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Silvana Nardello Nasihgil

Uma metáfora para repensar a vida

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Silvana Nasihgil

Um dia, junto com alguém, você plantou uma árvore. Empolgados com a sombra que ela daria para se abrigarem, juntos contemplariam as flores, na esperança de se alimentarem dos futuros. Regavam, adubavam, e ela cresceu. Deu flores lindas, frutos maravilhosos, alimentou os bons e maus momentos com os frutos do amor com que fora cultivada.

Um certo dia, já com a árvore crescida e forte, foi necessário que um dos dois se ausentasse. A árvore tão forte e de raízes profundas foi deixada ao cuidado só de um. Confiante na continuidade da vida que se mostrava consistente, equivocadamente foi sentido que não eram mais necessários tantos cuidados, que ela já possuía tudo o que precisava para sobreviver e continuar a dar seus frutos, alimentando com a sua persistência tudo o que o futuro ainda reservaria.

E a árvore continuou lá. Antes regada e adubada com regularidade, foi deixada para continuar sozinha. As regas diminuiram, as podas deixaram de ser feitas, não foi mais adubada e assim acreditou-se que ela sobreviveria. Esquece-se que era um ser vivo e, então, as folhas começaram a cair, amarelar.

Os frutos não eram mais necessários para matar a fome, a sobra também não fazia mais tanto sentido; era necessário um pouco mais de sol, e ela passou a ser só mais uma árvore.

As sombras antes necessárias para acomodar o cansaço deixaram de ser tão importantes. Descobriu-se pelo caminho que existiam milhares de outras árvores que, mesmo sem terem sido cultivadas, poderiam suprir as necessidades. Existiam frutos mais doces, flores mais lindas.

E a árvore que foi construção do amor, que era grata pelo amor e cuidado, sentiu-se abandonada e triste. Pela ordem natural, foi perdendo o viço, a cor, o brilho e foi morrendo. Morria aos poucos na esperança de ser vista, adubada e regada.

E a vida seguiu.

Com o passar do tempo, ela sentiu que não teria mais como sobreviver. A espera estava longa demais e ela não tinha mais forças para expor brotos novos; as flores estavam crescendo desbotadas e os brotos sem viço.

Abandonada e sem razão que a fizesse viver, ela deixou-se levar pelo descaso. Se encolheu e na insignificância a que foi submetida, deixou-se morrer pouco a pouco.

Então, quando já agonizava, sentiu um olhar sobre si. Animada, mas quase sem forças, abriu os olhos, viu que alguém chorava sentado ao seu lado. Chorava e lamentava sobre as árvores que foram cortadas pelo caminho, pelos frutos que não conseguiu saborear, pelas flores que murcharam sem deixar sentir o seu perfume. E a árvore sorriu!

Sorriu e disse: você me plantou, regou, cultivou, podou meus galhos, e eu o tempo todo lhe dei tudo o que eu tinha. Eu continuo aqui, você que perdeu o encanto e foi passear em outros pomares e jardins. Você esqueceu que sou sua e preferiu cultivar o que não lhe pertencia… e completou: se você ainda me quiser, me mostra que a está disposto, me rega de novo, me aduba… e eu renascerei para você.

Por Silvana Nardello Nasihgil. Ela é psicóloga clínica com formação em terapia de casal e familiar (CRP – 08/21393)

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