Eu também sou ribeirinho. A luz primeira que vi foi na reverberação das águas. Criei-me com as brisas frescas que sopram do meu rio, mas nasci à beira de um grande estuário, que mais parece um braço de mar, em que às vezes, nos dias de temporal, as ondas se encapelam, e as águas são sempre salgadas. A minha cidade remira-se no largo espelho do Tejo, a vaidosa, como debruçada sobre a superfície de um vasto lago. É por isso surpreendente de graça, mas as coisas perdem-se ma imensidão, distanciam-se, soçobram – deixam de ter as proporções familiares que tocam mais o coração do homem. Digam o que disserem, um rio torna-se íntimo, chegado a nós, quando se ouve correr e quando se pode falar de uma para a outra margem, gritar ao vizinho da casa e frente: – deixa que eu vou aí no meu batel..
Manuel Mendes, Roteiro Sentimental. Douro. Museu do Douro, 2002 [1a edição 1964] p. 41.
é bom estar perto assim da Terra. perdemos isso.
GostarLiked by 1 person
recuperemos, pelo menos uns pedaços… 🙂
GostarLiked by 1 person
será que queremos?
GostarGostar