O Rappa agora anda dizendo por aí que nunca foi uma banda de
protesto. A música que dá nome ao novo álbum d'O Rappa, “7
vezes”, é uma canção de amor – fato inédito em sua discografia.
A faixa que abre o novo disco d’O Rappa é bem diferente de hits
furiosos como “Minha alma (a paz que eu não quero)” ou “Miséria
S.A.”, e começa com o verso-lamento “o meu santo tá cansado”.
Antes que os fãs pensem que as informações acima
se referem a uma mudança radical no discurso da banda, segue o
aviso: O Rappa continua o mesmo. E, segundo definição do
vocalista Marcelo Falcão, “7 vezes” é “O Rappa sendo O Rappa de
novo, cara!”.
“A gente nunca foi uma banda de protesto, nunca
foi de dizer o que é certo e o que é errado. A gente tem nossa
verdade e não priorizamos o discurso em detrimento da música”,
explicou o guitarrista Xandão em entrevista coletiva realizada
na quarta-feira (13), para anunciar o lançamento do sétimo álbum
do quarteto do Rio.
“Essa coisa de protesto dá impressão de que somos
uma banda sisuda. E a gente não é assim. Temos esse humor
inerente do carioca, de rir de nós mesmos, de zoar um com o
outro”, reforça Falcão.
Cinco anos depois de “O silêncio que precede o esporro”, último
álbum de inéditas, a maior preocupação da banda parece ter
deixado de ser o “esporro” em si. O Rappa quer mostrar um som
mais sofisticado, cheio de referências e experimentalismos.
“A sonorização desse disco é ímpar. Todas as
faixas foram gravadas do começo ao fim, na mesma levada”, conta
o baixista Lauro Farias. “Usamos instrumentos indianos, pianos,
e um monte de barulhos de objetos que deram uns efeitos
‘maneiros’, tipo enxada, correntes, bacias, garrafas... O
Hermeto Pascoal já fazia isso, mas é difícil ver essas
experimentações darem um bom resultado na música pop. Fica tudo
meio diluído”.
Segundo Falcão, nestes cinco anos sem apresentar novidades, a
banda não estava de folga em “um cruzeiro no Havaí ou em alguma
praia de Fortaleza”. “Não que a gente não merecesse”, atesta o
vocalista. “Mas a gente estava na estrada, fazendo show e
compondo músicas novas”.
O quarteto conta que mais de cem canções foram
compostas e apenas 14 as selecionadas para “7 vezes”. Para
reduzir tanto o repertório, os músicos separaram as canções nas
categorias “forno” (aquelas com potencial de entrarem no disco),
geladeira (as que poderiam esperar mais um pouco) e as
esquisitas (precisa explicar?).
“7 vezes” foi uma das primeiras aprovadas. “É uma música que fala
de amor, o que é uma coisa inédita pra gente”, explica o
baterista Marcelo Lobato.
Outra que logo ganhou sinal verde foi “Súplica
cearense”, de Luiz Gonzaga – atual obsessão musical de Falcão.
“Eu ouvi quase toda a discografia dele do ano passado para cá. A
letra desta canção me tocou muito. Fala sobre um cara que achava
que as coisas não davam certo porque ele não sabia rezar
direito”, explica. “Quis mostrar da maneira d’O Rappa uma música
que talvez só depois a galera vai saber que é do Gonzagão”.
A banda prefere não rotular em que praia musical
se encaixa “7 vezes”. “Para você ver como a gente nunca levanta
bandeiras, nem a musical! Até hoje deixamos as pessoas decidirem
que tipo de som a gente faz. É rock, é rap, é reggae, é dub? Não
sei, mas está tudo ali”, diz Falcão.
O grupo fala com entusiasmo sobre as experiências musicais que
nortearam o processo criativo de “7 vezes”. No entanto, como se
trata de “O Rappa sendo O Rappa”, o discurso social logo não
tarda a aparecer.
Em ano de eleição, Falcão diz que a faixa que abre o disco, “Meu
santo tá cansado”, fala justamente sobre a mesmice da cena
política nacional. “Se o brasileiro tivesse educação, não ia
aceitar o ‘Fome Zero’. Ele ia achar que estavam tirando uma onda
com a cara dele”.
De políticas assistencialistas, aliás, o vocalista
não quer nem ouvir falar. “Cota pra negro? Geral precisa de
estudo!”, reverbera.
“O Lula ainda faz aquele discurso como se
estivesse em São Bernardo”, compara o músico. “Agora está todo
vestido de Ricardo Almeida, de Armani, mas a cara dele para
ganhar voto da galera é de ‘me identifico com vocês, sou sofrido
igual vocês’. É muito feio! Um cara desse para mim é igual ao
Hitler. Os propósitos dele são os da turma dele, o do filho
dele”.
Depois de disparar suas opiniões inflamadas,
Falcão insiste na tese de que O Rappa não é uma banda de
protesto. Politizada, então?
“Somos os homens que põem o dedo na ferida. Porque têm muita
coisa na gente que dói”.
É O Rappa sendo O Rappa.
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