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PROCESSOS PSICOLÓGICOS BÁSICOS Helio N. Penteado Filho: RA 1558551 São Paulo 1º Semestre/2020 RESUMO O presente trabalho da matéria Processos Psicológico básico traz um breve estudo sobre as definições desses processos psicológicos básicos escolhidos, suas características, normalidades, anormalidades e patologias. Inicia com um histórico antropológico e parte do senso comum de cada subtema, contextualiza-os sob a égide dos estudos das ciências psicológicas e traz uma das várias abordagens sobre patologias, concluindo pela importância desses estudos nas ciências psicológicas . São eles (i) sensaçao, (ii) atençao, (iii) percepção, (iv) consciência, (v) pensamento, (vi) linguagem, (vii) memória, (viii) emoções (ix) motivação. ABSTRACT The present work on the subject Basic Psychological Processes brings a brief study on the definitions of these chosen basic psychological processes, their characteristics, normalities, abnormalities and pathologies. It starts with an anthropological history and part of the common sense of each sub-theme, contextualizes them under the aegis of psychological science studies and brings one of the several approaches on pathologies, concluding by the importance of these studies in the psychological sciences. (i) sensation, (ii) attention, (iii) perception, (iv) consciousness, (v) thought, (vi) language, (vii) memory, (viii) emotions and (ix) motivation, their characteristics, normalities, abnormalities and pathologies. It starts with a history of each sub-theme and contextualizes it under the aegis of psychological science studies. SUMÁRIO 1. SENSAÇÃO Definição Patologias 2. 4 4 5 ATENÇÃO 7 Definição Características 7 8 3. PERCEPÇÃO Definição: 4. CONSCIÊNCIA Definição: 5. PENSAMENTO Definição: 6. LINGUAGEM Definição Características Aprendizagem Patologias da Linguagem 7. MEMÓRIA Definição: Características Fases: Codificação, Armazenamento e recuperação 8. 10 10 12 12 14 14 18 21 22 31 31 32 33 35 Teoria Histórico-Cultura 46 MOTIVAÇÃO Definição: Patologias da motivação 10. 9 EMOÇÕES Inteligência Emocional Patologias das Emoções Psicossomática: PSICO + SOMA 9. 9 RELATO PESSOAL REFERÊNCIAS 47 48 50 50 50 52 54 55 4 1. SENSAÇÃO - Definição Podemos definir Sensação como sendo uma reação física do corpo ao mundo físico, regida pelas leis da física, química, biologia, ou seja, o fenômeno que resulta na ativação das áreas primárias do córtex cerebral. Assim, sensações são as vivência simples, produzidas pela ação de um estímulo externo ou interno ao corpo humano como por exemplo a luz, o calor, o frio, o som entre outras. Em filosofia podemos considerar a sensação como o ponto de partida para a construção da experiência e do saber do conhecer algo, ela não é, no entanto, um dado imediato da consciência: a sensação só se apresenta ao nosso espírito sob uma forma mais complexa - a forma de percepção, ou seja, o estímulo é primeiramente acessado pelos sentidos, pela sensação de algo, depois, nossa mente capta essa sensação, esse dado imediato da experiência e o transforma em conhecimento de algo, na percepção de algo. A sensação, assim, é basicamente uma resposta de um receptor sensorial a estímulos externos, ou seja, é uma resposta fisiológica do organismo, por sua vez a percepção é o julgamento dado pelo sujeito com base nas informações das sensações. É a interpretação por parte do indivíduo do que foi captado pelos sentidos. A sensação é um dos fatores responsáveis pela entrada do mundo externo para o interior do homem. Isso ocorre através do Sistema Sensorial, formado por diferentes áreas do cérebro, esse sistema é encarregado de extrair informações através de diferentes estímulos. 5 A transmissão da informação sensorial ocorre quando um estímulo recebido pelo cérebro é “traduzido” em impulsos neurais, ocorrendo a codificação sensorial. Esta tradução é a transdução responsável por envolver as células específicas que são especializadas e estão localizadas em cada um dos órgãos dos cinco sentidos, ou seja, os receptores. Com a transdução o cérebro é capaz de receber informações de dois tipos: qualitativas, que são responsáveis por detectar as informações mais básicas de um estímulo externo; ou informações quantitativas, que detectam o estímulo de forma mais ampla e intensa. Para responder os estímulos, sejam eles quantitativos ou qualitativos, os receptores agem de modo diferente, já que a captação de informações qualitativas é medida de acordo com a intensidade recebida. A intensidade mínima para que os receptores identifiquem a característica mais marcante, ou seja, a mais básica de um estímulo para que o ser humano possa experienciar uma sensação é chamada de Limiar Absoluto. Há, também, outro tipo de Limiar, o Limiar de Diferença, ou Limiar Relativo, que é o mínimo necessário de mudança para que os receptores detectem uma diferença de intensidade provocada entre estímulos vindos através do exterior do homem. As células nervosas, quando expostas a um determinado estímulo de forma constante, disparam com menos frequência e através disso ocorre uma sensibilidade decrescente ao estímulo que não é alterado, ocorrendo uma adaptação sensorial. Patologias As sensações surgem pela interação de moléculas com os receptores da olfação e gustação. Como os impulsos se propagam para o sistema límbico (bem como para as áreas corticais superiores), certos odores e gostos podem desencadear intensas respostas emocionais ou afluxo de memórias. O olfato e o paladar são sentidos químicos. Os sistemas neurais que intermedeiam estas sensações, os sistemas gustatório e olfatório, estão entre aqueles filogeneticamente mais antigos do encéfalo e ao perceberem substâncias químicas na cavidade oral e nasal trabalham conjuntamente A importância do paladar reside no fato de que ele permite a um 6 indivíduo selecionar substâncias específicas de acordo com os seus desejos e, frequentemente, de acordo com as necessidades metabólicas dos tecidos corpóreos A olfação, mais ainda que a gustação, tem a qualidade afetiva de ser agradável ou desagradável. Por isso, a olfação é, provavelmente, mais importante do que a gustação para a seleção de alimentos. Sabe-se que a gustação é sobretudo uma função dos corpúsculos gustativos da boca, mas é experiência comum que o sentido do olfato contribui fortemente para a percepção do gosto. É imprescindível ressaltar a sua relação com a gustação, pois sem o olfato não sentimos de forma adequada o sabor dos alimentos, perdendo assim o apetite e o prazer com a alimentação Os botões gustativos diminuem com a idade e as papilas gustativas, que atingem seu clímax de desenvolvimento na puberdade, começam a atrofiar na mulher entre 40-45 anos e no homem aos 50 anos Quanto à olfação, o declínio da sensibilidade olfativa com a idade pode ser resultante de degeneração de células centrais e ser independente de modificações periféricas do aparelho olfativo. Porém, a capacidade regenerativa do epitélio olfatório declina com a idade. A qualidade e intensidade da percepção olfatória dependem do estado anatômico e funcional do epitélio nasal e dos sistemas nervosos central e periférico. Rinites e resfriados prolongados podem causar hiposmia e a perda moderada da sensibilidade olfativa. As alterações do olfato e do paladar podem estar relacionadas com deformidades nasosseptais, polipose nasal e congestão nasal crônica decorrente de rinites alérgicas e não-alérgicas. Um dano ao sistema olfatório, como resultado de um traumatismo craniano, ou mesmo, um resfriado comum, o qual impede a condução de moléculas transportadas pelo ar nas cavidades nasais, pode atenuar a percepção do sabor, ainda que as sensações básicas do gosto doce, ácido, salgado e amargo estejam preservadas. O olfato pode ajudar, também, no diagnóstico precoce de algumas doenças neurodegenerativas, como a doença de Parkinson. O resultado indica que o comprometimento do olfato, e, consequentemente, do paladar, é um indicativo importante para o diagnóstico precoce da doença, em uma fase na qual os 7 sintomas motores típicos como tremores, rigidez e lentidão na execução dos movimentos ainda não se manifestaram. Sendo assim, torna-se importante a realização de estudos das alterações do olfato e paladar para detecção precoce, e assim um tratamento mais efetivo, no intuito de retardar a progressão das doenças e possíveis complicações que possam levar a perda olfatória e gustatória e, desta forma, atenuar a severidade dos sintomas. 2. ATENÇÃO Definição A interação do indivíduo com o ambiente se dá por meio da atenção que ele deposita naquele instante vivido, e este mecanismo é um subsídio para a organização dos processos mentais que o ser humano dispõe para sua sobrevivência. Por meio da atenção ocorre um processo de seleção sobre qual estímulo será considerado para guiar nosso comportamento. A atenção é como um filtro que o cérebro possui para selecionar quais os estímulos recebidos pelos órgãos sensoriais devem descartar, e quais devem ser transmitidos para níveis de processamentos mais elevados no sistema nervoso. Sternberg (2008) cita em seu artigo o processo de habituação, que permite desviar sem grandes dificuldades a atenção dos estímulos já conhecidos pelo cérebro e considerados, de certa forma, estáveis. A fim de que a atenção possa ser direcionada a novos estímulos, instáveis. Sem este processo de habituação o cérebro sofreria um grande input de informações. 8 Características Considera-se três funções principais da atenção consciente (Sternberg (2008): 1. Detecção de sinais, onde o cérebro capta todas as informações e identifica o surgimento de um estímulo específico. 2. Atenção seletiva, ocorre quando o cérebro, de forma consciente, seleciona um estímulo a qual manter a atenção em detrimento a outros. 3. Atenção dividida, ocorre quando é possível alocar os recursos de atenção em mais de uma tarefa. A atenção pode ocorrer de forma voluntária, ou seja, permite que a mente foque em um determinado objeto ou ação, ao passo que se “desligue” dos demais estímulos ao redor. e também pode ocorrer de forma involuntária, quando reagimos “instintivamente” a um determinado signo previamente conhecido por nosso cérebro. Possuímos ainda a Atenção Flutuante, desenvolvida por Freud, propõe a não observância de um objeto fixo, e a atenção flutue por diversos estímulos. Para Freud este tipo de atenção refere-se ao estado do psicanalista em uma sessão analítica. Atenção Concentrada, que é caracterizada pela habilidade do cérebro em manter o foco em apenas uma atividade, excluindo os demais estímulos ao redor. Atenção Alternada, ao manter a atenção em dois estímulos. A Atenção Sustentada, que consiste na habilidade de se manter focado durante uma atividade contínua e repetitiva, sem perder o foco para objetos ou situações distratoras. 9 3. PERCEPÇÃO Definição: Percepção pode ser definida como a faculdade de apreender por meio dos sentidos ou da mente. Pode ainda ser entendida como consciência de alguma coisa ou de uma pessoa em relação a outra, sinônimo de impressão ou intuição.A origem da palavra é latina, da palavra Latin perceptio, perceptionem1, percepção , intuição , sensação, imagem, o que acaba por nos confundir os conceitos de percepção e sensação, aqui já definidos que repetimos. Em filosofia podemos considerar a sensação como o ponto de partida para a construção da experiência e do saber do conhecer algo, ela não é, no entanto, um dado imediato da consciência: a sensação só se apresenta ao nosso espírito sob uma forma mais complexa - a forma de percepção, ou seja, o estímulo é primeiramente acessado pelos sentidos, pela sensação de algo, depois, nossa mente capta essa sensação, esse dado imediato da experiência e o transforma em conhecimento de algo, na percepção de algo. A percepção caminha junto com a sensação, já que apenas a sensação não é capaz de prover uma descrição única do mundo, a percepção é a função do cérebro que atribui significados a determinados estímulos sensoriais, ou seja, estímulos externos, a partir de um histórico de experiências já vivenciadas, ou melhor dizendo, a memória. Ela envolve estímulos elétricos ocorridos pelos estímulos nos órgãos dos sentidos que envolve a memória e é através da percepção que o indivíduo vai interpretar e organizar as impressões sensoriais recebidas, ou seja, percepção é conhecer o mundo através dos sentidos. Por isso, a percepção é algo muito singular em cada indivíduo, é a forma que cada um enxerga o mundo. 1 https://en.wiktionary.org/wiki/percep%C3%A7%C3%A3o 10 Podemos relacionar a percepção com as características físicas do estímulo, através da audição (ondas sonoras), visão (ondas de luz), e tato (pressões sobre a pele) e/ou podemos, também, relacionar com as características químicas do estímulo através do olfato e paladar (moléculas líquidas). O processo de percepção começa com a atenção que é como um processo de observação seletiva. Este processo faz com que o indivíduo perceba alguns elementos em maior ou menor intensidade que outros. Deste modo, são diversos os fatores que podem influenciar a atenção. Para isso há duas categorias: a dos fatores externos (próprios do meio ambiente) e a dos fatores internos (próprios do nosso organismo). 4. CONSCIÊNCIA Definição: A consciência é material de discussão desde os primórdios da filosofia, e ainda é algo que continua sendo um dos tópicos mais misteriosos da humanidade. Em essência, “consciência se refere a experiências subjetivas de momento a momento” (Gazzaniga, Heatherton e Halpern, 2018) Conforme a criação de uma ciência psicológica de pensamento autônomo, a Psicologia se distanciou gradualmente da filosofia e do pensamento dualista de Descartes, concordando então que cérebro e mente são inseparáveis. “ Nessa visão, a mente é uma corrente contínua, na qual os pensamentos flutuam” (Gazzaniga, Heatherton e Halpern, 2018) Sendo assim, a consciência está diretamente relacionada ao processo de atenção, e consequentemente a informação. Seguindo uma linha ordenada, a informação é captada através dos 5 sentidos (paladar, tato, olfato, audição e visão), e enviada ao nosso cérebro para ser transduzida em linguagem, mas somente uma certa medida da mesma é percebida, ou passa por uma conscientização, o restante é processado 11 de forma subliminar. O fator determinante da conscientização de uma informação ou não, é dirigido pela atenção seletiva. Segundo os autores “em 1958, o psicólogo Donald Broadbent desenvolveu a teoria do filtro para explicar a natureza seletiva da atenção...Nesse modelo, a atenção atua como um portão que abre para a informação importante e fecha para a informação irrelevante” . O inconsciente também tem papel fundamental no processamento da consciência. “Sir Francis Galton (1879) foi o primeiro a propor a noção de que a atividade mental abaixo do nível de consciência pode influenciar o comportamento” (Gazzaniga, Heatherton e Halpern, 2018) Freud, o “pai da psicanálise”, posteriormente estudou mais afundo o objeto do inconsciente e suas interferências na consciência. Um exemplo de tal interferência é o ato falho, situação onde um pensamento é falado de forma espontânea em um ambiente inadequado para tal. Ainda mais , Freud se interessou pela consciência onírica, ou seja, o estudo de que a consciência não está limitada ao estado de alerta e como os sonhos podem ser de grande valia no estudo de processos inconscientes que, nas visões psicanalíticas, têm preponderância perante os processos que acontecem na consciência. C.G. Jung aprofunda ainda mais na temática do inconsciente e suas interferências na consciência, o dividindo em duas partes, sendo a mesma de forma hierárquica de acordo com sua precedência. O que é considerado inconsciente para Freud, representa uma pequena porção do que Jung chama de Inconsciente Pessoal. E mais afundo ainda, há o Inconsciente Coletivo, que compõe as bases instintivas e arquetípicas da humanidade. Ambas porções do inconsciente podem tomar a frente no processo de consciência através da ação complexual. Nos dias de hoje, a neurociência cognitiva considera o cérebro a partir de hemisférios, direito e esquerdo. Tal divisão não ocorre para compartimentalização de estudo, e sim porque cada hemisfério funciona de forma diferente. O “cérebro esquerdo” está relacionado a consciência, e o “cérebro direito” com processos mais intuitivos. “ A percepção, a memória, o pensamento, a linguagem e as atitudes, todos operam em dois níveis uma “estrada principal” consciente, deliberada, e uma “via subterrânea” inconsciente, 12 automática. Os pesquisadores atuais dão a isso o nome processamento dual” (Myers, 2004) Ken Wilber amplifica o estudo da consciência debatendo que diferentes escolas da psicologia levaram somente em conta um dos fatores da consciência. O filósofo defende que a consciência é multifacetada e que para haver uma melhor compreensão desse fenômeno que até então continua mais desconhecido do que o contrário, é necessário levar em conta todas as perspectivas para a criação de uma visão integral2. 5. PENSAMENTO Definição: O estudo do pensamento é dirigido pela psicologia cognitiva. Seu objeto principal de estudo é a cognição. “A cognição pode ser amplamente definida como a atividade mental que inclui o raciocínio e os entendimentos que resultam do raciocínio” (Gazzaniga, Heatherton e Halpern, 2018). Há duas ideias centrais no estudo do raciocínio. Uma de que “o conhecimento sobre o mundo é armazenado no cérebro em representações” e a segunda de que “o raciocínio é a manipulação mental dessas representações” (Gazzaniga, Heatherton e Halpern, 2018) O raciocínio é um processo que envolve a transformação de informação captada através dos 5 sentidos em uma representação mental. Essa representação mental é uma linguagem que, ao decorrer de milhares de anos de evolução fora desenvolvida 2 WILBER, Ken. Psicología integral. Editora Cultrix, 2007. 13 e aprimorada pelo cérebro humano. “No raciocínio, usamos dois tipos básicos de representações mentais: analógicas e simbólicas. Juntos, os dois tipos de representações formam a base do pensamento, inteligência e capacidade humana de resolver os complexos problemas da vida cotidiana” (Gazzaniga, Heatherton e Halpern, 2018) A analogia é um mecanismo do qual nosso cérebro se utiliza de seu pensamento lógico para compreendê-la, criando um sistema visual de comparação similar a regra de três na matemática, onde um sistema representacional (imagem) está para algo, assim como este algo está para esta imagem. A partir desta comparação é possível dar forma psíquica à um objeto antes desconhecido, assim como comparar algo e observar suas diferenças. Outra forma de representação é a simbólica. Esse mecanismo está mais relacionado ao “cérebro direito”, ou também conhecido como intuitivo. A representação simbólica é um processo abstrato, onde símbolos, quaisquer sejam eles, detém um significado. Um exemplo deste tipo de representação mental são os números. Os números expressam quantidades, mas podem também representar qualidades, demonstrar relações, imaginar coisas que não existem como a antipartícula ou números imaginários (i). A partir desses dois processos básicos, o ser humano é capaz de aumentar a complexidade da construção mental. Representações simbólicas se tornam, o que em nossa linguagem diária é conhecido como conceito. Com agrupamentos de conceitos é possível criar esquemas. Contextuando com um exemplo, o calendário é um esquema, onde vários conceitos de tempo (dias, meses e anos) são agrupados de uma forma específica determinada a partir de premissas naturais (natureza) e do objetivo humano para qual aquele objeto fora criado, no caso, organização do tempo. Para aumentar ainda mais a complexidade da construção de pensamento, é possível criar mapas mentais, que se utilizam de representações analógicas e mentais concomitantemente. Continuando com o exemplo do calendário, é possível criar um mapa mental de representação dos compromissos da semana, relacionando a imagem mental de um determinado compromisso em um determinado dia com a vivência experiencial daquele compromisso. 14 Apesar de ambas representações estarem se referindo a mesma coisa, a coisa por si só não é a mesma em ambas representações, pois uma tem ligação com o mundo objetivo externo e a outra com o mundo subjetivo interno. A partir destes dois processos básicos, aos olhos externos, simples, em realidade que possibilitam o ser humano a organizar, comparar, interpretar, relacionar e analisar informações. Tudo isso acontece em uma fração de segundos, de forma quase imperceptível. E tudo isso culmina na habilidade de tomada de decisão. A tomada de decisão, em essência é uma escolha. E o que possibilita o Ser Humano diferenciar-se de qualquer outro organismo vivo no planeta de forma específica é a tomada de decisão consciente. Exatamente por termos um órgão tão complexo como o cérebro que nos possibilita criar representações mentais complexas, temos a escolha de direcionar nossa capacidade para a resolução de problemas. E isso possibilitou o avanço acelerado de nossa evolução. 6. LINGUAGEM Definição A linguagem fornece ao sujeito a possibilidade de expressar o pensamento. A linguagem dá forma ao conteúdo do pensamento, não se concebendo um sujeito com sem a forma linguística. Assim, pensamento e linguagem são mutuamente indispensáveis, já que o pensamento se materializa na linguagem e esta, por sua vez, tem a função de significação. Linguagem, palavra cuja origem é o portugues galaico 15 antigo “language”, expressão emprestada do Antigo Provençal ibérico, “lenguatge” e do latim vulgar “linguāticum” do latim clássico “língua”3. A linguagem é mesmo o meio que permite a dois seres se comunicarem. Os códigos de linguagens podem ser gestuais, orais ou gráficos entre outros. e talvez a mais sofisticada estrutura de códigos de linguagem é a escrita, reproduzida a partir de códigos e regras sintática e gramaticais, por meio da qual é possível comunicar raciocínios complexos e razões. Compreender o processo de aquisição da linguagem sempre foi um tema interessante na humanidade na mesma medida que um desafio científico. Nas crianças por exemplo, objetos eficazes de entendimento e pesquisa sobre aquisição da forma de comunicação do estado de balbucios para o de sujeitofalante. A palavra “linguagem”, formada por signos (letras) que dispostas nesse sentido e forma, de acordo com uma prévia concordância de sentido e significado, pode ser definida, em nossa “língua”, como um substantivo, do gênero linguístico feminino, que expressa e define a capacidade e a faculdade que têm as pessoas de se comunicar umas com as outras, exprimindo pensamentos e sentimentos por palavras, que podem ser escritas, quando necessário. E linguagem pode ser entendida também como a maneira de falar, relativamente às expressões ou aos estilos como uma linguagem clara ou obscura. Outra acepção pode ser, também, de voz, grito, canto dos animais como a linguagem dos papagaios, dos golfinhos. Pode ainda ser o modo de se exprimir por meio de símbolos, formas artísticas como a linguagem do cinema. Em linguística, no estudo das formas de representação e comunicação é um sistema, organizado, através do qual é possível se comunicar por meio de sons, gestos, signos e símbolos convencionais em determinado local e sociedade que os tenha convencionados, e língua pode ser entendida como “[...] uma estrutura constituída por uma rede de elementos,em que cada elemento tem um valor funcional determinado”4. Assim se desenvolve a teoria Saussure - o estruturalismo. É então um sistema de 3 4 https://pt.wiktionary.org/wiki/dici Fiorin, Jose Luis. Introdução à linguística. 3a ed.- São paulo: ed Contexto, 2004, pg 14. 16 símbolos que permite a representação de uma informação, com o código de linguagem de programação, ou o código e expressões da linguagem de teatro, do cinema das cortes jurídicas. Podemos usa o termo linguagem, enfim, como a capacidade natural da espécie humana para se comunicar por meio de uma língua, e mesmo o modo particular de se comunicar usada por um grupo específico, jargões, gírias e a linguagem de rua. Para Flusser5 a comunicação humana é um processo artificial6 uma vez que se baseia em artifícios, descobertas, ferramentas criadas e elaboradas pelo próprio homem, assim como instrumentos específicos, A esses instrumentos ele chama de símbolos, que são organizados em um código que em acordo com outros seres humanos,compõem um sistema de linguagem e comunicação. entende o autor que a teoria da comunicação não é uma ciência natural, e sim uma ciência humana, uma ciência do espírito, deduzindo assim que o homem é um animal não natural e recorre ao tema grego do zoon politikon, ou seja um animal político, um animal de polis um animal social. Talvez não seja aqui o local, mas não podemos deixar de trazer a opção de sair dos limites do signo e dos símbolos, além até mesmo do triângulo de Pierce, e ir até análise discursiva para entender a real dimensão da linguagem, e, em especial, do problema da referência, em uma acepção bem mais ampla como trazido por Inês Lacerda em sua obra7 pg 15. Talvez em outro momento mais adequado. Entendemos aqui que a práxis, ou atividade humana, é um processo de objetivação e subjetivação que se dá a partir da linguagem e do seu desenvolvimento e vemos linguagem não so como forma e conteúdo de consituiçao dessa sujbjetivaçao mas também como mediação entre o ser e o entorno, o social, tribo, grupo ou sociedade. O homem, como ser social, representa uma complexidade que se 5 Vilém Flusser foi um filósofo Checo-brasileiro. Autodidata, durante a Segunda Guerra, fugindo do nazismo, mudou-se para o Brasil, estabelecendo-se em São Paulo, onde atuou por cerca de 20 anos como professor de filosofia, jornalista, conferencista e escritor. Suas obras foram traduzidas para diversos idiomas. 6 FLUSSER, Vilem. O mundo Codificado: por uma filosofia do design e da comunicação, org.Rafael Cardoso. Trad. Raquel Abi-Samara - São paulo: Ubu ed., 2017. 7 17 expressa, por exemplo, na maneira como as demandas da dimensão corporal e orgânica são solucionadas e ou enfrentadas: sexo, fome, sede, sono, estimulação. Elas são respondidas ou solucionadas por meio de ritos sociais, regras e maneiras de agir, não se configuram da mesma maneira como para outros seres vivos, para os quais se dá pela dinâmica da genética e das condições ambientais e naturais (leis da natureza). Ou seja, a atividade humana é eminentemente social e histórica acontece pela linguagem, pela memória, pela imaginação e pelos processos psicológicos básicos. Todo estudo do desenvolvimento é datado, está inserido numa hermenêutica de interpretações a partir do espaço e do tempo em que o interpretante pesquisador na sua possibilidade-diversidade, tanto espacial e cultural como histórica, estuda o objeto. Assim as singularidades do sujeito-falante que emerge desse processo de aprendizado da linguagem acontece desde sempre, todavia só pode ser analisado dentro das possibilidades de análise do observador. Ou Seja, A maneira pela qual as pessoas falam do mundo está relacionada com a maneira pela qual o mundo é compreendido e, em última análise, como essas pessoas atuam nele, e o conceito de mudança revolucionária depende, em grande parte, da maneira pela qual o mundo é estruturado pela linguagem. Mas será que esse pressuposto de conhecimento adquirido implica necessariamente em desenvolvimento, na relação causal simples e direta? essa é uma das questões acerca da linguagem. Falar em processo de subjetivação , aqui, a partir desses questionamentos, significa colocar a anterioridade lógica e teleológica da linguagem relativamente a um corpo pulsional que é capturado , sequestrado, pela própria linguagem. Dessa forma e nesse sentido talvez precisemos pensar e re aprender sobre a aquisição da linguagem enquanto campo sistemico e especializado de pesquisa, que nasce em grupo de psicólogos norte americanos nas teorias da linguagem propostas por Noam Chomsky entre 1957 e 1965, teoria esta que o leva a formular o que chamou de problema Lógico da aquisição da linguagem a saber, que as propriedades das línguas naturais dos povos sociais são tais que a sua aquisição não é possível de ser explicada por teorias de aprendizagem baseadas na percepção e na generalização indutiva. [A Teoria de Inferência Indutiva Universal de Solomonoff é uma teoria de predição baseada em observações lógicas, assim como predizendo o próximo símbolo baseada numa dada 18 série de símbolos. A única suposição é de que o ambiente segue alguma distribuição probabilística desconhecida mas computável] Características Esta atividade humana possui três aspectos fundamentais: ser orientada por um objetivo, fazer uso dos instrumentos de mediação e produzir algo que podemos caracterizar como elemento da cultura - seja por sua existência física, ou por sua existência simbólica - e que consiste na objetivação do ser humano. Essas três dimensões da atividade humana não seriam possíveis sem a articulação dialética com a categoria consciência. Atividade e consciência são processos recursivos. Os signos são produto da ação do próprio ser humano no processo de produção de sua vida material, decorrendo, portanto, da história da humanidade, e são instrumentos que a consciência se utiliza para operar: uma vez apropriados ou subjetivados, caracterizam o psiquismo humano como sígnico e, em consequência, inexoravelmente social e pessoal, individual no seu entendimento como único e plural nos relacionamentos com os outros serem humanos. Assim a linguagem é um dos grandes mediadores que possibilita o acesso aos processos intersubjetivos e intrasubjetivos dos indivíduos, o acesso ao dito “mundo interno”, também será o instrumento metodológico precioso para obtenção de dados numa pesquisa: as mais variadas possibilidades de produçāo de discursos, que nos permitirão acesso aos sentidos e significados que a situaçāo estudada contém. Mesmo no ambiente inconsciente, é algum tipo de linguagem codificada nesse ambiente que se traduz de alguma forma e se expressa por algum meio no consciente. É possível estudar a aquisição de subsistemas gramaticais da língua, tais como o fonológico, o morfológico, o sintático, o lexical ou o semântico, a partir de uma concepção formal da linguagem. É comum dividir o estágio inicial da aquisição de 19 linguagem em duas fases: pré-linguística e linguística, há autores que afirmam que os balbucios sinalizam o começo da habilidade de comunicação linguística da criança. Nesse estágio, os sons oferecem o repertório no qual a criança irá identificar os fonemas da sua língua. Aquisiçao aqui pode ser formas de acepções, conhecimento e introjeções através da acomodação e da assimilação que são os conceitos básicos dos fundamentos gerais da concepção de Jean Piaget1 (piagetiana) do desenvolvimento. O conhecimento é um processo e não um acumular de informação, é uma reorganização progressiva e uma construção individual. Uma criança com as suas capacidades precoces começa a conhecer o seu mundo (através dos esquemas iniciais) pelos sentidos. A assimilação e a acomodação são os instrumentos do conhecimento, ou seja, as estruturas da inteligência que permitem a organização progressiva do conhecimento. Para Piaget, há adaptação enquanto processo quando o organismo se transforma em função do meio e quando esta transformação tem por efeito um acréscimo das trocas entre ambos, favoráveis ao organismo. Para explicar este processo de trocas entre organismo e meio, que no fundo é a adaptação, Piaget utiliza vários conceitos que estão diretamente associados com a biologia, como por exemplo o de invariantes funcionais. Estas invariantes funcionais são os processos responsáveis pelos mecanismos dessas trocas entre organismo e meio, ou melhor, pelo funcionamento e gestão entre organismo. Portanto assimilação consiste em integrar os objetos em estruturas prévias, isto é, a incorporação da informação no próprio sujeito e …como exemplo nas crianças, podemos citar o ato de agarrar coisas, onde existe um esquema inicial de preensão (agarrar), mas o indivíduo não agarra todos os objetos da mesma forma, pois estaria sujeito a que alguns caíssem. A linguagem então pode ser concebida no contexto da interação social, não simplesmente como meio de transmissão de informação, mas sim como projeção das próprias pessoas, veículo de trocas, de relações, como meio de representação e comunicação. Neste sentido, a linguagem possui uma dinâmica, que implica a participação do outro, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo infantil. A linguagem é por um lado, um meio de interação, de relação e de construção do conhecimento; e, por outro lado, algo que a criança precisa conhecer e dominar: linguagem como meio e objetivo do conhecimento ao mesmo tempo 20 A aquisição da linguagem amplia noções de tempo, espaço, capacidade de raciocínio, planejamento e avaliação de ações realizadas, assim o “ambiente linguístico” em sua formas de aquisição na criança é considerado como aspecto de muita importância na aquisição da linguagem. Para a visão cognitivista, por exemplo na teoria de piagetiana8 de aquisição da linguagem ressalta que todo ser humano passa a desenvolver suas habilidades a partir da interação com o meio e com o outro, e o ambiente é o principal impulso para desenvolver o conhecimento da criança. Segundo a Teoria de Piaget o pensamento aparece antes da linguagem, que apenas é uma das suas formas de expressão, ou seja, para o autor, não se pode ensinar apenas usando palavras, para classificar, categorizar, seriar, ou mesmo pensar com responsabilidade. Já para Vygotsky9, pensamento e linguagem são processos interdependentes, desde o início da vida. o crescimento cognitivo da criança se dá por assimilação e acomodação. O indivíduo constrói esquemas de assimilação mentais para abordar a realidade. Piaget entende que é através das acomodações (que, por sua vez, levam à construção de novos esquemas de assimilação) que se dá o desenvolvimento cognitivo, em sua teoria Jean Piaget buscou compreender a gênese do conhecimento e postula que o desenvolvimento consiste no avanço de formas inferiores do desenvolvimento, para forma mais complexas. O autor desenvolveu o conceito de estrutura cognitiva que é central para sua teoria. Estruturas cognitivas são padrões de ação física e mental subjacentes a atos específicos de inteligência e correspondem a estágios do desenvolvimento infantil.Com o conceito de equilibração, Piaget demonstrou que a Inteligência deve ser confrontada para evoluir. Conseguir o equilíbrio, atingir uma posição estável após superar dificuldades e sobressaltos e defende que esse processo também ocorre com a inteligência. 8 Jean William Fritz Piaget (Neuchâtel, 9 de agosto de 1896 - Genebra, 16 de setembro de 1980) foi um biólogo, psicólogo e epistemólogo suíço, considerado um dos mais importantes pensadores do século XX. Defendeu uma abordagem interdisciplinar para a investigação epistemológica[nota 1] e fundou a Epistemologia Genética, teoria do conhecimento com base no estudo da gênese psicológica do pensamento humano. 9 Semionovitch Vigotski (em russo Лев Семёнович Выготский, transliteração: Lev Semyonovich Vygotskij, sendo o sobrenome também transliterado como Vigotski, Vygotski ou Vygotsky; Orsha, 17 de novembro de 1896 — Moscou, 11 de junho de 1934),[1] foi um psicólogo, proponente da psicologia cultural-histórica 21 Aprendizagem Afirmando assim que a aprendizagem acontece através do que ela aprecia ao seu redor. Já A teoria da linguagem de Chomsky, tal como inicialmente postulada em “Syntactic Structures” obra de 1959, foi chamada de Teoria Transformacional e sofreu grandes alterações nos anos subsequentes, mas inicialmente é uma teoria da gramática gerativa ou generativa, melhor explicando - trata do aspecto criativo da faculdade da linguagem e aborda os processos de transformação pelos quais passa o sintagma10. A gramática transformacional é um tipo particular de gramática generativa, noção introduzida na linguística na década de 1950 pelo linguista, que renovou completamente a investigação nesta área do conhecimento. É possível conceber tipos diferentes de gramática ge(ne)rativa, e o próprio Chomsky definiu e discutiu vários tipos diferentes em seus primeiros trabalhos. Mas, desde o início, ele próprio defendeu um tipo particular, ao qual deu o nome de gramática transformacional ou GT; a gramática transformacional foi chamada às vezes gramática gerativa transformacional, ou “GGT”. A linguagem é considerada a primeira forma de socialização da criança, e, na maioria das vezes, é efetuada explicitamente pelos pais através de instruções verbais durante atividades diárias, assim como através de histórias que expressam valores culturais. A socialização através da linguagem pode ocorrer também de forma implícita, por meio de participação em interações verbais que têm marcações sutis de papéis e status, dessa forma, através da linguagem a criança tem acesso, antes mesmo de aprender a falar, a valores, crenças e regras, adquirindo os conhecimentos de sua cultura. À medida que a criança se desenvolve, seu sistema sensorial incluindo a visão e audição - se torna mais refinado e ela alcança um nível lingüístico 10 Sintagma (do grego σύνταγμα, transl. syntagma: "composto" ou "constituição"), em linguística, refere-se a um grupo de elementos linguísticos contíguos em um enunciado, ou seja, é uma unidade sintática composta de um ou mais vocábulos que formam orações. Na língua portuguesa, existem sintagmas nominais, verbais, adjetivais, adverbiais e preposicionais, de acordo com o núcleo do sintagma. O sintagma tem o paradigma como oposto. 22 e cognitivo mais elevado, enquanto seu campo de socialização se estende, principalmente quando ela entra para a escola e tem maior oportunidade de interagir. Os estudos sobre a influência dos fatores sociais na aquisição da linguagem tiveram grande impulso com as críticas às considerações de Chomsky de que havia uma “pobreza dos estímulos” e, portanto, a criança não poderia adquirir a linguagem a partir do meio social. Autores da perspectiva da Interação Social no estudo da linguagem desafiam a posição chomskiana, e evidenciam a importância da interação social para a aquisição da linguagem, especialmente as relações da criança com a mãe. Essas relações representam um sistema dinâmico, segundo o qual ambos contribuem com suas experiências e conhecimentos para o curso da interação. A linguagem é entendida, nesta perspectiva, enquanto comunicação, e portanto é anterior ao surgimento das palavras. Neste trabalho, pretende-se apresentar as explicações desta perspectiva teórica sobre o processo de aquisição da linguagem infantil. Serão discutidos os efeitos da fala materna e sua influência na aquisição da linguagem por parte da criança, assim como os diferentes estilos de input lingüístico, considerando também a importância das características da criança na interação. Patologias da Linguagem Grande parte das queixas relatadas na clínica pediátrica, neurológica, neuropsicológica e fonoaudiológica infantil refere-se a alterações no processo de aprendizagem e/ou atraso na aquisição da linguagem. As dificuldades de linguagem referem-se a alterações no processo de desenvolvimento da expressão e recepção verbal e/ou escrita[1]; A linguagem é um exemplo de função cortical superior, e seu desenvolvimento se sustenta, por um lado, em uma estrutura anatomofuncional geneticamente determinada e, por outro, em um estímulo verbal que depende do ambiente. A linguagem Serve de veículo para a comunicação, ou seja, constitui um instrumento social usado em interações visando à comunicação. Desta forma, deve ser considerada mais como uma força dinâmica ou processo do que como um produto. Pode ser definida como um sistema convencional de símbolos arbitrários que 23 são combinados de modo sistemático e orientado para armazenar e trocar informações. Muito antes de começar a falar, a criança está habilitada a usar o olhar, a expressão facial e o gesto para comunicarse com os outros. Tem também capacidade para discriminar precocemente os sons da fala. A aprendizagem do código lingüístico se baseia no conhecimento adquirido em relação a objetos, ações, locais, propriedades, etc. Resulta da interação complexa entre as capacidades biológicas inatas e a estimulação ambiental e evolui de acordo com a progressão do desenvolvimento neuropsicomotor11. No desenvolvimento da linguagem, duas fases distintas podem ser reconhecidas: a pré-lingüística, em que são vocalizados apenas fonemas (sem palavras) e que persiste até aos 11-12 meses; e, logo a seguir, a fase lingüística, quando a criança começa a falar palavras isoladas com compreensão. Posteriormente, a criança progride na escalada de complexidade da expressão. Este processo é contínuo e ocorre de forma ordenada e seqüencial, com sobreposição considerável entre as diferentes etapas deste desenvolvimento[2]. O processo de aquisição da linguagem envolve o desenvolvimento de quatro sistemas interdependentes: o pragmático, que se refere ao uso comunicativo da linguagem num contexto social; o fonológico, envolvendo a percepção e a produção de sons para formar palavras; o semântico, respeitando as palavras e seu significado; e o gramatical, compreendendo as regras sintáticas e morfológicas para combinar palavras em frases compreensíveis. Os sistemas fonológico e gramatical conferem à linguagem a sua forma, assim a fala caracteriza-se habitualmente quanto à articulação, ressonância, voz, fluência/ritmo e prosódia. As alterações da linguagem situam-se entre os mais frequentes problemas do desenvolvimento, atingindo 3 a 15% das crianças, e podem ser classificadas em atraso, dissociação e desvio. Podemos rascunhar uma classificação das alterações da linguagem, a saber: 11 http://plenamente.com.br/artigo.php?FhIdArtigo=197: SOBRE TARNSTORNOS DA LIBGUAGEM, aessado em 21 de outubro de 2020. 24 a. Atraso de linguagem: A progressão na linguagem processa-se na seqüência correta, mas em ritmo mais lento, sendo o desempenho semelhante ao de uma criança de idade inferior. b. Dissociação na linguagem quando existe uma diferença significativa entre a evolução da linguagem e das outras áreas do desenvolvimento. c. Desvio de linguagem, quando o padrão de desenvolvimento é mais alterado: verifica-se uma aquisição qualitativamente anômala da linguagem. É um achado comum nas perturbações da comunicação do espectro do autismo. A etiologia (ramo do conhecimento cujo objeto é a pesquisa e a determinação das causas e origens de um determinado fenômeno) das dificuldades de linguagem e aprendizagem é diversa[3] e pode envolver fatores orgânicos, intelectuais/cognitivos e emocionais (estrutura familiar relacional), ocorrendo, na maioria das vezes, uma inter-relação entre todos esses fatores. Sabe-se que as dificuldades de aprendizagem também podem ocorrer em concomitância com outras condições desfavoráveis (retardo mental, distúrbio emocional, problemas sensório-motores) ou, ainda, ser acentuadas por influências externas, como, por exemplo, diferenças culturais, instrução insuficiente ou inapropriada. O Transtorno do Desenvolvimento da Linguagem ocorre quando uma criança ou adulto tem dificuldades em produzir, compreender e reproduzir a linguagem, sem que haja uma causa evidente. O denominado Distúrbio Específico de Linguagem (DEL) é uma dificuldade característica persistente para adquirir e desenvolver a fala e a linguagem. Aparentemente a criança possui todas as condições para falar, mas ela não consegue ou apresenta muita dificuldade neste processo e são perturbações intermitentes na emissão das palavras, sem que existam alterações dos órgãos da expressão. Neste grupo de transtornos da linguagem o distúrbio mais importante é a tartamudez, também conhecida como gagueira. 25 O termo Atraso de Linguagem é utilizado quando a aquisição do processo de linguagem se faz de forma típica, embora mais tarde do que a idade habitual para cada etapa, todavia podem ocorrer também doenças típicas que provocam alterações na região do cérebro denominada gânglios da base, cujos Os principais constituintes são: corpo estriado (núcleo caudado e putâmen), globo pálido, núcleo subtalâmico e substância negra. Pode ocorrer em doenças que provocam alterações na região do cérebro chamada gânglios da base, mais comum na doença de Parkinson; Disartria hipercinética: ocorre uma distorção na articulação das vogais, provocando uma voz áspera e com interrupção na articulação das palavras mais comum na doença de Parkinson; A Disartria é uma alteração da fala, geralmente, provocada por um distúrbio neurológico, como um AVC, paralisia cerebral, doença de Parkinson, miastenia gravis ou esclerose lateral amiotrófica, por exemplo, pode estar acompanhada acompanhada de outras alterações neurológicas, como a disfagia, que é dificuldade em deglutir os alimentos, a dislalia, que é alteração na pronúncia das palavras, ou mesmo uma afasia, que é a alteração na expressão ou na compreensão da linguagem. No caso da Disartria hipercinética: ocorre uma distorção na articulação das vogais, provocando uma voz áspera e com interrupção na articulação das palavras. A Dislexia não causa trocas de palavras ou letras como a dislalia, pois na maioria das vezes a criança que apresenta esse distúrbio não pode decifrar as letras nem as palavra. A dislalia é um distúrbio da fala que se caracteriza pela dificuldade de articulação de palavras: a criança com dislalia pronuncia determinadas palavras de maneira errada, trocando, distorcendo, transpondo ou acrescentando sílabas e fonemas, nosso exemplo icônico é o personagem cebolinha do cartunista Maurício de Souza. O dislálico geralmente as escreve de forma errada também. Uma pessoa com disartria não consegue articular e pronunciar bem as palavras devido a uma alteração no sistema responsável pela fala, envolvendo músculos da boca, língua, laringe ou cordas vocais, o que pode proporcionar dificuldades na comunicação, engolir alimentos e o isolamento social. 26 Linguagem e epilepsia Os efeitos da epilepsia12, das crises convulsivas e das descargas eletroencefalográficas sobre a linguagem têm sido discutidos em diversos estudos. Pode-se dizer que três são os distúrbios mais relatados em pacientes epilépticos:as disfasias do desenvolvimento associadas a epilepsia; as afasias críticas (agudas), onde ocorre uma alteração transitória da função cognitiva; e a afasia epiléptica adquirida (síndrome de Landau-Kleffner). A afasia epiléptica adquirida é caracterizada pela deterioração da linguagem na infância associada a crises ou atividade eletroencefalográfica epileptiforme anormal. Esse tipo de afasia muitas vezes é confundido com síndrome autística ou deficiência auditiva. Além da deterioração da linguagem e da agnosia auditiva, observam-se alterações de comportamento, incluindo traços autistas. Por isso, devemos estar atentos a qualquer criança que apresente regressão de linguagem, devendo esta ser avaliada cuidadosamente (para que seja feito um diagnóstico diferencial) e encaminhada para o tratamento adequado. Linguagem e autismo A regressão da linguagem é observada na síndrome de Landau-Kleffner e na regressão autística, estudos focados na linguagem verbal de crianças com espectro autista enfatizam traços anômalos da fala, como a escolha de palavras pouco usuais, inversão pronominal, ecolalia, discurso incoerente, crianças não-responsivas a questionamentos, prosódia aberrante e falta de comunicação. Muitos estudos atribuem a ausência de fala em alguns indivíduos ao grau de severidade do autismo, 12 Apud YACUBIAN, Elza Marcia Targas. Crises epiléptica_ Crises epilépticas / Elza Márcia Targas Yacubian, Silvia Kochen. – São Paulo : Leitura Médica Ltda., 2014. https://epilepsia.org.br/wp-content/uploads/2017/06/Semiologia_das_Crises_Epilepticas.pdf, acessado em 24 de outubro de 2020.Crises epilépticas / Elza Márcia Targas Yacubian, Silvia Kochen. – São Paulo : Leitura Médica Ltda., 2014. 27 à tendência a retardo mental ou a uma inabilidade de decodificação auditiva da linguagem. No autismo, a compreensão e a pragmática estão invariavelmente afetadas, e os achados incluem prosódia aberrante, ecolalia imediata ou tardia e perseverança (persistência inapropriada no mesmo tema). Outros sintomas estão também presentes, distinguindo essas crianças daquelas com apenas atraso de linguagem; esses sintomas incluem, particularmente, perturbações da comunicação não-verbal, comportamentos estereotipados e perseverantes, interesses restritos e/ou inusuais e alteração das capacidades sociais13. Concluímos, com isso, que a regressão de linguagem na infância se caracteriza por um distúrbio grave, com morbidades significativas a longo prazo. São princípios básicos da intervenção na criança a avaliação do desenvolvimento da linguagem em todos os seus níveis, a orientação à família e escola e a terapia propriamente dita. Esta pode ser dividida em terapia da fala que trata de desvios fonéticos e fonológicos, terapia de voz em caso de disfonias, terapia de motricidade oral como os distúrbios de alimentação, respiração e mobilidade de órgãos fonoarticulatórios, terapia de linguagem oral onde o enfoque pode estar centrado na expressão ou recepção de linguagem e terapia de linguagem escrita que trata das dislexias, disortografias e disgrafias. Dificuldades de aprendizagem da linguagem escrita desde a tenra infância referem-se a alterações no processo de desenvolvimento do aprendizado da leitura, escrita e raciocínio lógico-matemático, podendo estar associadas a comprometimento da linguagem oral. Ao estudarmos alterações no processo de aprendizagem da linguagem oral, freqüentemente verifica-se a ocorrência de posteriores dificuldades de aprendizagem da leitura e escrita. Da mesma forma, ao se investigar os fatores que antecedem as dificuldades de leitura e escrita, surgem questionamentos a respeito das dificuldades de aprendizado da linguagem. Ressalta-se que, entre as 13 MARANHAO, Samantha Santos de Albuquerque; PIRES, Izabel Augusta Hazin. Funções executivas e habilidades sociais no espectro autista: um estudo multicasos. Cad. Pós-Grad. Distúrb. Desenvolv., São Paulo , v. 17, n. 1, p. 100-113, jun. 2017 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-03072017000100011&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 30 out. 2020. http://dx.doi.org/10.5935/cadernosdisturbios.v17n1p100-113. 28 alterações de linguagem oral existentes na infância, são as dificuldades fonológicas, e não as articulatórias, que podem ocasionar prejuízos no aprendizado posterior da leitura e da escrita. Dislexia A leitura e a escrita envolvem habilidades cognitivas complexas, além de capacidade de reflexão sobre a linguagem no que se refere aos aspectos fonológicos, sintáticos, semânticos e pragmáticos. As crianças, ao iniciar a alfabetização, já dominam a linguagem oral, sendo capazes de iniciar o aprendizado da escrita. Porém, sabe-se que existem regras mais específicas e próprias da escrita, havendo, então, maiores dificuldades no seu aprendizado. No Brasil, cerca de 40% das crianças em séries iniciais de alfabetização apresentam dificuldades escolares, e, em países mais desenvolvidos, a porcentagem diminui 20% em relação ao número total de crianças também em séries iniciais. Sabese que se um aluno com dificuldades de aprendizagem for bem conduzido pelos profissionais de saúde e educação, em conjunto com a família, poderá obter êxito nos resultados escolares14. É importante ressaltar que existe uma combinação dos fenômenos biológicos e ambientais no aprendizado da linguagem escrita, envolvendo a integridade motora, a integridade sensório-perceptual e a integridade socioemocional (possibilidades reais que o meio oferece em termos de quantidade, qualidade e freqüência de estímulos). Além disso, o domínio da linguagem e a capacidade de simbolização também são princípios importantes no desenvolvimento do aprendizado da leitura e da escrita. As diferenças desse distúrbio podem ser classificadas em Dislexia fonológica; Dislexia de superfície; Dislexia profundas; Dislexia atencional ; Dislexia por negligência; Dislexia literal. A dislexia não causa trocas de palavras ou letras como a dislalia, pois na maioria das vezes a criança que apresenta esse distúrbio não pode decifrar as letras nem as palavras. A dislalia é um 14 SCHIRMER, Carolina R.; FONTOURA, Denise R.; NUNES, Magda L.. Distúrbios da aquisição da linguagem e da aprendizagem. J. Pediatr. (Rio J.), Porto Alegre , v. 80, n. 2, supl. p. 95-103, Apr. 2004 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0021-75572004000300012&lng=en&nrm=iso>. access on 30 Oct. 2020. https://doi.org/10.1590/S0021-75572004000300012. 29 distúrbio da fala que se caracteriza pela dificuldade de articulação de palavras: a criança com dislalia pronuncia determinadas palavras de maneira errada, trocando, distorcendo, transpondo ou acrescentando sílabas e fonemas, e geralmente as escreve de forma errada tambem. Disartria Disartria é uma alteração da fala, geralmente, provocada por um distúrbio neurológico, como um AVC, paralisia cerebral, doença de Parkinson, miastenia gravis ou esclerose lateral amiotrófica, por exemplo. Uma pessoa com disartria não consegue articular e pronunciar bem as palavras devido a uma alteração no sistema responsável pela fala, envolvendo músculos da boca, língua, laringe ou cordas vocais, o que pode proporcionar dificuldades na comunicação e isolamento social. Para tratar a disartria, é importante a realização de exercícios de fisioterapia e acompanhamento com fonoaudiologista, como forma de exercitar a linguagem e melhorar os sons emitidos, sendo também essencial que o médico identifique e trate o que provocou esta alteração. Existem diferentes tipos de disartria, e suas características podem variar de acordo com o local e o tamanho da lesão neurológica ou a doença que provoca o problema. Os principais tipos15 incluem: Disartria flácida: é uma disartria que, geralmente, produz uma voz rouca, com pouca força, anasalada e com a emissão imprecisa das consoantes. Costuma acontecer em doenças que provocam lesão no neurônio motor inferior, como miastenia gravis ou paralisia bulbar, por exemplo; Disartria espástica: também costuma provocar uma voz anasalada, com consoantes imprecisas, além de vogais distorcidas, gerando uma voz tensa e "estrangulada". Pode estar acompanhada de espasticidade e reflexos anormais dos músculos da face. Mais frequente em lesões do nervo motor superior, como acontece em um traumatismo crânio-encefálico; Disartria atáxica: esta disartria pode provocar uma voz áspera, com variações na entonação dos acentos, havendo uma fala lentificada e um tremor nos lábios e língua. Pode lembrar a fala de alguém alcoolizado. 15 Distúrbios da aquisição da linguagem e da aprendizagem: https://www.scielo.br/pdf/jped/v80n2s0/v80n2Sa11.pdf 30 Costuma surgir nas situações em que há lesões relacionadas à região do cerebelo; Disartria hipocinética: há uma voz rouca, soprosa e trêmula, com imprecisão na articulação, havendo também alteração na velocidade da fala e tremor de lábio e língua. Pode ocorrer em doenças que provocam alterações na região do cérebro chamada gânglios da base, mais comum na doença de Parkinson;Disartria hipercinética: ocorre uma distorção na articulação das vogais, provocando uma voz áspera e com interrupção na articulação das palavras. Pode acontecer em casos de lesão do sistema nervoso extrapiramidal, frequentes em casos de coréia ou distonia, por exemplo. Disartria mista: apresenta alterações características de mais de um tipo de disartria, e pode acontecer em diversas situações, como na esclerose múltipla, esclerose lateral amiotrófica ou traumatismo crânio-encefálico, por exemplo. Para identificar a causa da disartria, o neurologista irá avaliar os sintomas, o exame físico, e solicitar exames como tomografia computadorizada, ressonância magnética, eletroencefalograma, punção lombar e estudo neuropsicológico, por exemplo, que detectam as principais alterações relacionadas ou que provocam esta alteração na fala. Em resumo, observa-se que a perspectiva da interação social dos estudiosos da linguagem enfatiza o papel desempenhado pelo input lingüístico no processo de aquisição da linguagem infantil, o qual, por sua vez, precisa ser analisado à luz das características individuais e dos aspectos sociais relacionados à criança e ao adulto, tornando necessária uma análise interacional e bidirecional desta relação onde a psicologia desempenha papel fundamental, nao so no acompanhamento mas também no tratamento e cuidados ao paciente que apresenta esses transtornos. A importância da psicologia reside no fato de se levar em conta tais características e que existe variabilidade de uma criança para outra, de uma mãe para outra, na forma e na medida em que ministram e fazem uso de aspectos particulares da linguagem. Ademais, o nível de desenvolvimento da criança, em termos de idade ou de estágio lingüístico, influencia a forma como ela fará uso do input recebido; um determinado estilo de input materno poderá ter efeitos facilitadores da linguagem em um nível de desenvolvimento da criança, e não apresentar esse mesmo efeito em um outro nível. É importante mencionar ainda que existem variações no contexto sociocultural em que os indivíduos vivem. A variação entre contextos é marcada pelos diferentes 31 modelos de uso da linguagem que o meio social oferece. Estes modelos são apresentados segundo os modos de vida e os tipos de interações típicas do meio social dos indivíduos, ou seja, correspondem a seus hábitos e necessidades adaptativas. Por fim, todos esses aspectos são enfatizados pela teoria da interação social, que busca romper o dualismo natureza versus ambiente que prevaleceu por tanto tempo nas explicações sobre a aquisição da linguagem. Os pressupostos dessa teoria contribuem para uma análise do conhecimento acerca do contexto sociocultural em que o indivíduo está inserido, permitindo uma articulação deste com as características individuais do adulto e da criança, orientado por um modelo bidirecional, através do qual evidenciam-se a reciprocidade e a adaptação mútua entre o adulto e a criança. 7. MEMÓRIA Definição: Durante um longo período, o estudo sobre a memória foi um dos campos menos explorados da psicofilosofia. Apenas nas últimas décadas, despertouse o interesse pela pesquisa na área. Os conceitos iniciais eram vagos e difusos. Richard Semon e Karl Hering consideravam a memória uma “propriedade universal da matéria”. Já Berguson, denomina “memória mental”, para ele, a memória era uma manifestação do livre arbítrio, capaz de evocar voluntariamente lembranças de experiências passadas individuais. Mesmo após diversas publicações sobre o assunto, pouco se sabia sobre a natureza da memória, então na primeira metade do século XX, o psicólogo americano Lashley concluiu que a natureza fisiológica da memória continuava um enigma para os pesquisadores da época. Na década de 1960, ocorreram importantes descobertas na área da pesquisa a respeito do assunto, através de estudos aprofundados de cunho biológicos e fisiológicos. Um desses avanços foi o reconhecimento da existência de mais de um tipo de memória que ocorrem em distintas partes do 32 sistema cerebral. Esta ideia passou a ser defendida após os pesquisadores estudarem o caso de Henry Molaison (1926-2008). H.M. após ser atropelado por um ciclista, aos 8 anos, passou a sofrer de epilepsia “disparo aleatório descontrolado de grupos de neurônios e podem se espalhar pelo cérebro” (Gazzaniga, Heatherton e Halpern, 2018, p. 265) grave. Aos 27 anos foi submetido a uma neurocirurgia para controlar as crises epiléticas, onde foi feita uma remoção bilateral de parte do córtex temporal medial, amígdala e parte do hipocampo. De fato, a cirurgia auxiliou nas crises, porém H.M. sofreu sequelas advindas dessa remoção, sua memória de curto prazo havia sido afetada, porém ele se recordava de toda sua história até dois anos antes da cirurgia, além de ter preservado outras habilidades de linguagem, compreensão, motoras, raciocínio e inteligência. Seu caso se tornou muito famoso e essa constatação empírica promoveu pesquisas a respeito da memória bem como o desenvolvimento de novos estudos sobre a memória de curta e de longa duração. Características A memória envolve a criação de circuitos neurais e consiste na capacidade do sistema nervoso em manter e recuperar informações, habilidades e conhecimentos que são adquiridos ao longo da vida de um indivíduo, e que podem ser recuperadas posteriormente A forma como a memória opera pode ser associada ao funcionamento de um computador, todo o processo acontece em três fases: Codificação, Armazenamento, Recuperação. A fase de codificação consiste no registro inicial da informação, ou seja, a aprendizagem - o cérebro transforma a informação recebida pelos sentidos em um código neural que ele é capaz de utilizar. Em analogia a um computador, a decodificação corresponde ao teclado. O armazenamento ocorre com a 33 retenção da informação codificada, isto é, uma mudança no sistema nervoso consolida esta informação através de novas sinapses formadas que fortalecem as conexões neurais e sustentam a memória. Então, por meio da consolidação a informação codificada é armazenada, na analogia ao computador corresponde ao disco rígido (CPU). A fase de recuperação consiste em localizar nas informações armazenadas e trazer à mente uma memória já codificada e armazenada. Este processo corresponde a tela de um computador, ao recuperar uma memória/arquivo salvo anteriormente no disco rígido. Portanto a abordagem dos três sistemas da memória corresponde a: Fases: Codificação, Armazenamento e recuperação Esta abordagem propõem a existência de três armazenamentos de memória, que correspondem a três tipos diferentes de sistemas de memória com características distintas - Memória Sensorial, Memória de Curto Prazo e Memória de Longo Prazo. A Memória Sensorial é breve, temporária, está interligada aos sistemas sensoriais, e para cada um há uma memória sensorial, como por exemplo a memória sensorial visual é chamada de memória icônica; a memória sensorial auditiva é chamada ecóica, memória olfativa. Este tipo de memória dura uma fração de segundos e normalmente não é perceptível, se ela não for processada é facilmente esquecida, este processamento ocorre por meio da atenção para que então passe para a Memória de Curto Prazo. O processo específico pelo qual as informações são passadas da memória sensorial para a memória de curto prazo, e possuem divergência entre os pesquisadores, alguns citam a tradução da informação sensorial recebida para representações gráficas ou imagens, outros palavras. Também é denominada Memória de Trabalho. Ela possui certa limitação pois depende da atenção e do esforço mental, por esta razão a informação pode permanecer neste tipo de memória por alguns segundos, a menos que ela seja repetida. Feldman (2015) chama esta repetição de ensaio elaborativo. 34 “Ensaio elaborativo ocorre quando a informação é considerada e organizada de alguma maneira. A organização pode incluir expandir a informação para fazê-la caber em uma estrutura lógica, ligá-la a outra lembrança, transformá-la em uma imagem, ou transformá-la de alguma outra forma.” (Feldman,2015). Por meio desse processo a informação tem mais chances de ser enviada, então, para a memória de longo prazo. A Memória de Longo Prazo é relativamente permanente e sua capacidade é quase ilimitada. As informações recebidas são armazenadas através de associações: “Um conjunto altamente influente de teorias sobre a organização da memória é baseado em redes de associações. Em um modelo de rede proposto pelos psicólogos Allan Collins e Elizabeth Loftus (1975), as características distintivas de um item são ligadas de modo a identificá- -lo. Cada unidade de informação na rede é um nó. Cada nó é ligado a muitos outros nós. A rede resultante é como os neurônios ligados em seu cérebro, mas os nós são simplesmente bits de informação. Eles não são realidades físicas.” (Gazzaniga, 2015) A memória de longo prazo é subdividida memória Explícita (Processos para lembrar informações específicas) e Implícita (processo que a memória armazena para realizar atividades de comportamento que não exigem esforço deliberado e consciência de lembrar de algo). A Memória Explícita consiste na memória declarativa e memória processual. Memória declarativa: Trata-se da memória que corresponde aos fatos. Esta por sua vez é subdividida em: Memória Semântica: armazena conhecimentos e fatos gerais sobre o mundo, regras de lógica que são utilizadas para deduzir outros fatos. Memória Episódica: Contém informações de eventos que aconteceram há muito 35 tempo. Memória processual: Consiste na memória para habilidades e hábitos, como fazer determinadas coisas. Memória Implícita: Com as diversas repetições e aprimoramento dessas repetições da mesma experiência este procedimento é armazenado na Memória de Procedimento, que corresponde a memória motora. “A memória é composta de múltiplos sistemas independentes, mas que se interagem. Diferentes circuitos, estruturas e mecanismos neurais estão envolvidos, bem como diferentes funções cognitivas e comportamentais.” (SÁ, MEDALHA, 2001) 8. EMOÇÕES O tema das emoções consiste em um parâmetro de fundamental importância para a reflexão sobre a construção do conhecimento em psicologia. Ele não apenas aponta para uma diversidade de exigências necessárias para a concepção e abordagem de seus objetos de estudo, mas também destaca os problemas epistemológicos que fundamentam suas bases de compreensão. Dentro de uma reflexão crítica pode-se destacar que o tema das emoções consiste em um grande denunciador das contradições presentes na psicologia em sua tentativa de se firmar como disciplina científica. As primeiras ideias que podemos colocar sobre emoção, é que se trata de uma sensação que pode causar até mesmo impactos físicos, provocados por estímulos de diferentes naturezas. Eles podem ser sentimentos ou episódios específicos, então, emoções podem ser um estado mental e fisiológico que está ligado a uma variedade de sentimentos, pensamentos e maneiras de agir. E podemos entender mesmo que uma emoção se manifesta de maneira subjetiva por meio dos afetos. mas além e acima de tudo, sentimos emoções. A clássica divisão do paradigma do conhecimento 36 ocidental16, trouxe para a psicologia obstáculos problemáticos, principalmente quando surgiram as primeiras tentativas de apresentá-la como ciência. Isso se deu, dentre outros motivos, porque de um lado da divisão encontravam-se as ciências sob a égide da física, numa linguagem objetiva, preferencialmente técnica e respaldada pela matemática e objetos de estudo próprios à manipulação experimental e às noções de previsão e controle. O conhecimento científico era concebido, por excelência, como o mais confiável, capaz de desnudar a natureza indo além de suas aparências para chegar às leis universais que regiam seus fenômenos. Fazia-se, assim, necessária uma atenção obsessiva sobre o saber de modo que fossem exorcizados quaisquer resquícios de subjetividade : corpos de conhecimento como a química, a medicina e a astronomia sofriam uma intensa vigilância a fim de expurgar definitivamente todas as influências místicas da alquimia, dos fluidos e da astrologia. Do outro lado da divisão, encontravam-se as filosofias, a religião, o direito, as artes, a música e o senso comum, marcados por uma linguagem qualitativa e temas de especulação próprios da subjetividade humana como a existência, a alma, o amor, as relações humanas, dentre outros. Desse modo, estabelecia-se imensa contradição para a psicologia, pois existiam, em muitos de seus setores, fortes movimentos para torná-la um conhecimento confiável para os requisitos científicos, mas, ao mesmo tempo, seus interesses e objetos de estudo encontravam-se do outro lado do abismo e poderiam também implicar em consideráveis riscos para suas pretensões objetivistas. Uma base interessante para começarmos a pensar sobre emoções pode ser a antropologia das emoções, ou seja, discutir a relação entre indivíduo e sociedade sob o prisma das emoções. Tomadas tanto pelo senso comum ocidental quanto por algumas teorias clássicas como baseadas em uma ‘realidade’ psicobiológica, as emoções foram durante muito tempo tratadas como experiências universais ou então profundamente individuais, escapando assim ao crivo dos domínios social e cultural. 16 Antes e depois da Idade da Luzes, Iluminismo e Renee Descrates com o Metodo e a racionalidade dos processos mentais para a dedução racional da verdade e das certezas, e como Morin coloca em O Método. As Idéias. (vol IV). Porto Alegre: Sulina, 1988, apud. 37 Até por isso, este foi um tema pouco presente nas teorias clássicas nas ciências sociais e só nas últimas décadas ganhou a atenção da antropologia principalmente. Talvez uma pesquisa me Durkheim e as bases dos fatos sociais como os clássicos a abordaram – Durkheim, Mauss, Simmel e Elias – mas traremos o tema um pouco mais próximos de nosso objeto e método de estudos, pondo em foco a relação entre emoção, sensorialidade e corpo, assim como as experiências emotivas nas sociedades ocidentais modernas. Ao pensarmos sobre emoções humanas, do nosso ponto de vista de acadêmicos de psicologia, deparamo-nos a uma extensa tradição de estudos e reflexões sobre a construção do conhecimento em psicologia e nela são diversas as limitações encontradas nas suas distintas expressões diante da complexidade do real. A psicologia parece padecer de tal dificuldade de uma forma singular, uma vez que, possuindo um objeto tao complexo de estudo, seja ele a anima e o animus, a psique, o ser humano, a mente, o psiquismo, seu comportamento, e todos nomeados e renomeados conforme o sistema de idéias e padrões de ensino que só aumentam essa dificuldade primeira em acessar o fenômeno. Sobre a compreensão do processos emocionais dita científica e sobre compreensão de modo geral, citamos novamente Edgard Morin: sistemas de idéias "constituem-se de uma constelação de conceitos associados de maneira sólida, cujo agenciamento é estabelecido por vínculos lógicos (ou com tal aparência) em virtude de axiomas postulados e princípios de organização subjacentes."17. E partimos da teoria dos Sistemas de Luhmann e da Educação de Morin para entender que tratamos aqui de um sistema complexo cujo núcleo pode ser composto de axiomas, regras fundamentais e idéias mestras, mas nunca um dogma na medida mesmo que é impossível passar duas vezes pelo mesmo rio. Desse núcleo deduzimos um conjunto de sub núcleos dentro desse sistema complexo, e como todo sistema sub núcleos que são eles mesmos um conjunto de subsistemas interdependentes de teorias, 17 Morin, E. (1983). O Problema Epistemológico da Complexidade. Men-Martins: EuropaAmérica.pg.163-164. 38 metodologias, conceitos que permitem certas relações com o que podemos chamar de real e de uma imunologia autopoiética de proteção que consistem nos procedimentos e táticas de proteção e refutação contra os ataques ao sistema. Uma ênfase que buscamos aqui, é trazer a necessidade urgente de compreendê-la não como uma oposição à objetividade, mas como processo da constituição psíquica do sujeito que se objetiviza, que se faz sujeito, e isso ganha um estatuto ontológico (da constituição do ser) e implica em exigências epistemológicas (teroia do conhecimento) profundas de abordagem. Nesse sentido, trazemos um aideia de novas formas interessantes para a compreensão do sujeito humano e de suas emoções, que pode apontar para rumos epistemológicos significativos: abrimos aqui um espaço para um estudo aberto e abrangente para a subjetividade, e que ela se qualifique como momento fundamental da construção do saber, sem deixar de ser ao mesmo tempo, reconhecida como um dos temas centrais das questões humanas. No entanto, tal processo, mesmo que nascente, implica em uma reflexão epistemológica atenta sobre os pressupostos sobre os quais se baseiam as construções em psicologia que abordaremos de modo simples e introdutório. Na atualidade, tal teor de reflexão tem ocorrido de modo relevante, tanto no sentido de denunciar as influências simplificadoras do paradigma dominante, como no de denunciar um problema epistemológico freqüente na psicologia – a importação de metáforas explicativas provenientes de outras ciências. A psicanálise pode servir como um exemplo interessante nesse sentido. Malgrado toda a contribuição freudiana, que remontava a uma cosmovisão de considerável complexidade, sua concepção do aparelho psíquico consistiu em uma compreensão materialista, de certa forma, ao atribuir ao mesmo propriedades físicas comuns à mecânica dos fluidos. Dentro disso, não se pode acatar a argumentação de que Freud tenha se utilizado simplesmente de uma metáfora explicativa para os fenômenos inconscientes, uma vez que tal processo implicou em uma cosmovisão substancialista da psique (conforme se verifica em noções como libido, relações de objeto, narcisismo) que lhe atribui propriedades materiais, não lhe permitindo outras formas de investigação que levassem a concepções mais condizentes com seu teor 39 subjetivo. A própria noção de angústia18, potencialmente diversificada e rica para o estudo das emoções, é enquadrada dentro de uma concepção substancialista que a concebe como o acúmulo de energia recalcada. Não é sem motivos que a noção de causalidade psíquica é questionada por Sartre (1971) que aponta a incompatibilidade entre tal noção e a noção compreensiva7, ambas presentes na psicanálise. Entretanto, dentro de uma outra perspectiva distinta, podemos reconhecer um papel diverso para as emoções ao concebermos os processos emocionais próprios da subjetividade apresentam uma característica fundamental: permitem a constituição do humano, sobretudo pelos vínculos que são capazes de estabelecer. Ou seja, além das funções próprias da organização interna do sujeito, as emoções permitem o acesso, dentro de um processo histórico, ao mundo social e cultural, participando de forma efetiva na construção dos sentidos que os componentes desses universos venham a obter. Sendo assim, não é apenas o cerco criado pela linguagem que permite a subjetivação e o acesso ao simbólico e ao cultural, mas trata-se de um envolvimento subjetivo muito mais complexo (em que as emoções adquirem papel essencial) que passa a permear o percurso de cada sujeito. Logo, uma criança que aprende a temer o lobisomem (ou qualquer outra criatura lendária) não o faz simplesmente em função da transmissão da linguagem, mas também devido aos sentidos que dita criatura assumiu em sua subjetividade. É numa perspectiva semelhante que J. P. Sartre19 se refere às emoções como uma transformação do mundo e, entendendo-se aqui por mundo, o apreendido pelo sujeito. Portanto, não seria equivocado afirmar que o acesso ao universo da cultura e da subjetividade social é uma questão de sentido, em que as emoções desempenham papel constitutivo. Embora não elaboremos um pensamento nem um detalhamento mais profundo, podemos entender que um papel semelhante das emoções ao colocarem-na como 18 A angústia é o afeto (Affekt) por excelência na clínica psicanalítica. De acordo com Freud, é a matriz de todos os afetos e o sinal (Angstbereishaft) que apela para o recalque. Para Lacan, é o único afeto que não engana: é o sinal da divisão do sujeito entre o gozo e o desejo. In: Freud. S. (1976). Conferências Introdutórias de Psicanálise. Obras Completas (vol XVI). Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente publicado em 1917), acessado em 28 de uturbo de 2020, no sitio https://farofafilosofica.com/2016/11/17/sigmund-freud-bibliografia-em-pdf/ , 19 Sartre, J. P. .Bosquejo de Una Teoría de las Emociones. Madrid: Alianza Editorial, 1971, pg 85-86. 40 ponto de encontro ou área de intersecção na sujeição biológica com as relações macro e micro sociais, da cultura, da história, do sujeito, dentre outros. As emoções também podem ser entendidas como um sistema de comunicações complexo, que regulam a forma como interagimos com o meio. As emoções básicas podem ser consideradas a Alegria, Amor, Surpresa, Ira, Tristeza e Medo. Cada uma destas emoções têm uma função. São como um “software” que servem não apenas para comunicar, mas para impulsionar à ação, e rápido e pesquisadores norte-americanos identificaram 27 tipos de emoções que caracterizam as reações humanas às mais variadas situações, desafiando a suposição da psicologia que resume esses sentimentos em apenas seis tipos: felicidade, tristeza, medo, surpresa, raiva e nojo. Antes de definir e entender o que são e como se dão, pensaremos em como adquirir esse conhecimento do conhecer as coisas, de sentir as coisas, de definir racionalmente o sentimento emocional, uma dicotomia por si só. Assim uma teoria e um saber, de um conhecimento sobre o próprio conhecer e como conhecer, além da capacidade humana de conhecer e sentir, uma epistemologia que estude essas origens, pressupostos e cenários de surgimento é fundamental para o estudo dos sistemas de idéias e das ideias da emoção. Por um lado, as reduções e cortes de objetos de estudo implicam em unidades de análise cada vez mais atomizadas, isoladas de seu processo subjetivo sistêmico e relacionadas entre si por procedimentos como a estatística, ciência moderna que nasceu para controlar e determinar docilidades produtividades nos corpos bio politizados, mas que, em geral, se mostra pouco coerente com os processos de significação e sentido da subjetividade humana. Por outro lado, nossa psicologia, enquanto ciência e ciências, se vê em meio a um considerável campo de produção, caracterizado tanto pela pluralidade de teorias e metodologias como pelas poucas articulações e diálogos entre si. É nesse sentido que o problema das emoções encontra seu espaço: da mesma forma que o objeto de estudo da psicologia - a subjetividade humana encontra-se minuciosamente repartida entre inúmeros fragmentos, correspondentes a distintos sistemas de idéias, as emoções, enquanto processos constituídos subjetivamente ao longo de uma história com dimensões biológicas, individuais, 41 sociais e culturais, encontram-se retalhadas entre numerosas perspectivas de estudo que, geralmente, colocam-se como única fonte explicativa sobre as mesmas e demonstram efetiva hostilidade quanto a propostas distintas de pensamento. Dentro do paradigma simplificador das ciências20 que excluem a intuição arte e a doxa, a formação dessas citadas idéias chaves e conceitos mestres, assim como as regras e formas de associação entre elas são movimento central e as chaves do castelo da sabedoria. O paradigma se faz invisível e inatacável diretamente, favorecendo uma visão da realidade que é tomada como certa e, ao mesmo tempo, ocultando-se enquanto momento central e determinante, assim essa obscura e poderosa de influência do paradigma na construção do conhecimento ganhou no ocidente uma característica singular a partir do cogito cartesiano que mais se assemelha a um cogito 'EGO' sunt, e a tendência da época em se estabelecer uma rígida divisão entre o que seria ciência e o que não seria, erroneamente colocada como simples doxa, sem se lembrar que a doxa na grécia era o lugar comum de argumentação a partir de questionamentos filosóficos, e o que deveria ser colocado como objeto de especulação em todos os outros campos de estudo, temos uma dicotomia: de um lado da divisão estabeleceu-se o conhecimento científico tido como um conhecimento superior que era capaz de permitir avanços até então inimagináveis de controle do homem sobre a natureza, colocando-o como senhor absoluto do poder da ciência e das soluções do mundo através do conhecimento objetivo, a estatística e a linguagem técnica livre de noções místicas como a de fluidos vitais; as reações químicas, libertas dos sortilégios da alquimia; e os movimentos dos astros, divorciados das superstições astrológicas. Do outro lado da divisão encontrava-se o reino da subjetividade, do sujeito, das relações humanas, dos movimentos sociais, das instituições, da espiritualidade, dentre outros que, possuindo um tipo distinto de rigor, permitiam também uma linguagem poética e outras formas de expressão. Nesse eixo situavam-se disciplinas como a filosofia, o direito, a teologia, as artes e, um dos principais inimigos da ciência, o senso-comum, a doxa. 20 NEUBERN, Maurício S.. As emoções como caminho para uma epistemologia complexa da psicologia. Psic.: Teor. e Pesq., Brasília , v. 16, n. 2, p. 153-163, Aug. 2000 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-37722000000200008&lng=en&nrm=iso>. access on 30 Oct. 2020. https://doi.org/10.1590/S0102-37722000000200008. 42 Eis aqui nosso dilema ao falarmos de emoções - quais as teorias científicas que trazem as certezas indubitáveis sobre o amor, as paixões, o rancor o medo o ódio e a compaixão? A amizade os desejos e gama infindável de tons de sentimentos? Aqui a ciência, apanágio do moderno, e a psicologia nos apresentam um início de caminho. O grupo escolheu como marco a Psicologia de Lev Semenovitch Vigotski que ganha visibilidade no cenário científico contemporâneo e, em nossa pesquisa, no Brasil. Isso pode ser comprovado pelo número crescente de publicações em periódicos científicos, como também por meio do cadastramento de grupos de pesquisa no Diretório de Pesquisas do CNPq, com a referência do autor21. Não obstante Vigotski ter escrito Teoria das emoções entre os anos 1931 e 1933, época anterior ao ano de de seu falecimento, e ter deixado a obra incompleta, o que sempre acaba por ampliar as possibilidades de interpretações, seus estudos deixaram grandes contribuições à temática. A obra teve sua primeira publicação na Rússia tardiamente, em 1984 e, em um diálogo hegeliano com o filósofo holandês Baruch de Espinosa, do século XVII, em contraposição ao filósofo René Descartes, nosso citado autor procura demonstrar que as psicologias de seu contexto, que se diziam espinosistas em suas teorias das emoções, eram, fundamentalmente, cartesianas e dualistas. Nessa linha de contraposição, nega as teorias que reduzem a arte à sensação ou à emoção comum, admite, ainda, a existência de emoções desencadeadas por fatos que não dependem meramente do estímulo perceptual diferindo, neste ponto, das emoções animais. E aqui nos interessa esse fato como um antecedente histórico para sua dura crítica às psicologias que adotavam o binômio estímulo-reação como paradigma 21 de pesquisa da psicologia humana, em especial as linhas http://dgp.cnpq.br/buscagrupo/ das mais de 320 linhas de pesquisa em psicologia, em mais de 100 apareceram na busca bibliografia de Vigotsky, uma média de 28,5% de todos os núcleos de pesquisa em psicologia no Brasil e dentro de “emoçoes” mais de 68% dos núcleos o tem como bibliografia principal. 43 comportamentais até Skinner22. Vigotski se referia à essas psicologias que tinham suas teorias das emoções embasadas no dualismo cartesiano, marco da filosofia do século XVI. Essas psicologias, entre elas a psicologia de Carl Lange23 (18341900), supunham-se herdeiras do monismo24 de Baruch [Bento] Espinosa25 (16321677), o que servirá como instigador para a tarefa que Vigotski empreendeu de elucidar as verdadeiras bases filosóficas sobre as quais se erigiram as teorias das emoções de seu tempo. Essa concepção associacionista de imaginação não abre possibilidades de criação para além do que já preexiste no psiquismo, ou seja, para além da casualidade. Acrescenta-se a isso que, assim como ocorreu com a emoção na psicologia - que, de acordo com Vigotski, foi um processo psicológico pouco estudado 22 Skinner considerava o livre arbítrio uma ilusão e ação humana dependente das conseqüências de ações anteriores. Se as conseqüências fossem ruins, havia uma grande chance de a ação não ser repetida; se as conseqüências fossem boas, a probabilidade de a ação ser repetida se torna mais forte. Skinner chamou isso de princípio de reforço. Para fortalecer o comportamento, Skinner usou o condicionamento operante e considerou a taxa de resposta como a medida mais eficaz de força de resposta. Para estudar o condicionamento operante, ele inventou a câmara de condicionamento operante, também conhecida como Skinner Box, e, para medir a taxa, inventou o registrador cumulativo. Usando essas ferramentas, ele e C. B. Ferster produziram seu trabalho experimental mais influente, que apareceu em seu livro Schedules of Reinforcement (1957). Skinner desenvolveu a análise do comportamento, a filosofia dessa ciência que ele chamou de behaviorismo radical,[7] e fundou uma escola de pesquisa experimental em psicologia - a análise experimental do comportamento. Ele imaginou a aplicação de suas ideias no projeto de uma comunidade humana em seu romance utópico, Walden II, e sua análise do comportamento aplicada culminou em seu trabalho, Verbal Behavior. Skinner foi um autor prolífico que publicou 21 livros e 180 artigos. A academia contemporânea considera Skinner um pioneiro do behaviorismo moderno, junto com John B. Watson e Ivan Pavlov. Uma pesquisa americana de junho de 2002 listou Skinner como o psicólogo mais influente do século XX. 23 Carl Georg Lange (4 de dezembro de 1834 - 1900) foi um médico e psicólogo dinamarquês. Ele e William James independentemente desenvolveram a teoria de James-Lange das emoções, que postula que todas as emoções são desenvolvidas a partir de reações fisiológicas a estímulos. Ao contrário de James, Lange declarou expressamente que as alterações vasomotoras são as próprias emoções. Lange também observou os efeitos psicotrópicos de lítio, embora o seu trabalho nesta área foi esquecido e independentemente redescoberto mais tarde. 24 Monismo (do grego μόνος mónos, "sozinho, único") é aquilo que atribui unidade ou singularidade (em grego: μόνος) a um conceito, por exemplo, à existência. Em geral, é o nome dado às teorias filosóficas que defendem a unidade da realidade como um todo (em metafísica) ou a existência de um único tipo de substância ontológica, como a identidade entre mente e corpo (em filosofia da mente) por oposição ao dualismo ou ao pluralismo, à afirmação de realidades separadas. 25 O Monismo Naturalista de Spinoza: dizer que a mente é a idéia do corpo é o mesmo que dizer ser a mente constituída de imagens, representações ou pensamentos que se referem ao corpo. Spinoza não vê a mente como sendo distinta do corpo, mas a concebe numa estreita relação de paridade. 44 e classificado como epifenômeno, ou seja, um fenômeno psicológico secundário ocorreu também com a imaginação, sobretudo no que diz respeito à imaginação criativa. O autor enuncia a importância da imaginação criativa para a história da psicologia, como fará com as emoções em Teoria das emoções, enaltecendo a importância desse fenômeno para a cisão das correntes filosófica. Em suma, a conferência sobre imaginação é também uma redação sobre a emoção, na medida em que ambas as funções são classificadas como superiores, culturalizadas, e assumem papéis semelhantes na história da Psicologia: foram relegadas à condição de epifenômenos, ao mesmo tempo em que a maneira como foram estudadas pela Psicologia demarca a cisão das correntes psicológicas em psicologia causal e psicologia descritiva. Um dos pontos que Vigotski procurou destacar nesse texto foi a participação ativa da vida emocional na esfera cognitiva do pensamento e no movimento criador, que é a imaginação. Esse naturalismo do qual fala o autor abrange desde a concepção darwiniana das emoções até o behaviorismo de sua época. De acordo com a teoria do evolucionista Charles Darwin (1809-1882), há um vínculo entre as emoções humanas e as reações animais instintivas, e os sentimentos humanos são de origem biológicoanimal, inclusive aqueles relacionados às paixões terrenas, ao corpo, ao egoísmo (Vigotski, 1997). Essa teoria influenciou os psicólogos do contexto de Vigotski, dando origem a teorias psicológicas que preencheram os manuais soviéticos de psicologia, ressaltando o caráter instintivo das emoções. Instinto - esse foi o destino da psicologia inglesa, a teoria do darwiniano Herbert Spencer (1820-1903), bem como do psicólogo francês Théodule Ribot26 (1823-1891), e da psicologia alemã de orientação biológica, a qual, a despeito das 26 Théodule-Armand Ribot, psicólogo francês nascido em Guingamp, estudou no Liceo de San Brieuc (Lycée de St Brieuc). O sistema de interpretação para o ator de Constantin Stanislavski utiliza algumas de suas teorias. Em 1862 entra na École Normale Supérieure, ministra palestras na Sorbonne sobre psicologia experimental e, em 1888 foi apontado como professor de Psicologia Experimental no College of France. Sua tese de doutorado, republicada em 1882, Hérédité: étude psychologique(Hereditariedade: Estudo Psicológico) (5th ed., 1889), é seu livro mais importante e mais conhecido. 45 idiossincrasias de cada uma, sempre a base foi a naturalista-darwiniana das emoções. Assim, a concepção de emoção comum a essas teorias apontava para o fato de que as emoções humanas eram vestígios das reações animais instintivas, enfraquecidas na sua expressão e em seu desenvolvimento. Trata-se, pois, de uma espécie de involução do desenvolvimento emocional humano, de acordo com Vigotsky27: "(...)a curva do desenvolvimento das emoções é descendente(...)", e a ideia era a de que, com o progresso do desenvolvimento, as emoções recuaram a segundo plano, chegando a ideia de que o homem do futuro é um homem desprovido de emoções, uma maquina um mecânico, um automato. Vigotsky então destaca a impossibilidade de estudar as particularidades das emoções exclusivamente humanas, uma vez que o avanço do psiquismo implicava no recuo da parcela emocional da vida psíquica. Os protagonistas dessa concepção de emoção como decorrente de reações orgânicas, aos quais Vigotski dedica parte de seu estudo em Teoria das Emoções, eram o fisiologista Carl Lange e o psicólogo William James. O autor familiarizado com os manuais soviéticos de Psicología, no que se refere à temática das emoções, que ainda estavam pautados na reflexologia de Pavlov e nas ditas relações entre o reflexo condicionado e o comportamento consciente do homem, ou, baseados no naturalismo herdeiro da perspectiva evolucionista de Charles Darwin, trouxe outra interpretação, entendendo na linha de Smirnov (1969), que as emoções e os sentimentos se desenvolvem e se modificam, são constitutivos da personalidade e permeados por vivências e pela história. O homem deveria ser educado para os sentimentos, no fito de desenvolver um posicionamento ante a realidade e construir novas formas de agir nela, novos sentimentos e uma nova moral: a moral do homem soviético, o sentimento da coletividade e a valorização do trabalho. 27 Vigotsky, L. S. Teoría de las emociones: estudio histórico-psicológico. Madrid: Akal, 2014. p. 125. 46 Teoria Histórico-Cultura De acordo com a Teoria Histórico-Cultural, o homem age na realidade e também reage a ela. Para Smirnov (1969), a maneira de reagir do homem ante as coisas, os acontecimentos e as pessoas é definida por emoções e sentimentos. Estes consistem, assim, numa atitude subjetiva de sentir do homem que origina-se a partir da realidade objetiva, das relações estabelecidas na realidade objetiva com outros homens. As emoções e os sentimentos são, ao mesmo tempo, subjetivos para aquele que sente e objetivos em sua gênese. O autor esclarece que nem tudo na realidade objetiva provoca uma reação, mas apenas aquilo que corresponde a uma necessidade ou motivo da atividade do sujeito, que age sobre ele. De acordo com o significado dos objetos que motivam o sujeito, os quais dependem dos fenômenos e das atividades que este desenvolve para cumprir as exigências sociais às quais deve responder, tem-se a variação de intensidade das emoções e dos sentimentos (Smirnov, 1969). Na obra Teoria das emoções, a preocupação de Vigotski com a análise minuciosa das teorias neurobiológicas das emoções deve-se, em parte, a uma preocupação científica que evitaria cair no tão atual de então determinismo ou reducionismo social. O redator do prefácio ainda destaca que a concepção vigotskiana inova em relação às psicologias de seu tempo ao enfatizar os processos, a mutabilidade e o desenvolvimento das funções psicológicas. Assim o autor russo reafirmou em seu estudo das emoções a concepção de homem e sociedade subjacente a toda a sua obra: homem histórico-social e também biologicamente constituído, mas sobre o qual triunfaram as leis sociais e culturais. Essa visão permite que Vigotski conceba o desenvolvimento ontogenético28 e filogenético29 como um processo revolucionário, que contém a possibilidade iminente de transformação social por um homem que se modifica e aprende constantemente em relação ao seu mundo objetivo, de acordo com os recursos que lhe são fornecidos, por meio da 28 Ontogenia ou ontogênese descreve a origem e o desenvolvimento de um organismo, desde o ovo fertilizado, até a sua forma adulta. É estudada na Biologia do Desenvolvimento. A ontogênese define a formação e desenvolvimento do indivíduo desde a fecundação do óvulo até à morte do indivíduo 29 A sistemática filogenética ou cladística é um método de classificação dos seres vivos fundamentado na ancestralidade evolutiva das espécies. É uma reconstrução da história evolutiva, por meio de hipóteses que consideram a relação de parentesco entre grupos ou táxons. 47 transformação da natureza, por meio do trabalho. O homem, em seu aspecto emocional, precisa ser compreendido como síntese das relações sociais, e neste sentido, as emoções são datadas historicamente e são construídas a partir das condições materiais de produção. Enfim, o tipo de tarefa que nos impomos nesse terreno dos saberes psicológicos transcende à uma mera reflexão epistemológica e implica em um debate e intervenção sobre os próprios cenários sociais e políticos em que os pensamentos são gerados e tomam corpo da mesma forma que as decisões. Os quadros de um país como o Brasil, em suas contradições, com freqüência envolvem os profissionais, notadamente os que buscam se comprometer socialmente, em um misto de paixão e desânimo. A tarefa é uma tarefa de cidadania, profissionalismo e engajamento, no intuito de visar transformações. Contudo, vale uma última ressalva para encerrar o trabalho: cidadania e profissionalismo por mais rigorosos que sejam, e justamente por implicarem num engajamento e vínculo, não podem se constituir sem um mínimo de amor e entrega, cuidado e dedicação ao outro. Inteligência Emocional O termo “inteligência emocional” foi utilizado pela primeira vez num artigo de mesmo nome, no qual é apresentado como uma subclasse da Inteligência Social, cujas habilidades estariam relacionadas ao “monitoramento dos sentimentos e emoções em si mesmo e nos outros, na discriminação entre ambos e na utilização desta informação para guiar o pensamento e as ações” (Salovey & Mayer, 1990, p. 189)30. A utilização de processos relacionados à Inteligência Emocional se inicia quando uma informação carregada de afeto entra no sistema perceptual, envolvendo os seguintes componentes: a) avaliação e expressão das emoções em si e nos outros; b) regulação da emoção em si e nos outros; e c) utilização da emoção para adaptação. 30 BUENO, José Maurício Haas. Artigo Inteligência Emocional: Um Estudo de Validade sobre a Capacidade de Perceber Emoções,Psicologia: Reflexão e Crítica, 2003, 16(2), pp. 279-291, acessado o sítio em 20 de outobro de 202: https://www.scielo.br/pdf/prc/v16n2/a08v16n2 . 48 Esses processos ocorrem tanto para o processamento de informações verbais, quanto não-verbais (Salovey & Mayer, 1990). Em 1997, Mayer e Salovey apresentam uma revisão ampliada, clarificada e melhor organizada do modelo de 1990, que enfatizava a percepção e controle da emoção, mas omitia o pensamento sobre sentimento. Nas palavras dos autores, a definição que corrige esses problemas é a seguinte: A Inteligência Emocional envolve a capacidade de perceber acuradamente, de avaliar e de expressar emoções; a capacidade de perceber e/ou gerar sentimentos quando eles facilitam o pensamento; a capacidade de compreender a emoção e o conhecimento emocional; e a capacidade de controlar emoções para promover o crescimento emocional e intelectual. (Mayer & Salovey, 1997, p. 15) O processamento de informações emocionais é explicado através de um sistema de quatro níveis, que se organizam de acordo com a complexidade dos processos psicológicos que apresentam: a) percepção, avaliação e expressão da emoção; b) a emoção como facilitadora do pensamento; c) compreensão e análise de emoções; emprego do conhecimento emocional; e d) controle reflexivo de emoções para promover o crescimento emocional e intelectual. Patologias das Emoções Falar em doenças das emoções já é um tema sensível, trazer para as ciências e estudos científicos dificultam mais ainda o tema, todavia podemos entender que a vida afetiva do ser humano tem uma dimensão psíquica que dá intensidade às nossas vivências, dimensão essa que engloba o humor, as emoções e os sentimentos nos espectros da tristeza, alegria, agressividade ou amor. Os afetos também interferem em outras funções psíquicas, como a vontade, a atenção, o pensamento e a memória, influenciando diretamente a maneira de pensar do indivíduo, a formação de suas lembranças e as suas tomadas de decisão. Além disso, os afetos estão associados a certas sensações corporais, como alterações da freqüência cardíaca, respiração, suor, sensação de bem ou mal-estar. 49 O humor, as emoções e os sentimentos estão presentes ao longo da vida e, mesmo quando desconfortáveis, fazem parte do funcionamento normal do ser humano. Entretanto, alguns afetos se tornam intensos, recorrentes ou duradouros, a ponto de interferirem na saúde física e psicológica, trazendo prejuízo ao trabalho, aos estudos, causando problemas na vida amorosa, social ou financeira. É nesse momento que devemos prestar atenção no que está acontecendo e procurar ajuda. A tristeza se torna patológica quando está associada a outros sentimentos negativos, como desesperança, angústia e pensamentos de morte. A própria alegria, geralmente associada ao bem-estar de todos, quando se apresenta em forma de uma euforia descontrolada pode causar problemas, levando à comportamentos como mania de grandeza, superexposição social e gastos compulsivos. Uma simples irritabilidade passa a ser um transtorno quando se torna uma reatividade exagerada acompanhada de uma hostilidade ou agressividade física/verbal. Já a ansiedade é um estado de humor desconfortável, que leva ao desenvolvimento de um medo difuso, inquietação interna e apreensão em relação ao futuro. A adoção de um estilo de vida saudável, com horários regulares de sono, atividade física frequente, dieta balanceada, atividades de lazer e suporte social podem ajudar a prevenir as alterações patológicas dos afetos. O acompanhamento psicológico é fundamental para a redução da freqüência e intensidade do sofrimento psíquico ao longo da vida, seja em momentos de maior estresse ou na simples manutenção do bem-estar em períodos menos atribulados. Ainda assim, muitos transtornos mentais necessitam de acompanhamento psiquiátrico e intervenção medicamentosa, a depender da gravidade do quadro, do tempo que os sintomas perduram ou de alguma interferência no funcionamento do indivíduo. Observar alterações de emoções e comportamento, em nós mesmos e naqueles que nos cercam, pedir ou indicar ajuda quando a vida afetiva estiver comprometida são atitudes essenciais para melhorar a qualidade de vida de cada um, o que refletirá em uma sociedade mais sadia para todos. 50 Psicossomática: PSICO + SOMA Os Resultados psicossomáticos e doenças, nas primeiras décadas do século XX começaram a ser reconhecidas pela medicina psicossomática, por volta doano de 1940 começaram a nascer as discussões na fundação da American Psychosomatic Society, uma instituição para regulamentar a doença e a sua pesquisa. Psicossomática é uma ciência interdisciplinar que dela surgem diversas especialidades da psicologia e da medicina, com foco nos estudos dos efeitos dos fatores psicológicos em relação ao processos orgânicos do corpo e sua relação com o bem-estar das pessoas. As doenças psicossomáticas são doenças cujas causas são geradas no psíquico, elas podem ser doenças física ou não. O motivo é compreendido pela ciência atual, que é por um desequilíbrio entre a nossa mente e o nosso corpo, se manifestando em forma de doença física. Doenças nos pés: dificuldade no seu auto conhecimento. 9. MOTIVAÇÃO Definição: “A motivação é um processo que dá energia, direciona e sustenta o comportamento em direção a um objetivo” (Gazzaniga, Heatherton e Halpern, 2018). A palavra motivação tem suas raízes no latim: movere, que significa mover-se, movimento. Existem motivações intrínsecas, que são associadas ao prazer de participar ou fazer algo, e as motivações extrínsecas, sendo direcionadas ao mundo externo, comumente relacionadas a algum tipo de recompensa. 51 Dentro da psicologia existem algumas teorias gerais sobre a motivação. Dentre elas há “quatro qualidades essenciais dos estados motivacionais” em que há uma concordância mútua. O estado de motivação é energizante, diretivo, persistivo e diferente em força. O fato de esses estados serem energizantes significa que são estimulantes, ou seja, induzem a ação, mas não a qualquer ação. Observamos então a segunda qualidade da motivação que é a direção. O estado enérgico motiva uma ação específica, de acordo com um objetivo ou uma necessidade. A terceira qualidade tem uma relação com o tempo. Persistir em uma certa ação por tempo indeterminado até que o objetivo ou necessidade seja atingido. A fome por exemplo, é uma motivação humana que tem como objetivo suprir a necessidade de obtenção de energia, e a motivação não cessa até que aquele objetivo seja alcançado. Esse é um exemplo de uma motivação relacionada a uma necessidade básica. Existem outros objetivos humanos que divergem na escala de complexidade, por exemplo o desejo de ser reconhecido por sua profissão. Para que tal objetivo seja atingido, é necessário persistir, muitas vezes por um longo período de tempo, logo a motivação tem de ser longa e também é preciso fazer escolhas, abdicar de coisas que não estejam em alinhamento com o objetivo final, para tal, a motivação também precisa ser forte para sustentar o processo de deslocamento entre ponto A (estado atual) e ponto B (objetivo a ser alcançado). A motivação está diretamente relacionada com um impulso. Em realidade são estes impulsos que geram a motivação, ou seja, um impulso biológico provindo de informações do meio externo ou do inconsciente geram uma reação neuroquímica inundando nosso corpo com o que comumente chamamos de emoção. Esta emoção nos motiva a agir de determinada forma para a satisfação de nossas necessidades. É claro que existem diferentes tipos de necessidades a serem satisfeitas. “Na década de 1940, Abraham Maslow propôs uma influente “teoria de necessidades” da motivação. Maslow acreditava que as pessoas são movidas por muitas necessidades, as quais estão organizadas em uma hierarquia de necessidade” (Gazzaniga, Heatherton e Halpern, 2018) Esta teoria fora representada visualmente por uma pirâmide dividida em 5 partes horizontalmente, sendo que a base da pirâmide 52 representa as necessidades mais básicas e o topo representa o auge das necessidades. De acordo com a descrição anterior, as necessidades que se encontram na base são de ordem fisiológica (fome, sede, aquecimento, ar, sono), seguidas de necessidades de ordem de segurança (segurança, proteção, ausência de ameaças), seguidas de necessidades de ordem de pertencimento e amor (aceitação, amizade), e só então chegando a necessidades de ordem de estima (boa opinião sobre si mesmo, realizações, reputação) e por fim, atingindo o topo da pirâmide estão as necessidades de ordem de realização pessoal (viver em seu pleno potencial, realizar sonhos e aspirações pessoais). As motivações, assim como outros processos psicológicos básicos, têm relação com o mundo externo, com o qual nossa conexão advém dos 5 sentidos, e relação com o mundo interno, perpassando pela subjetividade de cada indivíduo. Exatamente por esta subjetividade, as motivações ocorrem de diferentes formas, partindo de diferentes pontos de referência e contendo diferentes significados de acordo com a relação de cada indivíduo com um objetivo específico. As motivações, assim como outros processos psicológicos básicos, têm relação com o mundo externo, com o qual nossa conexão advém dos 5 sentidos, e relação com o mundo interno, perpassando pela subjetividade de cada indivíduo. Exatamente por esta subjetividade, as motivações ocorrem de diferentes formas, partindo de diferentes pontos de referência e contendo diferentes significados de acordo com a relação de cada indivíduo com um objetivo específico. Patologias da motivação Como vimos Motivação (do Latim movere, mover) refere-se em psicologia, em etologia e em outras ciências humanas à condição do organismo que influencia a direção (orientação para um objetivo) do comportamento. Por outras palavras, é o impulso interno que leva à ação. 53 Agora, falar de patologias da motivação pode ser abordar um espectro largo de consequências da ausência da motivação como, por exemplo, ao falarmos de melancolia, não é raro que a caracterizemos com a súbita falta de vontade de fazer coisas que exijam o mínimo de esforço físico e mental, por exemplo, numa tarde qualquer, ficar sem fazer nada, às vezes pode ser algo bastante “produtivo”- o ócio criativo. No entanto, considera-se uma patologia quando verifica-se que essa falta de motivação se torna permanente e profunda. A melancolia patológica tem a propriedade de alterar o pensamento do indivíduo, dificultando a sua rotina e seu desempenho social. Dessa forma, caso a sensação – semelhante à tristeza, por exemplo - vir a se repetir por vários dias, levando o paciente a perder o interesse pela vida em sociedade e descumprir suas tarefas mais elementares, a melancolia pode expressar algum nível de depressão, bem como, necessitar de tratamento. A depressão é outra enfermidade psiquiátrica caracterizada por tristeza profunda e permanente, seu nome em psiquiatria é transtorno depressivo maior. A principal causa e linha de tratamento se baseia na ideia de que, por diferentes motivos, ocorre um desequilíbrio dos neurotransmissores, bem como altera outras importantes funções do cérebro. 54 10. RELATO PESSOAL Esse trabalho trouxe uma ampla visão de recursos que possuía e que na verdade ainda não tinha tomado consciência plena. Recursos que eu tenho para me adaptar ao mundo e ao que se apresenta para mim, e que se mostra como meu comportamento pessoal e como nos apresentamos no mundo. Essa tomada de consciência de minha subjetivação, de me fazer sujeito, permite modificar meu ambiente e minha realidade para me adaptar ao meu entorno e ao meio ambiente em que eu aconteço. Sei que meus comportamentos são mediados por processos mentais internos, mas somente agora pude ter contato com esses processos mentais, esses processos psicológicos básicos. Ao longo do artigo, expostos individualmente, percebi que todos estão interrelacionados e acontecem em um sistema, todos independentes e completos, mas intimamente relacionados entre si. Embora mantenham sua independência terminológica, muitos deles não poderiam existir sem os outros, apensa os separamos para estudo e para classificação metodológica desse trabalho científico. 55 REFERÊNCIAS BUENO, José Maurício Haas. Artigo Inteligência Emocional: Um Estudo de Validade sobre a Capacidade de Perceber Emoções,Psicologia: Reflexão e Crítica, 2003, 16(2), pp. 279-291, acessado o sítio em 20 de outobro de 202: https://www.scielo.br/pdf/prc/v16n2/a08v16n2 . FIORIN, José Luiz. Introdução à linguística. 3a ed.- São paulo: ed Contexto, 2004. FLUSSER, Vilém. O mundo Codificado: por uma filosofia do design e da comunicação, org.Rafael Cardoso. Trad. Raquel Abi-Samara - São Paulo: Ubu ed., 2017. LINGUAGEM. In: Dicionário Wiki (wikipedia dictionary). Acessado em 28 out 2002:https://pt.wiktionary.org/wiki/Wikcion%C3%A1rio:P%C3%A1gina_principal MARANHÃO, Samantha Santos de Albuquerque; PIRES, Izabel Augusta Hazin. Funções executivas e habilidades sociais no espectro autista: um estudo multicasos. Cad. Pós-Grad. Distúrb. Desenvolv., São Paulo , v. 17, n. 1, p. 100-113, jun. 2017 . 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Sua tese de doutorado, republicada em 1882, Hérédité: étude 56 psychologique(Hereditariedade: Estudo Psicológico) (5th ed., 1889), é seu livro mais importante e mais conhecido. VIGOTSKY, L. S. Teoría de las emociones: estudio histórico-psicológico. Madrid: Akal, 2014. p. 125. WILBER, Ken. Psicología integral. Editora Cultrix, 2007. [1] Prates, Letícia Pimenta Costa Spyer e Martins, Vanessa de Oliveira. Artigo científico:Distúrbios da fala e da linguagem na infância. In: Revista Médica de Minas Gerais 2011; 21(4 Supl 1): S54-S60 [2] American Speech-Language-Hearing Association Ad Hoc Committee on Service Delivery in the Schools. Definitions of communication disorders and variations. ASHA. 1993; 35(Suppl. 10):40-1. [3] SCHIRMER, Carolina R.; FONTOURA, Denise R.; NUNES, Magda L.. Distúrbios da aquisição da linguagem e da aprendizagem. J. Pediatr. (Rio J.), Porto Alegre , v. 80, n. 2, supl. p. 95-103, Apr. 2004 . 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