Graça Em Todo Dia - Catherine de Hueck Doherty - Writings ...
Graça Em Todo Dia - Catherine de Hueck Doherty - Writings ...
Graça Em Todo Dia - Catherine de Hueck Doherty - Writings ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
ATRAVÉS DO ANO<br />
Com <strong>Catherine</strong> <strong>Doherty</strong><br />
REFLEXÕES DIÁRIAS<br />
Selecionadas por Mary Bazzett<br />
1
Tradução: Roberto e Judith <strong>de</strong> Lorenzi,<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro, 2000<br />
Revisão: Raandi Lena King e Andrea Souza<br />
© Copyright Madonna House Publications.<br />
<strong>Todo</strong>s os direitos reservados. Para permissão<br />
<strong>de</strong> publicar, contatar MH Publications,<br />
2888 Dafoe Road, Combermere, Ontario,<br />
K0J 1L0, Canada<br />
e-mail: publications@madonnahouse.org<br />
o<br />
© online edition Madonna House Publications March 2010<br />
2
INTRODUÇÃO<br />
Se existe alguém, nesta era mo<strong>de</strong>rna, que possa nos mostrar como aplicar o Evangelho em<br />
nossa vida diária, esse alguém é CATHERINE DOHERTY.<br />
Pelo seu exemplo pessoal e seu trabalho com os pobres, pelas suas palestras e seus<br />
escritos, e pela comunida<strong>de</strong> que fundou – o Apostolado Leigo <strong>de</strong> Madonna House – ela oferece<br />
inúmeros exemplos concretos <strong>de</strong> como trazer Cristo para a praça pública do mundo <strong>de</strong> hoje. Sua<br />
maneira <strong>de</strong> viver os ensinamentos <strong>de</strong> Cristo é pequenina e simples e humil<strong>de</strong>. <strong>Catherine</strong> nos diz<br />
que a tarefa <strong>de</strong> cada cristão é encarnar o Evangelho todos os dias, não importa qual seja a nossa<br />
situação.<br />
Na verda<strong>de</strong>, a marca genial <strong>de</strong> sua espiritualida<strong>de</strong> é ser "portátil", isto é, po<strong>de</strong>rmos levá-la<br />
conosco para qualquer lugar e aplicá-la em todas as situações da vida. <strong>Em</strong>bora seus escritos<br />
sejam dirigidos aos membros <strong>de</strong> Madonna House, eles têm a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> falar a qualquer um.<br />
A extensa coletânea <strong>de</strong> escritos <strong>de</strong> <strong>Catherine</strong> é encontrada em numerosos artigos e livros<br />
publicados, como também em correspondência pessoal e outros materiais não divulgados. Este<br />
livro colheu seu conteúdo <strong>de</strong> todas essas fontes. Os temas – pobreza e humilda<strong>de</strong>, sacrifício e<br />
serviço, prece e silêncio, fé, esperança e amor – são bordados no próprio tecido da personalida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>Catherine</strong>.<br />
UM APAIXONADO CASO DE AMOR COM DEUS.<br />
Sempre que <strong>Catherine</strong> falava sobre qualquer coisa, suas palavras, em última análise,<br />
refletiam uma coisa: seu apaixonado caso <strong>de</strong> amor com Deus. Era um caso <strong>de</strong> amor que a fazia<br />
consi<strong>de</strong>rar a Cruz como um leito, e a dor como um beijo <strong>de</strong> Cristo. Era um caso <strong>de</strong> amor que<br />
<strong>Catherine</strong> vivia intensamente, custasse o que custar.<br />
Ela nasceu na Rússia em 1896 e foi criada por pais sábios, que eram cristãos <strong>de</strong>votos e que<br />
possuíam muitos bens, o que permitiu a <strong>Catherine</strong> acumular muitos conhecimentos práticos numa<br />
atmosfera <strong>de</strong> Velho Mundo. Seu pai era um homem <strong>de</strong> negócios e que, freqüentemente, atuava<br />
no campo diplomático, o que permitiu a ela familiarizar-se com diversas culturas. Ela viajou<br />
muito e apren<strong>de</strong>u diversas línguas.<br />
A vida <strong>de</strong> <strong>Catherine</strong> foi tão cheia <strong>de</strong> aventuras, que <strong>de</strong>la se po<strong>de</strong>ria fazer um filme épico,<br />
incluindo um casamento aos quinze anos, com seu primo, o rico barão russo Boris <strong>de</strong> <strong>Hueck</strong>; sua<br />
participação na Primeira Guerra Mundial, durante a qual serviu como enfermeira nas tropas do<br />
Czar, na fronte alemã, tendo sido con<strong>de</strong>corada por bravura; e seu testemunho direto, da tomada<br />
bolchevique <strong>de</strong> sua amada cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Petersburgo.<br />
<strong>Catherine</strong> e Boris fugiram da Rússia comunista, indo primeiramente para a casa <strong>de</strong> verão<br />
<strong>de</strong> sua família na Finlândia, on<strong>de</strong> quase morreram <strong>de</strong> fome nas mãos dos comunistas. Foram,<br />
então, libertados por soldados Russos Brancos. <strong>Em</strong> meados <strong>de</strong> 1919, partiram <strong>de</strong> Murmansk para<br />
a Escócia, <strong>de</strong>pois para a Inglaterra. <strong>Em</strong> 1921, o casal, sem dinheiro algum, viajou para o Canadá,<br />
on<strong>de</strong> nasceu seu filho George.<br />
<strong>Catherine</strong> trabalhou como balconista <strong>de</strong> loja, lava<strong>de</strong>ira, empregada doméstica e garçonete,<br />
para po<strong>de</strong>r sustentar seu filhinho e seu marido que estava, então, com a saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>bilitada. Depois<br />
<strong>de</strong> algum tempo ela encontrou uma ativida<strong>de</strong> bem remunerada, fazendo palestras, e trabalhando<br />
como executiva <strong>de</strong> uma agência literária. Enquanto isso, Boris, que fora instruído como<br />
engenheiro arquiteto na Rússia, conseguiu formar sua própria empresa em Montreal.<br />
A trajetória <strong>de</strong> suas vidas os levou <strong>de</strong> ricos a mendigos e <strong>de</strong>pois, novamente a ricos.<br />
Apesar <strong>de</strong> ser uma vida com aparência <strong>de</strong> sucesso, eles tiveram <strong>de</strong> suportar profundos<br />
sofrimentos interiores. Depois <strong>de</strong> muitos anos <strong>de</strong> luta dolorosa no casamento, <strong>Catherine</strong> resolveu<br />
separar-se <strong>de</strong> Boris.<br />
3
<strong>Catherine</strong> encontrou-se então em uma encruzilhada conflitante. Ela se <strong>de</strong>u conta que<br />
agora estava sozinha com uma pequena criança para sustentar. Por outro lado, sentia-se atingida<br />
pelas palavras <strong>de</strong> Cristo ao jovem rico do Evangelho, "Ven<strong>de</strong> o que possuis, dá aos pobres e<br />
segue-me!".<br />
<strong>Em</strong> seu <strong>de</strong>vido tempo ela fez exatamente isso, doando todos os seus bens para os pobres,<br />
conservando apenas o suficiente para o sustento <strong>de</strong> seu filho. Então, com a bênção do bispo <strong>de</strong><br />
Toronto ela foi viver e trabalhar com os pobres nas favelas da cida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> fundou a Casa da<br />
Amiza<strong>de</strong>. Seu apaixonado amor pelo Cristo nos pobres e seu serviço por eles <strong>de</strong> forma mo<strong>de</strong>sta e<br />
humil<strong>de</strong>, a fizeram estabelecer outras Casas em Nova Iorque, em Chicago e em outras cida<strong>de</strong>s,<br />
nos anos trinta e quarenta.<br />
Seu casamento foi anulado pela Igreja e Boris formou uma nova família. <strong>Catherine</strong><br />
continuou seu trabalho com os pobres e conheceu Edward J. <strong>Doherty</strong>, um famoso jornalista <strong>de</strong><br />
Chicago com quem se casou em 1943.<br />
<strong>Em</strong> 1947, ela e Eddie mudaram-se para Combermere, Ontário, no interior do Canadá, para<br />
se engajar em um trabalho <strong>de</strong> missão rural. Eles foram viver em uma pequena casa <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira a<br />
que <strong>de</strong>ram o nome <strong>de</strong> "Madonna House", em honra à Virgem Maria.<br />
A vida no campo era rústica e rigorosa. Madonna House tinha uma bomba d'água manual<br />
e uma privada do lado <strong>de</strong> fora da casa. Tinha-se que cortar lenha para o fogão e havia montes <strong>de</strong><br />
neve para se tirar com a pá durante os longos e gelados invernos.<br />
A VIDA DA COMUNIDADE MADONNA HOUSE.<br />
<strong>Em</strong>bora a vida em Madonna House fosse difícil, as pessoas iam se chegando, para gran<strong>de</strong><br />
surpresa <strong>de</strong> <strong>Catherine</strong>. Elas rezavam em comum, comiam, cantavam e trabalhavam em comum,<br />
apren<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> <strong>Catherine</strong> como Deus po<strong>de</strong> estar presente mesmo nas menores tarefas, quando são<br />
executadas com amor a Ele.<br />
Hoje Madonna House tem mais do que duzentos membros leigos, leigas, e sacerdotes.<br />
O grupo tem também mais <strong>de</strong> cento e vinte clérigos associados (diáconos, sacerdotes,<br />
bispos) em todo o mundo. Os membros fazem promessas <strong>de</strong> pobreza, castida<strong>de</strong> e obediência e<br />
vivem o celibato. Atualmente servem em mais <strong>de</strong> vinte missões do Apostolado que são<br />
espalhadas pelo mundo inteiro.<br />
A comunida<strong>de</strong> em Cómbermere recebe centenas <strong>de</strong> visitantes cada ano que aproveitam o<br />
acolhimento e convivência para aprofundar suas vidas em Cristo. Serve também como um centro<br />
<strong>de</strong> treinamento para quem <strong>de</strong>seja tornar-se membro da comunida<strong>de</strong>. Outros centros <strong>de</strong><br />
treinamento estão situados nas casas <strong>de</strong> Gana na África, Bélgica na Europa. (A missão no Brasil,<br />
aberta em Natal, RN em 1989, fechou em 2005.) O Apostolado é sustentado por doações <strong>de</strong> todo<br />
tipo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> roupas a carros, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sabonete a bicicletas, e também por contribuições financeiras.<br />
Foi o papa Pio XII que sugeriu a <strong>Catherine</strong> que os membros <strong>de</strong> Madonna House vivessem<br />
<strong>de</strong> acordo com os conselhos evangélicos. A partir daí, ela e seu marido passaram a conviver<br />
como irmão e irmã, vivendo em casas separadas, nos terrenos <strong>de</strong> Madonna House. Eddie foi,<br />
mais tar<strong>de</strong>, or<strong>de</strong>nado padre no rito Melquita Oriental que permite o matrimônio para os clérigos.<br />
Ele faleceu em 1975. <strong>Catherine</strong> o seguiu, em 14 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1985.<br />
Durante a sua vida, ela publicou um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> livros, alguns já traduzidos e<br />
publicados em português. Ela é mais conhecida aqui no Brasil através do livro: “Apresento-lhes<br />
A Baronesa”, uma biografia escrita pelo Pe. Héber <strong>de</strong> Lima, SJ.<br />
Já teve início o processo <strong>de</strong> beatificação <strong>de</strong> <strong>Catherine</strong>. Agora po<strong>de</strong> chamá-la <strong>de</strong> Serva <strong>de</strong><br />
Deus.<br />
4
Thomas Merton <strong>de</strong>la escreveu:<br />
“<strong>Catherine</strong> <strong>de</strong> <strong>Hueck</strong>... é uma gran<strong>de</strong> pessoa, sob todos os pontos <strong>de</strong> vista. E sua gran<strong>de</strong>za<br />
não é meramente física – é uma gran<strong>de</strong>za que vem do Espírito Santo que nela tem constante<br />
morada, guiando-a em todas as suas ações. Nunca conheci uma pessoa tão serena, tão cheia <strong>de</strong><br />
certeza, com tanta paz em sua absoluta confiança em Deus”.<br />
Ela estava tomada pelo amor <strong>de</strong> Deus; sua alma estava plena <strong>de</strong> oração, <strong>de</strong> sacrifício e <strong>de</strong><br />
uma pobreza total, sem restrições. Possuía a tremenda vitalida<strong>de</strong> da <strong>Graça</strong>, uma vitalida<strong>de</strong> que<br />
continha uma genuína e duradoura inspiração, porque punha almas em contato com Deus numa<br />
vívida realida<strong>de</strong>. E essa realida<strong>de</strong>, esse contato – frente a frente com Deus – é coisa da qual todos<br />
nós precisamos”.<br />
AS PEQUENAS COISAS DA VIDA<br />
<strong>Catherine</strong> costumava dizer: "Nós vivemos nossas vidas entre duas Missas" e "Posso<br />
suportar qualquer coisa entre duas Missas". Isso era típico <strong>de</strong> sua inimitável maneira <strong>de</strong><br />
combinar as coisas espiritualmente sublimes com as coisinhas do dia a dia.<br />
Se você me<strong>de</strong> ou não sua vida pelo tempo <strong>de</strong>spendido entre Missas diárias ou dominicais,<br />
as reflexões <strong>de</strong> <strong>Catherine</strong> são apresentadas a você <strong>de</strong> forma a tornar mais frutífero o seu tempo.<br />
Os frutos brotarão <strong>de</strong> seus práticos ensinamentos, que fazem aplicar o Evangelho na vida diária,<br />
naquilo que ela freqüentemente chamava <strong>de</strong> "pequenas coisas".<br />
Suas pequenas coisas po<strong>de</strong>m ser trocar fraldas, programar computadores, fabricar peças,<br />
estudar ou ensinar, fazer consertos, ou aten<strong>de</strong>r a fregueses. Elas po<strong>de</strong>rão ser lágrimas a enxugar,<br />
encontros a comparecer, refeições a preparar, ou quilômetros a viajar. Qualquer que seja sua<br />
situação na vida, eu tenho a esperança <strong>de</strong> que as palavras nas páginas que se seguem, ajudarão<br />
você a aplicar o Evangelho à sua vida diária.<br />
O livro está arrumado <strong>de</strong> forma a complementar o ano litúrgico, em especial as épocas do<br />
Advento e Natal, e o tempo da Quaresma e da Páscoa.<br />
Leia uma página durante sua hora do almoço ou enquanto as crianças cochilam, durante as<br />
viagens <strong>de</strong> trem ou ônibus para ir trabalhar, pela manhã ou ao entar<strong>de</strong>cer, quando você se<br />
dispuser a rezar. Folheie apenas o livro, ou comece a lê-lo a partir da data <strong>de</strong> hoje. Saboreie as<br />
palavras. Deixe-as penetrar. Como diria <strong>Catherine</strong>: "É tudo tão simples". Eu acredito que as<br />
reflexões <strong>de</strong> <strong>Catherine</strong> ecoam a voz <strong>de</strong> Deus. Elas são palavras para serem pon<strong>de</strong>radas,<br />
absorvidas e aproveitadas. Acima <strong>de</strong> tudo, são palavras para serem vividas, dia a dia, através do<br />
ano todo. Possa este livro ser para você um ano da <strong>Graça</strong> <strong>de</strong> Deus, em todos os momentos.<br />
pelo editor<br />
© online edition Madonna House Publications March 2010<br />
5
JANEIRO<br />
1 - CRESCENDO NA FÉ (Solenida<strong>de</strong> da Santa Mãe <strong>de</strong> Deus, Maria)<br />
Devemos ser gratos por mais um ano que Deus nos <strong>de</strong>u. Para mim, este é o ano da fé.<br />
Deus está nos presenteando com a gran<strong>de</strong> dádiva <strong>de</strong>ssa preciosa virtu<strong>de</strong> porque Ele sabe que<br />
precisaremos <strong>de</strong>la. Não é fácil caminhar na fé, mas essa é a única via que se abre para nós este<br />
ano, quando ao nosso redor quase se po<strong>de</strong> ouvir o mundo se <strong>de</strong>struindo, quando diante das<br />
turbulências que abalam a Igreja, às vezes parecemos estar no meio <strong>de</strong> um terremoto. Não, não é<br />
fácil, mas Deus nos dará essa fé e <strong>de</strong>vemos continuar a pedir por ela <strong>de</strong> tal modo que, cheios <strong>de</strong><br />
esperança, possamos amar.<br />
É o fruto da fé, da esperança e do amor que, colhido pelo Senhor, faz o mundo mudar!<br />
Ele permite que sua Igreja se expanda porque uma duas ou mais pessoas crêem, têm esperança e<br />
amam!<br />
Na Rússia, Maria, a Mãe <strong>de</strong> Deus, é conhecida como Bogoroditza, que significa "aquela<br />
que <strong>de</strong>u à luz ao Deus". Neste ano, a Bogoroditza nos ajudará a crescer na fé e no amor para que<br />
sigamos seu Filho, assim como ela o fez. Ela nos ensinará como po<strong>de</strong>mos nos conservar um<br />
povo <strong>de</strong> fé. Nós na fé caminharemos e cresceremos cada vez mais!<br />
O ano novo é <strong>de</strong> vocês! Mo<strong>de</strong>lem-no com ou sem Cristo. Eu sei que vocês o farão com<br />
Cristo e, por isso, será um ano bom.<br />
2 - FÉ: UM DOM QUE PODEMOS PEDIR<br />
A fé é um dom <strong>de</strong> Deus; um dom puro que só Deus po<strong>de</strong> conce<strong>de</strong>r e que Ele <strong>de</strong>seja<br />
ar<strong>de</strong>ntemente nos dar. Mas Ele quer que nós peçamos por esse dom, pois Ele po<strong>de</strong>rá concedê-lo<br />
só se pedir por ele.<br />
Quando pedimos para que tenhamos mais fé, estamos voltando nossa face para a d’Ele.<br />
Parece mesmo que Deus, em verda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>seja que essa simples ação aconteça, pois assim po<strong>de</strong>rá<br />
nos encarar, Face a face! Sim, Ele <strong>de</strong>seja olhar em nossos olhos. Ele ama contemplar a nossa<br />
face olhando para Ele, especialmente porque tantas vezes nós evitamos esse simples ato. Mesmo<br />
quando imploramos a Ele simples pedidos, é incrível como nós não somente fechamos nossos<br />
olhos físicos, mas também os <strong>de</strong> nossas almas - evitando, estranhamente, olhar para Ele. Apesar<br />
disso, temos a certeza <strong>de</strong> que Ele sempre nos olha, e nos olha com profundo amor.<br />
A fé, este presente <strong>de</strong> Deus, já curou muitas pessoas que acreditavam Nele. Houve o<br />
leproso, o cego, a mulher com fluxo <strong>de</strong> sangue, o servo do centurião romano, e milhões <strong>de</strong> outros<br />
não registrados.<br />
A fé é a mãe do amor e da esperança, como também da crença e da confiança. A fé nos<br />
faz ver a Face <strong>de</strong> Deus em cada face humana. A fé, à medida que lentamente cresce, enquanto<br />
pedimos e até suplicamos Deus por ela, i<strong>de</strong>ntifica-nos com o Cristo.<br />
3 - NOSSA CHAVE É A FÉ<br />
A fé é que nos permite entrar pacificamente na noite escura que, mais cedo ou mais tar<strong>de</strong>,<br />
teremos que enfrentar. A fé nos dá a paz e nos enche <strong>de</strong> luz. A fé é que tece todos os fios <strong>de</strong><br />
nossa existência.<br />
6
A fé caminha <strong>de</strong> maneira simples, como uma criança, entre a parte escura da vida humana<br />
e a esperança do que está por vir. Porque olhos não viram, nem ouvidos ouviram o que Deus<br />
reserva para aqueles que O amam. A fé é fundamentalmente uma espécie <strong>de</strong> loucura, imagino,<br />
uma loucura que pertence ao próprio Deus.<br />
Nossa face se volta para Deus através da fé e encontra Seus olhos, <strong>de</strong> modo que todos os<br />
dias se tornem mais e mais luminosos. O véu que existe entre Deus e nós vai se tornando cada<br />
vez mais tênue até que quase O possamos alcançar e tocar. A fé <strong>de</strong>rruba obstáculos, a fé faz do<br />
amor uma fogueira, contém o vento do Espírito Santo que faz da fogueira chamas que<br />
incen<strong>de</strong>iam.<br />
A fé é contagiosa quando a mostramos uns aos outros. Homens e mulheres não po<strong>de</strong>m<br />
resistir à fé, mesmo quando a negam, riem e zombam <strong>de</strong>la, e mesmo quando matam aquele que<br />
tem fé.<br />
Os homens e as mulheres <strong>de</strong> hoje <strong>de</strong>vem rezar pedindo a fé, especialmente nós que<br />
<strong>de</strong>sejamos pregar o Evangelho com nossas vidas. Sem fé, não po<strong>de</strong>mos fazer isso. Nós<br />
precisamos crer em Deus.<br />
4 - SEJA GENTIL CONSIGO MESMO<br />
Como é importante sermos gentis conosco! E como é freqüente que nos inclinemos<br />
exatamente para a direção oposta, ficando com raiva <strong>de</strong> nós mesmos, ou mesmo com raiva <strong>de</strong><br />
Deus! Muitas vezes nos autoflagelamos, psicologicamente falando. Vivemos com nossos<br />
pecados e nos achamos pessoas horríveis. Ou então ficamos nos atormentando pelas "<strong>de</strong>cisões<br />
erradas" que tomamos ou pelas "in<strong>de</strong>cisões”...especialmente no que se refere ao pecado. Ficamos<br />
esgotados.<br />
Nós nos esquecemos <strong>de</strong> que a misericórdia <strong>de</strong> Deus é parte da sua brandura. Nós nos<br />
esquecemos que basta que nos voltemos para Ele quando tivermos pecado e digamos "Perdão",<br />
para que o pecado seja completamente apagado. Deus não se lembra mais porque não quer<br />
lembrar. Sua misericórdia encobre tudo.<br />
Cristo disse que amássemos nosso próximo como a nós mesmos; e nosso primeiro<br />
próximo somos nós mesmos. Se você não apren<strong>de</strong>r a amar a si mesmo, você não po<strong>de</strong> amar a<br />
mais ninguém. Assim, seja tolerante consigo mesmo! Quantas vezes somos intolerantes<br />
conosco! Po<strong>de</strong>mos nos ferir tanto! Como eu <strong>de</strong>sejaria tomar vocês em meus braços e dizer:<br />
"Descansem agora. Sejam gentis com vocês mesmos. Sejam gentis".<br />
On<strong>de</strong> é que apren<strong>de</strong>mos a ser tolerantes? São João costumava reclinar-se sobre o peito <strong>de</strong><br />
Cristo. Penso que po<strong>de</strong>remos tornar-nos gentis uns com os outros e conosco mesmos, se<br />
fizermos igual a ele. Então po<strong>de</strong>remos escutar o coração <strong>de</strong> Deus e permitir que outros o escutem<br />
também. Assim estaremos sendo tolerantes para conosco e com qualquer outra pessoa.<br />
5 - O TEMPO DA ESTRELA<br />
Um dos ornamentos <strong>de</strong>ste tempo <strong>de</strong> Natal na Rússia é a estrela. As pessoas fazem estrelas<br />
enormes e as colocam no alto <strong>de</strong> suas isbas, que é como chamam suas cabanas rústicas.<br />
Os Três Reis Magos vieram <strong>de</strong> longe, seguindo uma estrela para encontrar o Rei recémnascido,<br />
Jesus Cristo. Aquela estrela está sempre diante <strong>de</strong> nós. A estrela tem um significado<br />
enorme, imenso e profundo. E nós, vamos segui-la ou vamos passar a vida toda procurando por<br />
estrelas que não existem?<br />
7
Se nós <strong>de</strong>cididamente vamos seguir aquela estrela, aquela que é a única estrela, nós nos<br />
transformaremos em estrela e outros irão seguir-nos em direção àquela imensa estrela, que é<br />
Cristo.<br />
Cristo <strong>de</strong>u Sua linda luz <strong>de</strong> amor a esse mundo pelo qual nasceu e ao qual veio salvar.<br />
Nós caminhamos na revelação <strong>de</strong> Seu infinito amor, que nos cerca e se revela on<strong>de</strong> quer que<br />
estejamos. Rezo para que cada um <strong>de</strong> vocês se torne o que Jesus era na noite em que nasceu: uma<br />
Criança que era um fogo <strong>de</strong> amor. Queridos amados – vamos ser como crianças e ser<br />
constantemente uma estrela que ilumina o caminho daqueles que O procuram.<br />
6 - ERA AMOR (Epifania do Senhor)<br />
A Epifania é um dia <strong>de</strong> festa, <strong>de</strong> profundo significado: a revelação <strong>de</strong> Cristo aos gentios.<br />
<strong>Em</strong> algum lugar, bem no fundo <strong>de</strong> seus corações, os não-ju<strong>de</strong>us estavam esperando por Ele,<br />
ansiando por Ele. Foi uma coisa estranha. Isto sempre me estimulou, principalmente quando<br />
dava palestras sobre justiça inter-racial.<br />
Pensem por um instante. Três Reis Magos vindos do Oriente. Um supostamente era<br />
negro e os outros eram persas. Os três vieram adorá-Lo; multicoloridos, por assim dizer, <strong>de</strong><br />
povos diferentes.<br />
Assim também O adoro. Eu costumava adorá-Lo num pequeno e pobre <strong>de</strong>pósito, com<br />
crianças brincando entre latões <strong>de</strong> lixo, em meio ao barulho do Harlem. Ele revelou-Se ao<br />
mundo inteiro na Epifania. Oh, eu sei, existem muitas formas da revelação do Senhor. Mas a<br />
primeira <strong>de</strong> todas foi a Epifania. E eu estava lá.<br />
Eu até trouxe presentes para Ele. A mirra dos meus trabalhos, o incenso <strong>de</strong> minhas<br />
orações, o ouro da pieda<strong>de</strong> e da compreensão que Ele pôs em meu coração. E espalhei tudo isso<br />
diante Dele. Ele era pequenino, mas colheu aquilo tudo, pois era tudo intangível. Não era ouro,<br />
não era incenso, era amor. Mesmo sendo pequeno, recém-nascido, Ele esticava suas mãozinhas e<br />
colhia as ofertas. Era muito simples, pois Ele era amor. A Epifania é uma festa tão linda. Ela<br />
reuniu o mundo inteiro <strong>de</strong> uma vez.<br />
7 - O ESPÍRITO DE MADONNA HOUSE<br />
Hoje vou resumir para vocês qual é o espírito <strong>de</strong> Madonna House. A imensidão <strong>de</strong>sta<br />
simples <strong>de</strong>finição irá mostrar toda a sua riqueza para vocês, se <strong>de</strong>la se aproximarem em oração e<br />
com reverência: o espírito <strong>de</strong> Madonna House é o belo e impressionante espírito do Evangelho<br />
aplicado à vida diária, sem restrições. O espírito <strong>de</strong> Madonna House é ter a simplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma<br />
criança. Ele nos faz reconhecer que o <strong>de</strong>ver do momento é <strong>de</strong>monstrado nas necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
cada hora, <strong>de</strong> cada dia. É o espírito das pequenas tarefas executadas extremamente bem, com a<br />
exclusiva motivação do amor a Deus. A essência <strong>de</strong>sse espírito é carida<strong>de</strong> e paz. Um amor que<br />
se consome nas pequenas coisas, primeiramente para os irmãos, e também que é aberto para o<br />
mundo inteiro – pequenas coisas como cuidar do que <strong>de</strong>ve ser arrumado, escrever uma carta,<br />
<strong>de</strong>dicar-se a uma tarefa com cem por cento <strong>de</strong> concentração, simplesmente porque você ama.<br />
Isso, meus amados, é o que ele é. Levaremos toda uma vida <strong>de</strong> oração e práticas para<br />
compreen<strong>de</strong>r a altura, a largura e a profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>finição. Aí está, para que nós todos<br />
vejamos, para meditar e crescer com isso.<br />
8
8 - O ESPÍRITO INTERPRETADO<br />
Tentemos rever um pouco do que significa o espírito <strong>de</strong> Madonna House. Viver <strong>de</strong> acordo<br />
com o Evangelho – sem restrições – significa viver a vida do amor. Mas amar significa morrer<br />
para si mesmo e viver para os outros. Significa seguir as pegadas <strong>de</strong> Cristo <strong>de</strong> Belém até o<br />
sepulcro. Isso quer dizer perguntar a si mesmo talvez até mil vezes por dia "Como Cristo agiria,<br />
pensaria ou sentiria, se Ele estivesse em meu lugar - se Ele fosse eu?”<br />
Ter um coração <strong>de</strong> criança significa não procurar fugir do Calvário. <strong>Em</strong> diversas ocasiões<br />
<strong>de</strong> nossas vidas Deus nos dá a graça <strong>de</strong> perceber um relance da Sua realida<strong>de</strong> - Alguém que nos<br />
amou em primeiro lugar. Devemos correspon<strong>de</strong>r a esse amor amando-O também. Nisso consiste<br />
a nossa fé. Ser simples como uma criança quer dizer isto: não fugir da Cruz, mas ser crucificado<br />
nela e morrer para si mesmo. Somente <strong>de</strong>ssa forma po<strong>de</strong>remos retribuir-Lhe seu amor.<br />
Fora com todos esses argumentos tortuosos e esses racionalismos intelectuais e<br />
espirituais! O fato marcante é que o amor caminha sobre uma linha reta: <strong>de</strong> on<strong>de</strong> estamos agora<br />
até a Cruz. Amor é não me <strong>de</strong>sviar um milímetro do mais curto e direto caminho entre mim e o<br />
Calvário. Isto é, ser simples como uma criança na sua forma mais pura. Nossa motivação po<strong>de</strong><br />
unicamente ser caritas, amor. Os frutos serão pax, paz.<br />
Pensem nisso, meus amados. Se assim vivermos, até o limite, não há dúvida alguma <strong>de</strong><br />
que veremos Deus e seremos santos.<br />
9 - A VIDA COMUM DO DIA-A-DIA<br />
É importante que entendamos que a rotina habitual e a vida diária é que formam o campo<br />
on<strong>de</strong> se vive o Evangelho sem restrições. Nenhuma parte do Evangelho é abstrata. Cada parte<br />
exige e clama em altos brados ser encarnada. É preciso encarnar a espiritualida<strong>de</strong>, como Jesus a<br />
encarnou. A menos que se faça isso, não será espiritualmente verda<strong>de</strong>iro.<br />
Primeiramente e antes <strong>de</strong> tudo está o amor por Deus. As Escrituras dizem que nós<br />
precisamos amar a Deus com todo o nosso coração, com toda a nossa alma e com toda a nossa<br />
mente. E assim <strong>de</strong>vemos fazer. Mas isto não significa que <strong>de</strong>vamos passar o dia inteiro rezando<br />
<strong>de</strong> maneira formal. Quer dizer, temos <strong>de</strong> ir cuidar das coisas do nosso Pai.<br />
Um carpinteiro trabalha com ma<strong>de</strong>ira. Um eletricista <strong>de</strong>ve se preocupar com todas as<br />
coisas necessárias para reparar e instalar equipamentos elétricos. Quando se está costurando,<br />
alguém se dá conta <strong>de</strong> que a rotina da costura, <strong>de</strong> colocar remendos, <strong>de</strong> pregar botões é, em si<br />
mesma uma oração. Lavando e passando roupa, estamos vestindo os <strong>de</strong>snudos. A rotina da<br />
cozinha <strong>de</strong> preparar alimentos comuns é dar alimento a quem tem fome, na realida<strong>de</strong> do dia-adia.<br />
Eu espero e rezo para que vocês, hoje e nos amanhãs que virão, se lembrem da sacralida<strong>de</strong><br />
das coisas simples feitas cuidadosamente sempre e sempre, por amor a Deus. Qualquer tarefa,<br />
rotineira ou não, é <strong>de</strong> valor re<strong>de</strong>ntor, sobrenatural, porque estamos unidos a Cristo. Nós<br />
precisamos nos lembrar e ter sempre presente esta verda<strong>de</strong>.<br />
10 - PEQUENAS COISAS FEITAS COM GRANDE AMOR<br />
O que po<strong>de</strong> fazer uma pessoa que <strong>de</strong>seja amar a Deus ar<strong>de</strong>ntemente? Tudo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> apagar<br />
as luzes até conter o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> trocar <strong>de</strong> roupa a cada cinco minutos, sendo indiferente a pratos <strong>de</strong><br />
9
comida, indo até on<strong>de</strong> Deus o chama. Conhecendo a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus, eu <strong>de</strong>vo tentar executá-la<br />
com perfeição. Meu coração inflará <strong>de</strong> amor e eu direi, "Tudo isto, Senhor, por amor <strong>de</strong> Vós".<br />
Conheço perfeitamente o valor re<strong>de</strong>ntor disto. Acham que estou falando muito simbolicamente?<br />
Um outro exemplo. Estou com minhas mãos vazias. Consi<strong>de</strong>ro que <strong>de</strong>vo trazer alguma<br />
coisa para oferecer no altar na próxima Missa. O que posso trazer? Posso trazer verduras<br />
plantadas e colhidas com muito amor, enten<strong>de</strong>ndo muito bem que por ter feito isso com atenção<br />
essas verduras têm valor <strong>de</strong> re<strong>de</strong>nção. Posso trazer horas <strong>de</strong> conversa ou cartas escritas<br />
<strong>de</strong>talhadamente. Nunca me ocorre que posso <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> fazer qualquer coisa sem amor. Por<br />
exemplo, falarei <strong>de</strong> lavar louças. Se eu tiver a atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> que isso é uma coisa pequena, porém<br />
linda, que posso oferecer a Deus, então lavar uma xícara po<strong>de</strong> tornar-se uma aventura.<br />
Viram como funciona? Qualquer coisa, por mais banal que seja, <strong>de</strong>ve ser feita<br />
perfeitamente, completamente conectada com Deus. De outra forma, <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> ser interessante.<br />
Não terá sentido, nem valor. Qualquer que seja o lugar para on<strong>de</strong> você for, sempre haverá<br />
pequenas coisas para fazer. Experimente fazê-las sem amor e veja o que acontece. Mas fazer as<br />
pequenas coisas com todo o nosso coração é nossa vocação.<br />
11 - FAZENDO CONEXÕES<br />
Essa é a essência <strong>de</strong> nossa vocação: fazer a conexão entre uma vida rotineira e<br />
aparentemente aborrecida nos seus <strong>de</strong>talhes repetitivos, com o Amor, que é Deus. Aí o<br />
aborrecimento <strong>de</strong>saparece e um dia passado diante do computador se torna glorioso. Então um<br />
dia à frente do computador, quando suas costas doem e sua mente divaga com o cansaço, é um<br />
dia que tem remido muitas almas; só Deus sabe quantas. Nós temos que ter consciência disso e<br />
fazer a conexão. Se ela não for feita, será um dia perdido. Que pensamento horrível e trágico<br />
esse <strong>de</strong> que um dos mais preciosos bens que Deus nos dá - o tempo - tenha sido gasto em vão.<br />
Essa percepção é uma terrível responsabilida<strong>de</strong> diante <strong>de</strong> Deus e <strong>de</strong> nós. Você precisa<br />
perceber o elo entre esse conhecimento, essa meditação, essa constatação, e a restauração do<br />
mundo para Cristo. Como você irá restaurar o mundo para Cristo, se seu escritório ou suas<br />
roupas, ou a louça na cozinha refletem a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m <strong>de</strong> sua alma? Como po<strong>de</strong> você ter consciência<br />
do mundo das almas, se você não se conscientiza <strong>de</strong> que quando a calçada está suja, seria boa<br />
idéia tomar <strong>de</strong> uma vassoura e uma pá e limpar a entrada da casa?<br />
Como irá você restaurar o mundo para o Cristo, se você só faz o estritamente necessário -<br />
a palavra da lei - sem nunca mergulhar no seu espírito? Cristo está esperando que você tome<br />
consciência <strong>de</strong> Sua presença e das tarefas que Ele <strong>de</strong>u a você, percebendo a conexão que existe<br />
entre vassouras, pias <strong>de</strong> cozinha, computadores, or<strong>de</strong>m, e a restauração do mundo.<br />
12 - APROFUNDANDO AS CONEXÕES<br />
On<strong>de</strong> foi que aprendi a relacionar coisas físicas com verda<strong>de</strong>s espirituais? Meus pais<br />
nunca me <strong>de</strong>ixaram esquecer que qualquer tarefa, por mais comum que fosse, seria <strong>de</strong> valor<br />
re<strong>de</strong>ntor, sobrenatural, se fosse executada com amor: conscientizar-se <strong>de</strong> que fazer as pequenas<br />
coisas feitas com cuidado, por amor a Deus, é viver o dia-a-dia em direção ao coração <strong>de</strong> Cristo.<br />
Essa conscientização é uma coisa importante, santa e gloriosa. Significa ter tudo presente,<br />
estar a postos. On<strong>de</strong>? <strong>Dia</strong>nte da face <strong>de</strong> Deus. Significa que levantamos pela manhã,<br />
conscientes <strong>de</strong> que este dia nos é dado para que cresçamos em amor, graça e sabedoria diante do<br />
Senhor. Significa que nos damos conta <strong>de</strong> que uma vez mais recebemos uma pequena porção <strong>de</strong><br />
10
tempo entre duas Missas para ganhar ou per<strong>de</strong>r a Visão Beatífica. Significa percebermos que<br />
temos um dia a mais para passar na escola do amor <strong>de</strong> Deus e que se nós o <strong>de</strong>sperdiçarmos, não<br />
vamos para o inferno, mas iremos para a dolorosa purificação <strong>de</strong> amor - o purgatório. Para que<br />
entremos no céu temos <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicar-nos ao próximo. Devemos apren<strong>de</strong>r isto aqui ou ali. Não<br />
apren<strong>de</strong>r <strong>de</strong> forma alguma, significa inferno.<br />
Por exemplo, lavar louça por amor <strong>de</strong> Deus. Quando alguém servir a família, <strong>de</strong>ve fazê-lo<br />
tranqüila e eficientemente. Se você apren<strong>de</strong>r a fazer a conexão entre servir e a or<strong>de</strong>m<br />
sobrenatural, você crescerá muito em sabedoria e amor e você será uma luz brilhando na<br />
escuridão do mundo. A luz <strong>de</strong> seu trabalho amoroso conduzirá pessoas até Deus.<br />
13 - PARE E OLHE PARA O OUTRO<br />
Tantos <strong>de</strong> nós clamam hoje em dia para serem reconhecidos. Nós <strong>de</strong>sejamos ser notados,<br />
não <strong>de</strong> maneira pomposa, não por termos dinheiro ou não, mas simplesmente porque somos seres<br />
humanos, pessoas. Mas passamos uns pelos outros sem dar atenção, sem parar, sem o mínimo<br />
sinal <strong>de</strong> reconhecimento. Esta é a razão pela qual nós, do mundo mo<strong>de</strong>rno, nos aproximamos<br />
cada vez mais do <strong>de</strong>sespero, e porque continuamos freneticamente a procurar por alguém que nos<br />
ame.<br />
Nossa procura é por Deus. Mas não é fácil encontrar Deus se não o vemos refletido nos<br />
olhos <strong>de</strong> homens e mulheres. É chegado o tempo para que nós, cristãos, comecemos a dar<br />
atenção a cada pessoa que encontramos. Cada pessoa é um irmão ou uma irmã em Cristo. Cada<br />
pessoa precisa ser reconhecida. A cada pessoa <strong>de</strong>ve ser dado um SINAL <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> e amor, seja<br />
apenas um sorriso, um aceno com a cabeça. Algumas vezes po<strong>de</strong> ser necessária a total<br />
disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma pessoa para com outra, para saciar sua fome <strong>de</strong> Deus.<br />
Tal amor e reconhecimento <strong>de</strong>vem sempre se manifestar com profundo respeito, sem levar<br />
em conta o status da pessoa com quem se encontra. Respeito, compreensão e hospitalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
coração - são essas as necessida<strong>de</strong>s intensas, imediatas dos homens e mulheres <strong>de</strong> hoje. Somos<br />
cristãos que queremos acordar e agir como cristãos, encarnando a lei do amor na nossa vida diária<br />
na sua real profundida<strong>de</strong>? Esses encontros com nossos irmãos e irmãs são as verda<strong>de</strong>iras<br />
encruzilhadas do tempo e da história. Quando nos encontramos aí, agimos ou não como cristãos?<br />
14 - HOSPITALIDADE DO CORAÇÃO<br />
O que o mundo hoje em dia mais necessita é <strong>de</strong> hospitalida<strong>de</strong> do coração. Hospitalida<strong>de</strong><br />
do coração quer dizer aceitar os outros como eles são, permitindo-lhes que se sintam em casa no<br />
seu coração.<br />
Sentir-se em casa no coração <strong>de</strong> uma outra pessoa significa tocar o amor, o amor <strong>de</strong> um<br />
irmão ou uma irmã em Cristo. Ser tocado pelo amor <strong>de</strong> outra pessoa significa perceber que Deus<br />
nos ama. Pois é através do próximo - seja nosso vizinho, nosso irmão ou irmã - que po<strong>de</strong>mos<br />
começar a compreen<strong>de</strong>r o amor <strong>de</strong> Deus.<br />
Isto é especialmente necessário na nossa estranha solidão tecnológica que nos mantém<br />
completamente isolados não apenas <strong>de</strong> nossos vizinhos, mas <strong>de</strong> nossos pais, mães, avós, em<br />
suma, <strong>de</strong> nossos familiares. Sim, a nossa era da tecnologia tem provocado uma terrível solidão!<br />
Nós <strong>de</strong>vemos começar a oferecer a hospitalida<strong>de</strong> do coração. <strong>Em</strong> outras palavras, <strong>de</strong>vemos abrirnos<br />
a um intercâmbio <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> que tem raízes no próprio coração <strong>de</strong> Cristo, a Quem<br />
chamamos <strong>de</strong> nosso amigo.<br />
11
Nós <strong>de</strong>vemos parar <strong>de</strong> nos fecharmos em nós mesmos. Temos <strong>de</strong> nos abrir ao próximo,<br />
compartilhar com ele e expressar o amor que sentimos por ele. Isso só po<strong>de</strong> ser feito se abrirmos<br />
as portas <strong>de</strong> nossos corações. Façamos isto agora, antes que as portas <strong>de</strong> nossos corações se<br />
conservem fechadas por alguma nova invenção tecnológica!<br />
15 - SERVIR COM SIMPLICIDADE<br />
Deus escreve certo por linhas tortas e eu recordo a passagem da Escritura que diz "Meus<br />
caminhos não são seus caminhos e Meus pensamentos não são seus pensamentos".(Is. 55:8)<br />
Aquilo que nos parece sem esperança, po<strong>de</strong> parecer algo transbordante <strong>de</strong> esperança para Deus.<br />
E existe muita coisa que parece sem esperança.<br />
Por que, então, sinto-me tão esperançosa? Eu me sinto assim porque o Senhor arou um<br />
terreno, preparou-o e nele semeou. Eu me sinto cheia <strong>de</strong> esperança porque brotos ver<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
oração estão aparecendo nos corações das pessoas, em toda a parte, não apenas naquelas<br />
<strong>de</strong>dicadas à vida religiosa, mas em homens e mulheres <strong>de</strong> todas as vocações. As pessoas estão<br />
orando em seus corações e estão achando tempo para ir a lugares <strong>de</strong> silêncio para refletir. Elas<br />
estão sendo puxadas interiormente em direção Àquele que se colocou a Si próprio a serviço dos<br />
outros.<br />
Vejo pessoas servindo o próximo com gran<strong>de</strong> simplicida<strong>de</strong>. Não se trata <strong>de</strong> uma ação<br />
frenética, pela qual as pessoas correm às favelas, para se tornarem assistentes sociais, ou <strong>de</strong>ixam<br />
seus ministérios para serem psicólogos. Não, é um serviço silencioso, pessoa-a-pessoa, e é o que<br />
Cristo <strong>de</strong>seja. Sua vida foi passada em oração e serviço e assim <strong>de</strong>ve ser a nossa. Não nos basta<br />
amar o nosso próximo; temos que arranjar tempo para ouvir, estabelecer um relacionamento<br />
pessoal. Isso é possível para qualquer pessoa, on<strong>de</strong> quer que você viva. Seja em apartamentos<br />
situados em arranha-céus, em casas isoladas, ou em condomínios, você po<strong>de</strong>rá sempre alcançar<br />
seu próximo.<br />
16 - PREGANDO O EVANGELHO COM NOSSAS VIDAS<br />
Chegamos agora à questão sobre como pregar o Evangelho com nossas vidas. Temos<br />
como exemplo a Sagrada Família, pois Nazaré é nosso mo<strong>de</strong>lo e nosso lar espiritual. Da mesma<br />
forma que a Sagrada Família, temos uma vida corriqueira, cheia <strong>de</strong> tarefas monótonas para serem<br />
executadas com gran<strong>de</strong> amor a Deus e ao próximo. Através <strong>de</strong>sses pequenos trabalhos diários,<br />
tornamo-nos testemunhas <strong>de</strong> Deus, para viver <strong>de</strong> tal modo que nossa vida não teria nenhum<br />
sentido se Deus não existisse. Cada um dos cansativos trabalhos diários e tarefas pequenas<br />
executado com gran<strong>de</strong> amor, é uma verda<strong>de</strong>ira e sonora pregação do Evangelho!<br />
Nas praças públicas do mundo <strong>de</strong>vemos ser pregadores do Evangelho com nossas vidas,<br />
tanto quanto (quando necessário) com nossas palavras. Devemos ser pregadores sem restrições.<br />
Nós somos o povo escolhido por Deus para dar a luz a Ele em um <strong>de</strong>terminado cenário <strong>de</strong><br />
Nazaré, ou seja, nas mo<strong>de</strong>rnas praças públicas do mundo. Temos <strong>de</strong> exibí-Lo a todos os que<br />
vivem em redor <strong>de</strong> nós, e nós faremos isso pela forma como vivemos.<br />
Tudo isso parece tão simples, mas pressupõe morrer para si mesmo - uma morte que<br />
chamamos <strong>de</strong> kenosis, um esvaziamento que violenta a própria pessoa. Apesar disso, a Escritura<br />
diz que o céu é tomado com violência (Lucas 16:16). Portanto precisamos apren<strong>de</strong>r a exercitar<br />
uma violência gentil e amorosa para conosco - e fazer isso por amor a Deus, com Quem<br />
<strong>de</strong>sejamos passar esta vida e toda a eternida<strong>de</strong>.<br />
12
17 - O DEVER DO MOMENTO (Sto. Antão, Aba<strong>de</strong>)<br />
Durante toda a minha infância e adolescência fui educada para aceitar que o <strong>de</strong>ver do<br />
momento era o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> Deus. Quando eu era criança, pensava que Deus estava bem a meu lado,<br />
enquanto eu bordava ou fazia qualquer outra coisa. Mais tar<strong>de</strong>, eu ainda acreditava que o <strong>de</strong>ver<br />
do momento é o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> Deus. Deus nos fala, assim, no <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> cada momento.<br />
Como esse <strong>de</strong>ver do momento é a vonta<strong>de</strong> do Pai, temos a obrigação <strong>de</strong> nos entregar<br />
inteiramente a ele. Quando o fazemos, po<strong>de</strong>mos ter a certeza <strong>de</strong> que estamos vivendo na<br />
verda<strong>de</strong>, portanto no amor e, portanto, em Cristo.<br />
Fazer o <strong>de</strong>ver do momento significa enfocar nosso inteiro ser - coração, alma, corpo,<br />
emoções, intelecto, memória, imaginação - na tarefa que está à mão! O <strong>de</strong>ver do momento<br />
executado para Deus é encantador, excitante, maravilhoso - basta que o vejamos como realmente<br />
ele é! Mas somos humanos. E leva-se muito tempo, meus muito amados, para se enxergar a<br />
realida<strong>de</strong> com os olhos <strong>de</strong> Deus. A menos que supliquemos arduamente, temos <strong>de</strong> esperar muito.<br />
Mas - com a oração - po<strong>de</strong>mos ver um mundo inteiramente diferente em nossa volta! Consertar<br />
roupas torna-se uma alegria. Aten<strong>de</strong>r um cliente se transforma num excitante <strong>de</strong>safio. Tratadas<br />
com esse cuidado, as monótonas tarefas alcançam outro sentido. Quaisquer que sejam suas<br />
tarefas, elas ganharão novo significado.<br />
18 - PRECISAMOS ORAR MAIS<br />
O que precisamos mais nos dias <strong>de</strong> hoje, é <strong>de</strong> oração. O povo <strong>de</strong> Deus está farto <strong>de</strong> ser<br />
classificado como sendo <strong>de</strong> direita ou <strong>de</strong> esquerda, farto <strong>de</strong> ouvir sobre casamento <strong>de</strong> padres,<br />
cansado <strong>de</strong> tantas coisas que ouvem no noticiário.<br />
É essa saturação <strong>de</strong> indagações que está levando a gente hoje em dia a rezar como, talvez,<br />
nunca o tenha feito antes. As pessoas comuns e simples procuram na oração respostas para essa<br />
canseira, rezando por si mesmas e pelos outros. Elas estão se conscientizando profundamente<br />
daquilo que sempre souberam - a oração po<strong>de</strong> mudar as coisas.<br />
O que precisamos hoje é <strong>de</strong> oração, a oração que vem do interior, vem do coração, a<br />
oração <strong>de</strong> Jesus. O coração humano necessita da oração, necessita escutar a Palavra -Jesus<br />
Cristo- que está no Evangelho. É a Palavra que vive, a Palavra que ora.<br />
Pouco a pouco, silenciosamente, como a maré que vai chegando, nós cristãos estamos<br />
novamente começando a rezar! <strong>Em</strong> vários países, o povo encontra tempo para fazer retiro e<br />
jejum, e rezar com vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> encontrar o Cristo. A oração <strong>de</strong>ve se tornar parte integrante <strong>de</strong><br />
nossa vida diária, a parte mais importante. Assim, a nossa “casa”, que é a santida<strong>de</strong>, se erguerá e<br />
será solidamente construída sobre a rocha da fé. E aí, nossos campos serão férteis no Senhor,<br />
originando uma boa colheita.<br />
19 - ORAR PARA QUE SE CUMPRA A VONTADE DE DEUS<br />
Temos a tendência <strong>de</strong> rezar intensamente em intenção das coisas que <strong>de</strong>sejamos, mas<br />
alguma vez pensamos em rezar para aquilo que Deus quer? Normalmente, quando nosso <strong>de</strong>sejo<br />
por alguma coisa "esfria", o mesmo acontece com a nossa oração. É muito importante, portanto,<br />
13
que quando oramos, nós nos movamos a favor da corrente da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus e não contra ela.<br />
Isso é verda<strong>de</strong>iro, mesmo quando estamos orando por alguém a quem amamos tremendamente.<br />
Quando meu marido Eddie sofreu um aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> carro e eu estava indo ao seu encontro,<br />
eu rezava fervorosamente para que ele pu<strong>de</strong>sse estar bem. Mas, na minha mente, a cada segundo,<br />
eu me esforçava a acrescentar, "se for da Tua vonta<strong>de</strong>". Se Deus quisesse tomar Eddie consigo,<br />
por qualquer razão, eu estava me preparando para aceitar isso. Eu tinha que, mentalmente,<br />
pronunciar palavras para esse fato, para que estivesse pronta para aceitar a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus e me<br />
conformar.<br />
A maior ação que po<strong>de</strong> ser feita por uma pessoa é fazer a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus. Você po<strong>de</strong>rá<br />
perguntar-me, "Como vou conhecer Sua vonta<strong>de</strong>? Como posso saber quais são minhas idéias e<br />
quais as <strong>de</strong> Deus?" Existe somente uma resposta. Para conhecer Sua vonta<strong>de</strong>, <strong>de</strong>vo apren<strong>de</strong>r<br />
como escutá-Lo. Isso somente po<strong>de</strong> ser feito através da oração e sob a orientação <strong>de</strong> um diretor<br />
espiritual.<br />
20 - ORAR É ESCUTAR<br />
Para mim, orar sempre foi um ato <strong>de</strong> escuta. Quando eu era pequena, costumava correr<br />
pelas baixas colinas cobertas <strong>de</strong> flores silvestres. Eu ficava <strong>de</strong>itada e o vento, passando entre as<br />
flores silvestres, as inclinava para frente e para trás, e Deus falava comigo. Naturalmente, eu era<br />
pequena e minha imaginação era vívida. Mas se você ficar à escuta <strong>de</strong> Deus, um dia você O verá<br />
e isso é o que faz <strong>de</strong> tudo uma aventura.<br />
Agora, levanto-me <strong>de</strong> manhã e me ponho a escutar através do dia. Enquanto faço isso,<br />
uma tremenda paz <strong>de</strong>sce sobre mim. Eu dito cartas, distribuo doações, vejo alguns livros, falo<br />
com membros da comunida<strong>de</strong> e com visitantes. Às vezes as pessoas não estão com disposição,<br />
há raiva e irritação e as vozes parecem uma bagunça <strong>de</strong> sons que me atordoa como um trovão.<br />
Mas eu sorrio e escuto e as respostas vão surgindo porque em algum lugar no fundo, bem no<br />
fundo <strong>de</strong> mim, eu sinto paz, a paz <strong>de</strong> Deus. No meio da turbulência a meu redor, essa escuta<br />
interior traz a paz. <strong>Em</strong> termos humanos, posso parecer maluca, como o chapeleiro (<strong>de</strong> Alice no<br />
País das Maravilhas, <strong>de</strong> Lewis Carrol - nota do tradutor) com relação aos acontecimentos que vão<br />
se suce<strong>de</strong>ndo, mas é como uma tempesta<strong>de</strong> sobre o oceano; cinqüenta braças ao fundo, tudo é<br />
calmo. Homens e mulheres também são assim. A tempesta<strong>de</strong> po<strong>de</strong> rugir, mas enquanto houver<br />
paz embaixo <strong>de</strong>la, estará tudo bem. É uma forma <strong>de</strong> se participar dos sofrimentos <strong>de</strong> Cristo. Ele<br />
também <strong>de</strong>ve ter tido muitos dias tempestuosos, vivendo com aqueles doze ru<strong>de</strong>s pescadores.<br />
21 - ANTES DE MAIS NADA: AÇÃO CONTEMPLATIVA (Sta. Inês)<br />
Nós <strong>de</strong>vemos em primeiro lugar ser diante do Senhor e a seguir agir pelo Senhor. Nosso<br />
mo<strong>de</strong>lo para isso é a Sagrada Família <strong>de</strong> Nazaré.<br />
Não há como negar o fato <strong>de</strong> que Maria era uma contemplativa. <strong>Em</strong> primeiro lugar e<br />
antes <strong>de</strong> tudo, ela estava sempre diante <strong>de</strong> Deus. Ela vivia na presença <strong>de</strong> Deus Pai. O Deus<br />
Espírito Santo a cobriu com sua sombra. O Deus Filho estava com ela, em carne e osso! E ainda<br />
assim ela também trabalhava pelo Senhor. Ela trabalhava dura, aten<strong>de</strong>ndo às necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
Jesus e <strong>de</strong> José e <strong>de</strong> muitos conterrâneos. Ela prestava seu serviço escutando e aconselhando<br />
gentilmente os que passavam por problemas e tristezas, dividindo com eles a comida, oferecendo<br />
hospitalida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> diversas outras formas simples e diretas que nós, hoje em dia, chamaríamos <strong>de</strong><br />
obras <strong>de</strong> misericórdia físicas e espirituais.<br />
14
José também era um contemplativo. Como não o seria! Ele viveu com Deus e com a mãe<br />
<strong>de</strong> Deus. Era um homem silencioso, um homem <strong>de</strong> oração profunda. No entanto, tem-se a<br />
certeza <strong>de</strong> que ele também trabalhava pelo Senhor - primeiramente provendo o sustento <strong>de</strong> sua<br />
família e <strong>de</strong>pois, certamente, dando assistência a seus vizinhos. Ele não apenas fazia coisas por<br />
eles, mas também os aconselhava. Nesses dois silenciosos seres humanos, Maria e José, é que<br />
vejo claramente o espírito <strong>de</strong> Madonna House.<br />
Como para o próprio Cristo, ser diante da face <strong>de</strong> Seu Pai era Sua verda<strong>de</strong>ira vida - a<br />
profunda essência <strong>de</strong>la. Fazer a vonta<strong>de</strong> do Pai era também a essência <strong>de</strong> Sua existência.<br />
22 - SER E FAZER<br />
Se nós tomássemos uns minutos <strong>de</strong> nosso tempo apenas para sentar e pensar sobre<br />
algumas coisas, nós teríamos mais paz e o caminho a seguir ficaria muito mais claro.<br />
Do modo como as coisas estão, as pessoas do mundo mo<strong>de</strong>rno, inclusive nós, católicos,<br />
nos parecemos como o esquilo na gaiola que corre, mas não sai do lugar. Andam <strong>de</strong> um lado para<br />
o outro, freneticamente, dos negócios para os prazeres, e <strong>de</strong> volta aos negócios. Sua palavra <strong>de</strong><br />
or<strong>de</strong>m é ação. "O que queremos fazer?".<br />
<strong>Em</strong> geral, poucos conseguem respon<strong>de</strong>r a si próprios, ou a seus amigos, a pergunta mais<br />
relevante: "O que queremos ser?". E é na resposta a essa pergunta que resi<strong>de</strong> a paz <strong>de</strong> espírito, a<br />
felicida<strong>de</strong> do coração e a inefável alegria <strong>de</strong> saber para on<strong>de</strong> vamos e por quê. Porque homens e<br />
mulheres foram criados primeiramente para ser diante <strong>de</strong> Deus, <strong>de</strong>pois para agir por Deus.<br />
Ser diante <strong>de</strong> Deus significa lembrar quem é Deus. Prestar a Ele, portanto, a adoração e o<br />
amor que a Ele <strong>de</strong>vemos, como criaturas que somos. Significa lembrar qual o objetivo final,<br />
significa cumprir todas as obrigações <strong>de</strong> uma vida <strong>de</strong> oração que nos conduza a esse objetivo.<br />
Significa saber que nós somos como uma taça vazia. Assim <strong>de</strong>vemos ir até Deus diariamente para<br />
Ele encher essa taça até transbordar.<br />
Então trabalho, recreação e todo o resto, se encaixarão no lugar apropriado e tudo o que<br />
fizermos, será feito por Deus. Comer, dormir e tudo o que fizer<strong>de</strong>s, que seja para a glória <strong>de</strong><br />
Deus, diz São Paulo. Assim estaremos cumprindo essa or<strong>de</strong>m, se conservarmos sempre presentes<br />
as duas coisas que levam ao serviço <strong>de</strong> Deus - o estar diante <strong>de</strong> Deus e o fazer por amor a Deus.<br />
23 - EXECUTANDO OS TRABALHOS DE DEUS<br />
Por quê?...Qual é a razão... Que motivos temos para consi<strong>de</strong>rar o trabalho como a medida<br />
do nosso valor? Por quê é tão difícil compreen<strong>de</strong>r que um <strong>de</strong>ficiente po<strong>de</strong> ser mais útil diante do<br />
Senhor e para a Igreja, do que alguém que vive em correria e produz cem cartas por dia, ou<br />
<strong>de</strong>scasca um milhão <strong>de</strong> batatas ou prega retiros maravilhosos?<br />
Por quê tantos <strong>de</strong> nós se esfacelam quando não estão trabalhando com o grupo? Nós nos<br />
sentimos <strong>de</strong>slocados, humilhados, miseráveis - por que? Que interesse tem o que fazemos, se<br />
somente quando escutamos nosso silêncio interior é que nos elevamos até Deus? Os trabalhos<br />
que nós fazemos <strong>de</strong>vem ser trabalhos <strong>de</strong> Deus, não nossos.<br />
Se só trabalhamos para satisfazer a nós mesmos, <strong>de</strong> tal forma que temos uma medida<br />
disso (hoje escrevi cem cartas, ontem escrevi noventa e oito, amanhã escreverei cento e duas)<br />
para nos consi<strong>de</strong>rarmos úteis à Igreja, então meu irmão, nós não o seremos mesmo! Nem úteis<br />
também para Deus.<br />
15
O maior feito <strong>de</strong> Deus na terra não foi Seu trabalho <strong>de</strong> marceneiro, ou Seus discursos; foi<br />
o estar pendurado na Cruz - imobilizado - impossibilitado <strong>de</strong> fazer qualquer coisa. Esse foi o<br />
momento <strong>de</strong> maior gran<strong>de</strong>za. E Sua ressurreição logo após. Mas o maior trabalho que Ele fez por<br />
amor foi morrer, ser crucificado, pregado, incapaz <strong>de</strong> fazer qualquer coisa.<br />
24 - ASSISTIR À TV COM OLHO CRÍTICO (S. Francisco <strong>de</strong> Sales)<br />
Uma das coisas em que pensei a noite passada foi sobre a televisão. A TV é uma<br />
influência insidiosa que, se <strong>de</strong>ixada correr livremente se tornará uma coisa hipnotizadora que<br />
<strong>de</strong>sperdiça o tempo. Ela combate para que o tempo não seja usado com melhor proveito – como<br />
fazer algo mais valioso que ajudaria a promover o espírito <strong>de</strong> família.<br />
A <strong>de</strong>sculpa usual para se ter uma TV é que existem bons programas disponíveis - música<br />
séria, noticiários e boas peças teatrais. Mas isso é justamente o que a família menos assiste<br />
quando se tem TV em casa. O que mais se vê são programas baseados nos valores mais<br />
superficiais da vida. É preciso ter cuidado com programas que transgri<strong>de</strong>m os limites do que é<br />
apropriado, fazem pouco dos votos matrimoniais, <strong>de</strong>monstram falta <strong>de</strong> respeito para com laços<br />
familiares, etc. Muitos <strong>de</strong>sses programas causam tal <strong>de</strong>vastação que me fazem ficar acordada a<br />
noite toda imaginando como será possível restaurar o mundo para Cristo com tal espécie <strong>de</strong><br />
entretenimento penetrando em cada lar.<br />
Um dos fatores-chave é que os membros da família não possuem o senso crítico para<br />
julgar os programas. <strong>Em</strong> geral, os jovens são como esponjas que absorvem o conhecimento que<br />
se lhes transmite. Eles nunca analisam ou criticam, mas apenas aceitam os fatos como são<br />
apresentados ou lidos. Bons programas po<strong>de</strong>m ser assistidos se não passarem tar<strong>de</strong> da noite,<br />
quando então se po<strong>de</strong> ter uma discussão crítica sobre eles, permitindo que a família aprenda a<br />
assistir a TV com olhos críticos e <strong>de</strong>senvolva habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> julgar o que é e o que não é boa<br />
diversão.<br />
25 - SAÚDE E DOENÇA (Conversão do São Paulo, Apóstolo)<br />
Num mês <strong>de</strong> janeiro a gripe baixou sobre Madonna House com força total, em toda a sua<br />
pujança. Quarenta <strong>de</strong> nós caíram como árvores <strong>de</strong>rrubadas por um furacão. Os que sobraram,<br />
talvez vinte, fizeram milagres tentando manter em funcionamento o complexo <strong>de</strong> Madonna<br />
House e tratando <strong>de</strong> nós também.<br />
Estranho como a doença nos aproximou mais uns dos outros, como fez nascer entre nós as<br />
flores da carida<strong>de</strong>, como fez os menos doentes cuidarem dos que estavam pior e como todos<br />
tentaram ajudar-se mutuamente.<br />
Quando saramos, agra<strong>de</strong>cemos a Deus por sua bonda<strong>de</strong> em ter-nos enviado aquele<br />
pequeno ataque <strong>de</strong> gripe. Isto mostrou-nos nossa fraqueza e na fraqueza fez-nos ver a força <strong>de</strong><br />
que São Paulo sempre fala quando menciona suas fragilida<strong>de</strong>s.<br />
A doença física po<strong>de</strong> <strong>de</strong>primir-nos ou elevar nossos espíritos, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> nossa<br />
atitu<strong>de</strong> com relação a ela. Aquilo que conservamos em nossos corações e nossas mentes é que<br />
po<strong>de</strong>rá solucionar os problemas atuais e futuros do nosso mundo. Nós temos em nossas mãos a<br />
vida e a morte do mundo.<br />
16
26 - A CASTIDADE E O EVANGELHO (SãoTimóteo e São Tito)<br />
De diversas maneiras temos nos esquecido do significado da castida<strong>de</strong>. Jesus Cristo<br />
estabeleceu um padrão, um i<strong>de</strong>al. Há pessoas que são castas no matrimônio e há outras que são<br />
castas como solteiros, pelo reino <strong>de</strong> Deus. Mas para todos, o mandamento do Pai foi direto:<br />
Aquele que olhar com luxúria para outra pessoa já cometeu adultério em seu coração. Cristo<br />
coloca o tema da castida<strong>de</strong> no contexto do coração e não da mente. Você po<strong>de</strong> racionalizar as<br />
coisas, mas o Evangelho não racionaliza - ele vai direto ao coração do assunto.<br />
A castida<strong>de</strong> exige pureza <strong>de</strong> coração, pois os puros verão a Deus. Quando você vê Deus,<br />
seu respeito e amor pelo seu próximo começarão a se assemelhar ao do coração <strong>de</strong> Cristo. No<br />
casamento, duas pessoas ingressam na mais gloriosa aventura que um homem e uma mulher<br />
po<strong>de</strong>m alcançar, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o fundamento <strong>de</strong>ssa união não seja a luxúria. O amor está no coração<br />
e não nas funções corporais.<br />
Se eu sou puro <strong>de</strong> coração, vejo Deus em cada pessoa. Quando vejo Deus no próximo, eu<br />
o respeito, eu o amo. Eu não usarei qualquer pessoa para meus fins pessoais, para me satisfazer<br />
física e emocionalmente e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> lado essa pessoa, como uma boneca em farrapos,<br />
quando eu tiver satisfeito completamente minhas necessida<strong>de</strong>s.<br />
Se estivermos no amor <strong>de</strong> Deus, não <strong>de</strong>struiremos a imagem <strong>de</strong> Deus nos outros. É<br />
sempre através do amor que respeitarei o dom do sexo com relação a outrem. É um dom<br />
precioso. Não é uma coisa para ser tratada com <strong>de</strong>scaso.<br />
27 - AS TENTAÇÕES CONTRA A CASTIDADE<br />
As tentações contra a castida<strong>de</strong> são parte normal do equipamento do <strong>de</strong>mônio. A<br />
castida<strong>de</strong> é uma virtu<strong>de</strong> que ele se compraz em <strong>de</strong>struir porque ela conduz à pureza <strong>de</strong> coração.<br />
Aqueles que a praticam em alto grau verão a Deus bem antes <strong>de</strong> morrer; eles possuirão Deus<br />
muito antes que sua morada <strong>de</strong> barro volte a terra.<br />
O <strong>de</strong>mônio também ataca a castida<strong>de</strong> porque ela é uma virtu<strong>de</strong> social. Po<strong>de</strong> nos parecer<br />
estranho, mas ela traz consigo o verda<strong>de</strong>iro sopro <strong>de</strong> Deus - <strong>de</strong> pureza, beleza, inocência,<br />
simplicida<strong>de</strong> - para um mundo abarrotado <strong>de</strong> pecados e aberrações sexuais.<br />
Por isso é natural que o <strong>de</strong>mônio queira atacar a castida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vocês. Deus o permitirá,<br />
para que vocês possam crescer em graça e pureza enquanto combatem essa tentação, como<br />
milhões <strong>de</strong> sacerdotes e freiras o fazem - como o fazem pessoas casadas para quem a abstinência<br />
é o único meio <strong>de</strong> praticar o controle da natalida<strong>de</strong> por longos períodos.<br />
A castida<strong>de</strong> é uma virtu<strong>de</strong> tão social que ela tem espantado e estarrecida todas as<br />
civilizações em todas as eras. Pagãos praticavam a castida<strong>de</strong> por que ela é uma virtu<strong>de</strong> que tem<br />
sido respeitada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> tempos imemoriais. É o reflexo da face <strong>de</strong> Deus. Assim, é natural que o<br />
<strong>de</strong>mônio a queira <strong>de</strong>struir. Po<strong>de</strong>m estar seguros <strong>de</strong> que vocês sofrerão as tentações contra a<br />
castida<strong>de</strong>. Elas chegarão mansamente, nas pontas dos pés. Elas aparecerão quando vocês<br />
estiverem isolados ou em solidão. Mas vocês terão forças para combatê-las.<br />
28 - SENTIR-SE SOZINHO E ESTAR ISOLADO (Sto. Tomás <strong>de</strong> Aquino)<br />
Sentir-se sozinho é uma situação que todo ser humano tem <strong>de</strong> suportar. Santo Agostinho<br />
colocou isso muito bem quando disse, "Nossos corações estão inquietos até que possam<br />
<strong>de</strong>scansar no coração <strong>de</strong> Deus". Este sentimento somente <strong>de</strong>saparece na presença da Visão<br />
17
Beatífica. Ele está ansioso pela união com o ser perfeito, isto é, Deus. Se vocês imaginam que<br />
pessoas casadas não se sentem solitárias, vocês estão se enganando. Por muito que ame meu<br />
marido Eddie, ele e eu, em última análise, vivemos solitários. Nós não temos a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
sondar o mais íntimo <strong>de</strong> nossos seres.<br />
A solidão foi criada pelo homem. Alguns são sós porque fogem da realida<strong>de</strong> ou retira-se<br />
da vida. Essa é uma solidão patológica, como também o é a solidão <strong>de</strong> uma pessoa tímida; mas<br />
<strong>de</strong> modo amplo, a solidão vem do <strong>de</strong>sconhecimento <strong>de</strong> que Deus nos ama, ou da gran<strong>de</strong><br />
dificulda<strong>de</strong> em aceitar essa verda<strong>de</strong>. Nós também não nos amamos como <strong>de</strong>veríamos, ou a<br />
nossos próximos, como somos obrigados. Então fica difícil para nós <strong>de</strong>dicarmo-nos a uma causa,<br />
mesmo que seja Deus. Passamos parte <strong>de</strong> nosso tempo sonhando e imaginando um parceiro<br />
i<strong>de</strong>al, um amigo, um amante, um marido, uma esposa, que irão nos "compreen<strong>de</strong>r"; mas não<br />
damos nenhum passo para compreen<strong>de</strong>rmos os outros. A solidão, neste sentido, po<strong>de</strong> ser<br />
aliviada. As tentações contra a castida<strong>de</strong> costumam aparecer durante a solidão, quando sonhamos<br />
acordados. Dessas temos <strong>de</strong> tomar cuidado. Cada vez que vocês vencem essas tentações com a<br />
graça <strong>de</strong> Deus, vocês se tornam luzes puras e brilhantes para o mundo, e a Igreja crescerá aos<br />
saltos.<br />
29 - O LAMENTO DE CRISTO<br />
Eu cruzo as ruas <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s movimentadas. Encontro poucos que saibam meu nome.<br />
Eu cruzo os campos tão perfumados e ainda assim ninguém me acena com gentileza.<br />
Eu sou um estranho para aqueles por quem morri mil mortes numa tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> sol.<br />
Eu <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong>scansar nos corações daqueles que Me pertencem. Mas Eu os encontro muito<br />
atarefados para parar e Me darem repouso. Eles dizem que estão ocupados com Meus negócios<br />
ou <strong>de</strong> Meu Pai, mas que mentira!<br />
Eles <strong>de</strong>sperdiçam o tempo do qual sou o Mestre. Eles o esbanjam com tanta<br />
prodigalida<strong>de</strong>, esquecendo que Eu pedirei conta <strong>de</strong> cada coisa e cada ato, <strong>de</strong> cada segundo,<br />
minuto, hora.<br />
Quem, então, abrirá seu coração para Mim? Pois estou fatigado e quero repousar. Não<br />
haverá ao menos um apóstolo que possa mais uma vez dividir Comigo esta solidão e esta fadiga?<br />
30 - URODIVOI: LOUCOS POR CRISTO<br />
Quero lhes falar sobre algo que não é muito popular. Quero falar sobre ser um louco por<br />
amor a Cristo. <strong>Em</strong> russo a palavra urodivoi significa "os tolos". É chegado o tempo no qual nós<br />
<strong>de</strong>vemos nos tornar loucos. Não quer dizer que vamos nos juntar aos revolucionários. Não.<br />
Trata-se <strong>de</strong> renovação da paróquia. Já lhes ocorreu que talvez a loucura <strong>de</strong> Cristo é permanecer<br />
na paróquia e reconstruí-la? Isto, meus amigos, é loucura por amor a Cristo.<br />
Vocês partem e procuram em todos os lugares, em outras comunida<strong>de</strong>s e locais, um<br />
consolo para vocês mesmos. Mas quando vocês <strong>de</strong>ixam a sua paróquia porque não suportam o<br />
padre, quando vocês a <strong>de</strong>ixam porque a Madre Superiora não os compreen<strong>de</strong>, quando o marido e<br />
a esposa pe<strong>de</strong>m o divórcio, será isso loucura por amor a Cristo? Ou a loucura por Cristo seria<br />
permanecer com seu pastor, com seu marido, com sua esposa, com a Madre Superiora?<br />
Loucura por amor a Cristo é uma mudança no coração, nos seus corações, no meu<br />
coração, <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro para fora e não <strong>de</strong> fora para <strong>de</strong>ntro. Não se enganem. Nada daquilo que vocês<br />
acham que vai mudá-los vindo <strong>de</strong> fora, causará alguma mudança em vocês. Unicamente o que<br />
18
vem do mais profundo <strong>de</strong> seus corações, <strong>de</strong> suas entranhas, por assim dizer, é que mudará o<br />
mundo. E o mundo necessita <strong>de</strong> mudança. Agora! Hoje!<br />
31 - A PEQUENEZ E AS ESCOLHAS (São João Bosco)<br />
Nós ansiamos para sermos gran<strong>de</strong>s em nossas vidas, mas Deus nos pe<strong>de</strong> que nos tornemos<br />
pequenos. Para passar pela porta que nos leva ao Reino, nós temos que cair <strong>de</strong> joelhos.<br />
Paradoxalmente, se fizermos isso, nós cresceremos em estatura, pois, os olhos não vêem e os<br />
ouvidos não ouvem o que Deus tem reservado para aqueles que O amam.<br />
Este é um momento <strong>de</strong> escolha. É um dos inúmeros momentos semelhantes nos quais<br />
seremos chamados para fazer nossa escolha, cada dia <strong>de</strong> nossas vidas, até a morte. Mas o mais<br />
incrível <strong>de</strong> tudo sobre isso é nossa liberda<strong>de</strong>. Somos totalmente livres para virar as costas a esse<br />
po<strong>de</strong>r que nos conduz adiante. Somos livres para nos afastarmos dos laços <strong>de</strong> um amor que exige<br />
nossa entrega total. Nada nos impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> dizer não. Nada, exceto o amor <strong>de</strong> Deus.<br />
Assim, rezar é muito simples. "Senhor, eu creio; aju<strong>de</strong> minha falta <strong>de</strong> fé. Jesus aju<strong>de</strong>me".<br />
Esta oração po<strong>de</strong> se tornar um hábito e nem precisa ser pronunciada em voz alta. É um<br />
grito com poucas palavras, um grito <strong>de</strong> agonia, um grito por socorro, um grito, sem palavras, por<br />
luz. Mas por trás <strong>de</strong>stes curtos gritos, intensificados por dor ou tristeza, ou às vezes até alegria,<br />
está a prece, "Aju<strong>de</strong>-me a seguir em frente para on<strong>de</strong> quer que o Senhor <strong>de</strong>seje que eu vá"<br />
.<br />
© online edition Madonna House Publications March 2010<br />
19
1 - SEUS SACRIFÍCIOS DIÁRIOS<br />
FEVEREIRO<br />
Sua vida diária aparentemente é muito tediosa. Você tem apenas um momento para<br />
viver <strong>de</strong> cada vez. Um dia sendo o período entre duas Missas. Você não tem passado; seus dias<br />
<strong>de</strong> ontem já se foram. Você não tem futuro; seus amanhãs pertencem a Ele. Você tem apenas<br />
hoje. Somente este momento para ser obediente até a morte. Somente este momento para ser<br />
queimado com um fogo que não conhece começo nem fim. Somente este momento para você se<br />
<strong>de</strong>bruçar no serviço do próximo. Porque você necessita provar para seu Bem-Amado que você<br />
realmente O ama. Palavras não são o bastante! As palavras morrem diante do Verbo. Você<br />
somente po<strong>de</strong> provar seu amor por Ele se amar o seu semelhante, porque seu semelhante é Cristo.<br />
O que seu amor fará para o seu Amado? Belas vestimentas que você bordou com o fio <strong>de</strong><br />
ouro mais precioso? Dará você a Ele uma coroa <strong>de</strong> ouro, ou um cetro esculpido durante toda a<br />
sua vida em preciosismo marfim? Ou fará poesias que movam as multidões ou música para<br />
encantar o mundo? Ou escreverá livros que O tornem mais conhecido?<br />
Não! <strong>Em</strong> Madonna House ou em qualquer outro lugar sua vida se constitui, a maior parte<br />
do tempo, <strong>de</strong> uma miría<strong>de</strong> <strong>de</strong> tarefas pequenas e humil<strong>de</strong>s. O que você dará a Ele é uma refeição<br />
bem preparada, uma porção <strong>de</strong> verduras cuidadosamente <strong>de</strong>scascadas, fichas <strong>de</strong> arquivo<br />
corretamente preenchidas vezes sem conta, o piso permanentemente encerado para permitir que<br />
os pés do Cristo que está em seu próximo possam andar sobre ele, máquinas mantidas limpas e<br />
lubrificadas, o lixo removido dia sim, dia não, e intermináveis viagens para levar ou trazer<br />
alguém do médico ou do hospital. Anos e anos fazendo isso! Esses serão os humil<strong>de</strong>s presentes<br />
que você dará.<br />
2 - IR A JESUS POR MARIA (Festa da Apresentação do Senhor)<br />
Quem quiser procurar por Cristo sem Maria procura por Ele em vão. Cristo disse Eu sou o<br />
Caminho. Mas a porta que leva ao Caminho é Maria. Tudo o que fazemos, nós o fazemos<br />
através <strong>de</strong> Maria. Nós po<strong>de</strong>mos nos <strong>de</strong>dicar totalmente ao seu Filho, pois é ela quem nos mostra<br />
o Caminho.<br />
Vejam bem, vocês vão a Jesus através <strong>de</strong> Maria. Ela possui o segredo da oração e da<br />
sabedoria, porque ela é a mãe <strong>de</strong> Deus. Quem mais lhes po<strong>de</strong>ria ensinar a queimar com o fogo do<br />
amor, exceto a mãe do Belo Amor? Quem mais po<strong>de</strong>ria ensinar-lhes a rezar a não ser esta<br />
mulher <strong>de</strong> oração? Quem mais po<strong>de</strong>ria ensinar-lhes a ir através do silêncio dos <strong>de</strong>sertos e das<br />
noites, o silêncio da dor e da tristeza, a solidão da alegria e do júbilo, exceto aquela mulher<br />
envolta em silêncio? Quem po<strong>de</strong> esten<strong>de</strong>r a ponte entre o velho e o novo, entre o que você era e<br />
o que você é? - somente Maria, a ponte entre o Antigo e o Novo Testamento, a menina que nos<br />
<strong>de</strong>u o Messias, o Filho do <strong>Todo</strong>-Po<strong>de</strong>roso. Sem Maria, como po<strong>de</strong> alguém falar do Deus Pai,<br />
diante <strong>de</strong> Quem ela encontrou tanta graça que a fez Mãe <strong>de</strong> Seu Filho? Como po<strong>de</strong>mos falar do<br />
Cristo (que era seu Filho, a Quem concebeu por obra do Espírito Santo) sem falar <strong>de</strong> Maria, a<br />
Esposa do Espírito Santo? Ela é Nossa Senhora da Trinda<strong>de</strong>.<br />
20
3 - O PEQUENO MANDATO (S. Brás)<br />
As palavras do Senhor que vieram a mim através <strong>de</strong> anos e que formam o coração do<br />
nosso modo <strong>de</strong> viver em Madonna House são conhecidas como O Pequeno Mandato. Vou<br />
explicar para vocês esse mandato item por item durante os próximos dias, para que vocês possam<br />
melhor compreen<strong>de</strong>r.<br />
Assim é O Pequeno Mandato:<br />
4 - LEVANTE-SE, VÁ!<br />
“Levante-se, vá! Venda tudo o que você possui...”.<br />
Dê tudo aos pobres, diretamente, pessoalmente.<br />
Tome a minha cruz (a cruz <strong>de</strong>les) e siga-me,<br />
Indo aos pobres - sendo pobre,<br />
Sendo um com eles - um Comigo.<br />
Pequeno, seja sempre pequeno...<br />
Simples, pobre, como criança.<br />
Pregue o Evangelho com sua vida<br />
SEM RESTRIÇÕES;<br />
Ouça o Espírito, Ele guiará você.<br />
Faça as pequenas coisas extremamente bem,<br />
Por amor a Mim.<br />
Ame, ame, ame sem contar o custo.<br />
Vá às praças e permaneça Comigo.<br />
Reze, jejue... Reze sempre, jejue.<br />
Seja escondido, seja uma luz aos pés do seu próximo.<br />
Vá sem temor ao fundo dos corações dos homens...<br />
Eu estarei com você. EU SEREI O SEU DESCANSO."<br />
Levante-se, vá! Estas três pequenas palavras significam que vocês não po<strong>de</strong>m relaxar em<br />
suas tarefas. Vocês têm <strong>de</strong> se levantar! E, em pé, não po<strong>de</strong>m permanecer imóveis, exceto em sua<br />
alma; <strong>de</strong>vem estar prontos para cuidar das coisas do Pai. Vocês têm que ser ao mesmo tempo<br />
ativos e contemplativos, ao mesmo tempo Marta e Maria. Não se iludam; a quietu<strong>de</strong> <strong>de</strong> Maria é<br />
uma ação ainda maior que a <strong>de</strong> Marta. É importante ser diante do Senhor e <strong>de</strong>pois fazer para<br />
Ele; nós temos <strong>de</strong> ser contemplativos enquanto agimos. E, assim, suas vidas são um permanente<br />
levante-se e um permanente vá. Ambas as ações têm a ver com as coisas do Pai e Daquele que O<br />
ama tremendamente, Jesus Cristo.<br />
Como vão vocês fazer isso tudo? Vocês o farão em graça e humilda<strong>de</strong>, estando<br />
conscientes <strong>de</strong> sua completa pobreza. Vocês farão isso <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo exclusivamente <strong>de</strong> Deus.<br />
Vocês farão isso andando <strong>de</strong> mãos dadas com Maria, através <strong>de</strong> quem vocês sempre encontrarão<br />
Jesus. Vocês farão isso com completa simplicida<strong>de</strong> na fé, procurando ter um coração <strong>de</strong> criança.<br />
Vocês farão isso consi<strong>de</strong>rando a Missa e as Escrituras os duplos faróis <strong>de</strong> suas vidas; sua base,<br />
sua própria essência, seu centro.<br />
Vocês o farão através da confissão regular para manter suas consciências tão puras quanto<br />
a <strong>de</strong> uma criança, e passando algum tempo diante do Santíssimo Sacramento quando possível e<br />
também pela oração e pelo jejum, sob a rígida orientação do diretor espiritual <strong>de</strong> cada um.<br />
21
5 - APRENDENDO A VIVER EM POBREZA (Sta. Águeda)<br />
A pobreza, segundo Paul Evdokimov * , célebre teólogo russo, significa "quando a ausência<br />
da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter se torna a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> não ter". Meditem nessa frase - ela pertence aos<br />
primeiros grupos <strong>de</strong> vida monástica <strong>de</strong> todas as nações, mas é uma idéia essencialmente russa.<br />
Vocês também são chamados a viver em pobreza, como todos os batizados na fé o são. A<br />
pobreza é uma forma <strong>de</strong> se tornar "nu", por assim dizer, mas alguns <strong>de</strong> nós somos chamados para<br />
a total nu<strong>de</strong>z por um voto <strong>de</strong> pobreza, como fazem os religiosos. <strong>Em</strong> Madonna House, nós<br />
fazemos a promessa <strong>de</strong> pobreza e <strong>de</strong> dar nossos bens para os pobres, para nos tornarmos pobres<br />
nós mesmos.<br />
Como fazemos nós viver em pobreza, como todos os cristãos <strong>de</strong>veriam fazer? Repartir a<br />
riqueza que temos <strong>de</strong>veria ser muito simples para todos. Seu amor por Cristo, o Espírito Santo e<br />
a graça do Pai, dirão para suas consciências até on<strong>de</strong> vocês <strong>de</strong>vem ir para repartir os bens. Não<br />
há duas pessoas que repartam seus bens <strong>de</strong> forma semelhante, mas todos os que crêem em Jesus<br />
Cristo <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>sprendidos <strong>de</strong> posses para não estarem presos a nada exceto à Santíssima<br />
Trinda<strong>de</strong>.<br />
Eu rezo para que vocês se compenetrem <strong>de</strong>sse espírito <strong>de</strong> <strong>de</strong>sprendimento, <strong>de</strong> nada<br />
possuir. Que haja pobreza e simplicida<strong>de</strong> nos corações <strong>de</strong> todos nós!<br />
6 - PEQUENEZ, SIMPLICIDADE.<br />
Nosso Pequeno Mandato diz Pequeno, seja sempre pequeno... Simples, pobre, como<br />
criança. Isto evita a arrogância, a arrogância intelectual tão em evidência no Oci<strong>de</strong>nte. "Tudo<br />
tem <strong>de</strong> estar <strong>de</strong> acordo com minha maneira <strong>de</strong> pensar". E assim economia, política, paz, guerra -<br />
tudo é afetado por essa atitu<strong>de</strong> e as divisões são intermináveis em toda parte.<br />
Especialmente nas últimas décadas, essas divisões penetraram no coração <strong>de</strong> Or<strong>de</strong>ns<br />
religiosas, tanto masculinas como femininas, no sacerdócio e nas dioceses. Elas penetram nas<br />
famílias. Elas penetram nas crianças.<br />
Escutem. Conseguem perceber o <strong>de</strong>smanche do mundo? A poluição se esten<strong>de</strong> não<br />
apenas sobre a terra, rios e ar, mas o próprio coração da humanida<strong>de</strong> está correndo o perigo <strong>de</strong> ser<br />
totalmente poluído. Ele está <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> ser pequenino. Ele está <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> ser como criança.<br />
Ele está <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> ser simples e pobre.<br />
O resultado aí está, ouçam novamente a cacofonia (confusão) <strong>de</strong> vozes que chegam,<br />
saídas da boca <strong>de</strong> Satanás, matando pessoas em todo o mundo, <strong>de</strong>ixando-as como mortas,<br />
famintas, frias e solitárias. Crescem as estatísticas <strong>de</strong> suicídios porque homens e mulheres<br />
<strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> ser pequeninos, simples, como crianças.<br />
7 - PREGANDO O EVANGELHO.<br />
O Pequeno Mandato diz Pregue o Evangelho com sua vida SEM RESTRIÇÕES. Ouça o<br />
Espírito, Ele guiará você.<br />
Nós <strong>de</strong>vemos viver o Evangelho sem restrições, mesmo que custe a nossa própria vida.<br />
Devemos dar testemunho do Cristo nas praças, através do amor e da ação, não tanto pelas<br />
palavras. Isto foi resumido por Charles <strong>de</strong> Foucauld, quando disse "Nós precisamos proclamar o<br />
22
Evangelho com nossas vidas". (A mesma idéia foi-nos inspirada a ambos por Deus, imagino,<br />
quase que da mesma forma.).<br />
Sim, é chegado o tempo para todos os que crêem em Jesus Cristo, e todos os que anseiam<br />
por Ele e por aquela unida<strong>de</strong> que somente Ele po<strong>de</strong> nos trazer para lutarmos contra as divisões.<br />
Sim, é chegado o tempo para que todos nós tenhamos a coragem <strong>de</strong> submeter nossos intelectos ao<br />
<strong>de</strong> Jesus Cristo enquanto Ele age em nossas famílias, nas nossas relações pessoais, nos governos,<br />
em Madonna House, em or<strong>de</strong>ns religiosas, em tudo, em qualquer lugar.<br />
Não há espaço para a arrogância quando <strong>de</strong>sejamos pregar o Evangelho sem restrições,<br />
porque Aquele que é o próprio Evangelho disse Aprendam <strong>de</strong> Mim, que Sou manso e humil<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
coração.<br />
8 - PEQUENAS COISAS (Sta. Josefina Bakhita)<br />
O Pequeno Mandato diz, Faça as pequenas coisas extremamente bem, por amor a Mim.<br />
Como um sussurro que passa por entre as árvores à noite, na mesma brisa o Senhor chega até nós<br />
e repete essas palavras. Você po<strong>de</strong> escutar a voz das folhas que, <strong>de</strong> maneira gentil, da mesma<br />
forma como Deus é gentil com você, dizem: "Não estou pedindo por gran<strong>de</strong>s coisas. Eu peço<br />
pelas pequenas coisas bem feitas, para o Amado".<br />
Nesta, a Encarnação veio ao nosso encontro. Pois não foi isso que Ele fez... as pequenas<br />
coisas, extremamente bem, por amor <strong>de</strong> nós? Po<strong>de</strong> você imaginar uma ca<strong>de</strong>ira ou mesa<br />
imperfeita quando executadas pelas mãos Dele, em Nazaré? Ele fazia tudo bem, por amor <strong>de</strong> Seu<br />
Pai e por amor <strong>de</strong> nós. No início, Seu martelar infantil imitando José, mais tar<strong>de</strong> o trabalho<br />
perfeito <strong>de</strong> um competente marceneiro. Depois, o som do couro em Suas costas - a flagelação;<br />
logo após o som do martelar <strong>de</strong> pregos sobre a carne macia. Essas foram Suas cartas <strong>de</strong> amor<br />
para nós. Ele nos <strong>de</strong>u o exemplo: Faça as pequenas coisas extremamente bem, por amor a Mim.<br />
E com isso Ele reduziu o amor ao nosso tamanho. Nós somos pequenos. Por isso nossos<br />
trabalhos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> casa já começam a ser uma maneira <strong>de</strong> amá-Lo. Ou mesmo o trabalho <strong>de</strong><br />
digitar, ou dirigir um táxi, ou trocar fraldas, ou trabalhar na lavoura, ou qualquer outra coisa que<br />
façamos! São todas coisas pequenas, que parecem sem importância, mas oh, como elas são<br />
tremendamente importantes, pois são os meios para viver o Evangelho sem restrições.<br />
9 - AME, AME, AME.<br />
O Mandato continua com - Ame, ame, ame sem contar o custo. Bem, há muito pouca<br />
coisa que eu possa dizer sobre isso. O mundo é um lugar muito frio nos dias <strong>de</strong> hoje porque as<br />
pessoas não amam. Há a luxúria. Há compromissos passageiros com aquilo que parece amor,<br />
mas que não dura o suficiente para ser chamado <strong>de</strong> amor. O amor é mais forte do que a morte.<br />
Porque o amor é Deus, o amor é mais forte do que a morte. O amor é uma Pessoa.<br />
Meditem nisso. Contemplem isso. Vocês começarão a compreen<strong>de</strong>r a fonte do verda<strong>de</strong>iro amor,<br />
o coração <strong>de</strong> Deus.<br />
O coração <strong>de</strong> Deus nos chama para que entreguemos a Ele os nossos corações, o que<br />
significa que nos entreguemos a Ele. Não <strong>de</strong>vemos <strong>de</strong>ixar nada para trás. Significa que se<br />
amamos verda<strong>de</strong>iramente a Deus, como Ele <strong>de</strong>seja ser amado, assumimos total responsabilida<strong>de</strong><br />
por nossas ações e não tememos a aprovação ou <strong>de</strong>saprovação <strong>de</strong> quem quer que seja.<br />
Com a aceitação da responsabilida<strong>de</strong>, aceitamos também, ao mesmo tempo, o louvor e a<br />
censura pacificamente, sabendo que o primeiro é dirigido a Deus e a segunda é própria <strong>de</strong> nós<br />
23
pecadores. Significa também amar tanto a Deus nas monótonas rotinas do dia-a-dia que<br />
possamos reparar a frieza <strong>de</strong> outros corações. Assim provamos que temos amor, aceitando a<br />
responsabilida<strong>de</strong>, escutando atentamente as orientações e executando nossas tarefas<br />
eficientemente em tudo o que fizermos. Nós fazemos isso com todo o nosso ser, sem nunca<br />
pensarmos em nós mesmos, ou como isso irá nos afetar, não importa qual seja o custo.<br />
10 - ORAÇÃO E JEJUM NAS PRAÇAS<br />
O parágrafo seguinte do Pequeno Mandato diz: Vá às praças e permaneça Comigo. Reze,<br />
jejue... Reze sempre, jejue. Sim, o que meu pai dizia serve perfeitamente para os dias <strong>de</strong> hoje.<br />
Ele costumava dizer: "Se você quer encontrar Deus, você <strong>de</strong>ve elevar os braços, jejuar e rezar".<br />
Nos nossos dias, quando todos estão em busca <strong>de</strong> satisfazer os apetites da carne, quando os<br />
sentidos reinam como se fossem Deus, é chegado o tempo em que <strong>de</strong>vemos jejuar e rezar. O<br />
Senhor jejuava bastante e <strong>de</strong>vemos seguir os Seus passos. Ele disse aos apóstolos quando estes<br />
se queixaram <strong>de</strong> que não podiam expulsar o <strong>de</strong>mônio <strong>de</strong> alguém, "Esta espécie <strong>de</strong> <strong>de</strong>mônio não<br />
po<strong>de</strong> ser expulsa a não ser através da oração." (Marcos 9:28). Cabe em nós, que formamos uma<br />
só mente e um só coração, que nos damos às mãos para caminhar na escuridão <strong>de</strong>ste mundo para<br />
restaurá-lo para Cristo, continuar a fazê-lo nas praças públicas e nelas permanecer, orando e<br />
jejuando.<br />
A oração é, antes <strong>de</strong> tudo e principalmente, ficar imóvel diante <strong>de</strong> Deus. Antes mesmo <strong>de</strong><br />
começarmos a fazer perguntas sobre oração, <strong>de</strong>vemos ficar imóveis. Ninguém po<strong>de</strong> ensinar-nos<br />
a rezar a não ser Deus. Quando nosso amado é Deus, a oração é um segredo entre o Rei e a<br />
pessoa que Ele escolheu como Sua noiva. A oração é assim como uma infindável noite <strong>de</strong><br />
núpcias. Ela é silêncio. Ela é ato <strong>de</strong> amor. Quem po<strong>de</strong> <strong>de</strong>screver a forma como Deus nos ama e<br />
a forma como nós amamos Deus? Quem po<strong>de</strong> nos dizer como permanecer imóvel diante do<br />
milagre do amor? Temos <strong>de</strong> nos conservar imóveis e esperar. O próprio Deus virá até nós e nos<br />
falará sobre isso.<br />
11 - SEJA ESCONDIDO (Nossa Senhora <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s)<br />
A última frase do Pequeno Mandato é <strong>de</strong> consolação (Eu serei o seu <strong>de</strong>scanso), mas eis<br />
que chegamos a uma frase estranha: "Seja escondido".<br />
<strong>Todo</strong>s nós temos <strong>de</strong> carregar a cruz do Senhor. Não existe ninguém que se possa chamar<br />
<strong>de</strong> cristão se não tiver uma cruz. É através da cruz que alcançamos a ressurreição. Temos <strong>de</strong><br />
estar absolutamente convictos <strong>de</strong>ssa verda<strong>de</strong> e <strong>de</strong>vemos manter essa cruz escondida e não colocála<br />
sobre os ombros <strong>de</strong> outros. É a nossa cruz que <strong>de</strong>vemos carregar. É a que Deus nos <strong>de</strong>u para<br />
que através <strong>de</strong>la cheguemos à Sua ressurreição. É ela que nós <strong>de</strong>vemos conservar oculta.<br />
Mas existem cruzes e cruzes, algumas construídas por nós mesmos. Estas po<strong>de</strong>m ser<br />
imediatamente <strong>de</strong>scartadas. Algumas são permitidas por Deus, para nossa santificação: essas nós<br />
po<strong>de</strong>mos dividir, pois servem também para a santificação <strong>de</strong> outros. É verda<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>mos ajudar<br />
os outros a carregar suas cruzes e os outros po<strong>de</strong>m nos ajudar a carregar as nossas, mas a palavra<br />
mais importante é isso: escondido. Leia Mateus 6:16-18 sobre isso.<br />
Nossa própria ocultação se tornará uma luz, se não nos queixarmos, se carregarmos nossa<br />
cruz corajosamente. Então nos tornaremos uma luz aos pés <strong>de</strong> nosso próximo porque seremos<br />
um ícone <strong>de</strong> Cristo - brilhantes! Mas isso só é possível se formos um com Cristo, se não houver<br />
24
divisões entre nós, se formos uma só mente. Então estaremos escondidos, embora conhecidos<br />
como pessoas <strong>de</strong> paz e unida<strong>de</strong>.<br />
12 - QUANDO TUDO ESTÁ DITO E FEITO<br />
Qual é a nossa espiritualida<strong>de</strong> quando tudo está dito e feito? Eu nos vejo silenciosamente,<br />
por assim dizer, fazendo as pequenas e rotineiras tarefas que homens e mulheres fazem em todos<br />
os lugares, sempre com um imenso e ar<strong>de</strong>nte amor, sabendo que o amor faz <strong>de</strong> cada gesto, <strong>de</strong><br />
cada passo, palavra, trabalho, um ato <strong>de</strong> re<strong>de</strong>nção. Eu nos vejo amando-nos uns aos outros,<br />
servindo-nos uns aos outros e ao mundo todo, porque para nossos olhos, em fé e verda<strong>de</strong>, cada<br />
um é Cristo para o outro! Isto é tudo. O resto Ele fará através <strong>de</strong> nós. Nós somos apenas<br />
agentes do amor, testemunhas do amor, servos que refletem a luz do Mestre e lanternas <strong>de</strong> amor e<br />
luz na nossa mo<strong>de</strong>rna escuridão, apenas sendo agentes do amor e realizando tarefas diárias <strong>de</strong><br />
rotina em honra do Amor e com gran<strong>de</strong> amor.<br />
Três lugares servem <strong>de</strong> escola para nós: Belém, on<strong>de</strong> nos tornamos criancinhas; Nazaré,<br />
on<strong>de</strong> nos escon<strong>de</strong>mos; e o Gólgota, on<strong>de</strong> o mundo nos vê <strong>de</strong>spojados <strong>de</strong> tudo, mortos para nós<br />
mesmos, carregando juntos, até a morte, a cruz da paixão Daquele que nosso coração ama.<br />
Qual é nossa espiritualida<strong>de</strong> quando tudo está dito e feito? Para mim isto é tão simples!<br />
Ela está em <strong>de</strong>spren<strong>de</strong>r nosso inteiro ser <strong>de</strong> nós mesmos, para tomar nossa cruz, não importa quão<br />
pesada seja, e segui-Lo <strong>de</strong> Belém até o Gólgota, segui-Lo humil<strong>de</strong>mente como o servo segue o<br />
seu patrão, como a noiva o esposo. Seguir seus passos, refletir sua luz, sendo seus pequenos e<br />
humil<strong>de</strong>s apóstolos.<br />
13 - A ORAÇÃO: ÂNSIA DE UNIÃO COM DEUS<br />
A oração é aquela ânsia <strong>de</strong> união com Deus, que nunca nos <strong>de</strong>ixa. Ela está no nosso<br />
sangue com cada pulsar <strong>de</strong> nossos corações. Ela é a se<strong>de</strong> que não po<strong>de</strong> ser saciada a não ser por<br />
Deus. É como se o corpo se esten<strong>de</strong>sse <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a ponta dos pés, com os braços esticados para<br />
cima, como se fossem tocar os céus.<br />
O ato <strong>de</strong> orar, como o ato <strong>de</strong> amar, envolve movimento e esforço. Você não reza como<br />
um robô da mesma forma que não pratica o ato <strong>de</strong> amar como um! Oração é movimento,<br />
alongamento, procura, espera, achar e tornar a procurar, como no Cântico dos Cânticos; Eu abri a<br />
porta para meu Amado, mas Ele voltou-me as costas e foi embora.<br />
A oração é um movimento constante e, estranhamente, é um movimento para <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si<br />
mesmo, on<strong>de</strong> vive a Trinda<strong>de</strong>. É por isso que o <strong>de</strong>spojamento tem que vir <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro, pois os<br />
obstáculos que nos separam <strong>de</strong> Deus sempre vêm <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós mesmos. "Não é o que entra<br />
pela boca que torna o homem impuro; é o que sai da boca para fora que o faz impuro” (Mt 15,<br />
17-20). O <strong>de</strong>spojamento é como varrer seu interior com uma vassoura para pôr fora tudo aquilo<br />
que o mantém separado <strong>de</strong> Deus.<br />
A oração é como se aproximar <strong>de</strong> um abismo e olhar para baixo, sem conseguir ver o<br />
fundo, pois não existe nenhum. É aí que entra a fé. Por anos você fica <strong>de</strong>bruçado na beirada,<br />
quase pulando, e retroce<strong>de</strong>ndo. Subitamente, num dado momento, a ânsia se torna tão gran<strong>de</strong> que<br />
você salta, unicamente para <strong>de</strong>scobrir que não existe nenhum abismo, mas apenas Deus e a<br />
profun<strong>de</strong>za <strong>de</strong> Seu amor por você!<br />
25
14 - AMOR, ORAÇÃO E AUTO-DESPOJAMENTO<br />
A oração é uma coisa muito simples. Ela tem seu próprio ritmo. Por primeiro fico em<br />
contato com Deus, <strong>de</strong>pois entro em contato comigo mesmo. Antes que eu possa amar o meu<br />
próximo, eu tenho <strong>de</strong> amar a mim mesmo. Então posso amar a qualquer um. Deus é amor e<br />
nosso relacionamento é um caso <strong>de</strong> amor entre Deus e os seres humanos. Fazer contato com<br />
Deus leva, inevitavelmente, a fazer contato com os outros. <strong>Em</strong> outras palavras, a prece é para o<br />
serviço das pessoas.<br />
No processo, surge a kenosis. Kenosis é uma palavra grega que significa esvaziamento <strong>de</strong><br />
nós mesmos para que Cristo possa crescer em nós. O que significa isto? Significa que as<br />
dimensões <strong>de</strong> nosso coração precisam aumentar constantemente. Des<strong>de</strong> que Cristo encarnou-Se<br />
na humanida<strong>de</strong>, nós também po<strong>de</strong>mos verda<strong>de</strong>iramente acolher a humanida<strong>de</strong> em nossos<br />
corações. Po<strong>de</strong>mos servir à humanida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mil modos, inclusive através do jejum e da prece.<br />
Jejum e oração nunca são para mim mesmo; são sempre para meu próximo. Mais pessoas<br />
hoje em dia procura meios <strong>de</strong> <strong>de</strong>spojar-se do egocentrismo e da ganância que inva<strong>de</strong>m nossa<br />
cultura. Muitos dos jovens nestes dias estão se voltando para Deus, através da oração e do jejum<br />
e eu me rejubilo quando vejo isso. Imaginem o que acontecerá com os jovens, sólido na fé, indo<br />
pelo mundo a refletir a imagem <strong>de</strong> Cristo e pregando o Evangelho com suas vidas!<br />
15 - PORQUE NECESSITAMOS DE ORIENTAÇÃO ESPIRITUAL<br />
Através dos Padres da Igreja, Deus tornou claro para nós que precisamos <strong>de</strong> orientação<br />
espiritual. <strong>Todo</strong>s os cristãos, todos os católicos necessitam <strong>de</strong>sse apoio. São João da Cruz disse<br />
que somente um tolo orienta a si próprio. Especialmente as pessoas <strong>de</strong>dicadas a Deus <strong>de</strong>veriam<br />
procurar por essa orientação. Através <strong>de</strong>ssa graça po<strong>de</strong>m conhecer melhor sua pobreza e suas<br />
fraquezas. Precisamos <strong>de</strong> um guia espiritual na estrada estreita que vai para o paraíso, pois o<br />
<strong>de</strong>mônio se <strong>de</strong>leita em colocar sinalizações enganadoras que confun<strong>de</strong>m nosso caminho,<br />
especialmente nas principais encruzilhadas. Sim, precisamos <strong>de</strong> um guia. Nós não temos<br />
condições <strong>de</strong> conhecermos a nós mesmos com objetivida<strong>de</strong>. Outra pessoa po<strong>de</strong>. Sozinhos, os<br />
indivíduos não po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>senvolver seu completo potencial <strong>de</strong> espiritualida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>. Eles<br />
necessitam da ajuda <strong>de</strong> sacerdotes que Deus indica para isso. O Papa Pio IX disse, "A graça vem<br />
aos homens através dos homens e, especialmente, através <strong>de</strong> homens divinamente escolhidos para<br />
trazer a graça para os outros... os sacerdotes". Mas antes que você se <strong>de</strong>cida a procurar tal guia,<br />
<strong>de</strong>cida-se firmemente a amá-lo como se fosse o próprio Cristo! Obe<strong>de</strong>cê-lo absolutamente como<br />
você faria com o próprio Cristo...e confiar nele completamente. Sem esse amor, essa obediência,<br />
essa confiança, será apenas perda <strong>de</strong> tempo para ele e para você.<br />
Recomendo com empenho que vocês tenham um diretor espiritual. Não possuir um é<br />
tolice, é como ficar <strong>de</strong>sorientado numa selva profunda e <strong>de</strong>sconhecida.<br />
16 - COMO ESCOLHER UM DIRETOR ESPIRITUAL<br />
Minha resposta à pergunta sobre como escolher um diretor espiritual é sempre a<br />
mesma. Reze para encontrá-lo. Peça a Deus com muita sincerida<strong>de</strong>, antes <strong>de</strong> escolhê-lo. É um<br />
relacionamento muito importante que você vai estabelecer com Cristo, que habita no sacerdote, e<br />
você <strong>de</strong>ve pedir a Ele que o dirija para a pessoa certa. Ele po<strong>de</strong> fazer isso lhe infundindo uma<br />
certa atração espiritual por algum padre. Talvez através <strong>de</strong> um sermão, ou durante um retiro, ou<br />
26
por alguma verda<strong>de</strong> espiritual expressa por esse sacerdote e que vá direto ao seu coração. Essas<br />
po<strong>de</strong>m ser indicações <strong>de</strong> que Deus o está levando a esse padre.<br />
Um sacerdote não <strong>de</strong>ve ser escolhido por sua personalida<strong>de</strong>, sua inteligência, seu<br />
profundo conhecimento <strong>de</strong> teologia, ou por quaisquer outras qualida<strong>de</strong>s semelhantes. Ele é<br />
escolhido porque é a encarnação do Cristo no momento especial da orientação espiritual. Este é<br />
um mistério da nossa fé.<br />
Assim, você <strong>de</strong>ve rezar para ter um diretor espiritual, alguém que você julgue ser<br />
competente e que esteja interessado em você. E aí você o amará, confiará nele e o obe<strong>de</strong>cerá,<br />
porque será o Cristo para você. Sua competência é evi<strong>de</strong>nte por si só: o sacerdote é treinado para<br />
oferecer orientação espiritual, ele tem a graça do Sacramento das Or<strong>de</strong>ns Sagradas e está<br />
obviamente interessado na salvação e santificação das almas. Assim, quando você encontrar um<br />
padre e sentir que ele po<strong>de</strong>rá conduzi-lo mais ainda para Deus, aproxime-se <strong>de</strong>le com<br />
simplicida<strong>de</strong> e peça-lhe para ser seu diretor espiritual.<br />
17 - RELACIONAMENTO COM SEU DIRETOR ESPIRITUAL<br />
Uma vez que o padre o tenha aceitado, você <strong>de</strong>ve estabelecer com ele um relacionamento<br />
simples, como se fosse uma criança.<br />
Você <strong>de</strong>ve amá-lo como ama a Deus - sobrenaturalmente. Você <strong>de</strong>ve confiar nele<br />
completamente. Você <strong>de</strong>ve obe<strong>de</strong>cê-lo implicitamente. Do contrário, você não precisaria <strong>de</strong> um<br />
diretor espiritual. Se você tentar enganá-lo através das mil formas com que seres humanos<br />
tentam enganar a Deus, você acabará por cair nas armadilhas <strong>de</strong> Satanás. Com Deus não se<br />
brinca.<br />
Alguns <strong>de</strong> vocês po<strong>de</strong>m ver um conflito entre a in<strong>de</strong>pendência que alcançaram na vida e a<br />
liberda<strong>de</strong> dos filhos <strong>de</strong> Deus, que surge através da obediência a um padre. Você se rebela ao ver<br />
sua vonta<strong>de</strong> submetida à <strong>de</strong> uma outra pessoa. Essa individualida<strong>de</strong>, esse ser seu próprio mestre,<br />
é na realida<strong>de</strong> uma escravidão a si próprio, aos seus próprios juízos. Significa, em uma palavra,<br />
orgulho. Orgulho é o maior inimigo do cristão, um guia certo para o inferno. Mas, através <strong>de</strong><br />
orientação espiritual, você tomou a maior precaução que um ser humano po<strong>de</strong> tomar contra o<br />
orgulho.<br />
Como indicação prática, na sua primeira entrevista com o sacerdote, dê-lhe um curto<br />
resumo biográfico. Isso o ajudará a orientar você. Também dê a ele uma lista simples do que<br />
você pensa serem suas virtu<strong>de</strong>s e suas fraquezas. Isso também o ajudará. Não seja muito prolixo<br />
no papel ou durante a entrevista. Diga apenas o que tiver para dizer. Escute o que ele tem para<br />
dizer. Siga adiante e carregue seus conselhos para <strong>de</strong>ntro sua própria vida.<br />
18 - CRISTO ORIENTA E CURA ATRAVÉS DE SEU DIRETOR<br />
Seu diretor tem o carisma <strong>de</strong> lhe mostrar o caminho; ele ouve o Espírito enquanto você<br />
fala e fica silencioso e em oração em seu coração; <strong>de</strong>pois ele transmite a você o que o Espírito lhe<br />
inspirou. Eu creio, com crença inquebrantável, que o Espírito Santo fala através <strong>de</strong>le. E se não é<br />
assim, Deus intervirá e corrigirá qualquer engano que ele tenha cometido.<br />
Mesmo que seja um sacerdote pecador, nele mora Cristo, o Bom Pastor. E quando você, a<br />
ovelha, vem procurar orientação espiritual, mesmo se o pastor for um leproso, Cristo estará ainda<br />
agindo através <strong>de</strong>le. Porque essa é a maneira pela qual Cristo faz as coisas. Porque você vai a um<br />
diretor em busca <strong>de</strong> cura interior, você aceita a sua palavra como vindo do Espírito Santo.<br />
27
Veja, você vai até ele para ser curado. Você vai porque está machucado. Assim, a<br />
primeira coisa que <strong>de</strong>ve saber é que está machucado. Se pensar que não está ferido, e começar a<br />
argumentar com ele, bem, você po<strong>de</strong> simplesmente dispensar a orientação espiritual. Quando um<br />
médico lhe diz para pôr o braço numa tipóia e você diz ‘O doutor que vá para o diabo, ele é um<br />
idiota completo’; então para quê ir ao médico? A primeira questão em obediência é saber que<br />
você tem uma ferida que precisa ser curada.<br />
19 - NÓS NÃO VIVEMOS O EVANGELHO<br />
Nós não vivemos o Evangelho <strong>de</strong> Cristo, essa é a gran<strong>de</strong> realida<strong>de</strong>. Nós dizemos, ‘Oh,<br />
Cristo não quis dizer isto ou aquilo’. Mas Cristo quis dizer aquilo e isto e tudo o mais que não<br />
queremos aceitar. É assustador, quantas são as coisas que queremos <strong>de</strong>scartar do Evangelho. Eu<br />
estava justamente lendo num dia <strong>de</strong>sses que setenta e cinco por cento das pessoas discordam da<br />
posição da Igreja quanto ao aborto, sexo, e outras coisas mais. Bem, este é um número<br />
assustador <strong>de</strong> pessoas que discordam. E todo o tempo Cristo observa essas coisas acontecerem.<br />
Às vezes eu penso que fazemos Cristo chorar, realmente penso; porque Ele é humano, Ele po<strong>de</strong><br />
chorar. E eu penso que fazemos Cristo chorar porque não vivemos <strong>de</strong> acordo com Suas palavras e<br />
Seus mandamentos.<br />
Pregar o Evangelho para o mundo todo significa vivê-lo. Não po<strong>de</strong>mos pregá-lo a menos<br />
que o vivamos. É tudo muito bonito <strong>de</strong> se dizer; sentarmos à tar<strong>de</strong> para conversar sobre o Espírito<br />
Santo e Nossa Senhora é muito lindo, mas isso não nos leva a parte alguma. Nós vamos à Missa.<br />
Nós recebemos o Corpo e o Sangue <strong>de</strong> Cristo, um mistério além <strong>de</strong> qualquer mistério. Um<br />
mistério <strong>de</strong> amor contido em um cálice, e um pedaço <strong>de</strong> pão! Coisas tão familiares para todos<br />
nós...e ainda assim elas contém, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si, o próprio Deus! Nós recebemos Deus,<br />
comungamos com Deus. Agora vamos fazer comunhão uns com os outros! Vamos exibir para<br />
todos que nós somos cristãos! Fazer isto <strong>de</strong> tal maneira que possa ser sentido por outros. Somos<br />
fracos, pecadores e sem importância. Mas <strong>de</strong>vemos tentar viver o Evangelho com nossas vidas.<br />
20 - VIVER O EVANGELHO É DOLOROSO<br />
Não po<strong>de</strong>mos viver o Evangelho <strong>de</strong> Cristo sem sofrimento. Cristo foi o maior<br />
revolucionário da terra. Ele nos chama para o impossível.<br />
Estão dispostos a serem totalmente pobres, seja em espírito ou em qualquer coisa? Vocês<br />
são capazes <strong>de</strong> ter esperança quando não houver nenhum sinal <strong>de</strong>la? Po<strong>de</strong>m amar sem serem<br />
amados? Po<strong>de</strong>m conservar a fé quando a fé está morrendo em toda parte?<br />
Amem aqueles que os o<strong>de</strong>iam! Renovem a fé daqueles que a per<strong>de</strong>ram! Tragam amor e<br />
esperança para todos! Para isso é que vocês nasceram! E vocês têm <strong>de</strong> fazer tudo isso, meus<br />
amigos, porque o tempo é tão curto.<br />
Vocês têm <strong>de</strong> restaurar Sua Igreja. Sim, ela é o Corpo Místico <strong>de</strong> Cristo. Sim, ela é o<br />
povo <strong>de</strong> Deus. Mais ainda, ela é a esposa <strong>de</strong> Cristo. A linda, incrível esposa <strong>de</strong> Cristo!<br />
Contemplem o noivo recém-casado, como dizem os Salmos, correndo pelas montanhas ele vem<br />
encontrar sua noiva. A Igreja nasceu com a morte <strong>de</strong> Cristo. Ele a <strong>de</strong>ixou para nós. Ele habita<br />
nela.<br />
Assim, amem a Deus e a seu próximo! Amem-se a vocês mesmos! Amem aqueles que os<br />
o<strong>de</strong>iam! E morram por todas as pessoas! E comecem por ir às profun<strong>de</strong>zas <strong>de</strong> seus próprios<br />
corações. Não fiquem apenas na superfície. Mergulhem profundamente neles.<br />
28
21 - DAR LUGAR PARA DEUS: MORRER PARA SI MESMO<br />
Como po<strong>de</strong>mos amar enquanto há um miligrama <strong>de</strong> egoísmo <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós? O Amor é<br />
uma pessoa. O Amor é Deus. On<strong>de</strong> existe Amor, aí está Deus. E assim nossa vocação é dar<br />
lugar a Deus <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós. É como vestir Deus com nossa carne, uma vez mais dar-Lhe mãos,<br />
lábios, olhos e uma voz.<br />
Para fazer isso, <strong>de</strong>vemos morrer para nós mesmos. Deus é imenso. Ele precisa <strong>de</strong> muito<br />
espaço – o nosso ser inteiro! Nem mesmo uma lasca <strong>de</strong> nós mesmos <strong>de</strong>ve restar. Caso contrário,<br />
nós mutilaremos Cristo se Lhe recusarmos entregar alguma parte <strong>de</strong> nós. E on<strong>de</strong> é que existe<br />
algum amante que recuse alguma coisa ao objeto <strong>de</strong> seu amor? Tal pessoa não ama<br />
verda<strong>de</strong>iramente.<br />
Assim é nossa vocação - queimar, morrer, tornar-nos uma chama, e criar lugar para que<br />
Cristo cresça em nós. Uma vez que os pés <strong>de</strong> Cristo, através <strong>de</strong> nossos pés toque <strong>de</strong> novo este<br />
nosso chão, a terra crescerá e será restaurada.<br />
Morrer para si mesmo para dar lugar ao Cristo é doloroso. Mas é na dor que se vê a<br />
<strong>de</strong>dicação. Existe tal radiação emanando daquela dor que acaba com qualquer sombra que exista<br />
na face do outro. Esta é a essência da nossa vocação - queimar com amor, ser luz, ser uma<br />
chama. E não po<strong>de</strong>mos dar início ao fogo com ma<strong>de</strong>ira ver<strong>de</strong>. O fogo do amor <strong>de</strong> Deus não<br />
permanecerá numa alma que não seja totalmente consagrada a Ele.<br />
22 - OS SEGUIDORES DE CRISTO TAMBÉM SERÃO CRUCIFICADOS<br />
(Cátedra <strong>de</strong> S. Pedro, Apóstolo)<br />
Você segue em frente, como um apóstolo - sem sapatos, sem ouro ou prata. Então, uma<br />
vez mais, você ouvirá as palavras <strong>de</strong> Cristo ao final da jornada, "Você teve necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
alguma coisa?".<br />
A vocação <strong>de</strong> vocês é simples, tão completamente simples, que não há palavras que a<br />
<strong>de</strong>screvam. Ela é intangível, embora seja bem concreta. Queimar. Fazer a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus no<br />
humil<strong>de</strong> <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> cada momento. Morrer para si próprio por obediência, pobreza, amor.<br />
Também pela castida<strong>de</strong>. Estar pronto para ser crucificado, em sentido místico, na cruz da<br />
vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus. Estar pronto para ser crucificado por homens e mulheres. Vocês o serão.<br />
Vocês serão crucificados com as palavras <strong>de</strong>les, sem se dar conta que as palavras<br />
proferidas por homens e mulheres são como folhas ao vento. Elas serão palavras <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>saprovação, <strong>de</strong> dúvida, <strong>de</strong> ridículo. Vocês também serão crucificados por gestos (o dar <strong>de</strong><br />
ombros, por exemplo). Vocês serão crucificados pela <strong>de</strong>scrença dos outros no modo <strong>de</strong> vida <strong>de</strong><br />
vocês.<br />
Sua cruz será bem pequena. Ela estará provavelmente nas praças ou on<strong>de</strong> vocês viverem.<br />
Sim, a cruz será pequena, da altura <strong>de</strong> vocês ou da minha, <strong>de</strong> acordo com o tamanho <strong>de</strong> cada um.<br />
23 - A CRUZ É A RESPOSTA<br />
Oh Deus! Quando temos medo <strong>de</strong> amar, fazemos um curso <strong>de</strong> relações humanas!<br />
Fazemos ainda um curso <strong>de</strong> psicologia quando temos medo <strong>de</strong> olhar para <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós. Sempre o<br />
medo <strong>de</strong> amar...o medo da cruz.<br />
29
E aqui estamos nós, ocupados em espantar a cruz com tranqüilizantes ou ficando<br />
eufóricos com LSD, ou ainda - bem - po<strong>de</strong>ria dizer o quê, mas não vou fazê-lo. Todas as coisas,<br />
qualquer coisa. Nós expulsamos qualquer espécie <strong>de</strong> fé.<br />
No entanto, quando estamos sem coragem, a Cruz é a resposta! Quando me sinto<br />
<strong>de</strong>sencorajada eu me lembro <strong>de</strong> que posso socorrer-me da única coisa que conheço que po<strong>de</strong><br />
livrar-me do <strong>de</strong>sencorajamento total e esta coisa é o Calvário. Todas as vezes que acho que as<br />
coisas do mundo são <strong>de</strong>mais para mim, eu me refugio ao pé da Cruz e mesmo que o mundo<br />
inteiro seja envolto em trevas e que as cortinas do meu templo se rasguem, eu sei que - embora<br />
não possa ver, ouvir ou compreen<strong>de</strong>r - estarei salva aos pés do meu Salvador crucificado.<br />
24 - A QUARESMA: LIMPEZA DO CORAÇÃO<br />
Ali está o profundo entulho interior, on<strong>de</strong> você tem que ir para limpar sua alma, o seu<br />
coração <strong>de</strong> tantos trastes acumulados através dos anos. Vá lá <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> seu coração e você verá.<br />
Milhares <strong>de</strong> coisas: inveja, ciúmes - uma porção <strong>de</strong> coisas.<br />
Aí, vem a Quaresma, você se ajoelha - não tanto com os joelhos, mas com a alma - e diz<br />
para si próprio, bem, aí está on<strong>de</strong> limpei a minha alma; aí está on<strong>de</strong> fiz a sua limpeza; eis aí on<strong>de</strong><br />
preparei um lugar em que Deus possa habitar'.<br />
Pense na sua alma como se fosse um quarto, um quarto que você está preparando para<br />
Deus e que se você souber que Deus está chegando, você certamente o irá limpar, lavar e<br />
esfregar. Faça isso agora. Faça a limpeza esfregando bem. A Quaresma é para isso.<br />
E quando você terminar, uma gran<strong>de</strong> alegria virá sobre você e a Páscoa será realmente um<br />
tempo maravilhoso. Lindo! Se sua Quaresma foi sincera e se você realmente fez a limpeza <strong>de</strong><br />
sua alma.<br />
Faça isso agora; encare a tarefa. Fale com seu diretor espiritual; fale com o próprio Deus<br />
e com Nossa Senhora. FALE! E assim Cristo estará pronto para entrar em seu quarto, sua alma.<br />
25 - UM TEMPO PARA SONDAR AS PROFUNDEZAS<br />
A Quaresma é o tempo para <strong>de</strong>scer às profun<strong>de</strong>zas <strong>de</strong> você mesmo para realmente avançar<br />
na "jornada para <strong>de</strong>ntro" que todos <strong>de</strong>vemos fazer para encontrar o Deus que habita no fundo <strong>de</strong><br />
nós.<br />
Esta Quaresma <strong>de</strong>veria ser a época para propor e respon<strong>de</strong>r à questão: <strong>Em</strong> que tem minha<br />
vida contribuída para a imensa batalha espiritual que está sendo travada hoje no mundo?<br />
Hoje em dia, cada cristão é responsável por projetar a verda<strong>de</strong>ira face <strong>de</strong> Cristo sobre as<br />
<strong>de</strong>mais pessoas, ou então por borrar ou eliminar essa Face nas almas dos outros. A voz da Igreja<br />
não é mais ouvida tão bem quanto costumava ser à época em que o mundo era cristão. E ela<br />
precisa ser ouvida mais do que nunca, pois jamais os seres humanos tiveram tanta ânsia da<br />
verda<strong>de</strong> como hoje.<br />
A maneira pela qual essa voz se fará ouvir agora <strong>de</strong>ve ser através <strong>de</strong> cada cristão, não<br />
tanto através <strong>de</strong> palavras, mas principalmente pela vida <strong>de</strong> cada um. Porque o contraste entre as<br />
nossas crenças e o nosso comportamento é mais claro e mais evi<strong>de</strong>nte quando visto contra o pano<br />
<strong>de</strong> fundo do mo<strong>de</strong>rno secularismo, do ateísmo, da ignorância pura e da indiferença pelas coisas<br />
do espírito. Nós temos <strong>de</strong> viver o Evangelho e pregá-lo com nossa própria vida. Essa é a única<br />
linguagem que os seres humanos compreen<strong>de</strong>rão nos dias <strong>de</strong> hoje. Eles têm sido feridos,<br />
confundidos, machucados e irritados pelas imensas contradições entre os luminosos ensinamentos<br />
30
da Igreja e o incrível comportamento <strong>de</strong> seus membros que parecem negar cada princípio daquilo<br />
que ensinam.<br />
26 - RENDER -SE A DEUS<br />
O que significa ren<strong>de</strong>r-se totalmente a Deus? Significa penetrar em Sua mente e em Sua<br />
vonta<strong>de</strong>. Significa abrir-nos à Sua vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> tal forma que, dia após dia, nada mais importa a<br />
não ser a Sua vonta<strong>de</strong>. Você diz: "Senhor, aqui estou. Fala, Teu servo Te escuta". E, "Senhor,<br />
envia-me para on<strong>de</strong> <strong>de</strong>sejas".<br />
Isso para mim é entrega total. Isso para mim é alcançar o absoluto. E nós vamos<br />
encontrar essa entrega total à vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus momento a momento, dia a dia. Significa po<strong>de</strong>r<br />
suportar as dificulda<strong>de</strong>s pessoais porque conseguimos ver Cristo no outro. E Ele está ali, não há<br />
como negar isso.<br />
Significa também que não vamos pensar eternamente que o gramado do outro lado da<br />
cerca é mais ver<strong>de</strong>. Não é. Ele somente fica ver<strong>de</strong> quando fazemos a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus. E não<br />
temos <strong>de</strong> ficar mudando <strong>de</strong> empregos, casas, isto ou aquilo. Não. Nós temos somente <strong>de</strong> confiar,<br />
<strong>de</strong>scansando em paz no seio <strong>de</strong> Deus, ouvindo as batidas <strong>de</strong> Seu coração e nelas encontrando a<br />
resposta à nossa pergunta, "O que <strong>de</strong>vo fazer?".<br />
Deus simplesmente respon<strong>de</strong>: O <strong>de</strong>ver do momento é o Meu <strong>de</strong>ver. Quero que vocês<br />
sigam Meus passos, não importa para on<strong>de</strong> se dirijam. Não usem sua inteligência habitual para<br />
avaliar Meus passos. Apenas caminhem sobre eles, e basta. Sejam simples - como uma criança<br />
- dóceis à Minha vonta<strong>de</strong> e aos meus <strong>de</strong>sejos. Então vocês conhecerão a felicida<strong>de</strong>. Aí vocês<br />
conhecerão a liberda<strong>de</strong>. Aí vocês conhecerão a Mim. E vocês, então, serão semelhantes a Mim.<br />
E Eu os chamarei <strong>de</strong> amigos e não mais <strong>de</strong> servos. Sim, isto é exatamente a entrega total.<br />
27 - A RESPEITO DE SER MAL INTERPRETADO<br />
As pessoas não conhecem vocês pelo que vocês são. Elas não enten<strong>de</strong>ram Cristo em<br />
Nazaré pelo que Ele era. Elas não compreen<strong>de</strong>rão vocês também e o fato <strong>de</strong> serem mal<br />
interpretados será duro para vocês. Foi difícil para o Homem-Deus ter sido mal interpretado<br />
também. Mas vocês se rejubilarão com gran<strong>de</strong> alegria, pois tudo isso os fará mais semelhantes<br />
ao Bem-Amado.<br />
Todas essas pequenas coisas são os <strong>de</strong>dos <strong>de</strong> Deus Pai, fazendo vocês participarem da<br />
solidão <strong>de</strong> seu Filho, fazendo vocês participarem da incompreensão sofrida por seu Filho,<br />
fazendo vocês participarem da obscurida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cristo e <strong>de</strong> sua dor. Vagarosamente, os <strong>de</strong>dos da<br />
vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus e os <strong>de</strong>dos do Tempo serão uma coisa só. Vocês serão moldados e moldados<br />
sem saber que estão sendo moldados. Vocês penetrarão numa gran<strong>de</strong> escuridão, numa gran<strong>de</strong><br />
ari<strong>de</strong>z, em gran<strong>de</strong> tentação. Mas oh rejubilem-se! Pois esse é o mesmo <strong>de</strong>serto no qual Cristo<br />
passou quarenta dias jejuando! Essa é Sua fome que vocês estarão vivenciando. Esse é o<br />
sofrimento Daquele que ama, procurando pela alma <strong>de</strong> vocês, silenciosamente, como fazem os<br />
amantes, <strong>de</strong> tal forma que vocês, a quem Ele ama, po<strong>de</strong>rão erguer-se e seguir em Sua busca. O<br />
escon<strong>de</strong>-escon<strong>de</strong> <strong>de</strong> amor, a eterna brinca<strong>de</strong>ira, é agora guindado a um plano sobrenatural.<br />
Estejam em paz! Essa escura ari<strong>de</strong>z é festiva, pois esse é o início da sabedoria, porque o<br />
Bem-Amado é a Sabedoria <strong>de</strong> Deus. Ele ensinará a Sua sabedoria na solidão e no silêncio do<br />
<strong>de</strong>serto, na quietu<strong>de</strong> e na escuridão da noite <strong>de</strong> amor. Existem dois tipos <strong>de</strong> noite neste mundo: a<br />
noite do ódio e a noite do amor. Esta é a noite do amor.<br />
31
28 - SER COMO CRISTO<br />
Estar só, esquecido, marginalizado, ver tudo o que você faz aceito como coisa natural, ou<br />
sem gratidão, sofrer em silêncio, ficar calado diante da injustiça ou da provocação, da dor e do<br />
sofrimento, sentir-se mais baixo do que qualquer coisa e ter seu amor rejeitado ou apenas aceito<br />
com frieza - tudo isso para ser como quem?<br />
A resposta já se encontra nos lábios <strong>de</strong> vocês - uma resposta impressionante, estranha e<br />
apesar disso verda<strong>de</strong>iramente linda resposta - para ser como Cristo! Vocês O amam; eu sei que<br />
vocês O amam. Então, por que reclamar quando Ele, em Sua infinita ternura e amor, tenta -<br />
através das pessoas, dos fatos e das coisas - modificá-los para serem semelhantes a Ele?<br />
Pensem nisso. E pensando, peçam para que vocês possam enten<strong>de</strong>r e cooperar com Seus<br />
incompreensíveis caminhos para conduzi-los a Ele. Olhem para Ele hoje. Nas palavras do<br />
salmista, parece mais um verme do que um homem, todo ferido e golpeado, Ele, nosso Deus.<br />
Caminha no mundo como um bêbado, embriagado não com vinho, mas com a dor.<br />
Crucificado outra e outra vez por aqueles que não têm a <strong>de</strong>sculpa <strong>de</strong> que não sabem o que fazem,<br />
pelos mesmos por quem Ele uma vez morreu <strong>de</strong>spido em uma cruz. Marginalizado e esquecido<br />
pela maioria que pouco se importa. Estão vendo? Caminhar com Cristo significa trilhar a estrada<br />
da dor, do sacrifício e da solidão até o final. Como compreen<strong>de</strong>mos tão bem estas coisas com<br />
nossa mente e como, na realida<strong>de</strong>, nos rebelamos contra elas!<br />
Senhor, têm misericórdia <strong>de</strong> nós, pecadores e criaturas sem consistência! Ensina-nos a<br />
ver, a pensar e a fazer tudo unicamente pela Tua glória.<br />
29 - A UTILIDADE DO INÚTIL<br />
Algumas vezes, <strong>de</strong>vido a doenças ou aci<strong>de</strong>ntes, nós nos tornamos incapazes <strong>de</strong> participar<br />
das ativida<strong>de</strong>s normais <strong>de</strong> cada dia. Então somos gran<strong>de</strong>mente tentados a dizer coisas do tipo Oh!<br />
Eu não estou fazendo coisa alguma! Tenho sido um peso para minha família, minha<br />
comunida<strong>de</strong>; tenho sido um peso e ponto final! Você po<strong>de</strong> ter a certeza <strong>de</strong> que o <strong>de</strong>mônio está<br />
perto, esfregando as mãos e dizendo: Eis que eu venho! Nós <strong>de</strong>ixamos a porta largamente aberta<br />
para ele, pois nós não enten<strong>de</strong>mos a utilida<strong>de</strong> do inútil.<br />
Olhe para o Crucifixo. Nele está um homem, uma pessoa como você e eu, carne,<br />
músculos, sangue, crucificada. Os pregos penetraram em Suas mãos e Seus pés. Ele foi estendido<br />
numa Cruz. As pessoas olham para Ele e se perguntam: 'Qual a utilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>pendurado lá<br />
por três horas? Por quê Ele não <strong>de</strong>u a volta por cima e não fez um milagre? Isto teria sido muito<br />
mais útil'. Este tipo <strong>de</strong> pensamento não combina com a fé. Nós falhamos ao não ver que, nestas<br />
três horas <strong>de</strong> sofrimento, o Filho <strong>de</strong> Deus remiu o mundo inteiro. A fé nos convence <strong>de</strong> que,<br />
quando nós somos inúteis, nós somos mais úteis para Deus. Há tanta profundida<strong>de</strong> em ser<br />
instrumento que eu tremo ao pensar nisso.<br />
Quando era enfermeira, eu sempre falava às pessoas sobre esse assunto. Eu lhes dizia:<br />
'Olha, aqui está você, imobilizada. Você é cristã. Pois ofereça sua dor a Deus, <strong>de</strong>ixe sua dor<br />
atingir todo o mundo. Deus recolhe esse seu sofrimento e o usa. Então você se tornará uma<br />
pessoa muito po<strong>de</strong>rosa'. É a utilida<strong>de</strong> do inútil.<br />
Esteja vigilante em relação a dúvidas sobre esse tipo <strong>de</strong> coisa. As dúvidas são naturais,<br />
são próprias da natureza humana, mas não pertencem à fé.<br />
32
MARÇO<br />
1 - A MÍDIA E A NECESSIDADE DE SILÊNCIO<br />
A mídia hoje interfere em toda a nossa vida. Se não é a TV, é a música. A música é uma<br />
espécie <strong>de</strong> "fundo musical" imposto em vez <strong>de</strong> algo que escolhemos para ouvir. De fato, segundo<br />
Alexan<strong>de</strong>r Schmemann * , em seu livro A Gran<strong>de</strong> Quaresma, esta “constante necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
música revela a incapacida<strong>de</strong> do homem mo<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> gozar do silêncio, <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r o silêncio<br />
não como mera ausência <strong>de</strong> som, mas como condição para toda presença verda<strong>de</strong>ira. Se os<br />
cristãos do passado viviam em gran<strong>de</strong> medida num mundo silencioso, que lhes dava ampla<br />
oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> concentração, contemplação e vida interior, os cristãos <strong>de</strong> hoje têm <strong>de</strong> fazer um<br />
esforço especial para recuperar essa dimensão essencial do silêncio, que é a única coisa que po<strong>de</strong><br />
colocá-los em contato com Deus. Assim, o problema do rádio e da TV durante a Quaresma não é<br />
<strong>de</strong>sprezível, mas é matéria <strong>de</strong> vida ou morte espiritual” (sic).<br />
Sugiro com empenho que vocês reduzam o uso da TV e do rádio <strong>de</strong> tal modo que o<br />
"vício" da TV não tenha espaço - transformando vocês num vegetal sentado numa ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong><br />
balanço, pregados na tela e aceitando passivamente qualquer coisa que venha <strong>de</strong>la. O que<br />
estamos tratando aqui é a experiência da Quaresma como um tempo especial para o silêncio,<br />
criado pela ausência dos ruídos do mundo, para ser preenchido com conteúdos positivos. Nós<br />
precisamos <strong>de</strong> uma parada neste incessante barulho da mídia. Eu sugiro que vocês alimentem<br />
seus intelectos com leituras espirituais e suas almas com a oração.<br />
2 - A FÉ NA ESCURIDÃO<br />
"Eu sou a luz do mundo", disse Cristo. Porque Ele veio, nós não estamos mais vivendo na<br />
sombra da morte. Nós po<strong>de</strong>mos viver na luz. Mas sem trevas, não conheceríamos a luz. Deus<br />
permite que entremos na escuridão porque Ele <strong>de</strong>seja intensamente que nos i<strong>de</strong>ntifiquemos com<br />
Ele, que tomou sobre Si a escuridão do pecado. Nas trevas nós experimentamos nosso<br />
<strong>de</strong>samparo e nossa impotência. Nas trevas, somos cegos. Deus agora po<strong>de</strong> nos curar. O ato <strong>de</strong><br />
fé ocorre na escuridão, em regiões on<strong>de</strong> o intelecto não po<strong>de</strong> penetrar. Quando nós entramos<br />
nessas trevas <strong>de</strong> fé, eventualmente irrompe a luz. Mas não imediatamente. Primeiro Deus fala:<br />
Se você crê em Mim, venha. Mas a maioria <strong>de</strong> nós está muito cheia <strong>de</strong> medo para dar o primeiro<br />
passo.<br />
Existe uma estória <strong>de</strong> um menino numa casa em chamas. Seu pai, <strong>de</strong> fora, grita para ele,<br />
"Pule! Pule!". A criança respon<strong>de</strong> gritando, "Papai, eu não posso vê-lo!". "Está bem", diz o pai,<br />
"Eu posso ver você". Nós queremos ver, não apenas o Pai, cujos braços estão prontos para nos<br />
pegar, mas também a terra sob seus pés. Nós queremos tudo bem certinho e em or<strong>de</strong>m. Temos<br />
medo <strong>de</strong> caminhar na direção daquilo que nos parece o caos, mas para Deus tudo está em perfeita<br />
or<strong>de</strong>m. Nós queremos dizer para Deus, “Vamos nos preparar”, e Deus Se recusa a Se preparar<br />
pelos nossos padrões. Nós não po<strong>de</strong>mos manipulá-Lo - mas, oh, como nós tentamos!<br />
3 - SOLIDÃO<br />
Existem diversos tipos <strong>de</strong> solidão no mundo. Existe a solidão humana que po<strong>de</strong> ser<br />
aliviada pela amiza<strong>de</strong>. Infelizmente, hoje em dia amiza<strong>de</strong> é uma coisa muito difícil <strong>de</strong> se<br />
33
encontrar. As pessoas não fazem mais amigos. Há a televisão - o amigo mecânico - que, acima<br />
<strong>de</strong> tudo, incentiva a compra <strong>de</strong> coisas.<br />
Uma das mais terríveis formas <strong>de</strong> solidão é a dos idosos que vivem num miserável<br />
pensionato, que mal po<strong>de</strong> prover sua alimentação. Pouco a pouco eles <strong>de</strong>caem num abismal<br />
estado <strong>de</strong> solidão. Durante seus últimos anos, nem um <strong>de</strong> seus filhos aparece para visitá-los; a<br />
gente po<strong>de</strong> perceber como a solidão os vai <strong>de</strong>vorando, como um câncer. Esse tipo <strong>de</strong> solidão é o<br />
mais comum em todo o mundo, principalmente no mundo oci<strong>de</strong>ntal.<br />
Houve um tempo (as pessoas mais velhas po<strong>de</strong>m dizer a vocês) em que as pessoas eram<br />
vizinhas. Elas não ficavam sentadas fixadas na TV com um olhar congelado. Não, as pessoas<br />
eram vizinhas e costumavam visitar-se umas às outras, ou participar <strong>de</strong> jogos, todos juntos, ou <strong>de</strong><br />
qualquer outro tipo <strong>de</strong> diversão. Houve um tempo em que a gente pintava, escrevia livros e abria<br />
a alma <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> formas uns com os outros. A gente podia conversar e pensar juntos.<br />
Nós clamamos por alívio para nossa solidão e algum dia nós iremos compreen<strong>de</strong>r que<br />
somos prisioneiros <strong>de</strong> computadores e da tecnologia. Algum dia, nós nos ergueremos e<br />
<strong>de</strong>struiremos seu po<strong>de</strong>r fascinante e seremos livres novamente; teremos condições <strong>de</strong> nos<br />
comunicarmos com os outros. Então nossa natural solidão <strong>de</strong>saparecerá.<br />
4 - SOLIDÃO E COMUNICAÇÃO<br />
Somos todos prisioneiros, hoje em dia. Prisioneiros da tecnologia. Somos quase<br />
incapazes <strong>de</strong> fazer amigos. Entre nós e amiza<strong>de</strong> existem quilômetros <strong>de</strong> fios elétricos e <strong>de</strong><br />
circuitos eletrônicos. Nós per<strong>de</strong>mos a alegria das coisas simples que eram tão boas, e com elas a<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> rir e <strong>de</strong> realmente nos comunicar.<br />
Nós per<strong>de</strong>mos aquelas noites com papai e mamãe contando historinhas <strong>de</strong> fadas para os<br />
filhos menores, que iam dormir sonhando com lindas moças e tudo o mais. Nós per<strong>de</strong>mos a<br />
época daqueles sítios, on<strong>de</strong> crianças cresciam conhecendo as árvores, as flores, o trigo e a aveia e<br />
como eles cresciam. Nas paróquias, havia os almoços comunitários dos fiéis on<strong>de</strong> todos se<br />
conheciam e eram amigos, e as danças das quadrilhas e milhares <strong>de</strong> outras coisas que parecem<br />
ultrapassadas, mas que po<strong>de</strong>m tornar-se atuais novamente porque são imortais e dispersam a<br />
solidão como o vento dispersa a neblina. Quando as pessoas se comunicam, a solidão se quebra<br />
em uma porção <strong>de</strong> pedaços que são levados pelo vento. Se não posso rir, não posso me<br />
comunicar e a comunicação é inimiga da solidão.<br />
Recentemente fui a uma clínica para uma consulta médica e fiquei abismada com a<br />
<strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za e a firmeza <strong>de</strong> todos lá. A clínica se assentava sobre amor e compreensão para com os<br />
doentes. Uma pequena palavra ou um sorriso, uma ajuda aqui e ali, uma pequena conversa<br />
durante a espera significam tanto para as pessoas lá. Como são simples os caminhos <strong>de</strong> Deus,<br />
como são tão simples! É Cristo Quem nos dá o po<strong>de</strong>r da comunicação através <strong>de</strong> simples gestos<br />
<strong>de</strong> amor: um sorriso, uma mãozinha. É Ele que nos guia para nos comunicarmos.<br />
5 - ORAÇÃO E COMUNICAÇÃO<br />
Há um ponto que precisa ser investigado quando conversamos sobre a solidão. Se<br />
quisermos nos livrar da solidão, temos <strong>de</strong> fazer contato com outros e também com Deus, através<br />
da oração. Mas há ainda um contato mais profundo do que a oração. Temos <strong>de</strong> penetrar no<br />
mistério da solidão <strong>de</strong> Cristo. Temos <strong>de</strong> penetrar nele sem tentar compreendê-lo, pois é <strong>de</strong><br />
impossível compreensão; assim, temos <strong>de</strong> fazer contato com Deus.<br />
34
Uma das primeiras coisas a fazer para enfrentar a solidão, especialmente a solidão dos<br />
idosos, ou qualquer outra forma <strong>de</strong> solidão, é enten<strong>de</strong>r que Cristo chama algumas pessoas para<br />
com Ele compartilhar a Sua solidão. Po<strong>de</strong>m vocês imaginar a profunda solidão <strong>de</strong> Cristo no<br />
Getsêmani? Quando Seus apóstolos caíram no sono? Esse chamado é re<strong>de</strong>ntor. Pois se<br />
compartilhamos da solidão <strong>de</strong> Cristo, então nós também, com Sua ajuda, po<strong>de</strong>mos redimir o<br />
mundo. Aqueles que seguem o Cristo encontrarão a paz e compreen<strong>de</strong>rão que a solidão po<strong>de</strong><br />
produzir frutos, não é estéril, porque nós a po<strong>de</strong>mos dividir, se quisermos, com Deus.<br />
A chave que abre para vocês a verda<strong>de</strong>ira essência da solidão é compartilhá-la com<br />
Cristo. Se vocês o fizerem, como po<strong>de</strong>rá ser possível ficar solitário quando as duas faces da<br />
solidão (a sua e a Dele) transformam-se numa única face? Vocês po<strong>de</strong>m compartilhar <strong>de</strong> Sua<br />
solidão em qualquer tempo, em qualquer lugar - e Ele compartilhará da solidão <strong>de</strong> vocês. O<br />
resultado será que não haverá nenhuma solidão, pois quando vocês tiverem penetrado no mistério<br />
da solidão do Cristo, ela cessará <strong>de</strong> ser solidão. Este é um gran<strong>de</strong> mistério <strong>de</strong> Deus.<br />
6 - COMPARTILHANDO A DOR DE CRISTO.<br />
Um dia foi como se Cristo estivesse falando comigo e Ele dizia, <strong>Catherine</strong>, eu <strong>de</strong>sejo que<br />
você compartilhe da Minha dor. Eu disse, Como po<strong>de</strong>rei fazer isso? Ele disse, Eu a ajudarei a<br />
suportar Minha dor. E assim Ele fez; mas Ele não diminuiu a dor. A coisa foi toda espiritual.<br />
Não tinha nada a ver com outras coisas ou outras pessoas. Era o meu coração que clamava a<br />
Deus e dizia, Senhor, como posso ajudá-Lo? E a resposta vinha sempre a mesma, Suporte a<br />
Minha dor. E assim foi.<br />
O que aconteceu comigo foi como a luz <strong>de</strong> um relâmpago. Foi uma súbita compreensão,<br />
uma certeza, <strong>de</strong> que Cristo não era amado. Claramente, <strong>de</strong> forma óbvia, completa, vi que o<br />
Senhor não era amado. Vi que Ele era rejeitado. Na verda<strong>de</strong>, Ele tinha sido rejeitado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />
<strong>de</strong>ixara o lar <strong>de</strong> Sua mãe, até chegar a Sua crucificação. Oh, Ele foi aceito por algumas pessoas e<br />
em alguns lugares, mas a maioria <strong>de</strong>las não O aceitava com muita convicção.<br />
Nós temos que nos dispor. Temos <strong>de</strong> fazer pequenas coisas extremamente bem por amor<br />
a Deus. Temos <strong>de</strong> abrir nossos corações às pessoas, porque eles ainda estão fechados. Assim,<br />
pouco a pouco, eles <strong>de</strong>vem começar a se abrir. Porque, vejam vocês, Cristo entra em nossos<br />
corações em cada pessoa que neles entra. Lembrem-se, temos <strong>de</strong> partilhar <strong>de</strong> Sua dor. Eis<br />
porque também participamos <strong>de</strong> Sua alegria, pois para os que compartilham Sua dor, Ele dará<br />
alegrias infinitas.<br />
7 - AS TENTAÇÕES COMUNS - E COMO LIDAR COM ELAS<br />
O diabo usa contra nós <strong>de</strong> tentações comuns. Fiz abaixo uma lista <strong>de</strong>las e aposto que não<br />
errei muito. Segundo minha própria experiência e a <strong>de</strong> outros que já passaram por Madonna<br />
House, eis a lista:<br />
Temores<br />
Tentações sobre sua vocação na vida.<br />
Desencorajamento.<br />
Choques <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong>s.<br />
A monotonia do seu trabalho (ele bate em cima disto).<br />
Confusão.<br />
Questionamento <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>: Por que <strong>de</strong>vo fazer isto e aquilo?<br />
35
Adicione uma dose <strong>de</strong> sonhar acordado (no que o capeta é velho mestre), uma pitada <strong>de</strong><br />
autopieda<strong>de</strong> (ele tira isso do nada), junte páprica (o afastamento <strong>de</strong> sua família ou comunida<strong>de</strong>)<br />
com aquele sentimento <strong>de</strong> ninguém me enten<strong>de</strong> - nem mesmo Deus, sirva tudo numa travessa <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sobediência e <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>ixado sozinho, e você acaba <strong>de</strong> preparar a obra prima do diabo, o<br />
seu melhor instrumental! Aposto que se você reler o texto acima, você não po<strong>de</strong>rá dizer que nada<br />
disso aconteceu com você, <strong>de</strong> uma forma ou outra.<br />
Aqui estão algumas das armas que vocês têm contra suas tentações:<br />
Seja franco com seu diretor espiritual.<br />
Asperge água benta sobre você mesmo e, especialmente, sobre sua cama<br />
e no seu local <strong>de</strong> trabalho.<br />
Use <strong>de</strong> bom senso, juntamente com senso <strong>de</strong> humor e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> rir<br />
<strong>de</strong> você mesmo.<br />
Com relação a choques <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong>s, pergunte a você mesmo, Se<br />
fulano é um fardo para mim, é possível que eu também seja um fardo<br />
para ele?<br />
8 - CONTROLANDO NOSSAS PALAVRAS<br />
A Quaresma é tempo para controlarmos nossas palavras. Controlar a palavra é recuperar<br />
sua sacralida<strong>de</strong>, compreen<strong>de</strong>r que às vezes as palavras <strong>de</strong> uma inocente ‘piada’, proferidas<br />
mesmo sem pensar, po<strong>de</strong>m ter resultados <strong>de</strong>sastrosos, po<strong>de</strong>m ser a ‘última gota’ que empurra<br />
uma pessoa para o <strong>de</strong>sespero final e a <strong>de</strong>struição. Mas nossas palavras po<strong>de</strong>m também dar<br />
testemunho. Alexan<strong>de</strong>r Schmemann, no seu livro A Gran<strong>de</strong> Quaresma<br />
afirma que “... uma<br />
conversa casual sobre uma mesa <strong>de</strong> trabalho com um colega po<strong>de</strong> ser mais eficaz para comunicar<br />
uma visão da vida, uma atitu<strong>de</strong> com relação a outra pessoa ou ao trabalho, do que uma pregação<br />
formal. Ela po<strong>de</strong> lançar as sementes <strong>de</strong> uma pergunta sobre a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diferente<br />
compreensão da vida, o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> saber mais. Não fazemos idéia sobre como, <strong>de</strong> fato, nós<br />
constantemente nos influenciamos uns aos outros através <strong>de</strong> nossa fala, através da própria<br />
tonalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nossa personalida<strong>de</strong>. E no final das contas homens e mulheres se convertem a Deus<br />
não por que alguém foi capaz <strong>de</strong> apresentar brilhantes explicações, mas porque eles viram<br />
naquela pessoa luz, alegria, profundida<strong>de</strong>, serenida<strong>de</strong> e o amor que por si só revela a presença e o<br />
po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Deus no mundo”(sic).<br />
Como diz Mateus (12:36-37), nós seremos julgados pelas nossas palavras. A Quaresma é<br />
o tempo no qual <strong>de</strong>vemos pensar o que dizem as palavras <strong>de</strong> Deus na Bíblia. E além <strong>de</strong>sse<br />
pensamento, <strong>de</strong>vemos pronunciar palavras <strong>de</strong> ternura, amor, pieda<strong>de</strong>, compaixão e gentileza<br />
porque somos homens e mulheres <strong>de</strong> fé; nós somos cristãos.<br />
9 - SACERDÓCIO: UM DOM DE AMOR<br />
Vocês alguma vez imaginaram por que nós, em Madonna House, temos este tremendo<br />
amor pelos sacerdotes? Por que nos levantamos quando eles chegam à mesa para as refeições?<br />
Por que nos dirigimos a eles com respeitosa informalida<strong>de</strong>? A resposta é simples: é porque<br />
quando um padre entra nesta casa, é Cristo que entra. Sabemos disso pela fé. Não é <strong>de</strong><br />
assombrar, pois, que ao se dar conta disso, se caem <strong>de</strong> joelhos, envolvido e absorvido no mistério<br />
do amor <strong>de</strong> Deus por nós.<br />
36
Cristo não quis <strong>de</strong>ixar-nos órfãos! Ele quis nos dar alguém que fosse a Sua semelhança.<br />
Não quero dizer semelhança física, mas semelhança com o que Ele realmente é - aquele que ama,<br />
o terno, o que perdoa, o que serve - um que fizesse o que Ele fazia: lavar os pés da humanida<strong>de</strong>.<br />
Mas Cristo fez mais! Ele <strong>de</strong>u ao sacerdote um po<strong>de</strong>r especial tal que quando ele<br />
pronuncia algumas palavras <strong>de</strong> absolvição, Cristo lava nossas almas e nos abraça em amor e<br />
reconciliação. Cristo vem até nós, portanto, em tal tremenda simplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> amor, que chega a<br />
tirar nossa respiração. Ele vem até nós como um sacerdote!<br />
Desta forma, aproxime-se do padre com o entendimento <strong>de</strong> que ele traz Deus <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si<br />
<strong>de</strong> uma forma especial, <strong>de</strong>vido ao sacramento da or<strong>de</strong>m. Aproximem-se <strong>de</strong>le como se<br />
aproximariam <strong>de</strong> Cristo.<br />
10 - O SACERDÓCIO DIVINO EM ARGILA HUMANA<br />
Depois dos pensamentos <strong>de</strong> ontem sobre o sacerdócio, vocês po<strong>de</strong>riam dizer, E o que<br />
fazer a respeito <strong>de</strong> um padre pecador, longe <strong>de</strong> ser santo, que se casa sem permissão, etc.?<br />
Vocês po<strong>de</strong>rão ter essa dúvida porque, em geral, não se tem um completo conhecimento do que<br />
significa, na realida<strong>de</strong>, o sacerdócio. Desta forma vocês não compreen<strong>de</strong>m que o selo do<br />
sacerdócio foi gravado na alma <strong>de</strong>sse pobre homem pecador. Ele foi ali colocado pelo fogo do<br />
Espírito Santo e o toque da mão do Pai; e ele jamais po<strong>de</strong>rá per<strong>de</strong>r esse dom.<br />
Na Rússia, quando morreu o último padre católico romano em minha cida<strong>de</strong> (ele foi<br />
assassinado diante <strong>de</strong> meus próprios olhos), tivesse ele sido um outro padre que eu soubesse que<br />
tinha cometido todos os pecados mortais do livro (e que talvez estivesse morando na casa <strong>de</strong> sua<br />
amante) eu teria me arrastado sobre meu ventre até aquele homem para receber os dons divinos<br />
que ele po<strong>de</strong>ria me transmitir. Pouco teria me interessado em seus caminhos pecaminosos.<br />
Porque a fé penetra nessas coisas; ela rasga a máscara externa - a qual eu vira na presença física<br />
<strong>de</strong> um padre em pecado - e ela me mostra a realida<strong>de</strong> interior. De repente, pela fé, teria visto este<br />
homem transfigurado em glória divina, eu sabia que no dia <strong>de</strong> sua or<strong>de</strong>nação, <strong>de</strong> uma forma<br />
estranha, inexplicável mistério, aquele homem fora transfigurado em Cristo. Eu sabia que,<br />
tivesse ele sido ou não um pecador, o Cristo nele iria me absolver.<br />
11 - NÃO DEVEMOS JULGAR NOSSOS SACERDOTES<br />
Vocês fazem um monte <strong>de</strong> perguntas sobre os padres e uma boa parte <strong>de</strong>las são<br />
irrelevantes... Por que eles se casam, ou fazem isso ou aquilo, ou aquilo outro? Bem, isto é a<br />
humanida<strong>de</strong> <strong>de</strong>les. Mas neles está Cristo - sempre o Cristo!<br />
Os sacerdotes po<strong>de</strong>m ocultá-Lo, porque são seres humanos como nós. Mas há uma coisa<br />
no sacerdote que é muito diferente do que há na alma <strong>de</strong> qualquer outra pessoa: Cristo Se revelará<br />
neles se alguém tiver necessida<strong>de</strong> Dele.<br />
Lembremo-nos <strong>de</strong> que os doze apóstolos não eram homens perfeitos. Um O <strong>de</strong>ixou.<br />
Outro O negou durante algum tempo. Um ficou nas proximida<strong>de</strong>s durante a crucificação, mas os<br />
restantes apenas viraram as costas e fugiram do Gólgota para o mais longe que pu<strong>de</strong>ram. Eles<br />
eram homens muito comuns.<br />
Freqüentemente julgamos os padres por suas qualida<strong>de</strong>s humanas (seus sorrisos<br />
confiantes, sua gran<strong>de</strong> sabedoria, sua compreensão <strong>de</strong> uma coisa ou outra). Tudo isso é conversa<br />
fiada, se é que posso falar assim! Não <strong>de</strong>vemos julgar um sacerdote pela sua boa aparência,<br />
37
educação, e assim por diante. Nós <strong>de</strong>vemos apenas olhar para ele e dizer para nós mesmos,<br />
<strong>Graça</strong>s a Deus ele está aqui, porque ele é um dos gran<strong>de</strong>s sinais do amor <strong>de</strong> Deus por nós.<br />
Por que querem vocês criticar os sacerdotes? Por que <strong>de</strong>vemos criticar qualquer pessoa?<br />
Cristo disse Não julgueis e não sereis julgados.<br />
12 - OS SACERDOTES MERECEM O MAIOR RESPEITO<br />
Os sacerdotes merecem nosso maior respeito. Eis um ser humano igual a você ou a mim.<br />
Só que ele é um ser humano especial, alguém diante do qual po<strong>de</strong>mos nos ajoelhar e ter nossos<br />
pecados apagados. Ele é alguém que po<strong>de</strong> nos dar o Corpo e o Sangue <strong>de</strong> Cristo, para que<br />
possamos ter a vida que nunca se acaba.<br />
A forma <strong>de</strong> tratarmos um padre é com respeitosa informalida<strong>de</strong> e a ênfase está na palavra<br />
respeitosa. Lembro-me <strong>de</strong> uma vez em que um padre veio a Madonna House e ele estava muito<br />
bêbado, <strong>de</strong> modo que o coloquei numa cama para "curar a bebe<strong>de</strong>ira". Pela manhã trouxe-lhe<br />
café. Ele foi um pouco “perdido” e com olhos vermelhos, mas eu me ajoelhei ao lado <strong>de</strong> sua<br />
cama e pedi-lhe que me abençoasse. Ele olhou-me e disse, "Você percebe quem eu sou e o que<br />
fiz? Você percebe que sou um vagabundo?" Eu respondi, "Sim, mas o senhor é também um padre<br />
e eu estou pedindo-lhe a benção, porque é a bênção <strong>de</strong> Cristo!" Ele abençoou-me e <strong>de</strong>pois<br />
começou a chorar.<br />
Assim, lembre-se, que os sacerdotes são um dom <strong>de</strong> Deus e nós <strong>de</strong>vemos tratá-los com<br />
generosida<strong>de</strong>, gentileza e <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za e tornar a vida simples para eles, não complicada. Acima <strong>de</strong><br />
tudo, <strong>de</strong>vemos rezar por eles porque sua vocação é dura e difícil. Eles <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m muito <strong>de</strong> nossas<br />
orações.<br />
13 - UMA HISTÓRIA VERDADEIRA SOBRE UM PADRE<br />
Quando eu tinha <strong>de</strong>z anos, minha família viajou <strong>de</strong> férias para a Polônia. Eu estava<br />
passeando pela rua quando, subitamente, avistei caído no meio da lama o padre da al<strong>de</strong>ia. Ora,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> criancinha eu tinha sido ensinada a amar e reverenciar os sacerdotes e aquilo quase<br />
<strong>de</strong>spedaçou meu pequeno coração! Corri para casa chamando minha mãe e disse, "Lá está o<br />
Monsenhor, bêbado, bêbado, bêbado! O padre está bêbado!" Mamãe olhou-me e disse, "Ah, é<br />
isso? Então vamos até ele".<br />
Com ela levando-me pela mão, voltamos pelo meu caminho em silêncio. Quando<br />
chegamos ao padre, ainda no meio do lama, minha mãe disse, “<strong>Catherine</strong>, você já é grandinha.<br />
Aju<strong>de</strong>-me a levantá-lo daqui”. Antes que o fizéssemos, porém, ela beijou a mão suja <strong>de</strong>le.<br />
Depois o levamos até o presbitério, on<strong>de</strong>, ainda em silêncio, ela o entregou à mulher encarregada.<br />
Quando chegamos a casa, mamãe pediu-me para pegar o peniquinho <strong>de</strong> barro do bebê,<br />
enchê-lo com água e trazê-lo para ela. Enquanto eu fazia isso, ela colheu um buquê <strong>de</strong> lindos<br />
lírios brancos do jardim. Quando cheguei com o vaso, ela colocou as flores <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>le e disse:<br />
"Olhe isto. Os lírios brancos não mudam, mesmo que estejam em um peniquinho <strong>de</strong> barro em vez<br />
<strong>de</strong> um belo vaso. Lembre-se sempre disto, <strong>Catherine</strong>. Faça <strong>de</strong> conta que este peniquinho po<strong>de</strong> ser<br />
o padre. O lírio branco é Cristo, o Cristo que nunca muda, o Cristo que está no sacerdote <strong>de</strong> um<br />
modo especial. Sim, o padre po<strong>de</strong> ser menos digno, mas o Cristo nele permanece sempre como<br />
estes lírios. Nunca, em toda a sua vida, cometa o engano <strong>de</strong> misturar os dois".<br />
38
14 - A DOR COMO CAMINHO PARA A SANTIDADE<br />
Que espécie <strong>de</strong> cristão seria você se não houvesse dor em sua vida? Espere por ela,<br />
portanto, e dê-lhe boas-vindas, porque a dor é como um fogo enviado por Deus para purificar sua<br />
alma, seu coração e sua mente. Por causa <strong>de</strong>la você <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> ser egocêntrico e po<strong>de</strong>rá ir ao<br />
encontro <strong>de</strong> todos os seus irmãos e irmãs. Assim, quando houver dor em sua vida, experimente<br />
dizer, <strong>Graça</strong>s a Deus pela dor!<br />
A dor é o caminho que conduz ao cume da montanha do Senhor. É também a ferramenta<br />
que o ajuda a tornar retos os caminhos do Senhor em seu coração, aplainar suas montanhas e<br />
nivelar os seus vales. Então você mesmo e seus irmãos e irmãs também, po<strong>de</strong>rão seguir num<br />
caminho ameno até o Senhor - o caminho que você veio preparando com as ferramentas do amor,<br />
da esperança e da dor.<br />
A Bíblia diz <strong>de</strong> Cristo, "<strong>Em</strong>bora fosse Filho <strong>de</strong> Deus, apren<strong>de</strong>u a obediência por meio dos<br />
sofrimentos que pa<strong>de</strong>ceu" (Heb. 5:8). Jesus veio para fazer a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus; e ser obediente à<br />
vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus é sofrer. Mas aon<strong>de</strong> leva esse sofrimento? Ele certamente não leva à <strong>de</strong>pressão.<br />
Não. Ele conduz à alegria, ao amor e à fé. A dor é o cálice do amor. Espero que tenhamos<br />
entendido porque o Senhor nos faz participar <strong>de</strong> Sua dor; é para que possamos imitá-Lo e ser<br />
conduzidos por Ele até Seu Pai.<br />
15 - CAUSAS DA DOR<br />
A dor que você expressa é a dor do ferimento. Algumas vezes essa dor po<strong>de</strong> ter<br />
começado no útero, ou po<strong>de</strong> ter começado antes do útero, porque nós, seres humanos carregamos<br />
memórias tribais em nossas almas. Alguns <strong>de</strong>sses ferimentos po<strong>de</strong>m ter sido infligidos na préinfância,<br />
na infância, adolescência ou mesmo na ida<strong>de</strong> adulta.<br />
Alguma pessoa ou pessoas <strong>de</strong> importância po<strong>de</strong>m ter rejeitado você. A socieda<strong>de</strong> também<br />
teve uma parcela <strong>de</strong> culpa em infligir ferimentos e dor, tristeza e angústia, criando em você<br />
sentimentos hostis <strong>de</strong> agressivida<strong>de</strong> ou <strong>de</strong> retraimento. E aí está a Dor! Dor! Dor! Muitos <strong>de</strong><br />
vocês carregam este peso da dor sem mesmo se dar conta. Quando a gente sente dor, muitas<br />
vezes diz que a dor cega.<br />
Sim, às vezes a dor realmente nos torna incapazes <strong>de</strong> ver toda a beleza da vida na Igreja.<br />
Porque não confiaram em nós, nós não confiamos nos outros. Como as pessoas não têm sido<br />
sinceras conosco, também não nos abrimos a nós mesmos. E assim por diante. Por isso, em vez<br />
<strong>de</strong> sermos portadores da Boa Nova, nós nos pomos a cantar lamentos em escala baixa e menor!<br />
Quando eu estava em oração sobre este tema, algumas palavras vieram ao meu coração:<br />
Fale a eles a respeito da cura interior. Acho que Deus revelou-me essas palavras porque a cura<br />
significa perdão. E perdão dá origem a compreensão, ternura, generosida<strong>de</strong> e cura profunda.<br />
16 - REMÉDIO PARA A DOR: O PERDÃO<br />
Nós <strong>de</strong>vemos perdoar a socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> on<strong>de</strong> viemos; nós <strong>de</strong>vemos perdoar as formas pelas<br />
quais ela nos feriu. Temos <strong>de</strong> oferecer o perdão por toda a dor que experimentamos sem<br />
percebermos, mesmo no útero, antes do nosso nascimento. Nós <strong>de</strong>vemos perdoar aqueles que<br />
po<strong>de</strong>m não nos ter compreendido, ou que nos negligenciaram, ou mesmo nos rejeitaram. É<br />
especialmente importante que perdoemos nossos pais pelas suas fraquezas humanas. Se<br />
pu<strong>de</strong>rmos gerar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós esse primeiro impulso <strong>de</strong> perdoar, então - como um relâmpago<br />
39
atravessando o céu escuro - nosso perdão po<strong>de</strong>rá cobrir qualquer coisa! Ele iluminará nossas<br />
lembranças da mesma forma que a luz <strong>de</strong> um farol varre o mar, <strong>de</strong> modo que quando seus raios<br />
iluminam alguma coisa que nós pensamos que nos feriu, o toque da luz trará o perdão <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />
nossos corações e abençoará aqueles a quem perdoamos.<br />
Enquanto eu meditava sobre essa palavra perdão, outra palavra subitamente veio à tona:<br />
reconciliação. O perdão trará a reconciliação; eu sei que tem <strong>de</strong> haver reconciliação entre<br />
nações, entre pessoas, entre todos nós. Temos primeiro que nos reconciliar com Deus, <strong>de</strong>pois<br />
conosco e, finalmente, com o mundo todo - incluindo quem quer que nos tenha ferido.<br />
Temos, porém, <strong>de</strong> fazer mais do que isso! Se nosso perdão não for aceito, temos <strong>de</strong><br />
oferecer a outra face. Isto não é fácil, mas Cristo que é o Caminho, achou o Seu muito árduo<br />
também. Assim, se estamos caminhando com Ele, é o que também <strong>de</strong>vemos esperar.<br />
17 - O QUE NOS PEDE CRISTO ( São Patrício)<br />
Bem na porta <strong>de</strong> nossa casa e no centro <strong>de</strong> nós, está Cristo. Se pudéssemos apenas<br />
escutar, po<strong>de</strong>ríamos ouví-Lo! Ele diz, Eu nem ao menos peço que vigiem uma hora comigo em<br />
minha agonia; Eu simplesmente lhes peço que se levantem da cama quando o <strong>de</strong>spertador soar.<br />
Eu não lhes peço que se <strong>de</strong>ixem esbofetear ou que levem murros; Eu apenas lhes peço que<br />
aceitem correções (que vocês merecem) com humilda<strong>de</strong>, por amor <strong>de</strong> Mim, com um coração<br />
aberto e com a mente e vonta<strong>de</strong> prontas para mudar. Não lhes peço que sejam atados a uma<br />
coluna e flagelados com açoite <strong>de</strong> pontas <strong>de</strong> chumbo. Eu simplesmente lhes peço que façam<br />
todas as tarefas que lhes forem dadas com total <strong>de</strong>dicação e cuidado.<br />
Eu não lhes peço que fiquem pendurados nus na Minha Cruz; mas peço-lhes que<br />
aprofun<strong>de</strong>m o espírito <strong>de</strong> pobreza ao cuidar e usar tudo o que foi criado por Mim. Fui <strong>de</strong>spido<br />
até a nu<strong>de</strong>z; por que não po<strong>de</strong>m vocês <strong>de</strong>spir suas almas <strong>de</strong> seus pensamentos egocêntricos e<br />
começar a ver coisas como: xícaras, panos sujos, alimentos, roupas, com espírito <strong>de</strong> reverência?<br />
Vocês somente po<strong>de</strong>rão fazer isso se <strong>de</strong>spindo completamente do egoísmo e se passarem a<br />
perceber a conexão <strong>de</strong> tudo - trabalhar, passear, sentar, dormir - Comigo.<br />
Ainda não lhes pedi para serem pregados na cruz Comigo; mas po<strong>de</strong>rei pedir isso, se<br />
vocês se prepararem como lhes indiquei acima. Lembrem-se, a menos que vocês fiquem<br />
pendurados do outro lado da Minha Cruz, não po<strong>de</strong>rão compartilhar do paraíso Comigo. Sem a<br />
cruz, não teria havido ressurreição. A chave para o céu é a Minha Cruz; quando vocês<br />
enten<strong>de</strong>rão isso?<br />
18 - SIGA EM FRENTE!<br />
Enfrentemos os fatos da vida. Algumas vezes vocês estarão cansados, outras se sentirão<br />
emocionalmente esgotados. Somos humanos, mas seguimos em frente, apesar disso. Vocês<br />
po<strong>de</strong>m não ter jamais uma agonia mental que se iguale à <strong>de</strong> Cristo no Getsêmani ou a que sua<br />
Abençoada Mãe teve aos pés da cruz. Ninguém jamais estará tão cansado como o Cristo na cruz.<br />
Por que então tanta excitação sobre isso? Sente-se você péssimo? Tudo bem. Vá em frente.<br />
Você é um apóstolo - um homem ou uma mulher que ama Deus e é totalmente <strong>de</strong>dicado a Ele<br />
neste mundo.<br />
Pare <strong>de</strong> sentir sua pulsação psiquiátrica. Pare <strong>de</strong> se preocupar com suas ânsias e dores,<br />
suas pequenas tensões e fadigas. Siga em frente! Você sabia que estava seguindo em direção à<br />
40
cruz, portanto prepare seus pés para caminharem cem quilômetros por hora para chegar lá. Você<br />
está fisicamente bem cuidado. Todas as suas legítimas necessida<strong>de</strong>s estão sendo satisfeitas.<br />
Você é amado e bem cuidado, então qual é o problema? Cristo está esperando.<br />
Vamos dar uma olhada naqueles choques <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong>. Fulano dá nos nervos <strong>de</strong><br />
sicrano. Muito bem, <strong>de</strong>ixe para lá, continue sorrindo. Seja muito caridoso com essa pessoa. Não<br />
fuja. Essa é apenas uma fina lasca da cruz na qual você será crucificado. Com que você se<br />
preocupa? Vá em frente. Você tem problemas? É com o tipo <strong>de</strong> trabalho que você faz?<br />
Temores que o incomodam? Cristo <strong>de</strong>ve ter tido temores também, quando viu os algozes se<br />
preparando para flagelá-Lo. Una-se a Ele e a Sua Paixão e siga em frente!<br />
19 - O GENTIL JOSÉ (Solenida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São José, esposo <strong>de</strong> Maria)<br />
No meio do silêncio, profundo e sagrado, chega o gentil José; cada movimento, cada<br />
passo, mesmo a sua postura, fala <strong>de</strong> coragem, compreensão e <strong>de</strong> amor. Ele não é velho; é jovem<br />
e cheio <strong>de</strong> vida, alto, espadaúdo, com cabelos macios como a seda e escuros como a noite. Seus<br />
olhos são azuis, refletindo uma glória raramente vista, pois lhe foi dado perfilhar o Filho <strong>de</strong> Deus<br />
sem ser pai, o único homem a quem o Pai confiaria Seu Filho.<br />
A noiva, a Igreja, o conhece bem. Ela está aos pés <strong>de</strong> José a quem, a cada noite entrega<br />
seus fardos, pois quem melhor do que ele, que embalou em seus braços a carne <strong>de</strong> Deus, para<br />
lidar com seu Corpo Místico? E os filhos da Igreja trazem a ele milhares <strong>de</strong> sonhos <strong>de</strong>sfeitos,<br />
tristezas e corações feridos. Quem melhor do que o homem que acreditou no impossível, o<br />
operário do silêncio e da fé, para respon<strong>de</strong>r às preces daqueles que caminham solitários na<br />
escuridão?<br />
Contudo, a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> sua glória, sua beleza, sua luz, ele continua a ser José, o<br />
<strong>de</strong>sconhecido; pois silencioso e humil<strong>de</strong> ele permanece sempre <strong>de</strong> lado, <strong>de</strong>ixando que a Mãe e a<br />
Criança caminhem à sua frente, porque eles são sua única felicida<strong>de</strong>.<br />
São José, esposo da Virgem Maria e patrono da esposa <strong>de</strong> Cristo, nós precisamos <strong>de</strong> ti!<br />
Oh José, pai adotivo <strong>de</strong> Deus e <strong>de</strong> todos nós, quão oportuna é sua vinda.<br />
20 - EM VIGÍLIA COM O CRISTO NO PRÓXIMO<br />
No Getsêmani, quando todos dormiam, Cristo perguntou aos discípulos, <strong>de</strong> forma tão<br />
trágica que suas palavras ainda ecoam durante a Semana Santa e toda a Quaresma, "Não pu<strong>de</strong>stes<br />
vigiar uma hora Comigo?" É como se fossem dirigidas a cada um <strong>de</strong> nós.<br />
Pergunto-me, então: <strong>Catherine</strong>, você tem vigiado durante uma hora? Você tem feito<br />
vigília com sua família, com aqueles que lhe pediram para falar com eles? Será que eu lhes <strong>de</strong>i<br />
parte do meu tempo para escutá-los? Será que rezei por eles, uma prece simples que os elevaria<br />
até Deus? Eu penso que se nós rezamos pelos outros, do fundo <strong>de</strong> nossos corações, o Deus<br />
ressuscitado que reza em nós vai realmente até eles. A nossa oração se junta com a Dele e<br />
penetra diretamente em nossos corações, e possivelmente eles se sentirão menos sós.<br />
Nós estamos consolando o Cristo quando nos consolamos uns aos outros. Não po<strong>de</strong>mos<br />
amar sem compaixão, sem entrar na paixão ou no sofrimento do outro. É tão difícil para nós, no<br />
turbilhão <strong>de</strong>sta vida pressionada pela tecnologia, lembrarmo-nos <strong>de</strong> que somos Cristo. Tudo o<br />
que fizer<strong>de</strong>s ao menor <strong>de</strong> Meus irmãos, é a Mim que o fareis. Quando você ama a Deus<br />
apaixonadamente, seu único <strong>de</strong>sejo é compartilhar <strong>de</strong> Sua dor, é estar com Ele.<br />
41
21 - DESEJO DE DEUS<br />
Nós existimos para <strong>de</strong>sejar o Único Desejável: Deus. Nisso está a preparação para a<br />
Quaresma: um profundo <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> Deus. Nós caminhamos juntos porque O <strong>de</strong>sejamos.<br />
A Quaresma não é apenas um tempo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo, mas também um tempo para ouvir e tocar.<br />
Assim Zaqueu, em seu apaixonado <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ver o Cristo, foi permitido não somente vê-Lo, mas<br />
também ouvi-Lo e tocá-Lo. Este é o início da Quaresma. O que aconteceu <strong>de</strong>pois com Zaqueu?<br />
Ele gritou: Darei meta<strong>de</strong> dos meus bens aos pobres e a cada um que frau<strong>de</strong>i pagarei quatro<br />
vezes mais. Isto é arrependimento. Isto é endireitar o que estava torto. É isto que <strong>de</strong>vemos fazer,<br />
você e eu, durante esta Quaresma. É tempo, também, <strong>de</strong> perdão. Aquele que se arrepen<strong>de</strong> é<br />
perdoado.<br />
Vamos nos aproximando do limiar a partir <strong>de</strong> on<strong>de</strong> sua pregação ce<strong>de</strong> lugar à dor a<br />
entrega. Aproximamo-nos da realida<strong>de</strong> que Ele vem anunciando e a qual usualmente não<br />
prestamos atenção: Ninguém tem maior amor do que Aquele que dá a vida para o irmão. Como<br />
Zaqueu, vamos subir numa gran<strong>de</strong> arvore <strong>de</strong> fé para olhar <strong>de</strong> tal modo que nenhuma palavra das<br />
últimas semanas da vida <strong>de</strong> Jesus nos passe <strong>de</strong>sapercebida. Porque se quisermos satisfazer esse<br />
<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> vê-Lo quando se abrirem às portas da morte - e até mesmo antes, pois o Reino <strong>de</strong> Deus<br />
começa agora - temos <strong>de</strong> imitar Aquele a qual estamos procurando.<br />
22 - VOCÊ QUER CORRER O RISCO?<br />
Cristo não prega um ou outro tipo <strong>de</strong> teologia. Nada disso. Ele quer, porém, que nós<br />
corramos o risco e é por isso que as pessoas não querem segui-Lo. É por isso que elas ficam<br />
afastadas. Apesar <strong>de</strong> tudo querem fingir que são cristãs.<br />
Eu percebo isso em mim mesma. Você não percebe isso em você mesmo? Quando você<br />
pára e pensa no assunto, você acha que vai querer arriscar sua vida inteira por causa da palavra <strong>de</strong><br />
um homem? "Não", disse a mim mesma. "É um risco muito gran<strong>de</strong>". Esse é o real motivo pelo<br />
qual as pessoas não querem seguir o Evangelho. Ele exige <strong>de</strong>mais.<br />
No Evangelho (Mateus 10: 37-39) Cristo diz que não po<strong>de</strong>mos preferir nossa família a<br />
Ele. Pensem nisso! E quem não tomar a própria cruz e seguir os Seus passos não é digno Dele.<br />
Conseguem ver a cena? Uma cruz é um objeto muito pesado.<br />
Antes disso, no versículo 35, Ele chega a dizer que veio para jogar os membros <strong>de</strong> uma<br />
família uns contra os outros! Então você tem <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar seu pai e sua mãe, irmãos, irmãs, todos!<br />
Sim, a razão pela qual não seguimos o Cristo é por causa do risco. Milhões <strong>de</strong> pessoas que são<br />
supostamente cristãs, não aceitam o risco <strong>de</strong> seguir o Cristo.<br />
É tudo muito bonito <strong>de</strong> ler e escrever, mas é o fazer que é difícil!<br />
23 - O QUE ACONTECE QUANDO VOCÊ CORRE O RISCO.<br />
Sim, quando você segue o Cristo, você corre risco. Toda vez que você abre a boca, você<br />
se arrisca. Você se arrisca a ser <strong>de</strong>saprovado pelas pessoas, a ser alvo da ira das pessoas, ao<br />
<strong>de</strong>samor das pessoas.<br />
Logo que cheguei ao Canadá, fui convidada a fazer uma palestra numa cida<strong>de</strong> chamada<br />
Timmins. Eu estava <strong>de</strong>screvendo a Revolução Comunista e o que ela havia feito à minha família,<br />
quando, zip! Um punhal passou voando ao meu lado. Um "pukko" como se diz em finlandês.<br />
42
Seguiu-se outro pukko. Um policial saltou do auditório, subiu rápido ao tablado, sacou o<br />
revólver e sentou-se a meu lado. Eu olhei para os pukkos e olhei para o auditório que estava um<br />
tanto assustado e continuei com a palestra. A audiência aplaudiu. Falava <strong>de</strong> Cristo e ateísmo, da<br />
luta entre o bom e o mal. Aí está o problema. Abri a boca e recebi pukkos. <strong>Em</strong> outras palavras,<br />
eu estava passando por um gran<strong>de</strong> risco. Coisas semelhantes me aconteceram no sul dos Estados<br />
Unidos, com a Ku Klux Klan * , e em outras circunstâncias.<br />
Cristo nos advertiu: on<strong>de</strong> quer que vocês preguem vocês se arriscarão. Não há nada <strong>de</strong><br />
novo: "Cuidai-vos dos homens. Eles vos levarão aos seus tribunais e açoitar-vos-ão com varas,<br />
nas suas sinagogas" (Mateus 10:17). Isto é o que acontecerá a vocês, não se iludam.<br />
Portanto é extremamente perigoso seguir o Cristo e é por isto que apenas poucos o fazem!<br />
Querido leitor – pense nisso você mesmo, porque cada um <strong>de</strong> nós terá <strong>de</strong> enfrentar riscos<br />
diversos!<br />
24 - MARIA E A FÉ.<br />
Imaginem uma garota <strong>de</strong> quatorze anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> diante <strong>de</strong> um anjo que lhe diz: "Ave,<br />
cheia <strong>de</strong> graça, o Senhor é contigo". Como se sentiria alguém se um anjo lhe dirigisse a palavra?<br />
Mas ela respon<strong>de</strong>u com simplicida<strong>de</strong>, diretamente, ativamente, sem nenhuma falsa modéstia. Ela<br />
disse, "Seja feito conforme a Sua vonta<strong>de</strong>". Incrível! Aí está essa menininha aceitando a vonta<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Deus. A existência do mundo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> disso.<br />
Eu imagino, como havia sido prometida a José, o seu espanto com tudo aquilo. Por acaso<br />
ela discutiu? Quando sua gravi<strong>de</strong>z se tornou mais evi<strong>de</strong>nte, e ela sentiu a criança se mexendo<br />
<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si, o que terá pensado? Isto é quase incrível, pois ela era igualzinha a você e a mim!<br />
Ela era uma pessoa, um ser humano; ela era possuidora <strong>de</strong> certas graças que lhe tinham sido<br />
concedidas, mas ela não era Deus. E ela não compreendia muitas coisas. Não era entendimento,<br />
mas um mergulho na fé!<br />
Quando nós temos dificulda<strong>de</strong>s com a fé, <strong>de</strong>veríamos recorrer a ela e curvar-nos diante<br />
<strong>de</strong>ssa pequena mulher menina, que verda<strong>de</strong>iramente é a mãe <strong>de</strong> todos aqueles que crêem. Ela<br />
<strong>de</strong>monstrou uma fé além <strong>de</strong> nossa compreensão. Agora mesmo, e neste exato momento, eu<br />
convido você a entrar naquela solidão <strong>de</strong> fé, como fez Maria. Volte-se para ai mesmo e abra seu<br />
coração. Você realmente acredita? Tudo que você tem <strong>de</strong> fazer é entrar nessa solidão <strong>de</strong> fé, como<br />
fez Maria, e dizer sim! E isso é tudo.<br />
25 - QUE FÉ! (Anunciação do Senhor)<br />
Um dia, inesperadamente, enquanto Maria se ocupava com as suas tarefas, um anjo lhe<br />
dirigiu a palavra e lhe <strong>de</strong>u a fantástica, incrível mensagem: ela iria ser a mãe do tão esperado<br />
Messias. Ela aceitou seu papel com palavras simples, dizendo que estava pronta para cumprir a<br />
vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus. Ela disse fiat... que assim seja.<br />
Aquele foi apenas o primeiro dos <strong>de</strong>z mil fiat que ela teria <strong>de</strong> dizer. Ela disse fiat diante<br />
do espanto <strong>de</strong> José. Ela disse fiat quando <strong>de</strong>u à luz, miraculosamente, a seu filho. Quais <strong>de</strong>vem<br />
ter sido os seus pensamentos quando ela retomou sua vida diária? Nada aconteceu. Essa criança,<br />
que <strong>de</strong>veria ser o Messias, era apenas um menino como outro qualquer. Ele comia e dormia; suas<br />
fraldas tinham <strong>de</strong> ser trocadas. Depois Ele cresceu e ajudava José na oficina <strong>de</strong> carpinteiro. Ele<br />
apren<strong>de</strong>u a comerciar. Então, Ele se foi a pregar por toda a Palestina. Ao final, Ele foi<br />
executado, o que causou a ela enorme dor.<br />
43
Serenamente, silenciosamente, Maria aceitou tudo isso. Mas ela <strong>de</strong>ve ter se perguntado o<br />
que significava aquilo tudo - exatamente como muitas pessoas hoje se perguntam o que significa<br />
tudo isso! Mas nós nos questionamos sem termos a serenida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Maria, sua paz, seu amor e<br />
sem termos sua fé e confiança. Como necessitamos <strong>de</strong> suas atitu<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> seus fiats repetidos<br />
in<strong>de</strong>finidamente! Ela não era uma mulher comum, apesar <strong>de</strong> ter parecido assim a seus vizinhos.<br />
Quanta coragem tinha Maria para viver assim! Que fé! Que ela possa nos ensinar como ser<br />
gente <strong>de</strong> fé no mundo <strong>de</strong> hoje!<br />
26 - O EXAGERO DA UNÇÃO DE CRISTO.<br />
<strong>Em</strong> Mateus 26:6-13 lemos alguma coisa sobre <strong>de</strong>sperdício. A unção <strong>de</strong> Cristo. Leia essa<br />
passagem agora. Ela não lhe dá arrepios? Vocês não começam a imaginar o que significa isso<br />
tudo? O Evangelho é tão simples. Quanto mais sua cabeça se enche com teologia e não sei mais<br />
o quê, menos você enten<strong>de</strong> o Evangelho. Porque o Evangelho foi ensinado e escrito para os<br />
pequeninos. Deve-se ser simples e humil<strong>de</strong> quando se lê o Evangelho. Escute. Venha comigo<br />
para <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sses versículos...<br />
Estavam ali os futuros bispos da Igreja (os discípulos <strong>de</strong> Cristo) aos gritos, dizendo que<br />
aquele negócio <strong>de</strong> ungüento era um <strong>de</strong>sperdício. Eu compreendo isso perfeitamente. Quando eu<br />
estava na Casa da Amiza<strong>de</strong> * , no Harlem, eu tive um caso engraçado. Quando eu estava<br />
preparando uma caixa <strong>de</strong> roupas para uma mulher pobre, coloquei <strong>de</strong>ntro coisas muito boas e usei<br />
algum dinheiro da nossa caixa para comprar seis laranjas, pois a mulher estava doente. Então<br />
isso era um "exagero". Pensei, "Ela gostaria <strong>de</strong> um pouco <strong>de</strong> conhaque, então vou comprar<br />
algum". E o fiz. Depois, pensei "Ela é tão pobre que nunca <strong>de</strong>ve ter tomado sorvete", então<br />
comprei um tijolo <strong>de</strong> sorvete. Nesse momento, nosso membro mais fiel, Flewy, gritou comigo!<br />
Ela disse que o dinheiro po<strong>de</strong>ria ter servido para gente mais pobre do que a mulher! Meninos,<br />
como ela gritava!<br />
Então, peguei meu pequeno Evangelho e li a estória do ungüento em Betânia. Flewy era<br />
muito pura. Ela disse "Desculpe, <strong>Catherine</strong>, eu me esqueci".<br />
27 - FRACASSO.<br />
Quantas vezes olhamos para nós mesmos e achamos que somos um total fracasso?<br />
Ficamos mais velhos, olhamos nossas vidas e nada vemos nelas digno <strong>de</strong> nota. Sentimos que<br />
temos sido enormes fracassos. É justamente aí o momento em que <strong>de</strong>vemos olhar para Jesus na<br />
cruz. Não há maior "fracasso" do que esse.<br />
Encaremos a palavra fracasso <strong>de</strong> frente, com atenção, com sentimento, pois é uma palavra<br />
<strong>de</strong>vastadora em nosso vocabulário. Que estranha palavra é essa com que estamos todos<br />
preocupados? Essa palavra que associamos a vergonha, e que significa, pelos estranhos padrões<br />
mo<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> produção, que não conseguimos produzir muito.<br />
Nenhum <strong>de</strong> nós é um fracasso, meus queridos amigos, a menos que nos façamos assim. O<br />
que consi<strong>de</strong>ramos fracasso na vida comum é na realida<strong>de</strong> um <strong>de</strong>grau para o sucesso. Você não<br />
po<strong>de</strong> se tornar competente em alguma coisa sem primeiro falhar uma, duas, três ou mais vezes.<br />
Não é possível! É preciso muita argila para fazer um pote. É preciso muito fio para fazer um<br />
belo bordado.<br />
Sim, o fracasso é doloroso, mas sem dor não po<strong>de</strong>mos viver em amor. Assim, passem<br />
através das dores <strong>de</strong> Cristo e entrem na alegria <strong>de</strong> Seu coração. Nesse processo haverá muitas<br />
44
ocasiões em que você fracassará. Você cairá <strong>de</strong> cara no chão - justamente como aconteceu com<br />
Ele a caminho da cruz. Aleluia!<br />
28 - O SUDÁRIO DE CRISTO: BANDEIRA DA RESSURREIÇÃO<br />
Na noite passada veio-me à mente que, se eu me enrolasse no sudário <strong>de</strong> Cristo e<br />
meditasse sobre a Sua morte, eu teria mais vida! Assim, <strong>de</strong>sejei me aninhar naquele sudário.<br />
Desejei que ele me cobrisse. Quis sentir seu calor, sua vida, porque acho que o sudário <strong>de</strong> Deus<br />
estava cheio <strong>de</strong> vida. Porque Ele ressuscitou e o sudário ficou para trás.<br />
Eu me cubro com esse sudário e o Senhor dá a mim a graça <strong>de</strong> meditar sobre Sua morte.<br />
Meditar sobre a morte <strong>de</strong> Deus é meditar sobre as palavras, Não há maior amor do que aquele<br />
que dá a vida pelos irmãos. Quando você medita nisso, você começa a enten<strong>de</strong>r o amor <strong>de</strong><br />
Cristo.<br />
Po<strong>de</strong> você fazer seu coração enten<strong>de</strong>r Seu amor? Esse Deus infinito, incompreensível,<br />
incrível, Se fez homem e cobriu-Se a Si próprio com o sudário da morte. Isso me fez perceber<br />
em meu coração como nós somos preciosos. Pare e pense: o mais vil pecador, o maior santo e<br />
todos os que estão entre ambos são infinitamente preciosos. Porque Cristo tornou-Se mortal ao<br />
vir como homem, cheio <strong>de</strong> amor por você e por mim! Não o simples amor pela "humanida<strong>de</strong>",<br />
mas por cada um <strong>de</strong> nós individualmente.<br />
Quando você olha uma mortalha, em que mais po<strong>de</strong> pensar que não seja na esperança?<br />
Porque Cristo realmente ressuscitou. Sua ressurreição é a maior realida<strong>de</strong> que existe em todo o<br />
mundo e nós caminhamos para essa ressurreição. Seu sudário transformou-se na ban<strong>de</strong>ira da<br />
ressurreição!<br />
29 - O MAR DA MISERICÓRDIA DE DEUS.<br />
A Quaresma é uma espécie <strong>de</strong> mar da misericórdia <strong>de</strong> Deus, morno e calmo, convidandonos<br />
a nadar nele. Se o fizermos, não apenas nos refrescaremos, mas nos limparemos, pois a<br />
misericórdia <strong>de</strong> Deus limpa como nada mais o faz. Mas nós hesitamos em mergulhar <strong>de</strong> fato na<br />
misericórdia <strong>de</strong> Deus. Queremos ser bem lavados e perdoados, sim. Mas dizemos para nós<br />
mesmos, "Se eu entrar naquele mar <strong>de</strong> misericórdia e ficar curado, estarei mais ou menos<br />
obrigado a praticar aquilo que o Cristo prega, quer dizer, a Sua lei <strong>de</strong> amor. E essa lei <strong>de</strong> amor<br />
faz sofrer tanto". E aí ficamos ao lado <strong>de</strong>sse mar e pensamos "Significa que se eu anseio por<br />
misericórdia, também <strong>de</strong>verei distribuir misericórdia; terei <strong>de</strong> ser misericordioso para os outros".<br />
O que quer dizer ser misericordioso para os outros? Significa abrir o próprio coração<br />
como se fosse um pequeno mar para as pessoas nele nadarem. Não gostamos <strong>de</strong> invasores. Se<br />
vierem estranhos para usar nossas praias, po<strong>de</strong>ríamos pensar: "Bem, e daí? O que estão fazendo<br />
aqui essas pessoas? Por que vêm à nossa praia?". Não é muito fácil transformar nosso coração<br />
num pequeno mar <strong>de</strong> misericórdia para o outro. Assim ficamos parados lá, diante da misericórdia<br />
<strong>de</strong> Deus, sem nada fazer.<br />
A Quaresma então está aí para nos lembrar que a misericórdia <strong>de</strong> Deus está ao nosso<br />
alcance, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que nós abracemos aquilo que Ele nos <strong>de</strong>u para abraçar - sua lei do amor - <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
que percebamos que isso vai doer, e doer muito, mas esta gran<strong>de</strong> dor é que trará a cura. Isto é a<br />
loucura e o paradoxo <strong>de</strong> Deus: enquanto você está sofrendo, você está sendo curado. Essa é a<br />
verda<strong>de</strong>ira cura.<br />
45
30 - REJEIÇÃO.<br />
Freqüentemente não conseguimos compreen<strong>de</strong>r porque nós ou outros somos rejeitados. É<br />
muito simples. Somos rejeitados porque Deus nos ama. Jesus nos ama tanto que quer nos dar a<br />
oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compartilhar <strong>de</strong> Sua paixão, pois Sua paixão foi Sua suprema rejeição.<br />
Se penetrarmos na Sua paixão e estivermos prontos para sermos crucificados com os<br />
cravos da rejeição que tanto ferem, conheceremos a alegria <strong>de</strong> Cristo. Como diz São Paulo, nós<br />
po<strong>de</strong>mos completar aquilo que está faltando nos sofrimentos <strong>de</strong> Cristo - nós lembramos disso?<br />
Assim quando estamos em sofrimento - físico, psicológico, espiritual - nós somos capazes <strong>de</strong><br />
compreen<strong>de</strong>r porque essa dor nos foi dada. Então entregamos nossas dores (e a dor da rejeição é<br />
a mais dura) em Suas mãos em concha. É como a água que é adicionada ao vinho no<br />
sacramento da Eucaristia. O Senhor toma a nossa dor, especialmente a dor da rejeição, e a usa<br />
para ajudar outras pessoas em toda a terra.<br />
Perseverar mesmo sob as constantes lategadas do chicote da rejeição, só po<strong>de</strong> ser possível<br />
com Cristo e Maria do nosso lado. Unicamente a fé po<strong>de</strong> permanecer em meio a essa imolação.<br />
<strong>Todo</strong>s nós po<strong>de</strong>mos dizer que sabemos o que a rejeição significa. Sabemos porque uma vez ou<br />
outra tivemos essa experiência no nosso corpo e na nossa mente, mas po<strong>de</strong>remos também<br />
experimentar a tremenda alegria daqueles que seguem o Cristo na cruz.<br />
31 - MISERICÓRDIA E PERDÃO.<br />
Lembro-me <strong>de</strong> quando era uma garotinha na Rússia, durante a Semana Santa; todos os<br />
membros da minha família - pai, mãe e todos os empregados - ficavam alinhados e, começando<br />
por meu pai, inclinava-se um <strong>de</strong> frente para o outro dizendo para cada um: Perdoe-me por<br />
qualquer mágoa que lhe possa ter causado. E a resposta do outro era: Que o Senhor o perdoe,<br />
como eu o perdôo. Amém. Assim se pedia perdão uns aos outros, porque sem o perdão, que é o<br />
maior sinal <strong>de</strong> amor, como se po<strong>de</strong> receber o Deus <strong>de</strong> amor?<br />
Nós magoamos as pessoas, sem querer ou mesmo querendo, por causa da fraqueza <strong>de</strong><br />
nossa natureza; assim precisamos do perdão <strong>de</strong> nossos irmãos e irmãs e precisamos também<br />
perdoá-los. Não po<strong>de</strong>mos entrar na Semana Santa a menos que perdoemos completamente,<br />
irrestritamente, totalmente. Pois diante <strong>de</strong> nossos olhos, em breve, estará o próprio Jesus Cristo,<br />
que gritará do alto da Cruz: Pai perdoa-os.<br />
Des<strong>de</strong> que somos batizados na morte e vida <strong>de</strong> Jesus Cristo, não <strong>de</strong>veríamos <strong>de</strong>ixar cair a<br />
noite sobre nossa ira. Deveríamos pedir perdão e perdoar todos os dias. Roguemos para que nós<br />
possamos perdoar, porque atualmente ninguém perdoa, tanto do ponto <strong>de</strong> vista nacional quanto<br />
internacional e talvez, também, do ponto <strong>de</strong> vista pessoal. Eis porque estamos tendo essa<br />
confusão toda.<br />
© online edition Madonna House Publications March 2010<br />
46
1 - ENTREGA SIGNIFICA AMOR<br />
ABRIL<br />
Estive pensando nesta estranha palavra - entrega. Sabem <strong>de</strong> uma coisa? Eu não quero<br />
me entregar. É uma palavra que amedronta. Mas eu sei que entrega significa amor. Como sei<br />
disso? Muito simples. Eu olho o crucifixo. Às vezes <strong>de</strong>svio o olhar do crucifixo porque ele é<br />
um símbolo <strong>de</strong> entrega. Aí eu começo a pensar <strong>de</strong> forma correta, em vez <strong>de</strong> pensar <strong>de</strong> maneira<br />
tortuosa: Deus Se fez homem. Isso é que é entrega! Pensem nisso. Quando as dúvidas os<br />
assaltarem como mil moscas zumbindo em seus ouvidos, no coração e na mente e em toda a sua<br />
volta, pensem nisso. Quando criança, Ele era obediente a Seus pais e mais tar<strong>de</strong> foi obediente a<br />
Seu Pai nos céus até a morte. Pensem nisso e coloquem todas as suas dúvidas diante <strong>de</strong>ssa<br />
obediência; então vocês compreen<strong>de</strong>rão o que significa a palavra entrega. Não parem. Sigam um<br />
pouco mais adiante. Vejam-No sendo crucificado. Conseguem ouvir os cravos penetrando no<br />
ma<strong>de</strong>iro? Ele morreu por nós porque nos amava. Portanto, é óbvio que entrega significa amor.<br />
Nós amamos? Esta, meu amigo, é a questão. A resposta é muito pouco, ou então não<br />
haveria guerras ou todas as tragédias que nos ro<strong>de</strong>iam. Amor significa braços aberto prontos para<br />
receber você. Isto foi o que Ele fez quando foi crucificado. Portanto pense novamente e vá até o<br />
fundo da palavra entrega. Você <strong>de</strong>scobrirá que não existe fundo.<br />
2 - COMIDAS ESPECIAIS DA PÁSCOA<br />
As comidas russas tradicionais da Páscoa têm gran<strong>de</strong> significado para o povo <strong>de</strong> meu país<br />
e eu quero lhes dizer alguma coisa sobre elas. Os ovos da Páscoa são o centro da ocasião, porque<br />
eles simbolizam a vida eterna - nossa vida nova, em Cristo. Os ovos são o símbolo <strong>de</strong> nosso<br />
renascimento em Cristo através do batismo e na Rússia os ovos eram pintados com <strong>de</strong>voção e<br />
<strong>de</strong>corados com símbolos tradicionais. Eles eram abençoados pelo padre e tratados com<br />
reverência como sacramentais, sendo usados para quebrar o jejum da Quaresma, na noite <strong>de</strong><br />
Páscoa. Os outros pratos tradicionais usados para quebrar o jejum da Quaresma eram o koolitch<br />
e a paska. O koolitch é um pão doce levedado que simboliza Cristo, o Pão da Vida, enquanto a<br />
paska simboliza o cor<strong>de</strong>iro imolado na festa hebraica da Páscoa, unindo-se assim o Antigo<br />
Testamento e o Novo. Dois koolitches compridos e redondos são preparados para representar<br />
Cristo e a Igreja; outros doze, menores, representam seus apóstolos. Eles são recheados com<br />
passas, nozes e especiarias e são enfeitados com cerejas congeladas e amêndoas. A paska é uma<br />
mistura <strong>de</strong> manteiga, açúcar, ovos, queijo recota e passas, e nós a comemos passada numa fatia<br />
<strong>de</strong> koolitch.<br />
Esses pratos constituem uma importante parte da celebração da Páscoa, a festa das festas,<br />
o dia dos dias, quando os russos saúdam-se uns aos outros dizendo Cristo ressuscitou! ao que o<br />
outro respon<strong>de</strong> Verda<strong>de</strong>iramente Ele ressuscitou!<br />
3 - O AMOR RESSUSCITOU<br />
Uma Páscoa após outra vem e mais e mais me aprofundo <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim mesma, e subo<br />
para a colina do Senhor, a montanha, mais e mais alto, para o chamado da Páscoa. O amor<br />
47
essuscitou. E eu posso encontrá-Lo em toda a parte: Para on<strong>de</strong> levaram Aquele por quem<br />
minha alma anseia? Ele <strong>de</strong>sapareceu da sepultura. E subitamente, você <strong>de</strong>scobre e eu <strong>de</strong>scubro<br />
que aquele não é o jardineiro - é o Cristo em pessoa. "Raboni!".<br />
Quando estou envolvida nesta coisa fantástica chamada Páscoa, estou mergulhada num<br />
tempo incrível que se renova todos os anos simbólica e historicamente, mas não apenas<br />
simbolicamente ou historicamente. Ele me toca no verda<strong>de</strong>iro interior da minha alma! E eu sei<br />
que é o próprio Cristo. Porque eu estava revivendo todos aqueles dias <strong>de</strong> seu último sofrimento e<br />
<strong>de</strong> sua gran<strong>de</strong> alegria, pois Ele veio para ser crucificado. E aí, quando faço isso, começo a<br />
enten<strong>de</strong>r o que é o amor. Agora minha i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> está completa e eu me sinto realizada. Não<br />
através das coisas que me po<strong>de</strong>m acontecer neste mundo, mas pelo próprio Cristo.<br />
O que po<strong>de</strong> me oferecer o mundo quando eu tenho Cristo? Eu posso dar alguma coisa ao<br />
mundo. Eu – com minhas mãos vazias – posso dar-lhe Deus.<br />
4 - APRENDENDO A REZAR (Sto. Isidoro, Bispo e Doutor da Igreja)<br />
Rezar é tão simples. Muita gente pensa que se apren<strong>de</strong> a rezar unicamente se estudar<br />
teologia e espiritualida<strong>de</strong>. Mas eu penso que se Cristo tivesse querido falar aos Doutores, Ele<br />
teria encontrado os equivalentes <strong>de</strong>les na socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua época. Ele não o fez. Ele falou para<br />
Pedro e João. Ele falou para gente que não sabia ler e escrever e eles absorviam Sua voz e<br />
compreendiam Suas palavras, porque Ele falava com gran<strong>de</strong> simplicida<strong>de</strong>.<br />
Se você quer saber o que é a oração, escute uma criança <strong>de</strong> dois ou três anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.<br />
Quando você se dirige a Deus como se fosse uma criança, isso é uma oração. Quando duas<br />
pessoas se amam e começam vagarosamente, timidamente, a conhecer cada uma a vida da outra<br />
como fazem os amantes, isso é oração. Quando homem e mulher entram na totalida<strong>de</strong> do amor,<br />
no gran<strong>de</strong> sacramento do matrimônio e têm a experiência do tremendo silêncio <strong>de</strong> uma unida<strong>de</strong><br />
que é ao mesmo tempo física e espiritual, este silêncio é uma oração.<br />
A solidão po<strong>de</strong> ser oração, pois qualquer homem, qualquer mulher, casados ou solteiros,<br />
qualquer que seja a sua vocação, em algum momento ficam sozinhos. Quando aquela terrível<br />
solidão se abate sobre você, um grito brota <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> seu coração, como o grito <strong>de</strong> um mudo e<br />
sobe até Deus. Esse grito é oração.<br />
Como se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>finir oração, a não ser dizendo que ela é amor? Ela é o amor expresso<br />
em palavras e amor expresso em silêncio. <strong>Em</strong> outras palavras, a oração é o encontro <strong>de</strong> dois<br />
amores: o amor <strong>de</strong> Deus e o amor da alma humana.<br />
5 - NOSSA ORAÇÃO É SIMPLES<br />
Nossa oração é simples. Muitas religiões orientais repetem a mesma palavra muitas e<br />
muitas vezes e nós fazemos isso também. Nós repetimos o nome do nosso bem-amado: Jesus,<br />
Jesus, Jesus. Nós chamamos a isso <strong>de</strong> oração da presença <strong>de</strong> Deus. Quando fechamos a janela do<br />
intelecto e abrimos a porta do coração, quando vamos para as profun<strong>de</strong>zas do silêncio, nós<br />
voltamos com o nome <strong>de</strong> Deus em nossos lábios e em nossos corações. Então seguimos pelo<br />
mundo repetindo-o e <strong>de</strong>ssa maneira nós nos tornamos uma oração. Um ser humano encontra<br />
gran<strong>de</strong> alegria ao se tornar uma oração. On<strong>de</strong> quer que vá, ele irradia Cristo.<br />
A oração chegará quando nos apaixonarmos por Deus. A maneira <strong>de</strong> nos apaixonarmos<br />
por Ele está em nos ajoelharmos. Tudo em nós resiste a essa forma <strong>de</strong> amar. Quem quer amar o<br />
48
Crucificado? Quem quer subir a colina do Gólgota, eternamente diante <strong>de</strong> todos nós? Quem<br />
quer ser crucificado do outro lado da cruz <strong>de</strong> Cristo, mesmo que seja esse o Seu leito <strong>de</strong> núpcias?<br />
Mas se vamos amar o Crucificado então também vamos conhecer uma outra coisa. Nós<br />
vamos conhecer uma alegria além <strong>de</strong> todo o conhecimento. Nós alcançaremos a paz, a paz que<br />
Ele prometeu. Seremos capazes <strong>de</strong> erguer todas as coisas; diante da Sua face. Nós<br />
compensaremos aquilo que está faltando nos sofrimentos <strong>de</strong> Cristo, pois o Corpo <strong>de</strong> Cristo ainda<br />
sofre. Estamos prontos?<br />
6 - DÚVIDAS, FÉ E A RESSURREIÇÃO<br />
As dúvidas somente são silenciadas pela prece e pela fé. Assim, miraculosamente,<br />
homens e mulheres sabem que não têm mais que duvidar. Eles acreditam <strong>de</strong> todo o coração no<br />
Deus Trino e Uno e em Nossa Senhora e em todos os ensinamentos da Igreja. Eles crêem que<br />
nisso está oculta a resposta a todas as dúvidas.<br />
Pela crença nos tornamos homens e mulheres <strong>de</strong> fé, homens e mulheres <strong>de</strong> Cristo. Ele<br />
disse, "<strong>Todo</strong> aquele que Me reconhecer diante dos homens, Eu o reconhecerei diante <strong>de</strong> Meu<br />
Pai". Esta é a hora. As dúvidas se vão e Cristo é reconhecido diante <strong>de</strong> homens e mulheres. A fé<br />
agora abriu suas asas e expulsou para longe todas as dúvidas. Este é o momento <strong>de</strong> alegria. Não<br />
interessa se também po<strong>de</strong> ser o momento da dor. A alegria supera a dor, porque agora<br />
apren<strong>de</strong>mos que durante todo o tempo em que estávamos na escuridão, batendo em todas as<br />
portas, Cristo estava ali. Assim paramos <strong>de</strong> bater e caímos prostrados diante <strong>de</strong> Sua Face. De<br />
alguma forma sabíamos que Ele viria até nós e Ele veio.<br />
Aqueles que dissipam suas dúvidas através da fé, conhecem a ressurreição. É somente<br />
quando duvidamos realmente, e as coisas ficam naquela zona <strong>de</strong> penumbra, que nós <strong>de</strong>scobrimos<br />
o que é ressurreição. Ele ressuscitou ao terceiro dia. Porque Ele o fez, eu não tenho dúvidas.<br />
Nem as <strong>de</strong>ve ter você, pela simples razão <strong>de</strong> que, obediente a Seu Pai, Ele veio até nós, o sinal da<br />
reconciliação sob o signo da cruz. Ele morreu por nós e foi enterrado por nós e <strong>de</strong>pois, no<br />
terceiro dia, Ele levantou-se. Quando a fé vence, as dúvidas <strong>de</strong>saparecem. Aleluia! Aleluia!<br />
Aleluia!<br />
7 - FOFOCAS<br />
Uma pessoa mexeriqueira é uma personalida<strong>de</strong> frustrada, freqüentemente uma pessoa bem<br />
tímida que passa sem ser notada, mas que realmente almeja ser o centro das atenções, mesmo<br />
que seja ao preço da reputação <strong>de</strong> alguém. É um estado patológico. A Igreja vergasta com<br />
cordas cheias <strong>de</strong> nós os mexeriqueiros, como Cristo vergastou os vendilhões do templo. É o<br />
único pecado para o qual a Igreja exige reparação pública. A única forma <strong>de</strong> se restaurar uma<br />
reputação é anunciar publicamente que o boato é falso. É interessante notar que na legislação<br />
civil, uma pessoa po<strong>de</strong> processar alguém por difamação <strong>de</strong> caráter, isto é, por falatório. Isto<br />
porque dar atenção a uma fofoca é participar <strong>de</strong>la. Se ninguém prestasse atenção, não haveria<br />
mexerico.<br />
Eu suponho que vocês não participarão <strong>de</strong> falatórios e sugiro que façam aquilo que tento<br />
fazer quando as pessoas fazem fofocas. Eu tenho que escutar, pois não posso impedir alguém <strong>de</strong><br />
falar, embora eu tente. Contudo, se for impossível, eu simplesmente não digo nada. Isso<br />
funciona normalmente como uma ducha <strong>de</strong> água fria. De forma <strong>de</strong>finitiva, nunca <strong>de</strong>monstro<br />
qualquer curiosida<strong>de</strong>. Escuto com uma expressão <strong>de</strong> aborrecimento o que ao menos refreia o<br />
49
fluxo do mexerico. Ao final do caso, eu usualmente tento, <strong>de</strong> forma gentil e caridosa, minimizar<br />
a estória toda. Eu tento dizer algo <strong>de</strong> bom sobre a pessoa e gentilmente mostrar o mal que a<br />
fofoca po<strong>de</strong> fazer.<br />
8 - O SACERDÓCIO<br />
<strong>Em</strong> 1918, em S. Petersburgo, eu testemunhei ao último sacerdote na cida<strong>de</strong> ser morto por<br />
um tiro, no altar. Nós o enterramos, e aí ficamos sem nenhum padre. Gostaria <strong>de</strong> mostrar aos<br />
muitos católicos <strong>de</strong>scontentes e anticlericais, o que significa o fato trágico, horrível, <strong>de</strong> se ficar<br />
sem sacerdote. A vida sem um padre, para um católico, é tão trágica, tão vazia, que só quem vive<br />
tal situação po<strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r. Quem <strong>de</strong> nós que já vivenciou isso levantaria sua voz em queixa<br />
contra homens cujas mãos consagradas seguram a verda<strong>de</strong>ira vida <strong>de</strong> nossas almas? Quem <strong>de</strong><br />
nós po<strong>de</strong>ria julgar ou criticar suas ações? Nós sabemos que os mais humil<strong>de</strong>s, os menores <strong>de</strong>ntre<br />
eles, são, apesar <strong>de</strong> tudo, representantes <strong>de</strong> Cristo e que aquilo que unem na terra é unido no céu.<br />
Nós sabemos que eles têm o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> trazer Deus do céu até a terra, ao nosso alcance, <strong>de</strong> maneira<br />
que nós pecadores possamos ter parte em Seu Corpo e Sangue. Na Polônia e em muitos países o<br />
povo beija as mãos dos padres porque são mãos santificadas que tocam em Deus diariamente.<br />
Eles nunca <strong>de</strong>ixam que um padre se vá sem lhe pedir a bênção, porque sabem que é a bênção <strong>de</strong><br />
Deus. Entretanto, há alguns que se referem aos clérigos <strong>de</strong> forma pouco séria e acham isso<br />
engraçado. Seria melhor para todos nós que em vez <strong>de</strong> criticar, rezássemos por eles.<br />
9 - CRISTO NA CRUZ<br />
"Pai, Pai, por que me abandonaste?" Como é possível que Cristo, o Filho do Pai, pu<strong>de</strong>sse<br />
pronunciar, na cruz, palavras tão trágicas? Cristo era humano como nós exceto no pecado.<br />
Como qualquer ser humano, Ele gritou porque estava sofrendo. Sua humanida<strong>de</strong> transparecia.<br />
<strong>Em</strong> Seu momento <strong>de</strong> tensão, Sua humanida<strong>de</strong> experimentava a escuridão que todos nós<br />
experimentamos.<br />
Pare e pense. Ao pé da cruz <strong>de</strong> Cristo estava um mar <strong>de</strong> pessoas. Muitos tinham vindo só<br />
para vê-Lo morrer. A tortura <strong>de</strong> criminosos era como um evento esportivo naqueles tempos. Da<br />
Sua cruz, Cristo podia ver que algumas daquelas pessoas eram gente que Ele havia curado.<br />
Imaginem a tremenda dor <strong>de</strong> rejeição que O tomou à vista daqueles que Ele havia ajudado. De<br />
seus apóstolos Ele nada viu a não ser a poeira que eles levantavam na esteira <strong>de</strong> sua fuga!<br />
Apenas São João permaneceu. Po<strong>de</strong>ria ter Ele sentido qualquer coisa que não fosse rejeição?<br />
O povo gritava lá <strong>de</strong> baixo, Se Tu és o Filho <strong>de</strong> Deus, <strong>de</strong>sça da cruz e nós creremos em Ti.<br />
Isso é blasfêmia, naturalmente. Claro que havia muitas razões para Ele clamar a Seu Pai. E Ele o<br />
fez. Naquele tremendo grito <strong>de</strong> Cristo do alto da cruz, estava a dor <strong>de</strong> toda a humanida<strong>de</strong>.<br />
10 - REJEIÇÃO E RESSURREIÇÃO<br />
O psiquiatra Karl Stern * costumava dizer-me, "Quando você lidar com pessoas<br />
emocionalmente <strong>de</strong>primidas, experimente mostrar-lhes como unir sua <strong>de</strong>pressão com a <strong>de</strong>pressão<br />
<strong>de</strong> Deus no Getsêmani". Se Seus amigos caíram no sono quando mais necessitou <strong>de</strong>les, como se<br />
sentiria você a respeito disso? Por isso não é tão surpreen<strong>de</strong>nte que Jesus tenha gritado! Nós<br />
também fazemos isso. E o Pai escuta nosso grito como escutou o grito <strong>de</strong> Seu Filho. O Filho<br />
50
morreu, mas três dias <strong>de</strong>pois Ele se levantou. Assim, o Pai mostrou o quanto amava Seu Filho. É<br />
a mesma coisa conosco.<br />
Quando estamos absolutamente por baixo, gritamos, "Pai, Pai, por que me abandonaste?"<br />
O eco <strong>de</strong> nossas vozes está em nossos ouvidos. Esse eco é algo que nos faz subir a montanha do<br />
Senhor rapidamente. O Senhor fica no alto da montanha e diz, Amigo, chegue mais para cima, e<br />
nós gritamos ao Pai, Por que me abandonaste? Mas se, com confiança total e uma gran<strong>de</strong> fé,<br />
esperança e amor, nós realmente nos inclinarmos até o chão, continuando a apelar ao Pai, nossa<br />
voz vai se tornando mais baixa, mais baixa, até se tornar um sussurro, até que fiquemos em<br />
silêncio. Enquanto subimos a montanha do Senhor, nós subitamente compreen<strong>de</strong>mos o que nos<br />
está suce<strong>de</strong>ndo: estamos entrando na ressurreição <strong>de</strong> Cristo.<br />
11 - CRISTO RESSUSCITOU!<br />
Aleluia! Cristo ressuscitou! Verda<strong>de</strong>iramente Ele ressuscitou! E por causa disso a<br />
escuridão foi vencida pela luz, a morte pela vida e o ódio pelo amor.<br />
Agora o mundo vive no Cristo ressuscitado. Se os homens e mulheres tomam<br />
conhecimento disso ou não, o mundo mudou; ele e o cosmo estão agora vivendo, existindo no<br />
Senhor da história, da eternida<strong>de</strong>, do tempo e do amor. E não é apenas a Igreja que está em<br />
peregrinação em direção à Parusia – a Segunda Vinda <strong>de</strong> Jesus – mas também todos os homens e<br />
mulheres e todo o mundo e tudo o que circunda o mundo <strong>de</strong> Deus.<br />
A ressurreição <strong>de</strong> Cristo trouxe o amor para o meio <strong>de</strong> nós e esse é o verda<strong>de</strong>iro princípio<br />
da nossa existência. Se nós reconhecemos isso, po<strong>de</strong>mos transformar o mundo. É uma coisa <strong>de</strong><br />
tal forma simples que apenas requer fé no Cristo ressuscitado. É tão simples e é menosprezada<br />
por muitos que escrevem pesados tratados sobre o extermínio da pobreza e a abolição das<br />
guerras. Mas os seres humanos não se saciam unicamente com pão. Eles têm uma <strong>de</strong>sesperada<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> amor, quase mais do que do ar que respiram.<br />
Por que não começar o fogo do amor amando – um a um – todos aqueles que encontramos<br />
e com quem lidamos durante o dia? Então realmente a ressurreição <strong>de</strong> Cristo passará a ter<br />
significação e nossa peregrinação até Ele será cheia <strong>de</strong> alegria e restauraremos o mundo para Ele,<br />
e comeremos os frutos do amor diariamente – paz e felicida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> tal forma que nunca sonhamos<br />
que existissem. Vamos começar agora.<br />
Aleluia! Cristo ressuscitou! Verda<strong>de</strong>iramente Ele ressuscitou!<br />
12 - PÁSCOA E PARUSIA<br />
Páscoa - a Ressurreição <strong>de</strong> Cristo! A festa das festas! A prova final da divinda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Cristo! Páscoa - a única festa da Igreja dos primeiros tempos, em volta da qual todas as outras<br />
festas ficam como as estrelas em torno do sol. Com que clareza os primeiros cristãos entendiam<br />
que cada domingo era uma pequena Páscoa, que cada uma era a Parusia, isto é, a Segunda Vinda<br />
<strong>de</strong> Cristo, pois na missa <strong>de</strong> cada domingo Cristo vem novamente na Eucaristia. E, ao mesmo<br />
tempo, cada domingo renovava sua expectativa da Parusia <strong>de</strong> Cristo, ainda por vir. Quando isso<br />
seria, ninguém sabia com certeza, mas todos estavam sempre esperando por ela!<br />
Na velha Rússia, a Páscoa era realmente a Alfa do ano, seu início, juntamente com a<br />
esperança <strong>de</strong> que, talvez, ela po<strong>de</strong>ria também ser a Parusia. Esse sentimento e essa esperança<br />
can<strong>de</strong>nte estavam profundamente enraizados no coração russos, e isso tornava todas as coisas<br />
suportáveis. Toda dor e tristeza eram toleráveis porque a esperança da Parusia trazia uma<br />
51
misteriosa compreensão das coisas que o intelecto humano, por si só, não po<strong>de</strong>ria enten<strong>de</strong>r. A<br />
Parusia era uma realida<strong>de</strong> sempre presente igualmente para ricos e pobre. Ela dava animação a<br />
todas as pessoas, um gosto <strong>de</strong> viver, enquanto ao mesmo tempo, afugentava o medo <strong>de</strong> morrer.<br />
Os russos, como os cristãos primitivos, compreendiam a Páscoa – sua promessa e sua estupenda<br />
realida<strong>de</strong>. E porque tinham tal compreensão, com fé flamejante, pouco temiam a vida e a morte.<br />
Pois havia a ressurreição e havia a Parusia - Sua Segunda Vinda! Tudo estava bem, mesmo se<br />
tudo parecesse ir mal sobre a terra.<br />
13 - PÁSCOA<br />
Nós todos os dias ficamos em contato com o miraculoso e o impossível e não damos valor<br />
a isso; esse é o nosso problema. Além disso, não acreditamos que Deus po<strong>de</strong> fazer o impossível<br />
e nos acomodamos no meio <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>scrença.<br />
Por que não temos alegria? Este é um tempo Pascal! Será que estamos neste momento<br />
nos enchendo <strong>de</strong> alegria por estarmos vivendo agora no Cristo ressuscitado? Estamos nós<br />
conscientes, será que na manhã <strong>de</strong>ste dia nós nos levantamos e dizemos, Cristo ressuscitou,<br />
verda<strong>de</strong>iramente Ele ressuscitou; é verda<strong>de</strong>, é verda<strong>de</strong>, é verda<strong>de</strong>? Estamos sentindo essa<br />
alegria?<br />
Não acredito que percebamos inteiramente o que significa viver no Cristo ressuscitado.<br />
Nós temos alguma consciência, muita ou pouca, sobre como viver no Cristo vivo, (isto é, imitá-<br />
Lo como ser humano, chorar Sua paixão, etc.). Mas penso que o Cristo ressuscitado ainda não<br />
penetrou em nós. Somos ainda como São Tomé, cheios <strong>de</strong> dúvidas.<br />
14 - A SIMPLICIDADE PODE VOLTAR<br />
São milhares as vias do amor. São milhões os caminhos que levam até ele. E ainda<br />
assim, todos se encontram no cimo <strong>de</strong> um monte, on<strong>de</strong> há uma Cruz, on<strong>de</strong> o Amor morreu por<br />
amor <strong>de</strong> nós.<br />
Saber é uma boa coisa. Mas os aprendizes nem sempre sabem como amar. E amar é o<br />
verda<strong>de</strong>iro fim do real saber.<br />
Tomemos a simplicida<strong>de</strong> santa como guia. Recostemo-nos em seu peito como uma<br />
criança. Vamos <strong>de</strong>ixá-la guiar nossos passos, nossas vidas, nossa oração. Como a tênue folha <strong>de</strong><br />
relva, vamos perfurar a escura e úmida terra <strong>de</strong> nossos temores e per<strong>de</strong>r o temor, seguros na<br />
simples fé. Da mesma forma que a neve <strong>de</strong>rrete sob o sol da primavera, <strong>de</strong>ixemos que se<br />
<strong>de</strong>rretam nossos milhares <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s imaginárias, para ficarmos livres <strong>de</strong> todos os aparelhos<br />
que pensamos que precisamos e que, na verda<strong>de</strong>, não precisamos.<br />
Como a primavera, vamos dançar nos dias dourados da nossa recém <strong>de</strong>scoberta liberda<strong>de</strong><br />
em Deus, enquanto seguimos fazendo a Sua vonta<strong>de</strong> na nossa pequenez e na nossa alegria,<br />
amando o mundo e Ele com um amor que nada exige a não ser amar mais.<br />
Cantemos as aleluias da Páscoa durante o ano todo como fazem crianças em férias,<br />
correndo <strong>de</strong> mãos dadas com santa simplicida<strong>de</strong>, para o alto, para o alto do morro da cruz, on<strong>de</strong> o<br />
Amor morreu por nós, para renascer novamente no terceiro dia. Vamos nos tornar pequeninos,<br />
simples, sem complicações, emergindo do nosso emaranhado <strong>de</strong> caminhos, em direção ao sol do<br />
amor <strong>de</strong> Deus! Aleluia!<br />
52
15 - PAZ<br />
No Evangelho, Cristo diz que pelos seus frutos serão conhecidos. Um dos frutos<br />
principais da vida cristã <strong>de</strong>veria ser a paz - uma paz profunda, interior, em cada um <strong>de</strong> nós.<br />
Por que razão não se ter paz? As dificulda<strong>de</strong>s são muitas. As provações conviverão<br />
constantemente conosco. Pequenas e gran<strong>de</strong>s pressões nos forçarão com suas eternas exigências.<br />
As tentações nos assediarão vindas <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro. A solidão baterá às portas <strong>de</strong> nossos corações. O<br />
<strong>de</strong>mônio rugirá em volta <strong>de</strong> nós, não apenas como um leão, mas como um trovão subterrâneo. O<br />
cansaço mental, físico e espiritual entoará sua cantilena sem fim. A carne procurará fuga no<br />
sono.<br />
Essas coisas acontecerão, mas se nosso espírito permanecer em sua cela <strong>de</strong> paz, recostado aos pés<br />
do Príncipe da Paz, tudo isso será como se não existisse, pois a paz é o fruto da carida<strong>de</strong> e nada<br />
po<strong>de</strong> penetrar essa cela, a menos que permitamos.<br />
Eu estava rezando para Teresa d'Ávila e lembrei-me <strong>de</strong> suas palavras: "Nada te perturbe,<br />
nada te amedronte. Tudo passa. Apenas Deus permanece."<br />
Vamos tentar, pois, ficar aos pés do Príncipe da Paz. Vamos trabalhar na escuridão do<br />
meio-dia, nas inúmeras noites escuras da vida espiritual, segurando alto a tocha da paz. Se o<br />
fizermos, então a fé se tornará forte, a visão das nossas priorida<strong>de</strong>s ficará clara e a paz e o amor<br />
surgirão.<br />
16 - AMAMOS DIARIAMENTE NO CRISTO RESSUSCITADO<br />
Temos <strong>de</strong> ser cristãos que trabalham dia a dia, hora a hora, a vida <strong>de</strong> Cristo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Belém<br />
até o Getsêmani e a Ressurreição. Tudo isso se resume simplesmente em uma única palavrinha:<br />
amar.<br />
Nós <strong>de</strong>vemos amar com nossa carga <strong>de</strong> emoções, <strong>de</strong> misérias, <strong>de</strong> dúvidas, confusões e<br />
tentações, porque elas são a porta através da qual estaremos indo para a Parusia. A porta é<br />
cruciforme, é verda<strong>de</strong>, mas po<strong>de</strong> ser suportada se temos a fé que é necessária para a aceitarmos<br />
vivendo este próprio momento, este próprio dia, no Cristo ressuscitado.<br />
Ele é o Cristo que está conosco em nosso computador, nossa lavan<strong>de</strong>ria, nossas refeições,<br />
nossas escuridões e luzes, nossas pequenas dores e nossos gran<strong>de</strong>s dias. É com Cristo, em Cristo<br />
e por Cristo que iremos conhecer aquela in<strong>de</strong>finível felicida<strong>de</strong> que escapa a todos aqueles que<br />
não acreditam Nele.<br />
Mas com Ele a felicida<strong>de</strong> não é ilusória; ela é real. Vá <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> você mesmo e perguntese<br />
"O que estou vendo?" E a resposta será, inevitavelmente, felicida<strong>de</strong>. A felicida<strong>de</strong> está com<br />
você, a felicida<strong>de</strong> está em você, felicida<strong>de</strong>, o amor além do entendimento, apesar <strong>de</strong> real e<br />
concreto. Ele, por si só alimenta você diariamente, porque o Senhor está no meio <strong>de</strong> nós. Assim,<br />
mesmo que você possa estar vivendo em meio a provações e tentações, seu coração se encherá<br />
com a alegria do Cristo ressuscitado. Aleluia! Aleluia!<br />
17 - AS PARTES ESSENCIAIS DA CARIDADE<br />
A carida<strong>de</strong>, cujo outro nome é amor, é uma realida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rosa que é muito mal<br />
compreendida entre nós. Não se po<strong>de</strong> dissecá-la como se faz na autópsia <strong>de</strong> um cadáver. Isso a<br />
mataria. Entretanto há certos componentes da carida<strong>de</strong> sem os quais ela não é carida<strong>de</strong>, mas uma<br />
ilusão. Vou ilustrar essas partes essenciais da carida<strong>de</strong>:<br />
53
Vigilância constante sobre as necessida<strong>de</strong>s e os prazeres dos outros.<br />
O <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> amar sem ser amado, <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r sem ser compreendido.<br />
Vigilância sobre suas próprias manias e hábitos que po<strong>de</strong>m incomodar os outros.<br />
Ter cuidado para que mau humor, irritações e temores, tensão menstrual no caso das<br />
mulheres, não levem escuridão para a alma dos outros.<br />
Usar <strong>de</strong> boas maneiras na vida diária. Por exemplo, não monopolizar a conversação.<br />
Carida<strong>de</strong> é confiar nas pessoas. Ela nunca julga os motivos <strong>de</strong> outra pessoa. Ela não se<br />
envai<strong>de</strong>ce. Ninguém é "dono da verda<strong>de</strong>".<br />
A carida<strong>de</strong> não é "melosa" nem sentimental.<br />
A carida<strong>de</strong> toma conhecimento das pequenas coisas. Não se <strong>de</strong>more no banheiro quando<br />
você sabe que há outros esperando para entrar. Vocês começam a perceber o que estou querendo<br />
dizer?<br />
A carida<strong>de</strong> serve aos outros e anula-se a si própria constantemente, enquanto carrega as<br />
adversida<strong>de</strong>s às costas o quanto for possível.<br />
A carida<strong>de</strong> também sabe quando dizer não.<br />
18 - A MISSA É NOSSA FORÇA<br />
Os leigos no mundo - em escolas, lojas, fábricas, hospitais, escritórios - são chamados<br />
para restaurar o mundo para Cristo on<strong>de</strong> se encontram. Essa é sua vocação, seu trabalho. Eles<br />
são chamados por Cristo não para "<strong>de</strong>ixarem o mundo" e se enclausurarem, mas para permanecer<br />
nele, voltar sua face para Cristo. Essa tarefa, do ponto <strong>de</strong> vista humano, parece praticamente<br />
impossível num mundo que <strong>de</strong>monstra estar tão afastado <strong>de</strong> Deus. Assim, nós temos necessida<strong>de</strong><br />
da Missa.<br />
Sem uma total participação na Missa, nós cedo morreríamos. É a Missa vivida a nossa<br />
verda<strong>de</strong>ira alma. A Missa é o centro, o coração, a essência da nossa fé. Ela é o fogo no qual<br />
<strong>de</strong>vemos penetrar para nos tornarmos uma chama. É o nosso encontro com Deus. É o único<br />
lugar on<strong>de</strong> Cristo e nós nos tornamos um na realida<strong>de</strong> da fé e da vida. A Missa é o alimento que<br />
nos conservará durante a monotonia daqueles dias cinzentos, acorrentados sem correntes ao <strong>de</strong>ver<br />
do momento, porque o amor não é uma corrente.<br />
Infinita é a graça e a força da participação na Missa. <strong>Dia</strong>riamente, na <strong>de</strong>spedida - "I<strong>de</strong> em<br />
paz e o Senhor vos acompanhe" - nós somos relembrados <strong>de</strong> que o mandamento do Senhor é<br />
viver Sua Missa, que também é nossa, nas praças públicas do mundo! Como po<strong>de</strong>ríamos nós<br />
cumprir esse mandamento se Ele, em pessoa, não fosse nossa força? Não disse Cristo, "Sem mim<br />
nada po<strong>de</strong>reis fazer?” Na Missa Ele, prodigamente, nos dá Sua força - dando-Se a nós<br />
pessoalmente - o pão dos santos.<br />
19 - A MISSA: NOSSA ESCOLA DE AMOR<br />
A sua vida como leigo no mundo é dura; e a vida em torno <strong>de</strong> você po<strong>de</strong>rá ser cruel, até<br />
mesma sórdida. Mas Deus lhe dará forças. Tudo po<strong>de</strong> ser suportado no intervalo <strong>de</strong> duas missas.<br />
Todas as manhãs você comerá o pão dos santos e estará apto a enfrentar qualquer tipo <strong>de</strong> jornada.<br />
Sua mente e seu coração serão alimentados pela Palavra <strong>de</strong> Deus. A voz do salmista e a voz doce<br />
<strong>de</strong> Cristo lhe darão coragem e nova esperança. Sua fé será renovada. Você mergulha no mar <strong>de</strong><br />
fogo que é a missa e sai inflamado, pronto para seguir em frente e acen<strong>de</strong>r fogueiras <strong>de</strong> amor, até<br />
mesmo nas mais miseráveis favelas da cida<strong>de</strong>.<br />
54
A missa, acima <strong>de</strong> tudo, é a escola <strong>de</strong> amor <strong>de</strong> Deus por nós e <strong>de</strong> nós para Deus. Nossa fé<br />
é centrada na missa - e no imenso e infinito pensamento que não me canso nunca <strong>de</strong> repetir - Que<br />
Deus nos amou antes <strong>de</strong> tudo, e que tudo o que <strong>de</strong>vemos fazer para sermos católicos inflamados é<br />
correspon<strong>de</strong>r com nosso amor.<br />
Pouco a pouco, imperceptivelmente, a missa diária nos leva cada vez mais para perto <strong>de</strong><br />
Deus e <strong>de</strong> Nossa Senhora. Também pouco a pouco ela nos ensinará o silêncio, <strong>de</strong> tal forma que,<br />
através do dia, enquanto passa o tempo, <strong>de</strong>scobriremos que existe <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós um jardim<br />
fechado, do qual possuímos a chave para abrir seu oculto portão. Po<strong>de</strong>mos entrar nele,<br />
encontrarmos nosso amante extraordinário e, como Maria em Betânia, nos sentarmos em silêncio<br />
<strong>de</strong> amor a Seus pés, enquanto Marta, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós, continua a executar suas múltiplas tarefas do<br />
dia.<br />
20 - SILÊNCIO EM NOSSO INTERIOR<br />
Desertos, silêncio, solidões não são necessariamente lugares, mas estados da mente e do<br />
coração. Esses <strong>de</strong>sertos po<strong>de</strong>m ser encontrados em meio à cida<strong>de</strong> e em cada dia <strong>de</strong> nossas vidas.<br />
Nós temos apenas que procurar por eles e <strong>de</strong>scobrir a tremenda necessida<strong>de</strong> que temos <strong>de</strong>les.<br />
Eles po<strong>de</strong>m ser pequenas áreas <strong>de</strong> solidão ou pequenos <strong>de</strong>sertos, poços <strong>de</strong> silêncio, mas a<br />
experiência que <strong>de</strong>les po<strong>de</strong>mos tirar se estivermos dispostos a neles penetrar, po<strong>de</strong> ser tão<br />
exultante e tão santa como em todos os <strong>de</strong>sertos do mundo, mesmo aquele no qual o próprio Deus<br />
entrou. Pois é Deus quem torna a ser santos os retiros, os <strong>de</strong>sertos e os silêncios.<br />
Não existe solidão sem silêncio. É verda<strong>de</strong> que o silêncio é, às vezes, ausência <strong>de</strong><br />
conversa, mas ele é sempre o ato <strong>de</strong> escutar. A mera ausência <strong>de</strong> ruídos (nos quais não ouvimos a<br />
voz <strong>de</strong> Deus) não é silêncio. Um dia cheio <strong>de</strong> ruídos e vozes po<strong>de</strong> ser um dia <strong>de</strong> silêncio, se os<br />
ruídos se tornarem para nós o eco da presença <strong>de</strong> Deus, se as vozes são para nós mensagens e<br />
convites <strong>de</strong> Deus.<br />
Quando falamos <strong>de</strong> nós mesmos e nos enchemos <strong>de</strong> nós mesmos, <strong>de</strong>ixamos o silêncio<br />
para trás. Quando repetimos as palavras profundas que Deus <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós, então nosso<br />
silêncio permanece intacto.<br />
21 - MAIS A RESPEITO DE ESCUTAR DEUS<br />
Experimente consi<strong>de</strong>rar o ato <strong>de</strong> escutar como uma parte essencial da prece. Você reza e<br />
ouve a voz <strong>de</strong> Deus lhe falando muito gentilmente, sem gritar, mas no fundo <strong>de</strong> seu coração. Se<br />
você escutar com atenção, você verda<strong>de</strong>iramente começará saber o que Ele <strong>de</strong>seja <strong>de</strong> você. Deus<br />
quer que façamos a Sua vonta<strong>de</strong> e Ele se entrega a nós continuamente para que possamos seguir<br />
suas pegadas.<br />
Porquê você está apaixonado por Deus, você po<strong>de</strong> se dirigir a Ele como faria com um<br />
amigo. Você po<strong>de</strong> falar com Ele a fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir o que Ele pensa. Você quer fazer o que Ele<br />
sugerir. Ouça-O, então, que você saberá. Deus fala <strong>de</strong> maneira calma, silenciosamente, mas Ele<br />
realmente fala, e Ele fará você saber o que Ele quer que você faça.<br />
Você cumprirá a Sua vonta<strong>de</strong> e isso será lindo. Fazer aquilo que Deus <strong>de</strong>seja é ser<br />
realmente feliz. Algumas vezes parecerá que Ele traz sofrimento, mas a vonta<strong>de</strong> Dele também<br />
lhe trará alegria. Entregarmo-nos inteiramente a Deus, na oração e na ação, é viver como um<br />
cristão, e com isso <strong>de</strong>scobrimos uma alegria tão imensa que nossa vida comum, do dia a dia, é<br />
completamente transformada. Estamos vivendo uma nova realida<strong>de</strong>.<br />
55
Escute para que você possa ouvir e compreen<strong>de</strong>r o que Deus quer <strong>de</strong> você. Escute-O<br />
silenciosamente e siga-O. Você ficará pleno <strong>de</strong> alegria. Você também se encherá <strong>de</strong> dor, mas não<br />
importa, pois sua tristeza será transformada em alegria. É isto o que Deus <strong>de</strong>seja compartilhar<br />
conosco.<br />
22 - ENFERMAGEM E CURA<br />
Eu fui uma enfermeira e minha enfermagem sempre foi dirigida ao Cristo. Eu sempre<br />
disse, "Este paciente é o Cristo. Vou tratá-lo <strong>de</strong>sta maneira". E eu tentava colocar o melhor dos<br />
meus conhecimentos para fazer isso. Costumava ir <strong>de</strong> noite visitar os doentes. Eu amava<br />
realmente muito os meus pacientes. Qualquer pessoa doente sempre me falou ao coração.<br />
Imaginem quanto <strong>de</strong>ve significar um doente no coração <strong>de</strong> Deus. Ele curou muito porque Ele<br />
amou muito. Ele amava o mundo e assim curava cada um dos que a Ele vinham.<br />
Às vezes é a nossa falta <strong>de</strong> fé, entre outras coisas, que nos torna doentes. Se nós<br />
tivéssemos realmente a fé do centurião, nós seríamos perfeitos. A doença se manifesta através <strong>de</strong><br />
estranhas formas. Uma pessoa po<strong>de</strong> estar perfeita fisicamente, mas muito doente espiritualmente.<br />
Nós recorremos a Deus quando isso acontece? Usamos que tipo <strong>de</strong> sacramento? Existe o<br />
Sacramento da Unção dos Enfermos. Há o Sacramento da Reconciliação, no qual dois braços<br />
estão abertos para nos receber; dois lábios prontos para beijar nossos lábios, pois os russos<br />
acreditam que a Confissão seja um beijo <strong>de</strong> Cristo. Há o Sacramento da Eucaristia - o<br />
recebimento do Corpo e do Sangue <strong>de</strong> Cristo. Mas para penetrar nos mistérios dos sacramentos é<br />
preciso converter-se, é preciso transformar-se, voltar-se para se <strong>de</strong>frontar com Deus - em vez <strong>de</strong><br />
voltar as costas para Ele.<br />
23 - A ORAÇÃO DEVE SER SIMPLES<br />
Deus quer que nossa prece seja simples. Tudo o que temos <strong>de</strong> fazer é dizer a Ele, "Fulano<br />
está doente. Por favor, faça alguma coisa por ele”. Eu penso que Deus se sentiria provavelmente<br />
aliviado em ouvir tal pedido, <strong>de</strong> tão cansado que <strong>de</strong>ve estar <strong>de</strong> todas as nossas longas falações!<br />
Suponha que você esteja viajando. Da janela <strong>de</strong> seu carro você vê alguém numa ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> rodas.<br />
Ponha seu coração nas mãos Dele, por assim dizer, e diga "Senhor, aju<strong>de</strong> aquela pessoa". Dessa<br />
forma você po<strong>de</strong> orar por muita gente e por muitas necessida<strong>de</strong>s.<br />
A prece <strong>de</strong>ve ser primeiramente para os outros. Deus provi<strong>de</strong>nciará para que as suas<br />
próprias necessida<strong>de</strong>s sejam satisfeitas. Nós não <strong>de</strong>vemos ficar todo o tempo pedindo, "Deus<br />
faça isso para mim, Deus faça aquilo para mim”.Quando dizemos, "Deus olhe por aquela pessoa",<br />
Ele tomará conta <strong>de</strong> nós também.<br />
Com tanta gente por quem rezar, não são necessárias longas preces. É por isso que eu<br />
simplesmente digo, "Senhor, cui<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fulano". Se você disser isso todos os dias e ficar junto a<br />
Deus, você perceberá que Ele permanecerá perto <strong>de</strong> você. Eu gostaria <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r tomar você pela<br />
mão e dizer, "Venha comigo. Vamos todos segurar a mão <strong>de</strong> Nosso Senhor e rezar <strong>de</strong> maneira<br />
bem simples". Poucas pessoas, contudo, pensam na oração feita assim. Muitos <strong>de</strong> nós não<br />
estamos habituados a orar enquanto a vida vai passando. Nós estamos acostumados a separar um<br />
tempo para rezar, quando <strong>de</strong>veríamos estar rezando o tempo todo. A oração nunca cessa. É uma<br />
coisa tão bela segurar na mão <strong>de</strong> Deus e rezar sempre.<br />
56
24 - SACERDOTES: UM SINAL DE ESPERANÇA<br />
Quando eu estava em Toronto, tinha um diretor espiritual, Padre Keating, um jesuíta que<br />
vivia próximo à Casa da Amiza<strong>de</strong>. Ouvi falar um dia que seu médico lhe prescreveu caminhar<br />
todos os dias. Então eu disse, "Padre, já que o senhor tem <strong>de</strong> caminhar, por que não caminhar até<br />
as favelas - logo ali?" Ele disse, "Eu irei para o parque ou algum outro lugar longe daqui". Eu<br />
disse, "Aqui temos a Rua Cameron, cheia <strong>de</strong> comunistas”.Ele olhou-me e disse, "Afinal, o que<br />
você está querendo que eu faça?" Eu disse, "Por que não caminhar na Rua Cameron? O senhor<br />
levaria esperança para eles, porque um padre traz esperança - apenas caminhando por aquelas<br />
ruas, especialmente a Rua Cameron”. Ele disse, “Tudo bem, eu irei, mas não acredito muito que<br />
eu seja um sinal <strong>de</strong> esperança”. Eu disse, "O Senhor lhe mostrará”. <strong>Todo</strong>s os dias, a partir<br />
daquele dia, eu o via caminhar pelas favelas, inclusive pela Rua Cameron. Ele foi alvejado por<br />
algumas pedradas e alguns palavrões, mas ele tinha cinqüenta anos, mais <strong>de</strong> um metro e oitenta e<br />
era forte - tinha presença. Um dia uma mulher veio correndo, olhou em volta para ver se<br />
ninguém a estava observando e aí sussurrou: "Reze pelo meu filho. Ele está muito doente".<br />
Cerca <strong>de</strong> uma semana mais tar<strong>de</strong>, ela veio, ficou em frente a ele, sem correr, sem medo <strong>de</strong><br />
ninguém. Ela pegou a mão do padre e a beijou, <strong>de</strong> acordo com o lindo costume eslavo, e disse:<br />
"Meu filho está bem, graças às suas preces".<br />
Quando há padres por perto, eles são um sinal <strong>de</strong> esperança. Eles po<strong>de</strong>m não se sentir<br />
assim, ou não saber que são, mas eles são.<br />
25 - SUA "HORA DE FOLGA" (São Marcos, Evangelista)<br />
Numa família, a mãe não dispõe <strong>de</strong> uma hora <strong>de</strong> folga para si própria. Essa hora pertence<br />
ao marido, à sua família, às crianças. É verda<strong>de</strong> que quando tudo está bem ela po<strong>de</strong> conseguir<br />
algum tempo livre para si própria. Mas se você, alguma vez, já lidou com famílias, ou se lembra<br />
da sua, você sabe que a folga da mãe sempre <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sua família. Ela a<br />
dispensa sem um momento <strong>de</strong> hesitação. Uma mãe que cuida <strong>de</strong> uma criança enferma não faz<br />
isso como se fosse uma enfermeira paga para passar a noite, na base <strong>de</strong> oito horas <strong>de</strong> trabalho por<br />
turno. Ela é como o Bom Pastor <strong>de</strong> que fala o Evangelho - aquele que nunca abandona sua<br />
ovelha, porque ele não faz isso só por dinheiro.<br />
Quando trabalhei como garçonete, lava<strong>de</strong>ira, ven<strong>de</strong>dora, compreendi (com a graça <strong>de</strong><br />
Deus) o que significava ser um cristão comprometido. Eu estava apenas tentando sobreviver para<br />
po<strong>de</strong>r cuidar <strong>de</strong> meu marido doente e meu filhinho. Contudo, eu sabia intuitivamente que se<br />
minha colega garçonete estava em má situação, eu <strong>de</strong>veria ajudá-la, mesmo que eu estivesse tão<br />
fisicamente cansada como ela estava. Isso às vezes significava ter <strong>de</strong> ir a um outro restaurante,<br />
comprar um cafezinho e escutá-la falar <strong>de</strong> seus problemas até as onze horas da noite. Às vezes<br />
tinha <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r minha hora <strong>de</strong> almoço, durante a qual eu tinha intenção <strong>de</strong> fazer algumas<br />
compras, ou apenas dar uma volta. <strong>Em</strong> vez disso, eu ficava sentada numa lanchonete abarrotada,<br />
apenas escutando. O amor me compelia a agir assim. Um sentimento <strong>de</strong> amor cristão<br />
amadurecido, adulto, compele milhões <strong>de</strong> cristãos, hoje em dia, a agir assim.<br />
26 - CUIDAR DO "JARDIM DE ALMAS" PARA DEUS<br />
É importante pedir ao Espírito Santo que lhe dê o dom particular <strong>de</strong> captar o que se passa<br />
com os indivíduos, pois não há duas pessoas iguais. Pensar em cada um, orar por cada um,<br />
57
planejar para cada um sob sua responsabilida<strong>de</strong> (a curto ou longo prazo), tudo isso po<strong>de</strong> ser parte<br />
<strong>de</strong> suas tarefas no lar ou no trabalho.<br />
Por exemplo, intuição e oração ligadas a amor e inteligência, fizeram-me ver que um <strong>de</strong><br />
nossos membros necessitava <strong>de</strong> estudos acadêmicos para se livrar <strong>de</strong> um bloqueio interior. Um<br />
outro tinha boa inteligência, mas uma paixão por <strong>de</strong>talhes que o impedia <strong>de</strong> ver o todo. Tal<br />
paixão teve <strong>de</strong> ser amainada aos poucos com amor e gentileza. Um outro po<strong>de</strong> ter uma maneira<br />
abrupta <strong>de</strong> falar, mas interiormente é gentil e amoroso. E assim por diante, com todo o resto <strong>de</strong><br />
nossos membros.<br />
O Senhor <strong>de</strong>seja que você faça crescer um belo jardim <strong>de</strong> almas para Ele. Mas você<br />
precisa apren<strong>de</strong>r a ser um bom jardineiro - saber que cada flor precisa <strong>de</strong> uma diferente espécie<br />
<strong>de</strong> fertilizante, um outro tipo <strong>de</strong> tratamento, talvez um transplante para outro terreno. Mas para<br />
fazer cada planta florescer da melhor maneira e produzir os frutos que o Senhor espera <strong>de</strong>la, você<br />
tem <strong>de</strong> cuidar daquele jardim <strong>de</strong> acordo com Suas regras <strong>de</strong> "diversida<strong>de</strong> na unida<strong>de</strong>". Como um<br />
jardineiro qualquer, isso é feito melhor <strong>de</strong> joelhos. Use <strong>de</strong> todas as suas faculda<strong>de</strong>s espirituais e<br />
intelectuais, e <strong>de</strong>pois mais oração. Peça ao Espírito Santo e a Nossa Senhora para possuir<br />
conhecimento interior pessoal cada vez mais profundo <strong>de</strong> cada um daqueles que estão sob sua<br />
responsabilida<strong>de</strong>.<br />
27 - CRISTO NA HIERARQUIA<br />
Nestes próximos dois dias quero conversar com vocês sobre aquilo que é conhecido como<br />
o misterium romanum, ou o mistério <strong>de</strong> Roma. Ele po<strong>de</strong> ser ilustrado através <strong>de</strong> uma estória que<br />
um bispo contou-me certa vez. Ele conheceu um homem <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> intelectualida<strong>de</strong> que estava<br />
interessado em tornar-se católico. Contudo, esse homem tinha um tremendo obstáculo - a<br />
fraqueza humana da hierarquia.<br />
O bispo respon<strong>de</strong>u-lhe <strong>de</strong>sta forma: "Caro amigo, você não percebe porque a biblioteca do<br />
Vaticano <strong>de</strong>ixa completamente disponíveis seus arquivos históricos? Ela não tem medo da<br />
verda<strong>de</strong>, por mais triste que possa ser. Essa fraqueza tem se mostrado como uma prova adicional<br />
do divino chamamento da Igreja. Bispos, sacerdotes e papas, <strong>de</strong>vido à sua humanida<strong>de</strong><br />
pecaminosa e fraca têm ferido a Igreja por dois mil anos, mas ela ainda continua em pé!"<br />
Deus não construiu Sua Igreja com os anjos, mas com os homens pecadores, fracos,<br />
medrosos, que O amavam e que, relutantemente, com Sua graça, foram se tornando aquilo que<br />
<strong>de</strong>veriam ser. Portanto nós, que somos ainda dirigidos por homens fracos, temos <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r que<br />
<strong>de</strong>vemos olhar além da pessoa, para o ministério que cada um exerce. Esse ministério é Cristo.<br />
Porque Cristo está na Igreja, Ele está em cada ministério, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Papa até o padre <strong>de</strong> sua<br />
paróquia. De outro modo, não haveria Igreja.<br />
28 - O MISTERIUM ROMANUM (S. Luís Maria Grignion <strong>de</strong> Monfort)<br />
Não importa o quanto homens e mulheres em seu ministério pareçam transformar em<br />
ruínas sua parte do edifício da Igreja <strong>de</strong>vido à sua humanida<strong>de</strong> - daí os aspectos <strong>de</strong>sagradáveis e<br />
pecaminosos - isso não acontece. Cristo presente no ministério <strong>de</strong>les não permite que a igreja<br />
seja <strong>de</strong>struída por causa da fraqueza das pessoas que O representam.<br />
Muita gente espera que todos os religiosos superiores, do Papa para baixo, sejam santos.<br />
Vamos imaginar que seu superior religioso, seu pároco, ou quem quer que esteja no cargo, tenha<br />
a pior personalida<strong>de</strong> possível, e que todos têm enormes dificulda<strong>de</strong>s em lidar com ele ou ela.<br />
58
Vamos imaginar que as manias <strong>de</strong>ssa pessoa irritem você. Se você é um homem, você não gosta<br />
<strong>de</strong> ser dirigido por uma mulher; se você é uma mulher, não gosta <strong>de</strong> ser dirigida por homens.<br />
Deixo que vocês completem o quadro.<br />
Lembrem-se, porém, que estamos lidando com o misterium romanum e - o que é mais<br />
importante - lidando com a paixão <strong>de</strong> Cristo e o comportamento dos apóstolos que não eram flor<br />
que se cheirassem. Um O negou, outro O traiu; todos, exceto um, fugiram quando Ele morreu.<br />
Há apenas duas conclusões possíveis: ou a Igreja Católica tem fundação divina e Cristo<br />
está presente em todas as pessoas que dirigem Sua igreja, ou não existe Igreja Católica e a coisa<br />
toda não tem nenhum sentido. Façam sua escolha.<br />
29 - DEFENDENDO A IGREJA (Sta.Catarina <strong>de</strong> Sena, Doutora da Igreja)<br />
Perguntei certa vez a minha mãe porque tinha me colocado o nome <strong>de</strong> Santa Catarina <strong>de</strong><br />
Sena, pois significava que eu tinha dois dias santos - Santa Catarina <strong>de</strong> Alexandria e Santa<br />
Catarina <strong>de</strong> Sena. "Bem", disse ela, "Santa Catarina <strong>de</strong> Alexandria você comemora naturalmente<br />
porque é uma festa russa". Mas ela leu a vida <strong>de</strong> Catarina <strong>de</strong> Sena quando estava grávida <strong>de</strong> mim<br />
e disse, "Eu gostaria que minha filha fosse mais como Catarina <strong>de</strong> Sena". Eu lhe disse, "Mãe,<br />
você não po<strong>de</strong>ria ter feito nada pior! Ela é uma <strong>de</strong>ssas mulheres que carregam você até os papas<br />
e todo o mundo. E mesmo que você não queira, ela o leva <strong>de</strong> qualquer modo".<br />
Santa Catarina <strong>de</strong> Sena foi nomeada Doutora da Igreja quando eu estava em Roma -<br />
po<strong>de</strong>m imaginar isso! Ela mal conseguia soletrar o italiano simples, muito menos o latim. Como<br />
queria recitar o breviário, ela disse a Deus que gostaria <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r o latim. E vocês sabem o que<br />
aconteceu? Ela apren<strong>de</strong>u o latim em meia hora. Ela abriu o breviário e o recitou!<br />
Quando enfrentei o movimento morte-<strong>de</strong>-Deus * , nos anos sessenta, senti-me ao mesmo<br />
tempo fraca e forte. A força não era minha. Eu rezava a Santa Catarina <strong>de</strong> Sena freqüentemente<br />
durante aqueles anos porque ela lutou pela Igreja. Eu tenho uma estatueta e uma relíquia <strong>de</strong><br />
Santa Catarina. Eu carregava a relíquia sobre meu corpo enquanto o assunto morte-<strong>de</strong>-Deus era<br />
<strong>de</strong>batido na minha frente. Eu sabia que era uma guardiã da Igreja. Para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a Igreja você<br />
tem <strong>de</strong> ser crucificado, sempre crucificado.<br />
30 - AMANDO NOSSA FAMÍLIA<br />
É mais difícil servir nossos irmãos ou nossos vizinhos do que servir aos pobres. É mais<br />
fácil abraçar um estranho do que amar a própria família, com a qual somos tão profundamente<br />
envolvidos por milhares <strong>de</strong> laços e para a qual nos tornamos prestadores <strong>de</strong> serviços para tantas<br />
coisas. Gostaria que vocês meditassem sobre isso.<br />
Uma família é uma comunida<strong>de</strong>. Uma paróquia é uma comunida<strong>de</strong>. O mundo também é<br />
uma comunida<strong>de</strong>. E a vida em comunida<strong>de</strong> apara nossas cortantes arestas; é o caminho <strong>de</strong> Deus<br />
para a santida<strong>de</strong>.<br />
É tarefa nossa formar uma comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> amor, uma família. Fazemos isso pregando<br />
silenciosamente o Evangelho com nossas vidas, sem restrições. Nós fazemos isso através da<br />
inocência do Menino <strong>de</strong> Belém; através da vida oculta <strong>de</strong> Nazaré, nas pequenas coisas bem feitas<br />
por amor <strong>de</strong> Deus - e através da kenosis, ou auto-esvaziamento, que nos leva ao Gólgota.<br />
Fazemos tudo isso para que Cristo possa viver em nós - e nos nossos próximos.<br />
Nós trazemos o amor <strong>de</strong> Cristo para nossos próximos, um <strong>de</strong> cada vez, como indivíduos,<br />
nunca massificando. Seria tolice tentar restaurar o mundo para Cristo, em massa. Temos <strong>de</strong><br />
59
tentar restaurá-lo pessoa por pessoa, começando por nós mesmos! O Evangelho <strong>de</strong> Amor, a<br />
testemunha da fé que liberta a humanida<strong>de</strong> é anunciada e levada a um ser humano por outro ser<br />
humano. Não é algo que possa ser dada <strong>de</strong> qualquer outra forma. É um relacionamento pessoa a<br />
pessoa.<br />
© online edition Madonna House Publications March 2010<br />
60
MAIO<br />
1 - IR A SÃO JOSÉ (São José, Operário)<br />
Ir a São José, aquele homem jovem, forte, e silencioso. Seu silêncio, uma vez que o<br />
penetremos, cura tudo o que toca. Seu silêncio é uma escola <strong>de</strong> coragem, fé e amor. Ele<br />
estabelece uma bela ponte entre a humanida<strong>de</strong> e Deus, uma ponte que precisamos encontrar, com<br />
tremenda premência nos dias <strong>de</strong> hoje, quando tantas vidas estão tão vazias <strong>de</strong> Deus que<br />
homens e mulheres até mesmo esqueceram o caminho <strong>de</strong> volta a Ele.<br />
Procure José, o homem pobre cujo Filho adotivo nasceu em um estábulo e cuja família<br />
vivia da maneira muito frugal numa pequena e esquecida vila da Palestina, mas que segurou em<br />
seus braços a Luz do mundo e a riqueza das nações e quem po<strong>de</strong> nos ensinar tudo sobre<br />
como esvaziar nossas mãos dos falsos valores e enchê-las com amor, fé e felicida<strong>de</strong>.<br />
Ir a José, aquele que conserta brinquedos, móveis e casas, como conserta ainda corações,<br />
almas, corpos, mentes e famílias arruinadas. Sim, vamos até José, a quem Jesus e Maria tanto<br />
amaram.<br />
2 - O MÊS DE MARIA<br />
Este é o mês <strong>de</strong> Maria, Mãe <strong>de</strong> Deus e dos homens e mulheres. Por que não conservar<br />
este mês longe das preocupações e dos temores - das diversões frívolas e das recreações sem<br />
sentido?<br />
Por que não começar uma jornada para <strong>de</strong>ntro em direção ao Imaculado Coração <strong>de</strong><br />
Maria, para apren<strong>de</strong>r com ela o segredo do Rei, seu Filho - o segredo que mudaria nossas vidas e<br />
com elas todo o mundo - o segredo da carida<strong>de</strong> sem fim, da paz <strong>de</strong> Deus e da alegria <strong>de</strong> Maria - o<br />
segredo e a arte <strong>de</strong> ser diante <strong>de</strong> Deus e trabalhar por Deus?<br />
Isto não é fácil para os mo<strong>de</strong>rnos e inquietos homens e mulheres que têm andado longe<br />
das verda<strong>de</strong>s e dos caminhos <strong>de</strong> Deus. Felizmente, po<strong>de</strong>mos começar voltando-nos para uma<br />
criatura igual a nós, uma mulher que nos guiará ao longo da estrada real para Deus, seu Filho.<br />
Sim, po<strong>de</strong>mos começar <strong>de</strong> maneira bastante fácil, voltando-nos para Maria, a Mãe <strong>de</strong> Deus que<br />
fez <strong>de</strong>ste século o seu século. Medianeira <strong>de</strong> Todas as <strong>Graça</strong>s! Rainha <strong>de</strong> todos os corações!<br />
Um ser humano que vestiu Deus com nossa carne! Ela sabe todas as respostas. E ela está pronta,<br />
não apenas pronta, mas ansiosa - para dá-las a todos os que a procuram.<br />
A mulher que passou seu tempo na terra envolvida em silêncio está nos falando hoje<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s, Fátima e tantos outros lugares. Se apenas tivéssemos tempo para escutar e<br />
meditar suas palavras, po<strong>de</strong>ríamos fazer do nosso tempo um tempo <strong>de</strong> paz e nossas vidas seriam<br />
vidas <strong>de</strong> alegria.<br />
3 - MEDITAÇÃO SOBRE O USO DO COMPUTADOR<br />
(Festa <strong>de</strong> Ss. Felipe e Tiago, Apóstolos)<br />
Digitador, operador <strong>de</strong> computador ou programador <strong>de</strong> dados, seja o que você for,<br />
escrevendo através <strong>de</strong> muitas espécies <strong>de</strong> máquinas, tenha respeito diante <strong>de</strong>ssa máquina.<br />
Abençoe-a se possível com água benta e nunca permita que ela o domine. Você é maior do que a<br />
61
máquina! Você é seu mestre. Ela jamais po<strong>de</strong>rá amedrontá-lo, parar você, fazê-lo ficar furioso,<br />
nem po<strong>de</strong>rá frustrá-lo, porque por si só ela é neutra. Ela só tem significado para fazê-lo lembrar<br />
<strong>de</strong> Deus. Não <strong>de</strong>scarregue na máquina aquilo que você está carregando no seu coração. Porque,<br />
caso contrário, você estaria invertendo a or<strong>de</strong>m das coisas estabelecidas por Deus.<br />
Quem quer que seja você, agra<strong>de</strong>ça ao Senhor pela habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>dos e use as<br />
teclas diante <strong>de</strong> você com amor, para transformar seus símbolos em palavras. Lembre-se <strong>de</strong> que<br />
todas as palavras, a menos que sejam pecaminosas, vêm do Verbo, que é Deus.<br />
Quem quer que seja você, perceba que seus <strong>de</strong>dos estão orando enquanto você trabalha.<br />
Você faz parte do Corpo Místico <strong>de</strong> Cristo, por isso você está rezando enquanto digita essas<br />
palavras. Trabalhe bem!<br />
Quem quer que seja você, lembre-se <strong>de</strong> que você faz parte da gran<strong>de</strong> tranqüilida<strong>de</strong> da<br />
or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Deus, portanto suas margens <strong>de</strong>vem ser perfeitas, seus cartuchos trocados e seu toque<br />
consistente.<br />
Quem quer que seja você, não <strong>de</strong>ixe nunca <strong>de</strong> aperfeiçoar sua digitação, pois ela é uma<br />
escada para sua união com Deus. O amor nunca se satisfaz - ele quer sempre amar mais. Se você<br />
escuta bem, você po<strong>de</strong>rá ouvir Sua voz na canção rítmica das teclas!<br />
4 - UMA GUERRA DE PALAVRAS<br />
As palavras custam pouco. Elas fluem em nossas mentes vindas <strong>de</strong> todas as direções: do<br />
rádio, da televisão, do computador. Elas nos atingem <strong>de</strong> muros muito altos e das páginas das<br />
revistas. O mundo e seus habitantes estão cansados das palavras vazias. Mas as pessoas estão<br />
procurando, <strong>de</strong>sesperadamente, avidamente, por palavras que carreguem a força <strong>de</strong> terem sido<br />
vividas por aqueles que as proferem.<br />
Nós estamos alinhados entre duas frentes <strong>de</strong> batalha. De um lado estão as palavras do<br />
Príncipe das Trevas, as quais, tem-se que admitir, são vividas pelos seus seguidores. Do outro<br />
lado estão as palavras do Verbo Encarnado, as quais <strong>de</strong>vem chegar vivas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós, nas<br />
nossas vidas diárias, em nossa carne e em nossos ossos, em nosso espírito e em nossas ações.<br />
Será que ficamos tão perdidos que a única coisa que sabemos fazer é <strong>de</strong>nunciar,<br />
<strong>de</strong>nunciar, <strong>de</strong>nunciar, sempre e sempre, com uma veemência estri<strong>de</strong>nte e estéril? Vamos parar <strong>de</strong><br />
ser contra quer que seja. Vamos ser pró-Cristo e pró-amor! Vamos parar <strong>de</strong> falar contra esta ou<br />
aquela pessoa, esta ou aquela nação. Vamos começar a viver o Cristianismo!<br />
Assim Cristo virá e fará morada entre homens e mulheres novamente, através <strong>de</strong> nós, nos<br />
simples eventos diários da vida comum. Então, homens e mulheres O conhecerão <strong>de</strong> novo <strong>de</strong>ntro<br />
e através <strong>de</strong> nós, que é o caminho que Ele planejou. O reino <strong>de</strong> Deus começará neste mundo<br />
também como foi planejado. As trevas serão banidas diante da Sua Luz brilhando através <strong>de</strong><br />
nossas almas.<br />
5 - CULTIVANDO FLORES<br />
Quem cultiva flores passa seu tempo criando beleza, que o Senhor po<strong>de</strong> usar para curar<br />
pessoas e trazê-las para bem perto <strong>de</strong> Si. Cada flor é um poema <strong>de</strong> amor <strong>de</strong> Deus para nós! Cada<br />
uma reflete uma pequena parte da beleza <strong>de</strong> Deus. Olhe cada uma <strong>de</strong>las e você se per<strong>de</strong>rá<br />
contemplando a infinita perfeição daquela flor - suas cores, sua forma, o feitio <strong>de</strong> suas pétalas.<br />
As flores dão esperança ao retornar em cada primavera, como o fazem. As flores dão<br />
coragem. As flores curam. As flores são arautos da alegria.<br />
62
As flores falam a linguagem silenciosa dos amantes, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os colares havaianos até as<br />
cerimônias <strong>de</strong> coroação <strong>de</strong> Nossa Senhora em maio, feitas por crianças. No passado, as<br />
procissões do Santíssimo Sacramento eram sempre acompanhadas por garotas que espalhavam<br />
pétalas frescas diante da Eucaristia, do mesmo modo como galhos <strong>de</strong> palmas eram espalhados<br />
<strong>de</strong>baixo dos pés do burrinho quando crianças gritavam "Hosana" ao Rei, quando Jesus, montado<br />
nele, entrou em Jerusalém.<br />
Muitos eremitas e santos passaram parte <strong>de</strong> sua vida <strong>de</strong> amor com Deus plantando e<br />
cuidando <strong>de</strong> flores - fazendo seu <strong>de</strong>serto florescer. Uma ermida sem flores não é morada <strong>de</strong><br />
Deus. Por on<strong>de</strong> quer que os beneditinos e os franciscanos passavam, eles <strong>de</strong>ixavam ermidas <strong>de</strong><br />
flores atrás <strong>de</strong> si. Uma casa sem flores é uma casa morta. <strong>Em</strong> palavras simples: sempre que<br />
exista um coração que ama em um lar, aí existe alguém, seja homem ou mulher, que se <strong>de</strong>dica a<br />
um jardim <strong>de</strong> flores.<br />
6 - MARIA E O TERÇO<br />
Estive pensando um dia <strong>de</strong>stes sobre o rosário. O que é o rosário? A história da<br />
Encarnação. Ela começou no útero <strong>de</strong> uma mulher que simplesmente disse sim a Deus. O<br />
rosário segue os eventos principais da vida do Homem-Criança a Quem ela <strong>de</strong>u à luz e Quem,<br />
para nós cristãos, é Deus, a Segunda Pessoa da Santíssima Trinda<strong>de</strong>.<br />
Passo a passo, numa extraordinária simplicida<strong>de</strong>, qualquer um po<strong>de</strong> seguir a vida <strong>de</strong> Cristo<br />
nos mistérios das <strong>de</strong>zenas. Enquanto o drama <strong>de</strong> Sua vida se <strong>de</strong>sdobra, o ritmo aumenta.<br />
Finalmente, a humanida<strong>de</strong> está matando Deus e Deus está voluntariamente morrendo por amor da<br />
humanida<strong>de</strong>. A tragédia penetra o coração e a mente com uma quase intolerável gratidão. Então,<br />
vagarosamente, a dor é aliviada pela Ressurreição e a certeza <strong>de</strong> que o Senhor está no meio <strong>de</strong><br />
nós.<br />
O Terço não po<strong>de</strong> ser apressado ou murmurado sem cuidado, em rápida recitação. Não.<br />
Uma <strong>de</strong>zena por dia, rezada reverentemente, seria melhor, ou mesmo uma por semana. Entrar<br />
profundamente nos mistérios das contas é penetrar no mistério inteiro da vida e morte <strong>de</strong> Nosso<br />
Senhor Jesus Cristo. E quem melhor para nos guiar do que Maria? Ela estava lá <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o começo,<br />
durante Sua vida pública, Sua morte, ressurreição e <strong>de</strong>pois, no Cenáculo, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>sceu o Espírito.<br />
Ela "<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou tudo isso", por uma forma <strong>de</strong> dizer, com o seu sim. Assim, pedimos a ela que<br />
nos conduza através dos mistérios <strong>de</strong> seu Filho com <strong>de</strong>voção e fé.<br />
7 - SELECIONAR BOA MÚSICA<br />
Hoje quero falar sobre música e seu imenso po<strong>de</strong>r em afetar nossas emoções, mentes e<br />
almas. A música po<strong>de</strong> elevar nossos espíritos. Por outro lado, a música tem sido vulgarmente<br />
prostituída para apelar para as mais baixas emoções. Como todas as artes, a música po<strong>de</strong>, em<br />
última análise, conduzir-nos para o céu ou para o inferno. A música afeta as pessoas <strong>de</strong> modo<br />
diferente, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> sua formação educacional, cultural e social. A memória também exerce<br />
uma parte no efeito que a música tem sobre as pessoas, fazendo-as lembrar <strong>de</strong> fatos tristes ou<br />
alegres. A gente po<strong>de</strong> quase sempre adivinhar a ida<strong>de</strong> dos outros pela música que escolhem.<br />
Os homens e as mulheres que se <strong>de</strong>dicam a Deus <strong>de</strong>vem ser muito cuidadosos com as<br />
músicas que selecionam. Eles são responsáveis por um dos mais belos dons neste mundo que é a<br />
música, que é capaz <strong>de</strong> moldar as emoções, as mentes e os espíritos das pessoas. A música<br />
também po<strong>de</strong> ajudá-los a restaurar o mundo em volta <strong>de</strong> si.<br />
63
Ao selecionar músicas, façam a si próprios estas perguntas: esta música faz vir a você<br />
pensamentos e emoções que o afastam <strong>de</strong> Deus? Ela leva você a fugir <strong>de</strong> seus problemas? Leva<br />
você a se esquecer da Cruz em sua vida diária? Ela conduz você a uma vida <strong>de</strong> sonhos que não é<br />
para você? Se a resposta a qualquer <strong>de</strong>ssas perguntas for sim, foi escolhida a música errada para<br />
você. Mas se ela fizer crescer em você um maior entendimento da beleza <strong>de</strong> Deus e da Sua<br />
criação e o trouxer para mais perto <strong>de</strong> Deus <strong>de</strong> alguma forma, então é boa música.<br />
8 - MAMÃE ERA UMA REVOLUCIONÁRIA<br />
Minha mãe tinha idéias revolucionárias, no sentido cristão. Ela acreditava que todos os<br />
cristãos <strong>de</strong>vem amar-se uns aos outros! Ela traduzia esse amor em ação direta, especialmente ao<br />
envolver-se com gente pobre. Ela era uma talentosa concertista <strong>de</strong> piano e durante seus anos <strong>de</strong><br />
graduação no conservatório <strong>de</strong> S. Petersburgo, ela "ia até o povo * " todos os verões. Significa que<br />
ela se empregava por poucos rublos, como criada, justamente para aquele tipo <strong>de</strong> gente que era<br />
José e Maria - trabalhadores rurais.<br />
Seus dias eram árduos. Ela se levantava cedo, ajudava na limpeza, preparava o café da<br />
manhã, lavava tudo com as próprias mãos, continuava com as tarefas do dia, preparava o almoço<br />
e o jantar, limpava - tudo o que essa família <strong>de</strong> camponeses precisava. Ao chegar o outono ela já<br />
havia conseguido ensinar a toda a família a ler e escrever.<br />
Eu sempre atribuí minha vocação, pelo menos em parte, a meus pais, especialmente minha<br />
mãe. Ela ia até os pobres porque, como outros russos, ela se sentia como um membro do Corpo<br />
Místico <strong>de</strong> Cristo. <strong>Todo</strong>s os russos sentiam intensamente essa unida<strong>de</strong> com todos os cristãos.<br />
Eu pensava que todos os pais eram como os meus, mas agora já sei melhor como são as<br />
coisas. Nunca, nem por um instante, eles <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> incutir atitu<strong>de</strong>s evangélicas em mim. Na<br />
minha organização da Casa da Amiza<strong>de</strong> e em Madonna House, eu usei as idéias e os padrões que<br />
aprendi com eles.<br />
9 - AJUDANDO A SERVIR AOS POBRES<br />
Minha mãe freqüentemente servia aos pobres como enfermeira ou como parteira. Quando<br />
fiquei mais crescida, ela envolveu-me em seus trabalhos <strong>de</strong> carida<strong>de</strong>. Eu tinha <strong>de</strong> levar remédios<br />
e suprimentos e andava <strong>de</strong>zesseis até trinta e dois quilômetros. Quando chegávamos ao lugar <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>stino, eu tinha <strong>de</strong> esfregar o chão, arrumar as camas e prestar auxílio em tudo. Depois eu<br />
preparava comida para a família, pois freqüentemente a dona da casa estava com dores do parto.<br />
Mamãe ajudava nisso e eu ajudava em tudo o mais. Era alguma coisa impressionante, po<strong>de</strong>m<br />
crer. Aprendi muito com isso.<br />
Naquela época, as senhoras e os cavalheiros não faziam nada <strong>de</strong>ssas coisas: pelo menos<br />
nenhum <strong>de</strong> nossos vizinhos fazia. <strong>Todo</strong>s eles pensavam que mamãe era meio doida. A<br />
lembrança <strong>de</strong>ssas viagens está profundamente gravada em minha mente. Aprendi a i<strong>de</strong>ntificar os<br />
pobres com Cristo e cresci com essa verda<strong>de</strong> em meu coração.<br />
Também, na Rússia <strong>de</strong> minha meninice, quase não existiam os serviços sociais. A gente<br />
entendia que as palavras <strong>de</strong> Cristo O que fizer<strong>de</strong>s para cada um <strong>de</strong>sses.. aplicava-se aos órfãos e<br />
aos idosos. Assim as famílias acolhiam as crianças e também os velhos, que eram respeitados e<br />
servidos, pois a ida<strong>de</strong> era consi<strong>de</strong>rada um símbolo <strong>de</strong> sabedoria.<br />
64
Essa foi minha formação espiritual com relação aos pobres. Eventualmente iria refletir<br />
essa espiritualida<strong>de</strong> russa nos trabalhos nas favelas <strong>de</strong> Toronto, <strong>de</strong>pois no Harlem e, agora, aqui<br />
em Combermere.<br />
10 - MARIA, UMA JOVEM DE NAZARÉ<br />
Precisamos <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo. Somos crianças que só apren<strong>de</strong>m imitando. Se não achamos<br />
ainda tal mo<strong>de</strong>lo, é porque não o procuramos... é porque ainda não dirigimos nosso olhar à jovem<br />
<strong>de</strong> Nazaré, à mulher que ouviu <strong>de</strong> um anjo mensagens...incríveis.<br />
Uma simples criatura humana, como você e eu, uma jovem, talvez, <strong>de</strong> apenas quinze anos,<br />
pronuncia uma única palavrinha que repercute pelo mundo daquele tempo e vai ecoar por toda a<br />
terra até o fim do universo. Fiat! Faça-se em mim conforme a Tua palavra.<br />
Ela é igual a você e a mim. Não é igual a Deus! É uma simples criatura. Ela é o mo<strong>de</strong>lo<br />
que andamos buscando. Vamos conservá-lo e segui-lo, a fim <strong>de</strong> po<strong>de</strong>rmos realizar em nós a<br />
mesma totalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> união com a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus.<br />
E assim nasce uma criança! Durante muitos anos, Maria <strong>de</strong>ve ter perguntado a si mesma<br />
Quem seria Aquele Menino, aquele seu Filho! Maria não somente conversava com Deus, mas O<br />
segurava em seus braços e sua vonta<strong>de</strong> era uma só com a Dele.<br />
Esta é a tarefa dos batizados em Cristo: subir para a união sempre mais perfeita com a<br />
Trinda<strong>de</strong>, seguindo Cristo que é o caminho e Maria, Sua mãe, que é o mo<strong>de</strong>lo.<br />
11 - MARIA E O DEMÔNIO<br />
Recebi recentemente uma carta <strong>de</strong> uma mulher que se <strong>de</strong>dicou profundamente às coisas<br />
do ocultismo. Ela pedia minha ajuda; mas o que posso fazer? Posso apenas orar por ela. Mas<br />
também lhe enviei uma estampa <strong>de</strong> Nossa Senhora.<br />
No Gênesis existe a predição <strong>de</strong> que uma mulher irá surgir, a qual esmagará a cabeça da<br />
serpente. Maria fará isso. Seu calcanhar está pronto para fazer isso, contanto que rezemos.<br />
Ela esmagará a serpente que está se arrastando em volta <strong>de</strong> nossos corações. Nós<br />
escutamos a voz daquela serpente murmurando junto a nós: "Não sejas tolo. Toda essa coisa <strong>de</strong><br />
religião não serve para nada. Deus não existe." Ela sussurra tantas coisas, meias verda<strong>de</strong>s,<br />
pedaços <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> e mentiras completas. Se orarmos a Maria, ela se tornará po<strong>de</strong>rosa e imensa.<br />
E o <strong>de</strong>mônio tem extraordinário medo <strong>de</strong>la, pois ele sabe quando encontra aquela que lhe irá<br />
esmagar a cabeça.<br />
Ir a Maria é estar perto <strong>de</strong> Jesus! Ele escolheu vir à terra e a nós por intermédio <strong>de</strong>la. O<br />
Espírito Santo a cobriu com Sua sombra. Será muito fácil para nós irmos até ela quando estamos<br />
cheios <strong>de</strong> lágrimas, cheios <strong>de</strong> solidão, cheios <strong>de</strong> serpentes se arrastando, porque ela tem as<br />
respostas.<br />
12 - SEGURANDO A MÃO DE DEUS<br />
Quando penso na oração, a frase que me vem à cabeça é esta: Segure a mão <strong>de</strong> Deus e<br />
fale com Ele sempre que quiser. Às vezes você fala com Ele, às vezes não, mas você está com<br />
Ele o tempo todo. Este <strong>de</strong>ve ser nosso modo básico <strong>de</strong> rezar.<br />
65
As pessoas pensam que precisam reservar muito tempo para rezar: "Eu preciso no<br />
mínimo <strong>de</strong> duas ou três horas por dia", elas me dizem. Eu não penso assim. Não precisamos<br />
passar todo o nosso tempo em "oração"; nós precisamos é servir uns aos outros! Quando uma<br />
mãe está ocupada com seus filhos, um empregado com seu trabalho, um missionário com os<br />
pobres, eles po<strong>de</strong>m pensar que não têm tempo para rezar. Isto não é verda<strong>de</strong>. Você dá seu tempo<br />
para qualquer um ou qualquer coisa, mas no seu coração você reza continuamente. Você sabe<br />
que o Senhor está muito próximo, que Ele segura sua mão, <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, enquanto você continua<br />
com seu trabalho. É esta a maneira como você <strong>de</strong>ve rezar.<br />
Obviamente há ocasiões especialmente reservadas para a oração. A missa, por exemplo, é<br />
a mais extraordinária oração, mas a oração a que estou me referindo agora é a comunicação<br />
permanente entre você e o Senhor. A oração é uma conversa com Ele. Você não precisa saber<br />
como falar com Deus. Apenas fale. Ele ama escutá-lo e se <strong>de</strong>leita especialmente com o seu<br />
silêncio, enquanto você O escuta.<br />
13 - MARIA EM MINHA VIDA (Nossa Senhora <strong>de</strong> Fátima)<br />
Maria entrou por si mesma em minha vida. Porque eu a conhecia, porque minha vida foi<br />
vivida <strong>de</strong>s<strong>de</strong> quando eu era bebê <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> sua sombra radiante, porque meus pés a seguiram<br />
através <strong>de</strong> todos os mistérios alegres do Rosário, era natural que me voltasse para ela quando os<br />
mistérios <strong>de</strong> tristeza <strong>de</strong> nossa fé entraram em minha vida.<br />
Getsêmani tornou-se realida<strong>de</strong> para mim. Eu vi meus amados sendo levados um a um para<br />
a carnificina, presos, injustamente encarcerados, executados sumariamente, enquanto vivia sob o<br />
exaustivo sofrimento mental <strong>de</strong> esperar pela minha vez. Finalmente, conheci a prisão e<br />
claramente vi a face da morte. Fui con<strong>de</strong>nada a morrer <strong>de</strong> fome, o que reduziu meu corpo à<br />
fraqueza e escureceu minha mente com o terror...e Deus escon<strong>de</strong>u-Se como se não estivesse lá.<br />
Então Nossa Senhora veio e, tomando-me pela mão, andou uma vez mais pelo caminho da Cruz,<br />
<strong>de</strong>sta vez comigo e com milhares <strong>de</strong> meus compatriotas, como tinha feito com seu próprio Filho.<br />
Meio em <strong>de</strong>lírio <strong>de</strong> fome, fraqueza e dor, ainda me lembro a repetir como um refrão uma palavra:<br />
Maria! Maria! Maria! Nisto estava a única força que me impediu <strong>de</strong> ir além da fina borda do<br />
<strong>de</strong>sespero. Nisto estava a bênção e o óleo para minhas feridas. A Mãe da Alegria trouxe alegria<br />
para meu <strong>de</strong>serto <strong>de</strong> dor e morte. Através do seu fragrante amor, ela me mostrou o caminho para<br />
o amor encarnado, seu Filho Jesus, e tornou o meu calvário aceitável, até mesmo infinitamente<br />
<strong>de</strong>sejável por causa Dele.<br />
14 - A SANTIDADE DO TRABALHO RURAL (S. Matias, Apóstolo)<br />
O trabalho no campo po<strong>de</strong> ser hoje um negócio, até mesmo um gran<strong>de</strong> negócio, mas as<br />
pessoas que esquecem que trabalho rural é uma forma <strong>de</strong> viver, po<strong>de</strong>rão chorar um dia, por causa<br />
<strong>de</strong>sse <strong>de</strong>scuido. Pois, não há melhor lugar para se viver o Evangelho do que em uma fazenda.<br />
<strong>Em</strong> nenhuma outra parte homens e mulheres se aproximam mais <strong>de</strong> Deus do que no campo, nas<br />
áreas rurais; em nenhuma outra parte estão eles mais próximos a Ele do que quando lavram a<br />
terra ou cuidam do rebanho. Jesus nasceu em área campestre e viveu no campo a maior parte <strong>de</strong><br />
Sua vida. Ele não era fazen<strong>de</strong>iro, mas seu Evangelho está cheio <strong>de</strong> exemplos tirados dos<br />
trabalhos no campo. Ele falava <strong>de</strong> vinhedos, colheitas, lavoura, grãos e sementes. Ele amava<br />
usar parábolas sobre ovelhas e todos os tipos <strong>de</strong> rebanho! O carinho para com os animais estava<br />
66
na Sua voz, em certo sentido; o carinho pela terra e por todas as coisas que nela nascem e<br />
crescem também estava ali. Será que temos esse carinho? Será que possuímos esse amor? Será<br />
que temos essa compreensão?<br />
Quando eu era uma menininha na Rússia, nós tínhamos pastores para os nossos cavalos,<br />
vacas e ovelhas. Eles conheciam a serenida<strong>de</strong> e a paz que vêm da vida silenciosa e <strong>de</strong> ser um só<br />
com a natureza e a natureza <strong>de</strong> Deus. <strong>Todo</strong>s eram profundamente religiosos e os al<strong>de</strong>ões<br />
consi<strong>de</strong>ravam sábios até os mais jovens <strong>de</strong>les. Eles eram respeitados e amavam o trabalho que<br />
faziam.<br />
Na Rússia, o trabalhador do campo é chamado <strong>de</strong> krestianim, o que simplesmente<br />
significa "cristão" e os russos têm a idéia correta - o trabalhador do campo <strong>de</strong>veria ser a figura <strong>de</strong><br />
um cristão.<br />
15 - LAVOURA APOSTÓLICA<br />
<strong>Em</strong> Madonna House temos uma lavoura chamada Os Hectares <strong>de</strong> São Bento. Ali fazemos<br />
aquilo que chamo <strong>de</strong> lavoura "apostólica". Nossos lavradores procuram tornar rica a lavoura,<br />
usando os meios mais simples possíveis e um mínimo <strong>de</strong> gastos para a alimentação <strong>de</strong> nossos<br />
irmãos e irmãs <strong>de</strong> modo que o dinheiro possa servir aos mais necessitados. Nós pedimos a Deus<br />
e a nossa Abençoada Mãe e a Santo Isidoro, o padroeiro dos lavradores, que sabiam fazer tanto<br />
com tão pouco.<br />
Como em tudo o mais, na lavoura apostólica, toda a ação tem um valor eterno. Um<br />
trabalhador do campo não tem "<strong>de</strong>veres" para fazer. Os "<strong>de</strong>veres" são fruto <strong>de</strong> insatisfação, <strong>de</strong><br />
opressão. Não, um agricultor tem um mundo inteiro para salvar alimentando os porcos! E não há<br />
nada <strong>de</strong> "sujo" no trabalho agrícola. Espalhar esterco tem o mesmo valor do que escrever uma<br />
tese ou trabalhar em qualquer outra ocupação que pareça ser mais limpa. Tudo aquilo com que o<br />
agricultor lida é limpo e tudo tem um propósito. O esterco vai nos proporcionar alimento para o<br />
próximo ano. A carne do porco será comida. A vaca produzirá bezerros e dará leite e carne.<br />
Tudo no campo serve para alimento da humanida<strong>de</strong>. Como po<strong>de</strong> isso ser consi<strong>de</strong>rado sujo<br />
quando alimenta nossos corpos que são o templo <strong>de</strong> Deus, on<strong>de</strong> Cristo vem fazer Sua morada?<br />
Há no mundo duas espécies <strong>de</strong> pessoas que realmente tocam Deus. O sacerdote toca Deus<br />
na Sua própria essência. E o homem do campo toca Deus na Sua criação como ela saiu <strong>de</strong> Suas<br />
mãos.<br />
16 - LAVOURA, TEMPO E SAÚDE<br />
A lavoura apostólica exige a pessoa por inteiro. É o melhor modo <strong>de</strong> morrer para si<br />
próprio, porque as exigências da natureza e dos animais estão lá mesmo para lembrar, como<br />
nenhum sino em algum mosteiro o faria, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cumprir o <strong>de</strong>ver do momento. Esse<br />
<strong>de</strong>ver conduz ao objetivo - alimentação dos irmãos e das irmãs - e está sempre diante do lavrador<br />
apostólico.<br />
Desta forma o trabalhador do campo não <strong>de</strong>sperdiça um grama <strong>de</strong> tempo, pois ele é<br />
precioso. É o tempo <strong>de</strong> Deus e <strong>de</strong> todos os homens e mulheres da terra e um lavrador não po<strong>de</strong><br />
per<strong>de</strong>r tempo. Se ele faltar um dia, não haverá forragem. Se ele arar a terra um pouco tar<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>mais, não haverá colheita. Se o lavrador semear com uma hora <strong>de</strong> atraso e cair uma<br />
tempesta<strong>de</strong>, todo o trabalho estará perdido. O lavrador apostólico conhece o valor do tempo e o<br />
67
espeita. Os lavradores sabem que o tempo é sua parte da eternida<strong>de</strong> que Deus lhes <strong>de</strong>u para<br />
crescer no amor e tornarem-se santos, que é o <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> todos os cristãos.<br />
A lavoura apostólica é um processo muito vagaroso e ela ensina ao trabalhador do campo<br />
muitas lições que não são ensinadas em livros apostólicos. Ela os <strong>de</strong>spe <strong>de</strong> muitas noções<br />
preconceituosas e os faz puros novamente. Os trabalhadores do campo que trabalham com a<br />
terra, da qual eles provieram e para a qual retornarão, ficam curados <strong>de</strong> seus males. Por um<br />
estranho meio, um lavrador, <strong>de</strong> algum modo, se reconcilia profundamente com Deus e caminha<br />
com Ele ao entar<strong>de</strong>cer, enquanto ambos contemplam a criação <strong>de</strong> suas mãos.<br />
17 - COMEÇOU NO PENTECOSTES<br />
O Espírito Santo <strong>de</strong>sceu, no dia <strong>de</strong> Pentecostes, para começar uma nova dimensão <strong>de</strong><br />
unida<strong>de</strong>, a qual- e somente ela- iria possibilitar ao homem seguir o caminho estreito, preconizado<br />
e inaugurado por Cristo. No dia <strong>de</strong> Pentecostes, o Espírito Santo estava consolidando os<br />
ensinamentos <strong>de</strong> Nosso Senhor Jesus Cristo.<br />
Mas é preciso lembrar que, para chegar ao Pentecostes, o Senhor Jesus teve <strong>de</strong> trilhar um<br />
longo e penoso caminho que foi da encarnação à morte e, por esta, à ressurreição.<br />
Como claramente diz o Evangelho, todo batismo é realizado na água e no espírito; assim<br />
sendo, eu também tive o meu Pentecostes e também eu sou her<strong>de</strong>ira dos dons do Espírito Santo.<br />
Aí está o divino Espírito Santo para purificar nossos corações em suas chamas, para que eles, na<br />
liberda<strong>de</strong>, na fé, na confiança e no amor, se possam voltar uns para os outros. <strong>Todo</strong>s temos que<br />
entrar no mistério do Espírito Santo que é o amor <strong>de</strong> Deus ar<strong>de</strong>ndo em nós e sobre nós, como<br />
chamas <strong>de</strong> fogo. Sem atravessar essas chamas, jamais nos tornaremos uma só mente, um só<br />
coração e até um só sentimento.<br />
18 - CONVERSA ÀS REFEIÇÕES<br />
A conversa à mesa reflete o estado <strong>de</strong> mente, coração e alma <strong>de</strong> cada um. Ela é uma parte<br />
importante do espírito <strong>de</strong> amor <strong>de</strong> nossa família que se <strong>de</strong>rrama também sobre nossos hóspe<strong>de</strong>s.<br />
O amor <strong>de</strong>ve estar atento sobre as conversas à mesa. Debates não têm lugar em nossa<br />
conversação e também não tem lugar um súbito silêncio <strong>de</strong> retraimento. O amor conduz a maior<br />
parte das conversas para Deus e assuntos espirituais. Geralmente os <strong>de</strong>bates são sobre alguma<br />
coisa digna <strong>de</strong> valor em vez <strong>de</strong> um tolo e <strong>de</strong>sperdiçado torrente <strong>de</strong> palavras que realmente não<br />
fazem sentido.<br />
Isso não significa que não possamos discutir assuntos do dia-a-dia ou rir <strong>de</strong> pequenos<br />
inci<strong>de</strong>ntes que sejam engraçados. Pois é claro que durante um dia alguma coisa engraçada<br />
acontece a todo o mundo. A capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> rir <strong>de</strong> si mesmo em vez <strong>de</strong> rir dos outros é um gran<strong>de</strong><br />
passo em direção à saú<strong>de</strong> emocional e da santificação.<br />
O riso nos foi dado por Deus para que possamos relaxar e cantar para Ele uma alegre<br />
canção. O <strong>de</strong>mônio o<strong>de</strong>ia o riso e ele <strong>de</strong>seja arrancá-lo para longe <strong>de</strong> Deus. Então ele tenta usálo<br />
como algo danoso, provocando alguma piada ofensiva. Por exemplo, ele nos impele a dizer<br />
alguma verda<strong>de</strong> <strong>de</strong>sagradável em forma <strong>de</strong> anedota.<br />
Lembremo-nos <strong>de</strong> que uma refeição <strong>de</strong>ve ser uma ágape - a partilha do pão em amor,<br />
sempre nos trazendo à memória a Eucaristia e a Última Ceia. Se nos lembrarmos disso, então<br />
agiremos convenientemente.<br />
68
19 - AMBIÇÕES VÃS E INVEJA<br />
Estamos nós completamente livres <strong>de</strong> quaisquer ambições vãs? Ficamos aborrecidos<br />
quando não alcançamos nosso próprio objetivo? Temos nós a ambição, mesmo que<br />
profundamente oculta em nossos corações, <strong>de</strong> fazer a nossa vonta<strong>de</strong> em vez da <strong>de</strong> Deus? Temos<br />
o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> sermos promovidos?<br />
Queremos estar por <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> assuntos confi<strong>de</strong>nciais que não nos dizem respeito, para<br />
parecer maiores do que os outros diante <strong>de</strong> pessoas com autorida<strong>de</strong>? Nós medimos nossas tarefas<br />
por padrões mundanos, em vez <strong>de</strong> padrões divinos? Consi<strong>de</strong>ramos que o ato <strong>de</strong> recolher o lixo,<br />
limpar quartos e banheiros, está abaixo <strong>de</strong> nossa dignida<strong>de</strong>, e pensamos que mereceríamos tarefas<br />
melhores? Nos gabamos <strong>de</strong> nossas próprias habilida<strong>de</strong>s? Procuramos pela notorieda<strong>de</strong> e ficamos<br />
emocionalmente em pedaços quando não a alcançamos?<br />
Se nós não abandonamos esse tipo <strong>de</strong> ambição estamos caminhando no orgulho. Será que<br />
preciso dizer-lhes o que acontece com as pessoas orgulhosas? Se vocês têm alguma dúvida,<br />
leiam o que diz o Evangelho sobre elas, mas leiam-no ajoelhados.<br />
Nós fazemos manobras para alcançar posição? Isto ainda faz parte da ambição e gera<br />
inveja. Nós queremos sempre estar certos, <strong>de</strong> modo que os outros nos invejem? Nós nos<br />
engajamos em discussões para mostrar que os outros estão errados ou são ignorantes? Esta é uma<br />
forma reversa da inveja. Aquele que ama está aberto para os pontos <strong>de</strong> vista dos outros. Nós nos<br />
apercebemos <strong>de</strong> cada pequeno progresso <strong>de</strong> outra pessoa e invejamos isso? Inveja é um pecado<br />
mortal.<br />
20 - DEIXAI AS CRIANCINHAS<br />
<strong>Todo</strong>s os anos, sempre que possível, meu pai, minha mãe e eu, e mais tar<strong>de</strong> meu irmão<br />
Serge, costumávamos ir a Jerusalém para as cerimônias da Semana Santa e da Páscoa.<br />
Um certo ano, quando eu era criança, meus pais levaram-me para a Colina da Ascensão,<br />
o local, nas proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Jerusalém, do qual Cristo subiu aos céus. Eu adorei olhar para a<br />
pedra que fica lá porque mostrava as impressões <strong>de</strong> uma pessoa em pé sobre os <strong>de</strong>dos <strong>de</strong> um dos<br />
pés e a planta do outro.<br />
Eu tinha um <strong>de</strong>sejo: colocar meus pés naquelas marcas dos pés <strong>de</strong> Cristo. Mas isso era<br />
muito difícil porque a área era toda cercada por cordas. Mas o que é uma corda para uma<br />
menininha? Um dia eu <strong>de</strong>slizei por baixo <strong>de</strong>las enquanto todos rezavam e coloquei meus<br />
pequenos pés <strong>de</strong>ntro daquela impressões, um <strong>de</strong> ponta e o outro plantado.<br />
As pessoas começaram a gritar, "Olhem o que ela está fazendo! Olhem o que ela está<br />
fazendo! Tirem essa criança daí! Blasfêmia, blasfêmia!" Um padre russo saiu do grupo e disse,<br />
"Deixai as criancinhas virem a mim. Vocês se esqueceram disso?" Ele ajudou-me a colocar os<br />
pés nas marcas dos pés <strong>de</strong> Jesus Cristo e <strong>de</strong>pois carregou-me para o lado <strong>de</strong> fora!<br />
21 - CORREÇÃO E CRÍTICA<br />
As pessoas confun<strong>de</strong>m correção com crítica. Correção significa pôr em or<strong>de</strong>m, fortalecer<br />
e melhorar, ajudar a eliminar falhas do caráter e da alma. A crítica é um exercício intelectual que<br />
ajuda as pessoas a alcançar resultados melhores e concretos - um livro melhor, um<br />
comportamento melhor, e assim por diante. Os críticos literários estimulam os escritores a dar o<br />
69
melhor <strong>de</strong> si mesmos, por exemplo. Sem críticas, as pessoas cairiam em um marasmo. A crítica,<br />
no sentido negativo, é freqüentemente feita com a intenção <strong>de</strong> ferir. Ela po<strong>de</strong> servir para<br />
importunar ou exibir os erros <strong>de</strong> outrem <strong>de</strong> forma pouco caridosa, o que <strong>de</strong>strói o arcabouço da<br />
carida<strong>de</strong>. A crítica construtiva, por outro lado, é um fruto e sinal <strong>de</strong> amor e amiza<strong>de</strong> profundos.<br />
Ela <strong>de</strong>ve ser muito bem vinda, como um meio <strong>de</strong> melhorar uma tarefa ou a comunicação com<br />
outros.<br />
Vamos dar uma olha<strong>de</strong>la na correção. Um tipo <strong>de</strong> correção é aquele que provém <strong>de</strong> uma<br />
pessoa com autorida<strong>de</strong> e o <strong>de</strong>ver especial para usar <strong>de</strong>la: pais e professores, superiores e patrões,<br />
diretores espirituais e sacerdotes <strong>de</strong> paróquia. Caso você chegue a uma posição <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>,<br />
será seu <strong>de</strong>ver corrigir outras pessoas. Há também a correção fraterna <strong>de</strong> igual para igual e ela<br />
também é um fruto da carida<strong>de</strong>. Ela <strong>de</strong>ve ser aplicada gentil e carinhosamente para mostrar à<br />
pessoa o erro que ela ou ele cometeram, em benefício <strong>de</strong> sua alma.<br />
Você que está crescendo em maturida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve estar preparado, ou mesmo contente, com a<br />
correção; faça apenas críticas construtivas. A menos que nós compreendamos esses dois<br />
conceitos, a carida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rá morrer entre nós.<br />
22 - NOS BRAÇOS DA ESPERANÇA<br />
Enchamo-nos <strong>de</strong> esperança, pois este é o tempo do Espírito! Nós temos passado por um<br />
período cheio <strong>de</strong> confusão. O Vaticano II, um dos primeiros sinais da vinda do Espírito nos<br />
nossos dias, sacudiu-nos, como costumam fazer as po<strong>de</strong>rosas ventanias! Esses ventos <strong>de</strong>ixaram<br />
atrás <strong>de</strong> si uma aparente <strong>de</strong>vastação. Árvores po<strong>de</strong>rosas caíram, as quais ninguém tinha<br />
percebido que estavam ocas! Quando caíram, elas arrancaram uma porção <strong>de</strong> ervas rasteiras que<br />
começavam a crescer sobre os caminhos do Senhor.<br />
Sim, enchamo-nos <strong>de</strong> esperança, não importa o fato <strong>de</strong> que o vento do Espírito confundiu<br />
a muitos e perturbou velhos e arraigados usos e costumes - costumes que realmente <strong>de</strong>veriam ter<br />
mudado muito tempo atrás. Mas agora po<strong>de</strong>mos começar a perceber o que aconteceu e verificar<br />
que foi tudo tão simples e bonito, e que somente Deus po<strong>de</strong>ria ter causado essas coisas.<br />
O que aconteceu foi que o Espírito Santo, o Advogado dos Pobres, que tem sempre estado<br />
no meio <strong>de</strong> nós, fez-se presente novamente! Como no primeiro Pentecostes, Ele sacudiu todos<br />
com seus ventos <strong>de</strong> mudança. Ele fez acordar <strong>de</strong> novo em nós as verda<strong>de</strong>s que nós achávamos<br />
que eram evi<strong>de</strong>ntes por si sós, mas que obviamente não as tínhamos encarnado em nossas vidas<br />
diárias. Agora, porém, estamos começando a ver que, apesar <strong>de</strong> sacudidos nós fomos em verda<strong>de</strong><br />
lançados aos braços da esperança - uma esperança maravilhosa, cheia <strong>de</strong> alegria, remédio para as<br />
almas. Enchamo-nos, pois, <strong>de</strong> esperança! Este é o tempo <strong>de</strong> rejubilar, o tempo <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer a<br />
Deus pelo dom do Espírito, eternamente renovado. Aleluia!<br />
23 - A PALAVRINHA "MAS"<br />
"Mas" é uma estranha palavrinha. Ela é pequena, porém po<strong>de</strong>rosa e po<strong>de</strong> ser usada para<br />
arruinar o espírito <strong>de</strong> carida<strong>de</strong> em família. Isto é especialmente verda<strong>de</strong>iro quando é usada não<br />
sempre <strong>de</strong>liberadamente, mas semi-<strong>de</strong>liberadamente, para corroer o moral. Ela também corrói a<br />
autorida<strong>de</strong>.<br />
Tomemos um exemplo. Alguém começa a conversa, "Foi um encontro muito bom, etc.,<br />
etc., foi verda<strong>de</strong>iramente ótimo, mas...". E com algumas frases a pessoa semeia na mente dos<br />
70
outras dúvidas, hostilida<strong>de</strong>s, tensões, ansieda<strong>de</strong>, e uma multidão <strong>de</strong> questões que não precisavam<br />
ter sido levantadas.<br />
Está aí como uma pequena palavra <strong>de</strong> três letras po<strong>de</strong> esmagar o espírito <strong>de</strong> carida<strong>de</strong> da<br />
família em dois minutos. Ela po<strong>de</strong> fazer mais do que isso. Alguém recebe uma tarefa para<br />
executar. Ouçam a resposta: "Mas olhe, eu tenho <strong>de</strong> fazer isso...", ou "Mas eu ainda não terminei<br />
isto...", ou "Mas, um momento, você não acha que seria melhor fazer <strong>de</strong>sta maneira?", "Mas...,<br />
mas..., mas...". Existem tantos “mas” na nossa conversação que quase dá para fazer a gente<br />
chorar!<br />
A palavrinha mas é a própria alma da argumentação e da racionalização. Usada <strong>de</strong>sta<br />
forma, é melhor que fique fora <strong>de</strong> nossa conversa.<br />
Você po<strong>de</strong> usá-la quando alguém elogiar você; então você po<strong>de</strong> dizer, "Mas você não me<br />
conhece... Eu não sou tão bom assim". Aí ela estará no lugar apropriado!<br />
24 - PARAR DE TOMAR E COMEÇAR A DAR<br />
Chegou a hora <strong>de</strong> pararmos <strong>de</strong> tomar e começarmos a dar. Se nós realmente examinarmos<br />
nossas almas, nós nos veremos como se fôssemos pequenos bebês, com as bocas ávidas para<br />
mamar, com nossas tolas cabecinhas ansiosas pelo leite da atenção, do carinho e da compreensão.<br />
Da mesma forma que os bebês, nós queremos nos agarrar, ficar seguros, sermos acariciados e<br />
ouvir canções <strong>de</strong> ninar só para nós. Nós nos recusamos a dar, dar, dar. Nós queremos tomar,<br />
tomar, tomar! Ficamos mergulhados em pequenos problemas <strong>de</strong> egocentrismo e egoísmo.<br />
Pensamos que os outros não querem saber <strong>de</strong> nós; eles não nos compreen<strong>de</strong>m; eles <strong>de</strong>veriam<br />
dar-nos mais atenção, cuidar mais <strong>de</strong> nós. Somos ainda gran<strong>de</strong>mente afetados pela aprovação e<br />
<strong>de</strong>saprovação dos outros e das situações, ainda naquele estado infantil, emocional das crianças.<br />
Como diz São Paulo, somos ainda crianças e, contudo temos <strong>de</strong> crescer. Será que o<br />
Senhor Se apropriou <strong>de</strong> coisas e pessoas <strong>de</strong> maneira egoísta? Eu acredito que nem mesmo Seus<br />
inimigos po<strong>de</strong>riam dizer isso <strong>de</strong>le. Po<strong>de</strong> você dizer isso <strong>de</strong> si mesmo? Nós <strong>de</strong>vemos parar <strong>de</strong><br />
tomar e começar a dar, como homens e mulheres amadurecidos. Você faz parte do exército <strong>de</strong><br />
apóstolos leigos que Cristo está arrebanhando para restaurar o mundo para Ele. Ele o chama para<br />
trazer clarida<strong>de</strong> para os confundidos, compreensão para os <strong>de</strong>snorteados, alimentar corações<br />
famintos e dar <strong>de</strong> beber a almas se<strong>de</strong>ntas. Mas você continua a tomar. Você age como criança,<br />
recusando a aceitar responsabilida<strong>de</strong>s, temeroso da mais ínfima dor. Quando você vai crescer e<br />
oferecer a Ele a água fresca do seu amor - a total doação <strong>de</strong> você mesmo ao serviço e ao amor dos<br />
outros?<br />
25 - A MEDIDA DO AMOR<br />
Freqüentemente falam comigo sobre a dificulda<strong>de</strong> que as pessoas têm em amar. Elas<br />
dizem, "Por que o amor não cresce em meio a nós?" Eu respondo, "O Amor - o próprio Cristo -<br />
está diante das portas <strong>de</strong> nossos corações vinte e quatro horas por dia. Ele tem um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo<br />
<strong>de</strong> entrar. Mas nossos corações têm portas que se abrem unicamente pelo lado <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro".<br />
Oh, Cristo bate à porta com Suas graças, mas nós voltamos a Ele um ouvido surdo às Suas<br />
batidas, porque temos medo <strong>de</strong> que, se O <strong>de</strong>ixarmos entrar, Ele pedirá <strong>de</strong>masiado <strong>de</strong> nós. Amor e<br />
alegria são frutos <strong>de</strong> fé, sacrifício e dor. A verda<strong>de</strong>ira alegria não vem às pessoas egocêntricas e<br />
que consi<strong>de</strong>ram o mundo apenas naquilo que afeta a elas.<br />
71
Assim, Cristo fica do lado <strong>de</strong> fora e bate. Ele nos <strong>de</strong>u o livre arbítrio e Ele não <strong>de</strong>seja<br />
violar esse dom, forçando a entrada. A menos que permitamos a entrada <strong>de</strong> Cristo, não seremos<br />
capazes <strong>de</strong> nos amarmos uns aos outros. Primeiramente, <strong>de</strong>vemos amá-Lo e nos entregar a Ele<br />
voluntariamente, <strong>de</strong>ixando-O que se aposse totalmente <strong>de</strong> nossas almas; <strong>de</strong>pois o resto se<br />
seguirá.<br />
E você não trará Amor à sua vida apenas lendo livros ou meditando sobre Ele. A medida do seu<br />
amor é com que entusiasmo, com que totalida<strong>de</strong> e convicção você executa seu <strong>de</strong>ver do<br />
momento. É tudo muito simples: Nós somos quem torna tudo complicado para fugir do que<br />
tememos - entregar-se ao Amor pelas pequenas coisas diárias, rotineiras e os <strong>de</strong>veres do<br />
momento.<br />
26 - APRESSANDO-SE POR DEUS (S. Felipe Neri)<br />
Nós às vezes nos arrastamos durante o dia em vez <strong>de</strong> caminhar nos negócios <strong>de</strong> nosso Pai<br />
com passos leves e alegres. Como seríamos diferentes se estivéssemos indo nos encontrar com<br />
nosso namorado! Ou trabalhando para ganhar muito dinheiro! "Socialites" se alvoroçam e<br />
planejam festas para conhecer "gente importante". Ambiciosos jovens executivos trabalham com<br />
energia, entusiasmo e velocida<strong>de</strong>, para "chegar na frente". Para Deus, entretanto, nos movemos<br />
vagarosamente, como sombras em uma tela. O telefone po<strong>de</strong> tocar. Nós pensamos, "Não é nada,<br />
<strong>de</strong>ve ser um outro pedido <strong>de</strong> informação", ou "Isso po<strong>de</strong> esperar". <strong>Em</strong> muitos <strong>de</strong> nós não existe<br />
aquela "empolgação", nenhuma alegria <strong>de</strong> vida em Deus, nenhum entendimento da urgência <strong>de</strong><br />
nossas tarefas.<br />
Através <strong>de</strong> todo o Antigo Testamento, Javé urgia os profetas a se apressarem. Moisés,<br />
Isaias, e outros profetas se apressavam em levar as palavras <strong>de</strong> Javé ao povo <strong>de</strong> Israel. Habacuc<br />
não pô<strong>de</strong> ser persuadido, assim um anjo o agarrou pela cabeça e vupt! <strong>Em</strong> um minuto ele estava<br />
ao lado da cova dos leões, na Babilônia, on<strong>de</strong> foi instruído a alimentar Daniel, e vupt - em um<br />
minuto estava <strong>de</strong> volta à sua casa, na Judéia, mais rápido do que um avião!(Dn 14,32-39)<br />
Deus age rápido! Jesus Cristo era mesmo mais enfático. Sugiro que vocês estu<strong>de</strong>m os<br />
Evangelhos para se divertir e reparem quantas vezes o Senhor dos Exércitos usou a palavra<br />
pressa. Penso que vocês ficarão extremamente surpresos.<br />
Nós também temos que nos apressar. Nós nos apressamos <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> com relação aos<br />
assuntos <strong>de</strong> nosso Pai? O zelo pela casa <strong>de</strong> nosso Pai realmente nos <strong>de</strong>vora?<br />
27 - MARIA E O TRABALHO DOMÉSTICO<br />
Peçamos ao Senhor que mostre, às mulheres <strong>de</strong> hoje, a plenitu<strong>de</strong> da vida em Nazaré.<br />
Rezemos para que Ele possa levantar o véu <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> pieda<strong>de</strong> sentimental e apresente Sua<br />
própria mãe como realmente ela era - uma dona <strong>de</strong> casa, uma mãe, uma esposa, uma mulher<br />
ocupada no sublime e criativo trabalho do "reino", que era seu lar na terra.<br />
Instintivamente, imaginamos sua casa em Nazaré como sendo uma casa imaculada. Mas<br />
sabemos nós hoje o que está por trás <strong>de</strong>ssa espécie <strong>de</strong> limpeza? Tivemos a experiência da<br />
ilimitada alegria <strong>de</strong> esfregar um chão? Sabemos como fazer disso uma oração, uma canção <strong>de</strong><br />
amor e <strong>de</strong> alegria? Recitamos a ladainha <strong>de</strong> tirar o pó e varrer, cujo objetivo é um lar adornado<br />
pela limpeza? Ou são tais serviços humil<strong>de</strong>s irritantemente monótonos para nós?<br />
Já experimentamos a alegria da criativida<strong>de</strong> no preparo <strong>de</strong> uma refeição ou em fazer um<br />
pão <strong>de</strong> forno pronto para se comer? Será que enten<strong>de</strong>mos a sublimida<strong>de</strong> do serviço -<br />
72
humil<strong>de</strong>mente, diariamente, constantemente repetido? Ou será que sonhamos com mais artifícios<br />
que tirem todo o gosto e a criativida<strong>de</strong> da vida, para que possamos ficar livres para longas horas<br />
<strong>de</strong> lazer, que servem unicamente para nos levar cada vez mais longe <strong>de</strong> Deus?<br />
Peçamos a Maria que nos aju<strong>de</strong> a restaurar nosso trabalho no lar e todo o trabalho <strong>de</strong><br />
nossas mãos, todos os nossos serviços, para Cristo.<br />
28 - SANTÌSSIMA TRINDADE<br />
A palavra comunida<strong>de</strong> está nos lábios <strong>de</strong> todas as pessoas, hoje em dia. Com muita<br />
freqüência elas estão discutindo a melhor maneira <strong>de</strong> formar uma comunida<strong>de</strong>.<br />
A Trinda<strong>de</strong> é uma comunida<strong>de</strong> eterna, cuja existência não teve princípio nem terá fim.<br />
Trata-se simplesmente <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> amor: Deus Pai amando Deus Filho e este amor<br />
gerando o Espírito Santo. O homem precisa primeiro entrar em contato com a Trinda<strong>de</strong>, se quiser<br />
formar uma comunida<strong>de</strong> com seus semelhantes; <strong>de</strong> outra forma, não será possível. O homem<br />
po<strong>de</strong> encontrar a Deus através do homem porque a Encarnação <strong>de</strong> Cristo levou a ele toda a<br />
humanida<strong>de</strong>, do mesmo modo como Ele entrou plenamente em toda a humanida<strong>de</strong>. O segredo <strong>de</strong><br />
se tornar uma comunida<strong>de</strong> está no total envolvimento com o outro, juntamente com um completo<br />
esvaziamento <strong>de</strong> si mesmo.<br />
A oração põe o homem diretamente em contato com a Trinda<strong>de</strong>, mas também o <strong>de</strong>volve<br />
inevitavelmente aos seus irmãos. E, novamente, em virtu<strong>de</strong> da encarnação, o homem foi admitido<br />
à Comunida<strong>de</strong> da Trinda<strong>de</strong>, à Comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Amor.<br />
29 - VOCÊ ESTÁ PREPARADO PARA O ESPÍRITO SANTO?<br />
Você está preparado para o Espírito Santo? Você sabe que Ele vem a você como veio aos<br />
apóstolos, e você po<strong>de</strong> ficar cheio do Espírito Santo. Estar cheio do Espírito Santo é realmente<br />
algo <strong>de</strong> extraordinário. Ele explica tudo para você. Lembre-se do que disse Cristo, Aquilo que<br />
vocês não sabem, o Advogado lhes explicará.<br />
Quando você <strong>de</strong>seja compreen<strong>de</strong>r alguma coisa, por que não pe<strong>de</strong> ao Espírito Santo? Às<br />
vezes você consegue saber das coisas melhor através <strong>de</strong>le do que por qualquer um <strong>de</strong> nós. Você<br />
<strong>de</strong>ve estar rezando ao Espírito Santo constantemente, especialmente se está num seminário,<br />
porque Ele é um amigo especial dos sacerdotes. Ele cuida dos padres <strong>de</strong> uma forma muito<br />
especial como fazia com os apóstolos.<br />
O Espírito Santo tem respostas para as suas perguntas. Falo por experiência própria;<br />
quando não consigo resolver alguma coisa, começo a pedir ao Espírito Santo e recebo as<br />
respostas em meus pensamentos. Aconselho a vocês que façam o mesmo.<br />
E não tenham medo <strong>de</strong> invocá-Lo se vocês se encontrarem em perigo. Ele os manterá<br />
seguros. Lembro-me <strong>de</strong> uma ocasião em que <strong>de</strong>veria sair à noite para cuidar <strong>de</strong> alguém no<br />
Harlem e vi dois homens vindo em minha direção e eu sabia exatamente o que eles iriam fazer.<br />
Eu não tinha dinheiro, mas eles não sabiam disso. Eles vinham se aproximando; então eu disse:<br />
"Espírito Santo, aju<strong>de</strong>-me porque eles vão me atacar". E sabem do que mais? Eles vieram até<br />
mim e disseram "Como vai? Tudo bem, espero". E passaram ao largo! Percebem?<br />
73
30 - O ESPÍRITO SANTO: ELE ESTÁ AÍ PARA VOCÊS<br />
O Espírito Santo está aí para vocês sob muitas condições. Às vezes vocês se confrontam<br />
com uma situação <strong>de</strong> importância vital e vocês sentem que <strong>de</strong>vem falar ao Espírito Santo sobre<br />
isso, porque aquilo que lhes parece correto po<strong>de</strong> estar totalmente errado. Suponhamos que seu<br />
pessoal queira que você se engaje em um trabalho em algum lugar e você não tem certeza <strong>de</strong> que<br />
será bom para você ir. Bem, reze ao Espírito Santo e Ele lhe dará uma resposta. Pelo menos para<br />
mim Ele sempre respon<strong>de</strong>. Quando eu estava para me <strong>de</strong>cidir a livrar-me <strong>de</strong> tudo e seguir a<br />
Deus diretamente, foi uma verda<strong>de</strong>ira batalha, vocês sabem. Então falei ao Espírito Santo e<br />
perguntei o que Ele pensava daquilo. Naquele momento tive uma estranha resposta: "Faça isso".<br />
Assim eu o fiz, e aqui estou. Sim, aqui estou. É assombroso, absolutamente assombroso.<br />
Orar ao Espírito Santo é aconselhável, pelo menos uma vez por semana, pois o povo se<br />
esquece <strong>de</strong>le. Rezam para Jesus Cristo e rezam para o Pai, mas se esquecem do Advogado que<br />
nos ensina. Assim, rezem para Ele com bastante freqüência. É impossível dizer-lhes o quanto<br />
isso é maravilhoso e como é importante. O católico comum não pensa que Ele seja importante,<br />
mas Ele é muito importante.<br />
Nós celebramos o Pentecostes anualmente, mas eu penso que o Pentecostes po<strong>de</strong>ria ser<br />
celebrado todos os dias. Cada dia Ele está comigo e segura-me com firmeza. A mim,<br />
inteiramente. Ele é como meu cobertor que me cobre toda e eu fico segura. Também vocês<br />
ficarão. Sim, Ele vos manterá realmente seguros. Portanto espero que vocês rezem para Ele. É<br />
muitíssimo importante que vocês o façam.<br />
31 - UM MILAGRE COMUM (Visitação <strong>de</strong> Nossa Senhora)<br />
Uma noite, fui <strong>de</strong>spertada <strong>de</strong> um profundo sono por meu marido e pelo médico.<br />
Disseram-me que <strong>de</strong>veria levantar-me para prestar auxílio a uma mulher preste a dar à luz.<br />
Assim, peguei meu equipamento <strong>de</strong> enfermeira e saímos pela noite. O campo no interior do<br />
Canadá estava cheio <strong>de</strong> estrelas, as rãs estavam cantando, havia no ar primavera e vida nova.<br />
O carro do médico não pô<strong>de</strong> prosseguir por causa do lamaçal e tivemos <strong>de</strong> caminhar o<br />
último quilômetro até um casebre, on<strong>de</strong> ficamos esperando.<br />
Esperar a chegada <strong>de</strong> uma vida nova é a mais extraordinária espera. Há nisso alguma<br />
coisa silenciosa e santa, como se fosse numa igreja. É, ao mesmo tempo, difícil e suave. É como<br />
se a gente escutasse com a própria alma as palavras <strong>de</strong> comando <strong>de</strong> Deus sobre a criação.<br />
Ia ser um parto difícil e o médico estava preocupado. Ele queria operar em um hospital,<br />
assim a mulher <strong>de</strong>veria caminhar dois quilômetros, até seu carro. A coragem <strong>de</strong> nossas mulheres!<br />
Caminhamos com uma lentidão dolorosa. Começou a chover. Ela estava torturada pela dor,<br />
porém sorria. "Este vai ser meu décimo bebê", disse ela com alegria. Na sua face havia uma luz,<br />
uma luminosida<strong>de</strong> como a sombra da face <strong>de</strong> Deus. Cheguei a ficar arrepiada <strong>de</strong> absoluto<br />
espanto. Fomos para uma casa vizinha, on<strong>de</strong> a água foi fervida, os instrumentos esterilizados e<br />
começamos a trabalhar - e a rezar. O silêncio era quebrado apenas pela respiração do médico e<br />
os gemidos da mulher. Então - maravilha das maravilhas! - o choro <strong>de</strong> um bebê recém-nascido.<br />
O primeiro choro do bebê saiu com o último grito da mãe e um menininho nascia. Aleluia!<br />
© online edition Madonna House Publications March 2010<br />
74
JUNHO<br />
1 - O AMOR E O SAGRADO CORAÇÃO<br />
Junho é o mês do Sagrado Coração <strong>de</strong> Jesus. Para os seres humanos o coração tem sido<br />
sempre um símbolo <strong>de</strong> amor. São João Apóstolo encostou sua cabeça no peito do Senhor na<br />
Última Ceia e ouviu as batidas do coração <strong>de</strong> Deus! Imaginem como isso iria nos transformar, se<br />
compreendêssemos, mesmo obscuramente, que cada batida era uma carta <strong>de</strong> amor para nós!<br />
Vamos, pois, penetrar no gran<strong>de</strong> silêncio <strong>de</strong> nossas próprias almas. Por uma fração <strong>de</strong><br />
segundo somos João, o discípulo amado; colocamos nossa cabeça em Seu peito e ouvimos,<br />
Tump, tump, tump. Não é uma batida qualquer. Não, é a <strong>de</strong> Deus. E o que ela significa, <strong>de</strong> uma<br />
maneira forte e clara, é amor por nós. Rezemos aí humil<strong>de</strong>mente, amorosamente, mergulhando<br />
nas riquezas do Sagrado Coração. Então conheceremos Deus <strong>de</strong> um modo que nenhum livro<br />
po<strong>de</strong> nos ensinar. Aí O amaremos tão apaixonadamente, tão tremendamente, tão forte e<br />
completamente, que se tornará simples para nós sermos o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> cristãos que <strong>de</strong>vemos ser.<br />
Não teremos <strong>de</strong> dizer muita coisa. Tudo o que teremos <strong>de</strong> fazer é caminhar eretos, proclamando<br />
o Evangelho com nossas vidas, refletindo nosso Amado em nossas faces.<br />
O mundo necessita do Sagrado Coração hoje. O mundo necessita <strong>de</strong> corações humanos<br />
unidos ao Sagrado Coração. Sem amor o mundo é muito escuro. Vamos nos levantar e reerguer<br />
o mundo levando amor a ele - e assim levar o mundo a Deus.<br />
2 - O VERDADEIRO AMOR AO PRÓXIMO<br />
O amor significa uma i<strong>de</strong>ntificação interior e espiritual com nossos irmãos e irmãs, <strong>de</strong> tal<br />
forma que a pessoa não é olhada como um objeto a quem se faz o bem. Fazer o bem <strong>de</strong>ssa<br />
maneira é <strong>de</strong> pouco ou nenhum valor espiritual para alguém. De fato, isso é uma tragédia! Isso<br />
<strong>de</strong>strói aquele que dá e aquele que recebe.<br />
O amor faz alguém assumir o próximo como a si mesmo e amar o próximo com imensa<br />
humilda<strong>de</strong> e discrição, reserva e reverência, sem o que ninguém po<strong>de</strong> preten<strong>de</strong>r entrar no<br />
santuário <strong>de</strong> outra pessoa. Esta espécie <strong>de</strong> amor está necessariamente isenta <strong>de</strong> todo<br />
autoritarismo, toda brutalida<strong>de</strong>, toda exploração, dominação e con<strong>de</strong>scendência.<br />
É preciso reconhecer a enorme dificulda<strong>de</strong> e a magnitu<strong>de</strong> da tarefa <strong>de</strong> se amar o próximo.<br />
O amor <strong>de</strong>ve i<strong>de</strong>ntificar no próximo o nosso verda<strong>de</strong>iro eu, fazendo-nos amar essa pessoa com<br />
imensa humilda<strong>de</strong> sem nunca minimizar isso. Tem que se reconhecer que amar realmente os<br />
outros <strong>de</strong>ssa maneira é muito difícil, se consi<strong>de</strong>rarmos o completo sentido da palavra.<br />
Tenho freqüentemente falado sobre i<strong>de</strong>ntificação com os pobres. É uma i<strong>de</strong>ntificação que<br />
unicamente o amor po<strong>de</strong> alcançar através da completa doação <strong>de</strong> nós mesmos e uma total<br />
preocupação pelo outro. É uma i<strong>de</strong>ntificação tão profunda, tão completa, que acaba por se tornar<br />
parte <strong>de</strong> nós mesmos, como o ato <strong>de</strong> respirar. É uma forma <strong>de</strong> amar.<br />
3 - SERVOS DO ALTAR<br />
Deus nos ama. Ele nos ama tanto que parece nos querer constantemente junto a Ele. Ele<br />
escolhe homens comuns para serem sacerdotes e os traz para junto Dele durante aqueles<br />
75
impressionantes momentos do Seu Sacrifício da Missa. Essa mesma proximida<strong>de</strong> Ele <strong>de</strong>rrama<br />
sobre aquelas pessoas leigas que também prestam serviços junto ao altar.<br />
Um servo do altar <strong>de</strong> Deus - é nisto que se transforma um jovem ou um adulto que sobe<br />
aqueles <strong>de</strong>graus. Será que o servo consegue imaginar on<strong>de</strong> é que ele se encontra? <strong>Em</strong><br />
companhia <strong>de</strong> quem ele serve? A Trinda<strong>de</strong>, os santos e Nossa Senhora vivem no altar <strong>de</strong> Deus, o<br />
Santo dos Santos. Será que o acólito preparou-se para estar nesse lugar sagrado? Lavou ele sua<br />
alma para que pu<strong>de</strong>sse permanecer limpo na frente do Senhor? Está seu coração aberto para<br />
amar? Está sua mente inteiramente concentrada naquilo que está fazendo? Quando oferece as<br />
galhetas, estará compreen<strong>de</strong>ndo que está oferecendo a própria essência dos frutos da terra - uvas,<br />
que em alguns minutos se transformarão no Sangue <strong>de</strong> Deus, <strong>de</strong>rramado por ele próprio e por<br />
todas as pessoas?<br />
Será concebível que ele possa estar com roupas sujas e mal vestido? Relaxado na atitu<strong>de</strong><br />
e na postura? Encurvado, meio sonolento? Aquele que serve junto ao altar <strong>de</strong>verá ter um<br />
comportamento apropriado enquanto se move, indo e vindo ao Santo dos Santos, mostrando seu<br />
amor pela maneira como permanece em pé, como caminha e se move. Nada é bom <strong>de</strong>mais para o<br />
Deus <strong>Todo</strong>-Po<strong>de</strong>roso.<br />
4 - CORPUS CHRISTI<br />
Há cristãos que vão à igreja, recebem o Corpo e Sangue <strong>de</strong> Cristo, mas se esquecem como<br />
enten<strong>de</strong>r o que é o amor ou Quem é Deus. Enquanto não percebermos que Deus é amor, e não um<br />
pensamento, que é uma Pessoa, não uma emoção, nunca chegaremos a enten<strong>de</strong>r nada sobre Deus<br />
ou sobre o amor. O amor é uma Pessoa, o amor é Deus. Deus é amor.<br />
Sua agonia continua na do Seu Corpo Místico. <strong>Em</strong> cada lugar e cada vez que não existe<br />
amor, Cristo está sendo rejeitado e morto em todas as partes do mundo. Hoje o que importa fazer<br />
é mostrar as feridas <strong>de</strong> Cristo aos homens. Po<strong>de</strong> ser, entretanto, que nem isto – mostrar as chagas,<br />
servir com amor – venha a ser suficiente. Então só resta abrir nossos corações, como Jesus o fez<br />
até a morte <strong>de</strong> cruz. Então po<strong>de</strong>remos chamar-nos cristãos e passaremos a celebrar o mistério<br />
pascal e eucarístico, gran<strong>de</strong> e maravilhoso fruto do amor e essência <strong>de</strong> nossa fé.<br />
5 - BATENDO DE FRENTE COM O FRACASSO<br />
Na nossa civilização, fracasso é anátema. Se fracassamos num emprego, somos<br />
<strong>de</strong>spedidos. Fracassamos na universida<strong>de</strong>. Parece-nos uma coisa vergonhosa. <strong>Em</strong> toda a parte, o<br />
fracasso está ligado à vergonha, apesar <strong>de</strong> eu haver dito que o fracasso é um <strong>de</strong>grau para o<br />
sucesso! Eu não sou uma supermulher. Fracassarei em algum lugar, <strong>de</strong> alguma forma, alguma<br />
vez. Você também. Mas isso acaba conosco. É muito difícil admitir que <strong>de</strong> algum modo somos<br />
um fracasso. É difícil admitir que somos pecadores, não é mesmo?<br />
Mas vejam vocês, a alegria vem com o sofrimento. Não apenas com o sofrimento físico,<br />
mas com o verda<strong>de</strong>iro sofrimento espiritual, interior. E nós não queremos sofrer, não queremos<br />
enfrentar qualquer pecado que seja, não queremos encarar o fracasso.<br />
Vejam bem – nós pertencemos a Cristo. É verda<strong>de</strong> que Ele é impressionante e tudo o<br />
mais, mas Ele não quer que seja assim, senão Ele não teria sido o carpinteiro <strong>de</strong> Nazaré. Sendo<br />
Quem Ele era, Ele nos mostrou o quanto nos ama e quanto <strong>de</strong>seja que nos aproximemos Dele,<br />
como as crianças fazem. Assim, tudo o que temos <strong>de</strong> fazer é nos igualarmos às crianças e não<br />
nos preocuparmos mais com o resto. Temos apenas que a<strong>de</strong>rir ao Cristo e ao mesmo tempo ter<br />
76
consciência <strong>de</strong> que Ele é um gran<strong>de</strong> amigo. Para nós, porém, Ele é nosso amado, nosso irmão,<br />
nosso marido, o noivo. Ele é uma porção <strong>de</strong> coisas para nós.<br />
6 - FOGO, CHAMA E MOVIMENTO<br />
Para mim a Trinda<strong>de</strong> é fogo, chama e movimento. É como um imenso disco <strong>de</strong> cujas<br />
bordas saem enormes labaredas, que em sua totalida<strong>de</strong> cobrem o cosmos. Mas não é tudo.<br />
Eu me sinto atraída para o centro <strong>de</strong>sse fogo, chama e movimento como se estivesse no<br />
olho <strong>de</strong> um furacão. Estou envolvida nele e também o envolvo! Porque, por incrível que pareça,<br />
a Trinda<strong>de</strong> habita em mim. Eu sou o Seu templo mesmo quando estou, por assim dizer, no Seu<br />
centro.<br />
Usando palavras humanas para explicar um mistério inexplicável, eu diria que as pontas<br />
das asas do Espírito - pois aparentam ser asas - nesse movimento, nesse fogo, tocam as pontas do<br />
meu coração.<br />
De <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse movimento, <strong>de</strong>sse fogo, o Pai se inclina até mim, como os pais fazem,<br />
com infinita gentileza, ternura e amor; e Jesus Cristo está ao meu lado, estranhamente refletindo a<br />
face do Pai, a qual ninguém po<strong>de</strong> ver e continuar a viver - a menos que seja refletida pelo Seu<br />
Filho.<br />
7 - MEDITAÇÃO PARA O PESSOAL DA MANUTENÇÃO<br />
Aquele que faz os reparos freqüentemente tem <strong>de</strong> lidar com o resultado <strong>de</strong> erros<br />
cometidos por alguém na operação <strong>de</strong> uma máquina, talvez <strong>de</strong>vido a problemas emocionais <strong>de</strong>ssa<br />
pessoa. Na maioria dos casos, ele estará consertando o resultado <strong>de</strong> uma pessoa fragmentada,<br />
uma pessoa <strong>de</strong>satenta. A oficina, portanto, <strong>de</strong>ve ser um lugar <strong>de</strong> oração, expiação, mortificação,<br />
silêncio e recolhimento. Não é suficiente simplesmente executar o reparo <strong>de</strong> alguma coisa<br />
pertencente a Deus com os próprios conhecimentos intelectuais e habilida<strong>de</strong>s manuais. Há que se<br />
reparar também o dano que se fez à criação <strong>de</strong> Deus e a negligência que tal dano <strong>de</strong>monstra com<br />
relação ao próprio Deus.<br />
O pessoal dos reparos tem a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se penitenciar pelos seus pecados e pelos<br />
pecados <strong>de</strong> outros através <strong>de</strong> seu trabalho, o que significa uma gran<strong>de</strong> graça. Essas pessoas<br />
po<strong>de</strong>m ser facilmente associadas ao Getsêmani. <strong>Em</strong> dias quentes, grossas gotas <strong>de</strong> suor estarão<br />
escorrendo pelos seus rostos e corpos. Não escorrerá sangue, mas se elas aceitarem isso com<br />
amor, po<strong>de</strong>-se comparar com o suor <strong>de</strong> sangue <strong>de</strong> Cristo. A eterna sujeira e graxa <strong>de</strong> suas mãos,<br />
tão difícil <strong>de</strong> remover, lhes recordarão a poeira e a sujeira que <strong>de</strong>vem ter acrescentado mais<br />
agonia ao corpo <strong>de</strong> Cristo, quando estava carregando Sua Cruz. Seus ferimentos estavam cheios<br />
<strong>de</strong> cuspe e da sujeira da estrada. Os mecânicos e os outros encarregados da manutenção têm que<br />
assumir, freqüentemente, estranhas e difíceis posições para fazer o seu trabalho, e essas posturas<br />
vão atacar os músculos <strong>de</strong> suas costas. Saberão então como estavam cansados os músculos <strong>de</strong><br />
Deus quando Ele foi crucificado. Eles conhecerão, em muito menor escala, os sofrimentos <strong>de</strong><br />
Deus por eles, e Deus aceitará isso amorosamente, apaixonadamente.<br />
77
8 - UM LUGAR DE DEVOÇÃO E PEREGRINAÇÃO (N. Senhora <strong>de</strong> Cómbermere)<br />
Nos primeiros dias <strong>de</strong> Madonna House, nós pedimos ajuda a Nossa Senhora, usando o<br />
nome <strong>de</strong> nossa pequena cida<strong>de</strong>, Cómbermere. Mais tar<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>mos que a palavra Cómbermere<br />
é oriunda do francês antigo e significa "mãe <strong>de</strong> um planalto nas montanhas". Cómbermere fica a<br />
trezentos metros acima do nível do mar e está sobre um planalto nas montanhas da Serra<br />
Laurentiana * , com os mais altos picos em redor <strong>de</strong> nós. Depois, pouco a pouco, nosso amor pela<br />
Mãe <strong>de</strong> Deus, sob o título <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>de</strong> Cómbermere, cresceu e nos fez incluir uma<br />
música, um quadro e uma prece para ela. Um visitante que alcançou uma graça através <strong>de</strong> Nossa<br />
Senhora <strong>de</strong> Cómbermere ofereceu ajuda para uma imagem, a qual eventualmente foi esculpida e<br />
erigida e <strong>de</strong>pois abençoada por nosso bispo em 8 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1960.<br />
Eddie <strong>Doherty</strong> disse que nosso novo santuário era "o mais humil<strong>de</strong> e o menos pretensioso<br />
da Cristanda<strong>de</strong>", acrescentando, "Não foi um milagre que criou este santuário. Nem uma<br />
aparição. Simplesmente a chegada <strong>de</strong> uma bela imagem e o amor das pessoas que vivem em<br />
Madonna House e em seus arredores é que fez com que se tornasse um local <strong>de</strong> <strong>de</strong>voção e <strong>de</strong><br />
peregrinação".<br />
É assim que age a Mãe <strong>de</strong> Deus através da Igreja <strong>de</strong> seu Filho. Quão silenciosamente ela<br />
fez as coisas acontecerem. Nenhuma aparição <strong>de</strong> impacto. Sem milagres flamejantes. Apenas<br />
pequenas graças aqui e ali. Almas foram incentivadas a rezar a ela sob essa invocação. As<br />
graças fluindo através <strong>de</strong> suas mãos gentis. Sem ruídos, da mesma forma como ela caminhou<br />
sobre a terra.<br />
9 - AMENIDADES SOCIAIS (Bem-aventurado José <strong>de</strong> Anchieta)<br />
Agora vou falar um pouco sobre hábitos sociais comuns. Eles incluem postura, maneira<br />
<strong>de</strong> sentar-se, modos <strong>de</strong> comer, e certas gentilezas como as <strong>de</strong> homens abrindo portas para<br />
mulheres.<br />
Lembrem-se <strong>de</strong> que poli<strong>de</strong>z e boas maneiras nascem realmente do amor. As<br />
preocupações <strong>de</strong> vocês <strong>de</strong>vem estar sempre voltadas para os outros. Assim, anotem isso - é<br />
muito importante - estar preocupado com os outros <strong>de</strong>ve ser para vocês tão natural como respirar.<br />
A postura é importante. Os santos dão exemplo pela maneira como sentam, a maneira<br />
como permanecem em pé, a maneira como caminham. Que isso lhes sirva como lição.<br />
Imaginem como um santo se sentaria, permaneceria em pé ou caminharia; e aí façam igual. E,<br />
naturalmente, a carida<strong>de</strong> exige que vocês assumam uma postura que não ofenda o próximo.<br />
Você po<strong>de</strong> não saber qual é o garfo que se usa com salada, mas a carida<strong>de</strong> torna isso<br />
muito simples. Sem falsa vergonha, confesse que não sabe e peça ajuda a alguém.<br />
Conseguem imaginar Nossa Senhora como sendo uma chata, sentada com os cotovelos<br />
sobre a mesa, sem participar das conversas? Vocês conseguem? Eu não. Não nos dá o<br />
Evangelho uma tremenda idéia da graciosida<strong>de</strong>, da gentileza e das boas maneiras <strong>de</strong> Cristo? E eu<br />
tenho a certeza <strong>de</strong> que Maria era como Ele. Vão, em espírito, até Nazaré! Aí façam como se<br />
estivessem na presença <strong>de</strong> Jesus, Maria e José, e automaticamente, estarão agindo como pessoas<br />
educadas.<br />
10 - QUEM É O MAIOR?<br />
<strong>Em</strong> Mateus 18:1-4, os discípulos perguntam a Jesus quem é o maior no reino dos céus. É<br />
uma estória reveladora.<br />
78
Aqueles discípulos eram como nós. Nós sempre fazemos perguntas metafísicas. Quem é<br />
o maior no reino <strong>de</strong> Deus? Não é mesmo uma pergunta estúpida? Cada um gostaria que Ele<br />
dissesse Você. Eles estavam pensando apenas em si mesmos. E Deus lhes <strong>de</strong>u uma lição. Ele<br />
pegou numa criança e disse, Eu lhes digo solenemente, que a menos que vocês mu<strong>de</strong>m e se<br />
tornem como criancinhas, vocês jamais entrarão no reino dos céus. Assim, aquele que se faz tão<br />
pequeno como uma criancinha é o maior no reino dos céus.<br />
Isso eu sempre compreendi. Quando as pessoas se fazem como crianças, elas têm <strong>de</strong><br />
aceitar o que lhes acontece. Uma criança aceita isso durante longo período <strong>de</strong> sua vida - na<br />
escola, no lar, em toda a parte.<br />
Mais adiante, no capítulo 20, versículos 20-23, a mãe dos filhos <strong>de</strong> Zebe<strong>de</strong>u vem a Jesus.<br />
Leia isso! Então Jesus diz Po<strong>de</strong>is vós beber do cálice que eu <strong>de</strong>vo beber? Beber <strong>de</strong>sse cálice é<br />
tornar-se um mártir. Então acontece um sangrento martírio, quando você tem <strong>de</strong> beber do cálice<br />
<strong>de</strong> um só gole, enquanto o sangue está sendo <strong>de</strong>rramado <strong>de</strong> um ferimento que lhe infligiram. E<br />
existe um outro cálice que se <strong>de</strong>rrama aos poucos - gota a gota. É quando às vezes você encontra<br />
o martírio bem ao seu lado, na vida diária, comum.<br />
11 - O MAIOR É O SERVO DE TODOS<br />
<strong>Em</strong> Mateus 20:24-28, Jesus se dirige aos outros apóstolos que ficaram muito indignados<br />
com o episódio da mãe dos filhos <strong>de</strong> Zebe<strong>de</strong>u. Daí compreen<strong>de</strong>mos que temos <strong>de</strong> nos esforçar<br />
para sermos servos <strong>de</strong> todos. Mas nós queremos dominar. A li<strong>de</strong>rança através do serviço<br />
realmente contraria a nossa índole. Nós não gostamos disso. Nós não nos importamos em<br />
sermos servidos. Nem mesmo nos importamos em servir aos pobres formalmente, em uma<br />
comissão. Certamente, apreciamos dar um pouco <strong>de</strong> dinheiro aos pobres e ajudar instituições<br />
para idosos, retardados, crianças <strong>de</strong>ficientes. Isso não interfere com o que queremos fazer, com a<br />
nossa maneira <strong>de</strong> viver. Definitiva e positivamente não queremos fazer a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus.<br />
Agora está claro o que Jesus fez e nós temos <strong>de</strong> fazer o mesmo. Mas não queremos,<br />
porque é difícil, e faz-nos per<strong>de</strong>r o sentimento <strong>de</strong> que estamos no comando. Se você pensa que<br />
está no comando <strong>de</strong> si próprio, bem, existe apenas um personagem que o faz pensar assim. É o<br />
diabo. Ele mistura tudo, fazendo uma embrulhada <strong>de</strong> sua vida. Ele diz, "Você é capaz <strong>de</strong> tudo".<br />
<strong>Em</strong> outras palavras, faz um ídolo <strong>de</strong> você mesmo.<br />
Nós fazemos ídolos do po<strong>de</strong>r, dinheiro, prestígio e até <strong>de</strong> nós mesmos! Mas adorar a si<br />
próprio é a maior idolatria. Uma vez que você comece a adorar a si próprio, você está <strong>de</strong>struído.<br />
Você não é mais ninguém, porque quando você está sob o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Satã você se torna um<br />
fantoche, apenas um fantoche!<br />
12 - A RECREAÇÃO DO CRISTÃO: RE-CRIAR<br />
Com mais tempo <strong>de</strong> lazer e menos horas <strong>de</strong> trabalho, gastar o tempo <strong>de</strong> folga <strong>de</strong> maneira<br />
inteligente para a glória <strong>de</strong> Deus, tem se tornado cada vez mais importante. A alta qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
vida, a facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> locomoção, e as mudanças do padrão <strong>de</strong> vida da família têm proporcionado<br />
profundas alterações no conceito global <strong>de</strong> recreação. Nossos jovens dizem, "Não há lugares<br />
para se visitar", e "Não há nada para se fazer". Leva-se pouco tempo para trazê-los para a idéia<br />
cristã sobre recreação.<br />
79
A recreação cristã é na verda<strong>de</strong> re-criação, um renovar, um re-agrupar, um re-juntar.<br />
Recreação é, acima <strong>de</strong> tudo, uma mudança na rotina <strong>de</strong> todos os dias. E isso não quer dizer não<br />
fazer nada, o que seria muito aborrecido. A recreação é para re-criar, fazer tudo novo.<br />
Isso é feito com Deus, para Deus, para Sua honra e glória. A recreação inclui auto<br />
expressão, imaginação, criativida<strong>de</strong> e li<strong>de</strong>rança. Vou ser mais clara. Você po<strong>de</strong>ria estar nadando<br />
e se divertindo a valer e <strong>de</strong>pois se <strong>de</strong>itar ao sol e tirar um cochilo. Ou você po<strong>de</strong>ria estar lendo<br />
um livro, tranqüilamente, re-criando sua mente com novos conhecimentos. Ou sua recreação<br />
po<strong>de</strong>ria consistir em uma dança popular tradicional, ou no aprendizado <strong>de</strong> artesanato, ou num<br />
trabalho artístico, pois ao criar beleza, a gente re-cria a si próprio. Estudo da natureza, esportes,<br />
jardinagem, leitura em voz alta, e a arte <strong>de</strong> contar estórias são outras tantas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> se<br />
re-criar.<br />
13 - RECREAÇÃO, UNIDADE, ESPÍRITO DE FAMÍLIA<br />
A melhor forma <strong>de</strong> recreação é <strong>de</strong>sfrutá-la com outros. Uma família, a paróquia, ou um<br />
grupo que recreia unido permanece unido, em nível natural. Fazer coisas unidas aos outros faz a<br />
gente conhecer e amar mais o próximo. A alegria nos liga e o riso cimenta nossas relações. O<br />
conhecimento colhido e partilhado uns com os outros, cria uma união mais profunda. Criar<br />
coisas em comum, tais como uma encenação ou jogos, ajuda-nos a sermos unidos em espírito e<br />
verda<strong>de</strong>. Aí entra o espírito <strong>de</strong> família, que não po<strong>de</strong> acontecer somente através do trabalho em<br />
comum. A gente tem que orar, trabalhar, e se recrear em união para que o espírito <strong>de</strong> família<br />
permaneça vivo. Vocês são filhos <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> que divorciou a diversão <strong>de</strong> Deus - o que faz<br />
parte do secularismo, uma heresia. Vocês po<strong>de</strong>m ter se acostumado a fazer coisas em comum, e<br />
assim proce<strong>de</strong>ndo verificam como crescem no conhecimento e no amor uns dos outros. Então,<br />
numa or<strong>de</strong>m perfeitamente natural vocês verão como isso é divertido.<br />
A recreação, tanto feita organizadamente quanto espontaneamente, é boa. Vocês vão<br />
visitar um museu e <strong>de</strong>cidir o que fazer <strong>de</strong>pois. Vocês po<strong>de</strong>m planejar um piquenique ou uma<br />
tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> leitura em comum, ou vocês po<strong>de</strong>m apenas optar por uma recreação qualquer,<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo das circunstâncias. Seja simples a respeito <strong>de</strong>ssas coisas. Tentem fazer recreação<br />
<strong>de</strong>sta ou daquela maneira e, eventualmente, vocês acharão a melhor maneira. Deixem que os<br />
intelectuais tenham a sua vez. Que os esportistas tenham a sua vez. É dar e receber. Isto é<br />
trabalho em equipe e isto é amor.<br />
14 - RECREAÇÃO E TRABALHO EM EQUIPE<br />
A recreação também po<strong>de</strong> ser um trabalho em equipe e um jogo em equipe. Tais coisas<br />
são essenciais para a <strong>de</strong>mocracia e para as boas relações sociais. Uma boa brinca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> equipe é<br />
uma arma para os cristãos leigos. Se a sua recreação incluir membros <strong>de</strong> grupos minoritários ou<br />
provenientes <strong>de</strong> classes pobres, ou qualquer outro tipo <strong>de</strong> gente com quem você trabalha, um<br />
novo espírito surgirá.<br />
As pessoas que se divertem unidas jamais se odiarão umas às outras. O espírito esportivo<br />
e o trabalho em equipe reforçam as virtu<strong>de</strong>s da justiça, da carida<strong>de</strong> e, em linguagem popular, do<br />
jogo limpo e da esportivida<strong>de</strong>. Todas essas virtu<strong>de</strong>s naturais são na realida<strong>de</strong> o reflexo dos Dez<br />
Mandamentos aplicados à recreação.<br />
Lembrem-se vocês, a palavra chave é unida<strong>de</strong>. Quando forem a um piquenique, não<br />
fiquem separados pelo dia inteiro uns dos outros, apenas se juntando para uma rápida refeição ao<br />
80
ar livre. Façam as coisas em conjunto. Se você ler um livro, compartilhe com os <strong>de</strong>mais aquilo<br />
que você leu. Se tirar uma soneca numa sombrinha <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter nadado, junte-se aos <strong>de</strong>mais<br />
após o cochilo. A unida<strong>de</strong> é o fundamento da recreação!<br />
Aos poucos a recreação vai se tornando aquilo que realmente significa - diversão,<br />
construção da unida<strong>de</strong>, um espairecer da mente, do espírito e do corpo - tudo aquilo que ajudará a<br />
moldar seu grupo ou família num único todo que faz cada um amar e conhecer melhor o outro. O<br />
Senhor <strong>de</strong> toda a criação esteja sempre com vocês e os inspire a se recrear em sintonia com Ele e<br />
com Sua Abençoada Mãe.<br />
15 - O DEVER DO MOMENTO<br />
Quando eu era enfermeira, durante a Revolução Russa, fui chamada certa noite, bem<br />
tar<strong>de</strong>, para prestar ajuda a soldados feridos que estavam entre as frentes russa e alemã. Devia<br />
percorrer mais ou menos <strong>de</strong>zesseis quilômetros a cavalo, com balas zunindo à minha volta.<br />
Miraculosamente escapei ilesa. Foi duplamente miraculoso porque meu cavalo tropeçou, eu caí,<br />
e ele escoiceou-me. Depois ele ficou tão triste que me lambeu o rosto e ajudou-me a voltar a<br />
mim. Quando me refiz, lembrei-me daquilo que tinha <strong>de</strong> fazer.<br />
Tornar a montar o cavalo exigiu alguma coragem <strong>de</strong> minha parte, pois cada vez que<br />
tentava subir no estribo eu tossia sangue. Finalmente consegui. "O <strong>de</strong>ver do momento é o <strong>de</strong>ver<br />
<strong>de</strong> Deus", disse a mim mesma. Somente Deus sabe como consegui fazer os últimos quilômetros,<br />
pois, a cada movimento, cuspia sangue.<br />
Quando cheguei e vi que não havia nem médicos nem enfermeiras, esqueci meus<br />
machucados e passei a cuidar dos feridos da melhor maneira que pu<strong>de</strong>. No meio <strong>de</strong> tudo isso<br />
chegou o médico. Deu uma olhada nos feridos e uma olhada em mim e disse: "Você tem <strong>de</strong> ir<br />
para um hospital!" Eu estava realmente cuspindo muito sangue.<br />
Essa foi uma das razões por que recebi uma con<strong>de</strong>coração por bravura. Houve outras<br />
razões e essa foi uma <strong>de</strong>las. Eu nunca pensava muito a respeito disso, pois estava apenas<br />
cumprindo o meu <strong>de</strong>ver.<br />
16 - O QUE É UMA COMUNIDADE CRISTÃ?<br />
Uma comunida<strong>de</strong> cristã <strong>de</strong>ve ser, em primeiro lugar e acima <strong>de</strong> tudo, uma comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
amor cristão, com base no amor a Deus e ao próximo. Seus membros se comunicam uns com os<br />
outros do modo como Cristo nos ensinou no Evangelho. Esta forma <strong>de</strong> comunicação exige uma<br />
abertura que transcen<strong>de</strong> o entendimento humano, especialmente nos dias presentes, em que as<br />
pessoas se sentem tão alienadas umas das outras.<br />
Os membros <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> cristã <strong>de</strong>vem estar abertos uns para com os outros, saber<br />
como escutar uns aos outros, saber quando e como falar. E cada um sabe essas coisas porque<br />
cada um sabe rezar. É assim que essa comunicação atinge a dimensão <strong>de</strong> amor que Deus <strong>de</strong>seja.<br />
Através <strong>de</strong>ssa abertura, com cada membro vivendo o Evangelho sem restrições, todos po<strong>de</strong>m aos<br />
poucos ir se <strong>de</strong>spindo do "respeito humano", como homens e mulheres se <strong>de</strong>spem <strong>de</strong> suas<br />
vestimentas; cada um po<strong>de</strong> vagarosamente ir apren<strong>de</strong>ndo a aceitar <strong>de</strong>saforos, perseguições,<br />
falatórios, etc. <strong>Em</strong> paz, e com alegria, cada um apren<strong>de</strong>rá a estar constantemente atento às<br />
necessida<strong>de</strong>s dos irmãos <strong>de</strong>ntro da comunida<strong>de</strong>. A menos que essa lei <strong>de</strong> Cristo seja aplicada, a<br />
comunida<strong>de</strong> nunca crescerá na verda<strong>de</strong>ira maturida<strong>de</strong> cristã.<br />
81
As comunida<strong>de</strong>s cristãs são chamadas pelo Senhor para ser fermento do mundo que Jesus<br />
resgatou para Seu Pai. A razão <strong>de</strong>finitiva para que se formem comunida<strong>de</strong>s cristãs é fazer a<br />
humanida<strong>de</strong> tomar consciência <strong>de</strong> que o mundo é a morada <strong>de</strong> Deus, a qual Ele construiu para os<br />
homens e as mulheres - e que a vida neste mundo é uma entrada para o reino do Deus Eterno!<br />
17 - COMO FORMAR COMUNIDADES CRISTÃS<br />
Como po<strong>de</strong> alguém alcançar este milagre <strong>de</strong> graça? Como po<strong>de</strong> qualquer comunida<strong>de</strong><br />
cristã - religiosos, leigos, casados ou solteiros - alcançar essa vida <strong>de</strong> peregrinação, <strong>de</strong> profecia,<br />
<strong>de</strong> abertura, <strong>de</strong> escuta <strong>de</strong> corações <strong>de</strong> homens e mulheres e do Espírito, <strong>de</strong> transformação da vida<br />
<strong>de</strong> alguém num ícone da vida <strong>de</strong> Cristo? A mesma resposta ocorre sempre e sempre,<br />
inequivocamente: através da oração. O que é impossível para nós é possível para Deus e nós. A<br />
oração reúne em si, <strong>de</strong> um modo misterioso, o mistério da nossa humanida<strong>de</strong> e o mistério <strong>de</strong><br />
Deus. Acima <strong>de</strong> tudo, para nos enchermos com a força do Senhor e nos reforçarmos a nós<br />
mesmos, nós <strong>de</strong>vemos ir à casa do Senhor que é a igreja. Ali nós colocaremos como centro <strong>de</strong><br />
nossa vida o Sacrifício Eucarístico.<br />
A comunida<strong>de</strong> é um grupo <strong>de</strong> pessoas que se reuniram porque se apaixonaram por Deus e,<br />
Nele, amam os homens e as mulheres. Elas querem trazer Deus aos homens e levar os homens a<br />
Deus. Eles po<strong>de</strong>m fazer isto melhor unidos do que se estiverem sozinhos. Unidos temos uns aos<br />
outros, po<strong>de</strong>mos consolar uns aos outros, orar uns pelos outros, encorajar um ao outro.<br />
Mas para perseverar em tal comunida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ve-se orar, orar realmente, sem cessar.<br />
Enquanto se faz da Missa o centro <strong>de</strong> nossas vidas, a comunicação com Deus <strong>de</strong>ve ser constante;<br />
<strong>de</strong> outra forma, a comunicação com homens e mulheres cessará. A forma e o meio <strong>de</strong> se realizar<br />
a oração dos membros da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vem ser estabelecidos por cada comunida<strong>de</strong>. Mas a<br />
oração tem que estar presente. Caso contrário, não haverá comunicação e, conseqüentemente,<br />
não haverá comunida<strong>de</strong>.<br />
18 - OS DOIS SANTÍSSIMOS CORAÇÕES<br />
Fico imaginando, será que compreen<strong>de</strong>mos o significado do Sagrado Coração e do<br />
Coração Imaculado? Algumas pessoas dizem, "Oh, sim, aquele costume das Nove Primeiras<br />
Sextas-Feiras, e por aí afora". Elas estão um bocado confusas sobre este assunto.<br />
Apenas <strong>de</strong>ixe sua mente vagar; <strong>de</strong>ixe que ela penetre no mistério do Seu Coração. Você<br />
encontrará um estranho, incrível coração que Deus incorporou quando Se fez carne, um coração<br />
que, por assim dizer, bate eternamente. Quando o coração <strong>de</strong> Cristo foi transpassado, nasceu a<br />
Igreja. A Igreja, ultrajada por tanta gente. Ainda assim, on<strong>de</strong> está a Igreja, aí está Ele. E com a<br />
Igreja, Cristo permanece; e Seu coração conforta e cura a Igreja.<br />
Ele nela permanece, como um pedinte, mendigando os tostões do nosso amor. Quantos<br />
tostões nós Lhe <strong>de</strong>mos hoje? Ontem? Ele é um mendigo que nos pe<strong>de</strong> amor e consolação. As<br />
batidas <strong>de</strong> Seu coração falam <strong>de</strong> amor por nós! Essa é a razão porque em certos dias nós nos<br />
prostramos bem baixo e agra<strong>de</strong>cemos a Deus pela Sua fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> conosco. E a pequena e<br />
humil<strong>de</strong> menina que se tornou a Mãe <strong>de</strong> Deus - Maria - nós a reconhecemos como a mãe da<br />
humilda<strong>de</strong>, simples e silenciosa. Enquanto Ele estava em seu ventre, e Seu coração começou a<br />
bater, ela foi a primeira a escutá-lo. E seu coração respondia ao Dele.<br />
82
Assim, temos diante <strong>de</strong> nós um mistério - o coração <strong>de</strong> Maria e o coração <strong>de</strong> Cristo -<br />
ambos imaculados, ambos cheios <strong>de</strong> beleza inexcedível. O que mais po<strong>de</strong>ria você <strong>de</strong>sejar, a não<br />
ser doar-se inteiramente a esses dois corações, especialmente ao <strong>de</strong> Deus?!<br />
19 - DEUS, O PAI ESQUECIDO<br />
Nosso imenso, completo esquecimento <strong>de</strong> Deus Pai é uma tragédia. Quem se lembra que<br />
é Ele Quem veste os lírios, alimenta os pássaros do céu, conduz as ovelhas para a pastagem e o<br />
cervo para a água? Por que nós temos esquecido totalmente Aquele <strong>de</strong> quem provém todo o dom<br />
da paternida<strong>de</strong>? Por que não nos voltamos a Ele em todas as ocasiões? Por que não rezamos<br />
para Ele? Corremos para Ele? Por que não O amamos e adoramos constantemente e cada vez<br />
mais?<br />
On<strong>de</strong> está nossa <strong>de</strong>voção a Deus Pai? Nos dias <strong>de</strong> hoje, mais do que nunca na história,<br />
nós necessitamos Dele. Estamos apavorados além dos temores naturais da humanida<strong>de</strong>, vivendo<br />
à sombra <strong>de</strong> bombas extraordinárias que num piscar <strong>de</strong> olhos po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>struir-nos e toda a terra<br />
em que caminhamos. Ainda assim, nem mesmo quando dizemos "Pai nosso" pensamos Nele.<br />
Se ao menos voltássemos nossos rostos para Ele, que nos ama como somente um Pai o<br />
faz! Se ao menos rezássemos a Ele, lembrando-Lhe que Ele nos amou tanto que nos <strong>de</strong>u Seu<br />
Filho único como irmão! Pois, on<strong>de</strong> está o pai que recusará um pedido <strong>de</strong> seu filho amado,<br />
mesmo que ele seja um filho pródigo?<br />
Vamos cair <strong>de</strong> joelhos e, abraçando Seus pés, implorar ao nosso Pai que perdoe o nosso<br />
esquecimento, nossa negligência, pedindo-Lhe que nos tome <strong>de</strong> novo em Seus braços e nos dê<br />
segurança.<br />
20 - CORRA PARA SEU PAI<br />
Eu me sinto irritada e miserável quando não recorro a meu Pai, quando não me lembro <strong>de</strong><br />
que sou pequena, quando não exclamo, Abba! <strong>Em</strong> vez disso eu digo, "Então, Katie, você é uma<br />
mulher brilhante. Você tem conhecido este apostolado durante trinta e nove anos. É isso aí, eu<br />
vou resolver o problema".<br />
Mas se eu corro a meu Pai, e seguro a Sua mão, e grito Abba! e me torno bem pequena -<br />
consciente <strong>de</strong> que eu não posso resolver nada - então aquele enorme cachorrão malvado, que<br />
parece uma montanha suíça, se transforma subitamente num cão do tamanho <strong>de</strong> um pequinês.<br />
Meu Pai resolve o problema, porque me tornei uma criança; e eu encarei o problema da mesma<br />
forma que uma criança, em vez <strong>de</strong> fazê-lo com o orgulho <strong>de</strong> meu intelecto.<br />
Sendo pequeno, sempre pequeno, sendo mínimo, sendo pobre, sendo como criança - isso<br />
resolve qualquer problema.<br />
Você está com um terrível problema em sua casa? Lembre-se, você é pobre; portanto não<br />
fique envergonhado se falhar. O que você espera? Se o Filho <strong>de</strong> Deus nos salvou através <strong>de</strong> um<br />
fracasso, então por que não po<strong>de</strong> você também falhando salvar o mundo? Pelo menos o seu<br />
pequeno mundo. Eu agra<strong>de</strong>ço a Deus por me fazer ver que sou pobre, exatamente o que nos diz<br />
nosso Pequeno Mandato <strong>de</strong> Madonna House.<br />
83
21 - UMA MEDITAÇÃO SOBRE RÃS E COBRAS<br />
No verão, enquanto atravesso minha ponte em Cómbermere todos os dias, encontro rãs!<br />
Elas me recordam muita gente cheia <strong>de</strong> si e aquela gente vazia que tenta parecer importante.<br />
Essas minhas rãs po<strong>de</strong>m realmente estufar-se até atingir tamanhos estranhos e imensos. Não<br />
percebem que quanto mais se inflam, mais feias parecem. Eu as observo amedrontar as pequenas<br />
rãs como fazem certas pessoas com outras. Depois <strong>de</strong> as amedrontarem bastante, aí as<br />
atormentam. Elas (as rãs!) freqüentemente acabam por <strong>de</strong>vorar as mais pequeninas. Não é o que<br />
acontece muitas vezes com as pessoas? Há milhares <strong>de</strong> maneiras <strong>de</strong> se <strong>de</strong>vorar e engolir seres<br />
humanos.<br />
No meu brejo também existem cobras. Eu as vejo <strong>de</strong>slizar suavemente saindo <strong>de</strong> um<br />
ponto qualquer, misturando-se aos lírios d'água e à vegetação. É fascinante observá-las quando<br />
se aproximam <strong>de</strong> sua presa, nadando em círculos cada vez menores, hipnotizando suas vítimas<br />
que ficam olhando, imóveis, fascinadas, inconscientes da morte que se aproxima. A estória<br />
eternamente repetida - a árvore, a maçã, a serpente, o homem e a mulher - vem muito viva à<br />
minha mente. Acabo ficando com lágrimas nos olhos enquanto observo as cobras finalmente<br />
pegarem sua vítima. Eu penso em milhões <strong>de</strong> homens e mulheres que, como essas presas,<br />
po<strong>de</strong>riam ter escapado, pulado fora, se apenas não tivessem ficado fascinados pelo perigo e<br />
conhecessem a verda<strong>de</strong> que é Deus.<br />
22 - NÓS SOMOS OS DESVALIDOS E ESQUECIDOS<br />
Eu sou, como a maioria <strong>de</strong> meus amigos sabe, uma tola por amor a Cristo, e também uma<br />
dos humiliati * . Humiliati quer dizer os <strong>de</strong>spojados, os esquecidos, os não reconhecidos, os<br />
rejeitados.<br />
Você quer conhecer os humiliati? Vá a um asilo <strong>de</strong> idosos, on<strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> mães e pais<br />
estão esquecidos, sem visitas, sem serem cuidados. Não é difícil fazer isso. E não é difícil ser<br />
um tolo por amor a Cristo e tentar penetrar o aparentemente impenetráveis egoísmo e ganância<br />
que existem em tais lugares.<br />
Você tem coragem <strong>de</strong> visitar as vizinhanças <strong>de</strong> pessoas pobres ou <strong>de</strong> outras raças? Sim, é<br />
preciso coragem para fazer isso. Não porque você vai ver a miséria que talvez tenha conhecido<br />
por ler em jornais ou em um livro. É preciso ter coragem para entrar. É preciso ter coragem para<br />
bater à porta. Que sou eu, quem é você, que ousamos entrar no "Santo dos Santos" que Cristo<br />
tanto amou? Ele está sempre com os pobres.<br />
Sim, é preciso coragem para ir lá. Mas alguém que é tolo por amor a Cristo po<strong>de</strong> ir a<br />
qualquer parte, porque as pessoas irão rir <strong>de</strong>le e o <strong>de</strong>ixarão entrar. Essa é a alegria <strong>de</strong> ser um tolo<br />
por amor a Cristo e um dos humiliati, um dos <strong>de</strong>sprezados, esquecidos, negligenciados.<br />
23 - AQUELES QUE MAIS PRECISAM DE NOSSA AJUDA<br />
Eu estou atormentada. Eu estou atormentada com a situação dos velhos, dos <strong>de</strong>svalidos,<br />
dos sem esperança, daqueles que "morrem" <strong>de</strong> solidão! Meu tormento não é só por causa dos que<br />
estão nos hospitais ou em sanatórios. (Existem pessoas que já estão fazendo bom trabalho nessa<br />
área.). É com os outros - aqueles ainda mais esquecidos e rejeitados, os outros humiliati - que<br />
necessitam <strong>de</strong> nossa ajuda. Como vamos fazer isso, eu não sei. Temos <strong>de</strong> rezar e temos <strong>de</strong><br />
procurar soluções - Deus nos mostrará o caminho.<br />
84
É uma coisa muito simples o que estou querendo. Nós já estamos fazendo muito disso,<br />
mas temos capacida<strong>de</strong> para fazer mais! Vão... sejam livres...façam! Eles estão nas ruas, nos<br />
albergues, nos escritórios, nos condomínios. Eles são os escondidos, os que não são vistos, os<br />
<strong>de</strong>sprezados.<br />
Os "verda<strong>de</strong>iros" marginalizados já batem à nossa porta, buscando a nossa ajuda. Mas<br />
daqueles outros temos <strong>de</strong> cuidar! Eles po<strong>de</strong>m ser muito pobres do ponto <strong>de</strong> vista econômico. Ou<br />
po<strong>de</strong>m ser muito ricos. Eles po<strong>de</strong>m ser políticos, ou empregados comuns, ou funcionários<br />
públicos. É nossa obrigação <strong>de</strong>scobri-los. É nossa obrigação fazer amiza<strong>de</strong> com eles, ajudá-los<br />
<strong>de</strong> maneira especial - a única maneira pela qual po<strong>de</strong>m ser ajudados: amor!<br />
24 - UMA FESTA SANTA E ALEGRE (Nativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São João Batista)<br />
Na velha Rússia, quando eu era menina, São João Batista era comemorado com enormes<br />
fogueiras. Elas pareciam alcançar o próprio céu e sempre atraíam ousados jovens que saltavam<br />
as chamas dançantes! Por mais estranho que pareça, todos saíam incólumes e intocados por<br />
aqueles perigosos <strong>de</strong>dos flamejantes! Provavelmente cada um <strong>de</strong>veria sussurrar uma rápida prece<br />
para o <strong>de</strong>stemido santo.<br />
Nesse dia, também as garotas teciam lindas grinaldas com as muitas flores silvestres que<br />
brotavam nessa época do ano. Carregadas com elas, iam até o rio mais próximo ou lago e,<br />
mirando cuidadosamente, lançavam-nas na água, ao mesmo tempo em que pronunciavam antigos<br />
versos, cuja origem estava perdida nas brumas <strong>de</strong> séculos passados. Eram versos que<br />
expressavam suas esperanças e seus <strong>de</strong>sejos. Depois <strong>de</strong> cumprirem o ritual, as garotas corriam<br />
pelas margens, um lindo e colorido grupo, vestidas com suas roupas nativas. Cada uma ficava <strong>de</strong><br />
olho na sua própria grinalda com a respiração suspensa, pois a grinalda que boiasse por mais<br />
tempo significava que sua dona iria se casar naquele ano. E on<strong>de</strong> é que está o jovem coração que<br />
não almeja por um amor e um romance?<br />
Este é um dos velhos costumes <strong>de</strong> minha terra natal; isso está gravado para sempre em<br />
meu coração, como sendo uma ocasião ao mesmo tempo santa e feliz, uma alegria para sempre!<br />
Fico feliz com isso, pois esse e outros velhos costumes russos fazem minha vida mais cheia e<br />
mais rica e, <strong>de</strong> algum modo, trazem até mim a amiza<strong>de</strong> <strong>de</strong> homens e mulheres sob a Paternida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Deus.<br />
25 - CONSELHOS PRÁTICOS PARA SUPERVISORES<br />
Gostaria <strong>de</strong> ajudá-los a treinar seus grupos. <strong>Em</strong> primeiro lugar, não dê nada por certo.<br />
Verifique e verifique <strong>de</strong> novo; e seja explícito quando <strong>de</strong>r or<strong>de</strong>ns para uma <strong>de</strong>terminada tarefa.<br />
Uma boa técnica é fazê-los repetir as instruções que receberam. Muita gente hoje em dia tem<br />
problemas emocionais e se uma pessoa parece estar ouvindo, ele ou ela po<strong>de</strong>m não estar atentos!<br />
Temos <strong>de</strong> levar isso em consi<strong>de</strong>ração. Certifique-se que a pessoa está familiarizada com o<br />
equipamento necessário: martelo, ancinho, computador, tábua <strong>de</strong> passar, ou o que quer que seja.<br />
Esteja pronto para ensinar ou corrigir, na hora e não algum tempo mais tar<strong>de</strong>.<br />
Durante os primeiros dias <strong>de</strong> uma dada tarefa, verifique a qualida<strong>de</strong> e o tempo gasto com<br />
o trabalho <strong>de</strong>les. Encoraje-os aos poucos, sem pressa, a irem executando o trabalho em menos<br />
tempo, até atingirem uma velocida<strong>de</strong> normal. Quando você pu<strong>de</strong>r, experimente trabalhar junto<br />
com eles em tarefas novas. Isto será freqüentemente <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> ajuda na instrução, pelo exemplo<br />
e na melhora do uso do tempo. Isto significa que você também examinará seu próprio uso do<br />
85
tempo e se tornará mais eficiente. E você <strong>de</strong>ve estar sempre pronto a fazer a conexão <strong>de</strong> cada<br />
trabalho com seu valor espiritual. Uma maneira bonita é explicar que Cristo freqüentemente<br />
usava as palavras levantai-vos e apressai-vos, como também o faziam os profetas do Antigo<br />
Testamento, como Moisés e Jeremias. Esta constante atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> "não dar nada por certo", <strong>de</strong><br />
verificar e tornar a verificar, explicar e tornar a explicar, o uso do tempo e o encorajamento...<br />
submeterão você a uma certa crucificação, mas trará divi<strong>de</strong>ndos e valerá a pena.<br />
26 - SUPERVISORES, PLANEJEM SEU DIA!<br />
O uso certo do tempo é uma coisa que muitos <strong>de</strong> nós ainda não conseguiram dominar. A<br />
chave, naturalmente, é o planejamento. Nós <strong>de</strong>vemos planejar nosso dia, sabendo que uma<br />
chamada telefônica, um visitante, ou as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um indivíduo ou <strong>de</strong> vários, quebrará<br />
nosso plano como um duro golpe estilhaça o vidro. Mesmo assim, nós <strong>de</strong>vemos continuar a<br />
planejar diariamente, ou <strong>de</strong> preferência na noite anterior, para o dia seguinte. É bom quando ao<br />
fim do dia marcamos tudo o que não foi realizado e tentamos encaixar para o dia seguinte.<br />
Nesse planejamento diário <strong>de</strong>ve haver um firme entendimento <strong>de</strong>ste fato: um supervisor<br />
ou uma supervisora não é uma pessoa que faz tudo sozinha, mas é alguém que sabe como <strong>de</strong>legar<br />
tarefas e autorida<strong>de</strong>. Isto, mais o planejamento, são as duas chaves para usar com boa vantagem<br />
o precioso dom do tempo que Deus nos <strong>de</strong>u. Avalie o seu grupo e distribua tarefas <strong>de</strong> acordo<br />
com a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada um. Algumas tarefas, por exemplo, não precisam <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>cisão. Você <strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>rar o estado emocional e físico <strong>de</strong> cada pessoa em cada dia e planejar<br />
<strong>de</strong> acordo com isso. Tarefas monótonas e pesadas <strong>de</strong>vem ser realizadas ocasionalmente com<br />
rodízio. Então você vai adiando e aceita que <strong>de</strong>terminadas tarefas nunca são terminadas; tente<br />
encaixá-las on<strong>de</strong> houver espaço.<br />
Uma outra chave, claro, é o seu próprio uso do tempo. Você também tem seus <strong>de</strong>veres.<br />
Você é quem prepara o roteiro, é o planejador, conselheiro, a pessoa atarefada que encontra<br />
algum tempo para terminar o que foi <strong>de</strong>ixado incompleto.<br />
27 - PAZ E ORAÇÃO PARA O SUPERVISOR<br />
Existem mil meios <strong>de</strong> racionalizar (e um milhão <strong>de</strong> outras <strong>de</strong>sculpas) prontos e à mão para<br />
que você se lembre <strong>de</strong> que não tem tempo para ler ou rezar. A pressão do trabalho é a <strong>de</strong>sculpa<br />
mais comum. Mas a pedra angular <strong>de</strong> sua vida é a meditação e a oração. É vital que você se<br />
lembre disso. Porque uma vida <strong>de</strong> ação, ação unicamente, que permite que você venha a ser<br />
dominado pela ação, resultará em adorar a ação - como bons trabalhos <strong>de</strong> Deus - em vez <strong>de</strong> o<br />
próprio Deus.<br />
Mergulhe na essência <strong>de</strong> sua vocação. Não se engaje na "heresia" dos bons trabalhos.<br />
Alguns <strong>de</strong> vocês exageram sem perceber e como conseqüência ficam tensos, exaustos, nervosos.<br />
E a essência terá se perdido em algum lugar ao longo do caminho. O que é a essência?<br />
Transmitir amor e paz - pessoa a pessoa.<br />
Mesmo em suas ações, <strong>de</strong>ixe haver uma atmosfera <strong>de</strong> amor, com paz e tranqüilida<strong>de</strong>. Sua<br />
própria tensão po<strong>de</strong> ser passada para aqueles que você <strong>de</strong>ve treinar e eles ficarão confusos.<br />
Mostre-lhes que você está com uma gentil disposição para com eles, e <strong>de</strong>seja ajudá-los. Respire<br />
fundo, relaxe, e comece a falar com voz clara, calma, lembrando-se <strong>de</strong> sorrir tanto com os olhos<br />
como com os lábios. Fique em paz e aguar<strong>de</strong>. Mesmo que você esteja apressado e tenha outro<br />
compromisso, não <strong>de</strong>monstre.<br />
86
28 - DEUS É PESSOAL<br />
Se nós agirmos sem motivação espiritual, mas apenas no nível <strong>de</strong> "ter <strong>de</strong> executar uma<br />
tarefa" ou <strong>de</strong> formar bons hábitos (or<strong>de</strong>m, limpeza, pontualida<strong>de</strong>, eficiência)... por importante que<br />
isso possa ser... estaremos per<strong>de</strong>ndo nosso tempo e não chegando a lugar algum. Nosso objetivo<br />
é <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m espiritual, é respon<strong>de</strong>r ao chamado <strong>de</strong> Deus para uma tarefa específica que tem uma<br />
conotação e um espírito específicos. Para termos essa motivação espiritual, Cristo tem que se<br />
tornar um Deus pessoal... e Deus Pai realmente um Pai... e o mesmo com o Espírito Santo... o<br />
que acontece na realida<strong>de</strong> da fé, profunda fé.<br />
Mas para a maioria das pessoas Deus é uma abstração! Ele é alguém com um gran<strong>de</strong><br />
bastão, um juiz atemorizador que manda uma pessoa para o inferno se não obe<strong>de</strong>cer Seus<br />
mandamentos e os preceitos <strong>de</strong> Sua Igreja. Assim o povo proce<strong>de</strong> mais seguindo a letra da lei do<br />
que seu espírito, e crises emocionais acabam ocorrendo. Sem um Deus pessoal, sem uma<br />
motivação sobrenatural <strong>de</strong> amor e glória a Deus, sem servi-Lo e (por Ele) amar nossos próximos<br />
como a nós mesmos - e <strong>de</strong>vemos amar-nos bem! - a vocação para a qual você foi chamado não<br />
po<strong>de</strong>rá ser alcançada. Sem um Deus pessoal, nós colocamos maior ênfase em técnicas <strong>de</strong><br />
aconselhamento do que nas verda<strong>de</strong>s espirituais. Não que <strong>de</strong>vamos cessar <strong>de</strong> elucidar os<br />
problemas emocionais; entretanto <strong>de</strong>vemos ajudar um indivíduo a solucioná-los. Mas problemas<br />
emocionais são parte da vida, a cruz que todos nós carregamos.<br />
29 - BUSCANDO A UNIDADE ENTRE ORIENTE E OCIDENTE<br />
(São Pedro e São Paulo, Apóstolos)<br />
Fico me perguntando porque eu, uma refugiada da Rússia e do comunismo, fui escolhida<br />
por Deus para fundar um apostolado leigo. Deus <strong>de</strong>ve ter escolhido uma russa para trazer a esta<br />
terra na América do Norte um pouco <strong>de</strong> nossa simplicida<strong>de</strong>, um pouco <strong>de</strong> nosso espírito<br />
contemplativo e <strong>de</strong> nossa passivida<strong>de</strong>. Talvez Ele tenha apenas <strong>de</strong>sejado uma humil<strong>de</strong> ponte<br />
entre os ritos latino e oriental, pois na Rússia eu fui formada em ambos os ritos. Des<strong>de</strong> tenra<br />
infância fui criada na Ortodoxia e no Catolicismo e naquelas circunstâncias absorvi a ambos.<br />
Agora em Madonna House temos ícones do Senhor Cristo da Rússia e da Bogoroditza,<br />
que em russo quer dizer Mãe <strong>de</strong> Deus. Tais ícones foram um presente do Arcebispo Joseph Raya<br />
quando ele era um padre numa paróquia do rito melquita em Alabama. Eles nos foram oferecidos<br />
por ocasião do jubileu <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> um <strong>de</strong> nossos sacerdotes, Padre <strong>Em</strong>ile Briere. Quando<br />
foram instalados em nossa capela, eles abençoaram nosso mundo oci<strong>de</strong>ntal <strong>de</strong> forma oriental,<br />
trazendo-nos pela sua própria presença uma unida<strong>de</strong> baseada no amor, na oração e na<br />
compreensão das tradições <strong>de</strong> cada um. De certa forma, eles representam meu trabalho e minhas<br />
preces <strong>de</strong> muitos anos em prol da unida<strong>de</strong> das igrejas Oriental e Oci<strong>de</strong>ntal.<br />
30 - A VIRTUDE DA SIMPLICIDADE<br />
A simplicida<strong>de</strong> é, nos dias <strong>de</strong> hoje, <strong>de</strong> vital importância, porque as pessoas são tão<br />
complexas, tão cheias <strong>de</strong> temores e inibições, tão fragmentadas. O dicionário nos diz que<br />
simplicida<strong>de</strong> significa que consiste <strong>de</strong> uma só coisa unitária; não combinada; não complexa ou<br />
complicada; sem enfeites; sincerida<strong>de</strong>; sem artifícios; sem afetação, o que se relaciona mais com<br />
inocência do que com sofisticação. Aplique isso à vida espiritual e veremos uma pessoa <strong>de</strong><br />
87
mente simples, cujo intelecto vai à essência das coisas sem ornamentos e complicações. Ela nos<br />
faz imaginar uma pessoa livre <strong>de</strong> astúcia, verda<strong>de</strong>ira e direta, que - psicologicamente falando -<br />
vive <strong>de</strong> maneira direta, o que é sinal <strong>de</strong> maturida<strong>de</strong>.<br />
Agora, santa simplicida<strong>de</strong> é o estado da mente e da alma totalmente ocupadas por Deus.<br />
A expressão coloquial que significa santa simplicida<strong>de</strong> é ser igual a uma criança, o que nos traz<br />
imediatamente o versículo do Evangelho, "A menos que vos torneis como crianças (mente<br />
simples, não complicada, humil<strong>de</strong>, confiante) não entrarão no reino dos céus!" (Mat. 18, 3). Ser<br />
simples também quer dizer ser emocional ou psicologicamente simples, no correto sentido da<br />
palavra. Não quer dizer ser ingênuo ou ignorante. A simplicida<strong>de</strong> intelectual <strong>de</strong>ve se mesclar<br />
com essa simplicida<strong>de</strong> psicológica, e servir como um meio para ajudar-nos a nos tornar<br />
espiritualmente simples - ou como crianças - como Cristo <strong>de</strong>seja que sejamos.<br />
© online edition Madonna House Publications March 2010<br />
88
JULHO<br />
1 - SANGUE DERRAMADO SEM TEMOR<br />
Julho é o mês do Preciosismo Sangue, o Amor <strong>de</strong>rramando Seu Sangue sem temer as<br />
conseqüências, para que você e eu pudéssemos ter vida eterna. Se Cristo não tivesse <strong>de</strong>rramado<br />
Seu Preciosismo Sangue no Jardim das Oliveiras, na coluna da flagelação, na coroação <strong>de</strong><br />
espinhos, no seco e poeirento caminho para o Calvário, e na Cruz, nós estaríamos ainda<br />
caminhando na mais completa escuridão, <strong>de</strong>sprovidos da graça.<br />
Qual o preço da morte do Amor por amor <strong>de</strong> nós? Parece que nós ainda não sabemos o<br />
preço, ou não queremos pagá-lo. Pois o preço é retribuição <strong>de</strong> amor! Nós tememos amar<br />
gloriosamente, alegremente, em completa entrega, talvez porque tenhamos a ligeira percepção <strong>de</strong><br />
que amor é sinônimo <strong>de</strong> sacrifício. E nós não queremos ter nada a ver com sacrifício, que<br />
significa negação <strong>de</strong> si mesmo, disciplina, submissão à autorida<strong>de</strong>.<br />
Mas a cruz do Senhor é leve. E se nós a assumirmos voluntariamente, por amor a Ele, Ele<br />
carregará a maior parte <strong>de</strong> seu peso por nós. A chave para carregá-la está em nossas mãos, a<br />
chave do amor, pronta para abrir a fechadura do sacrifício. Elas se encaixam, uma na outra. E<br />
elas nos dão vida, não apenas nossa vida mundana, mas vida para a eternida<strong>de</strong>.<br />
A fórmula é simples: Não a minha vonta<strong>de</strong>, Senhor, mas a Tua. Uma pequena frase que,<br />
se realmente vivida, nos dará a santida<strong>de</strong>. E tudo porque, dois mil anos atrás, o Amor, que é<br />
Deus, <strong>de</strong>rramou - com amor, sem temor, alegremente - Seu sangue por nós.<br />
2 - TIRANDO FÉRIAS CRISTÃS<br />
Gostaria <strong>de</strong> falar com vocês sobre o tópico das férias. Férias proporcionam a vocês uma<br />
mudança, uma oportunida<strong>de</strong> para que você se re-crie, se "refaça" em Cristo, com Sua ajuda.<br />
Portanto, você na realida<strong>de</strong> não tira férias <strong>de</strong> Cristo, nem <strong>de</strong> seu comportamento e atitu<strong>de</strong>s cristãs.<br />
Você po<strong>de</strong> querer se "re-criar" através <strong>de</strong> algum cursinho <strong>de</strong> verão <strong>de</strong> artesanato ou artes, por<br />
exemplo. Ou você po<strong>de</strong> fazer passeios, ir a museus, observar a arte. Fazer coisas com sua<br />
família. Se você tem interesse em algum passatempo, apren<strong>de</strong> mais sobre ele. Procurar livros<br />
sobre seu passatempo ou artesanato. Tentar visitar algum conhecido seu, doente ou internado em<br />
asilo.<br />
Férias cristãs não significam ficar à toa, sem fazer nada, e satisfazer a todos os seus<br />
caprichos. Também não <strong>de</strong>sperdice suas férias vendo TV o dia todo! Isto não são férias, mas um<br />
retrocesso em sua vida espiritual. Por outro lado, não exagere também em <strong>de</strong>masiadas ativida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> boas ações. É uma coisa <strong>de</strong> se lamentar quando você regressa das férias mais cansados por<br />
causa <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s e giros sociais do que quando partiu! Com certeza, isso não é recreação,<br />
um <strong>de</strong>scanso no Senhor, uma restauração pessoal!<br />
Finalmente, retirar-se por uma semana em algum lugar calmo po<strong>de</strong> ser bom para aqueles<br />
que são especialmente "atarefados" e que estão sempre à vista. Aí as pessoas po<strong>de</strong>m se entreter<br />
com uma leitura espiritual e ter tempo para meditação e contemplação, enquanto dão ao corpo um<br />
muito merecido <strong>de</strong>scanso.<br />
89
3 - MOSTRANDO AS CHAGAS DO AMOR (S. Tomé, Apóstolo)<br />
Hoje, num mundo confuso, homens e mulheres procuram o verda<strong>de</strong>iro Cristo dos<br />
Evangelhos, Aquele sobre o qual leram, mas não parecem encontrar. Nessa procura, homens e<br />
mulheres perguntam uns aos outros, "Como você encontra o Cristo? On<strong>de</strong> está Ele? On<strong>de</strong> posso<br />
encontrá-Lo?" Parece-me que a resposta é extremamente simples: Nós encontramos o Cristo<br />
num verda<strong>de</strong>iro cristão. Os homens têm <strong>de</strong> tocar Cristo no outro.O tempo da simples conversa já<br />
passou.<br />
Após Sua ressurreição, Cristo exibiu a Seus discípulos as Suas chagas e eles acreditaram.<br />
Aquelas chagas eram um sinal visível do amor <strong>de</strong> Cristo por eles - e por todos nós. Eles viram<br />
Suas chagas <strong>de</strong> amor e acreditaram. Nenhum <strong>de</strong>les precisou dizer nada. Apenas Tomé, o<br />
incrédulo, foi quem mais tar<strong>de</strong>, ao ver aquelas chagas, exclamou, Meu Senhor e meu Deus!.<br />
Hoje, parece-me, nós <strong>de</strong>vemos igualmente mostrar as chagas <strong>de</strong> Cristo para os homens e<br />
as mulheres, pois somente assim eles acreditarão. É isso o que os homens e as mulheres<br />
procuram hoje: alguém que lhes mostre as chagas <strong>de</strong> Cristo para que possam tocar Nele e se<br />
convencerem!<br />
Mas nós temos <strong>de</strong> ir mais longe. Cristo preparou uma refeição na praia para Seus amigos.<br />
Nós também, através <strong>de</strong> nosso serviço, <strong>de</strong>vemos mostrar o quanto amamos nossos irmãos, todos<br />
aqueles que estão procurando o Senhor. Nós também temos <strong>de</strong> aceitar todos os seres humanos<br />
como eles são, sem querer modificá-los ou manipulá-los. É uma bênção e uma alegria quando<br />
eles vêm a nós.<br />
4 - AMANDO DEUS NO PRÓXIMO<br />
Homens e mulheres não conhecerão a Deus a menos que nós lhes mostremos o Cristo.<br />
Nós <strong>de</strong>vemos abrir as portas <strong>de</strong> nossos corações e lares, aceitar as pessoas como elas são, servilas,<br />
e mostrar-lhes as chagas do amor.<br />
O amor está sempre ferido porque amor e dor são inseparáveis. Mesmo uma jovem que<br />
apenas tenha começado a amar preocupa-se quando seu namorado dirige por ruas perigosas. Não<br />
existe amor sem dor.<br />
Mas on<strong>de</strong> vamos adquirir essas chagas que <strong>de</strong>vemos mostrar? On<strong>de</strong> conseguiremos<br />
forças para preparar uma ceia para alguém quando nós mesmos estamos exaustos pela labuta do<br />
dia? Como vamos encontrar forças para abrir nossos corações, que nós queremos fechar para o<br />
barulho <strong>de</strong>ste mundo incrivelmente barulhento? Como? A resposta é sempre a mesma: oração.<br />
O Senhor disse que <strong>de</strong>vemos amar nossos inimigos. Até que o façamos, não po<strong>de</strong>mos<br />
mostrar Cristo a outros homens e mulheres. Nós temos que nos esvaziar, <strong>de</strong> acordo com Seu<br />
mandamento <strong>de</strong> amor; e com Sua graça, nós po<strong>de</strong>mos permitir que Deus ame através <strong>de</strong> nós.<br />
Não, palavras não bastam. Um olhar amoroso, uma refeição preparada para um amigo,<br />
boas vindas dadas através <strong>de</strong> uma porta aberta num coração aberto, isso sim, é o que vale. Será<br />
apenas quando meu irmão ou minha irmã ficarem satisfeitos com minha ceia, quando aquela<br />
pessoa tiver contemplado minhas chagas <strong>de</strong> amor por ele ou por ela, quando aquela pessoa tiver<br />
experimentado uma total aceitação, somente então, ele ou ela estará aberto para as boas novas!<br />
90
5 - SOMOS CRISTÃOS?<br />
Nós <strong>de</strong>veríamos perguntar a nós mesmos, somos cristãos? Ser cristão significa viver em<br />
tal fé e compromisso com Cristo que isso revolucionará - virará <strong>de</strong> pernas para o ar - não só as<br />
nossas vidas, como também as vidas dos outros. Ser cristão quer dizer encarnar, atualizar,<br />
literalmente implementar os ensinamentos do Evangelho. Significa pregar o Evangelho com a<br />
própria vida. Apenas isto seria uma revolução, uma revolução espiritual, intelectual e política!<br />
É verda<strong>de</strong> que estão visíveis alguns sinais <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar: o movimento carismático, maior<br />
preocupação com os pobres e aqueles consi<strong>de</strong>rados imprestáveis, e um novo florescer da oração.<br />
Dou graças a Deus por isso!<br />
Todavia, alguma coisa ainda está faltando. Um compromisso total, apaixonado, parece<br />
estar faltando, e uma fé que transcenda o limite do tempo e do espaço. O que falta é um<br />
discernimento que possa distinguir entre a segurança que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> dos recursos humanos e a<br />
segurança da fé que é a herança <strong>de</strong> todo o cristão.<br />
A lei do amor exige que nós sejamos gente do lava-pés, aqueles que, como Cristo, <strong>de</strong>vem<br />
lavar os pés do nosso próximo. Isto simplesmente quer dizer que lavamos os pés uns dos outros<br />
quando pomos o Evangelho em prática. Isto e apenas isto é a verda<strong>de</strong>ira revolução que mudará a<br />
face da terra. O que significa ser cristão? Significa revolucionar o mundo da maneira que Cristo<br />
<strong>de</strong>sejava que ele fosse revolucionado. Quando começaremos?<br />
6 - MEDITAÇÃO PARA OS QUE TRABALHAM NA MANUTENÇÃO<br />
"Manter" quer dizer conservar inteiro e intacto, prolongar a vida e a utilida<strong>de</strong>. Também<br />
significa reparar o que está quebrado, avariado, amassado ou mal usado. Às vezes quer dizer<br />
também transformar a feiúra em beleza, como quando restaura antiguida<strong>de</strong>s. Manutenção<br />
significa restaurar algo que parece imprestável, para que seja colocado em uso novamente, com<br />
amoroso cuidado.<br />
As ferramentas para esse serviço po<strong>de</strong>m ser tinta, lixa, cera, porcas e parafusos,<br />
ferramentas mecânicas ou elétricas. E o pessoal da manutenção <strong>de</strong>ve possuir vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
conhecer tudo sobre cada ferramenta e o melhor meio <strong>de</strong> usá-la. Devem ser homens simples e<br />
organizados, muito organizados. Porque isso convém a eles, para que participem da<br />
tranqüilida<strong>de</strong> da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Deus. Dando or<strong>de</strong>m às coisas, o Senhor restaura almas partidas,<br />
corações e mentes. Os homens da manutenção têm <strong>de</strong> perceber que Deus lhes <strong>de</strong>u uma graça<br />
muito especial, a graça <strong>de</strong> curar e "restaurar" Suas criaturas. Casas, mobiliário, ferramentas -<br />
todas essas coisas são criaturas <strong>de</strong> Deus. Que graça - ser um restaurador, um renovador, um<br />
curador das criaturas <strong>de</strong> Deus! Nossa vocação é a restauração do mundo para Cristo!<br />
Os homens da manutenção <strong>de</strong>vem ser homens <strong>de</strong> oração. Então a criatura <strong>de</strong> Deus na<br />
qual trabalham com cuidado amoroso se entregará a eles e seu trabalho será tão perfeito quanto<br />
possível, <strong>de</strong> acordo com as circunstâncias. E aquele serviço, aquele reparo, aquela restauração<br />
continuarão a louvar a Deus enquanto durarem. E a Igreja inteira será enriquecida pelas graças<br />
que Deus <strong>de</strong>rrama sobre os homens da manutenção pelo seu trabalho.<br />
7 - A COMUNIDADE FUNDAMENTAL<br />
Você procura por uma comunida<strong>de</strong>? A comunida<strong>de</strong> maior e mais fundamental é a<br />
Trinda<strong>de</strong> que habita no seu coração <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o dia <strong>de</strong> seu batismo. Eu toco a Trinda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />
91
mim. Eu estendo uma das mãos em direção a Deus e a outra para o meu irmão e minha irmã.<br />
Isto é comunida<strong>de</strong>. Se eu não me esforçar para alcançá-los, a mão esticada em direção à<br />
Trinda<strong>de</strong> cairá, porque Deus não a segurará. Deus e a humanida<strong>de</strong>, a humanida<strong>de</strong> e Deus. Eu<br />
estou agora em forma <strong>de</strong> cruz.<br />
Com Seu jeito inimitável, Deus continua a extrair essa oração <strong>de</strong> nossos corações. Nessa<br />
oração <strong>de</strong> amor e serviço, toda a arrogância, inimiza<strong>de</strong> e o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> manipular têm que<br />
<strong>de</strong>saparecer. A menos que nos amemos uns aos outros como Cristo nos amou, po<strong>de</strong>mos orar e ler<br />
as Escrituras tanto quanto quisermos, mas nada acontecerá. No centro <strong>de</strong> nossa oração tem que<br />
haver amor.<br />
Temos <strong>de</strong> nos esforçar para ter hospitalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> coração. Sem ela, a hospitalida<strong>de</strong> da casa<br />
é nada. Temos <strong>de</strong> aceitar aqueles que vêm a nós exatamente como são, sem julgá-los, e com<br />
profundo respeito. A tradicional saudação russa ao próximo diz, Meu irmão é minha vida e<br />
minha irmã é minha alegria. Quando você se encontra com seu irmão ou sua irmã, não seja<br />
xereta, nem faça perguntas indiscretas. Se você ficar lá, como Cristo, aceitando a pessoa - como<br />
ela é - no interior <strong>de</strong> seu coração, Deus lhe revelará o que Ele quiser que você conheça <strong>de</strong>la.<br />
8 - ABRINDO SEU CORAÇÃO<br />
Essa atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> sempre e em qualquer lugar abrir o coração para o outro requer uma<br />
guerra espiritual. Nós temos <strong>de</strong> lutar contra tudo aquilo que não é Deus <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós. Isto é a<br />
kenosis da qual já falei, o auto-esvaziamento para ser preenchido com Deus.<br />
Isto é a verda<strong>de</strong>ira pobreza. A gente está sempre fazendo perguntas sobre a pobreza, mas<br />
isso é muito simples. Quando você toca em Deus, você serve os outros, e você é crucificado. A<br />
que po<strong>de</strong> você se agarrar? A nada. Nem mesmo à sua vonta<strong>de</strong>. Isto é pobreza! As coisas <strong>de</strong><br />
Deus são tão simples - nós somos complexos.<br />
Quando estou em forma <strong>de</strong> cruz, fico livre. Não me agarro a nada. Agora posso ser um<br />
carregador <strong>de</strong> toalha e água e lavar os pés <strong>de</strong> meu irmão e <strong>de</strong> minha irmã. Isto, meus amigos, é a<br />
resposta a todos os nossos problemas sociais e políticos. Essa resposta é baseada no meu perdão<br />
e amor por você e no seu perdão e amor por mim. Até que isso seja realizado, não po<strong>de</strong>mos<br />
esperar que aconteça alguma coisa.<br />
Nós pecamos por não cumprir o segundo mandamento <strong>de</strong> Cristo, que nos diz para<br />
amarmos nosso próximo como a nós mesmos. Nós não temos amado a nós mesmos e, portanto,<br />
não temos sido capazes <strong>de</strong> amar o nosso próximo. Nós, cristãos dos dias atuais, temos pecado<br />
porque não mostramos a face <strong>de</strong> Cristo ao mundo todo. Os primitivos cristãos mostravam Sua<br />
face <strong>de</strong> tal forma que os pagãos diziam <strong>de</strong>les, "Vejam como eles se amam uns aos outros". Nós<br />
<strong>de</strong>vemos fazer a mesma coisa.<br />
9 - O INFERNO NA CIDADE<br />
Nos meus dias <strong>de</strong> Harlem, da nossa janela podíamos ver uma terra <strong>de</strong> solidão, <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sespero e <strong>de</strong> inferno. Thomas Merton * veio e olhou da nossa janela e escreveu um poema<br />
sobre aquilo tudo. Então ele baixou seu rosto sobre o peitoril da janela e chorou, e disse, "Tenho<br />
<strong>de</strong> gastar minha vida em reparação disto".<br />
E eu concor<strong>de</strong>i, porque eu já estava passando minha vida em reparação. E eu chorei<br />
também e minhas lágrimas caíram ao chão e, estranhamente, pareciam reverberar. Parecia que<br />
elas estavam caindo sobre um teto <strong>de</strong> zinco.<br />
92
Havia um pequeno menino negro em meio àquela <strong>de</strong>solação, essa armadilha infernal<br />
permitida na cida<strong>de</strong> que é Nova Iorque, e eu vi o Cristo Menino segurando um bastão imaginando<br />
se haveria algum lugarzinho on<strong>de</strong> talvez ele e seus amigos pu<strong>de</strong>ssem jogar uma partida <strong>de</strong><br />
baseball. Mas minha mente vagou diante <strong>de</strong>sse quadro, pois eu vivia no meio daquilo. Eu chorei<br />
porque o Cristo Menino estava segurando um bastão procurando um campo on<strong>de</strong> jogar. Ele era<br />
um menino negro. E eu gritei: "Senhor, tenha pieda<strong>de</strong>! O que fizemos a Você? O que fizemos<br />
por Você?".<br />
E naquele momento parecia-me que meu coração ficava maior, maior, maior. Até que ele<br />
abraçou todos os Harlem da América e todas as crianças negras que seguravam um bastão mas<br />
não podiam achar um campo para jogar.<br />
10 - NÓS SOMOS FRÁGEIS VASOS - E DAÍ?<br />
Você, como o Cristo, <strong>de</strong>ve encarnar-se em extrema simplicida<strong>de</strong>, humilda<strong>de</strong> e igual<br />
fragilida<strong>de</strong> - na corrente do dia-a-dia da vida da gente que vive no mundo, nas suas praças<br />
públicas, nos seus lugares prazerosos, nas suas favelas e nos seus palácios, seus lugares <strong>de</strong><br />
estudo, seus lugares sagrados e seus lugares <strong>de</strong> pecado.<br />
Ali você tem que dar testemunho da encarnação. Do Cristo. Ali você <strong>de</strong>ve começar a<br />
viver em sua própria pessoa, ou eu <strong>de</strong>veria dizer reviver, Belém e Nazaré.<br />
O que importa se você se acha incapaz? O que interessa se você acha que não tem<br />
contribuído muito para a igreja?<br />
O que interessa se você se julga um pecador? Po<strong>de</strong> crer. Você é. E eu também. E todos<br />
nós somos. Mas não se incomo<strong>de</strong> com isso. Não impeça que Sua graça penetre em sua alma,<br />
<strong>de</strong>ixando-se ficar em sua própria miséria. Nós somos todos <strong>de</strong>ssa espécie <strong>de</strong> miseráveis; todos<br />
pecadores.<br />
Medite, em vez disso, o incompreensível mistério <strong>de</strong> ter sido escolhido por Ele.<br />
11 - REZANDO A ORAÇÃO DE JESUS (S. Bento, Aba<strong>de</strong>)<br />
Quando você ama, uma única pessoa importa a você e é aquela que você ama. Quando<br />
você ama a Deus, você tem <strong>de</strong> se entregar a Ele. O ego tem que <strong>de</strong>saparecer. A oração é esse<br />
auto-esvaziamento. Significa que ficamos em silêncio e esperamos.<br />
A Oração <strong>de</strong> Jesus po<strong>de</strong>rá ser suficiente para você. "Senhor Jesus Cristo, Filho do Deus<br />
Vivo, tem pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> mim, um pecador". Por que po<strong>de</strong>ria ela ser suficiente? Porque ela traz<br />
Jesus para a sua vida. A repetição do nome sagrado traz a presença da pessoa, pois na tradição<br />
hebraica o nome <strong>de</strong> uma pessoa é a pessoa. Assim está escrito no Novo Testamento, "Ao nome<br />
<strong>de</strong> Jesus, todos os joelhos se dobrarão". Quando você invoca o nome <strong>de</strong> Jesus, você está<br />
mergulhado no Seu nome, imerso no Seu nome, imerso em Sua Pessoa.<br />
Não tente ficar concentrado <strong>de</strong>mais. Você po<strong>de</strong>rá estar rezando a Oração <strong>de</strong> Jesus mesmo<br />
que seus pensamentos estejam num chapéu que você viu há alguns dias. Você po<strong>de</strong> continuar a<br />
rezar a Oração <strong>de</strong> Jesus com um chapéu em sua mente. Você não precisa ficar todo nervoso e<br />
dizer, "Aquele chapéu <strong>de</strong>sgraçado! Gostaria que ele <strong>de</strong>saparecesse! Há dias que vem<br />
interrompendo meus pensamentos e minha oração!". Você não precisa se preocupar com coisas<br />
<strong>de</strong>sse tipo.<br />
Os cristãos russos nada sabem sobre ioga, mantras, respiração especial, e todas as orações<br />
dos não cristãos do Oriente. Nem os monges gregos - eles rezam a Oração <strong>de</strong> Jesus com<br />
93
naturalida<strong>de</strong> e os russos apren<strong>de</strong>ram isso com eles. "Senhor Jesus Cristo, Filho do Deus Vivo,<br />
tem pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> mim, um pecador". Inspire. Expire. É como respirar, você não faz isso<br />
conscientemente; apenas acontece. Essa é a Oração <strong>de</strong> Jesus.<br />
12 - O NOME DE JESUS<br />
Mesmo em nossa socieda<strong>de</strong> secular, um nome é alguma coisa muito po<strong>de</strong>rosa. Alguns<br />
nomes sugerem tremenda beleza; outros evocam terror. Veja, por exemplo, ao nome Adolf Hitler<br />
todo o mundo se encolhe, mesmo as novas gerações que pouco sabem sobre ele. Mas, quando<br />
você pronuncia o nome <strong>de</strong> Jesus, "Ele é acompanhado pela Sua imediata manifestação, pois o<br />
nome é uma forma <strong>de</strong> Sua presença", diz o teólogo russo Paul Evdokimov. Basta dizer "Jesus",<br />
e vupt!, Deus está aqui! Você O trouxe. Você O fez presente. Quando você diz "Jesus", muitas<br />
coisas começam a acontecer.<br />
Quando você diz "Jesus", a palavra já é uma oração. Lembre-se <strong>de</strong> que, "Se dois ou três<br />
se reunirem em Meu nome, Eu estarei no meio <strong>de</strong>les". Muito mais ainda quando dizemos, "Vem,<br />
Senhor Jesus", como se faz no Advento. "Vem, Senhor Jesus". E Ele vem! Isto é uma realida<strong>de</strong>,<br />
um <strong>de</strong>sses estranhos mistérios que existem entre Deus e a humanida<strong>de</strong>. Nós chamamos e Deus<br />
Se rebaixa por Sua vonta<strong>de</strong> e toma novamente a forma <strong>de</strong> um servo.<br />
Uma vez que você realmente compreenda o que você está fazendo e comece a rezar o<br />
nome <strong>de</strong> Jesus, isto continuará a acontecer mesmo sem sua vonta<strong>de</strong> consciente. Des<strong>de</strong> que você<br />
tenha invocado o nome <strong>de</strong> Jesus, Seu nome permanecerá com você porque você assim o <strong>de</strong>seja.<br />
Ele também <strong>de</strong>seja estar com você e os dois <strong>de</strong>sejos se fun<strong>de</strong>m em um só.<br />
13 - ORAR E FAZER A VONTADE DE DEUS<br />
Fico assustada quando ouço jovens dizer, "Deus falou-me para fazer isto ou aquilo". É<br />
fácil dizer, "Eu recebi tudo isso enquanto orava", mas a menos que isso seja verificado por<br />
alguém com verda<strong>de</strong>iro conhecimento sobre vida espiritual, essa <strong>de</strong>claração soará falsa.<br />
Eu acredito firmemente que Deus inspira e atrai as pessoas, mas quando Ele o faz, há<br />
invariavelmente um certo sentido quanto às circunstâncias que envolvem a vida <strong>de</strong> alguém. Uma<br />
mulher certa vez escreveu para saber se po<strong>de</strong>ria juntar-se a nós. Ela estava absolutamente<br />
convicta <strong>de</strong> que tinha vocação para o apostolado leigo. Quando ela chegou, <strong>de</strong>scobriu-se que ela<br />
também tinha um marido e cinco filhos. Não precisou muito para se imaginar qual teria sido a<br />
vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus em tal situação!<br />
Os jovens hoje querem fazer peregrinações. Eu sou inteiramente a favor <strong>de</strong><br />
peregrinações. Minha mãe fazia peregrinações. Ela adorava peregrinações e prontamente<br />
caminhava duzentos <strong>de</strong> quilômetros ou mais para visitar um santuário ou um lugar sagrado. Mas,<br />
em primeiro lugar, cuidava dos filhos. Também tinha que ser em uma época em que meu pai<br />
estivesse em viagem e não estivesse precisando <strong>de</strong>la. A casa tinha <strong>de</strong> estar bem cuidada.<br />
Somente então minha mãe partia. Se qualquer <strong>de</strong>ssas condições não estivesse satisfeita, ela não<br />
iria.<br />
Assim é que Deus normalmente opera. Ele nos fala, mas aquilo que ouvimos tem <strong>de</strong> ser<br />
verificado em relação às nossas responsabilida<strong>de</strong>s e ao nosso próprio modo <strong>de</strong> vida.<br />
94
14 - AMOR, VERDADE E ORAÇÃO<br />
A verda<strong>de</strong> é amor. Para que nossa oração tenha raízes no amor, nós temos que estar<br />
prontos para enfrentar abertamente os conflitos. Quando pessoas estão zangadas umas com as<br />
outras, elas <strong>de</strong>vem se reunir e colocar tudo para fora. Devem estar prontas para dizer, "Olhe, eu<br />
estou zangado. É por causa disso, e é isso que está realmente em meu coração". Elas <strong>de</strong>vem<br />
também estar preparadas para aceitar as conseqüências <strong>de</strong>ssa abertura. Po<strong>de</strong> ser que seja a outra<br />
pessoa gritando umas verda<strong>de</strong>s para ela: "Você está zangada porque você <strong>de</strong>seja atenção e<br />
ninguém está po<strong>de</strong>ndo aten<strong>de</strong>r às suas carências!". Ou as conseqüências po<strong>de</strong>m ser mais<br />
drásticas e então nós teremos <strong>de</strong> dizer aquilo que temos a dizer sem medo. Como somos<br />
humanos, nós bem po<strong>de</strong>mos ter medo. Mas falaremos a verda<strong>de</strong>, sem restrições. Se o fizermos,<br />
as pessoas não apenas acreditarão no que dizemos, mas acreditarão em nossas próprias pessoas.<br />
Através <strong>de</strong> nossas vidas, teremos <strong>de</strong> enfrentar as coisas honestamente. Teremos <strong>de</strong> fazê-lo<br />
com nossos maridos e mulheres, com nossos amigos e com nossos companheiros <strong>de</strong> trabalho.<br />
Nós nada conseguiremos tentando disfarçar nossa raiva. Enquanto nos recusarmos a enfrentar as<br />
situações como são, reconhecendo nossas próprias falhas, ou perguntando ao outro se ele ou ela<br />
não estão errados, haverá confusão e falta <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> entre nós e Deus. Nós somos chamados à<br />
verda<strong>de</strong> e ao perdão, mas somos chamados também para sermos a cruz na qual o outro é<br />
crucificado. Temos <strong>de</strong> ser honestos sobre isso. Quando vivemos na verda<strong>de</strong>, nossos corações<br />
estarão em paz e nossas orações, purificadas pela verda<strong>de</strong>, chegarão à presença <strong>de</strong> Deus.<br />
15 - A CONFISSÃO É ESSENCIAL<br />
Por que é o sacramento da Confissão tão importante? Se você se confessa com<br />
freqüência, você peca menos. Ela o ajuda a superar as dificulda<strong>de</strong>s e o livra dos obstáculos. A<br />
simples enunciação <strong>de</strong> seus pecados faz você pensar. Uma tremenda graça é conferida a quem se<br />
confessa freqüentemente. É muito importante que se tenha uma alma limpa. Você consegue<br />
trabalhar melhor. Você consegue fazer o bem ao próximo <strong>de</strong> uma forma melhor.<br />
Sua alma estará uma bagunça, caso você <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> ir à Confissão por mais <strong>de</strong> dois meses.<br />
Tudo ficará <strong>de</strong>sarrumado, como peças <strong>de</strong> móveis amontoadas umas sobre as outras. Você<br />
certamente se aperceberá dos gran<strong>de</strong>s pecados, mas os pequenos pecados se irão amontoando e<br />
você terá uma combinação <strong>de</strong> pecados - pequenos pecados, uns sobre os outros. Ao final você<br />
pensará, "Para que serve isso?" Antes que você perceba você não estará mais participando da<br />
Comunhão e a próxima coisa será não ir mais à igreja. Por isso, como uma espécie <strong>de</strong> chave para<br />
os outros sacramentos, a Confissão é essencial. Ela é uma chave para sua vida inteira.<br />
Nós somos pecadores diante <strong>de</strong> Deus. É muito, muito importante ajoelhar-se e dizer ao<br />
Senhor, "Eu estou realmente arrependido". Dizer isso para uma outra pessoa que é o sacerdote é<br />
absolutamente necessário. Faz bem dizer "Perdão" diretamente a Deus. Mas ir ao sacerdote em<br />
Confissão e reconhecer diante <strong>de</strong> uma outra pessoa que estou com problemas é muito importante.<br />
Se você se esqueceu da Confissão, como tem acontecido com tanta gente ultimamente, lembre-se<br />
<strong>de</strong>la novamente.<br />
95
16 - MARIA E A REJEIÇÃO (Nossa Senhora do Carmo)<br />
Maria era realmente uma pessoa maravilhosa, sensível além <strong>de</strong> toda a sensibilida<strong>de</strong><br />
humana. Como ela conseguiu suportar o caminho da Cruz com Cristo? Ela O viu cair; ela viu<br />
Seu corpo ser espancado; ela viu aquela Face que lhe tinha sido tão querida coberta <strong>de</strong> lama e<br />
poeira. Exatamente como predisse Simeão, ela sentiu uma espada atravessar seu coração.<br />
Quando Jesus caiu em meio à zombaria e rejeição do povo, ela estava lá. Ela se manteve unida a<br />
Ele. Eles sempre foram unidos. O que Ele sentiu, ela sentiu, pois não era ela Sua mãe e não<br />
sabia ela, acima <strong>de</strong> todos, quem Ele era realmente?<br />
Quando terminou a provação, ela O <strong>de</strong>itou em seus braços; ela O segurou bem junto a si.<br />
Eu observei cuidadosa e longamente a Pietá em Roma. Como era profundo o seu sentimento.<br />
Ambos, Ele e ela foram rejeitados pela multidão, por aqueles que Ele havia curado e ajudado.<br />
Enquanto ela O sustinha em seus braços, <strong>de</strong>via estar antevendo, com a sabedoria que era <strong>de</strong>la, a<br />
amarga rejeição que sofreriam seu Filho e ela através dos séculos.<br />
Mas ela se lembrou das palavras que Ele dissera a São João e a ela. Ele lhe pedira que<br />
fosse a mãe dos homens e das mulheres. Mas foi ela aceita? Quantos <strong>de</strong> nós a aceitamos?<br />
Quantos <strong>de</strong> nós aceitamos seu Filho?<br />
17 - AS CHAVES DA TRANQÜILIDADE, ORDEM E FELICIDADE<br />
Na gran<strong>de</strong> tranqüilida<strong>de</strong> da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Deus, repousam todas as coisas - todas as coisas<br />
exceto os homens e as mulheres que, com seu estupendo dom do livre arbítrio, po<strong>de</strong>m se recusar<br />
a aceitar tanto a or<strong>de</strong>m e sua tranqüilida<strong>de</strong>, como o próprio Deus. Assim, homens e mulheres<br />
po<strong>de</strong>m escolher se querem viver sem esperança, sem repouso, sem amor.<br />
Por causa <strong>de</strong> tantos <strong>de</strong> nós que nos recusamos a aceitar a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Deus é que há uma<br />
escuridão, um medo, uma infelicida<strong>de</strong> e uma <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m que dirigem o mundo. Nós estamos<br />
cercados por todos os lados por presságios <strong>de</strong> aniquilação e <strong>de</strong>struição. Como po<strong>de</strong>ria ser<br />
diferente? Ninguém po<strong>de</strong> <strong>de</strong>safiar a Deus impunemente.<br />
Os homens e as mulheres procuram em vão escapar da escuridão, do temor e da<br />
infelicida<strong>de</strong>, ou buscar alguma solução natural para essas coisas. Mas é em vão porque se<br />
"escapam" é diretamente para longe <strong>de</strong> Deus, e suas soluções não têm raízes nas leis <strong>de</strong> Deus.<br />
Contudo, aquilo que eles <strong>de</strong>vem fazer, aquilo que <strong>de</strong>vem evitar se <strong>de</strong>sejam paz,<br />
felicida<strong>de</strong>, or<strong>de</strong>m e uma vida sem medos, está esquematizado para a humanida<strong>de</strong> nos Dez<br />
Mandamentos.<br />
Voltemos nossa atenção para esses mandamentos, repetindo com o salmista: "Vossos<br />
preceitos são minhas <strong>de</strong>lícias, meus conselheiros são as Vossas leis... Abri meus olhos para que<br />
eu veja as maravilhas <strong>de</strong> Vossa lei... Prostrada no pó está a minha alma, restituí-me a vida<br />
conforme Vossa promessa" (Salmo 119:24,18,25).<br />
18 - O PRIMEIRO MANDAMENTO<br />
Eu Sou o Senhor teu Deus, tu não terás outros <strong>de</strong>uses diante <strong>de</strong> Mim.<br />
Como são poucos <strong>de</strong>ntre nós aqueles que se lembram do primeiro mandamento! Como é<br />
pequeno o punhado <strong>de</strong> gente que ainda examina sua consciência em face <strong>de</strong>le! Nós superamos e<br />
nos livramos daqueles ídolos grosseiros dos dias passados. Estátuas com cabeças <strong>de</strong> bezerro não<br />
provocam mais que riso. Mas nós fazemos pior. Nós damos ré<strong>de</strong>as soltas às nossas paixões. E<br />
96
nós as transformamos em <strong>de</strong>uses. Enquanto prestamos culto a Deus da boca para fora,<br />
queimamos o incenso da nossa <strong>de</strong>voção a esses novos ídolos - nós fazemos <strong>de</strong>uses do sucesso,<br />
riqueza, po<strong>de</strong>r e sexo.<br />
Nós transformamos o sexo, o gran<strong>de</strong> e divino dom que nos foi dado para procriação <strong>de</strong><br />
filhos e fazer crescer santos <strong>de</strong> Deus num ídolo monstruoso e repulsivo. E nós o adoramos<br />
ar<strong>de</strong>ntemente, num imenso <strong>de</strong>safio à primeira lei <strong>de</strong> Deus.<br />
Se <strong>de</strong>sprezarmos o primeiro mandamento, o resto <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ter qualquer sentido. Vamos<br />
todos cair <strong>de</strong> joelhos enquanto ainda é tempo. E, com lágrimas <strong>de</strong> tristeza e compunção, vamos<br />
pedir perdão a Deus pelos nossos caminhos pecaminosos, oferecendo-nos e as nossas vidas em<br />
reparação por eles. Peçamos por luz e coragem para obe<strong>de</strong>cer com fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> o primeiro e mais<br />
importante mandamento <strong>de</strong> Deus e ensinar aos outros para que façam o mesmo, pelo nosso<br />
exemplo. Assim, juntos, nós e o mundo que queremos restaurar para Deus, po<strong>de</strong>remos amá-Lo e<br />
adorá-Lo diariamente cada vez mais, po<strong>de</strong>ndo repousar na gran<strong>de</strong> e sagrada tranqüilida<strong>de</strong> da Sua<br />
or<strong>de</strong>m, aqui e para sempre.<br />
19 - O SEGUNDO MANDAMENTO<br />
Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão.<br />
Este mandamento é a continuação do primeiro, no qual Deus nos faz saber que Ele <strong>de</strong>seja<br />
nosso culto e nossa adoração. Neste segundo mandamento Ele nos exorta para que nos enchamos<br />
<strong>de</strong> veneração e respeito pelo Seu divino nome. Ele nos or<strong>de</strong>na honrá-lo, e que cui<strong>de</strong>mos para não<br />
usá-lo em vão.<br />
Não é apenas temor que nos <strong>de</strong>veria impedir <strong>de</strong> profanar o nome <strong>de</strong> Deus. Deve ser o<br />
amor a selar nossos lábios e novamente o amor <strong>de</strong>veria abri-los para usar Seu santo nome como<br />
uma benção, uma alegria, uma palavra pronunciada com toda a reverência e respeito com que<br />
nossas mentes, almas e corações sejam capazes <strong>de</strong> fazê-lo.<br />
Paremos por um momento...paremos e pensemos realmente no que está sendo pedido!<br />
Por incrível que possa parecer, Deus nos pe<strong>de</strong>, às suas criaturas, que O amemos. Que Ele exija<br />
<strong>de</strong> nós adoração é compreensível. Mas amor? Só pensar nisso <strong>de</strong>veria bastar para que alguém se<br />
sentisse feliz, com uma felicida<strong>de</strong> além <strong>de</strong> todo o entendimento!<br />
Se nós começarmos a amá-Lo, outros o farão também. On<strong>de</strong> existe amor, há respeito.<br />
Quando o amor entra, os pecados contra o segundo mandamento - blasfêmia, perjúrio, e o mau<br />
uso do santíssimo nome <strong>de</strong> Deus - <strong>de</strong>saparecerão. Po<strong>de</strong>ria haver maior objetivo do que passar<br />
nossas vidas fazendo com que Seu santíssimo nome seja amado e adorado - <strong>de</strong> tal forma que<br />
todos os joelhos, verda<strong>de</strong>iramente, se dobrem quando for pronunciado?<br />
20 - O TERCEIRO MANDAMENTO<br />
Guardarás o dia <strong>de</strong> sábado e o santificarás.<br />
Quanto mais dias temos em nossas vidas, mais tememos ao vê-los passar. Mas como<br />
seriam alegres esses dias fugazes, se nós os enquadrássemos entre duas missas! Quão santos se<br />
tornariam, se enraizados em Deus! Nossa fé, nossa esperança e nosso amor os transformariam<br />
em <strong>de</strong>graus <strong>de</strong> ouro <strong>de</strong> uma escada que sobe diretamente até Deus. Mas, perversas criaturas que<br />
somos, continuamos a sentir medo, lamentando sua passagem. No entanto Deus nos dá o segredo<br />
dos dias, o segredo da própria vida neste terceiro mandamento.<br />
97
Um dia em sete <strong>de</strong>ve pertencer a Ele. Um em sete! Como é gentil, como é bom, como é<br />
<strong>de</strong>licado nosso Deus, dando-nos esta oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer uma pausa e lembrar que fomos<br />
criados para amá-Lo, adorá-Lo e serví-Lo. Tão pouco para dar - um dia em cada sete. Tanto a<br />
ganhar fazendo isso! Vamos dá-lo inteiramente, completamente, totalmente.<br />
O mínimo que po<strong>de</strong>mos fazer no dia <strong>de</strong> Deus é evitar o pecado. E vamos evitar trabalhar<br />
pelo lucro! Nós temos outros seis dias para comprar e ven<strong>de</strong>r. Por que profanar o sétimo, o<br />
único que o Senhor pe<strong>de</strong> para Si? A menos que nosso "comprar e ven<strong>de</strong>r" sejam <strong>de</strong> tal natureza<br />
que pertençam a Deus e ao nosso próximo, vamos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> fazê-lo por amor a Ele, que <strong>de</strong>u Sua<br />
vida por amor <strong>de</strong> nós.<br />
Se assim proce<strong>de</strong>rmos, per<strong>de</strong>remos o medo <strong>de</strong> ver os dias passarem com o tempo.<br />
21 - O QUARTO MANDAMENTO<br />
Honrarás teu pai e tua mãe<br />
Os primeiros três mandamentos são referentes a Deus. Este mandamento é o primeiro dos<br />
restantes que tratam do amor que <strong>de</strong>veríamos ter por nossos irmãos.<br />
Nós <strong>de</strong>vemos honrar nossos pais e mães na nossa juventu<strong>de</strong> através <strong>de</strong> uma obediência<br />
implícita em tudo, exceto no pecado, e em completo respeito e um temor filial, que tem suas<br />
raízes em um amor que almeja nunca ferir o objeto <strong>de</strong> seu amor. Nós <strong>de</strong>vemos honrar nossos<br />
pais e mães na ida<strong>de</strong> adulta, mesmo até a morte. Nós <strong>de</strong>vemos cuidar <strong>de</strong>les quando necessitarem,<br />
mesmo às custas <strong>de</strong> nossos planos, vocações, <strong>de</strong>sejos e sonhos, e até às custas <strong>de</strong> nossas vidas, se<br />
necessário. Porque eles vêm em primeiro lugar, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Deus, sendo nossos mais amados e os<br />
"próximos" mais próximos.<br />
Se aos jovens mo<strong>de</strong>rnos fosse incutido esse ensinamento - se apenas aceitassem essas<br />
lições - como seria diferente o nosso mundo! Eles mostrariam seus frutos em suas vidas diárias e<br />
transfeririam esses ensinamentos para a obediência às autorida<strong>de</strong>s legais, compreen<strong>de</strong>ndo que<br />
isso também vem <strong>de</strong> Deus. Entretanto, no vocabulário mo<strong>de</strong>rno, a palavra obediência é obsoleta.<br />
Talvez porque a obediência implica em autodisciplina e o sacrifício da própria vonta<strong>de</strong> em prol<br />
do bem comum. Mas obediência também significa, em última análise, liberda<strong>de</strong>! Porque<br />
somente a pessoa obediente é livre, como todos os filhos <strong>de</strong> Deus <strong>de</strong>vem ser livres, Nele.<br />
22 - O QUINTO MANDAMENTO<br />
Não matarás.<br />
A socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna cria explicações sem consistência com muita facilida<strong>de</strong> sobre o<br />
quinto mandamento. Continuamos a matar, não apenas em guerras, mas fora <strong>de</strong>las - com técnica,<br />
sadicamente, profissionalmente, avidamente - como nos campos <strong>de</strong> concentração nazistas, on<strong>de</strong><br />
matar atingiu uma diabólica perfeição, ou nas prisões e campos <strong>de</strong> trabalhos forçados comunistas.<br />
A vida humana tem se tornando barata em todo o mundo. Os assassinatos, os mais sensacionais,<br />
quase cessaram <strong>de</strong> nos interessar. Nós os observamos languidamente, como acontecimentos<br />
ordinários. Contudo o mal é mais profundo. Existe o assassinato através do aborto. Este é o mais<br />
comum dos meios <strong>de</strong> matar. Poucos se incomodam. O controle da natalida<strong>de</strong> vestiu-se com<br />
roupas da respeitabilida<strong>de</strong> e "ciência" - a ciência <strong>de</strong> fazer <strong>de</strong>saparecer do mundo a mais nobre<br />
criação <strong>de</strong> Deus.<br />
Nós somos filhos do amor, da paz e da luz <strong>de</strong> Deus - o que estamos fazendo sobre tudo<br />
isso? São nossas vozes ouvidas acima da conspiração <strong>de</strong> silêncio e indiferença que cerca essa<br />
98
incrível ruptura do mandamento do nosso Senhor e Deus? Ou estamos calados? Calados com o<br />
silêncio covar<strong>de</strong> da torpeza, do medo ou da complacência? Parece mesmo é que estamos<br />
calados!<br />
Senhor, ten<strong>de</strong> pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> nós, Vossos filhos perdidos! Dai-nos, o Espírito Santo, o dom<br />
da fortaleza, para que possamos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser cúmplices nestes atos, pelo nosso silêncio<br />
criminoso, pelo nosso pecado da indiferença. Vamos ser testemunhas da Vossa lei, vamos dar<br />
testemunho daquele amor que expulsa todo o medo, seremos testemunhas até a morte, se preciso<br />
for.<br />
23 - O SEXTO MANDAMENTO<br />
Não cometerás adultério.<br />
Amor é a palavra mais mal-entendida na nossa era sem amor. Talvez ela nunca tenha sido<br />
usada tanto e significado tão pouco. Nós somos confrontados com ela <strong>de</strong> manhã à noite, com a<br />
mídia sugerindo mil maneiras <strong>de</strong> provocar "amor". Contudo, o verda<strong>de</strong>iro Amor nasceu numa<br />
manjedoura e morreu numa Cruz. O verda<strong>de</strong>iro Amor é sinônimo <strong>de</strong> sacrifício e serviço. O<br />
amor conjugal foi gerado pelo próprio Deus e elevado ao tremendo status <strong>de</strong> sacramento pelo Seu<br />
Filho. Um homem e uma mulher unidos por um vínculo sagrado são um milagre <strong>de</strong> amor – duas<br />
pessoas distintas fundidas em uma única pela beleza criativa. Eles foram elevados por Deus à<br />
situação <strong>de</strong> co-autores com Ele na criação <strong>de</strong> um outro ser humano, uma outra alma imortal - uma<br />
criança.<br />
Não é <strong>de</strong> espantar, pois que o sexto mandamento soe trovejante e formidável aos nossos<br />
ouvidos humanos. E está muito certo. O adultério é um pecado que fere o amor, um pecado <strong>de</strong><br />
injustiça contra uma pessoa ou pessoas inocentes, um pecado contra o matrimônio, um pecado<br />
social que corrói a própria estrutura da socieda<strong>de</strong>.<br />
Se nós queremos restaurar o mundo para Cristo, nós primeiro temos <strong>de</strong> esclarecer o real<br />
significado do matrimônio para o mundo que esqueceu o próprio significado da palavra amor;<br />
muito mais a santida<strong>de</strong> do amor conjugal. Então temos que restaurar o lar.<br />
Senhor, ten<strong>de</strong> pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> nós! Abri nossos olhos. Dai-nos a graça <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r a<br />
virtu<strong>de</strong> da pureza. Restaurai o amor conjugal para o elevado lugar em que ele costumava estar - o<br />
alto da Vossa Cruz - que é a chave para a alegria, felicida<strong>de</strong> e vida eterna.<br />
24 - O SÉTIMO MANDAMENTO<br />
Não furtarás.<br />
Apesar <strong>de</strong> todo o mundo parecer concordar que não se <strong>de</strong>ve furtar, o furto cresce, dia após<br />
dia, em larga escala. Nós tomamos os bens do nosso próximo - sem violência, naturalmente -<br />
mas sem seu total conhecimento e consentimento, sob falsos pretextos. Às vezes isso é feito<br />
através <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s subornos políticos; ou então por crimes do colarinho branco; ou fazendo <strong>de</strong><br />
"trouxas". Os pobres, quando apanhados, são sempre processados até a con<strong>de</strong>nação máxima da<br />
lei. Os ricos, aqueles que roubam em larga escala, raramente são levados ao tribunal. E quando<br />
o são, o povo saco<strong>de</strong> a cabeça com pena <strong>de</strong> ver um tal figurão ter sido tão <strong>de</strong>scuidado a ponto <strong>de</strong><br />
ser <strong>de</strong>scoberto! "Levar o seu" é consi<strong>de</strong>rado um sinal <strong>de</strong> inteligência e coragem!<br />
A honestida<strong>de</strong>, a sincerida<strong>de</strong>, a probida<strong>de</strong> da mente e da alma - essas virtu<strong>de</strong>s fora <strong>de</strong><br />
moda raramente são praticadas. Talvez por causa disso a nossa situação internacional é o que é.<br />
Quando homens e mulheres se tornam complacentes com relação ao roubo, quando os<br />
99
fundamentos dos planos <strong>de</strong> Deus são perdidos <strong>de</strong> vista, quando a honestida<strong>de</strong> se torna sinônimo<br />
<strong>de</strong> burrice ou não "estar por <strong>de</strong>ntro", ou quando não se tira vantagem dos outros, segue-se que as<br />
nações, que são compostas <strong>de</strong> indivíduos que per<strong>de</strong>ram o senso das proporções, tornam-se<br />
ladrões em gran<strong>de</strong> escala. E elas roubam o povo inteiro, inclusive seus países, enquanto o resto<br />
do mundo observa impassível!<br />
Nós estamos vivendo estes tempos. Apesar disso vamos nos encher <strong>de</strong> coragem e ser<br />
honestos conosco e com nossos semelhantes. Vamos incutir em nossas cabeças e nas dos outros<br />
que seremos con<strong>de</strong>nados por aquilo que roubamos; pois seja o que for o que roubarmos <strong>de</strong><br />
homens, nós na verda<strong>de</strong> estaremos roubando do próprio Deus.<br />
25 - O OITAVO MANDAMENTO (S. Tiago, Apóstolo)<br />
Não levantarás falso testemunho contra teu próximo.<br />
Este mandamento proíbe mentiras <strong>de</strong> qualquer espécie, difamação, <strong>de</strong>tração, calúnia,<br />
falatórios maldosos e perjúrio. Apesar disso, tantos <strong>de</strong> nós nem pensamos nisso. No país inteiro,<br />
reputações são arruinadas, almas são feridas, corações se enchem <strong>de</strong> tristeza, e mentes são<br />
perturbadas pelo <strong>de</strong>sgosto por aqueles que usam suas línguas com malícia contra seus irmãos e<br />
irmãs em Cristo.<br />
Pessoas que tentam servir a Deus, cada um à sua maneira, cada um conforme sua vocação,<br />
são sujeitas às torturas das acusações injustas que atacam sua moral, suas vidas, seus motivos e<br />
intenções e <strong>de</strong>sencorajam e dificultam o trabalho <strong>de</strong> Deus que tentam fazer.<br />
Milhares <strong>de</strong> cidadãos honestos são levados à ruína pelos que se esqueceram <strong>de</strong> que Deus<br />
nos <strong>de</strong>u este mandamento. Não existe já tristeza em <strong>de</strong>masia nesta nossa trágica terra, sem que se<br />
<strong>de</strong>ixe solta essa onda <strong>de</strong> traições e falsida<strong>de</strong>s?<br />
Não po<strong>de</strong>mos restaurar a terra para o Cristo que é o Senhor, nas areias movediças dos<br />
boatos e mentiras. Como po<strong>de</strong>mos sonhar em levar a homens e mulheres a completa verda<strong>de</strong>, se<br />
somos traficantes <strong>de</strong> mentiras? Temos que limpar <strong>de</strong> nossos corações o mau <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> falar<br />
<strong>de</strong>scuidadamente, erroneamente, sobre o nosso próximo, para que quando estivermos diante <strong>de</strong><br />
Cristo, o Senhor, no dia do julgamento, nós possamos estar livres do medo.<br />
26 - O NONO MANDAMENTO (Ss. Joaquim e Ana)<br />
Não cobiçarás a mulher <strong>de</strong> teu próximo<br />
Este mandamento e o que se segue nos proíbem em pensamentos e <strong>de</strong>sejos o que o sexto e<br />
o sétimo nos proíbem em atos. Somente Deus po<strong>de</strong>ria fazer tais leis, porque para fazê-lo é<br />
necessário que se conheça o coração <strong>de</strong> cada indivíduo em sua inteira profun<strong>de</strong>za. A justiça<br />
humana não po<strong>de</strong> conhecer os corações dos homens e mulheres. Portanto ela não po<strong>de</strong>, e não o<br />
faz, proibir <strong>de</strong>sejos e pensamentos interiores. Nem po<strong>de</strong> puni-los. Somente as ações externas<br />
que contrariam a justiça estão sob o po<strong>de</strong>r da lei humana. Mas a lei <strong>de</strong> Deus rege não apenas<br />
nossas ações exteriores, mas até mesmo nossos <strong>de</strong>sejos íntimos - quão santa e pura é a lei <strong>de</strong><br />
Deus!<br />
Quanto nossa geração tem se <strong>de</strong>sviado do espírito e da letra da lei <strong>de</strong> Deus! Consi<strong>de</strong>re-se<br />
o nosso ambiente, todo o nosso modo <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong> pensar e <strong>de</strong> agir. Se <strong>de</strong> repente nos<br />
lembrássemos do Decálogo em toda a sua gran<strong>de</strong>za <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m espiritual e natural, a vida<br />
abruptamente se tornaria diferente.<br />
100
<strong>Em</strong> tudo à nossa volta, <strong>de</strong> todas as formas imagináveis, as pessoas tentam <strong>de</strong>spertar nas<br />
almas <strong>de</strong> seus semelhantes pensamentos e <strong>de</strong>sejos contrários às leis <strong>de</strong> Deus. Elas fazem o<br />
caminho do mal parecer suave para tornar fácil a realização <strong>de</strong>sses pensamentos e <strong>de</strong>sejos. Como<br />
o diabo <strong>de</strong>ve se regozijar!<br />
Senhor, ten<strong>de</strong> pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> nós. Dai-nos ouvidos para ouvir Vossa voz, olhos para ver<br />
Vossos caminhos! E dai-nos coragem para nos reformar, para que não passemos a eternida<strong>de</strong> no<br />
inferno.<br />
27 - O DÉCIMO MANDAMENTO<br />
Não cobiçarás os bens <strong>de</strong> teu próximo.<br />
Este mandamento, como os outros, é um mandamento <strong>de</strong> amor - o amor <strong>de</strong> Deus e do<br />
nosso próximo. Po<strong>de</strong> alguém que ama cultivar em si mesmo a inveja ou o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> possuir os<br />
bens <strong>de</strong> quem ama? Contudo, olhem nosso mundo louco. Algumas nações <strong>de</strong>sejam bens, terras,<br />
gente, até as mentes e as almas <strong>de</strong> suas vizinhas. Homens e mulheres olham com medo e inveja<br />
para os bens dos outros. E continuam a lutar, cada vez com maior <strong>de</strong>sespero, procurando meios<br />
<strong>de</strong> consegui-los.<br />
Consi<strong>de</strong>re a idéia comum <strong>de</strong> "ser igual aos Silva" - tentando ter o mesmo que eles têm. É<br />
uma competição <strong>de</strong> inveja, <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejos obscuros e estranhos, <strong>de</strong> inquietação e ganância. Qualquer<br />
meio para conseguir "parida<strong>de</strong>", acreditamos, é suficientemente bom tanto para os indivíduos,<br />
como para os negócios, ou para as nações.<br />
Estamos numa corrida louca para adquirir bens que passam a nos possuir mais do que nós<br />
os possuímos. Nesse processo, nossos corações acabam por se pren<strong>de</strong>r às coisas. Por esta razão<br />
é que estamos perecendo. Porque aquele que faz um <strong>de</strong>us <strong>de</strong> qualquer coisa que possua, faz<br />
ídolos.<br />
Devemos lembrar-nos que viemos a este mundo sem nada; e sem nada <strong>de</strong>le partiremos.<br />
Nossas mãos mortas somente po<strong>de</strong>m oferecer a Deus aquilo que nós <strong>de</strong>mos. Aquilo que nós<br />
tomamos, por isso vamos ter <strong>de</strong> pagar, <strong>de</strong> alguma forma, algum dia. Teremos <strong>de</strong> pagar por lixo<br />
com o fogo eterno?<br />
28 - SOMOS SEIXOS NA ATIRADEIRA DE DEUS<br />
Na vida do dia a dia, o que espera Deus <strong>de</strong> nós? Uma gran<strong>de</strong> simplicida<strong>de</strong>, uma absoluta<br />
naturalida<strong>de</strong> e uma humilda<strong>de</strong> tão simples como o ar. Porque somos os pequenos. Muito<br />
pequeno. Lembrem <strong>de</strong> Davi e Golias. Davi viu pequenas pedras no riacho, abaixou-se e as<br />
colocou na sua atira<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> criança - e matou o po<strong>de</strong>roso Golias!<br />
O Senhor faz o mesmo conosco. Davi é uma prefiguração <strong>de</strong> Cristo. O Senhor olha para<br />
os Golias <strong>de</strong> escuridão <strong>de</strong>ste mundo, crescendo fortes e gordos, arrancando Dele as almas pelas<br />
quais Seu Filho morreu. Cristo, Seu Filho, com a atira<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Sua graça, abaixa-se e apanha<br />
pedrinhas - eu e você - para colocar em Sua atira<strong>de</strong>ira. Então o que <strong>de</strong>vemos nós fazer? Apenas<br />
ali permanecer como pequenos seixos. Cabe a Deus atirá-las.<br />
Aí está a mão do Senhor e aí estão as pedrinhas. Elas foram polidas pela água. Elas estão<br />
brilhantes e prontas. Elas estão quietas na palma da mão <strong>de</strong> Deus. Cabe a Ele tomá-las, colocálas<br />
em Sua divina atira<strong>de</strong>ira e atirá-las para on<strong>de</strong> Ele <strong>de</strong>sejar. Isto é tudo!<br />
101
Mas, oh! O que acontece <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssas pedrinhas brilhantes! Castida<strong>de</strong>, pobreza,<br />
obediência, humilda<strong>de</strong>, simplicida<strong>de</strong>, naturalida<strong>de</strong>, a morte <strong>de</strong> si mesmo e amor! Os seixos ficam<br />
quietos na palma da mão <strong>de</strong> Deus, satisfeitos <strong>de</strong> estarem apenas ali.<br />
29 - QUATRO MOEDAS SUJAS (Sta. Marta)<br />
Os teólogos têm os seus próprios meios <strong>de</strong> discutir pesadas matérias sobre doutrina e<br />
dogmas, mas para o indivíduo comum, são os pequenos caminhos que importam - e as pessoas<br />
pequenas. Muitas das pequenas pessoas <strong>de</strong> Deus - os anawim - entraram através <strong>de</strong> nossas portas<br />
da Casa da Amiza<strong>de</strong>, portas pintadas <strong>de</strong> azul em homenagem a Nossa Senhora.<br />
Eu me lembro apenas do primeiro nome da pessoa cuja história vou agora lhes contar.<br />
Lembro-me <strong>de</strong>la perfeitamente. <strong>Todo</strong>s os sábados, com chuva ou sol, essa mulher entrava pela<br />
Porta Azul. Ela entrava, oh, tão calmamente, e fechava a porta gentilmente atrás <strong>de</strong> si. Com<br />
passo cansado, <strong>de</strong>vagar, ela vinha até minha escrivaninha e após algumas palavras <strong>de</strong><br />
cumprimento, <strong>de</strong>ixava em cima <strong>de</strong>la uma fila arrumadinha <strong>de</strong> quatro moedas sujas. Então ela<br />
explicava, quase num sussurro, que aquilo era tudo o que havia sobrado <strong>de</strong> seu pagamento, para<br />
dar a Cristo, através dos pobres. Depois, com pequeno sorriso, ela pedia por nossas orações,<br />
dizia um ligeiro a<strong>de</strong>us e saía pela Porta Azul, novamente fechando-a gentilmente.<br />
Ela era viúva. Ganhava a vida esfregando o chão <strong>de</strong> alguns escritórios à noite. Seu nome<br />
era Marta. Ela trouxe suas quatro moedas todas as semanas, durante quatro anos. Então, num<br />
sábado, ela não veio. Eu nunca mais a vi. Meses mais tar<strong>de</strong>, alguém na rua falou-me sobre uma<br />
pobre mulher enterrada sob uma laje sem marca. Perguntei pelo nome da mulher. Tudo do que<br />
se lembravam era <strong>de</strong> que seu primeiro nome era Marta.<br />
30 - VOCÊ SE DÁ CONTA QUE DEUS O AMA?<br />
A maior tragédia do nosso mundo é que homens e mulheres não sabem, realmente não<br />
sabem, que Deus os ama. Alguns acreditam nisso <strong>de</strong> uma forma obscura, mas sua crença no<br />
amor <strong>de</strong> Deus por eles é muito remota e abstrata.<br />
Por causa disso, eles não sabem como correspon<strong>de</strong>r ao amor <strong>de</strong> Deus. Freqüentemente<br />
eles nem ao menos tentam, porque tudo parece tão difícil e distante. Mas os cristãos têm <strong>de</strong><br />
perceber que a fé cristã, na sua essência, é um caso <strong>de</strong> amor entre Deus e cada ser humano. Não<br />
um simples caso <strong>de</strong> amor: é um apaixonado caso <strong>de</strong> amor. Deus amou tanto a cada um <strong>de</strong> nós<br />
que nos criou à Sua imagem. Deus amou tanto a cada um <strong>de</strong> nós que Ele próprio tornou-Se<br />
humano, morreu numa Cruz, foi ressuscitado da morte pelo Pai, subiu aos céus - e tudo isso para<br />
trazer <strong>de</strong> volta a Si cada um <strong>de</strong> nós, para aquele paraíso que per<strong>de</strong>mos por nossa própria culpa.<br />
Sim, claro que os cristãos têm dogmas e regras, mas tudo se refere a amor, que é a<br />
essência. Dogmas e princípios sem amor são letras mortas, nem ao menos dignas <strong>de</strong> serem<br />
soletradas. Deus é amor. E on<strong>de</strong> houver amor, aí está Deus.<br />
É tempo <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertarmos do nosso longo sono, nós cristãos. É tempo <strong>de</strong> expulsarmos<br />
nossos temores <strong>de</strong> Deus, ou o que é pior, nossa indiferença por Ele. Então conheceremos a<br />
verda<strong>de</strong>ira paz, a verda<strong>de</strong>ira alegria. As respostas aos nossos problemas internacionais e<br />
nacionais ficarão claras, à medida que amamos.<br />
102
31 - REZANDO PELOS PADRES (Sto. Inácio <strong>de</strong> Loyola)<br />
Quando eu tinha quase doze anos, no Egito, um padre jesuíta nos fez uma pequena<br />
palestra. Era um homem santo e simples. Ele tocou profundamente meu jovem coração. Eu não<br />
gostei, contudo, quando ele nos pediu para rezar pelos padres quando ficássemos "um pouco mais<br />
crescidas". Perguntei a mim mesma, "Por que terei <strong>de</strong> esperar uma eternida<strong>de</strong> - até que tenha<br />
<strong>de</strong>zoito ou <strong>de</strong>zenove anos - para rezar pelos padres?" Conversei em particular com o jesuíta e<br />
expus-lhe minha vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> rezar pelos padres imediatamente. Ele me olhou atenta e seriamente<br />
e perguntou-me se eu <strong>de</strong>sejava verda<strong>de</strong>iramente orar pelos padres. Quando respondi<br />
afirmativamente, ele colocou sua mão sobre minha cabeça, orou para a Trinda<strong>de</strong>, acariciou-me a<br />
face e disse, "Agora eu lhe <strong>de</strong>i a bênção para que, mesmo jovem como você é, você possa rezar<br />
pelos padres. Não esqueça <strong>de</strong> fazer isso, filha!”.<br />
Eu nunca me esqueci <strong>de</strong>ssa bênção especial. Mesmo quando criança, eu amava os padres<br />
<strong>de</strong> todo o meu coração. Na minha jovem mente, acreditava com firmeza que Cristo nos <strong>de</strong>u os<br />
padres porque Ele não queria <strong>de</strong>ixar-nos órfãos ou se separar <strong>de</strong> nós. Eu não entendia muito<br />
sobre o Corpo Místico, e as muitas formas <strong>de</strong> Cristo permanecer entre nós. Eu, contudo, percebia<br />
o papel muito especial que os sacerdotes <strong>de</strong>sempenham no plano <strong>de</strong> Cristo e achava terrivelmente<br />
importante rezar por eles. Assim, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> doze anos, venho rezando pelos padres;<br />
movida pela bênção que me foi dada há tantos anos atrás.<br />
© online edition Madonna House Publications March 2010<br />
103
AGOSTO<br />
1 - NOSSA MESTRA DE AMOR (Sto. Afonso Maria <strong>de</strong> Liguori)<br />
Este é o mês da Assunção <strong>de</strong> Nossa Senhora. É o mês do amor <strong>de</strong> Nossa Senhora, a Mãe<br />
do Belo Amor, a Mãe <strong>de</strong> Deus. Voltemo-nos a ela e vamos pedir-lhe com todo o nosso coração,<br />
toda a nossa alma, toda a nossa força, que ela nos ensine a amar. A menos que o façamos, nós<br />
iremos perecer no ódio gerado pelos nossos medos e nossa falta <strong>de</strong> amor.<br />
Ó gentil mãe <strong>de</strong> Deus, virgem po<strong>de</strong>rosíssima, terrível como um exército em or<strong>de</strong>m <strong>de</strong><br />
batalha, resplan<strong>de</strong>cente Esposa do Espírito, humil<strong>de</strong> filha <strong>de</strong> Deus Pai <strong>Todo</strong> Po<strong>de</strong>roso, incline sua<br />
linda face e erga-nos em seus braços amorosos. Não <strong>de</strong>sista <strong>de</strong> nós, não nos abandone, mesmo<br />
que tantos <strong>de</strong> nós não escutem sua voz que fala tão constantemente à nossa geração.<br />
Fale agora com a linguagem do amor, num sussurro tão gentil como a brisa distante<br />
cantando entre as árvores, ou com um po<strong>de</strong>roso troar <strong>de</strong> trovão que possa ser ouvido até os<br />
confins da terra.<br />
Olhe nossa geração surda! Olhe por nós, que somos cegos! Tenha pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> nós que<br />
nem ouvimos a Voz nem vemos a Face do perfeito Amor! Olhe e tenha compaixão <strong>de</strong> nós.<br />
Ensine-nos a amar, ó Mãe do Belo Amor, para que possamos elevar nossos corações e<br />
andar eretos uma vez mais, como homens e mulheres criados à imagem do Amor, seu Filho.<br />
2 - COMUNICAÇÕES SUPERFICIAIS E SOLIDÃO<br />
Muitas pessoas são <strong>de</strong> tipo "Oi, como vai?". Elas sabem, contudo, que essa expressão não<br />
comunica nada a ninguém. Elas po<strong>de</strong>m passar a vida toda dando cumprimentos superficiais e<br />
fazendo perguntas sem sentido, mas quando tentam amar os outros, o "Oi" interfere. Estas<br />
pessoas não querem se <strong>de</strong>spir <strong>de</strong> sua solidão nem se revelar a si mesmas. Elas não <strong>de</strong>sejam se<br />
comunicar nem mesmo com aqueles a que amam. Será que nós somos assim?<br />
É muito difícil se comunicar sempre com superficialida<strong>de</strong>, não ter amigos com quem se<br />
possa conversar ou trocar idéias. Cumprimentos <strong>de</strong>stituídos <strong>de</strong> sentimento passam pela superfície<br />
e a comunicação é como se não existisse. Po<strong>de</strong> ser melhor do que nada, mas a solidão ri <strong>de</strong> nós<br />
quando assim fazemos. A razão pela qual falamos tão superficialmente é porque estamos nos<br />
escon<strong>de</strong>ndo das pessoas. Nós não queremos que elas participem <strong>de</strong> nossa vida. Nós queremos<br />
ficar sós e, contudo <strong>de</strong>sejamos <strong>de</strong>sesperadamente ter amiza<strong>de</strong>s e compreensão.<br />
Há momentos, no entanto, em que Cristo nos chama para sermos humanos, <strong>de</strong>ixarmos <strong>de</strong><br />
ser solitários, começarmos a amar e nos envolver com os outros. Nós <strong>de</strong>vemos fazer isso para<br />
nos livrarmos do pântano da solidão. Precisamos falar e realmente nos comunicar com os outros,<br />
talvez com aqueles que sofrem <strong>de</strong> solidão. Você alguma vez visitou asilos para idosos? Existem<br />
neles uma porção <strong>de</strong> pessoas solitárias. Faça alguma coisa quanto a isso. Faça algo pelos outros.<br />
Rompa a solidão dos outros e nunca mais você se sentirá sozinho.<br />
3 - COMECE A SE LIGAR<br />
Lembro-me <strong>de</strong> um dia em que estava no metrô em Montreal. Estava lendo um livro<br />
quando uma senhora idosa sentou-se em frente a mim, olhou-me e disse, "Você tem um rosto<br />
gentil. Você se importaria <strong>de</strong> conversar um pouco comigo? Eu estive gripada nas últimas três<br />
104
semanas e somente uma enfermeira vinha visitar-me por meia hora. Uma outra mulher trazia<br />
minhas refeições, mas nenhuma <strong>de</strong>las era <strong>de</strong> muito falar. Estou ávida por uma conversa, para<br />
trocar idéias com alguém. É isto o que sinto".<br />
Fizemos duas viagens no metrô, <strong>de</strong> ida e volta. Depois eu a convi<strong>de</strong>i para irmos a uma<br />
lanchonete e nos tornamos boas amigas. Eu não morava em Montreal, mas nos correspon<strong>de</strong>mos<br />
até que ela morreu. Espero - <strong>de</strong> fato, eu tenho certeza - que sua solidão tenha <strong>de</strong>saparecido<br />
porque havia alguém do outro lado. Havia um ouvido para escutá-la com amor. É isso que todos<br />
nós <strong>de</strong>vemos fazer.<br />
A solidão tem muitos níveis e nós po<strong>de</strong>mos cair a fundo nela, po<strong>de</strong>mos cair em <strong>de</strong>pressão<br />
e nos tornar emocionalmente doentes, ou então po<strong>de</strong>mos nos reerguer e superar a superficialida<strong>de</strong><br />
da comunicação. Po<strong>de</strong>mos parar e realmente olhar o nosso próximo (quem quer que seja ele)<br />
diretamente em seus olhos e dizer, "Amigo, como vai você? Fale-me <strong>de</strong> você".<br />
<strong>Em</strong> parte foi por isso que começamos em Madonna House com as "casas <strong>de</strong> escuta".<br />
Você ficaria surpreso em ver quantas pessoas vêm a elas apenas para falar.<br />
4 - O QUE É UM PADRE? (S. João Maria Vianney)<br />
Um padre é um amante <strong>de</strong> Deus. Um padre é um amante dos seres humanos. Um padre é<br />
um homem santo porque caminha diante da Face do <strong>Todo</strong> Po<strong>de</strong>roso! Os russos dizem que a Face<br />
<strong>de</strong> Deus se reflete nas faces das pessoas, assim o padre que oferece a Eucaristia <strong>de</strong>ve refletir a<br />
Eucaristia.<br />
Um padre compreen<strong>de</strong> todas as coisas. Um padre perdoa todas as coisas. Um padre<br />
abrange todas as coisas. Po<strong>de</strong> ser que ele não tenha um extenso entendimento intelectual melhor<br />
do que o seu ou o meu, mas ele enten<strong>de</strong> muito mais do que nós pensamos, porque Cristo é seu<br />
mestre. Veja São João Vianney, que agora é padroeiro dos párocos. Ele quase foi expulso do<br />
seminário porque não conseguia ir bem nos estudos e, no entanto, tornou-se um santo e um<br />
gran<strong>de</strong> confessor. É isso o que eu quero dizer quando falo em entendimento.<br />
Um padre é um homem cujo objetivo é ser um outro Cristo. Um padre é um homem que<br />
vive para servir, um homem que se crucificou <strong>de</strong> modo que ele, também, po<strong>de</strong> se elevar e atrair<br />
com ele todas as coisas para Cristo. Um padre é um homem que ama Deus, um presente <strong>de</strong> Deus<br />
para a humanida<strong>de</strong> e da humanida<strong>de</strong> para Deus.<br />
Um padre é um símbolo do Verbo que Se fez carne. Um padre é a espada nua da justiça<br />
<strong>de</strong> Deus, a mão da misericórdia <strong>de</strong> Deus e o reflexo do amor <strong>de</strong> Deus. Nada neste mundo po<strong>de</strong><br />
ser maior do que um padre - nada, a não ser o próprio Deus!<br />
5 - A COZINHA - UM LUGAR SANTO<br />
A cozinha é o coração <strong>de</strong> um lar e é um lugar santo. Des<strong>de</strong> tempos imemoriais, comer<br />
sempre foi um ato <strong>de</strong> tremenda importância. Partilhar da própria refeição com um estranho era<br />
consi<strong>de</strong>rado um sinal <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>, como era toda a hospitalida<strong>de</strong>. O preparo da refeição e a<br />
compra <strong>de</strong> alimentos são uma expressão <strong>de</strong> amor. Existe sempre amor na transformação da<br />
matéria-prima em alimento para a família.<br />
Nossa Senhora santificava a cozinha <strong>de</strong> um modo especial, transformando os frutos da<br />
terra em alimento para o corpo humano <strong>de</strong> Cristo, que Ele assumiu para nossa salvação. Depois<br />
ela se tornou sagrada porque Cristo usou pão e vinho comuns para nos alimentar após tê-los<br />
transformado em Seu Corpo e Sangue.<br />
105
Se uma cozinha é mo<strong>de</strong>rna ou humil<strong>de</strong> não faz diferença, pois os que nela trabalham com<br />
amor e alegria, transformam - transubstanciam - os produtos crus da terra <strong>de</strong> Deus em alimento<br />
para nutrir seus irmãos e irmãs. Este é um serviço e um privilégio quase sem comparação.<br />
Nosso Senhor disse, Aquilo que fizer<strong>de</strong>s ao menor <strong>de</strong> meus irmãos, é a mim que o fareis. Ele foi<br />
muito explícito sobre isso. Nós temos <strong>de</strong> dar alimento aos famintos e aqueles que trabalham na<br />
cozinha certamente o fazem. Se nós assim proce<strong>de</strong>rmos com o correto espírito, asseguraremos<br />
para nós a gratidão <strong>de</strong> Deus - e também o céu.<br />
Que o Senhor, que usou pão e vinho para nos alimentar com tanto amor através <strong>de</strong> Si<br />
próprio, abençoe todos os cozinheiros e lhes mostre Sua face por meio daqueles para quem eles<br />
preparam a refeição com tanto amor.<br />
6 - ALIMENTO, SUSTENTO E FORÇA (Transfiguração do Senhor)<br />
Mateus, no capítulo 17:1-8, <strong>de</strong>screve a transfiguração <strong>de</strong> Jesus na montanha, diante <strong>de</strong><br />
Pedro, Tiago e João: "Seu rosto brilhou como o sol (...) Moisés e Elias apareceram junto Dele".<br />
É um Evangelho fantástico. Ele sempre me animou em minha pobreza, em minha solidão. O<br />
Evangelho é meu companheiro. Sem ele acho que não teria sobrevivido. Nesta cena da<br />
Transfiguração, um trecho salta a meus olhos: "Jesus veio então até eles, tocou-os e disse,<br />
'Levantem-se, não tenham medo.' E quando levantaram os olhos não viram mais ninguém a não<br />
ser Jesus".<br />
Isso, para mim, é a única coisa que importa. Nos terríveis, horrendos, medonhos dias <strong>de</strong><br />
minha vida, pareciam-me que Ele me tocava e eu abria meus olhos cheios <strong>de</strong> lágrimas e<br />
<strong>de</strong>sespero. Subitamente, eu via Jesus, e levantava-me, lavava o rosto e partia para o <strong>de</strong>ver do<br />
momento. É isto o que significa o Evangelho para mim: o <strong>de</strong>ver do momento. Ele me dá<br />
coragem. Ele me dá alimento, a força e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> me manter enfrentando qualquer<br />
oposição.<br />
Depois, nos versículos seguintes, Cristo <strong>de</strong>sce da montanha e <strong>de</strong>scobre que seus<br />
discípulos não tinham curado o epiléptico. Ele ficou bastante zangado, po<strong>de</strong>m crer! “Geração<br />
perversa e sem fé”, Ele gritou. E aí Jesus libertou o epiléptico do <strong>de</strong>mônio. Ele disse àqueles<br />
apóstolos insignificantes que eles tinham muito pouca fé. Nós também. Vamos pedir Senhor, eu<br />
creio, mas aumentai a minha fé.<br />
7 - HISTÓRIAS DA PORTA AZUL<br />
Alguém um dia me perguntou por que as portas da Casa <strong>de</strong> Amiza<strong>de</strong>, e mais tar<strong>de</strong> da<br />
Madonna House, eram sempre pintadas <strong>de</strong> azul. Eu respondi sorrindo, "Por causa <strong>de</strong> um ditado<br />
muito, muito velho do meu povo na Rússia: 'Toda a porta da frente pintada <strong>de</strong> azul em<br />
homenagem a Nossa Senhora, traz suas bênçãos a todos os que passam por ela'".<br />
Nos próximos dias <strong>de</strong>sejo compartilhar com vocês algumas das muitas histórias<br />
maravilhosas da graça e da misericórdia <strong>de</strong> Deus e do terno amor <strong>de</strong> Nossa Senhora que<br />
aconteceram em minha vida e que ainda continuam a acontecer. Contar-lhes essas pequenas<br />
histórias - aventuras na graça, como as chama Raissa Maritain * - é a minha forma <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer ao<br />
Senhor por tantos <strong>de</strong> Seus dons.<br />
Muita gente tem passado pelas nossas portas azuis, cada pessoa recebendo, tenho certeza,<br />
as bênçãos <strong>de</strong> Maria e a graça e misericórdia <strong>de</strong> seu divino Filho. As bênçãos não eram sempre<br />
visíveis, mas quando eram, elas eram lindas <strong>de</strong> se ver e davam prazer em testemunhar. Elas<br />
106
também nos encorajavam e ajudavam a perseverar em nossa vocação: amar a Deus e provar isso<br />
a Ele, amando o nosso próximo e passando toda a vida prestando serviços a Ele. A extraordinária<br />
rotina <strong>de</strong> nossa vida diária passa através da Porta Azul <strong>de</strong> Nossa Senhora, isto é “testemunhar<br />
Cristo” e mudar o mundo.<br />
8 - DEUS SABE (São Domingos)<br />
Um dia eu estava sozinha em meu escuro apartamento no Harlem. A solidão <strong>de</strong> Cristo<br />
envolvia-me tão completamente que eu literalmente gritei. Eu não podia agüentar aquilo nem<br />
mais um minuto. Pensei em arrumar as malas e <strong>de</strong>ixar aquele inferno na terra on<strong>de</strong> a falta <strong>de</strong><br />
humanida<strong>de</strong> do homem para com o homem podia ser vista em cada rosto ao longo daquelas ruas<br />
sem árvores, cheias <strong>de</strong> gente, sujas e segregadas.<br />
Então, subitamente, ela apareceu - senhora Russel, <strong>de</strong> fala macia, tímida. Podia se ver<br />
naquela adorável face morena o brilho da carida<strong>de</strong> cujo outro nome é amor. Disse-me com certa<br />
hesitação que queria assistir-me <strong>de</strong> algum modo na ajuda aos necessitados. O que ela po<strong>de</strong>ria<br />
fazer?<br />
Havia nela uma calma tão profunda que me senti reconfortada. Havia paz na sua fala<br />
gentil, que era pontuada por um silêncio quente e amistoso. Fiquei curada da minha dor e dos<br />
meus temores.<br />
Eu a conduzi através do caminho para o porão da Casa Paroquial, on<strong>de</strong> estava nosso<br />
primeiro "centro <strong>de</strong> roupas", no qual muitos “nus" vieram para ser vestidos. Era um tempo <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>pressão no Harlem. A porta do centro <strong>de</strong> roupas era pintada <strong>de</strong> azul.<br />
Quinze anos mais tar<strong>de</strong> senhora Russel ainda estava lá, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que entrou silenciosamente<br />
em meu coração, pela primeira vez naquela tar<strong>de</strong> sombria. Poucas pessoas a notavam em seu<br />
trabalho, menos pessoas ainda saberão qualquer coisa sobre ela. Mas Deus sabe. Por ela estar lá,<br />
me consi<strong>de</strong>rei abençoada, e todos nós na Casa da Amiza<strong>de</strong> fomos abençoados. Apenas uma<br />
pessoa quieta e simples que queria ajudar. Não era famosa. Deus sabe.<br />
9 - O PISTOLEIRO<br />
Um dia, recebi um telefonema na Casa <strong>de</strong> Amiza<strong>de</strong>, perguntando se eu tinha acomodação<br />
para um homem recém-saído da prisão (ele tinha cumprido sentença por assassinato) e sua<br />
namorada. Tínhamos espaço... eles estavam necessitados... e pertenciam a Cristo, <strong>de</strong> modo que<br />
eu disse que ficaríamos contentes em recebê-los. Mais tar<strong>de</strong>, a Porta Azul se abriu e entrou um<br />
homem cansado, assustado, com uma moça <strong>de</strong> espantados olhos azuis, toda pintada e maquiada,<br />
com unhas <strong>de</strong> vermelho berrante. Dei-lhes boas vindas calorosamente e voltei para o trabalho<br />
que estava fazendo: contando moedas resultado das vendas <strong>de</strong> nosso jornalzinho nas igrejas. O<br />
homem examinou a pilha <strong>de</strong> dinheiro, exibiu uma pistola e disse que em paga da alimentação e<br />
da pousada, ele tomaria conta do dinheiro!<br />
No dia seguinte eu estava imaginando o que iríamos encontrar. A pistola tinha<br />
<strong>de</strong>saparecido, o dinheiro estava intacto e a jovem estava <strong>de</strong> banho tomado e parecendo muito<br />
nova e recatada. Eles ficaram por uma semana, fazendo-se úteis. Ela adorava costurar; ele<br />
gostava <strong>de</strong> cozinhar. Ninguém falou nada sobre religião, o passado ou o futuro.<br />
Anos se passaram. Então, um dia, uma limusine parou em frente à Porta Azul e um<br />
simpático senhor <strong>de</strong> meia ida<strong>de</strong>, com sua esposa e uma criança aproximou-se com um cheque <strong>de</strong><br />
mil dólares. Ele sorriu e nós reconhecemos o pistoleiro! Ele disse, "Isto é uma pequena amostra<br />
107
<strong>de</strong> minha gratidão por toda a hospitalida<strong>de</strong>, amor e confiança que encontrei neste lugar muitos<br />
anos atrás. Este é apenas o primeiro pagamento a Nossa Senhora, que nos abençoou <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />
passamos pela sua Porta Azul".<br />
10 - UM HOMEM DO LAVA- PÉS (S. Lourenço, Diácono)<br />
O Dr. Karl Stern passou muitas vezes pela Porta Azul <strong>de</strong> Madonna House em<br />
Combermere. Ele tocava nosso velho piano que sob seus <strong>de</strong>dos cantava. Ele nos fazia chorar e<br />
rir e nos trazia paz. Ele nos falava sobre os livros que tinha escrito e sobre seus pacientes,<br />
histórias que nos davam coragem.<br />
Nós conversamos sobre o terrível estado mental da ansieda<strong>de</strong> e nos aventuramos a dizer<br />
que Cristo <strong>de</strong>via ter estado muito ansioso em face dos pecados <strong>de</strong> toda a humanida<strong>de</strong> em<br />
Getsêmani, tão ansioso que suou sangue. O Dr. Stern concordou e disse que teve um paciente,<br />
certa vez, que estava também tão ansioso a ponto <strong>de</strong> suar sangue.<br />
Pensei em Cristo lavando os pés <strong>de</strong> Seus apóstolos e enxugando-os com uma toalha e,<br />
subitamente, tudo ficou claro. Deus tinha dado a Karl Stern a toalha <strong>de</strong> uma inteligência<br />
profunda e a água do discernimento para saber quando e como enxugar os rostos das pessoas que<br />
suam sangue em sua ansieda<strong>de</strong>. Num instante compreendi o papel do psiquiatra - enxugar dos<br />
corações dos homens e mulheres a dor neles infligida por outros, pela <strong>de</strong>sumanida<strong>de</strong> da<br />
socieda<strong>de</strong>.<br />
Quando penso em Karl Stern, penso nele como uma consolação. Penso nele como um<br />
cristão com uma toalha no braço e segurando uma bacia com água limpa e fresca. Ele está<br />
consolando o Coração <strong>de</strong> Cristo nos corações dos homens.<br />
11 - UMA VISÃO DO TODO (Sta. Clara)<br />
Num tempestuoso dia <strong>de</strong> março no início dos anos trinta, um sacerdote entrou na Casa <strong>de</strong><br />
Amiza<strong>de</strong>. Zelo, compreensão e amor pelas almas brilhavam através <strong>de</strong> cada palavra que falava.<br />
Esse padre ardoroso, um portador <strong>de</strong> luz, calor e verda<strong>de</strong>, estava apaixonado pelo Espírito Santo.<br />
Ele era Dom Virgil Michel, um monge beneditino da Abadia <strong>de</strong> Collegeville, Minnesota, que<br />
mais tar<strong>de</strong> foi o coração do movimento litúrgico na América do Norte.<br />
Naquele dia ele nos <strong>de</strong>u uma visão do todo. Mostrou-nos o Cristo total que não estava<br />
prejudicado pela acomodação ou manchado pelo medo do respeito humano. Com prodigalida<strong>de</strong><br />
ele nos alimentou com o Pão da Verda<strong>de</strong> e o Vinho do Amor que eram seu próprio alimento. A<br />
visão do Cristo total, disse ele, começa na Missa, on<strong>de</strong> nós somos repletos do Cristo como cálices<br />
vazios com o vinho. A Missa é sacrifício e sacramento, é comida e bebida, a câmara nupcial<br />
on<strong>de</strong> a noiva (a alma humana) entra para se tornar um com o noivo, Cristo!<br />
Seguir em frente para viver a Missa é restaurar a or<strong>de</strong>m social e o mundo para Cristo,<br />
começando por si próprio! Esta é nossa vocação e nós temos <strong>de</strong> perseverar nela. Ele nos disse<br />
isso num pobre galpão na favela <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> cida<strong>de</strong>.<br />
Mais tar<strong>de</strong>, em 1951, quando estava ajoelhada diante do Papa, ouvi <strong>de</strong> novo as mesmas<br />
palavras: "Esta é a hora dos leigos. Persevere. Seja firme e você renovará a face da terra. Deus<br />
precisa <strong>de</strong> você. A Igreja precisa <strong>de</strong> você. Nós precisamos <strong>de</strong> você".<br />
108
12 - A PIEDADE DE DEUS<br />
O sacerdote que entrou pela Porta Azul da Casa <strong>de</strong> Amiza<strong>de</strong> pediu-me para ajudar uma<br />
família em sua paróquia. O pai era comunista, a mãe uma católica praticante. O pai não queria<br />
<strong>de</strong>ixar que seus sete filhos freqüentassem a escola paroquial ou que qualquer <strong>de</strong>les colocasse o pé<br />
na igreja. Será que eu po<strong>de</strong>ria ver se, com a ajuda <strong>de</strong> Deus, conseguiria fazer alguma coisa?<br />
Segui o padre pelas ruas da favela até um pequeno barraco, on<strong>de</strong> ele me apontou um homem que<br />
cortava lenha e <strong>de</strong>pois me <strong>de</strong>ixou, murmurando uma bênção. Aproximei-me e começamos a<br />
conversar amigavelmente. Mas quando o conteúdo da minha mensagem começou a penetrar, ele<br />
ficou furioso, levantou seu machado e gritou que racharia minha cabeça se eu mencionasse Deus<br />
novamente. Juntando coragem, eu continuei. Ele ergueu seu machado e partiu para cima <strong>de</strong><br />
mim. Eu corri!<br />
Passei através <strong>de</strong> latões <strong>de</strong> lixo e pelas vielas; então, subitamente, parei. Ele tinha que se<br />
convencer <strong>de</strong> que Deus o amava! Voltei e o vi, ofegante, machado em riste. Ficamos ali<br />
parados, olhando um para o outro. O medo <strong>de</strong>sapareceu, uma imensa pena tomou conta <strong>de</strong> mim e<br />
eu chorei. Ele me perguntou por que estava chorando. Eu lhe disse que era <strong>de</strong> tristeza e pena<br />
pelo que ele estava fazendo para Cristo. De repente ele caiu com o rosto para baixo na viela e<br />
soluçou, <strong>de</strong>rramando, com suspiros profundos, as grossas lágrimas <strong>de</strong> um homem forte. Depois<br />
ele se levantou, largou o machado, e apertou-me a mão. Semanas <strong>de</strong>pois, o padre veio perguntar<br />
como eu o havia persuadido a mandar as crianças para a escola paroquial e a família toda - ele<br />
inclusive - a ir para a igreja! Eu simplesmente disse que tinha sido a pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus, que por<br />
um instante tomou conta <strong>de</strong> meu coração.<br />
13 - O HOMEM DE OLHAR PROFUNDO<br />
Um dia, um jovem <strong>de</strong> rosto muito interessante entrou pela Porta Azul da Casa <strong>de</strong><br />
Amiza<strong>de</strong>. Ele tinha um olhar que parecia tocar tudo o que via. Era poeta, escritor e professor e<br />
tinha <strong>de</strong>ixado seu trabalho na universida<strong>de</strong> para vir oferecer os seus serviços no Harlem. Poetas,<br />
escritores e professores são pessoas maravilhosas, mas todos parecem ter, pelo menos no começo,<br />
uma completa falta <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong> em concentrar-se nas coisas práticas. Mas não durou muito até<br />
que nosso amigo conseguisse esfregar o chão <strong>de</strong> forma a<strong>de</strong>quada. Ele se ajustou muito bem. Um<br />
dia, alguns meses mais tar<strong>de</strong>, ele chegou-se a mim e disse, "<strong>Catherine</strong>, vou entrar nos Trapistas<br />
em Kentucky". Fiquei muito feliz por ele ter finalmente encontrado sua verda<strong>de</strong>ira vocação.<br />
Antes <strong>de</strong> ir, ele me <strong>de</strong>u um manuscrito e disse, "Se você conseguir ven<strong>de</strong>r isso, vocês<br />
po<strong>de</strong>m ficar com os direitos autorais". Eu tentei, mas ninguém quis publicá-lo, <strong>de</strong> modo que o<br />
arquivei. O manuscrito revelou-se como um esboço ainda impreciso do que, posteriormente, se<br />
tornou "A Montanha dos Sete Patamares". Anos mais tar<strong>de</strong>, voltei ao manuscrito que Thomas<br />
Merton, agora famoso, havia me dado naqueles anos passados no Harlem. Ele foi publicado<br />
<strong>de</strong>pois sob o nome <strong>de</strong> "O Jornal Secular <strong>de</strong> Thomas Merton". Se você ler o prefácio <strong>de</strong>sse livro,<br />
você conhecerá mais coisas sobre o relacionamento entre mim e esse jovem poeta, escritor e<br />
professor que um dia entrou pela Porta Azul.<br />
109
14 - QUANDO VOCÊ NÃO É VALORIZADO (S.Maximiliano Maria Kolbe)<br />
Quando você está exasperado pela falta <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ração dos outros, pela <strong>de</strong>scortesia, por<br />
estarem constantemente exigindo do seu tempo, dos seus esforços, <strong>de</strong> sua paciência, saú<strong>de</strong>,<br />
nervos, sem nem ao menos um "muito obrigado" em troca - e quando você mantém o seu coração<br />
sereno, sua alma com alegria e sua boca calada, então verda<strong>de</strong>iramente os enfeites do tapete para<br />
os pés <strong>de</strong> Nossa Senhora ficam tão <strong>de</strong>slumbrantes, tão bonitos, que os anjos vêm <strong>de</strong> todas as<br />
partes do céu para admirá-los. Até o Menino Jesus <strong>de</strong>sce do colo <strong>de</strong> Sua Mãe para brincar em<br />
cima <strong>de</strong>le. Não vale a pena fazer com que o nosso triste, esquecido, negligenciado e perseguido<br />
Cristo sorria e queira brincar?<br />
Quando pessoas, coisas, fatos parecem acontecer sem que você seja notado, quando<br />
ninguém confia em você, quando você se sente frio e <strong>de</strong>samparado, fora do contexto e o<br />
sentimento <strong>de</strong> solidão e abandono se torna maior do que você po<strong>de</strong> suportar, e a impressão <strong>de</strong> que<br />
há algo errado e injusto crescendo em sua mente e em seu coração cansados, envenenando sua<br />
alma tanto que você não consegue nem mesmo rezar... Quando tudo isso acontecer e você com<br />
<strong>de</strong>cisão fechar sua mente, seu coração e sua alma ao veneno que quer penetrar, e silenciosamente<br />
- sem uma palavra, sem um olhar ou gesto que revelem sua dor - você segue seu pequeno<br />
caminho, então o céu pára e até os anjos invejarão a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> você po<strong>de</strong>r dar presentes<br />
Àquele que dá todas as coisas - Deus. Porque você estará, então, trilhando o caminho dos santos,<br />
que é o outro nome dos amantes <strong>de</strong> Cristo.<br />
15 - MÃE DE DEUS E DE TODOS OS POVOS (Assunção <strong>de</strong> Nossa Senhora)<br />
Ela se senta em um trono, a Mãe <strong>de</strong> Deus e <strong>de</strong> todos os povos. Apesar <strong>de</strong> ninguém tê-la<br />
visto morrer, nem ter sido tomada pelos céus, ainda assim ela está lá, em carne, tocável pelos<br />
<strong>de</strong>dos da fé.<br />
O corpo glorioso <strong>de</strong> Nossa Senhora é um sinal e um símbolo da nossa esperança. Sua<br />
assunção é a prefiguração do que irá acontecer a mim, se eu ganhar o céu.<br />
Mãe <strong>de</strong> Deus - que palavras impressionantes! Como pô<strong>de</strong> a feminilida<strong>de</strong> envolver a Divinda<strong>de</strong>?<br />
E, no entanto, foi o que aconteceu.<br />
Mãe <strong>de</strong> Deus, e assim filha da terra. Milagre <strong>de</strong> amor e <strong>de</strong> graça e da misericórdia do<br />
Senhor. A mente fecha suas asas, a fé abre seus braços, cessa todo o entendimento e a alma é<br />
mergulhada no coração <strong>de</strong> um mistério que não tem fim.<br />
Mãe <strong>de</strong> Deus, a carne que guarda a Luz Eterna que penetrou no tempo. Uma semente em<br />
teu sagrado ventre, envolvendo-a com tua carne. Deus Se encarnou através <strong>de</strong> teu Fiat.<br />
Mãe <strong>de</strong> Deus – pelo seu nascimento e morte – tornastes Mãe <strong>de</strong> todos os homens. Roga<br />
por nós, para que, verda<strong>de</strong>iramente, possamos todos ser irmãos e irmãs <strong>de</strong> teu divino Filho.<br />
16 - NOSSO MUNDO COMPLEXO NECESSITA DAS VERDADES<br />
DE DEUS<br />
A vida se tornou muito complexa. Longe vão os dias da simplicida<strong>de</strong>; longe vão também<br />
os tempos em que o mundo era estável. Hoje, entre duas guerras - uma que já ocorreu e outra que<br />
está para acontecer - não existe nem paz nem segurança, nem simplicida<strong>de</strong> ou estabilida<strong>de</strong>. As<br />
<strong>de</strong>cisões, por mais simples, são difíceis <strong>de</strong> tomar.<br />
110
A vida natural tem se tornado insuportavelmente complicada; e a vida sobrenatural, para a<br />
qual fomos criados, faz exigências heróicas aos seguidores <strong>de</strong> Cristo. É realmente uma época <strong>de</strong><br />
heroísmo. A virtu<strong>de</strong> comum, bem praticada, tornou-se heróica na total confusão do mundo <strong>de</strong><br />
hoje. É difícil pensar, muito menos rezar, na barulhada mo<strong>de</strong>rna. Mais difícil ainda manter-se no<br />
caminho da luz com todas as distrações que nos envolvem.<br />
Entretanto, nunca estiveram os corações humanos tão famintos do Senhor do que estão<br />
hoje em dia - do Senhor e <strong>de</strong> Suas verda<strong>de</strong>s. Nem nunca tiveram os católicos, católicos comuns,<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhar um papel tão importante como neste século. Sim, é este o tempo apropriado<br />
para levar as Águas da Vida da Verda<strong>de</strong> aos que têm se<strong>de</strong>, e o Pão da Vida aos que têm fome.<br />
Mas para fazer isso <strong>de</strong>vemos estar claros, seguros e preparados. Será que estamos? As verda<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> nossa fé são simples, como o são todas as coisas <strong>de</strong> Deus. Ele as transmitiu pessoalmente a<br />
nós. Nós precisamos <strong>de</strong> muito amor e <strong>de</strong> uma clara compreensão das verda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Deus.<br />
17 - AS BEM-AVENTURANÇAS<br />
Deve ter sido num agradável dia <strong>de</strong> primavera, a grama <strong>de</strong> um fresco verdor, uma brisa<br />
ligeira vinda do lago e brincando <strong>de</strong>scuidadamente, gentilmente, com os cabelos do Senhor.<br />
Sentado numa colina, Ele falou para os "pequeninos" <strong>de</strong>ste mundo: a criada, o jardineiro, o<br />
guarda-livros, para mim, para você - para aqueles cujos nascimentos e mortes não têm registro e<br />
que nunca serão manchete.<br />
Foi para nós que <strong>de</strong>u as bem-aventuranças, que são os estatutos do céu. Não as <strong>de</strong>u para<br />
alguns poucos escolhidos. Não. Foi para todos. E, no entanto, olhem para nós! Quão poucos <strong>de</strong><br />
nós po<strong>de</strong>m mesmo se lembrar <strong>de</strong> quantas são as bem-aventuranças, muito menos ter em conta<br />
que elas <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>radas diariamente. E <strong>de</strong> que, a menos que nós as vivamos realmente,<br />
nossa ida para o céu será muito duvidosa.<br />
Nós insistimos em procurar <strong>de</strong>sculpas para nós mesmos, dizendo que as bemaventuranças<br />
foram <strong>de</strong>stinadas a poucos, os escolhidos, os padres, os monges e as freiras. Por<br />
que tentamos nos enganar? Mesmo que o consigamos, nós não po<strong>de</strong>mos enganar a Deus. Tudo<br />
isso parece fazer parte da mo<strong>de</strong>rna apostasia dos cristãos: o abandono da nossa fé, coisa <strong>de</strong> que<br />
tantos <strong>de</strong> nós são culpados. Mais trágico ainda, não temos a honestida<strong>de</strong>, a coragem para<br />
examinar esse câncer que corrói nossas almas - se ousarmos mesmo reconhecer que ele existe.<br />
Ainda assim - através dos séculos - a mansa voz <strong>de</strong> Cristo nos persegue com as bemaventuranças<br />
(Mt 5,3-12).<br />
18 - A PRIMEIRA BEM-AVENTURANÇA<br />
"Bem-aventurados os pobres em espírito, porque <strong>de</strong>les é o reino dos céus". Ser pobre em<br />
espírito não significa se <strong>de</strong>sfazer <strong>de</strong> tudo e adotar a santa pobreza <strong>de</strong> um só golpe. Isto também<br />
não é <strong>de</strong>sejável apenas para padres e religiosos. Não. Esta é uma bem-aventurança para todos<br />
nós, porque ela faz com que nossos corações sejam <strong>de</strong>sprendidos das posses terrenas e sejam<br />
postos no Sagrado Coração <strong>de</strong> Cristo.<br />
Ser pobre em espírito significa simplesmente que nós compreen<strong>de</strong>mos bem que somos<br />
apenas administradores <strong>de</strong> nossos bens terrenos e que o Senhor é o dono <strong>de</strong> tudo. Significa que<br />
todos os bens que estão acima e além <strong>de</strong> nossas necessida<strong>de</strong>s (comida, roupas, abrigo, educação,<br />
previdência para doenças e velhice) pertencem aos nossos irmãos e irmãs necessitados -<br />
pertencem a eles por justiça e não por carida<strong>de</strong>.<br />
111
Tais bens mundanos que possuímos ajudam-nos a satisfazer as obrigações <strong>de</strong> nosso estado<br />
<strong>de</strong> vida e <strong>de</strong>vem ser usufruídos inteiramente e usados para a glória <strong>de</strong> Deus. Mas se Ele quiser<br />
tomá-los <strong>de</strong> volta, nós não <strong>de</strong>vemos nem sentir sua falta, nem ansiar por eles, porque nossas vidas<br />
têm raízes na santíssima vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus, e apenas nela. Com alegria, nós a obe<strong>de</strong>cemos - com<br />
um coração livre e <strong>de</strong>sprendido.<br />
Ser pobre em espírito, ser <strong>de</strong>sprendido, viver <strong>de</strong> acordo com a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus, significa<br />
simplesmente ser feliz, estar em paz e cheios <strong>de</strong> amor e esperança.<br />
19 - A SEGUNDA BEM-AVENTURANÇA<br />
Um velho padre morreu. Entre seus papéis foi achado um cartão ordinário no qual estava<br />
escrito, "Todas as vezes que me olho, parece que vejo somente a mim. Por favor, Senhor,<br />
expulsa-me para fora <strong>de</strong> mim, para que Tu possas encontrar lugar para Ti <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim". As<br />
pessoas que recolheram seus papéis afirmaram que essas poucas palavras sintetizavam toda a<br />
vida <strong>de</strong>sse homem gentil. Ele havia permitido que o Senhor tomasse completa posse <strong>de</strong> si. Ele<br />
tinha se tornado <strong>de</strong>sprendido <strong>de</strong> seu próprio ego.<br />
Desprendimento! Esta é a palavra chave para a restauração do mundo para Cristo. Ela<br />
faz parte do novo reino que Ele próprio nos dá em poucas e simples palavras: "Bem-aventurados<br />
os mansos, porque herdarão a terra".<br />
Essa segunda bem-aventurança está estreitamente relacionada com a primeira, pois<br />
enquanto ser pobre em espírito é um estado passivo, também significa estar repleto do Cristo. E<br />
estar repleto do Cristo quer dizer também ser ativo - trabalhando com Ele, por Ele, para Ele.<br />
Portanto esta segunda bem-aventurança abre um largo campo para nós. Nada menos do que<br />
resgatar o mundo inteiro para Cristo! E é o manso, o gentil, o bondoso que farão isso. Mas nós<br />
não po<strong>de</strong>mos ser nada disso até que estejamos <strong>de</strong>spidos <strong>de</strong> nós mesmos - pois como po<strong>de</strong>mos ser<br />
amáveis para com os outros se não expulsarmos o egoísmo? Vamos, pois, começar hoje mesmo<br />
a libertar nosso interior para dar lugar ao Cristo.<br />
20 - A TERCEIRA BEM-AVENTURANÇA<br />
"Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados". Nunca antes tivemos <strong>de</strong> meditar<br />
tanto sobre esta bem-aventurança como fazemos agora, pois é chegado o tempo <strong>de</strong> chorar sobre<br />
nossos pecados.<br />
Sim, este é o tempo favorável para chorar nossos pecados. Fazer penitência e rezar.<br />
Jejuar. Vestir-nos <strong>de</strong> sacos e cobrir nossas cabeças com cinzas - se não verda<strong>de</strong>iramente, pelo<br />
menos espiritualmente. Porque nós católicos, que supostamente somos "o sal da terra", <strong>de</strong>vemos<br />
restaurar o mundo para Cristo e <strong>de</strong>vemos fazer isso com almas limpas, mentes limpas, mãos<br />
limpas.<br />
Este é o tempo para que todos nós façamos <strong>de</strong>sta a nossa própria bem-aventurança. Nós<br />
precisamos compreen<strong>de</strong>r que tragédia é o pecado mortal. Por causa <strong>de</strong>le, nós per<strong>de</strong>mos Deus.<br />
Um pecado mortal corta nossa amiza<strong>de</strong> com Deus, com um profundo corte. Nós ficamos<br />
sozinhos. E como somos insignificantes, como somos pequenos sem Deus! Assim, vamos refletir<br />
e pedir ao Senhor que nos dê lágrimas <strong>de</strong> arrependimento para lavar a mancha <strong>de</strong> todo o pecado<br />
das nossas almas.<br />
Cair em pecado mortal é sair da luz para as trevas, e per<strong>de</strong>r o caminho. É isto o que tem<br />
acontecido à nossa geração. Temos <strong>de</strong> chorar - chorar <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> - diante do Senhor pelos<br />
112
pecados <strong>de</strong> nossos irmãos e irmãs do mundo todo. Se assim proce<strong>de</strong>rmos, oferecendo-nos em<br />
holocausto por eles, então (como Ele prometeu) nós seremos consolados. Não apenas no céu,<br />
mas aqui mesmo na terra.<br />
21 - A QUARTA BEM-AVENTURANÇA<br />
"Bem-aventurados os que têm fome e se<strong>de</strong> <strong>de</strong> justiça, porque serão saciados". Eis aí a<br />
resposta à nossa busca pela paz, o fruto da justiça. E pela felicida<strong>de</strong>. E por todas as coisas por<br />
que anseia o coração humano na noite <strong>de</strong> nossa era atômica.<br />
Ter fome e se<strong>de</strong> <strong>de</strong> justiça - a verda<strong>de</strong>ira justiça - significa ter fome e se<strong>de</strong> do próprio<br />
Deus. Significa vê-Lo em nossos semelhantes, e tentar mitigar essa fome ar<strong>de</strong>nte, aquela se<strong>de</strong><br />
que consome, sendo justo para com todos.<br />
A verda<strong>de</strong>ira justiça caminha na carida<strong>de</strong>, cujo outro nome é amor; caminha firmemente<br />
mas com mansidão, lembrando sempre que - embora do ponto <strong>de</strong> vista teológico a carida<strong>de</strong><br />
prece<strong>de</strong> a justiça - sociologicamente a justiça prece<strong>de</strong> a carida<strong>de</strong>. Como diz o Santo Padre, "A<br />
carida<strong>de</strong> não po<strong>de</strong> assumir o seu lugar enquanto não for feita toda a justiça".<br />
Po<strong>de</strong>m vocês imaginar a revolução social que esta bem-aventurança causaria, se os<br />
cristãos a praticassem? Como o fogo do amor <strong>de</strong> Deus, do qual provém, a justiça incendiaria o<br />
mundo. Mudaria a or<strong>de</strong>m social, traria paz e felicida<strong>de</strong>, converteria nossos inimigos, curaria<br />
outros e restauraria para o Cristo a Sua própria herança. Ela também nos garantiria a salvação,<br />
porque seríamos saciados, diz o Senhor. E somente Deus po<strong>de</strong> saciar um coração humano.<br />
Imaginem a eternida<strong>de</strong> com Ele. Não foi para isso que fomos criados?<br />
22 - A QUINTA BEM-AVENTURANÇA<br />
"Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia". Que<br />
sentença impressionante e consoladora! Impressionante por causa da implicação com aquilo que<br />
nos acontecerá se não formos misericordiosos: iremos enfrentar a justiça plena <strong>de</strong> Deus, sem a<br />
atenuante <strong>de</strong> Sua misericórdia.<br />
Essa bem-aventurança é nossa, ou <strong>de</strong>veria ser, neste louco século em que as pessoas<br />
conversam calmamente sobre a completa <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> seus semelhantes. Não parece haver<br />
nenhum sentido ou razão nisso tudo. No entanto... a sinalização <strong>de</strong> Cristo assinalam claramente<br />
as estradas da vida.<br />
Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia. O que po<strong>de</strong><br />
ser mais simples, mais claro do que isto?<br />
Vamos parar por um momento - esquecer a louca procura por uma segurança que não é<br />
encontrada na terra - esquecer a corrida pelos bens perecíveis - esquecer, sobretudo, <strong>de</strong> nós<br />
mesmos. Vamos começar a pensar em Deus e na qualida<strong>de</strong> da misericórdia que nos colocará<br />
amanhã frente a frente com Ele e trará paz aos nossos agitados dias.<br />
Depois <strong>de</strong> meditar em oração sobre esta bem-aventurança, vamos incorporá-la na vida<br />
diária. Lembrando que essa misericórdia se esten<strong>de</strong> sobretudo à estrutura social <strong>de</strong> nossas vidas e<br />
das <strong>de</strong> nossos irmãos e irmãs em Cristo, vamos começar agora a ser misericordiosos e <strong>de</strong>pois<br />
ficar em paz, na Sua paz, que ninguém po<strong>de</strong> tirar. Se o fizermos, nós alcançaremos misericórdia.<br />
113
23 - A SEXTA BEM-AVENTURANÇA<br />
"Bem-aventurados os puros <strong>de</strong> coração, porque verão a Deus". Muitos pensam que esta<br />
bem-aventurança se refere unicamente a castida<strong>de</strong> e virginda<strong>de</strong>. Mas ela alcança a todos os que<br />
caminham na terra com santa simplicida<strong>de</strong>, que evitam o pecado porque amam a Deus e têm em<br />
conta o preço que Deus pagou para nos resgatar das trevas, e assim conservam seus corações<br />
puros para que Ele neles possa <strong>de</strong>scansar.<br />
Pensem nisto. Santa simplicida<strong>de</strong>. Duas palavras que po<strong>de</strong>riam resolver muitos<br />
problemas. Caminhar em santa simplicida<strong>de</strong> através da vida significa confiar implicitamente em<br />
Deus. Confiar em Deus é estar livre das preocupações, ser mentalmente sadio, alegre e feliz em<br />
todas as circunstancias e condições.<br />
Ser livre do pecado - porque se ama o Amor, porque se estremece à vista <strong>de</strong> um crucifixo,<br />
o símbolo do Amor morrendo pelos nossos pecados - é olhar a vida com os olhos <strong>de</strong> Deus. É<br />
escolher sempre a "melhor parte...” a Sua parte. E isso significa, no que toca à vida <strong>de</strong> todos os<br />
dias, estar bem equilibrado, ter uma segurança real, tanto hoje aqui na terra, como amanhã, na<br />
eternida<strong>de</strong>.<br />
Ter uma consciência limpa é caminhar sem medo, livre dos temores que assediam a<br />
humanida<strong>de</strong>. Um católico em estado <strong>de</strong> graça anda na glória do Senhor; ele é um templo da<br />
Santíssima Trinda<strong>de</strong>, um amigo da mãe <strong>de</strong> Cristo e <strong>de</strong> todos os santos. Tal pessoa é envolvida<br />
por coros <strong>de</strong> anjos e arcanjos. Como po<strong>de</strong> o medo se instalar perto <strong>de</strong> tal glória?<br />
24 - A SÉTIMA BEM-AVENTURANÇA (S. Bartolomeu, Apóstolo)<br />
O constante refrão <strong>de</strong> Cristo sobre paz cresce como uma po<strong>de</strong>rosa canção nesta bemaventurança:<br />
"Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos <strong>de</strong> Deus".<br />
De todas as qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> seu reino, nosso Senhor parecia apreciar mais a paz. Era Sua<br />
saudação universal e a mais gentil: "A paz esteja com vocês!". "A paz esteja no meio <strong>de</strong> vocês".<br />
"Eu lhes <strong>de</strong>ixo a Minha paz, eu lhes dou a Minha paz". Os Evangelhos estão cheios <strong>de</strong>sta palavra<br />
terna, calorosa, que não apenas significa a ausência <strong>de</strong> luta, mas muito mais, pois seu real<br />
significado é felicida<strong>de</strong>.<br />
A paz está bem <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós. Para encontrá-la, temos <strong>de</strong> nos erguer e, voltando os olhos<br />
para <strong>de</strong>ntro, ir para o mais profundo <strong>de</strong> nossas almas, on<strong>de</strong> Deus faz Sua morada. É uma longa<br />
jornada, escura, e por isso temos <strong>de</strong> levar conosco a luz do amor para iluminar nosso caminho,<br />
porque on<strong>de</strong> existe amor, aí está Deus, e on<strong>de</strong> Deus está, aí está a paz e o fruto da paz é a<br />
felicida<strong>de</strong>.<br />
Aquele que possui a verda<strong>de</strong>ira felicida<strong>de</strong>, a verda<strong>de</strong>ira paz, é na verda<strong>de</strong> um filho <strong>de</strong><br />
Deus. Mas antes que qualquer um <strong>de</strong> nós possa alcançar essa paz, ele ou ela <strong>de</strong>ve fazer as pazes<br />
com Deus, e assim estar em paz também consigo mesmo. E tal indivíduo <strong>de</strong>ve compartilhar isso,<br />
o fruto da graça, com o mundo inteiro, transformando-se num pacificador, que é um sinônimo<br />
para cristão.<br />
Senhor, tem pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> nós! Dá-nos a graça <strong>de</strong> estar em paz Contigo, conosco e com<br />
nossos semelhantes.<br />
114
25 - A OITAVA BEM-AVENTURANÇA<br />
Ouçam! O Homem das Dores vai falar, o Homem em quem todas as bem-aventuranças se<br />
cumpriram, Aquele que morreu numa cruz para nos remir <strong>de</strong> nossos pecados: "Bem-aventurados<br />
os que são perseguidos por causa da justiça, porque <strong>de</strong>les é o reino dos céus". Ele faz do<br />
sofrimento uma condição para haver união com Ele. Se alguém quiser seguir-Me, negue-se a si<br />
próprio, tome sua cruz e siga-Me. O sofrimento foi a medida <strong>de</strong> Seu amor por nós, e o<br />
sofrimento <strong>de</strong>veria ser a medida <strong>de</strong> nosso amor por Ele!<br />
<strong>Todo</strong>s os que <strong>de</strong>ntre nós já amaram, sabem que amar é sofrer. O mundo hoje talvez esteja<br />
neste caos porque poucos realmente amam. O medo da dor se tornou quase mórbido. Nós<br />
corremos <strong>de</strong>la o mais rápido que nossas fracas e limitadas pernas espirituais po<strong>de</strong>m nos levar.<br />
Marido e mulher se divorciam por causa da mais insignificante amostra <strong>de</strong> dor; mães abandonam<br />
crianças, crianças procuram fugir por caminhos que acabam por levá-las ao vandalismo e à<br />
<strong>de</strong>linqüência.<br />
Mas a Senhora Dor é linda. Sua face reflete a <strong>de</strong> Deus, pois ela era Sua constante<br />
companheira. E foi ao pé da cruz que suas roupas brancas ficaram tingidas pelo vermelho <strong>de</strong> Seu<br />
sangue.<br />
Amar é dar testemunho <strong>de</strong> alguém ou alguma coisa. Amar a Deus é dar testemunho Dele.<br />
Mas o Seu reino está em guerra com o reino <strong>de</strong>ste mundo que pertence a Satanás. On<strong>de</strong> há<br />
guerra existe dor. Especialmente numa guerra on<strong>de</strong> o Amor luta com o ódio. E nessa guerra<br />
<strong>de</strong>vemos todos combater ou perecer.<br />
26 - TÉDIO<br />
Hoje gostaria <strong>de</strong> falar sobre o tédio. Vocês sabem o que é o tédio? É uma espécie <strong>de</strong><br />
morte em um ser humano. Significa que pessoas <strong>de</strong>ixaram secar suas fontes interiores e<br />
chegaram a um tipo <strong>de</strong> coma semelhante à morte. A motivação <strong>de</strong>las chegou a uma verda<strong>de</strong>ira<br />
maré vazante. O tédio é a linha <strong>de</strong> partida para muitos problemas emocionais.<br />
Quando, entretanto, estamos apaixonados por Deus, é impossível ficar entediado!<br />
Aqueles que se sentem entediados cessaram <strong>de</strong> amar ou estão correndo o risco <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> amar.<br />
Como é possível estar enfadados quando cremos, como diz São Paulo, que nós po<strong>de</strong>mos<br />
completar aquilo que "está faltando" aos sofrimentos <strong>de</strong> Cristo? Na Sua infinita misericórdia,<br />
Deus nos chama para sermos co-re<strong>de</strong>ntores do mundo com Ele! Nós somos co-re<strong>de</strong>ntores com<br />
Cristo! Ele nos <strong>de</strong>u um po<strong>de</strong>r imenso! Assim nossa rotina aborrecida não tem nada <strong>de</strong><br />
aborrecida, mas resplan<strong>de</strong>ce como a luz - pelo menos está em nosso po<strong>de</strong>r fazer com que isso<br />
aconteça.<br />
Como é que isso funciona em nossas vidas diárias? Uma secretária que "oferece" a<br />
cansativa tarefa <strong>de</strong> transferir dados para o computador é co-re<strong>de</strong>ntora do mundo com Cristo.<br />
Estudantes, cozinheiros que preparam ensopados, homens que executam tarefas, dirigindo<br />
caminhões, fazendo consertos - todos po<strong>de</strong>m salvar muitas almas das garras do inferno! Como,<br />
em nome do Santíssimo, po<strong>de</strong> você ficar entediado com esse trabalho <strong>de</strong> digitar, cozinhar,<br />
consertar coisas quando - pela fé - você sabe que tudo ajuda a redimir o mundo e a ren<strong>de</strong>r glórias<br />
a Deus?<br />
115
27 - JUSTA CÓLERA (Sta. Mônica)<br />
<strong>Em</strong> que instante, nas profun<strong>de</strong>zas da alma e do coração humanos, começa a "justa<br />
cólera?” <strong>Em</strong> que instante um cristão estica as cordas daquela ira que expulsa os vendilhões do<br />
templo?<br />
Eu pessoalmente conheço as terríveis tempesta<strong>de</strong>s <strong>de</strong> angústia quando a justa cólera<br />
saco<strong>de</strong> uma pessoa. Eu a conheci nas favelas <strong>de</strong> Toronto, durante a Depressão, quando os pobres<br />
estavam morrendo <strong>de</strong> fome enquanto uma audiência católica, para a qual eu fazia uma palestra<br />
em um hotel Cinco Estrelas, comia do bom e do melhor. Eu a conheci quando usei palavras<br />
como cordas em minhas palestras sobre justiça social e, quando voltava para o meu quarto,<br />
infestado <strong>de</strong> percevejos, no Harlem, sentia a tentação <strong>de</strong> usar o talento <strong>de</strong> minhas palavras para<br />
incitar os negros à violência. Eu até hoje me encontro cheia <strong>de</strong>sta justa cólera, porque a face da<br />
pobreza e da injustiça ainda está por toda a parte - nas favelas rurais, entre as minorias, nos países<br />
sub<strong>de</strong>senvolvidos. Quanto tempo ainda os cristãos vão ficar assistindo aos pobres sendo<br />
pisoteados no pó pelos ricos?<br />
Tenho uma única resposta para mim mesma: orar sem cessar, jejuar e dizer Fiat a Deus<br />
para permanecer crucificada numa cruz <strong>de</strong> uma tensa justa cólera. Eu me sinto segura naquela<br />
estranha cruz <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira. Porque Aquele que está nela pregado não po<strong>de</strong> sucumbir à tentação da<br />
violência, porque é realmente uma tentação. Uma pessoa crucificada apenas po<strong>de</strong> ficar ali<br />
pendurada e morrer lentamente por aqueles com quem ele ou ela se i<strong>de</strong>ntificaram.<br />
28 - A PAZ CHEGA ATRAVÉS DO SILÊNCIO (Sto. Agostinho, Doutor da Igreja)<br />
Há inquietação em nossos corações. Por que? Porque nós não somos silenciosos. Não<br />
elevamos nossos corações a Deus. Não nos comunicamos com Ele. Não temos aquela<br />
comunicação interior uns com os outros; aquela estranha comunhão que flui da união <strong>de</strong> amor.<br />
Quantos <strong>de</strong> nós conseguimos fazer silêncio suficiente para realmente ouvir um ao outro?<br />
A paz é a maneira <strong>de</strong> escutar os outros. Quando um está realmente escutando o outro falar, eles<br />
começam a se enten<strong>de</strong>r entre si. Nós não sabemos ouvir porque não possuímos a paz interior,<br />
nem o silêncio interior <strong>de</strong> mente e <strong>de</strong> coração. O silêncio é o caminho para a paz e ele vem do<br />
amor. Somente aqueles que são capazes <strong>de</strong> amar sabem fazer silêncio.<br />
Não é fácil fazer silêncio. Temos <strong>de</strong> começar caminhando para nosso interior, ao<br />
encontro <strong>de</strong> Deus, que habita <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós. Jesus disse que Seu Pai e o Espírito Santo viriam e<br />
fariam morada <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós. É para isso que serve o caminho para nosso interior. No momento<br />
em que encontramos a Trinda<strong>de</strong>, nossa comunicação silenciosa com Ela nos transformará em<br />
ícone <strong>de</strong> Cristo. Ícone significa imagem. Nós extrairemos da profun<strong>de</strong>za do silêncio - <strong>de</strong>ssa<br />
comunicação silenciosa - a semelhança <strong>de</strong> Deus. Não é por isso que anseiam nossos corações?<br />
É. Isto é o que realmente almejamos. Santo Agostinho disse que nossos corações permanecerão<br />
inquietos enquanto não repousarem em Deus.<br />
29 - SILÊNCIO: NOSSA CHAVE PARA OS SEGREDOS DE DEUS<br />
(Martírio <strong>de</strong> S. João Batista)<br />
Temos <strong>de</strong> nos tornar ícones <strong>de</strong> Cristo porque, do que precisa o mundo mais do que tudo?<br />
Ele precisa tocar em Deus. Eu costumava perguntar a minha mãe, "Mamãe, como posso tocar em<br />
Jesus?". Ela respondia, "Toque em mim". No meu próprio silêncio e no silêncio dos <strong>de</strong>mais eu<br />
116
me conscientizo <strong>de</strong> que posso tocar em Jesus. O silêncio é a chave para muitos segredos <strong>de</strong><br />
Deus. Por que não Lhe imploramos que nos dê essa chave?<br />
O verda<strong>de</strong>iro silêncio sempre dá repouso. O silêncio é o berço. Ele foi o berço da<br />
Encarnação. Houve um gran<strong>de</strong> e impressionante silêncio quando Deus nasceu. Se continuarmos<br />
em nossa jornada interior, nós também po<strong>de</strong>remos ser berços para o Menino. Temos que<br />
transformar nossos corações em berços para qualquer um que quiser se aproximar e neles<br />
repousar como crianças. Não existe homem ou mulher vivente que no mais fundo <strong>de</strong> seu ser não<br />
almeje ser uma criança. Jesus expressou esse <strong>de</strong>sejo secreto quando disse, A menos que vos<br />
torneis como criancinhas, não entrareis no reino dos céus. É por isso que minha prece favorita<br />
é, "Senhor, dai-me o coração <strong>de</strong> uma criança e a coragem <strong>de</strong> viver isso como um adulto".<br />
O silêncio é mais do que um berço. Ele é também uma hospedaria para o homem que foi<br />
atendido pelo bom samaritano, após ter sido atacado por assaltantes. Quem <strong>de</strong> nós não é atacado<br />
por assaltantes? Quem <strong>de</strong> nós não precisa <strong>de</strong> hospedaria <strong>de</strong> silêncio, repouso e paz no coração <strong>de</strong><br />
alguém? É isto o que o silêncio faz quando compreen<strong>de</strong>mos que é ele o meio mais rápido para a<br />
paz e a comunicação.<br />
30 - ENSINE-NOS A REZAR<br />
Se fosse feita a pergunta, "Qual é a única coisa necessária para o sucesso da missão da<br />
Igreja?", a resposta seria a oração contemplativa. Essa resposta não seria compreendida em nossa<br />
socieda<strong>de</strong> secular. Mas a oração <strong>de</strong>ve se tornar parte integrante <strong>de</strong> nossas vidas diárias, a parte<br />
mais importante! Para que isso aconteça, no entanto, todo o sentido <strong>de</strong> "ensinar" no seu mais<br />
amplo aspecto <strong>de</strong>ve ser mudado. No lar, na escola, na paróquia, a oração <strong>de</strong>ve vir em primeiro e<br />
completo lugar.<br />
<strong>Todo</strong> aluno <strong>de</strong> terceiro ano escolar sabe que rezar significa elevar a mente e o coração até<br />
Deus. Todavia existem muitas formas para essa elevação. Ela começa com uma oração vocal<br />
que nos seja bem familiar. Depois ela prossegue com uma oração mental e meditação, uma<br />
oração com a qual muitos não têm familiarida<strong>de</strong>. Essa "elevação" também inclui uma oração <strong>de</strong><br />
silêncio, a oração do coração, e a oração contemplativa, <strong>de</strong>sconhecida <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong><br />
pessoas.<br />
Quantos <strong>de</strong> nós fomos ensinados a rezar? Por que essa falha por parte <strong>de</strong> nossos<br />
professores? Será que é porque eles próprios não sabem como rezar? Você, que Deus indicou<br />
para ensinar – você pai ou mãe, você, professor <strong>de</strong> religião em nossas escolas, colégios e<br />
universida<strong>de</strong>s, você pároco, pregadores <strong>de</strong> retiros – ensine-nos como conhecer melhor a Deus;<br />
ensine-nos como amar; ensine-nos a rezar.<br />
31 - APRENDIZAGEM<br />
Meu pai dizia que um ano em que uma pessoa não apren<strong>de</strong>sse nada era um ano perdido.<br />
Conhecimento, <strong>de</strong> qualquer tipo, é útil e absolutamente necessário, mas há algo ainda maior,<br />
alguma coisa <strong>de</strong> extrema importância - gran<strong>de</strong> como o horizonte e tão incrível que não existem<br />
palavras para <strong>de</strong>finir. É o estudo da vida espiritual, ou das coisas espirituais, que é o coroamento<br />
<strong>de</strong> todo o conhecimento e <strong>de</strong> toda a aprendizagem natural.<br />
Devemos sempre lembrar que a graça opera na natureza.O regime da espiritualida<strong>de</strong><br />
carola que era muito usado rompeu essa or<strong>de</strong>m e não permitia mais que a graça operasse em sua<br />
total profundida<strong>de</strong>.<br />
117
Na minha avaliação, não há nada <strong>de</strong> secular no mundo, pois ele foi criado por Deus -<br />
tocado por Deus - e por isso é sagrado. Nossos ancestrais costumavam dividir o mundo em<br />
sagrado e profano. Mas eu não consigo imaginar nada que tenha sido criado por Deus como<br />
sendo profano. Portanto, repito, todas as coisas, para mim, são sagradas.<br />
Tenho um <strong>de</strong>sejo apaixonado <strong>de</strong> que vocês possam <strong>de</strong>senvolver, em sua totalida<strong>de</strong>, suas<br />
capacida<strong>de</strong>s e seus talentos. Esses talentos po<strong>de</strong>m estar latentes e vocês têm <strong>de</strong> cavar fundo para<br />
encontrá-los, mas vocês têm <strong>de</strong> superar todas as dificulda<strong>de</strong>s para <strong>de</strong>senvolvê-los. Alargar seus<br />
horizontes naturais vale qualquer coisa, para que vocês permitam que seus dons sobrenaturais<br />
ganhem espaço para crescer e se expandir. <strong>Em</strong> outras palavras, dar espaço para Cristo, não<br />
apenas para que Ele cresça em toda a Sua estatura em vocês, mas para que tenha um lugar <strong>de</strong>ntro<br />
<strong>de</strong> vocês para agir como <strong>de</strong>sejar, um lugar para Ele se expandir e respirar.<br />
© online edition Madonna House Publications March 2010<br />
118
1 - ENSINO<br />
SETEMBRO<br />
O caminho do ensino é ser. Isto quer dizer, você não ensina o espírito a não ser pelo<br />
exemplo. E assim, para restaurar alguém para Deus e para si próprio, um professor tem <strong>de</strong><br />
encaminhar os estudantes para o Senhor. Para fazer isso aquele que for <strong>de</strong>signado para professor<br />
<strong>de</strong>ve, ele mesmo ou ela, tornar-se um ícone <strong>de</strong> Cristo. Meus pais o eram, eu me lembro.<br />
A verda<strong>de</strong>ira essência da vocação <strong>de</strong> vocês - que é gloriosa, mesmo que seja oculta e<br />
humil<strong>de</strong> - é amar a Deus apaixonadamente através do amor ao próximo. Deus foi quem primeiro<br />
nos amou, e é sobre isso que repousa nossa fé. Nós temos <strong>de</strong> correspon<strong>de</strong>r a esse amor e amá-Lo<br />
em resposta! Amar a Deus apaixonadamente é morrer para si próprio. Nós permitimos que<br />
sejamos crucificados no outro lado da Sua Cruz, então nossa visão se esten<strong>de</strong>rá pelo mundo<br />
inteiro, do ponto <strong>de</strong> vista daquela Cruz.<br />
Temos <strong>de</strong> estar constantemente buscando expandir nossa visão, rever os caminhos para<br />
nosso objetivo e escolher aqueles que melhor se ajustam à rápida mudança dos tempos. Devemos<br />
ser flexíveis e abertos às mudanças, nunca rígidos em nossa maneira <strong>de</strong> agir. A flexibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ve ser obtida através da observação, do pensamento, da pesquisa, da oração e "fechando as asas<br />
do nosso intelecto", <strong>de</strong>ixando que Deus nos diga o que Ele quer que seja nosso trabalho.<br />
Num dado momento, Deus po<strong>de</strong> nos pedir que esqueçamos nosso grau <strong>de</strong> doutorado para<br />
irmos lavar pratos. Num outro momento, Ele po<strong>de</strong> nos pedir que usemos nosso doutorado.<br />
Estudiosos e cientistas que tanto rezam como estudam po<strong>de</strong>m transformar suas “torres <strong>de</strong> marfim<br />
em Cenáculos, dos quais um forte vento e línguas <strong>de</strong> fogo po<strong>de</strong>m sair”.<br />
2 - APRENDIZAGEM INTELECTUAL E SABEDORIA ESPIRITUAL<br />
Lembro-me <strong>de</strong> meu crescimento na Europa, numa época em que ninguém se preocupava<br />
em estudar para alcançar graduações, nem para buscar altos salários. O conhecimento, <strong>de</strong> modo<br />
geral, era procurado pelo seu valor intrínseco.<br />
Lembro-me <strong>de</strong> meu pai nos dando a bênção <strong>de</strong>s<strong>de</strong> quando íamos à escola primária e<br />
através dos anos. "Que o Espírito Santo te cubra com a Sua sombra, filha, para que possas<br />
compreen<strong>de</strong>r que todo o conhecimento <strong>de</strong>ve ser usado para a glória <strong>de</strong> Deus e para o serviço do<br />
próximo".<br />
Não sou <strong>de</strong> forma alguma contra os intelectuais. Eu mesma sou, acreditem ou não, uma<br />
intelectual! Mas, nos anos trinta, quando comecei a trabalhar com os pobres, nas favelas <strong>de</strong><br />
Toronto, <strong>de</strong>i-me conta <strong>de</strong> que <strong>de</strong>veria "fechar as asas <strong>de</strong> meu intelecto" in<strong>de</strong>finidamente. Não<br />
mais haveria tempo para saciar a fome <strong>de</strong> aprendizados sérios ou oportunida<strong>de</strong>s para <strong>de</strong>sfrutar da<br />
companhia <strong>de</strong> outras pessoas com interesses intelectuais. E, contudo, eu era uma pessoa adulta,<br />
ansiosa pela companhia <strong>de</strong> intelectuais, por livros e estudos. Eu não imaginava quão<br />
terrivelmente duro isso iria ser! Então, mais tar<strong>de</strong>, o Senhor pareceu sorrir e eu fui como lançada<br />
para dar palestras, escrever, estudar e trocar idéias com outras pessoas. Foi aí que compreendi<br />
que eu havia passado pela mais alta escola <strong>de</strong> aprendizagem - a Escola <strong>de</strong> Amor <strong>de</strong> Deus.<br />
Comecei a perceber que se entregarmos nosso intelecto a Deus, quando Ele o pedir, Ele no-lo<br />
dará <strong>de</strong> volta limpo <strong>de</strong> tudo aquilo que não é Dele. E o nosso conhecimento das coisas seculares<br />
e espirituais tornar-se-á, em Deus, novo e mais po<strong>de</strong>roso.<br />
119
3 - A VISÃO DO TODO<br />
A "visão do todo" é realmente <strong>de</strong>sconcertante. Através da multidão heterogênea que<br />
somos, cheios <strong>de</strong> toda a sorte <strong>de</strong> falhas emocionais e outras feridas, o Senhor <strong>de</strong>seja restaurar Sua<br />
Igreja. Talvez o termo "restaurar" seja uma palavra muito grandiosa. Mas, mesmo assim, parece<br />
que Ele vai nos moldando, nos dando forma, curando-nos, abençoando-nos, guiando-nos em<br />
direção à Sua vonta<strong>de</strong>.<br />
Na proporção <strong>de</strong> nosso serviço e <strong>de</strong> nossa fé, nós vamos crescendo no amor <strong>de</strong> Cristo até<br />
que o "Eu" em nós seja expulso e cada um <strong>de</strong> nós, inteiramente penetrados por Cristo, nos<br />
tornemos um com Ele. Deus <strong>de</strong>seja a totalida<strong>de</strong> do amor <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong> nós.<br />
Devemos tomar cuidado em não nos avaliarmos a nós mesmos nem nosso apostolado<br />
mais pela ativida<strong>de</strong> do que pelo espírito. Precisamos estar atentos para que não entremos em uma<br />
rotina mortal <strong>de</strong> trabalho. O trabalho é oração, essa é a verda<strong>de</strong>. Mas não <strong>de</strong>vemos nos satisfazer<br />
apenas com o trabalho executado. A ação <strong>de</strong>ve ser um fruto do Espírito. Nossa maior<br />
contribuição a todo o trabalho feito para Deus é ficarmos interiormente unidos a Cristo,<br />
contemplá-Lo nas profun<strong>de</strong>zas <strong>de</strong> nossas almas.<br />
Enquanto nós amarmos Cristo em nosso próximo, sempre e em qualquer lugar, Ele nos<br />
atrairá para Si. Porque nossa vocação é que sermos contemplativos, contemplar a Deus no fundo<br />
<strong>de</strong> nossas almas, mesmo enquanto vamos conduzindo nossas rotinas diárias. É-nos dado o dom<br />
<strong>de</strong> tocá-Lo, conversar com Ele, servi-Lo - nos outros. Cristo sempre vem a nós nos outros.<br />
4 - COLECIONANDO PEDRAS<br />
Eu acho que foi Deus quem <strong>de</strong>spertou meu interesse por pedras. Tudo começou com meu<br />
constante interesse por tudo o que pertence à natureza. Passeando um dia por um caminho<br />
arborizado, encontrei várias pedras lindas, trouxe-as para casa e fiquei imaginando que pedras<br />
seriam. Eu tinha tido alguma instrução sobre mineralogia, mas <strong>de</strong>cidi que era tempo <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r<br />
mais. Com a ajuda <strong>de</strong> um amigo que era o Ministro <strong>de</strong> Minas, recebi mais pedras para uma<br />
coleção, aprendi seus nomes, e <strong>de</strong>pois assinei revistas sobre pedras e o que po<strong>de</strong> ser feito com<br />
elas. Eu percebia que colecionar pedras nos dá uma visão <strong>de</strong> uma dimensão da natureza<br />
tremendamente interessante. Meu marido Eddie adorava colecionar pedras.<br />
Hoje em Madonna House temos uma biblioteca <strong>de</strong> mineralogia e sobre como colecionar<br />
pedras. Temos até uma cabana on<strong>de</strong> guardamos nossa coleção <strong>de</strong> pedras. Sempre acreditei que<br />
em tudo <strong>de</strong>vemos dar ênfase à parte espiritual e peço auxílio aos santos. Santo Estevão foi<br />
apedrejado até a morte e, como Cristo, perdoou os seus inimigos enquanto eles o apedrejavam.<br />
Assim, <strong>de</strong>cidimos dar à nossa cabana <strong>de</strong> coleção <strong>de</strong> pedras o nome <strong>de</strong> Santo Estevão.<br />
Se você algum dia lidar com pedras, seja como uma rocha em sua fé e lembre-se <strong>de</strong> que o<br />
Senhor é uma eterna Rocha. Cristo disse, "A menos que a casa seja construída sobre a rocha ela<br />
<strong>de</strong>smoronará". A Rocha, claro, é Cristo.<br />
5 - PENSAMENTOS SOBRE UM CERTO TRABALHADOR BRAÇAL<br />
Outro dia, estávamos conversando sobre trabalho e, <strong>de</strong> repente me vi perdida no passado<br />
da Palestina. Vi um martelo, um formão, uma plaina. Não sei como, fiquei inteiramente surpresa<br />
- como se nunca tivesse pensado nisso antes - era uma carpintaria! O <strong>de</strong>safio que isso<br />
apresentava estava além da minha capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> absorver. A Segunda Pessoa da Trinda<strong>de</strong> -<br />
120
Alguém que po<strong>de</strong>ria ter sido um rabino, um rei, um imperador, um homem com tremendo<br />
renome, um filósofo, Alguém a cujos pés o mundo inteiro viria se sentar e ouvir - essa espantosa<br />
pessoa ali estava, curvado sobre uma bancada na oficina, entalhando e aplainando peças <strong>de</strong><br />
ma<strong>de</strong>ira, fazendo pequenas tarefas "sem importância": construindo uma mesa para alguém,<br />
fazendo um berço para outro, uma ca<strong>de</strong>ira para uma outra pessoa. Eu vi Suas mãos calejadas<br />
(porque Ele tinha as mãos calejadas!) e perguntei a mim mesma por que tinha Ele escolhido esse<br />
tipo <strong>de</strong> trabalho tão humil<strong>de</strong>, tão sem inspiração, tão pouco <strong>de</strong>safiante. Numa rua secundária em<br />
uma al<strong>de</strong>ia sem importância, Ele trabalhava como um carpinteiro comum, exatamente como Seu<br />
pai <strong>de</strong> criação fazia.<br />
E o que fazia Sua mãe? Ela lavava e esfregava, levava a roupa para lavar no rio, moía os<br />
grãos <strong>de</strong> trigos com duas pedras. Ela tecia roupas; conta-se que ela teceu a túnica que os romanos<br />
disputaram jogando dados, porque era muito bonita.<br />
Quando reentrei na discussão sobre trabalho, retornei da minha visão <strong>de</strong> Jesus executando<br />
trabalhos <strong>de</strong> carpinteiro; e agra<strong>de</strong>ci a Deus por ter Ele se tornado um trabalhador braçal para<br />
mostrar-nos o caminho para o Pai.<br />
6 - EM LOUVOR AO TRABALHO<br />
<strong>Todo</strong> trabalho é santo. Através <strong>de</strong>le caminhamos na estrada real <strong>de</strong> Cristo. Não existe<br />
nenhum outro meio para se chegar a Deus, somente o trabalho. A Igreja usa o termo obras <strong>de</strong><br />
carida<strong>de</strong>, tanto no sentido corporal como no espiritual. Essas obras compreen<strong>de</strong>m ativida<strong>de</strong><br />
intelectual e física, oração e sacrifício. O auge <strong>de</strong> todo o trabalho é a Cruz do Calvário, na qual<br />
pen<strong>de</strong> um carpinteiro que trabalhava com Suas mãos - Deus que trabalhava com Sua mente<br />
criativa perfeita numa chama <strong>de</strong> amor. Sim, todo o trabalho é santo, mas parece que nós estamos<br />
esquecidos disso. Esquecemo-nos <strong>de</strong> que especialmente o trabalho braçal é santo. Talvez porque<br />
muito poucos <strong>de</strong> nós lêem ou rezam os Salmos nestes dias tumultuados: Seja teu trabalho visto<br />
por teus servos e tua glória pelos seus filhos; E possa estar conosco a graça do Senhor nosso<br />
Deus; Que o trabalho <strong>de</strong> nossas mãos nos traga prosperida<strong>de</strong>! Que nos traga prosperida<strong>de</strong> o<br />
trabalho <strong>de</strong> nossas mãos!.<br />
Tanto as mãos <strong>de</strong> Deus como as mãos dos homens e mulheres trabalham - pelo menos as<br />
Dele o fazem! E as nossas? Nossas mãos foram feitas para trabalhar com a ma<strong>de</strong>ira, a terra, o<br />
aço, para a maior glória <strong>de</strong> Deus, através do retesar <strong>de</strong> cada músculo.<br />
Jesus, o Carpinteiro, inclina-Se para nós e toma nossas mãos nas Suas. Ele sente na<br />
ru<strong>de</strong>za <strong>de</strong>las a Sua própria. Assim, dois pares <strong>de</strong> mãos calejadas pelo trabalho ficam entrelaçados<br />
- um par <strong>de</strong>las perfurado por cravos, o outro machucado pelo trabalho. Elas se encontram na<br />
plenitu<strong>de</strong> do amor. Senhor, ajudai-nos a ver a beleza, a criativida<strong>de</strong>, a alegria e o po<strong>de</strong>r do<br />
trabalho braçal!<br />
7 - SACRAMENTAIS<br />
Quando eu era menina, na Rússia, ícones, medalhas, e outros objetos religiosos eram<br />
profundamente venerados, tanto por aquilo que representavam, como pelas bênçãos que haviam<br />
sido dadas a eles. Eles eram "coisas santas", para serem usados com reverência e amor.<br />
E água benta - a água abençoada por Deus e pela igreja - era o mais po<strong>de</strong>roso<br />
sacramental! É muito potente contra o <strong>de</strong>mônio e o po<strong>de</strong>r das trevas e também na doença e na<br />
saú<strong>de</strong>.<br />
121
E eu me pergunto se vocês têm idéia da bênção que é uma luz <strong>de</strong> vela. Há alguma coisa<br />
com relação ao seu bruxulear, uma luz suave enquanto queima constantemente diante <strong>de</strong> uma<br />
imagem favorita ou um ícone. Ela faz com que qualquer quarto, qualquer casa, humil<strong>de</strong>s ou<br />
suntuosos, sejam verda<strong>de</strong>iramente "abençoados". Isto talvez porque a luz - tão constante e fiel -<br />
nos faz lembrar <strong>de</strong> Deus ou das coisas <strong>de</strong> Deus, ou porque a <strong>de</strong>ixamos ali como uma forma mais<br />
permanente <strong>de</strong> oração do que a que nós, sempre tão ocupados, po<strong>de</strong>ríamos oferecer. A querida<br />
luz <strong>de</strong> vela que sempre ar<strong>de</strong>u nos lares russos trazia Deus e Nossa Senhora mais para perto,<br />
fazendo a gente se sentir mais segura e em paz. Ela ainda faz isso em meu lar - e po<strong>de</strong> fazê-lo no<br />
<strong>de</strong> vocês.<br />
O po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Deus é infinito e Sua bênção, mesmo em seres inanimados, é po<strong>de</strong>rosíssima,<br />
especialmente quando são usados com fé e a gran<strong>de</strong> simplicida<strong>de</strong> da total confiança. Isso po<strong>de</strong><br />
realizar, e tem realizado milagres.<br />
8 - MARIA, PADROEIRA DOS LEIGOS (Nativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Nossa Senhora)<br />
Ocorreu-me hoje que Maria po<strong>de</strong>ria ser a padroeira dos leigos. Veja bem, ela era uma<br />
leiga, no mais completo sentido do termo. Para todos os olhos ela era a esposa <strong>de</strong> um carpinteiro,<br />
a mãe <strong>de</strong> um Filho. Ela era uma dona <strong>de</strong> casa que fazia os serviços da casa, costurava, tecia. Não<br />
foi ela quem teceu a túnica inconsútil <strong>de</strong> Cristo? Ela lavava roupa no mesmo poço como todas as<br />
outras mulheres da al<strong>de</strong>ia. Ela vivia com o seu Filho, um carpinteiro, por um número não<br />
conhecido <strong>de</strong> anos, e era sustentada por Ele.<br />
Que melhor mo<strong>de</strong>lo, que melhor padroeira, que melhor auxiliadora po<strong>de</strong>riam querer os<br />
leigos que não Maria? Não pedimos nós auxílio a ela, em época <strong>de</strong> turbulência, num mundo<br />
cheio <strong>de</strong> confusões, ansieda<strong>de</strong>s e problemas? Eu acho que ela <strong>de</strong>ve ter tido um tempo muito mais<br />
duro do que o nosso. Ela provavelmente ouvia boatos sobre seu Filho, durante Sua vida pública,<br />
nem todos eles lisonjeiros! Tantos O acusaram! Não <strong>de</strong>veria, então, ser Maria a padroeira <strong>de</strong> um<br />
laicato que ouve toda a espécie <strong>de</strong> rumores sobre Cristo? Rumores tais como, "Cristo não é<br />
Deus", "Cristo é somente um profeta", e "Deus está morto".<br />
Ela nos dará coragem para bem resolvermos as coisas no silêncio <strong>de</strong> nossos corações. Ela<br />
nos ajudará a crescer na fé e no amor. Eu dou a Maria um nome muito simples: Mãe do Povo <strong>de</strong><br />
Deus, padroeira dos leigos.<br />
9 - SUPERIORIDADE INCONSCIENTE (São Pedro Claver)<br />
Qual é nossa atitu<strong>de</strong> com relação a outras pessoas? Nós nos sentimos superiores? Nós<br />
falamos dos outros com uma humilda<strong>de</strong> séria? Eu duvido.<br />
Quero falar sobre a falta <strong>de</strong> atenção que temos em nossas conversas, atitu<strong>de</strong>s e expressões<br />
relativas a grupos minoritários. Qual a nossa atitu<strong>de</strong> em relação a eles? Será que existem aqui e<br />
ali alguns traços <strong>de</strong> superiorida<strong>de</strong> e orgulho? Especialmente quando são pobres? Existe em<br />
nossas mentes uma divisão entre nós e eles que, embora sutil, é perigosa para o nosso espírito?<br />
Eu soube que alguém disse, "E você sabe, você faz tudo o que po<strong>de</strong> por eles, dá a eles o<br />
que há <strong>de</strong> melhor e eles não dizem nada, ou então criticam e não <strong>de</strong>monstram agra<strong>de</strong>cimento".<br />
Francamente, essa conversa me horroriza. Que alguém <strong>de</strong>ntre nós faça alguma coisa pelo Cristo<br />
nos pobres e <strong>de</strong>pois espere que o Cristo no pobre nos seja grato! Do ponto <strong>de</strong> vista espiritual,<br />
<strong>de</strong>veríamos beijar os pés dos pobres e ser agra<strong>de</strong>cidos ao Cristo que nos permitiu servi-los. Se<br />
122
nossas idéias forem diferentes disso, estamos fora dos eixos, e não possuímos nem carida<strong>de</strong> nem<br />
senso comum.<br />
Já disse o que queria. Deixo o resto para o Espírito Santo e para o exame <strong>de</strong> consciência<br />
<strong>de</strong> vocês. Nenhum <strong>de</strong> nós po<strong>de</strong> se <strong>de</strong>clarar "Inocente". Vamos jogar fora essa falta <strong>de</strong> atenção e<br />
essa falta <strong>de</strong> carida<strong>de</strong>.<br />
10 - A TRAGÉDIA DE AGIR EM CONFORMIDADE<br />
Muitas pessoas hoje em dia são cerceadas por esta trágica atitu<strong>de</strong>: "O que os vizinhos vão<br />
pensar?" Eles sentem, até o mais fundo <strong>de</strong> seus seres, a compulsão da conformida<strong>de</strong>. E isso é que<br />
é responsável por tantos <strong>de</strong> nossos problemas emocionais, porque no âmago da conformida<strong>de</strong><br />
está a insegurança e a doentia necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprovação a qualquer custo.<br />
Vejam como vocês são ainda limitados por estilos: existe pouca originalida<strong>de</strong> com relação<br />
a penteados e vestuários. Vocês, na realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sejam ser iguais a todo mundo. Vocês estão<br />
ainda sujeitos à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> agir "<strong>de</strong>ntro dos conformes".<br />
Entretanto os santos - e vocês são supostamente santos em potencial - são as pessoas mais<br />
originais, singulares, aventurosas no mundo. Quando vocês começarem a conhecer as vidas dos<br />
santos vão notar que não existem dois santos iguais. O Senhor ama a diversida<strong>de</strong> na unida<strong>de</strong>! Se<br />
pudéssemos comparar os santos com um jardim <strong>de</strong> flores, com o qual Ele se <strong>de</strong>leitasse, eu<br />
pessoalmente imagino que Ele ficaria muito entediado se o jardim fosse só <strong>de</strong> lírios, ou rosas, ou<br />
só <strong>de</strong> qualquer outro tipo <strong>de</strong> flor. A beleza <strong>de</strong> um jardim resi<strong>de</strong> na sua diversida<strong>de</strong>, na sua<br />
originalida<strong>de</strong>, na sua individualida<strong>de</strong>. O mesmo se dá com as mentes, os corpos e os corações<br />
dos santos.<br />
Tenho pensado ultimamente que nós fomos comissionados por Deus para trazer<br />
varieda<strong>de</strong>, santa individualida<strong>de</strong>, originalida<strong>de</strong> e um espírito <strong>de</strong> aventura para um mundo que<br />
parece um robô na sua forma <strong>de</strong> agir em conformida<strong>de</strong>.<br />
11 - A BELEZA DA DIVERSIDADE<br />
Nós <strong>de</strong>vemos pegar o chicote <strong>de</strong> cordas do amor e, como Cristo, expulsar a conformida<strong>de</strong><br />
dos templos das almas humanas - expulsar com firmeza, com gentileza e amor, mas, <strong>de</strong> qualquer<br />
maneira, expulsar. Entretanto, <strong>de</strong>vemos primeiro esmagar a conformida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nossas<br />
próprias mentes, almas e corações. Essa é uma tarefa para cada pessoa. Vamos assumir o risco<br />
<strong>de</strong> experimentar comidas estrangeiras, especialmente quando viajamos. Vamos ser temerários na<br />
nossa aparência. Vamos ser aventurosos, singulares e experimentar novos passatempos e<br />
ativida<strong>de</strong>s criativas. Nossa alma fenecerá sem criativida<strong>de</strong>, pois esta é uma das necessida<strong>de</strong>s<br />
humanas básicas.<br />
Vamos ser <strong>de</strong>stemidos e singulares ao proclamar as verda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Deus. A gente <strong>de</strong>ve falar<br />
<strong>de</strong> forma diferente para garotos favelados e para jovens num colégio. Vamos nos tornar tudo<br />
para todos sem temor e sem tremer. Vamos ser originais em nossa santida<strong>de</strong>, nossas orações,<br />
nossos esforços para chegar até Deus. Vamos compartilhar da riqueza que alcançamos, uns com<br />
os outros.<br />
Vamos mergulhar nas profun<strong>de</strong>zas do amor <strong>de</strong> Deus e voltar à superfície como um<br />
homem novo, uma nova mulher, com idéias e pensamentos que vão enriquecer a Igreja pela nossa<br />
individualida<strong>de</strong>. Não tenhamos receio <strong>de</strong> pensar, <strong>de</strong> procurar respostas às nossas perguntas.<br />
123
Sejamos diferentes, usando os talentos dados por Deus a cada um <strong>de</strong> nós. Vamos agir em<br />
conformida<strong>de</strong> apenas com relação a uma coisa: amar a Deus cada dia mais e mais, todos juntos.<br />
12 - DESPOJAMENTO<br />
Despojamento - que palavra estranha. Hoje ela é importante para muitos cristãos que<br />
buscam a face <strong>de</strong> Cristo. Despojamento. Os gregos tinham uma palavra diferente para a mesma<br />
idéia. Eles a chamavam <strong>de</strong> kenosis, que significa "auto-esvaziamento".<br />
Parece que a consciência mo<strong>de</strong>rna não po<strong>de</strong> mais suportar a disparida<strong>de</strong> entre ricos e<br />
pobres.<br />
É chegada a hora <strong>de</strong> examinarmos essa fome por <strong>de</strong>spojamento, pois ela é,<br />
freqüentemente, inspirada pelo Espírito Santo. Sim, o vento e o fogo do Espírito Santo estão se<br />
espalhando hoje em dia. O mais essencial <strong>de</strong> que <strong>de</strong>vemos nos <strong>de</strong>spojar é nosso egocentrismo e<br />
nosso egoísmo - individualmente, coletivamente, nacionalmente, internacionalmente. O mundo<br />
não po<strong>de</strong> mais permanecer dividido entre os que têm e os que não têm. É hora para aqueles que<br />
têm colocarem-se no lugar dos que não têm para apren<strong>de</strong>rem o que significa estar faminto, estar<br />
cansado, não ter um lugar para ficar.<br />
A hora chegou <strong>de</strong> nos encararmos, livrarmo-nos <strong>de</strong> tudo aquilo em nós que nos impe<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
nos tornarmos irmãos e irmãs uns dos outros. Esse é o real objetivo <strong>de</strong> toda essa lida dos jovens<br />
<strong>de</strong> hoje. É isso que eles buscam através <strong>de</strong> todas as suas tentativas <strong>de</strong> <strong>de</strong>spojamento.<br />
13 - A NECESSIDADE DE NÃO TER (São João Crisóstomo, Doutor da Igreja)<br />
O Evangelho <strong>de</strong>stina-se a todos - monges, freiras, leigos, casados ou solteiros. São João<br />
Crisóstomo nos lembra que o monge e o leigo <strong>de</strong>vem atingir o mesmo patamar <strong>de</strong> santida<strong>de</strong>.<br />
Esse Pai da Igreja vai além e diz: "Quando Cristo nos or<strong>de</strong>na seguir pelo caminho estreito, Ele Se<br />
dirige a todos os homens".<br />
Uma riqueza que pertence a todos os cristãos, então, é a pobreza evangélica. Quando<br />
discutimos a pobreza do ponto <strong>de</strong> vista da Escritura, <strong>de</strong>vemos mergulhar nas profun<strong>de</strong>zas da alma<br />
humana e do Evangelho. O teólogo russo Paul Evdokimov diz, "A ausência da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
ter... torna-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> não ter". Aí está a verda<strong>de</strong>ira essência da pobreza - espiritual,<br />
física e emocional.<br />
Estamos nós cheios <strong>de</strong>ssa necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> não ter? Estamos limpando nosso interior, e as<br />
nossas casas, <strong>de</strong> todas as coisas em excesso das quais realmente não temos necessida<strong>de</strong>?<br />
Estamos em busca <strong>de</strong> um estilo <strong>de</strong> vida simples, ou estamos amontoando nossos apartamentos<br />
com mil objetos que vão tão somente satisfazer nosso febril consumismo? Estamos nós<br />
invadidos pelo fogo pacificador que nos <strong>de</strong>spe <strong>de</strong> tudo o que é <strong>de</strong>snecessário? E não me refiro<br />
apenas àquilo que é físico. A pobreza física é tão somente o jardim da infância na escola da<br />
pobreza. Não é mais do que um campo arado que se prepara para aquela maravilhosa semente<br />
que é a verda<strong>de</strong>ira pobreza em espírito.<br />
Quando sentimos a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> não ter, e ela começa realmente a <strong>de</strong>itar raízes no<br />
coração, aí chegamos à essência da pobreza.<br />
124
14 - GLORIFICANDO A CRUZ (Exaltação da Santa Cruz)<br />
Não consigo visualizar uma história <strong>de</strong> amor com Deus, sem a Cruz. Para mim a Cruz é<br />
tudo! Eu a <strong>de</strong>sejo. Eu a aceito. E peço a graça <strong>de</strong> nunca temê-la, pois, ao final, conhecerei sua<br />
alegria.<br />
Você po<strong>de</strong> talvez pensar que estou falando da boca para fora. Mas, tomando a Deus por<br />
testemunha, eu vejo a Cruz como o leito nupcial <strong>de</strong> Cristo! É uma união com Ele, ao preço <strong>de</strong> ser<br />
crucificado. Aí, apesar <strong>de</strong> minha carne se encolher, minha alma grita, "On<strong>de</strong> estão os cravos?<br />
On<strong>de</strong> está o martelo?". Conseguem ver a cena? Ou a acham muito pretensiosa?<br />
É claro que a Cruz está ali para vocês! Quando falo da Cruz, vejam, acho que vocês não<br />
enten<strong>de</strong>m bem o que quero dizer com Cruz. Para mim, a Cruz é a chave para Aquele que meu<br />
coração ama. Sem a Cruz não há Páscoa. A menos que eu me estenda nessa Cruz, não po<strong>de</strong>rei<br />
vê-Lo no céu. E eu <strong>de</strong>vo me esten<strong>de</strong>r na cruz que Ele preparou para mim, não na que eu preparo<br />
para mim.<br />
Deus abraçou a cruz! Ele a <strong>de</strong>sejou! Para isso é que Ele nasceu! E para isso é que<br />
nascemos - para nela ficarmos com Ele.<br />
Quando você vê sua vida como uma série <strong>de</strong> pequenas coisas e diz que não po<strong>de</strong> agüentála,<br />
tenho vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> chorar. Porque isso é não compreen<strong>de</strong>r a nossa fé! Nunca veja a sua vida<br />
como um amontoado <strong>de</strong> pequenas coisas, monótonas, e aí por diante. Pense nela como sendo a<br />
glória da Cruz.<br />
15 - NOSSA MÃE EM AGONIA (Nossa Senhora das Dores)<br />
Nós que acreditamos em Cristo, nós que sofremos, nós que estamos em angústia e<br />
ansieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>veríamos estar junto a Maria, ao pé da Cruz. Encontraremos, através <strong>de</strong>la, a<br />
coragem para continuar acreditando e para nos mantermos firmes enquanto a Igreja, a esposa <strong>de</strong><br />
Cristo, sangra através <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> ferimentos. Deveríamos nos voltar para Maria, que acolheu<br />
seu Filho nos braços, para encontrar forças para suportar os fardos que arrasam as almas dos<br />
cristãos.<br />
Temos uma Mãe que compreen<strong>de</strong>, porque, antes <strong>de</strong> morrer, Jesus a entregou a João, o<br />
discípulo bem-amado, para que fosse sua mãe - e nossa. Ela não apenas compreen<strong>de</strong>, mas ela<br />
ama tanto os santos como os pecadores, e os acolhe em seus braços, fazendo santos dos<br />
pecadores.<br />
Se realmente nos voltarmos para ela, ela nos guiará à ressurreição do Senhor e nos<br />
mostrará a essência <strong>de</strong> uma fé inquebrantável. Ela nos dará a coragem <strong>de</strong> encarar e esclarecer<br />
coisas no silêncio dos nossos corações. Ela nos ajudará a crescer na fé e no amor e a seguir seu<br />
Filho como o fez ela própria.<br />
Sim, Maria é um profundo mistério <strong>de</strong> consolação. Se nos dirigirmos a essa mulher<br />
envolta em silêncio, ela falará conosco. Aquela através <strong>de</strong> quem Deus veio até nós, nos<br />
conduzirá <strong>de</strong> volta a Ele.<br />
16 - A MENTALIDADE DE PRODUTIVIDADE<br />
A produtivida<strong>de</strong> é a gran<strong>de</strong> heresia do mundo oci<strong>de</strong>ntal, no que toca à sua cultura e à sua<br />
espiritualida<strong>de</strong>. Por produtivida<strong>de</strong> nós enten<strong>de</strong>mos que nos valorizamos exclusivamente pelos<br />
bens tangíveis que po<strong>de</strong>mos produzir para a socieda<strong>de</strong>. Costumamos estimar nosso próprio valor<br />
125
pela quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> boas obras que conseguimos realizar. <strong>Em</strong> verda<strong>de</strong>, este é um modo muito<br />
pobre <strong>de</strong> avaliar um ser humano criado à imagem e semelhança <strong>de</strong> Deus.<br />
Muitos santos freqüentemente foram membros completamente "não produtivos" do Corpo<br />
Místico <strong>de</strong> Cristo. Gemma Galgani, uma santa do século vinte, passou a maior parte <strong>de</strong> sua vida<br />
confinada ao leito, sofrendo pela Igreja e pelo povo <strong>de</strong> Deus. Essa era a sua alegria, o seu<br />
"serviço <strong>de</strong> amor".<br />
Pessoas insanas ou psicóticas; os cegos, os aleijados, os retardados e os mongolói<strong>de</strong>s são<br />
geralmente inúteis para o mundo e por ele <strong>de</strong>sprezados. De acordo com a escala <strong>de</strong> medida <strong>de</strong><br />
boas obras, essas pessoas não apenas são consi<strong>de</strong>radas não produtivas, mas sim como um "fardo"<br />
para os que são produtivos. Tais pensamentos nada mais são do que uma extensão da heresia da<br />
produção. Mas na economia do cristianismo, na realida<strong>de</strong> do amor <strong>de</strong> Deus pelos seres humanos,<br />
essas pessoas <strong>de</strong>ficientes, aflitas, longe <strong>de</strong> serem parasitas, são os queridos <strong>de</strong> Deus e sacrifícios<br />
<strong>de</strong> amor por nós. Se tivéssemos um grama <strong>de</strong> bom senso, nós "nos escon<strong>de</strong>ríamos nas bainhas <strong>de</strong><br />
suas roupas" para sermos levadas por elas para o céu!<br />
17 - PRODUCIONITE - O VÍCIO DO TRABALHO<br />
As pressões do trabalho po<strong>de</strong>m empurrar-nos para uma mentalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção.<br />
Infelizmente, nesse quadro surge um outro elemento - é chamado <strong>de</strong> "producionite" ou o vício do<br />
trabalho.<br />
Des<strong>de</strong> a infância, medimos nosso próprio valor pela forma como ele é refletido aos olhos<br />
daqueles que interessam, o que significa que nos avaliamos com a mesma medida com que os<br />
outros nos avaliam. Se "aqueles que interessam" não nos dão o nosso verda<strong>de</strong>iro valor, nossa<br />
verda<strong>de</strong>ira dignida<strong>de</strong> como filhos <strong>de</strong> Deus, então nossa auto-estima fica muito pobre, e aí temos<br />
<strong>de</strong> provar a nós mesmos e para o mundo que temos alguma utilida<strong>de</strong>, algum valor, algum farrapo<br />
<strong>de</strong> dignida<strong>de</strong>. Nós buscamos provar isso pela nossa produção. Esta é a doença da "producionite"<br />
ou vício do trabalho.<br />
Muitos <strong>de</strong> nós <strong>de</strong>scobrimos no trabalho e na produção uma "fuga", uma forma <strong>de</strong> fugir <strong>de</strong><br />
nossas próprias tensões e emoções. Muitos <strong>de</strong> nós ainda possuímos uma opinião muito<br />
<strong>de</strong>sfavorável <strong>de</strong> si próprios, e assim nos medimos pela quantida<strong>de</strong> do "mais extenuante" trabalho<br />
ou "maiores horas" <strong>de</strong> trabalho que fazemos. Some-se a isso a maneira como o mundo avalia o<br />
tipo específico <strong>de</strong> trabalho realizado, e aí a idéia <strong>de</strong> status se <strong>de</strong>senvolve em nós. Isso é que faz a<br />
corrente da miséria crescer e nossa dignida<strong>de</strong> humana será ainda mais <strong>de</strong>struída.<br />
Entretanto, pela verda<strong>de</strong>ira essência do Evangelho que tentamos pregar com nossas vidas,<br />
<strong>de</strong>vemos rejeitar espiritualmente e intelectualmente essa mentalida<strong>de</strong> como uma terrível heresia.<br />
Nós <strong>de</strong>vemos <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar uma guerra a essa heresia.<br />
18 - COMBATE À "PRODUCIONITE"<br />
Temos <strong>de</strong> usar toda a nossa capacida<strong>de</strong> e realmente começar um combate total contra a<br />
"producionite" e a mentalida<strong>de</strong> do vício do trabalho que é inata em nós pela cultura mo<strong>de</strong>rna. Eu<br />
tenho tentado combater a "producionite" durante anos.<br />
Aí estão algumas áreas que <strong>de</strong>vem ser atacadas, alguns "postos <strong>de</strong> combate" nesta guerra:<br />
- Encare a você mesmo com honestida<strong>de</strong>; olhe-se através dos olhos <strong>de</strong> Deus, seu Pai amoroso. À<br />
luz do que você conhece <strong>de</strong> Escritura, liturgia, teologia, história da salvação, reavalie sua<br />
dignida<strong>de</strong> e seu autovalor.<br />
126
- Olhe o mundo ao seu redor; veja como e on<strong>de</strong> a "mentalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção"<br />
invadiu suas atitu<strong>de</strong>s intelectuais.<br />
- Chegue a uma atitu<strong>de</strong> básica: que sua própria "pessoa" e as<br />
dos outros em torno <strong>de</strong> você são mais importantes do que "coisas" e "ações".<br />
- Aprenda a aceitar a frustração normal <strong>de</strong> colocar pessoas antes das coisas. Isso<br />
quer dizer que você "<strong>de</strong>ixará penduradas" algumas tarefas incompletas<br />
ou apenas meio completas. Desenvolva a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lidar pacificamente<br />
com essa situação.<br />
19 - MAIS "PLANOS DE COMBATE"<br />
Aqui vão mais planos para <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar o combate contra a heresia da "producionite" ou<br />
vício do trabalho.<br />
Muitos <strong>de</strong> nós racionalizamos as coisas "necessárias" para o bem comum. Dizemos a nós<br />
mesmos que <strong>de</strong>vemos aten<strong>de</strong>r nossas obrigações sendo úteis. Enquanto estamos sendo "úteis"<br />
também tentamos ser caridosos e amorosos, naturalmente, mas a maior ênfase do nosso trabalho<br />
continua a ser a sua utilida<strong>de</strong>.<br />
Portanto, mantenha vigilância sobre o seu coração; aclare continuamente as intenções que<br />
nele se encontram. Veja com clareza quando a sua produção está sendo motivada pela<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser caridoso e quando não está. Qualquer forma <strong>de</strong> "serviço <strong>de</strong> amor" terá uma<br />
aura <strong>de</strong> paz e alegria em torno <strong>de</strong> si. Mas a heresia <strong>de</strong> medir o valor humano <strong>de</strong> acordo com a<br />
quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalho realizado só po<strong>de</strong>rá criar nas pessoas o "alegre" frenesi do inferno.<br />
Ao mesmo tempo, estu<strong>de</strong> com cuidado seus métodos <strong>de</strong> trabalho, verificando se existe<br />
alguma negligência ou ineficiência. Reveja constantemente suas rotinas ou técnicas para "ter as<br />
coisas feitas" em cada dia. O uso do tempo é o maior dom <strong>de</strong> Deus a cada um <strong>de</strong> nós e não po<strong>de</strong><br />
ser <strong>de</strong>sperdiçado.<br />
Saber quando trabalhar duro, saber quando parar em um dado momento, saber como<br />
aceitar pacificamente a frustração <strong>de</strong> centenas <strong>de</strong> tarefas não completadas por causa das pessoas<br />
(e situações ligadas a pessoas); tudo isso vem antes das coisas - <strong>de</strong>manda sabedoria e carida<strong>de</strong>.<br />
E, penso eu, santida<strong>de</strong>.<br />
20 - A IGREJA E EU<br />
Eu tenho sempre amado a Igreja. Essa é uma <strong>de</strong>claração muito estranha para se fazer:<br />
afinal todos os cristãos <strong>de</strong>veriam amar a Igreja. Entretanto, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a mais tenra ida<strong>de</strong> eu tenho<br />
tido um profundo – muito profundo mesmo – sentimento em relação a ela. Quando era criança,<br />
até o próprio edifício me atraía. Eu apenas entrava e me sentava. Às vezes eu recolhia flores e as<br />
espalhava em frente aos ícones ou diante das portas santas. Numa igreja católica eu costumava<br />
subir os <strong>de</strong>graus do altar e colocar flores em frente ao que eu chamava <strong>de</strong> "casinha", o sacrário.<br />
Quando eu era menininha não conhecia muita coisa sobre a Via Sacra, mas eu adorava<br />
caminhar ao longo <strong>de</strong>la e seguir as imagens. Sempre ficava muito triste porque Jesus Cristo tinha<br />
passado por aqueles duros momentos! Lembro-me <strong>de</strong> que certa vez eu recolhi todos os crucifixos<br />
que minha mãe tinha e tirei Jesus <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>les! Na escola usei uma pequena escada para<br />
alcançar os pés sangrentos <strong>de</strong> Jesus. Limpei toda aquela tinta vermelha! As freiras ficaram<br />
terrivelmente enfurecidas e queriam saber quem tinha feito aquilo. Reuniram todas as crianças e<br />
perguntaram, "Quem fez isso?". <strong>Dia</strong>nte <strong>de</strong> todos, <strong>de</strong>i um passo à frente e disse, "Eu fiz". Elas me<br />
127
perguntaram por que. Eu disse, "Eu não podia suportar vê-Lo com aqueles pregos e todo aquele<br />
sangue. Eu apenas quis aliviá-Lo um pouco". Não fui punida!<br />
Nos templos eu sentia o que o povo chama <strong>de</strong> uma "presença", e isso exercia uma enorme<br />
atração em mim. Através disso, Deus estava assentando em mim os fundamentos para algo<br />
maior.<br />
21 - A IGREJA: ESPOSA DE CRISTO (São Mateus, Apóstolo)<br />
Quando cresci comecei a enten<strong>de</strong>r a idéia cristã <strong>de</strong> Igreja. Comecei a perceber quem e o<br />
que a Igreja era. Eu vi que a Igreja era a esposa imaculada <strong>de</strong> Cristo. Eu a vi vestida com as<br />
roupas do Rei, linda e gloriosa. Essa visão permaneceu em meu coração como um pensamento<br />
caloroso e consolador e eu apliquei à Igreja a bela passagem dos Salmos, "Toda formosa entra a<br />
filha do Rei, com vestes bordadas <strong>de</strong> ouro: em roupagens multicores apresenta-se ao Rei" (Salmo<br />
45: 13-14). A Igreja era alguma coisa santa, preciosa, alguma coisa pela qual você <strong>de</strong>veria dar<br />
até a própria vida.<br />
No Canadá <strong>de</strong>scobri que a Igreja era o povo <strong>de</strong> Deus. Levei muito tempo para enten<strong>de</strong>r<br />
que o povo <strong>de</strong> Deus era o Corpo Místico <strong>de</strong> Cristo, e que Cristo era a cabeça <strong>de</strong>sse Corpo. Por<br />
que eu não entendia? Por causa do pecado, os terríveis pecados do povo <strong>de</strong> Deus. Eu estava<br />
dividida por uma contradição: a imaculada esposa <strong>de</strong> Cristo era também a esposa pecadora <strong>de</strong><br />
Cristo! Como podia ser isso? Levei um bocado <strong>de</strong> tempo para compreen<strong>de</strong>r uma coisa muito<br />
simples - que Jesus veio para reconciliar a nós pecadores com Seu Pai. Como escreveu<br />
Dostoievski, "Ele amou o homem no seu pecado". Deus nos resgatou do nosso pecado. O<br />
quadro inteiro da Igreja estava agora completo para mim. E compreendi algo mais: o pecado <strong>de</strong><br />
um membro da Igreja era o pecado <strong>de</strong> todos; isto é, se eu pecar, eu afetarei toda a Igreja.<br />
22 - A IGREJA: UMA REALIDADE DE FÉ<br />
Eu já vi igrejas em ruínas na Rússia, na Espanha e na Alemanha. Mesmo nelas, eu<br />
experimentei a "presença" <strong>de</strong> Deus, experimentando em meu corpo a impressionante natureza<br />
espiritual da Igreja. Isso sacudiu todo o meu ser. Naqueles momentos compreendi porque o<br />
Senhor chama a Si próprio <strong>de</strong> noivo. Eu não tenho palavras para explicar isso. Entendi,<br />
entretanto, num dia glorioso, que Ele é meu noivo, e que eu faço parte do Seu povo, parte do Seu<br />
rebanho, parte do Seu Corpo Místico. Compreendi o mistério da Igreja. Ainda vivo com esse<br />
mistério.<br />
Quando uma pessoa se apaixona por Deus, então a Igreja se torna uma realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé.<br />
Isso não po<strong>de</strong> ser explicado racionalmente. A mente <strong>de</strong>ve penetrar no coração, fechar os olhos e<br />
adorar uma realida<strong>de</strong> que somente po<strong>de</strong> ser abrangida pela fé. Eu entrei nessa realida<strong>de</strong>, nesse<br />
mistério, sem saber que estava caminhando na fé.<br />
Entrar no mistério da Igreja é também entrar no mistério do sacerdócio. O padre, que ele<br />
queira ou não reconhecer isso, é Cristo. Antes da ascensão <strong>de</strong> Jesus aos céus, Ele disse que não<br />
ficaríamos órfãos, e através <strong>de</strong> Seus sacerdotes, Ele nos <strong>de</strong>u a Eucaristia, para que possamos ser<br />
alimentados por Ele. Sim, Cristo é o noivo e todo homem e toda mulher é noiva dEle - todos os<br />
homens e mulheres juntos. Ele quer apresentar cada um <strong>de</strong> nós a Seu Pai. Aquele que bebe do<br />
Seu Sangue e come <strong>de</strong> Sua Carne, torna-se conhecido pelo Pai da forma mais íntima, como a<br />
noiva com o seu marido.<br />
128
23 - NOSSA JORNADA INTERIOR<br />
Uma folha cai preguiçosamente, dourada contra um céu azul <strong>de</strong> outono. Vagarosamente<br />
ela cai nas águas calmas do lago <strong>de</strong> um jardim. Flutua graciosamente, um mo<strong>de</strong>sto pedaço <strong>de</strong> cor<br />
no espelho dos céus. Essa é a primeira lembrança que tenho <strong>de</strong> "ser". Eu tinha quatro anos. Era<br />
outono na Rússia. O lago era num parque público ao qual minha babá me levara.<br />
Agora, muitos anos <strong>de</strong>pois, eu penso freqüentemente no primeiro, estranho momento na<br />
nossa existência humana quando nos damos conta, pela primeira vez, que nós somos. É um<br />
momento impressionante. É o começo consciente <strong>de</strong> nossa jornada <strong>de</strong> vida, que, para todos nós,<br />
<strong>de</strong>veria ser uma jornada interior para encontrar Deus, que habita <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós.<br />
Para que serve tudo o mais? Tudo, a não ser essa busca por Deus, não vale nada. A<br />
existência humana é o viver em Sua presença, agora pela fé, e fortalecer constantemente os<br />
braços <strong>de</strong>sta fé <strong>de</strong> tal forma que eles possam se tornar gradualmente fortes o suficiente para<br />
separar as pesadas cortinas que afastam nossa natureza humana da Dele, <strong>de</strong> tal modo que mesmo<br />
nesta vida nossas almas possam conhecer a união com Ele. Ser possuído por Deus, entregar-se<br />
inteiramente a Ele, completamente, <strong>de</strong> modo que mesmo antes da morte possamos dizer com São<br />
Paulo, Eu vivo agora, não eu, mas o Cristo vive em mim; fazer isso porque se está<br />
apaixonadamente amando o Senhor, porque a alma está cheia <strong>de</strong> apenas um único <strong>de</strong>sejo - fazê-<br />
Lo amado e conhecido pelos outros - o que, para mim, é vida, a jornada interior que todos os<br />
homens e mulheres <strong>de</strong>vem empreen<strong>de</strong>r se quiserem se tornar um só com o Deus Trino que vive<br />
em nossas almas.<br />
24 - ÍCONES DE AMOR<br />
Os teólogos falam em palavras eruditas. Castida<strong>de</strong>, dizem eles, seria continência. É<br />
inatingível. Mantém-se fora <strong>de</strong> alcance. Fica nos pináculos cheio <strong>de</strong> neve, <strong>de</strong> difícil acesso, só<br />
atingidos por poucos. Eles a examinam, em meio a salas austeras e frias <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s antigas e <strong>de</strong><br />
algumas "confortantes" novas metrópoles. Eles <strong>de</strong>smontam a castida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> o fazerem,<br />
montam-na <strong>de</strong> novo. Fazem-na parecer coisa tão sem brilho, tão fria, meio morta, talvez por ser<br />
tão manuseada.<br />
Uma prostituta estava andando pela rua, os olhos maquiados pareciam gentis e a boca<br />
pintada, terna e macia - o corpo balouçava, jovem. Uma criancinha se aproximou <strong>de</strong>la e disse,<br />
"Você está tão cheirosa. Eu gosto <strong>de</strong> você". A garota corou e se inclinou para beijar o pequeno<br />
rosto, tão puro, tão inocente. O beijo era a própria castida<strong>de</strong>. Brilhava como uma luz ofuscante.<br />
Uma jovem adolescente, <strong>de</strong> rabo <strong>de</strong> cavalo, vinha feliz cantando, passando pela calçada.<br />
Cantava uma música <strong>de</strong> jazz. Um homem parou, voltou-se e a seguiu, com o coração cheio <strong>de</strong><br />
luxúria. Ela então se virou. Ele a olhou bem nos olhos e rapidamente se foi, pois a castida<strong>de</strong><br />
havia lhe sorrido, na totalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua pureza.<br />
Depois veio uma mãe com seus filhos, pesada <strong>de</strong> corpo e <strong>de</strong> andar, carregada com um<br />
monte <strong>de</strong> sacolas e um bebê gordo e pesado. Os homens sorriam e as mulheres também, pois a<br />
castida<strong>de</strong> estava passando, carregada, com seus frutos.<br />
Os teólogos não conhecem a face da castida<strong>de</strong>, pois eles a dissecaram para ver o que tinha<br />
<strong>de</strong>ntro.<br />
129
25 - ÍCONES DE CRISTO<br />
Os cristãos são chamados a ser ícones <strong>de</strong> Cristo, a refleti-lo. Ícone em grego significa a<br />
"imagem <strong>de</strong> Deus". Somos chamados a encarná-Lo em nossas vidas, revestir nossas vidas com<br />
Ele, para que os homens e as mulheres possam vê-Lo em nós, tocá-Lo em nós, reconhecê-Lo em<br />
nós.<br />
Quando não vivemos o Evangelho sem restrições (ou não tentamos isso), somos<br />
esqueletos. As pessoas não querem lidar com esqueletos. O Evangelho po<strong>de</strong> ser resumido como<br />
sendo a tremenda, terna, compassiva, gentil, extraordinária, explosiva, revolucionária lei do amor<br />
<strong>de</strong> Cristo.<br />
Ele nos chama diretamente e Seu chamado não admite a acomodação. "<strong>Todo</strong> aquele que<br />
não está Comigo está contra Mim... Se você Me ama, siga Meus mandamentos". Po<strong>de</strong>mos<br />
encontrar inúmeras citações no Evangelho que trazem vividamente às nossas mentes e aos nossos<br />
corações <strong>de</strong> que modo Ele, <strong>de</strong> forma simples e insistente, nos chama a ser como Ele e a aceitar<br />
Sua lei <strong>de</strong> amor sem restrições.<br />
Seu chamado é revolucionário, tanto que po<strong>de</strong>ria transformar o mundo em poucos meses<br />
se nós o implementássemos. O Evangelho é radical e Cristo é, na verda<strong>de</strong>, a raiz da qual brotam<br />
todas as coisas. Seus mandamentos implicam em risco, gran<strong>de</strong> risco. Eles envolvem uma certa<br />
falta <strong>de</strong> segurança, do ponto <strong>de</strong> vista humano. Sim, Deus nos oferece risco, perigo e uma<br />
estranha insegurança que nos leva à perfeita segurança.<br />
26 - O EVANGELHO É UM NEGÓCIO ARRISCADO<br />
A segurança à qual a maioria das pessoas se apega é mera ilusão. Nós não estamos<br />
seguros quando andamos pelas ruas das gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s. Nos aviões nunca sabemos se ficamos<br />
no ar ou não. Guerras surgem em quase todas as partes do mundo. Portanto, on<strong>de</strong> está essa<br />
segurança que todos parecem valorizar com tanto empenho? Deus não nos dá essa segurança<br />
material. <strong>Em</strong> vez disso Ele nos oferece a fé... que começa, <strong>de</strong> certa forma, on<strong>de</strong> termina a razão.<br />
A segurança <strong>de</strong> Deus se inicia quando começamos a amá-Lo com todo o nosso coração,<br />
toda a nossa mente - e ao próximo como a nós mesmos. Falo sobre isso com muita freqüência,<br />
mas é a única mensagem que nunca po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser enfatizada. Devemos cobrir o esqueleto<br />
<strong>de</strong> nossas vidas com a carne <strong>de</strong> Seu amor, ou então pereceremos.<br />
Para ter essa espécie <strong>de</strong> amor é que temos o Espírito Santo em nós. Com Sua ajuda,<br />
teremos a coragem <strong>de</strong> assumir o risco <strong>de</strong> amar o nosso próximo. É um risco tremendo, porque<br />
<strong>de</strong>vemos também amar os nossos inimigos. Nós temos o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> transformá-los em amigos e<br />
em pessoas queridas. Amar o nosso próximo é o risco máximo, pois ele significa ter <strong>de</strong> morrer<br />
pelo bem <strong>de</strong> meu irmão ou minha irmã, se preciso for.<br />
Tudo isso parece i<strong>de</strong>alístico ou impossível <strong>de</strong> ser alcançado, mas Cristo nos assegura que<br />
é possível. Através <strong>de</strong> pequenos passos, dia após dia, aos poucos vamos aceitando o outro como<br />
ele ou ela são e começamos a amar totalmente, com ternura, com compaixão. Uma vez iniciado,<br />
o envolvimento se torna mais profundo, mais profundo, mais profundo.<br />
27 - CELIBATO PELO REINO<br />
O celibato é a ausência <strong>de</strong> relações sexuais entre homens e mulheres. É a renúncia <strong>de</strong> um<br />
dos mais preciosos bens que os seres humanos têm - o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> procriar, gerar, criar filhos.<br />
130
Talvez, na véspera <strong>de</strong> sua or<strong>de</strong>nação, o jovem padre veja os filhos que nunca nascerão <strong>de</strong><br />
seu sêmen, a mulher que nunca se <strong>de</strong>itará a seu lado. Talvez a freira tenha pensamentos<br />
semelhantes. Estou certa <strong>de</strong> que nós, aqui em Madonna House, os temos. Então, nós olhamos<br />
para esse dom com firmeza e o levantamos em oferta ao Senhor, como um cálice.<br />
É claro que o sexo nos acompanha até o dia da nossa morte. O sexo foi criado por Deus<br />
Pai e elevado a tremendas alturas <strong>de</strong> dignida<strong>de</strong> pelo Deus Filho. É um bem do qual é muito<br />
difícil se <strong>de</strong>sistir.<br />
Entretanto também foi difícil ficar pendurado numa ru<strong>de</strong> cruz por três horas. Foi difícil<br />
ter sido flagelado, ter sido maltratado. Cristo fez isso por você e por mim.<br />
Ninguém está nos impedindo <strong>de</strong> nos casarmos, como também ninguém nos impe<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
amar. Nós abrimos mão disso por amor.<br />
28 - O SACRISTÃO<br />
Ser sacristão é um dos momentos mais brilhantes, mais reluzentes da vida na Igreja.<br />
Apesar disso consistir em executar milhares <strong>de</strong> pequenas coisas, você encontrará gran<strong>de</strong> alegria e<br />
paz em ser um sacristão. Porque o sacristão é uma pessoa verda<strong>de</strong>iramente convidada para a<br />
Casa <strong>de</strong> Nazaré para servir o Senhor. Tudo aquilo que você toca, tudo o que você faz, está ligado<br />
a Ele <strong>de</strong> uma forma profunda, pessoal e linda.<br />
Gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> seu trabalho é também ligada a Nossa Senhora porque o que você faz na<br />
capela é preparar as coisas para uma refeição - verificando se tudo o que vai ser usado na mesa<br />
está imaculado, limpo e em or<strong>de</strong>m. As vestes especiais a serem usadas pelos sacerdotes (que<br />
representam Cristo) também são <strong>de</strong> sua responsabilida<strong>de</strong>. Você tem <strong>de</strong> saber as cores para o dia<br />
e verificar se as vestes estão bem passadas e se qualquer mínimo rasgo se encontra costurado.<br />
É também um momento em que você po<strong>de</strong> realmente conversar com Cristo, enquanto<br />
trabalha, sobre como vão as coisas para você. É como se Ele estivesse sentado num banco na<br />
casa <strong>de</strong> Nazaré enquanto que você vai ver o que precisa ser feito. Você terá uma especial<br />
proximida<strong>de</strong> com Ele nesse sacratíssimo lugar - faça bom uso disso! E acostume-se com Ele.<br />
Esse é o lugar apropriado para encontrá-Lo, com a profundida<strong>de</strong> com a qual todos sonhamos.<br />
A palavra "sacristão" já se refere ao que é "sacro". Para mim, um sacristão é alguém que<br />
foi especialmente convidado por Cristo, para morar em Sua casa. Ore pelo mundo todo quando<br />
você estiver na capela. É aí que, em geral, cada passo que você <strong>de</strong>r, cada gesto que fizer, é uma<br />
oração!<br />
29 - PEÇA AJUDA AOS ANJOS (S.Miguel, S.Gabriel e S.Rafael, Arcanjos)<br />
Parece que vocês e eu temos estado juntos com mais freqüência nestes dias. Talvez seja<br />
porque temos tantas coisas sobre o que falar. Freqüentemente também, observo que vocês têm<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> maiores esclarecimentos sobre a vida espiritual. Eu adoro conversar com vocês,<br />
meus filhos espirituais, e aqui estou novamente para falar com vocês sobre o tema dos anjos.<br />
Gostaria <strong>de</strong> partilhar com vocês o que o Bispo Sheil, <strong>de</strong> Chicago, uma vez me disse sobre<br />
os anjos. Eu estava trabalhando nas favelas da cida<strong>de</strong> na ocasião, e era um lugar perigoso. Ele<br />
me disse, "<strong>Catherine</strong>, tenha fé na verda<strong>de</strong> teológica sobre a existência <strong>de</strong> anjos que respon<strong>de</strong>m<br />
aos nossos apelos e protegem você. Por anjos, eu entendo os serafins e os querubins, os anjos e os<br />
arcanjos, potesta<strong>de</strong>s e principados. Quando você estiver em perigo, invoque-os, especialmente<br />
131
São Miguel e São Gabriel e o seu anjo da guarda, e eles <strong>de</strong>scerão - um po<strong>de</strong>r além <strong>de</strong> seu<br />
entendimento".<br />
Chama você pelos anjos? Se não o faz, <strong>de</strong>veria. São Miguel, São Gabriel e São Rafael<br />
são muitos po<strong>de</strong>rosos. Eis a prece <strong>de</strong> São Miguel:<br />
São Miguel Arcanjo, protegei-nos no combate, cobri-nos com vosso escudo contra os<br />
embustes e ciladas do <strong>de</strong>mônio. Subjugue-o Deus, humil<strong>de</strong>mente o pedimos, e vós, príncipe<br />
da milícia celeste, pelo divino po<strong>de</strong>r, precipitai no inferno a Satanás e aos outros espíritos<br />
malignos que andam pelo mundo para per<strong>de</strong>r as almas. Amém.<br />
30 - CONFUSÃO E ORDEM (São Jerônimo, Doutor da Igreja)<br />
O inimigo da tranqüilida<strong>de</strong> nos corações do povo <strong>de</strong> Deus é a confusão. Uma pessoa<br />
confusa não po<strong>de</strong> pensar direito. Hoje em dia, temos uma tremenda quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cristãos<br />
confusos.<br />
Como é que alguém fica confuso? Permitindo que a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m entre em sua mente e em<br />
seu coração. Como é que se torna "<strong>de</strong>sconfuso"? Procurando em primeiro lugar a or<strong>de</strong>m do<br />
reino <strong>de</strong> Deus. Isso quer dizer tirar algum tempo das ativida<strong>de</strong>s, mesmo daquelas <strong>de</strong> "fazer o<br />
bem", e entrar no gran<strong>de</strong> silêncio do Senhor.<br />
A sós, nesse silêncio, Bíblia na mão, nós <strong>de</strong>scobriremos que aquele terrível barulho <strong>de</strong>ntro<br />
<strong>de</strong> nós irá morrendo aos poucos, e a voz <strong>de</strong> Deus po<strong>de</strong>rá ser ouvida. A Bíblia, que na<br />
espiritualida<strong>de</strong> oriental é uma outra encarnação <strong>de</strong> Cristo, irá falar-nos com profundida<strong>de</strong>, e nós<br />
po<strong>de</strong>remos distinguir claramente quais os itens prioritários <strong>de</strong> nossa agenda.<br />
A menos que façamos isso, é <strong>de</strong> se temer que fiquemos imersos em nosso próprio ruído<br />
interior <strong>de</strong> diálogos, encontros, seminários e discussões - nos quais todos falam ao mesmo tempo,<br />
ou cada um fala sem quase escutar os <strong>de</strong>mais.<br />
Vamos parar um pouco <strong>de</strong> ler o que outros dizem sobre a Bíblia e vamos começar, em<br />
silêncio e solidão, a ler a Bíblia nós próprios. Aí, quando retornarmos à nossa vida com os<br />
outros, teremos alguma coisa para dizer. E, o que é mais importante, nós teremos aprendido a<br />
saber ouvir.<br />
© online edition Madonna House Publications March 2010<br />
132
OUTUBRO<br />
1 - PEQUENOS FIOS DE AMOR<br />
(Sta. Teresinha do Menino Jesus, Doutora da Igreja)<br />
Penso em você aí, trabalhando dia após dia, talvez em sua cozinha, <strong>de</strong>scascando batatas<br />
com gran<strong>de</strong> amor por Deus, no seu <strong>de</strong>ver do momento. Vejo você aí e, subitamente, as próprias<br />
cascas se transformam em fios <strong>de</strong> prata e ouro, que se esten<strong>de</strong>m em direção ao céu como hosana<br />
<strong>de</strong> glória a Deus. Cada fio é uma oração, uma glorificação <strong>de</strong> Deus. E os anjos, com reverência<br />
e gentilmente, vão levantando-as, tecendo lá em cima um lindo tapete para os pés <strong>de</strong> Nossa<br />
Senhora. Vejo tudo isso com os olhos da minha alma. E compreendo que a beleza dos fios<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das intenções e dos pensamentos <strong>de</strong> seu coração. Você tem o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> transformar o<br />
refugo em ouro; mas também, que tristeza, ouro em refugo.<br />
O que faz a beleza dos fios e da sua trama é a carida<strong>de</strong> - carida<strong>de</strong> no pensamento, no<br />
modo <strong>de</strong> falar, na compreensão - a paciência e não ter inveja dos outros. Para algumas pessoas<br />
Deus dá gran<strong>de</strong>s graças e oportunida<strong>de</strong>s. Mas você tem uma vida oculta, uma vida feita <strong>de</strong><br />
pequenas coisas, através das quais você po<strong>de</strong> chegar a Deus pelo pequeno caminho, como Santa<br />
Teresinha o fez. Muitos fazem gran<strong>de</strong>s coisas, têm seus nomes na boca <strong>de</strong> todos; entretanto,<br />
sofrem gran<strong>de</strong>s tentações e, freqüentemente, já recebem parte <strong>de</strong> sua recompensa aqui mesmo,<br />
neste mundo. Isso não acontecerá com você - se você seguir seu caminho, a recompensa toda<br />
estará no céu.<br />
2 - OS ANJOS ESTÃO SEMPRE CONOSCO (Santos Anjos da Guarda)<br />
Hoje é o dia da festa dos Anjos da Guarda. Fico imaginando quantas pessoas acreditam<br />
em seus anjos da guarda. <strong>Todo</strong>s nós temos Anjos da Guarda e eles estão sempre conosco; eles<br />
nunca saem do nosso lado. Eu me sinto tão próxima <strong>de</strong>les! São enviados por Deus para cuidar<br />
<strong>de</strong> nós e realmente o fazem! Temos <strong>de</strong> ter a percepção <strong>de</strong> sua existência: é um maravilhoso<br />
presente, e tremendamente importante. Nós temos <strong>de</strong> ter gran<strong>de</strong> amor por eles. Muitos <strong>de</strong> nós<br />
não se importamos com os anjos, como se eles não existissem, mas eles nunca <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> se<br />
importar conosco; eles tentam nos ajudar milhares <strong>de</strong> vezes.<br />
Se você está fazendo jardinagem, aí está ele ajudando você. E se você rezar para ele,<br />
bem, o jardim ficará melhor! Eu sempre rezo para meu anjo. Eu costumava dizer para meu anjo<br />
da guarda, "Olhe, Eddie (meu marido) tem <strong>de</strong> parar <strong>de</strong> fumar; isso é muito ruim. Você tem o<br />
<strong>de</strong>ver <strong>de</strong> cuidar da saú<strong>de</strong> das pessoas e todas essas coisas. Você não vai ajudá-lo a parar?" Sendo<br />
pessoa <strong>de</strong> ação, eu também falava com o chefe dos anjos sobre isso. Bem, a partir daquele<br />
mesmo dia eles começaram a agir em Eddie e Eddie <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> fumar. Isso é o que chamo <strong>de</strong> um<br />
bom negócio.<br />
Se tivermos uma tentação da qual queremos nos livrar, bem, nosso anjo da guarda está<br />
exatamente aí para nos ajudar. É impressionante como ele é útil naquilo que é fundamental.<br />
Basta que nos sintamos em <strong>de</strong>pressão e em queda e eles nos reerguem <strong>de</strong> novo. Sua tarefa é<br />
levar-nos até Deus e é isso que eles querem fazer.<br />
133
3 - ACEITANDO A REJEIÇÃO EM CRISTO (Bvs. André <strong>de</strong> Soveral, Ambrósio<br />
Francisco Ferro e Companheiros, protomártires do Brasil)<br />
Um psiquiatra chamado Jung concluiu que todos os seres humanos sentem-se rejeitados<br />
por Deus. Ele <strong>de</strong>scobriu que existe um profundo fosso no íntimo <strong>de</strong> suas almas que os separa <strong>de</strong><br />
alguém muito maior do que eles.<br />
Consi<strong>de</strong>remos o pecado mortal, o qual hoje em dia é raramente mencionado. O pecado<br />
mortal é uma ofensa contra Deus, e aquele que tem essa culpa, se não a verbalizar (confessar), ela<br />
é como um câncer que vai corroendo seu coração e sua alma. Ele perturba o equilíbrio da pessoa<br />
inteira. A resposta para essa terrível condição é partilhar o que está em seu coração e sua alma<br />
com outra pessoa. E para ter o câncer da culpa removido, o indivíduo tem <strong>de</strong> ir a um "cirurgião”,<br />
que é o sacerdote. Quando a culpa é removida, a pessoa po<strong>de</strong> seguir em frente e conseguir<br />
aceitar a rejeição.<br />
Quando alguém sofre a rejeição em sua forma pura, significa que está aceitando a rejeição<br />
que Cristo sofreu. A rejeição aceita na fé é a aceitação <strong>de</strong> Cristo. Já pensou nisso alguma vez?<br />
Se você aceita a rejeição porque você ama a Deus, uma coisa estranha acontece. Deus <strong>de</strong>sce até<br />
você - <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> você - e você começa a sentir-se como que caminhando no ar. Por que? Porque<br />
você escolheu algo muito mais po<strong>de</strong>roso: sua rejeição é a rejeição <strong>de</strong> Cristo. Você a compartilha.<br />
E na fusão das duas você caminha diretamente para o Cristo ressuscitado. Nele, a rejeição tornase<br />
alegria, não tristeza.<br />
4 - SÃO FRANCISCO E A DOR (São Francisco <strong>de</strong> Assis)<br />
Existe muita dor nesta vida. Como po<strong>de</strong>ria ser diferente, se seguimos um Deus<br />
crucificado, cuja história da Encarnação (sem falar na própria crucifixão) foi toda envolta em<br />
dor? Vejam a prece <strong>de</strong> São Francisco:<br />
Senhor, fazei-me instrumento <strong>de</strong> Vossa paz. On<strong>de</strong> houver ódio que eu leve o amor; on<strong>de</strong><br />
houver ofensa, perdão; on<strong>de</strong> houver dúvida, a fé; on<strong>de</strong> houver <strong>de</strong>sespero, a esperança; on<strong>de</strong><br />
houver trevas, a luz; e on<strong>de</strong> houver tristeza, a alegria.<br />
Ó Divino Mestre, fazei que eu procure mais consolar que ser consolado; amar que ser amado;<br />
pois é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado, e é morrendo que se vive para a<br />
vida eterna.<br />
Essas palavras são um grito <strong>de</strong> dor que traduz o ferimento <strong>de</strong> uma alma. Ele está pedindo<br />
a Deus que não seja consolado, que não seja compreendido, que não seja amado. Essas poucas<br />
sentenças já <strong>de</strong>monstram a dor - uma terrível dor. Se você rezar essa prece, realmente imbuído<br />
<strong>de</strong>la, você já estará permitindo que a dor penetre sua alma.<br />
Ela é, entretanto, uma dor linda, meus amigos, porque é uma dor oferecida pelo mundo. É<br />
a dor do abandono, da entrega a Deus. Vocês tinham realmente a esperança <strong>de</strong> ter uma vida sem<br />
dor? Isso é uma impossibilida<strong>de</strong>, meus queridos amados, porque é através <strong>de</strong>ssa dor que vocês<br />
irão partilhar o <strong>de</strong>stino da humanida<strong>de</strong>. É através <strong>de</strong>ssa dor que vocês ressuscitarão!<br />
134
5 - AMOR É UMA ATITUDE DE "POSSO FAZER"<br />
Havia um jovem casal que tinha apenas o dinheiro suficiente para comprar uma casa bem<br />
arruinada. Eles a compraram e se mudaram. O marido era um intelectual, trabalhador <strong>de</strong><br />
colarinho branco, que nunca havia sequer manuseado um martelo. De algum modo, movido pela<br />
aguda necessida<strong>de</strong>, ele fez reparos, reconstruiu e reformou a casa. Ambos ficaram muito<br />
orgulhosos <strong>de</strong> sua façanha. Seus amigos ficaram admirados, sabedores da conhecida falta <strong>de</strong><br />
habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>le nessa área. Sorri<strong>de</strong>ntes, ambos diziam: "O amor po<strong>de</strong> fazer tudo. O amor<br />
consegue fazer esse tipo <strong>de</strong> coisa".<br />
Será verda<strong>de</strong>? Você consegue ver o que <strong>de</strong>ve ser feito sem que aquilo tenha chamado sua<br />
atenção muitas e muitas vezes? Você se entrega ao trabalho com uma atitu<strong>de</strong> ávida e<br />
voluntariosa, embora humil<strong>de</strong> e realista? Quando você não sabe como realizar um trabalho, você<br />
reconhece com tranqüilida<strong>de</strong> esse fato, mas diz que está com vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r como fazer?<br />
O amor é também engenhoso. Veja, por exemplo, uma boa cozinheira. Ela tem uma<br />
receita que exige cinco ovos, mas estamos em tempo <strong>de</strong> guerra e não há ovos. Uma boa<br />
cozinheira conseguirá fazer o bolo mesmo sem ovos. É isso que faz <strong>de</strong>la uma cozinheira<br />
engenhosa. O amor faz isso e não <strong>de</strong>sperdiça nada. Ele é sempre engenhoso.<br />
Qualquer que seja a sua tarefa, você tem a compreensão <strong>de</strong> que ela é um trabalho para<br />
Deus - um trabalho feito pelo Amor que é uma pessoa, que é Cristo! Será que o seu amor faz<br />
<strong>de</strong>ssas coisas? Você sente que o amor po<strong>de</strong> fazer qualquer coisa?<br />
6 - ENFERMAGEM - UMA VOCAÇÃO PRIVILEGIADA<br />
Enfermagem é uma das mais privilegiadas vocações. Prestar um serviço direto a Cristo é<br />
uma das mais sublimes vocações que uma pessoa po<strong>de</strong> ter. Os menores <strong>de</strong> Seus irmãos e irmãs<br />
são aqueles que estão doentes, e ninguém fica tão <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da misericórdia alheia.<br />
A enfermagem <strong>de</strong>veria ser a profissão das pessoas <strong>de</strong>dicadas, aquelas que amam o doente<br />
com um amor que não cessa nunca. Nossa atitu<strong>de</strong> como enfermeiras <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong> total, completa<br />
<strong>de</strong>dicação, sem limites no nosso serviço. Essa é a prova do nosso amor por Deus. Nossos<br />
pacientes são o Cristo e poucas são as pessoas que são chamadas a tocar no Cristo tão<br />
diretamente, tão intimamente.<br />
Se uma enfermeira hesita em fazer alguma coisa por que é <strong>de</strong>sprezível, ela evoca a<br />
lembrança do Homem que lavou os pés <strong>de</strong> Seus apóstolos. Que Deus tenha lavado os pés <strong>de</strong><br />
seres humanos, isso vai mostrar à enfermeira que não há nenhuma <strong>de</strong>gradação em tais ações.<br />
Existe, sim, uma estranha elevação: nós nos abaixamos para subir.<br />
E não esperem gratidão! Os doentes são freqüentemente ingratos. Uma enfermeira não<br />
trabalha por gratidão; ela trabalha porque Cristo está doente. Tudo o que ela vê é seu bem-amado<br />
sofrendo. Nas suas lembranças ela O vê morrendo na Cruz por ela. Ela agra<strong>de</strong>ce a Ele por terlhe<br />
proporcionado um caminho simples para o Seu coração - através dos doentes.<br />
Uma enfermeira diz com Cristo, "Eu não vim para ser servido, mas para servir". Nós<br />
<strong>de</strong>vemos consi<strong>de</strong>rar nossa vocação para a enfermagem com gran<strong>de</strong> reverência.<br />
7 - TÊNUES FIOS DE ORAÇÃO (Nossa Senhora do Rosário)<br />
As aparições da Mãe <strong>de</strong> Deus têm se tornado "notícia" ultimamente, nos nossos jornais. É<br />
como se Maria, a mãe <strong>de</strong> todos nós, não conseguisse mesmo ficar parada. É como se ela tivesse<br />
135
urgência <strong>de</strong> nos alertar enquanto ainda há tempo. Para fazer isso, ela nos oferece os tênues fios<br />
<strong>de</strong> um rosário - uma coisa comum, <strong>de</strong> criança! Mas, é isso? O Credo é nossa <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> fé e<br />
<strong>de</strong> obediência à Santíssima Trinda<strong>de</strong>, aos mandamentos <strong>de</strong> Deus e <strong>de</strong> Sua esposa, a Igreja.<br />
Recitem-no vagarosamente e <strong>de</strong>ixem cada palavra penetrar - pois milhares morreram por essas<br />
palavras e pelo que elas significam. O Pai Nosso é nossa prece pela amiza<strong>de</strong> entre os homens e<br />
as mulheres sob a paternida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus, uma prece <strong>de</strong> amor, confiança, esperança e fé. E a Ave<br />
Maria é a saudação Angélica que trouxe a encarnação e a re<strong>de</strong>nção para este mundo! Ele ainda<br />
faz isso, para aqueles que o rezam com seus corações tanto quanto com seus lábios.<br />
A repetição, vagarosa e reverente, <strong>de</strong>ssas orações, não é monótona. É um<br />
acompanhamento da nossa rememoração da vida <strong>de</strong> Deus, <strong>de</strong> Sua mãe, e <strong>de</strong> Sua Igreja, uma<br />
peregrinação <strong>de</strong> amor e fé. Maria continuamente nos mostra, a nós seus filhos, o tênue fio <strong>de</strong> um<br />
rosário, pedindo-nos que o rezemos, talvez porque ele é tão frágil quanto ela e tão forte quanto o<br />
Deus para O qual oramos. Outubro é o mês do rosário. Vamos rezá-lo diariamente, ligando o<br />
mundo com sua frágil, inquebrantável força, erguendo-o – erguendo-o bem elevado – até que<br />
chegue aos próprios pés <strong>de</strong> Deus.<br />
8 - AMIZADES CENTRADAS EM DEUS<br />
Vamos pensar um pouco em amiza<strong>de</strong>. Cristo pronunciou uma linda e afetuosa frase, Não<br />
mais vos chamarei <strong>de</strong> servos; Eu vos chamarei <strong>de</strong> amigos. Cristo, <strong>de</strong> diversas formas, nos chama<br />
para uma amiza<strong>de</strong> com Ele próprio! Portanto, a amiza<strong>de</strong> é uma coisa boa e Deus <strong>de</strong>seja que<br />
nossos amigos sejam para nós companhias gentis, alegres e tranqüilas.<br />
A verda<strong>de</strong>ira amiza<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser facilmente i<strong>de</strong>ntificada, se analisarmos qual o seu<br />
objetivo. Se você faz amigos para os seus próprios fins, esse é um tipo errado <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>. Ou<br />
melhor, não se trata mesmo <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>. Isso é apegar-se a alguém para seus propósitos egoístas.<br />
Por exemplo, você se encontra só e "ninguém compreen<strong>de</strong> você", assim você só <strong>de</strong>seja mesmo é<br />
se queixar <strong>de</strong> uma porção <strong>de</strong> coisas a uma <strong>de</strong>terminada pessoa.<br />
Se, por outro lado, você se torna amigo <strong>de</strong> alguém a fim <strong>de</strong> que ambos possam ajudar-se<br />
um ao outro como o quer Deus, se houver amiza<strong>de</strong> com espírito <strong>de</strong> doação mútua, então aí existe<br />
uma boa amiza<strong>de</strong>. Se vocês têm algo a compartilhar entre si - um gosto pela pintura ou pela<br />
natureza, por exemplo - isto é uma maravilhosa amiza<strong>de</strong>. Contudo lembrem-se, estejam abertos e<br />
sempre prontos e <strong>de</strong>sejosos a incluir alguém mais em suas ativida<strong>de</strong>s. As amiza<strong>de</strong>s <strong>de</strong>vem ser o<br />
resultado natural da caritas, do amor. Cada um <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado. É esta amiza<strong>de</strong><br />
concentrada no "eu", egoísta? Ou é ela centrada em Deus e, portanto, não em mim mesmo?<br />
Boas amiza<strong>de</strong>s não são egoístas e são abertas a outras pessoas, para que se possa compartilhar <strong>de</strong><br />
interesses comuns e tudo que é bom.<br />
9 - NOSSO CORPO EM ORAÇÃO<br />
Gostaria <strong>de</strong> fazer uma menção sobre a postura que se <strong>de</strong>ve ter durante a oração, para<br />
<strong>de</strong>ixar isto bem claro. Já observei que muitos <strong>de</strong> vocês cruzam as pernas ou se sentam em<br />
posição <strong>de</strong>sleixada durante a missa. Um católico tem obrigação <strong>de</strong> se compenetrar da<br />
importância da missa. Ela é seu ato oficial <strong>de</strong> <strong>de</strong>voção diante do Deus <strong>Todo</strong>-Po<strong>de</strong>roso. A<br />
postura <strong>de</strong> vocês <strong>de</strong>ve expressar externamente aquilo que espero que vocês sintam interiormente -<br />
reverência, adoração, <strong>de</strong>voção, um sadio temor, e a consciência <strong>de</strong> que vocês são criaturas diante<br />
136
<strong>de</strong> seu Criador! Portanto, por causa <strong>de</strong>ssa conscientização (a qual tenho certeza que vocês<br />
possuem) vocês <strong>de</strong>vem participar não apenas com toda a sua mente, coração e alma neste ato <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>voção e adoração, mas <strong>de</strong>vem expressar tudo isso também com seus corpos. Além disso, vocês<br />
<strong>de</strong>vem servir <strong>de</strong> exemplo para os outros. É na verda<strong>de</strong> um escândalo para católicos praticantes<br />
ter maneiras <strong>de</strong>sleixadas durante seu culto a Deus.<br />
A Escritura diz, "Preste seu culto ao Senhor em trajes santos". <strong>Todo</strong>s nós nos damos<br />
conta <strong>de</strong> que <strong>de</strong>vemos nos vestir <strong>de</strong>centemente conforme a hora do dia e o dia da semana. Temos<br />
<strong>de</strong> "vestir-nos" para a Missa - espero - em reverência a Deus. Ocasionalmente po<strong>de</strong>remos usar<br />
roupas <strong>de</strong> trabalho, mas elas <strong>de</strong>vem estar limpas e não rasgadas - numa palavra, <strong>de</strong>centes.<br />
Portanto, apelo a todos vocês que tenham esse cuidado. A postura corporal durante o culto e os<br />
trajes apropriados faz simplesmente parte daquela boa or<strong>de</strong>m que tenho tantas vezes enfatizado.<br />
10 - A IGREJA NÃO É A VOLKSWAGEN<br />
Eu vejo a Igreja. Vejo a mim mesma e a todos nós cristãos, o povo <strong>de</strong> Deus, que somos<br />
batizados no Senhor. De repente compreendo que a Igreja é muito mais do que os fiéis leigos, os<br />
padres e o magistério. Ela é também um mistério. Consi<strong>de</strong>ro o apelo do Vaticano II para que<br />
esta Igreja seja novamente levada às praças públicas, on<strong>de</strong> ela começou, para trazer <strong>de</strong> volta a<br />
participação dos leigos, para quem os Pais do Concílio <strong>de</strong>dicaram um documento inteiro em seus<br />
pronunciamentos.<br />
Tenho receio <strong>de</strong> que nós - o laicato - tenhamos começado a tratar a Igreja como se ela<br />
fosse um empreendimento comercial como a Volkswagen ou qualquer outro. Nós acreditamos<br />
que vamos restaurá-la, reorganizá-la, colocá-la em pé, apenas com nossa própria inteligência e<br />
com nossa tremenda experiência.<br />
Acontece que a Igreja não é a Volkswagen ou outra empresa qualquer. Antes <strong>de</strong> tudo, a<br />
Igreja é um mistério! Ela é o Corpo <strong>de</strong> Cristo. Se nós a tratarmos como se fosse uma companhia<br />
comercial, nós vamos cortar esse corpo em pequenos pedaços e crucificar pedaço por pedaço<br />
numa cruz grosseira e disforme. Se o corpo for crucificado <strong>de</strong>ssa maneira - um corpo do qual<br />
fazemos parte - então vamos <strong>de</strong> novo crucificar a cabeça, que é Cristo, sem a qual o corpo não<br />
po<strong>de</strong> existir.<br />
A Igreja é o Corpo <strong>de</strong> Cristo através do qual Sua vida divina flui até nós! Ela é também<br />
Sua esposa, e é aí que resi<strong>de</strong> o mistério que não po<strong>de</strong> ser totalmente compreensível para nossas<br />
mentes.<br />
11 - CONSOLANDO A IGREJA<br />
Parece que foi ontem. Eu me ajoelhei num canto escuro <strong>de</strong> uma favela do Harlem e<br />
segurei com amor uma menina que gritava, estuprada por jovens maconheiros em busca <strong>de</strong><br />
emoções.<br />
Hoje, on<strong>de</strong> quer que vá, neste mundo, eu seguro, com um amor que me esgota o sangue, a<br />
Igreja. A Igreja sempre jovem, estuprada muitas e muitas vezes pelo povo pecador.<br />
Parece que foi ontem. Beijei a face cancerosa <strong>de</strong> um velho solitário que morria em um<br />
leito <strong>de</strong> hospital. Hoje, on<strong>de</strong> quer que vá, eu beijo muitas e muitas vezes (como se meu beijo<br />
pu<strong>de</strong>sse curar) os milhares <strong>de</strong> ferimentos da nossa Igreja que se assemelham a um câncer que a<br />
<strong>de</strong>vora <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro para fora.<br />
137
Parece que foi ontem que consolei uma mulher abandonada, sem comida ou dinheiro, sem<br />
quaisquer outros bens a não ser os filhos que se agarravam à sua saia em farrapos. Hoje, on<strong>de</strong><br />
quer que vá, tenho a impressão <strong>de</strong> consolar a Igreja abandonada por tanta gente.<br />
Ó Deus, meu amor, minha vida, a agonia daquela que é Teu corpo e Tua esposa está me<br />
queimando. Parece que, como Joana d'Arc, posso sentir o cheiro <strong>de</strong> minha carne que queima e,<br />
mais ainda, da minha alma em chamas. O que posso fazer, eu, uma ninguém, a não ser me<br />
esvaziar em minha agonia para permitir que Tu venhas e resgates Tua esposa?<br />
Vem, Senhor Jesus, vem! Não estou po<strong>de</strong>ndo suportar mais, nem por um momento, a<br />
vista da Tua esposa traída e abandonada.<br />
12 - NOSSA SENHORA MENINA (Nossa Senhora da Conceição Aparecida)<br />
Eu amo meditar sobre Nossa Senhora. A primeira imagem que me vem à mente é aquela<br />
<strong>de</strong> uma garota muito jovem. Ela vem <strong>de</strong> uma pequena cida<strong>de</strong> ou vila, seus pais a estão trazendo<br />
para o templo on<strong>de</strong> ela po<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r a ler e fazer muitas coisas. Eu vejo suas pequenas mãos<br />
acostumarem-se ao trabalho. Ela apren<strong>de</strong> a tecer, cozinhar, varrer, fiar. Ela faz uma porção <strong>de</strong><br />
coisas que nenhuma mocinha <strong>de</strong> quatorze anos sabe fazer hoje em dia. Eu a vejo muito simples,<br />
discreta, misturada ao grupo a que pertence, sem ser chamar a atenção - ela iria se tornar a Mãe<br />
<strong>de</strong> Deus, segurar Jesus em seus braços maternos, segurar meu próprio coração em suas <strong>de</strong>licadas<br />
mãos.<br />
Então fico pensando como ela <strong>de</strong>ve ter brincado, como todas as crianças brincam:<br />
pulando, dançando, correndo através dos campos; e eu sinto como se pu<strong>de</strong>sse participar com ela.<br />
Ela era atenta a todas as celebrações da Sinagoga, aos Salmos, a todas as coisas <strong>de</strong> Deus. E eu<br />
me pergunto, "Quanto era atenta?". E vem a mim que sua atenção era provavelmente fantástica,<br />
porque era uma ativida<strong>de</strong> totalmente absorvente. Ela bebia profundamente dos Salmos. Ela era<br />
cativada pelas Escrituras, lendo aquelas passagens que nós sabemos se referiam a ela. Ela não<br />
sabia que iriam se aplicar a ela; ainda assim, <strong>de</strong> alguma forma, ela as <strong>de</strong>ve ter absorvido<br />
profundamente e "conservava todas essas coisas em seu coração". Eu gosto <strong>de</strong> meditar sobre<br />
isto.<br />
13 - AMOR E DOR<br />
O que, fundamentalmente, todos nós procuramos? <strong>Em</strong> última análise, é Deus. Ele é o<br />
único que po<strong>de</strong> saciar nossa se<strong>de</strong> e acalmar nossa inquietu<strong>de</strong>.<br />
Alguns acham que a união com outra pessoa nos levará à união com Deus. Naturalmente,<br />
isso é possível, se for a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus que nos casemos. Mas não vamos nos enganar a nós<br />
mesmos com a certeza <strong>de</strong> que o matrimônio nos leva automaticamente a Deus. Não! Os casados<br />
têm que passar pela mesma luta espiritual, mesmo <strong>de</strong>spojamento e a morte do eu como fariam se<br />
fossem pessoas solteiras, padres ou religiosos.<br />
Nosso apaixonado <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> união com Deus tem um preço. As imagens que temos na<br />
Bíblia <strong>de</strong> cortejo e casamento nos alertam sobre tal preço, pois amor e casamento,<br />
inevitavelmente trazem dor. Nós nem sempre pensamos <strong>de</strong>ssa maneira, mas assim é que é.<br />
Consi<strong>de</strong>remos um cenário comum. Eu me apaixono por alguém que há três meses atrás<br />
eu nem sabia que existia; e agora estou preocupada porque ele está dirigindo na estrada e está<br />
chovendo e não consigo dormir com medo <strong>de</strong> que ele possa estar correndo muito e sofrer um<br />
aci<strong>de</strong>nte. Antes que eu conhecesse esse moço eu estava em paz; mas no momento em que<br />
138
comecei a amá-lo, a dor teve início. Não tive nem que esperar até casar com ele! On<strong>de</strong> existe<br />
amor, existe dor.<br />
14 - DOR E CRESCIMENTO ESPIRITUAL<br />
Vamos supor que você é uma jovem mulher. Vamos supor que você se case. Você está<br />
cheia <strong>de</strong> lindos sonhos. Aí, você engravida. Vomita todas as manhãs, não po<strong>de</strong> cozinhar, fica<br />
aborrecida com toda essa situação. Naturalmente, você está feliz porque vai ter um filho; mas no<br />
momento está se sentindo miserável mesmo. Eventualmente nasce o bebê. Durante dois anos ele<br />
grita e chora, e você fica perguntando-se a si mesma porque sempre esteve <strong>de</strong>sejando que isso<br />
acontecesse! Você não tem dinheiro para pagar uma babá, por essa razão não po<strong>de</strong> sair com seu<br />
marido. Está amarrada e presa, e tudo o que você ganha pelos seus esforços é, "Buaá! Buaá!".<br />
Você ama o bebê, mas oh, como gostaria que ele já estivesse no maternal. Mais tar<strong>de</strong>, quando o<br />
filho vai para o jardim da infância, você morre <strong>de</strong> medo <strong>de</strong> que atravesse uma rua, ou pegue<br />
sarampo das outras crianças. Quando o filho cresce, você fica preocupada com tudo o que po<strong>de</strong><br />
acontecer com os adolescentes. Depois vai se preocupar com seu filho, já adulto, se casando, e<br />
<strong>de</strong>pois com seus netos. O amor é assim!<br />
On<strong>de</strong> há amor, há dor. Mas qualquer que seja nosso caminho nesta vida, essa espécie <strong>de</strong><br />
dor é a maneira <strong>de</strong> Deus nos ensinar a rezar. Tudo aquilo que nos acontece espiritualmente, tudo<br />
aquilo que nos faz crescer, nos aproximará mais <strong>de</strong> Deus - se nós dissermos sim. É isso o que<br />
significa crescimento espiritual.<br />
15 - O LEITO NUPCIAL DE CRISTO (Sta. Teresa <strong>de</strong> Jesus, Doutora da Igreja)<br />
Às vezes na vida, você fica observando o que parece ser um trabalho <strong>de</strong> Deus todo<br />
<strong>de</strong>stroçado. E você nada po<strong>de</strong> fazer a não ser observar.<br />
Aconteceu isso comigo. Eu mal entendi então o que vejo mais claramente hoje, que<br />
aquele foi o momento em que Deus realmente me escolheu e disse, "Agora estou te oferecendo a<br />
união Comigo que procuravas. O outro lado <strong>de</strong> Minha cruz está vazio. Vem, fica pregada nela.<br />
Este é teu leito nupcial".<br />
A única coisa que po<strong>de</strong>mos respon<strong>de</strong>r a tal convite é, "Ajuda-me, Deus! Eu não tenho a<br />
coragem <strong>de</strong> subir nessa cruz".<br />
Agora, começamos a verificar que essa prece tem duplo efeito. Não apenas Deus nos dá a<br />
graça <strong>de</strong> acreditar e pedir por ajuda, mas Ele também nos puxa a Si próprio muito mais<br />
seguramente do que qualquer coisa que possamos imaginar. Seu próprio <strong>de</strong>sejo nos impele para<br />
junto <strong>de</strong> Si, até que os dois <strong>de</strong>sejos se fundam. Nossa prece e o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> Deus ficam juntos num<br />
breve momento <strong>de</strong> união que só faz aumentar nosso <strong>de</strong>sejo por mais. É um <strong>de</strong>sejo insaciável esse<br />
pelo qual procuramos - união com Deus. É o que nos dá a coragem <strong>de</strong> dizer sim à próxima<br />
situação <strong>de</strong>vastadora que nos aparecer, o próximo passo para a união na cruz que Ele, o<br />
Carpinteiro, preparou para cada um <strong>de</strong> nós, individualmente.<br />
16 - UMA AVENTURA PERIGOSA (Sta. Margarida Maria Alacocque)<br />
A oração é uma aventura, mas é uma aventura perigosa. Não po<strong>de</strong>mos nela penetrar sem<br />
risco. Como diz a Escritura, "É uma coisa terrível cair nas mãos do Deus vivo" (Hb, 10:31).<br />
139
A oração <strong>de</strong>ve nos levar a uma entrega total, ou então não nos levará a lugar algum, a não<br />
ser <strong>de</strong> volta a nós mesmos. É essa a entrega que nós muito tememos e é por isso que a oração é<br />
uma coisa perigosa e assustadora. É por isso que seguir a Cristo é um negócio arriscado. Ele nos<br />
chama para entrar em uma revolução - como a luta por uma causa, mas uma revolução que é<br />
infinitamente mais po<strong>de</strong>rosa. Essa revolução acontece <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós, pois o céu <strong>de</strong>ve ser tomado<br />
com violência a si mesmo. A prece faz parte <strong>de</strong>ssa aventura. Não se iluda: uma vez que você<br />
tenha se encontrado com Deus, você nunca mais será a mesma pessoa que era antes.<br />
Hoje, quase dois mil anos após o nascimento <strong>de</strong> Cristo, o cristianismo ainda não vive em<br />
nossos assim chamados corações cristãos. Por que isso? Por que o mundo não se volta para<br />
Cristo? É porque os cristãos não estão vivendo o Evangelho. Nós cristãos não temos seguido o<br />
Cristo. <strong>Em</strong> algum ponto ao longo da estrada da vida nós nos encolhemos, e ainda continuamos a<br />
nos encolher. Se nós tivéssemos realmente seguido Cristo não haveria o comunismo. Não<br />
haveria guerras.<br />
17 - A ESSÊNCIA DO NOSSO CHAMADO (Sto. Inácio <strong>de</strong> Antioquia)<br />
O Concílio Vaticano II convocou todos os cristãos para pregar o Evangelho a todos os<br />
povos. Para os fieis leigos católicos o Concílio atribuiu a especial tarefa <strong>de</strong> penetrar no mundo<br />
secular, ternamente, amorosamente, colocando a mensagem do Evangelho na vida política e<br />
econômica <strong>de</strong> todos os dias. Essa é uma tarefa tremenda! Ela po<strong>de</strong>rá levar a luz <strong>de</strong> Cristo até o<br />
mais escuro canto do nosso mundo fragmentado, confuso, ansioso, raivoso, e temeroso. Mas isso<br />
exige <strong>de</strong> nós que coloquemos <strong>de</strong> lado tudo aquilo que não for essencial, que paremos todos os<br />
jogos <strong>de</strong> palavras, todas as inúteis discussões. Sim, nós <strong>de</strong>vemos agora ir à essência das coisas!<br />
A essência é isto: <strong>de</strong>vemos começar a viver pela fé e não por mera "religião". Nós<br />
<strong>de</strong>vemos ter um encontro com Deus e permitir que Ele penetre em nosso mais íntimo interior.<br />
Devemos ter em mente que Deus amou-nos primeiro e que nossa religião é um verda<strong>de</strong>iro caso<br />
<strong>de</strong> amor entre Deus e nós, nós e Deus; não é meramente um sistema <strong>de</strong> regras morais e dogmas.<br />
Nós temos <strong>de</strong> correspon<strong>de</strong>r ao amor <strong>de</strong> Deus apaixonadamente! Através do outro. Temos<br />
<strong>de</strong> amar o nosso próximo, não apenas como a nós mesmos, mas com o coração <strong>de</strong> Deus. Cristo<br />
disse a Seus discípulos, Por isto os homens saberão que sois meus discípulos, que vos ameis uns<br />
aos outros, como Eu vos tenho amado. Para amar com o coração <strong>de</strong> Deus, nós temos <strong>de</strong><br />
esvaziar-nos completamente do nosso eu, permitir que Cristo ame através <strong>de</strong> nós. Sem Ele, não<br />
conseguimos amar nada nem ninguém, nem mesmo nós próprios.<br />
18 - LEVANDO A SÉRIO NOSSO CHAMADO (S. Lucas, Evangelista)<br />
Para que mostremos a face do Amor para os outros, para que nos esvaziemos <strong>de</strong> nós<br />
mesmos a fim <strong>de</strong> que o Amor brilhe em nossos negócios, em nossas bolsas <strong>de</strong> valores e nas<br />
nossas áreas resi<strong>de</strong>nciais dos subúrbios, <strong>de</strong>vemos tornar-nos pobres. Não basta a pobreza em<br />
espírito, que quer dizer que nos compenetramos <strong>de</strong> quão completamente nós <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>mos <strong>de</strong><br />
Deus. Temos <strong>de</strong> ser pobres na realida<strong>de</strong> da vida diária.<br />
Esta não é uma época para que os cristãos fiquem comprando casas caríssimas. Este não é<br />
o tempo para que nos preocupemos com nossas "imagens". Este não é o tempo para que Or<strong>de</strong>ns<br />
religiosas gastem fortunas em construções e altares <strong>de</strong> alto valor. (Eu não estou sugerindo que<br />
nos tornemos miseráveis!). Este é simplesmente o tempo para que nos tornemos pobres; dar aos<br />
outros aquilo que nos sobra, sim, mas também aquilo <strong>de</strong> que temos necessida<strong>de</strong>. Será que não<br />
140
po<strong>de</strong>mos viver normalmente, sem que sejamos dominados por <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong>senfreados por milhares<br />
<strong>de</strong> objetos e símbolos <strong>de</strong> status?<br />
Este é o tempo para nos tornarmos cristãos no completo sentido da expressão, "seguidores<br />
<strong>de</strong> Cristo". Para todos e cada um <strong>de</strong> nós, não interessa qual o nosso estilo <strong>de</strong> vida, a vida <strong>de</strong><br />
Cristo permanece como exemplo para nós. Tudo o que temos <strong>de</strong> fazer é traduzir isso para que<br />
todos compreendam. Unicamente o amor po<strong>de</strong> fazer isso. O pai do amor é a fé. Temos <strong>de</strong><br />
começar a viver pela fé, cujos sinais externos <strong>de</strong> religião são meros instrumentos, sendo os<br />
sacramentos seus sinais visíveis. Quando fizermos isso, o mundo se transformará.<br />
19 - NÃO HAVIA PADRES (São Paulo da Cruz)<br />
Lembro-me <strong>de</strong> quando não havia padres em São Petersburgo. Era o início da Revolução<br />
Russa, quando tudo estava em <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m e padres eram fuzilados sem mais nem menos, como<br />
muitas outras pessoas. Os rabinos ju<strong>de</strong>us, os ministros protestantes, os padres ortodoxos, todos<br />
eram fuzilados ou "liquidados" <strong>de</strong> alguma maneira.<br />
Uma pequena paróquia católica romana estava conseguindo sobreviver e aqueles <strong>de</strong> nós<br />
que tinham conhecimento disso iam participar da missa no meio da noite. Era uma missa muito<br />
rápida, mas era uma missa. Uma noite quando o padre tinha apenas acabado <strong>de</strong> consagrar a<br />
Hóstia, a porta se abriu, um rifle irrompeu entre as pessoas; um tiro foi disparado e o padre caiu<br />
morto. A Hóstia consagrada caiu do altar e rolou por terra. Dois soldados então vieram,<br />
esmagaram a Hóstia com seus calcanhares e, virando-se para nós, disseram, "On<strong>de</strong> está seu<br />
Deus? <strong>Em</strong>baixo <strong>de</strong> nossos calcanhares!”<br />
Um senhor idoso respon<strong>de</strong>u, "Senhor, perdoai-os, mesmo que saibam o que estão<br />
fazendo". Envergonhados ou embaraçados, os dois soldados <strong>de</strong>ixaram a igreja. O senhor idoso<br />
<strong>de</strong>u-nos a Comunhão com o que restou da Hóstia. Ele lavou com água benta o chão profanado e<br />
enterramos o padre.<br />
E aí não havia mais padres! Ninguém para ouvir as confissões. Ninguém para ministrar o<br />
Viático e a Extrema Unção (como então se dizia). Ninguém para celebrar a missa. Qualquer<br />
pessoa que já tenha passado por tal tragédia sabe o que significa ficar sem padres.<br />
20 - VIVEMOS COM MEDO - DESNECESSARIAMENTE<br />
"Mesmo que caminhe pela sombra da morte, não temerei nenhum mal, pois estais<br />
comigo". Assim fala o santo salmista do Senhor. Nós <strong>de</strong>veríamos adotar essas palavras para nós<br />
mesmos, que somos tão temerosos. Tememos o futuro. Tememos doenças e falta <strong>de</strong> segurança.<br />
Tememos o que as pessoas po<strong>de</strong>m dizer. Tememos ser diferentes da “turma”. Caminhamos<br />
neste mundo com medo! Temores <strong>de</strong>snecessários nos impe<strong>de</strong>m <strong>de</strong> viver uma vida inteira em<br />
Cristo.<br />
Aí vemos um jovem casal com medo do que as pessoas vão dizer ou pensar - compraram<br />
uma casa num en<strong>de</strong>reço "grã-fino" em vez <strong>de</strong> irem viver com simplicida<strong>de</strong> e alegria num lugar<br />
mais pobre.<br />
Aí estão pessoas que não querem ir a nenhum bairro pobre <strong>de</strong> sua cida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> estão as<br />
"favelas", porque po<strong>de</strong>m sofrer alguma agressão física. Fecham suas portas ao Cristo que vem<br />
num mendigo, pelas mesmas razões!<br />
Eis uma jovenzinha que acha que <strong>de</strong>ve se vestir, se maquiar e se pentear com o estilo da<br />
moda, para não ficar "por fora". Por fora <strong>de</strong> quê? Da esteira do mundo?<br />
141
Aqueles que são batizados em nome do Pai, Filho e Espírito Santo, <strong>de</strong>veriam ser as<br />
pessoas mais <strong>de</strong>stemidas do mundo. Nós <strong>de</strong>veríamos caminhar em glória para sempre, pois a<br />
Trinda<strong>de</strong> habita em nós. Cristo afirmou isto. <strong>Em</strong> tal gloriosa companhia, o que <strong>de</strong>vemos temer?<br />
O que nos interessa o que as pessoas pensam, se Deus está satisfeito conosco <strong>de</strong> tal modo que<br />
vem e faz morada em nossos corações?<br />
21 - UM REMÉDIO PARA O MEDO<br />
Quando eu era pequena, meu pai costumava dizer que se você fosse um cristão <strong>de</strong><br />
verda<strong>de</strong>, não <strong>de</strong>veria temer nada, nem ninguém. Não era você, se estivesse em estado <strong>de</strong> graça, o<br />
templo da Santíssima Trinda<strong>de</strong>? E não estava também ali a Mãe Abençoada? Porque on<strong>de</strong><br />
estiver a Trinda<strong>de</strong>, aí estará certamente Nossa Senhora da Trinda<strong>de</strong>. E, naturalmente, o seu santo<br />
padroeiro estará também com você, tanto quanto o seu anjo da guarda. Mais ainda, como um<br />
cristão, você teria o direito e o <strong>de</strong>ver, em caso <strong>de</strong> perigo ou <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> invocar todos os<br />
espíritos celestes para ajudar, invocar cada um ou todos os que pertencem à Igreja Triunfante, que<br />
é todo o povo <strong>de</strong> Deus no céu. Assim, vivendo, caminhando, respirando em tão gloriosa<br />
companhia, como po<strong>de</strong>rá você temer qualquer coisa a não ser o pecado? Unicamente o pecado<br />
tem o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> causar a verda<strong>de</strong>ira morte. Ele tem que ser temido com gran<strong>de</strong> temor, e só ele,<br />
nada mais.<br />
Você não tem <strong>de</strong> temer a moléstia ou até a morte - ambas são dons do Senhor! A doença<br />
po<strong>de</strong> fazer você viver na Sua graça, da mesma forma que toda a dor e tristeza o fazem, e dar a<br />
você profunda paz espiritual e compreensão que não po<strong>de</strong>m ser alcançadas <strong>de</strong> nenhuma outra<br />
forma. E a morte? A morte é Cristo chamando sua alma para um eterno encontro <strong>de</strong> Amor. Oh,<br />
que alegria, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tão longa espera chegar ao lar, nos braços do Bem-Amado!<br />
22 - SUPERANDO NOSSOS MEDOS<br />
O medo foi feito para ser superado. Devido a nós temermos tantas coisas, a maior parte<br />
do tempo o medo nos mantém presos. Temos medo do envolvimento, medo das pessoas, medo<br />
<strong>de</strong> nós mesmos, e um infindável mar <strong>de</strong> dúvidas sobre nossa segurança, nossa i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e por aí<br />
afora. Mas o medo foi feito para ser dominado, porque uma vez que seja dominado, as hostes <strong>de</strong><br />
seus seguidores <strong>de</strong>saparecerão.<br />
Como po<strong>de</strong>mos superar o medo? <strong>Em</strong> primeiro lugar, e mais importante, através da<br />
oração. O medo também é dominado pela coragem. A coragem não é a ausência <strong>de</strong> medo, ela é<br />
a superação <strong>de</strong>le. Nós nos <strong>de</strong>paramos sempre com a mesma coisa, sob novos aspectos.<br />
Pensemos por um momento. De que temos medo? Acima <strong>de</strong> tudo, temos medo da morte.<br />
Este é o ponto crucial <strong>de</strong> nossos temores. Outros temores cercam nossa vida, mas o medo da<br />
morte é o verda<strong>de</strong>iro medo. A morte é o medo básico e <strong>de</strong>vemos também enfrentá-la. Ela é o<br />
medo radical e a razão <strong>de</strong> todos os outros medos.<br />
Mas por que <strong>de</strong>veria eu ter medo da morte? A morte é um dos mais belos momentos da<br />
vida. Se eu tenho fé, a passagem para a morte é gloriosa. Não é uma questão <strong>de</strong> ver os anjos e<br />
Nossa Senhora. Ela significa sermos recebidos pelo próprio Cristo, sermos invadidos por Sua<br />
vida, sermos um com Ele. Memento mori. "Lembra-te <strong>de</strong> que hás <strong>de</strong> morrer" - mas eu lembro<br />
também que será um evento cheio <strong>de</strong> alegria. Deus receberá Deus em mim.<br />
142
23 - VIDA DE MESMICE - TRANSFORMADA<br />
A vida segue seu caminho. Efetivamente trata-se <strong>de</strong> uma mesmice - repetitiva e<br />
monótona. Digamos que você cui<strong>de</strong> <strong>de</strong> crianças: você troca fraldas, veste os bebês, põe-nos no<br />
berço, dá-lhes alimento, diverte-os da melhor maneira possível. <strong>Dia</strong> após dia. Fica monótono,<br />
não fica? Até o Presi<strong>de</strong>nte encontra, em tempos <strong>de</strong> paz, uma certa monotonia em seu trabalho:<br />
assinar papéis, encontrar congressistas, estar aqui num momento, estar ali em outro. Des<strong>de</strong> o<br />
trabalho braçal até o trabalho da presidência, a monotonia po<strong>de</strong> ser o caminho para as dúvidas.<br />
Quando somos jovens, temos nossos sonhos; vamos mudar o mundo - fazer isto ou aquilo.<br />
Mas os anos passam e nós nos tornamos guarda-livros ou balconistas. Nossos trabalhos são<br />
monótonos e vivemos assaltados por uma série <strong>de</strong> pensamentos. Sim, a vida diária na mesmice é<br />
a mais larga estrada para as dúvidas.<br />
Deus nos <strong>de</strong>u um caminho estreito para segui-Lo, não uma larga estrada. Mas nós<br />
tomamos aquela estrada larga! Entretanto, se nós abandonarmos aquela e tomarmos o caminho<br />
estreito veremos que essa pequena passagem é santa. Aí nós colhemos o sorriso <strong>de</strong> uma criança<br />
com ambas as mãos e o acalentamos em nosso coração. Os dias rotineiros, cheios <strong>de</strong> dúvidas,<br />
<strong>de</strong>saparecerão e caminharemos <strong>de</strong>scalços pelo caminho estreito, como fazem os peregrinos. As<br />
flores e as árvores crescerão ao longo <strong>de</strong>le e compreen<strong>de</strong>remos que essa é a estrada que Deus fez,<br />
e não há nenhuma mesmice nela! Tudo será excitante porque estaremos apaixonados por Deus.<br />
E estar apaixonados por Deus é a coisa mais excitante do mundo.<br />
24 - MEDITAÇÃO AO LAVAR ROUPAS (Sto. Antonio Maria Claret)<br />
Lavar roupas é uma escola <strong>de</strong> amor, on<strong>de</strong> você po<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r contemplação. O trabalho<br />
repetitivo <strong>de</strong> passar e dobrar roupas conduz à liberda<strong>de</strong> do Espírito que permite a você vagar à<br />
vonta<strong>de</strong>, ora contemplando Cristo em Nazaré, ora meditando sobre a Eucaristia, ora pensando nas<br />
Escrituras.<br />
Seu trabalho é também re<strong>de</strong>ntor. Almas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da perfeição <strong>de</strong> seu trabalho e do<br />
espírito com que você o executa. Esse espírito <strong>de</strong>ve ser pacífico, <strong>de</strong> oração e cheio <strong>de</strong> carida<strong>de</strong>.<br />
Você é o encarregado <strong>de</strong> cuidar <strong>de</strong>ssa roupa. Veja que ela não se rasgue e seja arrumada<br />
a<strong>de</strong>quadamente. Manuseie-a com cuidado antes e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> lavá-la e atente para que seja<br />
passada corretamente. Verifique também se sua área da lavan<strong>de</strong>ria está em or<strong>de</strong>m. Com Deus,<br />
tudo tem seu lugar. Acredite-me quando digo que se encontra paz <strong>de</strong> espírito em meio à or<strong>de</strong>m e<br />
arrumação, da mesma forma que a paz interior se reflete externamente.<br />
Reze para Santa Teresinha, que lavava roupas numa velha tina com a água que era<br />
aquecida em outro local e vinha transportada em bal<strong>de</strong>s - somente Deus sabe quanto custava a<br />
uma mulher com tuberculose executar esse trabalho sem uma única palavra <strong>de</strong> queixa a ninguém.<br />
25 - O CUIDADO E O USO DAS MÁQUINAS<br />
Você tem que olhar todas as máquinas com as quais lida primeiro com infinita reverência<br />
e, em segundo lugar, com admiração porque, em um certo sentido, elas são "criaturas" <strong>de</strong> Deus,<br />
tocadas pela inteligência <strong>de</strong> Deus através da inteligência e o manuseio <strong>de</strong> homens e mulheres.<br />
Tudo no mundo "contém Deus" e é tocado por Deus. O Cálice e a Hóstia são realida<strong>de</strong>s visíveis<br />
da presença <strong>de</strong> Deus, mas aos olhos da fé, outras realida<strong>de</strong>s também são sinais da Sua presença.<br />
Os veículos que dirigimos, os motores e ventiladores elétricos, a serra, o aquecedor - essas coisas<br />
143
são também cálices da criação <strong>de</strong> Deus, que transmitem Sua inteligência, Seu amor e ternura<br />
através das mentes <strong>de</strong> homens e mulheres.<br />
Segue-se, portanto que, <strong>de</strong> certa forma, sempre que abusamos <strong>de</strong> uma máquina, somos<br />
culpados <strong>de</strong> profanação <strong>de</strong> uma criação <strong>de</strong> Deus. Significa que temos <strong>de</strong> pensar adiante e<br />
refletirmos interiormente antes mesmo <strong>de</strong> tocarmos um botão, ou colocar nosso pé no acelerador,<br />
ou pôr em movimento qualquer máquina que alguém criou em cooperação com Deus. Não temos<br />
o direito <strong>de</strong> maltratar uma criatura <strong>de</strong> Deus <strong>de</strong> nenhum modo.<br />
Quando jogamos em cima da criatura <strong>de</strong> Deus nossas frustrações, hostilida<strong>de</strong>s e<br />
perturbações emocionais, só fazemos ferir a nós mesmos. É quase tão grave maltratar uma<br />
máquina como seria jogar nossas hostilida<strong>de</strong>s sobre um cachorro e chutá-lo sem nenhuma razão.<br />
É melhor ter a humilda<strong>de</strong> e a coragem <strong>de</strong> dizer, "Estou chateado hoje. Seria melhor que outra<br />
pessoa trabalhasse nesta máquina hoje", do que <strong>de</strong>safiar o próprio Senhor ao maltratar Sua<br />
criatura.<br />
26 - ARTESANATO E CRIATIVIDADE<br />
O artesanato serve como meio <strong>de</strong> comunicação entre pessoas medrosas, tímidas ou<br />
doentes, ou mesmo pessoas que falam idiomas diferentes. Há uma coisa <strong>de</strong> calmante, caseiro,<br />
agradável e relaxante em observar alguém bordando ou tricotando num aeroporto ou em um trem.<br />
A gente se sente segura e confiante diante <strong>de</strong> tal pessoa. Se alguém tem um trabalho <strong>de</strong>ssa<br />
natureza, costuma fazer amigos quase sem palavras. Ou alguém po<strong>de</strong> perguntar ao outro o que<br />
ele está fazendo e um laço <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>, gentil e caloroso, se estabelece com essa pessoa que<br />
alguns momentos atrás era um <strong>de</strong>sconhecido. O artesanato é uma ponte.<br />
<strong>Todo</strong> o esforço criativo vem <strong>de</strong> Deus e quem faz artesanato cria. Criar é estar em paz,<br />
porque enquanto está criando, a pessoa está junto ao Criador. A criativida<strong>de</strong> é uma das<br />
necessida<strong>de</strong>s da nossa humanida<strong>de</strong> e um dos dons <strong>de</strong> Deus para nós. Os trabalhos <strong>de</strong> artesanato<br />
também são um outro meio <strong>de</strong> nos restaurar para a integrida<strong>de</strong> da or<strong>de</strong>m natural e psicológica,<br />
como também para melhor nos restaurar para Cristo. A solidão dos homens mo<strong>de</strong>rnos chegou<br />
quase ao ponto final, sem volta; mas com um esforço comum <strong>de</strong> criativida<strong>de</strong>, homens e mulheres<br />
po<strong>de</strong>m encontrar outras pessoas também interessadas em tais trabalhos e tornarem-se amigos<br />
através <strong>de</strong>ssa sua habilida<strong>de</strong>. A amiza<strong>de</strong> é ainda o mais precioso bem que um ser humano po<strong>de</strong><br />
compartilhar. Assim, os trabalhos <strong>de</strong> artesanato abrem as portas tanto para a amiza<strong>de</strong> como para<br />
a criativida<strong>de</strong>. Esses aspectos caminham juntos, porque a amiza<strong>de</strong> também cria e ajuda a crescer<br />
a criativida<strong>de</strong>.<br />
27 - MEDITAÇÃO SOBRE GRITARIA<br />
As boas maneiras são filhas da carida<strong>de</strong>, e eu <strong>de</strong>vo abordar uma questão em particular. É<br />
a respeito do hábito terrível que alguns <strong>de</strong> vocês têm <strong>de</strong> gritar através <strong>de</strong> salas e corredores.<br />
<strong>Todo</strong>s vocês foram ensinados, tenho certeza, na infância e na juventu<strong>de</strong>, que quando vocês<br />
querem perguntar algo a alguém, <strong>de</strong>vem ir até aquela pessoa. Os gritos sobressaltam a todos!<br />
<strong>Em</strong> alguns tipos <strong>de</strong> trabalho isso é necessário, mas parem por um instante e consi<strong>de</strong>rem que vocês<br />
são chamados a ser santos e os santos dão exemplo pela maneira como se comportam, andam e<br />
falam.<br />
144
Uma pessoa cuja alma e mente são pacíficas não tem o hábito <strong>de</strong> gritar através das distâncias.<br />
Mas a coisa é mais profunda do que isso. Freqüentemente nós gritamos porque estamos muito<br />
cansados ou com preguiça para ir falar com a pessoa. Vocês alguma vez pensaram que uma boa<br />
maneira <strong>de</strong> "morrer para o eu" é <strong>de</strong>spen<strong>de</strong>r tempo e esforço para ir até a outra pessoa e falar <strong>de</strong><br />
uma maneira simples, cristã?<br />
Posso perguntar-lhes uma coisa? Acho que vale a pena: vocês pensam que Cristo gritava<br />
para os Seus apóstolos ou para o povo? Tenho a impressão <strong>de</strong> que ficaríamos chocados com o<br />
pensamento <strong>de</strong> Cristo gritando para eles. Nem po<strong>de</strong>mos imaginar a Virgem Abençoada gritando<br />
para alguém. É claro que não o fariam. Pergunte a si próprio porque você grita. É uma boa<br />
meditação.<br />
28 - BOAS MANEIRAS E MUITA FALAÇÃO (S.Simão e S.Judas Ta<strong>de</strong>u, Apóstolos)<br />
Vou abordar outra situação <strong>de</strong>sagradável. Quando várias pessoas estão trabalhando<br />
juntas, algumas parecem ter a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> falar constantemente. Quase sempre é uma<br />
conversa sem importância. Freqüentemente essas mesmas pessoas monopolizam a conversa.<br />
Usualmente essas boas pessoas têm a compulsão <strong>de</strong> contar tudo o que elas têm feito. Quase<br />
inconscientemente o pronome "eu" fica muito em evidência em sua conversação. Po<strong>de</strong> ser<br />
interessante viver com tal tipo <strong>de</strong> pessoa, mas não é fácil. Elas nunca parecem perceber que<br />
<strong>de</strong>veriam também dar atenção às outras pessoas, especialmente às mais tímidas que necessitam<br />
<strong>de</strong> um pequeno empurrão. Se esse tipo <strong>de</strong> pessoa vive com outros que não são <strong>de</strong> muito falar, a<br />
agonia que infligem a estes está além da imaginação. É como uma agulha pontuda penetrando no<br />
cérebro. Quando isso é feito sem muita pon<strong>de</strong>ração, <strong>de</strong>monstrando tremenda falta <strong>de</strong> amor e<br />
consi<strong>de</strong>ração pelos outros, tem o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> nos conduzir ao inferno, em vez <strong>de</strong> ao amor <strong>de</strong> Deus!<br />
Vejam bem, o cuidado e atenção com "pequenas coisas" é a verda<strong>de</strong>ira essência do<br />
espírito do cristianismo. As boas maneiras são filhas da carida<strong>de</strong>. Isso parece apenas um<br />
arranhão no corpo da carida<strong>de</strong>; mas continue a arranhar o mesmo lugar por muito tempo e você<br />
terá um ferimento profundo. Além disso, nós não ensinamos a ninguém como amar se nos<br />
comportamos <strong>de</strong> tal forma. Assim, vocês po<strong>de</strong>m ver quanto dano po<strong>de</strong> ser causado pela falta <strong>de</strong><br />
boas maneiras.<br />
29 - A ARTE DA CONVERSAÇÃO<br />
A boa conversa é, antes <strong>de</strong> qualquer coisa, um diálogo, alternando as falas entre duas<br />
pessoas ou entre várias. O primeiro requisito para isso é um interesse pelas pessoas. Existem<br />
muitos assuntos, mas não é necessário um conhecimento formal sobre eles para a arte da<br />
conversação. O que é necessário é ter interesse nos outros e uma habilida<strong>de</strong> em expressar seus<br />
pensamentos (o que pressupõe que a pessoa tem pensamentos originais que valham a pena serem<br />
expressos!). São necessárias também a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ouvir e uma imaginação <strong>de</strong>senvolvida.<br />
Nossa vida é rica <strong>de</strong> tópicos <strong>de</strong> conversação: o significado espiritual dos acontecimentos<br />
do dia; uma pesquisa individual sobre algum tema espiritual; uma apreciação sobre as coisas <strong>de</strong><br />
nossa cida<strong>de</strong>, nosso estado ou país; meios para melhorar nosso serviço; abordagem imaginativa<br />
sobre a rotina diária <strong>de</strong> trabalho; falar sobre os inci<strong>de</strong>ntes interessantes que ocorreram durante o<br />
dia.<br />
145
Eis alguns elementos <strong>de</strong> conversação: uma mente aberta, habilida<strong>de</strong> para observar o que<br />
se passa, ouvir os outros tão bem como se expressar num "toma lá, dá cá", paciência e carida<strong>de</strong><br />
para com os que estão apren<strong>de</strong>ndo a se expressar, ajudando-os a fazer isso e um <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><br />
apren<strong>de</strong>r e compartilhar, sem dominar ou "dar uma aula". De gran<strong>de</strong> auxílio são a<br />
espontaneida<strong>de</strong>, simplicida<strong>de</strong> e a alegria em se expressar, sem inibições ou constrangimento;<br />
cultivar interesses em várias coisas, evitando ao máximo o pronome "eu", e a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
perceber os que <strong>de</strong>vem ser incluídos na conversação.<br />
30 - ESCUTA A TI MESMO<br />
Escuta. Escuta a ti mesmo para encontrares o caminho para Deus <strong>de</strong>ntro dos frágeis<br />
limites da tua humanida<strong>de</strong>.<br />
Escuta a ti mesmo, pois só tu po<strong>de</strong>rás te conduzir para Ele ou para longe Dele.<br />
Escuta a ti mesmo. Escuta a Deus, quando chegares a Ele.<br />
Escuta bem, pois se escutares a Sua voz estarás sendo sábio com a sabedoria do Senhor e<br />
aí terás a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ouvir a voz <strong>de</strong> homens e mulheres - não como <strong>de</strong> um mar revolto ou <strong>de</strong><br />
uma multidão - mas <strong>de</strong> cada um individualmente. O que cada um diz é um tesouro que te é<br />
confiado além <strong>de</strong> todas as expectativas, porque tu te conduziste até aquela pessoa e escutaste sua<br />
voz. Então o Senhor te dará o po<strong>de</strong>r para consolar e curar. Escuta bem a ti mesmo e a Deus.<br />
Escuta bem.<br />
31 - VÉSPERA DO DIA DE TODOS OS SANTOS<br />
Não ser um santo - eis a gran<strong>de</strong> tragédia que po<strong>de</strong> acontecer a um católico ou qualquer<br />
cristão. E, no entanto, veja nossos dias e nossos tempos! Quantos <strong>de</strong> nós buscamos a santida<strong>de</strong>?<br />
Ora, como ficamos quase envergonhados <strong>de</strong> falar sobre ela, ainda mais tentar alcançá-la. De<br />
algum modo, per<strong>de</strong>mos <strong>de</strong> vista o nosso objetivo final e nos ocupamos <strong>de</strong>mais com "muitas<br />
coisas", nenhuma das quais tem algo a ver com a santida<strong>de</strong>.<br />
<strong>Em</strong> algum lugar, <strong>de</strong> algum modo, também, acabamos por confundir santida<strong>de</strong> com<br />
chatice, repressões, modismos, fixações, algo pouco salutar. E, no entanto, a santida<strong>de</strong> é tão<br />
simples - como todas as coisas <strong>de</strong> Deus o <strong>de</strong>vem ser. Pois a simplicida<strong>de</strong> é a essência do amor - e<br />
santida<strong>de</strong> é amor, vivido intensamente, inteiramente, completamente.<br />
Também não há nada <strong>de</strong> meloso sobre a santida<strong>de</strong> - ou qualquer coisa melancólica<br />
também. Os santos não po<strong>de</strong>m ser tristes, porque eles são apaixonados pelo Amor e, portanto,<br />
cheios <strong>de</strong> alegria, <strong>de</strong> risos, <strong>de</strong> jovialida<strong>de</strong>. Suas vidas são vidas com tanta aventura que<br />
ultrapassam as maiores aventuras <strong>de</strong> homens e mulheres pecadores. Suas vidas são enraizadas<br />
em Deus - e qualquer um que faça <strong>de</strong> sua vida um constante encontro com Cristo, seja homem ou<br />
mulher, vive uma aventura tão gloriosa que engloba a terra e o céu.<br />
Fomos criados para sermos santos, para gozar da Visão Beatífica. Para entrar no céu,<br />
<strong>de</strong>vemos ser santos - se não agora, mais tar<strong>de</strong>, através <strong>de</strong> muito sofrimento e dor no purgatório.<br />
Por que esperar? Por que não começar hoje?<br />
© online edition Madonna House Publications March 2010<br />
146
NOVEMBRO<br />
1 - PRECISAMOS DE MAIS SANTOS (<strong>Todo</strong>s os Santos)<br />
O que precisamos hoje é <strong>de</strong> mais santos. Centenas, milhares, milhões <strong>de</strong> santos!<br />
Quaisquer tipos <strong>de</strong> bombas, ódios e temores se <strong>de</strong>svanecem, como a neblina diante do sol,<br />
quando se <strong>de</strong>frontam com os santos, homens e mulheres apaixonados por Deus, homens e<br />
mulheres <strong>de</strong> santida<strong>de</strong>.<br />
Santida<strong>de</strong> significa muito amor. É para isso que fomos criados - para amar - para amar o<br />
nosso próximo e, através <strong>de</strong>le ou <strong>de</strong>la, amar Deus. Amar é divertir-se. Amar é alegria. Amar<br />
significa servir. Amar significa esquecer <strong>de</strong> si mesmo pelos outros. Aprenda a amar e todo o<br />
resto lhe será dado.<br />
Hoje em dia quase ficamos fora <strong>de</strong> nós mesmos por causa dos medos - <strong>de</strong> bombas e<br />
guerras. Nossas cabeças não encontram repouso em lugar algum, nem nossos corações ou nossas<br />
almas. <strong>Em</strong> vão procuramos respostas em armamentos, tratados e leis, sabendo, mesmo enquanto<br />
fazemos isso, que estamos tapando o sol com a peneira, pois nada existe que possa evitar a<br />
aniquilação que será causada pelas armas que nossos próprios cérebros inventaram.<br />
Nada po<strong>de</strong> nos salvar, exceto a santida<strong>de</strong>. É por isto que necessitamos hoje <strong>de</strong> santos. Se<br />
São Francisco <strong>de</strong> Assis tivesse uma bomba atômica, alguém se preocuparia com isso? Não.<br />
Porque, sendo um santo, ele muito amou. E on<strong>de</strong> existe amor, não po<strong>de</strong> haver o medo ou o mal.<br />
Ah! Realmente precisamos <strong>de</strong> santos hoje! Precisamos também <strong>de</strong> compreensão, para termos em<br />
mente que a maior tragédia que po<strong>de</strong> nos acontecer é não sermos santos.<br />
2 - REZANDO PELOS MORTOS (<strong>Dia</strong> <strong>de</strong> Finados)<br />
Quando eu era uma menina na Rússia, o <strong>Dia</strong> <strong>de</strong> Finados era um gran<strong>de</strong> dia santo, pois o<br />
amor pelos seus mortos era profundo e tinha uma morada no coração do povo russo. Através do<br />
país inteiro, na missa e em preces especiais, os mortos eram lembrados solenemente e com toda a<br />
família presente. Durante o dia todo os cemitérios ficavam cheios <strong>de</strong> pessoas em oração diante<br />
<strong>de</strong> túmulos, visitando seus queridos que dormiam o último sono. Ao entar<strong>de</strong>cer havia mais<br />
orações na igreja e, usualmente, uma procissão com velas em direção ao cemitério, com cantos <strong>de</strong><br />
ladainhas e hinos. As velas eram <strong>de</strong>ixadas acesas sobre os túmulos, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> pequenos<br />
recipientes ou lanternas. Elas formavam um belo <strong>de</strong>senho: <strong>de</strong> luzes e sombras que era visto pelos<br />
que passavam. Inspiravam aos passantes que as viam um murmurar <strong>de</strong> uma prece enquanto<br />
caminhavam.<br />
Quando morre um cristão, a Igreja reza por sua alma. Apesar <strong>de</strong> batizado, tinha sido um<br />
pecador durante sua vida. Mas sua fé em Deus abre para ele as portas da vida eterna. É por isso<br />
que os membros da Igreja cantam a felicida<strong>de</strong> dos que esperam em Cristo, compartilhando a<br />
esperança da ressurreição. <strong>Em</strong>bora a morte possa nos <strong>de</strong>ixar tristes, as promessas da vida eterna<br />
que virá nos dão consolação.<br />
É estranho, não acham, como a morte nos leva à apreciação da vida? E como ela po<strong>de</strong><br />
fazer seu coração transbordar <strong>de</strong> gratidão a Deus! O meu era assim. A vida não termina, apenas<br />
muda.<br />
147
3 - GRATIDÃO A DEUS (S. Martinho <strong>de</strong> Lima)<br />
Gostaria <strong>de</strong> lhes falar sobre gratidão a Deus. Consi<strong>de</strong>rem vocês, meus queridos, o fato <strong>de</strong><br />
que Deus os amou primeiro. Vocês já ouviram isso, mas <strong>de</strong> alguma forma não se compenetraram<br />
disso. Caso contrário, estariam cheios <strong>de</strong> gratidão e retribuindo Seu amor apaixonadamente.<br />
Entretanto, há poucos sinais disso! Tal amor <strong>de</strong> Deus <strong>de</strong>ve imediatamente se refletir no seu amor<br />
pelo próximo.<br />
Quantos <strong>de</strong> nós, verda<strong>de</strong>ira e constantemente, nos damos conta da generosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus<br />
para conosco, apenas falando na or<strong>de</strong>m natural? Agra<strong>de</strong>cemos a Deus pelos cuidados médicos<br />
que recebemos, pelas nossas roupas, nossa comida e nossas férias? Recebi uma carta <strong>de</strong> uma<br />
senhora, mãe <strong>de</strong> muitos filhos que quebrou o braço. Ela escreveu, "Somente agora percebo o que<br />
significa ter duas mãos, das quais tenho tanta necessida<strong>de</strong>". Nós po<strong>de</strong>mos andar; po<strong>de</strong>mos usar<br />
nossos membros, olhos, fala, audição. Somos agra<strong>de</strong>cidos a Deus por isso? Ou apenas achamos<br />
tudo normal e ficamos ruminando e murmurando e nos queixando, sentindo-nos com pena <strong>de</strong> nós<br />
mesmos?<br />
Sinto um temor muito gran<strong>de</strong> quando observo uma falta <strong>de</strong> gratidão. Pensem nisso,<br />
meditem sobre isso, rezem por isso, façam alguma coisa sobre isso! Estes tempos são<br />
assustadores e Deus é tão bom para nós. Será que percebemos tudo o que temos? É tempo <strong>de</strong> o<br />
fazermos. A hora é agora!<br />
Possa Nossa Senhora abrir seus corações para a gratidão. Possa São Martinho <strong>de</strong> Lima,<br />
que foi canonizado em Roma, em 1962, e cuja festa é hoje, soprar sobre nós o fogo <strong>de</strong>ssa virtu<strong>de</strong><br />
tremendamente necessária da gratidão!<br />
4 - OS QUEBRA-GELOS DE DEUS<br />
Não tardará o tempo em que os governos tomem a seu cargo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o berço até o túmulo,<br />
tudo aquilo que nós chamamos <strong>de</strong> obras corporais <strong>de</strong> misericórdia. Isso já tem ocorrido em<br />
diversos países. Chamo isto <strong>de</strong> "Ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Gelo" porque as obras corporais <strong>de</strong> misericórdia<br />
<strong>de</strong>veriam ser feitas com gran<strong>de</strong> amor, gentileza, compreensão, compaixão e <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za. A<br />
verda<strong>de</strong> é que raramente eles são executados com essas qualida<strong>de</strong>s, mas em muitos lugares o são.<br />
No futuro próximo, contudo, essas qualida<strong>de</strong>s serão todas englobadas sob uma única palavra:<br />
eficiência.<br />
Eficiência é uma palavra muito fria, como é burocracia. É verda<strong>de</strong> que talvez ninguém<br />
mais passe fome. Mas mesmo que em algum tempo no futuro não haja gran<strong>de</strong> pobreza, haverá<br />
frieza - terrível, gélida, que trará uma imensa solidão para o povo, uma solidão e uma alienação<br />
que serão seguidas por um alto índice <strong>de</strong> suicídios.<br />
Devemos estar preparados, através da oração e do jejum, do auto-esvaziamento, para<br />
adquirir corações puros como <strong>de</strong> crianças, corações capazes <strong>de</strong> ver Deus e, sendo assim, capazes<br />
<strong>de</strong> entrar nessa ida<strong>de</strong> do gelo que vem aí. Temos <strong>de</strong> nos transformar em arautos e mensageiros<br />
do fogo do Espírito Santo, pois é o fogo que <strong>de</strong>rrete o gelo. Este será nosso papel no futuro<br />
próximo.<br />
Temos <strong>de</strong> nos preparar para sermos os quebra-gelos <strong>de</strong> Deus. Cada um <strong>de</strong> nós será uma<br />
"Hospedaria <strong>de</strong> Deus" para as pessoas que ficarem feridas e solitárias e assaltadas por<br />
inumeráveis ladrões. Seremos os quebra-gelos <strong>de</strong> Deus para todos os feridos e gelados, <strong>de</strong> modo<br />
que eles possam ser aquecidos pelo nosso amor.<br />
148
5 - "VOCÊ TEM QUE TER FÉ!"<br />
Nós ambas, Dorothy Day * e eu fomos pioneiras no apostolado leigo. Ela teve uma<br />
maravilhosa influência sobre mim. Eu conheci Dorothy durante meus dias <strong>de</strong> Casa da Amiza<strong>de</strong>.<br />
Ela era associada, naquele tempo, a Peter Maurin e publicava o jornal “O Trabalhador Católico”.<br />
Ela estava apenas dando início às suas Casas da Hospitalida<strong>de</strong>. Eu a conheci num galpão muito<br />
parecido com o nosso, servindo alimentos a uma fila <strong>de</strong> mendigos, do mesmo modo que nós -<br />
pela oração e pedindo doações.<br />
Ela me convidou a passar a noite com ela, dormir com ela em sua cama <strong>de</strong> casal, num<br />
abrigo repleto <strong>de</strong> camas <strong>de</strong> tipo catre e com muita gente. Quando estávamos nos preparando para<br />
<strong>de</strong>itar, uma mulher <strong>de</strong> rua, sem o nariz e com sífilis ativa, entrou e perguntou se havia lugar para<br />
ela. Dorothy a recebeu como se fosse uma rainha e disse, "Naturalmente que sim". Para mim ela<br />
disse, "Tenho um colchonete para colocar na banheira para você. Você ficará tão confortável<br />
como um percevejo num tapete. Eu dividirei a cama com esta senhora". Falando como uma<br />
enfermeira, chamei Dorothy <strong>de</strong> lado e a alertei sobre a mulher ter sífilis ativa e que ela po<strong>de</strong>ria<br />
contrair a doença se tivesse qualquer feridinha em seu corpo.<br />
Então recebi minha primeira lição <strong>de</strong> Dorothy. Ela, que era sempre tão suave, gentil e<br />
<strong>de</strong>licada, subitamente levantou-se e numa voz vigorosa disse: "<strong>Catherine</strong>, você tem pouca fé. Esta<br />
é o Cristo que nos vem pedir um lugar para dormir. Ele cuidará <strong>de</strong> mim. Você tem que ter fé!".<br />
Essa foi uma das muitas lições que ela me <strong>de</strong>u pelo seu testemunho e pelo seu exemplo. Desse<br />
nosso encontro nasceu uma profunda amiza<strong>de</strong> e nossos dois apostolados ficaram mais unidos.<br />
6 - QUANDO DUVIDAMOS QUE DEUS EXISTE<br />
Existem poucas pessoas que não tenham duvidado da existência <strong>de</strong> Deus. Eu confesso<br />
que duvi<strong>de</strong>i. A dúvida é uma coisa estranha. Ela chega sem ser convidada, inesperadamente,<br />
subitamente. Ou então chega vagarosamente, penetrando no intelecto on<strong>de</strong> faz um bom estrago,<br />
tanto que <strong>de</strong> repente, num <strong>de</strong>terminado momento, verda<strong>de</strong>iramente você não acredita em Deus.<br />
A fé nos é dada pelo próprio Deus, no batismo. É preciso que nós a façamos crescer e é o<br />
que fazemos. Entretanto, subitamente, sem que se espere, a árvore da fé - que parecia ser tão<br />
forte - fica <strong>de</strong> repente mirrada e fraca.<br />
Todas as dúvidas que algumas vezes tive sobre Deus formam um estranho quebra cabeça.<br />
Elas esten<strong>de</strong>m pequenas raízes e <strong>de</strong>pois não querem ir-se embora. Temos <strong>de</strong> arrancá-las e jogálas<br />
ao fogo, todas as dúvidas sobre Deus. Elas viram cinzas, não importa quão brilhante somos,<br />
quão fantásticos somos.<br />
Sim, as dúvidas - novas ou velhas - se aproximam e nos tocam como as patas macias <strong>de</strong><br />
um gatinho. Elas nos cercam todo o tempo, mas tudo o que temos <strong>de</strong> fazer é atirá-la ao fogo, ao<br />
fogo do amor <strong>de</strong> Deus. Quando O amamos, nós cremos Nele. Quando cremos Nele e O<br />
amamos, temos esperança. Fé, amor e esperança varrem as dúvidas. Tentem isso algum dia.<br />
7 - DESOLAÇÃO, DÚVIDAS E A MÃE DE DEUS<br />
Quando penso na Primeira Guerra Mundial, na fome na Rússia, na fuga <strong>de</strong> refugiados<br />
para o estrangeiro à custa da própria vida, os horrores ocorridos sob Hitler, etc., a <strong>de</strong>solação toma<br />
conta <strong>de</strong> mim e eu fico ali parada, numa terra <strong>de</strong> ninguém.<br />
149
Sim, lembro-me <strong>de</strong> ficar parada porque realmente não havia lugar para on<strong>de</strong> ir, nem<br />
intelectual, nem emocionalmente. A <strong>de</strong>solação joga suas dúvidas em seu coração; assim fez com<br />
o meu. Gritei silenciosamente para Deus: "On<strong>de</strong> estás? On<strong>de</strong> Te escon<strong>de</strong>ste?”<br />
Sim, on<strong>de</strong> estava Deus? Qualquer um que já tenha passado por uma <strong>de</strong>solação sabe o que<br />
isso significa. Vagarosamente a fé reafirmou-se. As dúvidas sobre a existência <strong>de</strong> Deus, os<br />
pensamentos <strong>de</strong> que Ele nos tinha abandonado, <strong>de</strong>ixaram-me. E <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>solação veio a<br />
consciência <strong>de</strong> que seguir o Cristo significa caminhar constantemente em meio à dor e à alegria.<br />
Isso foi há muito tempo. Agora as dúvidas vêm <strong>de</strong> novo, dúvidas sobre a existência <strong>de</strong><br />
Deus. Porque somos confrontados com a <strong>de</strong>struição nuclear e outros <strong>de</strong>sastres. A fé tem <strong>de</strong> dar a<br />
resposta. A fé ultrapassa a razão e a lógica. De um lado está a fé, do outro as dúvidas. As<br />
dúvidas parecem encobrir a fé.<br />
E aí chega o momento crucial, quando tudo parece <strong>de</strong>smoronar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> você e um quase<br />
que <strong>de</strong>sejo suicida se apossa <strong>de</strong> você. De repente, no meio da neblina, surge uma Mulher, envolta<br />
em silêncio. A Mãe <strong>de</strong> Deus abre seu gran<strong>de</strong>, lindo manto <strong>de</strong> silêncio e envolve você nele.<br />
Nesse instante suas dúvidas são silenciadas.<br />
8 - DÚVIDAS E CONFIANÇA<br />
Nós realmente vivemos em meio a dúvidas. Elas dão voltas em torno <strong>de</strong> nós como as<br />
folhas <strong>de</strong> outono que caem das árvores.<br />
As dúvidas são uma falta <strong>de</strong> confiança. Eu posso confiar em meu marido ou em minha<br />
esposa. Então minha imaginação começa a trabalhar quando surgem as menores faltas cometidas<br />
por ele ou ela. As dúvidas superam a confiança. E quando isso acontece, o amor e a esperança<br />
secam exatamente como as folhas <strong>de</strong> outono que estalam sob nossos pés. Elas se tornam<br />
marrons, empoeiradas, e morrem.<br />
As dúvidas são pedras no caminho em direção à total confiança em Deus e ao nosso amor<br />
por Ele. Mas, suponhamos, e se não caminharmos além <strong>de</strong>ssas pedras da estrada? Suponhamos<br />
que nós permitamos que as dúvidas continuem seu caminho? Começamos a ficar aborrecidos<br />
com o Antigo Testamento, com o Novo Testamento. Começamos a duvidar <strong>de</strong> tudo o que se<br />
refere a Deus. Esse tipo <strong>de</strong> dúvida conduz à <strong>de</strong>pressão, a todas as espécies <strong>de</strong> problemas<br />
emocionais orquestrados pelo <strong>de</strong>mônio.<br />
Os males emocionais po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>struir uma vida humana e eles só conseguem isso porque<br />
acabam com a fé. Quando as emoções <strong>de</strong>stroem a fé, uma porção <strong>de</strong> coisas acontece. Então o<br />
esmigalhar das folhas <strong>de</strong> outono embaixo dos pés vai parecer um trovão aos nossos ouvidos. Só<br />
resta uma coisa a fazer quando isso acontece, e isso é mergulhar cegamente nas águas da fé,<br />
como fez Jesus. Não existe outra resposta para essa espécie <strong>de</strong> dúvidas.<br />
9 - PACOTES DE AMOR<br />
"Despacho e Recebimento” *- o termo soa tão comercial, tão ligado a negócios. Parece<br />
ajustar-se muito bem ao frio, eficiente espírito <strong>de</strong> nossos tempos mo<strong>de</strong>rnos, tecnológicos, que não<br />
estão mais interessados em temperar sua eficiência com um toque <strong>de</strong> calor humano. Na nossa era<br />
há uma procura excessiva para acelerar os negócios através <strong>de</strong> máquinas frias, sem alma, porém<br />
tremendamente eficientes. Mas para qualquer pessoa que sinta amor, as também frias palavras<br />
"Despacho e Recebimento" alcançam um significado inteiramente novo.<br />
150
Para aquele que ama a Deus, as ações rotineiras <strong>de</strong> cada dia para se remeter mercadorias<br />
ou recebê-las, estão encaixadas no coração amoroso <strong>de</strong> Cristo. Deus é amor e Seu coração é um<br />
símbolo <strong>de</strong>sse amor. E o espírito <strong>de</strong> gentileza que Deus enviou para Madonna House, e também<br />
para vocês, toca até as frias palavras "Despacho e Recebimento".<br />
Que ninguém cometa o equívoco <strong>de</strong> pensar que mercadorias em lojas ou negócios e casas<br />
comerciais não precisam ser manuseadas com amoroso cuidado. Cada pacote po<strong>de</strong> ter em si o<br />
amor <strong>de</strong> Deus. Você que recebe Amor po<strong>de</strong> enviar Amor para outros, quando for <strong>de</strong>spachado.<br />
Assim, todos aqueles que manipulam aquilo que você expe<strong>de</strong> recebem uma graça. Um pouco<br />
<strong>de</strong>sse amor <strong>de</strong> Deus é transmitido para o funcionário da estação <strong>de</strong> trem, o motorista do<br />
caminhão, os funcionários do correio. Ele se transmite para a equipe <strong>de</strong> expedição que pega em<br />
todos os volumes. Que trabalho estranho e profundo - remeter pacotes do Amor através do<br />
mundo! Sim, o trabalho em "Despacho e Recebimento" é um trabalho espantoso, pois ele<br />
manuseia o amor <strong>de</strong> Deus e o amor <strong>de</strong> corações humanos.<br />
10 - O USO APROPRIADO DO TEMPO (S. Leão Magno)<br />
O tempo é um precioso bem, como uma peça <strong>de</strong> ouro. O que vamos fazer com ele?<br />
Como vamos usá-lo? Desperdiçá-lo? Vamos per<strong>de</strong>r sessenta segundos? Sessenta minutos?<br />
Uma hora ou duas? Vamos jogá-lo fora em movimentos inúteis, conversação inútil, andando por<br />
um caminho mais longo em vez <strong>de</strong> tomar um mais curto? Ou vamos usar cada segundo para<br />
Deus?<br />
O que temos nós? Vinte e quatro horas entre duas missas diárias. Nossos amanhãs<br />
pertencem a Ele. Nós não possuímos mais do que vinte e quatro horas. E se você <strong>de</strong>sejar uma<br />
precisão maior, francamente, nem isso nós dispomos; temos só um instante do tempo.<br />
Uma mulher saiu <strong>de</strong> carro, <strong>de</strong>ixando o marido e o filho em casa. Era para visitar um<br />
parente doente e ir ao cinema. O marido iria preparar o almoço para todos quando ela voltasse.<br />
Assim eles planejaram. Menos <strong>de</strong> uma hora <strong>de</strong>pois, menos do que sessenta minutos <strong>de</strong>pois, ela<br />
estava numa maca com uma concussão e um pé quebrado, vítima <strong>de</strong> um aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> automóvel.<br />
Talvez esse seja um exemplo banal. Mas ainda assim vale a pena repeti-lo, pois ele nos<br />
traz presente essa riqueza que temos para oferecer a Deus - o tempo. Mesmo aqueles que tomam<br />
os votos <strong>de</strong> pobreza têm essa riqueza - o tempo. Como irão vocês gastar o <strong>de</strong> vocês hoje?<br />
Tomem alguns minutos e pensem nisso.<br />
11 - USAR O TEMPO PARA CRESCER EM SANTIDADE (S. Martinho)<br />
Há mais sobre o tempo do que apenas falar sobre seu <strong>de</strong>sperdício ou seu uso. O tempo é<br />
um chicote com o qual flagelamos nossos espíritos indolentes. Fique quieto. Escute! Lembre-se<br />
do que leu e meditou sobre o Evangelho tantas vezes. Você po<strong>de</strong> ouvir as pesadas cordas do<br />
chicote, com seus gran<strong>de</strong>s nós, assoviando no ar e castigando as costas do Sem Pecado amarrado<br />
a uma coluna. Consegue você visualizar os fortes e <strong>de</strong>senvolvidos físicos dos soldados romanos?<br />
Com músculos salientes e uma gran<strong>de</strong> força bruta, eles ru<strong>de</strong>mente, metodicamente, erguem<br />
aquelas cordas e continuam a ferir a carne sem pecado que sofre pelos seus e pelos meus pecados.<br />
Po<strong>de</strong> ver isso?<br />
Não temos soldados romanos. Mas temos um chicote: ele é <strong>de</strong> cordas feitas com os fios<br />
do tempo - um minuto aqui, um minuto ali, meia hora aqui, meia hora ali. Po<strong>de</strong>mos tecê-los<br />
todos juntos e torná-los fortes e pesados. Po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar que eles, seguros pelas nossas próprias<br />
151
mãos, flagelem nossa preguiça, nossa indolência, nosso amor pelo conforto, os milhares <strong>de</strong> coisas<br />
que <strong>de</strong>vemos arrancar <strong>de</strong> nós mesmos. Cinco minutos <strong>de</strong> atraso para o jantar. Sete minutos <strong>de</strong><br />
atraso para a missa. Muito vai-e-vem sem necessida<strong>de</strong>, muito andar para lá e para cá inutilmente.<br />
Se nós tentássemos com bastante empenho, po<strong>de</strong>ríamos fazer um trabalho em quinze minutos,<br />
mas levamos meia hora.<br />
Fique quieto. Escute. Os soldados romanos são fortes. As cordas assoviam no ar e a<br />
carne do Sem Pecado fica lanhada e cortada com sulcos em cada golpe. Que tal aqueles minutos,<br />
segundos e horas <strong>de</strong>sperdiçados? Que tal esses momentos agora?<br />
12 - UM REMÉDIO PARA AQUELES QUE SE DESGASTAM<br />
O único caminho pelo qual você po<strong>de</strong> obter forças para permanecer em paz na palma da<br />
mão <strong>de</strong> Deus - morrer para si próprio através daquele pouco atraente e monótono <strong>de</strong>ver do<br />
momento - é a oração. Sempre a oração.<br />
Uma viagem para a Europa, ou Brasil, ou Nigéria, ou outro lugar qualquer, terá gran<strong>de</strong><br />
atração durante algum tempo. Mas <strong>de</strong>pois o sol escaldante aqui, o clima úmido ali, a velha<br />
monotonia volta e toma conta <strong>de</strong> você novamente. Você encontrará novos rostos, mas com os<br />
mesmos velhos problemas. Haverá sempre o mesmo ramerrão - alimentar as almas, alimentar<br />
corpos, vestir os nus, tratar <strong>de</strong> mentes e físicos cansados. Será sempre a mesma história repetida<br />
e repetida até o infinito.<br />
Para alguém que passe por tais experiências pela primeira vez, elas serão novas e<br />
excitantes. Mas para você talvez seja como ouvir novamente o mesmo velho disco. Então o que<br />
vai fazer com que esse velho disco seja excitante e pulse com vida? O Senhor! Sim, o Senhor.<br />
A vocação para amar dará a você a coragem e o zelo que faz ar<strong>de</strong>r para ouvir <strong>de</strong> novo e <strong>de</strong><br />
novo, vestir os que estão nus <strong>de</strong> mais uma vez, tratar dos doentes <strong>de</strong> novo e <strong>de</strong> novo, alimentar os<br />
famintos repetidas vezes - e tudo com o zelo <strong>de</strong> um adolescente saindo para o primeiro encontro.<br />
13 - A RENOVAÇÃO COMEÇA COMIGO<br />
Um estranho abatimento - uma dor - penetrou nas mentes e nos corações dos católicos.<br />
Ele provém, freqüentemente, da imprensa católica, <strong>de</strong> seus livros e publicações. Suas críticas,<br />
naturalmente, são necessárias, pois sem elas adviria a estagnação. Mas a crítica que<br />
constantemente atinge o Magistério e os órgãos administrativos da Igreja, as críticas que são<br />
constantemente negativas, que colocam em evidência as fraquezas e os pecados do povo <strong>de</strong> Deus<br />
(especialmente os que se encontram em altas posições) - tais críticas po<strong>de</strong>m criar uma <strong>de</strong>pressão<br />
<strong>de</strong> mentes e corações que, pelo seu próprio peso, traz <strong>de</strong>sencorajamento, cansaço, tristeza e dor.<br />
Pouco a imprensa católica tem discutido a essência do Concílio Vaticano Segundo e a conversão<br />
para a qual nos chama: que cada pessoa abra a janela <strong>de</strong> sua própria mente e <strong>de</strong> seu coração e<br />
comece uma renovação em si próprio!<br />
Comecemos por nós mesmos. Vamos tirar primeiro a trave <strong>de</strong> nosso olho antes <strong>de</strong> olhar<br />
para o graveto no olho <strong>de</strong> nosso próximo (os bispos são o próximo, lembrem-se!). Somente<br />
quando nossos corações estiverem cheios <strong>de</strong> amor, seremos capazes <strong>de</strong> falar a verda<strong>de</strong> com a voz<br />
gentil, que nos cura, <strong>de</strong> Cristo, que é a Verda<strong>de</strong>. Somente Ele não tem pecado. Somente Ele<br />
po<strong>de</strong> tomar o chicote <strong>de</strong> cordas e expulsar os vendilhões do templo! Não po<strong>de</strong>mos nos esquecer<br />
<strong>de</strong> que foi para cada um <strong>de</strong> nós que Ele dirigiu aquelas palavras Aquele que não tiver pecado, que<br />
152
atire a primeira pedra. Talvez, antes <strong>de</strong> fazermos críticas tão negativas, <strong>de</strong>vêssemos repetir tais<br />
palavras para nós mesmos.<br />
14 - LIMPEZA E TEOLOGIA<br />
Na teologia, tudo o que existe é chamado apropriadamente <strong>de</strong> criatura <strong>de</strong> Deus. Seu pano<br />
<strong>de</strong> limpeza é uma criatura <strong>de</strong> Deus; também sua pá <strong>de</strong> lixo. Na teologia do trabalho braçal, como<br />
explicado por São Bento, lemos: "Trate todas as ferramentas do mosteiro com a mesma<br />
reverência com que você cuida dos vasos do altar". Infelizmente, o cidadão comum consi<strong>de</strong>ra o<br />
trabalho braçal como alguma coisa inferior a si próprio. Isto está muito afastado dos princípios<br />
da verda<strong>de</strong> do Evangelho e da dignida<strong>de</strong> do trabalho braçal. Cristo era um carpinteiro, um<br />
trabalhador braçal. Isso não "aconteceu" apenas por acaso. Ele escolheu isso. Também não<br />
po<strong>de</strong>mos nos esquecer da nossa Mãe, a Abençoada Virgem Maria, uma humil<strong>de</strong> dona <strong>de</strong> casa na<br />
Palestina, que fazia todos os trabalhos domésticos sem qualquer <strong>de</strong> nossas mo<strong>de</strong>rnas facilida<strong>de</strong>s!<br />
Assim, para benefício <strong>de</strong> sua alma, para sua própria saú<strong>de</strong>, veja no trabalho doméstico e em todo<br />
trabalho braçal uma gran<strong>de</strong> dignida<strong>de</strong>, glorificados e santificados que foram pela Sagrada Família<br />
- o próprio Senhor, Nossa Senhora e São José.<br />
Como po<strong>de</strong>rá você restaurar o mundo para Cristo, se você não consegue restaurar um<br />
quarto com sua or<strong>de</strong>m bonita e normal, e mantê-lo <strong>de</strong>ssa maneira? Como po<strong>de</strong>rá você restaurar o<br />
mundo para Cristo se você não consegue manter arrumadas suas gavetas e prateleiras e seus<br />
quartos?<br />
Sugiro que você faça o sinal-da-cruz antes <strong>de</strong> começar. É a hora <strong>de</strong> Deus, a vassoura <strong>de</strong><br />
Deus, o chão <strong>de</strong> Deus. Cabe a você <strong>de</strong>cidir como irá se comportar com relação a isso. Você<br />
po<strong>de</strong> se tornar um santo quando estiver varrendo, porque Deus estará vendo a motivação em seu<br />
coração. Que sua tarefa <strong>de</strong> limpeza seja uma canção e uma prece <strong>de</strong> amor e reparação.<br />
15 - TRABALHO DOMÉSTICO E SANTIDADE<br />
Comece hoje a doar sua vida naquele trabalho rotineiro, exigente, monótono e repetitivo<br />
da limpeza da casa. Faça isso bem. Ofereça isso. Reze. Não reze com palavras; reze com suas<br />
mãos. Seu movimento é uma oração.<br />
Veja, se você hoje <strong>de</strong>dica atenção e cuidado às coisas, amanhã você <strong>de</strong>dicará cuidado às<br />
pessoas. Há uma enorme beleza nessa ação, na concentração e em seus resultados.<br />
Enfrente isto: você está fazendo pequenas coisas sempre e sempre - extremamente bem<br />
por amor <strong>de</strong> Deus. Isto fará <strong>de</strong> você um santo. É absolutamente certo. Não procure imensas<br />
mortificações ou flagelações, ou o que quer que seja. Procure a mortificação diária <strong>de</strong> fazer as<br />
coisas extremamente bem. Acredite-me, você vai encontrar nisso, certamente, mortificação, eu<br />
lhe prometo! Você às vezes até terá faniquitos, somente ao pensar em limpar a mesma ca<strong>de</strong>ira<br />
outra vez. Mas você pegará esses faniquitos com suas mãos para esganá-los e jogá-los ao longe,<br />
dizendo, "Isto também, Senhor, é por amor <strong>de</strong> Vós".<br />
O <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> manter tudo em or<strong>de</strong>m, esvaziar um cinzeiro, não <strong>de</strong>ixar nenhuma confusão<br />
atrás <strong>de</strong> si - esses são gestos <strong>de</strong> amor. Quando a casa está arrumada <strong>de</strong>sce a paz e a carida<strong>de</strong><br />
emana <strong>de</strong>ssa or<strong>de</strong>m.<br />
153
16 - A VIRTUDE DA PERSEVERANÇA<br />
Ultimamente tenho pensado muito em perseverança. O dicionário diz que perseverar é ser<br />
constante; manter um esforço; persistir em seguir um rumo em direção a um objetivo <strong>de</strong>finido,<br />
especialmente se for espiritual. Essa <strong>de</strong>finição é fria, mas dá uma certa essência da palavra.<br />
No meu coração, quando rezo pedindo por ela, perseverança significa o florescimento do<br />
amor <strong>de</strong> Deus. Ela cresce e cresce e cresce, e vai <strong>de</strong>scendo sobre uma alma como uma cascata <strong>de</strong><br />
flores, como as buganvílias das Antilhas. Quando vai passando o tempo, ambas - a árvore que<br />
floresce e as flores que <strong>de</strong>la pen<strong>de</strong>m - ficam gran<strong>de</strong>s o suficiente para oferecer sombra a muita<br />
gente. O perfume <strong>de</strong>ssas flores atrai milhares pessoas para a árvore - ou melhor, para o coração<br />
humano no qual está crescendo essa "árvore da perseverança".<br />
Quando seu coração aceita um compromisso, uma entrega por toda a vida, você começa a<br />
sentir que as palavras do poeta são verda<strong>de</strong>iras também para você: "Senhor, eu lanço minha<br />
vida a Teus pés, e canto e canto que trouxe a Ti coisa tão pequena!".<br />
Somente o Senhor po<strong>de</strong> lhe dar a chave do mistério <strong>de</strong>sse estranho e impressionante dom<br />
da perseverança. Após o que, perseverança será uma coisa muito clara para você.<br />
Compreen<strong>de</strong>rá, então, que ela é mais uma virtu<strong>de</strong> pela qual tem que pedir. Isso <strong>de</strong>ve ser através<br />
<strong>de</strong> uma prece constante, uma prece contínua, porque a coroa <strong>de</strong> lindas flores somente será<br />
colocada em sua cabeça quando você estiver num caixão. Ah, mas que coroa maravilhosa!<br />
Aleluia! Aleluia!<br />
17 - A VIRTUDE DA CONFIANÇA<br />
A confiança é uma linda, porém muito <strong>de</strong>licada virtu<strong>de</strong>. Ela é uma gentil ramificação da<br />
fé. A confiança se inicia quando a razão, como a compreen<strong>de</strong>mos - o intelecto e tudo o mais -<br />
fecha as suas asas e permite que se abram as asas da fé. Porque a confiança não po<strong>de</strong> existir sem<br />
a fé. Se eu tenho fé numa pessoa, numa instituição, numa comunida<strong>de</strong>, numa família, eu tenho<br />
confiança! On<strong>de</strong> quer que haja fé, existe confiança.<br />
Devemos confiar antes <strong>de</strong> tudo em Deus - a Trinda<strong>de</strong>. Temos realmente essa confiança?<br />
A maior parte do tempo nós passamos questionando a existência <strong>de</strong> Deus, ou, se acreditamos que<br />
Ele realmente existe, questionamos Sua capacida<strong>de</strong> em ajudar-nos. Pensamos que nossos<br />
problemas <strong>de</strong> todos os dias são assunto nosso e que não necessitamos <strong>de</strong> fé ou confiança em Deus<br />
para solucioná-los. Se fosse possível, preferiríamos resolver sempre nossos próprios problemas!<br />
Isso nos dá uma sensação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, <strong>de</strong> sermos donos <strong>de</strong> nós mesmos. Gostaríamos <strong>de</strong> ter Deus<br />
por perto e recorrermos a Ele somente quando se tornasse evi<strong>de</strong>nte que não conseguiríamos<br />
resolver as coisas por nós mesmos.<br />
Sim, sem confiança não po<strong>de</strong>rá haver nenhum vínculo entre marido e mulher, entre filhos<br />
e pais, entre os membros <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong>, ou entre homens e mulheres em geral. Devido a<br />
essa falta <strong>de</strong> confiança, não temos paz. Como po<strong>de</strong> alguém apresentar uma paz exterior, se não<br />
há paz interior? A paz interior repousa nos braços da fé e da confiança e, naturalmente, do amor<br />
e da esperança.<br />
18 - A FORÇA E A DELICADEZA DA PIEDADE DE DEUS<br />
Ontem estive meditando sobre a pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus e fiquei imaginando se vocês se dão<br />
conta <strong>de</strong> como, constantemente, ela nos envolve em sua gentileza, sua <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za, seu calor.<br />
154
A pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus é visível em pessoas como São Francisco <strong>de</strong> Assis, que beijou um<br />
leproso. Isso é pieda<strong>de</strong>. A pieda<strong>de</strong> não significa con<strong>de</strong>scendência <strong>de</strong> uma pessoa com relação a<br />
outra. "Oh, aqueles pobres favelados! Não é terrível? Que pena tenho <strong>de</strong>les!". Não, não é a essa<br />
espécie <strong>de</strong> pieda<strong>de</strong> que estou me referindo. A pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus é forte, é muito forte. Ela faz<br />
erguer uma pessoa completamente <strong>de</strong>sencorajada, mas não é con<strong>de</strong>scendência. Depois <strong>de</strong> erguer<br />
uma alma ferida e esmagada, Deus abraça a pessoa inteira e lhe diz palavras <strong>de</strong> terna afeição -<br />
"irmão", "irmã", "amigo", "amiga".<br />
A pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus é como um vento fresco que chega <strong>de</strong> repente num dia tórrido. Sua<br />
pieda<strong>de</strong> é como um frio entar<strong>de</strong>cer quando o céu está cor-<strong>de</strong>-rosa, azul e vermelho, lindo <strong>de</strong> se<br />
ver. Assim é a pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus.<br />
É alguma coisa que <strong>de</strong>veríamos querer segurar, em que <strong>de</strong>veríamos querer nos <strong>de</strong>leitar e<br />
mergulhar. A pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus é tão <strong>de</strong>licada que parece um berço sendo embalado por uma<br />
amorosa mãe. Ela nos faz dormir - isto é, não a nós, mas a nossos medos e emoções negativas.<br />
A pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus é como um creme que amacia a pele; ela amacia o coração.<br />
19 - DEIXE-SE LEVAR PELA PIEDADE DE DEUS<br />
A pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus é "contagiosa". Se nos "<strong>de</strong>ixarmos ir" e entrar no fundo <strong>de</strong>ssa pieda<strong>de</strong><br />
divina, seremos capazes <strong>de</strong> ter pieda<strong>de</strong> dos outros e com a mesma força, com o mesmo po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />
erguer o outro se precisarmos carregar alguém nas costas, com a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> abraçar alguém,<br />
segurá-lo bem perto e chamá-lo <strong>de</strong> irmão ou irmã.<br />
Antes, porém, <strong>de</strong>vemos relaxar e permitir que a pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus (que é uma outra face <strong>de</strong><br />
Seu amor) penetre no mais profundo nível <strong>de</strong> nossos corações. Aceitar a pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus para<br />
nós mesmos é começar a trilhar a estrada da santida<strong>de</strong>. A santida<strong>de</strong>, vocês sabem, é<br />
simplesmente amar a Deus. Um santo é um apaixonado por Cristo. Simples assim.<br />
Entremos sem medo nessa pieda<strong>de</strong>, que Ele nos oferece com tanta ternura e <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za.<br />
Entremos nessa "amiza<strong>de</strong>" com Ele, para a qual Ele nos chama. Se fizermos isso, quantas <strong>de</strong><br />
nossas tensões irão <strong>de</strong>saparecer! Apenas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> nossa permissão para que Sua pieda<strong>de</strong><br />
penetre no mais profundo âmago <strong>de</strong> nossas almas. Se o fizermos, não mais teremos a sensação<br />
<strong>de</strong> uma "<strong>de</strong>pressão" interior, porque Cristo <strong>de</strong>scerá até o mais profundo <strong>de</strong>la e a soerguerá.<br />
Tantas coisas dolorosas <strong>de</strong>saparecerão, se apenas permitirmos que a <strong>de</strong>licada pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cristo<br />
tome conta <strong>de</strong> nós e se lembrarmos, em cada momento <strong>de</strong> nossas vidas, que Deus está realmente<br />
conosco. A <strong>de</strong>licada, <strong>de</strong>spretensiosa, apesar <strong>de</strong> infinitamente forte e amorosa pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus,<br />
está ao nosso alcance. Basta pedir por ela.<br />
20 - ENTRE DUAS MISSAS<br />
Entre duas missas - a missa <strong>de</strong> hoje e a missa <strong>de</strong> amanhã - você passa seu tempo, sua vida.<br />
Sim, seus dias se passam entre duas missas. É esse todo o tempo que você tem. Seus amanhãs<br />
pertencem a Deus, seu ontem pertence a Ele e seu hoje tem suas raízes na missa <strong>de</strong> hoje.<br />
A cada dia você <strong>de</strong>ve rezar para que o fruto <strong>de</strong>ssas missas seja o céu, on<strong>de</strong> sua vida com<br />
Cristo, que começou com a fé, será completa em Sua luz maravilhosa.<br />
Na missa você encontra o Senhor. Ele vem a você alegre e prazerosamente. Po<strong>de</strong> você<br />
sentir como Ele vem alegre até você? Ele está feliz por ter tido você na missa. É muito<br />
importante que você esteja presente lá, porque a missa é seu encontro com Deus.<br />
155
Você realmente não "reza a missa"; você como que a vivencia. A missa envolve você<br />
total e absolutamente. É um momento maravilhoso.<br />
<strong>Em</strong> um sentido profundo, você se transforma na missa. Você alguma vez já pensou nela<br />
<strong>de</strong>sta forma?<br />
Você através da missa penetra no esplendor do Senhor. Atravessa a ponte <strong>de</strong> dois mil<br />
anos e participa da Última Ceia com o Senhor e os apóstolos. Você está presente no Getsêmani e<br />
junto à Cruz do Calvário. Faz tudo isso na missa e, contudo, você está presente a um sacrifício<br />
não sangrento, no qual o Senhor se digna abaixar-se até você e erguer você com Ele.<br />
21 - A PARUSIA (Apresentação <strong>de</strong> Nossa Senhora)<br />
O ano litúrgico da Igreja termina com uma visão impressionante e fantástica da Parusia,<br />
que é o retorno glorioso <strong>de</strong> Nosso Senhor. Faz parte da nossa fé crer que haverá um dia em que<br />
Cristo retornará. Sua glória se manifestará diante <strong>de</strong> todos os homens e mulheres e todos saberão<br />
que Ele é o Mestre do universo. Deus nos resgatou do po<strong>de</strong>r das trevas e nos transferiu para o<br />
reino <strong>de</strong> Seu Filho. Isto - nossa libertação - começou no batismo. E só se completará com a<br />
chegada ao céu.<br />
Nessa época do ano, nós antecipamos a Segunda Vinda do Senhor. É nossa esperança,<br />
nossa expectativa, nosso <strong>de</strong>sejo; é razão da nossa vida e da nossa existência, do nosso nascimento<br />
e da nossa morte. Devido a essa crença, po<strong>de</strong>mos exclamar, "Morte, on<strong>de</strong> está teu aguilhão?".<br />
Nós sentimos esperança e alegria. Cessamos <strong>de</strong> temer a morte porque o dia do julgamento <strong>de</strong><br />
Deus é também o dia <strong>de</strong> Seu amor e misericórdia. Vamos viver com essa certeza, em carida<strong>de</strong> e<br />
paz.<br />
Deveríamos estar rezando agora para crescer na fé, para conhecer a Deus através <strong>de</strong><br />
nossos esforços para amá-Lo e ao nosso próximo, para que seja feita Sua vonta<strong>de</strong> em nós. Esse é<br />
o tipo <strong>de</strong> pedido que Deus nunca recusa. Você duvida? Por que não tenta e vê? Não amanhã.<br />
Nem <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> amanhã. Agora!<br />
22 - LOUVANDO A DEUS PELO CANTO (Sta. Cecília, Padroeira dos Músicos)<br />
Hoje gostaria <strong>de</strong> falar sobre como po<strong>de</strong>mos louvar a Deus pelo canto. Às vezes, somos<br />
apegados <strong>de</strong>mais a uma ou outra forma <strong>de</strong> música. Como cristãos católicos, <strong>de</strong>vemos aceitar<br />
todas as formas <strong>de</strong> cantar, ao mesmo tempo em que enfatizamos nossa herança católica romana.<br />
Abramos nossos horizontes musicais como abrimos os espirituais, pois ambos são ligados. A<br />
música, além do mais, é o eco da voz <strong>de</strong> Deus. Nós <strong>de</strong>vemos ter a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> filhos <strong>de</strong> Deus,<br />
embora <strong>de</strong>va ser sempre uma liberda<strong>de</strong> disciplinada. Não <strong>de</strong>vemos abandonar o velho pelo novo,<br />
só porque é novo, nem o novo pelo velho, só porque é velho. Devemos unir a música mo<strong>de</strong>rna<br />
com a antiga, que é parte <strong>de</strong> nossa herança e tradição.<br />
Deve haver harmonia entre os sacerdotes e os leigos neste ponto - saber como misturar o<br />
novo e o velho na música. Devemos unir nossas vozes em alegre louvor ao Senhor sem<br />
excessivas discussões sobre quando, se e como cantar isto ou aquilo. Se tivermos conflitos, se<br />
cada um quer fazer valer sua própria idéia <strong>de</strong> música, se esquecemos <strong>de</strong> fazer uma composição <strong>de</strong><br />
um todo alegre e harmonioso quando cantamos ao Senhor, então nossas canções serão um<br />
fracasso e nunca chegarão a Ele! Pois é importante cantar com toda a nossa mente, todo o nosso<br />
coração e toda a nossa alma, para que nossas canções não sejam rejeitadas pelo Senhor. Mesmo<br />
que sejamos <strong>de</strong>sentoados, ainda assim po<strong>de</strong>mos cantar com o coração, com gran<strong>de</strong> amor. O que<br />
156
interessa não é como cantamos, mas é o que está contido em nosso canto - corações repletos <strong>de</strong><br />
amor apaixonado pelo Senhor e por Nossa Senhora.<br />
23 - VESTÍGIOS DE DESTRUIÇÃO<br />
É um dia cinzento. Estamos viajando através <strong>de</strong> uma estrada cinzenta. Olho e vejo<br />
fazendas. Não faz muito tempo, os índios eram donos <strong>de</strong>sta terra. Eles cuidavam <strong>de</strong>la, pescavam<br />
peixes e matavam bisões, veados e outros animais para se alimentar; mas eles sempre <strong>de</strong>ixavam<br />
uma certa quantida<strong>de</strong> sem molestar, porque essa gente não matava só por matar. Mas, em algum<br />
lugar ao longo da estrada, <strong>de</strong>cidimos que éramos "<strong>de</strong>us". Dessa época em diante, começamos a<br />
poluir e <strong>de</strong>struir, aniquilando o que Deus nos <strong>de</strong>ra para cuidar.<br />
Eu viajo por muitos lugares, por diversos meios; e vejo os vestígios da <strong>de</strong>struição. Vejo<br />
como os seres humanos <strong>de</strong>cidiram <strong>de</strong>struir-se a si próprios. Observem esse "<strong>de</strong>us do universo"<br />
chamado "humanida<strong>de</strong>"! Nós temos poluído a terra com estranhos aditivos, coisas que não são<br />
naturais a ela; a terra está zangada e vomita <strong>de</strong> volta esse material no meio das plantações. E nós<br />
ficamos doentes.<br />
As cida<strong>de</strong>s são vulneráveis. Quanto tempo levaria uma bomba atômica para <strong>de</strong>struir<br />
Nova York, Chicago, Toronto, Berlim, Paris? Alguns segundos, talvez? E ainda assim existe<br />
gente que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a guerra atômica. Meu coração chora. Ele tem chorado por longo tempo – ó<br />
Senhor dos Exércitos, minhas preces se transformaram em lágrimas; e elas são tudo o que posso<br />
Lhe oferecer. O Senhor sabe como usar as lágrimas. Elas po<strong>de</strong>m lavar e tirar manchas dos<br />
corações dos homens e das mulheres e também do meu próprio coração: o dom das lágrimas num<br />
dia cinzento, numa auto-estrada cinzenta, em meio à poluição criada pela humanida<strong>de</strong>.<br />
24 - "LIGUE O AR-CONDICIONADO, QUERIDO"<br />
"Oh, está tão quente! Ligue o ar-condicionado, querido. Não tem importância. Ninguém<br />
vai perceber".<br />
Você preten<strong>de</strong> dizer que hesita? Por que? Oh! Eu entendo. Você recortou do jornal uma<br />
foto <strong>de</strong> uma mulher - dobrada em duas. Carrega nas costas toda a energia que po<strong>de</strong> arranjar para<br />
cozinhar sua comida e aquecer o seu lar. Você ainda quer ligar o ar-condicionado? Oh, você<br />
quer. Essa mulher nada significa para você, não é? Você diz que não pertence ao Terceiro<br />
Mundo. Você se importa em dizer-me a qual mundo você pertence mesmo? Pare! Pare <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sperdiçar com esse aparelho. Você não po<strong>de</strong> mais agir <strong>de</strong>sse modo. Não existe Terceiro<br />
Mundo, nem Primeiro, nem Segundo Mundo. Existe tão somente ou o mundo da amiza<strong>de</strong>, ou<br />
aquele cheio <strong>de</strong> pedras do campo do diabo.<br />
Pare com isso agora mesmo! É você quem obriga aquela mulher a carregar essa carga<br />
pesada. É você e sou eu. A vida <strong>de</strong>la está em sua alma. A menos que você queira que sua alma<br />
seja igual a uma pedra, pare com isso - e pare agora! Não é uma questão <strong>de</strong> aparelhos <strong>de</strong> arcondicionado.<br />
É uma questão <strong>de</strong> uma completa mudança em seu estilo <strong>de</strong> vida.<br />
Comece por colocar o Evangelho em sua vida. Proclame-o sem restrições. E se você<br />
puser a mão no ar-condicionado, você estará se acomodando. Veja-a! Ela é sua irmã e minha<br />
também. O que fizemos a ela? Esquecemo-nos do que disse o Senhor, "Tudo o que fizer<strong>de</strong>s ao<br />
menor dos Meus irmãos é a Mim que o fareis". Meu amigo, a sua mão no ar-condicionado causame<br />
o receio <strong>de</strong> que nossos corações se transformem em pedras pela cobiça e pelo orgulho. Pare!<br />
157
Deixe estar o ar-condicionado. Não é mais que um símbolo <strong>de</strong> um inteiro estilo <strong>de</strong> vida que <strong>de</strong>ve<br />
ser mudado.<br />
25 - A VIRTUDE DA GRATIDÃO<br />
Temos esquecido da virtu<strong>de</strong> da gratidão. Gratidão a Deus por nossa própria existência -<br />
por estarmos respirando neste momento e no próximo, por tudo o que temos, por tudo o que<br />
somos e por tudo aquilo que esperamos ser.<br />
A gratidão pressupõe que conhecemos nossa completa pobreza - que sem Deus nada<br />
somos. Sabendo disso e com salutar temor <strong>de</strong> Deus, <strong>de</strong>veríamos prostrar-nos em adoração a Ele<br />
e agra<strong>de</strong>cer-Lhe por ter-nos dado à vida. O conhecimento <strong>de</strong> nossa completa incapacida<strong>de</strong> mais<br />
o salutar temor <strong>de</strong> Deus trarão para nossos áridos corações um rico fluxo <strong>de</strong> graça e amor. Isso<br />
nos tornará saudáveis novamente, com a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produzir frutos a Seus olhos.<br />
A gratidão virá habitar em nós. Então, a vida ficará cheia <strong>de</strong> sabor. A tristeza a <strong>de</strong>ixará e<br />
será substituída por um tal sentido glorioso <strong>de</strong> aventura que nossos dias serão como uma canção.<br />
Nosso trabalho diário irá luzir com o brilho da vida, e nossas vidas diárias refletirão a beleza <strong>de</strong><br />
Deus. Todas as coisas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós se unirão para louvar o Senhor. A terra será renovada e<br />
restaurada para Cristo, a Quem ela pertence. Ricos serão os frutos da gratidão. Sim, tudo isso<br />
acontecerá se a virtu<strong>de</strong> da gratidão uma vez mais florescer em nós. Mas antes que ela se enraíze,<br />
<strong>de</strong>vemos afastar <strong>de</strong> nossos corações todas as coisas criadas e elevá-los a Deus. É uma solução<br />
tão simples. Por que não fazemos isso?<br />
26 - ALEGRIA NA VIDA DIÁRIA<br />
A alegria é muito quieta e cheia <strong>de</strong> maravilha. É como uma luz que brilha na escuridão e<br />
é ligada com a esperança e com o amor. Só para vocês terem uma idéia <strong>de</strong> meus momentos <strong>de</strong><br />
alegria, o primeiro <strong>de</strong>les ocorre quando eu acordo todas as manhãs com o incrível pensamento <strong>de</strong><br />
que Deus tem me concedido um outro dia para amá-Lo e servi-Lo.<br />
Simultaneamente, outros pensamentos chegam, inspirados pelo <strong>de</strong>mônio e pela minha<br />
própria humanida<strong>de</strong> e minhas emoções. Eles vêm se arrastando como sombras sobre a luz<br />
brilhante <strong>de</strong> minha alegria. Eles sussurram: "Veja, você vai ter um dia inteiro <strong>de</strong> problemas.<br />
Você vai ter que estar em quatro lugares ao mesmo tempo", e assim por diante. Através <strong>de</strong>sses<br />
sussurros, todo o peso do dia e dos meus <strong>de</strong>veres vai entrando em mim. Mas a alegria sorri. Eu<br />
sei que não tenho <strong>de</strong> enfrentar todas essas coisas <strong>de</strong> uma vez, que elas também são trabalho <strong>de</strong><br />
amor pelo Cristo, que tudo sobre o que tenho <strong>de</strong> me preocupar é fazer o <strong>de</strong>ver do momento<br />
quando ele me aparece, com amor e entusiasmo pelo bem do Amor - pelo bem do Cristo.<br />
Minha alegria se completa quando, na missa, recebo a Comunhão e me torno uma com<br />
Deus. Nada po<strong>de</strong> se igualar à unida<strong>de</strong>, ao amor e à intimida<strong>de</strong> que um ser humano po<strong>de</strong> ter com<br />
Deus - na Missa e na Comunhão.<br />
Meus outros momentos <strong>de</strong> alegria chegam com o entusiasmo com que vou ao encontro <strong>de</strong><br />
cada tarefa nova. Para mim, cada uma é um <strong>de</strong>safio; cada uma eventualmente conduzirá almas<br />
para o Cristo se eu a realizar alegremente e com amor. Deus logo aceita isto pelas outras almas.<br />
Francamente, não posso imaginar porque as pessoas vêem as coisas com negativismo em vez <strong>de</strong><br />
as ver positivamente.<br />
158
27 - PREPARANDO A VINDA DE CRISTO<br />
Minha mãe costumava dizer que os dias do Advento eram dias em que se construía uma<br />
escadaria <strong>de</strong> ouro que subia até uma estrela, a estrela <strong>de</strong> Belém que, por sua vez, nos levaria<br />
diretamente ao Cristo Menino!<br />
Assim, coloque-se em Nazaré, na época em que Maria estava grávida e ninguém prestava<br />
nenhuma atenção nela. Você presta atenção nela. Você limpa por aqueles que não limpam as<br />
teias <strong>de</strong> aranha e as sujeiras <strong>de</strong> suas almas. Limpa na Nazaré das mentes humanas e nos<br />
corações. Prepare eternamente a hospedaria, todos os dias, para a criança que nela vai nascer, a<br />
criança a quem foi negado na hospedagem e que, ainda hoje, não tem acolhimento em nossos<br />
corações. Cada vez menor é o grupo das pessoas que crêem, menor ainda o número daqueles que<br />
acreditam e <strong>de</strong>dicam suas vidas a Ele. Comece a entregar sua vida agora através daquele trabalho<br />
exato, disciplinado, rotineiro, monótono, repetitivo <strong>de</strong> seu dia, fazendo limpeza ou qualquer outra<br />
coisa.<br />
Lembre-se <strong>de</strong> que suas humil<strong>de</strong>s tarefas, feitas bem, com gran<strong>de</strong> amor por Cristo, po<strong>de</strong>m<br />
levantar o mundo! Esta é a sua força. Você po<strong>de</strong> erguer os comunistas, aqueles que o<strong>de</strong>iam,<br />
aqueles que são indiferentes. Faça bem o seu trabalho. Ofereça-o. Reze. Não reze com palavras<br />
- reze com o trabalho <strong>de</strong> suas mãos.<br />
28 - VOLTANDO SUA FACE PARA CRISTO<br />
Estamos uma vez mais no Advento ou próximo <strong>de</strong>le, o que nos lembra vividamente,<br />
lindamente, o primeiro Advento <strong>de</strong> Cristo em todos os tempos. Mesmo enquanto Ele está se<br />
aproximando, Ele já está conosco, <strong>de</strong> muitas formas. Ele está conosco no sacrário. Um Amor<br />
incrível como Ele é, Ele não po<strong>de</strong> separar-se <strong>de</strong> nós. Ele também caminha no meio <strong>de</strong> nós em<br />
todos os Seus sacerdotes. Através <strong>de</strong> suas mãos, Ele multiplica-Se em Hóstias consagradas, <strong>de</strong><br />
modo que elas po<strong>de</strong>m nos alimentar com o Pão da Vida - Ele próprio. Como <strong>de</strong>ve ser imenso<br />
Seu amor por nós!<br />
Medite por um momento. Faça alguns momentos <strong>de</strong> silêncio, interrompendo a leitura<br />
<strong>de</strong>sta página e <strong>de</strong>pois retome a leitura. Experimente compreen<strong>de</strong>r a prodigalida<strong>de</strong> do amor <strong>de</strong><br />
Deus por você. <strong>Dia</strong>riamente milhões <strong>de</strong> Hóstias são dadas na Sagrada Comunhão aos fiéis em<br />
todo o mundo! E, no entanto, cada Hóstia é Cristo, que vem com um imenso amor para se unir a<br />
cada um e a todos!<br />
Deixe que cada dia seja um dia <strong>de</strong> novo começo <strong>de</strong> um pouco mais <strong>de</strong> amor a Ele, um<br />
pouco mais <strong>de</strong> anseio por Ele, <strong>de</strong> voltar a sua face para Ele. Tudo o que você tem <strong>de</strong> fazer é olhar<br />
para a pessoa próxima a você. Nunca se esqueça que você será julgado apenas pelo amor que<br />
tem. Existe só uma maneira <strong>de</strong> amar a Deus e provar isso a Ele, e isso é através do amor ao<br />
próximo - aquele junto a você em qualquer circunstância. Eu repito, voltar a face e o coração<br />
para Cristo significa simplesmente voltar sua face para quem está junto a você neste momento <strong>de</strong><br />
sua vida. Se você fizer isto, meu querido, você se transformará num santo.<br />
29 - UM CURTO PERÍODO, UMA LONGA JORNADA<br />
O Advento é um tempo curto, mas é a longa estrada <strong>de</strong> uma alma, <strong>de</strong> Nazaré a Belém. É<br />
uma distância muito curta para nós, que estamos acostumados a pensar em distâncias. Entretanto<br />
é uma estrada para o infinito, para a eternida<strong>de</strong>; ela tem um começo, mas nenhum fim. O<br />
159
Advento, na verda<strong>de</strong>, é a estrada da vida espiritual, caminho que todos <strong>de</strong>vemos tomar, se<br />
quisermos alcançar o céu. É o lugar <strong>de</strong> on<strong>de</strong> <strong>de</strong>vemos partir se não quisermos per<strong>de</strong>r nosso<br />
<strong>de</strong>stino. Devemos dar a partida com um fiat que faz eco ao fiat <strong>de</strong> Maria. Um fiat que cada um<br />
<strong>de</strong> nós <strong>de</strong>ve dizer no silêncio <strong>de</strong> nossos corações e, <strong>de</strong> preferência, ao entar<strong>de</strong>cer, quando toda a<br />
criação está em <strong>de</strong>scanso.<br />
Vamos, pois, levantar e sacudir o sono <strong>de</strong> nossos olhos, o sono <strong>de</strong> nossas cegas emoções,<br />
o sono da indiferença, da falta <strong>de</strong> garra, da autopieda<strong>de</strong>, da luta contra Deus. Vamos erguer-nos<br />
<strong>de</strong>ste sono <strong>de</strong> escuros pesa<strong>de</strong>los e partir para Belém. Mas vamos compreen<strong>de</strong>r que Belém é<br />
nossas próprias almas, mentes e corações.<br />
O Advento é um tempo para ficar imóvel e ainda assim fazer uma peregrinação. Uma<br />
peregrinação na qual não usamos os nossos pés. Uma peregrinação na qual ficamos parados e<br />
andamos milhares <strong>de</strong> quilômetros através do mundo – apenas porque permanecemos parados.<br />
Vamos, pois, entrar, você e eu, nesta peregrinação que não nos tira <strong>de</strong> casa. Nossa jornada é do<br />
espírito, o que é mil vezes mais difícil do que caminhar com os pés. Vamos.<br />
30 - PEQUENAS COISAS - PEDRAS PRECIOSAS (Sto. André, Apóstolo)<br />
Neste Advento, vamos nos aprofundar no significado da liturgia para a época. A palavra<br />
"advento" significa "vinda". Vinda <strong>de</strong> quem estamos esperando? A resposta é simples: a vinda<br />
<strong>de</strong> Cristo. Essa pura simplicida<strong>de</strong> é impressionante.<br />
Se Ele vem, então nós, que nos intitulamos cristãos, <strong>de</strong>vemos estar prontos para recebê-<br />
Lo. Estamos prontos? Será que nossos corações tocaram realmente o Seu coração, no sentido <strong>de</strong><br />
nos esquecermos <strong>de</strong> nós mesmos, cada vez mais? Estamos nos lembrando <strong>de</strong> amar e obe<strong>de</strong>cer,<br />
qualquer que seja o custo emocional? Estamos finalmente conseguindo construir uma cruz <strong>de</strong><br />
nossos problemas emocionais? Estamos colocando-a sobre os ombros, prontos para ir a Belém?<br />
Estamos percorrendo o caminho que Ele apontou para nós - o estranho caminho das pequenas e<br />
monótonas tarefas do dia a dia, que po<strong>de</strong>rão se transformar em nossos presentes para Ele, mais<br />
preciosos do que aqueles dos três Reis Magos?<br />
Que coisas pequenas são essas? Elas po<strong>de</strong>m ser lavar louças, arquivar, correr <strong>de</strong> um<br />
encontro para o outro, aten<strong>de</strong>r à porta e ao telefone, lidar com gente ru<strong>de</strong> ou difícil, enfrentar<br />
situações sem esperança em escolas ou centros catequéticos.<br />
E assim, todas essas pequenas tarefas diárias po<strong>de</strong>m tornar-se pedras preciosas, pesadas<br />
barras <strong>de</strong> ouro, grãos <strong>de</strong> incenso para cobrir a terra, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que nossos corações toquem Seu<br />
Coração e se abram generosamente para serem amados por Ele e retribuindo, em troca, amor a<br />
Ele.<br />
© online edition Madonna House Publications March 2010<br />
160
DEZEMBRO<br />
1 - A REALIDADE DA POBREZA DE CRISTO<br />
Este é o mês do aniversário <strong>de</strong> Cristo. O Filho <strong>de</strong> Deus - o Filho do Homem - nasceu em<br />
uma gruta. Através dos séculos, homens e mulheres sentimentalizaram isso. É tempo para que<br />
nós, cristãos do século vinte, <strong>de</strong>mos uma outra olhada nessa gruta e Naquele que nela nasceu. As<br />
pessoas que vivem em grutas, ou as que dão à luz em grutas, não estão entre as mais ricas <strong>de</strong>ste<br />
mundo. Elas são a gente pobre do mundo. Ele, o Filho <strong>de</strong> Deus, escolheu que nasceria na<br />
pobreza. O que significa isto, para nós mo<strong>de</strong>rnos - esta estranha lição do nascimento <strong>de</strong> Deus?<br />
Estão nossos corações cheios <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo por Ele, que nos amou tanto que nasceu em uma<br />
gruta, morreu em uma cruz e tomou, sobre Si mesmo, o fardo e a escravidão <strong>de</strong> nossa<br />
humanida<strong>de</strong>, e nossos pecados? Desejamos nós seguí-Lo e retirar <strong>de</strong> nossos corações tudo o que<br />
não seja Ele, para sermos pobres, em espírito e em realida<strong>de</strong>? Estamos prontos para repartir com<br />
os famintos <strong>de</strong>ste mundo, réplicas daquela criança que não tinha on<strong>de</strong> recostar a cabeça, alguma<br />
coisa do nosso imenso <strong>de</strong>sperdício? Ou iremos dar daquilo que também nos é necessário? O que<br />
vai ser? Vamos gastar milhões em presentes para homens e mulheres que "têm tudo?” Ou iremos<br />
presentear aqueles que nada têm, em memória da criança que também era Deus e que por amor<br />
<strong>de</strong> nós nasceu em uma gruta? O que vai ser?<br />
Iremos nós até à gruta, como o fizeram os pastores, que também eram pobres? Ou vamos,<br />
mais uma vez, ren<strong>de</strong>r louvores da boca para fora a um Cristo por nós i<strong>de</strong>alizado, cuja gruta<br />
vamos enfeitar com palha limpinha? A d’Ele provavelmente cheirava tão mal quanto toda palha<br />
velha dos estábulos.<br />
2 - O ESPÍRITO DE NAZARÉ<br />
O Espírito <strong>de</strong> Nazaré é humil<strong>de</strong> e oculto. É o espírito da Sagrada Família, uma<br />
comunida<strong>de</strong> perfeita <strong>de</strong> carida<strong>de</strong> e amor. Um aspecto <strong>de</strong> Nazaré sobre o qual tenho meditado<br />
freqüentemente é a gravi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> Maria. Ela já carregava Deus em seu seio, quando a Sagrada<br />
Família, essa comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> amor entre ela e José, foi miraculosamente constituída.<br />
Nós também, <strong>de</strong> certo modo, estamos "grávidos <strong>de</strong> Deus". Essa "gravi<strong>de</strong>z” é um dom do<br />
Próprio Deus. Ele nos infun<strong>de</strong> o <strong>de</strong>sejo por Ele. É uma semente <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós que nos conduz a<br />
Nazaré dos dias <strong>de</strong> hoje, para que vivamos em segredo e humilda<strong>de</strong>. Ela nos conduz ao trabalho<br />
laborioso <strong>de</strong> cada dia, talvez feito <strong>de</strong> pequenas tarefas que, se executadas com gran<strong>de</strong> amor, irão<br />
em verda<strong>de</strong> pregar o Evangelho em alto e bom som!<br />
Nazaré é nosso mo<strong>de</strong>lo e nosso lar espiritual. De forma semelhante à Sagrada Família,<br />
nós vivemos uma vida comum, cheia <strong>de</strong> tarefas a executar, com gran<strong>de</strong> amor a Deus e ao<br />
próximo. Através <strong>de</strong>ssas pequenas tarefas diárias, tornamo-nos testemunhas <strong>de</strong> Deus. Devemos<br />
viver <strong>de</strong> tal modo que nossa vida não faria nenhum sentido se Deus não existisse. Nas praças do<br />
mundo <strong>de</strong>vemos ser pregadores do Evangelho com nossas vidas e, quando necessário, com<br />
nossas palavras. Devemos ser pregadores incondicionalmente. Nós somos o povo chamado<br />
por Deus, para fazê-Lo nascer na praça pública. Devemos exibí-Lo a todos os que vivem ao<br />
nosso redor, e fazemos isso pela forma como vivemos.<br />
161
3 - ESMOLAS DE PALAVRAS AMOROSAS (S. Francisco Xavier)<br />
As esmolas dadas nesta época <strong>de</strong> Advento po<strong>de</strong>m ser em forma <strong>de</strong> dinheiro, alimentos, ou<br />
roupas. Nem todas as pessoas têm condições <strong>de</strong> dar essas coisas, mas todos po<strong>de</strong>mos doar<br />
palavras, das quais todos temos necessida<strong>de</strong>. Po<strong>de</strong>mos dar a esmola da palavra em toda a parte.<br />
Está vendo aquela criança solitária? Não po<strong>de</strong> você per<strong>de</strong>r um instante <strong>de</strong> seu tempo para<br />
dirigir-lhe algumas poucas palavrinhas? Elas certamente trarão luz para a escuridão que não<br />
<strong>de</strong>veria existir ali. Fazer amiza<strong>de</strong> com uma criança abandonada, solitária, mal-amada, seja ela<br />
rica ou pobre, é trazer o Cristo até esse pequeno ser. Tome a criança junto a seu coração e é o<br />
próprio Cristo que você aperta em seu peito! E Ele, certamente, irá correspon<strong>de</strong>r tomando<br />
também você em Seu coração por toda a eternida<strong>de</strong>!<br />
Como qualquer esmola que você <strong>de</strong>r, as palavras também <strong>de</strong>vem ser doadas com amor,<br />
com gentileza, com atenção, em união com Cristo, porque esmola dada sem amor, sem<br />
compaixão, sem atenção, ou sem profunda compreensão, causa feridas e dor, e fazem ainda maior<br />
dano, do que a indiferença e a frieza. Sem isso, nós prostituímos o próprio ato <strong>de</strong> doar.<br />
Será que nosso amor está vigilante, pronto para fazer doação <strong>de</strong> gentis "palavraschave"que<br />
po<strong>de</strong>m impedir uma porta <strong>de</strong> se fechar totalmente? Um portão po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>stravado e<br />
aberto, permitindo que a luz do amor invada mentes que já estão começando a duvidar da própria<br />
existência do amor. Será que nossos olhos enxergam realmente? Será que não ficamos cegos<br />
para os milhares <strong>de</strong> pequenos sinais que existem em nossa própria família? Papai está um pouco<br />
mais sério, um pouco mais preocupado, um pouco mais silencioso. Mamãe está mais tensa, com<br />
olhos freqüentemente lacrimosos. Nossa irmã ou nosso irmão está mais brusco, ferino, menos<br />
agradável, mais reservado. Será que realmente percebemos isso?<br />
4 - ESMOLAS PARA NOSSOS IRMÃOS E IRMÃS<br />
Estamos convencidos <strong>de</strong> que somos guardiões <strong>de</strong> nossos irmãos? Conseguimos enten<strong>de</strong>r<br />
a profundida<strong>de</strong> do que é ser guardião? Os sócios <strong>de</strong> uma empresa, nossos amigos e colegas <strong>de</strong><br />
trabalho, estranhos com quem cruzamos <strong>de</strong> vez em quando, nosso mundo do dia-a-dia no<br />
trabalho - "são todos nossos irmãos e irmãs", a quem <strong>de</strong>vemos amar no Senhor. Um sorriso, uma<br />
palavra agradável que seja sobre o tempo que está fazendo, dada a um pobre mal vestido, <strong>de</strong>ntro<br />
da condução, ou a um estranho, po<strong>de</strong> fazer a diferença entre o rancor e a compreensão.<br />
Por exemplo, ao encontrarmos estrangeiros, palavras pronunciadas com clareza,<br />
pausadamente, com um sorriso <strong>de</strong> encorajamento, serão ricas "esmolas". Os doentes po<strong>de</strong>m ser<br />
às vezes cansativos, no seu egocentrismo, na sua dor e solidão, com sua conversa repetitiva.<br />
Também eles precisam <strong>de</strong> nossas esmolas <strong>de</strong> palavras. Os esquecidos, os mal-amados, os<br />
perdidos, os bêbados vagabundos, os neuróticos, os psicóticos - será que estariam on<strong>de</strong> estão se<br />
alguém lhes tivesse dirigido algumas palavras <strong>de</strong> esmola, quando <strong>de</strong>las precisaram<br />
<strong>de</strong>sesperadamente? Palavras <strong>de</strong> amor, compaixão e paciência aliviam as feridas ar<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> uma<br />
mente exausta.<br />
As palavras são tão fáceis <strong>de</strong> serem proferidas, mas, mesmo assim, são freqüentemente<br />
poupadas. Elas aliviam a solidão dos velhos, trazem paz, alegria, tornam retos caminhos<br />
tortuosos e fazem pessoas sentirem-se queridas e amadas novamente. Vamos mostrar o Cristo<br />
com amor a nossos irmãos e irmãs com os inumeráveis meios do simples ato <strong>de</strong> amar, mas, em<br />
especial, com esmolas <strong>de</strong> palavras!<br />
162
5 - À ESPERA DO DESEJADO<br />
Quero falar com vocês sobre esta maravilhosa época do Advento, os dias <strong>de</strong> expectativa,<br />
<strong>de</strong> espera pelo Desejado. Eu me pergunto, nós <strong>de</strong>sejamos realmente o Senhor? Desejar algo é<br />
estar constantemente absorvido no objeto do <strong>de</strong>sejo. Neste Advento, <strong>de</strong>veríamos mergulhar<br />
fundo em nossos corações, mentes e espíritos. Vamos fazer uma limpeza na casa e preparar um<br />
carinhoso presépio para o Cristo Menino, no qual Ele possa nascer em todo o seu esplendor.<br />
Isso só não acontecerá se olharmos o mundo com a estreita ótica do nosso ego. Sugiro<br />
que, para este Advento, removamos <strong>de</strong> nosso vocabulário, das nossas conversas, dos nossos<br />
pensamentos e, se possível, até dos nossos sonhos, as frases: "Eu sinto", "Eu quero", "Eu<br />
gostaria". Vamos substituí-las por: "O que Deus espera <strong>de</strong> mim?"<br />
Enterremos a palavra "EU". Tome <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> pá, faça um gran<strong>de</strong> buraco, enterre o<br />
"EU"<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>le e ponha uma cruz em cima. Isto porque a palavra "EU" é a maior inimiga <strong>de</strong><br />
"ELE", "ELA" e "NÓS". Lembre-se disto; é muito importante. Assim, tente não usar a palavra<br />
"EU", especialmente nas frases: "Oh, eu preciso disto... Oh, eu preciso daquilo". Não!<br />
Se essa mudança <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong> ocorrer, nossa vida dará realmente um gigantesco passo em<br />
direção à paz e ao amor, e daí, em direção à felicida<strong>de</strong> e à alegria.<br />
Neste Advento, faça isto. Faça as pequenas tarefas com gran<strong>de</strong> amor pelo Cristo. Então<br />
nossas mentes, corações e espíritos, se transformarão em um adorável presépio, on<strong>de</strong> o Senhor<br />
po<strong>de</strong>rá nascer e crescer em sua total dimensão <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós. Quando isso acontecer,<br />
conheceremos a suprema felicida<strong>de</strong>.<br />
6 - O MENSAGEIRO DO PEQUENO INFANTE (São Nicolau)<br />
Quando eu era uma menininha, na Rússia, São Nicolau era um imenso pão <strong>de</strong> gengibre,<br />
todo enfeitado com <strong>de</strong>corações rosa, ver<strong>de</strong> e branco. Às vezes era gran<strong>de</strong>, do tamanho <strong>de</strong> um<br />
bebê <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>. Somente um único pão <strong>de</strong> São Nicolau era preparado em cada família; assim,<br />
você <strong>de</strong>veria ser uma criança muito boa durante todo o ano, esforçando-se para ganhar um São<br />
Nicolau. Sim, senhor, você tinha <strong>de</strong> fazê-lo! Tinha que ser a melhor criança da família, a mais<br />
merecedora, para ganhar São Nicolau.<br />
<strong>Todo</strong>s, naturalmente, conhecem São Nicolau. Pois não foi ele que foi encarregado pelo<br />
próprio Menino Jesus e por Sua querida mãe e Seu bondoso pai adotivo, para vir a Terra, todos os<br />
Natais, até o final dos tempos, e contar às crianças do mundo todo a história da Noite Feliz,<br />
trazendo-lhes presentes <strong>de</strong> fé, esperança e carida<strong>de</strong> e tantos outros presentes que elas, em sua<br />
inocência e simplicida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>sejavam e pediam para o Menino Santo?<br />
Sim, em muitos países, hoje em dia, São Nicolau é quem "traz os presentes” ao lado do<br />
Cristo. São Nicolau, abreviado para Papai Noel, é realmente o mensageiro do Pequeno Infante.<br />
O Menino Jesus, sendo muito pequenino ao nascer, não po<strong>de</strong> entregar presentes pessoalmente.<br />
Assim, Ele encarregou São Nicolau, para fazê-lo em seu lugar.<br />
7 - MÚSICA DE AMOR PARA A PEQUENA CRIANÇA<br />
Vejo todos vocês, hoje - vejo-os como instrumentos musicais, perfeitamente afinados com<br />
a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus, e formando uma linda sinfonia. Uma música que penetra em lugares on<strong>de</strong> os<br />
únicos sons são as vozes <strong>de</strong> gente colérica, assustada, que não conhece Deus nem se importa com<br />
Ele.<br />
163
Penso em vocês como menestréis, ensinando canções <strong>de</strong> ninar para o Menino Jesus.<br />
Vejo-os como notas musicais na linda canção do Espírito Santo. Ouço essas notas, uma a uma,<br />
esperando e rezando para que cada uma <strong>de</strong>las seja audível e verda<strong>de</strong>ira. As notas <strong>de</strong> suas canções<br />
são suas tarefas diárias e suas atitu<strong>de</strong>s. Peço para que nenhuma nota <strong>de</strong>safinada penetre em suas<br />
canções para o Menino Jesus.<br />
Penso em vocês como sendo jovens árvores e arbustos adornados como noivas e noivos<br />
para a festa <strong>de</strong> casamento, enfeitados como somente Deus po<strong>de</strong> vestir a natureza e o povo que O<br />
ama. Vejo vocês afinados com o Espírito Santo, o gran<strong>de</strong> vento, o inefável compositor das<br />
canções que o Menino Santo gosta <strong>de</strong> ouvir.<br />
Vejo-os acalentados pela mãe do Menino, que espera por vocês, para que venham e<br />
compartilhem com ela, não somente a alegria do Natal no estábulo <strong>de</strong> Belém, mas sua vida<br />
inteira, tão oculta e maravilhosa. Foi ela quem nos chamou para que imitássemos a vida da<br />
Sagrada Família <strong>de</strong> Nazaré. Era uma vida humil<strong>de</strong> e escondida, feita <strong>de</strong> pequenas coisas comuns,<br />
mas, oh, como eram bem feitas essas coisas e com que amor tão gran<strong>de</strong>!<br />
8 - LADAINHA DO LORETO: SANTA VIRGEM DAS VIRGENS<br />
(Imaculada Conceição <strong>de</strong> Nossa Senhora)<br />
Virgem das virgens, <strong>de</strong> frescor igual ao das altas neves, intocada e incomparável, ar<strong>de</strong>nte,<br />
resplan<strong>de</strong>cente como o fogo, cujo calor incan<strong>de</strong>sce sem consumir, um fogo que atrai com seu<br />
brilho e seu calor a todos que <strong>de</strong>le se aproximam.<br />
Virgem das virgens, simples e humil<strong>de</strong>, ignorada por outros. Nela se refletem os rostos<br />
dos velhos e dos jovens e todos os <strong>de</strong>mais. Ela representa todas as virgens e ainda assim,<br />
nenhuma se po<strong>de</strong> comparar com esta simples e humil<strong>de</strong> menina <strong>de</strong> Israel.<br />
Virgem das virgens, mulher do povo, que se entrega tranqüilamente nas mãos<br />
impressionantes e terríveis do Senhor. Ela se sente à vonta<strong>de</strong> em cada casa da Terra; mas<br />
também na própria essência do Deus Trino e Infinito.<br />
Virgem das virgens, esbelta, pequena – tão frágil e jovem aos olhos dos espectadores –<br />
montada em seu burrico, in<strong>de</strong>fesa, através das planícies, correndo para ajudar sua prima Isabel.<br />
Virgem das virgens – vestida <strong>de</strong> ouro reluzente, surgindo nas alturas, entre o céu e a terra;<br />
majestosa, incrível, mais po<strong>de</strong>rosa do que todos os po<strong>de</strong>res juntos da Natureza e da Humanida<strong>de</strong>;<br />
dominando o sol e as estrelas como se fossem brinquedos <strong>de</strong> criança. Vejam! Os anjos se<br />
prostram diante <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>licados pés.<br />
Virgem das virgens, amiga dos pobres, refúgio dos pecadores.<br />
Senhora do silêncio, cujo sorriso é uma bênção, cujo toque é luz. Virgem das virgens, tu<br />
és a porta para o Cristo!<br />
9 - O SOM DOS GUIZOS DO BURRINHO<br />
Quando as mães russas preparam seus filhos para o Natal, principalmente os mais<br />
pequeninos, elas costumam dizer: "Se vocês forem bonzinhos, uma boa menina, um bom menino,<br />
vocês po<strong>de</strong>rão escutar os guizos do burrinho. Nossa Senhora estará passando em seu burrinho, a<br />
caminho <strong>de</strong> Belém, on<strong>de</strong> vai nascer o seu Menino e, então, vocês ouvirão, bem longe, as sinetas<br />
do burrico. Quando estiver bem perto a noite <strong>de</strong> Natal, vocês irão ouvi-las mais fortes, mais<br />
claras. Mas isso só se vocês tiverem sido bons". E assim, meu irmão e eu ficávamos atentos para<br />
po<strong>de</strong>r escutar e minha mãe ia usando pequenos guizos, primeiramente em seus pulsos, <strong>de</strong>pois<br />
164
colocava-os também em volta <strong>de</strong> seus joelhos e ia, assim, aumentando o número <strong>de</strong> sininhos à<br />
medida que se aproximava o Natal. Nós ficávamos realmente excitadíssimos por causa daquelas<br />
sinetas.<br />
Hoje em dia, tudo está muito quieto. Vocês estão ouvindo? Se estejam ouvindo, po<strong>de</strong>rão<br />
escutar o frágil tilintar dos guizos. Aquele que tiver o coração puro como o <strong>de</strong> uma criança,<br />
ouvirá a sineta do burrinho durante sua vida.<br />
Rezo para que seus corações, suas almas e seus ouvidos possam escutar bem claramente<br />
os guizos do burrinho, não apenas no Advento, mas ao longo do ano todo. Gostaria <strong>de</strong> lhes po<strong>de</strong>r<br />
dar o som das sinetas <strong>de</strong> um burrinho, para que vocês pu<strong>de</strong>ssem ouvi-las durante toda a sua vida,<br />
porque assim vocês também estariam montados junto com ela e ouviriam o primeiro badalar dos<br />
sinos das igrejas, que seriam o burrinho carregando Nossa Senhora e Nosso Senhor.<br />
10 - UMA VELA EM NOSSOS CORAÇÕES<br />
O Advento é o tempo da expectativa. É verda<strong>de</strong>, Cristo já chegou à terra. Ele foi<br />
crucificado e ressuscitou. Ele está no meio <strong>de</strong> nós agora, em Sua Igreja. E, contudo, <strong>de</strong> alguma<br />
forma, à medida que vai se aproximando o tempo <strong>de</strong> comemorar o Seu nascimento, algo se agita<br />
em nós, alguma coisa muito interior e profunda, como se estivéssemos à espera <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong><br />
milagre.<br />
Quando se aproxima o tempo do Natal, todos sentem um certo "quê" que não po<strong>de</strong> ser<br />
expresso em palavras. Não existem palavras que sirvam. Começamos a nos dar conta <strong>de</strong> que<br />
estamos esperando "alguma coisa” - ou "Alguém” - e nos tornamos um pouco mais conscientes<br />
<strong>de</strong> um "ardor" em nossos corações.<br />
Vamos <strong>de</strong>scobrir que isso é como uma vela <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós. Não uma gran<strong>de</strong> vela. Temos<br />
<strong>de</strong> manter acesa essa chama, <strong>de</strong> modo que ela vá atravessando todas as camadas que a escon<strong>de</strong>m<br />
e permita que aquela expectativa que está <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós venha para fora.<br />
Isto é tão importante porque, se pudéssemos <strong>de</strong>rreter cada camada que colocamos em cima <strong>de</strong>la<br />
através dos anos, ficaríamos plenos <strong>de</strong> alegria. Ficaríamos cheios <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong>, sabendo que um<br />
gran<strong>de</strong> presente está para nos ser dado.<br />
11 - NOSSO CORAÇÃO - COMO CORAÇÃO DE CRIANÇA<br />
PARA ACOLHER O CRISTO (S. Juan Diego)<br />
Cristo <strong>de</strong>seja nascer na manjedoura <strong>de</strong> nossos corações. Estão as portas <strong>de</strong>stes corações<br />
bem abertas para receber os pastores, os Magos, os viajantes... enfim, a humanida<strong>de</strong>? Estão eles<br />
abertos para receber uns aos outros como Cristo receberia cada um <strong>de</strong> nós? Estão abertos para<br />
aqueles que estão à nossa volta todos os dias? Ou pensamos que nos basta fazer <strong>de</strong> nossos<br />
corações um presépio para receber o Cristo com exclusivida<strong>de</strong>? Se for isto o que pensamos, não<br />
foi com esta finalida<strong>de</strong> que Ele veio ao mundo e po<strong>de</strong>rá muito bem passar ao largo <strong>de</strong> nossos<br />
corações.<br />
Cristo nos ensinou que, a menos que nos transformássemos em uma criança, não<br />
entraríamos no Reino dos Céus. Nós ten<strong>de</strong>mos a associar crianças e Natal <strong>de</strong> uma forma muito<br />
sentimental: um recém-nascido é "engraçadinho", criancinhas são criaturas "adoráveis". São tudo<br />
isso, realmente, mas não é isso o que Cristo quis dizer. Acho que Ele queria que tivéssemos o<br />
coração <strong>de</strong> uma criança. O que significa isso, ter o coração <strong>de</strong> uma criança? Uma criança é<br />
165
totalmente confiante, inteiramente aberta, sem inibições, reta, simples e sem medo. Uma criança<br />
acredita, sem reservas.<br />
Todas as manhãs, após a comunhão, eu rezo para o Menino Jesus <strong>de</strong> Praga. Digo a Ele:<br />
"Dê-me o coração <strong>de</strong> uma criança. Dê-me a tremenda coragem <strong>de</strong> viver segundo esse coração".<br />
Isto é o que o Natal significa para mim também.<br />
Assim, neste Natal, vamos juntos nos ajoelhar ao pé do berço <strong>de</strong> uma criancinha, para<br />
receber um coração como o seu e viver em sintonia com ele.<br />
12 - A SENHORA QUE CARREGA A CRIANÇA (Nossa Senhora <strong>de</strong> Guadalupe)<br />
Esta realmente é a época <strong>de</strong> Nossa Senhora. Ela carrega consigo a criança e isto nos leva<br />
a uma meditação especial, uma contemplação <strong>de</strong> Maria nestes dias. Durante o Advento nosso<br />
coração bate em ritmo com sua vida. Deus <strong>de</strong>sceu até uma mulher e o mundo ouviu as palavras:<br />
Ave Maria, cheia <strong>de</strong> graça! Ela ia ser a Mãe <strong>de</strong> Deus. Uma mocinha, sob o impacto da visão <strong>de</strong><br />
um anjo, falou a verda<strong>de</strong>. Com isso, <strong>de</strong>u-nos uma lição <strong>de</strong> humilda<strong>de</strong>, porque humilda<strong>de</strong> é<br />
verda<strong>de</strong> que dispensa qualquer explicação. Como po<strong>de</strong> isso acontecer, se não conheço homem?.<br />
Assim era ela. E ela aceitou. Faça-se em mim segundo a sua Palavra.<br />
Nós nos alegramos com Maria, porque ela sempre nos traz seu Filho. Enquanto passamos<br />
pelos corredores <strong>de</strong> seu coração, diversas portas vão se abrindo, pois ela possui um incalculável<br />
número <strong>de</strong> portas naqueles corredores a que chamamos <strong>de</strong> discernimento. Pense na vida <strong>de</strong>la.<br />
Pense no seu silêncio diante <strong>de</strong> José, com sua gravi<strong>de</strong>z. Nossa Senhora envolveu-se no fantástico<br />
silêncio <strong>de</strong> contemplação, oração e, talvez, até no manto <strong>de</strong> Deus. Está além da nossa<br />
compreensão. Mesmo agora estamos nos preparando para o Natal. Atenção! Vejam ao longo da<br />
estrada com milhares <strong>de</strong> atalhos e verão uma jovem mulher vestida com roupas comuns. Se ela é<br />
digna <strong>de</strong> ser escolhida para ser a Mãe <strong>de</strong> Deus, acho que é digna <strong>de</strong> ser escolhida para ser nossa<br />
mãe.<br />
No dia <strong>de</strong> hoje, nós a veneramos como Nossa Senhora <strong>de</strong> Guadalupe, padroeira das<br />
Américas e, especialmente, do México.<br />
13 - UMA VOCAÇÃO PARA SER LUZ (Sta Luzia)<br />
Sua vocação como cristão é ser luminoso, cheio <strong>de</strong> luz! A única coisa que po<strong>de</strong> torná-lo<br />
escuro é você mesmo - se você fizer a sua própria vonta<strong>de</strong> e não a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus.<br />
Na vida diária, enquanto você caminha com dificulda<strong>de</strong> por este vale <strong>de</strong> lágrimas, você<br />
estará constantemente procurando pela terra prometida. Você ama tanto a Deus que não se<br />
preocupa que Ele o chame para junto <strong>de</strong> Si. Chegará um tempo em que você <strong>de</strong>sejará morrer,<br />
simplesmente porque a vida ficou tão difícil. Mas ainda assim, você irá dizer a Deus, "tudo<br />
bem". Você estará mais interessado em fazer a vonta<strong>de</strong> Dele do que ir para o Paraíso, pois po<strong>de</strong><br />
não ser vonta<strong>de</strong> do Pai que você parta agora para o Paraíso.<br />
Sua meta é amar, como Deus quer que você ame, sem medo. Porque a batalha em que<br />
você está engajado exige coragem. Somente o amor perfeito afasta o medo. Nada mais po<strong>de</strong><br />
lançá-lo fora. Por isso você tem <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r a amar com perfeição!<br />
O Amor é uma pessoa; o Amor é Deus. Você possuirá Deus na mesma medida do seu<br />
amor. E então, como Deus nunca esgota sua generosida<strong>de</strong>, você O possuirá, porque Ele <strong>de</strong>seja<br />
ser possuído. Ele vem até você no meio <strong>de</strong> suas noites escuras e <strong>de</strong>sertas e elas não mais o serão.<br />
166
E então, você conhecerá a Luz.<br />
14 - MORTE: UMA PORTA PARA A VIDA (S. João da Cruz)<br />
Meu esposo, Eduardo, e eu conversamos sobre a morte com freqüência - morte em geral e<br />
as nossas mortes, em particular. Conversamos sobre isso com muita paz, porque para nós ambos,<br />
"a morte nada mais é do que uma porta para a vida".<br />
Eu sempre acreditei na ressurreição <strong>de</strong> Nosso Senhor Jesus Cristo. Jesus nasceu para nós,<br />
sofreu por nós, foi crucificado por nós e morreu por nós. E Ele ressuscitou! Porque Ele o fez, eu<br />
tenho este absoluto sentido da fé <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim. É uma fé profunda, imutável, <strong>de</strong>finitiva, que<br />
começou a tornar tranqüila a espera e leve a jornada. Eu encarei a morte e sei que ela é uma<br />
amiga que, algum dia, irá me tomar pela mão e levar-me para o coração do Pai. Vejo-a como<br />
uma "criança sorri<strong>de</strong>nte", esperando para me conduzir até o Menino Jesus. Consi<strong>de</strong>ro-a bonita,<br />
porque ela não é na realida<strong>de</strong> morte, mas é vida - vida renovada, vida em explosão, vida para ser<br />
vivida no coração da Trinda<strong>de</strong>!<br />
Se você tem medo da morte, pare com isso! Pare <strong>de</strong> ter medo. Penetre na fé. Se a sua fé<br />
lhe parece pequena, clame ao Senhor e ela crescerá! Você também, então, irá ver a morte como<br />
ela realmente é - alguém que o Cristo dominou no dia <strong>de</strong> Sua ressurreição, e feliz por ter sido por<br />
Ele dominada!<br />
(<strong>Catherine</strong> <strong>Doherty</strong> faleceu no dia 14 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> l985)<br />
15 - POBREZA E ORAÇÃO<br />
Nós temos <strong>de</strong> começar a nos convencer <strong>de</strong> que a verda<strong>de</strong>ira pobreza é, em primeiro lugar,<br />
e antes <strong>de</strong> QUALQUER COISA, o conhecimento <strong>de</strong> nossa verda<strong>de</strong>ira realida<strong>de</strong>, "quem somos<br />
nós". Nós somos criados por Deus; somos criaturas <strong>de</strong> Deus, totalmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>le.<br />
Somos o povo pobre <strong>de</strong> Deus, os anawim - os "pequeninos” que sabem que são inteiramente<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes - aqueles que se apóiam em Deus, sabendo que sem Deus nada po<strong>de</strong>m.<br />
Este é o primeiro passo para orar - conhecermo-nos a nós mesmos - pecadores redimidos,<br />
completamente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Deus. Nós somos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />
Os orgulhosos têm horror disso. Nós costumamos olhar para nós mesmos e dizer "Eu não<br />
<strong>de</strong>pendo <strong>de</strong> ninguém", e, subitamente, mal dizemos isso e já vemos quem realmente somos. Este<br />
é o início da oração: tornamo-nos pedintes diante <strong>de</strong> Deus, sabendo que até os passos que damos<br />
são uma dádiva <strong>de</strong> Deus.<br />
Para começar a orar, então, <strong>de</strong>vemos limpar nossas almas da arrogância e do orgulho. <strong>Em</strong><br />
profunda humilda<strong>de</strong>, como mendigos, vamos a Ele, o único que nos po<strong>de</strong> transformar em<br />
príncipes e princesas, em reis e rainhas, não dos reinos da terra, mas do Reino <strong>de</strong> Deus.<br />
Quando estivermos nesse grau <strong>de</strong> pobreza e real consciência <strong>de</strong> como somos pobres, então<br />
po<strong>de</strong>remos ir a Belém, ao encontro daquele Menino que se fez pobre por nós.<br />
Existe por acaso algum ser humano que não se comova com o choro <strong>de</strong> uma criança?<br />
Você alguma vez pensou no primeiro choro do Menino Jesus? Essa foi sua primeira mensagem<br />
<strong>de</strong> amor por nós. Quando nos damos conta do quanto somos realmente pobres, po<strong>de</strong>mos<br />
facilmente entrar em Belém e aten<strong>de</strong>r aquele choro.<br />
167
16 - TEMPO DE EXPIAÇÃO<br />
Aquele, cujo aniversário iremos em breve comemorar, nasceu na pobreza. Aquele que era<br />
Deus nasceu nu. Ele estava nu na gruta e morreu nu em uma cruz por amor. Pelo amor <strong>de</strong> todos<br />
nós!<br />
Hoje a mesma cena se repete, tanto em países sub<strong>de</strong>senvolvidos, quanto em países ricos,<br />
em suas "grutas", on<strong>de</strong> nascem nuas as crianças (como nascem todos os bebês), mas cujos pais<br />
nada têm com que vestí-las. Jesus, pelo menos, foi envolto em faixas.<br />
Não preciso ser mais específica sobre a gran<strong>de</strong> miséria do mundo <strong>de</strong> hoje; ela já vem até<br />
nós, em todos os seus sangrentos <strong>de</strong>talhes, através dos meios <strong>de</strong> comunicação. É porque Deus<br />
nos ama, que Ele usa <strong>de</strong>ssas imagens incríveis e po<strong>de</strong>rosas para chamar a atenção do mundo a<br />
fim <strong>de</strong> que veja como estão sofrendo os pobres. Vocês estão percebendo, meus amados, porque<br />
<strong>de</strong>sejo que experimentem a pobreza nesta época <strong>de</strong> Natal?<br />
Vamos oferecer este tempo como um sacrifício <strong>de</strong> expiação. Vamos jejuar por aqueles<br />
que nada têm para comer. Vamos rezar por aqueles que não rezam. Vamos clamar a Deus com<br />
uma fé cada vez maior para que todos ao nosso redor possam pegar o fogo da fé.<br />
Neste tempo, jejum e festejos <strong>de</strong>vem caminhar juntos. Sim, lágrimas e alegria <strong>de</strong>vem<br />
misturar-se para que seja uma oferta ao Menino, uma oferta <strong>de</strong> diamantes e pérolas e outras jóias<br />
- todas as espécies <strong>de</strong> expiação! Pois o Menino que nasce está em todos os recém-nascidos, em<br />
barracos e nas ruas, ou jogados nos lixões e nos esgotos; e nós temos <strong>de</strong> fazer o papel dos três<br />
Magos.<br />
17 - ESCAVADEIRA ESPIRITUAL<br />
Sinto que há muito ruído em nossos corações. Temos <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r a reduzi-lo até<br />
alcançarmos um <strong>de</strong>licado silêncio para po<strong>de</strong>rmos escutar a Deus. Temos <strong>de</strong> fazer o que<br />
<strong>de</strong>termina o Evangelho: tornai retos os caminhos do Senhor em nossos próprios corações. Para<br />
po<strong>de</strong>rmos fazer isso, <strong>de</strong>vemos pedir ao Senhor que nos man<strong>de</strong> uma escava<strong>de</strong>ira para empurrar<br />
para longe as pedras e os entulhos. Deus fará isso por nós se fizermos parar os re<strong>de</strong>moinhos <strong>de</strong><br />
nossas próprias reclamações, o uso constante do pronome "Eu", nossa idéia <strong>de</strong> que estamos<br />
sempre certos e os outros errados, e nossa sur<strong>de</strong>z ao que nossos irmãos e irmãs nos querem dizer.<br />
A carga da escuta é muita pesada. Por esta razão é que <strong>de</strong>vemos implorar por uma<br />
escava<strong>de</strong>ira espiritual que torne retos os caminhos do Senhor em nossos corações. Aí, o próprio<br />
Deus po<strong>de</strong>rá caminhar por eles, sem que nada O atrapalhe. Ele po<strong>de</strong>rá vir aos nossos corações e<br />
ali permanecer em escuta. Ele po<strong>de</strong>rá ouvir os outros através <strong>de</strong> nós, falar através <strong>de</strong> nós,<br />
compreen<strong>de</strong>r através <strong>de</strong> nós, ajudar através <strong>de</strong> nós. Ele po<strong>de</strong>rá consolar os que vierem a nós. Se<br />
os caminhos <strong>de</strong> nossos corações estiverem retos, Ele "virá correndo!” Ele quer estar conosco até<br />
o final dos tempos, como disse no Evangelho, e Ele, além disso, <strong>de</strong>seja servir. E que melhor<br />
ajuda po<strong>de</strong>rá haver do que o ouvido <strong>de</strong> Deus <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nossos corações?<br />
É chegado o tempo, meus caríssimos, o tempo <strong>de</strong> orar a fim <strong>de</strong> que possamos<br />
ouvir as necessida<strong>de</strong>s do próximo. As pessoas, normalmente, não querem que façamos muita<br />
coisa por elas. O que elas querem é que nós as ouçamos, porque o ouvir significa amor e<br />
amiza<strong>de</strong>, coisas <strong>de</strong> que se sente tanta falta hoje em dia.<br />
168
18 - A TERNURA DE DEUS<br />
Escute com seu coração. É preciso escutar <strong>de</strong> uma maneira especial, para po<strong>de</strong>r<br />
ouvir a ternura <strong>de</strong> Deus e é isto o que você vai ouvir neste Natal. Se você se permitir entrar no<br />
imenso mar <strong>de</strong> Sua ternura, você enten<strong>de</strong>rá melhor ainda porque somos a família <strong>de</strong> Deus -<br />
porque fomos todos agrupados juntos por Ele.<br />
Sua ternura provocará em nós um carinho por nossos irmãos e irmãs; o círculo <strong>de</strong> amor<br />
que Ele nos fez começar nesse dia, nesse estranho e misterioso dia do Seu nascimento, irá, aos<br />
poucos, se esten<strong>de</strong>ndo por toda a terra, como é <strong>de</strong> Seu <strong>de</strong>sejo.<br />
Po<strong>de</strong> ser que nós não nos apercebamos que somos abraçados tão ternamente. Ao<br />
contrário, à nossa frente ocorrerão catástrofes, tragédias, blasfêmias contra a luz do Cristo, e o<br />
que mais houver. Mas escutem, escutem com seus corações, com suas mentes. Escutem com<br />
todo o ser e vocês ouvirão a ternura <strong>de</strong> Deus! Por mais estranho que isso possa parecer, a ternura<br />
não é normalmente ouvida, mas ela é sentida. Contudo, vocês terão essa experiência das duas<br />
maneiras. Porém, para conseguir isso, meus queridos amados, nós temos <strong>de</strong> colocar em Suas<br />
pequenas mãos, nosso próprio <strong>de</strong>sapego, nossa própria miséria. Nós o faremos com muita<br />
alegria, vestidos com fitas e papéis coloridos do Natal, numa total entrega <strong>de</strong> nós mesmos, tudo<br />
colocando nas mãos do gran<strong>de</strong> Rei, nas mãos do Filho que nasceu para nos redimir, e que, por<br />
Sua vez, tudo levará para o Pai, o Pai que nos ama infinitamente!<br />
19 - O SIGNIFICADO DE STRANNIK<br />
Para trazer a idéia <strong>de</strong> strannik - palavra russa que significa peregrino - para o Oci<strong>de</strong>nte,<br />
penso que seria útil talvez que vocês lessem "A história do quarto Rei Mago", <strong>de</strong> Henry Van<br />
Dyke. É um livro pequeno, muito agradável.<br />
Um strannik é um peregrino que pára em qualquer lugar para fazer o bem, não aquele que<br />
está firmemente <strong>de</strong>cidido apenas a chegar a algum santuário e não dá nenhuma importância ao<br />
que se passa em seu caminho. Pelo contrário, um strannik é uma pessoa que usa seu tempo<br />
durante a jornada para estar sempre alerta a todas as "oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> graça” que estão ao longo<br />
da estrada; ele vigia sempre, em busca <strong>de</strong> Deus e O procura nos olhos do próximo.<br />
Quando estive certa vez em Vermont, chovia e havia uma senhora idosa que não<br />
conseguia vestir sua capa <strong>de</strong> chuva. As mangas não ficavam no lugar e ela não achava on<strong>de</strong><br />
enfiar as mãos. Assim, parei o cortejo que me seguia e fui ajudá-la. Ela sorriu e disse<br />
"Obrigada". A mulher que estava perto <strong>de</strong> mim perguntou: "Você sempre pára para fazer o<br />
bem?".<br />
Respondi-lhe: "Não. Eu paro para prestar serviço a meus irmãos, o que não consi<strong>de</strong>ro que<br />
seja fazer o bem, mas fazer o normal". E continuei em frente. É isto que quero dizer, é este tipo<br />
<strong>de</strong> coisa. Para algumas pessoas po<strong>de</strong> ser uma espécie <strong>de</strong> apostolado, por si só: penetrar na<br />
terrível solidão do mundo, experimentar essa solidão, repartir essa solidão, e tornar-se mais sábio<br />
por isso.<br />
20 - CRESCENDO NA FÉ<br />
Ultimamente tenho sido possuída por uma sagrada impaciência. Como sempre faço<br />
durante o Advento, tenho rezado freqüentemente ao Menino, pedindo-Lhe sempre e sempre uma<br />
graça: crescer na fé por todos nós! Crescer na fé significa crescer em amor, humilda<strong>de</strong>,<br />
169
obediência, paciência e alegria. Crescer na fé significa crescer na abertura e na confiança <strong>de</strong> uns<br />
para com os outros. Oh, ele significa tanto, este meu pedido! Ele significa que nosso trabalho e<br />
nossos lares sejam a ante-sala do paraíso, uma outra Belém, uma outra Nazaré.<br />
Para isso acontecer, contudo, todos nós <strong>de</strong>vemos passar pelo Gólgota. Assim, rezo para<br />
que cada um <strong>de</strong> nós possa aceitar, com alegria, a cruz que Deus nos preparou nas colinas do<br />
amor. Crescer na fé significa que iremos compreen<strong>de</strong>r as misteriosas palavras <strong>de</strong> Deus: Aquele<br />
que per<strong>de</strong>r sua vida, salvá-la-á. Desta forma, no limiar <strong>de</strong> outro ano, tentemos recomeçar.<br />
Carreguemos nas costas as nossas cruzes. Comecemos realmente a viver em Cristo, para Ele e<br />
por Ele. Ele é verda<strong>de</strong>iramente digno do nosso amor. Nada mais importa na terra ou no céu,<br />
exceto o próprio Deus. Vejam como Ele vem até nós numa manjedoura <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, proclamando<br />
o seu amor, mesmo antes <strong>de</strong> falar nossa linguagem. Notem a ma<strong>de</strong>ira da manjedoura. Como Ele<br />
gosta da ma<strong>de</strong>ira! Ele a escolheu por berço, <strong>de</strong>pois escolheu nela trabalhar, como carpinteiro. E,<br />
por fim, morreu na ma<strong>de</strong>ira. Tudo por amor <strong>de</strong> nós!<br />
21 - UMA BELÉM DOS DIAS DE HOJE<br />
O mundo é uma cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Belém on<strong>de</strong> nenhuma hospedaria tem lugar para Ele. Os vales<br />
das mo<strong>de</strong>rnas cida<strong>de</strong>s não possuem grutas, foram todas fechadas pelos arranha-céus. O som<br />
feitos pelos cascos do burrico se per<strong>de</strong> no barulho interminável do tráfego. Assim, em que lugar<br />
irá a mulher dar à luz ao Maravilhoso Ser, neste mundo sem grutas, nesta Belém com suas<br />
hospedarias sem lugar para Ele?<br />
Parem com o ruído do tráfego! Façam uma pausa nessa pressa sem rumo. Pare, você,<br />
homem ou mulher <strong>de</strong> empresa, embriagado pelo orgulho da loucura tecnológica que faz <strong>de</strong> você<br />
um escravo das máquinas! Veja como tremem seus arranha-céus e se dissolvem numa torrente <strong>de</strong><br />
lágrimas ao ouvir a voz do Pai. Ele po<strong>de</strong> transformar o mundo em uma gruta, on<strong>de</strong> jogará os<br />
restos <strong>de</strong> seus sonhos mecânicos, <strong>de</strong> seus ídolos idiotas, suas naves espaciais, seus robôs, seus<br />
lares, como se fossem frágeis objetos <strong>de</strong> argila.<br />
Parem com seu barulho e escutem a música que fazem os cascos do burro que carrega a<br />
mulher cuja hora está chegando.<br />
Depressa! Aqueçam as grutas <strong>de</strong> suas almas para que o Santo Ungido possa nascer <strong>de</strong>ntro<br />
<strong>de</strong>las - ou então vejam a sentença <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição escrita em seus eternos muros.<br />
22 - O BALBUCIAR DE UM BEBÊ<br />
Escute! Você consegue ouvir o balbuciar <strong>de</strong> um bebê? Quase ninguém consegue resistir<br />
à canção <strong>de</strong> um balbuciar <strong>de</strong> neném, ou ao sorriso <strong>de</strong> um bebê. Sim, escute! É um balbucio!<br />
Ele está na manjedoura e está feliz <strong>de</strong> Se ter tornado homem - um ser humano. Consi<strong>de</strong>re<br />
a incrível natureza do que aconteceu. Deus entrou num útero humano! Deus aí ficou como<br />
qualquer criança fica - nove meses! Depois, Ele nasceu. Isto meu amigo, meu querido amigo, é<br />
a Encarnação!<br />
E Ele estava feliz em ter Se encarnado por amor <strong>de</strong> nós. Por isso, o balbucio que<br />
escutamos é a canção, o sorriso <strong>de</strong> um neném.<br />
Venha, levantemo-nos e sigamos juntos para Belém. Vamos nos tornar todos em um, em<br />
volta <strong>de</strong> seu berço, apesar <strong>de</strong> estarmos separados pelo espaço e pelo tempo. Mas quando<br />
amamos, nem o tempo, nem o espaço têm importância. Assim, estaremos todos unidos,<br />
contemplando seu balbuciar, sua canção, seu sorriso.<br />
170
Lembremo-nos disso para sempre, até que O encontremos face a face. Porque ele irá<br />
aliviar nossas <strong>de</strong>pressões, nossas ansieda<strong>de</strong>s, nossas tensões. Com Seu sorriso iremos apren<strong>de</strong>r a<br />
sorrir e a cantar para nós mesmos, não importa on<strong>de</strong> estejamos e o que tenhamos para fazer,<br />
porque saberemos que nossa vida é uma eterna peregrinação para Belém.<br />
23 - ESTÁ SEU CORAÇÃO PREPARADO PARA O NATAL?<br />
Que tipo <strong>de</strong> berço você está preparando para o nascimento do Menino Jesus? A palha está<br />
novinha, dourada e limpa? A manjedoura é sólida e agüentará bem o peso da criança? Estão<br />
calmos os animais, bem limpos e escovados? Você preparou a porta do estábulo <strong>de</strong> seu coração<br />
para que esteja segura contra os ventos frios da apatia, do egoísmo, da indiferença, para que não<br />
possam penetrar? E a lenha seca <strong>de</strong> seus sacrifícios, suas penitências, suas preces, está pronta<br />
para acen<strong>de</strong>r e dar calor para o frio estábulo?<br />
Você está pronto para o Amor que está chegando? Atenção, Ele vem no seio <strong>de</strong> uma<br />
mulher. Você sentirá seu primeiro lampejo <strong>de</strong> Amor na palha do presépio. Ali está Ele,<br />
tornando-Se o menor <strong>de</strong> todos, o Senhor dos Exércitos; por amor, Ele tornou-Se uma criança.<br />
Essa criança, <strong>de</strong>itada na manjedoura, possui todo o po<strong>de</strong>r e toda a glória! Ele domina a<br />
vida e a morte. Nada escapa <strong>de</strong> seu domínio. Foi Ele Quem fez as Leis que <strong>de</strong>ram existência ao<br />
Universo - tudo foi criado por Ele e tudo a Ele está sujeito. No entanto, trata-se da mesma<br />
criança, do mesmo humil<strong>de</strong> carpinteiro <strong>de</strong> Nazaré, do mesmo homem que morreu <strong>de</strong>snudo em<br />
uma cruz, que possui todo o po<strong>de</strong>r e toda a glória.<br />
Este será um Natal muito especial, porque irei colocar a Criança nos seus braços e pedirei<br />
a você para cuidar <strong>de</strong>la como se fosse seu próprio filho. Volte-se para Nossa Senhora, ela o<br />
ensinará como cuidar da Criança.<br />
24 - PAZ – O FRUTO DO AMOR<br />
A Paz do Senhor esteja com vocês! A paz da Criança numa manjedoura. A paz da mulher e<br />
do homem sentados perto <strong>de</strong>la. A paz da Santíssima Trinda<strong>de</strong> esteja com vocês – a única paz<br />
digna <strong>de</strong> se ter. Desejo paz a vocês porque a paz é o fruto do amor e sei que vocês possuem amor<br />
porque possuem Deus.<br />
Desejo paz a vocês porque vivemos um tempo <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> paz e <strong>de</strong>vemos nos lembrar que<br />
quando <strong>de</strong>sejamos paz uns aos outros, o fazemos em nome Dele que disse que a daria para nós<br />
não para que a conservássemos conosco, mas para darmo-la, primeiro uns aos outros e <strong>de</strong>pois<br />
para todos com os quais nos encontramos. Quanto mais damos Sua paz, mais cheios <strong>de</strong> paz nos<br />
tornamos.<br />
A única maneira <strong>de</strong> dar Sua paz é através do cálice <strong>de</strong> nossos corações, um cálice formado<br />
<strong>de</strong> carida<strong>de</strong>. Assim nossa paz produzirá frutos. Cairá como uma benção sobre todos aqueles para<br />
os quais a damos; pois não é a nossa paz que damos, mas a paz que Ele nos <strong>de</strong>u. Tudo o que Ele<br />
nos dá e tudo o que Ele toca é tão sagrado e cicatrizante que vai muito além <strong>de</strong> nosso<br />
entendimento.<br />
Aprendam com Ele, pois Ele é simples e humil<strong>de</strong> <strong>de</strong> coração, e vocês terão uma paz<br />
infinita; e vocês terão um amor infinito, se O conservarem para sempre em seus corações.<br />
171
25 - UMA FESTA PARA OS PEQUENINOS<br />
(NATAL <strong>de</strong> Nosso Senhor Jesus Cristo)<br />
Natal. A história familiar - um estábulo, uma manjedoura, a Criança, a Virgem Mãe,<br />
pastores, cânticos, presentes, árvores <strong>de</strong> natal, boa vonta<strong>de</strong> para todos os homens e mulheres.<br />
Mas será que aquele sorriso caloroso e benfazejo do Menino Jesus não está se per<strong>de</strong>ndo, não está<br />
sendo em vão, num mundo indiferente e frio, que rejeita sua própria razão <strong>de</strong> ser e,<br />
repetidamente, em cada geração, O crucifica com cruéis zombarias e gestos <strong>de</strong> <strong>de</strong>pravação? É<br />
assim que parece ser. Não acham que seja assim? Basta atentar, no nosso século, para os<br />
corações gélidos, as almas vazias, o tempo perdido na adoração <strong>de</strong> si mesmo, na preocupação<br />
com o altar dos ídolos horrorosos que nós mesmos criamos: segurança, po<strong>de</strong>r, riqueza, saú<strong>de</strong>, o<br />
culto do corpo. Esses ídolos, nossas próprias imagens <strong>de</strong>storcidas, é que são realmente adorados<br />
por nós.<br />
Menino <strong>de</strong> Belém tem pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> nós! Envia seus anjos para que nos coloquem <strong>de</strong> pé.<br />
Envia a graça que abrirá nossos olhos cegos e, prostrando-nos diante da Tua mais absoluta<br />
penúria, possamos encontrar na sua infinita riqueza, a água que lava nossos pecados. Ajuda-nos<br />
a nos tornar como criancinha, pois somente elas entram no Reino dos Céus. Como criancinhas<br />
veremos facilmente através do falso brilho da riqueza, do po<strong>de</strong>r, da segurança. E rejeitaremos<br />
tudo isso por Ti, abraçando unicamente o Teu amor. Queima-nos com as chamas do Teu Fogo.<br />
Po<strong>de</strong>remos assim receber a verda<strong>de</strong>ira mensagem do Teu nascimento para um mundo que<br />
esqueceu <strong>de</strong> seu verda<strong>de</strong>iro significado e, então, po<strong>de</strong>remos restaurá-lo e a todos os seus<br />
habitantes para o Teu Pai nos céus que tanto nos amou e Te enviou para nos redimir.<br />
26 - ENCARNAÇÃO E MARTÍRIO (Sto. Estevão)<br />
Costuma-se dizer que o sangue dos mártires é a semente da fé. Contudo, não é preciso<br />
que <strong>de</strong>rramemos nosso sangue; se nos doarmos a nós mesmos, é a mesma coisa. Vejam bem no<br />
fundo. Somos todos mártires <strong>de</strong> nós mesmos. A batalha é com nós mesmos. Isso é que é o<br />
martírio.<br />
No momento em que nos dispomos a seguir o Cristo, entramos no campo do sofrimento.<br />
Quando penetramos nesse sofrimento, é aí que Ele se encarna. Quando entramos na encarnação,<br />
penetramos nas terríveis dores da humanida<strong>de</strong> e nas nossas próprias dores, ren<strong>de</strong>ndo-nos à<br />
encarnação. Primeiramente, não conseguimos compreen<strong>de</strong>r essa nossa rendição à encarnação,<br />
mas aos poucos vamos assimilando pela graça <strong>de</strong> Deus e, então, a fé que nos faz aceitar a<br />
encarnação, vai nos fazer aceitar a crucificação.<br />
Quando vamos envelhecendo, o sofrimento cresce <strong>de</strong> maneira diferente. Nós já aceitamos<br />
a encarnação e já nos entregamos à encarnação. Mas temos também que nos entregar à idéia da<br />
crucificação, porque bem no fundo <strong>de</strong> nossas almas, nós realmente esperamos pela ressurreição.<br />
Este é um fato inexorável, inevitável - que <strong>de</strong>vemos passar pela crucificação; <strong>de</strong> outro modo, não<br />
haverá ressurreição.<br />
27 - AS BATIDAS DO CORAÇÃO DE DEUS (S. João, Apóstolo e Evangelista)<br />
Muito tempo atrás, um homem comum chamado João <strong>de</strong>itou sua cabeça no peito do<br />
Cristo e escutou o coração do Senhor bater. Quem, porventura, po<strong>de</strong> imaginar o que aquele<br />
homem sentiu enquanto escutava as batidas daquele po<strong>de</strong>roso coração? Nenhum <strong>de</strong> nós po<strong>de</strong>rá<br />
172
jamais estar em seu lugar, mas todos po<strong>de</strong>remos ouvir, se ficarmos atentos à escuta, às batidas do<br />
coração <strong>de</strong> Deus, à canção <strong>de</strong> amor que Ele canta para nós, que Ele tanto amou. Se meditarmos<br />
sobre o mais santo dos Sacramentos que é a Eucaristia, não só ouviremos Seu coração bater, mas<br />
também ouviremos a batida <strong>de</strong> nossos próprios corações em uníssono com o <strong>de</strong>le; estaremos<br />
unidos com Nosso Senhor e nosso Deus.<br />
O coração <strong>de</strong> Deus é o único verda<strong>de</strong>iro lugar <strong>de</strong> repouso para todos nós, um real oásis<br />
para o qual Deus nos chama. Mas a chave para Seu coração é a i<strong>de</strong>ntificação com Ele e com<br />
todos aqueles a quem Ele chama <strong>de</strong> Seus pequeninos. Vejam como é simples!<br />
Esse profundo amor à humanida<strong>de</strong> requer um engran<strong>de</strong>cimento <strong>de</strong> coração tão profundo<br />
que somente po<strong>de</strong>remos alcançá-lo se Deus nos mostrar o caminho. Devemos orar pedindo por<br />
este engran<strong>de</strong>cimento do coração. Isso significa que com uma das mãos tocaremos a Deus e com<br />
a outra o nosso próximo - e ficaremos, assim, em forma <strong>de</strong> cruz. Entraremos numa outra<br />
dimensão <strong>de</strong> fé e <strong>de</strong> oração e isso fará com que Deus torne maiores nossos corações.<br />
28 - VOCÊ O AMA? (Santos Inocentes)<br />
Quando me ajoelho diante da manjedoura, pergunto ao Senhor dos Exércitos, o Rei do<br />
po<strong>de</strong>r e da glória, Quem está diante <strong>de</strong> mim - um recém-nascido - a Criança e o Rei, o homem e<br />
Deus em uma única pessoa. Pergunto-me se você po<strong>de</strong>rá conhecer Aquele que o chamou, tão<br />
especialmente, para junto <strong>de</strong>le e que se transforma naquele que ama com uma força tremenda, e<br />
que nada pe<strong>de</strong> <strong>de</strong> você a não ser uma única coisa: que você possa retribuir o Seu amor,<br />
entregando-se total e completamente a Ele.<br />
Se, por um milagre da graça <strong>de</strong> Deus, você fosse transportado a Belém e o Cristo Criança<br />
o chamasse pelo nome, como fez com Pedro, "Você me ama Salete, Eduardo, Joana, José?" O<br />
que você Lhe respon<strong>de</strong>ria? Será que po<strong>de</strong>ria respon<strong>de</strong>r como Pedro "Senhor, tu sabes que te<br />
amo?” Ou você diria "Sim, eu te amo, Senhor, à minha maneira, mas nada além disso!". Ou, "Eu<br />
te amo, Senhor, muito - mas não <strong>de</strong>mais".<br />
Imploremos a <strong>Em</strong>anuel, a Criança que é o Rei do amor, que nos ensine a única virtu<strong>de</strong><br />
que nos colocará <strong>de</strong> joelhos diante <strong>de</strong> Sua face - a virtu<strong>de</strong> da humilda<strong>de</strong>, a qual é unicamente uma<br />
outra palavra para verda<strong>de</strong>. E é nessa humilda<strong>de</strong> que po<strong>de</strong>mos dizer a Ele que O amamos e que<br />
queremos ser Dele completamente; po<strong>de</strong>remos também humil<strong>de</strong> e sinceramente rogar a Ele pela<br />
graça <strong>de</strong> sermos assim.<br />
Desejo que o ano que chega seja um ano <strong>de</strong> crescimento na fé; pois, à medida que você<br />
cresce na fé, você crescerá no amor e na entrega e isso é o que realmente importa!<br />
29 - CRISTO, CENTRO DA CARIDADE<br />
Através <strong>de</strong> toda esta linda época do Natal, venho rezando ar<strong>de</strong>ntemente por vocês, para<br />
que o Cristo Criança possa tocar nos seus corações, suas mentes e almas, com sua frágil mão, e<br />
abri-los para a Sua própria beleza e para realizar a integração <strong>de</strong> vocês em Seu Corpo Místico!<br />
Tenho rezado para que vocês possam começar a fazer do Cristo o centro <strong>de</strong> suas vidas, em vez <strong>de</strong><br />
serem este centro vocês mesmos. Sim, é esta a minha oração por vocês. Ter o Cristo no centro<br />
da vida é ter o Amor no centro da vida.<br />
Sobre esse amor, essa carida<strong>de</strong>, meus amados amigos, não percebem que vocês não só<br />
ferem a carida<strong>de</strong>, mas a cortam em pedaços e a crucificam quando estão sendo ru<strong>de</strong>s em suas<br />
maneiras, grosseiros na forma <strong>de</strong> falar, grosseiros no tom <strong>de</strong> voz? Vocês fazem isso quando se<br />
173
agri<strong>de</strong>m mutuamente. Vocês fazem isso quando usam <strong>de</strong> modos irônicos ou sarcásticos uns com<br />
os outros, assim como o silêncio <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhoso que fere e grita mais alto do que as palavras.<br />
Recusar a respon<strong>de</strong>r a uma simples pergunta é como uma bofetada na face do outro. Vocês<br />
acham que isso é carida<strong>de</strong> ou é a crucificação <strong>de</strong>la?<br />
Se você crucifica a carida<strong>de</strong>, lembre-se <strong>de</strong> que carida<strong>de</strong> é amor e Amor é Deus e você é,<br />
portanto, culpado <strong>de</strong> crucificar o próprio Deus. Que Ele tenha misericórdia <strong>de</strong> sua alma!<br />
Isto po<strong>de</strong> parecer um tanto negativo para vocês. Mas todas as palavras que usei, todos os<br />
aspectos aparentemente novos que lhes apresentei, tudo o que foi dito e feito, resume-se nas<br />
palavras <strong>de</strong> João, o Discípulo Amado: Filhinhos, amai-vos uns aos outros. Nada mais tenho a<br />
dizer realmente, pois essas palavras são a própria essência <strong>de</strong> nossa religião, <strong>de</strong> nossa fé.<br />
30 - MARIA - UMA PORTA PARA O CRISTO<br />
Tenho meditado sobre como Maria se ocultava. Se você examinar os Evangelhos, e<br />
mesmo o Antigo Testamento, on<strong>de</strong> algumas profecias sobre ela foram escritas, você encontrará<br />
um estranho silêncio. São Lucas fala sobre ela na narração do nascimento <strong>de</strong> Cristo, mas <strong>de</strong>pois<br />
disso não há muito mais. Ela passa pelos Evangelhos em quase completo silêncio. Ela aceita as<br />
coisas mesmo quando elas lhe causam sofrimento.<br />
Nos ícones russos, Maria está sempre retratada com o Cristo criança. Ela está<br />
apresentando a Criança ao mundo. Então você naturalmente é levado, pelas mãos <strong>de</strong> Maria, até<br />
seu Filho Jesus. Ela é a porta que conduz os corações das pessoas para seu Filho. O que<br />
significa esse estranho ocultamento, essa forma <strong>de</strong> ficar em segundo plano? É como se ela<br />
aparecesse em algum lugar no pano <strong>de</strong> fundo do Evangelho, que se exige algum esforço para se<br />
perceber a sua presença. E nós, como estamos nos ocultando a nós mesmos <strong>de</strong> forma a ce<strong>de</strong>r a<br />
Cristo o primeiro lugar? Confesso que mesmo após anos <strong>de</strong> prece e <strong>de</strong> amor por Deus e o meu<br />
próximo, ainda necessito <strong>de</strong>mais me ocultar, para sempre apresentar ao próximo o Menino Jesus.<br />
Nós estamos preocupados com nós mesmos. Nos colocamos sempre à frente <strong>de</strong> qualquer coisa,<br />
até <strong>de</strong> Deus. Temos <strong>de</strong> praticar a caminhada nas pegadas <strong>de</strong> Nossa Senhora, nas coisas comuns<br />
da vida.<br />
31 - NO LIMIAR DO NOVO ANO (Véspera do Ano Novo)<br />
Entre no Ano Novo com esperança, sabendo que você nada po<strong>de</strong> fazer por si só. Caminhe<br />
na fé e essa fé crescerá e crescerá! E você começará a enten<strong>de</strong>r que Ele po<strong>de</strong> fazer todas as<br />
coisas em você. Assim, em total simplicida<strong>de</strong>, como uma criança, com uma fé que canta seu<br />
<strong>de</strong>sejo por Ele, com um amor que celebra uma esperança imaculada, você possa encarar este<br />
novo ano sem temor! De que ter medo se o Senhor está com você? Nós vivemos com o Cristo<br />
ressuscitado. Juntos, apoiando-nos um ao outro com amor e alegria e fé, po<strong>de</strong>remos restaurar o<br />
que precisa ser restaurado na Igreja.<br />
O amor, como o vejo, é uma coisa minha - para ser doada - assim também é seu, para que<br />
o tome. Eu lhes dou, em meio a toda essa <strong>de</strong>coração natalina, o meu amor. E eu peço ao Senhor<br />
que lhes dê a Sua paz. Eu rogo, apaixonadamente, que vocês estejam em paz - primeiro com<br />
Deus, <strong>de</strong>pois com vocês mesmos e, finalmente, com todas as <strong>de</strong>mais pessoas. Que vocês sejam<br />
abençoados, neste ano que entra, com compreensão, ternura, compaixão, perdão, reconciliação,<br />
fé, esperança e amor.<br />
174
Rezo para que seus corações sejam cada vez mais semelhantes ao do Cristo Criança e que<br />
vocês possam pedir comigo "Dai-me o coração <strong>de</strong> uma criança e a terrível coragem <strong>de</strong> fazê-lo<br />
viver como um adulto". Rezo para que, durante todos os anos <strong>de</strong> suas vidas, caminhem com<br />
Nossa Senhora, porque o Menino veio através <strong>de</strong>la, e através <strong>de</strong>la vocês po<strong>de</strong>m chegar a Ele.<br />
NOTAS DE RODAPÉ:<br />
05 <strong>de</strong> fevereiro<br />
*Paul Evdokimov – filósofo, teólogo, escritor russo que morava na França; através <strong>de</strong><br />
seus vários escritos, ele fez mais accessível o pensamento da Igreja ortodoxa para leitores no<br />
oci<strong>de</strong>nte.<br />
01 <strong>de</strong> março<br />
* Alexan<strong>de</strong>r Schmemann – sacerdote russo ortodoxo que foi reitor do Seminário<br />
Ortodoxo <strong>de</strong> São Vladimir, em Nova Iorque, EUA e professor famoso da teologia e<br />
espiritualida<strong>de</strong> do oriente.<br />
23 <strong>de</strong> março<br />
*A Ku Klux Klan – uma organização racista, ativa especialmente do sul do EUA.<br />
26 <strong>de</strong> março<br />
*Casa da Amiza<strong>de</strong> – assim era <strong>de</strong>nominada a primeira obra <strong>de</strong> <strong>Catherine</strong>.<br />
10 <strong>de</strong> abril<br />
*Karl Stern – psiquiatra e escritor católico e gran<strong>de</strong> amigo <strong>de</strong> <strong>Catherine</strong>.<br />
28 <strong>de</strong> abril<br />
*‘Morte <strong>de</strong> Deus’ – movimento que surgiu na década <strong>de</strong> 60 que afirmava a morte do<br />
‘conceito’ <strong>de</strong> Deus, consi<strong>de</strong>rado pelos promovedores <strong>de</strong>ste movimento a ser inventado em vez <strong>de</strong><br />
ser uma realida<strong>de</strong>.<br />
08 <strong>de</strong> maio<br />
*‘Ir ao Povo’– corrente <strong>de</strong> pensamento que surgiu entre a alta socieda<strong>de</strong> russa, no século<br />
XIX, que levava os nobres a se empregarem como criados nas casas <strong>de</strong> camponeses pobres para<br />
i<strong>de</strong>ntificar-se com o Cristo nos pobres.<br />
08 <strong>de</strong> junho<br />
*As Serras Laurentianas ficam nas províncias <strong>de</strong> Quebec e Ontário, no Canadá.<br />
22 <strong>de</strong> junho<br />
*humiliati = conceito russo que quer dizer os <strong>de</strong>sprezados, esquecidos, rejeitados<br />
09 <strong>de</strong> julho<br />
*Thomas Merton - escritor e ensaísta e, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> sua conversão, monge trapista<br />
07 <strong>de</strong> agosto<br />
175
*Raissa Maritain – escritora, poetisa e pensadora francesa, e esposa do filósofo Jacques<br />
Maritain, do início do século XX.<br />
05 <strong>de</strong> novembro<br />
*Dorothy Day e as Casas da Hospitalida<strong>de</strong> – Dorothy Day foi um dos pioneiros do<br />
Apostolado Leigo nos Estados Unidos. Junto com Peter Maurin, o filósofo e agricultor francês,<br />
ela fundou o movimento O Trabalhador Católico e suas Casas da Hospitalida<strong>de</strong> para aten<strong>de</strong>r<br />
pessoas necessitadas.<br />
09 <strong>de</strong> novembro<br />
*Despacho e Recebimento é o nome <strong>de</strong> um <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> Madonna House em<br />
Cómbermere, que toma conta da recepção <strong>de</strong> doações e o envio <strong>de</strong> livros e outros itens<br />
encomendados. Este trecho foi tirado duma reflexão <strong>de</strong> <strong>Catherine</strong> sobre o trabalho neste<br />
<strong>de</strong>partamento.<br />
© online edition Madonna House Publications March 2010<br />
176
Disponíveis somente no Internet:<br />
Alma da Minha Vida<br />
O Evangelho sem Restrições<br />
O Silêncio <strong>de</strong> Deus<br />
União na Fraternida<strong>de</strong><br />
Livros por Catarina <strong>de</strong> <strong>Hueck</strong> <strong>Doherty</strong><br />
em português<br />
Disponíveis no Internet e também impressos:<br />
Deserto Vivo (Poustinia)<br />
<strong>Em</strong> Parábolas<br />
Para comprar livros impressos, escrever para:<br />
Madonna House Publications<br />
2888 Dafoe Rd. RR2<br />
Combermere, Ontário, K0J 1L0<br />
Canadá<br />
português@madonnahouse.org<br />
Biografia <strong>de</strong> Catarina <strong>de</strong> <strong>Hueck</strong> <strong>Doherty</strong><br />
por Héber Salvador <strong>de</strong> Lima, S.J.<br />
Apresento-lhes a Baronesa<br />
Para comprar, escrever para:<br />
Madonna House Publications<br />
2888 Dafoe Rd. RR2<br />
Combermere, Ontário, K0J 1L0<br />
Canadá<br />
177