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Igreja da Comunidade Metropolitana: quem ama inclui

 
Amar e incluir. Este parece ser o lema da Igreja da Comunidade Metropolitana (ICM), uma denominação cristã protestante inclusiva, progressista e afirmativa das diversidades. 
 
Das muitas formas de manifestar o “ser cristão”, a ICM seguiu pelo caminho da acolhida e do diálogo. Realizando trabalhos diaconais com moradores de rua, e com forte atuação junto à comunidade LGBTQI+, vem caindo na graça de famílias de Norte a Sul do Brasil. 
 
Para conhecer um pouco mais os trabalhos desenvolvidos pela ICM, suas práticas e fonte norteadora, fomos conversar com o reverendo Francisco Ferreira Júnior, responsável pela ICM Fortaleza. “Atualmente, a ICM está presente nos cinco continentes, com cerca de 300 comunidades, e tem se consolidado como um forte ponto de apoio para aquelas e aqueles que buscam praticar uma fé cristã plena, independentemente de sua condição étnica, socioeconômica, sorológica, de gênero, de status civil ou de sexualidade”, explica.
 
A seguir, confira a entrevista.
 
CONIC: Reverendo Francisco, o que é a ICM?
 
REV. FRANCISCO: As Igrejas da Comunidade Metropolitana são uma comunidade global que está derrubando muros e construindo esperança! Ao redor do mundo, a ICM molda a integração saudável da sexualidade e da espiritualidade para que gays, lésbicas, bissexuais, transexuais, heterossexuais e questionadores possam viver com integridade como pessoas de fé. 
 
Este trabalho nasceu em 1968, nos Estados Unidos, sob a fundação do Rev. Troy Perry, um homem de Deus que não concordava com as injustiças sociais provenientes de sua sociedade. O povo da ICM se reúne regularmente em seus Quilombos de Fé (Comunidades) com o objetivo de se fortalecer, de explorar com segurança seu relacionamento com Deus e com o outro, e de lutar por justiça e paz no mundo. 
 
Somos uma comunidade de pessoas que compartilham do desejo de viver a mensagem de Jesus de forma a incluir, e não excluir; curar, e não ferir; pacificar, e não guerrear; encorajar, e não desanimar; libertar, e não aprisionar; incentivar a liberdade e a criatividade de pensamento, e não exigir fé cega em credos religiosos.
 
Atualmente, a ICM está presente nos cinco continentes, com cerca de 300 comunidades, e tem se consolidado como um forte ponto de apoio para aquelas e aqueles que buscam praticar uma fé cristã plena, independentemente de sua condição étnica, socioeconômica, sorológica, de gênero, de status civil ou de sexualidade.
 
Em Fortaleza (CE) existimos desde 2006. Nosso carisma é especialmente voltado para ações de justiça social com pessoas que vivem e convivem com HIV/AIDS.
 
2- Quais as práticas da igreja? 
 
REV. FRANCISCO: Atualmente, nossa programação se resume às seguintes atividades em tempos de Pandemia:
 
- Quarta-feira às 19h - Culto de Cura e Libertação: Este Culto nasceu com o objetivo muito específico de clamar a Deus pelo fim da pandemia da Covid-19. Ele foi implantado exatamente no momento no qual fomos impedidos de nos reunir presencialmente por questões de segurança e distanciamento social – no qual permanecemos, pois, desde novembro de 2019, a Igreja se reúne em nossa Casa; minha mãe desocupou a sala de casa e abrigou a Igreja. Por ela ser uma senhora de 71 anos, com todas as comorbidades que a classificam no grupo de altíssimo risco, permaneceremos online por tempo indeterminado, até que seja minimamente seguro. As quartas-feiras tornaram-se momentos de muito clamor e intercessão pelas pessoas que sofrem nos leitos dos hospitais, nas enfermarias, e pelas mais de 150 mil famílias que perderam os amores de suas vidas sem terem sequer a oportunidade de se despedir. Neste Culto, clamamos também pela Libertação de tudo aquilo que nos oprime, as outras pandemias que assolam o Brasil e o Mundo: Racismo, LGBTQI+fobia, Depressão, Injustiças Sociais e todas aquelas enfermidades sociais que são promovidas por desgovernos que visam a destruição de todas as diversidades, sejam elas humanas (sexuais, ideológicas, religiosas) ou ambientais. Por isso, o nome Cura e Libertação.
 
 
- Domingos às 10h30min - Culto de Celebração: Dia de reunir a Comunidade, cada um em suas casas, e mesmo que virtualmente, nos alimentarmos do Evangelho e da Comunhão. É incrível que mesmo sem Sede e em isolamento, tenhamos alcançado tantas pessoas ao redor do Brasil. A Pandemia nos desafiou a nos reinventarmos como Igreja, e temos respondido a esse desafio com muita criatividade e utilizando-se de todas as ferramentas que a tecnologia nos dá acesso, inclusive a de não conhecer fronteiras geográficas. Sementes de novas Comunidades começaram a brotar em Maceió, Recife e Belém do Pará.
 
Para além das celebrações temos as seguintes atividades: 
 
- Missão na Região Centro-Sul do Ceará: A semente da Radical Inclusão do amor de Jesus tem sido insistentemente plantada pelo irmão Messias Pinheiro, que desenvolve trabalhos Missionários em Acopiara e Iguatu, além de acompanhar pessoas LGBTQI+ que buscam orientação espiritual por meio das plataformas digitais.
 
- Ministério de Capelania: Serviço Semanal de Capelania aos pacientes internados no Hospital São José, Hospital referência no Ceará para HIV/AIDS e outras doenças infectocontagiosas. A Capelania consiste em visita aos leitos e aos serviços de oração, comunhão, unção com óleo, e até mesmo batismos já foram realizados nas pias do corredor do Hospital. Este serviço, coordenado pelo diácono Robério de Sá, não tem um caráter proselitista, mas de resgate da dignidade sagrada de filhas e filhos de Deus a estes amados irmãos tão vulneráveis por suas enfermidades e pelos estigmas sociais. Todos os anos realizamos a Celebração do Dia Internacional de Combate ao HIV no Hospital e fazemos o Candlelight em memória das pessoas que tiveram suas vidas ceifadas pelo HIV/AIDS. Neste tempo de Pandemia, o serviço encontra-se suspenso por orientação do Hospital, mas logo que possível voltaremos à ativa. 
 
3- Vimos no Instagram da ICM que há um momento de “meditação no Diversitório”, o que seria?
 
REV. FRANCISCO: Quase todas as tradições religiosas têm a prática da meditação através das Contas de Oração. Na ICM nós utilizamos estas mesmas contas e as chamamos de Diversitório (Oratório para Diversidade de Orações). 
 
Nele meditamos versículos bíblicos, mantras de Taizé e tudo aquilo que possa nos ajudar a manter nossa prática meditativa e curadora. É um momento de introspecção e de convite à meditação! Não há fórmulas prontas, cada pessoa desenha suas preces de acordo com suas necessidades e com o momento que está vivenciando. 
 
4- É difícil ser igreja inclusiva no Brasil?
 
REV. FRANCISCO: Nunca foi tão difícil ser cristão no Brasil, principalmente nestes tempos onde alguns que se autodenominam “terrivelmente evangélicos” tem feito de seu objetivo de vida e existência perseguir a nossa tribo LGBTQI+. Nossas Comunidades têm se tornado verdadeiros Quilombos de Resistência. Todas as semanas eles nos atacam com declarações distorcidas, falácias, atacando nossa dignidade de todas as formas possíveis. Tentam a todo custo retirar nossos direitos se sermos quem somos e até de existirmos. Nós, enquanto Igreja Afirmativa das Diversidades, somos alvo constante de ataques fundamentalistas que tentam derrubar nossas transmissões, que nos difamam dizendo contra nós toda espécie de impropérios. É muito difícil, mas é essencial! 
 
 
Aliás, é no momentos mais escuros, onde há sombras do fundamentalismo religioso, que somos desafiados a brilhar com ainda mais intensidade, revelando em nossas sexualidades divergentes, toda graça e amor deste Deus que a todos incluí e que escolheu andar com os que a sociedade insiste em empurrar para a margem. 
 
Temos experimentado que é na margem que somos abençoados, é aqui que nosso ministério é mais necessário e urgente: curar as feridas de morte que são abertas em nossas irmãs e irmãos LGBTQI+. O chamado de Jesus para nós é: "Aquilombai-vos!", este inclusive será nosso Tema para o ano de 2021.
 
5- Hoje, qual o perfil dos membros da ICM Fortaleza, da qual você é responsável?
 
REV. FRANCISCO: Somos uma Comunidade com poucos membros, em sua maioria gays. Hoje a presença feminina em nossa Comunidade se dá por uma senhora heterossexual de 71 anos, minha mãe. Temos várias irmãs lésbicas que são da comunidade também, mas neste período de distanciamento e que tudo funciona no virtual o nosso perfil é este. Esperamos poder voltar às nossas reuniões presenciais o quanto antes para termos toda a diversidade representada em nossa membresia.
 
6- De uns anos pra cá, cresce o número de pessoas que, insatisfeitas com suas denominações de origem, encontram acolhida em comunidades como a ICM. Você também nota isso?
 
REV. FRANCISCO: Sim, percebemos este movimento! Graças a Deus temos visto o nascimento de algumas Igrejas bastante progressistas. Agora fica o alerta para que tenhamos cuidado para não cairmos no discurso pseudo-inclusivo, do tipo: você é “bem-vindo”, mas desde que se encaixe em nossa caixinha. É triste vermos Igrejas ditas inclusivas copiando o modelo que tem por base a Teologia da Prosperidade e sendo apenas uma versão gay do mais do mesmo. Estejamos atentos! Quem inclui de fato acolhe na integralidade, sem o "mas", e sem a listinha do pode e não pode. Nossa proposta é vivermos a integralidade de nosso ser, sem dissociarmos nossa prática espiritual da prática e vivência de nossas sexualidades divergentes.
 
7- Como se dá o diálogo de vocês com outras igrejas?
 
REV. FRANCISCO: Se dá de forma completamente aberta. Dialogamos com todas as denominações que se abrem para o diálogo e para a acolhida. Posso destacar a Aliança Batista do Brasil e Igrejas mais tradicionais, como algumas vertentes das igrejas Luterana e Anglicana.
 
8- Quais são os maiores desafios da ICM hoje?
 
REV. FRANCISCO: É o de continuarmos (r)existindo numa nação que a cada dia grita NÃO para nós! Ser de fato aquilo que nos propomos a ser, uma igreja alicerçada na Inclusão, na Comunidade, na Transformação Espiritual e na Justiça Social, apoiando e abraçando todas as causas dos direitos humanos.
 
9- Gostaria de acrescentar algo?
 
REV. FRANCISCO: Você, LGBTQI+ que está lendo esta matéria, não se submeta a lugares e instituições que querem anular a sua existência, saia já daí, vem para fora deste armário, vem aqui pra fora onde o mundo é mais colorido e podemos viver na "dor e na delícia de ser quem somos": imagem e semelhança de Deus em nossas diversidades.
 
Crédito das fotos: ICM Fortaleza
Obs.: as opiniões aqui manifestadas não necessariamente representam o posicionamento do CONIC

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