TIMES

Por Redação do ge — Rio de Janeiro


No ano do centenário da Resposta Histórica, o Vasco homenageará os Camisas Negras nas duas primeiras partidas de 2024, que acontecem nesta quinta-feira - em São Januário, contra o Boavista pelo Cariocão, e em Maldonado, no Uruguai, contra o San Lorenzo pela Série Río de La Plata.

Em 2022, Ubuntu Esporte Clube relembrou a história dos Camisas Negras do Vasco

Em 2022, Ubuntu Esporte Clube relembrou a história dos Camisas Negras do Vasco

Os jogadores entrarão com o terceiro uniforme do Vasco, inspirado nos Camisas Negras, e com os nomes dos jogadores de 1923. Vegetti, por exemplo, usará a camisa de Cecy, do histórico time que conquistou o primeiro título carioca do clube e que lutou contra o racismo no futebol. Léo Jardim terá o nome de Nelson, goleiro da equipe há 100 anos.

Nelson da Conceição, goleiro do Vasco em 1923 — Foto: Acervo do Vasco

As camisas serão leiloadas, e os recursos doados ao Observatório da Discriminação Racial no Futebol, parceiro na ação.

Camisas Negras, Vasco, 2024 — Foto: Leandro Amorim/Vasco

Em 7 de abril de 1924, o Vasco se posicionava contra a discriminação racial e social no esporte. O marco completa 100 anos em 2024, e o clube fará ações durante toda a temporada em homenagem aos Camisas Negras.

Em nota divulgada nesta quinta-feira, o Vasco diz que "os recentes casos de racismo sofridos por Lucas Eduardo e Matheus Henrique são infelizes avisos de que essa luta não acabou", e que o clube condena esses episódios e trabalha para que os autores sejam responsabilizadas.

Resposta Histórica do Vasco completará 100 anos em abril — Foto: Leandro Amorim/Vasco

A Resposta Histórica

Em março de 1924, clubes rivais do Vasco, campeão carioca de 1923, romperam com a Liga Metropolitana e se reuniram para a fundação da Associação Metropolitana de Esportes Athleticos (AMEA). O Vasco foi convidado a se filiar, mas não participou como clube fundador.

- A Comissão Organizadora exigia uma série de informações e documentos para os clubes. Além do nome completo de cada jogador, era preciso informar onde era o atual local de trabalho do atleta e o local anterior - aponta o documento do Vasco.

A AMEA aceitou a inscrição do Vasco desde que o clube excluísse 12 de seus jogadores, sendo sete da equipe principal e cinco do segundo quadro. Em sua maioria, atletas negros e pertencentes às camadas populares da sociedade. A resolução da entidade colocava o Vasco, atual campeão carioca, em desvantagem em relação aos fundadores da nova liga.

Em 7 de abril de 1924, na secretaria do clube, o presidente vascaíno José Augusto Prestes redigiu e assinou o Ofício n.º 261, a “Resposta Histórica”. O Vasco desistia de fazer parte da AMEA e ficaria com seus jogadores.

"Rio de Janeiro, 7 de Abril de 1924.

Officio No 261

Exmo. Snr. Dr. Arnaldo Guinle,

D. Presidente da Associação Metropolitana de Esportes Athleticos.

As resoluções divulgadas hoje pela Imprensa, tomadas em reunião de hontem pelos altos poderes da Associação a que V. Exa. tão dignamente preside, collocam o Club de Regatas Vasco da Gama numa tal situação de inferioridade, que absolutamente não pode ser justificada, nem pelas defficiencias do nosso campo, nem pela simplicidade da nossa séde, nem pela condição modesta de grande numero dos nossos associados.

Os previlegios concedidos aos cinco clubs fundadores da A.M.E.A., e a forma porque será exercido o direito de discussão a voto, e feitas as futuras classificações, obrigam-nos a lavrar o nosso protesto contra as citadas resoluções.

Quanto á condição de eliminarmos doze dos nossos jogadores das nossas equipes, resolveu por unanimidade a Directoria do C.R. Vasco da Gama não a dever acceitar, por não se conformar com o processo porque foi feita a investigação das posições sociaes desses nossos consocios, investigação levada a um tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa.

Estamos certos que V. Exa. será o primeiro a reconhecer que seria um acto pouco digno da nossa parte, sacrificar ao desejo de fazer parte da A.M.E.A., alguns dos que luctaram para que tivessemos entre outras victorias, a do Campeonato de Foot-Ball da Cidade do Rio de Janeiro de 1923.

São esses doze jogadores, jovens, quasi todos brasileiros, no começo de sua carreira, e o acto publico que os pode macular, nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que elles com tanta galhardia cobriram de glorias.


Nestes termos, sentimos ter que comunicar a V. Exa. que desistimos de fazer parte da A.M.E.A.
Queira V. Exa. acceitar os protestos da maior consideração estima de quem tem a honra de subscrever.
De V. Exa. Atto Vnr., Obrigado.
(a) José Augusto Prestes
Presidente"

A Resposta Histórica do Vasco — Foto: Divulgação/Vasco

Assista tudo sobre o Vasco no ge, na Globo e no SporTV:

Mais do ge