Diário da #NSCR 2015 – Qual o peso da sua bagagem?

Diário de Raquel Jorge na North Sea Cycle Route, maior ciclorrota do mundo: 7 mil km para pedalar em 4 meses

NSCR 2015 – Diário de Bordo – Qual o peso da sua bagagem?

Por Raquel Jorge

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Se as pessoas tivessem que carregar tudo aquilo que elas possuem, pensariam mil vezes antes de adquirir um novo item. E rapidamente perceberiam o quanto aquele item é desnecessário.

Há mais de três meses que meu mundo se resume na minha bicicleta e 10 kg de tranqueira, onde estão incluídas as câmeras fotográficas e o laptop. E deixa eu contar: tô carregando coisa demais…. tem pelo menos 1 kg que levo por puro capricho. Mas um pouquinho de apego e capricho, pode né? Bobagens que confortam: minha foca de pelúcia, duas meias de inverno (sendo que já esquentou e não preciso mais delas), três regatas (duas seriam suficientes) e pra finalizar, minha nécessaire cheia de coisinhas, tem até fósforo a prova d’água. Para quê eu não sei, mas tá lá.

Hoje decidi passear pela história e pedalei para o interior da Bélgica – Brugge é considerada uma das cidades mais lindas do mundo e é Patrimônio da Humanidade protegida pela UNESCO. Eu já conhecia, mas entrar no centro histórico pedalando tem outro sabor. Mudou muito desde que vim. Esta mais cheia de gente, mais suja, mais consumista. Ainda assim é linda e tem cheiro de chocolate…. belga!

Entre uma Catedral e outra, muitos turistas entrando e saindo das infinitas lojinhas que dão para a rua. Estou tão distante deste mundo – urbano e consumista, dos apelos publicitários, das falsas necessidades – que não me sinto mais parte dele. É como se eu estivesse observando de fora, de outra dimensão, de dentro deste lugar em que me encontro onde nada disso importa. Onde a vontade de possuir, comprar e ter simplesmente não se manifesta.

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Lembro de um livro que li há muitos anos, acho que era de filosofia. Sobre a forma como nos preenchemos. Neste mundo em que tudo é obsoleto, onde nada é feito para durar, entramos em um círculo vicioso de consumir e vivenciar coisas e relações efêmeras, onde o prazer existe mas não dura e logo voltamos a sentir o vazio, retornando assim ao início do ciclo. Sábios são aqueles que entendem isso e se alimentam de conhecimento e de emoções sólidas, que entram e ficam. Dessa forma, onde antes era vazio, aos poucos vai se preenchendo de algo que é verdadeiro e consistente. Algo que jamais perdemos e que só tende a nos deixar mais ricos e paradoxalmente, mais leves.

Viajar é, para mim, a experiência mais enriquecedora que existe, onde você exercita intensamente todos os seus sentidos. E olhando para trás, lembrando de todos os lugares, dos sorrisos, do comportamento das pessoas em diferentes lugares do mundo, dos cheiros, dos sabores, das cores, das belezas e tristezas que presenciei por aí, concluo: minha bagagem é leve, mas tem um mundo inteiro dentro de mim!

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A aventura continua no Kultme
Acompanhe em NSCR 2015, aqui no Kultme, novos vídeos, fotos e relatos da aventura de turismo de bike de Raquel, direto da Rota do Norte.

 

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