Grupos de extrema-direita de Portugal se mobilizam desde o início do ano contra a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao país, prevista para a próxima semana. O incômodo com a visita aumentou após as declarações do petista sobre a guerra da Ucrânia deste domingo, quando voltou a afirmar que o país do leste europeu também é responsável pelo conflito com a Rússia.
A visita de Lula a Portugal está prevista para acontecer entre os dias 22 e 25 de abril, quando o presidente participa da Cúpula Luso-Brasileira, reunião bilateral que acontece de dois em dois anos. Para o período, o partido de direita Chega está convocando pelas redes sociais uma manifestação contra Lula. O presidente da legenda, André Ventura, promete manifestação de repúdio jamais vista no país.
O incômodo com a viagem de Lula começou assim que o ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, João Gomes Cravinho, anunciou que o brasileiro faria um discurso no Parlamento na sessão solene do 25 de Abril, data da Revolução dos Cravos, em 1974. Parte da extrema-direita no país se mostrou contrária à escolha de um chefe de Estado estrangeiro para falar de um evento que marca o fim da ditadura do Estado Novo, vigente desde 1933.
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O anúncio desagradou parlamentares de outros partidos, já que ele foi feito sem a decisão ter sido tomada em conferência dos líderes partidários do Parlamento, como determina o regimento da Casa. Após as reclamações, foi necessário divulgar que Lula fará um discurso no Parlamento de Portugal no 25 de Abril, mas não na sessão principal. Ele será o primeiro chefe de Estado estrangeiro a discursar em sessão solene comemorativa da data em Portugal.
Chico Buarque
Além dos compromissos políticos, Lula também deve aproveitar a estadia em Portugal para prestigiar o amigo e apoiador Chico Buarque, que irá receber o prêmio Camões.
Criado em 1988 pelos governos brasileiro e português para destacar autores de língua portuguesa, o Prêmio Camões de Literatura tem o valor de 100 mil euros, divididos entre os dois países. Por conta do revezamento entre os países, a cerimônia de premiação a Chico deverá ser feita em Portugal.
Tradicionalmente, os presidentes das duas nações assinam o diploma, mas em 2019, quando foi anunciado que a honraria iria para o cantor e escritor, Jair Bolsonaro (PL) se recuou a assinar. Na época, o presidente afirmou que a assinatura do documento não estava entre suas prioridades. "Eu tenho prazo? Então 31 de dezembro de 2026, eu assino", afirmou, supondo a vitória em um segundo mandato.
A falta de assinatura de um dos presidentes não impede a entrega do prêmio — o artista, inclusive, já recebeu o valor de 100 mil euros a que tem direito. Após a fala do presidente, Chico respondeu através de sua conta no Instagram. "A não assinatura do Bolsonaro no diploma é para mim um segundo Prêmio Camões", escreveu.