CRÍTICA – O EXORCISTA – Um marco eterno do Terror!

CRÍTICA – O EXORCISTA – Um marco eterno do Terror!

“Então Jesus lhe perguntou: ‘Qual é o seu nome?’.

‘Meu nome é Legião’, respondeu ele, ‘porque somos muitos.’” (Marcos 5,9).

Não é nada novo falar que “O Exorcista” é um marco eterno do Terror, tornando-se instantaneamente um clássico e o melhor do gênero de possessão até os dias atuais. Foi lançado em 1973, dirigido por William Friedkin e roteirizado pelo próprio autor do livro William Peter Blatty de onde foi adaptado. Aqui, é o momento de entender por quais caminhos e ferramentas foram utilizadas para a canonização no panteão de obras primas do cinema!

Por onde partiremos? Nosso ponto inicial é claro, é o entendimento do referencial mitológico e folclórico, afinal a carga de simbolismos é esbanjada de tal forma, que somente com a fonte original seria possível estabelecer essas conexões. William Peter Blatty é um grande conhecedor não só dos mitos católicos, mas também possui uma vasta sabedoria dentre as referências culturais mais antigas, tão misteriosas que quando nós as acessamos tudo parece místico, antigo, para além da nossa simples compreensão de espaço e tempo. Utilizando das palavras de H. P. Lovecraft: “A emoção mais antiga e mais forte da humanidade é o medo, e o tipo de medo mais antigo e mais forte é o medo do desconhecido” (p.1) em seu artigo de crítica literária “Supernatural Horror in Literature”. No filme, estabelece-se essa relação do desconhecido/conhecido, para não só adentrar no famoso “vale da estranheza” onde as coisas comportam-se de maneira estranha, com referências estéticos terrenos e humanos, mas unido ao porte de uma abstração cultural distante e pouco conhecida para a maioria da sociedade.

No início do longa estamos no Iraque… Terra antiga, de reinos que disputaram pelo domínio da região famosa dos rios Tigres e Eufrates, terra do icônico Rei Gilgamesh e do povo babilônico que tentou construir uma torre para chegar em Deus. Somos carregados de uma expedição arqueológica, buscando pistas de um passado tão remoto que ainda imperavam os Mamutes pelo planeta Terra.

“O Templo de Nabu. O Templo de Isthar. Sentiu vibrações. No palácio de Ashurbanipal, ele parou e olhou para uma descomunal estátua de calcário. Asas desgrenhadas e garras nos pés. Um pênis inchado, grande, ereto, e a boca aberta num sorriso feroz. O demônio Pazuzu” (BLATTY, p. 16). Essa é a primeira de algumas citações que serão expostas do livro original “O Exorcista” para embasar a carga simbólica que é carregada na obra, tanto quanto em sua adaptação, por conta de que enquanto qualidade de imagem e som na obra cinematográfica, ficaria extremamente didático e tedioso um narrador expondo os significados de cada manifesto cultural imagético que é exposto, optando para deixar a cargo do interlocutor interpretar aquilo que é mostrado.

 

Estátua Pazuzu - Cena Inicial

Cena Inicial: Estátua de Pazuzu

 

Essa tradição cultural do mal é invocada aqui, do maligno, da malevolência, afinal “Há quase três milênios, Assurbanípal II, rei da Assíria, ao tomar uma cidade inimiga, mandava que seus soldados cortassem as mãos e os pés de todos os habitantes e os empilhassem na praça central, para sangrarem e sufocarem até morrer” (RUSSEL, p. 2). O número de entidades e figuras históricas factíveis que rodeiam esse momento é gigantesco, de feitos atrozes que inspirariam as mais variadas mitologias conforme os intercâmbios culturais entre povos veio a acontecer historicamente. William Peter Blatty sabe onde buscar, em quais meandros adentrar e não desvirtua-los, respeitando seus símbolos e contextos, sem usufrui-los de maneira superficial somente para assustar. Ele ambienta em um chão concreto, em um medo antigo, em símbolos demoníacos culturais que promovem os mais temerosos arrepios no meio da noite, afinal “O mal atingiu todos os lugares, todos os tempos, a vida de todos os indivíduos adultos. Compreendemos que ele é cósmico. Com um mundo melhor em nossas mentes, sentimos as insuficiências fundamentais do que habitamos” (RUSSEL, p. 4).

Partir desse terreno antigo, partindo de Pazuzu, uma figura demoníaca que acompanhou a trajetória da humanidade, tornando-se um dos generais das legiões infernais, é sábio. Quem conhece a figura, a não ser entusiastas do conhecimento oculto e estudioso das religiões históricas? Assim, o sobrenatural tanto em livro quanto em filme ganha força, afinal “Baseada […] na confrontação do sobrenatural e do real dentro de um mundo ordenado e estável como pretende ser o nosso, a narrativa fantástica provoca – e, portanto, reflete – a incerteza na percepção da realidade e do próprio eu; a existência do impossível, de uma realidade diferente da nossa, leva-nos, por um lado, a duvidar desta última e causa, por outro, em direta relação com isso, a dúvida sobre a nossa própria existência, o irreal passa a ser concebido como real, e o real, como possível irrealidade” (ROAS, p. 32). A semente da incerteza é plantada nesse mundo distante, alienígena para nós Ocidentais recheados de preconceitos com as culturas longevas do Oriente Médio. Toda essa carga se manifesta nas primeiras cenas do longa, falseadas de uma simples superficialidade. Como isso atinge, então, o público que caminha em sua ignorância de todas essas manifestações culturais simbólicas?

Porque, nós seres humanos, somos dotados de uma construção de identidade cultural coletiva, através do “inconsciente de um indivíduo está inserido dentro de algo maior que remete à genealogia dos seres humanos, a qual ele pode explicitar em maior ou menor intensidade e que contém a vida psíquica de seus ancestrais” (PERASSOLI, p. 16). Essa ancestralidade remete desde a formação dos primeiros agrupamentos humanos, desde a antiga capital do reino sumérico, futura babilônia, 5000 a.C., logo guardamos em nosso “inconsciente coletivo [que] é um depósito de arquétipos. Os arquétipos são ‘imagens que podem nascer de novo, a qualquer tempo e lugar, sem tradição ou migração históricas’ (JUNG). Como conteúdos do inconsciente coletivo, os arquétipos aparecem amiúde nos mitos, na literatura e até mesmo nos sonhos ou fantasias individuais. As figuras arquetípicas surgem de tantas maneiras nas manifestações culturais dos seres humanos e na própria psique individual que ‘a única coisa que é possível constatar e que corresponde à sua natureza é a multiplicidade de sentido, a riqueza de referências quase ilimitadas que impossibilita toda e qualquer formulação unívoca’ (JUNG)” (PERASSOLI, p. 17-18). Manifesta-se, então, pelo argumento essas figuras arquetípicas que acompanham a ancestralidade cultural dos coletivos humanos, somando-se os intercâmbios culturais e o eterno reinterpretar histórico da arte, com seu infinito potencial de manifestação criativo.

Mas, até aqui, se foi argumentando favoravelmente em torno da figura do desconhecido, mesmo que ancestralmente, mesmo que conectado à um passado em comum dos seres humanos. Onde está, então, o recurso que nos remete a construção do que nós é familiar? É aqui que conecta-se a maestria genial da obra, pois o “inquietante é aquela espécie de coisa assustadora que remonta ao que é há muito conhecido, ao bastante familiar” (FREUD, p. 331).

No passado babilônico, existem os mais variados símbolos que somente especialistas viriam a conhecer a fundo suas referências e a base sólida onde o terror se implanta diante dos inconscientes coletivos. Agora, esse inquietante falado de Freud, essa ferramenta da estranheza familiar de algo que não se comporta como deveria, já historicamente vem da nossa tradição histórica imposta da colonização (falando no ponto de vista, é claro, de um brasileiro, em uma cultura imaginária predominada pelo catolicismo). A Idade Média é outro ponto ímpar para a estruturação do terror imagético de um continente todo, afinal a Igreja Católica foi a maior autoridade durante esse período milenar na história da Europa. E a Igreja, tem-se em seus cânones religiosos e derivações, um amálgama grotescamente grande de criaturas mitológicas pavorosas. Se nos dias atuais os espíritos e demônios, os ritos de proteção e as tentações diabólicas, perversões satânicas e cultos perversos nos assustam quando bem elaborados, imagina-se a força de tais narrativas em dias que o místico, mágico e oculto era tão vividamente vívido! Dias em que o medo do sobrenatural perscrutava pelos cantos das cidades sombrias, vales silenciosos e florestas intocadas.

Aqui, além dos textos teológicos (a própria Bíblia) e das fábulas orais compartilhadas pelos sacerdotes e a sociedade, existem duas obras literárias de suma importância para estabelecer essa trajetória do medo no Ocidente, que formulam e concretizam o imaginário coletivo sobre Satã e suas hordas infernais. “A Divina Comédia”, de Dante Alighieri, do Séc. XIII e “Paraíso Perdido”, de John Milton, do Séc. XVII. Na ordem respectiva de citação, a primeira estabelece a visão que segue até hoje na contemporaneidade do Inferno, constrói seus círculos e todas as torturas pela eternidade que as almas condenadas sofrem em cada nível, ainda sistematizando-as conforme os pecados cometidos em vida. Já na segunda, sua influência é muito mais rastejante, porém de igual impacto, apesar de uma obra muito menos citada pelos meios menos acadêmicos. Qual sua importância? É moldadora da personalidade de Satã, ou Lúcifer, ou Samael para os mais íntimos. Aqui surge o “Senhor das Mentiras”, das manipulações, sedutor para condenar as almas, conquistar pelo carisma e levar junto de si para os níveis mais baixos do próprio Inferno, abandonando por quase completo a figura monstruosa de Satã e a personalizando em um ser sedutor, muito mais familiar, tornando-a muito mais medonha simultaneamente, uma figura “inquietante”. Nessa obra, apresenta-se, também a própria fortaleza palácio Pandemonium de Satã e vários de seus generais, como por exemplo Beelzebub, o “Senhor das Moscas”. Quando pensamos, que somadas as publicações, junto da cada vez mais popular arte da pintura, onde transfigura as palavras em imagens, formam-se as arquetípicas imagens que a sociedade possui tanto do Inferno quanto de seus habitantes, assim “se concretiza e se reveste nas paredes e nos capitéis das igrejas toda espécie de formas humanas e animais” (DELUMEAU, p. 239). Não se pode diminuir, também, todos os eventos históricos que alimentam o medo, a paranoia e a sensação de que o mundo está à beira do apocalipse, como por exemplo o Séc. XIV, que passa tanto pela grande fome, pela Peste Negra e a Guerra dos Cem Anos.

 

Pintura na Catedral de Vank

 

E, mesmo com os golpes absurdos que todo o imaginário ficcional sofre com o advento do Iluminismo (Séc. XVII-XVIII), onde a crença no positivismo científico dá severos golpes nas outras maneiras de significar o mundo – principalmente, dado ao conflito histórico da doutrina catolicista e seus pecados históricos, como a própria Santa Inquisição –, a ficção e as crenças no sobrenatural nunca foram de fato abandonadas. São retomadas constantemente pelos movimentos artísticos, mas devemos muito aos Pré-Rafaelitas, com grandes literatos aderindo à essa retomada do imaginário sobrenatural. Vale citar, aqui dois grandes nomes, tanto Lord Byron (Darkness) quanto Mary Shelley (Frankstein). A partir daqui, o expoente que trabalha com o sobrenatural ganha forças e, de pouco em pouco, conquista o mundo novamente. Chegamos, então, no icônico Séc. XX e Satanás continua tão poderoso quanto sempre foi. Não dá para desprezar a força simbólica dessa figura, apesar de todos os pesares, de todas as banalizações midiáticas que perpassa, sua ambiguidade, seu mistério, sedução, pavor e poder, continuam percorrendo pelos imaginários coletivos da sociedade Ocidental, para mais ou para menos. Afinal, o mal nos fascina, seduz, impressiona, horroriza e assusta, pois “é a destruição insensata, sem sentido. O mal destrói, e não constrói; rasga, e não costura; corta e não une. Procura sempre e em toda parte aniquilar, transformar em nada. Apossar-se de todo o ser sem nada lhe dar em troca, essa é a essência do mal” (DELUMEAU, p. 7). Com toda essa carga pesadíssima de símbolos e significados carregados em sua obra, William Petter Blatty entrega as mãos do diretor Friedkin, o cargo de filmar essa temática que, tristemente, nunca foi tão bem trabalhada em outros filmes posteriores ao “O Exorcista”, que é a possessão demoníaca.

“Assim como o breve brilho dos raios do sol não é notado pelos olhos dos cegos, o começo do horror passou despercebido; de fato, com a comoção do que ocorreria em seguida, o início foi esquecido e talvez nem mesmo relacionado ao horror. Era difícil saber” (BLATTY, p. 21). Esse é, o primeiro parágrafo, após o “Prólogo” em “O Exorcista”, e é incrível que dessa simples afirmação narrativa, tem-se as pistas para entender todo o percurso do restante da obra. Há dois conceitos criativos que permeiam as obras do gênero “Terror”, ou mais academicamente definindo, do “Gótico”. Uma é o “terror” e a outra é o “horror”. Qual a diferença entre ambas?

No “terror” é o uso do suspense, daquele momento de tensão, onde se causa a dúvida, onde há aquela suspeita que paira no ar, onde não observamos a ameaça, mas sabemos que ela está ali. São os sons no porão, a risada no fundo da casa, os sons de passos no assoalho da casa, a presença que se esconde nas sombras, aquela sensação de que há alguém observando, tramando, escondido. No caso, se uma obra do “Gótico” utiliza somente destas ferramentas, sem nunca nos horrorizar, ela é o que chamamos de “Suspense”, enquanto gênero-modo.

Já no “horror” é o total contrário, é quando há a exposição da criatura, da violência, do nojo, é o momento que nos assustamos, que ficamos impressionados de olhos arregalados e descrentes naquilo que testemunhamos! É a garota saindo da televisão, é o assassino correndo com sua motosserra em mãos perseguindo sua vítima, é o olho da vítima sendo cortado por um bisturi! E no mesmo caso do “terror”, quando há somente “horror” em sua obra, é o que chamaremos de “Gore”, onde predomina-se somente a violência nua e crua! São raros os casos de obras do “Gótico” onde predominam características somente de um dos dois, somadas as dificuldades que são de manter o interlocutor entretido quando não há o revezamento das características de cada um. Além de sempre, em sua grande maioria de obras, haver um pouco de um no outro, pois unidas constroem a sensação de ficar assustado, com medo, apreensivo, cheio de arrepios e pesadelos, que tanto se procura no gênero. E, por que dessa explicação para falarmos sobre “O Exorcista”?

Bom, dada a afirmação do parágrafo aqui citado, nota-se já o excelente uso do “terror”, implantando a semente no consciente dos leitores de algo de muito errado, algo “estranho” como poderia dizer Freud, será narrado. No filme, isso se estabelece pela imagem da estátua de Pazuzu, e é claro pelo elemento musical com o tema do filme em sua abertura enchendo nossos ouvidos e corações de ansiedade pelo que está para ser testemunhado. Desde os primeiros segundos que temos contato com a protagonista Regan Macneil (Linda Blair) há a empatia extremamente forte por uma criança que exala inocência e ingenuidade. Carrega todos os elementos infantis que, são estabelecidos aqui para serem subvertidos com as cenas horripilantes que ocorrerão ao longo da narrativa, ainda mais quando lembramos que a própria figura do “Diabo como um ser sobrenatural, ou como uma força incontrolável surgida do inconsciente, ou como um aspecto absoluto da natureza humana, isso é menos importante do que a essência dessa percepção, ou seja, que somos ameaçados por forças estranhas e hostis” (RUSSEL, p. 16). Ela nos relembra da ameaça, do poder vil e corruptor que essa figura estrondosa existente em nosso imaginário coletivo nas mais “diferentes épocas e sociedade [onde] seu nome, gênero e número [variam]. [Trate] o diabo em ambos os seus papéis fundamentais, que, embora correlatos, são distintos: ele é a fonte e origem de todo o mal; e ele é a própria essência do mal” (RUSSEL, p. 17).

O ritmo entre o terror e o horror são cadenciados, construindo uma ambientação narrativa imersiva, que envolve o público de pouco em pouco. Caímos na armadilha, acompanhamos a história, mal notando conscientemente a toda malignidade que seremos expostos ao clímax. Prepara o terreno, para futuramente, desmaiar, apavorar e traumatizar toda uma geração que foi aos cinemas testemunhar esse filme pela primeira vez. Tudo isso, alinhado por um respeito e delicadeza aos detalhes que, hoje, por conta da produtividade acelerada e a busca pela obtenção de lucros garantidos e rápidos, desfacela o tempo de lapidação de muitos filmes em seus diversos setores criativos.

E a história nunca quebra seu realismo, seus pés no chão, não adentrando de uma vez nos reinos do sobrenatural, por mais bizarras e esquisitas que as situações venham a se tornar. O padre Damien Karras (Jason Miller) busca por todos os meios racionalizar a situação, adentra nas ciências de estudo da psique para justificar as atitudes e eventos que envolvem a garotinha Regan e sua mãe. A personalidade demoníaca que a possui, é bem retratada, usando das artimanhas argumentativas e sabendo dissuadir, afinal, os demônios são mestres da retórica, mentira e a manipulação. O roteiro evita a possessão, evita a crença automática no místico, nega a sobrenaturalidade que permeia a história toda, para assim, mesmo que o interlocutor saia crente de que tudo aquilo foi obra de um dos grandes agentes do Inferno, não há confirmação nenhuma de que de fato fora aquela presença. O filme tende a dar uma resposta, por seus elementos imagéticos, a expor mais o visual do “sobrenatural”, denunciando alterações da realidade impossíveis no dia-a-dia, com a própria icônica cena onde Regan vira por completo a cabeça para trás, ou os olhos de Damien mudando de cor quando é possuído pelo demônio, confirmações para o público que testemunha, agentes externos há toda aquela narrativa. Para nós é óbvio, para aquelas personagens da realidade ficcional narrada, nunca foi e será.

 

Cena: os Olhos de Damien

 

E se, em seu início e meio, o conceito do “terror” é genialmente esculpido, essa construção leva ao brilho do “horror” aos términos da narrativa. Toda violência, seja psicológica, seja brutal, seja nojenta, que presenciamos, transforma-se em um ato muito mais traumatizante, porque o “terreno” narrativo foi plantado para tal. Daí advém o impacto, que é tão bem sucedido, que gera toda uma camada “mística” em nossa realidade ao redor do filme. Todo mundo, em algum momento da vida, falando sobre filmes, que chega a comentar sobre “O Exorcista”, ouve alguma história sobre acontecimentos envolvendo o elenco e a produção do longa-metragem. Boatos que giram em torno da atriz principal, o diretor, toda a equipe de produção, sempre surge um novo elemento que, desvanece mais ainda a nossa própria realidade nesse duvidar do que de fato aconteceu e o que não é verdade. O “terror” do filme é transmigrado para as veias do mundo físico nosso, permeando o imaginário coletivo, que tal qual um camponês em tempos medievos – resguardando as devidas proporções – tememos as sombras durante a madrugada em nossas residências quando vamos buscar água na geladeira da cozinha, que somente naquele momento, parece muito mais distante do que realmente é. A eficácia, possui sua cereja, que a própria garota, pois sendo uma criança, sabemos que “a dor das crianças é real. É real porque a conhecemos com uma certeza imediata, resultante da nossa própria dor” (RUSSEL, p. 6).

E na incerteza dessa realidade, uma certeza nós podemos afirmar, após essa longa jornada recheada de referências e reflexões: “O Exorcista” (1973) é, e continuará sendo um dos maiores – senão, o maior – ícones do terror no cinema. Não é atoa que sempre é revisitado, sempre possui um público novo que o vê pela primeira vez e, que sempre será reabastecido por novas histórias sobre sua produção ao longo da história dos entusiastas da sétima arte!

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BLATTY, William Peter. O Exorcista. Ed. Harper Collins, SP, 2019.

DELUMENAU, Jean. História do Medo no Ocidente. Ed. Companhia das Letras, SP, 2009.

FREUD, Sigmund. O Inquietante. Ed. Companhia das Letras, 2012.

JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. Ed. Vozes, RJ, 2012.

LOVECRAFT, Howard Phillips. Supernatural Horror in Literature. Disponível em: http://www.yankeeclassic.com/miskatonic/library/stacks/literature/lovecraft/essays/supernat/supern00.htm

PERASSOLI, Sérgio Ricardo. O Vicejar dos Astros: a individuação da personagem Frodo em O Senhor dos Anéis. 2017.

ROAD, David. A Ameaça do Fantástico: aproximações teóricas. Ed. Unesp, SP, 2013.

RUSSEL, Jeffrey Burton. O Diabo: as percepções do mal da antiguidade ao cristianismo primitivo. Ed. Campus, RJ, 1991.

 

Filme: The Exorcist (O Exorcista)
Elenco: Linda Blair, Ellen Burstyn, Jason Miller, Max von Sydow, Vasiliki Maliaros, Jack MacGowran, Lee J. Cobb, Kitty Win
Direção: William Friedkin
Roteiro: William Peter Blatty
Produção: Estados Unidos
Ano: 1973
Gênero: Terror, Sobrenatural.
Sinopse: Em Georgetown, Washington, uma atriz vai gradativamente tomando consciência que a sua filha de doze anos está tendo um comportamento completamente assustador. Deste modo, ela pede ajuda a um padre, que também um psiquiatra, e este chega a conclusão de que a garota está possuída pelo demônio. Ele solicita então a ajuda de um segundo sacerdote, especialista em exorcismo, para tentar livrar a menina desta terrível possessão.
Classificação: 14 anos
Distribuidor: Warner Bros. Pictures
Streaming: Prime Video
Nota: 10

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