O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou nesta quarta-feira que mudar a meta fiscal agora geraria “incerteza” e que os agentes financeiros iriam pensar que o objetivo “foi abandonado”, o que poderia ter um custo para a economia.
“O mercado, em meio à incerteza, tende a aumentar o prêmio de risco. No BC é importante como o fiscal afeta as variáveis do nosso cenário. Não é uma relação mecânica [fiscal e monetário]”, disse, em inglês, em evento do Valor Capital Group, em Nova York, nos Estados Unidos.
Campos repetiu que o Brasil passa por uma “desancoragem gêmea” nas expectativas fiscais e de inflação. “Se o mercado não acredita na meta fiscal também não acredita na meta de inflação, esses fatores andam juntos”, complementou.
O presidente do BC disse que brincava que o país tinha um teto de gastos, regime fiscal anterior, mas que “o piso estava ficando mais alto”. “Em algum momento tivemos que ajustar o sistema; veio o arcabouço fiscal. Agora há a discussão de mudar a meta [para o resultado primário]”, disse. “O Brasil tem um histórico [de problema] fiscal, temos dívidas mais altas que outros países emergentes”, afirmou.
Ele repetiu que os países emergentes precisam fazer “melhor o dever de casa” em função do aperto de liquidez global com taxas de juros mais elevadas.
“No Brasil tivemos histórico de inflação, pensamos que fazer mais e mais rápido [na política monetária] geraria menos custo [à atividade]”, lembrou.
Em relação à atividade econômica, ele ressaltou que o Brasil teve surpresas positivas no crescimento, e que a agricultura teve muita participação. “Mas para o próximo ano muita gente espera crescimento menor”, afirmou.
“O Brasil fez várias reformas [nos últimos anos], isso começou a mostrar resultado”, complementou, ao ressaltar que há um debate sobre um possível aumento do crescimento estrutural.