, Uruguaiana, Livr.
Novidade, 1964, p. 59).

PINGUANCHINHA, s. Diminutivo de piguancha.

PILA, s. Denominao que se dava antiga moeda de um mil ris.

PILCHA, s. Adorno, jia, dinheiro. Roupas, arreios, qualquer objeto de


valor. // Vestimenta tpica de gacho.

"Pilcha: Toda prenda de vestir o de montar. El origen de este


vocablo debe ser quichua o tal vez araucano." (Justo P. Saenz (h),
Equitacin Gaucha, Buenos Aires, Ed. Peuser, 1959, p. 251).

"Pilcha. S. F. Prenda de uso." (Fernando O. Assuno, Pilchas

373

criollas, Montevideo, 1976, p. 410).

"Para esse encontro sagrado


preceitua a liturgia
que o Padre se paramente
com seis pilchas de valia,
alm da batina preta
que o poncho de cada dia."
(Pe. Paulo Aripe, As Pilchas Sacerdotais,
in Antologia da EPC, P.A.,
Sulina, 1970, p. 281).

"Boas pilchas, bem montado,


Em lindo pingo tostado,
No se dava por perdido."
(Jacyr Menegazzi, Alma do Gacho).

"Encontrei esse gaudrio


Num comrcio de carreira,
Onde fui mostrar as pilchas
Pra filha da quitandeira
Que era a prenda mais linda
Deste lado da fronteira."
(Rui de Oliveira Brando, Do Salatino).

PILCHADO, adj. Trajado com vestimenta tpica de gudio.

"Frei Damio tinha admirao profunda pelo tradicionalismo da


terra, e era muito comum v-lo pilchado, com seu pala branco, o revlver
cinta, guaiaca larga de gacho, irradiando folclore." (Ennio Farias de
Abreu e Marisa da Costa Abreu, Bom Jesus - Histrias de uma Cidade,
UCS-EST, 1977, p. 96).

PILCHAR-SE, v. Vestir-se com trajes tpicos de gacho.

PILCHUDO, adj. Que tem boas pilchas. Ricao.

PILETA, s. Pia ou tanque.

PILHA VOLTA, s. Pilha em que se amontoa a carne que se retira dos


tanques de salmoura, nos saladeiros.

PILHOTE, s. Pilha pequena.

PILOTO, s. Agrimensor. // Variedade de tecido, espcie de briche.

"Queixava-se o magistrado de que, sem o Piloto, 'me vejo sem


poder exercer as funes do meu cargo, tendo medies para fazer j
requeridas e outras por ordem do Desembargo do Pao'." (Srgio da Costa
Franco, Origens de Jaguaro, IEL/UCS, 1980, p. 68).

PILUNGADA, s. Poro de pilungos.

PILUNGO, s. Cavalo velho, ruim, imprestvel. O mesmo que matungo.

"Em pilungo at gua velha d coice" (Popular).

PINCHAR, v. O mesmo que apinchar.

PINCHAR-SE, v. Lanar-se, atirar-se ao cho.

PINCHO, s. Alfinete de gravata.

PINDABA, s. V. a expresso estar na pindaba.

PINDOCAR, v. Descascar os gros de milho a serem modos para biju.

PINGAO, s. Aumentativo de pingo. Cavalo vistoso, bom e bonito.

"Gacho velho largado


pede aqui um intervalo
pra decantar seu cavalo,
seu pingao de renome,
que no teme lobisome
nem de cucharra pealo."
(Dirceu Pires Terres, O Meu Cavalo
Crioulo, in Antologia da EPC, P.A.,
Sulina, 1970, p. 153).

PINGADA, s. Grande nmero de pingos, poro de cavalos. // Ao de


pingar.

374

PINGO, s. Cavalo bom, corredor, bonito, vistoso, fogoso, rdego.

"Desconfiamos sempre que pingo = cavalo bom, forte e belo no


proveio imediatamente de pingo - poro minscula de qualquer substncia
lquida. O arcaico e o latino sentido do vocbulo, que estava exterior e
internamente relacionado com o adjetivo pingue, despertou-me aquela
dvida. O nervoso e sadio, arengueiro e gil eqino que, no Rio Grande
do Sul, Argentina e Uruguai, merece o nome de pingo, nada, nada, nada,
tem que ver diretamente com pingo de gua, pingo de vinho, pingo de
cera. Quanto a seu afastado e j nevoento timo, sim, aquilo e isto
apresentam parentesco. Se recuarmos ao latim e aos radicais anteriores
lngua de Virglio, ento averiguaremos que o substantivo em estudo e o
adjetivo pingue foram irmos semnticos e tambm morfolgicos.
Considerando, afinal, que houve esta aproximao e que a idia de pingo
= cavalo belo, forte e bom, deriva do conceito de animal farto,
lustroso, magnfico, comearemos a descobrir uma pontinha da oculta
verdade." (Slvio Jlio, Pingo, in Lanterna Verde, Boletim n 8 da
Sociedade Felipe de Oliveira).

" medida que as patas dos pingos encurtavam a distncia,


aumentava a dramaticidade lenta daquela narrativa," ... (Francisco
D'vila flores, ltimo Rasto, P.A., 1958, p. 69).

"Meus olhos de guri e de homem, caram sobre o pingo encapado,


numa nsia de revelao." (Manoelito de Ornellas, Mscaras e Murais de
Minha Terra, P.A., Globo, 1966,p. 195).

PINGOTEAR, v. Pingar. "O poncho est todo pingoteado de sebo", isto ,


est todo pingado de sebo.

PINGUANCHA, s. O mesmo que piguancha.

PINGUELA, s. Ponte improvisada sobre um pequeno curso dgua, em geral


com um tronco de rvore. "Cusco rabo no passa, em pinguela." (Ditado
popular).

PINHO, adj. Diz-se do animal cujo plo tem cor vermelha, semelhante
do pinho.

PINHEIRO, s. rvore de grande porte, da famlia das araucanceas


(Araucaria angustifolius). nativa das regies altas do sul do Brasil.
Suas folhas, lanceoladas, duras e pontudas, tm a denominao popular de
grimpas. As grimpas, quando secas, prestam-se para a feitura de fogo,
que se acende rapidamente, mas de pouca durao. Os frutos do pinheiro,
os pinhes, constituem excelente alimento, podendo ser utilizados
cozidos, assados, ou sapecados em fogueiras de grimpas. A madeira
excelente para construes. Os ns que se formam na base dos galhos so
de grande dureza e longa durao e prestam-se para trabalhos de
artezanato. Servem, tambm, os ns, para fazer-se fogo forte, com brasas
que permanecem longo tempo produzindo calor. A casca, grossa e pesada,
tambm tima para produzir brasas. Como o umbu e a figueira, o
pinheiro uma das rvores simblicas do Rio Grande do Sul. // Espcie
de fandango, dana antiga do Rio Grande do Sul.

"O Pinheiro Araucrio - Essa magestosa rvore, alm do seu fruto

375

altamente nutritivo, das virtudes medicinais da sua seiva e da fumaa


dos seus ns, quando queimados para pessoas afetadas dos pulmes, uma
fonte de riqueza, para os que o serram e vendem seu abundante taboado."
(Hemetrio Jos Velloso da Silveira, As Misses Orientais e seus Antigos
Domnios, de 1909, reed. da Cia. de Seguros Gerais, P.A., 1979,p. 136).

"Explicou que se deixara, ento, novamente atrair pelos vastos


campos da regio serrana, semeada de bem nutrido gado, de graciosas
coxilhas e de capes, em que ainda hoje predominam, em sua severa
monotonia, os pinheiros, cujos troncos l tantas vezes impressionam pela
sua pasmosa enormidade." (Tio Tito, Aventuras de um Tropeiro, P.A.,
Gundlach, 1940, p. 103).

"Ao danarem o pinheiro, eis as quadrinhas cantadas:

Do pinheiro nasce a pinha,


Da pinha nasce o pinho;
Do homem nasce o cime
Da mulher a ingratido.

Quem tem pinheiros tem pinhas,


Quem tem pinhas tem pinhes,
Quem tem amores tem zelos
Quem tem zelos tem paixes.

Oh! que pinheiro to alto


Com tamanha galharada,
Nunca vi moa solteira
Com tamanha filharada.

Oh! que pinheiro to alto


Que por alto se envergou,
Que menina to ingrata
Que de ingrata me deixou."
(Joo Cezimbra Jacques, Assuntos
do Rio Grande do Sul).

"Pinheiro.

Guarda-sol verde-negro da serra!


Dominador altivo das plancies,
das coxilhas, dos descampados
da regio serrana do Rio Grande,
- pinheiro! -
s do homem desta terra,
destes guascas largados
um smbolo perfeito.

Altaneiro e ousado,
ergues tua fronde esparsa em desalinho,
como melenas de um revoltado,
e no a abaixas jamais!
Altivo e nobre, afrontas, sem receio,
as prprias tempestades,
mas sempre acolhes bondosamente,
sob tua trana, entre tua rala galharia
a passarada toda, todo esse mundo de aves
que for procurar-te.
A tudo e a todos ds a frescura e a alegria
de tuas sombras escassas mas suaves
e puras como a Arte.
E forneces ao homem
as tbuas para o teto,
aqueces-lhe o fogo,
ds-lhe a resina,
ds-lhe o pinho.

Pinheiro!

Bem como tu, prestante, nobre, hospitaleiro,


o serrano, altivo como um deus,
justiceiro e correto.
Desconhecendo o medo o habitante da serra
arrosta tudo de fronte erguida,
desdenhosamente
sorrindo para a morte... - ou para a vida...
Valente, ceder no cede nunca

376

ao despotismo e prepotncia!
Morre, sim, mas lutando
heroicamente,
ora quebrando, ora matando,
tal como tu, pinheiro,
guarda-sol verde-negro da serra,
esse lindo pedao do pampa,
pedao de minha terra!"
(Walter Spalding, Pinheiro, in
Versos Crioulos, ed. do "35 Centro de
Tradies Gachas, P.A., 1951,
p. 127).

"Nunca mais hei de esquecer


aquele aspeto soberbo
que o pinheiro apresentava
na noite quando o banhava
um luar branco de prata.
At cheguei a pensar
que nos seus galhos nodosos
que deviam morar
os tais gnios misteriosos
que algum diz haver na mata."
(Zeno Cardoso Nunes, O Causo do
Pinheiro).

PINHO, s. Viola, violo.

PINICAR, v. Esporear.

PINICO, s. Penico.

PINOTEAR, v. Dar pinotes, corcovear.

PINTA, s. Caracterstica que se nota no gado que autoriza supor-se ter


ele sangue de boas raas.

PINTADO, adj. Mosqueado, cheio de pintas. // Peixe silurdeo, existente


em quase todos os rios do Estado.

PINTO, adj. Diz-se do fruto que est comeando a amadurecer, que est
pintando. // Mestio.

PINTAR, v. Comear a aparecer alguma coisa. Dar o gado mostra de que


est comeando a engordar.

PIOA, s. O mesmo que peona.

PIOLA, s. Cordo, barbante, pedao de corda.

PIOLAO, s. Golpe dado com piola.

PIOLHAMA, s. Piolhada, piolheira, grande quantidade de piolhos.

PIONA, s. O mesmo que peona.

PIONADA, s. O mesmo que peonada.

PIONAGEM, s. O mesmo que peonada.

PIPOCA, s. Gro de milho arrebentado ao fogo. Variedade de milho


especial para arrebentar pela ao do calor. (Etim.: Do tupi, opc,
arrebentar, estourar, estalar).

PIPOCAR, v. O mesmo que pipo quear.

PIPOQUEAMENTO, s. Ao de pipoquear.

PIPOQUEAR, v. Arrebentar. estalar como pipoca. Crepitar. O mesmo que


pipocar.

PIQUANCHA, s. O mesmo que piguancha.

PIQUE, s. Picada estreita no mato, para trnsito a p ou de cavaleiro e


cargueiro. // Provocao, deboche, rixa, pouco caso.

PIQUETE, s. Pequeno potreiro, ao lado da casa, onde se pe ao pasto os


animais utilizados diariamente. // Animal que mantido preso para ser
encilhado a qualquer momento, sendo, neste caso, o mesmo que piqueteirO.
// Tarefa de todos os dias, trabalho habitual. // Em sentido figurado,
aplica-se s pessoas que a todo momento esto sendo ocupadas por outros
para servios. // V. as expresses tirar para piquete ou tomar para
piquete.

PIQUETEAR, v. Encilhar muito freqentemente um animal de montaria,


aproveitando-o para todo o servio, s vezes com o objetivo de completar
o seu

377

amansamento. Costear.

"Pingo que no sovado


logo embarriga e se ala.
Mas sogueado e piqueteado
aleviana e adelgaa."
(R.C.N.).

PIQUETEIRO, s. e adj. Diz-se de ou o animal de montaria que se mantm


sempre preso, perto da casa, para ser utilizado a qualquer momento.
Piquete.

PIQUI, s. O mesmo que guatambu.

PIRACANJUBA, s. Peixe dos rios da bacia do Uruguai, com mais ou menos 25


centmetros de comprimento, que vive em cardumes.

PIRAGU, s. Embarcao feita de tbuas, utilizada para o transporte de


erva-mate e de Outros artigos, no alto Uruguai.

PIRATINIM, s. Atual Piratini. Foi capital da Repblica Rio-Grandense,


proclamada por Antnio de Sousa Neto, a 11 de setembro de 1836.

"A vila de Piratini foi escolhida para capital da Repblica


Rio-grandense. Dispunha de timos edifcios onde instalar os servios
pblicos, ocupando uma posio central, e oferecendo, por sua
topografia, vantajosas condies defensivas, no caso muito provvel de
vir a ser atacada pelo inimigo." (Arthur Ferreira Filho, Histria Geral
do Rio Grande do Sul, p. 81).

"Pelo nome de Repblica de Piratini designa-se geralmente, no


Rio Grande do Sul, o movimento revolucionrio que, irrompendo em 20 de
setembro de 1835, na cidade de Porto Alegre, capital da ento provncia,
abalou profundamente os alicerces do Imprio do Brasil e s se extinguiu
dez anos depois da irrupo inicial, pela paz amigvel de Ponche Verde,
celebrada entre Caxias e Canabarro, no dia 19 de maro de 1845. O abalo,
que s vezes alcanou outras provncias, como por exemplo, Santa
Catarina, teve um carter acentuadamente democrtico, republicano e
federalista." (Mansueto Benardi, A Guerra dos Farrapos, P.A., Sulina,
1981,p. 13).

"Viva Piratini! Alto, bem alto


Como escondido ninho de guias
O teu lugar no canto que ora exalto
E em cuja fama a rubra flor viceja.
Entre bandeiras mil, alto to alto
Onde no chegue o p da humana inveja
E recebas num crculo de rosas
O beijo das estrelas luminosas."
(Barcelos Ferreira, Piratini).

"Foi eleito presidente


Na vila Piratinim
O ilustre Jos Gomes
De Vasconcelos Jardim."
(Simes Lopes, Cancioneiro Guasca,
P.A., Globo, 1954, p. 176).

PIRCHA, s. Dinheiro.

PIRCHAS, s. Arreios finos, enfeitados.

PIROCA, s. Pnis do menino.


PIRRALHO, s. Guri, menino, pessoa muito mida.

PIRUA, s. Gro de milho que deixa de arrebentar ao se preparar a pipoca.

PISAR, v. Lastimar. "O guri pisou o dedo na porta."

"E o homem de ao moureja, moureja.


Se o morde a desgraa, no reza, pragueja.
porm no espanta a misria do lar.
Morcegos, cuidado. Prudncia mor-

378

(cegos.
Sugai de vagar as artrias pisadas
que o sangue, jorrando, vos pode afogar."
(Zeno Cardoso Nunes, Morcegos).

PISAR EM BRASAS. expr. Andar com a maior cautela, sestrosO, atento a


tudo.

PISAR FORA DO REGO, expr. Proceder incorretamente, no manter conduta


digna, deixar de fazer o que foi determinado.

PISAR NA ORELHA, expr. Sair o cavaleiro de p, na rodada do animal.

"Lindo ver uma rodada


Quando o gacho campeiro
Pisa na orelha do pingo
Sai caminhando ligeiro
Ainda dando rizada
Olha para o companheiro."
(Edegar Motta, Pginas de minha
Terra, P.A., Martins Livreiro-Editor,
1980, p. 44).

"Num repente o matungo tropeou num cocuruto e rodou


desamparado. E o velho gacho, que em sua mocidade costumava pisar na
orelha nas rodadas, saindo de 'rdea na mo', foi imprensado contra o
solo pedregoso, com os OSSOS partidos e a carne estraalhada." (Amilcar
Souza da Silveira, Ultimo Rodeio, in Correio do Povo, 10-10-1976).

PISAR NO MUNDO, expr. Fugir, ir embora.

PISAR NO PONCHO, expr. Provocar, ofender, dirigir indiretas ofensivas.

"No poncho ningum me pisa


que eu, sendo guasca, sou forte."
(Manoel Faria Corra, Rumo aos
Pagos).

"Sou buenao e ponderado,


De alma alegre e divertida.
Mas se meu poncho pisado,
Tenho at nojo da vida!"
(Lucubro Brito. Milongueando, in
Antologia da EPC. P.A, Sulina.
1970.p. 176).

PISAR NO TEMPO, expr. Fugir, ir embora.

PISOTEAR, v. Espezinhar, pisar, humilhar, magoar, amassar, calcar aos


ps. Abater, aniquilar a outrem com palavras. (Etim.: termo
castelhano, empregado em lugar do portugus espezinhar).

PISOTEIO, s. Ao de piso tear. Lugar pisoteado pelos animais.

"O pisoteio cotidiano dos cavaleiros e a parada do gado impediam


o aparecimento da grama" (Joo Maia, Pampa, p. 95).

PISTOLA, adj. Diz-se do co que no tem rabo, pitoco.

PITANGA, s. Fruto da pitangueira. V. a expresso chorar pitanga.

"Vermelho que nem pitanga - Diz-se dos lbios das chinocas e


prendas e, tambm, de quem fica ruborizado, encabulado ou furioso, pois
h os que se ruborizam de raiva. Emprega-se igualmente para definir
inflamao ou machucadura nos olhos, que os torne vermelhos,
sangneos." (Walter Spalding, Ba de Estncia).

"Tua boca um monumento


de beleza e formosura,
teus lbios tm a doura
de um esquisito licor
Nctar macabro do amor
com gostito de pitanga
que a gente lava na sanga
pra que tenha mais sabor."
(Dorval Azambuja Arregui, Chinoca,
in Antologia da EPC, P.A., Sulina,
1970, p. 151).

379

PITANGUEIRA, s. rvore da famlia das Mirtceas (Eugenia michelli,


Berg.), que vegeta geralmente nas beiras de rio.

PITAR, v. Fumar.

PITAR DO VICENTE, expr. Passar trabalho, sofrer, padecer.

PITINGA, s. Gramnea das matas do Alto Uruguai, de colmo semelhante ao


da taquara, porm mais fino e mais tenro, constituindo excelente
forragem, muito apreciada tambm pelas antas e veados.

PITO, s. Cigarro. // Ralho, cano, advertncia. // (V. as expresses


estar de pito aceso e sossegar o pito).

"Inda, mde o pingo, de estimao, olhou de frente o cu, com


uma praga, e acendeu no mais o pito, sem tremor." (A. Maia, Alma
Brbara, RJ, Pimenta de Melo & C., 1922, p. 83).

"Os gachos que morreram


andam de noite correndo carreira no cu
e levantam na estrada a polvadeira luminosa da via-ltea.
O ar fica todo cinzento da fumaa dos seus pitos
que os homens ignorantes chamam de estrelas.
Mas os gachos que morreram so to bons,
que no falam nem gritam dentro da noite
para no despertar nas canhadas o gado que dorme..."
(Pedro Vergara, Terra Impetuosa).

PITOCO, adj. Rabo, que tem rabo curto, sem rabo, de rabo cortado. //
Pequeno, curto, baixo, petio. // Diz-se do objeto comprido a que falta
um pedao. // Diz-se da pessoa que no tem uma das falanges dos dedos.

PITO-DE-SACI, s. Nome dado genericamente s moscas sulfdeas.

PITOQUEAR, v. Rabonar, encurtar, aparar, atorar alguma coisa de modo a


torn-la mais curta.

PIXAIM, adj. Diz-se do cabelo encarapinhado. (Etim.: do Tupi, tapixaim,


crespo, ou do guarani, apixaim, coisa enrugada).

PIXOTADA, s. Ao de pixote.

PIXOTE, s. Indivduo que alardeia proezas que no capaz de executar.

PIXOTEAR, v. Proceder como pixote.

PIXU, s. Fumo forte e ruim.

PIXURUM, s. Pixuru, pichurum, puxiro,


muxiro.

PLANCHAO, s. Pancada dada de prancha com o faco, a adaga ou a espada.


Panzio, planchada. O mesmo que pranchao.

PLANCHADA, s. O mesmo que planchao. // Queda de lado do animal.

PLANCHADO, s. Tora grande de madeira, falquejada de dois lados para que


se adapte convenientemente serra do engenho.

PLANCHADOR, adj. Animal que se plancheia, ou cai de lado, com


facilidade.

PLANCHAR, v. O mesmo que planchear.

PLANCHEAR, v. Cair o cavalo de lado com o cavaleiro. Levar uma planchada


(queda).

PLANISTA, adj. Velhaco, estradeiro. V. a expresso passar o plano.

PLANTAR FIGUEIRA, expr. Cair do cavalo. Cair, levar uma queda.

PLANTAR O RELHO, expr. Bater de relho, surrar.

PLANTAR-SE NOS ARREIOS, expr. Firmar-se bem nos arreios, resistindo aos
corcovos do animal, sem cair.

380
PLANTEL, s. Grupo de animais, especialmente bovinos e eqinos, de raa
selecionada, que o criador conserva para a reproduo.

PLASTA, s. Pessoa intil, moleirona, sem serventia. // Massa, pasta.

PLASTADA, s. Plasta, no sentido de massa, pasta, substncia de


consistncia branda, que se encontra espalhada e como que achatada, no
cho, na roupa etc.; posta. Assim, diz-se plastada de barro, de sangue,
etc.

PLASTANA, s. O mesmo que plasta.

PLATA, s. Prata,dinheiro. termo espanhol.

PLATAL, s. Soma considervel de dinheiro. "Fulano tem um platal na


guaiaca", isto , tem muito dinheiro na guaiaca.

PLVIA, s. Gente ruim, desclassificada, de maus costumes. A canalha,


bagaceira, ral.

PLUMO, s. Prumo.

POBRADOR, s. Habitante, morador (Antiq. em Portugal)

POBRAR, v. Povoar (Antiq. em Portugal).

POBRERIO, s. Poro de pobres. A classe pobre.

... "mandou distribuir tambeiros e leiteiras, cvados de baeta e


baguais e deu o resto de mota ao pobrerio." (Simes Lopes, Lendas do
Sul, P. 64).

"Conseqncia inevitvel desse desequilbrio so os chamados


pobrerios onde se condensa, em torno das cidades ou povoaes da
campanha, a vasa humana que a economia latifundiria deita margem de
suas atividades." (Moyss Vellinho, Letras da Provncia, P.A., Globo,
1960,p. 157).

POCEIRO, s. Pessoa que faz poos, que trabalha em poos, para a obteno
de gua.

POO, s. Buraco que se abre no solo para obteno de gua. // Lugar


profundo de rio ou sanga.

POUCA, s. Indivduo que pouqueia, filante, importuno, pedincho. O


mesmo que pouqueador.

POUQUIEADOR, s. O mesmo que pouca.

POUQUEAR, v. Filar, importunar, pedinchar. // Pedir alguma coisa


emprestada com a inteno de no a devolver.

PODERAMA, s. Muitas coisas, coisas em demasia.

PODRE DE MANSO, expr. Diz-se do animal muito manso, de toda a confiana.

POEIRA, s. e adj. Indivduo valente, mau, encolerizado, iracundo,


zangado. "Aquele sujeito um poeira, cuidado com ele". "Ao ouvir a
verdade o cabra ficou poeira". // Aplica-se tambm aos cavalos.

POESIA CRIOULA, s. V, poesia gauchesca.

POESIA GACHA, s. V. poesia gauchesca.

POESIA GAUCHESCA, s. Modo de expresso literria peculiar aos poetas


nativistas do Rio Grande do Sul. Esta denominao abrange todas as
formas de poesia,as quais, no entanto, no trato de temas rio-grandenses,
adquirem caractersticas especiais. , tambm, chamada "poesia gacha",
"poesia nativista do Rio Grande do Sul" e "poesia crioula".

"Os nossos maiores cultores eram da poesia, no s em forma de

381

soneto, de sextilhas e dcimas, como em forma de quadra a que se tem


denominado poesia popular, to simples quanto espontnea e expressiva.
Este gnero da poesia usado em todo o Brasil, nas Repblicas do Prata
e mesmo em outros pases. Porm aqui, como nas ditas Repblicas, h uma
classe de versos da referida poesia que se tem denominado Poesia Gacha
ou Gauchesca, a qual caracterizada pelo estilo agauchado e
classificam-na de largada quando ela puxa muito a esse estilo." (Joo
Cezimbra Jacques, Assuntos do Rio Grande do Sul, P.A., Of. da Escola de
Engenharia, 1912).

"Entretanto os cochilos no chocam tanto como a palavra


gauchesco em substituio de gacho. Os senhores que empregam esse termo
certamente no foram criados na campanha e no tm o vivo sentir das
expresses usadas nela. Se assim fosse, mostrariam repulsa por esse
falso substituto. Vai para mais de um lustro que alguns literatos da
Capital, de nomes feitos e consagrados, querem aclimatar esse neologismo
entre ns. Mas, h muitos decnios que a palavra simblica de duas
slabas que nos caracteriza transps as fronteiras rio-grandenses. De
alguns anos a esta parte os nossos amveis patrcios, da Capital e
outros Estados, nas suas habituais gentilezas, nos alcunham de gachos
exatamente por darem a essa palavra uma expresso de galhardia e
elevao com que nos lisonjeiam e distinguem. Por que pois
substitu-la?! ... (Severino de S Brito, Trabalhos e Costumes dos
Gachos, P.A., Globo, 1928, reed. pela Cia. Unio de Seguros Gerais, p.
90-91).

"Do que acima se d balano, pode-se ver, em ligeira amostra, a


variedade de ritmo das composies dos poetas gauchescos, por que no
pode ser escorraada da invernada da potica gauchesca nem a quadrinha
nem o verso livre, por mais adeptos que sejamos do convencionalismo das
sextilhas e do verso de sete slabas, da dcima ou da oitava. Nem
poderemos, sem flagrante e imperdovel injustia com o acervo literrio
do gauchismo, desprezar o soneto, a frmula mais rebuscada em que j se
versejou assuntos campeiros. Porque a tnica dominante na poesia
gauchesca no tanto a forma, a estrutura do verso, como a sua
fidelidade ao tema, a exaltao do personagem e da sua obra, o contedo,
a substncia telurizante, o desdobramento da velha seiva lrica de que
o chimarro o verde sangue materializado.
Como concluso maior, e que exige meditao, temos a verificar
que o gacho quando verseja o faz conservando a fidelidade ao seu
individualismo, fugindo a escolas, mantendo o seu penacho de monarquia.
Cultivando ritmos e mtricas distintas, e at mesmo abolindo a metrica,
conservador ou modernista, ele no cai na rotina das escolas, fornecendo
esse modo de ser a tpica chave mestra da interpretao do mrito da sua
poesia. (Hugo Ramrez, Anais do 1 Congresso de Poetas Crioulos do
R.G.S., P.A., Imprensa Oficial, 1958, p. 106).

"No direi que a poesia do Rio Grande a mais bela do Brasil,


porque beleza sempre beleza eleita de cada um. Mas em nossa poesia
que h clares de lanas e espadas ao sol, o tropel de cavalos em
dispara-

382

da, que como vendaval que a terra e patas de cavalos produzem, melodia
de guas, pauSas que so silncios enormes, cambianas de verde, rubores
de alvoreceres, esmaecimentos de crepsculos que somente a ns
pertencem. E depois, essa enorme melancolia, que amplitude e silncio
sabem fazer.
A nossa poesia a nossa histria, tanto quanto a melhor prosa
que anda por a. A poesia do Rio Grande a biografia do Rio Grande. E
somente no retorna ao lugar-comum porque, no que se refere ao Rio
Grande, o conceito tem tons de verdade absoluta. Todas as poesias, de
verdade, refletem terra, idiomas, motivos, poca e emoes singulares.
Um poema nordestino se identifica nos primeiros versos; das reas
velhas, penetradas de civilizao, tambm revela essa sabedoria, esse
cansao, as doloridas inquietaes que vm no rio do tempo e da histria
desde quando o homem se perguntou a si mesmo: - mas qual, em verdade,
o sentido ltimo da existncia?
E houve o tempo do herosmo, motivo e constante, sem moldura
paisagstica, presente, apenas os cdigos da bravura e da honra. Mas
afinal, que fez a Histria de ns? Deu-nos o espao de ningum,
mandou-nos para as planuras do sem- fim, ps nossa frente surpresas
geogrficas e adversrios que buscavam os mesmos caminhos que ns
buscvamos.
Depois veio a guerra, a guerra que convoca heris, ressalta os
pusilnimes, registra as covardias, no esquece as renuncias, pe relevo
nas grandezas e emoldura as misrias. Essa guerra, to particular e to
nossa, se outro bem no tivesse buscado, se seus motivos no fossem to
nobres, ter-nos-ia deixado, pelo menos, a idia de nossos traos
espirituais, o perfil de nossa alma, como povo. Tudo isso foi revelando
nossa poesia, nesse passo tardo e exato da histria.
Tivemos, na seqncia evolutiva, o ciclo do trabalho no campo,
na lida spera do campo, domando potros, marcando o gado, conduzindo
tropas.
E esse estgio tambm est na poesia do Rio Grande.
No fomos diferentes de ningum, de outros povos, de outras
raas ou civilizaes. Fomos ns mesmos: conquistadores na hora da
conquista; guerreiros na hora da guerra; trabalhadores na hora do
trabalho. E de tal forma foi essa poesia demarcada no tempo, situada no
seu ciclo histrico, que poderamos, em relao a ela, prescindir de
datas. Houve uma linguagem de cada ciclo, glosando o tema ou o mote que
a prpria histria nos deu. A histria ou a sociologia. Renan lembrava
que 'nem um homem deve ser mais inteligente que sua terra', querendo
assinalar, de certo, que essa ocorrncia significa uma ausncia de
identificao. Isto no aconteceu no Rio Grande. Cada gerao que
chegou, chegou no momento exato, para registrar o seu tempo, que foi de
ambio e de esperana, de f e sonho, de paz e trabalho. Um poeta houve
que, chegando depois de um largo espao de lutas intestinas, quando a
paz j se estendia pelos espritos como a doura de uma manh de abril,
deu a

383

seu livro o ttulo de "Terra Convalescente". At os ttulos de nossos


livros serviriam para confirmar minhas assertivas e um estudo desses
ttulos poderia dar um belo e singular ensaio literrio. Literrio e
filosfico tambm.
Mas, se me pedissem a tnica predominante, o tom essencial, o
mote mais constante, a feio mais particular, a fonte que no seca em
nossa inspirao, eu diria que a paisagem, to forte, to dominadora,
que est nos versos da conquista, na poesia de nossa guerra, na
inspirao de nossos poetas do trabalho e da paz." (Moacir Santana,
Nuanas Estticas da Poesia Gauchesca - Palestra proferida no XIV
Congresso da Estncia da Poesia Crioula, in Antologia da EPC, P.A.,
Sulina, 1970,p. 350-352).

"O sr. Alberto Zum Felde, na sua aguda e brilhante Crtica de la


literatura uruguaya, assevera que, no Prata, "la autentica poesa
gauchesca tena poco de lyrica y nada de subjetiva; era puramente
narrativa o epigramatica, al modo de los romances y coplas espaolas,
cuya es su procedncia."
"Ni en los cielitos y dialogos de Hidalgo, - acrescenta Zum
Felde -ni en el largo relato descriptivo de Ascasubi, ni en otras
composiciones de gnero gauchesco de aquel entonces, se encuentra la
expresin de sentimientos intimos, de pasiones, de estados subjetivos.
Especie de crnicas en verso, sus motivos son siempre: la narracin de
hechos o el comentario politico.
Em abono da sua these, allude, a proposito, a "la produccin
maestra del genero, el Martin Fierro", que "es un poema narrativo, de un
saboroso realismo, con mucho ingenio y filosofia, de intenso inters
dramatico en ciertos pasajes, pero sin elemento lirico".
Nisso, o folk-lore rio-grandense difere, fundamentalmente, do
platino.
Ao contrrio deste, sua nota caracterstica o subjetivismo, o
tom lrico e sentimental.
Suas estrofes mais tpicas, mais eloqentes so, com efeito, as
inspiradas pelo amor, principalmente aquelas que interpretam bruscas e
rudes crises passionais. A mulher foi grande, quase nica inspiradora
dos nossos trovistas annimos... Ao homem, para ser homem, S uma prova
se requer: ter sempre, no pensamento, mulher, mulher e mulher...
Nesse particular, como em tantos outros, no poderiamos negar
nunca que descendemos de portugueses, dos quais afirmava Cervantes, com
ironia, serem suscetveis de morrer de amor...
No gnero lrico, encerra o nosso cancioneiro quadras de
comunicativa emoo e rara delicadeza. Estas, por exemplo, atribudas a
Pedro Canga (Pedro Muniz Fagundes), poeta popular, que viveu no sul do
Estado, ao alvorecer do Sculo XIX:

Troncos secos deram fruto,


o campo reverdeceu;
at pararam os ventos,
no dia em que o amor nasceu.
Troncos secos deram fruto,
o campo reverdeceu;
riu-se a prpria natureza
no dia em que o amor nasceu.

Mostrando-nos o gacho, agreste

384

e enrgico, vencedor de touros e de potros, assim inteiramente submisso


mulher, assim dcil s imposies do amor, no querem, contudo, dizer
que ele se resigne, em qualquer emergncia, condio de ttere do
eterno feminino. Justamente porque o amor lhe mergulha no corao razes
fundas e absorventes, nele flamejante o cime e as traies
sentimentais exigem tremendas vinganas espectaculosas.
So assim (ou eram assim?) os rio-grandenses...
Seriam, realmente, to diferentes deles, sob esse aspecto,
uruguaios e argentinos?
O ilustre sr. Zum Felde, de cujo talento e de cuja larga viso
sociolgica o Proceso histrico del Uruguay a mais alta e vibrante
exteriorizao, apresenta como crtico literrio, seno o defeito, o
inconveniente de ousadas generalizaes, a que, para pior, imprime
habitualmente cunho categrico, axiomtico.
A leitura da Historia de la literatura argentina, do sr. Ricardo
Rojas, volume 1, capitulo VIII, sob a epgrafe "Poesia lrica de
nuestros campos", conduz, irremessivelmente, convico de que o sr.
Zum Felde exagerou a deficincia de carter subjetivo no folk-lore do
Prata, pelo menos no que toca Argentina. Efetivamente, o que o sr.
Rojas prova, quando reproduz e comenta quadras como as seguintes, que
intenso, ardente sopro lrico anima a poesia popular de sua ptria:

La piedra, con ser la piedra.


Al golpe del eslabn,
Llora lgrimas de sangre:
Que ser mi corazn!
El verte me da la muerte,
El no verte me da vida,
Ms quiero morir y verte,
Que no verte y tener vida.
No tan slo es asesino,
El que nos dava um pual:
Olvidar el hombre que ama,
Tambien es asesinar.

V-se, por a, que nem s os portugueses e sua prognle americana se


deixam matar pelo amor. Tambm os espanhis d'aqum e d'alm mar, so
frgeis e quebradios, sob as mos mitolgicas de Eros..." (Joo Pinto
da Silva, Histria Literria do Rio Grande do Sul, P.A., Globo, 1924, p.
3740).

"Conseqentemente, atravs a novidade da concepo das coisas


rio-grandenses, retraadas em sntese, notai o ritmo novo destes versos,
de um equilibrado modernismo na gaucheria literria, ainda inditos
(Enfeixados, em 1927, no livro Alma Viva do Rio-Grande, de Salis
Goulart), aliando, intensamente, numa idealizao de motivos da nossa
alma e da nossa vida, as imagens histricas natureza regional:

"Aqui de cima da montanha,


Onde se avista ao longe, em baixo, o mapa do Rio Grande;
Rios colubrejando pelas vrzeas,
A depresso dos vales florescendo,
A mancha enorme das serranias, o vulto das montanhas,
Com seu cocar de folhas verdes flabelando
Entre as cintilaes intensas das estrelas
- Miangas vtreas com que adornam os cabelos,
Como ndias ofertando a carnadura virgem
Para o beijo do sol de um festa pa-

385

(g;
(...)
A terra em baixo, alm, um jardim enorme
Com 'bouquets' de capes esparsos pelo campo
Em cuja sombra descansara Saint-Hilaire.
Um gacho ao p do rancho est prendendo
O seu cavalo sob os ramos protetores
De um umbu colossal, que estende os braos apostlicos,
Abenoando a calma do campastre ."
(Fernando Osrio, Sociognese da
Pampa Brasileira, Pelotas, Livr.
Comercial, 1927,p. 71).

"Antes de finalizar, queremos apontar rapidamente para dois


aspectos da poesia gacha que julgamos muito interessantes. Trata-se em
primeiro lugar da forma da poesia gacha. Como o Rio Grande, ela livre
e natural, como o pampa ela tem infinitas possibilidades de
concretizaes formais. Como o horizonte gacho os seus campos
semnticos so amplos e infinitos; a sua musicalidade est feita de
berros, cantos, uivos e choros; a sua rima, pela sua ndole natural, tem
a beleza majestosa das coxilhas, a agressividade dos mais violentos
entreveros, a doura das lhanuras verdejantes e a meiga candura do olhar
namorado da Chinoca.
O segundo aspecto concerne a lngua empregada na poesia gacha.
a lngua gacha rude e espontnea. Atento sempre fidelidade, o
poeta gacho procura sempre respeitar o carter de oralidade do falar
gacho. Eludindo, sempre que possvel os brasileirismos da sua lngua
potica, ele veste seus versos com enfeitiados regionalismos que a
enaltecem e a enobrecem. Ao conferir-lhe carter prprio, o vate gacho
carrega untencionadamente a sua poesia do que poderamos chamar de
"riograndecismo esttico", pois que a beleza da poesia gacha se
encontra no dito com naturalidade e sem constrangimentos, e no no
construdo com artificialidade. Todo sentimento de Identidade leva
implcito, se queira ou no, um qualquer sentido de diferena. E, a
nosso ver, todas as caractersticas prprias da poesia gacha que
acabamos de analisar, permitem diferenciar a poesia gacha do resto da
poesia brasileira. E, assim como h um "sertansmo" na Literatura
Brasileira, deveramos fixar no nosso Rio Grande do Sul o estandarte do
"riograndecismo" ou "gauchismo". (Rejeitaramos assim o sufixo "esca" de
"poesia gauchesca", nuanado dum certo ressaibo pejorativo pois que
carregado dum semantismo de "aproximao", dum "quase que gacha, sem
chegar a ser gacha"!).
A poesia gacha, pelo fato de focar sempre o gacho e as suas
mais diversas manifestaes (labutrias, lingsticas, sentimentais,
etc.) e o seu meio natural (o Rio Grande do Sul) se nos apresenta como
uma poesia no s regionalista mas tambm - e este aspecto um dos mais
importantes - como universal e universalizante. Universalidade que cobra
ainda maior relevo, se considerarmos que ao regionalismo gacho
rio-grandense, se aparentam intimamente outros regionalismos

386

de territrios vizinhos.
Com efeito, atualmente a figura do gacho continua a crescer,
dentro e fora da Poesia Gacha, e se est magnificando, em todo o Brasil
assim como no estrangeiro, como um dos poucos simbolos vivos duma
perfeita e total identidade homem/meio que permanece quase que intacta
apesar das gigantescas mutaes e avanos da "modernidade". (Naiade
Anido, Sentimento de "Identidade" na Poesia Gacha, Institut d'Etudes
Portugaises et Brsilienses - Universitte de Paris III -
Sorbonne,jan., 1978).

POESIA NATIVISTA DO RGS, s. V. poesia gauchesca.

POLCA DE DAMAS, s. Polca em que as mulheres escolhem seus pares.

POLCA-MANCADA, s. Antiga polca, danada principalmente no campo,


acompanhada de cantigas.

"A mancada est doente,


Muito mal para morrer;
No h frango nem galinha
Para a mancada comer.

A dita polca mancada


Tem mau modo de falar:
De dia corre com a gente,
De noite manda chamar.

A mancada est doente,


Muito mal, para morrer;
Na botica tem remdio,
Para a mancada beber."
(Simes Lopes, Cancioneiro Guasca).

POLEANGO, adj. Relativo raa bovina Polled-angus.

POLHO, s. Frango. Do espanhol pollo.

POLQUEIO, s. Baile. Toque de polca.

POLVA, s. Plvora.

POLVADEIRA, s. Poeirada, nuvem de p, grande quantidade de poeira. //


Indivduo turbulento, porm covarde. // Valento, desalmado, ventana,
arrogante, mau. // Var.: Polvadera. V. a expresso levantar polvadeira.

"Peleio lindo no mais...


Pois sou ndio polvadeira!"
(Simes Lopes, Cancioneiro Guasca).

"E a trova saa brincando


Pela destreza lembrando
A espada dum polvadera."
(Zeca Blau, Trovas da Estncia do
Abandono, P.A., Grafipel, p. 13).

"Olha que at acho feio


disputares tal carreira...
Vais ficar na polvadeira.
Guarda isto na memria.
No julgues que seja histria,
pois no te quero magoar.
Mas no me podes ganhar,
minha pequena Vitria."
(Quinca Coronel, Sombras da Tarde,
Pelotas, 1931, p. 82).

POLVADERA, s. O mesmo que polvadeira.

POLVARIM, s. Polvarinho, polvorinho, polvorim.

POLVOEIRA, s. Recipiente que as damas usam para guardar p de arroz.

POLVOENHA, adj. O mesmo que polvoenta.

POLVOENTA, adj. Diz-se da estrada que tem muito p.

POMADA, s. Enfatuao, luxo, vaidade.

POMADISTA, s. e adj. Diz-se de ou a pessoa enfatuada, pretenciosa,


vaidosa,

387

luxenta, que quer ser superior s demais.

POMBA!, interj. Indica admirao. "Pomba! que indivduo feio!"

POMBINHA, s. Partes pudendas da mulher.

PONCHAO, s. Pancada com o poncho. Ponchada.

PONCHADA, s. Pancada com o poncho. // Grande quantidade de dinheiro ou


de objetos. // Coisas com as quais se poderia encher um poncho. O mesmo
que ponchao.

"A vida vale mais que uma ponchada de onas." (Apolinrio Porto
Alegre, O Vaqueano, p. 84).

"Uma ponchada de gralhas azuladas,


Postadas
No caponete em frente,
Algazarra de contente,
Sorvendo a brisa do clarear do dia."
(Pery de Castro, Coisas do meu
Pago, P.A., Globo, 1926, p. 47).

"No ar ponchadas altaneiras


De gavies, e pelas sangas
Saracuras gritadeiras
anunciam gua em mangas.
(Padre Pedro Luis, O Gnio do
Pampa, P.A., Ed. Pallotti, 1955, p.
55).

PONCHE, s. O mesmo que poncho.

PONCHO, s. Espcie de capa de pano de l, de forma retangular, ovalada


ou redonda, com uma abertura no centro, por onde se enfia a cabea.
feito geralmente de pano azul, com forro de baeta vermelha. o agasalho
tradicional do gacho do campo. Na cama de pelegos, serve de coberta. A
cavalo, resguarda o cavaleiro da chuva e do frio. Quando no est em uso
conduzido garupa, enrolado, amarrado nos tentos, na parte posterior
do lombilho, ou acondicionado na mala-de-poncho. // O poncho usado
tambm como arma, pois, com ele, o gacho se protege nas brigas de
ferro-branco, enrolando-o no brao, ou, ainda, jogando-o ao solo para,
com um tiro, desequilibrar o adversrio que nele pisar
inadvertidamente; utiliza-o, tambm, para defender-se de tiros-de-bola.
// V. as expresses direito como lista de poncho, forrar o poncho, pisar
no poncho, por baixo do poncho, sacudir o poncho, e ainda,
poncho-bichar, poncho de provisrio, poncho dos pobres, poncho-pala,
poncho -reino.

"Qual ave e rvore o gacho anima


a passagem efmera das horas,
com o vo dos ponchos libertrios
a fronde sombrejando itinerrios
e os minutos pingando das esporas."
(Jos Hilrio Ayala Retamozo,
Rodeio de Vacaria).

"Me fui reculando en falso


Y el poncho adelante ech,
Y en cuanto le puso el pie
Uno medio chapetn,
De pronto le di un tirn
Y de espaldas lo largu."
(Jos Hernndez, Martn Fierro).

"Brasil sertanejo e forte


que fez brinquedo da morte,
de Canudos nos escombros!
Brasil guasca, xucro e guapo,
que traz glria do Farrapo
no poncho que tem nos ombros!"
(Rui Cardoso Nunes, Lana Farrapa).

"- Meu poncho flor de tecido


que nunca a chuva bandeou.
Forrado da gola barra,

388

meu companheiro de farra


que nunca ningum piSOU."
(Zeca Blau,Poncho e Pala, p. li).
"Na garupa atou o poncho
e o lacito enrodilhado
sobre o quadril do matungO."
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, 2 ed., P.A., Martins
Livreiro-Editor, 1981, p. 41).

"Meu Poncho
Poncho amigo inseparvel,
meu velho poncho de pano,
majestoso, soberano,
embora velho e surrado,
s um heri do passado
nas lutas com o minuano.

Mostras o cu do Rio Grande


no teu azul desbotado...
e o teu forro colorado
o sangue dos Farroupilhas
derramado nas coxilhas
do meu rinco adorado!

Velho poncho do passado


que acaricio e afago,
quando nos ombros te trago
solto ao vento, panejando,
parece que eu vou levando
a imagem do prprio pago! ..."
(Firmino de P. Carvalho, Gera o
pelas Caronas, Pelotas, 1957, p.
36).

"O sol o poncho do pobre."


(Popular).

"A noite me agarrou,


e eu fui andando...
reboliando o arriador
como uma lana,
troteando sempre
at clarear o dia,
enrolado no poncho da Esperana!"
(Nitheroy Ribeiro, Tron queira de
Guajuvira, p. 57).

"E ante o frio de cortar, que desce brusco,


no me importa que a neve se derreta
sobre o fogo que brota, sem chamusco,
do meu poncho forrado de baeta..."
(HorciO Paz, Girreteando, in
Revista Querncia, n 2, P.A., 1949,
p. 17).

PONCHO-BICHAR, s. Poncho grosseiro, tecido de l.

PONCHO DE PROVISRIO, s. Capa de pano alvadio, aberta na frente, com


botes e casas, com aberturas laterais, em sentido vertical, para sada
dos braos, usada pelos soldados dos corpos provisrios da Brigada
Militar do Rio Grande do Sul, na revoluo de 1923.

PONCHO DOS POBRES, s. O sol.

PONCHO-PALA, S. Poncho leve, de seda, de l ou de vicunha, de forma


retangular, com as extremidades franjadas. usado vestido ou enrolado
ao pescoo, como cachecol. Pala.

PONCHO-REINO, s. Poncho de pano que fazia parte dos uniformes das


tropas montadas do Exrcito Nacional.

PONG, s. e adj. Indivduo atoleimado, apalermado, bobalhO, paspalho.

PONILHA, s. Inseto que ataca o couro no curtido.

PONJ, adj. Tolo.

PONTA, s. Pequena poro de animais. "Fulano, v voltear aquela ponta de


gado l do coxilho". "Encontrei o Jlio com uma ponta de animais por

389

diante". // Quantidade pouco aprecivel de gado pertencente a um criador


em pequena escala. "O moo no fazendeiro, mas tem uma ponta de gado
no campo do sogro". // A junta de bois que ocupa o lugar da frente no
terno da carreta. // Rixa, desentendimento. "Fulano anda de ponta com a
sogra."

"Os audes arrombados,


As invernadas abertas;
As varges esto desertas,
Onde o gado andava em pontas;
E ali s se fazem contas
Por debaixo das cobertas."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1978, p. 70).

PONTAO, s. Pontoada, golpe ou ferimento com a ponta da faca, da adaga,


do faco, da espada, da bengala, ou de qualquer outro instrumento.

PONTA DA TROPA, s. Poro de reses que, na tropa, caminham na frente das


demais.

PONTA DE GADO, s. Pequena quantidade de reses.

PONTA DE LANA, s. Sinal para identificao que se faz nos bovinos,


sunos e ovinos, consistindo na retirada de duas lascas da orelha do
animal, uma por cima e outra por baixo.

PONTAS, s. Extremidades superiores de um rio ou arroio. Nascentes de um


curso d'gua.

PONTEAR, v. Exercer a funo de ponteiro. // Ir na frente. // Comear,


primeiro que os outros, a fazer qualquer coisa ou a caminhar. //
Executar melodias, na viola ou no violo, com o dedo polegar.
PONTEIRO, s. O campeiro que vai frente da tropa para regular-lhe a
marcha e gui-la no caminho a seguir. // O animal que marcha na frente
da tropa. // A pessoa que empreende ou toma a dianteira na realizao de
qualquer coisa: "Todos so culpados pela travessura, mas o ponteiro foi
aquele guri endiabrado ".

PONTE-SUELA, s. O mesmo que ponte-suelo.

PONTE-SUELO, s. Pea decorativa, espcie de penduricalho posto na parte


inferior do freio do animal. O mesmo que ponte-suela ou ponto-suela.

- "tascava garbosamente o freio de coscs sacudindo ponte-suelo


e escarvando o cho." (A. Maia, Runas Vivas, p. 129).

PONTILHA, s. Renda para guarnecer ou ornar as extremidades da toalha.

PONTINHA, s. Diminutivo de ponta, pequena poro.

PONTO-SUELA, s. O mesmo que ponte-suelo.

POPULRIO, s. Folclore.

"s. neologismo criado por Apolinrio Porto Alegre e hoje


enraizado na linguagem escrita. empregado para designar tudo o que
pertence

390

ao povo: poesias, contos, lendas e outras ideaes annimas."


(Callage).

"Teve tal sentido entre ns a pesquisa de Apolinrio Porto


Alegre que o termo populrio, neologismo por ele criado, palavra hoje
enraizada na linguagem escrita, como disse o dicionarista Roque Callage,
para designar tudo o que pertence ao povo, como poesias, contos, lendas
e outras ideaes annimas." (Floriano Maya d'vila, in Fraseologia
Sul-rio-grandense, de Alvaro Porto Alegre, Ed. URGS, P.A., 1975,p. 18).

PR AS GARRAS, expr. Encilhar o animal. Nesta expresso o termo garras


tem o sentido de couros: pr os couros, pr os arreios, encilhar.

POR BAIXO DO PONCHO, expr. Ocultamente, s escondidas, clandestinamente,


de contrabando.

POR CAUSA QuE, expr. Por motivo de, porque.

POR D C AQUELA PALHA, expr. Por motivo insignificante, por questo


frvola, sem razo plausvel.

PR-DE-SIS, s. O mesmo que pores-de-sis. Plural de pr-de-sol, usado


no Rio Grande do Sul.

"Eu levarei comigo as madrugadas,


Pr-de-sis, algum lugar, asas em bando,
Mais o rir das primeiras namoradas...
E um dia a morte h de fitar com espanto
os fios de vida que eu urdi, cantando,
Na orla negra do teu negro manto..."
(Mrio Quintana, A Rua dos Cataventos,
P.A., Globo, 1938, p. 151).

... "eu sinto dentro dalma estranhos mundos


com pr-de-sis sangrando os cus profundos
que os sonhos do passado constelaram,"
(Rui Cardoso Nunes, Fnix do Passado).

POR DEUS!, interj. Pelo amor que voto a Deus.

POR DEUS E UM PATACO!, loc. interj. Equivale interjeio Por Deus!,


pitorescamente reforada.

PORONGO, s. Cuia.

PORONGUDO, adj. Diz-se do animal que apresenta nos membros grandes


exostoses, dando a impresso de cuias ou porongOS.

PORONGUEIRO, s. Planta que d o porongO.

PR OS OSSOS DE PONTA, expr. Pr-se em p, levantar-se pela manh.

PORPASSAR-SE, v. Abusar.

PORQUEIRA, s. Briga, conflito, encrenca, intriga, enredo, falatrio,


sujeira, coisa degradante.

PORQUERA, s. O mesmo que porqueira.

PORQUERIA, s. Porcaria, coisa nojenta.

PORRAO, s. Pancada violenta. Porrada. (Chulo).

POR SE ACASO, loc. adv. Pois se acaso.

PR-SE A GOSTO, expr. Pr-se fresca, ficar vontade.

PORTA DE FERRARIA, expr. Diz-se do animal a que foram aplicadas vrias


marcas.

PORTEIRA, s. Cancela, porto de entrada para propriedades rurais,


mangueiras, lavouras, invernadas, potreiros, etc., cuja tapagem consta
de tronqueiras, solidamente fincadas no solo, com furos pelos quais so
passadas varas fortes de at meio palmo de dimetro.

"E, quebrando o sereno das macegas,

391

porretinho na mo,
pra afugentar algum cachorro louco,
foi atorando campo eternidade a fora,
no rumo da porteira em que se entra pro cu."
(Mozart Pereira Soares, Erva
Cancheada, P.A., Ed. Querncia, 1963,
p. 65).
PORTO DOS CASAIS, s. Antigo nome de Porto Alegre.

PORTUGA, s. Portugus.

POSSUCA, s. Filante. Puuca.

POSTEIRADA, s. Conjunto de posteiros.

POSTEIRO, s. Agregado de estncia que mora geralmente nos limites do


campo, o qual incumbido de zelar pelas cercas, cuidar do gado, no
permitir invaso de estranhos, ajudar nos rodeios e executar outras
tarefas.

"Depois correu pela riba


Uma nova singular:
Que a bela flor do posteiro
C'o filho de um fazendeiro
Ia de pronto casar;
Causou abalo a notcia,
Sem que ousassem duvidar.
Uma noite a tempestade
Batia pelos cips,
Gemia o vento nos montes
E a gua fria das fontes
Descia com rouca voz
E no rancho do posteiro
Dois noivos dormiam ss" ...
(Lobo da Costa, O Ranchinho de
Palha).

"- Olhe. Qualquer dia vou ter


que entregar tudo isto para o Banco. E de certo terei que te pedir um
lugar de posteiro, de agregado, l
nas tuas cinco quadras..."
Aureliano, Memrias do coronel Falco,
P.A., Ed. Movimento, 1974, p.
171).

"Desabitada (a casa) largos anos, por causa de uma demanda, e


entregue aos cuidados de posteiros rudes, adquirira-a o coronel pela
excelncia das terras." (A. Maia, Runas Vivas, Porto, Lelo & Irmo,
1910, p. 43).

POSTO, s. Local da estncia onde mora o posteiro.

"Tempos depois do Costinha j casado, ento o chiru tomou conta


dum posto;" (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A.,
Globo, 1973, p. 80).

POSTURA DE FREIO, s. Fase da doma em que se coloca o freio no animal.

POTRA, s. Felicidade, sorte, liga, boa estrela, nos negcios e


principalmente no jogo.

POTRADA, s. Uma poro de potros. Potraria.

POTRANCA, s. gua nova ainda no domada. Feminino de potro ou de


potranco. // Fig.: Moa cheia de dengues, de requebros.
"Ser gacha ser brejeira,
ser carinhosa e faceira,
alegre e civilizada,
ser mansa e retovada,
mas tambm ser ciumenta,
mais candongueira e violenta
do que potranca encilhada."
(Elo Siqueira, Antologia da Poesia
Quaraiense, org. por Joo Batista
Maral, P.A., 1977, p. 51).

POTRANCADA, s. Uma poro de po-

392

trancos ou de potrancas.

POTRANCO, s. Potrilho. Diminutivo de potro. A cria da gua de um a dois


anos de idade.

POTRANQUICE, s. Asneira, leviandade.

POTRANQUINHO, s. Diminutivo de pofranco.

POTRARIA, s. Potrada. Poro de potros.

POTREAO, s. Arrebanhamento de animais de montaria, feito quase sempre


com violncia, por foras armadas, em tempo de guerra ou de revoluo.
// Ato de reunir animais cavalares para amans-los. // O mesmo que
potreada.

POTREADA, s. O mesmo que potreao.

"Venho dos tempos


das sesmarias;
das gadarias
sem marca e dono.
Sou das potreadas
de eguada xucra,
nas invernadas,
em abandono."
(Juca Ruivo, Antologia da Poesia
Quaraien se, org. por Joo Batista
Maral, P.A., 1977, p. 109).

POTREADO, adj. Diz-se do animal apanhado na potreao.

POTREADOR, s. e adj. Indivduo que potreia, isto , que arrebanha


animais de montaria, tomando-os ilegalmente de seus proprietrios.

POTREAR, v. Arrebanhar nas estncias animais cavalares, sem o


consentimento de seus proprietrios. // Pilhar, apoderar-se de qualquer
coisa sem o consentimento do dono.

POTRECO, s. Diminutivo de potro. Pofranco, potrilho.


POTREIRITO, s. Diminutivo de potreiro.

POTREIRO, s. Campo de pequena rea, cercado, maior que o piquete e menor


que a invernada, prximo estncia, com pastagem e aguada, no qual se
guardam os animais utilizados diariamente, ou os que estejam
necessitando de cuidados especiais.

"Tu me instilaste na boca o gosto das guavirovas que, em vo,


algures busquei, do araticum e do ing, e da cereja escondida bem no
fundo do potreiro, na Picada de So Joo." (Justino Vasconcelos, Rui,
P.A., Publ. OAB-RS n 4, p. 33).

"e logo meu pai me chamou, para levarmos os cavalos a um


potreiro," (Pedro Vergara, Lembranas que Lembram, Parte III, IEL, Ed.
Pallotti, 1982, p. 16).

"Na minha terra, l... quando


O luar banha o potreiro
Passa cantando o tropeiro
Cantando... sempre cantando..."
(Lobo da Costa, L...).

POTRILHADA, s. Poro de potrilhos. // Leviandade, estouvamento.

POTRILHINHO, s. Diminutivo de potrilho.

POTRILHO, s. Animal cavalar durante o perodo de amamentao, isto ,


desde que nasce at dois anos de idade. Potranco, potreco, potranquinho.

POTRO, s. Cavalo novo ou no, ainda xucro ou com apenas alguns galopes.
Poldro.

POTRUDO, adj. Que tem potra, que tem bastante sorte, que favorecido
pelo acaso. ( termo de galpo).

POUSADA, s. Pernoite, pouso.

"s. f. o mesmo que em portu-

393

gus, com a diferena, porm, que na lngua rio-grandense significa


apenas o pouso ou descanso noite num lugar; pernoite. Em portugus,
alm de outras significaes, tem tambm essa nica corrente no Rio
Grande. O mesmo quanto a pouso e pousar, que tambm se emprega no
sentido de: descansar o pssaro depois de haver voado. Assim quem no Rio
Grande ou na sua campanha cansado de caminhar, ao meio dia ou ainda
muito cedo, pedisse pousada, correria o risco de ser alvo de chacotas,
salvo um ou outro caso excepcional, pelo que a pousada s se pede
tardinha ou noite." (Romaguera).

"A mesma gua no espelha


a barba hirsuta e rude
do velho companheiro de pousadas"
(Vicente Moliterno, E. Quixote,
P.A., 1958, p. 55).
POUSAR, v. Pernoitar. // Descansar o pssaro depois de voar.

POUSO, s. O mesmo que pousada. Pernoite. O lugar onde se pernoita.

POVARU, s. Multido de pessoas.

POVINHO, s. Aldeola.

POVO, s. Vila, aldeia, povoao, lugarejo, aglomerado de casas de


moradia.

"e uma fatiota feita no alfaiate do povo dava, a todos ns,


jovens dos campos, uma aparncia falsa, esquisita mesmo, talvez
ridcula." (Manoelito de Ornellas, Mscaras e Murais de Minha Terra,
P.A., Globo, 1966, p. 195).

POVOEIRO, s. Designao que os camponeses do aos habitantes de um povo,


vila ou cidade. Var.: povoem.

"Nas tranas vis e mundanas


onde se enreda o povoetro,
o ndio, rude e matreiro,
pouco a pouco se envolveu."
(Dimas Costa, Pelos Caminhos do
Pago, P.A., Sulina, 1963, p. 37).

POVOERO, s. O mesmo que povoeiro.

PRAA, s. Soldado.

PRACISTA, s. Denominao dada aos


habitantes da cidade pelos do campo.

PRADO, s. Hipdromo.

PRAIA, s. Cancha, na charqueada, onde se carneiam as reses.

PRAINO, s. Plancie, vrzea.

PRA MODE, expr. Para, devido a, por causa de, com o fim de: "Ele veio
cidade pra mode consultar o mdico."; "Pra mode isto, que eu vim
aqui." contrao da locuo por amor de. (Procedncia aoriana). O
mesmo que pro mode.

"O crioulo tomara, pro mode o cheiro, a direo do vento, um


leste brando, e todos marchavam, ala, na mesma linha do carro," (A.
Maia, Runas Vivas, Porto, Lello & Irmo, 1910, p. 51).

PRANCHAO, s. O mesmo que planchao.

PRANCHADA, s. O mesmo que planchada.

PRANCHEAR, v. Cair de lado.

PRANTARIA, s. Choro copioso.

PRA ONDE SE ATIRA?, expr. Para onde vai? Que destino vai tomar? Para
onde se dirige?
PRATEADA, s. Faca com cabo e bainha de prata.

394

PRATEADO, adj. Diz-se do plo dos cavalares, quando apresenta reflexos


argnteos. comum no rosilho, donde o rosilho-prateado. // Diz-se
tambm do lombilho ou serigote com as cabeas cobertas com placas de
prata, atualmente j em desuso.

PRE, s. Pequeno roedor semelhante ao rato. Peri.

PREGAO, s. Pregada.

PREGAR O GRITO, expr. Chamar, avisar, convidar. Prender o grito.

PREGUEADO, adj. Cansado.

PREGUEAR, v. Cansar, afrouxar o garro.

PRENDA, s. Jia, relquia, presente de valor. // Em sentido figurado,


moa gacha.

"Tambm tenho uma Maria,


que a minha Estrela Boieira,
minha prenda - companheira,
do meu vergel a rainha:
estrela, flor e santa
e, alm do mais, s minha."
(Guilherme Schultz Filho, Galponeiras,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1981,p. 14).

"Guaiaca.
No h dinheiro que pague
meu velho cinto gacho!
Pra mim s prenda de luxo,
do Rio Grande s tradio!
E o ndio mais despilchado,
mais pobre, mais remendado
te usa com devoo."
(Francisco de Paula Alves, Guaiaca,
P.A., in Antologia da EPC, Sulina,
1970, p. 247).

"Meu vestido de cinta,


meu vestido de prenda,
enfeitado de fita,
com babado de renda;
meu vestido querido,
orgulhosa, te trago:
vou levando contigo
um pedao do pago."
(Gilda de Souza Soares, Vestido de
Prenda, in Antologia da EPC, P.A,
Sulina, 1970, p. 195).

"Em torno dele, h rondas de carinho,


calor de novas preces, oferendas,
ajoujando patres e ndios teatinos,
porque as Vestais vestiram-se de Prendas
e esto velando pelos seus destinos."
(Mozart Pereira Soares, Erva
Cancheada, P.A., Ed. Querncia, 1963,
p. 20).

"A mais prendada prenda... a que desponta


dentre as demais, como gacha exemplo
das virtudes e graas femininas,
para mostrar a moas e meninas
que esta Querncia faz do lar um templo."
(Jos Hilrio Ayala Retamozo,
Rodeio de Vacaria).

"s Terra de lindas prendas


de beleza universal,
Terra de glrias e lendas,
s o Rio Grande imortal!"
(Rui Cardoso Nunes, Pago Imortal).

PRENDADO, s. Reinado. ( um neologismo criado para designar o tempo em


que a Primeira Prenda exerce seu reinado).

"Meu prendado, se assim posSo dizer, no foi eterno, pois est


terminando, mas foi infinito enquanto durou, visto que o vivi com toda a
intensidade e vibrao de meu ser,

395

atendendo, dentro do possvel, a todas as solicitaoes recebidas."


(Eunice da Luz Ghisolfi, Despedida, in Relatrio - MT.G., Bag, 1978).

PRENDER, v. Acender. Prender o fogo: acender o fogo. Prender o cigarro:


acender o cigarro.

PRENDER O GRITO, expr. Pregar o grito.

PRENDER-SE, v. Comear, iniciar. "O cavalo prendeu-se a velhaquear". "A


moa prendeu-se a cantar".

PRENDINHA, s. Diminutivo de prenda.

" sombra do meu rancho - hoje tapera -


aboletou-se um dia uma prendinha...
Eu nunca perguntei-lhe por que viera;
nem ela mesma disse por que vinha."
(Luiz Menezes, Antologia da Poesia
Quaraiense, org. por Joo Batista
Maral, P.A, 1977, p. 126).

"Ela princesa
de um reino encantado
que ficou perdido,
longe, no passado.
Porm no sabe
a prendinha linda
que princesa ainda
de um reino encantado."
(Zeno Cardoso Nunes, Cano).

PRENDISTA, s. Fabricante de prendas.

PREPAROS, s. Aparos, arreios. Peas que formam o arreamento do animal de


montaria, de trao ou de carga. Os aparelhos de couro das carretas de
bois.

PREPASSAR, v. Passar-se, promover-se, erigir-se.

PRESIGANGA, s. Velho navio, ancorado no rio Guaba, que serviu de priso


na Revoluo Farroupilha.

"Quando encerrados na Presiganga ou a ferro nos acampamentos


inimigos, s pensam na fuga para prosseguirem na contenda, juntos aos
seus." (Castilhos Goycocha, Guerra dos Farrapos, 1938, p. 246).

"Algumas semanas mais tarde, chegavam ao Rio de Janeiro os


prisioneiros do Fanfa e mais alguns outros, que a legalidade mantivera
recolhidos, at ento, nos pores da Presiganga, ancorada nas guas de
Porto Alegre." (Lindolfo Collor, Garibaldi e a Guerra dos Farrapos,
P.A., Globo, 1958, p. 41).

PRESILHA, s. Extremidade do lao oposta argola, constituda de ala


provida de um boto de couro. A presilha que liga o lao ao cinchador
existente na argola direita do travesso da cincha. V. a expresso
sentar na presilha.

"neste Brasil que uma encilha,


ns somos como a presilha
de um lao de quatro tentos."
(Balbino Marques da Rocha, in
Antologia da EPC P.A. Sulina, 1970,
p.49).

PRETO, adj. Diz-se do plo negro dos animais.

PREVALECIDO, adj. Diz-se do indivduo que abusa de sua posio ou de seu


cargo, ou ainda da considerao em que tido por pessoa de
importncia, para mostrar-se atrevido, desptico e intratvel com os
demais. Confiado.

PRIMEIRA, s. Jogo de baralho cujos pontos maiores so o flux, o


cinqenta-e-cinco e a primeira.

"Se um le batia - primeira -


J tinha - o cinqenta e cinco -"
(Amaro Juvenal, Antnio Chiman-

396

go, 21 ed., P.A., Martins Livreiro-


Editor, 1978, p. 66).
"A primeira um jogo ligeiro, de impresses rpidas e fortes, e
que, no dizer dos entendidos, s tem graa quando a dinheiro; nele no
entra quase clculo ou combinao, muitas vezes um palpite, uma
coraonada, como dizem alguns, um passe repentino, faz melhorar a sorte
do parceiro que est caipora, dando-lhe a posse de uma boa parada. Nas
mesas h geralmente trs espcies de jogadores: - o turbulento e
provocante, que diz insolncias; o alegre que fuma e pede o seu trago de
bebida, e o jogador calado, de chapu nos olhos, que rompe as cartas
quando perde. Para uns o jogo deve ser de relancina, isto , corrido, de
uma s vez, produzindo comoes ligeiras, desencontradas, conforme os
vaivns da sorte; para outros demorado, escolhido, fazendo passes, e
deixando oscilar o esprito entre o prazer de arrastar a parada e o
descalabro de a perder; estes gostam de orelhar a carta decisiva, a
predileta, puxando-a com a mo direita para cima e com a esquerda
apertando-a para no deix-la surgir; assim que o naipe sai como que
arrancado fora, l do fundo, isto , de um fundo imaginrio, ideal,
onde se debatem a boa e a m fortuna." (Laf, Recordaes Gachas, p.
19-20).

PRIMEIR PRENDA, s. Designao dada prenda vencedora de concurso


realizado, em Centro de Tradies Gachas, para escolher, entre as
concorrentes, a mais prendada.

PRIMEIRA PRENDA DO RIO GRANDE


DO SUL, s. Denominao dada primeira prenda vencedora de
concurso realizado, em congresso tradicionalista, para a escolha da
Primeira Prenda do Rio Grande do Sul, com a participao de
representantes de diversos CTGs.

"A Comisso escolhida ficou integrada pelas seguintes pessoas:


Zeno Dias Xaves (conselheiro do MTG, presente ao encontro), professora
Snia Cunha, professora Cleuza Portilho, professor Joo Bosco Dihl
(Servio Municipal de Turismo) e o tradicionalista Mrio Castro.
Participaram do concurso as seguintes candidatas: Nria Evani
Moraes Kines, do CTG Fronteira Aberta, de Livramento; Tnia Maria Moura
Peanha, do CTG Rodeio da Fronteira, de Dom Pedrito, e Elenice da Luz
Ghisolfi.
As candidatas foram argidas atravs de uma prova escrita (de 20
questes) versando sobre: histria, geografia, tradicionalismo, folclore
e assuntos gerais e foram avaliadas atravs de suas condies de
sociabilidade e beleza. O resultado deste concurso foi o seguinte: 1
lugar (1 Prenda) - Elenice da Luz Ghisolfi; 2 lugar (2 Prenda) -
Nria Evani Moraes Kines, e 3 lugar - Tnia Maria Moura Peanha."
(Tradio de 20/9/77, p. 6).

PRNCIPE, s. Passarinho de bela plumagem de cor vermelho-sangnea,


razo de o denominarem tambm sangue-de-boi. (Pirocefalus rubineus).

PRISCADOR, adj. Que prisca.

PRISCAR. v. Dar priscos. Pular, saltar para os lados, fugir com o corpo
em todas as direes, para no ser pegado.

397

"E as pernas das bolas o bicho mal sente


Nas mos lhe tocarem, priscando couceia,
E quanto mais prisca, couceia ariscada,
Mais ele se enreda, nas bolas se enleia."
(Taveira Jnior).

"Laou um lazo manchado,


potrilho ali por dois anos,
que urrou e priscou no lao,
como filhote de tigre."
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, 2 ed., P.A., Martins
Livreiro-Editor, 1978, p. 61).
PRISCAR-SE, v. Retirar-se.

PRISCO, s. Ato de priscar. Pulo, Desvio, fuga com o corpo, negaa, salto
para o lado, para no ser pegado.

PRO CASO, loc. adv. Alis. Diga-se de passagem. Por sinal. Para encurtar
o caso. Finalmente. Para terminar. Para pr o ponto final na histria. O
mesmo que pra causo.

PRO CAUSO, loc. adv. O mesmo que pra caso.

PROCURAR NAS ESPORAS, expr. O mesmo que chamar nas esporas.

PRO MODE, expr. O mesmo que pra mode.

PRONUNCIAMENTO, s. Manifestao armada contra alguma determinao


governamental.

PROPINA,s. Gorjeta, inhapa.

PRPIO,s. O mesmo que prprio.

PRPRIO, s. Chasque. Estafeta, mensageiro, pessoa especialmente


designada para levar uma carta ou transmitir um recado.

"Quantas e quantas vezes desperto altas horas da noite para atender aos
prprios (aqui ningum diz mensageiro) que trazem receitas de Anbal
para serem aviadas." (Ramiro Frota Barcelos, Estncia Assombrada, Livr.
Porto Alegre Editora, 1947, p. 137).

"Havia estranhos: um prprio vindo da cidade com uma carta" (A.


Maia, Runas Vivas, Porto, Lello & Irmo, 1910, p. 90).

PROSA, adj. Fanfarro, gabola, conversador fiado, mentiroso, que se


jacta de grandes feitos.

PROSEAR, v. Jactar-se, gabar-se, conversar fiado.

PROTO, s. Tipo de po de milho usado na colnia alem. ( vocbulo


alemo, brodt, com a grafia e a pronncia adulteradas).

PRO VIA DE, loc. prep. Por causa de.

PROVINCIA, s. Nome dado Repblica Oriental do Uruguai, antigamente,


por ter sido provncia do Brasil.

PROVNCIA DO RIO GRANDE DE SO PEDRO DO SUL, s. Antiga denominao do


Estado do Rio Grande do Sul.
PROVINCIA DO RIO GRANDE DO SUL, s. Denominao do Estado do Rio Grande
do Sul a partir da Independncia do Brasil.

PROVISRIO, s. e adj. Diz-se de ou o corpo da Brigada Militar,


organizado em carter provisrio, pelo Governo do Estado, em poca de
revoluo. // O soldado pertencente a esse corpo.

"As Brigadas Provisrias eram compostas de cinco e sete Corpos


perfazendo totais de mil e quinhentos a dois mil combatentes. O efetivo
normal do corpo provisrio era de 321 homens, inclusive oficiais."

398

(Arthur Ferreira Filho, Revoluo de 1923, P.A., Imprensa Oficial do


Estado, 1973, p. 30).

PUA, s. Esporo de ao que se coloca nos galos de briga. Existem a


pua-mansa e a pua-braba ou pua-brava. // Em sentido figurado, a espora
usada pelo cavaleiro. // V. a expresso gemer nas puas.

PUA-BRABA, s. Esporo de ao que se coloca nos galos de rinha, com a


ponta aguada. // Adj. Diz-se do galo de rinha bravo, aguerrido na luta;
do cavalo espantadio, bravio, arisco; do indivduo irritadio, valente,
violento. // O mesmo que pua-brava.

PUA-BRAVA,s. O mesmo que pua-braba.

PUAO, s. Golpe dado com as puas (esporas).

PUA-MANSA, s. Esporo de ao que se coloca nos galos de briga, com ponta


rombuda.

PUAVA, s. e adj. Animal espantadio, arisco, aru, fu, indcil,


buzina, brabo, mau, manhoso, bravio. // Indivduo irritadio, irado,
mau, brabo, perverso, colrico, zangado, enraivecido, velhaco,
destemido, valente, guapo.

"o Juvncio, filho mais moo da Rita, cabodlinho alarife e puava


que trazia em polvadeira o chinaredo e andava de h muito, segundo
afirmava, procura de uma bainha para o seu faco" (A. Maia, Runas
Vivas, Porto, Lelo & Irmo, 1910, p. 55).

PUCHERO, s. Fervido. // Carne cozida sem temperos nem verduras. //


Fervido de carne, verduras, batatas e outros ingredientes.

"Esta queria um par de botas, aquele um poncho, um outro


dinheiro e todos tinham, custa dos chefes dos partidos, o churco ou o
puchero..." (Hemetrio Velloso, Misses Orientais, p. 458).

"Os espanhis dentre outros pratos deixaram slido em quase toda


a grande pampa o puchero, que, de origem madrilenha, vicejou na terra
gacha e em toda a Amrica Latina, principalmente a Espanhola." (Ana
Lcia Bonilla, Folclore Alimentar no Rio Grande do Sul).

PUCHO, s. Toco de cigarro, bagana. (Do quichua, puchu, resto).


PUUCA, adj. Filante, pedincho, usurrio. O mesmo que puuqueador.
Var: Possuca e pussuca.

PUCUM, s. O mesmo que picum.

PUUQUEADOR, adj. O mesmo que puuca. Var.: Pussuqueador.

PUUQUEAR, v. Filar, apoderar-se de coisas alheias, viver pedindo


objetos de outrem. Var.: Pussuquear.

PUEBLERO, s. O mesmo que povoeiro.

"Para aquelas almas simples era uma cousa extraordinria.


Fernando, doutor, aparecia agora ante os seus olhos como um outro homem;
no era mais o destemido campeiro, o livre filho dos pampas, pois havia
se tornado um pueblero." (Gabriel Peixoto, Alma Gacha, P.A., Globo,
1926, p. 98).

PUTA, s. Cuca.

PULGUEDO, s. Agrupamento de ranchos, de casas toscas, habitadas por


gente miservel.

PULO, s. Incio, comeo, sada. (V. o termo estendido).

PULPEIRO, s. Dono de pulperia. Taverneiro. O mesmo que pulpero.

PULPERIA, s. Venda, bodega, bolicho,

399

taverna no campo, pequena casa de negcio. ( termo platino muito


empregado na fronteira e quase sem uso na regio serrana).

"Ao - oh! de casa! - estentreo do Chico, cerimonioso por troa,


visto ser freqentador do boliche, a todos franqueado, respondeu o
negociante com um - apeie-se! - risonho e tardio, pois os de fora,
desmontados, j maneavam os cavalos, penetrando, a seguir, ruidosamente,
misturados, na pulperia" (A. Maia, Runas Vivas, Porto, Lelo & Irmo,
1910,p. 59-60).

"Junto ao passo das Pedras, nomeado alhures, existiu uma


pulperia, que foi centro de reunio," (Alfredo Varela, Remembranas, RJ,
1959,p. 112).

"Faltava ao sodalcio a voz bem-vinda,


para evocar a terminologia
do linguajar gauchesco e a pulperia
onde a peonada bebe um trago ainda."
(Dario de Bittencourt, "Curriculum
Vitae", P.A., tica Impressora
Ltda., 1958, p. 169).

"Este es otro barullero


Que pasa en la pulpera
Predicando noche y da
Y anarquizando a la gente:"
(Jos Hernndez, Martn Fierro).

"Com histricos recuerdos


de ranchos y pulperias,
el viento trae al galope
entre cardos y gramillas,
la voz del tiempo que evoca
la epopeya Farroupilha."
(Juan Carlos Pirali, Epopeya
Farroupilha).

PULPERO, s. O mesmo que pulpeiro.

"Carneava por alta noite


alguma rs pelo pago;
e, deixando ali o estrago,
alava o couro, ligeiro,
para vend-lo ao pulpeiro
por erva, tabaco e trago."
(Jos Hernndez, Martin Fierro,
traduo de J. O. Nogueira Leiria).

PULSEAR, v. Segurar fortemente. Manter preso apertando com as mos. ti


Tomar o pulso, sondar as intenes de uma pessoa, investigar por longe.

PUNGA, adj. Ordinrio, ruim, sem prstimo. // Aplica-se a pessoas e


cavalos. // Raramente usado.

PUNIR, v. Tomar as dores por outrem, proteger, encobrir faltas, defender


sistematicamente outra pessoa. "Fulano pune multo pelo primo", isto ,
defende-o sistematicamente.

"Com teus versos, pelo Rio Grande punes!" (Dario de Bittencourt,


Curriculum Vitae, p. 169).

PURGA, s. Purgante, catrtico.

PURURUCA, s. Variedade de milho de gro mido e duro, prprio para


alimentao de parelheiros. // s. e adj. Valento, atrevido. Perigoso,
difcil.

"O demo me leva o saco,


E nele apincha o seu Juca,
Que na trova se mostrou
Carunchado e pururuca."
(Simes Lopes, Cancioneiro Guasca,
P.A., Globo, 1954, p. 217).

PUSSUCA, adj. O mesmo que puuca.

PUSSUQUEADOR, adj. O mesmo que puuqueador.

PUSSUQUEAR, v. O mesmo que puuquear.

PUTEAO, s. Descompostura com palavras obscenas, xingao. Puteada.


(Chulo).

400
PUTEADA, s. O mesmo que puteao. (Chulo).

PUTEADOR, s. e adj. Diz-se de ou o indivduo mal educado que tem o


hbito de putear. (Chulo).

PUTEAR, v. Descompor com palavras obscenas. Ofender. (Chulo).

PUXA, s. Adulador, puxa-saco.

PUXADA, s. Estirada; distncia grande a percorrer; caminhada longa,


forada, fatigante.

PUXADO, s. Dana, espcie de fandango, tambm denominada chico-puxado ou


chico-da-ronda.

PUXADOR DE TERO, s. Pessoa que recita o tero, presidindo a devoo.

PUXA E AFROXA, expr. Situao indecisa: "Ele est nesse puxa e afroxa e
no resolve nada."

PUXAR A PONTA, expr. Seguir frente da tropa, chamando-a e


regulando-lhe a marcha. // Em sentido figurado, colocar-se frente de
greve, de motim ou de qualquer outro movimento.

PUXAR O TERO, expr. Presidir recitao do tero.

PuXAR UMA PALHA, expr. Dar uma cochilada.

PUXIRO, s. Muxiro, mutirum, pixurum, pichurum, puxirum. Reunio de


vizinhos, para o trabalho em auxlio de um deles, seguida de festa,
baile, comidas fartas. (Diz Beaurepaire-Rohan que o termo vem de
potyron, do guarani, que significa pr mos obra. Para o Padre
Constantino Tasterem, a palavra vem do tupi, significando reunio para o
trabalho, e, aps, festa).

401

402

QUADRA, s. Medida linear equivalente a sessenta braas, ou seja, 132


metros. a medida usada para as corridas de cavalos em cancha reta,
sendo tambm chamada quadra de carreira. As corridas de cavalos se
realizam, geralmente, em distncias que variam de duas a seis quadras.
Conforme a aptido do parelheiro para correr menor ou maior distncia,
se diz que ele de duas quadras, de trs quadras, etc.; dos animais que
costumam correr distncia superior a quatro quadras se diz que so
cavalos de tiro. // Distncia entre duas esquinas do mesmo lado de uma
rua. V. quadra de sesmaria e quadra quadrada.

QUADRA DE CARREIRA, s. O mesmo que quadra.

QUADRA DE SESMARIA, s. Medida de superfcie equivalente a cinqenta


quadras quadradas, ou seja 87,12 ha.

QUADRA QUADRADA, s. Medida de superfcie equivalente a 1 ,7424 ha.

QUADRAR, v. Ser apropriado, sentar, servir. // Dar certa postura ao


corpo, distendendo o trax e levantando os ombros; perfilar-se; ficar em
posio de sentido: "O soldado quadrou o corpo quando fez continncia."

"Cada um dono do seu e sabe


o que mais lhe quadra..." (A. Maia,Runas Vivas, p. 131).

"Foi s gente quadrando o corpo, e o zebu velho frechou direito


porteira!" (Luiz Carlos Barbosa Lessa, O Boi das Aspas de Ouro, P.A.,
Globo. 1958, p. 121).

"Dali a umas oito quadras


Uma pequena invernada,
Toda de pedra cercada,
De um tal Maneca Vintm,
Quadrava-se muito bem
Pra uma encerra bem folgada."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1978, p. 61).

QUADRAR-SE A VOLTA, expr. Propiciar-se a ocasio. Oferecer-se a


oportunidade.

QUADRILHA, s. Grupo ou lote de animais cavalares de plos diferentes,


que costumam andar juntos, acompanhando a gua-madrinha. Se todos os
cavalos forem de um s plo, o grupo chama-se tro pilha.

QUADRILHEIRO, s. Animal que faz parte da quadrilha.

QUALHADO, adj. Coalhado (antiq. em Portugal).

QUARADOR, s. Lugar onde se coloca a roupa para quarar. Quaradouro.


Coradouro.

403

QUARAIM, s. Quara, atualmente. Municpio gacho fronteiro a Artigas, no


Uruguai.

QUARAR, v. Expor a roupa molhada e ensaboada ao sol para que esta


clareie. Corar.

"A tarde amansa-se de longas sombras, que as rvores estiram nos


gramados rentes, maneira de chales e fichus de vovozinhas, corando,
qwzrando nos ltimos ouros do Crepsculo." (Aureliano, Memrias do
Coronel Falco, P.A., Ed. Movimento, 1974, p. 22).
QUARENTA-E-QUATRO, s. Revlver ou carabina de calibre 44.

QUARESMA, s. Fruto da quaresmeira.

QUARESMEIRA, s. rvore da familia das Anonceas, que d a quaresma,


fruta comestvel, de cor amarela, semelhante ao ariticum. (Anona
quaresma, Dutra.).

"No abre uma florzinha, a Quaresmeira,


mas... se cobre de flores... toda inteira,
e o nosso cho tapIza em cores mil."
(Aflita R. Gonzales, As rvores,
P.A., 1967, p. 31).

QUARQUER, pron. Qualquer.

"Vendo a ponta do outro lado,


O resto frechou direito.
No l quarquer sujeito,
No qualquer mata-cobra
Que executa esta manobra
E passa um gado com jeito."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
P.A, Martins Livreiro-Editor,
1978, p. 45).

QUARTA, s. Denominao dada a cada junta de bois que ficam entre as


juntas do coice e da ponta. Numa carreta puxada por cinco juntas de bois
a que fica prxima ao veculo a do coice; a seguinte, a quarta do
coice; a imediata, quarta do meio; a outra, quarta da ponta; e, em
ltimo lugar, a da ponta. // Chama-se quarta, tambm, a uma corda da
qual se prende uma extremidade ao carro e a outra ao cinchador de um
cavaleiro, cuja montaria auxilia os animais de trao. // , ainda, o
nome de uma medida agrria correspondente a 6050 metros quadrados.
(Etm.: Do provincialismo espanhol cuarta).

QUARTA DA PONTA, s. A junta de bois que puxa entre a quarta do meio e a


junta da ponta, ou seja, imediatamente atrs da junta da ponta.

QUARTA DO COICE, s. A junta de bois que puxa imediatamente aps a junta


do coice.

QUARTA DO MEIO, s. A junta de bois que puxa entre a quarta do coice e a


quarta da ponta.

QUARTEADA, s. Ato de quartear, ou seja, de ajudar a puxar um carro


usando a fora de um cavalo cinchador. // Fig.: Ajutrio para transpor
obstculo ou para resolver situao de dificuldades.

"A lida no era minha,


Mas estava na quarteada
E a gente fica amarrada
Em circunstncia como essa.
No exerccio do cargo,
Tem sempre um momento amargo
Quando a coisa se atravessa."
(Geniplo Borges de Moura Mattos,
excerto de carta, 1980).
QUARTEADOR, s. O cavaleiro que auxilia a puxar o cano atando ao
cinchador uma corda que presa, tambm, aos varais do veculo. Para a
realizao desse trabalho no apenas o cavaleiro precisa conhecer o
servio, mas tam-

404

bm o cavalo deve ser quarteador, ou seja, prtico em quartear. O mesmo


que quarteiro.

QUARTEAR, v. Ajudar a puxar uma diligncia ou outro veculo, utilizando


uma corda atada cincha do cavalo e presa, pela outra extremidade,
lana ou aos varais. // Substituir-se, alternar-se, revezar-se: "Eles
iam se quarteando no pastoreio".

QUARTEAR ESPERANAS, expr. Esperar com f.

QUARTEIRO, s. O mesmo que quarteador.

QUARTINHA, s. Moringa, bilha, pote de barro para depositar gua.

QUARTO, s. Um dos membros da rs carneada, traseiro ou dianteiro, com


vrias costelas e parcela do lombo, correspondendo, tudo, a uma quarta
parte do corpo do animal. // Membro posterior com toda sua carne, quer
da rs viva, quer da rs carneada. ti Tempo de viglia, ronda.

QUARTO VONTADE, s. Condio da carreira de cavalos, na qual se permite


que, durante o primeiro quarto de hora, contado do incio das partidas,
os corredores escolham, livremente, a ocasio da sada.

QUARTO OBRIGADO, s. Condio da carreira de cavalos em que o juiz da


sada d o sinal de largada logo que julgue a ocasio oportuna.

QUSSIA, s. Planta medicinal, usada para doenas do estmago.

QUATREIRO, s. Ladro de gado. // Cavalo ou outro animal arisco, bravio,


velhaco, xucro, no domado, traioeiro, velhaqueador. // Indivduo
valento, destemido, decidido, irado, colrico, mau, sempre disposto a
brigar.

QUEBRA, s. e adj. Indivduo atrevido, xucro, bravio. Aplica-se a pessoas


e animais.

QUEBRACHO, s. rvore rica em tanino, cuja casca muito empregada nos


curtumes.

QUEBRA-COSTELA, s. Abrao muito apertado.

QUEBRADA, s. Depresso do terreno.

QUEBRADO DA BOCA, expr. Diz-se do animal que, por defeito de doma, ficou
muito sensvel de boca, e, por isso, menor presso do freio ergue
desordenadamente a cabea, atrapalhando-se no andar.

QUEBRA-FOICE, s. O mesmo que quebra-machado.

QUEBRA-FREIO, s. e adj. Cavalo ou indivduo de m condio, quebra,


barulhento, insubmisso, bravio, perigoso, violento.

"Venha c, minha senhora,


Danar aqui neste meio
Com este quebra-largado,
Que tido por quebra-freio."
(Quadrinha popular).

QUEBRA-LARGADO, s. e adj. Animal que alm de quebra vive solto no campo,


o que o torna ainda mais insubmisso. // Diz-se de ou o indivduo
valente, destemido, desordeiro, turbulento, de m condio, amigo de
conflitos, que gosta de brigar.

"Mas algum quebra-largado


no aceitou a situao,
tornou-se ladro de gado
por gosto e por profisso."
(Zeno Cardoso Nunes, Ladro de
Gado).

QUEBRALHO, s. e adj. Aumentativo de quebra.

QUEBRA-MACHADO, s. Madeira muito

405

dura. Calliandra Sancti Pauli, Hassk Syn, Calliandra Tiveeiiu Lindm, e


Calliendra Bicolor Benth. O mesmo que quebra-foice.

QUEBRA-PEDRA, s. Planta medicinal usada para combater doenas do fgado


e dos rins. Com a mesma finalidade, utilizada, juntamente com a
canchalgua, na gua do mate.

QUEBRAR, v. Mudar a direo da marcha. // Separar e rejeitar os galhos


grossos da erva-mate na ocasio de seu preparo, aps o sapecO.

QUEBRAR A BOCA, expr. Dar tires, puxando fortemente as rdeas, no


queixo do potro que est sendo domado, para que fique doce de boca. O
mesmo que quebrar o queixo.

QUEBRAR O CACHO, expr. Atar a cola do cavalo, fazendo um tope.

"Poncho e lao na garupa,


Do pingo quebrei o cacho,
Dum zaino negro gordacho,
Assim me soltei no pampa,
Recm apontando a guampa,
Pelito grosso de guacho."
(Joo da Cunha Vargas ,Deixando o
Pago, P.A., Ed. Habitasul, 1981,
p. 14).

QUEBRAR O CACHO A CANTAGALO, expr. O mesmo que atar a cola a Cantagalo.

"Quebro o cacho, l em cima, a cantagalo,


E vou s pulperias no domingo,
Onde as chinas cobiam meu cavalo."
(Vargas Netto, Tropilha Crioula e
Gado Xucro, P.A., Globo, 1959,
p. 16).

QUEBRAR O CORINCHO, expr. Acabar com a bazfia, com a arrogncia.


Equivale frase quebrar a castanha, dos nortistas.

QUEBRAR O CORPO, expr. Desviar o corpo. // Em sentido figurado, negar-se


algum a fazer o que havia prometido; fugir a um compromisso.

QUEBRAR O QUEIXO, expr. O mesmo que quebrar a boca.

QUEBREIRA, s. Moleza, preguia, lassido, lombeira.

QUE FACHA!, interj. Expresso irnica equivalente a que figuro.

QUEIJO DE ORIGONES, s. Slido de alguns centmetros de altura, formado


por fatias estreitas de pssego, secas ao sol, sobrepostas em camadas
umas sobre as outras.

QUEIMA, s. Queimada.

"Ia fazer uma grande queima nos matos do Jaguari" (A. Maia,
RunaS Vivas, p. 223).

QUEIMA-BUCHA, expr. Curta distncia. Um tiro a queima-bucha o que


dado de to perto que a caa fica chamuscada pela plvora.

QUEIMADA, s. Ato de queimar campos e matos. um espetculo


impressionante que tem inspirado belas pginas da literatura gauchesca.
// Aguardente fervida com acar, qual se pe fogo, deixando queimar
um pouco. // O mesmo que queima.

"Quem no esteve no teatro dos acontecimentos ou ento nunca


assistiu a uma queimada nos campos do Rio Grande, no pode fazer idia
do espetculo. Uma ponta de cigarro desprezada pelo ginete em marcha,
uma simples centelha desprendida da pederneira atritada pelo fuzil do
cavaleiro para a combusto da mecha e acaso desviada do isqueiro, bastam
para incendiar o

406

macegal alto em que, no raro, se embrenha o viandante. E ento, por


dias e noites a fio, arde o campinzal, ardem os caponetes esparsos,
fumega na extremidade da campina a floresta ameaada, que acaba por
arder tambm, se acaso a nortada sobrevm feio, como estranho sopro
do inferno, e inclina as vidas lnguas rubras da lavra aniquiladora,
atravs de todos os obstculos, para a vestusta mataria em que se esbate
o dano da sinistra avanada. a queimada no apogeu." (Joo Maia, Pampa,
P.A., Globo, 1925, p. 74).

"Vem dos campos, eu sei, das vrzeas e quebradas,


o cheiro da fumaa agreste das queimadas
que, neste ms de agosto, eu sinto em toda parte!
Sinto que vem no ar o olor do fumo denso
da macega queimada, e - misterioso incenso -
penetra no meu ser, no Templo da minh'Arte,
despertando a saudade, acordando a lembrana
de dias sem iguais de sonhos, de esperana:
todo o passado bom de uma vida distante.
Como era lindo ver, dentro da noite escura,
nas colinas em fogo, o drama, em miniatura,
do incndio de Roma ou do inferno de Dante!
Parecia se ver, ali nas labaredas,
aquele mesmo mar de horrendas lavas tredas
que um dia sepultou, de sbito, Herculano!
Parecia se ver, nas campinas serenas,
o drama de Pompia e o de Tria e Micenas,
no fogo enfurecido ao sopro do minuano!
Quantas vezes eu vi, na ondulao suave
do mar do pampa, o fogo assim como uma nave
com velame de luz que a ventania enfuna!
E quando o guasca audaz, desesperadamente,
em vo deter tentava esse mar ignescente,
lembrava Camiso na fuga de Laguna!
Semelhando corcis-fantasmas de farrapos,
co'o indmito furor dos gachos mais guapos,
iam chamas abrindo o cerco das flechilhas.
Era uma onda de fogo a coroar os montes,
tingindo de vermelho os cus nos horizontes,
qual boca de um vulco no dorso das coxilhas!
Primeiro fora a neve amortalhando a Serra,
agora o fogo intenso a tarjar minha terra
co'o luto regional da cinza das queimadas!
Mas inda o verde novo h de cobrir os campos,
e pelo pampa enorme, noite, OS pirilampos
ho de os astros plagiar no seio das canhadas.
Depois, a primavera h de chegar sorrindo

407

no esplendor do sol de um dia claro e lindo,


de flores matizando a verde morraria;
rebanhos saltaro felizes pelo prado,
enquanto atira o sol - esse campeiro alado! -
o seu poncho de luz por sobre a serrania!
E l numa fazenda ao sol da primavera,
vai de flores vestir-se o pomar da tapera
onde outrora viveu feliz este ndio-vago!
E pela madrugada a voz do passaredo
de novo trinar nos ramos do arvoredo,
enchendo de harmonia a solido do pago!
De novo a noite, enquanto a lua cor de prata
as melenas de luz do seu luar desata,
derramar na fonte um pedao do cu!
De novo se ovir pelas noites serenas,
como algum a carpir um acervo de penas,
a cascata distante a fazer escarcu!

Mas jamais voltar, a no ser na lembrana,


esse tempo feliz em que eu era criana,
em que dessa fazenda era dono meu pai,
em que meu So Francisco era uma terra linda,
toda cheia de sol, como a revejo ainda
nesse tempo sem par que j to longe vai!
Ah!, quem nunca escutou o soluar das fontes,
e no viu a manh rasgando os horizontes,
como se fosse a luz da nossa liberdade;
quem nunca teve assim, como eu, uma vivenda
que o tempo destruiu... um sonho
... uma fazenda...,
no poder saber o que uma saudade!
Quando aspiro esse olor que a macega trescala,
eu sinto uma saudade imensa que me fala
de tudo o que deixei nos campos l da Serra!
A saudade, decerto, a cinza da existncia,
o passado feliz vivido na querncia,
a lembrana de tudo! ... a voz da minha Terra!"
(Rui Cardoso Nunes, Queimadas,
Canoas, Ed. La Salle, 1957, p. 5).

QUEIMADOR DE CAMPO, s. e adj. Indivduo mentiroso.

QUEIMAR CAMPO, expr. Mentir, bravatear.

"E afirmava que no queimava campo, as suas narraes, nas quais


a fico nio entrava, eram todas verdadeiras." (Manoel Marques da Silva
Acauan, Ronda Charrua, P.A., Centro da Boa Imprensa, 1931, p. 6).

"Fiz meia-volta e fui tomar o meu lugar; o esquadro desfilou,


apresentando armas e fomos acampar. Logo a rapaziada crivou-me de
perguntas... mas eu, soldado velho, contei um par de rodelas, queimei
campo a boche, mas no afrou-

408

xei nada da conversa; no v!" ... (Simes Lopes, Contos Gauchescos e


Lendas do Sul, P.A, Globo, 1973, p. 52-53).

QUEIMAR O CHURRASCO, expr. Dormir demais e por isso atrasar-se.

QUEIXADA, s. Variedade de porco-do-mato existente no Rio Grande do Sul.


So ferozes, andam em bandos, e agridem o homem e os ces que os atacam.
(Dicotyles labiatus Cuv.). // Maxilar inferior.

"O Mariano vinha com os olhos raiados de sangue e batendo os


dentes, como porco queixada..." (Simes Lopes, Contos Gauchescos e
Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 30).

"Mas s viram as pegadas


de onas, antas e queixadas,"
(R.C.N., Caada em Mato Grosso).

QUEIXO-DURO, adj. Diz-se do animal de montaria ou de trao, cavalar ou


muar, que no obedece facilmente ao das rdeas. // Figuradamente,
diz-se do indivduo teimoso, que dificilmente se convence da verdade.

QUENGO, s. Cabea. Homem sabido, astuto.

QUERA, s. e adj. Indivduo destemido, guapo, forte, valente, O mesmo que


qerudo.
"Dizem, at, que esse qera,
de noite, numa tapera,
(vendo o peixe que comprei)
num encontro tenebroso,
surrou de adaga o tinhoso...
mas eu no verifiquei."
(Jos Jlio Barros, ... e a de 30 ele
no fez).

QUERNCIA, s. Lugar onde algum nasceu, se criou ou se acostumou a


viver, e ao qual procura voltar quando dele afastado. // Lugar onde
habitualmente o gado pasta ou onde foi criado. // Ptria, pagos, torno,
rino, lar. (Etim.: vocbulo castelhano; entretanto, h, em portugus,
querena, com a mesma significao).

"Querencia. Aficin, canillo, apego de los animales a los sitios


donde viven; tambin el paisano lo usa al referirse a las personas."
(Tito Saubidet, Vocabulario y Refranero Criollo).

"Da Querncia
Querncia aquele rinco
onde empeou a existncia,
o amor e a imaginao.
o rodeio da conscincia
presente ou em recordao.
Fogo nativo... Na ausncia
ainda mais forte a querncia
cinchando no corao."
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, 2 ed., P.A., Martins
Livreiro-Editor, 1981, p. 143).

"Esse pingo - de lei - era bom mesmo!


patrono das manadas da querncia
- nem gosto de falar neste amigao -
a grandeza da vrzea era pequena,
quando assobiavam belas cantilenas,
as quatorze rodilhas do meu lao..."
(Cleber Mrcio, Vitima Tropeada,
Canoas, Ed. La Salle, p. 33).

"Salve Estncia da Poesia,


Querncia que os vates tm!
Sou Gaudrio, sou ningum
E pouco me satisfaz...
Mas sempre me encontrars
Contigo, em qualquer jornada,
Ombreando com a peonada
De quem j fui capataz."

409

(Chico Gaudrio, Correio do Povo


de 29.6.1968).

"Mont y me encomend a Dios


Rumbiando para otro pago,
Que el gaucho que llaman vago
No puede tener querencia,
Y ans de estrago en estrago
Vive brando la ausencia."
(Jose Hernndez, Martin Fierro).

"Querncia

Resumo da grande Ptria,


rinco que me viu nascer,
terra que vibra em meu ser
e palpita em meu corao,
s meu mate chimarro,
meu pala branco bordado,
minha prenda, meu tostado,
minhas chilenas de prata
Tudo, enfim, que te retrata
na legenda do passado."
(Guilherme Schultz Filho, Galponeiras,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1981,p. 12).

"Volto querncia,
Dentro do sonho acordado,
o cho dispara onduloso,
arrastando na vaga verde da coxilha,
como grandes algas acolmeadas,
as ilhas mais verdes dos campos redondos."
(Felipe de Oliveira, Lanterna Verde).

"Eu te revi
Querncia amada!
Ajoelhada e comovida
balbuciei:
- Protegei
Jesus
a Terra onde nasci!"
(Lia Corra, Bom Jesus, in Antologia
da EPC, P.A., Sulina, 1970, p.
127).

"Querncia amiga! Bero abenoado!


Rinco tranqilo, que saudade eu tenho!
Trago sempre comigo, bem guardado,
O leno grande, todo colorado,
Simbolizando a Terra donde eu venho!
(Adahyl Pessano, Prolas Poticas,
P.A., Corag, 1980, p. 77).

"Querncia o cho que a gente


Considera como o lar;
terra buena e sem par
Que a nossa imaginao,
Depois da desiluso
Que nos enche de tristezas,
Cerca de velas acesas
No altar do corao."
(Onofre Machado Ramos, Cantos
que eu canto, P.A., Ed. Metrpole,
1978,p. 15).

"Desterrados do cho que os viu nascer,


e onde corria em paz sua existncia,
em pouco tempo acabam por morrer,
por falta das razes da querncia."
(Hugo Ramrez, Os Coroado, in
Iconograf ia Potica do ndio do Rio
Grande do Sul, P.A., 1976, p. 44).

"E quando o Patro Celeste


Se lembre de me buscar,
Quando comece a cortar
O tento desta existncia,
Ele que tenha pacincia
Pois antes de me levar
Quero que o ltimo olhar
Seja pra o cho da Querncia!"
(Vaterloo Camejo, Cinzas do Meu
Fogo, 1966,p. 19).

"E de tudo da querncia


terei tamanha saudade,

410

que se acaso for verdade


o poder da encarnao,
tomarei, de quando em vez,
o corpo de um ndio-vago
s para tomar um trago
debruado num balco."
(Dimas Costa, Pelos Caminhos do
Pago, P.A., Sulina, 1963, p. 34).

"A palavra querncia, sem favor, uma das mais belas do idioma
portugus e, por certo, mais bonita e sonora que saudade. Alis,
querncia e saudade andam, quase sempre, juntas, por a, na vida, nas
lembranas e nos sentimentos da gente boa e generosa do Rio Grande."
(Mozart Victor Russomano, Crnica publ. no Correio do Povo de 25.01
.77).

"Chimarro que vou tomando


bem devagar, com pacincia,
seiva, no corpo entrando,
da bem-amada Querncia!"
(Nelson Fachinelli, Temas da Querncia).

"No sei de onde me vem essa tendncia


que eu tenho de cantar pela existncia
os dias que vivi na minha terra.
Eu sinto que o Rio Grande me acompanha,
que h comigo um pedao da campanha
na saudade que trago l da Serra!
Na mente, essa feliz reminiscncia
das coisas que me falam na Querncia
cresceu como macega de banhado.
Em vo tento fugir a seus encantos,
pois ela reaparece nos meus cantos,
como a alma penada do passado!
Foi destino, talvez, eu ter nascido
no mar verde do pampa, e l vivido
os dias mais felizes da existncia,
para depois, alm da serrania,
no pramo sombrio da nostalgia,
cantar as coisas lindas da Querncia!
Vises, gratas vises de tempos idos
povoam os meus sonhos mais queridos,
me trazem lembrana a velha herdade
Ah!, quem bebeu das guas cristalinas
das fontes que sussuram nas campinas
no pode mais viver sem ter saudade! ...
Quem de seu Pago - eu sei - se for embora,
h de levar, por esse mundo afora,
uma recordao que no se finda
H de escutar, depois, a vida inteira,
o soluar da agreste cachoeira
ou a voz da cordeona em noite lida;
h de lembrar de uns olhos de serrana,
por quem alguma vez secou badana,
num fandango qualquer, l pela estncia;
h de sentir saudades da tristeza
que cobre em tardes de ouro a natureza,
de um pr-de-sol morrendo na distncia;
h de enxergar em sonhos a vivenda
onde outrora nasceu, l na fazenda,
a branquejar na verde pradaria;
h de lembrar de ouvir, por sobre um cerro,
tardinha, a batida de um cincerro,
como um sino tocando Ave-Maria;
h de lembrar, feliz, de muita cousa
que no fundo dos anos j repousa,
nas canhadas longnquas da lem-

411

(brana,
e h de morrer pensando nas nevadas,
nos rodeios, nas noites enluaradas,
em seus tempos felizes de criana!
Eu sinto j nos campos do passado
meu pensamento triste, rebenqueado
pela bruxa voraz da nostalgia,
parando nos rodeios das lembranas
o lote das perdidas esperanas
que iluminaram minha vida um dia!
Surpreendo a divagar minha alma boa
nessa terra de sol e de garoa,
onde outrora sonhei, tive alegria,
e onde deixarei meu vulto eqestre
fazendo assombrao nalgum campestre,
no verde pedestal da morraria.
E quando no restar de mim mais nada,
quando eu, em minha ltima tropeada,
cruzar pelas fronteiras da existncia,
- ho de ficar os versos que componho,
assombrando as taperas de meu Sonho,
com as almas penadas da Querncia."
(Rui Cardoso Nunes, Querncia).

QUERENDO, s. e adj. Animal que se habitua com facilidade a uma nova


querncia. // Indivduo melfluo para com as mulheres, amoroso,
afetuoso, alegre, namorador, apaixonado, amante, enamorado, dengoso,
mimoso. // Fem.: Querendona.

"Era mestia de negro com ndia, querendona e frvola." (N.


Pereira Camargo, Histrias da Fronteira, Editora Combate, P.A., 1968, p.
39).

"Pensaria mesmo que a filha tinha fugido com o querendo?"


(Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p.
29).

QUERO-MANA, s. Denominao de antigo bailado campestre, espcie de


fandango. Canto popular executado ao som da viola.

QUERO-QUERO, s. Ave pernalta caradridea (Belonopterus cayennensis) que


habita os campos do Rio Grande do Sul. Vive aos casais e, s vezes, em
bandos de algumas dezenas. O quero-quero mora em geral nas baixadas, nas
costas de restingas, nas proximidades de banhados ou lagoas, e nunca
pousa em rvores ou em moeires, mas somente no solo. Est sempre
vigilante, dia e noite, e emite um grito estridente onomatopaico da
palavra quero, repetida, aproximao de qualquer criatura. Para
despistar quem procura localizar seu ninho ou seus filhotes ele vai
gritar, simulando preocupao, longe do local em que os mesmos se
encontram. Entretanto, quando necessrio, ele os defende com coragem e
bravura atacando o homem ou o animal que deles tente se aproximar.
Possui o quero-quero ferres aguados, em forma de pequenas puas, nas
asas, que exibe aos inimigos ao mesmo tempo que solta gritos
ameaadores, fazendo vos rasantes sobre os mesmos. Existe a lenda de
que o ferro do quero-quero torna leve o sono da pessoa que o colocar
sob o travesseiro. Tem essa ave ainda os nomes de tu-tu, tetu,
tem-tem, teru-teru, e outros, que, porm, no so usados no Rio Grande
do Sul.

"Sentinela alerta dia e noite como ronda altaneira da campina, o


quero-quero o nico pssaro que arremete com coragem, a solido.

412

Quebra-a brioso, com valentia decisiva, e ei-lo pronto sempre ao


primeiro sinal de alarma. Ao menor rudo enche os espaos e as vrzeas
com a onomatopia estridente de quero, quero, quero! Assim o conheci,
assim todos os que a andam, na coxilha, o conhecem. No mudou ainda a
sua vida, no mudaram ainda os seus hbitos de atalaia intempestivo dos
plainos desertos. Ningum, por certo, de memria fresca, sabido nas
coisas simples, l de fora, viajado na livre campanha distendida, o viu
noutra atitude que no fosse de bombeiro perscrutante das quebradas.
Quero-quero... A quem o escuta, assim, a cada passo, atroando os ares,
com alarido, parece, pelo menos, v-lo num querer insfrego, todo um
egosmo vibrante que o pernalta crioulo espalha pelo vazio melanclico
dos ermos. Engano, porm! L est limitada, restringida existncia
agreste da terra, toda a justa razo de seu querer: liberdade da prpria
campina em que vive; respeito ao seu lar, resumido numa restinga, num
banhado, numa encosta sossegada de lagoa..." (Callage, Quero-quero,
Contos crioulos).

"A sua figurinha empertigada mereceu a honra de ser estampada


nos selos do correio do Estado Oriental do Uruguai, talvez como justo
emblema da esperteza e da vigilncia." (Severino de S Brito, Trabalhos
e Costumes dos Gachos, P.A., Globo, 1928, reed. pela Cia. Unio de
Seguros Gerais, p. 46).

"O quero-quero, no Rio Grande do Sul, sua alma original. No


sei de criatura que to bem represente a terra em que nasceu." (Jainha
Pereira Gomes, O Quero-quero, in Seleta em Prosa e Verso, 54 ed., de
Alfredo Clemente Pinto, P.A., Martins Livreiro-Editor, 1980, p. 123).

"Fazer como quero-quero - Para despistar, o quero-quero


afasta-se do ninho ou dos filhotes, nos momentos de perigo. Donde se
coloca grita insistentemente iludindo a ateno do inimigo sobre ele.
Quem disfara ou ludibria faz como o quero-quero." (Sylvio da Cunha
Echenique, Branca, RJ, Ed. Souza, 1954, p. 41).

"Alerta, de alcatia perene l no pampa, o quero-quero a


eterna sentinela das coxilhas." (Clemenciano Barnasque, No Pago, P.A.,
Globo, 1926, p. 59).

"Deu-lhe ouvidos de tu-tu,


A liberdade do vento
E o mais alto pensamento
Sob a copa do chapu."
(Jos Nelson Corra, Dcima do
JoJo Guar, P.A., Martins livreiro-
Editor, 1981,p. 15).

"Quero-quero, avezinha do pago,


que saudades teu nome me traz,
que saudades do tempo da infncia,
desses anos que esto para trs,
desse tempo em que eu era menina,
com meus pais to contente vivia,
sem pensar nos trabalhos da vida,
que, por certo, viriam um dia."
(Maria Nunes de Oliveira, Reminiscncia).

"O que que quereS, quero-quero,


que passas o dia pedindo,
sem cerimnia nenhuma? ...
(Odacir Beltro, Quero-quero, in
Dirio de Notcias, 2/3/57, p. 3).

"S de quando em vez se ouvia,


no seu tom ousado e fero,
um grito que retinia

413
a ferir a noite cega,
era o bicho quero-quero,
num assomo de repente
que esse bichito valente
morre seco e no se entrega!"
(Antnio Augusto de Oliveira, Rastro
de um Charrua, P.A., Martins
Livreiro-Editor, 1981, p. 77).

"Se um grito de fero aoite


Estruge no ar austero,
No tremas: o quero-quero
Que vem te dar a boa-noite."
(Lobo da Costa, L...)

"Os quero -queros,


Voando rasteiros, pios estridentes,
Avezitas acasaladas, de espores
(afiados e vozes alarmadas,
So as sentinelas da campanha,
Defendendo o cho crioulo!"
(Ramiro Frota Barcelos, Romanceria
Gauchesca, So Leopoldo, Ed.
Rotermund, 1966, p. 24).

"Quero-quero vai voando


E os espores vai batendo;
Quero-quero quando grita
Alguma coisa est vendo."
(Popular).

"Do quero-quero
Teu grito a campanha corta.
Publicas na noite morta
com teus clarins alarmados
o atalho dos cruzadores,
a astcia dos desertores,
e os mais ariscos rumores
dos passos dos namorados."
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, 2 ed., P.A., Martins
Livreiro-Editor, 1981, p. 130).

"s um desejo no espao


Do pampa que tanto adoras...
Teu canto marca o compasso
Do tic-tac de esporas...
Quero-quero! Quero-quero!"
(Fernando Borba, Quero-quero).

"Teru-tero! dice el canto


de ste pjaro gritn,
que da su alerta en el pago
o avisa de una traicin."
(Blanca Bender Carpena de Menezes,
Teru tero).

"Ao longe, um quero-quero cortou a quietude noturna, anunciando


que algo cruzava as coxilhas." (Serafim Machado, Por que acredito em
lobisomem, P.A., Globo, 1975, p. 142).

"Fui mui franco, porque no sou como quero-quero que canta pra
um lado e tem ninho pra outro." (rico Verssimo, O tempo e o vento,
P.A., Globo, 1950, p. 131).

QUERPE, s. Baile popular que se realiza nas zonas de colonizao alem.


um divertimento sem luxo e sem etiqueta, do qual participam
democraticamente patres e empregados, pobres e ricos, em ampla
confraternizao. (Vem de Kerb, do alemo).

"O Kerb comeava no domingo com um ato religioso. Cabe dizer que
Kerb vem de Kirchweih, a festa da dedicao do templo. Essa festa era
sempre acompanhada de folguedos pelo que representava de satisfao pelo
trmino do templo. Kerbmesse, a missa ou culto pela dedicao do templo,
derivou para ns em Kermesse, quermesse, que, originalmente, eram festas
junto s igrejas.
Por isso o alto religioso, evanglico ou catlico, conforme de
que igreja se tratasse. Em muitos lugares at existia o Katolisch Kerb,
Kerb catlico, e o Evangelisch Kerb, Kerb evanglico, embora isso no
representasse separao em termos de uns no festejarem o Kerb dos
outros. Tratava-se apenas da poca

414

em que uns e outros conseguiram terminar seu templo.


Mesmo assim, em Lomba Grande, o Salo Petry, depois Allgayer,
recebia, em sua maioria, elementos catlicos, ao passo que a Sociedade
Atiradores tinha um carter mais ecumnico, para usar uma palavra de
hoje. Na minha opinio a prpria situao da famlia Allgayer influia no
caso, pois eram lderes da Comunidade Catlica. A Sociedade Atiradores
no tinha "cor religiosa". (Telmo Lauro Mller, Colnia Alem, P.A.,
Grafosul, 1981, p. 89).

QUERUDO, adj. Forte, valente, respeitado, temido. O mesmo que qera.

QUIBEBE, s. Piro de abbora.

QUIETARRO, adj. Calado, sossegado, muito quieto, de pouca conversa. O


feminino quietarrona.

QUIETARRONA, adj. Feminino de quietarro.

QUIMANO, s. O mesmo que quipoqu. (P. us.).

QUIMBOMB, s. Quiabo. O mesmo que quingob. (P. us.).

QUINCHA, s. Teto de palha. Pequenos pedaos de coberta de palha que se


unem uns aos outros para formarem a cobertura da casa ou da carreta.
(Etim.: Vem do quchua, Khincha, segundo Granada).

"A quincha dos ranchos esconde tanta cousa como os telhados dos
ricos! ..." (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A.,
Globo, 1973, p. 124).

QUINCHADOR, s. Pessoa que faz quincha, ou que cobre ranchos e carretas


com quincha.

QUINCHAR, v. Cobrir com quinchas, assentar as quinchas. Cobrir com


palha, santa-f ou qualquer capim, amarrado em molhos.

QUINGOB, s. O mesmo que quimbomb. (P. us.).

QUIPOQU, s. Iguaria de feijo partido e cozido com diversos temperos. O


mesmo que quimano. (P. us.).

QUIRELA, s. Quirera, milho pilado que se d aos pintos. ( termo de


origem tupi).

QUIRERIAR, v. Quebrar os gros de milho para us-los na alimentao das


aves.

QUIRI-QUIRI, s. Pequena ave de rapina, semelhante ao carancho e ao


chimango. Ataca os ninhos de outros pssaros e tambm os pintos.

QUITE, s. Floreio de ferro branco ou briga.

"E a pobre dona via tudo:


Pionada gaudria ao tranco;
E os quites de ferro branco
Dos que tinham mais topete;
E as capetages campeiras
Das chinocas tafuleiras
Pelas garupas dos fletes."
(Zeca Blau, Trovas da Estncia do
Abandono, P.A., Grafipel, 2 ed.,
s/d, p. 42).

QUITUTE, s. Comida especial, fora do trivial.

QUIZILIA, s. Quizila.

415

416

RABADA, s. A carne e o osso da parte superior do rabo da rs.

RABANADA, s. Movimento brusco que faz o indivduo, virando as costas


para o interlocutor, como demonstrao de enfado. // Virada, volteio,
iniciada pela parte posterior, que faz o cavalo, a canoa, etc.

RABO, adj. Que ficou rabonado, que teve o rabo cortado. Que se tornou
curto. // Aplica-se a animais e a objetos: cavalo rabo, cachorro rabo,
faca rabona, etc.
RABEAR, v. Deslocar para um lado uma das extremidades: "Fulano, rabeia
esse barrote um pouco para a direita"; "Se ns conseguirmos rabear a
carreta, a volta pode ser feita aqui mesmo".

RABICANO, adj. Rabico. Diz-se do animal que tem a cauda escura


entremeada de fios brancos. Rubicano. Rubico.

RABICHO, s. Pea do arreamento que colocada por baixo do rabo do


animal e presa sela, cangalha, ao serigote. // Reforo que se coloca
nos moires de cerca e que consiste em prender-lhes a parte superior,
com fios de arame torcido, a um moiro mais curto. bem fincado, ou a uma
pedra solidamente enterrada. // Paixo, apego amoroso, cambicho.

RABIOSCAS, s. Garatujas, rabiscos, letras mal feitas.

RABO-DE-BUGIO, s. Madeira utilizada para eixo de carreta, forte,


elstica e resistente ao atrito.

RABO-DE-GALO, s. Nuvem de forma alongada, prenunciadora de mau tempo.

RABO-DE-PALHA, s. Nome de um pssaro, tambm chamado pelincho e


alma-de-gato.

RABO-DE-TATU, s. Relho grosso feito todo de couro tranado, com uma


argola de metal ou de ferro na extremidade em que se segura.

"O melenudo grudou os garres nas ilhargas e desceu o


rabo-de-tatu." (Brasil Dubal, Fronteira Inclemente, P.A., Ed. Movimento,
1976, p. 215).

"Eis que, prximo, na cancha, arma-se uma peleia, coisa comum,


alis, em dia de carreira, entrando em cena faces, adagas, cabo de
relho, argolas de rabo de tatu e outras armas campeiras" (Arthur
Ferreira Filho, Revolues e Caudilhos, 2 ed., Passo Fundo, p. 53).

RABONA, s. Feminino de rabo.

RABONAR, v. Cortar o rabo do animal. // Encurtar em excesso qualquer


coisa.

417

// Passar involuntariamente o cavaleiro para diante de animal que vem


perseguindo disparada. // O mesmo que rabonear.

RABONEAR, v. O mesmo que rabonar.

RACHO, s. Tronco de rvore rachado ao meio, para cercas ou outros


misteres.

RACHAR A CANCHA, expr. Nas corridas de cavalos, correr na frente, a


grande distncia do competidor.

RACHAR DE GORDO, expr. Estar o animal excessivamente gordo.

RACIONAR, v. Alimentar o animal com rao.


RAFAEL, s. Fome, disposio para comer, apetite.

"Nunca se viu ali panela cheia, nem charque nos varais e a


peonada da estncia vivia entreverada com o RafaeL" (Sylvio da Cunha
Echenique, Fagulhas do meu Isqueiro, Pelotas, Ed. Hugo, 1963, p. 174).

RAIA, s. Cancha. Pista de corridas de cavalos. Cada um dos trilhos por


onde correm os cavalos. // Risco feito com ferro em brasa ao lado da
marca do animal, para indicar que ela deixou de ter valor. Substitui a
contramarca.

RAIANO, adj. Relativo fronteira:

"que um escritor do Sul, raiano com a Argentina, faa nestas


colunas o elogio histrico da regio denegrida" ... (A. Maia, Exaltao
ao Brasil, Federao, 17.12.1920).

"E corpos sem vida que rolam no cho,


manchando de sangue os campos nativos
dos bravos gachos, soldados raianos."
(Aurlio Porto, Farrapiada, RJ,
Papelaria Velho, 1938,p. 126).

RAIAR A MARCA, expr. Passar ao lado da marca, para deix-la sem valor,
com ferro em brasa, uma raia, estampando a seguir a marca que passa a
vigorar em substituio anulada.

RADO, s. Feixe de erva-mate destinado ao barbaqu.

RAIO-GUACHO, s. Tipo de descarga eltrica que, em ocasio em que no


esperada a ocorrncia de raios, inopinadamente, de surpresa, atinge uma
pessoa ou um animal.

"Foi quando lasqueou um estouro!


E bola de fogo que corre!
O potro encolhe
e se empina!
Como tocado de morte
se ona de cola e crina!
La-fresca! Se no me abaixo!
Pelo alambrado se apaga
as chamas do raio-guacho?
(Nitheroy Ribeiro, Tronquetra de
Guajuvira, P.A., Tip. Uder, 1955,
p. 37).

RAIZAMA, s. Raizamo, raizada.

RAMADA, s. Cobertura de ramas frente dos ranchos, sombra da qual


descansam os campeiros nas horas de sol ardente. // Cobertura de
tabuinhas, para dar sombra, semelhante latada.

"Perto do galpo, sob a ramada de esteios de aroeira e coberta


de santa-f, o velho Toribio preparava a carreta pequena para ir buscar
a lenha, j cortada e seca, na costa do arroio." (Darcy Azambuja,
Coxilhas, P.A., Globo, 1956, p. 158).

"Ramada, para o crioulo,


o mesmo que um aconchego,
onde o gacho em sossego
nessas tardes de vero
cavalga a imaginao
deitado sobre um pelego."
(Guilherme Schultz Filho, Galpo-

418

neiras, P.A., Martins Livreiro-Editor,


1981, p. 69).

"Roncavam cordeonas no fogo, violas na ramada, uma caixa de


msica na sala." (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A.,
Globo, 1973, p. 92).

RANCHARIA, s. Poro de ranchos, arranchamento. O mesmo que rancheria e


rancherio.

RANCHEIRO, s. Pessoa que morando num rancho tem a obrigao de cuidar


dele. // Cavalo que, quando montado, tem o costume de parar em todas as
casas que encontra no caminho.

RANCHERIA, s. O mesmo que rancharia.

RANCHERIO,s. O mesmo que rancharia.

RANCHITO, s. Ranchinho. Diminutivo de rancho.

RANCHO, s. Casebre de pau a pique, coberto de santa-f, com um couro


como porta, onde moram pees ou gente pobre. Qualquer morada humilde.
Palhoa, choupana.

"Era o rancho edificado


No pendor de uma colina,
Tendo por trs um cercado
Todo feito de faxina."
(Taveira Jnior).

"Sou o Rancho do pampa brasileiro,


a rstica morada do campeiro!
De barro, pau-a-pique e santa-f,
nesta imensa planura descampada,
inda sirvo de abrigo gauchada,
valente descendncia de Sep."
(Joo Palma da Silva, Rancho
Crioulo, Ed. La Salle, Canoas,
1953,p. 15).

"Soltando a rdea ao cavalo


O rancho foi espreitar
O trovo rugia ao longe
E o bosque, sombrio monge,
Estava como a rezar.
luz de um raio se abre
A porta de par em par."
(Lobo da Costa, O Ranchinho de
Palha).

"E como um tronco de arvre


Seca, na pampa infinita,
Onde antanho foi bonita
Com os gaio cheio de fr...
- Rancho, virado em runa
Ao golpear rija a tormenta,
Hoje , no mais, a ossamenta
Dum sonho bo que gorou."
(Ary Verssimo Simes Pires,
Caraguats, P.A., Globo, 1939, p. 47).

"Na invernada do cu
O Senhor deu campo
Pra eu fazer meu rancho.
Da nuvem mais perto
Farei a cacimba;
Farei chimarro
Com gua da chuva."
(Darcy da Silva Fagundes, Rancho
no Cu, Cano).

"Um rancho de barro e palha,


feito de amor e carinho,
para ti, minha prenda,
e h de ser o nosso ninho."
(Lus Alberto Ibarra, Cano do
Sul, P.A., Secretaria da Agricultura,
1958,p. 24).

"Rancho de peo no tem luxo,


lembra uma tenda beduna:
bivaque para o gacho,
ninho de amor para a china."
(Hugo Ramirez, in Cancioneiro de
Trovas).

"O luar veio de manso,


inundou de luz a mata
e foi envolvendo o rancho
numa mortalha de prat."
(Zeno Cardoso Nunes, Tapera
Prateada).

419

RANCHOTE, s. Diminutivo de rancho.

RANCOLHO, s. e adj. Animal que tem os testculos defeituosos. Animal


incorretamente capado. Animal que tem um s testculo. O mesmo que
roncolho.

"Cavalo rancolho e ndio caolho, sempre de olho." (Ditado


popular).

RAPADO, adj. Diz-se do campo com pastagem muito escassa em conseqncia


do grande nmero de animais que nele foram colocados.

RAPADOR, s. Campo rapado pelos animais, com grande escassez de pasto.


Local muito batido, onde a caa tornou-se rara. O mesmo que rapadouro.

RAPADOURO, s. O mesmo que rapador.

RAPOSA, s. Gamb.

RASCADA, s. Enrascada, embarao, entalao, atrapalhao.

RASCADEIRA, s. Pequeno instrumento de ferro, com cabo de madeira,


utilizado para raspar o plo dos animais. (Provavelmente vem de
rascadera, do castelhano, que significa rascador, instrumento para
raspar). Var.: raspadeira.

RASCAR, v. Passar a rascadeira.

"Lindo o dia. D cobia


pra um solteirito ir ao facho.
Puxo o baio com preguia
com carinho escovo e rasco.
(Zeca Blau, Poncho e Pala, P.A,
Sulina, 1966, p. 39).

RASGADO, s. Toque de viola que se executa arrastando as unhas sobre as


cordas, sem ponte-las.

"Como matungo de lei,


Posso ser, porm no pinho;
Pois num rasgado sou mestre
E na trova ando sozinho!"
(Simes Lopes, Cancioneiro Guasca,
P.A., Globo, 1954, p. 215).

RASGAR, v. Tocar a viola arrastando as unhas pelas cordas, sem


ponte-las.

RASPADEIRA, s. O mesmo que rascadeira.

RASPE, s. Raspilha, instrumento usado pelos tanoeiros para raspar e


desbastar aduelas. // Censura, reprimenda, corretivo, repreenso.

RASQUETEAO, s. Ao de rasquetear, O mesmo que rasqueteio.

RASQUETEAR, v. Passar a rascadeira no animal. Limpar o plo do animal


com a rascadeira.

RASQUETEIO, s. O mesmo que rasqueteao.

RASTA, s. Grade de forma triangular, com grampos de ferro, usada para


destorroar a terra lavrada.

RASTEADOR, s. Indivduo prtico em seguir o rasto de pessoas e de


animais. O mesmo que rastreador.

RASTEAR, s. Ir pelo rasto. Seguir, pelo rasto, uma pessoa ou um animal.


Procurar alguma coisa.
RASTEIRA, adj. Diz-se da erva que d rente ao cho.

RASTILHO, s. O mesmo que rastrilho.

RASTOLHO, s. Restolho. // Figuradamente, pessoa ruim, de m reputao,


bagaceira.

RASTREADOR, s. O mesmo que rasteador.

RASTREAR, v. Seguir a caa pelo rasto. Limpar a terra com o rastrilho.

"Esse, dormia como quero-quero, farejava como cervo e rastreava


como ndio...;" (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A.,
Globo, 1973, p. 83).

RASTRILHO, s. Ancinho ou grade com cujas pontas se limpa e se espicaa a


terra.

420

RATO-BRANCO, s. Policial, guarda.

REAL, s. Moeda oriental correspondente a 200 ris, ou seja, dois


tostes. O plural reais ou reales, e no ris. (Desus.).

REALENGO, adj. Sem dono, pblico. Teatino.

REATAR, v. Arreatar, atar bem, atar com muitas voltas.

REBANHO, s. Rdito, ganncia, proveito. (Antiq. em Portugal, cast.


rebao, do b. lat. revenea.). (Este registro do Pe. Carlos Teschauer.
Desconhecemos o emprego do termo rebanho, no Rio Grande do Sul, com essa
significao).

REBENCAO, s. Golpe dado com o rebenque. O mesmo que rebencada.

REBENCAO DE LNGUA, s. Descompostura, xingao.

REBENCADA, s. O mesmo que rebencao.

REBENQUE, s. Chicote curto, com o cabo retovado, com uma palma de couro
na extremidade. Pequeno relho (Etim.: Do portugus rebm, ou do
castelhano rebenque).

REBENQUEADO, adj. Surrado, fustigado com rebenque, tangido, sovado,


cansado, estafado. // Emprega-se, tambm, em sentido figurado.

"No palanque do teu desprezo


Eu quero ser amarrado,
E ser a todo momento
De teus beijos rebenqueado!"
(Darcy Azambuja, Romance Antigo,
P.A., Globo, 1940, p. 208).

REBENQUEADO DA SORTE, expr. Desiludido, desesperanado, desenganado.

REBENQUEADO DE SAUDADES, expr. Sofrendo saudades, curtindo a dor da


separao.

"Vivo corrido da sorte,


rebenqueado da saudade,
Somente para te ver:
Eh pucha! barbaridade!"
(Quadrinha popular).

REBENQUEADOR, s. e adj. Diz-se de ou aquele que rebenqueia o cavalo


freqentemente; que castiga com freqncia. // Diz-se de ou aquilo que,
de to belo, faz sofrer pelo encanto que exerce.

REBENQUEAR, v. Fustigar com o rebenque o animal. // Figuradamente,


acabrunhar, maltratar algum, principalmente em amores.

REBENTAO, s. Erupo cutnea. Surto de feridas pelo corpo das pessoas


ou dos animais.

REBENTONA, s. Situao grave e duvidosa que est prestes a ser decidida.


// Revolta, sedio, motim de carter poltico.

REBOLDOSA, s. Desordem, alvoroo, estrupcio, barulho, trabalhos. O


mesmo que rebordosa.

REBOLEAR, v. Dar movimento de rotao ao lao ou boleadeira a fim de


lan-los sobre o animal que se pretende prender. Fazer com que qualquer
objeto descreva trajetrias circulares no ar.

REBOLEIRA, s. Touceira de ervas ou de arbustos.

"O sacristo levantou-se e o seu corpo desfez-se em sombra na


sombra da reboleira" (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul,
P.A., Globo, 1973, p. 160).

REBOLQUEADA, s. Rodada do animal pealado. Esforo que faz o animal


pealado para libertar-se da armada que O prende. // Ato de rolar-se o
cavalo so-

421

bre o solo, o que ele gosta de fazer principalmente quando est suado.

REBOLQUEAR-SE, v. Rolar o animal pelo cho, fazendo movimentos com a


inteno de libertar-se da armada que o prende. // Espojar-se o cavalo
rolando no solo de um lado para outro, o que ele gosta de fazer
principalmente quando lhe so tirados os arreios e ele est com o lombo
suado. Rebolcar-se.

REBORDOSA, s. Desordem, alvoroo, estrupcio, barulho, trabalhos. O


mesmo que reboldosa.

REBORQUIADA, s. Um dos tipos de pealo.

REBUSCAR-SE, v. Arranjar-se, conseguir algo para si, conseguir algo por


expediente, filar.

REBUSQUE, s. Ao de rebuscar-se. Arranjo, negociata, filao.


RECADOS, s. Arreamento de montaria. Os arreios. O mesmo que recaus.

RECALCADO, adj. Diz-se do animal marralheiro, ronceiro, preguioso,


lerdo, ressabiado. // Diz-se do indivduo vadio, moroso, remisso,
esquivo, negligente, mandrio, preguioso, que foge ao servio. //
Diz-se ainda da pessoa ou do animal cansados por excesso de trabalho.

RECALCADURA, s. O mesmo que recalcamento.

RECALCAMENTO, s. Entorse, distenso forada dos ligamentos de uma


articulao.

RECALCAR, v. Luxar, sofrer um entorse ou distenso dos ligamentos de uma


articulao.

RECAMBIAR, v. Recolher, devolver, trazer de volta, mandar de volta.

RECAU, s. O mesmo que recaus.

"- D licena pra este andejo


sacar do zaino o recau."
(Zeca Blau, Trovas da Estncia do
Abandono, P.A., Grafipel, p. 11).

RECAUS, s. Arreios de montaria.

RECAVM, s. Parte posterior do leito do carro ou carreta. // Traseiro,


bunda, ndegas.

"Eu pulei logo para o recavm da carreta, para me botar ao


ruivo;" (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo,
1973,
p. 65).

RECM, adv. Recentemente: "Ele chegou recm."

RECOLHEDOR, s. Campeiro incumbido de recolher os animais.

RECOLHER, v. Ir ao campo buscar animais. Arrebanhar, trazer para a


mangueira ou curral, os cavalos, as vacas de leite, as ovelhas.

RECOLHIDA, s. Ato de recolher, ou seja, de trazer o gado para o curral


ou mangueira.

RECORRIDA, s. Campereada, volteada no campo. Busca ou inspeco que se


faz no campo para verificar como se encontram o gado, as cercas e outras
benfeitorias. // Emprega-se, tambm, em sentido figurado.

"Caramba! Que coisa linda


se fazer a recorrida
na invernada que ficou
l bem no fundo da vida!"
(Dimas Costa, Pelos Caminhos do
Pago, P.A., Sulina, 1963, p. 28).

RECORTADA, s. Dana, variedade do fandango.

RECOSTA, s. Encosta. Terreno junto s fraldas de uma elevao.


"Mas por fim ele no agentou
mais e apearam numa recosta."

422

(Darcy Azambuja,No Galpo).

RECRUTA, s. Poro de pees incumbidos de arrebanhar as reses que se


ausentaram de uma fazenda, ou que se extraviaram de uma tropa. O gado
recrutado. O mesmo que reculuta.

RECRUTADOR, s. O peo que sai a recrutar gado extraviado.

RECRUTAR, v. Sair procura de reses extraviadas. Reunir, trazer para a


estncia ou juntar tropa, gado que se encontrava perdido, tresmalhado,
fugido, desgarrado. O mesmo que reculutar.

RECUERDO, s. Lembrana, recordao. ( esp., muito usado na fronteira).

"Nem sei se fui eu que a trouxe


ou se foi ela que veio.
Quando o recuerdo se agrupa,
lembro que foi na garupa
de um pingo atirando o freio."
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1981,p. 81).

"Hoje, sozinho e cansado


vai tironeando recuerdos
memorando sonhos lerdos
dos embates veteranos."
(Rubens Dario Soares, Minha ltima
Tropeada, Cruz Alta, 1981, p.
43).

"Todas as coisas por que cruzo,


austeras de censuras maternais,
so sinuelos de recuerdos e recuerdos."
(J. O. Nogueira Leiria, Campos de
Areia, P.A., Globo, 1932, p. 31).

"Revejo os campos de meu pago bom,


cujos rinces me atraem obsessivamente:
- querem que eu lhes v
pedir os pedaos grandes de mim mesmo,
que ficaram em recuerdos."
(Plnio de Figueiredo Pinto, 1 Antol.
de Poetas Brigadianos, P.A., Ed.
Pallotti, 1982, p. 87).

RCULA, s. Conjunto de bandidos, de desordeiros.

RECULUTA, s. O mesmo que recruta, de que corruptela.

RECULUTAR, v. O mesmo que recrutar, de que corruptela.


RDEA, s. Este vocbulo, clssico da lngua, empregado nas seguintes
expresses gauchescas: A meia rdea, bancar nas rdeas, bom de rdeas,
dar de rdea, de rdea no cho, redomo de rdeas.

REDEMOINHADOR, adj. Diz-se do gado que facilmente se inquieta e comea a


redemoinhar.

REDEMOINHAR, v. Andar em roda o gado de uma tropa ou rodeio.


Inquietar-se, mover-se em torno de um certo ponto, descrevendo crculos
sobre crculos. Redemunhar.

REDEMOINHO, s. Ato de redemoinhar. Crculo contnuo que o gado inquieto


comea a percorrer no rodeio ou em tropa.

REDEMUNHAR, v. O mesmo que redemoinhar.

REDEPENTE, s. Repente, mpeto, relance. V. as loc. adverbiais num


repente, num de-repente, num redepente.

"Foi isso o que correu logo no redepente da curiosidade" (Simes


Lopes, Contos Gauchescos e Lendas

423

do Sul, P., Globo, 1973, p. 102).

"Redepente. De repente. Repentinamente." (Tito Saubidet,


Vocabulario y Refranero Criollo).

"Tal vez por ese consejo


Y sin que ms causa hubiera,
Ni que otro motivo diera,
Me agarraron redepente
Y en el primer contingente
Me echaron a la frontera.
(Jose Hernndez, Martn Fierro).

REDOMO, s. Cavalo novo que est sendo domado. // adj. Diz-se de objetos
muito novos, que ainda no foram amaciados ou adaptados ao corpo pelo
uso: botinas redomonas, isto , que por serem muito novas ainda molestam
os ps.

"Quem no agenta corcovo no monta em redomo." (Popular).

"Csar, o negro mal encarado, havia atado um redomo num dos


palanques, de tal modo que as narinas intumescidas do animal quase
tocavam o poste." (Carlos Jansen, O Patu, P.., URGS, 1974, p. 122).

REDOMO DE RDEAS, s. Potro que ainda no foi enfrenado, obedecendo


somente s rdeas que esto presas ao bocal.

REDOMONA, s. Feminino de redomo.

REDOMONEAO, s. Ato de tornar o potro redomo, dando-lhe alguns


galopes. O mesmo que redomoneamento.
REDOMONEAMENTO, s. O mesmo que redomoneao.

REDOMONEAR, v. Sujeitar o potro aos primeiros galopes. Domar.

REDONDEZA, s. Circunvizinhana, proximidades, cercanias, lugares ao


redor.

"Guia guapo como ele, no o h em toda a redondeza." (Apolinrio


Porto Alegre, O Vaqueano, p. 9).

REFILO, s. Raspo. Lance difcil, apertura, agitao. // loc. adv. De


refilo: ligeiramente, superficialmente, de raspo.

REFOLHAR, v. Bater com os ps no cho repetidamente.

REFUGADOR, s. e adj. Animal cavalar, vacum ou muar que costuma


escapar-se entrada da mangueira ou do curral. // Lugar em que se pe o
gado para refug-lo ou apart-lo.

REFUGAR, v. Escapar-se, esquivar-se, fugir o animal entrada da


mangueira ou curral. Negar-se o animal a ser repontado, priscando ou
fugindo para um dos lados, mudando bruscamente de rumo. // Separar,
apartar.

REFUGO, s. Ao de refugar, separao, apartao.

REGALAR, v. Dar de presente.

REGALO, s. Presente, brinde. Objeto vistoso, bonito. // Em sentido


figurado, mulher bonita.

"Quando a gente chimarreia


se lembra, barbaridade,
de quanto regalo lindo
manunceou na mocidade."
(Hugo Ramrez, in Cancioneiro de
Trovas).

REGEIRA, s. Corda de couro que se prende orelha dos bois da carreta ou


do arado, para gui-los.

REGISTRAR, v. Tomar nota do gado alheio que se encontra em uma tropa,


com o fim de indenizar os respectivos proprietrios.

424

REGISTRO, s. Denominao dada na fronteira s casas de comrcio em


grosso, com sortimento completo de mercadorias. // Anotao do gado
alheio encontrado em uma invernada, rodeio ou tropa.

REGO, s. Sulco do arado. O caminho certo. "Pisar fora do rego",


significa proceder mal, desviar-se do bom caminho.

REGUADO, adj. Diz-se do animal cavalar que tem o casco fendido


longitudinalmente.

REIMOSO, adj. Tardo, demorado, remanchador, enjoado, teimoso.


REINAO, s. Cio.

REINADOR, Diz-se do animal cavalar ou muar que reina. Empacador.

REINAR, v. Entrar a fmea no cio. // Manheirar, emperrar, empacar. //


Executar mal, o indivduo, por m vontade, algum trabalho. // Fazer
manha, em se tratando de criana. // Empacar, mesquinhar, tratando-se de
animais. // Custar a arder, ora acendendo, ora apagando, em se tratando
do fogo ou do cigarro. // Emperrar, funcionar mal, tratando-se de uma
mquina ou de qualquer instrumento.

REIUNADA, s. Os reinos em geral. Grande nmero de reinos. // Cavalhada


ruim, ordinria. // Certo nmero de animais de montaria pertencentes ao
Estado ou Unio.

REIUNAR, v. Cortar a ponta de uma das orelhas do animal, ordinariamente


a direita, para indicar que ele reino, isto , que pertence ao
governo do Estado ou da Unio. // Em sentido figurado, golpear, furar
algum.

REINO, adj. Pertencente ao Estado, antigamente ao rei. Assim, cavalo


ou animal reino o que pertence Nao, e tem, para distingui-lo dos
demais, a ponta de uma das orelhas, em geral da direita, cortada. //
Poncho, blusa, arma, sapato reino, so os que o Estado fornece aos seus
soldados. // Invernada reina a em que o governo mantm o seu gado. //
Diz-se, ainda, do cavalo, ou de qualquer animal, ou do objeto, sem dono,
ou cujo dono desconhecido, motivo pelo qual todos se julgam com
direito a ele. Teatino. Realengo. // Ruim, de m qualidade, feio. // Em
sentido figurado, aplica-se a pessoa desprezvel, ordinria, a mulher de
vida fcil, a mulher de todos.

"Que pensava dele, uma china reina que dormia com os baianos,
na cidade? ..." (Callage, Rinco, p. 92).

"Quando a cavalhada chegou o primeiro servio dos sargentos foi


assinalar os novos; era simples e ligeiro: um talho de faca na orelha,
rachando-a. Bagual assim virava reino." (Simes Lopes, Contos
Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973,p. 121).

"Est de luto a Querncia.


Perdeu a voz, a eloqncia
que vibrava pelo bem
do velho mundo reino,
perdeu o nobre tribuno
Oswaldo Miller Barlm!"
(Rui Cardoso Nunes, Alma
Gaudria, P.A., Ed. Pallotti, 1977, p. 42).

REJEITAR, v. Cortar o rejeito, ou seja garro ou jarrete da rs, quando


se vai abat-la. corrupo de jarretar ou desjarretar.

REJEITO, s. Jarrete, garro, tendes dos msculos posteriores, das


pernas do

425
animal. Ato de rejeitar, ou seja, de cortar o jarrete ou garro do
animal. Rejeito se diz principalmente em relao ao boi, sendo mais
usado, em se tratando de cavalo, o termo garro. (Parece ser corruptela
de jarrete).

REJUME, s. Regime, norma.

RELAMBRIO, adj. Desinteressante, banal, sem graa, desenxabido, sem


atrativos.

"Um pi j bem taludo,


No ponto de assentar praa,
Disse assim meio por graa:
- Isto ronda relambria,
Quem quer contar uma histria
Por um trago de cachaa?"
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
21 ed., P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1978,p. 14).

RELAMPO, s. Corruptela de relmpago.

"Dia de chuva no campo.


De vez em quando um relampo
racha o cu de cima a baixo."
(Zeca Blau, Poncho e Pala, P.A.,
Sulina, 1966, p. 39).

RELANCIM, s. Relancina.

RELANCINA, s. Relance, repente, rapidez, velocidade. usado na locuo


adverbial de relancina, que significa repentinamente, de relance,
fugazmente, ligeiramente, velozmente, num repente, num redepente, vol
d'oiseau, rapidamente, num golpe de vista relanceando o olhar. // Em
alguns jogos de cartas, o fato de receb-las com as combinaes j
feitas e jog-las de mo.

"Numa camada mais profunda do meu esprito estava recordando os


gestos duros e sbitos de quem sangra uma rs, mas era uma coisa que
passava de relancina como se ao mesmo tempo a gente pudesse ter dois
pensamentos." (Reynaldo Moura, Romance no Rio Grande, P.A., Globo, 1958,
p. 20).

"No galpo fez-se faxina,


Alimpou-se bem o piso;
E armou-se ali, num proviso,
Um baile de relancina."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
21 ed., P.A., Martins livreiro-
Editor, 1978, p. 34).

"Cavalo de olho de porco, cachorro calado e homem de fala


fina... sempre de relancina." (Simes Lopes, Contos Gauchescos, p. 207).

RELEVANTE, s. Repetio do levante. Em caada de veado, s vezes, o


animal, depois de enredar o rasto, fugindo perseguio dos ces, salta
para dentro de um cerrado, onde permanece vigilante, pronto para
recomear a fuga. Quando os ces o descobrem e reiniciada a corrida,
d-se o relevante.
RELHAO, s. Pancada com o relho, O mesmo que relha da.

"O capataz apeia do picao,


de faca cinta, junto ao tirador;
prende ao teimoso co forte relhao,
e rs o ferro leva, ao sangrador."
(Miguel Atayde D'vila, A Sangria,
in Revista Querncia, n 2, P.A.,
1949,p. 19).

"Apressou ento a marcha, com um relhao forte..." (A. Maia,


RUnaS Vivas, p. 156).

RELHADA,s. O mesmo que relhao.

RELHADOR, s. Relho muito comprido, usado para repontar animais por


diante, ou para conduzir carretas puxadas

426

por mulas, em geral sete ou oito. Tambm se aplica ao relho comum de


tamanho ordinrio. O mesmo que arreador.

RELHO, s. Chicote com cabo de madeira e aoiteira de trana semelhante


de lao, com um pedao de guasca na ponta. Azorrague de couro torcido.
Chicote, mango, rebenque, rabo-de-tatu.

"Quando o relho da Sorte te fustiga,


sou eu quem suaviza o teu tormento,"
(Zeno Cardoso Nunes, Esperana).

RELHO-DE-ENCHIQUEIRAR, s. Relho com a aoiteira um pouco mais comprida


que a ordinria.

RELINCHO, s. e adj. Indivduo risonho, alegre, folgazo.

REMANESCENTE, adj. Que remanesce, que resta, que sobra.

REMANESCER, v. Restar, sobrar, aparecer, reaparecer, surgir depois de


uma ausncia.

REMANSO, s. Trecho de rio, aps as corredeiras, em que as guas se


espalham em um espao mais ou menos amplo, tornando-se a corrente quase
nula.

REMATE, s. Leilo de gado. Ato de rematar. Arremate.

REMEMBRANA, s. Lembrana nostlgica, recordao, saudade, recuerdo.

"vagamente ciosa das remembranas de amor que, brandas,


ressoavam na singelez nostlgica das doces msicas crioulas." (A. Maia,
Tapera, 2 ed., RJ, F. Briguiet & Cia., 1962, p. 43).

"Toda vez que emprego a palavra remembrana, lembro-me de


Alcides Maya. Talvez seja um jeito de cultuar a memria do grande
escritor, uma voz que vem do passado, um pensamento parado no ar,
saudade. Alis, Alcides Maya dizia certas palavras, na sua maneira
luminosa e cativante de falar, que entravam pelos ouvidos e ficavam
morando para sempre na memria da gente. No sei explicar o fenmeno,
acho at que nem vale a pena tentar explic-lo, mas ele empregava
determinadas palavras que se incorporavam de certo modo aos guardados de
dentro da gente, ali permanecendo, coisa assim como um esprito baixado.
Remembrana era uma dessas palavras. Somente Alcides Maya para
empreg-la em lugar de lembrana, ou recordao, ou saudades, e a
palavra desusada pelas pessoas em geral ganhar fora, dignidade, graa,
beleza, calor."
(Carlos Reverbel, Letras & Livros, Correio do Povo, 17.4.82).

REMOER, v. Ruminar.

REMOLACHA, s. Beterraba.

REMONTAR, v. Voltar nascente, subir de novo.

RENDILHA, s. Aparelho serrilhado, colocado sobre o chanfro do animal,


fixado cabeada do freio, para sujeit-lo.

RENGO, adj. Diz-se do animal ou da pessoa que manqueja de uma das


pernas. Coxo. O mesmo que rengueado.

"Rengo que nem cusco velho em dia de geada - cusco velho - ca-

427

chorro idoso. Sempre que cai geada os cachorros de idade sofrem e,


parece, o reumatismo os castiga, deixando-os rengos, capengueando.
Diz-se das pessoas ou animais que claudicam ao caminhar, e, tambm, das
que precisam de auxilio sempre que desejam fazer alguma coisa melhor."
(Walter Spalding, Ba de Estncia).

RENGUEADO, adj. O mesmo que rengo.

RENGUEAR, v. Claudicar dos membros posteriores, coxear, caminhar


arrastando uma perna. Ficar ou tornar-se rengo. Tornar rengo, um animal
ou uma pessoa.

RENGUEIRA, s. O defeito de renguear. Var. renguera.

RENGUERA, s. O mesmo que rengueira.

RENHIDEIRO, s. O mesmo que rinhedeiro.

RENTE, adv. Prontamente, imediatamente.

REPASSADA, s. O mesmo que repasse.

REPASSADOR, s. Campeiro que repassa os redomes.

REPASSAR, v. Encilhar um redomo que j levou o primeiro galope. Montar


um cavalo j domado porm ainda no bem manso, ou solto h muito tempo,
para verificar se ele corcoveia ou no ou se obedece convenientemente ao
governo das rdeas.
REPASSO, s. O mesmo que repasse.

REPECHAR, v. Galgar, com dificuldade, um coxilho, um cerro, uma


ladeira. Ter o terreno ou a estrada um certo aclive, elevar-se, ter um
repecho.

REPECHO, s. Ladeira, subida ngreme, aclive, elevao do terreno. O


repecho um trecho de estrada difcil, porm acessvel a viaturas ou a
cavaleiros, embora com dificuldade. ( palavra castelhana).

"Uma ponta de gado surge num repecho e vem vindo, numa nuvem de
poeira, tocada pelos pees." (Heloisa Assumpo Nascimento, Haragano,
Clube do Livro, So Paulo, 1967, p. 23).

" aquela que fica ali no repecho da estrada da Vila, onde o


Franklin tinha uma bodeguinha." (Francisco Pereira Rodrigues, Terra
Afogada, P.A., Martins Livreiro-Editor, 1979, p. 35).

"Costeavamos um repecho
Quando uma lebre pulou,"
(Vaterloo Camejo, Cinzas do meu
Fogo, 1966, p. 41).

"Se um gajo to moroso,


que custe a vencer um trecho,
diz o guasca: " vagaroso
como carreta em repecho!"
(Arthur Sussenbach, Trovas).

REPENICAR, v. O mesmo que repinicar.

REPINICAR, v. Amiudar o compasso da msica. Produzir sons agudos e


repetidos, percutindo metais. Var.: repenicar.

REPIQUETE, s. Repetio da cheia de um rio, que ocorre logo aps a


enchente principal, em conseqncia de chuvas, que, embora em pequena
quantidade, encontram o curso dgua com

428

seu nvel superior ao normal.

REPONTADOR, s. e adj. Campeiro que toca por diante o gado de um lugar


para outro. // Corredor de carreira que reponta o parelheiro adversrio,
isto , que, de propsito o deixa correr na frente, como se o fosse
repontando.

REPONTAR, v. Tocar o gado por diante de um lugarpara outro. // Correr,


nas carreiras de cavalos, um dos corredores, logo atrs do parelheiro
adversrio, como se o fosse repontando, isto , tocando por diante. //
Procurar o garanho as gua para cobri-las. // Procurar o homem com
insistncia uma mulher, namor-la, request-la, com a inteno de a
possuir.

"O Chico repontava a rapariga;" (Simes Lopes, Contos Gauchescos e


Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 29).
REPONTAR GORDURA, expr. O mesmo que repontar matambre.

REPONTAR MATAMBRE, expr. Estar se salientando, estar aparecendo o


matambre da rs, por baixo do couro, quando ela se movimenta, de to
gorda que se encontra.

REPONTE, s. Ato de tocar por diante o gado de um lugar para outro.

REPOSTA, s. Resposta. (Arc. port. em uso no Rio Grande do Sul).

REPUNAR, v. Repugnar.

REPUXO, s. Trabalho intenso. Reao violenta.

"A honra para o gacho


coisa que no se agacha,
Quem no agenta repuxo
No pode enfiar bombacha."
(Manoel Faria Corra, Rumo aos
Pagos).

REQUEIMADO, adj. Diz-se dos plos alazo, tostado, zaino e vermelho,


quando apresentam nuances denegridas quase em forma de manchas.

"Plo vermelho de animal vacum ou cavalar, deixando transparecer


faixas denegridas quase forma de manchas." (Cezimbra Jacques,
Assuntosdo Rio Grande do Sul, p. 173).

RS, s. Animal vacum.

RESBALOSA, s. A faca. (Desus.).

RESMUNGAR, v. Rosnar. Emitir, o co ou outro animal um som grave, de


ameaa, ao mesmo tempo que mostra os dentes.

RESMUNGO, s. Ato de resmungar.

RESMUNGUENTO, adj. Resmungo.

RESPINGAR, v. Refugar. Sair rapidamente. Separar-se, inopinadamente, o


animal da tropa. // Emprega-se, tambm, em sentido figurado.

"Meus versos respingam do brete da idia,


e evocam, cantando, a Farrapa Epopia,
lutando outra vez por um mundo melhor!"
(Rui Cardoso Nunes, Museu das
Taperas.)

RESPONDER NAS BUCHAS, expr. Dar resposta imediata, ao p da letra.

RESSABIADO, adj. Arisco, espantadio, que foge em conseqncia de haver


sido maltratado anteriormente.

"O andante, agradecido sorte,

429
aceitava... menos algum ressabiado, j se v." (Simes Lopes, Contos
Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 34).

RESSACA, s. Cansao, abatimento, mau estar, em conseqncia de uma


bebedeira, ou de uma noite passada sem dormir.

RESSALGA, s. Ato de ressalgar a carne para a preparao do charque. // A


salmoura em que embebida a carne para a preparao do charque ou a em
que salgado o couro. // Chama-se carne de ressalga a j um tanto
oreada mas ainda no transformada em charque.

RESSALGADA, s. Pilha de charque que j recebeu o sal uma vez e que


salgada novamente.

RESSALGAR, v. Embeber a carne na salmoura, no preparo do charque, para


impregn-la de sal. Submeter o couro a operao idntica, para salg-lo.

RESSOLANA, s. Soalheira. Sol forte que aparece intermitentemente nos


dias de chuva. Sol fraco e agradvel de inverno. // Lugar resguardado do
vento onde se toma sol. // Estar na ressolana significa lagartear. //
Var. Ressolona.

"Em cima da mesa a chaleira, e ao lado dela, enroscada, como uma


jararaca na ressolana, estava a minha guaiaca, barriguda, por certo com
as trezentas onas, dentro." (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas
do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 12).

RESSOLHADOR, adj. Diz-se do animal que respira com dificuldade quando


anda, imitindo um som caracterstico nas vias respiratrias. // Diz-se
do cavalo que se ofusca com o sol muito forte.

"Formou, fez fala gente e carregou ele, na frente, montado num


tordilho salino, ressolhador." (Simes Lopes, Contos Gauchescos, p.
151).

RESSOLHAR, v. Respirar o animal com dificuldade, produzindo um som


caracterstico. Resfolegar ruidosamente. // Ter o cavalo os olhos
prejudicados pela ao do sol muito forte.

RESSOLONA, s. O mesmo que ressolana.

RESTAURADOR, adj. Carimboto. Alcunha depreciativa dada pelos farrapos


aos legalistas.

RESTEVA, s. Terra onde se fez a colheita recentemente e onde ainda se


encontram restos das plantas retiradas. Estiva.

RESTINGA, s. Mato constitudo de rvores de pequeno porte, nas baixadas,


margem de rios, arroios ou sangas.

RESTINGAL, s. Lugar onde h muitas restingas, prximas umas das outras.

RESVALAR O FREIO, expr. Tirar o freio do cavalo.

RESVALONA, adj. Resvaladia, escorregadia.

RETACADO, adj. Retaco.

RETACO, adj. Superlativo de retaco.


RETACO, adj. Diz-se do homem ou do animal de pequena altura, porm
entroncado e forte. Baixote, atarracado, cheio de corpo. O mesmo que
retocado.

"O velho Lessa era homem assinzinho... nanico, retaco,


ruivote..."(Simes Lopes, Contos Gauchescos, p. 63).

RETALHADO, s. e adj. Diz-se de ou o ga-

430

ranho em que foi praticada uma operao que no lhe permite fecundar as
guas. Serve apenas para mant-las reunidas e despertar-lhes o cio o que
facilita o trabalho do reprodutor, geralmente um burro-choro.

RETALHAR, v. Fazer no cavalo certa operao que o deixa inteiro mas


impossibilitado de fecundar as guas. (Etim.: Do castelhano, retalar,
que significa cercear, diminuir, cortar ao redor de alguma coisa).

RETIRO, s. Fundo de campo em que no se costuma transitar.

RETOBAR, v. O mesmo que retovar.

RETOAR, v. O mesmo que retouar.

RETORCIDA, s. Volta de estrada. // Baile campestre, variedade de


fandango.

RETOUAR, v. Faceirar, namorar, brincar. Var. Retoar.

"Naqueles tempos de outrora,


de moo guapo, eu vivia
como bagual, campo fora,
retoando noite e dia."
(Horcio Paz, Cisma de Gaudrio,
in Versos Crioulos, ed. do "35
Centro de Tradies Gachas", P.A.,
1951,p. 141).

RETOVADO, adj. Envolvido em couro, coberto com couro, forrado com couro.
// Figuradamente, sonso, enganador, fingido, falso, que passa por bom
mas ruim.

RETOVAMENTO, s. Ao de retovar.

RETOVAR, v. Cobrir, vestir com couro. Envolver em couro objetos de uso


campeiro. Assim, diz-se retovar as bolas, um cabo de relho, o cabo de
uma faca, etc. // Cobrir um animal recm-nascido, terneiro, potrilho ou
burrinho, com o couro de outro morto, para que a me deste aceite o
retovado como seu filho e o amamente. // O mesmo que retobar. //
Usa-se, tambm, em sentido figurado.

"Retovar um burro, cobri-lo com o couro da cria de uma gua,


para que esta assim enganada, o amamente durante o tempo necessrio para
que ele se acostume a acompanh-la. O burrinho, assim disfarado,
colocado durante a noite junto gua para que esta possa aceit-lo com
mais facilidade, conservando-se preso o burrinho por espao de dois ou
trs dias a fim de ver se a gua de fato o aceitou e se ele a acompanha
na manada, da qual o futuro reprodutor. Este expediente mais
empregado para a criao do burro junto s guas, mas tambm s vezes a
ele se recorre para se obter a amamentao de um potranco de estimao e
cuja me tenha morrido. Etim.: palavra derivada do hispano-americano
retobar." (Romaguera).

"Com que saudade eu te miro


retovado de ternura!"
(Zeca Blau, Poncho e Pala, P.A.,
Sulina, 1966, p. 28).

RETOVAR DE BRASINO, expr. Espancar, deixar as marcas do rebenque ou de


Outro instrumento usado para o espancamento.

RETOVO, s. Envlucro, cobertura de couro que costurada sobre alguns


objetos campeiros, como sejam cabos de relho, bolas, cabos de faca, etc.
// Couro de terneiro ou de potrilho com que se reveste um animalzinho
que se pretende seja amamentado pela me do que morreu. // Apoio,
arrimo.

"Pra que todos te obedeam,

431

Eu vou te pr um retovo.

O retovo so conselhos
E norma de proceder,
Que tu precisas saber
E conhecer bem a fundo."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
21 ed., P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1978, p. 48).

RETRECHAR, v. Andar devagar, com moleza, com preguia. // Sobrecarregar


de peso. // Apresentar o terreno aclive pronunciado: "A estrada retrecha
um pouco da metade para diante", isto , apresenta-se em aclive maior do
meio para diante.

RETRECHEIRO, s. e adj. Indivduo preguioso, lerdo, embromeiro,


moleiro.

RETREITA, s. Retreta. Tocata, tarde, nas praas das cidades ou


povoados, ou nos acampamentos.

RETROVIR, v. Recuar, regressar, voltar ao ponto de partida.

"Da Lagoa Vemelha retrovim para a merencrea Soledade."


(Simes Lopes, Contos Gauchescos, p. 8).

RENO, adj. O mesmo que reino.

REVERBERO, s. Fogareiro.

REVESADA, adj. Diz-se da madeira cujas fibras apresentam disposio que


no permite seja rachada no sentido longitudinal, como a linheira,
sendo nela difcil tambm o trabalho de plaina.

REVIRA, s. Agitao, tumulto, barafunda, barulho.

REVIRADO, s. Matalotagem preparada com carne, envolta em farinha de


mandioca, que conduzida pelo viajante como alimento. Farnel, Paoca.

"Para ver esta folia,


Muita gente vem, seu Juca;
Uns trazem seu revirado,
Outros comem de... pussuca..."
(Simes Lopes, Cancioneiro Guasca,
P.A., Globo, 1954, p. 216).

REVOLTO, adj. Diz-se do redomo que j obedece s rdeas e sabe


cabrestear.

REVOO, s. Primeiro embate do galo de rinha antes do ato de cruzar.

RICO-TIPO, adj. Diz-se, depreciativamente, do indivduo desfrutvel, que


se presta a zombarias. Peralvilho.

RINCO, s. Ponta de campo cercada de rios, matos ou quaisquer acidentes


naturais, onde se pode pr os animais a pastarem em segurana. Lugar
mais ou menos resguardado, na campanha. Qualquer trecho de campo onde
haja arroio, capes ou simples mancha de mato. // sinnimo de pagos e
de querncia.

"E h tambm palavras de dedo no lbio, impondo silncio:


querncia, pagos, rinco." (Augusto Meyer, Prosa dos Pagos, p. 11).

"Relembro festas, marcaes, serestas,


gaitas chorando em madrugadas tristes,
as fogueiras das noites de So Joo,
casas velhas e novas misturadas,
as geadas, os campos, as queimadas,
- as belezas sem par do meu rinco!"
(Zeno Cardoso, Nostalgia).

"Se o progresso roubou-te as invernadas


mais ricas, e feriu-te a Tradio,
deixou-te inda um potreiro - bom (rinco -
com pastagens de lei, boas agua-

432

(das!"
(Valdomiro Sousa, O Gacho no
morre...).

"Ento me fico a pensar


Que o velho traste pampeano
Do seu destino haragano
J vai tocando no termo;
E que, no cruzar do ermo,
Engolindo as lguas largas
Das estradas do rinco,
Carrega as ltimas cargas
Da gacha Tradio."
(Juca Ruivo, Carreta).

"s o Rio Grande altaneiro,


que fez do vento Pampeiro
seu desejo de amplido!
- Seu sonho de Liberdade,
que mora e vive, em verdade,
nas coxilhas do Rinco!"
(Atila Casses, Viola Campeira).

"Mas a sua cano de ausncia


cresce, num tom de despedida
tudo o que ele, em sua vida,
criou e amou no seu rinco."
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, 21 ed, P.A, Martins
Livreiro-Editor, 1981, p. 154).

"Gacha de corpo e alma,


gacha de corao,
eu sinto, hoje, em meu peito
fremir to grande emoo,
que tenho vontade imensa
de chorar, dar expanso
a minha grande alegria,
a glria do meu Rinco!"
(Helena Crespo Duarte, Retalhos
d'Alma, P.A., Imprensa Oficial,
1964, p. 95).

"Encilhei,
na ramada de meus sonhos,
o pingao fogoso
da iluso,
e ao tranquito
num gesto vagaroso
recorri todo o rinco."
(Nitheroy Ribeiro, ltima Tropeada,
Tronqueira de Guajuvira, p.
57). -

"E se o luar a luz na serra espalha,


me parece, meu Deus, que ele amortalha
as taperas perdidas no rinco!
E se gemendo o minuano passa,
eu ouo os funerais de nossa raa
no seu choro de angstia e de aflio!"
(Rui Cardoso Nunes, Tropilha Perdida).

RINCONADA, s. Rinco.

RINCONAR, v. Arrinconar. Colocar os animais num rinco. // Acampar.


Meter-se num rinco para abrigar-se ou para se ocultar.

RINCONISTA, s. O que mora em rinco. O encarregado de guardar animais


que pastam num rinco.
RINHA, s. Briga de galos, briga, peleja.

"Os mais famosos guerrilheiros da banda escolar padeceram


humilhaes inesperadas, nas rinhas com o terrvel rapazito, de
mesquinho tamanho e curta idade." (Alfredo
Varela, Remem branas, RJ, A.G.U.S.A. Ed., 1959, p. 92).

RINHADOR, adj - Diz-se do galo preparado para rinhas. // Diz-se, tambm,


do indivduo que gosta de brigar ou que anda sempre metido em brigas.

RINHAR, v. Fazer rinha de galos. Brigarem os galos. // Brigarem,


disputarem, pelejarem, contenderem as pessoas.

RINHEDEIRO, s. Rinhadeiro. Lugar onde se fazem as rinhas de galo. O


mesmo que renhideiro.

RIO, s. No Rio Grande do Sul, e em parte

433

dos Estados de Santa Catarina e Paran, este vocbulo pronunciado com


um s esforo de voz, sendo disslabo
nas demais Unidades da Federao.

"H palavras que dependem do falar regional. Rio, tio, frio, por
exemplo, so palavras que todos juram ter duas slabas. Pois bem. Estas
mesmas palavras, na regio do Paran onde nasci e formei minha lngua
materna, so contadas como tendo uma slaba s." (Eno Teodoro Wanke,
Como Fazer Versos, RJ, Arte Moderna Ltda., 1980, p. 5).

RIO DE SO PEDRO, s. Antiga denominao do Estado do Rio Grande do Sul.

RIO GRANDE, s. Antiga denominao do Estado do Rio Grande do Sul.

RIO GRANDE DE so PEDRO, s. Antiga denominao do Estado do Rio Grande


do Sul.

RIO-GRANDENSE-DO-SUL, s. e adj. Natural do Estado do Rio Grande do Sul.


Relativo ao Rio Grande do Sul.

RIPAR, v. Desbastar o cabelo do animal cavalar para torn-lo mais fino.

RIPAS, s. As lminas sseas que formam as costelas.

RISCADA, s. Movimento rpido a cavalo, disparada.

RISCADO, s. Nome de um tecido grosseiro para roupa de trabalho.

RISCAR, v. Sair a galope, disparar. O mesmo que riscar estrada.

RISCAR A RS, expr. Fazer a inciso no couro da rs recm abatida a fim


de comear a carne-la.

RISCAR ESTRADA, expr. Tocar a galope em viagem. Sair a galope, disparar.

RISCAR NA MARCA, expr. Fugir apressadamente, a disparada. O mesmo que


riscar na picanha.

RISCAR NA PICANHA, expr. O mesmo que riscar na marca.

ROCHINHA, adj. Verrinoso, insultador.

ROCINAR, v. Tornar o animal bem manso e obediente ao das rdeas, em


complementao doma.

RODADA, s. Queda do animal de montaria, para a frente, quando vai a


trote ou a galope.

RODADO, s. Conjunto das rodas de qualquer veculo. Um par de rodas de um


veculo. // Um queijo circular em forma de roda.

RODADOR, adj. Diz-se do animal de montaria que roda ou cai com


facilidade.

RODAR, v. Cair para a frente o animal de montaria quando a trote ou a


galope. // Figuradamente, sair-se mal em um negcio, ser enganado, ser
ludibriado.

RODEIO, s. Lugar no campo de uma estncia onde habitualmente se rene o


gado para contar, apartar, examinar, marcar, assinalar, castrar,
vacinar, dar sal, curar bicheiras, etc. tambm o conjunto de reses
reunidas no rodeio. // Figuradamente, conjunto, grupo. // (V. as
expresses dar rodeio, parao de rodeio, parar rodeio, parar rodeio
nas idias).

"Rodeo. Lugar abierto donde el ganado se reune. Conjunto,


reunin de ganado yeguarizo, vacuno y lanar en el campo.

434

Pedir rodeo: solicitar que se pare rodeo en mi campo vecino,


aunque est alambrado, para comprobar si hay entre el ganido, animales
de quien hace el requerimiento. Hoy, como antes, es obligacin entre los
criollos acceder a ste.
Parar rodeo: agrupar el ganado para compra, venta o por
cualquier otro motivo.
Dar rodeo: conceder rodeo al vecino que lo pide."
(Tito Saubidet, Vocabulario y Refranero Criollo).

"L no cimo da coxilha


O rodeio est parado
Para que nele reunido
Se conserve todo o gado,
Vo postar-se alguns campeiros
No vasto circ'lo em redor;
So-lhe guapas sentinelas
Cada qual bom corredor.

Separada a cavalhada
Que caiu na volteada,
Lentamente o capataz
O rodeio percorrendo,
Ora adiante, ora atrs,
Tudo observa, examina.
sua vista exp'riente
No escapa a rs doente,"...
(Taveira Jnior, Das Provincianas).

"Rodeio de Estrelas

O cu um campo enorme...
No cair da tarde, no findar do dia,
quando na tarde fria
as sombras passam, vagarosamente,
pondo em tudo
um vu espesso de treva e de mistrio,
as estrelas apontam, uma a uma, no cu.
Mais outra vem... Outras mais
e tropilhas de estrelas ento surgem.
De cada canto do cu - o campo enorme -
muitas pontas de estrelas aparecem...
o grande rodeio luminoso,
no saleiro de todas as constelaes.
Mais tarde, a Lua, velho campeiro,
trazendo na face longas cicatrizes
de lutas homricas, bravias,
vem parar o rodeio das estrelas,
de milhares de estrelas!
Vem at a restinga da fazenda grande -
Via-ltea - onde o gado estivera,
levantar alguma rs cada
nos amplos tremedais das lagoas vizinhas.

- E aquela que desandou a correr


pelo campo afora?
- uma estrela alada,
que refuga o rodeio...
- E o trao luminoso que ficou
aps a violenta corrida?
- o lao do campeiro
que num tiro seco rebentou!

Findo o trabalho do rodeio imenso,


vai o velho campeiro ao fundo da invernada
recorrer o aramado milenrio...
(Manoelito de Ornelas, Rodeio de
Estrelas).

RODETO, s. Diminutivo de rodeio.

RODELA, s.Mentira, patranha.

RODILHA, s. Pequenas voltas do lao que, quando este manejado, ficam


algumas junto armada, na mo direita, e outras na mo esquerda do
laador. // Volta que o galo de briga faz em redor do contendor, a fim
de defender-se.

435

"Eu era aquele tunante


Que andava pelas coxilhas
Errando tiras de lao
Com vinte e cinco rodilhas."
(Popular).

RODILHUDO, s. e adj. Animal que apresenta inchaes crnicas nos


machinhos e nos joelhos.

ROER A CORDA, expr. Faltar a compromisso.

ROJO, s. Foguete grande, que produz forte estampido.

ROLO, s. Farinha de trigo crioulo, integral, de cor escura, de que


feito o po de rolo. muito nutritiva, rica em vitaminas.

ROLHA, adj. Fcil de fazer calar. Manhoso, patife.

ROLO, s. Briga, conflito, barulho, baderna, bochincho.

"Armou um rolo danado,


Ficou louco, desvairado,
Ao perder para o tordilho."
(Jacyr Menegazzi, Carreira).

ROMANEIO, s. Acampamento dos trabalhadores de erva-mate, para onde ela


levada, aps a operao do sapeco, a fim de ser beneficiada.

ROMPIDA, s. Sada, ato de comear a correr, nas carreiras de cavalos.


Disparada, arranco. V. a expresso rompida na cola.

"A rompida deste baio


mais ligeira que um raio,
Ainda no vi ginete lindo
Como o Pacheco no baio!"
(Quadrinha popular).

ROMPIDA NA COLA, expr. Vantagem que, em corridas de cavalos, um


competidor d ao outro, colocando-se de forma que a cabea de seu
parelheiro fique defronte cola do competidor, na ocasio da sada.

RONCO, s. O baixo da gaita.

RONCEIRO, adj. Lerdo.

RONCOLHO, adj. O mesmo que rancolho.

RONDA, s. Servio de vigilncia a que se submete a tropa de gado nos


pousos ou sesteadas. Viglia, pastoreio. // Lugar onde pasta ou pernoita
a tropa de gado sob a vigilncia dos tropeiros.

"No sei que tenho contigo,


ranchito de pau-a-pique,
parede feita de barro
coberto de santa-f!
Pelas noites de invernia
pareces alma penada
na ronda das horas mortas
enquanto o vento solua
na palha do teu beiral
trazendo vozes fantasmas
de l do fundo das eras..."
(Joo Palma da Silva, Ranchito, in
Antologia da EPC, P.A., Sulina,
1970,p. 165).

"E os homens que esto de ronda,


com as esperanas molhadas,
metidos dentro dos ponchos,
via entoando, mui conchos,
s vezes, velhas toadas."
(Leo Ren, Cantiga em Noite de
Chuva, in Antologia da EPC, P.A.,
Sulina, 1970, p. 207).

"A ronda foi num vergado,


Que j tarde se alcanou,
Ningum dali se afastou
A ver que se acomodasse
A tropa e enfim se deitasse,
O que muito demorou."

436

(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,


P.A., Martns Livreiro-Editor,
1978,p. 58).

RONDA DO CARIJO, s. Nome dado ao empregado que passa as noites em


vigilncia a fim de manter parelho o braseiro do carijo, jogando guampas
de gua sobre as chamas mais altas.

ROR DE, expr. O mesmo que um rol de.

"Ento, por aqueles tempos,


J faz disso um ror de anos,"
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1978,p. 18).

ROSETA, s. Pea mvel da espora, constante de roda dentada, que serve


para picar o animal. // Espcie de grama rasteira e espinhenta que d em
alguns campos. O espinho dessa grama.

ROSETEAR, v. Esporear, picar o animal de montaria com a roseta da


espora.

ROSETEIRO, s. e adj.Diz-se de ou o campo de m qualidade onde h em


abundncia a grama espinhenta chamada roseta. // Denominao
depreciativa que os grandes estancieiros do aos chacareiros, cujos
campos, tendo pouco pasto, ficam logo inados de roseta.

ROSILHO, adj. Diz-se do cavalo que tem o plo avermelhado, salpicado de


fios de cor branca, produzindo o aspeto de cor rosada. Diz-se do animal
de qualquer plo, entremeado de fios brancos: rosilho-alazo,
rosilho-gateado, rosilho-mouro, rosilho-prateado, rosilho-vermelho.
Rocilho.
ROSILHO-ALAZO, adj. Diz-se do animal de plo alazo salpicado de fios
brancos, que muito assemelhado com o rosilho-vermelho. Var.:
Rosilho-lazo.

ROSILHO-GATEADO, adj. Diz-se do animal de plo gateado entremeado de


fios brancos.

ROSILHO-LAZO, adj. O mesmo que rosilho-alazo.

ROSILHO-MOURO, adj. Diz-se do animal de plo rosilho, quando h mistura


acentuada de plo escuro. Rosilho, puxando a mouro.

ROSILHO-PRATEADO, adj. Diz-se do animal de plo vermelho ou vermelho


desmaiado entremeado de grande quantidade de fios brancos.

"Foi sempre na redondeza


O pingo mais respeitado,
Todos contavam proeza
Do meu Rosilho Prateado."
(Almiro Beal, De Volta ao Pago,
Livr. Continente).

ROSILHO-VERMELHO, adj. Diz-se do animal de plo vermelho salpicado de


fios brancos em pequena quantidade.

ROSSILHONAS, s. e adj. O mesmo que russilhonas.

ROSTEAR, v. Encarar, enfrentar. // Fazer cair a rvore que est sendo


cortada para o lado em que esto os derribadoreS.

ROUBADA, s. Ato de roubar, roubo. // Ato de usar algo, por pequeno


espao de tempo, sem o consentimento do dono, e sem que este fique
sabendo.

ROUPA-VELHA, s. Espcie de paoca de charque socado no pilo e desfiado,


com farinha de mandioca, e, s vezes, de feijo ao qual se adiciona um
ovo e sobras de outros alimentos, sendo em geral servida ainda quente. A
paoca propriamente dita, ao contrrio da roupa-velha, servida e
comida fria, geralmente em viagem.

437

RUANO, adj. Diz-se do cavalo de plo alazo-claro, com a crina e a cola


de cor amarelo-clara, quase branca, ou branca. Aplica-se, tambm, ao
cavalo baio, gateado, ou de qualquer plo com o qual formem contraste as
crinas e a cola amarelo-claras, quase brancas, ou brancas. (O ruo, do
portugus, no corresponde ao ruano de Rio Grande do Sul, que,
provavelmente, vem do castelhano roano ou ruano). // Designao que o
gacho plo-duro d ao imigrante loiro, de qualquer procedncia.

"Ruano. Pelo de yeguarizo de color alazn con las crines y


cola blanca. Se le suele llamar tambin alazn ruano. El caballo ruano
puede ser: un, dos, tres o cuatro albo, con fiador, cruzado,
testerilla, botas com delantal, medias botas, bien calzado, doradillo,
fajado, lunarejo, arrosillado, gargantilla, malacara, mascarilla,
overo, pata blanca, alazn, estrella, bayo, lista, media lista, lista
tuerta y media lista tuerta, mano corona blanca, pampa, pico blanco,
zaino, tostado, rabicano, etc." (Tito Saubidet, Vocabulario y Refranero
Criollo).

"Essa gente ruana boa, mas como rvore que ainda no criou
raiz." (Sylvio da Cunha Echenique, Fagulhas do meu Isqueiro, Pelotas,
Ed. Hugo, 1963, p. 43).

RUBICANO, adj. Diz-se do cavalo que tem fios brancos no rabo vermelho.
Diz-se do cavalo preto, baio ou alazo, com alguns plos brancos
entremeados. Rubico, rabicano, rabico.

"Rubicn. Yeguarizo de pelo blanco y colorado mezclados. Tiene


un parecido con el ruano anaranjado. En francs llaman rubicn al alazn
overo y al overo." (Tito Saubidet, Vocabulario y Refranero Criolo).

RUBICO, adj - O mesmo que rubicano.

RUFAR, v. Fazer tropel. Correr para, disparar em direo a: "Os ndios


tomaram uns tragos de cachaa com plvora e rufaram para So Francisco."

RUFIO, s. Cavalo inteiro, destinado reproduo. Garanho, pastor. //


Figuradamente, indivduo dado a namoros, femeeiro.

RUFIAR, v. Procurar o garanho as guas, para cobri-las.

RUFO DE MANGO, expr. Surra de relho.

RIM, adj. Ruim. (No Rio Grande do Sul a vogal tnica o "u").

RUIM COMO A CARNE DA P, expr. Diz-se da pessoa muito ruim, com aluso
carne de paleta que de m qualidade.

"Levou tempos o Chimango,


Rim como a carne da p,
Pra sair do b-a-b
E chegar ao a-m-o.
No era por vadiao,
A cabea que era m."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1978, p. 30).

RUIM COMO CARNE DE COBRA, expr. Diz-se da pessoa muito m.

RUINDADE, s. Pessoa m, imprestvel, intil.

RUMA, interj. Voz que os carreteiros dirigem aos bois para convid-los
a se colocarem sob a canga ou jugo.

438

RUMBEADOR, adj. Diz-se do indivduo que tem o sentido da orientao, que


sabe os rumos a que dirigir-se em qualquer lugar do campo em que se
encontre.

RUMBEAR, v. Rumar, encaminhar-se para certo lugar ou em determinada


direo. Rumbiar.

... "e no que achei campo em frente, rumbeei para a estncia do


falecido Joo Silvrio," (Simes Lopes, Casos do Romualdo, P.A., Globo,
1952, p. 73).

RUMBIAR, v. O mesmo que rumbear.

RUMBO, s. Rumo.

RUMEAR, v. Rumar, tomar caminho, tomar direo.

"de espingarda a tiracolo e pistola cinta, l rumeava para as


sangas." (A. Maia, Alma Brbara, p. 66).

RUM-RUM, s. Falatrio.

RUSGAR, v. Brigar, provocar, fazer rusgas, resmungar.

RUSGUENTO, adj. Briguento, provocante, resmunguento, implicante.

RUSSILHONAS, s. e adj. Botas de cano comprido, prprias para montaria.


// Botas de cano alto, de couro amarelo ou amarelado. // O mesmo que
rossilhonas.

439

440

SABO, s. Repreenso, censura.

SABERETE, adj. Sabicho.

SABER ONDE MORAM AS CORUJAS, expr. Ser esperto, ser perspicaz, ter
grandes conhecimentos.

SABI, s. Ponta de cigarro j usada, bagana.

SABUGO, adj. Diz-se do indivduo bajulador, engrossador, capacho.

SABUGUEIRINHO, s. Denominao de uma erva, da familia das Rubiceas


(Borraria acentatroide), com propriedades medicinais, empregada no
tratamento de doenas do fgado. O mesmo que sabugueirinho -do-campo.

SABUGUEIRINHO-DO-CAMPO, s. Sabugueirinho.

SACALO, s. Puxo. Tiro. Ato de sofrear subitamente o cavalo para


faz-lo parar de imediato. Sofrenao brusco.
"Mas, apenas dobrara o passo, logo, a um sacalo de rdeas,
estacou empinado." (A. Maia, Tapera, p. 7).

SACANA, s. e adj. Indivduo sem carter. // Individuo trocista.

SACAR, v. Retirar, extrair.

SACAR A ORELHA, expr. Atingir o parelheiro o lao de chegada,


apenas com a orelha livre, isto , adiantado do seu competidor apenas o
espao equivalente ao dimetro de uma orelha.

SACAR NA ORELHA, expr. Sarem os parelheiros juntos na cancha.

SACAR ORELHA, expr. V. orelha-livre.

SACAR PELUDO, expr. Safar-se de um atoleiro.

SACUDIDO, adj. Forte, valente, destro, destorcido, trabalhador,


decidido. disposto, perito em alguma coisa.

SACUDIR AS BOLAS, expr. Arremessar a boleadeira sobre um animal.

SACUDIR O LAO, expr. Arremessar o lao para prender um animal.

SACUDIR O PONCHO, expr. Rebelar-se. revoltar-se, ofender, desafiar.

SACUDIR OS ARREIOS, expr. Reclamar, opor-se a alguma coisa, discutir


acaloradamente, no aceitar oposio. rebelar-se.

SACUDIR UM PEALO, expr. Lanar o lao para pealar. Atirar um pealo.

SAFRA, s. poca do ano em que se costuma vender o gado gordo, a l, o

441

charque, ou outros produtos da pecuria ou da agricultura. Os


hispano-americanos dizem zafra, na mesma acepo.

SAGUAIP, s. Doena parasitria que ataca os ovinos.

SAIA, s. Combinao. Roupa que as mulheres usam por baixo do vestido,


constituda de saia e corpinho em uma s pea.

SADA, s. Partida dos cavalos nas carreiras. // Disparate.

SADO, adj. Intrometido, intrujo, que abusa da intimidade que se lhe


d.

SAIDOR, adj. Cavaleiro que sai em p quando o cavalo roda. Parador. //


Lugar de sada dos cavalos nas canchas de carreiras. Lao de sada. Lao
de largada. Partidor.

SAIDOURO, s. Lugar, margem de um rio, por onde sai o gado que o


atravessou a nado.

SAIR, v. Ficar m p, adiante do cavalo, quando este leva uma rodada ou


se plancha. O mesmo que sair em p ou sair de em b.
SARA, s. Pssaro de bela plumagem que vive nos laranjais no tempo em
que as laranjas esto maduras.

SAIR AO FACHO, expr. Sair para passear, para divertir-se, para respirar
o ar livre. "Trabalhei o dia inteiro; agora vou sair ao facho para me
distrair um pouco."

SAIR APAGANDO, expr. Sair disparada.

SAIR ATRAVESSADO, expr. O mesmo que sair de atravessado.

SAIR CAMPO FORA, expr. Ir-se embora, sair toa. Sair a disparada pelo
campo.

SAIR CHISPA, expr. O mesmo que sair fasca.

SAIR COM LUZ, expr. Sair o parelheiro, nas carreiras, do ponto de


partida, adiantado do competidor distncia superior ao comprimento de um
corpo de cavalo.

SAIR DE ATRAVESSADO, expr. Sair o parelheiro atravessado na cancha, na


partida. // Responder mal, com improprios, com palavras speras.

SAIR DE EM P, expr. Sair o cavaleiro em p, por ocasio da rodada do


cavalo em que estava montado. Sair parado. // Conservar a boa reputao
aps ser mal sucedido em um negcio ou em qualquer empreendimento.

SAIR DE MANO, expr. Sair do jogo com o mesmo dinheiro que tinha quando
entrou, isto , sem lucro ou prejuzo.

SAIR DE MARCA QUENTE, expr. Sair desconfiado ou ressabiado. Sair muito


irritado, zangado, brabo.

SAIR EM P, expr. O mesmo que sair de em p, ou sair de p.

SAIR FASCA, expr. Ser muito difcil de realizar. O mesmo que sair
chispa, sair fogo.

442

SAIR FEDENDO, expr. Fugir disparada.

SAIR FOGO, expr. O mesmo que sair fasca.

SAIR FOLHEIRO, expr. Sair airosamente de uma dificuldade.

SAIR LASCA, expr. O mesmo que sair chispa, sair fasca.

SAIR LIMPO, expr. Desembaraar-se do cavalo quando este leva uma rodada
ou se plancha.

SAIR PARADO, expr. Ficar de p quando o cavalo roda ou se plancha.

SAIR SAPATEIRO, expr. Sair do jogo sem conseguir ganhar nenhuma parada.
// Sair da pescaria sem ter pescado nenhum peixe.
SAIR TININDO, expr. Sair a toda disparada, fugir apressadamente.

SAIR TOCADO, expr. Sair apressado.

SAIR VENDENDO OS ARREIOS, expr. Disparar o cavalo pelo campo, fugindo do


cavaleiro, espalhando na corrida as peas do arreamento. O mesmo que
espalhar os arreios.

SAIR VENTANDO, expr. Sair a toda disparada.

"O mocito era abusador, e mais duma feita saiu ventando de


certos ranchos daqueles pagos..." (Simes Lopes, Contos Gauchescos e
Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 123).

SAIR XAVIER, expr. Sair aborrecido por ter perdido no jogo, ou por
qualquer outra causa. Sair encabulado.

SALADEIRIL, adj. Relativo ao saladeiro.

SALADEIRISTA, s. Dono de saladeiro ou charqueada. Charqueador.

SALADEIRO, s. Charqueada. Estabelecimento em que so preparados o


charque ou carne seca e outros produtos da pecuria. ( termo platino,
derivado de sal).

SALAMANCA, s. Salamandra. Furna encantada. A Salamanca do Jarau uma


bonita lenda do tempo das misses jesuticas, descrita por J. Simes
Lopes Neto em seu livro Contos Gauchescos e Lendas do Sul.

"E neste mesmo instante, que era o da terceira vez que Blau
saudava no nome Santo, neste mesmo momento ouviu-se um imenso estouro,
que retumbou naquelas vinte lguas em redor; o Cerro do Jarau tremeu de
alto a baixo, at as suas razes, nas profundas da terra, e logo, em
cima, no chapu do espigo, apareceu, cresceu, subiu, aprumou-se,
brilhou, apagou-se, uma lngua de fogo, alta como um pinheiro,
apagou-se, e comeou a sair fumaa negra, em rolos grandes, que o vento
ia tocando para longe, por cima do encordoado das coxilhas, sem rumo
feito, porque a fumaceira inchava e desparramava-Se no ar, dando voltas
e contravoltas, torcendo-se, enroscando-se, em altos e baixos, num
desgoverno, como uma tropa de gado alado, que espirra e se desmancha
como gua parada em regador...
Era a queima dos tesouros da salamanca, como dissera o
sacristo.
Sobre as cadas do Cerro levantou-se um vozerio e tropel: eram
os maulas que andavam rastreando a furna encantada e que agora fugiam
desguaritados, como filhotes de perdiz...
(...)
Assim acabou a salamanca do Cerro do Jarau, que a durou
duzentos anos, que tantos se contam desde o tempo das Sete Misses, em
que estas coisas principiaram". (Simes Lopes, Lendas do Sul, A
Salamanca do Jarau, P.A., Globo, 1976, p. 71-72).

443

SALAMANQUEIRO, s. Prestidigitador.

SALEIRO, s. e adj. Diz-se de ou o gado habituado a comer sal, que gosta


de comer sal. Lugar onde se d sal ao gado. // Campo em que h
abundncia de princpios salinos.

SALGA, s. Lugar na charqueada onde se aplica o sal na carne.

SALGO, adj. Diz-se do cavalo que tem os olhos brancos, ou pelo menos um
deles. O mesmo que sargo e zargo. Sapiroca.

SALINO, adj. Diz-se do animal vacum, e, s vezes tambm do cavalar, de


plo salpicado de pintas pretas, brancas ou vermelhas. H muitas
variedades de tal plo, a saber: alazo-salino, branco-salino,
preto-salino, tordilho-salino, vermelho-salino, etc.

SALPICO, s. Espcie de paio feito com pedaos de carne bovina.

SALSA-MOURA, s. Planta medicinal da famlia Ampeidae (Cissus strata


quinquefolia Sims), usada como anti-reumtico e depurativo.

SALSEIRO, s. Conflito, briga, peleja, rolo, desordem, balbrdia,


barulho, charivari.

"Quando entro num salseiro,


Ningum h que me desbanque!"
(Simes Lopes, Cancioneiro Guasca).

SALSO, s. rvore da famlia do salgueiro que vegeta nos lugares midos.

SALTO, s. Filhote de gafanhoto enquanto no voa. // Denominao de


vermes que atacam o charque.

SALUAR, v. Forma antiga e popular de soluar.

SALUO, s. Forma antiga e popular de soluo.

SALUDAR, v. Saudar, cumprimentar.

SALUDO, s. Saudao, cumprimento.

SALVAR, v. Cumprimentar, saudar, dizer adeus.

SAMAMBAIA, s. Planta medicinal muito comum nos campos de cima da serra,


aplicada contra tosses, gripes, bronquites, reumatismo gotoso e dores
reumticas em geral. Var.: Sambambaia.

SAMBAMBAIA, s. O mesmo que samambaia.

SAMBIQUEIRA, s. O mesmo que sambiquira.

SAMBIQUIRA, s. Uropgio, titela da galinha. Tambm se denomina


sambiqueira e sobrecu. (Etim.: Do guarani suan-biquiri: suan, espinha
dorsal; bi, ponta;quire, tenra, mole).

SAMBUR, s. Balaio. Cesto de taquara ou cricima para guardar objetos.

SAMESUGA, s. Sanguessuga (Antiq. em Portugal).

SAMIXUNGA, s. Sanguessuga.

SAMORA, s. Sabur. O mel da abelha ainda em formao, de gosto


desagradvel.

SAMPAR, v. Arremessar, atirar, lanar, assentar, chimpar, pespegar.

SANCHO RENGO, s. V. a expresso fazer-se de rancho rengo.

SANGA, s. Pequeno curso dgua menor que um regato ou arroio. Ribeiro


pequeno, que seca facilmente. Escavao profunda feita por chuva ou
correntes

444

subterrneas de gua. Lugar fundo e pantanoso, desbarrancado pelas


chuvas, com grandes poas dgua.

"Cabelos soltos,
ps descalos,
nua
- com a naturalidade
de vestida -
eu me banhava
nas sangas
da infncia
da minha vida."
(Danci Ramos, Tempestades e
Bonanas, P.A., Globo, 1978, p. 39).

"Eu preferia, agora, ser criana


solta, a correr atrs de uma boiada,
ou a molhar os ps na sanga mansa,
olhando, ao longe, o gado na invernada".
(Lauro Pereira Nunes, Sonho Vazio,
P.A., Grfica Trevo, 1966, p. 97).

" gua de sanga

gua de sanga
Que vem l de longe,
Cheirando a pitanga,
Singela, faceira,
Que nem uma prenda
Que traz nos cabelos
Um tope de fita,
Vestido de rendas,
Sandlias bonitas
A bailar logo mais
No esturio do rio!

gua de sanga
Que vem serpenteando
Caminhos de pedras,
Que o homem no cruza,
Que o homem no canta,
Que o homem no viu."
(Cleber Mrcio, ltima Tropeada,
p. 107).
"As flores como missangas
Bordando o poncho dos prados
E as guas claras das sangas
Trovando nos empedrados."
(Gen. Serafim Vargas).

... "e esta rendinha


na beira da manga
me lembra a espuma
nas guas da sanga,"
(Gilda de Souza Soares, Vestido de
Prenda, in Antologia da EPC P.A.,
Sulina, 1970, p. 195).

SANGADO, adj. Preso na sanga. Enfezado, raqutico.

SANGO, s. Aumentativo de sanga. Sanga funda, barrancosa.

"Passou por um sango, numa picada rala e encontrou-se num stio


mais largo, que os aorianos comeavam a dar o nome pitoresco de rua da
Ponte." (Ary da Veiga Sanhudo, Porto Alegre, 1 Vol., Sulina, 1961,p.
118).

"E os ecos reboam


na verde amplido
das serras distantes,
das lombas ondeantes,
nos fundos sanges."
(Aurlio Porto, Farrapiada, RJ,
Papelaria Velho, 1938, p. 126).

SANGRADOR, s. Pessoa que sangra a res, para mat-la. // Regio da rs


onde se introduz a faca para abat-la. // O mesmo que sangradouro.

SANGRADOURO, s. Lugar no lado direito do peito da rs, junto ao pescoo,


onde se introduz a faca para mat-la. // A pea de carne ou assado que
se tira dessa parte do animal. // Canal natural pelo qual se comunicam
duas lagoas ou dois rios.

"O peo puxou da faca e dum golpe enterrou-a at o cabo, no


sangradouro do boi manso; quando re-

445

tirou a mo, j veio nela a golfada espumenta do sangue do corao..."


(Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p.
43).

SANGRAR, v. Introduzir a faca no sangradouro da rs para mat-la. //


Aceder a um pedido de dinheiro, a uma facada.

SANGUE DE BOI, s. Denominao de um passarinho de cor vermelha.

SANGUERA, s. Grande quantidade de sangue, sangueira.

SANGUINHAR, v. Pisotear, patinhar na lama.


SANHAO, s. Pssaro do Rio Grande do Sul, do qual h trs variedades:
Tanagra, Tanagra Cyanoptero, Tanagra Bonariensis, Gu.

SANTA-F, s. Planta da famlia das Gramneas, de folhas longas, finas e


speras, muito empregada em quinchas ou coberturas de ranchos ou de
carretas.

SANTAFEZAL, s. Lugar em que existe em abundncia a gramnea chamada


santa-f.

SANTA JOSEFA, s. Nome de uma escrava que, conforme lenda existente em


Cachoeira do Sul, depois de sucumbir aos maus tratos de seu senhor,
tornou-se santa.

"Nasceu Santa Josefa nesse tempo


em que seres humanos pertenciam
a outros que, cruis e desumanos,
lhes infligiam brbaros castigos,
e em que o martrio e a dor santificavam.
E assim, ficou, Santa Josefa, santa".
(Aurlio Porto, Farrap fada, RJ,
Papelaria Velho, 1938, p. 51).

SANTA-LUZIA, s. Denominao dada por gracejo palmatria. // Santa


protetora dos olhos. // (H, no folclore do Rio Grande do Sul, duas
simpatias ligadas a Santa-Luzia: uma, para retirar argueiro do olho;
outra, pra curar dispepsias).

SANTO - ANTONINHO - ONDE -TE-POREI, s. Pessoa muito querida, muito


mimada.

SANTO ANTNIO, s. Cabea do lombilho.

SANZALA, s. Senzala.

SO BENEDITO, s. Nome dado por alguns ao Negrinho do Pastoreio.

so PEDRO, s. Antiga denominao do Estado do Rio Grande do Sul. // O


santo considerado padroeiro do Rio Grande do Sul.

"Oh! Bom Santo Padroeiro


Daquerncia que eu venero,
Implorar-te agora eu quero
Que tenhas pena de mim;
Que eu pobre guasca campeiro,
Modesto, simples, sem luxo,
Possa ser um bom gacho
At, na vida, ter fim."
(Onofre Machado Ramos, Cantos
que eu canto, Prece a So Pedro,
P.A., Ed. Metrpole, 1978, p. 21).

SAPATEADA, s. antiga dana rio-grandense j em desuso.

SAPECA, s. Sova, tunda, surra, sumanta; descompostura; viagem longa ou


estafante. // Sapecada.

SAPECAO, s. Ao de sapecar, sapecagem, chamuscadura.


"Depois de iniciado o processo da sapecao, os ervateiros no o
podem abandonar, apesar do frio e

446

da neve..." (Hemetrio Velloso, Misses Orientais, P.A., 1910 p. 182).

SAPECADA, s. Ato de assar pinhes em fogueira de grimpas, ou seja, de


folhas de pinheiro, j secas. // Ao de sapecar. // Surra.

SAPECADOURO, s. Lugar onde se faz a sapecao do mate.

"Depois so conduzidos todos os feixes para um lugar tambm


roado e limpo, na distncia de meio a um quilmetro do carijo, que se
chama o sapecadouro da erva ainda verde." (Hemetrio Velloso, Misses
Orien tais, p. 182).

SAPECAR, v. Surrar de leve.

SAPECO, s. Ato de sapecar os galhos da erva-mate antes do encarijamento.


// Doena que ataca as plantaes de mandioca.

"Operao que consiste em chamuscar rapidamente os ramos da


erva-mate recm colhidos, obtendo-se uma primeira desidratao, antes da
secagem no carijo ou barbaqu. No sapeco costume usarem-se, misturadas
lenha do fogo, ramos de plantas olorosas (guabiroba ou cabreva)."
(Mozart Pereira Soares, Erva Cancheada, p. 128).

SAPICO, s. O mesmo que pico.

SAPIROCA, s. Inflamao das palpebras, com queda das pestanas. Blefarite


ciliar. Sapiranga. // O mesmo que salgo.

SAPO, s. Indivduo que assiste um jogo sem dele participar.

SARAMBA, s. Espcie de fandango.

SARAMOO, s. Produo inferior e escassa de uma lavoura.

SARANDEAR, v. Sarabandear, saracotear, menear o corpo na dana,


requebrar-se. // Corcovear, o cavalo, ou sair ele aos pulos,
fogosamente, de um lado para o outro.

SARANDEIO, s. Saracoteio. Meneio executado em uma dana.

SARANDI, s. Terra maninha.

SARANDIZAL, s. Terreno coberto de sarandis.

SARAPANTADO, adj. Medroso, assustado.

SARAPANTAR-SE, v. Assustar-se, amedrontar-se.

SARAPILHEIRA, s. Serapilheira, aniagem, estopa.

SARAPINTADO, adj. Salino, salpicado, manchado de pequenas pintas.


SARAQU, s. Denominao de uma cavadeira de pau utilizada para plantar o
milho. (Etim.: Vem do tupi, i, estaca, esteio, galho, e ,uquai,
rolio, torneado). "Cada qual com seu saraqu", significa cada um no seu
lugar, na sua ocupao, cada macaco no seu galho, cada qual com seu
destino.

SARGO, adj. O mesmo que salgo.

SARIEMA, s. Seriema.

SARNAGEM, s. Sarna, ronha dos animais cavalares.

SARRABALHO, s. Baile campestre, variedade de fandango.

SARRABULHO, s. Rolo, bate-boca, briga.

SAVITU, s. Sava.

SEBEIRO, s. Denominao depreciativa dada pelos habitantes da cidade de


Rio Grande aos da cidade de Pelotas.

447

SEBENTO, adj. Diz-se do indivduo que est com a roupa suja pelo uso
prolongado.

SEBINHO, s. Passarinho que vive nos arredores de Porto Alegre e em


outros lugares do Estado, exceto na fronteira, pelo menos com esse nome.
Alcunha dada aos pelotenses pelos rio-grandinos.

SEBRUNO, adj. Diz-se do animal cavalar de plo mais ou menos escuro,


sendo o mais comum o baio-sebruno. (Etim.: Para alguns estudiosos
mettese de serbuno, para outros contrao de semi-bruno, e para
outros ainda, se deriva de cervo, cervuno. Para Sylvio da Cunha
Echemque, vem do ingls seal-brown, pardo de foca).

"Aqui vou esbarrar de garro para voltar ao assunto das pelagens


de cavalos atendendo ao missivista amigo. No sei se sebruno o mesmo
lebruno, mas desconfio que no . Em 'Vorgine' de J. Rivera e em 'Doa
Brbara' de Romulo Gallegos, conhecidos livros que relatam cruamente a
vida atroz que levam os infelizes habitantes dos llanos colombianos e
venezuelanos, s comparveis, na narrativa horripilante, 'A Selva' de
Ferreira de Castro, que se ocupa do inferno verde amaznico, aparece
lebruno designando um plo de cavalo, que no o nosso sebruno, penso
eu. Lebre em espanhol 'liebre' e a sua cor antes rosilha e no essa
cor escura carregada, com uma tonalidade osca, mais ou menos
regularmente espalhada pelo corpo, apresentando um debrum mais claro em
volta dos olhos, do focinho, nos sovacos e verilhas, a sebruna. Alis
esse debruado esmaecido tambm caracterstico do plo pangar e alguns
outros. O ilustre coronel Luiz Carlos de Moraes, em 'Vocabulrio
Sul-rio-grandense', admite que venha de cervuno (cervo), mas diz que
cor escura do eqino. O cervo no assim escuro. Pela mesma cartilha
reza o professor Emilio Solanet, argentino, crioulista de nomeada. J
Angel Cabrera acredita que sebruno tenha origem de 'cebra', do espanhol
da Idade Mdia, designativo da cabra monts dos Pirineus, geralmente de
pelagem parda clara, avermelhada, parecida com a do puma, porm mais
forte.
Veja o leitor como est encardindo o assunto. Nem o veado, o
cervo, a lebre, nem o puma tm a pelagem do nosso cavalo sebruno, pois,
ou puxam para o douradilho, ou para o gateado. Alis, no Oeste
norte-americano ao gateado tpico chamam de 'buckskin', simplesmente
pele-de-veado. E os gateados em geral so 'duns'.
Em que pese a opinio de gente to cupinuda, que deveria ser o
suficiente para eu me fazer fumaa, aqui, com a sua licena, vou abrir a
carona e dar o meu talho nesse espeto. No meu fraco entender, e
culatreando longe nessa bolichada de doutores, o termo sebruno, como o
usamos para designar a pelagem de cavalo que conhecemos como tal, no
R.G.S., no Uruguai e na Argentina, vem do ingls 'seal-brown',
pardo-de-foca, com o qual os anglos conhecem a capa de cavalos iguais
aos nossos sebrunos. por demais sabida a influncia que tiveram os
filhos da loura Albion no Rio da Prata, desde tempos anteriores
independncia da Argentina. E no nos esqueamos que

448

Bolivar teve sob as suas ordens, na sua epopia libertadora, milhares de


mercenrios britnicos, que, uns e outros, contaminaram o idioma
castelhano na Amrica Latina. 'Seal-brown' - sebrun - sebruno. No o
plo da foca o mais parecido com o do nosso cavalo sebruno, muito mais
que o da lebre, do puma, do cervo ou do veado? (Sylvio da Cunha
Echenique, Correio do Povo).

SECA, s. Conversa, prosa, palestra rpida.

SECAR BADANA, expr. Deixar o cavalo encilhado, em frente casa da


namorada, por longo tempo.

"h de lembrar de uns olhos de serrana,


por quem alguma vez secou badana
num fandango qualquer, l pela estncia;"
(Rui Cardoso Nunes, Almas Penadas,
p. 6).

SE CONVIDARAM, expr. Acertaram-se os corredores, na partida, para


fazerem a largada.

SEDEIRA, s. Parte do bual em que fica a argola destinada a prender a


presilha do cabresto. // Pea de couro de quinze centmetros de
comprimento, mais ou menos, presa ao travesso, na qual apresilhado o
lao.

SEDENHO, s. Cabelo da crina e da cola dos animais cavalares, muares e


vacuns.

SEGUIDILHA, s. Dana de origem espanhola.

SEGUIMENTO, s. Cilada, traio. (Antiq. em Portugal).

SEGUIR, v. Continuar.

"Segui fumando (notem o elegante gauchismo - seguir no lugar de


continuar) durante anos, pois tudo me induzia a isso." (Rubem Braga,
crnica, Correio do Povo, 11-4-82).
SEGUNDO, s. Auxiliar de confiana de algum, seu substituto, sua segunda
pessoa.

SEIBO, s. rvore da famlia das leguminosas, de grande desenvolvimento,


de madeira muito mole, de bonito aspeto quando florida. (Erythrina
falcata, Benth).

SEIO DE LAO, s. Curva ou seio formado pelo lao, apresilhado cincha


em uma extremidade e, na outra, preso ao animal laado; ou, ainda preso
cincha de dois cavalos que correm paralelamente. muito perigoso ser
uma pessoa apanhada em um seio de lao.

SEIDA, adj. Diz-se da mulher que possui seios muito grandes.

SEIVAL, s. Grande rea coberta de seibos. // Banhado extenso, lugar


mido e alagadio.

SEIVO, s. Campo aberto sem tapume.

SELAMIM, s. Medida de capacidade para secos equivalente a 1/16 do


alqueire. Celamim.

SELIM, s. Sela prpria para uso da mulher.

SEM MAIS AQUELA, expr. Inesperadamente. Sem conversa, sem perda de


tempo.

SEM MAIS QU NEM PRA QU, expr. Sem nenhum motivo, por nada, toa.

SEMOSTRADEIRA, adj. Diz-se de moa pouco recatada, que gosta de


aparecer, de exibir-se, de chamar a ateno.

449

SEM RESERVA, expr. Sem limite, em relao a aposta em carreira. // Sem


segredo, em se tratando de outro assunto.

SEM UM FINO, expr. Sem dinheiro algum.

SENADOR, s. Cavalo muito velho.

SENCILHA, s. Dinheiro emprestado aos jogadores, em jogo de cartas, por


um dos circunstantes que no joga. Quem d sencilha alm de receber
percentagem sobre o dinheiro emprestado, participa, tambm, do lucro do
parceiro.

SENCILHEIRO, s. Credor, prestamista, que d sencilha ou que vive de


sencilha.

SENDEIRO, s. Cavalo ordinrio, sem prstimO algum.

SENTADA, s. Parada repentina do cavalo que galopa. Ao de fazer sentar


o cavalo. // Oportunidade, feita, ocasio.

SENTADOR, adj. Diz-se do cavalo que atado pelo cabresto ou pelas rdeas
a um palanque atira-se para trs com o fim de rebentar a corda que o
prende e libertar-se. // Figuradamente, diz-se da pessoa que se nega a
fazer alguma coisa que se esperava que ela fizesse. // Diz-se do cavalo
que freqentemente d sentadas.

SENTAR, v. Parar bruscamente, o cavalo, quando vai a galope. // Refugar,


o gado, da porteira. // Estacar. // Tomar a pessoa uma resoluo: "O
Antnio, depois de velho, sentou de estudar Direito." // Negar-se a
pessoa a fazer alguma coisa.

SENTAR NA PRESILHA, expr. Opor-se, negar-se a fazer alguma coisa. //


Resistir.

SENTAR NAS RDEAS, expr. Sofrear o


animal, fazendo-o parar repentinamente, quando a trote ou a
galope. O mesmo que bancar nas rdeas.

SENTAR NO CABRESTO, expr. Atirar-se o cavalo violentamente para trs


quando preso ao palanque pelo cabresto. // Em sentido figurado, negar-se
a pessoa obstinadamente a fazer alguma coisa.

SENTAR O BRAO, expr. Surrar, bater, espancar, esbofetear, esmurrar.

SEO, s. Abreviatura de senhor: Seo Deodato, seo Francisco. O mesmo que


seu.

SEP-TIARAJU, s. Cacique guarani, morto em refrega que precedeu o


massacre de Caiboat, na tarde de 7 de fevereiro de 1756, quando
enfrentava os portugueses e os espanhis em defesa de sua Terra.

"Crescia a audcia dos guerrilheiros de Sep e, para


castig-los, determinou o comando do exrcito aliado, passasse quela
margem do rio, com 300 homens de ambas as naes, o Governador de
Montevdu D. J. J. Viana. Mais tarde, constatando ser numerosa a
fora das Misses, determinou o mesmo comando fosse enviado um
destacamento composto de 500 homens. Este ltimo, porm, no havia
chegado, quando se deu o choque com os ndios. primeira escaramua,
estes, desorientados, procuram retirar, perseguindo-os o comandante
Viana, a todo galope, ao princpio com 75 homens e, depois com 20, ao
que se reduzira a sua escolta, e assim atingiu o capo em que os ndios
haviam feito alto. A estava Jos Tiaray, o Capto Sep, que chamava
ateno pelo seu belo porte e pela atitude garbosa de seu natural. Um
cavaleiro portugus, armado de lana o atingiu, e o derru-

450

bou juntamente com o cavalo, depois de um rpido combate em que tambm


ficou ferido. Sep, mal ferido, procurava erguer-se quando o Governador
D. J. J. Viana, alvejou-o com sua pistola, matando-o. Novo
contingente de ndios vem reforar a partida missioneira, cujo chefe
jazia morto beira do capo, e neste choque 8 ndios mais perdem a vida
e dos aliados ficam, no campo, 2 mortos e 2 feridos. Isto se deu a 7 de
Fevereiro de 1756." (Aurlio Porto, Histria das Misses Orientais do
Uruguai, Vol. IV, P.A., Ed. da Livr. Selbach, 1954, p. 225-26).

"Sep luta como um ser sobrenatural. Mas chega-lhe, pelas


costas, um drago portugus, que lhe joga um golpe profundo, de lana.
Sep abraa-se ao pescoo do cavalo. E tenta retirar. Quase
pendurado aos estribos, no resiste. Cai mais longe. Mas, o inimigo
persegue-o de perto. Cai, mas ainda destende o arco de guerra e atira
uma flecha em plena face do drago portugus. Tombado e ferido,
mortalmente, ainda lhe temem o brao vigoroso.
Mas o sangue lhe escorre aos borbotes pela ferida, empapando o
cho que ele defende, embebendo a terra que ele ama, assinalando de
rubro a porta dos Sete Povos, onde fica sua cabana abandonada e onde os
campos das Misses, agora, sero presa fcil dos invasores.
Viana (Jos Joaquim Viana, Governador de Montevidu) chega ao
local onde o entrevero esmaece como a vida de Tiaraju e, do alto da sela
de carona bordada, despeja sua pistola sobre o corpo j quase inerte de
Sep.
Os ndios fogem, apavorados, desordenados, levando na boca o
grito de alarma - o aviso terrvel da morte do heri dos povos
missioneiros.
A noite cai sobre o campo de batalha. E os ndios, que recuam
para os acampamentos, vem, no espao, coberto de lua, uma figura feita
de sombra, galopando um cavalo de fogo, com uma lana vermelha
destra." (Manoelito de Ornelas, Tiaraju, P.A., Ed. da Alvorada, 1966, p.
95-96).

"Cumpre, em verdade, no olvidar que, nos primrdios do


descobrimento e explorao deste hemisfrio, toda a Amrica do Sul e
especialmente aquela regio compreendida entre o Rio Orinoco e o
Estreito de Magalhes, se denominava Braslia e que, conseguintemente,
s os nativos podiam legitimamente gloriar-se do apelativo de brasis.
Sep Tiaraju era, portanto, genuinamente, autenticamente brasil,
braslico ou brasiliense, no sentido racial da expresso.
E no que respeita ao gauchismo, quem ser mais gacho do que
ele? Pois no o verdadeiro gacho sinnimo de centauro? E no morreu
Sep como um verdadeiro centauro?
Reputamos a morte de Tiaraju, por exemplo, a mais expressiva
cena gauchesca da Histria do Rio Grande, a reclamar o pincel de um
Diogo Rivera, ou de um Cndido Portinari ou o escopro de um Vitor
Brecheret ou de um Antnio Caringi.
A est, com efeito, empolgante e palpitante, o centauro dos
pampas, o homem como prolongamento e complemento do cavalo, cados

451

ambos, e ambos mortalmente feridos, mas, embora cados e feridos e


sangrando, e morrendo, ainda procurando erguer-se, e o brao do homem
ainda atirando um golpe de lana contra o seu agressor! (...)
- No verdade, repetimos, que Sep se fizesse matar defendendo
o Imprio Teocrtico das Misses contra os portugueses.
Ele sucumbiu, sim, em defesa da sua terra e do seu povo,
exatamente pela razo precpua de no querer "emigrar" para outras
bandas que lhe haviam sido designadas. Baqueou combatendo, ao mesmo
tempo, contra Portugal e contra Castela. Tombou gloriosamente, para no
deixar o seu bero, para no sair do seu pago, para no abandonar a sua
querncia, em suma, para permanecer brasil!
Esses, os primitivos habitantes desta gleba, eram, ento,
etnicamente, os nicos, verdadeiros e genunos gachos e brasileiros,
no passando o resto da populao de uma turbamulta de adventcios e
filhos de adventcios." (Mansueto Bernardi, O Primeiro Caudilho
Rio-Grandense, P.A., Globo, 1957, p. 85-86).
"Sep previra sua morte prxima. Na mente dos ndios
sobreviventes comeava a nascer a lenda que o iria santificar. Trs dias
depois de sua morte, as tropas de Nhenguiru foram massacradas nas
coxilhas do Caiboat. Lanas e flechas contra arcabuzes e canhes. Os
ndios jogavam-se contra a metralha gritando o nome de Sep Tiaraju. Os
poucos que sobraram da carnificina juraram t-lo visto a ordenar a
carga, surgindo entre as nuvens de plvora em seu cavalo branco, uma
lana de fogo nas mos, o lunar a brilhar-lhe na testa em pleno dia.
Levvamos para o tmulo um pobre corpo rasgado pelas lanas, esburacado
de balas. A alma do grande cacique j ganhava forma divina na imaginao
dos guaranis." (Alcy Cheuiche, Sep Tiaraju, P.A., Sulina, 1978, p. 77).

"Parecer da Comisso de Histria do Instituto Histrico e


Geogrfico do Rio Grande do Sul contra Sep Tiaraju.
(...) Sob o ponto de vista histrico, difcil a
caracterizao da figura de Sep Tiaraju. H, sobre ele, dominante e
generalizada, uma viso mtica, que altera e deforma, em suas linhas
essenciais, a personalidade real, nica a ser vista e compreendida pela
exegese da histria.
simples comprovar o asserto: mal o tipo do ndio, valente e
astuto, surge nos acontecimentos que se desenrolaram na guerra das
Misses, a lenda dele se apossa, envolvendo-o num halo de fantasia e
mistrio que o levar, dentro de curto prazo, canonizao popular.
O guerreiro se faz santo: cabe melhor nos agiolgios do que nos
frios relatos histricos. Mais do que a sua bravura, o que nele
resplende o lunar - o lunar que o levar ao cu, conferindo-lhe
prerrogativas mais divinas do que humanas.
No se forraria a prpria histria ao fascnio desses atributos
transcendentais, as andanas e atitudes de Sep, mesmo no raconto de
crnicas e memrias, apareceriam desfiguradas. A prova concludente disso
estar na conhecida descrio do encontro de Sep e Gomes Freire

452

de Andrada, quando da priso daquele nas imediaes de Rio Pardo, em que


Sep dialoga dramaticamente com o chefe do exrcito portugus, com
assomos inauditos de altivez, com linguagem alevantada e excelsa.
Vejamos, agora, a nota de Aurlio Porto, pgina 436 da
Histria das Misses Orientais do Uruguai: "Foi intrprete dessa
entrevista o Padre Toms Clarque, capelo da Demarcao e depois vigrio
do Rio Pardo, que relatou o fato, em documento existente na Biblioteca
Nacional, manuscrito, sem o aparato e fantasias em que se ressalta o
orgulho com que Sep teria tratado a Gomes Freire."
Sobre o fato histrico existe um documento autntico; h o
depoimento valioso de uma testemunha ocular, que o acompanhou e seguiu
em todos os seus momentos e aspectos, pois que foi o intrprete da
celebrada conferncia: nada disso importa. A descrio mantida, mesmo
por historiadores, no tom grandloquo, crivado de inverossimilhanas,
pois que s ele se adapta, no ao tipo real, mas figura mtica. E o
mito, em Sep, sempre o que predomina, e a tudo vence e a tudo se
superpe.
Acentuemos de logo, que essa figura de Sep, ou melhor, de So
Sep, que a imaginao popular criou, nos de todo interessante e
simptica. Incorporada ao acervo de nossas lendas, das nossas crendices,
das nossas supersties, ela deve ser considerada como um dos elementos
que configuram e enriquecem o nosso patrimnio cultural.
No rigor histrico, porm, o caso diferente. Uma elementar
honestidade mental determina que a personagem histrica seja situada no
seu papel exato e verdadeiro, desnudada de fantasias e mistrios,
encarada na sua expresso legtima, analisada em face dos motivos
determinantes das suas atitudes e de seus atos.
No nos atemoriza a certeza de que vamos contrariar idias
feitas e preconcebidas, mil vezes repetidas, margem de qualquer exame
dos fatos, e cuja fora advm apenas, precisamente dessa repetio a
infiltrar-se sorrateiramente em espritos despreocupados e desatentos,
encadeadas ao fascnio do mito. Quando lemos que Sep foi 'o primeiro
caudilho rio-grandense' a ns mesmos perguntamos que noo ele poderia
ter do Rio Grande do Sul, e se nos ser lcito praticar a grave
injustia de conferir-lhe um ttulo a que tem inconcusso e lquido
direito um Rafael Pinto Bandeira, o fronteiro do Sul, que delineou as
nossas fronteiras e que, com o seu ingente esforo criou e consolidou
esse Rio Grande do Sul, que Sep valentemente combateu, opondo-se quanto
pde, ao destino histrico de sua incluso na civilizao lusitana e no
Brasil?
Que defenderia Sep - com inegveis coragem e valor - em 1750?
Nada que tivesse relao conosco. Se ele tivesse vencido, qual seria a
conseqncia histrica dessa vitria? As terras, que Deus havia dado aos
ndios e a S. Miguel, na frase que lhe atribuda, pertenceriam a quem?
Aos prprios ndios, ou Companhia de Jesus? A ns que elas no
tocariam, podemos afirm-lo, seguramente. A ao de Sep no

453

sentido dos interesses e do futuro do Rio Grande e do Brasil foi uma


ao negativa, ou melhor, uma ao adversa.
A 'Guerra das Misses', causa permanente de tantas
controvrsias, est hoje mais claramente explicada. A publicao dos
documentos referentes a ela, feita pela Biblioteca Nacional, em dois
grossos volumes, trouxe esclarecimentos que se podem considerar
definitivos.
E a concluso a que chegou Rodolfo Garcia, no prembulo desses
volumes, expressa nessas palavras: "a interveno, justa ou injusta dos
Jesutas na insubordinao de seus jurisdicionados, apura-se isenta de
quaisquer dvidas", est hoje fortalecida pelo juzo insuspeito do Padre
Serafim Leite, historiador oficial da Companhia de Jesus, que no volume
VI de sua notvel obra 'Histria da Companhia de Jesus no Brasil'
sustentando que a mesma Companhia como corporao, no esteve contra o
tratado de Madrid, admite a desobedincia de alguns padres Jesutas 'que
se solidarizaram com os ndios, invocando razes jurdicas, de Direito
Natural, acima de compromissos nacionais ou associativos' (Pgs. 557 e
558). O reconhecimento desses fatos coloca a questo em termos
cristalinos: no seriam os ndios que iriam dirigir e orientar os padres
jesutas, que com eles se tornaram solidrios nos termos usados por
Serafim Leite: eles, os catequisadores, os orientadores, os diretores
mentais desses ndios que exerceriam, natural e fatalmente, a funo
principal. E isso, de extrema relevncia, na matria, pois torna clara
e lmpida a determinante da ao de Sep que, repetimos, nada tem a ver
com o Rio Grande do Sul e com o Brasil.
Reagindo contra as estipulaes do tratado de Madrid - cuja
justia ou injustia no o momento de considerar - Sep somente
poderia ter em vista a integridade territorial da chamada 'Provncia do
Paraguai', a que pertenciam os sete povos das Misses: defendia,
portanto, em ltima anlise, a Coroa Espanhola, pois como ensina o P.
Serafim Leite, referindo-se s Misses: "Aqui houve apenas a organizao
da catequese, adaptada s condies sociais e mentais dos ndios e do
isolamento da selva, numa experincia particular de comunidade, na
verdade surpreendente para o tempo, tudo porm enquadrado dentro do
regime poltico da Monarquia Espanhola".
A concluso parece-nos irretorquvel; no s inaceitvel o
'brasileirismo' de Sep, como ainda no admissvel encar-lo como uma
expresso do sentimento, das tendncias, dos interesses, da alma
coletiva, enfim, do povo gacho, que se estava formando ao signo da
civilizao portuguesa.
de acentuar-se, ademais, que o Rio Grande do Sul ainda no
resgatou a sua dvida cvica com inmeros de seus filhos ilustres de
significado histrico, estreme de qualquer incerteza e dvida e de papel
relevante e expressivo no curso de sua evoluo.
Somos, assim, de parecer contrrio proposta feita, no processo
junto, ao Sr. Governador do Estado. (Ass.) - Afonso Guerreiro Li-

454

ma, Othelo Rosa (relator), Moyss Vellinho. (Correio do Povo,


26-11-1955.)"

"Exmo. Sr. Governador do Estado


Considerando que, em fins do ano de 1955, o oficial do Exrcito,
Major Joo Carlos Nobre da Veiga, props a V. Excia. a ereo de um
monumento ao ndio Sep Tiaraju como 'personificao do denodado valor e
do acendrado apego terra da figura mais simptica dos acontecimentos
que ensangentaram as coxilhas rio-grandenses, na segunda metade do
sculo XVIII', visto parecer ao referido militar que nada seria "mais
justo para o povo gacho do que reverenciar na pessoa do ndio Sep, seu
prprio passado de lutas, de glrias e de sacrifcios";
Considerando que a Comisso de Histria do Instituto Histrico e
Geogrfico do Rio Grande do Sul emitiu parecer contrrio a semelhante
homenagem, sob o fundamento de que o referido ndio no podia ser citado
como um smbolo de brasilidade;
Considerando que Sep Tiaraju foi uma personalidade amerndia
autntica, vigorosa, histrica, densa de humanidade e preocupao
poltica e social;
Considerando que Sep Tiaraju nunca foi espanhol, cuja lngua
no conhecia e que no morreu, como se alegou, em defesa de um Imprio
Jesutico do Paraguai, o qual nunca existiu;
Considerando que Sep Tiaraju , cronologicamente, o primeiro
heri dessa gloriosa galeria de heris de que tanto se orgulha o Rio
Grande do Sul;
Considerando que Sep Tiaraju o prottipo do cavaleiro
cristo, galhardo, puro, desinteressado, sem medo e sem mancha;
Considerando que Sep Tiaraju , muito mais gacho e, por
conseguinte, muito mais brasileiro - no no sentido poltico e moderno
do vocbulo, mas no sentido etnognico e racial - do que os mais velhos
rio-grandenseS, pois estes descendem de lusitanos aqui aportados, no
mximo, h 230 anos, ao passo que ele provinha de uma 'nao' aqui
radicada 'desde o tempo do dilvio', conforme expressivamente acentuaram
os caciques guaranis, no seu protesto coletivo contra a transmigrao
compulsria, determinada pelo Tratado de Madrid de 1750;
Considerando que Sep Tiaraju o smbolo do esprito de
sacrifciO, do denodo, do herosmo e do apego terra, dos primitivos
donos desta provncia, que eles amavam mais do que a prpria vida;
Considerando que Sep Tiaraju , ainda, o lder e o condutor da
primeira e genuna revoluo - de ndole democrtica e defensiva e
contedo cvico-social - deflagrada no territrio do Rio Grande antigo;
Considerando que Sep Tiaraju uma fonte, uma origem, uma fora
emanada dos primrdios do Rio Grande;
Considerando que Sep Tiaraju foi, pela sua bravura e destemor,
o primeiro gacho do pampa, na luta contra os dvenas e intrusos, que
queriam expulsar os seus irmoS cristianizados;
Considerando que Sep Tiaraju foi, sem dvida, a primeira
manifestao de uma legtima conscincia de ptria no Rio Grande;

455

Considerando que Sep Tiaraju um smbolo definitivamente


inCorporado na vida histrica do Rio Grande do Sul;
Considerando que Sep Tiaraju morreu nos campos de Caibat, em
defesa da terra rio-grandense, na primeira manifestao do sentimento
telrico de ptria, de que h memria na Histria Regional;
Considerando que Sep Tiaraju, alm de ser genuinamente
rio-grandense, o prottipo do gacho, o condutor de homens de sua
querncia que primeiro gritaram em face de espanhis e portugueses que
'Esta terra tem dono! Esta terra nossa!';
Considerando que, primeiro defensor de vasta extenso que hoje
constitui o territrio do Estado, Sep Tiaraju tem uma presena
impressionante na histria rio-grandense;
Considerando que Sep Tiaraju tem sido glorificado pelo consenso
geral dos gachos, atravs de vibrantes manifestaes de seus mais
expressivos vultos culturais;
Considerando que Sep Tiaraju vem sendo aclamado pela opinio
pblica do Rio Grande do Sul, como o demonstra a difuso cada vez maior
do seu nome deveras representativo;
Considerando que Sep Tiaraju foi olvidado, quase por completo,
no transcurso do bicentenrio de sua morte: 7 de fevereiro de 1956;
Considerando que Sep Tiaraju j recebeu em tempos idos, as
homenagens agradecidas dos filhos dos pampas;
Considerando que j existe um subsidio pecunirio para promover
a homenagem projetada (trinta mil cruzeiros) patrioticamente votado pela
colenda Assemblia Legislativa do Estado.
Os scios do Instituto Histrico e Geogrfico do Rio Grande do
Sul, que este subscrevem, diretamente ou por delegao, certos de
interpretarem o sentir da quase totalidade da populao rio-grandense,
vm, respeitosamente, apelar para V. Excia. no sentido de que promova,
pelos meios que lhe parecerem mais hbeis, a ereo de um monu- mento
memria daquele bravo gacho, de que a nossa terra pode se orgulhar como
os mexicanos se orgulham do seu heri nacional Guatimozin.
(Assinados): P. Luiz Gonzaga Jaeger, S. J., General Rinaldo
Pereira da Camara, Manoelito de Ornellas, Mansueto Bernardi, Dante de
Laytano, Walter Spalding, A. A. Borges de Medeiros, General Estevo
Leito de Carvalho, General Valentim Bencio da Silva, Felix Contreiras
Rodrigues, P. Balduino Rambo, S. J., Herbert Canabarro Reichardt,
General Dioclcio De Paranhos Antunes, Lula Felipe de Castilhos
Goycocha, Amaro Batista, Fernando Caliage, Ten. - Coronel Henrique
Oscar Wiederspahn, P. Geraldo Jos Puwls, S. J., Oswaldo Rodrigues
Cabral, Affonso de E. Taunay, Luiz Alves de Oliveira Bello, Leopoldo
Petry. Porto Alegre, setembro, 1956.
(in Mansueto Bernardi, O Primeiro Caudilho Rio-Grandense P.A.,
Globo, 1957, p. 152-154 e 184-186).
"E ei-lo penetrando a histria, a poesia e a lenda. Presente na
respeitvel obra de Csar Cantu ou no folclore do pampa, inspirando a

456

novela lrico-histrica de Manoelito de Ornelas e marcando um tipo


definitivo dessa civilizao.
Os maudos documentos histricos de Portugal e de Espanha
guardam-lhe o nome. Associam-no aos nomes de Gomes Freire de Andrade e
Andonaegui. Ele foi a resistncia de seu Imprio frente s coroas de
Espanha e Portugal. O primeiro grande chefe nativo. O mais tpico. O
mais caracteristicamente americano. O Juarez do extremo meridional da
Amrica, se bem que mais subordinado ao mito da f que ao mito da
ptria. E chefe no sentido mais completo e mais amplo da expresso.
Guerreiro e poltico. Poltico e administrador. No teria ainda trinta
anos quando foi feito Corregedor do Cabildo de So Miguel, ao nvel de
Nicolau Languiru, homem mais idoso e mais experimentado.
Loureno Balda explorou nele o sentimento nativo de par com o
fanatismo religioso. Foi a arma de desespero do Imprio Jesutico no seu
lance decisivo entre a sobrevivncia e a derrocada. Era um chefe
morubixaba ao servio da Cruz. Um elemento poderoso de fora e
entusiasmo aliado 'cavalaria ligeira do Papa'. A sentinela avanada
dessa 'Cidade de Deus' que os jesutas intentaram erguer na Amrica. O
Tratado de Madrid teve nele o seu tropeo. O seu grande obstculo. E
por ele, por sua resistncia herica e desesperada, que vemos que as
trinta e uma redues jesuticas j se estavam transformando, ou melhor
dito, j faziam um imprio parte, nem portugus nem espanhol.
Tadeu Henis, jesuta alemo, o estratego da guerra guarantica,
viu em Tiaraju o homem talhado para se fazer o capito da cavalaria
indgena, fazer a guerra de inquietao s tropas coligadas de
Andonaegui e Gomes Freire de Andrade. Foi o capito de guerrilhas em
Santa Tecla e Batovi e, quase certo, o chefe nativo que levou Freire de
Andrade trgua de novembro de 1754. Fez a guerra ativa, a guerra de
ofensiva, enquanto nas forjaz de So Joo os chefes jesutas preparavam
lanas e canhes para a resistncia decisiva. Era de seu feitio e de seu
temperamento. O feitio e o temperamento do homem americano. Desaparecido
Tiaraju no recontro de Batovi, perto de So Gabriel, s margens do
Vacaca, ficou desmantelada a resistncia jesutica, pois que perdera em
Tiaraju o seu Fbio Cuntator, aquele que daria aos padres da Companhia
tempo para as manobras diplomticas e para a consecuo de uma
resistncia regular, capaz de fazer frente ao poderoso exrcito coligado
que marchava sobre suas cidades.
Tiaraju um tipo americano por excelncia. Rebelde e forte.
Audaz e mstico. , pois, nitidamente um espcime americano. O fervor
religioso de que se possuiu muito do homem primitivo. Mas servindo ao
Deus de sua nova crena serviu sempre sua terra, soldado que foi da
liberdade nativa."
(Moacir Santana, A Nova Cidade de Deus, P.A., Globo, 1952, p.
146/47).

"Arroio S. Sep - no municpio de Caapava; nasce na Coxilha de


Babiroqu e desgua no Vacaca. Deve o nome, que lhe foi posto pelos
Jesutas, ao clebre chefe n-

457
dio Jos Tiarai, conhecido por Sep, vencido e morto na batalha de 7
de fevereiro de 1756, no sop da Coxilha de Sta. Tecla, perto de Bag."
"Era margem deste arroio que existia a sepultura do referido
ndio, indicada por uma grande cruz de madeira, com uma inscrio - meio
em latim, meio inditico -, que quer dizer o seguinte:

+ Em Nome de Todos os Santos +


No ano de Cristo Jesus de 1756
A 7 de fevereiro
morreu combatendo
O grande chefe guarani Tiarai
em um sbado santo
+ Subiu ao Cu dias antes do que +
o grande chefe da Taba do Uruguai
que morreu a 10 de fevereiro em tera-
feira combatendo contra um exrcito
de 1500 soldados.
+ Aqui enterrado +
A 4 de maro
mandou levantar-lhe esta cruz
o padre D. Miguel
Descansa em paz

"Conforme a homenagem prestada pelos Jesutas, na inscrio e na


denominao do arroio, e no havendo no calendrio catlico santo de
nome - Sep - temos de concluir que as virtudes, o mrito do grande
chefe ndio foram forais para a sua estranha - canonizao - no
entretanto perdurvel e popularizada."

"O Lunar de Sep


Eram armas de Castela
Que vinham do mar de alm;
De Portugal tambm vinham,
Dizendo, por nosso bem:
Mas quem faz gemer a terra...
Em nome da paz no vem!

Mandaram por serra acima


Espantar os coraes;
Que os Reis Vizinhos queriam
Acabar com as Misses,
Entre espadas e mosquetes,
Entre lanas e canhes!

Cheiravam as brancas flores


Sobre os verdes laranjais;
Trabalhava-se na folha
Que vem dos altos ervais;
Comia-se das lavouras
Da mandioca e milharais.

Ningum a vida roubava


Do semelhante cristo,
Nem a pobreza existia
Que chorasse pelo po;
Jesus-Cristo era contente
E dava sua bno
Por que vinha aquele mal,
Se o pecado no havia? ...
O tributo se pagava
Se o vizo-rei o pedia,
E, at sangue se mandava
Na gente moa que ia...

Eram armas de Castela


Que vinham do mar de alm;
De Portugal tambm vinham,
Dizendo, por nosso bem:
Mas quem faz gemer a terra
Em nome da paz no vem!

Os padres da encomenda
Faziam sua misso:
Batizando as criancinhas,
E casando, por unio,
Os que juntavam os corpos
Por fora do corao...

Do sangue dum gro-Cacique


Nasceu um dia um menino,
Trazendo um lunar na testa,

458

Que era bem pequenino:


Mas era um - cruzeiro - feito
Como um emblema divino! ...

E aprendeu as letras feitas


Pelos padres, na escritura;
E tinha por penitncia,
Que a sua prpria figura
De dia, era igual s outras...
E diferente, em noite escura!

Diferente em noite escura,


Pelo lunar do seu rosto,
Que se tornava visvel
Apenas o sol era posto;
Assim era - Tiarai -,
Chamado - Sep, - por gosto.

Eram armas de Castela


Que vinham do mar de alm;
De Portugal tambm vinham,
Dizendo, por nosso bem:
Mas quem faz gemer a terra ...
Em nome da paz no vem!

Cresceu em sabedoria
E mando dos povos seus;
Os padres o instruram,
Para o servio de Deus,
E conhecer a defesa
Contra os males dos ateus...
Era moo e vigoroso,
E mui valente guerreiro:
Sabia mandar manobras
Ou no campo ou no terreiro;
E na cruzada dos perigos
Sempre andava de primeiro.

Das brutas escaramuas,


As artes e artimanhas
Foi o grande Languiru
Que lh'ensinou; e as faanhas,
De enredar o inimigo
Com o saber das aranhas...

E, tudo isto, aprendia;


E tudo j melhorava,
Sep-Tiaraj, chefe
Que os Sete Povos mandava,
Escutado pelos padres,
Que cada qual consultava.

Eram armas de Castela


Que vinham do mar de alm;
De Portugal tambm vinham,
Dizendo, por nosso bem:
Mas quem faz gemer a terra.,
Em nome da paz no vem!

E quando a guerra chegou


Por ordem dos Reis de alm,
O lunar do moo ndio
Brilhou de dia tambm,
Para que os povos vissem
Que Deus lhe queria bem...

Era a lomba da defesa,


Nas coxilhas de Ibag,
Cacique muito matreiro
Que nunca mudou de f:
Cavalo deu a ningum...
E a ningum deixou de a p.

Lanaram-se cavaleiros
E infantes, com partazanas,
Contra os Tapes defensores
Do seu pomar e cabanas;
A mortandade batia,
Como ceifa de espadanas...

Couraas duras, de ferro,


Davam abrigo vida
Dos muitos, que, assim fiados
Cervavam um s na lida! ...
Um s, que de flecha e arco,
Entra na luta perdida...

Eram armas de Castela


Que vinham do mar de alm;
De Portugal tambm vinham,
Dizendo, por nosso bem:
Mas quem faz gemer a terra,
Em nome da paz no vem!

Os mosquetes estrondeiam
Sobre a gente ignorada,
Que, acima do seu espanto,
Tem a vida decepada.
E colubrinas maiores

459

Fazem maior matinada!

Dcil gente, no receia


As iras de Portugal:
Porque nunca houve lembrana
De haver-lhe feito algum mal:
Nunca manchara seu teto...;
Nunca comera seu sal!
E, de Castela, tampouco
Esperava tal furor;
Pois sendo seu soberano,
Respeitara seu senhor;
J lhe dera ouro e sangue,
E primazia e honor!

A dor entrava nas carnes...


Na alma, a negra tristeza,
Dos guerreiros de Tiaraj,
Que pelejavam defesa,
Porque o lunar divino
Mandava aquela proeza...
Eram armas de Castela
Que vinham do mar de alm;
De Portugal tambm vinham,
Dizendo, por nosso bem:
Mas quem faz gemer a terra...
Em nome da paz no vem!
E j rodavam ginetes
Sobre os corpos dos infantes
Das Sete Santas Misses,
Que pareciam gigantes! ...
Na peleja to sozinhos...
Na morte to confiantes!
Mas, o lunar de Sep
Era o rastro procurado
Pelos vassalos dos Reis,
Que o haviam condenado: ...
Ficando o povo, vencido ...
E seu haver ... conquistado!
Ento, Sep, foi erguido
Pela mo do Deus-Senhor,
Que lhe marcara na testa
O sinal do seu penhor!
O corpo, ficou na terra...
A alma, subiu em flor! ...
E, subindo para as nuvens,
Mandou aos povos - beno!
Que mandava o Deus-Senhor
Por meio do seu claro ...
E o - lunar - da sua testa
Tomou no cu posio...
Eram armas de Castela,
Que vinham do mar de alm;
De Portugal tambm vinham:
Dizendo, por nosso bem...
Sep-Tiaraj ficou santo
Amm! Amm! Amm! ...
(In Simes Lopes, Lendas do Sul,
P.A., Globo, 1976, p. 100-107).

SEQUIAR, v. Conversar, prosear, discutir, dar um dedo de seca.

"o Policarpo, alarife de marca maior, aproximou-se do grupo em


que eu sequiava com os camaradas e se saiu com esta tirada"... (Joo
Maia, Pampa, p. 34).

SEQUILHO, s. Rosquinha de farinha de trigo, seca, revestida de acar


cristalizado.

SER QUE?, expr. Modo de interrogar, demonstrando certa dvida, muito


comum na conversao dos gachos. equivalente a: Dar-se- o caso?,
Ser possvel?, possvel?, provvel? Exemplos: "Ser que o Ricardo
vai aprender a tocar?"; "Ser que a Leila vai ser jornalista?"; "Ser
que vem chuva hoje de tarde?".

SERELEPE, s. Caxinguel, espcie de esquilo, muito vivo e gil, existente


nas matas da regio serrana do Rio Grande do Sul. // Figuradamente, guri
muito vivo, muito esperto, muito gil.

SERENADA, s. Chuva mida, sereno, relento.

SERENO, s. Assistncia externa de um baile, O mesmo que mosquiteiro.

SERIEMA, s. Ave cariamdea que habita

460

os campos do Rio Grande do Sul. de grande porte. Seu grito se


assemelha a um ganio de cachorro.

"Ave essencialmente campestre a seriema. S se afasta do solo


para dormir empoleirada sobre alguma rvore baixa e para construir o seu
ninho de gravetos. Vivendo em pequenos bandos, as seriemas de tal
maneira sabem esconder-se na macega, com a qual se parecem na cor, que
facilmente passam desapercebidas. Espantadas procuram salvar-se pela
fuga, desenvolvendo velocidade superior do cavalo. Os gritos
prolongados e repetidos, nos quais prorrompem antes de se empoleirar,
pertencem aos sons caractersticos da natureza campesina. Alimentando-se
de gafanhotos e de toda espcie de insetos, no recuando diante de
cobras venenosas, a seriema uma ave eminentemente til, que goza da
proteo geral, sendo algumas vezes domesticada." (P. Balduno Rambo, S.
J., A Fisionomia do Rio Grande do Sul, 3 ed., P.A., Livr. Selbach,
1956, p. 299).

SERIGAITA, s. Mulher muito conversadeira, rampeira, regateira,


escandalosa, buliosa. O mesmo que sirigaita.

SERIGOTE, s. Espcie de lombilho com insignificantes diferenas do


ordinrio na cabea e nos bastos. (Segundo alguns autores, o termo
serigote corruptela da frase alem sehr gut, empregada pelos colonos, e
que quer dizer muito bom).

... "o Jango atravessou na cabea do serigote a perna grossa, em


dobra sob a bombacha espipada" (A. Maia, Runas Vivas, Porto, Lello &
Irmo, 1910, p. 55).

"O uso do lombilho primitivo foi substitudo, em 1870 mais ou


menos pelo de uma outra espcie de lombilho denominado - serigote,
palavra de origem alem e corruptela da frase - "Das ist sehr gut". E a
propsito da dita palavra corre a verso de que: um alemo lombilheiro,
tendo inventado esse novo lombilho, mostrou-o a um gacho dizendo-lhe
aquela frase e que desde essa ocasio o gacho a corrompeu, dizendo
serigote, nome que pegou a essa pea de arreamento, entre a populao
rural, generalizando-se mais tarde." (Joo Cezimbra Jacques, Assuntos do
Rio Grande do Sul, P.A., Of. Graf. da Escola de Engenharia, 1912, p.
31).

"Quanto etimologia de senigote, ningum ignora a popular que


V. menciona. No se deu um passo alm daquilo. Repete-se a hiptese de
sua formao regional em Porto Alegre, graas a uma corruptela gauchesca
do alemo.
Entretanto, h anos que eu, sozinho, cato razes do latim vulgar
e das formas medievais do provenal, do catalo, do espanhol, do galego,
do italiano, do francs etc., razes que me sugerem indiretas relaes
do sergo, sirgo, serigo, strigo e suas variantes com (qui) o futuro
ofcio de sirgueiro, sirigueiro,j muito evolucionado em seus papis
semnticos. O sergo, sirgo, primitivamente significante de fio de seda
ou coisa quase igual, acabou aplicado a materiais menos delicados e at
diferentissimoS. Busco, desde o latim vulgar, exemplos nas terras que
hoje so Portugal, Espanha, Frana e Itlia, para conhecer as
transformaes fnicas, mrficas e semiolgicas do antigo sergo, sirgo,

461

serigo, sirigo (na langue d'oil foi serge), bases do sirgueiro,


sirigueiro das pocas posteriores.
Acho-me longe de minha biblioteca e, deste modo, cito de
memria, absolutamente de memria. Creia que no Rio de Janeiro - produto
de meus esforos incessantes - possuo mais de uma centena de radicais
que, talvez, esclaream ainda a possibilidade de uma gnese no
germnica para o substantivo serigote. O que me impressiona e dificulta
a caminhada o final deste termo: gote ou ote. Ele atrapalha o que
indigita o essencial do vocbulo. Ser mesmo gote? Ser ote? Os dois
podero levar-me a concluses diversas. V. no desconhece que gote, em
circunstncias determinadas, prende-se ao sentido de godo > gtico.
Abundantes testemunhos desta persistncia em quaisquer idiomas e
dialectos do sul da Europa. Mera conjectura minha, a da descendncia
longnqua gote de serigote com a significao de godo > gtico, fi-la,
no apenas pelo som tradicional, mas igualmente pelo fato de ter
existido um tipo de sela goda > gtica na arte de cavalgar, no tendo
estribos curtos como a sela gineta.
Suplico-lhe o favor de considerar provisrias as tentativas que
venho realizando neste rumo. Detesto afoitezas. Marcho cauta e
desconfiadamente.
Percorra a literatura medieval da Pennsula Ibrica (a catal, a
galega, a espanhola), a do sul e do norte da Frana, a da Itlia
inteira, caando sirgo, sergo, serge e seus encanecidos derivados, de
maneira que chegue a sirgueiro, sirigueiro, e possivelmente V.
encontrar elementos que o autorizem a estabelecer os laos
indispensveis entre to vasta famlia lxica.
A terminao da voz serigote outro problema. Tento a
suspeitar que possa tratar-se de gote, godo, gtico, porm desconfio
que no seja absurdo ser o sufixo ote de bispote, capote etc.
No repudio, de modo nenhum, a etimologia popular regional que
extraiu serigote de uma expresso alem, depois corrompida pela
gauchada do sculo XIX. Depende de teimosa anlise histrica, que
elimine as demais vias de compreenso de sua origem. Rogo-lhe auxlio e
colaborao. Debata minudentemente as razes e argumentos que favorecem
e desfavorecem tal ou qual opinio. Eu me acho em pleno regime de
discusso e dvida. No me firmo no terreno.
V. deveria escrever a lingistas capazes e que, de fato, andam
bem ao par da moderna Dialectologia. No Brasil, neste setor, penso que
no se formaram ainda mestres da fora de Garcia de Diego, Rufino Jos
Cuervo, Leite de Vasconcelos. Procure inteirar-se do raciocnio de
Augusto Meyer, de Ismael de Lima Coutinho, de Silvio Elia, enviando-lhes
dados de que agora V. dispe. Afirmo-lhe que os meus me pertencem
exclusivamente. So meus.

Um forte abrao do sincero confrade e admirador, Silvio Jlio."


(Excerto de carta de Slvio Jlio, remetida de Lima, no Peru, para Jlio
Petersen, em Porto Alegre, a 2. 9.1962).

"Consultar o vocabulrio gacho

462

rasgar viso interior paisagens retrospectivas, enquadradas na


moldura da histria" como adverte Augusto Meyer, (1)
Embora verdadeira a afirmativa do saudoso e lcido ensasta
rio-grandense, nem sempre a consulta ao vocabulrio gacho nos conduz
viso exata ou verdadeira de alguns vocbulos cujas origens sofreram
deformaes.
o que ocorre, segundo nos parece, com o termo serigote de uso
corrente no Rio Grande do Sul.
Mas qual sua origem?
Foi difundida a etimologia apontada por Joo Cezimbra Jacques e
aodadamente dicionarizada. Em sua obra "Assuntos do Rio Grande do Sul"
consigna: "O uso do lombilho primitivo foi substitudo, em 1870, mais ou
menos, pelo de uma outra espcie de lombilho denominado serigote,
palavra de origem alem, corruptela da frase das ist sehr gut. E a
propsito da dita palavra (continua o mesmo autor) corre a verso de que
um alemo lombilheiro tendo inventado esse novo lombilho mostrou-o a um
gacho dizendo-lhe aquela frase e que desde essa ocasio o gacho a
corrompeu, dizendo serigote, nome que pegou a essa pea do arreamento
entre a populao rural generalizando-se mais tarde. (2)
De nossa parte, desde a primeira vez que tomamos conhecimento
dessa interpretao, nos pareceu um pouco forada e, sinceramente, pouco
consistente, incapaz de resistir a uma boa crtica. Ficou assim, como
tema de pesquisa e estudo.
Discutimos muitas vezes nossas dvidas com pesquisadores
tradicionalistas e especialistas em linguagem.
Encontramos alguns apoios. Na literatura exemplos do uso do
termo serigote fora dos limites rio-grandenses. Como este tpico: "As
estrelas em divina faceirice furtavam o brilho s miradas dos tropeiros
que tomados de langor banzavam estirados nas caronas apoiadas as cabeas
nos serigotes com o rosto voltado para o cu". (3)
um panorama do interior mineiro. Este trecho pode ser lido em
Pelo Serto, o livro de estria e que deu to merecida fama a Afonso
Arinos.
Em Ensaios de Geografia Lingstica convenciona o Comte. Eugnio
de Castro a delimitao das reas geradoras da linguagem nacional em
duas provncias lingsticas fundamentais, o litoral e o serto. Nesta
ltima, que se confunde com a geografia do gado, encontram-se os centros
naturais de fixao da linguagem. E o mesmo autor enumera depois
vocabulrio prprio das respectivas reas. L esto na provncia do
serto, entre outras, as peas de montaria usadas no Brasil "Seligotes
(ou serigotes), bastos, socadinhos (ou socados), cutucas, lombilhos..."
(4)
Muito acertadamente Justo P. Saenz (hijo) suspeitava "tener un
origen portugues y habernos llegado del Brasil". (5)
Para ns a etimologia est enquadrada, perfeitamente, na
tradicional evoluo da lngua.
Qualquer dicionrio comum registra selote, selagota, selago,
selim ... como selas menores. Derivam, pois, de sela, evidentemente.
Esta, conforme a lio do professor Carlos Goes (6), sabemos se

463

origina da raiz snscrita SAD que atravs do latim deu a raiz


universitria SED e significa tomar assento, assentar-se. Chegou Sela
(por sed-l-a), assimilando o D em L, acrescida da desinncia
caracterstica da forma feminina. Por isso na grafia antiga,
etimolgica, devia se escrever com dois L.
Todos os derivados de sela dicionarizados so diminuitivos por
indicarem peas comparativamente, menores. Mesmo Selago com toda sua
excepcionalidade. Os sufixos IM e OTE so bem expressivos. Normalmente
o sufixo O aumentativo, porm em casos especiais, funciona como
diminuitivo. Lembramos para exemplificar, esses casos semelhantes: corda
- cordo; carta - carto. Assim sela - selago.
Mas veja-se como foi se complicando: sela - selim - selote -
selago - seligote - serigote. O G foi introduzido como infixo
eufnico. E logo a transformao do L em R por outro fenmeno
lingustico conhecido como rotacismo, tendncia, alis comum entre
pessoas de pouca cultura (maRvado por maLvado).
Em nosso apoio devemos lembrar tambm o primeiro lexiclogo
regionalista, o prof. Antnio Alvares Pereira Coruja. Pois Coruja
publicou uma "Coleo de vocbulos e frases usadas na Provncia de So
Pedro do Rio Grande do Sul", escrita em 1851. No registra porm
serigote. Ora, si o termo fosse regionalista, sem dvida estaria
incorporado. Mas aparece lombilho, efetivamente como a forma entre ns
usada para indicar essa pea dos arreios do gacho.
E - o importante - Coruja para explicar e definir o termo usado
pelos rio-grandenses, redige assim o respectivo verbete: "lombilho -
s.m. apero pertencente aos arreios usados na Provncia; substitui a
sela, selim ou serigote". (7)
Ento, conclumos ns, serigote era termo j muito conhecido no
Brasil. Por isso o autor o refere para identificar o lombilho (de origem
platina) como termo regionalista includo no vocabulrio do Rio Grande.
Portanto no podemos considerar serigote pea originria do
regionalismo gacho.
Coruja o conhecia vinte anos antes da "inveno" do seleiro
germnico.
Estas as consideraes que oferecemos apreciao dos
estudiosos, como contribuio, para se elucidar a gnese dessa palavra
to usada no Rio Grande do Sul.

Bibliografia:

1 - Meyer, Augusto - Gacho histria de uma palavra - Ed. do


Instituto Estadual do Livro, Porto Alegre. 1957, pg. 7.

2 - Cezimbra Jacques, Major Joio - Assuntos do Rio Grande do Sul. Ed.


nas Of. Grf. da Escola de Engenharia, Porto Alegre, 1912, pg. 31.

3 - Franco, Afonso Arinos de Melo - Obra completa organizada sob a


direo de Afrnio Coutinho, Rio, Instituto Nacional do Livro, 1968,
pg. 52.

4 - Castro Comte, Eugnio de - Ensaios de geografia lingstica - 3a ed.


Cia. Editora Nacional, Rio, 1941, pg. 239.

5 - Saenz, (hijo), Justo P. - Equitacion gaucha de la Mesopotamia


Argentina, Sus arreos, in La Prensa ed. de 31 de julho de 1938.

6 - Goes, Carlos - Dicionrio de razes e cogna-

464

tos da lngua portuguesa, 2 ed. of. Grf. ALBA, Rio, 1936, pg. 310.

7 - Pereira Coruja, Antnio lvares


- Coleo de vocbulos e frases
usadas na provncia de S. Pedro do
Rio Grande do Sul in Rev. do Instituto Histrico e Geogrfico do
Brasil, Tomo 15, 1852."

(Paulo Xavier, Origem de Serigote, Correio do Povo, Suplemento


Rural, 8 de dezembro de 1972).

"Em outro tempo a etimologia era risonha e franca. Hoje, das


partes mais complexas da cincia da linguagem. Pressupe conhecimentos
especializados de Lingstica Geral, Lingstica Histrica, Sociologia e
Psicologia da Linguagem (Sociolingstica, Psicolingstica), Semntica,
Fontica e Fonologia, Dialetologia, Geografia Lingstica, etc. Uma boa
etimologia pressupe uma cansativa fase de coleta de dados - de arquivo
e, sobretudo, de campo. Depois, as hipteses devem ser submetidas a
'testes de resistncia' semntica e fontico-fonolgica. O [sehrgut -+
serigote] no um entre muitos 'dados' - no dado nem de arquivo nem
de campo, mas de fantasia -, e no oferece qualquer resistncia
semntica e muito menos fontica (como que um sergute passaria a
serigote?) (Excerto de artigo de Celso Pedro Luft, No mundo das
palavras, public. no Correio do Povo de 8 de dezembro de 1972).

"Serigote. Tpico recado de dos cabezadas altas, caracterizante


de las zonas fronterizas de la Rep. Oriental del Uruguay y el Estado
brasileo de Rio Grande del Sur." (Fernando O. Assuno, Pilchas
Criollas, Montevideo, 1976, p. 412).

"El cirigote, serigote o sirigote es una obra de talabartera


siendo el vocablo de su designacin, de indudable origen brasileo. Lo
da como tal, el diccionario portugus de Cndido de Figueiredo." (Justo
P. Saenz (h), Equitacin Gaucha, Buenos Aires, Ed. Peuser, 1959, p.
134).

SERINGADOR, s. e adj. Indivduo importuno, purgante, xarope, maante.

SER MATO, expr. Ser abundante, existir em grande quantidade.

SER MEIO TOCADO, expr. Ser meio descontrolado, meio louco.

SER MONDONGO MEIO DURO DE PELAR, expr. Ser turbulento, violento, dado a
brigas.

SER PALETA, expr. Ser intrometido, meter-se onde no chamado.

SER QUEBRA-FREIO, expr. Ser violento, de m ndole, desgovernado,


valento, estpido.

SERRA, s. Mato estreito e comprido, em terreno acidentado, que acompanha


as duas margens dos rios.

SERRA-ABAIXO, s. Denominao dada regio litornea, entre o oceano e a


Serra Geral.

SERRANA, s. Baile campestre, espcie de fandango.

SERRANO, s. e adj. O natural da regio serrana do Estado. // O natural


da Serra dos Tapes. // Em sentido estrito, o natural do municpio de So
Francisco de Paula, que era denominado So Francisco de Paula de Cima da
Serra. // Relativo regio serrana.

"So pedaos d'alma da famlia serrana que vo semear em outras


terras o valor, a bondade e o carinho," (Jaci, pseud. de Slvio Rabelo,
Respingos... , Folha da Serra,

465

So Francisco de Paula, 1939, p. 2).

"E agentar minuano


com dez abaixo de zero
s mesmo sendo serrano,
graxaim ou quero-quero."
(Zeno Cardoso Nunes, Ladro de
Gado).
SERRILHA, s. O mesmo que rendilha.

SERRINHO, s. Serradura, serragem, serrim.

SESMARIA, s. Antiga medida agrria correspondente a trs lguas


quadradas, ou seja, a 13.068 hectares. So 3.000 por 9(100 braas; ou
6.600 por 19.800 metros; ou, ainda, 130.680.000 metros quadrados.

"Bastava a propriedade rural possuir rea relativamente grande


para que fosse chamada de sesmaria." (Anselmo F. Amaral, Os Campos
Neutrais, p. 80).

"A primeira sesmaria no Rio Grande do Sul foi concedida nos


Campos de Tramanda a Manoel Gonalves Ribeiro, a 24 de outubro de
1732." (Dante de Laytano, A Cozinha Gacha na Histria do Rio Grande do
Sul, P.A., Esc. Sup. de Teologia So Loureno de Brindes, 1981,p. 30).

"O Rio Grande nem tem mais sesmarias!


E j teve por cerca as serranias,
foi fazenda das grandes, sim senhor!"
(Rui Cardoso Nunes, Tropilha
Perdida).

SESMARIA DE CAMPO, s. Medida de superfcie correspondente a 13.068 ha. O


mesmo que sesmaria.

SESMARIA DE MATO, s. Medida de superfcie igual a 1.089 hectares.


Corresponde a 1.500 por 1300 braas, ou 3.300 por 3.300 metros.

SESMEIRO, s. Dono de sesmaria. ( palavra portuguesa em desuso nos


outros Estados).

"E ao longo desse caminho, que passava pelos campos de Cima da


Serra e Vacaria, iam ficando novos sesmeiros, troncos de famlias
gachas." (Arthur Ferreira Filho, Histria Geral do Rio Grande do Sul,
P.A., Globo, 1974, p. 37).

"Sesmeiros, sem sesmarias,


fazem culto de poesias
onde no conta a distncia..."
(Anna Luiza Oliveira Thomaz,
poesia).

SESSENTA-FOLHAS, s. Um dos estmagos do animal vacum.

SESTEADA, s. Sesta, ato de sestear. Lugar, na campanha, onde os


tropeiros ou carreteiros soltam os animais para que descansem enquanto
eles fazem sua refeio e, s vezes, dormem a sesta.

"Tratava-se de viagem larga, imaginao solta, boas sesteadas


e farta matalotagem." (A. Maia, Alma Brbara, RJ, Pimenta de Melo & C.,
1922,p. 141).

SESTEAR, v. Dormir a sesta. Fazer uma sesteada.

"Todo o povo sesteava; por isso ningum viu." (Simes Lopes,


Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 149).

SETE-CAPOTE, s. Planta que apresenta propriedades medicinais.


SETE-EM-PORTA, s. Jogo de cartas, variante do monte.

SETEMBRINA, s. Nome dado vila de Viamo por ocasio da Revoluo


Farroupilha.

SETE-SANGRIA, s. rvore de pequenas

466

dimenses, muito comum nos matos carrasquentos. Produz madeira branca,


leve e resistente, apropriada para armaes de cangalhas e outras
pequenas obras. planta medicinal usada para combater a sfilis.

SEU, pron. O mesmo que seo.

SEU PASQUAL, s. Denominao dada ao sono, na fronteira argentina.

SI, pron. Senhora. Este termo empregado no tratamento de criadas de


certa idade ou mulheres de condies humildes, tambm j meio idosas,
no sendo usado em relao s moas.

SIBILDO, s. Assobio, som agudo emitido pela serpente e por algumas aves.

SILBIDO, s. Assobio, silvo, sibilo.

SIMPATIA, s. Benzedura, magia, empregada para a cura de doena ou


afastamento de qualquer mal.

"a simpatia a maneira de curar, milagrosa e nica, do gacho


rstico e retardatrio, incru dos resultados da moderna cincia
veterinria. fora de simpatia ou de benzeduras, o campeiro consegue
verdadeiros prodgios, curando os animais doentes, principalmente os
atacados de bicheira. Por mais de uma vez tivemos ocasio de constatar
os efeitos rpidos da simpatia no gado bovino, quando dominado pelo
carrapato, e mesmo em terneiros pesteados ou comidos de parasitas."
(Callage).

SINAL, s. Recorte para identificao que se faz em uma ou nas duas


orelhas de bovinos, ovinos e sunos.

"Fui conhecendo as Estncias,


o dono, a marca e sinal,
guaiaca que tem dinheiro,
cavalo que caborteiro
e o juju que me fez mal ."
(Joo da Cunha Vargas, Gaudrio,
in Antologia da EPC, P.A., 1970,
p. 235).

SINALAR, v. Marcar, ou seja, aplicar no gado um sinal para


identificao. Assinalar.

SINA-SINA, s. rvore espinhenta, da famlia das Leguminosas, usada em


cercas vivas.

SINUELEIRO, adj. Diz-se do animal manso que faz parte do sinuelo.


SINUELO, s. Animal ou ponta de animais mansos ou habituados a serem
conduzidos, utilizados para juntar aos xucros, com a finalidade de
acalm-los e lev-los, em sua companhia, para onde se deseje.

"nos rodeios apartava


sem ajuda de sinu elo.
Dia e noite galopava,
e nem o suor apontava,
no negro enxuto do plo."
(Mozart Pereira Soares, Erva
Cancheada, P.A., Ed, Querncia, 1963,
p. 123).

"O cantor quer um sinuelo


Que no se perca nos rastos,
Que monte certo nos bastos
C'o as rdeas firmes na mo;
Para afinar seu violo
Na melodia da tropa,
Vibrando nota por nota
Desde a prima at o bordo."
(Chico Gaudrio, poema, 1981).

"A nova quilha que aponta


h de ter Deus por snuelo!
O tempo que o tempo conta
como poderei sab-lo,
se h pouco tempo desponta
a neve no meu cabelo?"
(Lauro Rodrigues, A Cano das
guas Prisioneiras, P.A., Martins
Livreiro-Editor, 1978, p. 23).

467

"Conservei sua pergunta,


Com todo carinho e zelo;
Me aplicarei com desvelo
No que deseja saber,
Dizendo o que vem a ser
Esta palavra Sinuelo:
um animal amestrado
Pra conduzir os matreiros;
Serve sempre de ponteiro,
Horas e dias a fio;
No banhado ou nalgum rio
sempre o que cai primeiro.
Tem na passagem dos rios,
O seu maior compromisso;
Se a tropa est em rebolio,
Refugando na cada,
O Sinuelo d a sada
Na ponta, que o seu servio!
No se desvia da rota,
seja de noite ou de dia;
Tambm chamam boi de guia,
Outros at de vaquiano;
E aqui lhe disse, Mariano,
Do Sinuelo o que sabia."
(Firmino de P. Carvalho, Gerao
pelas Caronas, Pelotas, 1957, p.
46).

"Gauchada do meu pago -


Os versos que aqui lhes trago
no so mais do que o sinuelo
duma saudade malvada,
que comigo acolherada
me toca de plo a plo."
(Antnio Augusto de Oliveira,
Rastro de um Charrua, P.A.,
Martins Livreiro-Editor, 1981,
p. 15).

SIRIGAITA, s. Serigaita. Mulher de costumes fceis. Mulher assanhada.

"Banhado no lagoa,
banco no precisa encosto:
sirigaita coisa -toa
nasceu s pra dar desgosto!"
(Hugo Ramrez, in Cancioneiro de
Trovas).

SITIANTE, s. Proprietrio ou morador de stio.

STIO, s. Pequena propriedade rural.

SOBRAGI, s. Madeira, da famlia Raninaceae, muito durvel, que se presta


para esteios, em lugares midos.

SOBRANTE, adj. Que sobra, que sobeja.

SOBRAR JOGO, expr. Convergirem todas as apostas para determinado


parelheiro, no havendo quem queira jogar no outro.

SOBREANO, adj. Diz-se da rs com mais de um ano de idade e menos de


dois.

SOBRECINCHA, s. Pea dos arreios, constituda de tira de couro ou sola,


utilizada para apertar os pelegos ao lombilho.

SOBRECOSTILHAR, s. Manta de carne que se encontra sobre a costela da


rs, logo abaixo do matambre, que d excelente assado.

SOBRECU,s. O mesmo que sambiquira.

SOBRELATEGO, s. Parte da cincha, constitudo de tira de couro que prende


a argola do travesso argola da barrigueira, no lado de laar,
direita do cavalo.

SOCA, s. P de erva-mate quando podado.

SOCADO, s. Lombilho curto e reforado, geralmente de couro cru, com as


partes laterais da cabea dianteira ajeitadas para servirem de segurana
aos joelhos do cavaleiro, usado para domar.
SOCADOR, s. e adj. Animal de trote duro.

SOCAR, v. Trotar.

SOCAR CANJICA, expr. Andar mal a

468

cavalo. Andar em animal de mau cmodo, de trote duro. "E l se ia o mano


Rui, socando canjica no rosilhinho do Breno."

"Surge no fundo da Rua da Ponte, socando canjica em seu matungo


tobiano." (Augusto Meyer, No Tempo da Flor, RJ, O Cruzeiro, 1966, p.
45).

SOCAVO, s. Grande socava, gruta, esconderijo, abrigo, lapa, lugar


retirado.

SOC, s. Pernalta de nossa fauna.

SOFLAGRANTE, s. Momento, ocasio, flagrante. Usado na expresso no


soflagrante.

SOFRENAO, s. Puxo forte nas rdeas para fazer o cavalo parar.


Sofreamento, sofreada, sofreadura. O mesmo que sofrenada ou sofreno.

"A regra - cabresto curto -


Pra ter tudo nos seus eixos;
Sofrenao pelos queixoS,
De vez em quando convm."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1978, p. 52).

"Sou crioulo deste pago,


Nasci em rinco lindao,
Pra mulher eu dou afago,
Mas s vezes, sofrenao."
(Oscar da Cunha Echenique).

SOFRENADA, s. O mesmo que sofrenao.

SOFRENO, s. O mesmo que sofrenao.

SOFRENAR, v. Sofrear.Puxar fortemente as rdeas do cavalo para faz-lo


parar ou recuar. // Figuradamente, obstar de modo rspido, com maneiras
bruscas, que az pessoas faam ou digam determinadas coisas.

SOGA, s. Corda feita de couro, ou de fibra vegetal, ou, ainda, de crina


de animal, utilizada para prender o cavalo estaca ou ao
pau-de-arrasto, quando posto a pastar. // Corda de couro torcido ou
tranado, que liga entre si as pedras das boleadeiras. // O termo
usado tambm em sentido figurado.

"A cruel deixou-me soga


Bem mostrou alma pequena!
E se ainda me recordo
Dos olhos dessa morena,
Qualquer pesar me diverte
Qualquer gosto me d pena!"
(Versos populares).

SOGAO, s. Pancada dada com a soga. Soga muito linda, muito boa, muito
bem feita.

SOGUEIRO, s. Pequena encerra gramada


onde se prendem os animais que podero ser utilizados a qualquer momento.
( termo pouco usado).

SOITEIRA, s. Aoiteira.

SOL, s. Tempo correspondente distncia percorrida aparentemente pelo


sol: "J havia duas braas de sol quando iniciamos a viagem", isto , o
sol j havia percorrido duas braas, no cu, quando comeamos a viajar.
"No havia mais que uma braa de sol quando chegamos", isto , o sol
estava apenas a uma braa de distncia, no cu, do ponto em que iria
desaparecer, no horizonte.

SOLAIS, s. Parte do morro, serra, ou rocha onde comea a inclinao para


o declive.

SOLAR, v. Colocar a sola no calado.

SOLAVANCO, s. Baque da carreta nos acidentes da estrada.

SOLETRAR, v. Contar, expor, narrar.

SOLFERIM, adj. De cor escarlate, ou entre escarlate e roxa.

SOLFERINO, s. e adj. A cor escarlate ou

469

a cor entre escarlate e roxa. A cor usada nas vestes episcopais.

SOLINA, s. Soalheira, ressolana, sol muito quente.

SOLITRIA, s. Cela da penitenciria onde isolado o preso turbulento ou


perigoso.

SOLITO, adj. S, isolado, sozinho, sem companhia.

"Visitava-o de h pouco, mas freqentemente, o desejo de viajar,


de correr mundo, errtico e souto." (A. Maia, Runas Vivas, Porto, Lello
& Irmo, 1910, p. 77).

"Deixou tudo pra viver solita comigo, solita h de ficar, com o


meu pesamento, debaixo da terra." (A. Maia, Alma Brbara, RJ, Pimenta de
Melo & C., 1922, p. 124).

"Vive solito naquele rancho, somentes acompanhado por um


cachorro," (Joo Fontoura, Saudade).
"Y al campo me iba solito,
Mas matrero que el venao"
(Jos Hernndez, Martn Fierro).

SOLTA, s. Pancada que o galo de rinha d, sem fazer a presa com o bico.
( termo da gria dos rinhedeiros).

SOLTAR AS PATAS, expr. O mesmo que soltar os ps.

SOLTAR OS PS, expr. Escoicear, dar coices. // Em sentido figurado,


fazer grosserias, ser estpido com algum.

SONADOR, adj. Diz-se do cavalo que, galopando, emite pelas narinas e


pela boca um rudo semelhante ao do ressonar. Dizem os campeiros que
todo o cavalo sonador bom animal.

SONAR, v. Soar, ressoar.

SOPEAR, v. Causar aborrecimentos, maltratar.

SOQUEIRA, s. Boxe.

SOQUETE, s. Cozido de ossos com pouca carne. Carne cozida. Cozido com
piro. Sopa grossa. Piro de farinha de mandioca e carne. Comida
pssima. Var.: Suquete.

SOQUETEIRO, s. e adj. Diz-se de ou o indivduo vadio, que perambula


pelas estncias fazendo algum servio em troca do soquete dirio.
Gaudrio.

SORDA, s. Caldo de carne engrossado com farinha de mandioca ao qual se


adicionam ovos. (P. us.).

SORETE, s. Matria fecal dejetada em pedaos secos e duros.

SORONGO, s. O mesmo que surungo.

SORRO, s. Guaraxaim. O mesmo que zorro. // Adj. Em sentido figurado,


manhoso, dissimulado, astuto, matreiro.

"a mais santinha tem mais malcia que um sorro velho! ..."
(Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p.
19).

"A morte sorra mui mansa,


Comedera de sovu,
Que vem - desarma o mundu,
A mandado do Senhor,
Nos larga num corredor
E d uma espantada pro cu."
(Joo da Cunha Vargas, Deixando
o Pago, P.A., Ed. Habitasul, 1981,
p. 38).

SORRO MANSO, s. e adj. Diz-se de ou o indivduo falso, com aparncia de


bom, mas prfido no fundo.

SORTE DE CAMPO, s. Medida de superfcie da Repblica Oriental do


Uruguai, usada pelos rio-grandenses at h pouco tempo. Uma sorte
(suerte de campo) equivale a 2.700 quadras qua-

470

dradas.

SORUNGO, s. O mesmo que surungo.

SOSSEGAR O PITO, expr. Aquietar-se, acalmar-se.

SOTA-CAPATAZ, s. Pessoa que exerce autoridade imediatamente inferior


do capataz em uma estncia ou tropa.

SOTIA, s. Espao descoberto sobre uma casa.

SOTRETA, s. e adj. Indivduo desprezvel, tolo, covarde, vil, ruim,


ordinrio, velhaco, de pouco mrito. // Cavalo ruim, arisco, matreiro,
sendeiro. // Coisa sem valor, imprestvel.

"muitos sotretas fugiram de cambulhada com o chinerio." (Simes


Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 85).

"- Viessem, almas d'outro mundo! Teriam que ver com ele, no
toco, no mais. Viessem sotretas!" (Vieira Pires, A Querncia, P.A.,
Globo, 1925,p. 84).

"Formam-se novos piquetes


E h tambm troca de letras,
Relincham bons e sotretas
Entrelaando bandeiras."
(Chico Gaudrio, poema, 1981).

SOVADOR, s. Pedao de pau, com mais ou menos dois palmos de comprimento


e uma ou duas polegadas de dimetro, fendido longitudinalmente at dois
teros de seu tamanho, utilizado para amaciar guascas de couro. O mesmo
que mordaa.

SOVAQUEIRA, s. Ferida no sovaco do cavalo, feita pela barrigueira da


cincha.

SOVAR, v. Amaciar, tornar flexvel o couro cru para o preparo do


arreamento campeiro. // Dar ao cavalo muito trabalho, fazendo nele
viagens ou utilizando-o, por perodos longos, todos os dias.

SOVU, s. Lao grosseiro e muito forte, feito com duas ou trs tiras de
couro torcidas.

"Depois, redemoinhavam, voltavam-se encolhidos e trmulos,


empurrando-se mutuamente, cada qual, na terrificante compreenso do
momento, buscando fugir ao sovu do matador, que, para um lano a esmo,
j assobiava iminente, em revoluteio, sobre a selva movedia das guampas
desassossegadas." (Vieira Pires, A Querncia, P.A., Globo, 1925, p.
55-56).

"No Brasil, o termo (sovu) do linguajar campeiro do Rio


Grande do Sul, designando lao grosseiro de pegar touros." (Bernardino
Jos de Souza, Vocabulrio do Carro de Bois).
"Era um matungo enredado,
Nas rodilhas de um sovu."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1978, p. 58).

"Do Sovu

o lao de cinchar touro,


de arrastar o que pesado.
o cabo mais respeitado
que nem zebu arrebentou.
Tem semelhana feliz
com falas de padre e juiz
quando o aragano casou."
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1981, p. 123).

SUADEIRA, s. Basto, basteira. Cada uma das partes paralelas e


acolchoadas do lombilho que assentam no lombo do animal.

SUADOURO, s. Xergo. Tecido de l.

471

472

TABA, s. O mesmo que tava.

TABATINGA, s. Terra esbranquiada, impermevel, imprpria para culturas.

TABATINGAL, s. Terreno extenso de tabatinga.

TABLADA, s. Espcie de feira de gado vacum. Lugar onde se renem


estancieiros, tropeiros, charqueadores, para tratarem de negcios de
compra e venda de gado. // Charqueada.

"Pela estrada, a demandar o


rumo da cidade que perdamos, algumas Carretas, pacienciosas e tardas, e homens de
palas ao vento e
chapus de abas largas, reescreviam
no cho orvalhado, a rota de velhos
caminhos, itinerrios de contrabandos ousados e tiroteio com o guarda
fiscal, ou de tropeadas longas, que
rumavam s tabladas de Pelotas."
(Manoelito de Ornllas, Terra Xucra,
P.A., Sulina, 1969, p. 47).
TABLADO, s. Assoalho de pontes.

TBUA, s. Cada um dos lados do pescoo do animal cavalar. Uma das


rapaduras integrantes do mao de duas, usado no Alto Uruguai.

TBUA DO PESCOO, s. Cada um dos lados do pescoo do cavalo. Tambm se


diz apenas tbua.

TABUO, s. Estiva ou ponte de madeira bruta, feita para a passagem por


pequenos arroios ou por terrenos encharcados.

TABUINHA, s. Tipo de cobertura de casa usado em Cima da Serra,


constitudo de pequenas tbuas lascadas do pinheiro e colocadas sobre a
construo de modo a formarem o telhado. Uma cobertura bem feita, com
tabuinhas de cerne, dura dezenas de anos.

TABULETA, s. Pedao de tbua que se prende ao focinho dos bezerros para


impedi-los de mamar, na poca da desmama.

TACAR, v. Atirar, arremessar.

TACO, adj. Diz-se do indivduo capaz, hbil, jeitoso, enrgico,


corajoso, valente, guapo, temvel.

TACURI, s. O mesmo que tacuru.

TACURU, s. Montculo de terra, s vezes


com quase dois metros de altura, feito pela formiga cumpim,
geralmente em terrenos alagadios e banhados. O mesmo que tacuri e
tucuri.

TACURUZAL, s. Terreno onde h abundncia de tacuris.

TAFONA, s. Atafona.

TAFONEIRO, s. Proprietrio de atafona.


// Adj. Diz-se do cavalo mal domado que obedece ao das
rdeas s para um lado. Diz-se do boi que trabalha

473

na atafona.

TAFULEIRA, adj. Diz-se da moa taful, garrida, que gosta de divertir-se,


amante do luxo. O mesmo que tafulona.

TAFULEIRO, adj. Faceiro, divertido, dengoso.

TAFULO, adj. Namorado, amante.

TAFULONA, adj. O mesmo que tafuleira.

TAH, s. O mesmo que taj.

TAHAN, s. O mesmo que taj.


TAI, s. Espcie de inhame.

TAIMB, s. Despenhadeiro, precipcio, penedo afiado, monte agudo e


escarpado, furna, grota, barranco alto e pedregoso beira dos rios. O
mesmo que itaimb. (Etim.: palavra tupi, formada de ita, pedra, e
aimb, afiado, spero).

TAIMBEZINHO,s. Denominao dada ao Canyon localizado no Parque Nacional


dos Aparados da Serra, em Cambar do Sul, RS. Situado no planalto
serrano, o Taimbezinho, com quase mil metros de altura, apresenta
escarpas de pedra, com cortes abruptos, vegetao luxuriante, e de
impressionante beleza.

"E ponho, entre as maravilhas


com que as serranas coxilhas
nos tm deslumbrado j,
o Taimbezinho - portento,
maravilhoso ornamento
dos campos de Cambar!"
(Rui Cardoso Nunes, Rodeio Serrano).

TAIPA, s. Represa de leivas, nas lavouras de arroz. // Cerca de pedra,


na regio Serrana.

"Em tudo o mesmo cenrio:


Velhas taipas de um jardim,
e as rvores seculares
que, como eu, chegam ao fim"
(Maria Nunes de Oliveira, Casa Paterna).

TAIPAVA, s. Itaipava. Salincia no fundo de um rio, que se estende de


margem a margem, ocasionando turbulncia na correnteza. // (pl.)
Salincias que emergem parcialmente da correnteza dos rios, nas
cachoeiras mansas, as quais, por vezes, causam a impresso de que so
elas que se movimentam, e no a gua.

"Nessas brejeiras moradas


dos cachos das cachoeiras
em chu-chu-chueiras
rola meu rio cantador
das taipavas sambadeiras
desfilando na cascata
no colo da gua mulata
de sombra do mato em flor."
(Airton Pimentel, guas Brasileiras,
Samba).

TAITA, s. e adj. Indivduo valento, destemido, guapo, altaneiro,


disposto, destorcido, venta furada. (Segundo Afonso Vrzea, taita, em
quchua, pai).

"E assim bateu c na Estncia


naquele entono de taita
que manda parar a gaita
por ter cansado do baile!"
(Apparcio Silva Rillo, Viola do
Canto Largo, 2 ed., P.A., Martins
Livreiro-Editor, 1979, p. 51).
"Saiba que abrindo o meu peito
(Peito velho de ndio taita)
J tenho feito parar
At o teclado da gaita."
(Zeca Blau, Trovas da Estncia do
Abandono, 2 ed., P.A, Grafipel,
1959, p. 40).

"No azinhavrado vinte ris de cobre,


Da rima tosca do meu canto pobre,
- Pois no nasci um vate-uirapuru -

474

Se pus, Rio Grande, teu Sep no verso,


Cunhei a efgie, pelo seu reverso,
Do grande taita que foi Languiru."
(Fernandes Barbosa, Sep, P.A.,
Tip. Santo Antnio, p. 8).

TAJ, s. Ave da ordem dos pernaltas, que vive beira dos banhados e
cujo nome onomatopaico do grito que emite. O j pronunciado com som
gutural. Var.: Tah, tahan, tajan.

TAJAN,s. O mesmo que taj.

TAJUBA, s. rvore da famlia Urticineae - affinis. O tronco s vezes


espinhoso e possui bela e ampla copa. Sua madeira, de cor amarela,
muito resistente, sendo apropriada fabricao de mveis. O mesmo que
tajuva.

TAJUJ, s. Planta medicinal usada como depurativo do sangue.

TAJUPAR, s. Palhoa, choupana, rancho. vocbulo guarani. (P.us.).

TAJUVA, s. O mesmo que tajuba.

TALA, s. Nervura do centro da folha do jeriv. Chibata improvisada com a


tala do jeriv ou com qualquer vara flexvel. V. as expresses chegar na
tala e ganhar na tala. // rvore de bela aparncia que vegeta em nossa
fronteira com o Uruguai - Celtis tala, Gil.

TALABARTARIA, s. Oficina de correeiro. Selaria. termo usado somente na


fronteira. O mesmo que tala barteria.

TALABARTEIRO, s. Seleiro, correeiro.

TALABARTERIA, s. O mesmo que talabartaria.

TALAO, s. Pancada com tala. Chicotao.

TALAGADA, s. Talao. // Grande chupo no cigarro.

TALA-LARGA, s. Chicote com a aoiteira constituda de uma tira larga de


couro.

"Bom Cristo! Um dia de rebenque


lanhaste o lombo aos mercadores.
Jesus! Agarra o tala-larga:
Torna mais leve a dura carga
e mais humana a sorte amarga
de tantos pobres sofredores."
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1981,p. 83).

TALARIAR, v. Cantar baixo. // Tambm tem o sentido de remediar: "Vou


talariando", isto , vou atenuando os males da vida.

TALAVEIRA, adj. Portugus, natural de Portugal ou de suas ilhas. Que no


sabe montar, que no entende da lida de campo.

TALAVEIRADA, s. Grupo de talaveiras, portugueses ou pessoas que no


sabem montar nem conhecem os servios de campo.

TALHA, s. Cinqenta reses. (Atualmente este termo no usado).

"s. para facilitar a contagem dos gados, usam os tropeiros e


fazendeiros a talha, que tem o valor de 50. Assim se vo contando os
animais e ao chegar a esse nmero o contador grita talha! e continua a
contagem at chegar quele nmero (50) em que novamente grita talha! Um
encarregado vai marcando-as quase sempre no cacho das rdeas. A sobra,
se existir, diz-se sobretalha. Ex.: 10 talhas e 8 de sobretalhas, o que
equivale a 508." (Callage).

TALHO, s. Ferimento. // Em sentido figurado, aparte: "D licena a um


talho?"

TALHO DE CAPATAZ, s. Corte de um pedao grande de churrasco.

475

TALONEAR, v. Chicotear, dar com a tala.

TALUDO, adj. Crescido, grande, desenvolvido.

TAMANDU, s. Usurrio, sovina, avarento, agiota. Pessoa muito apegada ao


dinheiro.

TAMANHO, s. Aumentativo de tamanho.

TAMBEIRA, s. e adj. Novilha mansa, ou filha de vaca mansa.

TAMBEIRADA, s. Grupo de animais tambeiros. Poro de gado manso e


pequeno.

TAMBEIRO, s. e adj. Diz-se de ou o animal vacum manso, aquerenciado


perto de casa, ou filho de vaca mansa das de tirar leite. Boi novo
destinado a ser amansado para o trabalho da lavoura.

"Ningum se fie, portanto,


Neste tambeiro mansinho;"
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
Martins Livreiro-Editor, 1978,
p. 21).

"A tambeira que s come trevo maduro, d no leite o cheiro doce


do milho verde ;" (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul,
P.A., Globo, 1973, p. 135).

TAMBO, s. Estbulo onde se ordenham as vacas para a venda de leite.

TAMBONA, s. Espcie de cafeteira. ( provvel que seja corruptela de


cambona).

TAMBOR, s. Bacia do rinhedeiro. ( termo da gria dos galistas).

TAMINA, s. Medida agrria, em desuso. // Surra.

TAMOEIRO, s. Pea de guasca torcida, grossa e reforada, com que se une


a canga ao cabealho da carreta ou ao cambo.

TANGAR, s. Pssaro danador que vive em bandos nas matas do Rio Grande
do Sul, da famlia dos Pipridae.

TANGOLOMANGO, s. Caiporismo, azar, doena, infelicidade. // Doena


proveniente de feitiaria. Malefcio de bruxas. // Var.: Tango-lomango.

"E esquecia-se de tudo,


At do tango-lomango
Que a pessoa do Chimango
Deu na Estncia e em sua gente,"
(Homero Prates, Histria de D.
Chimango, RJ, Livr. Machado, 1927, p.
124).

"O desmando v-se em tudo,


No s na criao;
Parece, por maldio
Que deu-le o tangolomango,
Pois, at quer o Chimango
Que no se plante feijo."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1978, p. 72).

TANGUARI, s. A aorta do vacum. Era usada para retovar cabos de relho, de


faca ou de faco, aos quais se adaptava peffeitamente depois de seca.
(Etim.:
Para Romagueira Corra o vocbulo vem do guarani, tay, veia, e
gur, torta, ou seja, veia torta).

TANGUI, s. Espcie de salmoeira nas charqueadas (Saint-Hilaire, Voyaje


Rio Grande do Sul, apud Pe. Carlos Teschauer).

TANTEAR, v. Tentear, tatear, tocar.

TAPA, s. Pancada com a mo, bofetada (No Rio Grande do Sul este vocbulo
usado no masculino).

TAPADO, adj. Diz-se do animal cavalar ou muar de pelame escuro, sem


nenhuma mancha. ii s. Casaco de inverno para senhoras.
TAPA-MISRIAs, s. Capote, sobretudo, casaco.

476

TAPE, s. Nao de ndios que habitavam o Rio Grande do Sul na poca de


seu descobrimento.

TAPEAR, v. Guiar o cavalo, quando montado, sem freio, por meio de tapas
dados ora em um ora em outro lado do pescoo.

TAPEIO, s. Tapeao, engano, embuste.

TAPEJARA, s. e adj. Vaqueano, conhecedor de caminhos, guia; prtico,


perito, conhecedor de determinado assunto. // Valente, destemido, guapo,
valoroso. // (Etim.: palavra tupi ou guarani composta de tap,
caminho, e yara, senhor, ou seja, senhor dos caminhos).

"Meu pai era filho do ndio mais cru das costas do Ibicu e,
como tapejara, no seu tempo, no tinha parceiro, nem aqui, nem em Cima
da Serra." (A. Maia, Alma Brbara, RJ, Pimenta de Melo & C., 1922, p.
81).

"Naquela escurido fechada nenhum tapejara seria capaz de cruzar


pelos trilhos do campo, nenhum flete crioulo teria faro nem ouvido nem
vista para bater na querncia; at nem sorro daria no seu prprio
rastro!" (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo,
1973, p. 133).

"- Mais uma puxada... Alexandre, na frente como tapejara,


indicava, ao longe, pontos do campo, firmando a vista, de mo em pala
sobre os olhos, riscando com o chicote curvas no ar." (Fernando Osrio,
Fogo-Morto, Pelotas, Globo, 1930, p. 270-7 1).

TAPERA, s. Casa de campo, rancho, qualquer habitao abandonada, quase


sempre em runas, com algumas paredes de p e algum arvoredo velho. //
Adj. Diz-se da morada deserta, inabitada, triste. // V. a expresso
andar como gato em tapera.

"Tapera a reminiscncia, a lembrana, a saudade, na solido


dos plainos gachos." (Callage).

"O indgena tambm no deixou de influir na lngua nacional aqui


falada, com as modificaes referidas ou no nosso dialeto, conforme se
nota em muitas palavras populares, como - tapera, de taba, povoao e
quera, pretrito, povoao que foi;" (Joo Cezimbra Jacques, Assuntos do
Rio Grande do Sul, Oficinas Grf. da Escola de Engenharia,P.A., 1912,p.
14).

"E, enquanto no corao do pampa entristecer ao longe uma


tapera, no corao do gacho h de viver, perene uma saudade, porque a
tapera o seu lar, o lar do guasca, a velha estncia erma onde
nascemos..." (Clemenciano Barnasque, No Pago, P.A., Globo, 1926, p.
111).

"Da tapera

Foi agasalho e morada,


colmeia de vida humana.
ltima e s! Abandonada
concentra nessa campanha
toda solido estranha
de um que sofre e no diz nada.
Leito de um rio que secou,
Recuerdo do que existiu:
- o que era corpo - fugiu!
mas o que era alma ficou."
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, p. 127).

"Tapera
Compreendo a tua dor, velha tapera,
Abandonada beira do caminho,
Que entre verdes festes de musgo e

477

(era,
Serves as mochos de repouso e ninho!
Oh! se eu sei tua dor! Tambm no peito,
Ao sol glorioso de uma primavera,
Pulsa, chorando, em lgrima desfeito,
Meu corao - tristssima tapera!"
(Joo Gonalves Vianna Filho,
Tapera, in Antologia da Poesia
Uruguianense, elaborada por Humberto
Feliciano de Carvalho, Uruguaiana,
Livr. Novidade Editora, 1957, p.
62).

"Cai a noite
Na vrzea do campo...
Tudo silncio
Na invernada;
Nem mais um piscar
De pirilampo,
Nem mais um mugido
Da boiada...
s tapera, tapera!
... E mais nada...!"
(Clber Mrcio, ltima Tropeada,
p. 118).

"Velha e tristonha tapera,


tens muito de minha vida:
Melanclica e vencida
nas ltimas pulsaes,
s o retrato perfeito
de tanto sonho desfeito,
de tantas desiluses."
(Varteloo Camejo, Cinzas do meu
Fogo, P.A., 1966, p. 35).

"Choupana onde floriu a esperana galharda,


tapera onde hoje vive uma saudade imensa."
(Andr Carrazzoni, Poesia e Prosa
do Cotidiano, RJ, Livr. Jos Olmpio,
1957, p. 5).

"Tapera, casa em runa


l no cimo da colina,
rancho velho quase ao cho.
Paredes esburacadas,
casa das almas penadas
que vagueiam no rinco."
(Jos Jlio Barros, Tapera).

"E, quando no restar de mim mais nada,


quando eu, na minha ltima tropeada,
cruzar pelas fronteiras da existncia,
- ho de ficar os versos que componho,
assombrando as taperas de meu sonho,
como as almas penadas da querncia!"
(Rui Cardoso Nunes, Almas Penadas).

"Ao longe h uma tapera abandonada


e, alm singrando as guas, um veleiro
enfuna as velas brancas a acenar!

A tapera deserta e silenciosa


igual minha alma entristecida.
O veleiro meu pobre corao
buscando no oceano desta vida
outro afeto, outro amor, outra iluso!"
(Ionor Lisboa, "Quadrinho a leo",
in A Pena, P.A., out., 1948, p. 3).

"Dorme a alma da tapera,


triste, fnebre, perdida
na vastido da querncia,
como negra reticncia
que a morte sentou na vida..."
(Lauro Rodrigues, A Cano das
Aguas Prisioneiras, P.A., Martins
Livreiro-Editor, 1978, p. 64).

"Era assim o velho Juca...


E hoje quando eu avisto
na garupa do espigo
seu rancho feito tapera

478

caramba s! no resisto
me di fundo o corao!
Pois a mim at parece
que enquanto o nmero cresce
das taperas campo afora,
sepultam-se nas runas
as virtudes campesinas
e hospitaleiras de outrora."
(Joo Palma da Silva, Rancho
Crioulo, Canoas, Ed. La Salle, 1953,
p. 30).

"Entre los pastos tirada


como una prenda perdida,
en el silencio escondida
como caricia robada,
completamente rodeada
por el cardo y la flechilla
que, como larga golilla,
van bajando a la ladera,
est una triste tapera
descansando en la cuchilla.

Donde el aire perfumado


est de risas escrito,
y donde en cada pastito
hay un recuerdo olavado;
tapera que mi pasado,
con colores de amapola,
entusiasmada enarbola
y que siempre que la miro
dejo sobre ella un suspiro
para que no est tan sola."
(Elas Regules, Versos Criollos,
Montevideo, Librena Mercurio,
1918, p. 9-10).

"Eles amam dizer que so gachos


pela iluso do direito
de andarem ss nas estradas,
nas guerras e nos rodeios.
Andarem ss!
Taperas andarilhas, isoladas,
cavalgando silncios nas estradas
abertas pelos pais dos bisavs!"
(Aldira Corra Retamozo, O
Rodeio e a Mulher Gacha).

"Tapera, velho templo de saudade


onde passei a minha mocidade
estou de novo aqui, te visitando.
No me conheces mais? Sou o rapaz
meio xucro e teimoso e meio audaz
que aqui viveu brincando e trabalhando.

Em ti s h tristeza e solido,
um forno velho, as taipas, o choro,
um arvoredo torto e abandonado.
A casa, os lavoures, a gadaria,
o fogo amigo que nos aquecia
tudo ficou perdido no passado.
Minha gente emigrou para a cidade.
Meu velho pai s vive na saudade
pois h muito se foi desta existncia.
As alegrias de um viver fecundo
que enchiam de calor o nosso mundo
deixaram de habitar nesta querncia.
Hoje, tapera, velho e j cansado,
estou lembrando as coisas do passado
a tremer de emoo, quase chorando.
Mas no choro, que o velho inda o rapaz
meio xucro e teimoso e meio audaz
que aqui viveu brincando e trabalhando.

S que a vida ficou bem mais escura.


E algum raio de luz que inda fulgura
vem de alegrias mortas de outras eras,
pois hoje s me resta a fria estrada,
rumo descrena, indiferena, ao nada,
rumo ao mundo perdido das taperas."
(Zeno Cardoso Nunes, Tapera).

479

TAPES, s. V. Tape.

TAPICHI, s. Terneiro no nascido, retirado do ventre da vaca quando esta


abatida para consumo. O mesmo que nonato, bacara, terneiro de
barriga. (Vem do guarani tapyyti que quer dizer coelho ou lebre).
(Desus.).

TAPUIO, s. Qualquer mestio trigueiro e de cabelos pretos e lisos.

TAPUME, s. Cerca, taipa, aramado, sebe viva, qualquer meio de fechar um


terreno.

TAQUARA, s. Espcie de bambu muito comum na regio serrana do Estado.


Suas folhas servem de alimento para o gado.

TAQUARAL, s. Grande quantidade de taquaras. Terreno em que h taquaras


em abundncia, mata ou reboleira de taquaras. Tabocal.

TAQUAREIRA, s. Touceira ou reboleira de taquaras.

TAQUARI, s. Espingarda de um cano s, de carregar pela boca. O mesmo que


pica-pau.

TAQUEIRA, s. Estante usada para guardar os tacos do bilhar.

TARARACA, s. e adj. Indivduo desajeitado, manietado, confuso, tonto,


mope, que anda s apalpadelas.

TARCA, s. Pedao de pau ou de couro no qual se assinala, com pequenos


cortes, o nmero de reses marcadas durante o dia. A tarca utilizada,
tambm, para qualquer outro tipo de contagem, de animais ou de objetos.
(Etim.: Parece provir do cast. tarja).

"Queria que ocs vissem como se trabalhou de lao e de tarca o


ano passado" (A. Maia, Runas Vivas, Porto, Lelo & Irmo, 1910, p. 59).

"Galpo bem barriado e limpo,


Preparavam novas tarcas
e novos cabos pras marcas," ...
(Zeca Blau, Trovas da Estncia do
Abandono, P.A., Grafipel, p. 23).
"Eu fiz da saudade a marca
de minha iluso perdida,
e de meu Verso, uma tarca
para marcar minha vida!

E na tarca de meu canto


h, por isso, realidade:
treva e luz - o riso e o pranto -
na marca de uma saudade!"
(Rui Cardoso Nunes, Tarca, 1970).

TARECADA, s. O mesmo que tarecama.

TARECAGEM, s. O mesmo que tarecama.

TARECAMA, s. Poro de tarecos, utensilios.

TARECOS, s. Mveis velhos, objetos diversos sem valor. Geralmente


usado no plural.

"E continuou recordando a manh chuvosa quando botou o p na


estrada com os tarecos." (Laci Osrio, O Sol Acende o Pampa, P.A., Ed.
Itapetininga, 1962, p. 46).

TARIMBA, s. Experincia, prtica, conhecimento.

TARIMBEIRO, s. e adj. Indivduo experimentado, prtico, conhecedor.

"O gacho tarimbeiro


que se sai sempre folheiro
pra escolher pingo e mulher!"
(Dirceu Pires Terres, O Meu Cavalo
Crioulo, in Antologia daEPC, P.A.,
Sulina, 1970, p. 156).

TARUGO, s. Cigarro muito grosso, de fumo ordinrio. // Homem baixo e


entroncado.

TARUM, s. rvore do campo (Vitex montevidensis), de pouco


desenvolvimento, de cerne muito rijo e de bela copada. Produz flores de
cor branca,

480

muito cheirosas e apreciadas pelas abelhas.

"Fazia-me ele a impresso de um perene tarum verdejante, rijo


para o machado e para o raio." (Simes Lopes, Contos Gauchescos, p. 12).

"Hoje, nonagenrio qual tarum da serra,


Orgulha sua gente, orgulha sua terra!"
(Diomrio Moojen, in Antologia de
Poetas Brigadianos, P.A., Ed.
Pallotti, 1982, p. 27).

TASTAVELAR, v. O mesmo que tastavelhar.


TASTAVELHAR, v. Tropear estonteado;perder o equilbrio.

TATA, s. Papai, pap, tat.

TATETO, s. Caititu. uma variedade de porco selvagem domesticvel, no


tendo a ferocidade da outra existente, o queixada.

TATU, s. Pequeno mamfero da ordem dos desdentados de que h vrias


espcies peculiares ao Rio Grande do Sul, entre as quais o tatu mulita,
o tatu peludo, o tatu do rabo mole. // , tambm, uma variedade de
fandango, com inmeras quadras sobre o tatu, que os pares entoam ao
danarem.

"Alm desta, tem essa palavra a acepo brasileira indicativa de


vrias espcies de mamferos do gnero Dasy pus (ordem dos desdentados).
As espcies rio-grandenses so: o tatu-peludo, tatu-de-rabo-mole e
tatu-mulita, este o mais comum (seu nome cientfico Proapus
hybridus), de pequeno tamanho e sua carne mui saborosa; tem geralmente
uma barrigada de 8 a 11 filhos. O fato mais curioso, quanto mulita e
ao tatu em geral, observado e anotado pelo Dr. Von Ihering, ilustre
naturalista residente neste Estado, que esses mamferos em cada cria
ou barrigada tm filhotes s de um sexo: ou todos so machos ou todos
fmeas. Esse curioso fato observado pelo distinto naturalista alemo,
no era desconhecido do povo campons, que em suas trovas j o havia
assinalado, como veremos na seguinte quadrinha popular:

O tatu mais a mulita


lei de sua criao:
Sendo macho no pode ter irm,
Quando fmea no pode ter irmo.

D-se o nome de mulita, naturalmente por certa semelhana que, em


ponto pequeno, apresenta esse interessante animal - com a mula ou com
pequena mula." (Romaguera).

"O tatu

Eu vim pra contar a histria


Dum - tatu - que j morreu,
Passando muitos trabalhos
Por este mundo de Deus.

O tatu foi muito ativo


Pra sua vida buscar;
Batia casco na estrada,
Mas nunca pde ajuntar!

Ora pois, todos escutem


Do tatu a narrao,
E se houver quem saiba mais,
Entre tambm na funo,

- Anda a roda,
o tatu teu;
Voltinha no meio,
o tatu meu!

O tatu foi homem pobre,


Que apenas teve de seu
Um balandrau muito velho

481

Que o defunto pai lhe deu!

O tatu bicho manso,


Nunca mordeu a ningum...
S deu uma dentadinha
Na perninha do seu bem.

O tatu bicho manso,


No pode morder ningum;
Inda que queira morder
O tatu dentes no tem.

O tatu saiu do mato


Vestidinho, preparado;
Parecia um capito,
De camisa de babado.

O tatu saiu do mato


Procurando mantimento! ...
Caiu numa cachorrada
Que o levou cortando vento!

O tatu me foi roa


Toda a roa me comeu...
Plante roa quem quiser,
Que o tatu quero ser eu!

O tatu bicho chato,


Rasteiro, toca no cho;
Inda mais rasteiro fica
Quando vai roubar feijo.

O tatu de rabo mole


Faz guisado sem gordura;
Ele feio mas gostoso,
O que lhe falta, compostura.

Depois de muito corrido


Nos pagos em que nasceu
O tatu alou o poncho
E p'r'outras bandas se moveu.

Eu vi o tatu montado
No seu cavalo picao,
De bolas e tirador,
De faca. rebenque e lao.
Onde vai, senhor tatu,
Em tamanha galopada?
- Vou para Cima da Serra
Danar a polca mancada!

O tatu subiu a Serra


No seu cavalo lazo;
De barbicacho na orelha,
Repassando um redomo.

O tatu subiu a Serra


Pra serrar um tabuado:
Levou mala de farinha
E um porongo de melado.

O tatu subiu a Serra


Com ganas de beber vinho
Apertaram-lhe a garganta,
Vomitou pelo focinho!

Depois de grande folia


Em que o tatu se meteu,
Deram-lhe muito guascao,
E o tatu ensandeceu!
E logo desceu pra baixo,
Mui triste da sua vida,
Co'a casca toda riscada,
De orelha murcha, cada!

O tatu foi encontrado


No serro de Batovi,
Roendo as unhas, de fome;
Ningum me contou, eu vi!

O tatu foi encontrado


Pras bandas de S. Sep,
Mui aflito e muito pobre,
De freio na mo, a p.

O tatu depois foi visto


No serro de Viamo,
Com seu lacinho nos tentos,
Repassando um redomo.

O tatu foi encontrado


L nos serros de Bag,
De lao e bolas nos tentos,
Atrs dum boi jaguan!

O tatu foi encontrado


Na serra de Canguu
Mais triste de que um soc
E sujo como urubu.

Ao chegar sua casa


Veio alegre e mui contente
Por ver a sua tatua
E quem mais era parente.

482

Minha comadre tatua,


Adeus, como tem passado?
- Tenho passado mui bem,
Porm com algum cuidado.

Tatua, minha tatua,


Acuda, seno eu morro!
Venho todo lastimado
Das dentadas de um cachorro.

At chegar nesta idade,


Remdio nunca tomei;
Tatua estou mui doente,
Faz remdio, eu tomarei.

Ela deu folhas d'umbu


Co'a raiz de pessegueiro;
Mas coitado do tatu,
Morreu inda mais ligeiro!

A tatua e os tatuzinhos
Puseram-se a cavoucar,
Pra fazer a funda cova,
Pra o seu tatu enterrar.

A tatua est viva,


O seu tatu j morreu;
Ela agora quer marido
Travesso como era o seu.

A tatua est mitrada,


Quer marido doutro jeito,
Que no viva longe dela
E seja tatu de respeito.

E se algum dos meus senhores


Quer ser tatu preferido,
A tatua est viva:
s fazer seu pedido!

O tatu desceu a Serra


Com fama de laador;
Bota lao, tira lao,
Bota pealos de amor.

Meu tatu de rabo mole,


Meu guisado sem gordura:
Eu no gasto meu dinheiro
Com moa sem formosura.

Dei graas a Deus achar


Uma toca j deixada,
Pois que vinha um caador
Co'uma grande cachorrada.

O tatu foi encontrado


No passo do Jacu,
Trazendo muitos ofcios
Para o general David.

O tatu subiu no pau! ...


mentira de voc:
S que o pau fose deitado
Isso sim, podia s.

O tatu caiu na roa


Pelo cheiro da banana;
Tambm eu quero cair
Nos braos de dona Ana.

- E muitssimos outros, pelo mesmo estilo." - (Simes Lopes,


Cancioneiro Guasca).

TAURA, s. e adj. Diz-se de ou o indivduo valente, arrojado, destemido,


valoroso, forte, guapo, resistente, enrgico, folgazo, expansivo,
perito em algum assunto, que est sempre disposto a tudo.

"Taura, esse era. E agora veja vassunc, com a cara emborcada no


barro, feito porco." (N. Pereira Camargo, Histrias da Fronteira, P.A.,
Ed. Combate Ltda., 1968, p. 20).

"- A So Borja dos tauras destemidos


de amplo chapu, bombacha e esporas barulhentas,
cujo poncho jamais ousou algum
pisar impunemente em rixas cruentas..."
(Alzira Freitas Tacques, Poemas da
Meia Noite, P.A., Tip. do Centro
S.A., 1947, p. 43).

TAVA, s. O mesmo que jogo do oss. O osso com que se pratica esse jogo.
Diz-se, tambm, taba.

483

"Creio que o jogo do osso nos veio de uma das vizinhas


repblicas platinas, sendo conhecido no Uruguai pelo nome de taba, que
vem de Tebas, velha cidade egpcia, donde deve ser originrio." (Luiz G.
Gomes de Freitas, Gauchadas, 1957, p. 68).

TEATINADA, s. Grupo de teatinos.

TEATINAR, v. Levar vida de teatino, vagabundear, andar de estncia em


estncia.

TEATINO, adj. Diz-se do cavalo, ou de outro animal, ou de objeto, que


no tem dono, ou de que se desconhece o dono. // Aplica-se pessoa que
anda fora de sua terra, longe de sua querncia, como animal sem dono.

"adj. coisa de que se no conhece dono: aplica-se este termo


mais especialmente aos cavalos; mas tambm se diz de outra coisa sem
dono. Chamavam-se teatinos os clrigos regulares da Ordem de S. Caetano
de Theto, os quais tambm eram conhecidos pelo nome de padres da Divina
Providncia: Dizer coisa teatina no ser o mesmo que dizer coisa da
Divina Providncia? Talvez este termo da tenha origem, trazida pelos
antigos jesutas." (Antnio lvares Pereira Coruja, Coleo de Vocbulos
na Provncia do Rio Grande do Sul).

TEBA, s. e adj. Indivduo grado, importante, valente, corajoso, destro,


disposto, resoluto, expedito, desempenado, que no tem medo de nada. //
O mesmo que tebano, tebas.

"E essa minha reverncia


homenagem aos cados.
E aos pobres tebas sem glria
por outros pagos perdidos."
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, P.A., Martins livreiro-
Editor, 1981,p. 80).

TEBANO, s. e adj. O mesmo que teba.

TEBAS, s. e adj. O mesmo que teba.

TEIA DE ARANHA, s. Finssima rede de fios elsticos, produzida pela


aranha para apanhar insetos, utilizada pelos gachos para estancar o
sangue em um ferimento.

"E eu gritei: O sangue estanca,


no foi nada, no faz manha:
se bota teia de aranha,..."
(Dimas Costa, Fanfarronada).

TEIMA, adj. Diz-se, na gria de caador, do co de boa qualidade que


aps levantar o veado s cessa a perseguio quando lhe bota os dentes.

TEIR, s. Dvida, desconfiana, teima, discusso, rixa. // Pea do arado


pica-pau.

TEJADILHO, s. Coberta ou tolda da diligncia. (Apesar de figurar em


vocabulrios de regionalismo gauchesco, palavra genuinamente
portuguesa).

"De repente surgira uma diligncia, ao galope de quatro parelhas


fogosas, o tejadilho coberto de malas." (A. Maia, Runas Vivas, p. 202).

TEJO, s. Jogo em que se atiram moedas sobre uma faca cravada no solo.

TEJU, s. Lagarto de papo amarelo.

TEMPO, s. Muito tempo. Longo perodo de tempo.

TEMPEAR, v. Tirar o tempo do parelheiro.

TEM PELEGO, expr. Tem dente de coelho, coisa difcil.

TEMPO-FEIO, s. O mesmo que tempo-quente.

TEMPO-QUENTE, s. Rolo, briga. O mes-

484

mo que tempo-feio.

"A luta ia ser insana!


A barricada era humana,
era feita s de gente.
O Rio Grande do Sul guasca
nunca fugiu da borrasca
que nasce num tempo quente!"
(Rui Cardoso Nunes, poema).

TEMPO-SER, s. Brinquedo infantil, divertimento de crianas.

TEMPRANO, adj. Cedo. ( cast. usado somente na fronteira).

"- Me alegro, dijo el alcaide,


com todo mi corazn;
ans, maana temprano
antes de que salga el sol,
le har quitar la cadena;"
(Hilario Ascasubi, Santos Vega,
Buenos Aires, 1952, p. 142).

TENDAL, s. Varal onde se estende o charque para secar. Lugar onde se pe


a secar a roupa lavada.

TENENCIA, s. Cuidado, precauo, perseverana, cautela, prudncia,


jeito, tino, costume, hbito.

"Vanc tome tenncia e v vendo como as cousas, por si mesmas,


se explicam." (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A.,
Globo, 1973, p. 89).

TENTEAR, v. Poupar, economizar.

TENTEIO, s. Ato de tentear, de economizar. // A direo, o governo das


rdeas do animal de montaria.

TENTEIRO, s. e adj. Indivduo que trabalha com tentos.

TENTO, s. Tira fina de lonca que empregada para costurar couro, para
fazer botes e passadores, para atar alguma coisa, e para muitos outros
fins. Tira de couro cru utilizada para a feitura de laos, sovus,
tamoeiros, relhos, qualquer aparelho tranado, e inmeros outros usos.
(Etim.: Vem de tiento, das Repblicas Platinas).

" frente, no terreiro trabalhava-se: junto de uma zorra,


sentado, um chiru velho tirava tentos de lonca, srio, absorto, a
extremidade do fio segura ao p, a faca girando firme ao longo da
guasca;" (A. Maia, Runas Vivas, Porto, Lelo & Irmo, 1910,p. 137).

TENTOS, s. Pequenas tiras de guasca presas a duas argolas existentes na


parte posterior do lombilho, de um e outro lado, s quais se amarram o
poncho, o lao, ou qualquer coisa que se queira conduzir garupa.

"Quem no agenta barulho no amarra porongo nos tentos."


(Adgio popular).

TER CARACU, expr. Ser forte, resistente, enrgico.

TER CARACU RESISTENTE, expr. O mesmo que ter caracu.

TER CARRADAS DE RAZO, expr. Ter muita razo.


TERCEROLA, s. Arma de fogo usada pelos soldados de cavalaria, a qual
um tero mais curta do que a carabina.

TERO, s. Surro de couro.

TER, s.O filho mais novo, o caula.

TERER, s. Chimarro preparado com gua fria.

" necessrio diminuir encargos,


Sonegar tributos
Que pesam sobre a congonha dos terers amargos
E no escoamento e exportao de outros produtos".
(Ramiro Frota Barcelos, Romanceria
Gauchesca, So Leopoldo, Ed.
Rotermund, 1966, p. 25).

485

TER ESPORO DE QUERO-QUERO, expr. Ser a pessoa esperta e vigilante.

TER ESTMAGO FRIO, expr. Ser incapaz de guardar segredo. O mesmo que ter
frio no estmago.

TER FRIO NO ESTMAGO, expr. O mesmo que ter estmago frio.

TER MARCA NA PALETA MAS NO SER TAMBEIRO, expr. Ser aparentemente manso,
porm decidido nas ocasies necessrias.

TERNEIRA, s. Vitela, a cria da vaca at dois anos de idade. Fem. de


terneiro.

"Terneira, no que toca a seu timo, no desperta nenhuma dvida.


Vem da raiz de terno, novo, suave. Como, entretanto, o substantivo
derivado que designa a vaquinha de pouca idade, em portugus antes no
se empregava, enquanto era termo antigo no espanhol, ningum poder
dizer que o gacho brasileiro no o tomou de seus congneres do Rio da
Prata. Adotou-o em sua morfologia e em sua semntica." (Slvio Jlio,
Folclore e Dialectologia do Brasil e Hispanoamrica, Petrpolis, RJ,
1974, p. 23).

TERNEIRADA, s. Grande nmero de terneiros; os terneiros e terneiras em


geral. Terneiragem.

TERNEIRAGEM, s. O mesmo que terneirada.

TERNEIRO, s. A cria da vaca at a idade de um ano. Bezerro, novilho.

"Separam-se os terneiros maduros para a marca, as vacas


tambeiras, as reses destinadas ao talho, assim como os animais doentes
que precisam de trato cuidadoso." (Carlos Jansen, O Patu, P.A., URGS,
1974, p. 133).

TERNEIRO MAMO, s. O terneiro de mais de um ano que ainda mama. V. a


expresso cara de terneiro mamo.

TERNEIRONA, s. Terneira grande, gorda, bem desenvolvida.


TERNEIROTE, s. Terneiro novo.

TERNO, s. Grupo de trs campeiros que nos rodeios ou mangueiras fazem o


servio de marcao do gado. // Conjunto das parelhas de bois da
carreta. // Terno de Reis.

TERNO DE REIS, s. Conjunto de msicos e cantores que comemoram o


nascimento de Cristo, cantando, de casa em casa, de 25 de dezembro a 6
de janeiro.

"Mas o silncio do alvorecer embalado pelo sussuro da Sanga


Funda e do canto da mata, quebrou-se. Era uma msica estranha, com sabor
de cantocho que se misturava ao perfume silvestre do meu colcho de
pasto e ao aroma gostoso de um travesseiro de marcela.
Vozes speras como de quem trabalha na enxada, mas afinadas como
batidas de araponga, cantaram assim:

'Agora mesmo cheguemo


Na beira do seu terrero
Para toc e cant
Licena peo premero.'

Tentei me refazer do sonho, quando senti que a noite me roubara


um ano...

'Acordai se estais dormindo


Neste sono to profundo
Ns andamos festejando
Ano-novo neste mundo.'

Assim ouvi por primeira vez um autntico terno. Fiquei fascinado


pela beleza rstica da maneira

486

de cantar e pelo profundo sentimento cristo que brotava dos coraes


daqueles homens simples do Litoral, a cada verso que lhes vinha boca."
(J.C. Paixo Crtes, Terno de Reis, Ed. Sta. Maria, 1960, p. 15-16).

"Abre-se a porta e o Terno entra. Dentro da casa,toca e canta


modinhas populares. O dono da casa oferece, ento, o que pode oferecer:
uma rosca grande, de farinha de trigo, toda enfeitada; bolos de
coalhada, queijos, etc. Em algumas casas oferecem ceia ou caf bem
acompanhado. Meu pai sempre oferecia uma bandeja de uvas, do parreiral
da casa. Rarssimas vezes, apareciam bebidas alcolicas, e, quando
apareciam, todos tomavam apenas o seu golezinho, em contraste com o que
acontece hoje, em que pessoas dos Ternos chegam a se embriagar. Em
alguns municpios, usam, tambm, dar dinheiro. Aqui, ao que me consta,
nunca isso se usou." (Antnio Stenzel Filho, A vila da Serra, Usos e
Costumes at 1872, 2 ed., Caxias do Sul, IEL/UCS, 1980, p. 65).

TER O ESTMAGO FRIO, expr. O mesmo que ter estmago frio.

TERRA DOS FARROUPILHAS, s. Rio Grande do Sul.

"Eu sou gacho largado


da Terra dos Farroupilhas!"
(Manoel Faria Corra, Rumo aos
Pagos).

TERREIRO, s. Local sem vegetao ao redor das casas de campanha.

TERTLIA, s. Baile familiar. // Reunio artstica ou literria, em


residncia familiar.

TESO, s. Terreno mais alto junto barranca do rio. // (Gir.) Pronto,


sem dinheiro.

TESOURA, s. Ave tirandea (Muscivora tyrannus), cinzenta por cima e


branca por baixo.

TESTA, s. Os animais que marcham na parte da frente da tropa. Ponta.

"Vou seguindo pelo mundo


- mundo velho sem porteiras -
no meio da polvadeira
da terra que se idolatra,
procuro chegar pra testa,
pois se o gacho no presta
seu lugar na culatra."
(M. C. de Bem Osrio, A Tropa da
Humanidade, in Versos Crioulos,
P.A., Ed. do "35 Centro de Tradies
Gachas", 1951, p. 19).

TESTAVELAR, v. O mesmo que testavilhar, tastavelhar.

TESTAVILHAR, v. Tropear, escorregar, quase cair, cair. Diz-se de


animais e de pessoas. // Figuradamente, vacilar, descuidar-se. Var.:
testavelar, tastavelhar.

... "e j se viu o Nadico testavilhar e cair, aberto na barriga,


com a buchada de fora, golfando sangue! ..." (Simes Lopes, Contos
Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 17).

TESTEIRA, s. Parte da cabeada que cinge a testa do animal.

TETO, s. Teta. Bico do bere da vaca e de outros animais.

TU-TU, s. Quero-quero. termo quase sem uso no Rio Grande do Sul.

"E muitas vezes a boitat rondou as rancherias,faminta, sempre


que nem chimarro. Era ento que o tu-tu cantava, como bombei-

487

ro." (Simes Lopes, contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo,


1973, p. 136).

TIA, s. e pron. Mulher idosa de condies humildes. Tratamento dado a


mulher idosa, mais afetuoso do que sia.

TIBIO, s. Espcie de canrio (Sycalis arvensis) dos arredores de Porto


Alegre.

TIO, s. Denominao pejorativa dada s pessoas de cor.

TI, interj. O mesmo que ch.

TIGERA ou TIGUERA, s. Milharal j colhido; roa depois de feita a


colheita. V. a expresso cair na tiguera. (Etim.: Vem do tupi,
abatiguera, milharal extinto).

TIJUPAR, s. Choupana, rancho de beira no cho. (Desus.).

TIMO, s. Casaco curto, grosseiro, usado outrora pelos escravos e


crianas para se protegerem do frio. // Cabealho do arado pica-pau.

TIMBAS, s. Fundo de campo, de difcil acesso.

"Criado num rancho


bem l das timbas," ...
(Dimas Costa, Fanfarronada).

TIMBAVA, s. rvore da famlia Mimoseae, de grande desenvolvimento, que


d em terrenos frteis. Produz grandes toras, excelentes para canoas.
Nos campos no alcana altura aprecivel mas forma grandes ramadas.

"Alta, imponente em meio ao descampado


- como taura que sabe andar solito
- imagem viva, autntica do pago,
que vai do So Francisco ao 'Catarina'.
erguia-se uma velha timbava
de copa larga como um aconchego,
que eu namorava des' que era guri!..."
(Vasco Mello Leiria, 1 Antol. de
Poetas Brigadianos, P.A., Ed.
Pallotti, 1982, p. 112).

TIMB, s. Variedade de cip-trepadeira, da famlia das Sapendaceas, de


flor branca, altamente txica para o gado.

TIMBUVA, s. rvore da famlia Rosaceae Enterolobium Timbouva), de


tronco direito, que vegeta na regio serrana, no atingindo grandes
dimenses. A casca dessa rvore faz espumar a gua como o sabo,
propriedade que tambm possuem as sementes da timbava, cujo nome lhe
semelhante.

TINIDEIRA, s. Situao angustiosa, de aperturas, de dificuldades, por


falta de dinheiro. V. as expresses estar na tinideira e andar na
tinideira.

TIO, s. e pron. Negro velho. Tratamento dado a homem idoso, mais


afetuoso do que seo.

TIORGA, s. Embriaguez, borracheira, bebedeira, carraspana.

TIPE, s. Tiple, soprano. Um dos participantes do Terno de Reis.

"O Tiple ou Tipe ou ainda tipi, ordinariamente uma criana que


se encarrega de cantar as firmatas caractersticas do segundo e do
quarto verso de cada estrofe ou somente deste ltimo. Podem existir um
ou dois Tipes em cada terno." (Joo Carlos Paixo Crtes, Terno de Reis,
P.A., Ed. da Comisso Gacha de Folclore, 1960, p. 40).

TIPITI, s. Apuro, aperto, entalao, embarao, negcio difcil do qual


no se consegue sair com vantagem. // Recipiente cilndrico, de taquara,
no qual colocada a mandioca, j raspada, para ser esprimida.

488

"Uma roda menor, dependente da maior, move o ralo colocado sobre


o cocho, no qual as razes, j raspadas, convertem-se em grossa massa
semilquida, que, em cestas tecidas de fibras de taquara e chamadas
tipitis, sujeita prensa para ser expurgada do suco venenoso."
(Carlos Jansen, O Patu, P.A., URGS, 1974, p. 137).

TIRADA, s. Gauchada, agachada, compadrada.

TIRADEIRA, s. Guasca torcida, muito forte,que une as juntas de bois umas


s outras pela extremidade do cambo.

TIRADOR, s. Espcie de avental de couro macio, ou pelego, que os


laadores usam pendente da cintura, do lado esquerdo, para proteger a
roupa e o corpo do atrito do lao. Mesmo quando no est fazendo
servios em que utilize o lao, o homem da fronteira usa,
freqentemente, como parte da vestimenta, o seu tirador que, por vezes,
de luxo, enfeitado com franjas, bolsos e coldre para revlver. Os
serranos, dos campos de So Francisco de Paula, Cambar, Bom Jesus e
Vacaria, no tinham o tirador como parte de sua indumentria, e s
passaram a us-lo como pilcha para os rodeios tradicionalistas.
Anteriormente, para os trabalhos de lao, na mangueira, usavam eles,
guisa de tirador, um peleguinho de l curta, pendente da cinta, com o
carnal para fora, a fim de proteger a perna esquerda do atrito com o
lao no ato de cinchar. // Capelo. Pessoa que entoava a ladainha, nos
teros.

... "e pouco tardou em deixar o aposento, j pronto, com um


pelego atado cinta, guisa de tirador, o poncho amarrotado ao brao"
(A. Maia, Runas Vivas, Porto, Lelo & Irmo, 1910, p. 19).

TIRANA, s. Cantiga e dana popular, acompanhada de viola. Variedade do


fandango. // Descompostura, xingamento.

"Ei-la! ... ela a tirana,


Essa dana provinciana
Que dengosa e provocante
N'alma acende num instante
Um febril encantamento!
ela! ela! a tirana,
Sempre nova e feiticeira.
sempre a dana primeira
Das camponesas daqui!
Aos seus meneios parece
Que tudo em torno alvorece,
Que tudo palpita e ri! ..."
(Taveira Jnior).

" noite escuso avisar-te


Dana-se a polca tirana;
Tira a primeira serrana
Que no h de recusar-te..."
(Lobo da Costa, L...)

"Tirana, tira, tirana,


Tirana do ariru,
A mulher matou o marido
Cuidando que era tatu."
(Quadrinha popular).

"A Tirana

Eu amei uma tirana,


E ela no me quis bem! (ai!)
Agora vou desprez-la,
Vou ser tirano tambm! (ai!)

Todos gostam da tirana


Mas s para danar;
Porque, de uma tirania
Ningum deve de gostar.

Tirana, feliz tirana,


Tirana, da tirania,
J no morre por amores
Quem de amores morria.

Tirana, feliz tirana,


Tirana, vamos andando;
A minha licena pouca,

489

O tempo 'st se acabando.

Tirana, feliz tirana,


Tirana, que bom fandango!
De tudo vou-me esquecendo,
S de ti vou-me lembrando.

Tirana, feliz tirana,


Tirana, o sol 'st nascendo!
E quando o sol se apagar
Nas estrelas 'stou te vendo!

Tirana, feliz tirana,


Tirana, vamos embora
Juntinhos de brao dado
Antes de romper a aurora...

Tirana, tira, tirana,


Tirana da fagagoza,
Assim como ela bonita,
Tambm h de ser gostosa.

Tirana, tira, tirana,


Tirana, que eu vi, bem vi:
Meu amor em braos doutro! ...
No sei como no morri!

Tirana, tira, tirana,


Tirana, vou te deixar:
Tirana, juraste falso,
Tirana - pra me, enganar!

Tirana, bela tirana,


Tirana do arvoredo:
Se teu pai te degredar
Comigo seja o degredo!

Tirana, bela tirana,


Tirana do p pequeno,
Eu te levo nos meus braos
E no te molha, o sereno!

Tirana, bela tirana,


Tirana, no chores, no;
No dormirs ao relento,
Teu leito meu corao!

A Tirana mulher velha,


J no mais rapariga,
Por isso ela j no quer
Que lhe metam em cantiga.

A Tirana mulher brava,


E mora num faxinal,
Socando sua canjica,
Comendo feijo sem sal.

A Tirana quando olha


Pra gente, de atravessado,
sempre muito melhor,
No s'esperar o recado!

A Tirana quando puxa


As pelancas da papada,
Adeus! minhas encomendas!
Vai roncar a trovoada!

A Tirana capivara
Velha, de m condio:
Quando ela fica zangada,
Bate co'a bunda no cho!

Tirana, velha tirana,


tirana do ariru:
A mulher matou o marido
Co'a p de mexer angu!"
(Quadras populares).

TIRANTE, s. Pea de madeira, maior do que o caibro, empregada para a


construo de casas e de pontes. // adj. Semelhante a, parecido com, com
jeito de: "O plo baio tirante cor do linho encardido", ou seja,
semelhante cor do linho encardido.
TIRO, s. Puxo brusco, golpe repentino, empuxo. Golpe inesperado que
se d no animal puxando bruscamente o lao ou o cabresto. //
Figuradamente, choque, grande abalo moral. // V. as expresses ganhar o
tiro, agentar o tiro, de tiro seco.

TIRA-PROSA, s. O faco, o relho.

TIRAR A CISMA, expr. Desenganar. Acabar com a pretenso de valentia de


algum.

TIRAR CAMOATIM SEM PONCHO, expr. Passar trabalho.

TIRAR LEITE DE VACA MORTA, expr. Lamentar-se de males para os quais no


h remdio. // Querer aproveitar

490

alguma coisa que j no aproveitvel.

TIRAR LICHIGUANA, expr. Passar frio noite por falta de cobertas.

TIRAR LUZ, expr. Tomar um dos parelheiros, nas corridas de cavalos, a


dianteira sobre o adversrio de forma que, para quem observa
lateralmente a competio, haja luz entre a cola do animal que ganha e a
cabea do que perde. Tirar o animal ganhador, sobre o perdedor, vantagem
superior ao comprimento de um corpo de cavalo.

TIRAR NA GARUPA, expr. Tirar de um perigo, de uma dificuldade, de um


aperto. Socorrer.

TIRAR O CAVALO DA CHUVA, expr. Parar de amolar, de aborrecer. "Tire o


cavalo da chuva", significa retire o que disse, no aborrea, no amole,
pare de encomodar.

TIRAR O CORPO, expr. Fugir, escapar.

TIRAR O CORPO FORA, expr. Eximir-se da responsabilidade. Escapar, fugir


s consequncias de seus atos.

TIRAR O FREIO, expr. Enxaguar a boca, ao levantar-se, de manh.


Presentemente, significaria escovar os dentes.

TIRAR O P DO BARRO, expr. Progredir, enriquecer, tornar-se importante.

"Deste modo que o Chimango,


Que no valia um cigarro
Foi tirando o p do barro
C'uma potra nunca vista" ...
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1978, p. 54).

TIRAR O PELEGO, expr. Matar. Cobrar preo excessivamente elevado.

"Depois de acertar-se o preo


C'o dono, que era galego,
E que tirava o pelego
De um pobre necessitado,
Tudo ficou arranjado
Pra uma noite de sossego."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1978, p. 61).

TIRAR O TEMPO, expr. Verificar, de cronmetro em punho, a velocidade do


cavalo de corrida. // Figuradamente, observar, tirar concluses, formar
opinio a respeito de algum ou de algum coisa.

TIRAR PARA PIQUETE, expr. O mesmo que tomar para piquete.

TIRAR UMA TORA, expr. Travar luta, brigar. // Dormir urna soneca.

TIRAR UM PELUDO, expr. Tirar com dificuldade de um atoleiro uma carreta


com as rodas profundamente enterradas na lama. O termo peludo serve para
designar uma espcie de tatu que se segura firmemente em qualquer toca
em que consiga introduzir-se ou introduzir apenas parte do corpo, donde
seu emprego na presente expresso. O mesmo que peludear.

TIRIRICA, s. Planta do banhado, com folhas como as do capim, porm mais


largas e speras. utilizada para acolchoar beatos de cangalhas, para
fazer esteiras, chapus, etc. // Punguista, batedor de carteira, gatuno.
// adj. Brabo, zangado, irritado, danado, furioso.

"Tinirica do banhado
Quando chove no se molha.
Onde h moa bonita
Para as feias no se olha."
(Darcy Azambuja, Romance Antigo,
P.A., Globo, 1940, p. 209).

TIRIRICAL, s. Brejo onde h abundncia de tiriricas.

TIRO, s. Distncia a ser percorrida pelo cavalo em uma cancha de


carreiras.

TIRO-DE-BOLAS, s. Ato de atirar as bo-

491

leadeiras sobre o animal.

"Morena que desconsolas


este amor que no se cansa,
- errei meu tiro-de-bolas
na corrida da esperana..."
(J. O. Nogueira Leiria, Rinces
Perdidos, P.A., Sulina, 1968, p. 122).

TIRO-DE-LAO, s. Ato de arremessar o lao contra o animal que se


pretende segurar.

TIRONAO, s. Aumentativo de tiro. Golpe seco.


TIRONEADA, s. Ao de tironear.

TIRONEADO, adj. Abalado, maltratado, perseguido.

TIRONEAR, v. Dar puxes ou tires nas rdeas do animal para obrig-lo a


obedecer. Golpear, puxar com violncia. Dar puxes no lao quando a rs
est enlaada.

TIRRIM, s. Tinido de espora.

"Minha espora fez tirrim


sobre o cho duro da sala,"
(Dimas Costa, Fanfarronada).

TOBIANO, adj. Diz-se do cavalo cujo plo escuro apresenta grandes


manchas, em geral brancas, com ele formando contraste. H muitas
variedades deste plo: tobiano-baio, tobiano-cebruno ou tobiano-sebruno,
tobiano-colorado, tobiano-gateado, tobiano-negro, tobiano-rosilho,
tobiano-vermelho, tobiano-zaino e outros. Var.: Tubiano.

" termo criado pelos sorocabanos para designarem a montaria


predileta do Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar - um magnfico cavalo
pampa -. Por analogia passou-se a chamar - tobiano - a todo o cavalo
manchado de duas cores, tendo, merc do intercmbio das feiras entre
sorocabanos e orientais-corrientinos, tal denominao se estendido at
as campanhas das Repblicas do Prata. Hoje, ainda se chama, na Repblica
Argentina, tobiano, ao cavalo ou gua pampa." (Afonso A. de Freitas,
Vocabulrio Nheengatu, apud B. Hollanda).

"Como a raa hovina, a cavalar tambm havia degenerado em nada


tendo aproveitado o cruzamento dos cavalos pampas ou tobianos (assim
chamados por serem provindos da fazenda do brigadeiro Raphael Tobias de
Aguiar, em So Paulo). Esse brigadeiro presenteou o Dr. Antnio Gomes
Pinheiro Machado com dois garanhes, ainda potros, quando esse doutor
mudou-se para Cruz Alta. Foi grande a prole desses dois animais, deram
cavalos de bonita estampa, porm fracos nas viagens por melhor tratados
que fossem." (Hemetrio Jos Velloso da Silveira, As Misses Orientais e
seus Antigos Domnios, editado em 1909, e reeditado pela Cia. de Seguros
Gerais, de Porto Alegre, em 1979,p. 121).

"Dice Daniel Granada, en 1890: De um jefe revolucionario de la


provincia de San Pablo (Brasil) conocido vulgarmente por Tubias, quien
derrotado en 1848 pas a incorporarse con los rio-grandenses, montado l
y los pocos soldados que le acompaaban en caballos de la casta y pelo
indicado en la definicin: A los cuales caballos por esas cirdunstancias
llamaron tubianos, denominacin que se generaliz en el Rio de la
Plata." (Tito Saubidet, Vocabulario y Refranero Criollo).

492

"Para cmulo do interesse despertado, um era tobiano. Mau plo


at para cavalo campeiro. Os entendidos tinham opinies variadas. Mas
enfim, tudo podia ser, at tobiano buenao de pata. S correndo se
veria." (Sylvio da Cunha Echenique, Fagulhas do meu Isqueiro, Pelotas,
Ed. Hugo, 1963, p. 53).

TOBIANO-BAIO, adj. Diz-se do cavalo tobiano em que predomina o plo


baio.

TOBIANO-CEBRUNO, adj. Diz-se do cavalo tobiano em que predomina o plo


cebruno. O mesmo que tobiano-sebruno.

TOBIANO-COLORADO, adj. Diz-se do cavalo tobiano em que predomina o plo


colorado.

TOBIANO-GATEADO, adj. Diz-se do cavalo tobiano em que predomina o plo


gateado.

TOBIANO-NEGRO, adj. Diz-se do cavalo tobiano em que predomina o plo


negro.

TOBIANO-ROSILHO, adj. Diz-se do cavalo tobiano em que predomina o plo


rosilho.

TOBIANO-SEBRUNO, adj. O mesmo que tobiano-cebruno.

TOBIANO-VERMELHO, adj. Diz-se do cavalo tobiano em que predomina o plo


vermelho. o tobiano propriamente dito e o que existe em maior
quantidade.

TOBIANO-ZAINO, adj. Diz-se do cavalo tobiano em que predomina o plo


zaino.

TOCADA, s. Corrida de experincia a que se submete um parelheiro que


est para correr. A tocada serve para se tirar o tempo do animal, ou
seja, para medir-lhe a velocidade. // Ato de tanger o gado.

TOCADO, adj. Diz-se do indivduo que est meio bbado, ou que meio
amalucado.

TOCADOR, s. e adj. Diz-se de ou o campeiro que toca os animais em


marcha.

TOCAIA, s. Espera, emboscada, espreita ao inimigo ou caa.

TOCAIO, adj. e s. Homnimo, xar, de nome igual. (Conforme Renato de


Mendona, em O Portugus do Brasil, tocaio origina-se da palavra
nahuatth, cuja etimologia tocayo e significa mexicano).

"Tinha uma imagem de So Sebastio, seu xar (no Rio Grande do


Sul dizemos tocaio)..." (rico Verssimo, Solo de Clarineta, P.A.,
Globo, 1974, p. 122).

TOCAR, v. Conduzir, repontar, levar por diante: "Tocamos o gado at


perto do coxilho". // Andar depressa: "Se no tocarmos no chegaremos
hoje". // Fazer andar depressa: "Vocs tm de tocar se quiserem chegar
antes da noite." // Encetar viagem: "Amanh muito cedo me toco para a
Jaquirana". // Aular, iscar, atiar: "Tocamos os cachorros nos bois que
refugaram". // Expulsar, enxotar, correr: "Tocamos toda aquela corja
para fora da vila". // Comear: "Logo que toca a subir h uma estrada
esquerda". // Doena do gado, originada pela falta de sal.

TOCAR AS RAIAS, expr. Atingir os limites.

TOCAR O CAVALO, expr. O mesmo que tocar o parelheiro.


TOCAR O PARELHEIRO, expr. Fazer o parelheiro correr, castigando-o para
aligeir-lo, ou para tirar-lhe o tempo, isto , medir-lhe a velocidade.

493

TOCO, s. Corno, chifre, de pequenas dimenses. Laar um boizinho pelos


tocos, significa la-lo pelos chifres.

TODA A VIDA, expr. Sempre, sem desviar-se. Quando um homem do campo


ensina o caminho a um viajante diz: "Siga toda a vida em frente", isto
, siga sempre em frente, no tomando estradas laterais.

TOLDARIA, s. O mesmo que tolderia.

"As toldarias dos minuanos se estendiam, assimetricamente, junto


a uma sanga, de bordos avermelhados e fundos, contornada de restingas de
mato. Acostumavam mudar as suas casas portteis, que nos cavalos
levavam, consoante s necessidades que surgiam, de defesa ou de
alimentao." (Aurlio Porto, O Tesouro do Arroio do Conde, P.A., Globo,
1933,p. 113).

TOLDERIA, s. Conjunto de toldos de ndios. O mesmo que toldaria.

TOLDO, s. Aldeamento de ndios j meio civilizados.

TOMADO, adj. Bbado, embriagado, alcoolizado.

TOMAR A PEITO, expr. Envidar o maior esforo para realizar determinada


aspirao, ou para atender solicitao de outrem.

TOMAR CARONA, expr. Ser o oficial preterido em sua promoo. O mesmo que
levar carona.

TOMAR CH DE CASCA DE VACA, expr. Levar uma surra.

TOMAR CH DE SUMIO, expr. Desaparecer, mudar-se para lugar distante sem


deixar notcias.

TOMAR PARA PIQUETE, expr. Tomar algum para menoscabo, para objeto de
troa ou para mandalete.

TOMBEIRO, adj. Manso, tratando-se de gado. Tambeiro.

TOMBO, s. Prejuzo. "Dar o tombo em algum", significa causar prejuzo a


algum.

TOPADOR, s. e adj. Indivduo que topa qualquer parada, que aceita


qualquer desafio.

TOPAR, v. Aceitar proposta, convite, desafio. Concordar. // Ir de


encontro a algum ou a alguma coisa.

TOPAR A PARADA, expr. Aceitar o desafio.

TOPE, s. Espcie, qualidade, jaez, laia.

TOPETE, s. Audcia, arrogncia, atrevimento. // Salincia de erva-mate


que fica fora da gua na cuia de chimarro. (No Rio Grande do Sul se
pronuncia este vocbulo, em todas as suas acepes, com e aberto).

TOPETUDO, s. e adj. Diz-se de ou o animal que tem grandes crinas que lhe
caem pela testa. // Diz-se de ou o indivduo arrogante, audacioso,
rstico, grosseiro, poderoso, valente, destemido.

"Um dia apresentaram ao imperador um topetudo no sei donde, que


perguntou, mui concho:
- Ento vossa majestade tem gostado disto por aqui?
- Sim, sim, muito!
- Ento por que no se muda pra c, com a famlia?" ...
(Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo,
1973, p. 53).

TORA, s. Conversa breve. // Sesta, cochilo. // Briga. // V. a expresso


tirar uma tora.

"Tirar uma tora ou tonta baterem-se dois sujeitos com o fim de


se experimentarem no manejo das ar-

494

mas, muitas vezes saindo ferdos os contendores. Antigamente era mui


comum nas vendas da campanha ou em outros lugares baterem-se (s vezes
morte) individuos que nem se conheciam, unicamente por gauchismo ou por
desconfiar um deles que o outro se julgava seu superior em bravura ou
destreza no manejo das armas, etc. Etim.: Empregado em lugar do port.
toro." (Romaguera).

TORAZITA, s. Diminutivo de tora.

"Aps o almoo, lembrei a Roberto a delcia de uma boa sesta, de


uma torazita de horas no silncio do galpo, apenas interrompido pelo
zumbir das vespas nos caibros." (A. Maia, Alma Brbara, RJ, Pimenta de
Melo & C., 1922, p. 67).

TORAL, s. Pedao de lao que se usa preso ao bual por uma argola.
Equivale a cabresto.

TORCICO, s. Torcedura, toro.

TORDILHADA, s. Poro de cavalos tordilhos.

TORDILHO, adj. Diz-se do cavalo cujo


plo tem a cor do tordo, ou seja, fundo branco encardido salpicado de pequenas
manchas mais ou menos negras.
O animal tordilho quando nasce de
cor bem escura, tendo apenas alguns
fios de plo branco em torno do focinho, nas crinas e na cauda, e vai ficando
branco proporo que envelhece.
O cavalo desse plo goza da fama de
ser excelente para atravessar rios
cheios ou gua de qualquer natureza.
Existem as seguintes variedades: Tordilho-apatacado, tordilho-branco, tordilho
-negro, tordilho-oveiro, tordilho-prateado,
tordilho-rodado, tordilho-rosado, tordilho-sabino, tordilho-salino,
tordilho-vinagre e outros.

"Caballito criollo
pinto tordillo
como ninguno para
bandear un ro."
(Fernn Silva Valdez, Una Huella
para mi Tropilla).

"No meu tordilho Gadelha,


que um peixe em que coube arreio,
largo tropa int no mar,
tanto faiz baixo ou bem cheio!"
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1981,p. 23).

"O mar um potro bravio,


que certa feita fugiu
cortando campos e matas;
alou-se e tomou querncia
eternizando a existncia
numa Invernada de prata!

Quem cruzar pelo Rio Grande


em qualquer parte que ande
h de encontrar o rastilho!
Pelas grotas e canhadas,
h de encontrar as pegadas
do xucro potro tordilho!

Desde a linha do horizonte


vem s vezes no rapante
um velho tropeiro alado...
Mas quando chega na areia
d uma empinada mui feia
pra no ser embualado!

Em noite de tempestade,
dono da imensidade
onde se chocam os baios!
Aqueles que vm de cima
com seus fogarus nas crinas
que a gente chama de raios!

Eu gosto de ver o mar


quando avana a corcovear
dando coice e manotao!
E no conheo vaqueano
ou domador veterano
que possa lhe pr o lao!

Maleva, xucro e relincha

495

frente ao rochedo carguincha


dos anteparos da serra! ...
E faz lembrar, quando avana,
uma investida de lana
numa arrancada pra guerra.

Em liberdade e sem dono,


mngum lhe vence o entono
ou faz calar o relincho!
Dou um doce pra quem domar,
pra quem lhe possa tousar
ou lhe quebrar o corincho!"
(Juvenil Cndido de Souza, Potro
Tordilho, in Correio do Povo, 10.10-1976).

TORDILHO-APATACADO, adj. Diz-se do cavalo de plo tordilho com manchas


redondas imitando patacas, moedas grandes.

TORDILHO-BRANCO, adj. Diz-se do cavalo tordilho em que predomina o plo


branco.

TORDILHO-NEGRO, adj. Diz-se do cavalo tordilho em que predomina o plo


preto.

TORDILHO-OVEIRO, adj. Diz-se do cavalo tordilho, cujo plo apresenta


manchas mais brancas, irregulares.

TORDILHO-PRATEADO, adj. Diz-se do cavalo tordilho, cujo plo de cor


brilhante como prata ou ferro laminado.

TORDILHO-RODADO, adj. Diz-se do cavalo tordilho, cujo plo apresenta


manchas regulares de forma redonda.

TORDILHO-ROSADO, adj. Diz-se do cavalo tordilho, cujo plo apresenta


tons puxando a cor-de-rosa.

TORDILHO-SABINO, adj. Diz-se do cavalo tordilho, cujo plo salpicado


de manchas vermelhas.

TORDILHO-SALINO, adj. Diz-se do cavalo tordilho, cujo plo salpicado


de pequenas manchas, como se fosse mosqueado.

TORDILHO-VINAGRE, adj. Diz-se do cavalo tordilho quando de plo tirante


cor do vinagre.

TOREMA, s. Homem elegante, sacudido. Torena.

TORENA, s. e adj. Homem elegante, bem trajado, guapo, valente, forte,


audaz, destemido, hbil em algum mister. Turuna, cutuba. Torema.

"Reforo de ndios torenas


que vagueiam noite e dia,"
(Dirceu A. Chiesa, O Gnio dos
Pagos, P.A., Livr. Continente, 1950,
p. 41).

TORENAO, adj. e s. Aumentativo de torena.

TORENADA, s. Poro de torenas. Os torenas.


TORRESMO, s. Criana muito gorda.

TORTO, adj. Diz-se da pessoa ou animal que s possui um olho ou que s


enxerga com um olho. Vesgo, estrbico.

"Desconfiado como cavalo torto em porteira." (Ditado popular).

"Cavalo com tal defeito sempre fica desconfiado junto porteira


porque, se vesgo v a porteira com um olho e a cerca com o outro. Se
cego de um, s v parte e no sabe bem onde meter-se. Fica duvidando da
verdade e desconfia. - H muita gente neste mundo que no zarolha mas
desconfiada como cavalo torto em porteira. Porque torto de conscincia
ou carter, v tudo mal e desconfia..." (Walter Spalding, Ba de
Estncia).

"Matreiro o novilho torto,


Que se esconde no banhado."

496

(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,


P.A., Martins livreiro-Editor,
1978,p. 19).

TORUNA, s. e adj. O mesmo que touruno.

TORUNGUENGA, s. e adj. Diz-se de ou o indivduo destemido, valente e


respeitado como tal. Diz-se de ou a pessoa destra no manejo de qualquer
arma ou na arte de tocar a viola ou a gaita. O mesmo que tourunguenga.

"Em louvor a Santo Anto


Eu lhe topo, amigo Chico:
Pois sou torunguenga no pinho,
No trovar, atrs no fico."
(Poesia popular).

TORUNO, s. e adj. O mesmo que touruno.

TOSA, s. Tosquia, toso, esquila.

TOSAR, v. Submeter o animal ao toso.

TOSCONEAR, v. Toscanejar.

TOSO, s. Ato de cortar a crina do cavalo o que se faz de vrios modos,


donde: Toso a cangotilho ou cogotilho, quando se extende por dois teros
do pescoo, a partir da cabea, obedecendo a forma de arco; toso a meio
cangotilho ou cogotilho, quando tem a metade da extenso do anterior;
toso baixo, rente ao pescoo; toso de cola e crina, quando se cortam
todos os cabelos da cola e da crina do animal.

TOSSE COMPRIDA, s. Coqueluche.

TOSSE DE CACHORRO, s. O falso crupe. Tosse persistente.

TOSTADO, adj. Diz-se do cavalo cujo plo semelhante ao alazo, porm


mais escuro. Existem o tostado-claro, o tostado-bronzeado e o
tostado-requeimado.

"A propsito de tostado, certa feita um povoero me perguntou


como que era esse plo e eu fiquei meio embolado pra responder, mas em
todo causo, expliquei como pude. Nossa charla foi ansim, empeando pela
pergunta dele:
- O Senhor pode me dizer como o plo do cavalo tostado?
- Agora vanc me apertou, seu moo! Mas... pere a! O tostado
um alazo escuro.
- E como o alazo?
- O alazo ansim como... um ruivo opaco.
- Entonces o tostado ...
- O tostado um ruivo mais escuro ainda, tirante a queimado.
um ruivo castanho que o fogo no chegou a queimar, s chamuscou, ou
seja, tostou apenas; da o nome: tostado.
No sei se me entendeu... Parece que sim. Ele fz:
- Haan!"
(Natalio Herlein, A Volta do Gacho Fausto Aguirre, p. 45).

"Gacho de facha e brilho


Que queira ser respeitado,
Pra o campo, enfrene tostado,"
(Zeca Blau, Trovas da Estncia do
Abandono de Da. Brasilia Comarca,
p. 60).

"Pra muito, tapado, mas pra tudo, tostado." (Ditado popular).

"Tostado, antes morto que cansado." (Ditado popular).

"Tostado de clina clara o que chamam de alazo." (Firmino de


Paula Carvalho, Plos).

"A la huella la huella


de mi tostado;
primero muerto, amigo,
que estar cansado."

497

(Fernn Silva Valds, Una Huella


para mi tropilla, apud Vocabulario
y Refranero Criollo, de Tito Saubidet).

TOSTADO-BRONZEADO, adj. Diz-se do cavalo tostado, cujo plo tem reflexos


cor de bronze.

TOSTADO-CLARO, adj. Diz-se do cavalo tostado, mais claro que o comum,


porm mais escuro do que o alazo.

TOSTADO-REQUEIMADO, adj. Diz-se do cavalo tostado de cor carregada,


semelhante ao alazo-requeimado com o qual, por vezes, se confunde.

TOSTO, s. Antiga moeda de nquel, de valor insignificante.

"Eu no sei quem esse homem; jamais o vi na casa do meu pai, -


mas quando temos dinheiro no bolso, no devemos negar a quem pede, ainda
que seja um tosto o que lhe podemos dar." (Pedro Vergara, Lembranas
que Lembram, Parte III, P.A., IEL, Ed. Pallotti, 1982, p.20).

TOUREAO, s. Ato de tourear, toureio.

TOUREAR, v. Provocar, desafiar, desconsiderar, insultar, afrontar,


zombar. // Namorar.

TOURITO, s. Diminutivo de touro.

"Tourito magro todos pialam." (Ditado popular).

TOURO, s. Bovino macho, no castrado, plenamente desenvolvido. Tanto no


Rio Grande do Sul como nas Repblicas do Prata o touro um smbolo de
fora, de coragem, de valor. As brigas de touros so espetculos
soberbos que tm inspirado belas pginas da literatura gauchesca.

"Alto elogio en la boca del paisano. Entre los pampas, cuando a


un indiecito le queran hacer mi cario varonil, le tiraban de las
mechas, y si no le saltaban las lgrimas le hacan este elogio: /Ese/
Toro!
Este animal es para los indios el prototipo de la fuerza y el valor.
(Tito Saubidet, Vocabulario y Refranero Criollo).

"Briga de Touros

A chuva de vero passou. Veio a estiada.


O sol a pino. A terra, inda molhada.
Um Zebu est esperando no rodeio
outro touro, um Crioulo guapo e feio
que sempre fora o dono da invernada,
e a passo largo vem se aproximando,
e vem cavando terra, e vem berrando
to grosso que parece trovoada.
Encontram-se e pelejam com denodo,
pondo em agitao o gado todo.
As aspas do Zebu, velozes como o raio,
riscam do contendor o plo baio
que ao sol reluz e brilha,
enquanto os cascos de ambos, como arados,
sulcam os plos verdes e molhados
do lombo da coxilha!
No ardor da luta entesam os pescoos,
enrijecendo os msculos potentes
em frrea contrao!
Depois vio se golpeando duramente,
com orgulho de touro no vencido,
com destreza de tigre enfurecido,
com raiva e deciso!

498

Uma hora eles passam nessa luta


de esforos colossais,
mas, envoltos na fria do mormao,
sentem fraquear os msculos de ao,
lutar nem podem mais.
H pairando no ar morno e pesado
forte cheiro de chifre queimado.
Os dois touros, briosos e valentes,
so iguais na coragem, no valor,
mas, no entrechoque brbaro das guampas,
o destemido filho aqui dos pampas
comea a demonstrar que superior.

O Zebu bem conhece a luta bruta


l da ndia selvagem de onde veio,
mas no pode vencer, por mais que o queira,
o touro aqui da terra brasileira
que o obriga a deixar o seu rodeio.

E, triste, machucado e abatido,


depois de luta to desesperada,
o pobre touro, alm de ser vencido,
inda foi pelo outro perseguido
at sair de dentro da invernada.

Pouco depois, os corvos carniceiros,


voejando por cima de um banhado,
indicavam aos olhos dos campeiros
o lugar onde estava, entre espinheiros,
a carnia do touro derrotado.

O seu corpo,que o sol acariciava,


parece que tranqilo descansava
do combate fatal,
enquanto em torno o gado, compungido,
cheirando o cho, de um jeito comovido,
berrava tristemente em funeral.

Dentre aquela sentida orquestrao


destacou-se um mugido forte e grosso
que reboou plangente no rinco:
Era o berro do touro brasileiro
lamentando o destino do estrangeiro
que quisera ser dono do seu cho.
(Zeno Cardoso Nunes, P.A., 1942).

"Saudades da vida
que vive nos montes,
brincando nas fontes
que correm pra o rio.
Saudades das aves
que fazem gorjeios,
das brigas de touros
que acabam rodeios,
da prenda, do pingo,
do cusco vadio!"
(Clber Mrcio, Saudade Nativa,
ltima Tropeada, p. 74).

TOURO DE CAPA, s. Bovino inteiro que est em condies de ser castrado.

TOURUNGUENGA, s. O mesmo que torunguenga.


TOURUNO, s. e adj. Boi castrado depois de adulto, que conserva o aspecto
de touro. Boi mal castrado que ainda procura as vacas. // Valento,
destemido, corajoso, respeitvel, taura, cutuba. // Var.: turuno,
toruno, touruna, turuna e toruna. Os trs ltimos termos, apesar da
desinncia em a, so, tambm, do gnero masculino.

"Berrava grosso um turuno


l na restinga da sanga.
E o vento morno trazia
gosto, de pasto e pitanga!"
(Nitheroy Ribeiro, Chasques e Lendas
Gachas, Canoas, Ed. La Salle,
1966. p. 25).

TRABUCO, s. Revlver.

"Antero, meio barbado,


com o trabuco do lado."
(R.C.N., Caada em Mato Grosso)

499

TRABUZANA, s. Indivduo destemido, valente, brigador, audaz, desabusado,


alarife,ventana, torena, taura, sacudido, disposto, capaz de tudo, sem
temor a coisa alguma. // Cavalo velhaco, quebra, aporreado.

" verdade tambm que ele estava todo esfuracado: a cara, os


braos, a camisa, o tirador, as pernas, tinham mais lanhos que picanha
de um reino empacador: mas no quebrava o corincho, o trabuzana."
(Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p.
17).

TRAA, s. Aspecto, figura, presena, aparncia, quase sempre ridcula:


"Que traa tem esse tipo!" "Que traa para enfrentar questo de tal
importncia!" O mesmo que facha. termo usado apenas na fronteira.
(Etim.: Vem de traza, do castelhano, com a mesma significao).

TRADIO GACHA, loc. s. Vocbulos usados no plural, significando o rico


acervo cultural e moral do Rio Grande do Sul no campo literrio,
folclrico, musical, usanas, adagirio, artesanato, esportes e
atividades rurais.

"O que agora se verifica, merc do atual movimento


tradicionalista, a transposio simblica dos remanescentes dos
'grupos locais' com suas estncias e seus galpes para o corao das
cidades. Transposio simblica mas que far sobreviver, na mais
singular aculturao de todos os tempos, o Rio Grande latifundirio e
pecuarista, ibrico e germnico, autctone e itlico, africano e
amerndio, conservando nos museus, nos registros, nas comemoraes dos
Centros de Tradies Gachas, a feio tpica do gacho de todas as
raas, com sua indumentria ampla e inconfundvel, com seus costumes,
suas danas rtmicas, seus cantos populares, seus desafios atrevidos,
seus jogos esportivos, onde a destreza em rebolear o lao de doze braas
e as boleadeiras retovadas, s comparvel ao manejo dos instrumentos
de competio atltica e guerreira dos antigos gladiadores romanos."
(Ramiro Frota Barcelos, Tradicionalismo, Conferncia, So Leopoldo,
Centro Cvico Cultural Leopoldense, 1955,p. 18-19).
"E virs, atravs da Cultura: da Cincia,
das Artes, transmitir ao invasor da Querncia
as tuas tradies mais lindas e mais puras,
nessa aculturao que ocorre no presente.
E, embora morto j, vivers novamente
nas glrias imortais das geraes futuras!"
(Rui Cardoso Nunes, Alma Gaudria,
P.A., Edit. Pallotti, 1977, p.
85).

TRAFUGUEIRO, s. Tio de grandes dimenses. Guarda-fogo, chico,


pai-de-fogo, me-de-fogo. Em virtude de seu tamanho o trafugueiro se
conserva aceso durante toda a noite. Trasfogueiro.

TRAGADA, s. Chupada de fumaa do cigarro que levada at o pulmo. Ao


de tragar.

TRAGO, s. Pequeno copo de aguardente. "Bolicheiro, bote um trago!", isto


, sirva um copo de aguardente. // Bebida alcolica: "Ele gosta do
trago", isto ,

500

ele gosta de embriagar-se, de tomar bebidas alcolicas.

"Dissemos que o empreiteiro da construo de alvenaria da nova


capela foi Joo Bandeira, morador da Miraguaia. Entretanto, o
profissional que a construiu foi o 'preto Faustino', muito conhecido no
Passo Grande e que levou a vida entre o trabalho folgado e o trago de
caninha boa." (Agostinho Martha, Nossa Terra, Nossa Gente, in O
Gravataiense, Gravata, 10/2/52).

... "anseiavam os homens por chegar venda do Bento, onde


poderiam comprar cachaa, fortalecendo-se com um bom trago para o
demorado percurso." (A. Maia, Runas Vivas, Porto, Lelo & Irmo, 1910,
p. 52).

"Cuando una tristeza encuentro


Tomo un trago pa alegrarme:
A m me gusta mojarme
Por ajuera y por adentro."
(Jos Hernndez, Martn Fierro).

"Quando eu ouo uma cordeona


No dia em que tomo uns tragos,
Saudades tenho do pingo
E das caboclas dos pagos."
(Vargas Netto, Tropilha Crioula e
Gado Xucro, P.A., Globo, 1959, p.
9).

"Procurando a Graviela,
Andei por serras e lagos,
Indagando pelas vendas,
A outros pagando tragos,"
(A Graviela, autor ignorado, ed.
Tip. d'A Luz, 1930, p. 15).

TRAGUEADO, adj. Meio embriagado.

TRAGUEAR, v. Tomar bebidas alcolicas.

TRARA, s. Faca, faco.

TRAMA, s. Travessa de madeira que se coloca entre os vos dos moires


das cercas de arame, suspensa nos fios, presa a eles por um arame
flexvel ou por grampos. O mesmo que trambelho.

TRAMANZOLA, s. Indivduo jovem, muito alto e corpulento, porm moleiro,


desajeitado, atoleimado, estouvado. Marmanjo. (O termo tem sempre
sentido pejorativo).

"Tinha j mudado os dentes


E andava de camisola
O Chimango, um tramanzola."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
21 ed., P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1978, p. 26).

TRAMANZOLO, s. Aumentativo de tramanzola.

TRAMBALEAR, v. Cambalear.

TRAMBALHAR, v. Cambalear.

TRAMBELHO, s. O mesmo que trama.

TRAMPA, s. Armadilha para apanhar caa. // Trapaa, engano, ludbrio,


logro, falsidade.

TRAMPADA, s. Ato de trampear.

TRAMPEAR, v. Tramposear, trapacear, calotear, fazer trampolinas.

TRAMPOLINADA, s. Velhacada, esperteza, trapaa. O mesmo que


trampolinagem.

TRAMPOLINAGEM, s. O mesmo que trampolinada.

TRAMPOSEAR, v. Intrometer-se nos negcios alheios, cargosear, enganar,


lograr, iludir, usar de falsidade.

TRAMPOSO, adj. Intrometido, trapaceiro, intrigante, velhaco, cargoso.

TRANCA, s. e adj. Pea do arreamento


do carro que cinge o peito do animal.
// Borracheira, bebedeira. // Indivduo

501

ruim, desprezvel, falso, de maus hbitos.

TRANA, s. Maneira de tratar o cabelo, a crina, os tentos e outros


materiais. Os tentos se entretecem, alternadamente, formando conjuntos
dos mais variados tamanhos e feitios, que vo de finas correntes de
relgio aos pesados e grossos sovus de trazer touro ao palanque. Os
cabelos e crinas so reunidos em pequenos manojos e tranados, tambm,
de formas muito diversificadas, para inumerveis utilizaes.

TRANCAO, s. Defluxo, coriza, constipao, gripe.

TRANADOR, s. Pessoa que tem a profisso de fazer tranas de couro para


o arreamento, ou de fazer quaisquer objetos tranados para os usos
campeiros. // Figuradamente, o que faz intrigas.

"Observando os aperos de um pingo poderemos encontrar jias to


raras quanto as dos anis mais finos. E se investigarmos como trabalha o
tranador, tendo em suas mos as guascas de couro cru, perceberemos em
seus dedos o mesmo cuidado, o mesmo carinho, a mesma vibrao do
joalheiro que toma da pedra embrutecida e fosca para transform-la, a
pouco e pouco, numa jia que retm mistrios de luz e de cor." (Barbosa
Lessa, O Boi das Aspas de Ouro, P.A., Globo, 1958,p. 71).

"Parece impossvel que, com instrumentos to simples, a mo


hbil do tranador consiga produzir artefatos to variados e to bem
feitos." (Heinrich A. W. Bunse, Aspectos Lingustico-Etnogrficos do
municpio de So Jos do Norte, P.A., Globo, 1959, p. 48).

"Tranador da velha guarda


qual relquia do pago,
carta que no se emparda,
Mas se trata com afago."
(Jos Barros Vasconcellos, Rodeio
Emotivo, Fundao Educacional de
Alegrete, org. por Moacir Santana,
1979, p. 20).

TRANAR, v. Fazer trana. Contratar, atar, ajustar, alinhavar. //


Intrigar, enredar.

"- As debe ser, noms, don Jacinto, pues recuerdo que en un libro
de Eduardo Gutirrez, de Leyendas Gauchas, al presentario a Santos Vega,
deca: "El apero era tan sencillo como el traje de su dueo. No se vea
en todo l la ms pequea chapita de plata, sendo su prenda ms valiosa
un maneador y riendas trenzadas don botones gauchamente colocadas de
trecho en trecho..." (Mario A. Lopez Osornio, Trenzas Gauchas, Buenos
Aires, Ed. Pleamar, 1967, p. 19).

TRANAR O FERRO, expr. Brigar a arma branca.

"Sou garra do mesmo couro!


Trano um lao sem igual,
Trano tambm ferro branco,
Domo e arrocino um bagual."
(Zeca Blau, Trovas da Estncia do
Abandono, P.A., Grafipel, p. 33).

TRANCO, s. Andadura natural do animal de montaria, no apressada. Passo


largo, firme e seguro, do cavalo ou do homem.

"Ao tranco galhardo e gil do bagual douradilho, o Nilo, na


ponta da tropa, entoando, gaiato, altanado, abria o peito moo numa
cantiga de aboiar, chamando alto a novilhada arpista." (Ciro Martins,
Campo Fora, P.A., Ed. Movimento,

502

1978, p. 39).

"O poema de Alegrete deve ser


to livre e solto como o vento e ter
o tranco desenvolto
de um flete de lei."
(Jos Hilrio Retamozo. Rodeio
Emotivo, Fundao Educacional de
Alegrete, org. por Moacir Santana,
1979,p. 11).

"Quando me ausento dos pagos,


- isto por curto intervalo -
Reconhecem minha volta
Pelo tranco do cavalo."
(Quadra popular).

TRANCUCHADO, adj. Embriagado, mas no muito. O mesmo que trancucho.

TRANCUCHO, adj. O mesmo que trancuchado.

TRANCUDO, adj. O mesmo que trancucho.

TRANQUEAR, v. Andar o animal de montaria em marcha natural, no


apressada.

"O cavalinho crioulo, de plo tobiano, tranqueava com o pescoo


espichado, cabea baixa, rdeas
frouxas..." (Joo Fontoura, Nas Coxilhas, p. 107).

TRANQUINHO, s. Diminutivo de tranco.

TRANQUITO, s. Diminutivo de tranco.

"No tranquito ia, cantando, e pensando na sua pobreza, no atraso


das suas cousas." (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul,
P.A., Globo, 1973, p. 142).

"A guerra poltica, pelejada gacha, est a passar: uma


viajeira que marcha, no tran quito, no rumo das antigualhas" (Rubens de
Barcelos, Estudos Rio-Grandenses, P.A., Globo, 1955, p. 116).

"Nuvens de branco algodo


iam seguindo ao tran quito
pelo caminho infinito
da misteriosa amplido."
(Zeno Cardoso Nunes, O Causo do
Pinheiro).

TRANSCURRAL, s. Curral pequeno ao lado da mangueira, onde ficam os


animais orelhanos que vo ser marcados.
TRAPEIRA, s. Atrapalhao, desordem, estorvo.

TRAPOEIRADA, s. Erva medicinal (Commelyna platynphylla).

TRAQUITANDA, s. Poro de coisas misturadas, em desordem.

TRASFOGUEIRO, s. O mesmo que trafugueiro.

TRASTARIA, s. Grande quantidade de trastes.

TRASTE, s. Pea do arreamento, objeto de uso pessoal. // Mvel velho,


desusado, de m qualidade. // Objeto sem valor. // Emprega-se geralmente
no plural.

TRATANTE, adj. Que no cumpre o que promete.

TRATAR BURRO A PO DE L, expr. Tratar bem a pessoa que no merece ser


bem tratada.

TRATISTA, adj. Tratante, velhaco.

TRATO, s. Alimento para animais: milho, alfafa, aveia, azevm, etc.

TRAVA, s. Aparelho de conteno improvisado com qualquer corda, com o


qual se imobiliza um animal para com ele se lidar.

TRAVADO, adj. Diz-se do animal que por defeito do encontro anda de modo
tolhido como se estivesse travado. // Diz-se do cavalo acometido de
travagem.

503

TRAVAGEM, s. Hipertrofia da parte posterior das gengivas correspondentes


aos dentes superiores do animal, a ponto de impedi-lo de pastar. O
tratamento usado era a extirpao da travagem com a faca ou com ferro
quente.

TRAVAR, v. Frear, brecar um veculo. // Colocar a trava no animal, ou


seja, unir, por meio de qualquer corda, uma das mos com um dos ps do
lado oposto. Tambm se trava o animal ligando um dos membros posteriores
com os dois anteriores.

TRAVESSO, s. Parte da cincha, constituda de pea retangular de couro,


com uma argola em cada extremidade. Por essas argolas passamos ltegos
que prendem o travesso barrigueira, para apertar os arreios. No
cavalo encilhado o travesso fica colocado sobre o lombilho, no lugar
onde senta o cavaleiro, debaixo dos pelegos. H tambm o travesso dos
estribos, constitudo de pea semelhante anterior, porm bem mais
estreita, e tambm provida de argolas nas extremidades s quais so
presos os loros. // Linha topogrfica da qual se derivam as linhas
divisrias dos lotes coloniais.

TRAVESSEIRO, s. Espcie de almofada que alguns domadores amarram


cabea dianteira do lombilho, para suportarem os corcovos do potro com
mais facilidade.

TRAZER DE CANTO CHORADO, expr. No dar descanso, no dar trgua, no dar


alce, trazer atropelado, no deixar sossegar, dar muito trabalho. "A
doena do guri trouxe de canto chorado toda a famlia", isto , deu
muito trabalho a toda a famlia.

TRAZER PELO FREIO, expr. Trazer algum sob controle, no lhe permitindo
que obedea a seus prprios impulsos.

TREM, s. Sujeito intil, traste.

TREMBLEQUE, adj. Trmulo, sujeito a tremeliques. ( termo do Rio da


Prata, usado na fronteira).

TREMEDAL, s. Atoladouro, brejo, pntano, manancial.

"O amor duma chinoca


o mesmo que os tremedais,
pra a gente entrar to fcil,
mas pra sair... nunca mais!"
(Vargas Netto, Tropilha Crioula e
Gado Xucro, P.A., Globo, 1959, p.
116).

"E, ou por querer atalhar, ou porque perdesse a cabea ou nem se


lembrasse do perigo, a Maria Altina encostou o rebenque no matungo, que,
do lance que trazia costa abaixo, se foi, feito, ao tremedal, onde se
afundou at s orelhas e comeou a patalear, num desespero! A
campeirinha varejada no arranco, sumiu-se logo na fervura preta do
lodaal remexido a patadas! ... E como rastro, ficou em cima, boiando, a
rosa do penteado." (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul,
P.A., Globo, 1973, p. 26-27).

TREMEDEIRA, s. Tremura, tremor, estertores de moribundo.

TREMPE, s. Trip de ferro usado nos pousos e sesteadas, sobre o fogo,


para pendurar a chaleira ou a panela.

"No o boi-tat, eu lhes garanto,


o fogo fervendo ali na trempe
o arroz carreteiro do Rio Grande."
(Laci Osrio, Postais da Querncia,
P.A., 1961,p. 17).

TREPADA, s. Terreno em aclive, subida. Ato de subir. // Coito, conjuno


carnal.

504

TRS-MARIAS, s. Boleadeiras.

TRS-POTES, s. A saracura, cujo canto onomatopia dessas palavras.

TREVAL, s. Terreno onde h trevo em abundncia.

TRILHO, s. Lugar por onde corre cada parelheiro, em uma carreira.

TRINQUE, s. Bebida. V. a expresso estar nos trinques. (Vem do alemo,


trinken, beber). // Requinte, elegncia, esmero.
"Surdiu dum quarto o noivo, todo no trinque, de colarinho duro e
casaco de rabo." (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A.,
Globo, 1973, p. 92).

TRINTA, s. Designao dada ao revlver calibre 38.

"Puxei o trinta ligeiro,


dei um tiro no lampeo,"...
(Dimas Costa, Fanfarronada).

TRINTA E CINCO, loc. subs. Expresso popular para designar a Revoluo


Farroupilha.

TRIPA GROSSA, s. O grosso intestino da rs, apreciado como assado.


usado, tambm, cozido no feijo.

TRIPA LEITEIRA, s. Chanchulin. // Denominao impropriamente dada ao


intestino delgado da rs.

TRISTE, adj. Ruim, ordinrio.

"Plo bem triste o melado."


(Zeca Blau, Trovas da Estncia do
Abandono).

TRISTE COMO CHIMANGO EM TRONQUEIRA, expr. Diz-se da pessoa que est em


atitude tristonha como a do chimango quando est pousado. Jururu.

TRISTURA, s. Tristeza, abatimento. termo muito usado em relao a


animais que esto doentes, mas tambm se emprega com referncia a
pessoas.

"Vestiu luto a pobrezinha,


o velho tambm vestiu.
Cede por fim a ternura
e pouco a pouco a tristura
no peito se lhe extinguiu.
Se ele morreu, foi destino,
foi a sorte que o feriu."
(Lobo da Costa, O Ranchinho de
Palha).

"Ou quem sabe em noite escura


Com gemido de tristura
Acabe meu sofrimento
E em silncio se ouvindo
A chuva forte caindo
E o forte soprar do vento."
(Celeste Maria do Amaral Masera,
Nuvens que Passam, P.A., Tip.
Medianeira, 1959, p. 24).

"E como se no bastassem os


tigres, os morcegos, as tambeiras
mugindo e a cavalhada a escoicear-se - como se no bastasse tanta
tristura e ruindade - eis que veio a
mboi-guau!" (Barbosa Lessa, O
Boi das Aspas de Ouro, P.A., Globo,
1958, p. 41).

"O Juca Guerra foi muito meu conhecido, desde guri. J morreu,
coitado, e morreu numa tristura..." (Simes Lopes, Contos Gauchescos e
LendaS do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 113).

TROCAR ORELHA, expr. Mover o cavalo as orelhas para diante e para trs,
trocando-as de posio, por desconfiana de que h algum perigo iminente
ou vai ocorrer alguma coisa estranha, que ele procura descobrir o que
mantendo-se atento ao menor rudo. // Figuradamente, se aplica s
pessoas

505

que ficam de sobreaviso, atentas e desconfiadas, em relao a qualquer


assunto.

"Daqui saiu, caolho, pela ponte,


O Juca Ruivo, quando foi embora
na garupa sangrenta do horizonte
Nunca esqueceu a primitiva fonte
e, corpo, ausente, anda rengueando, chora
os funerais da intrepidez que viu
as califrnias - a trocar orelhas -
deste Alegrete cvico e bravio,
que se alimenta das canes do rio
cujas guas e pedras so vermelhas..."
(Jos Hilrio Retamozo, Rodeio do
Tempo, Ed. Pallotti - SM., 1966,
p. 54).

"Meu pingo, trocando orelha,


atento a qualquer perigo
vai, tranqueando sem receio."
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1981, p. 119).

TROCHO, s. (arqueol. rio-grand.) Nome dado por H. Ihering a certo disco


de pedra polida dos indgenas do Rio Grande do Sul: "No Rio Grande do
Sul acrescem ainda as bolas e os discos perclusos ou trochos, servindo
de pedra de funda." (Rev. do Museu Paul., t. VI, p. 564, apud Pe. Carlos
Teschauer).

TROLE, s. Carruagem rstica usada no interior antes do advento do


automvel.

TROM, s. Trovo.

TROMPA, s. O mesmo que biqueira.

TROMPAO, s. Trompada, trompzio, encontro, esbarro, pechada, choque,


bofeto. // Choque, no sentido moral, grande abalo.

"A cara dele vinha lisa, mas o corao vinha corcoveando como
touro de banhado laado a meia espalda... O trompao das mil onas
tinha-lhe arrebentado a alma." (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas
do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 181).

TROMPADA, s. O mesmo que trompao.

TROMPAR, v. Dar trompao, chocar-se, esbarrar, pechar. O mesmo que


trompear.

TROMPEAR, v. O mesmo que trompar.

TROMPETA, s. Indivduo ruim, ordinrio, desprezvel, safado, velhaco,


trampolineiro, tranca, sem prstimo, sem vergonha, metedio,
desmancha-prazeres.

TROMPETADA, s. Ao prpria de trompeta.

TROMPETEAR, v. Proceder como trompeta.

TRONAR, v. Troar, atroar, retumbar.

TRONCHO, s. e adj. Cavalo que tem uma das orelhas defeituosa ou


atrofiada. Aplica-se tambm s pessoas.

TRONCO, s. Corredor estreito, junto mangueira, no qual se faz entrarem


os animais vacuns e cavalares que vo ser marcados, vacinados, tosados
etc. O animal, depois que entra no tronco, no pode voltar-se nem fazer
muitos movimentos, o que facilita o trabalho do campeiro.

TRONCO DE LAO, s. Priso improvisada com um lao ou com qualquer corda.

"s. chama-se tronco de lao o processo pelo qual se tem um


prisioneiro nos pousos para que no escape, dispensando ao mesmo tempo a
guarda durante a noite. Esse suplcio, que um dos tantos

506

criados pela selvageria das revolues, feito do seguinte modo: ata-se


um lao ou qualquer corda comprida ao pescoo do prisioneiro e as pontas
que sobram estira-se uma para cada lado, atando-as em rvores ou
palanques. A vtima passa assim, de p, imobilizada, na mais torturante
das prises." (Callage).

"Lembrava-se com ternura


das noitadas de aventura
no lombo do seu picao,
e dos dias de amargura
em que curtira a tortura
do velho tronco de lao."
(Zeno Cardoso Nunes, Morte de Pai
Joo, poema).

TRONQUEIRA, s. Cada um dos grossos esteios colocados nas porteiras, os


quais so providos de buracos em que so passadas as varas que as
fecham. Var.: Tronquera.

"Da Tron queira Centenria


Da mo que te falquejou
e te socou na porteira,
mo forte que se acabou
j no resta nem a poeira.
Tu, firme no teu lugar!
Sol de vero, frio de agosto,
continuas no teu posto
olhando o tempo passar..."
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, P.A., Martins Livreiro-
Editor, 198l,p. 133).

TRONQUERA, s. O mesmo que tronqueira.

"Quando a maior ficou pronta


veio um barrero mui ancho
e empeou a erguer seu rancho
de uma tronquera na ponta."
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1981, p. 91).

TROPA, s. Grande poro de animais em marcha de um ponto para outro. A


tropa pode ser de gado bovino, de guas, de mulas, de cargueiros, e de
outros animais.

"A tropa que conduz pelas vastides evocativas do pampa e da


serra, um ponto vivo de aventuras, que se desloca pelo caminho
tortuoso do sacrifcio." (Cel. A. Dias de Oliveira, Ermo de Saudade,
P.A., Globo, 1938, p. 109).

"No tempo em que, na campanha de nossa provncia, eram raras as


mangueiras (grandes currais) para encerrar as tropas, durante a noite os
seus condutores eram obrigados a rond-las, no lugar que lhes parecia
mais favorvel. Ora, no raras vezes, a horas mortas, sobrevinha alguma
tormenta; o gado comeava a agitar-se ao vento e chuva, fulgurao
dos relmpagos e ao retumbar do trovo. Em tais condies, os campeiros,
molhados at os ossos, apesar do poncho, passavam transes inauditos para
poderem conter a tropa mugindo, redemoinhando e escarvando; mas nem
sempre o conseguiam. Quando menos se esperava, o gado num veloz e
tremendo arranco, disparava em grupos e em direes diferentes. Quando
amanhecia, nem sinais de tropa. Da o insano trabalho de repetidos
rodeios nas estncias daqueles arredores, a fim de pouco a pouco
reunir-se de novo a tropa, mas quase sempre com enorme falta de reses.
Ou grande ou pequeno, o prejuzo era certo." (Bernardo Taveira Jnior,
Provincianas).

"Tropeando e comprando tropas, Pinheiro Machado conheceu

507

todo o Rio Grande do Sul, quase povoao por povoao, fazenda por
fazenda," (Arthur Ferreira Filho,Revolues e Caudilhos, 2 ed., Passo
Fundo, p. 57).

TROPA DE CARGUEIROS, s. Grande poro de bestas de carga.

TROPA DE GUAS, s. Grande nmero de guas conduzidas de um lugar para


outro, em geral do campo de criao para as feiras. Atualmente, no
existem tropas de guas.

TROPA DE GADO, s. Grande poro de gado vacum em viagem de um lugar para


outro. A tropa pode ser: de gado de cria, em trnsito de um campo para
outro; de gado de invernar, destinado a um campo onde ir crescer e
engordar at ficar em condies de ser tirado para o corte; de gado de
corte, em condies de ser abatido, em trnsito geralmente para as
charqueadas.

TROPA DE MULAS, s. Grande nmero de mulas, conduzidas de um lugar para


outro, geralmente para as feiras. No passado era intenso o trnsito de
tropas de mulas do Rio Grande do Sul para So Paulo, onde eram
utilizadas nos trabalhos da lavoura do caf.

TROPO, s. Tropa grande, numerosa, de gado de boa qualidade. Tropona.

TROPEADA, s. Ato de tropear. Caminhada com a tropa.

"No se perturba nem teme


A chuva, o frio, a geada,
Que so nus da tropea da,
No cavalgar cotidiano.
O tropeiro um bravo, um forte
Que enfrenta tranqilo a sorte
E no pampa soberano."
(Jos Barros Vasconcellos, Rodeio
Emotivo, Fundao Educacional de
Alegrete, org. por Moacir Santana,
1979,p. 21).

TROPEAR, v. Exercer a profisso de tropeiro. Conduzir tropa. Trabalhar


no servio de conduzir tropa.

"Depois de tropear um dia inteiro,


de sol a sol, no inverno ou no vero,
se ajunta a peonada no galpo
chimarreando luz de um candieiro."
(Jorge llorha Gadrct, Terra Batida,
P.A., 1975, p. 19).

TROPEO, adj. Diz-se do animal de montaria que tem o defeito de


tropear freqentemente. O mesmo que tropico.

TROPEIRADA, s. Grande nmero de tropeiros. Grupo de tropeiros. Os


tropeiros em geral. Tropeirama.

TROPEIRAMA, s. O mesmo que tropeirada.

TROPEIRITO,s. Diminutivo de tropeiro.

"Sou gacho, sim senhor,


me visualizam na estampa,
tropeirito de valor
das notas que a viola encampa
e gado de fina flor
nos corredores da pampa."
(Antnio Dantas Garcia, 1 Antologia
de Poetas Brigadianos, P.A.,
Ed. Pallotti, 1982, p. 14).
TROPEIRO, s. Condutor de tropas, de gado, de guas, de mulas, ou de
cargueiros. Pessoa que se ocupa em comprar e vender tropas de gado, de
guas ou de mulas. Peo que ajuda a conduzir a tropa, que tem por
profisso ajudar a conduzir tropas. O trabalho do tropeiro um dos mais
speros, pois, alm das dificuldades normais da lida com o gado, feito
ao relento, dia e noite, com chuva, com neve, com minuano, com
soalheiras inclementes, exigindo sempre dedicao integral de quem o
realiza.

508

"A epopia das tropas assim descrita por F. L. Abreu de


Medeiros: "A vida de tropeiro , sem dvida, a mais cheia de
sobressaltos, de inquietaes e sofrimentos. Romper sertes extensos, s
habitados por indgenas e feras bravias; penetrar at os mais reconditos
lugares do Rio Grande, e, se necessrio, transpor os limites da
Provncia; ir at os castelhanos em busca da melhor fazenda e de negcio
mais vantajoso; voltar debaixo de rigoroso sol e copiosas chuvas, com
uma tropa de quinhentas, oitocentas ou mil bestas; correr a extenso dos
campos, entranhar-se pelas espessas matas aps aqueles animais que fogem
da ronda, que se extraviam continuamente, e que, por um pequeno
descuido, se entreveram com tropas de outros donos; atravessar com
grande risco de vida os rios caudalosos que cortam as estradas; comer ao
romper do dia e noite o mal cozido feijo de caldeiro e o velho
churrasco, saboreando tambm o infalvel e proverbial mate-chimarro;
ver-se obrigado por falta de barraca, ou por impossibilidade de arm-la,
dormir ao relento, sem outro teto mais que a aboboda celeste, estendido
beira de um arroio, sobre um cho duro, apenas forrado da xerga e da
carona, repassadas de suor do matungo lerdo e cansado, tendo por
travesseiro o lombilho, nico arrimo que se conhece por esses
despovoados para amparar a cabea e um pobre corpo alquebrado pelas
fadigas do dia." (Fidlis Dalcin Barbosa, Vacaria dos Pinhais, P.A.,
Escola Superior de Teologia So Loureno de Brindes/Universidade de
Caxias do Sul, 1978, p. 20).

"Pinheiro Machado foi, depois de Cristvo Pereira, o maior


tropeiro do Brasil." (Arthur Ferreira Filho, Revolues e Caudilhos, 2
ed., Passo Fundo, p. 59).

"Durante trezentos anos, tropeiros das mais diferentes origens


vm atravessando os campos do Alegrete. Comeando pelos 'faeneros' e
'changueros' que apenas caavam gado xucro, passando pelos ndios
missioneiros que iniciaram a criao sedentria e culminando com os
estancieiros que aqui se fixaram durante e aps a conquista sangren ta
de nossas fronteiras. Toda a histria passada e presente de Alegrete se
escreve com o suor e o sangue dos nossos tropeiros. Atravessando a
cidade de ponta a ponta ainda existe a 'rua das Tropas'. E no foi por
acaso que Honrio Lemes, o Leo do Caver, tambm era chamado de
'Tropeiro da Liberdade'. (Alcy Cheuiche, Correio do Povo, 7.5.82).

"A criao dos gados vacum e muar alimentam uma profisso s


excedida em trabalho e riscos pela dos homens do mar. Queremos falar da
profisso do tropeiro, ou antes dos seus auxiliares.
Depois de pronta uma tropa de gado destinada s charqueadas no
sem grande dificuldade que retirada da querncia.
preciso um grande nmero de cavaleiros, verdadeiros mestres de
montaria, em bons cavalos, para circundar a boiada at distanci-la dez
ou doze quilmetros, pelo menos, do campo onde pastava. A conservada
em pastoreio e ronda durante uma noite," ... (Hemetrio Jos Velloso da
Silveira, As Misses Orientais e seus Antigos Do-

509

mnios, de 1909, reed. pela Cia. de Seguros Gerais, P.A., 1979, p. 122).

"Nas rondas noite que triste espetculo!


Que transes, que angstias no sofre o tropeiro!
No dorme um instante, no para um momento,
Se o tempo se muda, se o gado matreiro."
(Taveira Jnior).

"Relembro os velhos tropeiros


da legendria Laguna
rasgando a pampa reina
das extenses infinitas,
onde ficaram escritas
tantas pginas de glria,
que inda refulgem na histria
destas paragens benditas."
(Guilherme Schultz Filho, Galponeiras,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1981, p. 39).

"E nesse andar de tropeiro,


tropeando o p das estradas,
recolhi versos perdidos
no silncio das aguadas."
(Jos Machado Leal, Herana e Terra,
P.A., Sulina, 1981,p. 15).

"Ora, ora, ora...


Marcha boiada...
E a tropa segue
A despacito pela estrada,
Sem saber do sem fim
Da caminhada;
Que o tropeiro
Vai chamando
Na distncia
Essa boiada
Que o tropeiro
Vai pontiando
Pra charqueada da morte!
Vai berrando,
Vai pastando,
Os ltimos fiapos
De capim da estncia.
L longe... muito longe,
Os quero-queros
Soltam gritos tristonhos,
Soturnais!
Singela e to profunda
Despedida;
Que a boiada berrando,
Comovida!
Responde...
Nunca mais! Nunca mais!
E o tropeiro
Cumprindo o seu destino,
Vai chamando o sinuelo."
(Clber Mrcio, Ultima tropeada,
p. 159).

"A noite uma estrada longa


pros que tropeiam saudade.
No sou tropeiro mas canto
nesta estrada de silncio..."
(Fernando Otvio Miranda O'Donnell,
Trova da Noite Clara, in
Antologia de EPC, P.A., Sulina, 1970,
p. 211).

"Triste vida a do tropeiro


Que nem pode namorar:
De dia - reponta o gado,
De noite - toca a rondar
(Quadrinha popular).

"J velhito, no perdia


uma tropeada comprida.
Com seus seis baio-ruanos,
bem tosados, cola curta,
os cascos bem groseaditos,
era um desses peo-de-tropa
que os capatazes no deixam
Com seu chapu de aba larga,
e o poncho que era um galpo,
e com todos os pertences
para a lida forte e dura
- desde avios de chimarro,
maneadores de porteira,

510

at os trapos ensebados
pra empear fogo, chovendo.
Um quero-quero pra o sono!
E ademais, sem uma queixa,
ou dvidas s ordens dadas.
Vaqueano como ningum
de rondas, pastos e aguadas,
era um desses peo-de-tropa
que os capatazes no deixam
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, 2 ed., P.A., Martins
Livreiro-Editor, 1981, p. 25).

TROPICADA. s. Ato de tropicar, tropeo, topada, tropeo.

TROPICAR, v. Tropear.
TROPICO, s. Tropeo.

TROPILHA, s. Conjunto de cavalos do mesmo plo, que acompanham uma


gua-madrinha. A tropilha tem geralmente de dez a vinte animais. //
Figuradamente, bando, grupo. (Etim.: Do castelhano tropilla, diminutivo
de tropa).

... "pois, segundo nosso vocabulrio gauchesco, tropilha traz


implcita a idia de um plo s." (Rita Canter, Impresses Regionalistas
e Outras Crnicas, P.A., Ed. Difuso de Cultura, 1962, p. 12).

"A peonada bateu o campo, porm ningum achou a tropilha e nem


rastro." (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo,
1973, p. 184).

"Da tro pilha que te adora,


Eu sou o mais extremoso,
Tenho tranco mui seguro
Sou parelheiro fogoso.
(Quadrinha popular).

TROPINHA, s. Diminutivo de tropa. Tropa pequena, de poucas reses. O


mesmo que tro pita.

TROPONA, s. O mesmo que tropo.

TROTE, s. Maada, incmodo, vaia, trabalho, logro.

TROTEADA, s. Ato de trotear, caminhada a trote, viajada, jornada.

TROTEAR, v. Trotar.

TROTE CHASQUEIRO, s. Trote largo, apressado, do animal de montaria.

TROTE DE CACHORRO, s. Trote do animal de montaria, curto, picado, como o


do cachorro.

TROTE DE PELUDO, s. Azfama, lida afanosa, apuros, atividade incessante,


excesso de trabalho ou de ocupaes. "Fulano anda num trote de peludo",
isto , no tem descanso, anda muito atarefado. (Tem origem no trote
empreendido pelo tatu peludo, quando acossado pelo alarido e pelos
dentes da cachorrada).

TROTE LARGO, s. Trote apressado, quase galope, do animal de montaria.

TROTITO, s. Diminutivo de trote.

"Tornou a montar a cavalo e, a trotito, entrou num eito de


trigo,j um pouco abandonado." (Ary da Veiga Sanhudo, Porto Alegre, 1
Vol., P,A., Sulina, 1961, p. 118).

TROVEIRO, s. Trovador, versejador.

TROVISCADO, adj. O mesmo que truviscado.

TROVISCAR, v. O mesmo que truviscar.

TROVISCO, s. O mesmo que truvisco.


TRUCO, s. Jogo de baralho, entre dois ou quatro parceiros, cada um dos
quais recebe trs cartas. O mesmo que truque.

TRUCO DE MANO, s. Jogo de truco, apenas entre duas pessoas.

511

TRUMBICO, s. Coisa que esteja atrapalhando.

TRUNFAR, v. Esbordoar, surrar com o relho ou com o lao.

TRUQUEIRO, s. Jogador de truque ou truco.

TRUVISCADO, adj. Meio embriagado, tocado, alegre.

TRUVISCAR, v. Esbordoar, espancar.

TRUVISCAR O FERRO, expr. Espancar com espada, faco, adaga ou faca.

TRUVISCAR O PAU, expr. Esbordoar, surrar com porrete.

TRUVISCAR O RELHO, expr. Surrar de relho.

TRUVISCAR-SE, v. Embriagar-se incompletamente. Beber at ficar meio


brio, tocado, alegre, floreado.

TRUVISCO, s. Ato de dar bordoadas.

TU, pron. No Estado do Rio Grande do Sul, este pronome de emprego


generalizado entre parentes e amigos.

"Na linguagem ficou um hbito pitoresco e delicado, que trai a


influncia profunda e duradoura do portugus, mais que no Maranho, no
Par, no Rio, para no falar nos pontos em que desapareceu esse trao do
falar luzitano: o emprego do tu entre parentes, amigos, colegas,
companheiros de trabalho. Em todo o Estado, o tratamento pela segunda
pessoa do singular como que obrigatrio. No se rompe a tradio nem
na sub-rea gacha, onde o brasileirssimo voc, alis to
sem-cerimonioso embora menos afetivo, traduziria perfeitamente o Usted
espanhol, nem sequer na colonial, em que o Sie do alemo e o Voi
italiano seriam comodamente vertidos no mesmo voc. Toda pessoa ntima
tratada por tu, como em Portugal." (Thales de Azevedo, Gachos, Bahia,
Livr. Progresso Editora, 1958, p. 54).

TUBIANO, s. O mesmo que tobiano.

TUBUNA, s. Ferida que aparece no lombo do cavalo, muito difcil de


curar. O mesmo que unheira e cuera. // Abelha indgena tambm chamada
mandaguan.

"Espcie de abelha indgena, mui comum em Misses (Cima da


Serra) e que fornece mel agradvel e mui procurado, fornecendo tambm
muita cera. palavra derivada do guarani tbue, assobio, silvo, etc.
Alm dessa espcie de abelhas h em Misses, especialmente na regio de
matos, as variedades seguintes, afora outras que neste trabalho
descrevemos em artigos especiais: guarupu ou guaraipo (fornece muita
cera e excelente mel); manduri (d bom mel mas no tanto como a
precedente e o mumbuca. V. esta palavra); mandagua, semelhante
tubuna, tendo, porm, porta mais estreita e longa; vora (mel acidulado
e muita cera); jetchi, que d mel mais estimado e com qualidades
medicinais; mirim-guau, irauu, iramirim, iratim, mandassaia,
irapu, etc." (Romaguera).

TUCO, s. Aquele que trabalha na conservao do leito da estrada de


ferro, encarregando-se da remoo de terra.

TUCO-TUCO, s. Pequeno mamfero roedor. Seu nome onomatopia do rudo


que ele faz quando cava o cho ou quando anda espairecendo. Tambm se
diz simplesmente tuco. // O buraco ou toca feita pelo tuco-tuco.

TUCUM, s. Palmeira de pequeno porte que cresce em touceiras nas matas da


regio da Costa da Serra. Tanto o espique como o pecolo so providos de
longos espinhos. D um fruto semelhante baga da uva, doce e
comestvel, usado, tambm, para fazer licor. Seu nome botnico
Bectris lindnanniana, Dr.

TUCURI, s. O mesmo que tacuru.

TUMBEIRO, s. e adj. Indivduo parasita, vagabundo, gaudrio, que vive de


estncia em estncia.

TUNA, s. Qualquer cactcea.

TUNGAR, v. Mergulhar o pedao de po no caf que se est tomando, para

512

amolec-lo.

TUPIDO, adj. Grosso, espesso, cerrado, compacto. // s. Espessura.

TURANJA, s. Variedade de laranja. (P. us.).

TURMEIRO, s. Denominao dada ao operrio de estradas ou de obras


rurais.

TURUMBAMBA, s. Conflito, desordem, altercao, briga, barulho,


bate-boca, arrelia, tumulto.

TURUNA, s. e adj. O mesmo que touruno. do gnero masculino.

TURUNO, s. e adj. O mesmo que touruno.

TUZINA, s. Tunda, sova, surra.

513

514
U

UAI, s. Onomatopia designativa do grito do guaraxaim.

U!, interj. Exprime admirao, espanto.

"Quando se diz, por exemplo, a uma pessoa, algo com o qual ela
no concorda, recebe-se a contestao antepondo a interjeio frase de
contexto. Ex.: "Fulano, no iras ao baile?" "U! No vou. ,ou
simplesmente: "U! No!" (Moraes)-

UM, s. Uma pessoa, a gente. Corresponde a on, no francs, e a man, no


alemo. "Quando um se enamora , isto , quando a gente ou quando a
pessoa se enamora.

"- Ch gua! Que um se rale por sua mulher, depois de casado,


v. Mas no valia a pena embrabar pr mode tias levianas, nem que palha
de milho, que voam conforme d o vento..." (Vieira Pires, A Querncia,
P.A., Globo, 1925, p. 129).

UMA-DE-A-P, s. Uma briga, conflito, luta, rolo. O mesmo que um-de-a-p.

UMBU, s. rvore da famlia das Fitolacceas, de grande tamanho, cujas


razes saem flor da terra, muito copada, de folhagem espessa, que
produz excelente sombra. , como o pinheiro e a figueira, uma das
rvores simblicas do Rio Grande do Sul.

"Umbu, Pirennia Dioica Moq., Fam. Phytolocaceae. Esta , sem


dvida, uma das rvores mais conhecidas do Estado. Seu rpido
crescimento e sua densa folhagem, formando uma copa quase impenetrvel
aos raios do sol, explicam a preferncia que lhe dada, como rvore de
sombra nos estabelecimentos rurais. Seus frutos constitudos por bagas
roxas ssseis e dispostas em espigas, sao bastante nutritivos, e como
tal devorados. Umbu portanto uma rvore til, que deveria ser
cultivada nos potreiros e cercados de criao de animais, aos quais
forneceria, alm de farto alimento em certa poca do ano, abundante
sombra, que tao necessria lhes . Apesar das enormes dimenses a que
pode atingir esta rvore (dois metros ou mais de dimetro) seu tecido
lenhoso to frouxo e esponjoso, que nem merece tal nome; dir-se-ia
antes uma erva monstruoSamente colossal. , por esse motivo, quase
incombustvel, e s a bem dizer calcinando-o, obtem-Se suas cinzas,
ricas de potssio, para o fabrico de sabo mole comum. O umbu ou imbu do
Norte, cujos frutos preparados com leite e acar fornecem a clebre
imbuzada baiana, o Spondias Pur-

515

purea, Lenn, pertencente famlia das Anacardiceas e que, portanto,


nada tem em comum com a espcie rio-grandense, a no ser o nome." (Joo
Dutra, Revista do Museu e Arquivo do Rio Grande do Sul).

"Umbu! rvore venerada! Padro inabalvel da formao lendria


de um povo gloriosamente predestinado! Tu representas, em toda a rstica
paragem rio-grandense, o marco assinalador do levantamento de um rancho,
com ele plantado na inaugurao de um lar." (Joo Maia, Pampa, p. 27).

"Umbu, Umbuzeiro e Ambu. Inula Lelenium; Synanthereas


asteroides, de Lineu; Spondias tuberosa, de Arruda. rvore que
cresce consideravelmente; as folhas so bastante grandes, quase ovoides;
a madeira sem resistncia alguma; casca mui grossa, um purgante
enrgico, emprega-se tambm para cinza de lixvias, como a melhor para o
sabo. Os frutos formam-se de maneira que representam um cacho
cilndrico. Quando maduros a pelcula se torna amarela esverdeada; so
redondos, pouco menores do que uma ervilha; o sabor agridoce.
antifebrfugo. Nos potreiros onde abunda mais. Os porcos apreciam
muito o fruto. (Phitolacea dioica L.; fitolacacea. Freise no o
consigna)." (Lothar F. Hessel, Os Glossrios de Joo Mendes da Silva,
Graf. da URGS,P.A., 1959,p. 20).

"E umbus, vetustos e gigantes, dominadores nos horizontes


pacficos do pampa, graves soberanos vegetais, avultando na claridade
opulenta, como grandes realizaes de sonhadores." (Cyro Martins, Campo
Fora, P.A., Ed. Movimento, 1978, p. 50).

"Do umbu

O umbu mal assombrado


Tem enterro... Que arve triste
No tem cerne... No resiste
nem para trama... Vo ver!
- E o umbu sombreando as paragens
ornamentando as paisagens
e indiferente s bobagens
que dele possam dizer."
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, 2 ed., P.A., Martins
Livreiro-Editor, 1981, p. 128).

"A lenda do Umbu

Dizem que certa vez, o Senhor, na floresta


as rvores chamou para a outorga de graas,
e em plena natureza, em radiosa festa
reuniu em seu redor as viridentes taas.

Uma rougou a Deus: - Quero frutos sem jaas!


mais outra se expressou: - Tenho ambio modesta,
de minha inflorescncia eu desejo que faas
ornamentos da vrzea. Assim falou a giesta.
E outras: - D-me beleza, aroma, altura enorme
meus ramos a crescer, de ptalas refertos!
Mas o umbu s pediu: - Quero sombra ampla e densa,
lenho frgil, Senhor, que jamais se transforme
no emblema de uma cruz, onde, braos abertos,
sofra o justo, da Lei, uma injustia

516

(imensa!"
(Nathercia da Cunha Velloso,
Antologia da EP P.A., Sulina, 1970,
p. 93).

"Velho Umbu

Glria a ti velho umbu, cheio de cicatrizes


Da lana dos Heris e dos foges de outrora,
Que se erguiam da do vo dessas razes,
Clareando os largos cus natais, como uma aurora.
Amo ouvir pelos fins de tarde o que me dizes,
Assim junto da Estncia - erma tapera, agora -
tua sombra herica, onde o Passado chora
Os tempos que l vo gloriosos e felizes.
Lembro ento junto a ti, numa viso de glria,
Legies de heris vencendo uma horda inimiga
E os feitos, um por um, de toda a nossa Histria.
Hoje j ningum mais aqui faz fogo e acampa,
Mas eu leio em teu tronco e em tua glria antiga
Todo o extinto esplendor da epopia do Pampa."
(Homero Prates, Ao Sol dos Pagos,
RJ, 1939, p. 40).

"Quando o Sul ainda estava aos guaranis sujeito,


E o seu solo ubertoso as tribos palmilhavam,
Morto um deles acaso, em derradeiro preito,
Um solitrio umbu no tmulo plantavam."
(Jorge Jobim, Umbus).

"Umbu da Tapera

Pampa. Num fim de tarde. Ardendo um sol poente.


Num serro, uma tapera uma viso de sonho!
E sobre ela um umbu desgalhado, pendente,
Solua, arqueja e ringe ao vendaval medonho.
Ao v-lo assim to s na imensido silente,
com tristor que nele os olhos ponho,
Porque sinto tambm o que esta rvore sente:
Um anseio cruel que me deixa tristonho.

Vejo nele um gigante a carpir na marmrea


Inscrio de uma tumba a saudade infinita
Dum passado de sol aureolado de glria!

o Rio Grande a chorar, sob a dor que o consome,


Sobre o pampa sangrento, a memria bendita
Dos gachos heris que morreram sem nome!"
(Mrcio Dias, Brumas de minha
saudade, apud Pedro Leite Vilas-
Bas, Esquecidos & Bissextos do
Regionalismo).

UM-DE-A-P, s. O mesmo que uma-de-a-p.

UM RATITO, s. Um momentinho (Platinismo).

UM VIVA LA PTRIA, s. Uma baguna, uma desordem.

UNHA DE GATO, s. rvore aparentada com o maric, da famlia Mimoseae


(Acacia bonariensis, Gill.), usada para
517

cercas vivas por ser espinhosa e cerrar muito.

UNHAR, v. Roubar, furtar, surrupiar, levar o que no lhe pertence. //


Correr, fugir disparada, azular.

UNHEIRA, s. Fenda difcil de curar que aparece no lombo dos animais em


conseqncia de mau uso do lombilho, ou de utilizao de arreios
defeituosos. O mesmo que mata, cuera, tubuna.

UNHEIRUDO, adj. Diz-se do animal que sofre de unheira. // Figuradamente,


animal ruim imprestvel.

UNTURA, s. Remdio feito com sebo, carvo modo e outros ingredientes,


usado para curar as matas dos animais de montaria ou de carga.

URCAO, adj. Diz-se do cavalo muito grande e de bonita estampa. //


Diz-se tambm da pessoa de fsico muito desenvolvido.

URCO, adj. Diz-se do cavalo grande e belo.

URICUNGO, adj. e s. O mesmo que urucungo.

URU, s. Pssaro das matas do Rio Grande do Sul, parecido com a perdiz,
pertencente famlia das Phasianidae.

URUBU, s. Corvo. H as seguintes variedades: Urubu-de-cabea-pelada,


urubu-de-cabea-encarnada e urubu-rei, o ltimo de belssima plumagem e
de porte altivo e dominante. Ao urubu-rei os ndios guaranis chamam
iribu rubicha que quer dizer chefe dos urubus. "Praga de urubu no mata
cavalo gordo", um ditado popular gauchesco, significando que pragas ou
ameaas no atingem quem forte ou quem tem a conscincia tranqila.

URUCUNGO, s. e adj. Cavalo ruim, imprestvel. Sotreta, matungo, pilungo,


uricungo.

URUMBEBA, s. Espcie de tuna, do gnero Cactus. O mesmo que urumbeva.

"Bouas de caraj, entremeadas de urumbevas acidentavam a


achada." (A. Maia, Runas Vivas, p. 69).

URUMBEVA, s. O mesmo que urumbeba.

URUPUCA, s. Armadilha para pegar passarinhos. O mesmo que arapuca. //


Trapaa.

URUTAGO, s. O mesmo que urutau.

URUTAO, s. O mesmo que urutau.

URUTAU, s. Ave noturna (Nyctibius jamaicensis, G. M.) dos matos


rio-grandenses que noite emite cantos que fazem lembrar vozes de
pessoas gritando ao longe. Var.: Uru tao, urutago.

"Ali s o urutao sentia efuses, porque ainda tnue dilculo de


luz lhe banhava a retina, embora,mortia e glida. Feliz vivente que
passa os dias de modo to estranho! Rompe o dia e ei-lo a saudar a
aurora, ei-lo seguindo com a pupila ardente o astro-rei no seu
itinerrio pelos ddalos da imensidade. (...) Os selvagens responderam
com a habitual gravidade: - O irmo descance nos arcos dos guaycanans.
Os guerreiros da serra tm a vista do urutao que encara o sol, e a
vigilncia do pssaro da campina; tm o faro do urubu e o ouvido do
cervo." (Apolinrio Porto Alegre, O Vaqueano, P.A., Globo, 1927, p. 6 e
87).

"L, na compassiva saudade do meu pago, quando a lua vai alta, a


"viva triste" ainda chama...
No silncio calmo dos espiges do mato, em vo a msera
procura.
Perdido para sempre naquela caada fatal, seu bem amado, no
mais responder...

518

H muito ela enlouqueceu assim, chamando, e chamando, percorre


ainda os bosques l de fora, a repetir melancolicamente um nome que
todos j sabemos: - Urutau."
(Clemenciano Barnasque, No Pago, Urutau, P.A., Globo, 1926, p.
67).

"- os urutaus em lamento


pelas grimpas ressequidas
parecem almas perdidas
chorando na voz do vento! ..."
(Rubens Dario Soares, Minha ltima
Tropeada, Cruz Alta, 1981,
p. 37).

"E Celeste cantou, com a voz do urutago,


fazendo, de emoo, vibrar a alma do pago,
que, em seu cantar, ouviu chorar a humanidade!"
(Rui Cardoso Nunes, Uma Lurea
para Celeste Maria Masera).

"Urutau dorme de dia


De olhar pregado no sol
Bico aberto rumo ao cu
Mata a sede quando chove
Chora o esplendor da lua
Nas sombras do mataru
Urutau quem no conhece
Nem precisa conhecer
sim passaro tristonho
Que gosta do padecer."
(Airton Pimentel, Milonga, 8
Califrnia da Cano Nativa,
Uruguaiana, 1978).

"Sua voz doa,


parecia corao, raiz de alma ...
Vinha de longe, em silncio ...
Urutau solito,
o ndio cru cantou de amor at morrer."
(Isolino Leal, Joo Vitria, in Perfis
de Musas, Poetas e Prosadores Brasileiros,
4 Vol., Antologia de escritores
brasileiros e estrangeiros, org.
por Alzira Freitas Tacques, P.A.,
1958, p. 2985).

USTED, pr. Voc. Usado somente na fronteira. (Esp.).

UVA-DE-FACHO, s. rvore da famlia das Rosceas (Hertella hebeclada,


Mori.), de madeira boa para queimar, com copa provida de basta
folhagem. Devido sua beleza, serve de ornamento para os nossos
bosques.

UVAIA, s. Denominao de uma fruta que d no alto Uruguai, de cor


amarela, de sabor azedo, porm comestvel. (Segundo Beaurepaire-Rohan a
palavra vem do tupi, de iba, fruta, e aia, azeda).

UVAIEIRA, s. rvore do gnero Eugnia, da famlia das Mirtceas, que


produz a uvaia.

519

520

VACA, adj. Diz-se do indivduo pusilnime, medroso, covarde.

VACADA, s. Grande nmero de vacas. Vacagem, vacaria.

VACAGEM, s. Um certo nmero de vacas. Um lote de vacas. Um grande nmero


de vacas. Vacada, vacaria.

VACARA, s. O mesmo que bacara. Terneiro de ventre, nonato, tapichi.

VACARIA, s. Grande nmero de vacas. // Grande extenso de campo que os


jesutas reservavam para a cnao de gado bovino.

"A experincia demonstrou, a certa altura, a convenincia de


outros estabelecimentos mais extensos reservados ao engorde natural e
livre procriao dos rebanhos. Da, pois, o surgimento das vacarias,"
(Antnio Carlos Machado, Vozes da Querncia, p. 38).

"Havia ainda as arreiadas ou as entradas dos lagunistas para


levantar os gados das vacarias, arreiadas que eram a origem dos rebanhos
que comeavam a incrementar as estncias que se iam espalhando nas
lombas do Viamo e nos vargedos do Tramanda e forte chamariz para os
que em aventuras mais ou menos arriscadas quisessem ganhar terras
fceis, bens e prosperidade segura." (General Borges Fortes, O
Brigadeiro Jos da Silva Paes e a Fundao do Rio Grande, P.A., Ed. da
Cia. Unio de Seguros Gerais, 1980, p. 42).

"Ermos povoados de gado chimarro.


Mar de aspas chifrando o cu.
Oceano de cascos esmagando o cho,
Vacarias ao lu."
(Hlio Moro Mariante, Fronteiras
do Vaivm, P.A., Imprensa Oficial
do Estado do Rio Grande do Sul,
1969,p. 18).

VAI SER UM ROUBO, expr. Na gria das carreiras, usada para significar
que um dos cavalos vai ganhar com grande facilidade.

VAIVM, s. Cabo de arame que serve para apoio e trao das barcas nas
passagens dos rios.

VANC, pron. Voc. , no Rio Grande do Sul, tratamento usado de


superior para inferior.

VAPORITI, s. Frutinha roxa, comestvel, da Serra do Uruguai.

VAPORITIZEIRO, a. rvore que produz o vaporiti. Vegeta na Serra do


Uruguai.

VAQUEANAO, s. e adj. Vaqueano muito hbil. Aumentativo de vaqueano.

521

VAQUEANAGEM, s. Ato de vaqueanar.

VAQUEANAR, v. Exercer a profisso de vaqueano.

"Fez a sua desgracia, le digo, que, na viagem, topou um piquete


camelo e teve que vaqueanar essa gente, seno lo matavam." (A. Maia,
Alma Brbara, RJ, Pimenta de Melo & C., 1922, p. 81).

VAQUEANO, s. Pessoa que conhece perfeitamente os caminhos e atalhos de


uma regio podendo servir de guia aos que precisam percorr-la. Pessoa
que tem prtica, habilidade, destreza, para qualquer trabalho ou arte.
Tapejara.

"Honrio Lemes chefiava os revolucionrios da fronteira do


sudoeste. Era tropeiro, grande vaqueano da regio e veterano de 93. Teve
como seu principal auxiliar o Dr. Batista Luzardo." (Arthur Ferreira
Filho, Revoluo de 1923, Porto Alegre, Impr. Of. do Estado, 1973, p.
32).

"Baqueano: prctico de los caminos, trochas y atajos de algn


paraje: es general en toda la Amrica." (Alcedo, in Daniel Granada,
Vocabulario Rioplatense, Montevideo, Bibl. Artigas, 1957, I Tomo, p.
93).

"Baqueano. El que tiene baqua, habilidad, destreza, y prctica


em algo. Hombre de campo que conoce el pas por palmos y sirve de gua a
los viajeros." (Tito Saubidet, Vocabulario y Refranero Criollo).
"Tambm se diz baqueano, e esta a pronncia mais comum em
algumas provncias do Norte. vocbulo usual em todos os Estados
americanos de origem espanhola. Etim.: Vem do radical baquia, termo com
que os espanhis designaram, depois da conquista do Mxico, os soldados
velhos que haviam tomado parte nela. Tem o sentido de habilidade,
destreza; e quer seja oriundo da Espanha, quer da Amrica, melhor
dizer baquiano. (Zorob. Rodrigues.) No sentido figurado, aplica-se
pessoa mui entendida em qualquer ramo da indstria: Fulano mui
vaqueano no comrcio dos gados. Em So Paulo e outras provncias do Sul,
corresponde a vaqueano o termo tapejara, de origem tupi."
(Beaurepaire-Rohan).

"Tivemos um jantar na casa de um parente meu em Sumit, Nova


Jersey. Fomos em dois carros. Eu dirigia o meu com meus filhos, minha
mulher acompanhava o Dr. Loureiro e D. Lizete. Perdemo-nos, ou melhor,
eles se perderam de ns, pois em breve chegava eu ao destino onde em
pnico se encontravam os que nos esperavam. Senti-me um vaqueano nas
'higways' americanas, com esta aventura." (Fernando A. Gay da Fonseca,
Cartas da ONU... XXIV, 1961, p. 84).

... "julgava-se necessrio aos andantes, aos quais, pedissem ou


no, ministrava orgulhoso e de sobra, esclarecimentos de vaqueano." (A.
Maia, Runas Vivas, Porto, Lello & Irmo, 1910, p. 67).

"Quando hoje, entre o rumor das aclamaes populares,


contemplava a figura sobranceira do vosso Presidente, lembrei-me,
paraibanos, de que no dicionrio regionalista dos meus pagos h, talvez
como no vosso, um termo insubstituvel, significando o homem conhecedor
dos caminhos difceis, corajoso e vigilante, que na paz conduz, atra-

522

vs dos campos adormecidos sob o luar do vero ou debaixo das cordas


dgua na mais dura invernia, o viajante bisonho, e na guerra antecede as
extremas vanguardas, orientando verdadeiramente a marcha dos exrcitos.
Esse homem o vaqueano.
Ele tem no crebro, por vezes desprovido de rudimentares noes
do alfabeto, uma carta geogrfica mais perfeita do que a do
estado-maior. No lhe escapam um acidente do terreno, o galho de um
arroio, a profundidade de um brejo, os sinais de um rodeio, a posio
de uma cancela ou a direo de uma cerca.
Mesmo com a treva mais espessa, tudo devassam os olhos dele,
habituados escurido das noites de tempestade. Chegam-lhes aos ouvidos
os rumores mnores e mais longnquos. Nada lhe entibia a bravura serena.
Nem as soalheiras do estio nem a friagem agreste das madrugadas de geada
diminuem o poder espantoso da sua resistncia fsica.
O vaqueano nos mares verdes do pampa, por vezes encrespados
pela ondulao das coxilhas, a bssola cujas agulhas nenhuma fora
desimanta.
No drama agitado das guerrilhas, ele verdadeiramente antecede e
exalta a argcia dos caudilhos. Evita o risco de choques imprevistos.
Esconde atrs das restingas providenciais as patrulhas e os piquetes.
Esboa as primeiras linhas do ataque, indicando cavalaria as posies
protegidas do inimigo. Marca quase sempre o cenrio dos entreveros e nas
horas inquietas, em que a pugna indecisa pode transformar-se em
debandada, ainda ele, atilado e prudente, quem conduz na cola do seu
ginete as tropas fatigadas que, para uma retirada estratgica, buscam o
auxlio de certos segredos topogrficos. Esse o vaqueano."
(Joo Neves da Fontoura, Memrias, 2 vol., P.A., Globo, 1963,
p. 290).

"El baqueano es csi siempre fiel a su deber; pero no siempre el


general tiene en l plena confianza. Imaginaos la posicin de un jefe
condenado a llevar un traidor a su lado y a pedirle los conocimientos
indispensables para triunfar. Un baqueano encuentra una sendita que hace
cruz con el camino que lleva: l sabe a qu aguada remota conduce; si
encuentra mil y esto sucede en un espacio de cien leguas, l las conoce
todas, sabe de dnde vienen y adnde van. l sabe l vado oculto que
tiene un rio, ms arriba o ms abajo del paso ordinario, y esto en cien
rios o arroyos; l conoce en los minagos extensos un sandero por donde
pueden ser atravessados sin inconvenientes, y esto en cien cinagos
distintos.
En lo ms oscuro de la noche, en medio de los bosques o en las
llanuras sin limites, perdidos sus compaeros, extraviados, da una
vuelta en crculo de elos, observa los rboles; si no los hay, se
desmonta, se inclina a tierra, examina algunos matorrales y se orienta
de la altura en que se halla, monta en seguida, y les dice para
asegurarlos: "Estamos en dereseras de tal lugar, a tantas lguas de las
habitacioneS; el camino ha de ir al Sur", y se dirige hacia el rumbo
que seala, tranquilo, sin

523

prisa de encontrarlo, y sin responder a las objeciones que el temor o la


fascinacin sugiere a los otros.
Si aun esto no basta, o si se encuentra en la pampa y la
oscuridad es impenetrable, entonces arranca pastos de varios puntos,
huele la raiz y la tierra, las masca, y despus de repetir este
procedimiento varias veces, se cerciara de la proximidad de algn lago,
o arroyo salado, o de agua dulce, y saie en su busca para orientarse
fijamente. El general Rosas, dicen, conoce por el gusto el pasto de cada
estancia del Sur de Buenos Aires.
Si el baqueano lo es de la pampa, donde no hay caminos para
atravesarla, y un pasajero le pide que lo lleve diretamente a un paraje
distante cincuenta leguas, el baqueano se para un momento, reconoce el
horizonte, examina el suelo, eleva la vista en un punto y se echa a
galopar con la rectitud de una flecha, hasta que cambia de rumbo por
motivos que slo l sabe, y, galopando dia y noche, llega al lugar
designado.
El baqueano anuncia tambin la proximidad del enemigo, esto es,
diez leguas, y el rumbo por donde se acerca, por medio del movimiento
de los avestruces, de los gamos y guanacos, que huyen en cierta
direccin. Cuando se aproxima observa los polvos y por su espesor cuenta
la fuerza: "son dos mil hombres" - dice -, "quinientos", "doscientos", y
el jefe obra bajo este dato, que casi siempre es infalible. Silos
cndores y cuervos revolotean en un crculo del cielo, l sabr decir si
hay gente escondida, o es un campamento recin abandonado, o un simple
animal muerto. El baqueano conoce la distancia que hay de un lugar a
otro: los das y las horas necessarias para llegar a l, y a ms una
senda extraviada e ignorada por donde se puede llegar de sorpresa y en
la mitad del tiempo; as es que las partidas de montoneras emprenden
sorpresas sobre puebios que estn a cincuenta leguas de distancia, que
casi siempre las aciertan. (Domingo F. Sarmiento, El Baqueano, in Fogo
de las Tradiciones, 3 s., t. I, Argentina, Editorial Bell, 1953,
p. 96-97).

"Pelo ar que passa, pelo cheiro agreste


Que exala a planta, que a campina veste,
Por um instinto que s vem do cu,
Tudo parece que lhe inspira o tino,
Que um gnio oculto de feliz destino
Lhe aclara as trevas do noturno vu!

E quanta vez de uma nao inteira,


E de um exrcito a gloriosa esteira
No est nele - nesse instinto seu! ...
vaqueano! palinuro ousado!
S te conhece quem por ti guiado
J vastos planos sem temor venceu!
(Taveira Jnior).

"Vaqueano

Herdaste do velho Blau


a imensa sabedoria
de trazer a geografia
do pago em tua memria
e, por isto, em nossa histria
tens um lugar distinguido...
Nunca te viste perdido:
como o ndio antepassado,
no teu instinto apurado,
tu tens um sexto sentido."

524

(Guilherme Schultz Filho, Galponeiras,


P.A., Martins Livreiro-Editor,
1981, p. 28).

VAQUEIRA, s. Matambre.

VAQUEIRAMA, s. Quantidade de vaqueiros. (Este termo referido por


Teschauer. No o vimos empregado no Rio Grande do Sul).

VAQUERIA, s. Grande nmero de vacas, vacagem, vacaria.

VAQUIA, s. Profisso oU hbito de vaqueano. Destreza, habilidade.

VAQUILHONA, s. Vaca nova que ainda no pariu. Novilha.

VARA, s. Cada uma das hastes de madeira usadas para fechar a porteira.

VARADO, adj. Diz-se da pessoa ou animal que se encontra delgado por


falta de alimentao ou de gua.

VARAIS, s. Varas muito grandes colocadas horizontalmente sobre esteios,


paralelas umas s outras, nas charqueadas, para nelas ser exposta ao sol
a carne que sai do sal e que ser transformada em charque. plural de
varal, que, com esta significao, quase no
se usa no singular.

"Entretanto, a vida era forte. No findara com a multiplicidade


clere dos talhos. Ia prosseguir ainda, vibrando e agitando, na carne
feita em postas e enxadrezada de lanhos. J nos varais a refrescar,
antes de ir ao sal, as mantas continuavam a assinalar veementes indcios
de sobrevivncia. Os panos de msculos contraiam-se, ressaltavam,
repuxavam-se. Corriam por eles frenesis sbitos, coriscavam crispaes
em ziguizagues, violentos estremees convulsionavam-nos todos. Havia
por aquelas mantas uma vivacidade indomvel, uma irrequietude de
revolta, uma incoercvel teimosia em querer viver. Algumas sacudiam-se
to fortemente que pareciam batidas de uma forte lufada de vento e quase
se precipitavam dos varais. Era porventura algum remanescente mpeto de
libertao.
Outras abanavam flacidamente, despedindo-se e finando-se com
pausa e resignao.
Pouco a pouco arejavam, esfriavam e todas se morriam
tristemente, formando vasto estendal de roupas ensangentadas e
esfarrapadas no tremendo entrechoque de uma batalha corpo a corpo, ali
expostas a secarem para ostensivos trofus de vitria e de conquista.
Estava eu assim entretido e pensando, quando um carneador, que
passava, sobresteve e disse-me risonhamente:
"- Eh, patro! Est se admirando disto? Se visse ento o xarque,
na pilha, de noite, dar estalos que dizem serem saudades de viver?"
Mirei-o e ele seguiu sorrindo e gingando.
Meditei o dito e achei-lhe graa.
Saudades! Saudades de viver! Quem Sabe?"
(Vieira Pires, A Querncia, P.A., Globo, 1925, p. 63-64).

VARAL, s. Varas onde o charque exposto ao sol para secar. // A lana


das carroas.

VARANDA, s. Sala de jantar. Comedor.

"Na sala de refeies, que no Rio Grande do Sul geralmente


chamada varanda," ... (rico Verssimo, Solo de Clarineta, P.A., Globo,
1974, p. 72).

525

VARAR, v. Atravessar, bandear, cruzar.

... "varando a taipa dos anos,


com que os tempos haraganos
me separam da querncia,"
(Rui Cardoso Nunes, Carta ao
C. T. G. Rodeio da Amizade).

"E j me boto na estrada.


O pingo at me compreende!
Assim que varo a cancela
parece que ele, como eu,
tambm vai pensando nela."
(Zeca Blau, Poncho e Pala, P.A.,
Sulina, 1966, p. 24).

"Grito candente varando


horizonte"
(Jos Rodrigues, Noite do Tempo
Antes, P.A., Ed. Flmula, 1982,
p.9).

"Agora, moo, eu t vio,


meu cabelo j t branco,
ando muito adoentado.
Mas s como boi Zebu:
quando me apincho na cerca
ou varo ou morro quebrado!"
(Zeno Cardoso Nunes, Orgulho de
Guasca).

VAREAR, v. Dizer coisas sem nexo, delirar, em conseqncia de febre


alta. Variar.

VAREIO, s. Susto, sova, surra, repreenso. Diz-se dar ou tomar um


vareio. // Ato de varejar, de rebuscar, de procurar, de dar uma batida.
// Exerccio a que se submete o parelheiro para que fique mais ligeiro.
// Estado de perturbao mental que leva o indivduo a dizer coisas sem
nexo, desvario, delrio.

VAREJO, s. Vara grossa, de regular comprimento, utilizada na feitura de


cerca.

VAREJAR, v. Arremessar, atirar, jogar fora.

VAREJEIRA, s. Mosca que deposita seus ovos nas feridas dos animais,
produzindo bicheiras.

VARETA, s. Desapontamento, atrapalhao, perturbao, encafistrao,


encabulao.

VARGEDO, s. Vrzea longa, plancie campestre.

VARIADO, adj. Diz-se do cavalo ensinado a correr parelhas com outro.

VARIAR, v. Ensinar o cavalo a correr parelhas com outro. Submeter o


cavalo a exerccio com outro parelheiro. Quando o ato tem por fim
estabelecer comparao entre os dois animais, diz-se cotejar. //
Delirar, varear.

VARRIO, s. Ato de varrer.

VARZEDO,s. Vargedo.

VASILHA, s. Indivduo ruim, desprezvel, imprestvel, ordinrio, O mesmo


que vasilha ruim, vasilha ordinria, m vasilha.

VASQUEIRO, adj. Minguado, raro, escasso, difcil de conseguir.

"Foi sempre o que achei esquisito: cachorrada imensa, para caa


vasqueira." (Simes Lopes, Casos do Romualdo, P.A., Globo, 1952, p.
144).

VASSOURA, s. Planta usada para preparar o utenslio do mesmo nome,


constituda de um feixe de ramos, verdes, amarrado ponta de uma vara.
VAZA, s. Vez, oportunidade.

VAZIO, s. Regio antero-lateral e inferior do abdomem. Regio entre as


costelas e o osso ilaco.

VEADO-BOROR, s. O mesmo que veado-mo-curta.

VEADO-BRANCO, s. O mesmo que veado-do-campo.

526

VEADO-DO-CAMPO, s. Cervus blastocerum campestris. Vive nos campos. Seus


chifres apresentam, em geral, trs galhos. Conta-se que esse veado mata
cobras do seguinte modo: Cerca-a com crculos de baba, e, colocando-se
distncia de um tiro de lao, fica a olhar para a cobra e a patear at
que ela morra. Se o veado se distrair e olhar para outro lado a cobra
foge.

"El venao encuentra una vibora durmiendo y la rodea con un hilo


de baba, despus se va como a un tiro de lazo, se para e comeza a mirar
pa donde est la vibora y a patear el suelo" (Salero Criollo, J. S.
Alvarez, apud Luiz Carlos de Moraes).

VEADO-GUATAPAR, s. Veado de pelagem vermelha e membros escuros.

VEADO-MO-CURTA, s. Cervus coassus rufinus, Puch. O mesmo que


veado-boror.

VEADO-PARDO, s. Cervus coassus rufus, F. Cuv. Habita os matos. Seu


couro muito apreciado para utenslios campeiros.

VEADO-VIR, s. Cervus coassus nemorivgus. Habita os capes e


capoeiras. muito gil. Tambm chamado veado-catingueiro ou apenas
catingueiro.

VEDAR, v. Crescer, desenvolver-se. Diz-se das plantas. "O milho est


vedando bem este ano", isto , est se desenvolvendo bem, est
crescendo. (P. us., ouvido em Viamo).

VEIA-ARTRIA, s. Cartida do bovino, que seccionada por ocasio do


abate.

VELHACAO, adj. Superlativo de velhaco. Velhaco.

VELHACAGEM, s. Velhacada, velhacaria, patifaria, maroteira, fraude,


engano, logro, ao de velhaco.

VELHACO, adj. Diz-se do animal que no perde o costume de velhaquear,


dar pinotes, cOrcOvear.

VELHAQUEADOR, adj. Diz-se do animal acostumado a velhaquear, que d


pinotes, que CorCoveia.

VELHAQUEADOURO, s. Virilha do cavalo, onde sendo esporeado ele


velhaqueia.

VELHAQUEAR, v. Corcovear, pinotear.


VELO, s. O mesmo que vu. A l do ovino.

VELRIO, s. Ato de velar com outros um defunto, ou seja, de passar a


noite em claro na sala em que o defunto est exposto. Lugar em que
prestada essa homenagem ao morto.

VENDA, s. Casa de comrcio em que se compram e se vendem os produtos da


terra, fazendas, secos e molhados, e que , ao mesmo tempo, taberna e
local de pouso.

"Gaspar saltou para fora da venda, com a agilidade de um gato,


fazendo brilhar, na dextra, seu faco de lmina espelhada." (Manoelito
de Ornellas, Terra Xucra, P. A., Sulina, 1969, p. 73).

VENDAGEM, s. Inhapa.

VENDER, v. Difamar, caluniar, desacreditar.

VENDISTA, s. Vendeiro, dono de venda.

VENENOSO, adj. Diz-se do animal que no amansa, que se conserva sempre


bravio, sempre perigoso.

VENHA! VENHA!, interj. Expresso usada pelo ponteiro da tropa para


cham-la, ao andar pel estrada.

VENTA-FURADA, s. Valento, desordeiro, bandido, ventana, sujeito mal


com-

527

portado, indivduo capaz de aes imorais. O mesmo que venta-rasgada.

VENTANA, s. e adj. Indivduo mau, desordeiro, turbulento, brigo,


venta-furada, venta-rasgada, ventania. // Cavalo matreiro, velhaco,
puava. // Var.: ventena.

"De nada se amedrontava


Quietarro porm ventena."
(Tadeu Martins, Tarcas de Estncia
Antiga, P.A., Grf. Mau Ltda.,
p. 63).

... "o ventana quadrava o corpo, e rebatia os talhos e pontaos que lhe
meneavam sem pena." (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul,
P.A., Globo, 1973, p. 17).

VENTANRIO, s. Marceneiro ou carpinteiro que faz janelas ou portas. Este


termo atualmente est em desuso.

VENTANIA, s. e adj. Ventana.

VENTA-RASGADA, s. e adj. O mesmo que venta-furada.

"Era a despedida: desejava irritar at ao fim aquele


venta-rasgada e passou pelo stio de rdea curta, moderando a marcha, a
assobiar o Boi-barroso..." (A. Maia, Runas Vivas, Porto, Lelo & Irmo,
1910, p. 118).

VENTENA, s. e adj. Ventana.

VERANICO, s. Vero fraco, verozinho.

VERANICO DE MAIO, s. Certo perodo do outono, especialmente o ms de


maio, em que, depois de frios intensos, ocorre uma temperatura agradvel
e sensivelmente elevada, que se prolonga por algumas semanas.

VEROZINHO, s. V. Passarinho-de-vero.

VERDE, s. Mate, mate-chimarro, amargo, chimarro.

VERDEAR, v. Matear, chimarrear, tomar um verde. // Dar rao de pasto


verde ao animal.

"Chama-se de l o vaqueano. E pela vigsima vez encheu a cuia. O


que me admira, ponderou, como estou verdeando to maldita cana."
(Apolinrio Porto Alegre, O Vaqueano, P.A., Globo, 1927, p. 10).

"Fiquei verdeando, espera, e fui dando um ajutrio na matana


dos leites e no tiramento dos assados com couro." (Simes Lopes, Contos
Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 89).

VERDEIO, s. Verdejo. Ato de verdear ou dar pasto verde ao cavalo. // Cor


verde das plantas. Verdejo.

VERDEJO, s. Verdeio.

VERDULEIRO, s. Verdureiro.

VEREDA, s. Ocasio, vez. V. a expresso de vereda.

VERGA, s. Sulco deixado pelo arado, no amanho da terra.

VERGAMOTA, s. Bergamota.

VERMELHO, adj. Diz-se do cavalo ou do bovino cujo plo de cor rubra,


cor de sangue. Denomina-se, tambm, colorado. H o vermelho-requeimado e
o vermelho-pinho.

VERMELHO-PINHO, adj. Diz-se do animal de plo vermelho tirante cor do


pinho.

VERMELHO-REQUEIMADO, adj. Diz-se do animal de plo vermelho bem


carregado.

VERTENTE, s. Cacimba, olho-d'gua.

"Na sua armada de sombra, uma gua pura,


brotando da vertente que corria

528

- humilde como o ideal dos sonhadores,


para formar a sanga, logo alm...
(Vasco Melo Leiria, in Antol. de
Poetas Brigadianos, P.A., Ed.
Pallotti, 1982,p. 112).

VERTER GUA, expr. Urinar.

VER-SE EM ASSADO, expr. Ver-se atrapalhado, ver-se em dificuldades.

VESPRA, s. Vspera.

"Desde a vespra em rebulio


A tropa custava a andar."
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
P.A., Martins Livreiro-Editor,
1978, p. 33).

VU, s. Manta inteiria de l que se tira do ovino por ocasio da


tosquia. O mesmo que velo.

VIAJADA, s. Viagem, jornada, caminhada.

VIAJAR DE PLO A PLO, expr. Fazer toda a viagem em um s animal.

VIANDA, s. Refeio fornecida a domiclio em marmitas. Marmita.

"Nossa comida vinha de uma penso em marmita - que no Rio Grande


do Sul chamamos vianda." (rico Verssimo, Solo de Clarineta, P.A.,
Globo, 1974, p. 182).

VBORA, s. Qualquer cobra.

VICHAR, s. O mesmo que bichar. (P.


us.).

"Miguelito j esperava a ordem, e, enfiando um vichar, s


listas brancas e pretas, herdado de Chico Santos, encaminhou-se para
Casa." (A. Maia, Runas Vivas, Porto, Lello & Irmo, 1910, p. 95).

VIDA DE CACHORRO, s. Vida muito infeliz.

VIGRIO, adj. O mesmo que mitrado. Esperto, sagaz, finrio.

VIL, adj. Covarde, desanimado, fraco, pouco resistente dor ou


fadiga.

VINAGRE, adj. Variedade de tordilhO.

VINCHA, s. Fita ou leno que alguns gachos usam atar sobre os cabelos
para mant-los presos.

"Melenas presas pelas vinchas,


a brnzea pele coberta por taipis."
(Ramiro Frota Barcelos, RomanCeria
Gauchesca, So Leopoldo, Ed.
Rotermund, 1966,p. 16).

VIR, s. O mesmo que veado-vir.


VIRA-BOSTA, s. Negrito. Passarinho azul-escuro brilhante ou pardo, muito
comum no Rio Grande do Sul, onde andam em bandos junto s mangueiras ou
nos rodeios. Denomina-se tambm chupim, maria-preta, pssaro-preto,
chico-pretO. Esses pssaros no fazem ninhos, pondo seus ovos em ninhos
alheios, de tico-ticOs, de siriris ou de outros, os quais os chocam e
criam seus filhotes, que, depois de criados, se renem aos bandos de
seus iguais. Var.: virabosta.

"Vira-bosta pregwoSo,
Mas velhaco passarinho;
Pra no fazer o seu ninho
Se apossa do ninho alheio ;"
(Amaro Juvenal, Antnio Chimango,
21 ed., P.A., Martins Livreiro-
Editor, 1978, p. 19).

"Notvel por seu parasitismo nidulrio o virabosta do campo.A


fmea deposita os seus Ovos furtivamente no ninho do tico-tico. Sado do
ovo, o intruso desde logo absorve toda a ateno de seus pais adotivos,
arrancando-lhes tudo quanto trazem. Os filhotes do tico-tiCO sucumbem
aos empurres e mingua de alimento. Mesmo depois de sa-

529

do do ninho, o virabosta persegue o tico-tico com seus gritos


lancinantes."(P. Balduno Rambo, S. J., A Fisionomia do Rio Grande do
Sul, 3 ed., P.A., Livr. Selbach,
1956, p. 295).

VIRAO, s. Cerrao que ocorre freqentemente no vero, nas


proximidades das encostas de serra, acompanhada de vento.

VIRADA, s. Ao de virar.

VIRADO, s. e adj. Indivduo turbulento, trocista, galhofeiro,


endiabrado, travesso, amalucado, levado da breca.

VIRAR A BICHO, expr. Zangar-se, mostrar-se agressivo.

"No vires, no tombo, a bicho,


se do teu pingo o rabicho
cair no colo da musa,"
(R.C.N., Ao Poeta Modesto dos
Pampas).

VIRAR DA MEIA NOITE, expr. Passar de meia noite.

VIRAR GALO DE RINHA, expr. Revoltar-se, querer briga.

VIRAR O CASCO, expr. Fazer simpatia para curar bicheiras, que consiste
em virar a impresso, do casco do animal, deixada no solo, para que
caiam os bichos, O mesmo que virar o rasto.

"Ah! ia me esquecendo de le diz que morreu aquele boi velho


sebruno, marca da Corte. Abichou na papeira. Benzi trs vezes e trs
vezes virei o casco... Mas ele sempre foi flaquero mesmo." (Ciro
Martins, Campo Fora, P.A., Ed. Movimento, 1978, p. 58).
"Vem dizendo, agora, oJoo
Que o boi Fartura bichou.
Jos agarra o fado,
E procurando no cho,
O Casco do boi virou!"
(Antenor Moraes, Na Fazenda,
P.A., Globo, 1935, p, 34).

VIRAR O MATE, expr. Remover a erva de um para o outro lado da cuia, para
tornar o mate mais forte.

VIRAR O RASTO, expr. O mesmo que virar o casco.

VIRAR O SOL, expr. Passar de meio dia. "O sol est virado", isto , j
est passando de meio dia.

VIRGEM, s. Alavanca em que gira a haste do monjolo.

VISCACHA, s. Roedor parecido com a lebre, do mesmo tamanho e plo que


ela, porm de cauda to comprida quanto a do gato. Vive no Peru,
Bolvia, Chile, Argentina, Uruguai e Rio Grande do Sul. // Personagem de
Jos Hernandez, em Martin Fierro. (Etim.: Do americanismo vizcacha que,
por sua vez, procedente do quchua).

"No h porteiras a oeste,


Estncia de So Pedro,
para que Martin Fierro
e Viscacha transitem
reprimendas e conselhos."
(Paulo Cesar Gutierres Guggiana,
Ode ao Rio Grande).

VISITA DE SOLTAR OS BOIS, expr. Visita demorada.

VISO, s. Saia de baixo.

VISPAR, v. Bispar, lobrigar, enxergar, avistar.

VIVARACHO, s. e adj. Indivduo muito vivo, sagaz, esperto, perspicaz,


astucioso, atilado.

"Agora, qual dos dois, pra disfarar dos caramurus o chasque,


mandou, em vez dum homem, aquela vivaracha, qual dos dois foi, no pude
sondar." (Simes Lopes, Con-

530

tos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 103).

VIVENTE, s. Pessoa, criatura, indivduo.

"T vendo aquele vivente,


pobre, faminto, doente,
cego, triste, abichornado?"
(Zeno Cardoso Nunes, Covardia).
VIVER A LA GORDACHA, expr. Viver no luxo, na grandeza. Viver num
estado.

VIVER NUM ESTADO, expr. O mesmo que viver a la gordacha.

VIZINDRIO, s. Os lugares circunvizinhos, as cercanias, os arredores. Os


vizinhos, as pessoas que moram nas proximidades de um lugar.

"Vizindrio no um brasileirismo e sim indiscutivelmente um


espanholismo ou castelhanismo. interessante que o prprio Cndido de
Figueiredo indica a procedncia do vocbulo: o castelhano vecindrio."
(A. Tenrio d'Albuquerque, Falsos Brasileirismos, RJ, Ed. Getlio
Costa, p. 309).

"O vizindrio em peso acudiu ao velrio; o enterro se fez na


vila." (Simes Lopes, Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo,
1973, p. 111).

VOADEIRA, s. Denominao de uma erva que produz flor branca em


cartuchos, e, depois de amadurecida, deixa cair sementes que so levadas
pelo vento.

VOAR BAIXINHO, expr. Andar uma pessoa em m situao financeira, mal de


negcios, e, por isso, com aspiraes modestas.

VOGA, s. Peixe de gua doce da bacia do rio Uruguai.

VOLANTIM, s. Saltimbanco, borlantim.

VOLCAR, v. Virar, rolar. Volcar a terra com o arado, significa arar. (


termo castelhano muito usado na fronteira).

VOLTA, s. Giro, passeio, caminhada.

VOLTA DA P,s. O contorno posterior da paleta do animal. // (Chulo) O


anus: "Pode meter isso na volta da p".

VOLTA E MEIA, expr. Seguidamente, freqentemente, a dois por trs.

VOLTEADA, s. Ato de percorrer o campo para trazer os animais para a


mangueira ou para o rodeio. Ato de apanhar o gado de surpresa. //
Cilada, emboscada numa volta de capo. // Viagem, pequeno passeio,
volta, giro. // V. a expresso cair na volteada.

"Tem sido dura a peleia


que at aqui foi travada,
mas no fim dessa volteada
muito couro se curtiu:
o dinheiro j tiniu;
e vale como escritura,
a lei que nos assegura
o espao na Beira-Rio."
(Chico Gaudrio, Correio do Povo
de 29.6.68).

VOLTEAR, v. Fazer uma volteada. Conduzir uma ponta de gado para a


mangueira ou para o rodeio. // Passear, dar um giro. // Derrubar, atirar
no cho. "Com uma s paulada volteei o bandido".
"ainda era domador, agora; mas quando gineteava mais folheiro,
s vezes num derrepente, era volteado." (Simes Lopes, Lendas do Sul, p.
19).

VOLTEIO, s. Volteada.

VOLUNTRIO, adj. Diz-se do cavalo que anda com facilidade,


espontaneamente, briosamente, sem necessidade do uso de relho ou de
esporas.

531

VOLUNTRIOS A MANEADOR, s. Designao dada aos homens levados a fora


para servirem nas tropas do governo, nas revolues.

"No aliciamento de soldados para movimentos armados to


freqentes no Rio Grande do Sul de outros tempos, ficaram clebres os
voluntrios a maneador, isto , homens forados a se engajarem nas
fileiras das tropas governamentais." (Hlio Moro Mariante, A Idade do
Couro, 2 ed., P.A., RS-Brasil, Instituto Gacho de Tradio e Folclore,
1979, p. 96).

VORA, s. Espcie de abelha indgena muito comum na regio serrana.


Produz um mel cido e muita cera.

VOZERIO, s. Vozearia, vozeria, vozeada, clamor de muitas vozes juntas.

"E na aragem do mato ainda soou um vozerio distante:


- Or... a pro no... bis!"
(Simes Lopes, Casos do Romualdo, P.A., Globo, 1952, p. 38).

532

XALECO, s. Espcie de colete usado pelos maragatos.

XAMIXUNGA, s. Sanguessuga.

XAR, s. e adj. Animal que tem o plo crespo. // L Baile campestre,


variedade de fandango. // Tocaio.

"Xar:

- Eta, Chiru amigo! Um abrao lhe trago,


cheio das emoes estticas mais puras...
Que seja um cinqento repleto de venturas,
vivendo no esplendor das tradies do pago!"
(Cludio Toledo Mrcio).

XAVIER, adj. Encalistrado, desenxab ido, sem graa. V. as expresses


ficar xavier e sair xavier.

XEPA, s. Comida.

"Xepeiro quem, arranchado,


come a xepa do quartel."
(Jos Hilrio Ajalla Retamozo, 1
Antol. de Poetas Brigadianos, P.A.,
Ed. Pallotti, 1982, p. 56).

XERENGA, s. Faca velha, ordinria, ruim. O mesmo que xerengue.

"Eles eram destorcido


tinham cerne de bandido,
eram gente que brigava,
mas o Juca, esse capenga,
quando pelava a xerenga
nem do diabo arreceava."
(Zeno Cardoso Nunes, Covardia).

"Na xerenga, talentoso


o estudante Hugo Cardoso,
que vai ser cirurgio.
(R.C.N., Caada em Mato Grosso).

"No Rio Grande diferente


at a maneira de falar
Lindo ver a nossa gente
no galpo a conversar:

Fogo de cho fogo,


trara ou xerenga faca,
mate amargo, chimarro,
cinta com bolso, guaiaca."
(Amndio Bicca, Vocabulrio Gacho,
in Nossa Terra Nossa Gente,
3 Vol., de Cecy Cordeiro
Thofehrn e Nelly Cunha, So Paulo,
ed. do Brasil S.A., 1973, p. 22).

XERENGUE, s. Faca ordinria, imprestvel. Aplica-se tambm espada e ao


faco. uma alterao de caxirenguengue ou caxerenguengue. Tambm se
diz xerenga.

XERETA, s. Conversador, intrometido, bisbilhoteiro, importuno,


novidadeiro, leva-e-traz, bajulador, engrossador.

XERETAR, v. O mesmo que xeretear.

XERETEAR, v. Adular, engrossar, bajular, bisbilhotar, importunar,


intrigar.

533

XERGA, s. Enxerga, enxergo, xergo, suadouro, baixeiro, baxeiro,


baxero. Tecido de l grossa, s vezes com lavores nas beiradas, que se
coloca no lombo do animal, logo abaixo da carona, quando se encilha.
(Etim.: Do castelhano ierga, nome dado a qualquer pano grosseiro).

XERGO, s. O mesmo que xerga. Pelego de ovelha, de l curta, que se


coloca abaixo da carona, ou da xerga, quando esta existe. A tal pelego,
d-se, tambm, o nome de xerga.

XI!, interj. Exprime surpresa, pasmo, horror. O mesmo que chi!

XIMB, adj. Diz-se do animal que tem o focinho chato como o dos dogues.
Ximbeva.

XIMBO, s. Cavalo cujo dono no se conhece.

XINGAR, v. Descompor, injuriar, dizer desaforo.

XIRU,s. O mesmo que chiru.

X-GUA, interj. O mesmo que xmico. Var.: ch-gua.

X-MICO, interj. Exprime desprezo. O mesmo que ch-mico, x-gua,


x-misco, x-mosca.

"X-mico! ... Vanc veja... eu at choro! ..." (Simes Lopes,


Contos Gauchescos e Lendas do Sul, P.A., Globo, 1973, p. 49).

XO-MISCO, interj. O mesmo que x-mico. Var.: ch-mico.

X-MOSCA, interj. O mesmo que x-mico. Var.: ch-mosca.

XUBREGA, adj. Diz-se de indivduo insignificante, de animal ordinrio,


de coisa sem valor.

XUCREZA, s. O mesmo que xucrice.

XUCRICE, s. Qualidade de animal ou de indivduo xucro. Grosseria. Falta


de educao. O mesmo que xucreza e xucrismo.

XUCRISMO, s. O mesmo que xucrice.

XUCRO, adj. Diz-se do animal ainda no domado, chimarro, bravio,


esquivo, arisco. Diz-se da pessoa ainda no adestrada em determinada
tarefa, ou grosseira, mal educada, sem trato social. Diz-se das crianas
muito esquivas, que estranham as pessoas. // Fig.: autntico, forte,
puro. (Etim.: Do quchua chucru, atravs do americanismo chcaro,
arisco).

"No governo Pery-Chico


tendes tudo o que foi feito;
e no que me diz respeito,
registro no verso xucro.
Se todos jogassem truco,
do nosso jogo carteado,
num sentido figurado,
da causa seria o lucro."
(Chico Gaudrio, Correio do Povo
de 29 .6.68).

"E misturarei, co'opimas


tropas de clssicas rimas,
meu verso xucro e canhestro,
enquanto sentir do Pago
essa saudade que eu trago
amadrinhando meu estro!"
(R.C.N., Tropeiro de Saudades).

"Na grama verde do pago


estendo cama ao rigor,
do cu azul estrelado
eu fao meu cobertor,
canto a beleza singela
da brisa beijando a flor,
sou filho do p da estrada,
xucro, orelhano do amor."
(Moiss Silveira de Menezes, in
Antologia de Poetas Brigadianos, P.A.,
Ed. Pallotti, 1982, p. 70).

534

ZAINO, adj. Diz-se do animal cavalar ou muar de plo castanho escuro. H


as seguintes variedades: zaino-negro, zaino-pangar, zaino-pinho,
zaino-requeimado. Tambm h quem diga saino. (Etim.: vocbulo
castelhano).

ZAINO-NEGRO, adj. Diz-se do cavalo de plo zaino, quase preto.

ZAINO-PANGAR, adj. Diz-se do cavalo zaino que apresenta plo mais claro
do que o geral na parte de baixo da barriga, nas virilhas, sovaco e
focinho.

ZAINO-PINHO, adj. Diz-se do cavalo zaino puxando a vermelho-pinho.

"Tenho meu cavalo zaino


Vermelho, cor de pinho;
Fui casa da pequena
Nem me deu um chimarro!"
(Quadrinha popular).

ZAINO-REQUEIMADO, adj. Diz-se do cavalo zaino de plo mais escuro que o


comum.

"Entre os cavalo, que eu tive


houve um zaino-requeimado!
Era bom como um pecado,
de pata e rdea - um relampo!
Bonito para um passeio.
Garboso e atirando o freio
em toda a lida de campo."
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, 21 ed., P.A., Martins
Livreiro-Editor, 1981, p. 43).

ZAMBO, adj. Desnorteado, tonto, aparvalhado, atoleimado.

ZARGO, adj. O mesmo que salgo.

ZARRO, adj. Incmodo, maante, difcil de fazer, chato.

ZINABRE, s. Azinhavre.

ZINCO, s. Denominao popular dada moeda de nquel, na fronteira. (P.


us.).

ZINGAR, v. Remar com o remo popa da canoa, dando-lhe trao e direo


ao mesmo tempo.

ZORRILHO, s. Jaritacaca. Pequeno quadrupede que vive nos campos e


restingas, saindo noite. A arma do zorrilho um lquido de cheiro
insuportvel que ele, expele quando atacado.

"Algunos criollos viejos conservan embotellado orn de zorrino


que huelen durante los dolores de cabeza, porque, segn ellos, se los
hace desaparecer." (Tito Saubidet, Vocabulario y Refranero Criollo).

"Era noite de quarto crescente, deitamo-nos todos, mas ns no


pudemos conciliar o sono, porque sofriamos uma dor de cabea que cessou
inesperadamente. Sentimos um cheiro insuportvel de asa-ftida. Era um
zorrilho, que passava atropelado pelos ces e defendia-se com essa arma
asfixiante, que a natureza deu-lhe, contra o mais pode-

535

roso inimigo. Passou-nos a enxaqueca, porm levamos mais de uma hora em


viglia." (Hemetrio Jos Velloso da Silveira, As Misses Orien tais e
seus Antigos Domnios, de 1909, reed. da Cia. de Seguros Gerais, P.A.,
1979, p. 182).

"Zorrilho, cangamb do norte, outro noctvago, mas s no


vero. No inverno cai em hibernao e, curioso, quando criado manso,
v-lo no inflexvel sono letrgico; parece narcotizado.
Animal bonitinho, preto, lanudo, com dois listes brancos, um de
cada lado do lombo, que se aproximam na cabea.
Mui guapo diante de um inimigo, fiado na sua originalssima arma
de defesa, faz frente a uma pessoa e a qualquer bicho, at a uma cobra,
cujo veneno no lhe produz dano algum. o nico quadrpede que goza
dessa imunidade, talvez seja um Contraveneno a sua secreo tpica, de
uma fetidez repulsiva, com que se defende contra todos os animais. Um
cachorro tocado dela larga imediatamente sua presa e vai desesperado
roar-se pelos capins e de longe sente-se o cheiro ativo de que ele fica
impregnado." (Severino de S Brito, Trabalhos e Costumes dos Gachos,
P.A., Globo, 1928, reed. pela Cia. Unio de Seguros Gerais, p. 42).

"- Me fui ao cho, caramba (eu, domador!), em riba mesmo de um


zorrilho, que me seringou int nas barbas da cara. Desgrcia! Nem baile,
nem china: os Outros tomaram conta... Passei mais de uma semana me
aliviando daquele cheiro." (A. Maia,Alma Brbara, RJ, Pimenta de Melo &
C., 1922, p. 146).
"Do Zorrilho

Quietito, com diligncia,


l vai cuidando a sua vida.
Mas se algum cusco teimoso
se mete a acuar no tranqilo,
leva a resposta no estilo
de um polemista famoso."
(Aureliano, Romances de Estncia e
Querncia, 2 ed., P.A., Martins
Livreiro-Editor, 1981,p. 131).

"Sr. Zorrilho

Onde vai, Sr. Zorrilho,


Em tamanha galopada?
- Vou m'embora pra cidade,
Danar a polca mancada.

No v l, Sr. Zorrilho,
Para no ser caoado!
- No me importa, l se avenham,
Que eu sou mui relacionado.

Tenncia, Sr. Zorrilho,


Quem no sabe no se meta,
- Menos sabe quem se apura
Pra garrar-me sem gambeta!

Veja l, Sr. Zorrilho,


Na cidade h seus perigos!
- No vive ningum no mundo
Sem ter os seus inimigos .
(Popular).

"Havia uma seca brbara. As vrzeas tiniam e a bicharada andava


louca de fome. O Gavio Mouro rondava o Zorrilho, mas este s saa
noite, hora em que o gavio ia dormir por no poder enxergar. Um dia,
porm, o Zorrilho madrugou na sada, ainda a lusco-fusco, e o gavio
interpelou-o, do alto de um galho seco de corticeira:

Gavio:

Onde vai, senhor Zorrilho,


Em tamanha galopada?
Vai buscar gua-de-cheiro
Para sua namorada?

536

ZorrilhO:
Seu moo das calas brancas,
Desculpe minha confiana.
Me diga todo o seu nome
Que eu quero ter na lembrana.
Gavio:
Eu me chamo Gavio Mouro,
Morador no Cerro Travessa;
Te como a carne por dentro.
Te viro o couro s avessas.

Zorrilho:
H muito cuera largado
Que pura charla noms;
Comer mi'a carne por dentro
Isto sim, no s capaz!

Gavio:
te quebro a cana do brao,
Te chupo todo o tutano,
Te deixo a cabea oca,
Te tiro do desengano.

Zorrilho:
Eu me chamo Zorrilho Negro
Da Serra do Caver;
Te arreio coxilha arriba
Com relho de enchiqueirar!

Gavio:
Eu fui nascido e criado
Bem longe deste rinco;
Te maneio das quatro patas,
Te risco o couro a faco.

Zorrilho:
Se para haver entrevero,
No vou na lei do gacho;
No quero tinir dos ferros,
Vou logo queimar cartucho!

Mestre Gavio, com o bico como uma faca, atirou um golpe no


focinho do zorrilho. Este se quadrou e guspiu ele no zio. O Gavio,
vencido, voltou ao galho seco de cortia e Don Zorrilho voltou ao seu
rancho, a galopito noms. a velha histria do folclore de todos os
povos: a astcia e a inteligncia vencendo a fora bruta. Em todo o
folclore destes pagos,o sorro, o zorrilho e o lagarto, levam uma
vantagem brbara sobre o tigre, o corvo e o gavio.
(Recolhido por Vitorino Soares Pinto, em Santana do Livramento,
apud Augusto Meyer, in Guia do Folclore Gacho, Juiz de Fora, MG,
Esdeva Empresa Grfica S.A., 1975,p. 132-33).

ZORRO, s. O mesmo que sorro ouguaraxaim. // Figuradamente, a pessoa


manhosa, atilada, disfarada, velhaca.

"Vive el guila en su nido,


El tigre vive en su selva,
El zorro en la cueva ajena,
Y, en su destino inconstante,
Slo el gaucho vive errante
Donde la suerte lo lleva."
(Jos Hernndez, Martn Fierro).

ZUNIR, v. Ir-se apressadamente.


ZURA, adj. Diz-se da pessoa sovina.

ZURRAPA, adj. Ruim, ordinrio, de m qualidade.

ZURRAR, v. Trabalhar intensamente, com muito afinco. // Dizer asneiras,


tolices.

537

538

INDICE ONOMSTICO

ABREU, Capistrano de - 309.

ABREU, Ennio Farias de - 374.

ABREU, Fr. Pedro de - 64, 81.

ABREU, Marisa da Costa - 374.

ACAUAN, Manoel (Marques da Silva) - 234, 361, 408.

AGUIAR, Brigadeiro Rafael Tobias de - 492.

AGULAR, Ubelino Prestes de - 357.

ALBUQUERQUE, A. Tenrio D' - 31, 234, 531.

ALCEDO - 522.

ALENCAR, Jos (Martiniano) de - 112.

ALGAROTTI - 214.

ALMEIDA, J(oo) A(rajo) Pio de - 166, 327.

LVARES, Gregrio - 296.

ALVAREZ,J. S. -527.

ALVES (Branco), Francisco de Paula - 395.

A. MAIA - Ver: MAIA, Alcides (de Castilhos).

AMARAL, Anselmo F(rancisco do) - 272, 347, 371, 466.

AMSTAD, Pe. Teodoro - 223.


ANDONAEGUI -457.

ANDRADA, Gomes Freire - 221, 452, 457.

ANIDO,NAIADE - 265, 387.

ANTUNES, General Dioclcio de Paranhos - 456.

ARAJO FILHO, Luiz - 352.

ARINOS, Afonso - Ver: MELO FRANCO, Afonso Arinos.

ARIPE, Paulo - 374.

ARREGUI, Dorval (Azambuja) - 379.

ARTIGAS, Andresito - 308.

ARTIGAS, Jos Gervasio - 215.

ASCASUBI, Hilrio - 295, 384, 485.

ASSIS BRASIL, J(oaquim) F(rancisco) de - 186, 217, 284.

ASSIS, Machado de - 239.

ASSUMPAO, Clvis (Pereira) - 51, 111, 240.

ASSUNO, Fernando O. - 105, 373, 465.

AURELIANO - Ver: PINTO, Aureliano de Figueiredo.

AZAMBUJA, Darci (Pereira de) - 33, 35, 45, 49, 95, 102, 125, 205, 244, 247,
252, 326, 330, 333, 348, 360, 418, 421, 423, 491.

AZAMBUJA, Graciano - 223.

AZEVEDO, Thales de - 512.

BALDA, Loureno - 457

BALLERE, Hiplito - 148.

BANDEIRA, Joo - 51.

BANDEIRA, Rafael Pinto - 453.

BARBOSA, Fernandes - 237, 475.

BARBOSA, Fidlis Dalcin - 509.

BARCELOS. Ramiro Fortes de Ver: JUVENAL, Amaro (Pseud.)

BARCELOS, Ramro Frota - 79, 102, 165, 191, 205, 229, 358, 398, 414,
485, 500, 529.

BARCELOS, Rubens (Reis) de - 40, 503.

BARNASQUE, Clemenciano (Brun) - 48, 183,289,335,413,477,519.

BARREIRO, Jhamil - 118, 147, 343, 526.

BARROS, ntero Corra de - 108:

BARROS, Jos Jlio - 227, 306, 403, 409.

BATISTA, Amaro - 456.

BEAL, Almiro - 437.

BEAUREPAIRE-ROHAN - Ver: BEAUREPAIRE-ROHAN, Henrique de

BEAUREPAIRE-ROHAN, Henrique de - 14,15,340,401,519,522.

BECK, Mrio Lima - 210.

BELO, Luiz Aives de Oliveira - 456.

BELTRO, Odacir (da Silva) -413.

BERISSO, Niccio Garcia - (Pseud.: Sandalio Santos) - 114, 225, 342, 370.

BERNARDI, Mansueto - 304, 378, 452, 456, 456.

BICCA, Amndio (Quintana) - 30, 53, 533.

BITTENCOURT, Dario de - 137, 400, 400.

BONILLA, Ana Lcia - 399.

BONILLA, Gregrio Antnio - 241.

BORBA, Fernando - 414.

BORDA,Manoel Lisandro - 233.

BORGES FORTES, (Joo) - 185, 521.

BOTTARI, Padre Pedro Luiz - 95, 159, 187, 232, 240, 343, 388.

BRAGA, Rubem 449.

BRANDO, Rui de Oliveira - 159, 374.

BRAZIL, Zeferino (Antnio de Souza) - 23, 226, 341.

BRAUN, Jayme Caetano - 222, 234, 295, 296.

BRECHERET, Vitor - 451.

BRITES, Jos Paim - 108, 343, 357.

BRITES, ULYSSES PAIM - (Pseud.: Cardo Bravo) - 166, 244, 279, 285.
BRITO, Lucidoro - 379.

BRITO, Severino de S - 24, 382, 413, 536.

B., ROHAN Ver: BEAUREPAIRE-ROHAN, Henrique de.

BRUM, Lo Santos - (Pseud.: Santos o Tropeiro)- 108, 136, 180,316,318.

BUNSE, Heinrich A(dam) W(ilheim) - 35, 502.

CABRAL, Oswaldo Rodnigues - 456.

CABRERA, Angel - 448.

CALLAGE - Ver: CALLAGE, Roque (Oliveira).

CALLAGE, Fernando - 456.

CALLAGE, Roque (Oliveira) 54, 102, 131, 133, 163, 241, 267, 287, 304,
314, 340, 340, 390, 413, 425, 467, 475, 477, 507.

CMARA, Rinaldo (Pereira da) -456.

CAMARGO, N. Pereira - 33, 105, 271, 331,412,483.

CAMEJO, Vaterloo -98, 341,410, 428, 478.

CANABARRO, David - 185.

CANTER, Rita -239, 346, 511.

CANTO, Borges do - 308.

CANTU, Csar - 456.

CAPITO CARAGUAT (Pseud.) Ver: LEIRIA, Vasco Melo.

CARDO BRAVO (Pseud.) Ver: BRITES, Ulisses Paim.

CARDOSO, Corita Costa - 202.

CARDOSO (de Oliveira), Jorge - 78.

CARDOSO NUNES, Rui - 16, 35, 68, 85, 90, 99, 102, 102, 106, 120, 131,
133, 167, 170, 180, 186, 192, 194, 195, 205, 226, 236, 243, 254, 261,
278, 298, 299, 303, 306, 318, 341, 347, 350, 359, 361, 378, 388, 391,
395, 408, 409, 412, 425, 429, 433, 449, 466, 474, 478, 480, 485, 499,
500, 519, 526, 530, 533, 534.

CARDOSO NUNES, Zeno - 25, 48, 81, 89, 120, 130, 179, 183, 189, 199,
205, 230, 236, 240, 247, 256, 268, 274, 276, 298, 305, 316, 334, 339,
341, 343, 346, 362, 366, 377, 379, 396, 405, 419, 427, 432, 466, 479,
499, 503, 507, 526, 531, 533.
CARDOSO, Zeno - Ver: CARDOSO NUNES, Zeno.

CARINGI, Antnio -451.

CARMO,Manoel do - 72, 133, 270.

CARNEIRO, Jos Fernando - 223.

CARRAZZONI, Andr - 478.

CARVALHO, Estevo Leito de - 456.

CARVALHO, Firmino de P(aula) - 147, 180, 299, 300, 389, 468, 497.

CARVALHO, Gilberto - 95, 105, 271.

CARVALHO, Humberto Feliciano de - 144, 318, 341,373,478.

CASSES, tila (Guterres) - 347,433.

CASTILHOS, Jlio (Prates) de - 100, 284.

CASTILLO, Carlinhos - 371.

CASTRO, (Edmar) Pery (Mendes) de - 51,94, 103, 166, 168, 211,388.

CASTRO, Eugnio de - 463, 464.

CASTRO, Ferreira de - 448.

CASTRO, Maria Aparecida Alencar - 357.

CASTRO, Mrio - 397.

CASTRO, Nilza Laydner de - 67,211.

CAVALHEiRO, Hermelindo (Rubin) - 306, 341.

CAVIGLIA, Buenaventura - 212, 221.

CEARENSE, Catulo da Paixo - 259, 346.

CERVANTES, Alejandre Magarios - 267.

CERVANTES SAAVEDRA, Miguel de - 384.

CESAR, Guilhermino - 222, 260.

CHAVES, Antnio Jos Gonalves - 312.

CHAVIS, OVDIO (Moojen) - 235, 237, 333.

CHEUICHE, ALCY (Jos de Vargas) - 66, 138, 209, 452, 509.

CHICO GAUDRIO (Pseud.) - Ver: FIORENZANO, Dias Francisco.

CHIESA, Dirceu A. - 170, 229, 280, 316, 496.

CIBILS, Luiz Alberto - 107.


CLARQUE, Pe. Toms - 453.

CONDE DA FIGUEIRA - 312.

CONI, Emlio -221.

COLLOR, Lindolfo (Leopoldo Boeckel) - 166, 396.

CNEGO GAY - Ver: GAY (Filho), Joo Pedro, Cnego.

CONSTANT, Ubirajara Raffo - 82, 266.

COROMINAS, J. - 212.

CORONEL, Luiz - 38.

CORONEL, Quinca - 387.

CORRA (de Melo), Ceclia - 305, 341, 410.

CORREA, Jos Nelson - 358, 366,413.

CORREA, (Jos) Romaguera (da Cunha) - 14, 24, 37, 128, 212, 239, 241, 258,
284, 306, 337, 340, 394, 431, 476, 481, 495, 512.

CORREA, Lia - Ver: CORRA (de Melo), Cecilia.

CORRA, Manoel Faria - Ver: FARIA CORRA, M(anoel Joaquim).

CORUJA - Ver: CORUJA, Antnio lvares Pereira.

CORUJA, Antnio lvares Pereira - 15, 213, 239,464,465, 484.

CORRA, Pio - 22.

COSTA, Dimas (Noguez) - 16, 23, 28, 47, 53, 64, 66, 187, 227, 263, 294,
394, 411, 422,484,488, 492, 505.

COSTA, Lobo da - 274, 392, 393, 414, 419,489,505.

COUTINHO, Afrnio -464.

COUTINHO, Ismael de Lima - 462.

CUERVO, Rufino Jos - 462.

CUNHA, Jos Antnio Flores da - 78.

CUNHA, Nelly -533.

CUNHA, Snia - 397.

CUNHA, (Thomaz) David F(igueiredo) da - 24.

CURADO, Joaquim Xavier - 312.


D

DAIREAUX, Emilio - 212.

DAISSON, Augusto - 340.

DAMASCENO (Ferreira), Athos - 328.

D'VILA, Fioriano Maya -391.

D'VILA, Miguel Atayde - 426.

DIAS MRCIO (Pseud.) - Ver: VIEIRA,


Tristo Veloso Nunes.

DIEGO, Garcia de - 462.

DIHL, Joo Bosco - 397.

DI PRIMIO, Raul Franco - 119,345.

DOCCA, (Emilio Fernandes de) Souza - 174, 185.

DORNELLES, Sejanes Quirino - 137.

DOURADO, ngelo (Cardoso) -51.

DREYS, Nicolau - 70, 213, 216, 258.

DUARTE, Colmar - 28.

DUARTE, Helena Crespo - 433.

DUBAL, Brasil -361, 417.

DUNCAN, Slvio (Wallace Gomes) - 70.

DUTRA, Joo - 516.

ECHAVARRI, Bernardo Ibaez de - 220, 221.

ECHENIQUE, Oscar da Cunha - 282, 331, 469.

ECHENIQUE, Silvio da Cunha - 117, 188, 300, 327, 330, 340, 413, 418,
438, 448,449,493.

EILERT, Roberto - 115.

ELIA, Slvio - 462.

ELORDUY, Nicols de -221.

ESPALTER, Mrio Falco - 267.


F

FACHINELLI, Nelson - 26, 275, 333, 357, 368,411.

FAGUNDES, Antnio Augusto (da Silva) -28,42, 90, 111, 118, 170, 299.

FAGUNDES, Darcy da Silva - 419.

FAGUNDES, Pedro Muniz - (Pseud. Pedro Canga) - 384.

FARIA CORRA, M(anoel Joaquim) - 37, 51, 76, 138, 158, 172, 224, 357,
360, 379,429,487.

FARIA CORRA, S(lvio) de - 130.

FATTORI, Benito Jos - 14, 36.

FELDE, Alberto Zum - 384.

FERNANDES, Aparcio - 118, 170, 361.

FERNANDES, Barbosa (Nilo) - 313.

FERREIRA, Athos Damasceno - Ver: DAMASCENO (Ferreira), Athos.

FERREIRA, Barcelos - 378.

FERREIRA FILHO, Arthur - 50, 90, 112, 120, 152, 177, 257, 261, 284,
310, 344, 361, 362, 373, 378, 399, 417, 466, 508, 509, 522.

FERREIRA FILHO, Joo Cndido - 169.

FERREIRA, Gevaldino (Rodrigues) - 354.

FERREIRA, Vitor Melo - 357.

FIGUEIREDO, Coronel Jos Marcelino de - 174.

FIORENZANO, Dias Francisco - (Pseud. Chico Gaudrio) - 75, 190, 367, 368,
372, 410, 467, 471, 531, 534.

FLORENZANO, Everton - 78.

FLORES (dos Santos), Perptua - 85, 305.

FLORES, (Francisco) D'vila - 128, 375.

FLORES,Morena -85.

FONSECA, Fernando A. Gay da - 522.

FONTOURA, Joo - 361, 368, 470, 503.

FONTOURA, Joo Neves da - Ver: NeVES (da Fontoura), Joo.

FORNARI, Ernani - 226.

FORTES, (Joo) Borges - Ver: BORGES


FORTES, Joo.

FRANCO, Srgio da Costa - 27, 137, 227, 374.

FREITAS, Afonso A. de - 50,492.

FREITAS, Luiz (Gonzaga) Gomes de - 240,317,484.

FREITAS, Nilda Beatriz Castro de - 325.

GADRET, Jorge Borba - 508.

GALLEGOS, Romulo -448.

GARCIA, Antnio Dantas - 508.

GARCIA, Rodolfo - 221,454.

GARIBALDI, Anita - 166.

GARIBALDI, Giuseppe - 166, 185.

GAVIO, Ciro - 66, 187, 259, 294, 341.

GAY (Filho), Joo Pedro, Cnego - 310.

GHISOLFI, Eunice da Luz - 396, 397.

GIORDANI, Marco Polo - 227,301.

GLIESCH, Rudolf - 22.

GOES, Arajo - Ver: GOES, Francisco Reverbel de Arajo.

GOES, Carlos - 463, 464.

GOES, Francisco Reverbel de Arajo - (Pseud.: Manduca Cipriano) - 20.

GOLIN, Tau - 129, 297.

GOMES, Jainha Pereira -413.

GONZALES, Anita R(amos) - 234,404.

GOULART, Jorge Salis - 385.

GOUVEA, Paulo de - 373.

GOYCOCHA, Castilhos - Ver: GOYCOCHA, Luiz Felipe de Castilhos.

GOYCOCHA, Luiz Felipe de Castilhos - 396,456.

GRANADA, Daniel - 29,40,44,45,50, 129,212,281,492, 522.

GRANATA, Edoardo - 194.


GUGGIANA, Paulo Csar Gutierres - 110, 530.

GUILLN, Helosa Vaesken - 306.

GUTERRES, Eucides - 255.

GUTIRREZ, Eduardo - 502.

HENIS, Padre Tadeu Xavier - 220,457.

HERCLITO (Pseud.) - Ver: SILVA, Joo Mendes da.

HERLEIN, Natlio - 204,258, 296, 331, 342,497.

HERNNDEZ, Jose - 14, 17, 74, 125, 128, 192, 213, 234, 278, 295, 303,
343, 351, 362, 388, 400, 400,410, 424,470,501,530,537.

HESSEL, Lothar (Francisco) - 21, 108, 184, 191, 195,213, 234,248,516.

HOLANDA, Aurlio Buarque de - 137, 267,492.

HOLANDA, B. - Ver: HOLANDA, Aurlio Buarque de.

HUDSON, (Jos Carlos) Ribeiro - 346.

IBARRA, Lus Alberto - 115, 128, 228, 243, 294, 329,412.

IHERING, H. - Ver: IHERING, Herrmann F(riederich) A(lbrecht) von.

IHERING, Herrmann F(riederich) A(lbrecht) von - 506.

IHERING, Rodolfo (Teodoro Gaspar Wilhelm)von -481.

IRALA, Domingo de - 200.

ISABELLE, Arsne - 367.

JAEGER, S. J., P. Luiz Gonzaga - 456.

JACQUES, (Joo) Cezimbra - 34, 67, 70, 87, 139, 217, 248, 267, 292, 325,
326, 371, 376, 382, 429, 461, 463, 464, 477.

JANSEN, Carlos - 222, 288, 355, 424, 486, 489.

JOO DO BREJO (pseud.) - 303.


JOO SEM TERRA (pseud.) - 142.

JOBIM,Jorge - 517.

JLIO, Slvio - 69, 109, 176, 205, 219, 265, 268, 269, 375, 462, 486.

JUSTO, Librio - 214.

JUVENAL, AMARO - (Pseud. de BARCELOS, Ramiro (Fortes de) - 14, 15,


23, 24, 30, 34, 36, 37,42,46, 55, 56, 65, 75, 80, 85, 92, 102, 104, 116,
134, 143, 144, 163, 165, 168, 171, 176, 180, 188, 192, 192, 192, 206,
235, 237, 237, 240, 247, 248, 264, 267, 278, 278, 283, 283, 297, 301,
302, 320, 332, 335, 339, 341, 359, 367, 370, 390, 397, 403, 404, 426,
426, 432, 437, 437, 438, 469, 471, 476, 476, 491, 491, 497, 501, 529,
529.

KINES, Nria Evani Moraes - 397.

KOSERITZ, Carlos von - 222.

KRAEMER (Haesbaert) Neto, Nelson - 15,109,372.

LAF (pseud. de Arajo Filho, Lus). - 397.

LANGUIRU, Nicolau - 457.

LAYTANO, Dante (Arone) de - 60, 176, 290, 367,456,466.

LEAL FILHO, Jos - (Pseud.: Juc Ruivo) - 194, 319,393,433.

LEAL, Isolino - 519.

LEAL, J(os) Machado - 134, 366, 510.

LEGUIZAMON, Martiniano - 212.

LEIRIA, J(oo) O(tvio) Nogueira - Ver: NOGUEIRA LEIRIA, J(oo) O(tvio).

LEIRIA, Vasco Melo (pseud.: Capito Caraguat) - 167, 358,488, 529.

LEITE, Padre Serafim - 454.

LEMES, Honrio - 223, 509,522.

LO TITO (pseud.) - Ver: TIETBOHL, Leopoldo.

LESSA, Barbosa - Ver: LESSA, L(uiz) C(arlos) Barbosa.

LESSA, L(uiz) C(arlos) Barbosa - 55, 61, 71, 93, 139, 157, 223, 303, 403,
502, 505.
LIMA, Afonso Guerreiro - 454.

LIMA, Alceu Amoroso - 223.

LIMA, Alcides - 308.

LIMA, Antnio Pedro Fraso de -310.

LIMA, Edy (da Costa) - 320.


LIMA, Josino dos Santos - 112.

LIMA, Ruy (Masson) Cirne - 263,345.

LINDMANN, C. A. M. - 84.

LISBOA, Ionor-478.

LOPES, Simes - Ver: SIMES LOPES NETO, J(oo).

LOURENO, Antnio (Silveira) - 40.

LUCENA, Hypolito - 147.

LUFT, Celso Pedro - 465.

LUIZ, Padre Pedro - Ver: BOTTARI, Pedro Luiz.

LUSSICH, Antnio D. - 267.

LUZARDO, Batista - 522.

LYNCH, Benito - 267.

MACHADO, Alfredo Costa - 64.

MACHADO, Antnio Carlos - 199, 521.

MACHADO, Antnio Comes Pinheiro - 492, 507, 509.

MACHADO, Dionlio (Tubino) - 96.

MACHADO, Propcio da Silveira - 212, 340.

MACHADO, Serafim - 160,414.

MACIEL, Marina - 260.

MACIEL, Plnio Benjamin - 368.

MAGALHES, Assis Henrique -361.

MAIA, Alcides (de Castilhos) - 18,22,32, 34,36,46,46,47,48,48,48, 51,52,


55, 57, 68, 69, 69, 69, 70, 73, 73, 77, 81, 85, 89,93,94,99,103,107,108,
109, 111, 116, 117, 119, 125, 131, 134, 135, 136, 137, 158, 159, 160,
163, 166, 171, 185, 186, 186, 189, 194, 209, 210, 211, 218, 223, 227,
231, 234, 257, 264, 265, 266, 267, 270, 281, 301, 301, 303, 314, 314,
315, 317, 318, 319, 334, 346, 347, 348, 349, 372, 372, 373, 373, 380,
390, 392, 394, 398, 400, 403, 406, 418, 426, 427, 439, 441, 461,466,
470, 470, 480, 484, 485, 489, 495, 501, 518, 522, 522, 528, 529,536.

MAIA, Joo (Cndido) - 47, 64, 67, 195, 379, 407,460, 516.

MALARET, A. - 233.

MANSILLA, Gen. - 213.

MARAL, Joo Batista - 147,393,396.

MARIANTE, Hlio Moro - 112, 229, 243, 257, 294,303,346,521,532.

MARQUS DO ALEGRETE (D. Lus Telles da Silva Caminha e Menezes) - 312.

MARQUES, Breno Osrio - 230.

MARQUES, Hlio Osrio - 167.

MARQUES, Nara Ana Osrio - 97.

MARQUES, Norberto Osrio - 255.

MARTHA, Agostinho - 501.

MARTINS, Ari (Peixoto) - 61.

MARTINS, Ciro (dos Santos) - 84, 94, 129, 129, 229, 241, 331, 348, 502,
516, 530.

MARTINS, Gaspar da Silveira - 284, 340.

MARTINS, Ivan Pedro de - 72, 123, 129.

MARTINS, Oliveira - 284.

MARTINS, Salgado - 228.

MARTINS, Tadeu - 82, 528.

MASCARELLO, Eugnio V(enncio) - 225.

MASERA, Celeste Maria do Amaral - 505, 519.

MASERON, Gaston Haslocher - 298.

MASI, Haroldo - 38.

MATTOS, Carmen Almeida de Melo - 273.

MATTOS, Geniplo Borges de Moura - 404.

MEDEIROS, (Antnio Augusto) Borges de-36,284,456.

MEDEIROS, F. L. Abreu de - 509.

MELO FRANCO, Afonso Arinos de - 464, 472.


MENDES, Joo - 203.

MENDONA, Renato - 204,493.

MENDOZA, Pedro de - 200.

MENEGAZZI, Jacyr - 96, 136, 150, 230, 347, 374, 436.

MENEZES, Blanca Bender Carpena de - 414.

MENEZES, LUIZ (Alberto de) - 168, 227, 371, 396.

MENEZES, Moiss Silveira de - 282, 534.

MERCIO, Cludio de Toledo - 533.

MERCIO (Pereira), Cleber - 334, 409, 445,478,499,510.

MEYER (Jnior), Augusto - 201, 205, 214, 222, 223, 239, 267, 268, 297,
315, 341, 432, 462, 463, 464, 469, 477, 537.

MIRANDA NETO, (Antnio Garcia de) - 342.

MODESTO DOS PAMPAS (Pseud.) - 530.

MOLAS, Ricardo Rodrigues - 221.

MONTEIRO, (Jnatas da Costa) Rego - 174.

MOLITERNO, Vicente - 394.

MONTOYA, (padre) Antnio Ruiz de - 212.

MOOJEN, Diomrio -481.

MORAES - Ver: MORAES, Luiz Carlos de.

MORAES, Antenor - 530.

MORAES, Guido de Jesus Machado - 304.

MORAES, Jorge - 99.

MORAES, Luiz Carlos de - 15, 22, 25, 27, 33, 69, 98, 122, 127, 138, 166,
185, 210, 242, 252, 258, 258, 267, 340,355,448,515,527.

MORAES, Vitor - 255.

MORETE, Roberto G. - 98.

MOTTA, Edegar - 297, 379.

MOURA, Reynaldo - 27, 111,426.

MULLER, Telmo Lauro -415.


N

NASCIMENTO, Helosa Assumpo - 367, 428.

NEENGUIRU, Nicolau - 309,452.

NEVES (da Fontoura), Joo - 78, 110, 523.

NICHOLS, Madeline Wailis - 319.

NOAL, Irineu - 255.

NOGUEIRA LEIRIA, J(oo) O(tvio) - 14,66, 70, 137,362,400,423,492.

NUNES, Lauro Pereira - 445.

NUNES, Rui Cardoso - Ver: CARDOSO NUNES, Rui.

NUNES, Zeno Cardoso - Ver: CARDOSO NUNES, Zeno.

ODETE, Terezinha - 26.

O'DONNEL, Fernando Otvio Miranda - 343.

OLIVEIRA, Antnio Augusto de - 110, 120,278,414,468.

OLIVEIRA, Cel. A(ntnio) Dias de - 43, 507.

OLIVEIRA,Felipe (Daut)d' - 190,410.

OLIVEIRA, Jorge Cardoso de - Ver: CARDOSO (de Oliveira), Jorge.

OLIVEIRA, Maria Nunes de - 413,474.

ORNELLAS, Manoelito (Guglielmi) de - 77, 115, 118, 138, 192, 200, 20,
271, 342, 345, 375, 394, 435, 451, 457,473, 527.

OSRIO (Filho), Fernando Luiz - 44, 217, 346, 386, 477.

OSRIO, Gen. Manuel Lus -340.

OSRIO, Laci - 88,480, 504.

OSRIO, M(rio) C(arlos) de Bem - 485.

OSRIO Jnior, Roberto - 133, 252, 361.

OSRIO, Toms Lus - 309.

OSORNIO, Mario A. Lopez - 502.

P
PAIS, Brigadeiro Jos da Silva - 174.

PAIXO CRTES, J(oo) C(arlos) - 487,488.

PANCHO, El Viejo -267.

PAREDES, Igncio - 222.

PAUWLS, S. J., P. Geraldo Jos - 456.

PAZ, Horcio (Bagnolas de Figueiredo) 340, 389, 431.

PEANHA, Tnia Maria Moura - 397.

pEDRO CANGA (Pseud.) - Ver: F. GUNDES, Pedro Muniz.

PEIXOTO, FranciSco de Brito - 217.

PEIXOTO, Gabriel - 285, 399.

PENNA, J(os) P(edro) Barcellos - 329

PEREIRA, Capito Joaquim Jos -311.

PEREIRA, Cristvo - 509.

PEREIRA, Gabriel - 224.

PEREIRA, Maneco - 163, 257.

PEREZ,Manoel Cabeda - 151.

PESSANO, Adahyl - 410.

PETERSEN, Jlio - 462.

PETRY, Leopoldo - 456.

PI DO SUL (Pseud.) - Ver: RODRIGUES, F(lix) Contreiras.

PILA, Raul - 78.

PIMENTEL, Airton -474, 519.

PINHEIRO, Olavo Rgio - 107.

PINTO, Alfredo Clemente - 102, 413.

PINTO, Aureliano de Figueiredo - 18, 22, 23, 28, 30, 34, 40,57, 71, 78, 91,
92, 93, 94, 95, 98, 107, 131, 137, 142, 143, 147, 186, 199, 229, 230,
247, 271, 294, 329, 334, 358, 366, 369, 389, 392, 398, 404, 409, 414,
423, 433, 471, 475, 477, 484, 495, 506, 507, 507, 511, 516, 535, 536.

PINTO, Jos de Figueiredo - (pseud.: Zeca Blau) - 51, 58, 62, 85, 93, 145,
148, 156, 156, 186, 190, 204, 252, 254, 261, 276, 293, 305, 307, 328,
334, 343, 365, 387, 389, 415, 420, 422, 426, 431, 474, 480, 497, 502,
505, 526.

PINTO, Plnio de Figueiredo -423.


PINTO, Serpa - 275.

PINTO, Vitorino Soares - 537.

PIRALI, Juan Carlos - 400.

PIRES, Ary (Verssimo) Simes - 350, 419.

PIRES, Paulinho -63.

PORTILHO, Cleuza - 397.

PORTINARI, Cndido -451.

PORTO ALEGRE, Adecarlice Ferreira - 126.

PORTO ALEGRE, lvaro - 157, 187, 359.

PORTOALEGRE, Apolinrio - 36, 70, 92, 202, 317, 388, 390, 424, 518,
528.

PORTO, Aurlio (Afonso) - 84, 166, 176, 185, 199, 212, 214, 217, 229,
308, 309, 347, 418, 445, 446, 451, 453, 494.

PRADO, Maria Dinorah Luz do - 280.

PRATES (da Silva), Homero (Mena Barreto) - 75, 192, 278, 301, 340, 344,
476, 517.

PREMIANI, Beatriz - 106, 220, 227.

PREMIANI, Bruno - 106, 220, 227.

PRIMIO, Raul di - 119.

QUINTANA, Mario (Miranda) - 391.

RABELO, Slvio - 465.

RABUSKE, Arthur, Pe. - 223.

RAIMUNDO, Jaques - 207.

RAMBO, Balduno (Vier), Pe. 456, 461, 530.

RAMIREz, Hugo (Rodrigues) - 54, 80, 81, 104, 114, 236, 255, 292, 299,
306, 307, 340, 362, 382, 410, 419, 424, 468.

RAMOS, Darci - 445.


RAMOS, Onofre Machado - 410,446.

RAYMUNDO, Jaques - 15, 138, 297.

R. C. N. - Ver: Cardoso Nunes, Rui.

REGULES, Elias - 342, 365,479.

REICHARDT, Herbert Canabarro - 456.

REN, Leo - 436.

RETAMOZO, Aldina Corra - 479.

RETAMOZO, Jos Hilrio (Ajalla) - 388, 395, 503, 506, 533.

REVELLO, don Jos Torre - 221.

REVERBEL, Carlos (Macedo) - 224, 232, 285, 427.

REYLES, Carlos - 267.

RIBEIRO, Chico - Ver: RIBEIRO, Francisco.

RIBEIRO, Francisco - 70, 98, 170,237, 366, 366.

RIBEIRO, Manoel Gonalves - 466.

RIBEIRO, Niteri (Taveira) - 28, 389, 418,433,499.

RICARDO, Rojas - 385.

RILLO, Apparcio Silva - 66, 83, 98, 106, 305, 474.

RIPOLL, Lila (Guedes) - 348.

RIVERA, Diogo -451.

RIVERA, Fructuoso - 308.

RIVERA, J. - 448.

ROCHA, Balbino Marques da - 141, 396.

RODRIGUES, F(lix) Contreiras - (Pseud.: Pi do Sul) - 42, 88, 108,


144, 161, 193, 205, 227, 229, 234, 260, 267,273,356,456.

RODRIGUES, Francisco Pereira - 62, 129,428.

RODRIGUES, Jos (Pseud.) - Ver: BARREIRO, Jhamil.

RODRIGUES, Lauro (Pereira) - 92, 187, 243, 293, 305, 347,467,478.

RODRIGUES, Zorob. - Ver: RODRIGUEZ, Zorobabel.

RODRIGUEZ, Yamand - 328.

RODRIGUEZ, Zorobabel - 15, 204, 522.


ROJAS, Ricardo - 385.

ROMAGUERA - Ver: CORRA, (Jos) ROMAGUERA (da Cunha).

ROMERO, Slvio - 222.

ROSA, Otelo (Rodrigues) - 112, 455.

ROSSATO, Heitor - 346.

RUIVO, Juca (pseud.) - Ver: LEAL FILHO, Jos.

RUSCHEL, Nilo (Miranda) - 39.

RUSSOMANO, Mozart Victor - 102, 411.

SAAVEDRA, Hernandarias de - 200.

SAENZ (h), Justo P. - 297, 373, 463, 464,465.

SAINT-HILAIRE, Augusto de - 104, 239, 364,476.

SANHUDO, Ari da Veiga - 445,511.

SANMARTIN, Olyntho - 184,201,254.

SANTANA, Moacir - 138, 224, 333, 371, 384,457, 502, 503, 508.

SANTOS, Francisco das Chagas - 310, 312.

SANTOS, Jos Bernardino dos - 67.

SANTOS, O TROPEIRO (Pseud.) - Ver: BRUM, Lo Santos.

SANTOS Pedroso - 308.

SANTOS, Sandlio (pseud.) - Ver: BERISSO, Niccio Garcia.

SARAIVA, Glauco - Ver: SARAIVA (da Fonseca), Glaucus.

SARAIVA (da Fonseca), Glaucus - 294.

SARAIVA, Fernando T. C. - Ver: SARAIVA, Fernando T(orres) C(ardoso).

SARAIVA, Fernando T(orres) C(ardoso) - 227, 274.

SARMENTO, Domingo F. - 524.

SAUBIDET, Tito - 295, 345, 348, 364, 409, 424, 435, 438, 438, 492, 498,
498, 522, 535.

SAVARIN, Brillat - 44.

SCHNEIDER, Regina Portela -341.


SCHULTZ FILHO, Guilherme - 29, 159, 245, 305, 318, 367, 395, 410, 418,
510, 525.

SEGVIA, L. - 138.

SELVA, Juan B. - 233.

SEPP, Padre Anton - 238.

SEVERO, Eugnio Guerra - 333.

SILVA, Bento Gonalves da - 112, 185.

SILVA, General Valentim Bencio da - 456.

SILVA, Joo Mendes da - (Pseud.: Herclito) - 179, 248.

SILVA, Joo Palma da -419, 436,479.

SILVA, Joo Pinto da - 385, 419, 479.

SILVA, Riograndino da Costa e - 175.

SILVEIRA, Amlcar (Souza) da - 379.

SILVEIRA,Antnio -311.

SILVEIRA, Hemetnio Jos Veloso da - 308, 311, 356, 376, 399, 447, 447,
492, 509, 536.

SILVEIRA, Inrio - 257.

SILVEIRA, Ribas - 137.

SIMES LOPES - Ver: SIMES LOPES NETO, J(oo).

SIMES LOPES NETO, J(oo) - 16, 20, 37, 54, 66, 68, 71, 72, 80, 84, 86, 88,
94, 102, 112, 112, 116, 125, 148, 149, 150, 156, 157, 162, 164, 165,
173, 179, 181, 188, 189, 191, 194, 195, 197, 200, 203, 205, 208, 208,
209, 222, 228, 229, 234, 242, 244, 246, 254, 258, 260, 262, 266, 266,
266, 267, 269, 275, 276, 278, 279, 280, 285, 298, 300, 304, 313, 313,
314, 316, 317, 317, 318, 319, 325, 325, 327, 330, 331, 334, 339, 342,
344, 351, 354, 354, 358, 359, 359, 361, 367, 368, 368, 369, 373, 378,
381, 387, 387, 392, 399, 400, 409, 409, 412, 415, 419, 420, 420, 421,
422, 423, 425, 426, 429, 430, 430, 430, 430, 432, 432, 439, 443, 443,
444, 446, 460, 466, 470, 471, 472, 476, 477, 481, 483, 485, 487, 488,
494, 500, 503, 504, 505, 505, 506, 511, 526, 528, 528, 530, 531, 531,
532, 534.

SIQUEIRA, Elo 392.

SOARES, Gilda de Souza 395, 445.

SOARES, Joo Batista 35.

SOARES, Mozart Pereira 91,105, 305, 392, 395, 447,467.

SOARES, Rubens Dario 115, 271, 423, 519.


SOLANET, Emlio 348, 448.

SOTERO, Raul - 176.

SOUSA, D. Diogo de 175.

SOUSA, Valdomiro (Almeida de) 21, 111,294,335,362,433.

SOUZA, Bernardino Jos de - 343, 471.

SOUZA, Juvenil Cndido de 496.

SPALDING, Walter 72, 123, 232, 274, 365, 377, 379, 428, 456, 496.

STENSEL FILHO, Antnio 299, 487.

STRASSER - 239.

SUSSENBACH, Arthur - 428.

TACQUES, Alzira Freitas Ver: TACQUES, (Maria) Alzira (Castilhos)


Freitas.

TACQUES, (Maria) Alzira (Castilhos) Freitas -483, 519.

TASTEREM, Padre Constantino - 401.

TAUNAY, Affonso de E. - 456.

TAUNAY, Alfredo d'Escragnolle - 352, 367.

TAUNAY, Visconde de - Ver: TAUNAY, Alfredo d'Escragnolle.

TAVEIRA JNIOR, Bernardo - 57, 85, 85, 257, 263, 287, 398, 419, 435,
489, 507, 510, 524.

TEIXEIRA, Mcio (Scoevola Lopes) - 235, 262, 267, 271, 297, 345.

TERRES, Dirceu Pires - 374,480.

TESCHAUER - Ver: TESCHAUER, Carlos, Pe.

TESCHAUER, Carlos, Pe. - 40, 51, 99, 110, 174, 222, 223, 238, 421, 476,
506.

THVENOT - 258.

THOFEHRN, Cecy Cordeiro - 533.

THOMAZ, Ana Luiza Oliveira - 466.

TIARAJU, Sep - 309, 450, 451, 452, 453, 454, 455, 456, 457, 458, 459,
460.

TIETBOHL, Leopoldo - (Pseud.: Lo Tito) - 249, 276, 376.


TIGRE, Juca- 257.

TISCORNIA, D. Eleutrio - 233.

TITO, Lo (Pseud.) - Ver: TIETBOHL, Leopoldo.

TUPINAMB, Odilon - 369.

TOTTA, Raul (Ribeiro) - 346.

VALDES, Fernn Silva - 295,495, 498.

VARELA, Alfredo - 238, 400, 433.

VARGAS, Gen. Serafim - 356,445.

VARGAS, Joo da Cunha - 121, 406, 467,470.

VARGAS NETO - Ver: VARGAS NETO, (Manuel do Nascimento).

VARGAS NETO, (Manuel do Nascimento) - 31, 117, 155, 160, 237, 262,
281,406, 501,504.

VRZEA, Afonso - 474.

VASCONCELOS, Jos Barros - 152, 201,280, 502, 508.

VASCONCELOS, Justino - Ver: VASCONCELOS, Justino (Albuquerque


de).

VASCONCELOS, Justino (Albuquerque de) - 393.

VASCONCELOS, Leite de - 462.

VASCONCELOS, Marco Aurlio - 105.

VEGA, Santos - 502.

VEIGA, Major Joo Marcos Nobre da - 455.

VELLINHO, Moyss (de Moraes) - 219, 309, 381, 455.

VELLOSO, Hemetrio - Ver: SILVEIRA, Hemetrio Veloso da.

VELLOSO, Natrcia da Cunha - 517.

VERGARA, Pedro (Leo Fernandes Espinosa) - 380, 393, 498.

VERISSIMO, rico (Lopes) - 270, 292, 320, 414, 493, 525, 529.

VERTIZ Y SALCEDO, Juan Jos de - 221.

VIANA, Javier de - 267.


VIANA, Jos Joaquim - 450, 451.

VIANNA (Filho), (Joo) Gonalves - 478.

VIANNA (Sudbrack), Carmen - 86.

VIEIRA, Damasceno - 181.

VIEIRA PIRES, (Antnio) - 369, 471, 471, 515, 525.

VIEIRA, Tristo Veloso Nunes - (Pseud. Dias, Mrcio) - 39, 130, 345, 346,
517.

VILLAS-BAS, Lourival Leite - 176, 247.

VILLAS-BAS, Pedro Leite - 61, 62, 75, 246, 284, 517.

VIRGILIO (Publios Vergilius Maro) - 300.

VON IHERING - Ver: IHERING, Rodolfo (Teodoro Gaspar Wilhelm) von.

WANKE,Eno Teodoro - 434.

WIEDERSPAHN, Ten. - Coronel Henrique Oscar - 456.

XAVES,Zeno Dias -397.

XAVIER, Paulo Ver: XAVIER, Paulo (Jaurs Pedroso).

XAVIER, Paulo (Jaurs Pedroso) - 465

ZANINI, Jos Joo -361.

ZCN - Ver: CARDOSO NUNES, Zeno.

ZECA BLAU (Pseud.) - Ver: PINTO, Jos Figueiredo.

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