Me Engana que eu Posto

Notícias falsas e a saúde em risco
        15 de fevereiro, 2021

Se você usa a internet, redes sociais ou aplicativos de conversas com certeza já se deparou com uma notícia falsa. Apesar de não ser novidade, a veiculação de mentiras já é coisa antiga até mesmo na imprensa, a propagação das chamadas fake news cresce a cada dia impulsionada pelas redes sociais e mostra que devemos estar atentos e com olhar mais crítico para consumir comunicação.

O crescimento é motivado pela facilidade de divulgar uma informação na internet, criar sites, perfis falsos etc. É preciso estar atento.

Todo este problema é ainda pior quando essas notícias mentirosas colocam em risco sua saúde. Infelizmente, diversas noticias compartilhadas contribuem negativamente na formação da população, gera confusão e até mesmo alarde sem motivo real. O jornal norte-americano The Independent descobriu que dos vinte artigos mais compartilhados no Facebook em 2016 com a palavra "câncer" no título, a maioria tinha conteúdo questionável; e das três histórias mais difundidas sobre o HPV (vírus que atinge a pele e as mucosas, podendo causar verrugas ou lesões precursoras de câncer) foram posteriormente desmentidas. Outro fator preocupante: 90% das pessoas pesquisadas pelo jornal disseram que confiaram nas informações sobre o tema e pelo menos 60% delas não leram o conteúdo total das notícias antes de compartilhá-las, ou seja, disseminaram a notícia falsa após ler apenas a manchete.

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Uma pesquisa do Laboratório de Comunicação e Saúde da Fundação Oswaldo Cris (Fiocruz) comprova e alerta. Apesar de não mensurar, o estudo mostrou que a vacinação contra a febre amarela foi prejudicada por boatos compartilhados, a maior parte com uma roupagem de informação verdadeira. "Febre amarela é uma farsa criada para vender vacinas", "Médico de Sorocaba diz que vacina paralisa o fígado" e "Própolis espanta o mosquito da febre amarela" são alguns exemplos de matérias mentirosas que ainda hoje circulam pela rede causando confusão e fazendo com que algumas pessoas fiquem em dúvida sobre se vacinar ou não. O mesmo aconteceu na época da vacinação da Influenza H1N1, quando boatos tentavam associar a vacina à epidemia de zika e aos casos de microcefalia.

A disseminação das fake news cresce também porque quando recebemos uma notícia de alguém que conhecemos, como amigos e familiares, é mais fácil acreditar que a informação é verdadeira e a compartilhamos. Ou seja, sem saber a procedência real da informação e sua autenticidade, repassamos aos amigos e familiares o que recebemos. O resultado: a mentira se alastra, mesmo quando a nossa intenção não era essa e sim, na realidade, ajudar de alguma forma.

As pessoas acreditarem neste tipo de notícia tem muito a ver com o sensacionalismo que empregam um artifício no exagero da narrativa com consequente distorção das informações. Com manchetes chamativas, essas notícias falsas se mascaram de jornalismo para gerar cliques e ganho financeiro, por exemplo. Para Marcel Cheida, professor de Ética e  Jornalismo da PUC-Campinas, enfrentamos um "tsunami" de informações, muitas pavorosamente improcedentes, mentirosas e carregadas de maléficas intenções. "O desafio maior é como reduzir a quantidade de informações falsas e também enfrentar os autores dessas mensagens, muitos dos quais vivem nas sombras, clandestinos. Vale destacar, porém, que as fake news extrapolam as redes sociais e afetam sites de notícias e jornais tradicionais", explica. 

Para o médico cooperado Dr. Sérgio Pozzebon, "as notícias falsas na área da saúde geralmente estão relacionadas às doenças de difícil diagnóstico e/ou gravidade, de evolução desfavorável. Notícias de novos métodos de diagnósticos ou cura nunca são divulgados pela internet. Existem caminhos formais e científicos para isso. Nenhum pesquisador sério vai divulgar seu trabalho num ambiente que não seja o estritamente científico". Por esta razão, todos devem estar atentos à procedência da informação, se é um site conhecido, como de jornais e portais de notícias respeitados pela opinião pública, se a notícia traz fundamentação e o mínimo de lógica etc.

Outro aspecto desse novo modelo de consumir comunicação é a busca por informações pela internet, em especial utilizando sites de pesquisas. Se por um lado colabora na formação da sociedade, por outro pode representar um perigo, como nos casos da pessoa buscar informações sobre sintomas e/ou doenças e fazer um "autodiagnóstico" e, pior, partir para uma automedicação.

"Os sites da pesquisa na internet facilitam muito nossa vida, mas é sempre bom lembrar que a informação que encontramos na web foi colocada ali por alguém. Qualquer pessoa pode colocar qualquer coisa na web, podemos ser fontes confiáveis e não confiáveis. Em geral, as pessoas se deparam com informações desencontradas sobre aquilo que procuram, são dispersas e, quase sempre, descrevendo a doença de maneira muito grave. Essa procura é muito frequente em todo o mundo", alerta o médico.

Muitas empresas de comunicação criaram canais para desmentir boatos como o caso da revista Veja e do portal G1. Já que acabar com a prática das mentiras é algo inatingível, porque integra a condição humana, as organizações estão desenvolvendo mecanismos para ao menos reduzir o grau de informações improcedentes. "O que podemos fazer é valorizar cada vez mais os meios de comunicação comprometidos com os fundamentos de um jornalismo responsável, que saiba perceber e atender as expectativas da sociedade. Contudo, a melhor arma contra as fake news é a educação, o aprendizado, a ampliação da leitura de boas fontes, como os livros e bons jornais, e o esforço intelectual em recepcionar criticamente qualquer informação publicada ou difundida nas redes", alerta Cheida.




Veja algumas dicas para te ajudar a não cair nas fake news:

 
  • Confira a fonte da notícia: Foi publicado em jornal, em página oficial? Há muitos sites de humor e páginas especializadas em inventar boatos.
     
  • Leia a notícia completa: Não pare apenas na manchete. Às vezes o título é distorcido só para chamar a atenção. Quando você vai ler, não é nada daquilo.
     
  • Não caia no alarmismo: Fique atento ao tom em que a notícia foi escrita. Notícias em tom alarmista não costumam ser verdade.
     
  • Use o bom senso: Seja um pouco cético em relação ao que lê. A notícia parece bizarra ou absurda? Então há uma boa chance de que não seja verdadeira.
     
  • Confira a data: Veja se não é notícia velha. Algumas notícias são verdadeiras, mas estão desatualizadas.
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Fonte: Senado Federal