Público em busca de vida sustentável faz crescer oferta de produtos a granel

Empórios que vendem alimentos sem embalagem ultrapassam o centro e se espalham por São Paulo

Nana Tucci
São Paulo

Antes limitadas à zona cerealista, no Brás, centro de São Paulo, lojas que vendem castanhas, grãos, temperos, farinhas e cereais a granel se multiplicam agora por outros bairros da cidade.

Esses novos armazéns miram um público que quer se alimentar de maneira mais natural, com produtos sem açúcar ou conservantes, por preços mais baixos que os de supermercados —as mercadorias não têm o custo da embalagem acrescido ao valor. 

“Comprar a granel em pequenos empórios é uma tendência mundial. As pessoas estão cuidando mais da saúde. Para entrar aqui um pré-requisito é que seja saudável. Sem açúcar, lactose e glúten”, diz Leo Moraes, sócio do Armazém do Natural.

Sua primeira loja foi aberta na avenida Francisco Morato, zona oeste de São Paulo, em 2014. No ano seguinte, criou uma unidade na Vila Sônia e, em agosto deste ano, outra em Pinheiros.

Para Leo, as lojas têm deixado os limites do centro da cidade porque os consumidores hoje querem fazer compras sem sair do bairro. 

“Querem passar numa loja que esteja na sua rota. Custa caro a pessoa se deslocar até a zona cerealista. Se você fizer as contas de quanto gasta de transporte e estacionamento, pode não compensar”, diz.

Rodrigo de Castro em sua loja Empório Don Grano, em Pinheiros
Rodrigo de Castro em sua loja Empório Don Grano, em Pinheiros - Patricia Stavis/Folhapress

O empresário Luiz Carlos Romani conta que teve a ideia de montar seu próprio estabelecimento do tipo de tanto que se deslocava para o Brás em busca de produtos. Em 2015, então, abriu o Empório Caju, no Brooklin, zona sul.

Seu carro-chefe são as castanhas —de caju, amêndoa, amendoim— e as frutas secas, como uva passa e damasco. Hoje, Romani, que fez um investimento inicial de R$ 100 mil, afirma que alcança um faturamento mensal de cerca de R$ 50 mil.

Castanhas e frutas desidratadas também são os produtos mais populares do Armazém do Natural, que vende mil itens por quilo. “Aqui a proposta é preço justo”, afirma Leo Moraes. 

Em supermercados, o preço de 100 gramas de castanha-de-caju chega a R$ 19,99. Nas lojas a granel, a mesma quantidade pode ser encontrada por R$ 9,99.

O investimento inicial nesse tipo de empreendimento costuma variar entre R$ 100 mil e R$ 200 mil, incluindo a reforma do espaço e o estoque inicial. O Armazém do Natural aplicou, na abertura da loja, cerca de R$ 200 mil e conseguiu em 18 meses o retorno desse montante.

De 2015 para 2016, cresceu 50% em faturamento. No ano seguinte, cresceu mais 20% e a previsão de Leo é de que esse número seja igualado em 2018.

Inaugurada há um ano, a loja Empório Don Grano, em Pinheiros, apresenta números semelhantes. 

Os donos, Renata e Rodrigo de Castro, contam que conseguiram um retorno de seu investimento de R$ 200 mil em dez meses e que planejam inaugurar no início de 2019 uma nova loja em Perdizes, outro bairro na zona oeste da capital paulista.

Luiz Carlos Romani no Empório Caju, no Brooklin
Luiz Carlos Romani no Empório Caju, no Brooklin - Keiny Andrade/Folhapress

Desde que abriram as portas, registraram crescimento de 65% e projetam uma alta de mais 25% para o ano que vem.

O empório, que vende 1.300 itens, tem seu próprio saquinho de algodão reutilizável, em três tamanhos —com preços entre R$ 5,90 a R$ 9,90—, para que os clientes encham com os produtos. Também doam potes de vidro que estejam disponíveis, para evitar o uso de sacos plásticos. 

Como os consumidores compram apenas a quantidade de que precisam, as lojas atraem também quem quer evitar desperdício —já que as embalagens às vezes contêm mais do que as famílias consomem.

De olho nesse público preocupado em levar um estilo de vida mais sustentável, o Empório La Granola, que abriu as portas em 2016 na Aclimação, zona sul da cidade, vende também produtos já embalados com ingredientes saudáveis —chocolates veganos, kombuchas (bebidas feitas com chá fermentado) e cosméticos naturais.

Em quatro meses de funcionamento do comércio, o dono, Eduardo Brito, conseguiu o retorno do investimento e resolveu se mudar para uma loja três vezes maior. Ele diz que tocar o negócio, porém, não é nada fácil.

“São muitos produtos e muitos fornecedores. Você precisa estar presente o tempo todo.”

Nesse tipo de empreendimento, não se pode fazer muito estoque porque os produtos são perecíveis, e um dos atrativos desses pequenos empórios é justamente oferecer ingredientes frescos.

Instituto Feira Livre, no centro de São Paulo
Instituto Feira Livre, no centro de São Paulo - Gabriel Cabral/Folhapress

Tanto no Armazém do Natural quanto no Empório Don Grano as compras são feitas semanalmente ou, no máximo, mensalmente, para que os produtos não envelheçam.

“O estoque é o maior desafio desse negócio. Temos cem produtos que são parte importante do nosso orçamento e nunca podem faltar. Para os outros, vamos observando quais têm demanda maior em cada unidade da nossa loja”, diz Leo.

O problema é gerenciar um grande número de fornecedores e conseguir um preço bom sem precisar adquirir muita quantidade de um determinado produto —geralmente, consegue-se um preço mais baixo comprando em maior volume. 

A meta do Armazém do Natural para este ano é ter um estoque central que abasteça as lojas diariamente.

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