Cortes na poluição atmosférica podem salvar 238 mil vidas por ano

por Cristina Sambado - RTP
Kacper Pempel - Reuters

Cerca de 238 mil mortes por poluição atmosférica poderiam ser evitadas todos os anos se os países da União Europeia cumprissem efetivamente as diretrizes da Organização Mundial da Saúde em matéria de poluição atmosférica, segundo dados da Agência Europeia do Ambiente. E mais de 400 mil mortes poderiam ser evitadas se a poluição atmosférica por partículas pudesse ser completamente evitada.

A 20 de fevereiro, o Conselho da União Europeia aprovou nova legislação sobre ar limpo a partir de 2030. Enquanto os países da UE trabalham para atingir estes novos limites legais, um novo estudo estimou os benefícios que poderiam surgir rapidamente com a redução da poluição atmosférica proveniente do tráfego e do aquecimento doméstico.

Segundo o documento do Conselho da União Europeia, “a poluição atmosférica é uma grande preocupação de saúde para os europeus. Em 2020, na União Europeia, 96 por cento da população urbana foi exposta a níveis de partículas finas acima do nível das diretrizes baseadas na saúde definidas pela Organização Mundial da Saúde”.

“Em 2020, a exposição a concentrações de partículas finas acima do nível das diretrizes da Organização Mundial de Saúde de 2021 resultou em 238 mil mortes prematuras na UE-27. A poluição atmosférica também causa morbilidade, fazendo com que as pessoas vivam com doenças – implicando sofrimento pessoal e custos significativos de cuidados de saúde”, acrescenta.

O plano de ação europeu para a poluição zero estabelece como objetivo reduzir o número de mortes prematuras devido à exposição a partículas finas em 55 por cento até 2030, em comparação com 2005. Em 2020, as mortes prematuras atribuídas à exposição a partículas finas diminuíram 45 por cento na UE-27, em comparação com 2005.No entanto, serão necessários mais esforços para cumprir a visão de poluição zero para 2050 de reduzir a poluição atmosférica para níveis que já não sejam considerados prejudiciais à saúde.

Mas os objetivos para 2030 ainda permitem o dobro da poluição que os níveis de referência estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde.

O plano estabelece como meta para 2030 uma redução de 25 por cento da percentagem de ecossistemas afetados pela poluição atmosférica, em comparação com 2005. “Em 2020, os níveis prejudiciais de deposição de azoto nos ecossistemas foram excedidos em 75 por cento da área total do ecossistema no UE-27”. O que representa uma queda de 12 por cento desde 2005.

Os cientistas analisaram 41 países europeus concluíram que uma redução de 20 por cento na poluição do tráfego rodoviário poderia reduzir o excesso de mortes anuais em toda a Europa em cerca de sete mil pessoas por ano, graças à diminuição da poluição por partículas.O novo estudo mostrou também que mais de metade dos benefícios resultariam de menos mortes por ataques cardíacos, acidentes vasculares cerebrais e diabetes de tipo 2, bem como por cancro do pulmão.

A Alemanha está no topo da tabela com potenciais reduções de mais de mil mortes por ano; no Reino Unido e em Itália, seriam mais de 500. Estas estimativas basearam-se em estatísticas sobre poluição atmosférica e saúde de 2015.

Uma redução de 20 por cento na poluição atmosférica causada pelo aquecimento doméstico resultaria em aproximadamente menos 13 mil mortes por ano. A Europa Central e de Leste seria a mais beneficiada, devido à elevada utilização de combustíveis sólidos para aquecimento. A Alemanha, a Itália, a Polónia, a Ucrânia e a Turquia teriam menos mil mortes cada uma e o Reino Unido registaria menos 650 mortes.
Maior ambição produziria melhores resultados
"Das mortes em excesso na Europa atribuídas à exposição prolongada à poluição por partículas, 26 por cento e 12 por cento podem ser evitadas se as emissões da combustão residencial e do transporte rodoviário forem eliminadas, respetivamente. Países como a República Checa, a Bulgária, a Estónia, a Hungria e a Polónia poderão obter maiores benefícios com a eliminação progressiva, uma vez que estes dois sectores contribuem em conjunto para quase 50 por cento da mortalidade causada pela poluição por partículas nestes países", afirmou Niki Paisi, que fez parte da equipa de estudo do Centro de Investigação sobre o Clima e a Atmosfera do Instituto de Chipre, ao jornal britânico The Guardian.

Estes sectores estão no centro das estratégias de emissões líquidas nulas, pelo que há claramente oportunidades de otimizar as nossas políticas em matéria de poluição atmosférica e clima para obter o máximo de benefícios para a saúde.
E as mortes causadas por outras fontes de poluição por partículas?

Publicado em 2023, um estudo do instituto de investigação ISGlobal de Barcelona lança alguma luz sobre esta questão e pode ajudar os governos nacionais e, especialmente, os governos municipais a compreenderem quais os sectores poluentes a que devem dar prioridade.

"As cidades continuam a ser pontos críticos de poluição atmosférica e de mortes prematuras. É necessária uma ação urgente. Isto exige uma abordagem holística que reúna muitos sectores diferentes, incluindo a energia, os transportes, a indústria e a agricultura", explicou Mark Nieuwenhuijsen, do ISGlobal. A equipa de Nieuwenhuijsen produziu uma ferramenta em linha que permite ao público, às autoridades municipais e aos governos consultar a base de dados da investigação e visualizar os danos causados pelas diferentes fontes de poluição na sua área.

No Reino Unido e nos países ribeirinhos do Mar do Norte é surpreendente ver que o transporte marítimo é uma fonte substancial de poluição por partículas.

Em vastas zonas do noroeste da Europa, incluindo grande parte do Reino Unido, dos Países Baixos, da Dinamarca e da Alemanha, a agricultura é uma das maiores fontes de morte prematura devido à poluição por partículas, a par dos transportes e do aquecimento doméstico.
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