Se as empresas públicas de todo o mundo pagassem indenizações por suas emissões de carbono, elas perderiam 44% de seus lucros ou 3,1% de suas receitas. É o que calcula uma análise global publicada por economistas e professores de finanças nesta quinta-feira (24) na revista Science.
A pesquisa considerou cerca de 15 mil companhias públicas ao redor do mundo. Quase 90% do dano acumulado viria de quatro setores industriais: energia, serviços públicos, transporte e fabricação de materiais como o aço.
A indústria de serviços públicos carrega uma média de danos superior ao dobro dos seus lucros. Já as companhias de fabricação de materiais, energia e transporte somaram danos médios que excederam seus lucros. Enquanto isso, o setor bancário e o de seguros tiveram médias de danos climáticos inferiores a 1% de seus ganhos.
Os chamados “danos corporativos de carbono” provavelmente chegam a trilhões de dólares, considerando todos os setores ao redor do mundo. Isso resulta em centenas de bilhões de dólares só para as empresas norte-americanas, segundo estima Christian Leuz, professor de finanças e contabilidade da Universidade de Chicago, e um dos autores do estudo.
A análise global se baseou em uma amostra de emissões corporativas de emissões de gases de efeito estufa (GEE) fornecida pela corporação de estimativas ambientais Trucost. “Concentramo-nos nos dados de 2019 porque é o ano mais recente que não foi afetado pela pandemia de Covid-19”, contam os pesquisadores. “No entanto, também reportamos resultados para 2021 que são qualitativamente semelhantes”.
Os cálculos também consideraram o custo de 190 dólares (cerca de 925 reais, na cotação atual) por tonelada – um número estimado pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos para as emissões de CO2. Os resultados mostram “quais atividades são particularmente onerosas para a sociedade do ponto de vista climático”, segundo afirma Leuz à agência Associated Press (AP).
Por outro lado, o pesquisador adverte que “não seria correto culpar apenas as empresas” — os consumidores também têm seu papel. “Não é possível dividir a responsabilidade por estes danos entre as empresas que fabricam os produtos e os consumidores que os compram”, ele observa, considerando também que os cálculos se referem apenas a uma fração das indústrias mundiais.
Ranking mundial
Segundo o estudo, a Coreia do Sul, Indonésia e Rússia foram as que registaram, respectivamente, os maiores danos climáticos corporativos (1º, 2º e 3º lugar), enquanto Estados Unidos (11º lugar), Brasil (16º lugar) e Reino Unido (17º lugar) representaram danos mais baixos. Leuz explica que isso reflete a idade e a eficiência das empresas e que tipo de indústrias estavam sediadas nos países.
Os autores da análise também ajustaram a classificação reportada das nações conforme a composição industrial de cada país para obter um outro ranking. O Brasil, por exemplo, tem relativamente muitas empresas em setores intensivos em carbono, como transportes e serviços públicos. Por isso, sua colocação subiu do 9º lugar para o 16º quando os economistas contabilizaram suas indústrias.
Por outro lado, a Coreia do Sul tem relativamente muitas empresas em indústrias menos intensivas em carbono, como os semicondutores. Portanto, o país subiu do 7º lugar para o 1º lugar como nação com a média mais elevada de danos corporativos por carbono ajustados à indústria local.