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Relatório do Desenvolvimento Humano de Timor Leste, 2002

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RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO<br />

DE TIMOR LESTE<br />

<strong>2002</strong><br />

Ukun Rasik A’an<br />

O caminho à nossa frente<br />

Programa das Nações Unidas para o <strong>Desenvolvimento</strong>


Programa das Nações Unidas para o <strong>Desenvolvimento</strong> (PNUD)<br />

UN Agency House<br />

Rua <strong>de</strong> Caicoli<br />

Dili, <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

Fax: (670 390) 312 408<br />

Email: registry.tp@undp.org<br />

Website: www.undp.east-timor.org<br />

Copyright © UNDP, <strong>2002</strong><br />

Caixas, quadros e gráficos<br />

Tradução:<br />

Eduar<strong>do</strong> Ferreira, Alexandre Abreu e Sofia Fernan<strong>de</strong>s (CEsA/ISEG/UTLisboa)<br />

Revisão da tradução: António Almeida Serra<br />

A informação contida neste relatório po<strong>de</strong> ser reproduzida, usada e partilhada sem autorização prévia mas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />

se divulgue esta publicação como fonte e da seguinte forma: <strong>Relatório</strong> <strong>do</strong> <strong>Desenvolvimento</strong> <strong>Humano</strong> <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

<strong>2002</strong>, Programa das Nações Unidas para o <strong>Desenvolvimento</strong>, Dili.<br />

Os valores monetários referem-se a USD salvo indicação expressa em contrário.<br />

Desenho da capa: Publicações Matebian, Baucau, <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

Fotografia: Lírio da Fonseca


Mensagem <strong>do</strong> Presi<strong>de</strong>nte Eleito <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

Na véspera da nossa in<strong>de</strong>pendência temos<br />

muito que celebrar. Libertámos o nosso país<br />

e, com o apoio da comunida<strong>de</strong> internacional<br />

e da família das Nações Unidas, estamos a<br />

construir um futuro in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte assente<br />

nos pilares da paz e da <strong>de</strong>mocracia.<br />

Da in<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong>vemos agora caminhar<br />

em frente para <strong>de</strong>senvolvermos o<br />

nosso país. Temos <strong>de</strong> escolher qual o caminho<br />

mais apropria<strong>do</strong> para o nosso <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Temos <strong>de</strong> assegurar que as necessida<strong>de</strong>s<br />

básicas <strong>do</strong> nosso povo são satisfeitas<br />

e que as condições <strong>de</strong> vida são<br />

melhoradas.<br />

Recentemente o povo <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

participou numa consulta nacional notável.<br />

Todas as povoações <strong>de</strong>screveram a sua visão<br />

<strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> no ano 2020. Disseram-nos<br />

o que esperavam <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>do</strong> nosso país. A sua visão mostranos<br />

que estão <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s a melhorar a<br />

educação e a saú<strong>de</strong>.<br />

Ao seleccionarem as três áreas<br />

prioritárias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, 70% da<br />

população disse que a educação é a priorida<strong>de</strong><br />

mais importante para <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>,<br />

enquanto que 49% escolheu a saú<strong>de</strong>. Também<br />

falaram da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> melhorar a<br />

agricultura e as estradas, <strong>do</strong> fornecimento<br />

<strong>de</strong> água e <strong>de</strong> electricida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> aumentar o<br />

emprego e proteger o ambiente. Acima <strong>de</strong><br />

tu<strong>do</strong>, estão <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s a participar no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento, procuran<strong>do</strong> a satisfação<br />

das suas necessida<strong>de</strong>s através <strong>do</strong> seu<br />

envolvimento o mais activo possível.<br />

No entanto, ao <strong>de</strong>senvolver o nosso país<br />

enfrentamos muitos <strong>de</strong>safios. Mais <strong>do</strong> que<br />

<strong>do</strong>is em cada cinco timorenses vivem com<br />

menos <strong>do</strong> que 55 cêntimos por dia. A esperança<br />

<strong>de</strong> vida à nascença é apenas <strong>de</strong><br />

57 anos. As mulheres morrem <strong>de</strong>snecessariamente<br />

ao dar à luz. Muitas crianças morrem<br />

antes <strong>de</strong> atingirem os 5 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>do</strong>enças que se po<strong>de</strong>m prevenir e <strong>de</strong><br />

outras <strong>do</strong>enças. 43% da população é analfabeta.<br />

46% nunca frequentou a escola.<br />

Muitos jovens não têm qualificações e estão<br />

<strong>de</strong>semprega<strong>do</strong>s.<br />

O <strong>Relatório</strong> <strong>do</strong> <strong>Desenvolvimento</strong> <strong>Humano</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> contribui para a compreensão<br />

<strong>do</strong>s <strong>de</strong>safios que enfrentamos e<br />

mostra-nos como po<strong>de</strong>mos começar a fazer-lhes<br />

face. Juntamente com o Plano <strong>de</strong><br />

<strong>Desenvolvimento</strong> Nacional, publica<strong>do</strong> nas<br />

vésperas da nossa in<strong>de</strong>pendência, mostranos<br />

como po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>senvolver cada sector<br />

da nossa economia, in<strong>do</strong> ao encontro<br />

das necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano.<br />

Temos <strong>de</strong> assegurar que as estratégias<br />

que <strong>de</strong>senvolvermos se irão concentrar permanentemente<br />

na satisfação <strong>de</strong>stas necessida<strong>de</strong>s,<br />

<strong>de</strong> que promoveremos o crescimento<br />

económico para melhorar os níveis <strong>de</strong> vida<br />

e reduzir a pobreza.<br />

Durante muitos e longos anos sonhámos<br />

com a in<strong>de</strong>pendência. O nosso sonho<br />

tornou-se realida<strong>de</strong>. Agora temos to<strong>do</strong>s um<br />

papel a <strong>de</strong>sempenhar no <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>do</strong> nosso país. O governo, o sector priva<strong>do</strong>,<br />

a socieda<strong>de</strong> civil e as comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>vem<br />

trabalhar para reduzir a pobreza e promover<br />

um crescimento económico que seja<br />

equitativo e sustentável.<br />

Kay Rala Xanana Gusmão,<br />

Presi<strong>de</strong>nte Eleito,<br />

República Democrática <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

iii


iv<br />

Mensagem <strong>do</strong> Representante Especial <strong>do</strong><br />

Secretário-Geral das Nações Unidas<br />

O Secretário-Geral das Nações Unidas,<br />

Kofi Annan, <strong>de</strong>screveu as concepções que<br />

estão por <strong>de</strong>trás <strong>do</strong> <strong>Relatório</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Desenvolvimento</strong> <strong>Humano</strong> como<br />

"reflectin<strong>do</strong> a profunda convicção <strong>de</strong> que<br />

o que importa no <strong>de</strong>senvolvimento não são<br />

as quantida<strong>de</strong>s produzidas mas a qualida<strong>de</strong><br />

da vida vivida pelos seres humanos".<br />

Na sequência da violência avassala<strong>do</strong>ra<br />

<strong>de</strong>spoletada pelo voto maciço a favor da<br />

in<strong>de</strong>pendência em 30 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 1999,<br />

o povo <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> viu a sua pátria<br />

completamente arruinada e com poucas<br />

escolhas em termos da sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

Foram confronta<strong>do</strong>s com a <strong>de</strong>struição física<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte <strong>do</strong> país, uma perda significativa<br />

<strong>de</strong> vidas, violações e assaltos,<br />

<strong>de</strong>slocações maciças da população, o colapso<br />

total da economia e a <strong>de</strong>struição ou<br />

remoção da maioria da sua herança cultural<br />

e memória institucional. Todas as instituições<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> entraram em colapso–<br />

administrativa e fisicamente. A reconstrução,<br />

em to<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>mínios, teve <strong>de</strong> começar<br />

literalmente <strong>do</strong> zero.<br />

As Nações Unidas respon<strong>de</strong>ram estabelecen<strong>do</strong><br />

a Administração Transitória das<br />

Nações Unidas em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

(UNTAET), com um mandato <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong><br />

governamental sem prece<strong>de</strong>ntes na sua<br />

amplitu<strong>de</strong>. À UNTAET foi dada a responsabilida<strong>de</strong><br />

pela segurança, lei e or<strong>de</strong>m, estabelecimento<br />

<strong>de</strong> uma administração eficaz,<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong>s serviços sociais, fornecimento<br />

<strong>de</strong> ajuda humanitária, apoio à<br />

formação <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s para um governo<br />

autónomo e a assistência na criação <strong>de</strong><br />

condições para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável.<br />

Enquanto que a UNTAET foi bem<br />

sucedida em alguns aspectos <strong>do</strong> seu mandato,<br />

noutros aspectos experimentámos fracos<br />

resulta<strong>do</strong>s; penso que estes <strong>do</strong>is últimos<br />

anos e meio nos proporcionaram uma experiência<br />

com lições para to<strong>do</strong>s.<br />

Na sequência da nossa tarefa mais imediata—a<br />

rápida melhoria da situação, o fim<br />

da crise humanitária e a estabilização da situação<br />

<strong>de</strong> segurança—, a UNTAET teve<br />

<strong>de</strong> iniciar um <strong>do</strong>s seus <strong>de</strong>safios mais<br />

dispendiosos e mais mal <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s nos seus<br />

contornos: estabelecer instituições <strong>de</strong> governo<br />

e <strong>de</strong> administração pública ao mesmo<br />

tempo que apoiava a criação <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> governo próprio e <strong>de</strong> condições<br />

para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável. É simultaneamente<br />

uma <strong>de</strong>sculpa e um facto a<br />

constatação <strong>de</strong> que não nos foi da<strong>do</strong> nenhum<br />

plano escrito e bem <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> sobre<br />

como levar a cabo estas tarefas altamente<br />

complexas.<br />

Politicamente, a UNTAET <strong>de</strong>finiu e<br />

executou uma <strong>de</strong>volução gradual <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r<br />

executivo e legislativo aos timorenses,<br />

uma tarefa que tem si<strong>do</strong> um <strong>de</strong>safio não<br />

sem dificulda<strong>de</strong>s. Isto significou manter uma<br />

relação em constante evolução entre a<br />

UNTAET e as recém-estabelecidas instituições<br />

governamentais. Isto levou-nos <strong>de</strong> um<br />

processo meramente <strong>de</strong> consulta (com o<br />

Conselho Consultivo Nacional), passan<strong>do</strong><br />

pelo Primeiro Gabinete <strong>de</strong> Transição—<br />

compreen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> timorenses e membros<br />

internacionais—, ao estabelecimento <strong>de</strong> um<br />

corpo proto-legislativo, o Conselho<br />

Nacional, integralmente constituí<strong>do</strong> por<br />

<strong>Timor</strong>enses. Veio <strong>de</strong>pois a transformação<br />

das instituições governamentais <strong>de</strong> nomeadas<br />

em eleitas: as eleições para a Assembleia<br />

Constituinte, um processo totalmente assumi<strong>do</strong><br />

por timorenses <strong>de</strong> redacção e a<strong>do</strong>pção<br />

da Constituição, um Segun<strong>do</strong> Gabinete<br />

<strong>de</strong> Transição constituí<strong>do</strong> inteiramente por<br />

ministros timorenses, uma eleição presi<strong>de</strong>ncial<br />

e a já iminente in<strong>de</strong>pendência no dia 20<br />

<strong>de</strong> Maio. É um percurso notável, apesar <strong>de</strong><br />

alguns <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>rem (e alguns já o fizeram)<br />

que se <strong>de</strong>veria ter anda<strong>do</strong> a um ritmo mais<br />

acelera<strong>do</strong>. Nós, UNTAET e os timorenses,<br />

fomos os pioneiros: os sucessos e os erros<br />

foram nossos.<br />

Simultaneamente, a UNTAET <strong>de</strong>senvolveu<br />

esforços para estabelecer as instituições<br />

da administração pública e <strong>de</strong> governo. Este<br />

processo tem si<strong>do</strong> dificulta<strong>do</strong> pelos imperativos,<br />

conflituosos entre si, da velocida<strong>de</strong><br />

vs. consulta; <strong>de</strong> uma obtenção <strong>de</strong> resulta-


<strong>do</strong>s substantivos vs. a formação <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> auto-governação; e da criação<br />

imediata <strong>de</strong> empowerement vs. a criação <strong>de</strong><br />

capacida<strong>de</strong>s. Em algumas áreas fomos <strong>de</strong>masia<strong>do</strong><br />

ambiciosos e actuámos a um ritmo<br />

que po<strong>de</strong> não ter permiti<strong>do</strong> a criação<br />

<strong>de</strong> bases suficientemente sólidas e dura<strong>do</strong>uras.<br />

Um exemplo <strong>de</strong>sta situação é o da área<br />

da lei e da or<strong>de</strong>m, on<strong>de</strong> um sistema nacional<br />

<strong>de</strong> julgamento, <strong>de</strong> acusação e <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa<br />

foi rapidamente constituí<strong>do</strong> mas talvez não<br />

tão bem apoia<strong>do</strong> como <strong>de</strong>veria ter si<strong>do</strong><br />

através da capacitação e <strong>de</strong> estruturas<br />

institucionais fortes.<br />

É claro que a in<strong>de</strong>pendência, que está<br />

agora ao virar da esquina, chegará antes que<br />

to<strong>do</strong>s os objectivos <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s na Resolução<br />

1272 estejam realiza<strong>do</strong>s. Por exemplo,<br />

o completo <strong>de</strong>senvolvimento da Função<br />

Pública, <strong>de</strong> uma administração eficaz e o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> serviços públicos <strong>de</strong>morarão<br />

muitos mais anos. <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

<strong>de</strong>verá agora prosseguir num processo <strong>de</strong><br />

longo prazo <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s nacionais<br />

para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável.<br />

Mas ele não o irá fazer sozinho. Terá o apoio<br />

<strong>do</strong>s <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res e <strong>de</strong> uma missão das Nações<br />

Unidas sucessora da UNTAET e <strong>de</strong> tamanho<br />

consi<strong>de</strong>rável.<br />

É neste contexto que recomen<strong>do</strong> a to<strong>do</strong>s<br />

os leitores o primeiro <strong>Relatório</strong> nacional<br />

<strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong> <strong>Humano</strong> <strong>de</strong> <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> o qual, espero, dirigirá a reflexão e<br />

estimulará o <strong>de</strong>bate sobre o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

futuro, assim como atrairá mais apoio<br />

<strong>do</strong>s parceiros <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. O processo<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano é contínuo,<br />

com a UNTAET a <strong>de</strong>sempenhar<br />

somente o principal papel <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o caminho<br />

para a criação da nova nação foi<br />

inicida<strong>do</strong>. Naturalmente, o processo está<br />

muito longe <strong>de</strong> ter termina<strong>do</strong>. No entanto,<br />

espero e acredito que a UNTAET foi capaz<br />

<strong>de</strong> lançar as bases para o <strong>de</strong>senvolvimento,<br />

o qual po<strong>de</strong>rá ser medi<strong>do</strong> não somente<br />

pelas quantida<strong>de</strong>s produzidas mas<br />

também, e acima <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>, pela qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida experimentada pelos seres humanos<br />

<strong>de</strong>sta nova nação.<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento humano é o processo<br />

<strong>de</strong> alargamento das escolhas <strong>do</strong>s indivíduos,<br />

proporcionan<strong>do</strong> a cada um a<br />

oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tirar o melhor parti<strong>do</strong> das<br />

suas capacida<strong>de</strong>s: viver uma vida longa e<br />

saudável, adquirir conhecimentos e ace<strong>de</strong>r<br />

aos recursos necessários para um nível <strong>de</strong><br />

vida <strong>de</strong>cente. A disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stas capacida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> escolha fornece os meios para<br />

o usufruto <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>s políticas, económicas<br />

e sociais. Sei que o recém-in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

governo <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> estará pronto<br />

e <strong>de</strong>sejoso <strong>de</strong> tomar a seu cargo o <strong>de</strong>safio<br />

<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável para alcançar<br />

progressos na sobrevivência humana,<br />

conhecimentos, comunicações e<br />

produtivida<strong>de</strong>.<br />

Sérgio Vieira <strong>de</strong> Mello,<br />

Representante Especial <strong>do</strong> Secretário-<br />

Geral das Nações Unidas e<br />

Administra<strong>do</strong>r Transitório<br />

v


vi<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

O PNUD <strong>de</strong>seja agra<strong>de</strong>cer as contribuições<br />

prestadas por vários indivíduos na<br />

preparação <strong>de</strong>ste relatório.<br />

Em primeiro lugar, agra<strong>de</strong>cimentos especiais<br />

vão para o Professor António<br />

Almeida Serra, que foi essencial na organização<br />

<strong>do</strong>s colabora<strong>do</strong>res e das informações,<br />

sugestões, i<strong>de</strong>ias e comentários que <strong>de</strong>ram<br />

forma ao conteú<strong>do</strong> <strong>de</strong>ste relatório.<br />

O Sr. Júlio Alfaro, o Professor António<br />

Francisco, a Sra. Sue Ingram, a Sra. Ana<br />

Noronha, o Sr. Alfre<strong>do</strong> Pires, a Sra. Emília<br />

Pires, o Dr. Musunuru Rao, o Professor John<br />

Taylor, o Sr. Goran To<strong>do</strong>rovic e a Sra.<br />

Catherine Walker contribuíram com comentários<br />

valiosos, pensamentos, sugestões e<br />

i<strong>de</strong>ias em vários estádios da preparação <strong>do</strong><br />

relatório.<br />

O Sr. Omar Noman, a Sra. Sarah Burd-<br />

Sharps e o Sr. Claes Johansson <strong>do</strong> Gabine-<br />

Equipa <strong>de</strong> preparação <strong>do</strong> <strong>Relatório</strong><br />

Autores:<br />

Hel<strong>de</strong>r da Costa, Antero Bendito da Silva, João Câncio Freitas, Rui Gomes, Bodil<br />

Knudsen, Chris McInerney, António Almeida Serra e José Texeira.<br />

Anexo estatístico:<br />

Puguh Irawan.<br />

Editing e composição:<br />

Peter Stalker.<br />

te <strong>do</strong> <strong>Relatório</strong> <strong>do</strong> <strong>Desenvolvimento</strong> <strong>Humano</strong><br />

(HDRO) <strong>do</strong> PNUD foram extremamente<br />

construtivos com os seus comentários<br />

e sugestões.<br />

Pelos seus comentários úteis e informações,<br />

o PNUD agra<strong>de</strong>ce às restantes agências-irmãs<br />

das Nações Unidas em <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong>, à Administração Transitória das Nações<br />

Unidas em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> (UNTAET),<br />

à Administração Transitória <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

(ETTA) e aos seus sucessores, a Administração<br />

Pública <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> (ETPA).<br />

O PNUD <strong>de</strong>seja igualmente agra<strong>de</strong>cer<br />

o trabalho <strong>do</strong> Sr. Puguh Irawan, que preparou<br />

o anexo estatístico trabalhan<strong>do</strong> a<br />

partir <strong>do</strong>s muito limita<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s estatísticos<br />

disponíveis sobre <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>. Este<br />

anexo também beneficiou <strong>do</strong>s comentários<br />

<strong>do</strong> Dr. Yosh Azuma.


Prefácio<br />

Dá-me gran<strong>de</strong> prazer apresentar o primeiro<br />

<strong>Relatório</strong> nacional <strong>do</strong> <strong>Desenvolvimento</strong><br />

<strong>Humano</strong> <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>. Parece-me<br />

especialmente apropria<strong>do</strong> que publiquemos<br />

este relatório quan<strong>do</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> se<br />

prepara para um <strong>do</strong>s momentos mais<br />

importantes da sua História: o dia em que<br />

o seu povo alcança a in<strong>de</strong>pendência que<br />

procurou durante tanto tempo.<br />

Apesar <strong>de</strong> este ser um tempo para celebrar,<br />

não po<strong>de</strong>m haver dúvidas <strong>de</strong> que os<br />

<strong>de</strong>safios que o povo <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> enfrenta<br />

são enormes. Como este relatório<br />

<strong>de</strong>ixa claro, este país é o mais pobre da Ásia<br />

e um <strong>do</strong>s mais pobres <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e assim<br />

continuará a ser durante algum tempo. Até<br />

que as receitas da exploração <strong>do</strong> petróleo<br />

<strong>de</strong> <strong>Timor</strong> estejam disponíveis, e mesmo<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong>ssa altura, o país continuará a necessitar<br />

<strong>de</strong> um apoio consi<strong>de</strong>rável da comunida<strong>de</strong><br />

internacional.<br />

Mas a situação está longe <strong>de</strong> ser irremediável.<br />

Ao longo da sua História, o povo<br />

<strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> <strong>de</strong>monstrou uma resistência<br />

e <strong>de</strong>terminação notáveis. Necessita agora<br />

<strong>de</strong> utilizar essas qualida<strong>de</strong>s para construir<br />

o seu futuro, para tecer as suas capacida<strong>de</strong>s<br />

individuais num teci<strong>do</strong> nacional forte.<br />

A criação <strong>de</strong>ste teci<strong>do</strong> nacional é a essência<br />

<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano, que é<br />

<strong>de</strong>fini<strong>do</strong> como o processo <strong>de</strong> expansão das<br />

escolhas <strong>do</strong>s indivíduos e que é muito mais<br />

<strong>do</strong> que somente <strong>de</strong>senvolvimento económico.<br />

É sobre proporcionar a esses indiví-<br />

duos a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> viverem vidas longas<br />

e saudáveis, durante as quais tenham a<br />

oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alcançar um nível <strong>de</strong>cente<br />

<strong>de</strong> vida, <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolverem o seu potencial<br />

e, ao fazê-lo, criarem um futuro melhor<br />

para os seus filhos e para o seu país. O <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano é sobre educação,<br />

sobre construir um sistema sóli<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

governo e uma socieda<strong>de</strong> civil igualmente<br />

forte.<br />

Este <strong>Relatório</strong> <strong>do</strong> <strong>Desenvolvimento</strong><br />

<strong>Humano</strong> <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> é a última contribuição<br />

para uma série que cobre to<strong>do</strong> o<br />

globo. Mais <strong>de</strong> 375 relatórios nacionais e<br />

sub-nacionais foram produzi<strong>do</strong>s até agora<br />

por 135 países. A elaboração <strong>de</strong>ste <strong>Relatório</strong><br />

foi um processo muito participa<strong>do</strong>, que<br />

beneficiou <strong>de</strong> contribuições da parte <strong>de</strong><br />

muitas pessoas. Desta forma não representa<br />

necessariamente as opiniões <strong>do</strong> PNUD.<br />

É esperança <strong>do</strong> PNUD, no entanto, que<br />

este relatório proporcione algumas linhas<br />

<strong>de</strong> orientação para o <strong>de</strong>senvolvimento humano<br />

em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>, quer para o governo<br />

quer para a comunida<strong>de</strong> internacional.<br />

Há muitas dificulda<strong>de</strong>s no caminho futuro<br />

<strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>, mas há igualmente um<br />

enorme potencial. Durante muitos anos,<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> trabalhou praticamente sozinho<br />

para alcançar a in<strong>de</strong>pendência. No futuro,<br />

será necessário mais trabalho duro mas<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> não estará sozinho. O PNUD<br />

espera continuar a trabalhar com o povo<br />

<strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> na construção <strong>do</strong> seu futuro.<br />

Finn Reske-Nielsen<br />

Representante <strong>do</strong> PNUD, <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

vii


<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>, ou <strong>Timor</strong> Lorosae–'<strong>Timor</strong> <strong>do</strong> sol<br />

nascente'–situa-se na parte leste da ilha <strong>de</strong> <strong>Timor</strong>,<br />

a mais oriental das ilhas Sunda Menores. É cercada<br />

a oeste pela província in<strong>do</strong>nésia <strong>de</strong> Nusa Tenggara<br />

Timur. A norte encontra-se o mar <strong>de</strong> Savu e o<br />

Estreito <strong>de</strong> Wetar. A sul, 500 quilómetros através<br />

<strong>do</strong> Mar <strong>de</strong> <strong>Timor</strong>, encontra-se a Austrália. Também<br />

faz parte <strong>do</strong> território nacional <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> o<br />

enclave <strong>de</strong> Oécussi, na parte oci<strong>de</strong>ntal da ilha <strong>de</strong><br />

<strong>Timor</strong>, assim como as ilhas <strong>de</strong> Ataúro e Jaco.<br />

O relevo <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> é genericamente<br />

caracteriza<strong>do</strong> por um núcleo <strong>de</strong> montes e <strong>de</strong><br />

montanhas enrugadas que consistem numa massa<br />

confusa <strong>de</strong> cordilheiras <strong>de</strong> pontas aguçadas e<br />

blocos <strong>de</strong> terreno enruga<strong>do</strong>. O território eleva-se<br />

a mais <strong>de</strong> 2.000 metros acima <strong>do</strong> nível <strong>do</strong> mar, e<br />

inclui o Monte Tatamailau a 3.000 metros. Cerca<br />

<strong>de</strong> 44% <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> terá uma inclinação <strong>de</strong><br />

viii<br />

aproximadamente 40%, o que, em combinação<br />

com a elevada precipitação, favorece a erosão<br />

<strong>do</strong> solo. O clima é quente, com uma temperatura<br />

média <strong>de</strong> 21ºC e cerca <strong>de</strong> 80% <strong>de</strong> humida<strong>de</strong>.<br />

Durante a estação seca, <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> tem ventos<br />

mo<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s e temperaturas ligeiramente mais<br />

amenas—8ºC no litoral e 10ºC ou menos nas<br />

montanhas—mas entre Novembro e Abril, na<br />

época das monções, os rios tornam-se torrenciais<br />

<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à elevadíssima precipitação.<br />

Durante este perío<strong>do</strong>, a temperatura média no<br />

litoral é <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 25ºC. Na costa norte, a<br />

precipitação varia entre 500 e 1.000 milímetros<br />

por ano e é feita apenas uma colheita. A planície<br />

costeira a sul, contu<strong>do</strong>, po<strong>de</strong> receber mais <strong>de</strong><br />

2.000 milímetros e tem duas estações húmidas e<br />

duas colheitas. A ilha é também afectada por<br />

distúrbios climatéricos associa<strong>do</strong>s ao El Niño.


Acrónimos<br />

ACFOA Conselho Australiano para a Ajuda Internacional<br />

ACNUR Alto Comissaria<strong>do</strong> das Nações Unidas para os Refugia<strong>do</strong>s<br />

ACP Grupo <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong>s da África, Caraíbas e Pacífico<br />

ACDP Área <strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong> Conjunto <strong>do</strong> Petróleo<br />

APEC Fórum <strong>de</strong> Cooperação Económica da Ásia- Pacífico<br />

APTL Administração Pública <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

ASEAN Associação das Nações <strong>do</strong> Su<strong>de</strong>ste Asiático<br />

ATTL Administração <strong>de</strong> Transição <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

AusAID Agência Australiana para o <strong>Desenvolvimento</strong> Internacional<br />

BPS Gabinete Central <strong>de</strong> Estatística da In<strong>do</strong>nésia<br />

CCA Common Country Assessment <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

CCT Cooperativa <strong>de</strong> Café <strong>de</strong> <strong>Timor</strong><br />

CFET Fun<strong>do</strong> Consolida<strong>do</strong> para <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

CNRT Conselho Nacional da Resistência <strong>Timor</strong>ense<br />

CSETL Conselho <strong>de</strong> Solidarieda<strong>de</strong> <strong>do</strong>s Estudantes <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

DIU Dispositivo intra-uterino<br />

ETWAVE Mulheres <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> contra a Violência<br />

FMI Fun<strong>do</strong> Monetário Internacional<br />

FNUAP Fun<strong>do</strong> das Nações Unidas para a População<br />

FOKUPERS Fórum <strong>de</strong> Comunicação das Mulheres<br />

FPPATL Fundação para o <strong>Desenvolvimento</strong> <strong>de</strong> Projectos e da Agricultura em <strong>Timor</strong><br />

FRETILIN Frente Revolucionária para a In<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

GDI Índice <strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong> <strong>Humano</strong> ajusta<strong>do</strong> ao género<br />

GEM Medida <strong>de</strong> empowerment ten<strong>do</strong> em atenção o género<br />

GFFTL Grupo <strong>de</strong> Jovens (Mulheres) Estudantes <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

HIV Vírus da Imuno<strong>de</strong>ficiência Humana<br />

IDE Investimento Directo Estrangeiro<br />

IDH Índice <strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong> <strong>Humano</strong><br />

IFTL Inquérito às famílias <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> (Household Survey)<br />

ISTL Inquérito aos Sucos <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> (Suco Survey)<br />

INTERFET Força Internacional em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

IPH Índice <strong>de</strong> Pobreza Humana<br />

JICA Agência <strong>de</strong> Cooperação Internacional <strong>do</strong> Japão<br />

KPG Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Formação <strong>de</strong> Professores<br />

MCA Missão Conjunta <strong>de</strong> Avaliação (JAM)<br />

NCBA Associação Nacional <strong>de</strong> Activida<strong>de</strong> Cooperativa<br />

OCB Organização Comunitária <strong>de</strong> Base<br />

OCHA Gabinete para a Coor<strong>de</strong>nação <strong>do</strong>s Assuntos Humanitários da ONU<br />

OIM Organização Internacional para as Migrações<br />

OIT Organização Internacional <strong>do</strong> Trabalho<br />

OMS Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />

OMT Organização das Mulheres <strong>de</strong> <strong>Timor</strong><br />

ONG Organização Não Governamental<br />

OSC Organização da socieda<strong>de</strong> civil<br />

PAM Programa Alimentar Mundial<br />

PIB Produto Interno Bruto<br />

PNB Produto Nacional Bruto<br />

PNUD Programa das Nações Unidas para o <strong>Desenvolvimento</strong><br />

RDH <strong>Relatório</strong> <strong>do</strong> <strong>Desenvolvimento</strong> <strong>Humano</strong><br />

REDE Re<strong>de</strong> das Mulheres <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

SIDA Síndroma da Imuno<strong>de</strong>ficiência Adquirida<br />

SPG Escola para a Formação <strong>de</strong> Professores<br />

TFET Fun<strong>do</strong> para <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

TMI Taxa <strong>de</strong> Mortalida<strong>de</strong> Infantil<br />

UNICEF Fun<strong>do</strong> das Nações Unidas para a Infância<br />

UNIFEM Fun<strong>do</strong> das Nações Unidas para as Mulheres<br />

UNTAET Administração Transitória das Nações Unidas em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

UNTIL Universida<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

USAID Agência <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s para o <strong>Desenvolvimento</strong> Internacional<br />

ix


x<br />

Índice<br />

SUMÁRIO EXECUTIVO<br />

O caminho à nossa frente 01<br />

CAPÍTULO 1<br />

<strong>Desenvolvimento</strong> <strong>Humano</strong> em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> 11<br />

A situação <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano 12<br />

Índices <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano 21<br />

Objectivos para o futuro <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> 28<br />

Contribuição especial <strong>de</strong><br />

Sua Excelência Dom Carlos Filipe Ximenes Belo<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> no Terceiro Milénio 30<br />

CAPÍTULO 2<br />

Construin<strong>do</strong> uma administração pública eficaz 33<br />

O serviço público 35<br />

O governo local 39<br />

Prevenin<strong>do</strong> a corrupção 40<br />

O sistema judicial 40<br />

CAPÍTULO 3<br />

Novos papéis para a socieda<strong>de</strong> civil 42<br />

As ONGs numa era <strong>de</strong>mocrática 43<br />

Construin<strong>do</strong> novas relações 45<br />

Papéis múltiplos 47<br />

CAPÍTULO 4<br />

O horizonte da educação 50<br />

Reconstruin<strong>do</strong> o sistema educativo 52<br />

Os obstáculos à frequência da escola 54<br />

Questões futuras para a educação 54<br />

CAPÍTULO 5<br />

Crescimento económico para o <strong>de</strong>senvolvimento humano 61<br />

Perspectiva macroeconómico e fiscal 63<br />

<strong>Desenvolvimento</strong> rural 65<br />

Uma estratégia para o <strong>de</strong>senvolvimento humano 69<br />

Turismo 70<br />

Petróleo e gás 71<br />

Política fiscal 72<br />

Atrain<strong>do</strong> o Investimento Estrangeiro 73<br />

A economia para as pessoas 76<br />

CAIXAS<br />

1.1 Unida<strong>de</strong>s administrativas em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> 12<br />

1.2 Inquéritos em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> 13<br />

1.3 A oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prevenir o HIV/SIDA em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> 15<br />

1.4 Uma perspectiva sobre o IDH 22<br />

2.1 Corrupção e nepotismo em ‘Tim-Tim’ 35<br />

2.2 Resulta<strong>do</strong>s da UNTAET 36<br />

2.3 Os princípios da vida pública 40<br />

3.1 A socieda<strong>de</strong> civil na Comissão Nacional <strong>de</strong> Planeamento 47<br />

3.2 A acção <strong>do</strong>s grupos <strong>de</strong> pressão 48


4.1 A tradição <strong>de</strong>mocrática <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> 58<br />

5.1 Perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento económico 63<br />

5.2 Uma produção familiar <strong>de</strong> milho <strong>de</strong> subsistência 64<br />

5.3 Divisão <strong>de</strong> trabalho numa família agrícola 67<br />

5.4 O Acor<strong>do</strong> sobre o Mar <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> 71<br />

QUADROS<br />

1.1 Estimativas da população 13<br />

1.2 População por distrito 13<br />

1.3 Produção alimentar, 2001 16<br />

1.4 Desigualda<strong>de</strong> e produtivida<strong>de</strong> agrícola, 1995 17<br />

1.5 Principal activida<strong>de</strong> <strong>de</strong> rendimento monetário das famílias 18<br />

1.6 Índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano 23<br />

1.7 IDH <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> nos rankings mundiais 23<br />

1.8 Índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento ajusta<strong>do</strong> ao género 26<br />

1.9 <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> nos rankings mundiais <strong>de</strong> IDG 26<br />

1.10 O índice <strong>de</strong> pobreza humana <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> 27<br />

1.11 <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> nos rankings globais <strong>do</strong> IPH-1 27<br />

4.1 Lega<strong>do</strong>s da educação colonial 52<br />

4.2 Rácio estudantes-professores nas escolas primárias 53<br />

4.3 Professores aprova<strong>do</strong>s para o ensino <strong>de</strong> Português 55<br />

5.1 Estimativas orçamentais e <strong>de</strong> financiamento externo 65<br />

5.2 Produção alimentar, 1998 66<br />

5.3 Café em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>, 2001 67<br />

Gráficos<br />

1.1 Presta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> 14<br />

1.2 Colheitas e padrões <strong>de</strong> insegurança alimentar 16<br />

1.3 Melhorias <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1999 20<br />

1.4 Tendência <strong>do</strong> IDH, 1993-2001 22<br />

1.5 O IDH compara<strong>do</strong> com o PIB per capita 24<br />

1.6 IDHs regionais 24<br />

1.7 Alcançar 100% <strong>de</strong> alfabetização 28<br />

1.8 Alcançar as metas na saú<strong>de</strong> 29<br />

2.1 Línguas oficiais e <strong>de</strong> trabalho 38<br />

4.1 Literacia <strong>de</strong> adultos, 2001 50<br />

4.2 Matrículas por nível <strong>de</strong> ensino 53<br />

5.1 PIB por sector 61<br />

ANEXO<br />

Uma história breve <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> 77<br />

BIBLIOGRAFIA 81<br />

INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO HUMANO<br />

1. Demográficos 84<br />

2. Esperança <strong>de</strong> vida e mortalida<strong>de</strong> 85<br />

3. Saú<strong>de</strong>, fertilida<strong>de</strong> e planeamento familiar 86<br />

4. Educação 87<br />

5. Condições <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> habitação 88<br />

6. Pobreza e consumo 89<br />

7. Trabalho 90<br />

8. Economia 91<br />

9. Agricultura 92<br />

Nota sobre o cálculo <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res 93<br />

Definições <strong>do</strong>s termos estatísticos 95<br />

xi


SUMÁRIO EXECUTIVO<br />

O caminho à nossa frente<br />

Em muitos aspectos <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> está a embarcar na sua<br />

caminhada pelo <strong>de</strong>senvolvimento como se partisse <strong>do</strong> princípio.<br />

Este primeiro relatório <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano<br />

avalia algumas das dificulda<strong>de</strong>s mas <strong>de</strong>monstra também<br />

como um compromisso com o <strong>de</strong>senvolvimento humano<br />

po<strong>de</strong> orientar o país num novo caminho pacífico e produtivo.<br />

O panorama económico imediato <strong>de</strong><br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> po<strong>de</strong> ser difícil mas o potencial<br />

humano é eleva<strong>do</strong>. Durante os longos anos<br />

<strong>de</strong> colonização e <strong>de</strong> ocupação, o povo <strong>de</strong><br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> manteve um <strong>de</strong>sejo insaciável<br />

<strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>. Este tipo <strong>de</strong> coragem e <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>terminação ser-lhe-á útil nos próximos<br />

anos à medida que <strong>de</strong>frontarem os principais<br />

<strong>de</strong>safios <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano.<br />

• Saú<strong>de</strong>—Os indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> são baixos:<br />

a esperança <strong>de</strong> vida à nascença é apenas<br />

<strong>de</strong> 57 anos. Muitas pessoas morrem <strong>de</strong><br />

<strong>do</strong>enças que po<strong>de</strong>m ser prevenidas como<br />

malária, infecções <strong>do</strong> tracto respiratório e<br />

diarreia. A mortalida<strong>de</strong> materna é elevada:<br />

morrem cerca <strong>de</strong> 420 mulheres por cada<br />

100.000 na<strong>do</strong>s vivos.<br />

• Educação—<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> também tem<br />

um longo caminho a percorrer no que toca<br />

à educação. Mais <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> da população<br />

é analfabeta.<br />

• Segurança alimentar—Três quartos da população<br />

vive nas áreas rurais, on<strong>de</strong> a maioria<br />

das famílias pratica agricultura <strong>de</strong> subsistência.<br />

A sua produtivida<strong>de</strong> é baixa e durante<br />

décadas <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> teve <strong>de</strong> importar<br />

alimentos básicos. Cerca <strong>de</strong> 45% das crianças<br />

com menos <strong>de</strong> 5 anos tem um peso<br />

inferior ao que <strong>de</strong>veriam ter.<br />

• Pobreza <strong>de</strong> rendimento—Cerca <strong>de</strong> 41% da<br />

população vive em situação <strong>de</strong> pobreza <strong>de</strong><br />

rendimento, dispon<strong>do</strong> <strong>de</strong> menos <strong>do</strong> que a<br />

linha nacional <strong>de</strong> pobreza <strong>de</strong> $0.55 por pessoa<br />

por dia. Nas zonas rurais há uma percentagem<br />

<strong>de</strong> pobres ainda maior <strong>do</strong> que<br />

nos centros urbanos—46% contra 26%.<br />

Destes, os grupos mais pobres estão entre<br />

as famílias que têm muitas crianças<br />

pequenas, parcelas <strong>de</strong> terra diminutas e pouco<br />

ga<strong>do</strong> e naquelas que vivem em áreas que<br />

SUMÁRIO EXECUTIVO<br />

estão sujeitas a inundações e a erosão <strong>do</strong><br />

solo.<br />

• Mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> vida sustentáveis—Com a população<br />

a crescer a um ritmo <strong>de</strong> 2.5% ao ano,<br />

cerca <strong>de</strong> 20.000 jovens integrarão anualmente<br />

a força <strong>de</strong> trabalho. Muitos <strong>de</strong>les procurarão<br />

a sua subsistência na agricultura e, em<br />

geral, na ‘economia informal’.<br />

• Género—A pobreza afecta particularmente<br />

as mulheres, as quais carregam o far<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> impacto <strong>de</strong> águas poluídas e <strong>de</strong> más<br />

condições sanitárias e que têm <strong>de</strong> passar largos<br />

perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> tempo cuidan<strong>do</strong> das crianças<br />

<strong>do</strong>entes e <strong>de</strong> outros membros da família.<br />

As mulheres também têm menos<br />

po<strong>de</strong>r; e a violência baseada no género é<br />

uma questão grave e pouco <strong>do</strong>cumentada.<br />

• Recursos naturais—a maioria <strong>do</strong> terreno<br />

é inclinada, com uma pequena camada <strong>de</strong><br />

solo, muita da qual é arrastada em inundações<br />

que surgem rapidamente. Dois <strong>do</strong>s<br />

recursos naturais mais valiosos são o petróleo<br />

e o gás <strong>do</strong> Mar <strong>de</strong> <strong>Timor</strong>.<br />

• Segurança Humana—comparan<strong>do</strong> com<br />

os anos <strong>de</strong> administração in<strong>do</strong>nésia e o perío<strong>do</strong><br />

traumático que se seguiu ao referen<strong>do</strong>,<br />

a maioria das pessoas sente-se mais segura<br />

e a taxa <strong>de</strong> criminalida<strong>de</strong> é baixa. Num<br />

inquérito às famílias 43% <strong>do</strong>s inquiri<strong>do</strong>s relataram<br />

uma maior segurança como a mais<br />

importante melhoria relativamente ao perío<strong>do</strong><br />

anterior à violência.<br />

• Liberda<strong>de</strong> e participação—No dia 30 <strong>de</strong><br />

Agosto <strong>de</strong> 2001 um número notável <strong>de</strong><br />

91% <strong>do</strong> eleitora<strong>do</strong> votou para eleger uma<br />

Assembleia Constituinte, <strong>do</strong>s quais 27% <strong>do</strong>s<br />

membros eram mulheres. A eleição presi<strong>de</strong>ncial<br />

<strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> <strong>2002</strong> também teve um<br />

resulta<strong>do</strong> notável—mais <strong>de</strong> 86% <strong>do</strong>s eleitores<br />

votaram efectivamente.<br />

O povo <strong>de</strong> <strong>Timor</strong><br />

tem um <strong>de</strong>sejo<br />

insaciável <strong>de</strong><br />

liberda<strong>de</strong><br />

1


2<br />

Qualquer<br />

fraqueza nos<br />

serviços<br />

presta<strong>do</strong>s<br />

pelo governo<br />

será um sério<br />

obstáculo ao<br />

<strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano<br />

O Índice <strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong><br />

<strong>Humano</strong><br />

O Índice <strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong> <strong>Humano</strong> <strong>do</strong><br />

PNUD (IDH) combina indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong><br />

esperança <strong>de</strong> vida à nascença, conhecimento<br />

e nível <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong> forma a produzir um<br />

só índice geral. Para <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>, em 1999,<br />

o valor era <strong>de</strong> 0,395 e em 2001 era <strong>de</strong> 0,421,<br />

o que significa uma ligeira melhoria. O valor<br />

<strong>de</strong> 1999, ano para o qual foi calcula<strong>do</strong><br />

o último IDH a nível mundial, é o mais<br />

baixo da Ásia e é idêntico ao valor verifica<strong>do</strong><br />

no Esta<strong>do</strong> centro-africano <strong>do</strong> Ruanda,<br />

que nesse ano foi classifica<strong>do</strong> em 152º lugar<br />

num total <strong>de</strong> 162 países para os quais o<br />

IDH foi calcula<strong>do</strong>.<br />

Dos indica<strong>do</strong>res parciais que compõem<br />

o IDH, <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> tem um <strong>de</strong>sempenho<br />

mo<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> na esperança <strong>de</strong> vida à nascença:<br />

com 57 anos, ela é comparável à <strong>do</strong><br />

Camboja e <strong>do</strong> Myanmar (56 anos), mas é<br />

muito inferior à verificada noutros países<br />

da ASEAN, como a In<strong>do</strong>nésia (65) e o<br />

Vietname (68). O pior <strong>de</strong>sempenho nos<br />

indica<strong>do</strong>res parciais <strong>do</strong> IDH é no rendimento<br />

per capita—que em alguns aspectos<br />

reflecte o colapso <strong>de</strong> 1999. De facto, o rendimento<br />

per capita estima<strong>do</strong>, para <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong>, <strong>de</strong> $337 para o ano <strong>de</strong> 1999 colocálo-ia<br />

no último lugar <strong>do</strong> ranking <strong>do</strong> PIB<br />

<strong>de</strong>stes 162 países.<br />

O IDH não toma em conta as diferenças<br />

entre regiões <strong>do</strong> país ou entre grupos<br />

sociais. Apesar <strong>de</strong>, em princípio, o IDH<br />

po<strong>de</strong>r ser calcula<strong>do</strong> por regiões e por distritos,<br />

actualmente não é possível calculá-lo<br />

<strong>de</strong>sta forma para os 13 distritos <strong>de</strong> <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> uma vez que não existem da<strong>do</strong>s suficientes.<br />

No entanto, as informações <strong>do</strong> perío<strong>do</strong><br />

in<strong>do</strong>nésio indicam que o IDH era<br />

mais eleva<strong>do</strong> em Dili e mais baixo em<br />

Manufahi.<br />

Uma das mais importantes diferenças<br />

nas realizações em termos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano é a verificada entre homens<br />

e mulheres. Para po<strong>de</strong>r avaliar este item o<br />

PNUD <strong>de</strong>senvolveu um índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

ajusta<strong>do</strong> ao género (GDI).<br />

Quanto maior for o grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>,<br />

mais o valor <strong>do</strong> GDI ficará abaixo <strong>do</strong> IDH.<br />

Em 2001 <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> apresentou um GDI<br />

<strong>de</strong> 0,347—12% inferior ao valor verifica<strong>do</strong><br />

no IDH, compara<strong>do</strong> com 1% <strong>de</strong> diferença<br />

para a In<strong>do</strong>nésia e para o Camboja,<br />

por exemplo. A diferença no GDI é em<br />

larga medida resultante da diferença <strong>de</strong> salários<br />

entre os homens e as mulheres.<br />

O índice <strong>de</strong> pobreza humana<br />

A pobreza é normalmente avaliada simplesmente<br />

em termos <strong>de</strong> uma falta <strong>de</strong> rendimento.<br />

No entanto, as pessoas po<strong>de</strong>m ser<br />

pobres <strong>de</strong> muitas formas, para além <strong>de</strong> uma<br />

escassez <strong>de</strong> rendimento. Po<strong>de</strong>m ter uma<br />

saú<strong>de</strong> pobre, por exemplo, ou po<strong>de</strong>m não<br />

ter acesso à educação ou poucas oportunida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> terem um emprego produtivo.<br />

Para po<strong>de</strong>r tomar estes factos em consi<strong>de</strong>ração,<br />

o PNUD <strong>de</strong>finiu um ‘Índice <strong>de</strong> Pobreza<br />

Humana’ (IPH). O IPH combina<br />

medidas <strong>de</strong> longevida<strong>de</strong>, conhecimento e<br />

capacida<strong>de</strong> económica em geral, <strong>de</strong>finin<strong>do</strong><br />

uma pontuação global entre 0 e 100: uma<br />

pontuação mais elevada significa neste caso,<br />

um nível mais alto <strong>de</strong> pobreza humana. O<br />

IPH <strong>de</strong> 1999 para <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> foi <strong>de</strong> 46, e<br />

em 2001 foi <strong>de</strong> 49.<br />

O <strong>Relatório</strong> global <strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong><br />

<strong>Humano</strong> <strong>de</strong> 2001 contém da<strong>do</strong>s suficientes<br />

para calcular o IPH para 90 países em<br />

<strong>de</strong>senvolvimento em 1999. Se <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

tivesse feito parte <strong>de</strong>sta lista , aumentan<strong>do</strong><br />

o total para 91, teria ocupa<strong>do</strong> a posição<br />

número 81. <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> tem a maior taxa<br />

<strong>de</strong> pobreza humana <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os países asiáticos<br />

para os quais o IPH po<strong>de</strong> ser calcula<strong>do</strong>.<br />

Objectivos para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

Estas medidas indicam o que é que <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> terá <strong>de</strong> caminhar ao longo das diversas<br />

dimensões <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano.<br />

Mas qual o ritmo a que o país <strong>de</strong>ve aspirar<br />

na prossecução <strong>de</strong>stas melhorias? Já<br />

existe alguma orientação sobre este assunto<br />

originada na Assembleia Geral da ONU,<br />

que <strong>de</strong>finiu uma série <strong>de</strong> objectivos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

a serem atingi<strong>do</strong>s no ano<br />

2015. Estes têm em conta muitos aspectos<br />

<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano—incluin<strong>do</strong><br />

alcançar 100% <strong>de</strong> frequência da escola primária,<br />

reduzir a mortalida<strong>de</strong> infantil em<br />

2/3 <strong>do</strong> nível <strong>de</strong> 1990 e reduzir a mortalida<strong>de</strong><br />

materna em 3/4 <strong>do</strong> nível <strong>de</strong> 1990.<br />

Uma forma <strong>de</strong> calcular quanto <strong>de</strong>morará<br />

até que <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> atinja estes alvos seria<br />

assumir a mesma taxa <strong>de</strong> progresso <strong>do</strong>s<br />

últimos anos. Aceitan<strong>do</strong> este pressuposto,<br />

há boas notícias: para a taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong><br />

infantil, por exemplo, <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> <strong>de</strong>verá<br />

atingir o objectivo <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> em 2011.<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


Construin<strong>do</strong> uma administração<br />

pública eficaz<br />

Nos primeiros anos <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência o<br />

povo <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá bastante<br />

da competência e da capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s serviços<br />

governamentais. Qualquer fraqueza ou<br />

falha <strong>de</strong>stes serviços será um obstáculo sério<br />

ao progresso <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano.<br />

Apesar <strong>de</strong> em muitos aspectos <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> estar a construir uma administração<br />

pública <strong>de</strong> raiz, também herdará algumas<br />

estruturas e ética <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> colonial. A<br />

estrutura in<strong>do</strong>nésia era autocrática. Isto po<strong>de</strong>rá<br />

ter acelera<strong>do</strong> o fornecimento <strong>de</strong> alguns<br />

serviços mas, da perspectiva <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano, criou uma Função<br />

Pública com fraquezas graves—estas incluem<br />

o excesso <strong>de</strong> pessoal, uma forma complexa<br />

<strong>de</strong> administração e uma cultura <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>pendência que <strong>de</strong>ixou as pessoas com<br />

pouca confiança para fazer mais <strong>do</strong> que ‘esperar<br />

por or<strong>de</strong>ns’ das chefias. Esta estrutura<br />

também eliminou muitas possibilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> participação pública, enquanto incentivava<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento da corrupção a<br />

to<strong>do</strong>s os níveis. O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> serviço<br />

público em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> enfrentará algumas<br />

questões cruciais. Estas incluem:<br />

• Pessoal—O novo governo enfrentará<br />

pressões no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> aumentar o número<br />

<strong>de</strong> funcionários públicos <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a criar<br />

mais emprego e oferecer mais serviços.<br />

Dada a escassez <strong>de</strong> recursos, contu<strong>do</strong>, não<br />

será possível expandir os serviços <strong>de</strong>sta<br />

forma; por isso é vital que os funcionários<br />

públicos trabalhem eficientemente, diminuin<strong>do</strong><br />

o absentismo, estabelecen<strong>do</strong> melhores<br />

sistemas <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação entre <strong>de</strong>partamentos<br />

governamentais, agências <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

e ONGs—e assegurar o fornecimento<br />

<strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> uma forma eficiente<br />

em termos <strong>de</strong> custos e utilizan<strong>do</strong> o<br />

mínimo <strong>de</strong> recursos. O governo também<br />

necessitará <strong>de</strong> pagar salários a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s para<br />

atrair o pessoal mais qualifica<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong>, muitos <strong>do</strong>s quais po<strong>de</strong>rão também<br />

querer trabalhar para as ONGs, as agências<br />

da ONU ou para projectos internacionais<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. Nos próximos anos,<br />

no entanto, o serviço público terá também<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> algum pessoal internacional,<br />

que trabalhará com o pessoal local.<br />

• Ética <strong>de</strong> trabalho e competência—A administração<br />

in<strong>do</strong>nésia não encorajou uma éti-<br />

SUMÁRIO EXECUTIVO<br />

ca <strong>de</strong> trabalho forte. O pessoal trabalhava<br />

poucas horas e não tinha muitas responsabilida<strong>de</strong>s.<br />

A nova administração pública<br />

necessitará <strong>de</strong> atingir e <strong>de</strong> reforçar uma semana<br />

<strong>de</strong> trabalho produtiva. A competência<br />

<strong>do</strong> pessoal e o seu <strong>de</strong>sempenho po<strong>de</strong>m<br />

ser melhora<strong>do</strong>s através <strong>de</strong> treino e <strong>de</strong> motivação,<br />

que encorajam as pessoas a terem<br />

mais iniciativa.<br />

• Língua—Os timorenses falam mais <strong>de</strong><br />

30 línguas ou dialectos. O Inquérito às Famílias<br />

<strong>de</strong> 2001 concluiu que 82% da população<br />

fala Tetum, enquanto que 42% sabe<br />

falar In<strong>do</strong>nésio. Somente 5% fala Português,<br />

enquanto que 2% fala Inglês. A Constituição<br />

<strong>de</strong>clara que as línguas oficiais são o<br />

Tetum e o Português, enquanto que as línguas<br />

<strong>de</strong> trabalho adicionais serão o<br />

In<strong>do</strong>nésio e o Inglês. Este ambiente <strong>de</strong> utilização<br />

<strong>de</strong> quatro línguas apresenta um <strong>de</strong>safio<br />

muito dispendioso. A Comissão <strong>de</strong><br />

Planeamento estima que cerca <strong>de</strong> 2.000 funcionários<br />

superiores da administração pública<br />

necessitarão <strong>de</strong> formação em Português,<br />

400 em Tetum, e cerca <strong>de</strong> 150 em<br />

In<strong>do</strong>nésio. Para além disto, o governo necessitará<br />

<strong>de</strong> um pequeno grupo <strong>de</strong> falantes<br />

<strong>de</strong> Inglês para comunicar com outros países<br />

da região e com a indústria internacional<br />

<strong>do</strong> petróleo. Adicionalmente, muitos<br />

outros funcionários públicos, incluin<strong>do</strong> professores,<br />

trabalha<strong>do</strong>res da saú<strong>de</strong> e pessoal<br />

<strong>do</strong> sistema judiciário precisarão <strong>de</strong> formação<br />

em línguas. Outro processo dispendioso<br />

será a tradução <strong>de</strong> <strong>do</strong>cumentos oficiais.<br />

Governo local<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> está dividi<strong>do</strong> em 13 distritos e<br />

em 65 sub-distritos basea<strong>do</strong>s nas divisões<br />

herdadas das administrações portuguesa e<br />

in<strong>do</strong>nésia. A Constituição estabelece a<br />

importância da <strong>de</strong>scentralização, mas pelo<br />

menos durante os próximos anos, <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> achará difícil <strong>de</strong>volver muita da autorida<strong>de</strong><br />

central às regiões; por isso a<br />

<strong>de</strong>scentralização ten<strong>de</strong>rá a tomar a forma<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconcentração à medida que <strong>de</strong>partamentos<br />

centrais—como a educação, a saú<strong>de</strong>,<br />

a agricultura, a habitação, a água e os<br />

cuida<strong>do</strong>s sanitários—estabeleçam escritórios<br />

regionais para fornecer os serviços<br />

básicos locais.<br />

Um grupo <strong>de</strong> trabalho que estu<strong>do</strong>u o<br />

regime <strong>de</strong> governo local propôs três regiões<br />

principais—oriental, oci<strong>de</strong>ntal e sul, dan<strong>do</strong><br />

um estatuto especial a Dili e ao enclave<br />

O ambiente <strong>de</strong><br />

utilização <strong>de</strong><br />

quatro línguas<br />

será dispendioso<br />

3


As organizações<br />

da socieda<strong>de</strong><br />

civil precisarão<br />

<strong>de</strong> canais fortes<br />

e abertos <strong>de</strong><br />

comunicação<br />

4<br />

<strong>de</strong> Oécussi. Sob este sistema, cada região<br />

teria o seu Director-Geral, que trabalharia<br />

com um grupo especial <strong>de</strong> pessoas para<br />

coor<strong>de</strong>nar to<strong>do</strong>s os grupos que <strong>de</strong>têm responsabilida<strong>de</strong>s<br />

locais.<br />

Prevenin<strong>do</strong> a corrupção<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> terá <strong>de</strong> lidar com a questão<br />

inevitável da corrupção. Este é em larga<br />

medida um lega<strong>do</strong> da administração<br />

in<strong>do</strong>nésia mas também po<strong>de</strong> surgir se existirem<br />

largas discrepâncias entre salários no<br />

sector público e no sector priva<strong>do</strong> e se o<br />

governo falhar no seu funcionamento <strong>de</strong><br />

uma forma equitativa para os grupos sociais<br />

e na prestação <strong>de</strong> contas à socieda<strong>de</strong> . O<br />

governo po<strong>de</strong> prevenir a corrupção se<br />

construir estruturas administrativas sólidas,<br />

com procedimentos simples e linhas claras<br />

<strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> contas.<br />

No entanto também necessita <strong>de</strong> mecanismos<br />

para afastar políticos e funcionários<br />

públicos corruptos.<br />

A experiência <strong>de</strong> outros países sugere<br />

que a melhor aproximação é estabelecer<br />

uma agência anti-corrupção in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte.<br />

A Constituição prevê duas instituições <strong>de</strong><br />

vigilância: o Gabinete <strong>do</strong> Inspector Geral e<br />

um Supremo Tribunal Administrativo, <strong>de</strong><br />

Impostos e <strong>de</strong> Contas. Contu<strong>do</strong> estas estruturas<br />

só funcionarão apropriadamente se<br />

lhes forem concedi<strong>do</strong>s po<strong>de</strong>res suficientes<br />

e se contarem com o apoio sóli<strong>do</strong> <strong>do</strong>s lí<strong>de</strong>res<br />

políticos.<br />

O sistema judicial<br />

O governo in<strong>do</strong>nésio subornou o sistema<br />

legal e corrompeu os tribunais e to<strong>do</strong> o sistema<br />

judicial, ten<strong>do</strong> como resulta<strong>do</strong> que os<br />

timorenses tinham pouca confiança nas instituições<br />

legais. Em 1999 os tribunais foram<br />

<strong>de</strong>struí<strong>do</strong>s, assim como muita da<br />

infraestrutura legal e arquivos.<br />

Se se preten<strong>de</strong> que o povo <strong>de</strong> <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> tenha acesso aos tribunais e que as<br />

empresas acreditem que os contratos serão<br />

respeita<strong>do</strong>s, os sistemas <strong>de</strong> responsabilização<br />

civil e criminal terão <strong>de</strong> ser<br />

restrutura<strong>do</strong>s <strong>de</strong> forma a simplificar os procedimentos<br />

<strong>de</strong> acesso à justiça.<br />

Mas o governo também <strong>de</strong>verá assegurar<br />

a existência <strong>de</strong> suficiente pessoal qualifica<strong>do</strong>—em<br />

particular <strong>de</strong> juízes, advoga<strong>do</strong>s<br />

e promotores públicos—investin<strong>do</strong> simultaneamente<br />

na gestão e administração <strong>do</strong>s<br />

tribunais <strong>de</strong> forma a que estes possam pro-<br />

ver justiça eficientemente, num complexo<br />

ambiente multilingue.<br />

Novos papéis para a socieda<strong>de</strong> civil<br />

A in<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> é o culminar<br />

<strong>de</strong> uma longa luta contra o<br />

colonialismo por muitos grupos da socieda<strong>de</strong><br />

civil—organizações da comunida<strong>de</strong>,<br />

grupos religiosos, estudantes e outros. O<br />

governo in<strong>do</strong>nésio mostrou-se relutante em<br />

autorizar o crescimento <strong>de</strong> organizações<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />

No entanto, algumas conseguiram sobreviver,<br />

estan<strong>do</strong> algumas das mais eficientes<br />

ligadas à Igreja Católica. Movimentos<br />

<strong>de</strong> jovens e <strong>de</strong> estudantes também se mostraram<br />

muito activos—muitas vezes corren<strong>do</strong><br />

um gran<strong>de</strong> risco pessoal.<br />

Um <strong>de</strong>senvolvimento importante ocorri<strong>do</strong><br />

em 1998 foi a criação <strong>do</strong> Fórum das<br />

ONGs em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>, que se tornou <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

então o principal órgão <strong>de</strong> cúpula das<br />

ONGs—com 77 membros nacionais e 33<br />

membros internacionais.<br />

Construir novas relações<br />

Na era <strong>de</strong>mocrática todas as organizações<br />

da socieda<strong>de</strong> civil (OSC) terão <strong>de</strong> se adaptar<br />

às novas e diferentes circunstâncias e<br />

construir novas relações—com o Esta<strong>do</strong>,<br />

com as outras organizações semelhantes e<br />

com organizações internacionais.<br />

• Com o Esta<strong>do</strong>—As organizações da socieda<strong>de</strong><br />

civil <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> terão <strong>de</strong> lidar<br />

não só com o nível essencialmente político<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> mas também com a Administração<br />

Pública e a justiça. Neste novo ambiente<br />

as OSC também terão <strong>de</strong> reorientar<br />

a sua perspectiva: da política e da táctica <strong>de</strong><br />

oposição para a da parceria construtiva. Mas<br />

também o governo terá <strong>de</strong> trabalhar nesta<br />

relação potencialmente difícil. Deverá reconhecer<br />

que as organizações da socieda<strong>de</strong><br />

civil <strong>de</strong>sempenharam um papel vital na luta<br />

pela in<strong>de</strong>pendência. Agora terá <strong>de</strong> encontrar<br />

forma <strong>de</strong> manter a sua energia e o seu<br />

compromisso na luta pela construção <strong>de</strong><br />

uma nação nova.<br />

• No seio da socieda<strong>de</strong> civil—As OSCs necessitarão<br />

também <strong>de</strong> trabalhar <strong>de</strong> perto<br />

umas com as outras. Muitos <strong>do</strong>s obstáculos<br />

e armadilhas potenciais po<strong>de</strong>m ser evita<strong>do</strong>s<br />

asseguran<strong>do</strong> canais abertos e sóli<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong> comunicação no interior e entre organizações.<br />

Mas as OCSs também têm a neces-<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


sida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicar <strong>de</strong> perto com as comunida<strong>de</strong>s<br />

para cuja ajuda existem.<br />

• Com as organizações internacionais— Muitos<br />

<strong>do</strong>a<strong>do</strong>res oficiais preferem agora canalizar<br />

pelo menos alguns <strong>do</strong>s seus fun<strong>do</strong>s<br />

directa ou indirectamente para as ONGs.<br />

Isto significa que estas se encontrarão a lidar<br />

com uma série <strong>de</strong> agências diferentes e<br />

terão <strong>de</strong> se familiarizar com a forma como<br />

estas trabalham.<br />

Papéis múltiplos<br />

As organizações da socieda<strong>de</strong> civil em<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> estarão a actuar em diferentes<br />

frentes<br />

• Arquitectos <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento—Muitas<br />

ONGs e OBCs preten<strong>de</strong>m trabalhar numa<br />

parceria construtiva com o governo. Mas a<br />

forma como po<strong>de</strong>m ajudar a <strong>de</strong>senvolver<br />

as políticas públicas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá da sua capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> inovar e <strong>de</strong> apresentar pontos<br />

<strong>de</strong> vista alternativos.<br />

• Advocacia—Muitos grupos vêem como<br />

sua tarefa principal a <strong>de</strong> influenciar as acções<br />

<strong>de</strong> outros. Dadas as diferentes capacida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>stes grupos e o facto <strong>de</strong> eles terem<br />

muitos interesses e objectivos em comum,<br />

faz senti<strong>do</strong>, muitas vezes, que unam os seus<br />

recursos e actuem em conjunto.<br />

• Monitorização—A boa governação <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>,<br />

em to<strong>do</strong> o la<strong>do</strong>, <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong><br />

controlos e equilíbrios. Os grupos da socieda<strong>de</strong><br />

civil <strong>de</strong>sempenham um papel importante<br />

neste processo asseguran<strong>do</strong> que o<br />

governo, o sector priva<strong>do</strong> e as organizações<br />

internacionais mantêm padrões eleva<strong>do</strong>s<br />

na sua acção mas. Porém, só serão capazes<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhar este papel se eles próprios<br />

mantiverem estes padrões—actuan<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> uma forma transparente, com uma<br />

prestação <strong>de</strong> contas clara <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista<br />

financeiro e <strong>de</strong>mocrático.<br />

• Serviços—Para muitas ONGs a tarefa<br />

principal é fornecer serviços—por exemplo<br />

na saú<strong>de</strong>, na habitação e na educação—<br />

seja preenchen<strong>do</strong> lacunas <strong>de</strong>ixadas pelo<br />

governo seja complementan<strong>do</strong> estas, como<br />

no caso da educação não-formal.<br />

• Informação—As organizações da socieda<strong>de</strong><br />

civil <strong>de</strong>sempenham um papel importante<br />

no fornecimento <strong>de</strong> informação e <strong>de</strong> informação<br />

e no estímulo <strong>do</strong> <strong>de</strong>bate <strong>do</strong> <strong>de</strong>bate,<br />

ocupan<strong>do</strong> uma posição intermédia entre<br />

o governo e as comunida<strong>de</strong>s locais. Por<br />

um la<strong>do</strong> <strong>de</strong>vem pressionar o governo a<br />

SUMÁRIO EXECUTIVO<br />

tomar medidas sobre os assuntos pelos<br />

quais se interessam mas simultaneamente<br />

<strong>de</strong>vem também procurar maximizar a participação<br />

pública na construção e funcionamento<br />

da <strong>de</strong>mocracia.<br />

Todas as OSCs em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> necessitarão<br />

<strong>de</strong> reexaminar os seus papéis e responsabilida<strong>de</strong>s<br />

na era da <strong>de</strong>mocracia<br />

reavalian<strong>do</strong> as suas perspectivas e filosofias<br />

e asseguran<strong>do</strong> que terão algo <strong>de</strong> único a<br />

oferecer.<br />

O horizonte da educação<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> tem um importante <strong>de</strong>safio<br />

educacional pela frente—não só gerir o<br />

analfabetismo reinante mas também lidar<br />

com a multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> línguas. O governo<br />

in<strong>do</strong>nésio estava <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> a atingir<br />

a educação primária universal e em 1985<br />

quase todas as povoações tinham uma escola<br />

primária.<br />

Este processo <strong>de</strong> expansão fez com que<br />

muitas mais crianças se matriculassem mas<br />

teve duas falhas principais. A primeira era a<br />

baixa qualida<strong>de</strong>: o nível <strong>de</strong> ensino era pobre,<br />

as escolas tinham falta <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s, manuais<br />

e equipamento básico. A segunda falha<br />

foi a <strong>de</strong> que o governo <strong>de</strong> Jakarta tentou<br />

utilizar a educação para ‘in<strong>do</strong>nesiar’ o<br />

povo <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>—e recrutou pessoal<br />

em toda a In<strong>do</strong>nésia que pu<strong>de</strong>sse ensinar<br />

em In<strong>do</strong>nésio.<br />

Apesar <strong>de</strong> muitos timorenses se terem<br />

torna<strong>do</strong> professores, muitos <strong>de</strong>les não foram,<br />

nos seus estu<strong>do</strong>s, além <strong>do</strong> quarto ano.<br />

Como ganhavam muito pouco, tinham <strong>de</strong><br />

executar outros trabalhos para sobreviver.<br />

Em resulta<strong>do</strong> disto, os níveis <strong>de</strong> educação<br />

eram baixos e os professores estavam frequentemente<br />

ausentes. Esta situação, por<br />

outro la<strong>do</strong>, <strong>de</strong>sencorajava tanto pais como<br />

filhos: cerca <strong>de</strong> 30% das crianças nem sequer<br />

estavam matriculadas. As fraquezas da<br />

escola primária eram transportadas para a<br />

escola secundária. No último ano da administração<br />

in<strong>do</strong>nésia, as matrículas líquidas<br />

tinham alcança<strong>do</strong> apenas 36% no nível secundário<br />

mais baixo e 20% no nível secundário<br />

superior.<br />

Anteriormente alguns pais estavam relutantes<br />

em aceitar que os seus filhos fossem<br />

ensina<strong>do</strong>s por professores estrangeiros,<br />

numa língua estrangeira e muitos não<br />

podiam pagar as propinas. Agora estes<br />

obstáculos <strong>de</strong>sapareceram mas outros per-<br />

A boa<br />

governação<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>, em<br />

to<strong>do</strong> o la<strong>do</strong>, <strong>de</strong><br />

um sistema <strong>de</strong><br />

controlos e<br />

equilíbrios<br />

5


As crianças<br />

apren<strong>de</strong>m mais<br />

rapidamente se<br />

forem ensinadas<br />

inicialmente na<br />

sua língua<br />

materna<br />

6<br />

sistem. A questão mais importante é a pobreza.<br />

Apesar <strong>de</strong> não existirem <strong>de</strong>spesas <strong>de</strong><br />

matrícula, existem custos <strong>de</strong> mandar as crianças<br />

para a escola e muitas crianças passam<br />

pelo menos uma parte <strong>do</strong> seu tempo<br />

a trabalhar nos campos da família ou em<br />

tarefas <strong>do</strong>mésticas.<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> está actualmente a reconstruir<br />

o seu sistema educativo, mas enfrenta<br />

uma série <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios importantes. Estes são:<br />

• A língua—O governo <strong>de</strong>cidiu introduzir<br />

o Português progressivamente como a<br />

língua <strong>de</strong> ensino. Isto criou um problema<br />

imediato uma vez que poucos professores<br />

falam Português. Os professores e os<br />

administra<strong>do</strong>res escolares necessitam <strong>de</strong> ganhar<br />

rapidamente o <strong>do</strong>mínio <strong>de</strong>ste idioma.<br />

Nestas circunstâncias, o governo po<strong>de</strong>rá reconsi<strong>de</strong>rar<br />

a possibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> ensino na língua<br />

materna. As crianças apren<strong>de</strong>m mais<br />

rapidamente quan<strong>do</strong> são alfabetizadas na<br />

sua língua materna, adquirin<strong>do</strong> posteriormente<br />

uma língua ‘nacional’. Neste caso serão<br />

o Português ou o Tetum como segunda<br />

língua. E quan<strong>do</strong> as crianças apren<strong>de</strong>m<br />

sobre as suas lendas e a sua cultura na sua<br />

língua materna, recebem maior<br />

encorajamento e apoio por parte <strong>do</strong>s pais.<br />

• Professores —Existem duas questões<br />

quanto à profissão <strong>do</strong>cente. A primeira é a<br />

<strong>de</strong> aumentar o número <strong>de</strong> professores <strong>de</strong><br />

mo<strong>do</strong> a reduzir o rácio alunos/professor,<br />

que é actualmente <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 60 nas escolas<br />

primárias. A segunda priorida<strong>de</strong> é a <strong>de</strong><br />

melhorar as suas habilitações. Aqueles que<br />

estudam para se tornarem professores <strong>de</strong>vem<br />

ser convenientemente prepara<strong>do</strong>s. Não<br />

só precisam <strong>de</strong> se habituar a um novo currículo<br />

e a uma nova língua como também<br />

têm <strong>de</strong> ser encoraja<strong>do</strong>s e encorajar uma<br />

aprendizagem mais activa. Actualmente os<br />

professores ainda utilizam méto<strong>do</strong>s tradicionais<br />

que assentam na aprendizagem<br />

mecanicista, <strong>de</strong> repetição, em vez <strong>de</strong> incentivarem<br />

as crianças a adquirirem e a compreen<strong>de</strong>rem<br />

a informação por si próprias.<br />

• <strong>Desenvolvimento</strong> curricular—Até agora existiram<br />

poucos esforços no senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>do</strong>s currículos, em parte resulta<strong>do</strong><br />

das incertezas <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> transição.<br />

As disciplinas e conteú<strong>do</strong>s básicos <strong>do</strong><br />

currículo têm <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s através <strong>de</strong><br />

consultas alargadas entre professores, pais<br />

e crianças. A experiência e recursos internacionais<br />

também po<strong>de</strong>rão ajudar <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> a apren<strong>de</strong>r com as práticas <strong>de</strong> ensino<br />

<strong>de</strong> outras paragens e a atingir padrões <strong>de</strong><br />

qualida<strong>de</strong> aceitáveis internacionalmente.<br />

• Envolvimento da comunida<strong>de</strong>—O sistema<br />

in<strong>do</strong>nésio era extremamente centraliza<strong>do</strong>,<br />

oferecen<strong>do</strong> pouca margem para a iniciativa<br />

local quer <strong>de</strong> professores quer <strong>de</strong> pais,<br />

<strong>de</strong>sperdiçan<strong>do</strong> assim recursos potenciais <strong>de</strong><br />

envolvimento e trabalho. Se os professores,<br />

os pais e outros lí<strong>de</strong>res da comunida<strong>de</strong><br />

tomarem conjuntamente a responsabilida<strong>de</strong><br />

pela gestão das escolas são maiores as<br />

probabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> eles investirem mais tempo<br />

e energia nas escolas e terem um maior<br />

orgulho naquilo que eles e os seus filhos<br />

possam alcançar.<br />

• Formação técnica e profissional —O sistema<br />

in<strong>do</strong>nésio <strong>de</strong> formação profissional estava<br />

pouco relaciona<strong>do</strong> com as reais necessida<strong>de</strong>s<br />

<strong>do</strong> local <strong>de</strong> trabalho. Assim e conjuntamente<br />

com os emprega<strong>do</strong>res locais, o governo<br />

terá <strong>de</strong> restruturar o sistema <strong>de</strong> forma<br />

a treinar os jovens em competências que<br />

tenham uma procura real.<br />

• Educação terciária—A Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> po<strong>de</strong> ver-se a braços com<br />

muitos alunos pouco qualifica<strong>do</strong>s, concentra<strong>do</strong>s<br />

em cursos que oferecem poucas<br />

perspectivas <strong>de</strong> emprego. Deveria por isso<br />

reexaminar as suas priorida<strong>de</strong>s, procuran<strong>do</strong><br />

ser uma instituição mais pequena e com<br />

ênfase na qualida<strong>de</strong>. Nos próximos <strong>de</strong>z<br />

anos po<strong>de</strong>ria concentrar a maioria <strong>do</strong>s seus<br />

recursos na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong><br />

mo<strong>do</strong> a formar a próxima geração <strong>de</strong> professores<br />

<strong>do</strong> ensino secundário.<br />

Educação cívica<br />

Existe também a questão <strong>de</strong> saber qual o<br />

tipo <strong>de</strong> conhecimentos <strong>de</strong> que a população,<br />

como um to<strong>do</strong>, necessitará para manter o<br />

novo Esta<strong>do</strong>. Até ao momento, a educação<br />

cívica esteve compreensivelmente<br />

concentrada nos mecanismos <strong>de</strong> votação e<br />

nas eleições.<br />

Mas a filosofia <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano<br />

tem uma visão muito mais ampla e<br />

mais inclusiva da <strong>de</strong>mocracia, não só como<br />

um objectivo mas como um processo contínuo—como<br />

uma forma <strong>de</strong> viver. Com<br />

este propósito, a educação cívica <strong>de</strong>verá<br />

promover o conhecimento cívico, as capacida<strong>de</strong>s<br />

cívicas e também as virtu<strong>de</strong>s cívicas—os<br />

traços <strong>de</strong> carácter necessários para<br />

manter e acentuar a governação <strong>de</strong>mocrática<br />

e a cidadania.<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


Estas mesmas capacida<strong>de</strong>s são também<br />

a base <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> pacífica quer entre<br />

as comunida<strong>de</strong>s quer no seio das famílias,<br />

on<strong>de</strong> ainda existe muita violência dirigida<br />

contra as mulheres. Muitos outros aspectos<br />

po<strong>de</strong>m beneficiar da educação cívica. Uma<br />

priorida<strong>de</strong> seria educar as pessoas sobre os<br />

riscos <strong>do</strong> HIV/SIDA, sobre o qual a<br />

maioria sabe muito pouco. Em certa medida<br />

a educação cívica terá <strong>de</strong> começar com<br />

os professores, contan<strong>do</strong> com eles para a<br />

comunicação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias não só nas escolas<br />

mas também ao conjunto da comunida<strong>de</strong><br />

em que estão inseri<strong>do</strong>s.<br />

Crescimento económico para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano<br />

Progredir no <strong>de</strong>senvolvimento humano <strong>de</strong><br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> também significará iniciar um<br />

novo caminho económico, tornan<strong>do</strong> a agricultura<br />

mais produtiva e <strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong><br />

outras oportunida<strong>de</strong>s, incluin<strong>do</strong> o turismo<br />

e a produção <strong>de</strong> petróleo e <strong>de</strong> gás. Mas os<br />

planos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento económico terão<br />

<strong>de</strong> concentrar-se na obtenção <strong>de</strong> benefícios<br />

efectivos para a maioria da população<br />

<strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>.<br />

A <strong>de</strong>vastação <strong>de</strong> 1999, que causou enorme<br />

sofrimento humano, também <strong>de</strong>struiu<br />

profundamente a infraestrutura económica<br />

e social <strong>do</strong> país. A UNTAET e a Administração<br />

Transitória <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> ajudaram<br />

a repor a lei e a or<strong>de</strong>m. Isto e um apoio<br />

externo substancial ajudaram a estimular o<br />

ressurgimento económico nos últimos três<br />

anos. O crescimento projecta<strong>do</strong> para 2001/<br />

2 é <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 15%.<br />

O mais recente surto <strong>de</strong> crescimento<br />

surgiu em Dili como resulta<strong>do</strong> da construção<br />

<strong>de</strong> casas e <strong>do</strong>s fornecimentos ao pessoal<br />

internacional. Mas este foi um estímulo<br />

temporário que <strong>de</strong>saparecerá com a retirada<br />

<strong>do</strong> pessoal da ONU. Para <strong>2002</strong>/3 é<br />

provável que o crescimento diminua para<br />

zero.<br />

Posteriormente, uma forma mais equilibrada<br />

e sustentável <strong>de</strong> crescimento po<strong>de</strong>ria<br />

colocar o país numa senda <strong>de</strong> crescimento<br />

mais estável. Isto implicará um investimento<br />

substancial para melhorar as<br />

infraestruturas, criar capacida<strong>de</strong>s quer das<br />

instituições quer <strong>do</strong> sector público quer <strong>do</strong><br />

sector priva<strong>do</strong> e para manter um ambiente<br />

regula<strong>do</strong>r das activida<strong>de</strong>s claro e estável.<br />

Mas acima <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> será necessário um<br />

SUMÁRIO EXECUTIVO<br />

investimento consistente nas pessoas—na<br />

sua saú<strong>de</strong>, educação e capacida<strong>de</strong>s.<br />

<strong>Desenvolvimento</strong> rural<br />

No futuro previsível a agricultura continuará<br />

a empregar quase três-quartos da força<br />

<strong>de</strong> trabalho e por isso a questão central <strong>de</strong><br />

qualquer estratégia <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano<br />

será a <strong>de</strong> tornar a agricultura mais<br />

produtiva ajudan<strong>do</strong> os agricultores pobres<br />

a melhorar as culturas para alimentação ao<br />

mesmo tempo que <strong>de</strong>senvolvem também<br />

culturas <strong>de</strong> rendimento.<br />

Quaisquer planos para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

agrícola <strong>de</strong>vem ser encara<strong>do</strong>s como parte<br />

<strong>de</strong> uma estratégia global para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

rural—melhoran<strong>do</strong> as estradas,<br />

o fornecimento <strong>de</strong> água e das condições<br />

sanitárias e a oferta <strong>de</strong> micro-crédito. Isto<br />

também exigirá um novo tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento,<br />

comanda<strong>do</strong> pela procura local<br />

e basea<strong>do</strong> nas forças existentes no seio<br />

das comunida<strong>de</strong>s rurais e na sua capacitação<br />

para procurarem estratégias <strong>de</strong> vida que<br />

melhor se a<strong>de</strong>quem às suas próprias circunstâncias<br />

e capacida<strong>de</strong>s.<br />

A primeira priorida<strong>de</strong> <strong>de</strong>veria ser proporcionar<br />

às comunida<strong>de</strong>s mais pobres o<br />

assegurarem a sua segurança alimentar e aliviarem<br />

a pobreza rural—reduzin<strong>do</strong> a sua<br />

vulnerabilida<strong>de</strong> aos choques climáticos e<br />

económicos. Isto significa, por exemplo,<br />

canalizar mais assistência para os agricultores<br />

que vivem em zonas montanhosas, ajudan<strong>do</strong>-os<br />

a melhorarem as suas práticas <strong>de</strong><br />

cultivo, introduzin<strong>do</strong> sistemas <strong>de</strong> colheita<br />

naturalmente mais resistentes e diversifican<strong>do</strong><br />

a sua produção. Muito <strong>do</strong> acima referi<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> extensão que<br />

criarão capacida<strong>de</strong>s nas comunida<strong>de</strong>s locais<br />

para a produção <strong>de</strong> culturas alimentares e<br />

florestais e produção animal.<br />

Enquanto que a principal priorida<strong>de</strong> será<br />

assegurar a produção <strong>de</strong> produtos alimentares,<br />

também será importante maximizar<br />

o potencial <strong>de</strong> culturas que gerem rendimentos.<br />

Existe uma série <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s<br />

neste campo, que incluem a produção <strong>de</strong><br />

coco, cacau e caju, assim como baunilha.<br />

Mas a mais importante cultura <strong>de</strong> rendimento<br />

continua a ser o café, que é uma fonte<br />

essencial <strong>de</strong> rendimento e <strong>de</strong> divisas estrangeiras.<br />

Actualmente o preço mundial é muito<br />

baixo, mas <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> <strong>de</strong>veria, apesar<br />

disso, ser capaz <strong>de</strong> aumentar os seus rendimentos<br />

provenientes <strong>do</strong> café incentivan<strong>do</strong><br />

Quaisquer<br />

planos para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento<br />

agrícola <strong>de</strong>vem<br />

ser encara<strong>do</strong>s<br />

como parte <strong>de</strong><br />

uma estratégia<br />

global para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento<br />

rural<br />

7


O objectivo<br />

<strong>de</strong>verá ser<br />

promover o<br />

crescimento com<br />

equida<strong>de</strong><br />

8<br />

a qualida<strong>de</strong>, especialmente se isso tornar<br />

possível ao café <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> atingir a<br />

certificação internacional como produto<br />

orgânico.<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> também tem um gran<strong>de</strong><br />

potencial nas pescas. Cerca <strong>de</strong> 10.000 famílias<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m pelo menos parcialmente da<br />

pesca. Os rendimentos futuros po<strong>de</strong>m ser<br />

aumenta<strong>do</strong>s através <strong>do</strong> aumento <strong>do</strong> investimento<br />

na capacida<strong>de</strong> pesqueira nacional e<br />

através <strong>do</strong> licenciamento <strong>de</strong> barcos estrangeiros.<br />

O principal obstáculo é a falta <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> zonas <strong>de</strong> pesca com fronteiras<br />

internacionalmente reconhecidas. A estratégia<br />

da pesca <strong>de</strong>ve, no entanto, procurar a<br />

sustentabilida<strong>de</strong> e a protecção <strong>do</strong>s interesses<br />

das comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesca<strong>do</strong>res tradicionais.<br />

Estratégia económica<br />

O futuro <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá, em<br />

última análise, da criação <strong>de</strong> um sector priva<strong>do</strong><br />

próspero que possa gerar produção,<br />

poupanças, investimento priva<strong>do</strong> e comércio.<br />

As políticas públicas para os próximos<br />

anos <strong>de</strong>vem, por isso, apoiar um clima em<br />

que o sector priva<strong>do</strong> se possa expandir e<br />

florescer. De entre as medidas mais importantes<br />

estão:<br />

• Estabelecer regras claras—O governo <strong>de</strong>ve<br />

manter regras simples, transparentes e estáveis<br />

para as activida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> sector priva<strong>do</strong>.<br />

• Investir em capital humano—Em particular<br />

na saú<strong>de</strong> e educação, para assegurar que<br />

os pobres po<strong>de</strong>m tirar parti<strong>do</strong> <strong>de</strong>stas novas<br />

oportunida<strong>de</strong>s.<br />

• Criar um sistema legal sóli<strong>do</strong>—significará<br />

lidar com assuntos tão difíceis como as reclamações<br />

sobre a terra e os direitos <strong>de</strong><br />

proprieda<strong>de</strong>, criar um sistema judicial forte<br />

e manter a lei e a or<strong>de</strong>m.<br />

• Promover a estabilida<strong>de</strong> macroeconómica—<br />

Desenvolven<strong>do</strong> políticas fiscais, monetárias,<br />

comerciais e <strong>de</strong> investimento que permitam<br />

que os recursos sejam afecta<strong>do</strong>s eficientemente.<br />

• Infraestrutura—Assegurar fornecimentos<br />

<strong>de</strong> água e <strong>de</strong> electricida<strong>de</strong> fiáveis, estradas<br />

a<strong>de</strong>quadas e portos e aeroportos eficientes.<br />

Um <strong>do</strong>s perigos <strong>de</strong> promover um crescimento<br />

rápi<strong>do</strong> basea<strong>do</strong> no merca<strong>do</strong> é o <strong>de</strong><br />

aumentar as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s—particularmente<br />

entre as zonas rurais e urbanas. Alguns<br />

<strong>de</strong>stes enviesamentos surgem no quadro <strong>do</strong><br />

funcionamento <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> livre mas as<br />

políticas governamentais também correm<br />

o risco <strong>de</strong> acentuar estas tendências através<br />

<strong>do</strong> sistema fiscal ou oferecen<strong>do</strong> subsídios<br />

que na prática só são acessíveis aos agricultores<br />

mais prósperos. O objectivo <strong>de</strong>verá<br />

ser, portanto, promover o crescimento com<br />

equida<strong>de</strong>, crian<strong>do</strong> oportunida<strong>de</strong>s para o<br />

sector priva<strong>do</strong> ao mesmo tempo que se<br />

protegem os interesses <strong>do</strong>s pobres.<br />

Isto sublinha a importância não só <strong>do</strong><br />

estímulo à agricultura mas também <strong>de</strong> assegurar<br />

o tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento equilibra<strong>do</strong><br />

que permita que os benefícios se disseminem<br />

pelo país. O <strong>de</strong>senvolvimento da<br />

infraestrutura rural será crítico neste aspecto—em<br />

especial estradas confiáveis e sistemas<br />

<strong>de</strong> comunicação que permitam que os<br />

merca<strong>do</strong>s rurais funcionem eficientemente<br />

e que melhorem os preços que os produtores<br />

mais pobres recebem pela sua produção.<br />

Ao mesmo tempo, <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> <strong>de</strong>verá<br />

<strong>de</strong>senvolver um sistema financeiro rural,<br />

incluin<strong>do</strong> esquemas <strong>de</strong> micro-crédito, em<br />

especial para as mulheres e outros grupos<br />

que po<strong>de</strong>rão estar afasta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> merca<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> trabalho formal. Melhorar a<br />

infraestrutura rural também <strong>de</strong>verá estimular<br />

outras activida<strong>de</strong>s rurais não-agrícolas—<br />

incluin<strong>do</strong> a indústria pouco especializada,<br />

mão-<strong>de</strong>-obra intensiva, e outros serviços<br />

com ela relaciona<strong>do</strong>s. Neste caso o objectivo<br />

seria o <strong>de</strong> estimular os rendimentos das<br />

famílias rurais, particularmente durante os<br />

perío<strong>do</strong>s sazonais <strong>de</strong> menos trabalho<br />

agrícola.<br />

Indústria ligeira<br />

Em 2000, a indústria representava somente<br />

3,5% <strong>do</strong> PIB, sen<strong>do</strong> a maior parte constituída<br />

por activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pequena escala. As<br />

empresas que empregavam a maior parte<br />

da mão-<strong>de</strong>-obra neste sector estavam envolvidas<br />

na tecelagem <strong>do</strong>s panos tradicionais<br />

(tais) e na indústria <strong>de</strong> mobiliário. O<br />

potencial imediato para a indústria é limita<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à escassez <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra qualificada<br />

em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>, aos custos <strong>de</strong> vida<br />

e aos salários relativamente eleva<strong>do</strong>s e aos<br />

meios <strong>de</strong> transporte pobres. As melhores<br />

opções parecem surgir através <strong>do</strong> investimento<br />

estrangeiro em têxteis e calça<strong>do</strong>.<br />

Turismo<br />

Durante o perío<strong>do</strong> in<strong>do</strong>nésio os turistas<br />

eram <strong>de</strong>sencoraja<strong>do</strong>s a visitar <strong>Timor</strong> <strong>de</strong>vi-<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


<strong>do</strong> à violência e à incerteza política. Porém,<br />

e no futuro, po<strong>de</strong>rão chegar mais uma vez<br />

que o país tem muitas atracções. Mas mesmo<br />

num clima mais pacífico ainda persistem<br />

muitos obstáculos a uma indústria turística<br />

forte, incluin<strong>do</strong> a escassez <strong>de</strong> alojamento<br />

a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>, a falta <strong>de</strong> pessoal qualifica<strong>do</strong><br />

para operar as instalações turísticas e<br />

também as <strong>de</strong>ficiências gerais no <strong>do</strong>mínio<br />

das infraestruturas, incluin<strong>do</strong> as ligações aéreas<br />

internacionais.<br />

Enquanto que a falta <strong>de</strong> experiência no<br />

turismo po<strong>de</strong> ser encarada como uma <strong>de</strong>svantagem,<br />

também po<strong>de</strong> ser uma oportunida<strong>de</strong>.<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> po<strong>de</strong> evitar muitas das<br />

armadilhas sociais e ambientais da rápida<br />

expansão <strong>do</strong> turismo. Uma opção seria capitalizar<br />

o carácter inexplora<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> concentran<strong>do</strong> a atenção no eco-turismo.<br />

Expandir a indústria turística exigirá,<br />

no entanto, um envolvimento comunitário<br />

forte para assegurar que o povo <strong>de</strong> <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> seja parceiro e beneficiário <strong>do</strong> processo.<br />

Petróleo e gás<br />

Um <strong>do</strong>s maiores <strong>de</strong>terminantes <strong>do</strong> futuro<br />

económico <strong>do</strong> país será a forma como utilizar<br />

as receitas <strong>do</strong> petróleo e <strong>do</strong> gás. Quan<strong>do</strong><br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> votou a favor da in<strong>de</strong>pendência,<br />

a UNTAET e os lí<strong>de</strong>res timorenses<br />

renegociaram com a Austrália o trata<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

exploração das reservas <strong>do</strong> Mar <strong>de</strong> <strong>Timor</strong>.<br />

Este acor<strong>do</strong> é muito mais favorável que o<br />

anterior, uma vez que <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> reterá<br />

agora 90% das receitas fiscais da produção<br />

da Área <strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong> Conjunta <strong>de</strong><br />

Petróleo. Ao longo das duas décadas posteriores<br />

a 2004, espera-se que as receitas <strong>do</strong><br />

gás e <strong>do</strong> petróleo atinjam cerca <strong>de</strong> 7 biliões<br />

<strong>de</strong> USD. A perspectiva mais comum é a <strong>de</strong><br />

que o país não <strong>de</strong>verá utilizar todas as<br />

receitas para financiar activida<strong>de</strong>s correntes.<br />

Em vez disso, <strong>de</strong>ve guardar pelo menos<br />

meta<strong>de</strong> <strong>de</strong>stas receitas num fun<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

forma a preservar algum valor para a geração<br />

seguinte.<br />

Atrair investimento estrangeiro<br />

Dada a baixa taxa <strong>de</strong> poupança e o limita<strong>do</strong><br />

nível <strong>de</strong> experiência empresarial, muito<br />

<strong>do</strong> estímulo para o <strong>de</strong>senvolvimento económico<br />

e humano através <strong>do</strong> sector formal<br />

terá <strong>de</strong> ser basea<strong>do</strong> no investimento<br />

directo estrangeiro (IDE). O IDE po<strong>de</strong><br />

não só estimular a produtivida<strong>de</strong> mas tam-<br />

SUMÁRIO EXECUTIVO<br />

bém alargar as escolhas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano ao permitir que os timorenses<br />

adquiram formação e experiência trabalhan<strong>do</strong><br />

em empresas estrangeiras. No entanto,<br />

é crucial que <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> <strong>de</strong>senvolva políticas<br />

sobre o IDE através <strong>de</strong> consenso <strong>de</strong>mocrático.<br />

O investimento directo estrangeiro<br />

po<strong>de</strong>ria centrar-se em alguns sectores-chave.<br />

Um <strong>de</strong>les é a agricultura, que beneficiaria<br />

da participação estrangeira no<br />

processamento <strong>de</strong> café e <strong>de</strong> baunilha. Outro<br />

sector são as pescas, em particular se o governo<br />

emitir licenças <strong>de</strong> pesca sob a condição<br />

<strong>de</strong> que os beneficiários dêem formação<br />

aos timorenses ou criem joint-ventures<br />

com empresas locais. O turismo também<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá <strong>do</strong> investimento estrangeiro mas<br />

também <strong>de</strong>veria ser condiciona<strong>do</strong> à transferência<br />

<strong>de</strong> conhecimentos para o pessoal<br />

local. Para a indústria manufactureira os<br />

melhores pontos <strong>de</strong> partida são provavelmente<br />

o vestuário, os têxteis e o calça<strong>do</strong>.<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> enfrentará, no entanto, uma<br />

forte competição pelo IDE da parte <strong>de</strong><br />

outros países da região e para aumentar as<br />

suas probabilida<strong>de</strong>s terá <strong>de</strong> resolver algumas<br />

questões essenciais. Estas incluem:<br />

• Proprieda<strong>de</strong> da terra—Até ao presente<br />

não há qualquer mecanismo para registar<br />

os direitos à terra e os investi<strong>do</strong>res sabem<br />

que se arrendarem terrenos arriscam-se a<br />

entrar em conflitos e a ocupações ilegais.<br />

• Utilização <strong>do</strong> dólar americano—A<br />

<strong>do</strong>larização tem a <strong>de</strong>svantagem <strong>de</strong> que o<br />

país per<strong>de</strong> a opção <strong>de</strong> <strong>de</strong>svalorizar a moeda<br />

para alcançar vantagens comparativas.<br />

• Custos eleva<strong>do</strong>s—Os custos salariais em<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> são muito mais eleva<strong>do</strong>s que<br />

na In<strong>do</strong>nésia.<br />

• Questões laborais—As leis laborais não são<br />

claras acerca <strong>do</strong>s direitos e <strong>de</strong>veres <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res<br />

e não existem mecanismos<br />

eficazes para resolver as disputas laborais.<br />

• Incertezas legais—<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> não tem<br />

um quadro legal claro para a activida<strong>de</strong> económica.<br />

Isto aplica-se a muitas áreas<br />

cruciais, incluin<strong>do</strong> seguros, falência, planeamento<br />

urbano, trabalho e uso da terra, bem<br />

como ao direito comercial e aos códigos<br />

para a construção civil.<br />

Política fiscal<br />

Haverá três fontes principais <strong>de</strong> financiamento:<br />

impostos internos, financiamentos<br />

Expandir o<br />

turismo exige<br />

um forte<br />

envolvimento<br />

das<br />

comunida<strong>de</strong>s<br />

9


10<br />

<strong>do</strong>s <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res e receitas <strong>do</strong> Mar <strong>de</strong> <strong>Timor</strong>.<br />

Na frente interna, o governo terá <strong>de</strong> taxar a<br />

agricultura, apesar <strong>de</strong> ser importante não o<br />

fazer <strong>de</strong> forma muito pesada uma vez que<br />

isso po<strong>de</strong> sufocar o crescimento económico<br />

a longo prazo. O governo po<strong>de</strong> também<br />

explorar novas fontes <strong>de</strong> receita, incluin<strong>do</strong><br />

os impostos sobre jogo assim<br />

como vários impostos e taxas locais. Simultaneamente<br />

será importante aumentar a<br />

implementação das leis fiscais, em particular<br />

reduzin<strong>do</strong> o contraban<strong>do</strong> ao longo da<br />

fronteira com a In<strong>do</strong>nésia.<br />

Os fun<strong>do</strong>s da ajuda serão também<br />

cruciais mas <strong>de</strong>vem ser utiliza<strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>samente.<br />

Um ponto <strong>de</strong> preocupação será<br />

o <strong>de</strong> evitar contrair <strong>de</strong>masia<strong>do</strong>s empréstimos<br />

<strong>de</strong> agências multilaterais. Mesmo quan<strong>do</strong><br />

estes têm termos concessionais, po<strong>de</strong>m<br />

facilmente levar à acumulação <strong>de</strong> um far<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> dívida externa.<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> podia consi<strong>de</strong>rar uma<br />

estratégia fiscal abrangen<strong>do</strong> quatro áreas:<br />

1. Controlar os gastos públicos—Dan<strong>do</strong> priorida<strong>de</strong><br />

ao investimento na saú<strong>de</strong> e na<br />

educação <strong>de</strong> forma a alargar as capacida<strong>de</strong>s<br />

das pessoas e a estimular o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano.<br />

2. Evitar subsidiar os mais ricos—Financiar alguns<br />

serviços públicos parcialmente através<br />

das taxas pagas pelos utiliza<strong>do</strong>res.<br />

3. Criar a confiança <strong>do</strong>s <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res—Manter um<br />

clima social, económico e político estável e<br />

o respeito pelos direitos humanos não só é<br />

vital para o <strong>de</strong>senvolvimento humano mas<br />

também para encorajar os <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res.<br />

4. Salvaguardar as receitas <strong>do</strong> gás e <strong>do</strong> petróleo—<br />

Utilizan<strong>do</strong>-as com parcimónia uma vez que<br />

representam uma oportunida<strong>de</strong> que durará<br />

apenas cerca <strong>de</strong> 20 anos.<br />

A tarefa <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> é assegurar o investimento<br />

em capital humano e estimular<br />

as empresas, não utilizan<strong>do</strong> as receitas <strong>do</strong><br />

petróleo para financiar a <strong>de</strong>spesa corrente.<br />

O caminho à nossa frente<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> tem agora muitas políticas para<br />

<strong>de</strong>finir e muitas <strong>de</strong>cisões para tomar. O teste<br />

final a todas estas <strong>de</strong>cisões, seja na agricultura,<br />

na indústria, no turismo ou na indústria<br />

<strong>do</strong> petróleo será se trazem ou não vantagens<br />

reais às famílias pobres. Isto sublinha<br />

a importância <strong>de</strong> investir nas pessoas:<br />

assegurar que têm saú<strong>de</strong>, conhecimentos e<br />

capacida<strong>de</strong> para usufruir <strong>de</strong> todas as vantagens<br />

<strong>de</strong>stas novas oportunida<strong>de</strong>s.<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


CAPÍTULO 1<br />

<strong>Desenvolvimento</strong> humano<br />

em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> encara a vida como nova nação em circunstâncias<br />

muito difíceis—com o nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano<br />

mais baixo da Ásia. Mas a in<strong>de</strong>pendência total proporciona<br />

também a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> começar <strong>de</strong> novo ao dar aos<br />

timorenses o po<strong>de</strong>r necessário para <strong>de</strong>finirem um novo caminho<br />

firmemente basea<strong>do</strong> nos princípios <strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento humano.<br />

Seja qual for o critério <strong>de</strong> análise, <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> é um <strong>do</strong>s países menos <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Os rendimentos são baixos:<br />

estima-se que o PIB per capita seja<br />

apenas <strong>de</strong> $478. Muito poucas pessoas tiveram<br />

uma educação a<strong>de</strong>quada: mais <strong>de</strong><br />

meta<strong>de</strong> da população é analfabeta. Os níveis<br />

<strong>de</strong> nutrição são baixos: mais <strong>de</strong> meta<strong>de</strong><br />

das crianças têm um peso inferior ao<br />

<strong>de</strong>vi<strong>do</strong>. E o país ainda está a sofrer da <strong>de</strong>struição<br />

e <strong>do</strong> trauma que se seguiram à votação<br />

nacional pela in<strong>de</strong>pendência a 30 <strong>de</strong><br />

Agosto <strong>de</strong> 1999.<br />

O potencial económico também é limita<strong>do</strong>.<br />

Dentro <strong>de</strong> poucos anos há a perspectiva<br />

<strong>de</strong>, ao longo <strong>de</strong> um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 20 anos,<br />

se receberem receitas <strong>do</strong>s <strong>de</strong>pósitos<br />

offshore <strong>de</strong> gás e <strong>de</strong> petróleo <strong>do</strong> Mar <strong>de</strong><br />

<strong>Timor</strong>. Mas essas receitas terão <strong>de</strong> ser usadas<br />

com parcimónia e para já muitas pessoas<br />

continuarão a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r principalmente<br />

da agricultura, on<strong>de</strong> a produtivida<strong>de</strong> e os<br />

rendimentos são muito baixos. Os agricultores<br />

<strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> utilizam as formas<br />

mais básicas <strong>de</strong> cultivo, tentan<strong>do</strong> tirar o<br />

maior parti<strong>do</strong> <strong>de</strong> terrenos e <strong>de</strong> um clima<br />

difíceis.<br />

Em muitos aspectos, portanto, <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> está a construir-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a base. Este<br />

primeiro relatório nacional <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano percorre alguma da História<br />

<strong>do</strong> país e explora as suas condições económicas<br />

e sociais actuais, avalian<strong>do</strong> as dificulda<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> uma forma franca. Mas o propósito<br />

<strong>de</strong> um relatório <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano é o <strong>de</strong> olhar em frente: procurar<br />

novas direcções e acima <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>, <strong>de</strong>monstrar<br />

como um compromisso com o<br />

DESENVOLVIMENTO HUMANO EM TIMOR LESTE<br />

<strong>de</strong>senvolvimento humano po<strong>de</strong> ajudar a<br />

colocar o país num novo caminho.<br />

Deste ponto <strong>de</strong> vista existem motivos<br />

para optimismo. O panorama económico<br />

imediato po<strong>de</strong> ser difícil mas o potencial<br />

humano é forte. Durante os longos anos<br />

<strong>de</strong> colonização e <strong>de</strong> ocupação, o povo <strong>de</strong><br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> manteve um <strong>de</strong>sejo inquebrantável<br />

<strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>. Este tipo <strong>de</strong> coragem e<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminação em escolherem o seu próprio<br />

<strong>de</strong>stino, <strong>de</strong>verá ser muito útil aos<br />

timorenses ao longo <strong>do</strong>s próximos anos.<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento humano em <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong>, como em to<strong>do</strong> o la<strong>do</strong>, é <strong>de</strong>fini<strong>do</strong><br />

como o processo <strong>de</strong> ‘alargamento das escolhas<br />

das pessoas’ —dan<strong>do</strong>-lhes a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> viver vidas longas e saudáveis,<br />

<strong>de</strong> ter acesso ao conhecimento e a um nível<br />

<strong>de</strong> vida <strong>de</strong>cente e a <strong>de</strong>sempenhar um papel<br />

activo na vida das suas comunida<strong>de</strong>s. A alternativa<br />

convencional é concentrar as atenções<br />

na pura expansão da economia, procuran<strong>do</strong><br />

o <strong>de</strong>senvolvimento económico na<br />

esperança <strong>de</strong> que os frutos <strong>do</strong> crescimento<br />

se difundam pela massa da população. A<br />

filosofia <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano também<br />

procura uma economia próspera e um<br />

crescimento sóli<strong>do</strong> mas exige que seja o tipo<br />

certo <strong>de</strong> crescimento: crescimento que satisfaça<br />

as necessida<strong>de</strong>s e as aspirações humanas<br />

e que seja basea<strong>do</strong> numa expansão<br />

das capacida<strong>de</strong>s das pessoas. O <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano é o <strong>de</strong>senvolvimento ‘das,<br />

pelas e para as pessoas’.<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento humano coloca<br />

uma gran<strong>de</strong> ênfase no <strong>de</strong>senvolvimento das<br />

capacida<strong>de</strong>s. As capacida<strong>de</strong>s são ‘a competência<br />

para <strong>de</strong>sempenhar funções, resolver<br />

O panorama<br />

económico<br />

imediato po<strong>de</strong> ser<br />

difícil mas o<br />

potencial humano<br />

é forte<br />

11


A escolha mais<br />

básica é a<br />

liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

escolha<br />

O sistema administrativo actual <strong>de</strong><br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> é uma herança <strong>de</strong><br />

interacções entre o sistema tradicional<br />

e os sistemas impostos por Portugal<br />

e pela In<strong>do</strong>nésia. <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>, em<br />

mea<strong>do</strong>s <strong>de</strong> <strong>2002</strong>, é dividi<strong>do</strong> administrativamente<br />

como segue:<br />

13 distritos—Os ‘kabupaten’<br />

in<strong>do</strong>nésios. A população estimada<br />

por distrito é indicada no quadro 1.1.<br />

Fonte: Inquérito aos Sucos<br />

12<br />

Caixa 1.1<br />

problemas, <strong>de</strong>finir e alcançar objectivos’. O<br />

povo <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> já tem muitas capacida<strong>de</strong>s<br />

testadas e valiosas, nos indivíduos e<br />

na socieda<strong>de</strong>. Possui complexas re<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

relações sociais e culturais e, através <strong>de</strong> um<br />

processo <strong>de</strong> aprendizagem em colaboração<br />

mútua e cumulativa, conseguiu sobreviver<br />

em condições duras e difíceis, passan<strong>do</strong> este<br />

conhecimento, na sua maioria <strong>de</strong> forma oral,<br />

<strong>de</strong> uma geração para outra.<br />

Num <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, contu<strong>do</strong>,<br />

necessitarão <strong>de</strong> muitas capacida<strong>de</strong>s adicionais.<br />

Para administrar um Esta<strong>do</strong>-Nação<br />

mo<strong>de</strong>rno e construir uma economia mais<br />

diversificada e mais <strong>de</strong>senvolvida, terão <strong>de</strong><br />

adquirir novos conhecimentos e <strong>de</strong>senvolver<br />

novas capacida<strong>de</strong>s—muitas das quais<br />

requerem longos anos <strong>de</strong> educação e<br />

formação<br />

Mas o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> não é simplesmente<br />

melhorar as capacida<strong>de</strong>s e o<br />

potencial <strong>do</strong>s indivíduos. A capacida<strong>de</strong> nacional<br />

não é só a soma total das capacida<strong>de</strong>s<br />

<strong>do</strong>s indivíduos. É um conceito muito<br />

mais rico e mais complexo que mistura as<br />

forças individuais num teci<strong>do</strong> nacional mais<br />

forte e mais resistente. Assim <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

não terá somente <strong>de</strong> aumentar as capacida<strong>de</strong>s<br />

individuais. Terá também <strong>de</strong> criar as<br />

oportunida<strong>de</strong>s e os incentivos para que as<br />

pessoas utilizem e aumentem essas capacida<strong>de</strong>s.<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s<br />

tem lugar não só nos próprios indivíduos<br />

mas também entre eles—nas suas comunida<strong>de</strong>s<br />

e nas instituições e re<strong>de</strong>s que criam—<br />

através <strong>do</strong> que foi <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> ‘capital social’,<br />

o cimento que mantém as socieda<strong>de</strong>s<br />

unidas. O <strong>de</strong>senvolvimento humano em<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> não se resume a ‘ter’, medi<strong>do</strong><br />

num aumento <strong>do</strong> rendimento per capita:<br />

trata-se também <strong>de</strong> 'ser'<br />

Unida<strong>de</strong>s administrativas em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

67 sub-distritos—Estes eram os<br />

‘kecamatatan’ in<strong>do</strong>nésios.<br />

498 sucos – O suco correspon<strong>de</strong> a<br />

um ‘principa<strong>do</strong>’ tradicional. Este é<br />

normalmente traduzi<strong>do</strong> para português<br />

como ‘al<strong>de</strong>ia’, e como ‘<strong>de</strong>sa’ em<br />

in<strong>do</strong>nésio.<br />

2.336 al<strong>de</strong>ias—Ou dusun em<br />

In<strong>do</strong>nésio.<br />

Agora o <strong>de</strong>safio é conceber e criar as<br />

instituições <strong>de</strong> governo e a outros níveis que<br />

possam expandir as capacida<strong>de</strong>s nacionais<br />

e aumentar o leque <strong>de</strong> escolhas disponíveis<br />

para todas estas pessoas. O país já <strong>de</strong>u um<br />

gran<strong>de</strong> passo alcançan<strong>do</strong> a sua in<strong>de</strong>pendência.<br />

Como Mahbub ul Haq, o arquitecto<br />

original, em 1990, da série <strong>de</strong> relatórios <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento humano expressou: ‘a escolha<br />

mais básica é a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolha’.<br />

A situação <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano<br />

Qualquer avaliação da situação em <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> tem <strong>de</strong> apresentar um quadro muito<br />

alarga<strong>do</strong>, olhan<strong>do</strong> não só para as capacida<strong>de</strong>s<br />

individuais, reflectidas em níveis <strong>de</strong> educação<br />

e <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, mas também para muitos<br />

outros aspectos da vida das pessoas: por<br />

exemplo, igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> género, participação<br />

popular na tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões, i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

cultural, e realização <strong>do</strong>s direitos humanos.<br />

Então tem <strong>de</strong> se levar em conta as oportunida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> utilizar essas capacida<strong>de</strong>s para<br />

construir vidas sustentáveis. Este relatório<br />

tentará seguir o progresso ao longo <strong>de</strong>stas<br />

dimensões mas é importante ter em mente<br />

que, em última instância, todas terão <strong>de</strong> ser<br />

tecidas em conjunto—o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano não po<strong>de</strong> ser reduzi<strong>do</strong> a um só<br />

factor; como a própria humanida<strong>de</strong>, ele é<br />

complexo e multidimensional.<br />

Movimentos <strong>de</strong> população<br />

Um ponto <strong>de</strong> partida é calcular a população<br />

total. Em certa medida, isto foi impedi<strong>do</strong><br />

pela guerra. A ocupação in<strong>do</strong>nésia<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1975 resultou em terríveis perdas <strong>de</strong><br />

vidas. Durante os primeiros anos morreram<br />

60.000 pessoas e ao longo <strong>do</strong> perío<strong>do</strong><br />

até 1999 o número total <strong>de</strong> mortes causa<strong>do</strong><br />

pela ocupação é estima<strong>do</strong> em pelo menos<br />

200.000. Muitas pessoas foram mortas<br />

pelo exército in<strong>do</strong>nésio e outras fugiram<br />

para as montanhas, on<strong>de</strong> morreram <strong>de</strong><br />

fome e por falta <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s sanitários básicos<br />

ou <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Uma breve história <strong>de</strong>ste<br />

perío<strong>do</strong> po<strong>de</strong> ser consultada no<br />

Apêndice I <strong>de</strong>ste relatório.<br />

Os anos <strong>de</strong> violência também causaram<br />

movimentos significativos <strong>de</strong> população. A<br />

administração in<strong>do</strong>nésia, com o seu programa<br />

<strong>de</strong> migração, <strong>de</strong>slocou milhares <strong>de</strong><br />

in<strong>do</strong>nésios para <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> e, pela força,<br />

também <strong>de</strong>slocou comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


timorenses das suas terras tradicionais. Mas<br />

a crise mais dramática teria lugar em 1999.<br />

No perío<strong>do</strong> anterior e imediatamente após<br />

o referen<strong>do</strong>, foram mortas entre 1.000 a<br />

2.000 pessoas e mais <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> da população<br />

foi forçada a aban<strong>do</strong>nar as suas casas<br />

—cerca <strong>de</strong> 300.000 pessoas foram<br />

<strong>de</strong>slocadas no interior <strong>do</strong> país e cerca <strong>de</strong><br />

200.000 foram para <strong>Timor</strong> Oci<strong>de</strong>ntal.<br />

A maioria regressou entretanto. Em<br />

Março <strong>de</strong> <strong>2002</strong> as agências da ONU e a<br />

Organização Internacional para as Migrações<br />

tinham auxilia<strong>do</strong> aproximadamente<br />

147.000 refugia<strong>do</strong>s a regressar a <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong>. Mais 49.000 tinham regressa<strong>do</strong> por<br />

si próprios, colocan<strong>do</strong> o número total <strong>de</strong><br />

regressa<strong>do</strong>s em 196.000. Cerca <strong>de</strong> 60.000<br />

refugia<strong>do</strong>s permanecem em <strong>Timor</strong> Oci<strong>de</strong>ntal<br />

e uma proporção significativa <strong>de</strong>stes,<br />

muitos <strong>do</strong>s quais tinham laços com a administração<br />

in<strong>do</strong>nésia, <strong>de</strong>verão, provavelmente,<br />

aí permanecer.<br />

Estes movimentos tiveram um impacto<br />

dura<strong>do</strong>uro na dimensão e na distribuição<br />

da população. Apesar <strong>de</strong> ainda não ter<br />

havi<strong>do</strong> um recenseamento completo <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

o fim da ocupação in<strong>do</strong>nésia, uma das melhores<br />

estimativas recentes está disponível<br />

no ‘Inquérito aos Sucos <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> Lorosae’<br />

(SSTL—ver caixa 1.2), que neste relatório<br />

será referi<strong>do</strong> como ‘Inquérito aos Sucos’.<br />

Este cita valores <strong>do</strong> Registo civil leva<strong>do</strong> a<br />

cabo em 2001 e concluiu que a população<br />

total era, na primeira meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> 2001, <strong>de</strong><br />

794.298 pessoas.<br />

Quadro 1.2<br />

População por distrito, 2001<br />

Distrito População<br />

1. Aileu 31.827<br />

2. Ainaro 45.093<br />

3. Baucau 101.517<br />

4. Bobonaro 69.932<br />

5. Covalima 49.234<br />

6. Dili 120.474<br />

7. Ermera 88.415<br />

8. Liquica 45.575<br />

9. Lautem 53.467<br />

10. Manufahi 38.616<br />

11. Manatuto 35.446<br />

12. Oecussi 45.042<br />

13. Viqueque 62.704<br />

Total 787.342<br />

Nota: Estes da<strong>do</strong>s não incluem alguns refugia<strong>do</strong>s regressa<strong>do</strong>s<br />

Fonte: Inquérito aos Sucos, 2001<br />

Quadro 1.1<br />

Estimativas da população<br />

Caixa 1.2<br />

DESENVOLVIMENTO HUMANO EM TIMOR LESTE<br />

Uma das primeiras tarefas <strong>de</strong> <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> é estabelecer uma base <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s<br />

segura para o planeamento futuro.<br />

O maior projecto actualmente em<br />

curso é a Avaliação da Pobreza que<br />

tem si<strong>do</strong> um exercício conjunto da<br />

Administração Transitória <strong>de</strong> <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong>, Banco Asiático <strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong>,<br />

Banco Mundial, Programa das<br />

Nações Unidas para o <strong>Desenvolvimento</strong><br />

e Agência Japonesa <strong>de</strong> Cooperação<br />

Internacional. Este projecto inclui<br />

três elementos:<br />

O Inquérito aos Sucos <strong>de</strong> <strong>Timor</strong><br />

Lorosae (SSTL)—Foi concebi<strong>do</strong> para<br />

fornecer uma base <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s consistente<br />

sobre as características <strong>de</strong> cada<br />

suco em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>. O resulta<strong>do</strong> concreto<br />

<strong>do</strong> SSTL é um inventário das<br />

infraestruturas sociais e físicas existentes,<br />

das características económicas<br />

<strong>de</strong> cada suco e da cobertura <strong>do</strong>s<br />

serviços públicos. As principais fontes<br />

<strong>de</strong> informação foram os seus<br />

1990 1995 1999 2001<br />

População 747.557 839.719 779.567 794.298<br />

Com menos <strong>de</strong> 15 anos 42% 44% 41% 44%<br />

Entre 15-64 anos 57% 55% 57% 54%<br />

Com mais <strong>de</strong> 65 anos 2,0% 1,7% 1,9% 2%<br />

Taxa <strong>de</strong> fertilida<strong>de</strong> 5,7 5,1 3,8 ..<br />

Fontes: Ver anexo quadro 1<br />

O Quadro 1.1 combina estes valores<br />

com as estimativas da população para anos<br />

anteriores. As diferentes bases para estas<br />

estimativas, combinadas com a ruptura social<br />

generalizada, disfarçam em certa medida<br />

as tendências subjacentes da população.<br />

No entanto, parece que a ‘taxa <strong>de</strong> crescimento<br />

natural’ continua a ser bastante elevada.<br />

A taxa <strong>de</strong> fertilida<strong>de</strong> total, ou o número<br />

médio <strong>de</strong> crianças que cada mulher<br />

dá à luz ao longo da sua vida, era <strong>de</strong> mais<br />

<strong>de</strong> cinco em 1990 e 1995—superior a qualquer<br />

província na In<strong>do</strong>nésia. Como resulta<strong>do</strong>,<br />

a população continuou a crescer rapidamente—em<br />

média 3,5% ao ano entre<br />

1985 e 1990 e 2,4% entre 1990 e 1995. A<br />

taxa <strong>de</strong> fertilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>cresceu ao longo <strong>do</strong>s<br />

anos 90 e a agitação social <strong>de</strong> 1999, assim<br />

como as diferentes fontes utilizadas para<br />

obter da<strong>do</strong>s sobre <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> in<strong>de</strong>pen-<br />

Inquéritos em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

chefes, complementada por professores,<br />

profissionais da saú<strong>de</strong> e outros.<br />

A maior parte <strong>do</strong>s inquiri<strong>do</strong>s eram homens.<br />

Neste relatório referimo-nos a<br />

este estu<strong>do</strong> como 'Inquérito aos<br />

Sucos'.<br />

O Inquérito às Famílias <strong>de</strong> <strong>Timor</strong><br />

Lorosae (HHTL)—Este é um inquérito<br />

por amostragem a 9.100 pessoas em<br />

300 al<strong>de</strong>ias, <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> a i<strong>de</strong>ntificar<br />

as características chave das famílias<br />

pobres—para fazer o levantamento<br />

das limitações das famílias mais pobres<br />

e avaliar o impacto <strong>do</strong>s programas<br />

públicos nestas famílias.<br />

A Avaliação <strong>do</strong> Potencial Participativo<br />

<strong>de</strong> <strong>Timor</strong> Lorosae (APPTL)—Esta pesquisa<br />

ao nível da al<strong>de</strong>ia foi conduzida<br />

em 48 comunida<strong>de</strong>s para investigar<br />

em <strong>de</strong>talhe a natureza da pobreza,<br />

as suas causas e qual a melhor forma<br />

<strong>de</strong> promover o bem-estar.<br />

13


Só 20% das<br />

al<strong>de</strong>ias têm<br />

electricida<strong>de</strong><br />

14<br />

<strong>de</strong>nte, causaram uma ruptura nas séries <strong>de</strong><br />

da<strong>do</strong>s. No entanto é claro que o crescimento<br />

populacional subjacente permanece<br />

eleva<strong>do</strong>.<br />

A outra característica <strong>de</strong>mográfica principal<br />

<strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> é a <strong>de</strong> que é uma socieda<strong>de</strong><br />

maioritariamente rural—cerca <strong>de</strong><br />

76% da população vive nas 2.300 al<strong>de</strong>ias<br />

<strong>do</strong> país. Dos habitantes urbanos, a maioria<br />

está na capital, Dili, ou na segunda maior<br />

área urbana, Baucau. A maioria <strong>do</strong>s países<br />

em <strong>de</strong>senvolvimento experimentou um<br />

crescimento contínuo das suas populações<br />

urbanas. Isto suce<strong>de</strong>u a um ritmo mais lento<br />

em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> mas a agitação social<br />

recente terá torna<strong>do</strong> a população mais<br />

móvel, o que, combina<strong>do</strong> com o fosso<br />

evi<strong>de</strong>nte entre os rendimentos rural e urbano,<br />

resultará provavelmente num aumento<br />

da população urbana.<br />

Saú<strong>de</strong><br />

O povo <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> tem baixos níveis<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, certamente mais baixos que na<br />

In<strong>do</strong>nésia. A mortalida<strong>de</strong> infantil (80 mortes<br />

por cada 1.000 na<strong>do</strong>s vivos) e a mortalida<strong>de</strong><br />

juvenil, antes <strong>do</strong>s cinco anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong><br />

(144 mortes por cada 100.000 na<strong>do</strong>-vivos)<br />

são muito mais elevadas que as taxas<br />

da In<strong>do</strong>nésia e a esperança <strong>de</strong> vida à nascença<br />

é <strong>de</strong> 57 anos, comparada com 65 anos<br />

na In<strong>do</strong>nésia. As causas mais importantes<br />

<strong>de</strong> morte incluem <strong>do</strong>enças que se po<strong>de</strong>m<br />

prevenir, como a malária, infecções <strong>do</strong><br />

tracto respiratório e diarreia.<br />

Os baixos níveis <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> são resulta<strong>do</strong>,<br />

em parte, da falta <strong>de</strong> serviços básicos. Durante<br />

o perío<strong>do</strong> in<strong>do</strong>nésio menos <strong>de</strong> 50%<br />

das famílias tinha acesso a água potável e<br />

só 38% a saneamento básico. E embora não<br />

Gráfico 1.1<br />

Presta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

ONGs<br />

40%<br />

Igrejas<br />

8%<br />

Sector<br />

priva<strong>do</strong><br />

3%<br />

Fonte: Inquérito aos Sucos (2001)<br />

Esta<strong>do</strong><br />

49%<br />

haja da<strong>do</strong>s recentes para comparação, o<br />

Inquérito aos Sucos sugere que a violência<br />

<strong>de</strong> 1999 não alterou consi<strong>de</strong>ravelmente a<br />

situação. Só 20% das al<strong>de</strong>ias têm acesso a<br />

electricida<strong>de</strong>; só 7% tem água canalizada nas<br />

casas e os restantes 30% das al<strong>de</strong>ias têm<br />

acesso a água canalizada ou bombeada em<br />

locais públicos. A maioria das pessoas que<br />

queiram ir aos serviços públicos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

terão <strong>de</strong> ir a pé: em média <strong>de</strong>moram 20<br />

minutos a chegar a uma estrada, 30 minutos<br />

a alcançar uma estrada alcatroada e 70<br />

minutos a chegar a um centro <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

O fornecimento <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

é fraco. Apesar <strong>de</strong> antes <strong>de</strong> 1999 <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> ter muitos edifícios <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s a serviços<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, as instalações tinham habitualmente<br />

excesso <strong>de</strong> pessoal e pouco material<br />

médico. Durante Setembro <strong>de</strong> 1999,<br />

cerca <strong>de</strong> três quartos das instalações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

foram danificadas e a maioria <strong>do</strong>s médicos,<br />

assim como outro pessoal, que eram<br />

na maioria in<strong>do</strong>nésios, partiram. Agora há<br />

uma gran<strong>de</strong> escassez <strong>de</strong> médicos, apesar da<br />

situação estar melhor no que diz respeito a<br />

pessoal <strong>de</strong> enfermagem uma vez que a<br />

maioria era timorense.<br />

De acor<strong>do</strong> com o Inquérito aos Sucos<br />

existiam mais <strong>de</strong> 200 instalações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

em 2001, das quais a maioria eram centros<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> comunitários e gran<strong>de</strong> parte <strong>do</strong>s<br />

restantes eram postos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ou clínicas<br />

móveis. Cerca <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> das instalações <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> são fornecidas pelo Esta<strong>do</strong><br />

(Gráfico 1.1).<br />

O sistema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> in<strong>do</strong>nésio era em<br />

gran<strong>de</strong> parte um sistema funcionan<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

cima para baixo, constituí<strong>do</strong><br />

maioritariamente por in<strong>do</strong>nésios, não permitin<strong>do</strong><br />

aos timorenses dizer nada sobre a<br />

forma como os seus serviços eram administra<strong>do</strong>s.<br />

Isto, combina<strong>do</strong> com as barreiras<br />

linguísticas, também reduziu as possibilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> as pessoas <strong>de</strong>senvolverem os seus<br />

próprios padrões <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e muitas comunida<strong>de</strong>s<br />

tinham uma percepção limitada das<br />

noções básicas <strong>de</strong> nutrição e saú<strong>de</strong>. O VIH/<br />

SIDA é também uma questão com importância<br />

crescente (caixa 1.3).<br />

Uma das principais preocupações é a<br />

saú<strong>de</strong> reprodutiva. <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> tem poucas<br />

condições para o cuida<strong>do</strong> pré e pósnatal<br />

e as mulheres das áreas rurais, em especial,<br />

estão em risco quan<strong>do</strong> surgem complicações<br />

com a gravi<strong>de</strong>z. Só 30% <strong>do</strong>s partos<br />

têm qualquer assistência especializada.<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


Esta situação contribuiu para um nível eleva<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> materna: morrem<br />

cerca <strong>de</strong> 420 mulheres por cada 100.000<br />

na<strong>do</strong>s vivos.<br />

Actualmente o uso <strong>de</strong> contraceptivos é<br />

baixo e limita<strong>do</strong> a um pequeno número <strong>de</strong><br />

opções. Em 1997, 25% das mulheres utilizavam<br />

contraceptivos. O principal méto<strong>do</strong><br />

utiliza<strong>do</strong> era a injecção trimestral, apesar <strong>de</strong><br />

um pequeno número utilizar contraceptivos<br />

orais Norplant e DIUs. Poucos homens<br />

utilizam preservativo. Uma das principais<br />

priorida<strong>de</strong>s será assegurar que os casais tenham<br />

acesso aos méto<strong>do</strong>s apropria<strong>do</strong>s às<br />

suas escolhas <strong>de</strong> planeamento familiar.<br />

Educação<br />

Também na educação <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> apresentava<br />

resulta<strong>do</strong>s piores que as outras províncias<br />

da In<strong>do</strong>nésia. Mais uma vez existiam<br />

muitos edifícios mas havia falta <strong>de</strong> professores<br />

nas escolas, <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s e <strong>de</strong> material.<br />

Muitos pais nem sequer matriculavam<br />

os seus filhos—o rácio líqui<strong>do</strong> <strong>de</strong> matrículas<br />

<strong>de</strong> crianças no ensino primário era <strong>de</strong><br />

cerca <strong>de</strong> 70%, compara<strong>do</strong> com 97% na<br />

In<strong>do</strong>nésia. Esta situação foi parcialmente um<br />

reflexo da pobreza: muitos pais pobres não<br />

podiam pagar o preço das propinas e <strong>do</strong>s<br />

uniformes. Muitos pais tinham também reservas<br />

a que os seus filhos fossem envolvi<strong>do</strong>s<br />

num sistema repressivo e que fossem<br />

ensina<strong>do</strong>s por professores estrangeiros. A<br />

baixa taxa <strong>de</strong> matrículas, a par das elevadas<br />

taxas <strong>de</strong> aban<strong>do</strong>no, significa que em 1995,<br />

mesmo entre os mais novos, no grupo<br />

etário 15-19, menos <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> <strong>do</strong>s jovens,<br />

rapazes ou raparigas, tenha completa<strong>do</strong> a<br />

instrução primária. Como resulta<strong>do</strong> actualmente<br />

mais <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> da população é analfabeta<br />

(49% <strong>de</strong> homens e 64% <strong>de</strong> mulheres).<br />

Os acontecimentos <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong><br />

1999 exacerbaram a situação. Cerca <strong>de</strong> 80%<br />

das escolas primárias foram total ou parcialmente<br />

<strong>de</strong>struídas, a par <strong>do</strong>s edifícios,<br />

mobília e materiais <strong>de</strong> ensino. Nessa altura,<br />

muitos professores partiram, incluin<strong>do</strong> a<br />

maioria <strong>do</strong>s que ensinavam nas escolas secundárias.<br />

Des<strong>de</strong> então muitas escolas foram<br />

reconstruídas. A educação é analisada<br />

em maior <strong>de</strong>talhe no capítulo 4.<br />

Segurança alimentar e nutrição<br />

Cerca <strong>de</strong> 76% da população vive nas áreas<br />

rurais, on<strong>de</strong> a maioria das famílias vive da<br />

agricultura <strong>de</strong> subsistência. As principais<br />

Caixa 1.3<br />

DESENVOLVIMENTO HUMANO EM TIMOR LESTE<br />

A oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prevenir o VIH/SIDA em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

Vinte anos após as primeiras provas<br />

clínicas <strong>do</strong> síndroma <strong>de</strong><br />

imuno<strong>de</strong>ficiência adquirida, (SIDA)<br />

esta tornou-se a <strong>do</strong>ença mais <strong>de</strong>vasta<strong>do</strong>ra<br />

que a humanida<strong>de</strong> alguma vez<br />

enfrentou.<br />

Cerca <strong>de</strong> 58 milhões <strong>de</strong> pessoas<br />

foram, mundialmente, infectadas pelo<br />

vírus VIH, das quais 22 milhões morreram<br />

em consequência <strong>de</strong> SIDA. O<br />

VIH/SIDA é actualmente a quarta<br />

maior causa <strong>de</strong> morte e ataca particularmente<br />

os jovens adultos: cerca<br />

<strong>de</strong> um terço <strong>do</strong>s que vivem com o<br />

VIH/SIDA têm ida<strong>de</strong>s compreendidas<br />

entre os 15 e os 24 anos. As mulheres<br />

jovens são especialmente vulneráveis.<br />

Milhões <strong>do</strong>s que correm riscos<br />

nada sabem sobre o VIH e pouco<br />

fazem para se protegerem. Mesmo<br />

muitos <strong>do</strong>s que transportam o vírus<br />

não estão conscientes <strong>de</strong> o terem<br />

adquiri<strong>do</strong>.<br />

A região da Ásia Pacífico tem as<br />

taxas <strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong> novos<br />

infecta<strong>do</strong>s com VIH mais altas <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong>. Nos últimos quatro anos tem<br />

havi<strong>do</strong> um aumento <strong>de</strong> 100% na incidência<br />

<strong>de</strong> infecções com VIH. O VIH/<br />

SIDA continua a espalhar-se dramaticamente<br />

no Camboja, China,<br />

Myanmar, Papua Nova Guiné,<br />

Tailândia e Vietname.<br />

A In<strong>do</strong>nésia é ainda um país com<br />

baixa incidência da <strong>do</strong>ença mas, tal<br />

como noutros países, o VIH/SIDA<br />

está a espalhar-se entre grupos específicos,<br />

como profissionais <strong>do</strong> sexo e<br />

seus clientes, assim como entre a<br />

população móvel, como marinheiros<br />

e camionistas que têm altos níveis <strong>de</strong><br />

sexo <strong>de</strong>sprotegi<strong>do</strong> com múltiplos parceiros.<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> po<strong>de</strong> esperar vir a ser<br />

afecta<strong>do</strong> pelas tendências regionais<br />

subjacentes. De facto, o perigo po<strong>de</strong><br />

ser maior aqui, uma vez que o risco<br />

<strong>de</strong> VIH/SIDA é particularmente eleva<strong>do</strong><br />

nos países que foram atingi<strong>do</strong>s<br />

por conflitos, <strong>de</strong>slocação <strong>de</strong> populações<br />

e <strong>de</strong>struição generalizada. <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> teve apenas um único caso regista<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> morte por VIH/SIDA até<br />

hoje mas o Grupo Temático das Nações<br />

Unidas sobre o VIH/SIDA concluiu<br />

que <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> não tem um sistema<br />

<strong>de</strong> vigilância sistemático ou fiável<br />

para o VIH/SIDA ou para <strong>do</strong>enças<br />

sexualmente transmissíveis (DSTs), por<br />

isso a informação existente provavelmente<br />

será incompleta para po<strong>de</strong>r ava-<br />

liar a incidência <strong>de</strong> uma epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong><br />

VIH/SIDA.<br />

O Grupo também i<strong>de</strong>ntificou alguns<br />

factores <strong>de</strong> risco chave:<br />

• Eleva<strong>do</strong>s níveis <strong>de</strong> DSTs;<br />

• Baixos níveis <strong>de</strong> sensibilização<br />

para o VIH/SIDA/DSTs;<br />

• A ausência <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> alerta,<br />

prevenção e tratamento;<br />

• O aumento da prostituição;<br />

• Violência <strong>do</strong>méstica e incesto;<br />

• O início da utilização <strong>de</strong> drogas<br />

injectáveis;<br />

• Limitações culturais à discussão<br />

pública sobre comportamento<br />

sexual;<br />

• A falta <strong>de</strong> educação, formação<br />

profissional, alternativas <strong>de</strong> emprego<br />

e activida<strong>de</strong>s recreativas para<br />

os jovens;<br />

Se seguir o mesmo padrão a que se<br />

assistiu noutros países, o VIH/SIDA<br />

po<strong>de</strong>rá ter um impacto enorme em<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>. Alguns <strong>do</strong>s efeitos serão<br />

económicos: aqueles que contraírem<br />

o vírus vêm geralmente <strong>do</strong>s grupos<br />

etários mais produtivos e a combinação<br />

<strong>de</strong> perda <strong>de</strong> rendimento e a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> pagar <strong>de</strong>spesas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

é <strong>de</strong>vasta<strong>do</strong>ra para as famílias<br />

pobres.<br />

Po<strong>de</strong>rá haver também um gran<strong>de</strong><br />

impacto na educação: se os professores<br />

ficarem infecta<strong>do</strong>s e morrerem<br />

será difícil substituí-los. Se um membro<br />

<strong>de</strong> uma família for infecta<strong>do</strong>, é<br />

provável que as crianças tenham que<br />

ficar em casa para tomar conta <strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong>entes.<br />

Existe também um gran<strong>de</strong> peso sobre<br />

os serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. As Nações<br />

Unidas calcularam que em 1996 o<br />

custo médio anual em cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> para uma pessoa que vivesse<br />

com o VIH/SIDA nas ilhas <strong>do</strong> Pacífico<br />

era <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> $5.000, ao passo<br />

que os governos gastavam em<br />

cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, em média, apenas<br />

entre $20 e $30 por pessoa.<br />

Mesmo uma epi<strong>de</strong>mia mo<strong>de</strong>rada <strong>de</strong><br />

VIH/SIDA em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> po<strong>de</strong>ria pôr<br />

o orçamento governamental sob pressão.<br />

Depois existem ainda os imensos<br />

custos pessoais e sociais. Quem<br />

tomará conta <strong>do</strong>s <strong>do</strong>entes ou <strong>do</strong>s<br />

órfãos?<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> tem uma oportunida<strong>de</strong><br />

única para evitar isto. Esforços <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s<br />

hoje po<strong>de</strong>m garantir um<br />

futuro mais seguro e mais saudável.<br />

15


A insegurança<br />

alimentar atinge<br />

o seu máximo<br />

imediatamente<br />

antes da colheita<br />

<strong>do</strong> milho<br />

16<br />

Gráfico 1.2<br />

Colheitas e padrões <strong>de</strong> insegurança alimentar<br />

100%<br />

90%<br />

80%<br />

70%<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

Nota: As barras indicam a percentagem <strong>de</strong> sucos que <strong>de</strong>clararam carência alimentar nesse mês. As áreas indicam a<br />

percentagem <strong>de</strong> sucos que <strong>de</strong>clararam uma colheita <strong>de</strong> milho ou <strong>de</strong> arroz naquele mês.<br />

Fonte: Inquérito aos Sucos (2001)<br />

culturas para alimentação são o milho, o<br />

arroz e a mandioca. Apesar <strong>de</strong> o milho<br />

permanecer a principal cultura para alimentação,<br />

o arroz está a tornar-se cada vez mais<br />

importante e em 1997 a produção total era<br />

<strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> da produção <strong>de</strong> milho.<br />

A produção alimentar <strong>de</strong> 2001, como registada<br />

no Inquérito aos Sucos, é apresentada<br />

no Quadro 1.3. A produção <strong>do</strong>s anos<br />

anteriores é apresentada no Quadro 9 <strong>do</strong><br />

anexo. A principal cultura <strong>de</strong> rendimento é<br />

Quadro 1.3<br />

0%<br />

Produção alimentar, 2001<br />

Hectares Tons<br />

Arroz <strong>de</strong> sequeiro 3.417 3.552<br />

Arroz 35.318 54.302<br />

Milho 121.335 68.959<br />

Mandioca 91.067 55.349<br />

Café (grão) 88.823 26.944<br />

Café (grão seco) 28.981 14.984<br />

Feijão 8.177 3.722<br />

Batata <strong>do</strong>ce 67.137 31.663<br />

Batatas 1.687 968<br />

Inhame 28.912 13.500<br />

Abóbora 13.639 9.442<br />

Feijão preto 4.145 1.786<br />

Soja 2.080 821<br />

Côco 2.120 2.137<br />

Amen<strong>do</strong>ins 3.262 1.677<br />

Vegetais 7.123 1.888<br />

Bananas 17.892 19.371<br />

Outros frutos 2.978 3.086<br />

Fonte: Inquérito aos Sucos (2001)<br />

Colheita <strong>de</strong> milho<br />

Alimentação insuficiente<br />

Colheita <strong>de</strong> arroz<br />

Jan Fev Mar Abril Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez<br />

o café, que é cultiva<strong>do</strong> simultaneamente em<br />

pequenas parcelas <strong>de</strong> terra e em gran<strong>de</strong>s<br />

proprieda<strong>de</strong>s. O ga<strong>do</strong> também foi uma<br />

fonte importante <strong>de</strong> rendimento familiar,<br />

apesar <strong>de</strong>ste ter <strong>de</strong>clina<strong>do</strong> durante os anos<br />

in<strong>do</strong>nésios.<br />

Muita da terra é difícil <strong>de</strong> cultivar, dada<br />

a topografia agreste e a ameaça da erosão e<br />

da <strong>de</strong>florestação. As famílias <strong>de</strong> agricultores<br />

utilizam vários méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> cultivo bastante<br />

simples. Estes incluem o cultivo <strong>de</strong><br />

milho através <strong>de</strong> queimadas e o cultivo <strong>de</strong><br />

arroz em socalcos alimenta<strong>do</strong>s pelas chuvas<br />

ou irriga<strong>do</strong>s, nas montanhas ou nos<br />

perímetros das terras baixas.<br />

A maioria das famílias tem-se preocupa<strong>do</strong><br />

menos com a maximização das suas<br />

colheitas <strong>do</strong> que com a redução da<br />

vulnerabilida<strong>de</strong> aos caprichos <strong>do</strong> clima—<br />

incluin<strong>do</strong> os fenómenos relaciona<strong>do</strong>s com<br />

o El Niño que proporcionam as condições<br />

para cheias e secas. Só cerca <strong>de</strong> 2% das famílias<br />

utilizam fertilizantes ou pesticidas e<br />

somente 5% usam tractores. Isto <strong>de</strong>ve-se<br />

parcialmente ao facto <strong>do</strong>s timorenses não<br />

utilizarem tradicionalmente estes inputs, mas<br />

também porque não têm esta<strong>do</strong> disponíveis.<br />

Como resulta<strong>do</strong> da baixa produtivida<strong>de</strong> e<br />

<strong>de</strong> uma negligência geral pela agricultura,<br />

composta pelos efeitos <strong>de</strong> décadas <strong>de</strong> conflito<br />

e <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s na posse da terra, a<br />

produção alimentar tem si<strong>do</strong> baixa. Somente<br />

cerca <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> da terra apropriada para<br />

a agricultura está actualmente a ser utilizada<br />

e durante décadas <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> não foi autosuficiente<br />

nas suas culturas alimentares.<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


Esta baixa produção colocou em risco<br />

a segurança alimentar básica. As famílias<br />

po<strong>de</strong>m atingir a segurança alimentar quer<br />

cultivan<strong>do</strong> os alimentos para si próprias quer<br />

obten<strong>do</strong> um rendimento <strong>de</strong> outras fontes<br />

para comprarem o que necessitam. A maioria<br />

das pessoas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>do</strong> cultivo <strong>do</strong> seu<br />

próprio alimento. O Inquérito aos Sucos<br />

mostra que 80% da produção <strong>de</strong> milho e<br />

85% da produção <strong>de</strong> mandioca são para<br />

auto-consumo. O arroz é um produto mais<br />

comercializa<strong>do</strong>, apesar <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> <strong>do</strong>is-terços<br />

da produção <strong>de</strong> arroz ser para autoconsumo.<br />

Os inquéritos feitos pela<br />

SUSENAS, o Inquérito Sócio-Económico<br />

In<strong>do</strong>nésio, sugere que cerca <strong>de</strong> <strong>do</strong>is terços<br />

<strong>do</strong> gasto total das famílias vai para alimentação,<br />

sen<strong>do</strong> o arroz o item isola<strong>do</strong> mais<br />

importante. No entanto, existe claramente<br />

uma produção insuficiente e verificam-se<br />

usualmente perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> escassez em Dezembro<br />

e Janeiro. Esta situação está ilustrada<br />

no Gráfico 1.2 que mostra como a insegurança<br />

alimentar atinge o seu máximo<br />

imediatamente antes da colheita <strong>do</strong> milho.<br />

Quan<strong>do</strong> os tempos se tornam difíceis,<br />

as famílias <strong>de</strong> agricultores comem menos e<br />

a<strong>do</strong>ptam outras estratégias <strong>de</strong> adaptação.<br />

O inquérito <strong>de</strong> avaliação da pobreza <strong>de</strong>scobriu<br />

que para <strong>do</strong>is terços da população,<br />

a primeira opção seria substituir arroz por<br />

milho, enquanto que outros ven<strong>de</strong>riam ga<strong>do</strong><br />

ou outros bens ou pediriam empresta<strong>do</strong> a<br />

amigos ou a familiares.<br />

Mesmo quan<strong>do</strong> existe comida disponível<br />

em casa, no entanto, ela po<strong>de</strong>rá não ser<br />

bem utilizada. Isto é evi<strong>de</strong>nte a partir <strong>do</strong>s<br />

da<strong>do</strong>s sobre a má nutrição infantil: cerca<br />

<strong>de</strong> 45% das crianças com ida<strong>de</strong> inferior a<br />

cinco anos têm um peso inferior ao <strong>de</strong>vi<strong>do</strong>.<br />

Os inquéritos às condições <strong>de</strong> nutrição<br />

da OMS leva<strong>do</strong>s a cabo em distritos selecciona<strong>do</strong>s<br />

sugere que 3 a 4% das crianças<br />

entre os 6 meses e os cinco anos são muitíssimo<br />

malnutridas, enquanto que uma em<br />

cada cinco são cronicamente malnutridas.<br />

Apesar <strong>de</strong>sta situação ser em parte <strong>de</strong>vida<br />

à falta <strong>de</strong> alimentos, algumas famílias não<br />

dão às suas crianças o tipo certo <strong>de</strong> alimentação<br />

e a capacida<strong>de</strong> das crianças absorverem<br />

os nutrientes também está a ser comprometida<br />

<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> às infecções regulares.<br />

Pobreza <strong>de</strong> rendimento<br />

Que <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> é um país pobre está fora<br />

<strong>de</strong> dúvida. Mas a proporção que se julga<br />

viver num rendimento <strong>de</strong> pobreza <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong> se situa a linha <strong>de</strong> pobreza. O<br />

padrão internacional, que é útil em comparações<br />

entre países, é <strong>de</strong> $1 por dia. Mas é<br />

usualmente melhor ter uma linha <strong>de</strong> pobreza<br />

nacional, que reflicta melhor as condições<br />

locais. O Inquérito às Famílias <strong>de</strong><br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> <strong>de</strong>finiu, em Setembro <strong>de</strong> 2001,<br />

uma linha <strong>de</strong> pobreza <strong>de</strong> $0.55 por pessoa/por<br />

dia. Desta verba, cerca <strong>de</strong> <strong>do</strong>is terços<br />

eram <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s à alimentação, suficiente<br />

para fornecer 2.100 kilocalorias por dia,<br />

e o restante era <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> a items não alimentares,<br />

incluin<strong>do</strong> educação, saú<strong>de</strong>, vestuário<br />

e habitação. Nesta base, 41% da população<br />

estava abaixo da linha <strong>de</strong> pobreza,<br />

com uma incidência maior nas áreas rurais<br />

(46%) que nos centros urbanos (26%). A<br />

taxa <strong>de</strong> pobreza mais baixa verifica-se em<br />

Dili e em Baucau, on<strong>de</strong> é <strong>de</strong> 14%.<br />

A gran<strong>de</strong> maioria <strong>do</strong>s pobres situa-se<br />

nas zonas rurais. Entre estes, os grupos mais<br />

pobres situam-se em famílias que têm pequenos<br />

terrenos e pouco ou nenhum ga<strong>do</strong><br />

bem como entre aqueles que vivem em<br />

zonas que são propensas a cheias e à erosão<br />

<strong>do</strong> solo. Com maior probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

serem pobres são também as famílias com<br />

muitas crianças e as que têm i<strong>do</strong>sos ou outros<br />

parentes a cargo.<br />

Talvez surpreen<strong>de</strong>ntemente, a pobreza<br />

parece ser menor nos 10% <strong>de</strong> famílias que<br />

são li<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s por mulheres. Isto acontece<br />

provavelmente porque uma mulher viúva<br />

é provavelmente tão pobre que não consegue<br />

sobreviver sozinha e, seguin<strong>do</strong> o costume<br />

timorense tem probabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ir<br />

viver com a família <strong>do</strong> irmão <strong>do</strong> seu mari<strong>do</strong>.<br />

Uma mulher só consegue sobreviver<br />

sozinha no seio <strong>de</strong> uma família mais rica.<br />

A pobreza em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> está também<br />

relacionada com a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>. A<br />

medida convencional <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> é o<br />

Quadro 1.4<br />

DESENVOLVIMENTO HUMANO EM TIMOR LESTE<br />

Desigualda<strong>de</strong> e produtivida<strong>de</strong> agrícola, 1995<br />

Coeficiente Produtivida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Gini agrícola*<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> 0.363 0.847<br />

Nusa Tenggara Oci<strong>de</strong>ntal 0.286 1.706<br />

Nusa Tenggara Oriental 0.296 0.961<br />

Maluku 0.269 2.026<br />

Irian Jaya 0.386 2.007<br />

*Milhões <strong>de</strong> Rp. por trabalha<strong>do</strong>r<br />

Fonte: Booth (2001)<br />

41% da<br />

população<br />

estava abaixo<br />

da linha <strong>de</strong><br />

pobreza<br />

17


Cerca <strong>de</strong><br />

20.000<br />

jovens<br />

integram<br />

anualmente a<br />

força <strong>de</strong><br />

trabalho<br />

18<br />

Quadro 1.5<br />

Principal activida<strong>de</strong> <strong>de</strong> rendimento monetário<br />

das famílias<br />

Activida<strong>de</strong> Rural Urbano Total<br />

Produção <strong>de</strong> arroz 32% 15% 23%<br />

Produção <strong>de</strong> café 13% 9% 11%<br />

Produção frutas/veg. 26% 19% 22%<br />

Criação <strong>de</strong> ga<strong>do</strong> 6% 5% 6%<br />

Lojistasr 3% 11% 7%<br />

Empreiteiros 1% 2% 1%<br />

Trabalha<strong>do</strong>r 5% 12% 8%<br />

Funcionários públicos 1% 7% 4%<br />

Limpezas 1% 2% 2%<br />

Transporte 1% 3% 2%<br />

Restauração 0% 1% 1%<br />

Outros 11% 15% 13%<br />

Total 100% 100% 100%<br />

Fonte: ADB (2000)<br />

coeficiente <strong>de</strong> Gini que varia entre 0 (igualda<strong>de</strong><br />

absoluta) e 1 (uma pessoa possui tu<strong>do</strong>).<br />

Em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> em 1995, o coeficiente <strong>de</strong><br />

Gini era <strong>de</strong> 0.363, mais alto <strong>do</strong> que em outras<br />

províncias pobres da In<strong>do</strong>nésia (Quadro<br />

1.4). Esta situação po<strong>de</strong> ser explicada pela<br />

baixa produtivida<strong>de</strong> na agricultura que reduziu<br />

os rendimentos rurais. Apesar <strong>de</strong> nesse<br />

ano 73% <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res estarem a trabalhar<br />

na agricultura, eles geravam somente<br />

cerca <strong>de</strong> 30% <strong>do</strong> PIB e a produção por<br />

trabalha<strong>do</strong>r era menos <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> da <strong>de</strong><br />

outras províncias.<br />

Os que trabalhavam nas áreas urbanas,<br />

on<strong>de</strong> a maioria das pessoas trabalhava ou<br />

para o governo ou noutras activida<strong>de</strong>s <strong>do</strong><br />

sector <strong>de</strong> serviços, tinham provavelmente<br />

rendimentos semelhantes aos habitantes urbanos<br />

<strong>de</strong> qualquer outra cida<strong>de</strong> na In<strong>do</strong>nésia.<br />

Por isso, a meio <strong>do</strong>s anos 90 o rendimento<br />

per capita em Dili era 73% mais eleva<strong>do</strong><br />

que no resto <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>, enquanto que<br />

o verifica<strong>do</strong> no distrito mais pobre, Lautem,<br />

era 42% mais baixo.<br />

A partida <strong>de</strong> muitos funcionários<br />

in<strong>do</strong>nésios terá certamente reduzi<strong>do</strong> os rendimentos<br />

médios urbanos. No entanto a<br />

expansão <strong>do</strong>s serviços governamentais através<br />

da UNTAET e o eleva<strong>do</strong> número <strong>de</strong><br />

organizações internacionais em Dili, contribuíram<br />

para um aumento marginal no coeficiente<br />

<strong>de</strong> Gini para 0.37 (2001).<br />

Mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> vida sustentáveis<br />

Para alcançar o <strong>de</strong>senvolvimento humano<br />

sustentável as pessoas <strong>de</strong>veriam po<strong>de</strong>r pros-<br />

seguir ‘vidas sustentáveis’. Este termo inclui<br />

não só emprego mas também as formas<br />

como po<strong>de</strong>m utilizar outros activos, activida<strong>de</strong>s<br />

e direitos <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a po<strong>de</strong>rem ganhar<br />

a vida.<br />

Uma das priorida<strong>de</strong>s para <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

<strong>de</strong>ve ser a criação <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

emprego suficientes para as gerações actuais<br />

e futuras. Actualmente a força <strong>de</strong> trabalho<br />

atinge cerca <strong>de</strong> 310.000 pessoas. Com a<br />

população a crescer a um ritmo <strong>de</strong> cerca<br />

<strong>de</strong> 2,5% ao ano, cerca <strong>de</strong> 20.000 jovens integrarão<br />

anualmente a força <strong>de</strong> trabalho.<br />

Quase todas as formas <strong>de</strong> vida actuais estão<br />

ligadas à agricultura, quer para autoconsumo<br />

quer para rendimento. Um inquérito<br />

rápi<strong>do</strong> <strong>de</strong> avaliação da situação leva<strong>do</strong><br />

a cabo em 2000 pelo Banco Asiático <strong>de</strong><br />

<strong>Desenvolvimento</strong> chegou à conclusão <strong>de</strong><br />

que o arroz era a fonte principal <strong>de</strong> rendimento<br />

monetário das famílias (Quadro 1.5).<br />

Como este quadro indica, a maior parte<br />

<strong>do</strong> rendimento monetário é <strong>de</strong>riva<strong>do</strong> da<br />

‘economia informal’. Para o futuro previsível,<br />

a alternativa ao emprego informal será<br />

muito limitada. Um estu<strong>do</strong> da OMT/<br />

PNUD calcula que, no máximo, a economia<br />

formal abrangerá somente 22.000 pessoas,<br />

a maioria das quais será empregada<br />

pelo governo, as ONGs e algumas empresas<br />

estrangeiras. Os restantes —incluin<strong>do</strong> os<br />

trabalha<strong>do</strong>res por conta própria, emprega<strong>do</strong>res,<br />

emprega<strong>do</strong>s e trabalha<strong>do</strong>res familiares<br />

não remunera<strong>do</strong>s—po<strong>de</strong>rão consi<strong>de</strong>rar-se<br />

abrangi<strong>do</strong>s pela economia informal.<br />

A divisão <strong>de</strong> género <strong>de</strong>sta força <strong>de</strong> trabalho<br />

é <strong>de</strong>sconhecida mas calcula-se que seja<br />

<strong>de</strong> 60% <strong>de</strong> homens e 40% <strong>de</strong> mulheres.<br />

O sector ‘industrial’ ou manufactureiro<br />

permanece muito pequeno e consiste<br />

maioritariamente <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s manuais.<br />

Uma avaliação <strong>de</strong> 1997 calculou que, como<br />

categorias mais importantes, existiam cerca<br />

<strong>de</strong> 4.500 empresas <strong>de</strong> tecelagem e <strong>de</strong> produção<br />

<strong>de</strong> mobiliário sen<strong>do</strong> o seu número<br />

médio <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res apenas <strong>de</strong> três<br />

(House, 1999).<br />

Conforme a economia se <strong>de</strong>senvolve,<br />

no entanto, o trabalho não-agrícola tornarse-á<br />

cada vez mais importante. Gran<strong>de</strong> parte<br />

será no sector <strong>do</strong>s serviços em Dili e em<br />

Baucau mas o <strong>de</strong>senvolvimento económico<br />

sustenta<strong>do</strong> exigirá apoio e encorajamento<br />

para a implantação <strong>de</strong> empresas <strong>de</strong> pequena<br />

escala quer nas áreas rurais quer nas<br />

urbanas.<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


Género<br />

Como noutros países em <strong>de</strong>senvolvimento,<br />

a pobreza afecta particularmente as<br />

mulheres. A juntar às suas outras responsabilida<strong>de</strong>s,<br />

na família e na agricultura, elas<br />

carregam o far<strong>do</strong> <strong>do</strong> impacto da água poluída<br />

e das más condições sanitárias, que as<br />

obriga a passar muito tempo a cuidar das<br />

crianças <strong>do</strong>entes. As mulheres rurais, em<br />

particular, que vivem longe <strong>de</strong> instalações<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> também incorrem no risco <strong>de</strong><br />

complicações na gravi<strong>de</strong>z—que contribui<br />

para a mortalida<strong>de</strong> materna.<br />

As mulheres, pelo menos no passa<strong>do</strong>,<br />

tinham menos probabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> serem<br />

matriculadas na escola <strong>do</strong> que os homens e<br />

<strong>do</strong>is terços são analfabetas. Para além disso,<br />

têm menos po<strong>de</strong>r no seio da família.<br />

Isto <strong>de</strong>ve-se parcialmente ao facto <strong>de</strong> não<br />

terem um rendimento monetário próprio:<br />

a taxa <strong>de</strong> participação na força <strong>de</strong> trabalho<br />

é <strong>de</strong> somente 40% para as mulheres comparada<br />

com 60% para os homens. As mulheres<br />

também têm pouca participação nas<br />

reuniões da comunida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> são muitas<br />

vezes silenciadas. Por outro la<strong>do</strong> estão subrepresentadas<br />

em ocupações como no ensino<br />

ou administração pública.<br />

Muitas mulheres são também vítimas <strong>de</strong><br />

violência. Na verda<strong>de</strong> um <strong>do</strong>s piores aspectos<br />

<strong>do</strong>s acontecimentos <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong><br />

1999 foi o grau <strong>de</strong> violência contra as mulheres.<br />

O Alto Comissaria<strong>do</strong> das Nações<br />

Unidas para os Direitos <strong>Humano</strong>s relatou<br />

casos <strong>de</strong> violação e <strong>de</strong> abuso sexual em Dili<br />

e durante as <strong>de</strong>slocações forçadas para os<br />

campos <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> Oci<strong>de</strong>ntal, assim como<br />

no interior <strong>do</strong>s próprios campos.<br />

A ONG <strong>de</strong> mulheres timorenses<br />

FOKUPERS também relatou 182 casos<br />

<strong>do</strong>cumenta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> violação <strong>do</strong>s direitos<br />

humanos baseada no género e consi<strong>de</strong>ra<br />

que estes inci<strong>de</strong>ntes constituem somente a<br />

ponta <strong>do</strong> icebergue. Toda esta violência teve<br />

um efeito traumático nas vidas <strong>de</strong> centenas<br />

<strong>de</strong> mulheres, que necessitarão <strong>de</strong><br />

aconselhamento e <strong>de</strong> apoio nos próximos<br />

anos.<br />

No entanto, a maioria da violência vivida<br />

pelas mulheres hoje em dia acontece<br />

<strong>de</strong>ntro das suas próprias casas. A ‘violência<br />

baseada no género’ po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida como<br />

a violência que envolve homens e mulheres,<br />

em que a mulher é habitualmente a vítima<br />

e que resulta <strong>de</strong> uma relação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />

DESENVOLVIMENTO HUMANO EM TIMOR LESTE<br />

<strong>de</strong>sigual. Participantes <strong>do</strong> Primeiro Congresso<br />

das Mulheres <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> Lorosae, em<br />

Junho <strong>de</strong> 2000 relataram que uma cultura<br />

<strong>de</strong> violência e <strong>de</strong> intolerância contra as mulheres<br />

se tornou profundamente enraizada<br />

na socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>. O Congresso<br />

a<strong>do</strong>ptou uma plataforma <strong>de</strong> acção que<br />

<strong>de</strong>dica uma atenção especial à violência baseada<br />

no género, incluin<strong>do</strong> a violência <strong>do</strong>méstica.<br />

A amplitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta violência é <strong>de</strong>sconhecida<br />

já que muita <strong>de</strong>la não é relatada. Algumas<br />

mulheres po<strong>de</strong>rão <strong>de</strong>sconhecer os seus<br />

direitos legais ou sentir que não po<strong>de</strong>m<br />

confiar nas autorida<strong>de</strong>s para tomar as medidas<br />

apropriadas. Outras po<strong>de</strong>m recear<br />

mais represálias <strong>do</strong> agressor ou <strong>de</strong>saprovação<br />

por parte <strong>do</strong>s outros membros da comunida<strong>de</strong>.<br />

Mas não é invulgar que em socieda<strong>de</strong>s<br />

saídas <strong>de</strong> um longo perío<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

conflito arma<strong>do</strong>, os seus ecos continuem a<br />

ressoar no seio das famílias durante muitos<br />

anos.<br />

Algumas ONGs em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> já têm<br />

programas que procuram prevenir e dar<br />

resposta à violência baseada no género. A<br />

Re<strong>de</strong> das Mulheres <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> (REDE)<br />

reclamou leis a<strong>de</strong>quadas para proteger as<br />

mulheres vítimas <strong>de</strong> violência <strong>do</strong>méstica e<br />

a criação <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> apoio. A UNIFEM<br />

está actualmente a apoiar o estabelecimento<br />

<strong>de</strong> um secretaria<strong>do</strong> permanente para a<br />

REDE e a criação <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s para o<br />

seu pessoal e membros.<br />

A pedi<strong>do</strong> das autorida<strong>de</strong>s e comunida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> foram iniciadas, em<br />

Outubro <strong>de</strong> 2001 e em áreas-piloto<br />

seleccionadas <strong>do</strong>s distritos <strong>de</strong> Baucau e <strong>de</strong><br />

Manatuto, uma série <strong>de</strong> workshops sobre<br />

violência <strong>do</strong>méstica <strong>de</strong>stinadas a compreen<strong>de</strong>r<br />

melhor a extensão <strong>do</strong> problema e a<br />

procurar soluções na comunida<strong>de</strong> local.<br />

As mulheres têm um papel vital a <strong>de</strong>sempenhar<br />

na reconstrução <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>.<br />

Já foram feitos alguns esforços para acentuar<br />

a sua participação. Existiram, por exemplo,<br />

activida<strong>de</strong>s especiais para promover o<br />

voto das mulheres e medidas para assegurar<br />

que pelo menos 30% <strong>do</strong>s funcionários<br />

públicos sejam mulheres. Em Novembro<br />

<strong>de</strong> 2001 a administração transitória nomeou<br />

uma Conselheira timorense para a Igualda<strong>de</strong>,<br />

reportan<strong>do</strong> directamente ao Ministro<br />

Chefe, para apoiar a formulação e a<br />

implementação das políticas governamentais<br />

sobre a igualda<strong>de</strong> e a promoção <strong>de</strong>stas<br />

Uma cultura<br />

<strong>de</strong> violência<br />

e <strong>de</strong><br />

intolerância<br />

contra as<br />

mulheres<br />

19


A <strong>de</strong>gradação<br />

ambiental<br />

compromete os<br />

sistemas <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong><br />

vida das<br />

gerações<br />

futuras<br />

20<br />

questões no seio <strong>do</strong>s governos locais e<br />

centrais.<br />

Ambiente<br />

Um requisito essencial <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano é que seja sustentável—‘<strong>de</strong>senvolvimento<br />

que vá ao encontro das necessida<strong>de</strong>s<br />

<strong>do</strong> presente sem comprometer a<br />

capacida<strong>de</strong> das gerações futuras satisfazerem<br />

as suas próprias necessida<strong>de</strong>s’. <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> não está bem provi<strong>do</strong> <strong>de</strong> recursos<br />

naturais. A maior parte <strong>do</strong> terreno é inclina<strong>do</strong>—estu<strong>do</strong>s<br />

mostram que cerca <strong>de</strong> 44%<br />

<strong>do</strong> país tem uma inclinação <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong><br />

40%, coberto por uma camada fina <strong>de</strong> solo<br />

não produtivo. A chuva é pouca mas quan<strong>do</strong><br />

chega é por vezes tão abundante que<br />

po<strong>de</strong> arrastar o solo em gran<strong>de</strong>s inundações.<br />

Algumas comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> agricultores<br />

<strong>de</strong>senvolveram algumas formas indígenas<br />

<strong>de</strong> conservação <strong>do</strong> solo mas no resto<br />

<strong>do</strong> país a agricultura <strong>de</strong> queimada e uma<br />

fraca gestão da terra contribuíram para uma<br />

perda contínua da camada <strong>de</strong> solo.<br />

Isto foi exacerba<strong>do</strong> pela <strong>de</strong>florestação.<br />

Mesmo antes da chegada <strong>do</strong>s portugueses,<br />

os timorenses já estavam a per<strong>de</strong>r as suas<br />

florestas. Um <strong>do</strong>s recursos mais valiosos era<br />

a ma<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> sândalo, mas a sobre-exploração<br />

reduziu esta floresta para alguns hectares.<br />

Muitas famílias rurais também <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m<br />

da venda <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira para ser utilizada<br />

como combustível. Como resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong>stas<br />

e <strong>do</strong>utras activida<strong>de</strong>s, pensa-se que a camada<br />

<strong>de</strong> floresta tenha diminuí<strong>do</strong> cerca <strong>de</strong> 30%<br />

no perío<strong>do</strong> entre 1972-99. Apesar <strong>de</strong> existirem<br />

poucas estimativas credíveis sobre a<br />

utilização <strong>de</strong> terra, provavelmente 80% <strong>do</strong><br />

país consiste agora <strong>de</strong> vários tipos <strong>de</strong> terra<br />

com cobertura arbustiva. (Pe<strong>de</strong>rsen, 1999).<br />

O outro recurso mais importante são<br />

os minerais. Estes incluem alguns <strong>de</strong>pósitos<br />

<strong>de</strong> ouro, cobre e ferro mas muita da riqueza<br />

mineral está no Mar <strong>de</strong> <strong>Timor</strong>, entre<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> e a Austrália. Aqui jazem <strong>de</strong>pósitos<br />

<strong>de</strong> petróleo e <strong>de</strong> gás natural. As estimativas<br />

<strong>do</strong> seu valor variam, mas estimase<br />

que ao longo <strong>de</strong> um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 20 anos<br />

as jazidas po<strong>de</strong>rão produzir cerca <strong>de</strong> 7<br />

biliões <strong>de</strong> dólares americanos no total.<br />

Para os timorenses das áreas urbanas, a<br />

questão ambiental mais importante é a poluição.<br />

Actualmente não existem sistemas<br />

efectivos <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> <strong>de</strong>sperdícios. Dili tem<br />

um sistema básico <strong>de</strong> esgotos e uma recolha<br />

e tratamento limita<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s resíduos só-<br />

li<strong>do</strong>s. Mas gran<strong>de</strong>s montes <strong>de</strong> lixo são acumula<strong>do</strong>s<br />

como resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> largadas ilegais.<br />

Tu<strong>do</strong> isto está a contribuir para a poluição<br />

<strong>do</strong>s lençóis <strong>de</strong> água subterrâneos, <strong>de</strong><br />

que muitas pessoas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m para beber.<br />

A sustentabilida<strong>de</strong> é uma questão crítica<br />

para o <strong>de</strong>senvolvimento humano em <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong>. A não ser que o país li<strong>de</strong> com questões<br />

como a <strong>de</strong>florestação, a poluição da<br />

água e a recolha insustentável <strong>de</strong> recursos,<br />

os rendimentos agrícolas e rurais continuarão<br />

a cair, as estradas e as infraestruturas<br />

continuarão a <strong>de</strong>gradar-se e a saú<strong>de</strong> das<br />

pessoas sofrerá as consequências. A <strong>de</strong>gradação<br />

ambiental também compromete os<br />

sistemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong> vida das gerações<br />

futuras.<br />

Segurança humana<br />

Outro componente crítico <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano é a segurança. As pessoas<br />

necessitam <strong>de</strong> estar a salvo <strong>de</strong> ameaças aos<br />

seus direitos, à sua segurança ou às suas vidas.<br />

Comparan<strong>do</strong> com os anos da administração<br />

in<strong>do</strong>nésia e o perío<strong>do</strong> traumático<br />

na sequência <strong>do</strong> referen<strong>do</strong>, a maioria das<br />

pessoas sente-se agora mais segura. E a taxa<br />

<strong>de</strong> criminalida<strong>de</strong> registada é baixa. Isto é<br />

claro a partir <strong>do</strong> Inquérito às Famílias, em<br />

que 43% <strong>do</strong>s inquiri<strong>do</strong>s referiram a maior<br />

segurança como a melhoria mais significativa<br />

relativamente ao perío<strong>do</strong> anterior à violência<br />

(Gráfico 1.3).<br />

A administração da UNTAET foi<br />

estabelecida em Outubro <strong>de</strong> 1999 pelo<br />

Conselho <strong>de</strong> Segurança da ONU para ‘exercer<br />

toda a autorida<strong>de</strong> legislativa e executiva,<br />

incluin<strong>do</strong> a administração da justiça’. Isto<br />

envolveu o estabelecimento <strong>de</strong> uma força<br />

Gráfico 1.3<br />

Melhorias <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1999<br />

Emprego<br />

7%<br />

Saú<strong>de</strong> 9%<br />

Educação<br />

21%<br />

Fonte: Inquérito às Famílias<br />

Outras 9%<br />

Participação<br />

política<br />

11%<br />

Segurança<br />

43%<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


<strong>de</strong> polícia civil para manter a lei e a or<strong>de</strong>m,<br />

apoian<strong>do</strong> a criação <strong>do</strong> Serviço <strong>de</strong> Polícia<br />

<strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>. Este esforço incluiu mais<br />

<strong>de</strong> 2.000 pessoas <strong>de</strong> 40 países. A governação<br />

e a justiça são consi<strong>de</strong>radas em maior <strong>de</strong>talhe<br />

no capítulo 2.<br />

Liberda<strong>de</strong> e participação<br />

O povo <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> já estabeleceu a<br />

sua in<strong>de</strong>pendência como nação. A 30 <strong>de</strong><br />

Agosto <strong>de</strong> 2001 uns notáveis 91% <strong>do</strong> eleitora<strong>do</strong><br />

votaram para eleger os membros<br />

da Assembleia Constituinte, constituída por<br />

27% <strong>de</strong> mulheres. A Assembleia recebeu<br />

relatórios <strong>de</strong> 13 Comissões Constitucionais<br />

que sintetizaram os pontos <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> mais<br />

<strong>de</strong> 36.000 timorenses na preparação da<br />

Constituição, sen<strong>do</strong> aprovada em Março <strong>de</strong><br />

<strong>2002</strong>, preparan<strong>do</strong> o caminho para a in<strong>de</strong>pendência.<br />

A eleição presi<strong>de</strong>ncial <strong>de</strong> Abril<br />

<strong>de</strong> <strong>2002</strong> também teve uma participação<br />

surpreen<strong>de</strong>nte—86% <strong>de</strong> eleitores <strong>de</strong>positaram<br />

os seus votos, compara<strong>do</strong>s por exemplo,<br />

com 51% nas últimas eleições presi<strong>de</strong>nciais<br />

<strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.<br />

Estes passos formais são os pré-requisitos<br />

<strong>de</strong> um Esta<strong>do</strong>-Nação mas a liberda<strong>de</strong><br />

envolve mais que o estabelecimento <strong>de</strong> instituições<br />

formais e levar a cabo eleições regulares.<br />

O tipo <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> que é essencial<br />

ao <strong>de</strong>senvolvimento humano exige um processo<br />

constante <strong>de</strong> participação e <strong>de</strong> feedback<br />

que permita a to<strong>do</strong>s—homens, mulheres e<br />

crianças—a possibilida<strong>de</strong> mais alargada <strong>de</strong><br />

controlar os processos que afectam a sua<br />

vida <strong>do</strong> dia-a-dia.<br />

Este tipo <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> também é um<br />

direito humano. Como o <strong>Relatório</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Desenvolvimento</strong> <strong>Humano</strong> global <strong>de</strong> 2000<br />

salienta, os direitos humanos e o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano partilham uma visão comum<br />

e um objectivo comum—assegurar<br />

a liberda<strong>de</strong>, bem estar e dignida<strong>de</strong> das pessoas<br />

<strong>de</strong> to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>. Assegurar:<br />

• ausência <strong>de</strong> discriminação—por género, raça,<br />

etnia, origem nacional ou religião;<br />

• liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> querer—usufruir <strong>de</strong> um nível<br />

<strong>de</strong> vida <strong>de</strong>cente;<br />

• liberda<strong>de</strong> para <strong>de</strong>senvolver—realizar o potencial<br />

humano <strong>de</strong> cada um;<br />

• ausência <strong>de</strong> me<strong>do</strong>—das ameaças à segurança<br />

pessoal, <strong>de</strong> tortura, prisão arbitrária<br />

e outros actos violentos;<br />

• ausência <strong>de</strong> injustiça—<strong>de</strong> violações <strong>do</strong> império<br />

da lei;<br />

DESENVOLVIMENTO HUMANO EM TIMOR LESTE<br />

• liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensamento e <strong>de</strong> discurso—e <strong>de</strong><br />

participar nas tomadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão e formação<br />

<strong>de</strong> associações;<br />

• liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter um trabalho <strong>de</strong>cente—sem<br />

exploração.<br />

Esta lista <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>s é uma agenda <strong>de</strong>safia<strong>do</strong>ra<br />

e exigente. Para <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>, a primeira<br />

priorida<strong>de</strong> tem si<strong>do</strong> o estabelecimento<br />

<strong>do</strong>s acor<strong>do</strong>s constitucionais para construir<br />

uma <strong>de</strong>mocracia forte e participativa,<br />

a par das instituições apropriadas e <strong>de</strong> uma<br />

moldura legal sólida.<br />

Mas <strong>de</strong> igual importância é o estabelecimento<br />

<strong>de</strong> uma ‘cultura’ <strong>de</strong> respeito pelos<br />

direitos humanos quer pelo Esta<strong>do</strong> quer pela<br />

socieda<strong>de</strong> civil. Isto não po<strong>de</strong> ser alcança<strong>do</strong><br />

apenas através <strong>de</strong> legislação. Cada grupo<br />

e cada indivíduo tem <strong>de</strong> respeitar o ‘outro’—aceitan<strong>do</strong><br />

que a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma<br />

pessoa acaba on<strong>de</strong> começa a <strong>de</strong> outra. E<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> tem também <strong>de</strong> olhar para lá<br />

da agressão <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> recente, asseguran<strong>do</strong><br />

que os conflitos sejam soluciona<strong>do</strong>s não<br />

através da violência mas através <strong>do</strong> diálogo.<br />

Os índices <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano<br />

Esta breve apresentação da situação <strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento humano em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

fornece algumas impressões <strong>do</strong> leque <strong>de</strong><br />

questões que o <strong>de</strong>senvolvimento humano<br />

genuíno compreen<strong>de</strong>—da boa saú<strong>de</strong>, às<br />

vidas sustentáveis e emprego e liberda<strong>de</strong><br />

política. Para a maioria <strong>de</strong>stas questões é<br />

possível recolher da<strong>do</strong>s apropria<strong>do</strong>s; é o<br />

caso da taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> infantil, nível<br />

<strong>de</strong> emprego e <strong>de</strong> rendimento e a amplitu<strong>de</strong><br />

da participação das mulheres nos sistemas<br />

eleitorais. Mas também foram <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s<br />

esforços internacionais para alcançar<br />

uma medida composta global: um índice<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano (IDH)<br />

que conjuga to<strong>do</strong>s os factores possíveis<br />

numa única medida.<br />

Deve ser enfatiza<strong>do</strong>, no entanto, que o<br />

IDH não consegue—e na verda<strong>de</strong> não po<strong>de</strong><br />

—reflectir to<strong>do</strong>s os aspectos <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano uma vez que é impossível,<br />

<strong>de</strong> uma forma séria, combinar informação<br />

sobre, por exemplo, rendimento,<br />

crime e direitos humanos ou mortalida<strong>de</strong><br />

materna, num só indica<strong>do</strong>r. Assim o IDH<br />

foi <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma a combinar um<br />

subgrupo <strong>de</strong>stas informações, utilizan<strong>do</strong><br />

Cada grupo e<br />

cada<br />

indivíduo tem<br />

<strong>de</strong> respeitar o<br />

‘outro’<br />

21


22<br />

Caixa 1.4<br />

Uma perspectiva sobre o índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano<br />

O índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano<br />

foi apresenta<strong>do</strong> pela primeira vez<br />

no <strong>Relatório</strong> <strong>do</strong> <strong>Desenvolvimento</strong> <strong>Humano</strong><br />

mundial <strong>de</strong> 1990 e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então<br />

tem si<strong>do</strong> aperfeiçoa<strong>do</strong>.<br />

Porque precisamos <strong>de</strong> um índice <strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento humano?—Porque o<br />

progresso nacional ten<strong>de</strong> a ser medi<strong>do</strong><br />

apenas pelo PNB, muitas pessoas<br />

têm procura<strong>do</strong> medidas sócio-económicas<br />

melhores e mais abrangentes.<br />

O índice <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano<br />

é um contributo para esta procura.<br />

O que inclui o IDH?—O IDH é composto<br />

por três elementos básicos <strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento humano: longevida<strong>de</strong>,<br />

conhecimento e nível <strong>de</strong> vida.<br />

A longevida<strong>de</strong> é medida pela esperança<br />

<strong>de</strong> vida à nascença. O conhecimento<br />

é medi<strong>do</strong> através <strong>de</strong> uma<br />

combinação da taxa <strong>de</strong> alfabetização<br />

<strong>de</strong> adultos (com o peso <strong>de</strong> <strong>do</strong>is<br />

terços) e <strong>do</strong> número médio <strong>de</strong> anos<br />

<strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> (com o peso <strong>de</strong> um<br />

terço). O nível <strong>de</strong> vida é medi<strong>do</strong> pelo<br />

po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> compra, basea<strong>do</strong> no PNB<br />

real per capita ajusta<strong>do</strong> ao custo <strong>de</strong><br />

vida local (parida<strong>de</strong> <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

compra, ou PPC).<br />

Porquê só três elementos?—O i<strong>de</strong>al<br />

seria reflectir to<strong>do</strong>s os aspectos da<br />

experiência humana. A falta <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s<br />

impõe alguns limites sobre isto<br />

mas talvez se venham a acrescentar<br />

mais indica<strong>do</strong>res à medida que haja<br />

mais informação disponível. Mas a<br />

existência <strong>de</strong> mais indica<strong>do</strong>res não<br />

seria necessariamente uma melhoria.<br />

Alguns po<strong>de</strong>m sobrepor-se a indica-<br />

indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> esperança <strong>de</strong> vida, conhecimento<br />

e nível <strong>de</strong> vida (caixa 1.4).<br />

Isto resulta num valor <strong>de</strong> IDH para cada<br />

país numa escala <strong>de</strong> 0 a 1 o que, em princípio,<br />

permite classificar qualquer país <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as suas realizações<br />

em termos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano.<br />

Na prática isto não é possível para to<strong>do</strong>s<br />

os países uma vez que nem to<strong>do</strong>s recolhem<br />

os da<strong>do</strong>s necessários. Em 2001 o <strong>Relatório</strong><br />

global <strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong> <strong>Humano</strong> <strong>de</strong><br />

2001 calculou o IDH para 162 países. Destes,<br />

a Noruega ocupava o primeiro lugar<br />

com um IDH <strong>de</strong> 0,939, enquanto a Serra<br />

Leoa, um país na África Oci<strong>de</strong>ntal, ocupava<br />

a última posição com um IDH <strong>de</strong> 0,258.<br />

<strong>do</strong>res já existentes: a mortalida<strong>de</strong> infantil,<br />

por exemplo, já está reflectida<br />

na esperança <strong>de</strong> vida. Além disso,<br />

ao acrescentar mais variáveis o quadro<br />

po<strong>de</strong>ria ficar confuso e <strong>de</strong>sviar a<br />

atenção das principais tendências.<br />

Como é possível combinar indica<strong>do</strong>res<br />

medi<strong>do</strong>s em unida<strong>de</strong>s diferentes?<br />

—A medida <strong>do</strong> PNB é o dinheiro.<br />

No entanto, a novida<strong>de</strong> <strong>do</strong> IDH foi a<br />

<strong>de</strong> encontrar uma medida comum<br />

para a distância sócio-económica percorrida.<br />

O IDH estabelece um mínimo<br />

e um máximo para cada dimensão<br />

e mostra a posição <strong>de</strong> cada país<br />

em relação a estas escalas—expresso<br />

num valor entre 0 e 1.<br />

Será enganoso usar um único IDH<br />

para um país com gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s?—As<br />

médias nacionais po<strong>de</strong>m<br />

escon<strong>de</strong>r muito. A melhor solução<br />

seria criar diferentes IDHs para os grupos<br />

mais significativos: por sexo, por<br />

exemplo, ou por classe económica,<br />

região geográfica, raça ou grupo étnico.<br />

Os distintos IDHs iriam revelar<br />

um perfil mais <strong>de</strong>talha<strong>do</strong> das privações<br />

humanas e em alguns países<br />

foram realmente produzi<strong>do</strong>s.<br />

Como po<strong>de</strong> ser usa<strong>do</strong> o IDH?—O<br />

IDH oferece uma alternativa ao PNBpc<br />

como medida <strong>do</strong> progresso sócio-económico<br />

das nações. Permite às pessoas<br />

e aos seus governos avaliar o<br />

progresso ao longo <strong>do</strong> tempo e <strong>de</strong>terminar<br />

priorida<strong>de</strong>s para intervenções<br />

políticas. O IDH permite também comparações<br />

instrutivas sobre as experiências<br />

<strong>de</strong> diferentes países.<br />

On<strong>de</strong> é que <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> encaixa neste<br />

quadro? O Quadro 1.6 apresenta a estimativa<br />

para <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> enquanto província<br />

in<strong>do</strong>nésia, até 1999, e um cálculo para 2001<br />

que indica um IDH <strong>de</strong> 0.421.<br />

Também se verificou um aumento geral<br />

<strong>do</strong> IDH (Gráfico 1.4). Esta tendência<br />

<strong>de</strong>ve ser vista com precaução da<strong>do</strong> que o<br />

valor para 2001 utiliza fontes diferentes das<br />

utilizadas para os outros anos (ver nos anexos<br />

a nota sobre o cálculo <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res).<br />

No entanto sugere uma melhoria contínua<br />

nos índice da esperança <strong>de</strong> vida e da<br />

educação. A componente <strong>de</strong> rendimento <strong>do</strong><br />

IDH, que é o PIB per capita ajusta<strong>do</strong> pela<br />

parida<strong>de</strong> <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> compra, <strong>de</strong>monstrou<br />

uma gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>scida—que<br />

correspon<strong>de</strong>u provavelmente à crise económica<br />

na In<strong>do</strong>nésia e ao colapso <strong>de</strong> 1999,<br />

e <strong>de</strong>pois um aumento em 2001, que<br />

correspon<strong>de</strong>u ao incentivo no sector <strong>do</strong>s<br />

serviços causa<strong>do</strong> pela presença <strong>de</strong> muitos<br />

expatria<strong>do</strong>s.<br />

Comparar <strong>Timor</strong> com o resto <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />

obriga, no entanto, a usar os da<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

1999 da<strong>do</strong> que este é o último ano para o<br />

qual o IDH para os vários países foi calcula<strong>do</strong>.<br />

Nesta base o IDH <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> é<br />

idêntico ao <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> centro-africano <strong>do</strong><br />

Ruanda, que nesse ano foi classifica<strong>do</strong> em<br />

152º lugar num total <strong>de</strong>162 países para o<br />

qual o IDH foi calcula<strong>do</strong> (Quadro 1.7). É<br />

interessante neste caso comparar os componentes<br />

<strong>do</strong> IDH <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> com os<br />

<strong>do</strong> Ruanda. Apesar <strong>de</strong> serem idênticos, os<br />

componentes que o constituem são muito<br />

diferentes. No entanto o PIB per capita <strong>de</strong><br />

Gráfico 1.4<br />

Tendência <strong>do</strong> IDH, 1993-2001<br />

Valor <strong>do</strong> IDH<br />

0.44<br />

0.42<br />

0.40<br />

0.38<br />

0.36<br />

0.34<br />

1993 1996 1997 1999 2001<br />

Fonte: Como para o quadro 1.6.<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


Quadro 1.6<br />

Índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano<br />

1993 1996 1997 1999 2001<br />

Esperança <strong>de</strong> vida à nascença (anos) 1 52,2 53,9 54,4 56,0 56,7<br />

Taxa <strong>de</strong> alfabetização <strong>de</strong> adultos (%) 2 35,6 40,4 40,6 40,4 43,0<br />

Taxa bruta <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>3 (%) 52,6 55,5 56,6 59,1 56,1<br />

PIB per capita ($PPC) 4 374 429 442 337 478<br />

Índice da esperança <strong>de</strong> vida 0,453 0,482 0,490 0,517 0,528<br />

Índice da educação 0,413 0,454 0,459 0,466 0,474<br />

Índice <strong>do</strong> rendimento per capita 0,220 0,243 0,248 0,203 0,261<br />

Valor <strong>do</strong> Índice <strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong> <strong>Humano</strong> 0,362 0,393 0,399 0,395 0,421<br />

Notas:1. Para mais informações sobre o mo<strong>do</strong> como a esperança <strong>de</strong> vida e outros da<strong>do</strong>s foram estima<strong>do</strong>s, ver a Nota sobre o<br />

cálculo <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res, página 93. 2. Igual ou superior a 15 anos. 3.Agrega<strong>do</strong> <strong>de</strong> matricula<strong>do</strong>s nos ensinos primário,<br />

secundário e superior. 4. Usan<strong>do</strong> o ano <strong>de</strong> 1996 como base. O número para ‘1993’ refere-se a 1995.<br />

Fontes: O censo da população <strong>de</strong> 1990, o inquérito intercensos <strong>de</strong> 1995 (SUPAS). Inquéritos socio-económicos às famílias—<br />

SUSENAS (1993, 1996 e 1999), Inquérito às Famílias <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> 2001, IMF Survey (28 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 2000),<br />

Declaração <strong>do</strong> IMF sobre <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> na Conferência <strong>de</strong> Doa<strong>do</strong>res (Oslo, Dezembro <strong>de</strong> 2001).<br />

Quadro 1.7<br />

Índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> na classificação mundial, para 1999<br />

Or<strong>de</strong>m no IDH Valor <strong>do</strong> IDH PIB per capita Esperança Taxa <strong>de</strong> Taxa <strong>de</strong><br />

($PPC) <strong>de</strong> vida alfabetização escolarização<br />

à nascença (anos) <strong>de</strong> adultos1 bruta (%) 2<br />

Países da ASEAN<br />

56 Malásia 0,774 8.209 72,2 87,0 66<br />

66 Tailândia 0,757 6.132 69,9 95,3 60<br />

70 Filipinas 0,749 3.805 69,0 95,1 82<br />

101 Vietname 0,682 1.860 67,8 93,1 67<br />

102 In<strong>do</strong>nésia 0,677 2.857 65,8 86,3 65<br />

118 Myanmar 0,551 1.027 56,0 84,4 55<br />

121 Camboja 0,541 1.361 56,4 68,2 62<br />

131 Laos 0,476 1.471 53,1 47,3 58<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> 0,395 337 56,0 40,4 59<br />

Outros países asiáticos com <strong>de</strong>senvolvimento humano baixo:<br />

129 Nepal 0,480 1.237 58,1 40,4 60<br />

130 Butão 0,477 1.341 61,5 42,0 33<br />

132 Bangla<strong>de</strong>sh 0,470 1.483 58,9 40,8 37<br />

133 Iémene 0,468 806 60,1 45,2 51<br />

Países lusófonos em vias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

69 Brasil 0,750 7.037 67,5 84,9 80<br />

91 Cabo Ver<strong>de</strong> 0,708 4.490 69,4 73,6 77<br />

146 Angola 0,422 3.179 45,0 42,0 23<br />

156 Guiné-Bissau 0,339 678 44,5 37,7 37<br />

157 Moçambique 0,323 861 39,8 43,2 23<br />

Outros países com IDH baixo<br />

152 Ruanda 0,395 885 39,9 65,8 40<br />

161 Níger 0,274 753 44,8 15,3 16<br />

162 Serra Leoa 0,258 448 38,3 32,0 27<br />

Fonte: Para outros países, o <strong>Relatório</strong> <strong>do</strong> Desnvolvimento <strong>Humano</strong>, PNUD (2001).<br />

Notas: 1. Com 15 anos ou mais. 2. No ensino primário, secundário e superior<br />

DESENVOLVIMENTO HUMANO EM TIMOR LESTE<br />

23


O IDH <strong>de</strong> <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> é idêntico<br />

ao <strong>do</strong> esta<strong>do</strong><br />

centro-africano<br />

<strong>do</strong> Ruanda<br />

24<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> é inferior a meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

Ruanda ($337 compara<strong>do</strong> com $885).<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> apresenta também um índice<br />

inferior na educação principalmente porque<br />

em 1999 a taxa <strong>de</strong> alfabetização era <strong>de</strong><br />

somente 40%, comparada com 66% no<br />

Ruanda. No entanto, isto é contrabalança<strong>do</strong><br />

por uma esperança <strong>de</strong> vida muito superior<br />

(56 anos em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>, comparada<br />

com 40 no Ruanda).<br />

Das componentes <strong>do</strong> IDH, <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

tem um <strong>de</strong>sempenho mo<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> na esperança<br />

<strong>de</strong> vida. Uma esperança <strong>de</strong> vida média<br />

<strong>de</strong> 56 anos é comparável à <strong>do</strong> Camboja<br />

e à <strong>do</strong> Myanmar, mas muito inferior à<br />

verificada em muitos outros países da<br />

ASEAN, como a In<strong>do</strong>nésia (65) e o<br />

Vietname (68). Apesar <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>, a esperança<br />

<strong>de</strong> vida em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> é muito superior à<br />

<strong>de</strong> outros países africanos <strong>de</strong> língua oficial<br />

portuguesae com baixos rendimentos,<br />

como Angola e Guiné-Bissau (45) e<br />

Moçambique (40).<br />

Dos componentes <strong>do</strong> índice <strong>de</strong> educação,<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> tem um <strong>de</strong>sempenho<br />

melhor nas matrículas que na literacia. O<br />

rácio bruto combina<strong>do</strong> <strong>de</strong> matrículas para<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> era <strong>de</strong> 59% em 1999, comparável<br />

com o <strong>do</strong> Myanmar (55%) e com o<br />

<strong>do</strong> Camboja (62%). Por outro la<strong>do</strong>, a taxa<br />

<strong>de</strong> alfabetização <strong>de</strong> adultos para <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> rondava os 40%, sen<strong>do</strong> muito inferior<br />

à verificada em qualquer outro país da<br />

ASEAN e comparável apenas como a <strong>do</strong>s<br />

países mais pobres da Ásia, como o Butão,<br />

o Bangla<strong>de</strong>sh, o Nepal e o Iémen, assim<br />

como com os países africanos mais pobres,<br />

incluin<strong>do</strong> a Guiné-Bissau, o Níger,<br />

Moçambique e a Serra Leoa.<br />

No entanto o pior <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong><br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> é no rendimento per capita<br />

—que é em certa medida resulta<strong>do</strong> da crise<br />

<strong>de</strong> 1999. De facto, o rendimento per capita<br />

estima<strong>do</strong> <strong>de</strong> $337 para 1999 coloca <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> no último lugar <strong>do</strong> ranking <strong>de</strong> PIB<br />

<strong>de</strong>stes 162 países—bastante atrás da Serra<br />

Leoa, que ocupava o último lugar com<br />

$448. Isto é indica<strong>do</strong> no gráfico 1.5 que<br />

apresenta <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> no fim da tabela em<br />

termos <strong>de</strong> rendimento mas com um <strong>de</strong>sempenho<br />

um pouco melhor no IDH. A<br />

tendência nesta figura mostra que o IDH<br />

ten<strong>de</strong> a aumentar quan<strong>do</strong> o rendimento per<br />

capita aumenta—em parte porque o rendimento<br />

é em si próprio um componente <strong>do</strong><br />

IDH. Mas esta figura ilustra um ponto im-<br />

Gráfico 1.5<br />

IDH compara<strong>do</strong> com o PIB<br />

PIB per capita; milhares $ PPP<br />

4.0<br />

3.5<br />

3.0<br />

2.5<br />

2.0<br />

1.5<br />

1.0<br />

0.5<br />

0.0<br />

Fonte: Como para o quadro 1.7<br />

Gráfico 1.6<br />

0 0.2 0.4 0.6 0.8<br />

IDHs regionais, 1999<br />

PIB per capita (milhares <strong>de</strong> rupias)<br />

2.5<br />

2.0<br />

1.5<br />

1.0<br />

0.5<br />

0.0<br />

Moçambique<br />

Guiné-Bissau<br />

Manufahi<br />

Ailieu<br />

Angola<br />

Laos<br />

Nepal<br />

Valor <strong>do</strong> IDH<br />

Filipinas<br />

In<strong>do</strong>nesia<br />

Vietname<br />

Camboja<br />

Myanmar<br />

Iémene<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

Ermera<br />

Dili<br />

Ainara<br />

Manatuto<br />

Oecussi<br />

Liquica<br />

Covalima<br />

Baucau<br />

0 0.2 0.4<br />

Valor <strong>do</strong> IDH<br />

0.6 0.8<br />

Nota: Os valores <strong>do</strong> IDH <strong>de</strong>ste quadro não são comparáveis<br />

com os que são apresenta<strong>do</strong>s no Quadro 1.6 já que o<br />

indica<strong>do</strong>r <strong>de</strong> rendimento utiliza as rupias in<strong>do</strong>nésias e que um<br />

<strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> educação utiliza a média <strong>de</strong> anos <strong>de</strong><br />

escolarida<strong>de</strong> em vez da taxa bruta combinada <strong>de</strong> matrícula<br />

nos três graus <strong>de</strong> ensino<br />

Fonte: Calcula<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s brutos <strong>do</strong><br />

SUSENAS <strong>de</strong> 1999<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


portante: alguns países têm um <strong>de</strong>sempenho<br />

melhor que outros a transformar rendimentos<br />

mais eleva<strong>do</strong>s em melhores condições<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano. Nestes<br />

termos, <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> tem um <strong>de</strong>sempenho<br />

melhor <strong>do</strong> que o seu rendimento per<br />

capita po<strong>de</strong>ria sugerir, sublinhan<strong>do</strong> a importância<br />

<strong>do</strong> IDH como medida <strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento em lugar <strong>do</strong> PIB apenas.<br />

Uma das fraquezas <strong>do</strong> IDH calcula<strong>do</strong> a<br />

nível nacional é a <strong>de</strong> que não leva em conta<br />

as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong>s próprios países.<br />

Um país po<strong>de</strong> ter um IDH global eleva<strong>do</strong><br />

mas apresentar <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s significativas<br />

entre regiões ou entre grupos sociais.<br />

Este será certamente o caso <strong>de</strong> <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong>, da<strong>do</strong> o contraste entre áreas rurais e<br />

urbanas e a negligência <strong>do</strong>s distritos mais<br />

remotos. Uma forma <strong>de</strong> lidar com esta<br />

questão é calcular diferentes IDHs para diferentes<br />

regiões. Actualmente não é possível<br />

fazê-lo para os 13 distritos <strong>de</strong> <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> uma vez que não existem da<strong>do</strong>s suficientes.<br />

No entanto é possível ter uma i<strong>de</strong>ia<br />

da situação utilizan<strong>do</strong> os da<strong>do</strong>s recolhi<strong>do</strong>s<br />

pela In<strong>do</strong>nésia em 1999. O resulta<strong>do</strong> é ilustra<strong>do</strong><br />

no gráfico 1.6, que apresenta o IDH<br />

mais eleva<strong>do</strong> em Dili e o mais baixo em<br />

Manufahi, apesar <strong>de</strong>ste distrito ter um PIB<br />

per capita mais eleva<strong>do</strong> que qualquer outro<br />

distrito à excepção <strong>de</strong> Dili.<br />

Índice <strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong> <strong>Humano</strong><br />

ajusta<strong>do</strong> ao Género<br />

Uma das diferenças mais importantes nas<br />

realizações <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano é<br />

a diferença entre homens e mulheres. Neste<br />

caso os relatórios <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano<br />

global tiveram uma aproximação ligeiramente<br />

diferente—não calculan<strong>do</strong> diferentes<br />

IDHs para homens e mulheres, mas<br />

reduzin<strong>do</strong> ou <strong>de</strong>scontan<strong>do</strong> o IDH através<br />

<strong>de</strong> uma factor que representa a amplitu<strong>de</strong><br />

da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> género. Isto produz um<br />

Índice <strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong> <strong>Humano</strong> ajusta<strong>do</strong><br />

ao género (GDI). Quanto maior o<br />

grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>, mais o GDI se distancia<br />

<strong>do</strong> IDH. Os resulta<strong>do</strong>s são apresenta<strong>do</strong>s<br />

no Quadro 1.8, que dá um GDI para<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>, em 2001, <strong>de</strong> 0,347, que se<br />

compara com um IDH <strong>de</strong> 0,395—ou seja,<br />

12% mais baixo. Isto acontece em gran<strong>de</strong><br />

parte porque o rendimento salarial global<br />

das mulheres é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> como sen<strong>do</strong><br />

apenas um oitavo <strong>do</strong> <strong>do</strong>s homens.<br />

DESENVOLVIMENTO HUMANO EM TIMOR LESTE<br />

O Quadro 1.8 mostra que o GDI se<br />

<strong>de</strong>teriorou <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1999. Esta situação não<br />

se <strong>de</strong>ve ao facto da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> género,<br />

em geral, ter aumenta<strong>do</strong>—na verda<strong>de</strong> em<br />

1999 o GDI, então com 0,361, era 34%<br />

mais baixo que o IDH para esse ano—mas<br />

porque o próprio IDH baixou muito entre<br />

1999 e 2001.<br />

Existe também um outro indica<strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />

estatuto das mulheres: a medida <strong>de</strong> reforço<br />

<strong>do</strong> po<strong>de</strong>r (empowerment) ten<strong>do</strong> em atenção<br />

o género (GEM). Esta tem em conta a percentagem<br />

<strong>de</strong> mulheres no parlamento, a<br />

percentagem <strong>de</strong> gestoras e <strong>de</strong> profissionais<br />

qualificadas, assim como as disparida<strong>de</strong>s<br />

entre o rendimento salarial <strong>de</strong> homens e<br />

mulheres. Actualmente, contu<strong>do</strong>, não existem<br />

da<strong>do</strong>s suficientes para calcular o GEM<br />

em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>.<br />

O índice <strong>de</strong> pobreza humana<br />

Outra medida útil <strong>de</strong>senvolvida para o relatório<br />

<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano global<br />

é o índice <strong>de</strong> pobreza humana (IPH). A<br />

abordagem convencional da pobreza humana<br />

discutida anteriormente refere-se apenas<br />

aos níveis, baixos, <strong>de</strong> rendimentos e <strong>de</strong><br />

consumo. Mas a pobreza, tal como o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano, é um conceito<br />

multidimensional. As pessoas po<strong>de</strong>m ser<br />

pobres <strong>de</strong> muitas formas, para além <strong>de</strong> terem<br />

um baixo rendimento. Po<strong>de</strong>m ter uma<br />

saú<strong>de</strong> pobre, por exemplo, ou falta <strong>de</strong> acesso<br />

à educação ou a oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> emprego.<br />

O índice <strong>de</strong> pobreza humano tenta<br />

levar isto em consi<strong>de</strong>ração. De facto existem<br />

<strong>do</strong>is índices, um para os países em <strong>de</strong>senvolvimento<br />

e outro para os países da<br />

OCDE, que têm em conta as suas diferentes<br />

circunstâncias. O IPH para os países em<br />

<strong>de</strong>senvolvimento (IPH-1) combina medidas<br />

<strong>de</strong> longevida<strong>de</strong>, conhecimento e capacida<strong>de</strong><br />

económica geral. Neste caso os valores<br />

são apresenta<strong>do</strong>s em percentagens,<br />

on<strong>de</strong> uma percentagem menor significa um<br />

nível mais baixo <strong>de</strong> pobreza. O IPH actual<br />

<strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> é <strong>de</strong> 49.0 (quadro 1.10).<br />

Deve notar-se no entanto que o IPH não<br />

é um índice <strong>de</strong> incidência da pobreza. Um<br />

nível <strong>de</strong> pobreza <strong>de</strong> 49.0 não significa que<br />

49% vivem num nível <strong>de</strong> pobreza humana.<br />

Isto é assim porque o IPH, tal como o<br />

IDH, é um índice composto. Assim, enquanto<br />

a proporção <strong>de</strong> pessoas que não<br />

utilizam melhores fontes <strong>de</strong> água ser <strong>de</strong><br />

46,9% e a proporção <strong>de</strong> adultos que são<br />

25


26<br />

Quadro 1.8<br />

Índice <strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong> ajusta<strong>do</strong> ao Género<br />

1999 2001<br />

Esperança <strong>de</strong> vida à nascença (anos)<br />

Mulheres 57,5 59,2<br />

Homens 54,2 55,6<br />

Taxa <strong>de</strong> alfabetização <strong>de</strong> adultos, com 15 anos ou mais (%)<br />

Mulheres 33,9 42,8<br />

Homens 46,9 43,1<br />

Taxa <strong>de</strong> escolarização bruta combinada nos ensinos primário, secundário e superior<br />

Mulheres 59,7 55,1<br />

Homens 62,1 58,4<br />

Índice <strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong> ajusta<strong>do</strong> ao Género (IDG) 0,361 0,347<br />

Nota: Para questões <strong>de</strong> comparação entre os da<strong>do</strong>s pré e pós-1999, ver ‘Nota sobre o cálculo <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res’, página 93.<br />

Fonte: Como no quadro 1.6<br />

Table 1.9<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> na classificação global <strong>de</strong> IDG<br />

Or<strong>de</strong>m no IDH<br />

Países da ASEAN<br />

Or<strong>de</strong>m Valor Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Homens<br />

56 Malásia 55 0,768 74,8 69,9 82,8 91,1 67 64 5,153 11.183<br />

66 Tailândia 58 0,755 72,9 67,0 93,5 97,0 61 60 4.634 7.660<br />

70 Filipinas 62 0,746 71,1 67,0 94,9 95,3 84 80 2,684 4.910<br />

101 Vietname 89 0,680 70,2 65,5 91,0 95,4 64 69 1.552 2.170<br />

102 In<strong>do</strong>nésia 92 0,671 67,7 63,9 81,3 91,5 61 68 1.929 3.780<br />

118 Myanmar 107 0,547 58,4 53,6 80,1 88,8 55 55 746 1.311<br />

121 Camboja 109 0,534 58,6 54,1 57,7 80,1 54 71 1.190 1.541<br />

131 Laos 119 0,463 54,4 51,9 31,7 63,0 52 65 1,169 1.774<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> 0,351 57,7 54,2 33,9 46,9 57,9 62,1 146 522<br />

Outro países asíaticos com <strong>de</strong>senvolvimento humano baixo<br />

129 Nepal 120 0,461 57,8 58,3 22,8 58,0 52 67 849 1.607<br />

130 Butão .. .. 62,8 60,3 .. .. .. .. .. ..<br />

132 Bangla<strong>de</strong>sh 121 0,459 59,0 58,9 29,3 51,7 33 41 1.076 1.866<br />

133 Iémen 131 0,410 61,2 59,0 23,9 66,6 29 72 345 1.272<br />

Países lusófonos em vias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

69 Brasil 64 0,743 71,8 63,9 84,9 84,8 80 79 4,067 10.077<br />

91 Cabo Ver<strong>de</strong> 84 0,696 71,8 66,0 65,1 84,5 76 79 2.687 6.560<br />

146 Angola .. .. 46,3 43,6 .. .. 21 25 .. ..<br />

156 Guiné-Bissau 143 0,308 45,9 43,1 18,3 58,3 27 47 442 921<br />

157 Moçambique 141 0,309 40,8 38,8 27,9 59,3 19 26 713 1.013<br />

Outro países com IDH baixo<br />

Índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento Esperança <strong>de</strong> vida Taxa <strong>de</strong> alfabetização Taxa bruta <strong>de</strong> Rendimento<br />

ajusta<strong>do</strong> ao Género à nascença (anos) <strong>de</strong> adultos (%) 1 escolarida<strong>de</strong> (%) ($PPP)<br />

161 Niger 146 0,260 45,1 44,5 7,9 23,0 12 20 561 941<br />

162 Serra Leoa .. .. 39,6 37,0 .. .. 21 32 .. ..<br />

Nota: 1. Com 15 anos ou mais<br />

Fonte: Para outros países, <strong>Relatório</strong> <strong>do</strong> <strong>Desenvolvimento</strong> <strong>Humano</strong> 2001 (PNUD)<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


Quadro 1.10<br />

Índice <strong>de</strong> pobreza humana <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

Table 1.11<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> na classificação global IPH-1<br />

Países da ASEAN<br />

56 Malásia 13 10,9 5,0 13,0 5 18 15,5<br />

66 Tailândia 21 14,0 9,0 4,7 20 19 13,1<br />

70 Filipinas 23 14,7 8,9 4,9 13 28 36,8<br />

101 Vietname 45 29,1 12,8 6,9 44 39 50,9<br />

102 In<strong>do</strong>nésia 38 21,3 12,8 13,7 24 34 27,1<br />

118 Myanmar 43 28,0 26,0 15,6 32 39 ..<br />

121 Camboja 78 45,0 24,4 31,8 70 52 36,1<br />

131 Laos 66 39,9 30,5 52,7 10 40 46,1<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> 49,0 35,6 59,6 46,9 44,5 42,4<br />

Outros países asiáticos com <strong>de</strong>senvolvimento humano baixo<br />

129 Nepal 77 44,2 22,5 59,6 19 47 42,0<br />

130 Butão .. .. 20,2 .. 38 38 ..<br />

132 Bangla<strong>de</strong>sh 73 43,3 21,4 59,2 3 56 35,6<br />

133 Iémen 70 42,5 20,0 54,8 31 46 19,1<br />

Países lusófonos em vias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

Pessoas que não Taxa <strong>de</strong> Pessoas sem Crianças com peso População abaixo<br />

Índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>vem ultrapassar os 40 analfabetismo acesso a água <strong>de</strong>ficiente menores da linha nacional<br />

pobreza humana anos (% da coorte) adultos (%) potável (%) <strong>de</strong> 5 anos (%) <strong>de</strong> pobreza (%)<br />

Or<strong>de</strong>m no IDH Or<strong>de</strong>m Valor (%) 1995-2000 1999 1999 1995-2000 1984-99<br />

69 Brasil 18 12,9 11,3 15,1 17 6 22,0<br />

91 Cabo Ver<strong>de</strong> 36 20,9 10,4 26,4 26 14 ..<br />

146 Angola .. .. 41,6 .. 62 42 ..<br />

156 Guiné-Bissau 86 49,6 42,2 62,3 51 23 ..<br />

157 Moçambique 84 48,3 49,2 56,8 40 26 ..<br />

Outros países com IDH baixo<br />

152 Ruanda 76 44,2 51,9 40,8 59 40 51,2<br />

161 Niger 90 63,6 41,4 84,7 41 50 63,0<br />

162 Sierra Leone .. .. 51,6 .. 72 29 68,0<br />

Fontes: Para outros países, <strong>Relatório</strong> <strong>do</strong> <strong>Desenvolvimento</strong> <strong>Humano</strong> 2001 (PNUD)<br />

1996 1999 2001<br />

Pessoas que não <strong>de</strong>vem ultrapassar os 40 anos (em % da população total) 41.1 35.6 32.2<br />

Taxa <strong>de</strong> alfabetização <strong>de</strong> adultos, com 15 anos ou mais (%) 59.6 59.6 57.0<br />

Média não pon<strong>de</strong>rada <strong>de</strong> privação <strong>de</strong> um nível <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>cente 49.0 45.7 ..<br />

opulação sem acesso a água potável (%) 47.4 46.9 45.4<br />

Crianças com peso <strong>de</strong>ficiente menores <strong>de</strong> 5 anos (%) 50.6 44.5 ..<br />

Valor <strong>do</strong> Índice <strong>de</strong> pobreza humana (IPH-1) 1 51.0 49.0 ..<br />

População abaixo da linha <strong>de</strong> pobreza nacional (%) 2 41.5 42.4 41.1<br />

Notas:1. Para uma explicação <strong>de</strong> como foi calcula<strong>do</strong> o IPH, ver a ‘Nota sobre o cálculo <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res’, na página 93 . 2.<br />

Utilizan<strong>do</strong> linhas <strong>de</strong> pobreza baseadas no consumo: 32.742 rupias/capita/mês em 1996, 78.396 rupias/pessoa/mês em<br />

1999—ambos retira<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s centrais <strong>do</strong> SUSENAS em 1996 e 1999, e 158.480 rupias/capita/mês em 2001—<br />

retira<strong>do</strong> <strong>do</strong> Inquérito às famílias <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> <strong>de</strong> 2001.<br />

Fonte: Censo da população <strong>de</strong> 1990, Inquéritos intercensos (SUPAS) <strong>de</strong> 1995, Inquéritos sócio-económicos das famílias—<br />

SUSENAS (1993, 94, 96, 97, 98, 99). Inquérito às famílias <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> <strong>de</strong> 2001<br />

DESENVOLVIMENTO HUMANO EM TIMOR LESTE<br />

27


<strong>Timor</strong> tem uma<br />

das mais altas<br />

taxas <strong>de</strong><br />

pobreza humana<br />

da Ásia<br />

28<br />

analfabetos ser <strong>de</strong> 56,9%, estas pessoas não<br />

são as mesmas—alguns analfabetos, por<br />

exemplo, terão bom abastecimento <strong>de</strong> água.<br />

Esta falta <strong>de</strong> informação sobre<br />

sobreposição <strong>de</strong> características significa que<br />

o IPH não po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> um índice<br />

<strong>de</strong> incidência. No entanto, tem o mérito<br />

<strong>de</strong> mostrar o quadro geral e <strong>de</strong> ajudar a<br />

traçar as tendências <strong>de</strong> pobreza ao longo<br />

<strong>do</strong> tempo e entre países.<br />

Uma das dificulda<strong>de</strong>s em fazer comparações<br />

internacionais é a <strong>de</strong> que nem to<strong>do</strong>s<br />

os países produzem informação suficiente<br />

para calcular o índice <strong>de</strong> pobreza humana.<br />

O <strong>Relatório</strong> <strong>do</strong> <strong>Desenvolvimento</strong> <strong>Humano</strong><br />

<strong>de</strong> 2001 tem IPHs e a classificação correspon<strong>de</strong>nte<br />

para 90 países em <strong>de</strong>senvolvimento<br />

em 1999. Se <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> fosse inseri<strong>do</strong><br />

nesta lista global, aumentan<strong>do</strong> o número<br />

total <strong>de</strong> países para 91, com um valor <strong>de</strong><br />

IPH-1 <strong>de</strong> 46,0 ocuparia a posição número<br />

81, entre o Senegal (45.0) e a República<br />

Centro-Africana (45.8).<br />

O Quadro 1.11 apresenta <strong>Timor</strong> num<br />

contexto global. O Ruanda, o país com a<br />

mesma classificação <strong>de</strong> IDH que <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> nesse ano, tem um nível inferior <strong>de</strong><br />

pobreza humana, classifican<strong>do</strong>-se na posição<br />

número 76 com um IPH <strong>de</strong> 44,2. O<br />

Quadro 1.11 também permite comparações<br />

com outros países da região. Dos restantes<br />

países asiáticos para os quais o IPH<br />

Gráfico 1.7<br />

Alcançar 100% <strong>de</strong> alfabetização<br />

Homens<br />

Mulheres<br />

Urbano<br />

Rural<br />

Total<br />

0 20 40 60 80<br />

Fonte: Quadro 7 <strong>do</strong> Anexo<br />

Ano 2036<br />

Ano 2027<br />

Ano 2010<br />

Ano 2075<br />

Ano 2033<br />

Número <strong>de</strong> anos necessários<br />

para alcançar 100% <strong>de</strong> alfabetização<br />

po<strong>de</strong> ser calcula<strong>do</strong>, <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> tem a taxa<br />

mais elevada <strong>de</strong> pobreza humana.<br />

O Quadro 1.11 também inclui as taxas<br />

<strong>de</strong> pobreza nacionais. Isto, no entanto, refere-se<br />

a ‘rendimento <strong>de</strong> pobreza’. Em contraste<br />

com o IPH este é um índice <strong>de</strong> incidência.<br />

Estas informações também são<br />

baseadas em linhas <strong>de</strong> pobreza <strong>de</strong>finidas<br />

nacionalmente e por isso não são perfeitamente<br />

comparáveis mas fornecem indicações<br />

gerais.<br />

Mostram, por exemplo, que alguns <strong>do</strong>s<br />

países africanos mais pobres têm níveis<br />

muito altos <strong>de</strong> pobreza <strong>de</strong> rendimentos,<br />

muito superiores aos níveis <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>.<br />

Também indicam que a RDP <strong>do</strong> Laos e<br />

o Vietname têm uma proporção superior<br />

a <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> da sua população a viver com<br />

um rendimento <strong>de</strong> pobreza. Ambos, no<br />

entanto, parece terem um melhor <strong>de</strong>sempenho<br />

na pobreza humana.<br />

Objectivos para <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

Estas medidas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano<br />

e <strong>de</strong> pobreza ajudam a perceber melhor<br />

o quadro da situação <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>.<br />

Indicam igualmente até on<strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

terá <strong>de</strong> ir nas várias dimensões <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano. Mas qual a velocida<strong>de</strong><br />

com que <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> terá <strong>de</strong> fazer estas<br />

melhorias? Já existe alguma orientação da<br />

Assembleia Geral da ONU, que em Setembro<br />

<strong>de</strong> 2000 aprovou a Declaração <strong>do</strong><br />

Milénio, <strong>de</strong>finin<strong>do</strong> objectivos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

a atingir no ano 2015. Estes compreen<strong>de</strong>m<br />

muitos aspectos <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano.<br />

• Pobreza—Em 2015 a proporção <strong>de</strong> pessoas<br />

a viver em pobreza extrema (com<br />

menos <strong>de</strong> $1 por dia) <strong>de</strong>verá ser reduzida<br />

em pelo menos 50% relativamente<br />

ao nível <strong>de</strong> 1990.<br />

• Educação—Em 2015 a taxa <strong>de</strong> matrícula<br />

no ensino primário <strong>de</strong>verá ter atingi<strong>do</strong><br />

os 100%.<br />

• Mortalida<strong>de</strong> infantil —Em 2015 a taxa <strong>de</strong><br />

mortalida<strong>de</strong> infantil <strong>de</strong>verá ter si<strong>do</strong> reduzida<br />

para menos <strong>de</strong> <strong>do</strong>is terços <strong>do</strong><br />

nível <strong>de</strong> 1990.<br />

• Mortalida<strong>de</strong> materna—Em 2015 a taxa <strong>de</strong><br />

mortalida<strong>de</strong> materna <strong>de</strong>verá ter si<strong>do</strong> reduzida<br />

em três quartos <strong>do</strong> nível <strong>de</strong> 1990.<br />

• Cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> primários—Em 2015 <strong>de</strong>verá<br />

haver acesso universal aos cuida<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> primários, incluin<strong>do</strong> aces-<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


so a méto<strong>do</strong>s fiáveis e seguros <strong>de</strong> planeamento<br />

familiar.<br />

• Doenças infecciosas—Impedir a difusão da<br />

SIDA, da malária e <strong>de</strong> outras epi<strong>de</strong>mias<br />

que afligem a humanida<strong>de</strong>.<br />

• Disparida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> género—Promover a igualda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> género no país, a to<strong>do</strong>s os níveis<br />

e <strong>de</strong> todas as formas.<br />

Estas metas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento servem<br />

como padrões a serem atingi<strong>do</strong>s em to<strong>do</strong><br />

o mun<strong>do</strong>. Que significam especificamente<br />

no caso <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>?<br />

Os objectivos da educação e da saú<strong>de</strong><br />

Uma das formas <strong>de</strong> calcular quanto tempo<br />

levará <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> a atingir este tipo <strong>de</strong><br />

objectivos é assumir a mesma taxa <strong>de</strong> progresso<br />

registada nos últimos anos. O Gráfico<br />

1.7 mostra, por exemplo, quanto tempo<br />

<strong>de</strong>morará a atingir 100% <strong>de</strong> alfabetização<br />

<strong>de</strong> adultos, extrapolan<strong>do</strong> o progresso<br />

regista<strong>do</strong> ao longo <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> 1993-99.<br />

Esta é claramente uma estimativa muito<br />

simples. Por <strong>de</strong>finição, a literacia não po<strong>de</strong><br />

ser alcançada até que to<strong>do</strong>s os adultos se<br />

tornem alfabetiza<strong>do</strong>s, incluin<strong>do</strong> aqueles que<br />

vivem nas áreas rurais. Porém, fornece uma<br />

indicação acerca <strong>do</strong> caminho ainda a<br />

percorrer.<br />

O Gráfico 1.8 mostra os resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

um exercício semelhante para os indica<strong>do</strong>res<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>—a mortalida<strong>de</strong> das crianças<br />

Gráfico 1.8<br />

Alcançar as metas para a saú<strong>de</strong><br />

Esperança<br />

<strong>de</strong> vida<br />

masculina<br />

Esperança<br />

<strong>de</strong> vida<br />

feminina<br />

Mortalida<strong>de</strong><br />


30<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> no terceiro milénio<br />

Uma contribuição especial <strong>de</strong> Sua Excelência Dom Carlos Filipe Ximenes Belo, SDB<br />

É minha intenção situar primeiro a posição<br />

<strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> para localizar o contexto e<br />

as suas implicações <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento no<br />

terceiro milénio. O vasto continente asiático<br />

esten<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Ásia Oci<strong>de</strong>ntal e os<br />

países <strong>do</strong> Golfo até aos países da Ásia Oriental.<br />

A parte sul inclui a Ásia <strong>do</strong> Sul, o<br />

Su<strong>de</strong>ste Asiático e a Ásia Oriental. Os<br />

países <strong>do</strong> Pacífico <strong>de</strong>ntro da Oceania incluem<br />

a Austrália, a Nova Zelândia, a Papua<br />

Nova Guiné e as ilhas <strong>do</strong> Pacífico. A norte<br />

existem as Repúblicas da Ásia Central e no<br />

Nor<strong>de</strong>ste, a Sibéria e a Mongólia. Nesta<br />

gran<strong>de</strong> área encontra-se <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>, que<br />

em breve se irá tornar no país mais novo<br />

<strong>do</strong> terceiro milénio.<br />

A Ásia e o Pacífico apresentam-nos um<br />

contraste níti<strong>do</strong> entre povos, culturas e mo<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong> vida. A realida<strong>de</strong> da globalização<br />

económica na Ásia-Pacífico com o aparecimento<br />

<strong>do</strong>s chama<strong>do</strong>s ‘dragões económicos’<br />

como a Austrália, Japão, Coreia <strong>do</strong> Sul,<br />

Taiwan e Singapura tiveram um papel fundamental<br />

na re<strong>de</strong>finição da economia global.<br />

Embora em anos anteriores, tal como<br />

em 1999, alguns <strong>de</strong>les tivessem sofri<strong>do</strong> um<br />

colapso económico, a Ásia-Pacífico é a zona<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> com o maior crescimento económico.<br />

E no entanto perguntamos porque estão<br />

ainda milhões <strong>de</strong> pessoas na pobreza,<br />

com fome e sem abrigo? Esta é a mesma<br />

questão que afecta o espírito <strong>do</strong> povo <strong>de</strong><br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>: a questão <strong>do</strong> gran<strong>de</strong> número<br />

<strong>de</strong> pobres. Deixem-me, por isso, <strong>de</strong>finir primeiro<br />

os pobres <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> para nos<br />

orientarmos quan<strong>do</strong> falamos <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> agora e no futuro.<br />

Quem são os pobres <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>?<br />

Pessoas com uma profunda fé, simples e<br />

honestas e, no entanto, vítimas <strong>de</strong> pobreza<br />

económica involuntária que resulta num<br />

estilo <strong>de</strong> vida empobreci<strong>do</strong>. Disse nas<br />

minhas Cartas Pastorais que “A pobreza é<br />

i<strong>de</strong>ntificada com os timorenses: comida e<br />

roupa insuficientes, e outras necessida<strong>de</strong>s<br />

básicas tais como a falta <strong>de</strong> água limpa,<br />

electricida<strong>de</strong>, transportes, infra-estruturas e<br />

instalações hospitalares e escolares”. Vinte<br />

e quatro por cento da população urbana<br />

vive na pobreza e 60% <strong>do</strong>s habitantes das<br />

al<strong>de</strong>ias vive em condições sub-humanas.<br />

Elas são as pessoas que sofreram e arriscaram<br />

as suas vidas por amor da sua afir-<br />

mação à existência e à liberda<strong>de</strong> humanas.<br />

A violência cometida em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

a sua invasão em 1975 até que atingiu o<br />

seu clímax naquele trágico dia 11 <strong>de</strong> Setembro<br />

<strong>de</strong> 1999, <strong>de</strong>ixou um trauma in<strong>de</strong>lével<br />

e profun<strong>do</strong> em to<strong>do</strong>s os que <strong>de</strong>la fizeram<br />

parte. O trauma continua apesar da<br />

retirada completa da In<strong>do</strong>nésia e mesmo<br />

com a presença <strong>do</strong> pessoal internacional<br />

da UNTAET. Esta experiência específica <strong>de</strong><br />

<strong>do</strong>r <strong>de</strong>ixa-nos uma herança <strong>de</strong> violência psicológica.<br />

Sim, os pobres, cujos conflitos individuais<br />

e colectivos se tornaram uma experiência<br />

escondida <strong>de</strong> <strong>do</strong>r e sofrimento<br />

quer para os sobreviventes quer para os<br />

executores. Pessoalmente, a herança <strong>de</strong>sta<br />

violência tão aguda faz-me sofrer ao ver<br />

pessoas clamar por cura e perdão. De facto,<br />

tal memória <strong>do</strong>lorosa que tem ameaça<strong>do</strong><br />

a segurança e a existência <strong>de</strong> cada sobrevivente<br />

timorense, é algo que partilho<br />

com o resto <strong>do</strong> meu povo.<br />

O <strong>de</strong>safio<br />

A pobreza e as memórias <strong>do</strong>lorosas da<br />

violência são os assuntos principais que têm<br />

ameaça<strong>do</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento da segurança<br />

e da existência <strong>de</strong> cada timorense. Será<br />

necessário <strong>de</strong>senvolvimento material, social,<br />

político e espiritual se quisermos pensar<br />

em trabalhar para o bem comum <strong>de</strong> cada<br />

timorense e para <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> como uma<br />

nação. Significa novas estruturas, nova visão<br />

e novos processos a partir <strong>do</strong>s quais uma<br />

socieda<strong>de</strong> com fracturas po<strong>de</strong> ser<br />

reconstruída como verda<strong>de</strong>ira e justa. É pois<br />

um <strong>de</strong>safio procurar esse sentimento <strong>de</strong><br />

segurança, <strong>de</strong> dignida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> fazer parte<br />

<strong>de</strong> um to<strong>do</strong> maior e <strong>de</strong> partilhar quer da<br />

vida <strong>de</strong> gerações passadas quer da<br />

esperança da socieda<strong>de</strong> quanto ao seu<br />

próprio futuro. Não po<strong>de</strong>mos simplesmente<br />

repetir as fórmulas que nos serviram no<br />

passa<strong>do</strong>.<br />

Precisamos <strong>de</strong> crescer, temos <strong>de</strong> nos levantar<br />

com as nossas próprias forças e ver,<br />

julgar e agir com elas <strong>de</strong> forma que nos<br />

permita retirar o que melhor nos ajudará<br />

nesta situação. Nestes casos, como <strong>de</strong>ve<br />

ser adapta<strong>do</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong><br />

contexto? Quais são as suas dimensões na<br />

reconstrução <strong>de</strong> vidas <strong>de</strong>struídas? Será que<br />

o clamor por cura, justiça e perdão e reconciliação<br />

é apenas político e social? O<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


que será exigi<strong>do</strong> a <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> para viver<br />

uma socieda<strong>de</strong> “<strong>de</strong>senvolvida” que seja<br />

humana e humanizante, para viver uma vida<br />

<strong>de</strong> fé, algures entre o que é <strong>de</strong>sejável e o<br />

que é possível?<br />

A resposta: <strong>de</strong>senvolvimento completo<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> nosso país como<br />

povo e como nação é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

importância para fazer face a este <strong>de</strong>safios.<br />

Contu<strong>do</strong>, o <strong>de</strong>senvolvimento não <strong>de</strong>ve ser<br />

apenas sustentável mas também completo<br />

ou integral. O <strong>de</strong>senvolvimento em <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong>, segun<strong>do</strong> Emilia Pires, Directora da<br />

Agência para o Planeamento Nacional e<br />

<strong>Desenvolvimento</strong>, <strong>de</strong>ve incluir os seguintes<br />

aspectos: consulta à comunida<strong>de</strong> e<br />

planeamento local, recolha e análise <strong>de</strong><br />

da<strong>do</strong>s, envolvimento <strong>do</strong>s timorenses e<br />

prioritização <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento nacional.<br />

Este é um bom plano <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s para<br />

começar, como priorida<strong>de</strong>s para melhorar<br />

a sustentabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. Isto<br />

faz-me lembrar um provérbio índio<br />

americano que expressa a visão e os<br />

valores necessários para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

sustentável: “Nós não herdamos a terra <strong>do</strong>s<br />

nossos avós; tomamo-la emprestada <strong>do</strong>s<br />

nossos netos”. Assim, em primeiro lugar,<br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável significa<br />

<strong>de</strong>senvolvimento económico que satisfaça<br />

as necessida<strong>de</strong>s da geração presente <strong>de</strong><br />

forma a não comprometer as necessida<strong>de</strong>s<br />

das gerações futuras. Em segun<strong>do</strong> lugar, os<br />

pormenores da vida em qualquer país são<br />

interliga<strong>do</strong>s e inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e esta é uma<br />

verda<strong>de</strong> óbvia para <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> se se quiser<br />

juntar oficialmente às nações in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Esta é uma verda<strong>de</strong> política.<br />

Assim, a inter<strong>de</strong>pendência das nações e <strong>de</strong><br />

toda a comunida<strong>de</strong> da Terra <strong>de</strong>ve ser<br />

promovida. Finalmente, o governo tem um<br />

“<strong>de</strong>ver <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s para com to<strong>do</strong>s”. Como<br />

reitera João Paulo II, “cada nação ou povo<br />

tem direito ao seu próprio <strong>de</strong>senvolvimento<br />

completo, que tem os seus aspectos<br />

puramente económicos e sociais”, mas que<br />

“<strong>de</strong>ve também incluir a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural<br />

individual e abertura ao transcen<strong>de</strong>nte”.<br />

Assim, há quatro respostas concretas se<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> avançar como uma nova nação:<br />

• Estabilida<strong>de</strong> política—Os lí<strong>de</strong>res<br />

políticos e aqueles que são <strong>de</strong>vidamente<br />

eleitos pelo povo <strong>de</strong>vem unir-se no senti<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> levar a cabo as exigências da recente<br />

Constituição. Eles trabalham, não para o<br />

seu interesse pessoal e autoengran<strong>de</strong>cimento<br />

mas para o bem comum<br />

DESENVOLVIMENTO HUMANO EM TIMOR LESTE<br />

da sua nação. Todas as agências <strong>do</strong><br />

governo, sejam elas da <strong>de</strong>fesa, serviços<br />

sociais, comunicações, etc., <strong>de</strong>vem promover<br />

e <strong>de</strong>finir a visão <strong>de</strong> serviço a bem da<br />

socieda<strong>de</strong> civil. Esta é uma forma <strong>de</strong> tornar<br />

as nossas instituições políticas estáveis e<br />

sustentáveis. Alguns diriam, “a estabilida<strong>de</strong><br />

política significa prosperida<strong>de</strong> económica”.<br />

Neste senti<strong>do</strong>, o que <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> necessita<br />

é <strong>de</strong> atrair investi<strong>do</strong>res que aju<strong>de</strong>m a<br />

dinamizar a economia. Po<strong>de</strong>rá resultar ou<br />

não em crescimento económico,<br />

acompanha<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma distribuição mais<br />

igualitária <strong>de</strong> bens, mas a estabilida<strong>de</strong><br />

política é consi<strong>de</strong>rada essencial para vencer<br />

a pobreza. Neste caso, o governo <strong>de</strong>ve<br />

actuar seriamente sobre a situação <strong>de</strong><br />

imensa pobreza em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> se quiser<br />

ser um instrumento útil para a socieda<strong>de</strong> civil.<br />

O alívio <strong>do</strong> sofrimento <strong>do</strong>s pobres <strong>de</strong>ve ser<br />

encara<strong>do</strong> frequentemente como aumento da<br />

equida<strong>de</strong> económica para melhorar as<br />

condições <strong>de</strong> vida <strong>do</strong>s pobres <strong>de</strong> <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong>.<br />

• Direitos <strong>Humano</strong>s e <strong>de</strong>mocracia—O<br />

caminho para a <strong>de</strong>mocracia e para os<br />

direitos humanos po<strong>de</strong>rá ser novo em <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> mas os princípios nos quais se baseia<br />

não o são. Os direitos humanos e a<br />

<strong>de</strong>mocracia são uma parte integrante <strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento completo. Eles são<br />

essenciais à dignida<strong>de</strong> humana <strong>de</strong> cada<br />

timorense. Do ponto <strong>de</strong> vista cristão, o<br />

respeito pelos direitos humanos <strong>de</strong> cada<br />

indivíduo é um acto cristão. A base é a <strong>de</strong><br />

que to<strong>do</strong>s os seres humanos são iguais<br />

porque to<strong>do</strong>s somos filhos <strong>de</strong> Deus e cria<strong>do</strong>s<br />

à Sua imagem. Neste senti<strong>do</strong>, o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento também significa igualda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> género. Por isso apoio as iniciativas <strong>de</strong><br />

direitos humanos das organizações nãogovernamentais,<br />

como o Tribunal <strong>do</strong> Povo e<br />

o Tribunal Internacional também para<br />

i<strong>de</strong>ntificar aqueles que cometeram crimes<br />

contra a Humanida<strong>de</strong>. Precisamos <strong>de</strong><br />

continuar aquilo que já conseguimos até<br />

agora. Já repeti várias vezes que “a<br />

<strong>de</strong>mocracia é o mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> pôr os direitos<br />

humanos em movimento”. Escolhemos a<br />

in<strong>de</strong>pendência que repudiou os 25 anos <strong>de</strong><br />

ocupação in<strong>do</strong>nésia. Um novo capítulo da<br />

história se abre. O famoso referen<strong>do</strong> <strong>de</strong> 30<br />

<strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 1999 é uma indicação <strong>de</strong><br />

que po<strong>de</strong>mos prosseguir os i<strong>de</strong>ais da<br />

<strong>de</strong>mocracia. Mostrámos ao mun<strong>do</strong> que<br />

po<strong>de</strong>mos entrar na <strong>de</strong>mocracia através <strong>do</strong><br />

voto honesto e tranquilo. A nova<br />

Constituição, longe <strong>de</strong> perfeita, já foi<br />

31


32<br />

a<strong>do</strong>ptada. Elegemos o novo Presi<strong>de</strong>nte em<br />

14 <strong>de</strong> Abril e, o que é mais importante,<br />

vamos celebrar a in<strong>de</strong>pendência completa<br />

no próximo dia 20 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> <strong>2002</strong>. De<br />

facto, os direitos humanos e a <strong>de</strong>mocracia<br />

enquanto chaves para o nosso futuro são<br />

também essenciais para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> cada ser humano em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>.<br />

• Diálogo e solidarieda<strong>de</strong> com a cultura<br />

timorense—O <strong>de</strong>senvolvimento completo no<br />

contexto <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> obriga a um diálogo<br />

<strong>de</strong> vida entre povos e nações que clamam<br />

pela cura <strong>do</strong> seu passa<strong>do</strong>. To<strong>do</strong>s têm que<br />

dialogar com as tradições orais e vivas <strong>do</strong><br />

povo. É verda<strong>de</strong> que ainda não<br />

<strong>de</strong>scobrimos uma visão holística <strong>do</strong> que é<br />

que constitui a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> timorense. Uma<br />

tarefa assombrosa, mas compensa<strong>do</strong>ra. Este<br />

não é apenas um trabalho para peritos<br />

como os antropólogos, os sociólogos e<br />

talvez teólogos, mas é tarefa <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong>scob=rir a essência <strong>do</strong> que faz <strong>de</strong> um<br />

timorense, um timorense! Fazemos eco <strong>do</strong><br />

<strong>Relatório</strong> Willowbank <strong>de</strong> 1978, que afirma<br />

que o facto <strong>de</strong> se estar em diálogo e em<br />

solidarieda<strong>de</strong> com a cultura dá ao indivíduo<br />

um “senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, dignida<strong>de</strong>,<br />

segurança e continuida<strong>de</strong>”. Isto sugere que<br />

o reconhecimento e a participação na<br />

formação <strong>de</strong> cada cultura e socieda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sempenha um papel vital no percurso <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> cada pessoa. No<br />

entanto não nos po<strong>de</strong>mos esquecer que a<br />

razão básica da pobreza e da violência é<br />

também a recusa em reconhecer a<br />

existência <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>s sociais e culturais<br />

que vivem na i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e existência <strong>do</strong><br />

indivíduo.<br />

Enquanto espero ansiosamente pela<br />

celebração da in<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> no próximo dia 20 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> <strong>2002</strong>,<br />

que estas respostas ao <strong>de</strong>senvolvimento<br />

sustentável e completo sejam consi<strong>de</strong>radas<br />

em qualquer programa e activida<strong>de</strong>s<br />

governamentais. Do meu la<strong>do</strong>, como<br />

homem da Igreja, tenho gran<strong>de</strong> esperança<br />

na unida<strong>de</strong> e sentimento <strong>de</strong> integrida<strong>de</strong>,<br />

em que esta Igreja local possa também<br />

contribuir significativamente para a<br />

construção <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> como uma nova<br />

nação no espírito da participação civil.<br />

Tenho esperanças <strong>de</strong> ouvir as histórias <strong>do</strong>s<br />

timorenses, por muito <strong>do</strong>lorosas que sejam,<br />

e <strong>de</strong> partilhar com eles a minha própria<br />

viagem em direcção ao <strong>de</strong>sejo e intenção<br />

<strong>de</strong> ver <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> tornar-se numa nação<br />

<strong>de</strong>senvolvida, agora e no futuro.<br />

Dom Carlos Filipe Ximenes Belo, SDB<br />

Bispo <strong>de</strong> Díli<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


CAPÍTULO 2<br />

Construin<strong>do</strong> uma<br />

administração pública eficaz<br />

Nos primeiros anos da in<strong>de</strong>pendência, o povo <strong>de</strong> <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> irá <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r fortemente da competência e capacida<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong>s serviços governamentais. Qualquer fraqueza ou<br />

falha <strong>de</strong>stes serviços será um obstáculo sério ao progresso<br />

<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano.<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento humano é um objectivo<br />

nacional que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>do</strong>s esforços combina<strong>do</strong>s<br />

das instituições governamentais, <strong>do</strong><br />

sector priva<strong>do</strong> e <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os elementos da<br />

socieda<strong>de</strong> civil. Mas como o sector priva<strong>do</strong><br />

é limita<strong>do</strong> e os muitos grupos comunitários<br />

emergentes e as ONGs da socieda<strong>de</strong><br />

civil estão a lutar para se adaptarem às novas<br />

e complexas circunstâncias da in<strong>de</strong>pendência,<br />

muita da responsabilida<strong>de</strong> nos primeiros<br />

anos recairá, na prática, sobre o<br />

governo e o sector público.<br />

Será que as instituições governamentais<br />

estão à altura <strong>de</strong>ste <strong>de</strong>safio? Muito irá <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r<br />

das <strong>de</strong>cisões que vierem a ser tomadas<br />

nos próximos anos, que ditarão a<br />

forma e qualida<strong>de</strong> da futura administração<br />

pública. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da qualida<strong>de</strong><br />

das políticas oficiais nos diversos aspectos<br />

<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano, estes esforços<br />

serão em vão se as instituições públicas<br />

não forem capazes <strong>de</strong> implementá-las.<br />

Há muitas questões cruciais a enfrentar:<br />

a estrutura e a natureza das instituições; a<br />

capacida<strong>de</strong> e a motivação <strong>do</strong>s funcionários<br />

públicos; a força e in<strong>de</strong>pendência <strong>do</strong> sistema<br />

judicial e as melhores formas <strong>de</strong> erradicar a<br />

corrupção. A menos que estes factores sejam<br />

encara<strong>do</strong>s <strong>de</strong> forma rápida, o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> ficará<br />

comprometi<strong>do</strong>.<br />

A herança colonial<br />

Embora em muitos aspectos <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

esteja a construir uma nova administração<br />

a partir da base, irá também herdar, directa<br />

ou indirectamente, algumas das estruturas e<br />

atitu<strong>de</strong>s <strong>do</strong> seu passa<strong>do</strong> colonial—tanto<br />

português como in<strong>do</strong>nésio (ver Anexo).<br />

CONSTRUINDO UMA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA EFICAZ<br />

Os portugueses tiveram uma abordagem<br />

indirecta à governação. O Governa<strong>do</strong>r<br />

em Dili actuava através <strong>de</strong> administra<strong>do</strong>res<br />

distritais que por sua vez coor<strong>de</strong>navam<br />

administra<strong>do</strong>res sub-distritais. Mas estes<br />

não exerciam controlo directo sobre as al<strong>de</strong>ias,<br />

que <strong>de</strong>ixavam em larga medida nas<br />

mãos <strong>do</strong>s liurais, ou chefes <strong>de</strong> suco. O governo<br />

in<strong>do</strong>nésio, pelo contrário, estava <strong>de</strong>termina<strong>do</strong><br />

a exercer uma disciplina muito<br />

mais rígida sobre to<strong>do</strong> o país. O governo<br />

da Nova Or<strong>de</strong>m queria exercer o controlo<br />

centraliza<strong>do</strong> por toda a In<strong>do</strong>nésia, incluin<strong>do</strong><br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>. Mas queria também ‘pacificar’<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> em particular, on<strong>de</strong> enfrentava<br />

uma resistência teimosa ao seu<br />

<strong>do</strong>mínio.<br />

A In<strong>do</strong>nésia introduziu uma série <strong>de</strong> sistemas<br />

<strong>de</strong> controlo interliga<strong>do</strong>s. Em primeiro<br />

lugar, havia o governa<strong>do</strong>r que, juntamente<br />

com burocratas governamentais, administravam<br />

cada nível da administração através<br />

<strong>do</strong> administra<strong>do</strong>r distrital, o bupati, o administra<strong>do</strong>r<br />

sub-distrital, o camat, e <strong>de</strong>pois o<br />

chefe da al<strong>de</strong>ia. Em complemento, porém,<br />

existiam comandantes locais <strong>do</strong> exército, que<br />

para além <strong>do</strong>s seus <strong>de</strong>veres militares também<br />

<strong>de</strong>tinham posições estratégicas no governo<br />

e eram aponta<strong>do</strong>s como membros<br />

<strong>do</strong> parlamento tanto ao nível provincial<br />

como distrital.Outro canal <strong>de</strong> controlo era<br />

exerci<strong>do</strong> através da força policial. O governa<strong>do</strong>r<br />

coor<strong>de</strong>nava <strong>de</strong>cisões importantes<br />

com os comandantes militares e policiais,<br />

através <strong>de</strong> um fórum especial para a li<strong>de</strong>rança<br />

política provincial, distrital e subdistrital.<br />

Entretanto, o governo controlava<br />

também o sistema legal e a imprensa que se<br />

mantinha fraca e sem po<strong>de</strong>r.<br />

Muita da<br />

responsabilida<strong>de</strong><br />

nos primeiros<br />

anos recairá<br />

sobre o governo<br />

e o sector<br />

público<br />

33


O sistema <strong>de</strong><br />

administração<br />

in<strong>do</strong>nésio era,<br />

no essencial,<br />

paternalista<br />

34<br />

Esta estrutura autocrática po<strong>de</strong>rá ter<br />

ajuda<strong>do</strong> a fornecer serviços—e <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

era fortemente subsidia<strong>do</strong> pelo governo<br />

central—mas da perspectiva <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano criou um serviço público<br />

com falhas graves. O risco <strong>de</strong> um <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte é o <strong>de</strong> que, embora tenha<br />

alcança<strong>do</strong> a in<strong>de</strong>pendência política,<br />

po<strong>de</strong>rá herdar algumas das falhas<br />

institucionais e atitu<strong>de</strong>s da administração<br />

anterior. Estas falhas incluem:<br />

• Excesso <strong>de</strong> pessoal—Numa tentativa <strong>de</strong><br />

‘comprar’ a passivida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s timorenses<br />

e tornar a província mais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte,<br />

o governo central empregou um gran<strong>de</strong><br />

número <strong>de</strong> funcionários, muitos <strong>do</strong>s<br />

quais in<strong>do</strong>nésios. <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> tinha mais<br />

funcionários públicos por habitante <strong>do</strong><br />

que qualquer outra província.<br />

• Uma cultura <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência—Quase todas<br />

as iniciativas vinham <strong>do</strong> centro e <strong>de</strong> cima<br />

para baixo. Poucos funcionários públicos<br />

tinham o incentivo ou a confiança<br />

para fazer mais <strong>do</strong> que 'esperar pelas<br />

or<strong>de</strong>ns' <strong>de</strong> cima.<br />

• Administração complexa—Havia <strong>de</strong>masia<strong>do</strong>s<br />

níveis <strong>de</strong> burocracia para um território<br />

tão pequeno, o que implicava<br />

muita duplicação <strong>de</strong> funções.<br />

• Corrupção generalizada—Muitos funcionários<br />

eram mal pagos e tenta<strong>do</strong>s a<br />

complementar os seus rendimentos<br />

aceitan<strong>do</strong> outros trabalhos e vários subornos<br />

(caixa 2.1).<br />

• Falta <strong>de</strong> participação pública—O sistema <strong>de</strong><br />

administração in<strong>do</strong>nésio era, no essencial,<br />

paternalista. Desencorajava a participação<br />

popular e marginalizava formas<br />

tradicionais <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão.<br />

A transição para a in<strong>de</strong>pendência<br />

Os acontecimentos <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1999<br />

foram <strong>de</strong>vasta<strong>do</strong>res não apenas para a população<br />

mas também para o sistema da administração.<br />

Algumas das perdas foram físicas.<br />

As milícias apoiadas pelo exército <strong>de</strong>struíram,<br />

completa ou parcialmente, três<br />

quartos <strong>do</strong>s edifícios administrativos e outras<br />

infra-estruturas. Também retiraram ou<br />

queimaram arquivos governamentais<br />

essenciais.<br />

Tão <strong>de</strong>bilitante para <strong>Timor</strong> como estes<br />

acontecimentos foi a perda <strong>de</strong> pessoal.<br />

Embora cerca <strong>de</strong> 75% <strong>do</strong>s funcionários<br />

públicos fossem timorenses, estes concen-<br />

travam-se principalmente nos níveis inferiores<br />

da administração. Nos níveis superiores<br />

a maioria <strong>do</strong> pessoal era in<strong>do</strong>nésio.<br />

Durante a crise que se seguiu ao referen<strong>do</strong>,<br />

cerca <strong>de</strong> 8.000 funcionários fugiram para a<br />

In<strong>do</strong>nésia—incluin<strong>do</strong> a maioria <strong>do</strong>s que<br />

<strong>de</strong>sempenhavam papéis chave na estrutura<br />

administrativa. Como resulta<strong>do</strong>, <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

ficou sem os gestores mais qualifica<strong>do</strong>s,<br />

sem pessoas capazes <strong>de</strong> operar os serviços<br />

básicos, sem juízes e apenas com um polícia<br />

mais gradua<strong>do</strong>.<br />

Para ajudar a suprir estas falhas, para<br />

manter a paz e reconstruir a estrutura da<br />

governação, o Conselho <strong>de</strong> Segurança da<br />

ONU em Outubro <strong>de</strong> 1999 estabeleceu a<br />

Administração Transitória das Nações Unidas<br />

para <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>. Esta acabou por se<br />

tornar numa das operações mais ambiciosas<br />

das Nações Unidas—uma mistura <strong>de</strong><br />

manutenção da paz, reabilitação nacional e<br />

construção da nação (caixa 2.2).<br />

Uma das primeiras tarefas foi estabelecer<br />

os fundamentos <strong>de</strong> uma nova administração<br />

governamental. Inicialmente a<br />

UNTAET ocupou quase todas as posições<br />

da administração pública com pessoal internacional<br />

da ONU. Depois, em Julho <strong>de</strong><br />

2000, estabeleceu a Administração Transitória<br />

<strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> (ATTL) para formar<br />

o núcleo <strong>de</strong> um novo governo. Este era<br />

composto por um gabinete com cinco<br />

timorenses e quatro funcionários internacionais.<br />

A UNTAET e a ATTL começaram<br />

a recrutar funcionários públicos. Também<br />

estabeleceram uma Agência para o Planeamento<br />

Nacional e <strong>Desenvolvimento</strong><br />

(APND).<br />

Em Agosto <strong>de</strong> 2001, foram realizadas<br />

eleições para uma Assembleia Constituinte<br />

com 88 membros e que tinha por função<br />

elaborar uma nova Constituição. No seguimento<br />

<strong>de</strong>stas eleições, a UNTAET estabeleceu<br />

uma nova estrutura governativa. Esta<br />

consistia em <strong>de</strong>z ministérios e quatro secretarias<br />

<strong>de</strong> Esta<strong>do</strong>, to<strong>do</strong>s li<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s por<br />

timorenses. O gabinete <strong>de</strong> 26 membros da<br />

ATTL, composto por ministros, vice-ministros<br />

e secretários <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong>, foi selecciona<strong>do</strong><br />

através <strong>de</strong> consultas entre o Administra<strong>do</strong>r<br />

da UNTAET, que ficou como lí<strong>de</strong>r<br />

<strong>do</strong> governo, e a Assembleia Constituinte<br />

recentemente eleita e a sua composição reflectia<br />

a composição política da Assembleia.<br />

Em Março <strong>de</strong> <strong>2002</strong> a Assembleia aprovou<br />

a nova Constituição. Esta estabeleceu<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


um esta<strong>do</strong> <strong>de</strong>mocrático unitário, basea<strong>do</strong><br />

no prima<strong>do</strong> da lei e no princípio da separação<br />

<strong>de</strong> po<strong>de</strong>res. Os órgãos representativos<br />

serão eleitos através <strong>de</strong> sufrágio directo<br />

e universal.<br />

A Constituição estabelece os papéis <strong>do</strong><br />

Presi<strong>de</strong>nte da República, que é simultaneamente<br />

o Comandante-chefe das Forças<br />

Armadas, <strong>do</strong> Primeiro- Ministro (que chefiará<br />

um conselho <strong>de</strong> ministros) e <strong>do</strong> Parlamento.<br />

Isto preparou o caminho para as<br />

eleições presi<strong>de</strong>nciais em Abril e para a in<strong>de</strong>pendência<br />

completa em 20 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong><br />

<strong>2002</strong>.<br />

Sistema <strong>de</strong> governo<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> escolheu um sistema <strong>de</strong> governo<br />

semi-presi<strong>de</strong>ncialista—com um equilíbrio<br />

<strong>de</strong> po<strong>de</strong>res entre o Presi<strong>de</strong>nte e o<br />

Parlamento. Embora o Presi<strong>de</strong>nte tenha o<br />

po<strong>de</strong>r último para dissolver o Parlamento,<br />

na prática a maior parte <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r executivo<br />

ficará nas mãos <strong>do</strong> Primeiro-Ministro, que<br />

tomará <strong>de</strong>cisões colectivamente com o conselho<br />

<strong>de</strong> ministros. Inevitavelmente, isto significará<br />

a existência <strong>de</strong> compromissos<br />

entre as priorida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s diferentes ministérios<br />

e <strong>de</strong>partamentos, os quais irão competir<br />

em conjunto por recursos limita<strong>do</strong>s.<br />

Qualquer sistema parlamentar exige também<br />

gran<strong>de</strong> envolvimento <strong>do</strong>s <strong>de</strong>puta<strong>do</strong>s,<br />

que têm um papel crucial na criação <strong>de</strong> uma<br />

<strong>de</strong>mocracia saudável. Por um la<strong>do</strong> terão que<br />

apoiar e legitimar o seu parti<strong>do</strong> e o governo.<br />

Por outro la<strong>do</strong> terão que servir os interesses<br />

<strong>do</strong>s seus representa<strong>do</strong>s.<br />

O governo também terá que <strong>de</strong>ixar espaço<br />

suficiente para as vozes da oposição,<br />

em particular se o parti<strong>do</strong> <strong>do</strong> governo,<br />

mesmo quan<strong>do</strong> eleito através <strong>de</strong> um sistema<br />

<strong>de</strong> representação maioritária, ganhar<br />

com larga maioria.<br />

Durante os primeiros meses da in<strong>de</strong>pendência,<br />

os <strong>de</strong>puta<strong>do</strong>s terão um gran<strong>de</strong> volume<br />

<strong>de</strong> trabalho, relaciona<strong>do</strong> com a gran<strong>de</strong><br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nova legislação. Eles terão<br />

que ficar rapidamente familiariza<strong>do</strong>s<br />

com tarefas como a análise orçamental e<br />

legislação e perceber como funcionam os<br />

<strong>de</strong>partamentos <strong>do</strong> governo. Da mesma<br />

forma, precisam <strong>de</strong> encontrar formas <strong>de</strong><br />

manter as linhas <strong>de</strong> comunicação abertas<br />

com o resto da socieda<strong>de</strong> civil, não apenas<br />

com os seus representa<strong>do</strong>s mas também<br />

com ONGs, com outras instituições públicas<br />

e com o sector priva<strong>do</strong>.<br />

Caixa 2.1<br />

CONSTRUINDO UMA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA EFICAZ<br />

Se os <strong>de</strong>puta<strong>do</strong>s não conseguirem atingir<br />

este nível <strong>de</strong> competência rapidamente,<br />

corre-se o risco <strong>de</strong> o governo ter a tentação<br />

<strong>de</strong> atalhar e ultrapassar o parlamento.<br />

De forma a fazer aprovar rapidamente a<br />

legislação, po<strong>de</strong>, por exemplo, fazer passar<br />

simplesmente um enquadramento legal<br />

muito geral que <strong>de</strong>legue a interpretação e o<br />

aperfeiçoamento da política aos ministros<br />

e funcionários públicos. Esta foi a abordagem<br />

utilizada, genericamente, pelo governo<br />

in<strong>do</strong>nésio e <strong>de</strong>ve ser evitada.<br />

A administração pública<br />

Mas por muito <strong>de</strong>cisivo que seja o governo<br />

ou eficazes os legisla<strong>do</strong>res, as suas políticas<br />

e <strong>de</strong>cisões ficarão comprometidas se<br />

não as conseguirem pôr em prática através<br />

<strong>de</strong> um sistema eficaz <strong>de</strong> administração pública.<br />

Isto implica que as instituições governamentais<br />

sejam não apenas bem montadas,<br />

mas também que tenham funcionários<br />

com competência, comportamento profissional<br />

e vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> servir o povo <strong>de</strong> <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong>.<br />

A UNTAET e a ATTL (a Administração<br />

Transitória <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>) têm participa<strong>do</strong><br />

na construção <strong>de</strong> um serviço público<br />

sóli<strong>do</strong>—a Administração Pública <strong>de</strong><br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> (APTL). Em Abril <strong>de</strong> <strong>2002</strong>,<br />

tinham si<strong>do</strong> recruta<strong>do</strong>s cerca <strong>de</strong> 11.000 funcionários<br />

públicos para cerca <strong>de</strong> 15.000 lugares<br />

aprova<strong>do</strong>s, incluin<strong>do</strong> lugares no Ser-<br />

A forma como a In<strong>do</strong>nésia explorou<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>, conheci<strong>do</strong> em in<strong>do</strong>nésio<br />

como '<strong>Timor</strong>-Timur' [Tim-Tim], transferiu<br />

muitos <strong>do</strong>s benefícios para Jakarta<br />

e em particular para o controlo <strong>do</strong>s<br />

Suhartos e para os elementos da estrutura<br />

militar que lhe eram leais. A<br />

corrupção era crónica entre os<br />

funcionários públicos liga<strong>do</strong>s aos projectos<br />

<strong>de</strong> construção e obras públicas—e<br />

ainda mais alargada entre<br />

aqueles liga<strong>do</strong>s aos projectos <strong>de</strong> alívio<br />

da pobreza.<br />

O governo adjudicava projectos<br />

no valor <strong>de</strong> 20 milhões <strong>de</strong> rupias (em<br />

1995, equivalente a $9.000) ou<br />

menos a pequenas empresas locais<br />

cujos proprietários, cerca <strong>de</strong> 80%<br />

timorenses, eram funcionários públicos<br />

ou liga<strong>do</strong>s a eles por laços familiares.<br />

Entretanto, os projectos no valor<br />

<strong>de</strong> 20 a 300 milhões <strong>de</strong> rupias<br />

Corrupção e nepotismo em ‘Tim-Tim’<br />

eram confia<strong>do</strong>s a médias empresas,<br />

mais <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> das quais eram<br />

in<strong>do</strong>nésias. To<strong>do</strong>s os projectos no<br />

valor <strong>de</strong> 300 milhões <strong>de</strong> rupias ou<br />

mais, contu<strong>do</strong>, foram automaticamente<br />

para gran<strong>de</strong>s empresas <strong>de</strong> construção<br />

cujos proprietários eram na totalida<strong>de</strong><br />

in<strong>do</strong>nésios com fortes ligações<br />

ao governo central.<br />

As empresas eram obrigadas a<br />

pagar uma certa quantia em dinheiro<br />

aos funcionários públicos encarregues<br />

<strong>do</strong> planeamento e monitorização <strong>do</strong>s<br />

projectos.<br />

Em resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong>ste esquema, apenas<br />

cerca <strong>de</strong> 50 a 60% <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s<br />

atribuí<strong>do</strong>s a projectos <strong>de</strong> construção<br />

foram para os próprios projectos. O<br />

restante acabou nos bolsos <strong>do</strong>s funcionários<br />

que trabalhavam em diferentes<br />

níveis administrativos, assim<br />

como em Jakarta.<br />

35


36<br />

Caixa 2.2<br />

Resulta<strong>do</strong>s da Administração Transitória das Nações Unidas (UNTAET)<br />

Apesar <strong>de</strong> imensas dificulda<strong>de</strong>s, a<br />

UNTAET conseguiu atingir muitos resulta<strong>do</strong>s.<br />

Certamente que houve falhas,<br />

especialmente em relação à<br />

administração distrital e ao sistema<br />

judicial. Mas estas precisam <strong>de</strong> ser<br />

vistas à luz das realida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> papel<br />

da ONU em tais situações. As missões<br />

têm que ser montadas rapidamente,<br />

corren<strong>do</strong> o risco <strong>de</strong> cometer<br />

erros na selecção <strong>de</strong> pessoal. Devese<br />

notar que é muito difícil conseguir,<br />

<strong>de</strong> um momento para o outro, uma<br />

abordagem unificada entre um grupo<br />

diversifica<strong>do</strong> <strong>de</strong> funcionários<br />

numa missão <strong>de</strong> curto prazo. Um<br />

outro problema é escolher que <strong>de</strong>cisões<br />

<strong>de</strong>vem ser tomadas imediatamente<br />

e <strong>de</strong> quais as que <strong>de</strong>vem ser<br />

<strong>de</strong>ixadas para a nova administração.<br />

As activida<strong>de</strong>s da UNTAET incluíram:<br />

• O estabelecimento da paz e da<br />

segurança.<br />

• O estabelecimento <strong>de</strong> uma administração<br />

pública que funcione.<br />

• A satisfação <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s humanitárias<br />

através da ACNUR, da<br />

OIM, <strong>do</strong> PAM e da UNICEF, que<br />

foram no conjunto instrumentais,<br />

juntamente com a UNTAET, em<br />

certificar que as necessida<strong>de</strong>s<br />

eram satisfeitas <strong>de</strong> forma rápida<br />

<strong>de</strong>pois da violência <strong>de</strong> 1999.<br />

Mais <strong>de</strong> 190.000 refugia<strong>do</strong>s, um<br />

quarto da população,<br />

regressaram entretanto.<br />

• O estabelecimento da Administração<br />

Transitória <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> (ATTL)<br />

em Julho <strong>de</strong> 2000, com um Gabinete/Conselho<br />

<strong>de</strong> Ministros <strong>de</strong><br />

cinco timorenses e quatro representantes<br />

da UNTAET.<br />

• A realização <strong>de</strong> eleições livres,<br />

justas e pacíficas em 30 <strong>de</strong> Agosto<br />

<strong>de</strong> 2001, <strong>de</strong> que resultou uma<br />

Assembleia Constituinte com 88<br />

viço Policial <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> e na Força <strong>de</strong><br />

Defesa <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>. Contu<strong>do</strong> a maioria<br />

das nomeações foram feitas nos níveis<br />

mais baixos; nos níveis superiores menos<br />

<strong>de</strong> 50% <strong>do</strong>s lugares <strong>de</strong> gestão foram preenchi<strong>do</strong>s,<br />

em larga medida <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à falta<br />

<strong>de</strong> candidatos a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s. O maior número<br />

<strong>de</strong> funcionários públicos estão nos sectores<br />

da educação e da saú<strong>de</strong>, o que representa<br />

cerca <strong>de</strong> <strong>do</strong>is terços <strong>do</strong> pessoal aceite<br />

no serviço público.<br />

Uma parte importante <strong>de</strong>ste processo<br />

foi assegurar uma representação forte das<br />

mulheres. O objectivo era atingir 30% <strong>de</strong><br />

membros que redigiu a primeira<br />

Constituição <strong>de</strong> <strong>Timor</strong>.<br />

• A reconstrução, pela Administração<br />

Transitória <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>, <strong>de</strong><br />

32 importantes edifícios públicos.<br />

• A criação <strong>do</strong> Segun<strong>do</strong> Governo<br />

<strong>de</strong> Transição e a nomeação <strong>de</strong><br />

um Conselho <strong>de</strong> Ministros<br />

<strong>Timor</strong>ense para gerir as activida<strong>de</strong>s<br />

diárias <strong>do</strong> governo.<br />

• A organização <strong>de</strong> eleições presi<strong>de</strong>nciais<br />

bem sucedidas em 14 <strong>de</strong><br />

Abril <strong>de</strong> <strong>2002</strong>.<br />

• A criação da Força <strong>de</strong> Defesa <strong>de</strong><br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>, com cerca <strong>de</strong> 600 solda<strong>do</strong>s<br />

que tiveram formação básica.<br />

Além disso estabeleceu-se o<br />

Serviço Policial <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>,<br />

com mais <strong>de</strong> 1.300 polícias<br />

timorenses distribuí<strong>do</strong>s pelos 13<br />

distritos.<br />

• O estabelecimento <strong>de</strong> um sistema<br />

judicial e legal, incluin<strong>do</strong> um gabinete<br />

<strong>do</strong> promotor geral <strong>de</strong> <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> e um serviço <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa<br />

jurídico.<br />

• A reabilitação básica <strong>de</strong> escolas<br />

por to<strong>do</strong> o país. Mais <strong>de</strong> 700<br />

escolas primárias, 100 escolas secundárias,<br />

40 jardins <strong>de</strong> infância<br />

e 10 colégios técnicos ensinam<br />

actualmente 240.000 crianças e<br />

estudantes mais velhos.<br />

• O início <strong>de</strong> um acor<strong>do</strong> com a Austrália<br />

sobre as reservas <strong>de</strong> petróleo<br />

e gás—o Acor<strong>do</strong> sobre o Mar<br />

<strong>de</strong> <strong>Timor</strong>. Este tem o potencial <strong>de</strong><br />

provi<strong>de</strong>nciar milhares <strong>de</strong> milhões<br />

<strong>de</strong> dólares <strong>de</strong> rendimento.<br />

• A instituição <strong>de</strong> serviços públicos<br />

básicos em várias áreas, incluin<strong>do</strong><br />

a saú<strong>de</strong>, a educação e infraestruturas.<br />

A electricida<strong>de</strong> foi<br />

restabelecida e está a ser<br />

fornecida água potável às áreas<br />

urbanas.<br />

pessoal feminino. No fim <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 2001<br />

a proporção até chegou muito perto <strong>de</strong>ste<br />

objectivo, com uma taxa <strong>de</strong> 25% no total.<br />

Os melhores ministérios neste senti<strong>do</strong> foram<br />

os Negócios Estrangeiros (39%), Saú<strong>de</strong><br />

(32%) e Educação (29%).<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> serviço público<br />

em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> irá <strong>de</strong>frontar uma série <strong>de</strong><br />

assuntos cruciais—incluin<strong>do</strong> o número <strong>de</strong><br />

funcionários, salários, formação, capacida<strong>de</strong><br />

linguística e a necessida<strong>de</strong> contínua <strong>de</strong><br />

apoio internacional.<br />

Nível <strong>de</strong> funcionários<br />

A administração provisória estava <strong>de</strong>cidida<br />

a confinar o recrutamento e o número <strong>de</strong><br />

funcionários a um nível que qualquer futura<br />

administração pu<strong>de</strong>sse manter. Mas é provável<br />

que o novo governo enfrente uma<br />

pressão constante para aumentar o número<br />

<strong>de</strong> funcionários públicos, em especial nos<br />

níveis inferiores. Alguma <strong>de</strong>sta pressão virá<br />

das famílias cujos membros com maior<br />

formação enfrentam uma falta <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> emprego, um problema exacerba<strong>do</strong><br />

à medida que as Nações Unidas <strong>de</strong>smantelarem<br />

as suas operações.<br />

Mas haverá pressão também da parte<br />

<strong>de</strong> outros cidadãos, em particular <strong>do</strong>s que<br />

vivem em zonas rurais que enfrentam a falta<br />

<strong>de</strong> serviços eficazes—pressões para ser<br />

aumenta<strong>do</strong> o número <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res <strong>de</strong><br />

extensão rural, por exemplo. To<strong>do</strong>s os ministérios<br />

serão <strong>de</strong>safia<strong>do</strong>s a respon<strong>de</strong>r às suas<br />

responsabilida<strong>de</strong>s com os funcionários existentes<br />

e serão tenta<strong>do</strong>s a contratar ainda mais.<br />

Este problemas po<strong>de</strong>riam ser alivia<strong>do</strong>s<br />

se o crescimento económico criasse mais<br />

emprego fora <strong>do</strong> sector público. Mas será<br />

também importante assegurar que os funcionários<br />

públicos existentes trabalhem <strong>de</strong><br />

forma eficiente, reduzin<strong>do</strong> o absentismo,<br />

estabelecen<strong>do</strong> melhores sistemas <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação<br />

entre os diferentes <strong>de</strong>partamentos<br />

governamentais, agências <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

e ONGs—e fazen<strong>do</strong> questão <strong>de</strong> os<br />

serviços serem presta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> uma forma<br />

eficaz em termos <strong>de</strong> custo.<br />

Salários e promoção<br />

A UNTAET e a ATTL montaram o novo<br />

serviço público numa base ad hoc <strong>de</strong> forma<br />

a assegurarem a continuida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s serviços.<br />

Em resulta<strong>do</strong>, muitas das questões<br />

subjacentes ficaram por resolver. Entre estas<br />

inclui-se a estruturação <strong>de</strong> carreiras e a<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


<strong>de</strong>cisão sobre se estas se <strong>de</strong>verão basear<br />

num sistema fecha<strong>do</strong> em que as pessoas<br />

escolhem o serviço público como carreira<br />

para toda a vida ou um sistema mais aberto,<br />

em que as pessoas se movimentam entre<br />

os sectores público e priva<strong>do</strong>. O resulta<strong>do</strong><br />

mais provável será uma combinação<br />

pragmática entre os <strong>do</strong>is sistemas.<br />

Em qualquer <strong>do</strong>s casos, contu<strong>do</strong>, o governo<br />

terá que pagar salários a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s.<br />

Actualmente o salário anual <strong>de</strong> um funcionário<br />

público <strong>de</strong> nível quatro é <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong><br />

$1.900. Este é cinco a seis vezes o valor <strong>do</strong><br />

PIB per capita e é razoável para um país<br />

cujo orçamento <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> quase na totalida<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> apoio <strong>do</strong>s <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res. Quanto à questão<br />

<strong>de</strong> ser sustentável a longo prazo, a dúvida<br />

fica em aberto.<br />

A priorida<strong>de</strong> imediata, contu<strong>do</strong>, <strong>de</strong>verá<br />

ser atrair o maior número possível <strong>de</strong> pessoal<br />

forma<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> para os serviços<br />

governamentais. Os da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> perío<strong>do</strong><br />

pré-in<strong>de</strong>pendência indicam que cerca <strong>de</strong><br />

1.233 cidadãos timorenses tinham formação<br />

ou um diploma—mestra<strong>do</strong>, licenciatura,<br />

bacharelato ou diploma <strong>de</strong> conclusão<br />

<strong>do</strong> ensino secundário. No entanto, o governo<br />

irá enfrentar uma concorrência feroz<br />

por parte das ONGs, das Agências da<br />

ONU e <strong>do</strong>s projectos internacionais <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento.<br />

As ONGs têm já directrizes <strong>de</strong>finidas<br />

para os salários e condições para os funcionários<br />

que empregam em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> mas<br />

ten<strong>de</strong>m a respeitar mais estas condições nos<br />

níveis inferiores. Para o pessoal profissional<br />

e <strong>de</strong> gestão parecem pagar salários mais eleva<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong> que os indica<strong>do</strong>s nas directrizes—<br />

<strong>de</strong>svian<strong>do</strong> muitas das pessoas que <strong>de</strong> outra<br />

forma estariam a trabalhar para o governo.<br />

Ética <strong>de</strong> trabalho e competência<br />

O salário e as condições <strong>de</strong> trabalho durante<br />

a administração in<strong>do</strong>nésia não encorajavam<br />

uma ética <strong>de</strong> trabalho forte. Os<br />

funcionários trabalhavam poucas horas e<br />

não lhes era dada muita responsabilida<strong>de</strong>.<br />

O novo funcionalismo público terá que trabalhar,<br />

<strong>de</strong> uma forma eficaz, pelo menos<br />

37,5 a 40 horas semanais <strong>de</strong> trabalho concreto.<br />

Um salário melhor <strong>de</strong>verá permitir<br />

às pessoas valorizar mais os seus trabalhos<br />

e assegurar que empregam a sua total <strong>de</strong>dicação<br />

a cumpri-lo. Mas po<strong>de</strong>rão também<br />

ser ajuda<strong>do</strong>s através <strong>de</strong> treino e<br />

acompanhamento.<br />

CONSTRUINDO UMA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA EFICAZ<br />

Relacionada com a questão da competência<br />

está a capacida<strong>de</strong> para agir rapidamente<br />

e <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>cidida. O sistema hierárquico<br />

inculca<strong>do</strong> durante o perío<strong>do</strong><br />

in<strong>do</strong>nésio tendia a <strong>de</strong>struir a auto-estima <strong>do</strong>s<br />

funcionários e a sua capacida<strong>de</strong> para tomar<br />

iniciativas. Mais <strong>do</strong> que trabalhar na base <strong>de</strong><br />

orientações gerais, tipicamente tinham a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> instruções muito específicas<br />

para levar a cabo uma certa tarefa. Este é<br />

outro assunto a ser aborda<strong>do</strong> no âmbito<br />

<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s.<br />

O estatuto social é importante em <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> e terá que ser leva<strong>do</strong> em linha <strong>de</strong> conta<br />

também na administração pública. Grupos<br />

diferentes têm a sua própria or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> classificação—quer<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> grupo quer entre<br />

eles. Entre estes grupos contam-se os<br />

regressa<strong>do</strong>s da diáspora, os guerrilheiros da<br />

libertação, os antigos funcionários públicos<br />

e a Igreja. Também as pessoas, em geral,<br />

têm os seus próprios sistemas <strong>de</strong> estatuto<br />

social e <strong>de</strong> classificação. Uma pessoa com<br />

um estatuto social mais baixo po<strong>de</strong>rá ter<br />

mais capacida<strong>de</strong> e habilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> que alguém<br />

<strong>de</strong> estatuto superior mas não ficaria à vonta<strong>de</strong><br />

para a supervisionar.<br />

Língua<br />

Os timorenses falam, entre eles, cerca <strong>de</strong><br />

30 línguas ou dialectos. As línguas 'nativas'<br />

mais faladas são o Mambae e o Macassae<br />

mas a língua franca nacional é a variante <strong>de</strong><br />

Dili <strong>do</strong> tetum (tetum ‘praça’) que incorpora<br />

muitas palavras tiradas <strong>do</strong> português juntamente<br />

com umas quantas, muito menos,<br />

<strong>do</strong> in<strong>do</strong>nésio. O Inquérito às Famílias <strong>de</strong><br />

2001 concluiu que 82% da população falava<br />

tetum, ao passo que 43% conseguia falar<br />

in<strong>do</strong>nésio. Apenas uma pequena proporção,<br />

principalmente pessoas mais velhas e a comunida<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong>s que estiveram exila<strong>do</strong>s, falava<br />

português, enquanto que uma proporção<br />

ainda menor falava inglês (gráfico 2.1).<br />

A Constituição <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> <strong>de</strong>clara<br />

que as línguas oficiais <strong>de</strong>verão ser o tetum e<br />

o português enquanto que, simultaneamente<br />

e 'enquanto se achar necessário', o<br />

in<strong>do</strong>nésio e o inglês <strong>de</strong>verão ser línguas<br />

adicionais <strong>de</strong> trabalho na administração<br />

pública.<br />

As duas línguas oficiais têm forças e fraquezas<br />

complementares. O tetum tem a<br />

vantagem <strong>de</strong> ser largamente fala<strong>do</strong> mas até<br />

muito recentemente, quan<strong>do</strong> a Igreja Católica<br />

começou a escrevê-la por questões<br />

A priorida<strong>de</strong><br />

imediata <strong>de</strong>verá<br />

ser atrair o<br />

maior número<br />

possível <strong>de</strong><br />

pessoal forma<strong>do</strong><br />

para os serviços<br />

governamentais<br />

37


Este ambiente<br />

com quatro<br />

línguas<br />

representa um<br />

<strong>de</strong>safio enorme<br />

38<br />

litúrgicas, era primariamente uma língua oral.<br />

Mesmo hoje tem pouco <strong>do</strong> vocabulário<br />

técnico e <strong>de</strong> gestão necessário para <strong>do</strong>cumentos<br />

oficiais. O português tem todas as<br />

vantagens <strong>de</strong> séculos <strong>de</strong> elaboração e uso<br />

como língua escrita mas pouco timorenses<br />

falam português—genericamente só a geração<br />

mais velha educada antes da ocupação<br />

in<strong>do</strong>nésia e os que estiveram exila<strong>do</strong>s<br />

em Portugal.<br />

As ‘línguas <strong>de</strong> trabalho’ têm também<br />

características diferentes. Depois <strong>de</strong> 25 anos<br />

<strong>de</strong> ocupação e <strong>de</strong> educação forçada (através<br />

<strong>do</strong> sistema educacional), o in<strong>do</strong>nésio é<br />

a língua escrita mais entendida—o que a<br />

torna prática mas impopular. O inglês é a<br />

língua menos entendida a nível nacional, mas<br />

tem a vantagem <strong>de</strong> ser a língua franca na<br />

comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res internacionais<br />

da ONU e na região da ASEAN.<br />

Este ambiente com quatro línguas representa<br />

um <strong>de</strong>safio enorme—e muito<br />

dispendioso—para o novo governo. O<br />

primeiro <strong>de</strong>safio é o <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver capacida<strong>de</strong>s<br />

a<strong>de</strong>quadas <strong>de</strong> escrita e <strong>de</strong> fala em<br />

português. To<strong>do</strong>s os funcionários públicos<br />

<strong>de</strong> posições superiores terão que ser capazes<br />

<strong>de</strong> trabalhar em português, enquanto que<br />

nesta fase <strong>de</strong> transição alguns <strong>do</strong>s regressa<strong>do</strong>s<br />

terão que apren<strong>de</strong>r também algum<br />

in<strong>do</strong>nésio e Tetum.<br />

A antiga Agência para o Planeamento<br />

Nacional e <strong>Desenvolvimento</strong>, agora Comissão<br />

<strong>de</strong> Planeamento, estima que cerca <strong>de</strong><br />

2.000 funcionários chave terão que receber<br />

formação em português, 400 em tetum, e<br />

Gráfico 2.1<br />

Línguas oficiais e <strong>de</strong> trabalho<br />

% da população que fala a língua<br />

100%<br />

80%<br />

60%<br />

40%<br />

20%<br />

0%<br />

82%<br />

43%<br />

Fonte: Inquérito às Famílias (2001)<br />

5%<br />

2%<br />

Tetum In<strong>do</strong>nésio Português Inglês<br />

150 em in<strong>do</strong>nésio. Para além disto, o governo<br />

irá precisar <strong>de</strong> um grupo mais<br />

pequeno que fale inglês, em particular<br />

aqueles que lidarem com a ASEAN e outros<br />

países, assim como com a indústria internacional<br />

<strong>do</strong> petróleo. Muitos <strong>do</strong>s funcionários<br />

públicos irão também precisar <strong>de</strong><br />

formação em línguas.<br />

A segunda questão, e ainda mais cara,<br />

será a da tradução. A única opção aqui será<br />

usar serviços profissionais, o que se po<strong>de</strong>rá<br />

revelar proibitivamente caro. Uma tarefa<br />

urgente será a tradução da <strong>do</strong>cumentação<br />

da UNTAET, a maior parte da qual está<br />

em inglês e terá que ser traduzida para português<br />

e para tetum e talvez também para<br />

in<strong>do</strong>nésio.<br />

Finalmente, a Constituição <strong>de</strong>clara também<br />

que 'o tetum e as outras línguas nacionais<br />

<strong>de</strong>verão ser valorizadas e <strong>de</strong>senvolvidas<br />

pelo Esta<strong>do</strong>'. Isto po<strong>de</strong>rá implicar a<br />

criação <strong>de</strong> um instituto <strong>de</strong> pesquisa e<br />

<strong>de</strong>senvolvimento para formalizar a gramática,<br />

sintaxe, estrutura, ortografia e alfabeto<br />

<strong>do</strong> tetum.<br />

O processo <strong>de</strong> capacitação<br />

A aprendizagem <strong>de</strong> línguas e muitos outros<br />

assuntos implicam um processo <strong>de</strong><br />

capacitação em larga escala. Esta será uma<br />

tarefa longa e complexa mas a priorida<strong>de</strong><br />

imediata para o serviço público será a <strong>de</strong><br />

fornecer serviços à população. Por isso,<br />

durante os primeiros <strong>do</strong>is ou três anos a<br />

ênfase será certificar que os funcionários<br />

públicos possuem as capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> gestão<br />

básicas para fazer funcionar as instituições<br />

essenciais <strong>do</strong> governo. Se o governo não<br />

fornecer os serviços <strong>de</strong> forma eficiente per<strong>de</strong>rá<br />

legitimida<strong>de</strong> aos olhos da população.<br />

A aquisição <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s mais complexas<br />

terá que esperar até mais tar<strong>de</strong>.<br />

Pessoal internacional<br />

Embora a priorida<strong>de</strong> seja encontrar e cultivar<br />

o talento timorense, durante os próximos<br />

anos <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> irá precisar <strong>de</strong> apoio<br />

internacional em áreas críticas on<strong>de</strong> existem<br />

insuficientes timorenses habilita<strong>do</strong>s. Essas<br />

áreas incluem funções que exigem uma gestão<br />

saudável e eficiente <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s. <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> não se po<strong>de</strong> dar ao luxo <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r<br />

dinheiro através <strong>de</strong> <strong>de</strong>sperdício ou má gestão.<br />

Estes e outros cargos po<strong>de</strong>rão ser ocupa<strong>do</strong>s<br />

inicialmente por conselheiros internacionais<br />

a trabalhar em conjunto com o<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


pessoal local, que será entretanto objecto<br />

<strong>de</strong> formação e <strong>de</strong> acompanhamento <strong>de</strong><br />

forma a transferir o conhecimento e as<br />

capacida<strong>de</strong>s. Em Março <strong>de</strong> <strong>2002</strong>, a ATTL<br />

i<strong>de</strong>ntificou aproximadamente 300 cargos<br />

como sen<strong>do</strong> necessários para o <strong>de</strong>sempenho<br />

<strong>de</strong> funções básicas <strong>de</strong> governação.<br />

Destes, catalogou 100 como 'cargos <strong>de</strong><br />

estabilida<strong>de</strong>' e previu que estes po<strong>de</strong>riam<br />

ser financia<strong>do</strong>s directamente pela ONU. Para<br />

os restantes 200 ‘cargos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento’, o governo iria procurar<br />

financiamento da comunida<strong>de</strong> <strong>do</strong>a<strong>do</strong>ra.<br />

Governo local<br />

Um princípio fundamental da Constituição<br />

<strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> é a <strong>de</strong>scentralização. <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> tem já uma história <strong>de</strong> governo local<br />

que reflecte tanto a ocupação portuguesa<br />

como a in<strong>do</strong>nésia. A motivação principal<br />

<strong>do</strong>s coloniza<strong>do</strong>res era a recolha <strong>de</strong> impostos.<br />

Para este efeito dividiram o país em<br />

distritos, sub-distritos e sucos. Tinha pouco<br />

interesse em exercer o po<strong>de</strong>r ao nível local<br />

e a estrutura <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r tradicional foi <strong>de</strong>ixada<br />

inalterada. Os in<strong>do</strong>nésios aceitaram, no<br />

geral, as mesmas divisões administrativas<br />

mas também exerceram um controlo maior<br />

ao nível local. Na prática, contu<strong>do</strong>, as<br />

estruturas tradicionais sobreviveram, embora<br />

estas fossem também influenciadas pela<br />

luta <strong>de</strong> resistência e as relações locais eram,<br />

e continuam a ser, bastante complexas.<br />

A UNTAET também manteve as divisões<br />

regionais anteriores—com 13 distritos<br />

e 65 sub-distritos—embora tenha modifica<strong>do</strong><br />

muitas das funções <strong>do</strong> pessoal local.<br />

Além disso, no princípio <strong>de</strong> 2000, <strong>de</strong> forma<br />

a aumentar a participação comunitária<br />

no planeamento e tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões, a<br />

UNTAET estabeleceu o Projecto <strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong><br />

<strong>do</strong> Po<strong>de</strong>r das Comunida<strong>de</strong>s,<br />

que incluía Conselhos <strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong><br />

da Al<strong>de</strong>ia eleitos.<br />

Um forte argumento a favor da<br />

<strong>de</strong>scentralização é o <strong>de</strong> que ela resulta numa<br />

oferta <strong>de</strong> serviços e tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão mais<br />

eficientes, uma vez que o trabalho é feito<br />

pelas pessoas que percebem as circunstâncias<br />

e priorida<strong>de</strong>s locais. Mas tão importante<br />

como isto é a função <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver<br />

a <strong>de</strong>mocracia e juntar as pessoas para moldar<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento nacional. Assim é<br />

maximiza<strong>do</strong> o impacto <strong>do</strong>s esforços <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento rural, seja <strong>de</strong> agências governamentais,<br />

<strong>do</strong>a<strong>do</strong>res, ONGs ou orga-<br />

CONSTRUINDO UMA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA EFICAZ<br />

nizações comunitárias. A <strong>de</strong>scentralização<br />

po<strong>de</strong> tomar uma <strong>de</strong> três formas:<br />

• Desconcentração—Esta é a forma mais<br />

leve e implica a transferência, por parte<br />

<strong>do</strong> governo central, da responsabilida<strong>de</strong><br />

pela execução da política central para os<br />

administra<strong>do</strong>res <strong>de</strong> nível local.<br />

• Delegação—Esta implica a transferência<br />

<strong>de</strong> algum po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão e funções<br />

administrativas para organizações locais<br />

semi-autónomas.<br />

• Devolução—Esta é a forma mais forte e<br />

implica a transferência <strong>de</strong> alguma autorida<strong>de</strong><br />

para a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, financiamento<br />

e gestão para o governo eleito<br />

localmente e que também <strong>de</strong>verá<br />

po<strong>de</strong>r cobrar receitas.<br />

Durante os primeiros anos, pelo menos,<br />

dada a falta <strong>de</strong> recursos e <strong>de</strong> pessoal qualifica<strong>do</strong>,<br />

não é provável que <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

avance para além da <strong>de</strong>sconcentração,<br />

fican<strong>do</strong> alguns <strong>de</strong>partamentos chave—<br />

como a educação, a saú<strong>de</strong>, a agricultura, a<br />

habitação, água e cuida<strong>do</strong>s sanitários—com<br />

<strong>de</strong>legações regionais para fornecimento <strong>de</strong><br />

serviços básicos às populações locais.<br />

Uma sugestão sobre quais serão as regiões<br />

mais apropriadas foi dada em 2001 pelo<br />

Grupo <strong>de</strong> Reflexão sobre o Governo Local.<br />

Este propôs três agrupamentos regionais:<br />

um na região leste <strong>do</strong> país; outro na região<br />

sul e outro na região oeste. Contu<strong>do</strong>, duas<br />

partes <strong>do</strong> país teriam um estatuto especial:<br />

Dili, que seria consi<strong>de</strong>rada uma<br />

Municipalida<strong>de</strong> Capital única, e o enclave<br />

<strong>de</strong> Oécussi, que teria um estatuto especial.<br />

Um estu<strong>do</strong> leva<strong>do</strong> a cabo pelo PNUD<br />

para uma missão pós-UNTAET apoiou<br />

esta <strong>de</strong>cisão e sugeriu também um conselheiro<br />

para cada região. Esta<br />

<strong>de</strong>scentralização teria como sua<br />

componente um elemento <strong>de</strong> redistribuição<br />

financeira. Neste sistema cada um teria o<br />

seu Director Geral que assumiria a responsabilida<strong>de</strong><br />

pela região como um to<strong>do</strong>. Ele<br />

ou ela po<strong>de</strong>ria trabalhar também com um<br />

corpo <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação especial regional <strong>de</strong><br />

forma a juntar representantes <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os<br />

grupos com responsabilida<strong>de</strong> local—os<br />

membros locais <strong>do</strong> parlamento nacional,<br />

lí<strong>de</strong>res eleitos <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>s locais, funcionários<br />

públicos regionais <strong>de</strong> topo e lí<strong>de</strong>res<br />

<strong>de</strong> organizações <strong>de</strong> mulheres, ONGs e grupos<br />

comunitários. Toda esta activida<strong>de</strong> ne-<br />

A Constituição<br />

estabelece o<br />

princípio da<br />

<strong>de</strong>scentralização<br />

39


A organização não-governamental<br />

internacional Transparency<br />

International apresentou sete princípios<br />

da vida pública:<br />

1. Altruísmo—os <strong>de</strong>tentores <strong>de</strong> cargos<br />

públicos <strong>de</strong>verão tomar <strong>de</strong>cisões<br />

unicamente em nome <strong>do</strong><br />

interesse público. Não <strong>de</strong>verão<br />

tomar <strong>de</strong>cisões para ganhar benefícios<br />

financeiros ou outros para<br />

si próprios, para a sua família<br />

ou para os seus amigos.<br />

2. Integrida<strong>de</strong>—os <strong>de</strong>tentores <strong>de</strong><br />

cargos públicos não se <strong>de</strong>verão<br />

colocar em dívida financeira para<br />

com indivíduos ou organizações<br />

externas que possam influenciálos<br />

no <strong>de</strong>sempenho das suas obrigações<br />

oficiais.<br />

3. Objectivida<strong>de</strong>—ao levar a cabo<br />

as funções públicas—o que inclui<br />

nomeações públicas, adjudicação<br />

<strong>de</strong> contratos, ou a recomendação<br />

<strong>de</strong> indivíduos para recompensas<br />

e benefícios—os<br />

<strong>de</strong>tentores <strong>de</strong> cargos públicos <strong>de</strong>vem<br />

basear as suas escolhas no<br />

mérito.<br />

40<br />

Caixa 2.3<br />

cessitaria <strong>de</strong> cobertura legislativa para assegurar<br />

a prestação <strong>de</strong> contas, a transparência<br />

e a participação <strong>de</strong>mocrática.<br />

Prevenin<strong>do</strong> a corrupção<br />

A herança <strong>do</strong>s anos sob o <strong>do</strong>mínio in<strong>do</strong>nésio<br />

e a probabilida<strong>de</strong> das disparida<strong>de</strong>s<br />

<strong>do</strong>s salários entre os sectores público e priva<strong>do</strong>,<br />

levanta a questão sempre presente da<br />

corrupção. A corrupção será também um<br />

problema se o governo não trabalhar <strong>de</strong><br />

forma equitativa e transparente. Em larga<br />

medida, prevenir a corrupção é resulta<strong>do</strong><br />

da construção <strong>de</strong> estruturas administrativas<br />

fortes que tenham procedimentos simples<br />

e linhas claras <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> e transparência.<br />

Quanto mais complexo for o sistema,<br />

maior a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser manipula<strong>do</strong><br />

por burocratas para os seus próprios<br />

propósitos e como forma <strong>de</strong> rendimento<br />

ilícito. Estas estruturas saudáveis <strong>de</strong>vem<br />

ser <strong>do</strong>tadas <strong>de</strong> um código <strong>de</strong> ética por<br />

forma a orientar gestores e lí<strong>de</strong>res (caixa<br />

2.3).<br />

Ainda assim, o sistema político irá necessitar<br />

também <strong>de</strong> mecanismos expeditos<br />

que permitam <strong>de</strong>mitir quer políticos quer<br />

funcionários públicos que aceitem ou participem<br />

em activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> rent-seeking e ou-<br />

Princípios da vida pública<br />

4. Prestação <strong>de</strong> contas—os <strong>de</strong>tentores<br />

<strong>de</strong> cargos públicos são responsáveis<br />

pelas suas <strong>de</strong>cisões e acções<br />

perante o público e <strong>de</strong>vem<br />

submeter-se ao controlo mais apropria<strong>do</strong><br />

ao seu cargo.<br />

5. Abertura—os <strong>de</strong>tentores <strong>de</strong> cargos<br />

públicos <strong>de</strong>vem ser tão abertos<br />

quanto possível em relação a todas<br />

as suas <strong>de</strong>cisões e acções<br />

que tomarem. Devem apontar razões<br />

para as <strong>de</strong>cisões tomadas<br />

e restringir a informação apenas<br />

quan<strong>do</strong> interesses públicos mais<br />

altos claramente o exigirem.<br />

6. Honestida<strong>de</strong>—os <strong>de</strong>tentores <strong>de</strong><br />

cargos públicos têm o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>clarar quaisquer interesses priva<strong>do</strong>s<br />

relaciona<strong>do</strong>s com os seus<br />

<strong>de</strong>veres públicos e <strong>de</strong>vem tomar<br />

medidas para resolver qualquer<br />

conflito <strong>de</strong> forma a proteger o interesse<br />

público.<br />

7. Li<strong>de</strong>rança—os <strong>de</strong>tentores <strong>de</strong> cargos<br />

públicos <strong>de</strong>vem promover e<br />

apoiar estes princípios através da<br />

sua li<strong>de</strong>rança e <strong>do</strong> exemplo.<br />

tras formas <strong>de</strong> práticas corruptas. A<br />

experiência <strong>de</strong> outros países sugere que a<br />

melhor abordagem é estabelecer uma agência<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte anti-corrupção.<br />

A Constituição fornece duas instituições<br />

<strong>de</strong> vigilância: um Prove<strong>do</strong>r e um Supremo<br />

Tribunal para a Administração, Impostos e<br />

Auditoria. Estas instituições <strong>de</strong> vigilância <strong>do</strong><br />

bom funcionamento <strong>do</strong> sistema só funcionarão<br />

bem se tiverem uma li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong> elevada<br />

integrida<strong>de</strong> e se lhes forem atribuí<strong>do</strong>s<br />

po<strong>de</strong>res suficientes para requisição <strong>de</strong> <strong>do</strong>cumentação<br />

e interrogação <strong>de</strong> testemunhas.<br />

Acima <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>, precisam <strong>de</strong> ter o apoio<br />

forte <strong>do</strong>s lí<strong>de</strong>res políticos <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s a<br />

erradicar a corrupção e prepara<strong>do</strong>s a apoiar<br />

estas organizações em casos politicamente<br />

sensíveis.<br />

O sistema judicial<br />

Um <strong>do</strong>s requisitos básicos para erradicar a<br />

corrupção, assim como para aplicar a justiça<br />

e lançar os fundamentos <strong>de</strong> uma economia<br />

<strong>de</strong> merca<strong>do</strong>, é um sistema judicial eficaz.<br />

O governo in<strong>do</strong>nésio subordinou o sistema<br />

legal aos seus próprios fins e corrompeu<br />

tanto os tribunais como o sistema judicial<br />

em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> transforman<strong>do</strong>, <strong>de</strong><br />

facto, o sistema legal numa extensão servil<br />

<strong>do</strong> executivo. Em resulta<strong>do</strong>, muitos<br />

timorenses tinham pouca confiança nas instituições<br />

legais. Depois, em 1999, os tribunais<br />

foram <strong>de</strong>struí<strong>do</strong>s juntamente com<br />

muita da infraestrutura legal e arquivos.<br />

Durante o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> transição, a<br />

UNTAET <strong>de</strong>cidiu usar as leis in<strong>do</strong>nésias<br />

relevantes <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que não violassem as normas<br />

internacionais. Um <strong>do</strong>s problemas mais<br />

imediatos foi a falta <strong>de</strong> pessoal com formação<br />

jurídica, em particular <strong>de</strong> advoga<strong>do</strong>s.<br />

Existem ainda poucos juízes e promotores<br />

públicos timorenses qualifica<strong>do</strong>s e com<br />

experiência. O Tribunal <strong>de</strong> Apelação não<br />

tem quorum <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 2001, <strong>de</strong>pois<br />

da partida <strong>de</strong> <strong>do</strong>is juízes internacionais.<br />

Os tribunais têm também que operar<br />

com recursos escassos e os investiga<strong>do</strong>res<br />

têm dificulda<strong>de</strong> em actuar <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à dificulda<strong>de</strong><br />

na obtenção <strong>de</strong> registos, assim como<br />

falta <strong>de</strong> traduções entre inglês, português e<br />

as línguas locais. Actualmente, ao abrigo <strong>de</strong><br />

um sistema <strong>de</strong> acompanhamento, os agentes<br />

judiciais recentemente promovi<strong>do</strong>s são<br />

apoia<strong>do</strong>s por juízes e advoga<strong>do</strong>s internacionais,<br />

receben<strong>do</strong> assim formação e<br />

capacitação enquanto <strong>de</strong>sempenham as suas<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


funções. No longo prazo, o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>do</strong> sistema judicial em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> precisará<br />

<strong>de</strong> apoio nas seguintes três áreas<br />

estratégicas:<br />

• Procedimentos legais claros—Actualmente o<br />

país tem um sistema sobreposto <strong>de</strong> direito<br />

comum e <strong>de</strong> direito civil que enfatiza excessivamente<br />

os procedimentos. <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> irá precisar <strong>de</strong> simplificar os seus procedimentos<br />

legais nos <strong>do</strong>mínios quer da<br />

responsabilida<strong>de</strong> civil quer da responsabilida<strong>de</strong><br />

criminal, <strong>de</strong> forma a assegurar justiça<br />

(incluin<strong>do</strong> o acesso a ela) e a fazer cumprir<br />

os contratos comerciais e as transacções<br />

comerciais.<br />

• Um sistema judicial in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e capaz—A<br />

Constituição provi<strong>de</strong>nciou a criação <strong>de</strong> um<br />

tribunal judicial para supervisionar os juízes<br />

e ajudar a continuar a educação judicial. Esta<br />

po<strong>de</strong>ria ser complementada através da participação<br />

em intercâmbios e conferências<br />

internacionais.<br />

• Maiores recursos—A maior limitação imediata<br />

ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> sistema judicial<br />

é a falta <strong>de</strong> recursos, incluin<strong>do</strong> material<br />

legal, registos legais, ferramentas <strong>de</strong> pesqui-<br />

CONSTRUINDO UMA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA EFICAZ<br />

sa e pessoal qualifica<strong>do</strong>. Têm si<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s<br />

alguns esforços no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

ultrapassar estas carências, incluin<strong>do</strong> a introdução<br />

<strong>de</strong> profissionais timorenses no sistema<br />

legal. No entanto, a maioria <strong>de</strong>stes são<br />

recém-licencia<strong>do</strong>s e necessitarão <strong>de</strong> uma<br />

formação contínua prolongada. Uma organização<br />

para os advoga<strong>do</strong>s, sob a forma<br />

<strong>de</strong> uma Associação <strong>de</strong> Advoga<strong>do</strong>s, po<strong>de</strong>ria<br />

ajudar a certificar os advoga<strong>do</strong>s, a estabelecer<br />

critérios <strong>de</strong> admissão, a regular a<br />

conduta profissional e a oferecer educação<br />

contínua.<br />

O novo governo <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> enfrenta<br />

a tarefa gigantesca <strong>de</strong> construir um novo<br />

sistema <strong>de</strong> governação que tenha tanto a<br />

forma como o espírito da <strong>de</strong>mocracia. Isto<br />

implica novas atitu<strong>de</strong>s não apenas das elites<br />

políticas e da administração pública mas<br />

também <strong>de</strong> toda a população <strong>de</strong> <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong>, que são agora cidadãos <strong>de</strong> uma nação<br />

que se governa a si própria. A sua cultura<br />

e as suas acções irão mo<strong>de</strong>lar o futuro<br />

<strong>do</strong> país. Muitas pessoas farão isto através<br />

<strong>de</strong> várias organizações da socieda<strong>de</strong> civil,<br />

que são o tema <strong>do</strong> próximo capítulo.<br />

41


Os grupos da<br />

socieda<strong>de</strong> civil<br />

<strong>de</strong>sempenharam<br />

um importante<br />

papel na luta<br />

contra a<br />

ocupação<br />

colonial<br />

42<br />

CAPÍTULO 3<br />

Novos papéis para a<br />

socieda<strong>de</strong> civil<br />

A in<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> é o culminar <strong>de</strong> uma longa<br />

luta contra a ocupação colonial levada a cabo por um<br />

gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> grupos da socieda<strong>de</strong> civil—associações<br />

comunitárias, grupos religiosos, grupos <strong>de</strong> estudantes e<br />

outros. Estes mesmos grupos irão também promover o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento humano no novo <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> mas para<br />

o fazerem eficazmente <strong>de</strong>verão adaptar-se às novas<br />

circunstâncias e estabelecer novas relações com as<br />

agências governamentais, com as comunida<strong>de</strong>s locais e<br />

entre si.<br />

Nos primeiros anos após a in<strong>de</strong>pendência<br />

<strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> é provável que a maior<br />

parte <strong>do</strong>s esforços em prol <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano provenha <strong>do</strong> governo e <strong>do</strong>s<br />

serviços públicos. No entanto, a capacida<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> é limitada pelo que, em última<br />

análise, o progresso <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

enquanto jovem nação <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá <strong>do</strong> empenho<br />

e dinamismo da socieda<strong>de</strong> civil.<br />

Em certa medida, isso exigirá que se<br />

mantenha o grau <strong>de</strong> empenhamento <strong>de</strong>monstra<strong>do</strong><br />

durante a luta pela in<strong>de</strong>pendência.<br />

Esta assentou na acção conjunta <strong>de</strong> organizações<br />

comunitárias informais, grupos<br />

religiosos, organizações estudantis e muitas<br />

outras que, conjuntamente com as organizações<br />

<strong>de</strong> carácter político, se envolveram<br />

na longa luta contra o colonialismo. Agora<br />

to<strong>do</strong>s estes grupos se <strong>de</strong>frontam com o<br />

novo <strong>de</strong>safio da construção <strong>de</strong> uma nação.<br />

Nesta tarefa são acompanha<strong>do</strong>s por novos<br />

grupos—nomeadamente um vasto conjunto<br />

<strong>de</strong> Organizações Não Governamentais<br />

(ONGs) e Organizações Comunitárias<br />

<strong>de</strong> Base (OCBs) assim como várias estações<br />

<strong>de</strong> rádio e órgãos <strong>de</strong> imprensa escrita<br />

entretanto cria<strong>do</strong>s.<br />

No seu to<strong>do</strong>, estes grupos formam um<br />

conjunto bastante heterogéneo, habitualmente<br />

<strong>de</strong>signa<strong>do</strong> por ‘socieda<strong>de</strong> civil’. Não<br />

existe <strong>de</strong>finição ‘oficial’ <strong>de</strong>sta expressão,<br />

embora possa ser entendida como incluin<strong>do</strong><br />

to<strong>do</strong>s os grupos ou associações que são<br />

claramente distintos, autónomos e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. Alguns são grupos <strong>de</strong><br />

voluntários sem fins lucrativos mas outros,<br />

como é o caso <strong>do</strong>s meios <strong>de</strong> comunicação<br />

social, aliam habitualmente a motivação<br />

comercial a uma série <strong>de</strong> interesses e propósitos<br />

sociais mais vastos.<br />

O perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> ocupação in<strong>do</strong>nésia<br />

O governo in<strong>do</strong>nésio era relutante em permitir<br />

o crescimento das organizações in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />

da socieda<strong>de</strong> civil—tanto em<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> como no resto <strong>do</strong> país. Pelo<br />

contrário, preferia financiar a criação e funcionamento<br />

<strong>de</strong> ‘grupos funcionais’, através<br />

<strong>do</strong>s quais podia alargar a sua esfera <strong>de</strong> influência<br />

e controlar a população e que podia<br />

utilizar para prosseguir os seus próprios<br />

interesses.<br />

Em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> estes grupos incluiam<br />

a associação juvenil, a associação <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res,<br />

uma associação estudantil e uma<br />

associação <strong>de</strong> funcionários públicos. No<br />

entanto, outros grupos houve que conseguiram<br />

manter a sua in<strong>de</strong>pendência. Entre<br />

estes, alguns <strong>do</strong>s mais <strong>de</strong>staca<strong>do</strong>s e eficazes<br />

estavam liga<strong>do</strong>s à Igreja Católica. Estes incluíam<br />

a figura <strong>do</strong> Delega<strong>do</strong> Social —posteriormente<br />

transformada em Caritas<br />

e que, juntamente com a Comissão Justiça<br />

e Paz, era um importante foco <strong>de</strong> resistência<br />

nacional e internacional durante a ocupação<br />

in<strong>do</strong>nésia.<br />

Uma outra ONG com um longo<br />

historial é a Fundação para Projectos Agrícolas<br />

e <strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong> <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

(FPADTL), uma organização que se expandiu<br />

rapidamente nos anos ’80 para a prestação<br />

<strong>de</strong> serviços aos camponeses.<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


Os anos ’90 viram o aparecimento <strong>de</strong><br />

algumas novas ONGs. Estas incluíam o<br />

grupo <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong>s direitos humanos<br />

Yayasan Hak (Fundação para o Direito), a<br />

Yayasan Bia Hula, que se <strong>de</strong>dica às questões<br />

<strong>do</strong> saneamento básico e <strong>do</strong> abastecimento<br />

<strong>de</strong> água, o Fokupers (Fórum Feminino para<br />

a Comunicação) e a ETWAVE (Mulheres<br />

<strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> contra a Violência).<br />

Algumas das confrontações mais directas<br />

contra a ocupação colonial foram levadas<br />

a cabo por movimentos juvenis e estudantis.<br />

Estes movimentos tiveram origens<br />

diversas. Alguns <strong>do</strong>s jovens pertenciam ao<br />

principal movimento político, a Fretilin.<br />

Outros eram estudantes <strong>do</strong> Externato São<br />

José—um <strong>do</strong>s últimos estabelecimentos <strong>de</strong><br />

ensino da língua portuguesa em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>.<br />

Outros ainda eram seminaristas da Igreja<br />

Católica que promoveram a criação <strong>de</strong><br />

movimentos juvenis nas paróquias e escolas<br />

em que trabalhavam, especialmente em<br />

Dili.<br />

Estes grupos juvenis manifestaram-se<br />

durante a visita <strong>do</strong> Papa João Paulo II em<br />

1989 e foram também eles que, em 1991,<br />

li<strong>de</strong>raram a manifestação que provocou o<br />

cancelamento <strong>de</strong> uma visita já agendada por<br />

parte <strong>de</strong> representantes da ONU e <strong>de</strong>puta<strong>do</strong>s<br />

portugueses. Os militares in<strong>do</strong>nésios<br />

respon<strong>de</strong>ram <strong>de</strong> forma brutal. Primeiro,<br />

assassinaram um <strong>do</strong>s manifestantes, Sebastião<br />

Gomes, que havia procura<strong>do</strong> asilo <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong> uma igreja. Depois, aquan<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu<br />

funeral, abriram fogo sobre a multidão que<br />

se reunira no cemitério matan<strong>do</strong> 271 pessoas<br />

e ferin<strong>do</strong> centenas <strong>de</strong> outras, no que<br />

ficou conheci<strong>do</strong> como o ‘Massacre <strong>de</strong> Santa<br />

Cruz’.<br />

Continuan<strong>do</strong> a <strong>de</strong>safiar as autorida<strong>de</strong>s,<br />

os grupos estudantis cresceram em termos<br />

<strong>de</strong> força e <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> organizativa. Em<br />

1998, fundaram o Conselho <strong>Timor</strong>ense <strong>de</strong><br />

Solidarieda<strong>de</strong> Estudantil (CTSE), sedia<strong>do</strong><br />

na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Dili. Em Julho <strong>do</strong> mesmo<br />

ano, realizaram uma manifestação que<br />

contou com mais <strong>de</strong> 10.000 pessoas, <strong>de</strong><br />

mo<strong>do</strong> a coincidir com a visita <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>legação<br />

diplomática <strong>de</strong> alto nível constituída<br />

por embaixa<strong>do</strong>res. Em 1999, aquan<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>s preparativos para o referen<strong>do</strong>, <strong>de</strong>sempenharam<br />

um papel fundamental na<br />

consciencialização da população—corren<strong>do</strong>,<br />

para tal, sérios riscos.<br />

Um outro importante <strong>de</strong>senvolvimento<br />

que teve lugar em 1998 consistiu na<br />

NOVOS PAPÉIS PARA A SOCIEDADE CIVIL<br />

criação <strong>do</strong> Fórum das ONGs <strong>de</strong> <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong>. Inicialmente, este Fórum foi cria<strong>do</strong><br />

para coor<strong>de</strong>nar o auxílio <strong>de</strong> emergência às<br />

comunida<strong>de</strong>s afectadas pela seca <strong>de</strong> 1997/<br />

98 e teve o apoio <strong>de</strong> organizações internacionais<br />

como a AusAID, o Conselho Australiano<br />

para a Ajuda Externa (CAAE) e a<br />

Oxfam. Então, em Junho <strong>de</strong> 1999, no perío<strong>do</strong><br />

que antece<strong>de</strong>u o referen<strong>do</strong>, um grupo<br />

<strong>de</strong> 14 ONGs <strong>de</strong>cidiu reactivar o Fórum,<br />

formalizan<strong>do</strong> os seus princípios e objectivos,<br />

nomean<strong>do</strong> um conselho <strong>de</strong> gestão e<br />

<strong>de</strong>cidin<strong>do</strong> proce<strong>de</strong>r à recolha <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s<br />

com vista à contratação <strong>de</strong> um director<br />

executivo, entre outros funcionários profissionais.<br />

Entretanto, to<strong>do</strong>s estes grupos passaram<br />

a sofrer a oposição cada vez mais violenta<br />

das milícias pró-in<strong>do</strong>nésias—como a<br />

Aitarak, BMP, Ablai, MAHIDI, entre outras—,<br />

que levaram a cabo uma campanha<br />

<strong>de</strong> autêntica intimidação e terror. As próprias<br />

milícias apresentavam-se também<br />

como sen<strong>do</strong> grupos da socieda<strong>de</strong> civil, mas,<br />

na prática, eram agentes <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

in<strong>do</strong>nésio na medida em que actuavam com<br />

a conivência e orientação <strong>do</strong> exército <strong>de</strong>sse<br />

país.<br />

As ONGs numa era <strong>de</strong>mocrática<br />

Quan<strong>do</strong> o povo <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> optou pela<br />

in<strong>de</strong>pendência, as milícias vingaram-se. Para<br />

além <strong>de</strong> terem aterroriza<strong>do</strong> a população em<br />

geral, tomaram como alvo específico as<br />

ONGs—perseguin<strong>do</strong> os seus membros e<br />

funcionários e rouban<strong>do</strong> ou <strong>de</strong>struin<strong>do</strong> os<br />

seus bens. Foi só em finais <strong>de</strong> 1999 que o<br />

Fórum das ONGs se conseguiu restabelecer—mais<br />

uma vez, com o apoio <strong>do</strong><br />

CAAE e da OCHA das Nações Unidas, o<br />

Gabinete para a Coor<strong>de</strong>nação <strong>do</strong>s Assuntos<br />

Humanitários.<br />

Actualmente, as ONGs <strong>de</strong>param-se<br />

com o <strong>de</strong>safio da construção <strong>de</strong> uma nova<br />

nação. Até aqui tiveram não só <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r<br />

à reconstrução física das suas próprias<br />

instalações e participar em acções <strong>de</strong> auxílio<br />

humanitário, como também <strong>de</strong> se relacionar<br />

com uma série <strong>de</strong> administrações<br />

distintas—primeiro a UNTAET e a ETTA<br />

e agora o novo governo. Para além disso,<br />

têm também esta<strong>do</strong> activamente envolvidas<br />

nas várias conferências <strong>de</strong> <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res que<br />

têm si<strong>do</strong> realizadas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1999.<br />

Em Abril <strong>de</strong> <strong>2002</strong> o Fórum das ONGs<br />

contava com 77 grupos nacionais e 33<br />

As ONGs<br />

<strong>de</strong>param-se<br />

agora com os<br />

<strong>de</strong>safios da<br />

construção <strong>de</strong><br />

uma nova nação<br />

43


O processo <strong>de</strong><br />

abertura<br />

<strong>de</strong>mocrática tem<br />

possibilita<strong>do</strong><br />

também o<br />

aparecimento <strong>de</strong><br />

novos órgãos <strong>de</strong><br />

comunicação<br />

social.<br />

44<br />

internacionais, embora estivessem formalmente<br />

regista<strong>do</strong>s mais <strong>de</strong> 400. Este Fórum<br />

tem uma natureza fortemente transversal,<br />

congregan<strong>do</strong> organizações cuja activida<strong>de</strong><br />

inci<strong>de</strong> sobre to<strong>do</strong> o tipo <strong>de</strong> questões, da<br />

educação e exploração florestal à cultura e<br />

aos direitos humanos. Entre as organizações<br />

mais activas contam-se as associações <strong>de</strong><br />

mulheres. Para além da Fokupers e da<br />

ETWAVE, incluem-se nestas a REDE<br />

(Re<strong>de</strong> Feto <strong>Timor</strong> Lorosae), a OMT (Organização<br />

das Mulheres <strong>Timor</strong>enses) e o<br />

GFFTL (Grupo Feto Fon <strong>Timor</strong><br />

Lorosae— “Grupo Feminino <strong>de</strong> Estudantes<br />

<strong>de</strong> <strong>Timor</strong> Lorosae”).<br />

O Fórum das ONGs propriamente dito<br />

conta actualmente com mais <strong>de</strong> 30 funcionários<br />

e <strong>de</strong>senvolve activida<strong>de</strong>s em toda<br />

uma série <strong>de</strong> áreas, que incluem a pressão<br />

junto das autorida<strong>de</strong>s, o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s, a divulgação <strong>de</strong> informação,<br />

a investigação e as tecnologias <strong>de</strong> informação.<br />

O Fórum e os seus associa<strong>do</strong>s<br />

continuam actualmente a receber o apoio<br />

<strong>de</strong> numerosas ONGs internacionais.<br />

Para além <strong>do</strong>s grupos formalmente<br />

regista<strong>do</strong>s junto <strong>do</strong> Fórum das ONGs,<br />

existem também muitas outras organizações<br />

<strong>de</strong> base comunitária, associações <strong>de</strong> mulheres<br />

e associações <strong>de</strong> camponeses. Habitualmente<br />

actuam a nível local, por vezes com<br />

o apoio <strong>de</strong> ONGs <strong>de</strong> maiores dimensões<br />

e <strong>do</strong>tadas <strong>de</strong> mais recursos, outras vezes<br />

com o apoio da administração local e outras<br />

vezes ainda sem apoios <strong>de</strong> qualquer<br />

espécie.<br />

A expansão <strong>do</strong>s meios <strong>de</strong> comunicação social<br />

O processo <strong>de</strong> abertura <strong>de</strong>mocrática que<br />

tem ti<strong>do</strong> lugar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1999 tem possibilita<strong>do</strong><br />

também o aparecimento <strong>de</strong> um conjunto<br />

numeroso <strong>de</strong> novos órgãos <strong>de</strong><br />

comunicação social. A liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão<br />

da imprensa escrita e da restante comunicação<br />

social está, aliás, consagrada na<br />

Constituição. <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> conta actualmente<br />

com <strong>do</strong>is jornais diários—o Suara <strong>Timor</strong><br />

Lorosae e o <strong>Timor</strong> Post—para além <strong>de</strong> várias<br />

revistas semanais ou mensais—como a revista<br />

informativa Talitakum, a Lalenok e a<br />

Liam Maubere.<br />

Embora estas revistas sejam, em princípio,<br />

<strong>de</strong> âmbito “nacional”, a verda<strong>de</strong> é que<br />

raramente estão disponíveis em to<strong>do</strong> o território.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, algumas localida<strong>de</strong>s<br />

—Same, Bobonaro e Oecussi, por exem-<br />

plo—possuem já as suas próprias publicações<br />

<strong>de</strong> base comunitária.<br />

Igualmente importante, num país on<strong>de</strong><br />

meta<strong>de</strong> da população adulta é analfabeta,<br />

tem si<strong>do</strong> a criação <strong>de</strong> novas estações <strong>de</strong><br />

rádio. A administração transitória tem vin<strong>do</strong><br />

a proporcionar a seu próprio serviço<br />

<strong>de</strong> rádio, a Rádio UNTAET, bem como<br />

uma cobertura televisiva limitada através da<br />

TVTL.<br />

Existem, no entanto, bastantes outras:<br />

por exemplo, a Radio <strong>Timor</strong> Kmanek, ligada<br />

à Igreja Católica, que emite para to<strong>do</strong><br />

o país, ou a Radio Falintil e a Radio<br />

Rakambia, que emitem apenas para a zona<br />

<strong>de</strong> Dili. Têm surgi<strong>do</strong> também diversas estações<br />

<strong>de</strong> rádio comunitárias, o que é bastante<br />

anima<strong>do</strong>r. A Radio Comunida<strong>de</strong> Los<br />

Palos, por exemplo, emite para a zona <strong>de</strong><br />

Los Palos e para o distrito <strong>de</strong> Lautem <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

Maio <strong>de</strong> 2000—produzin<strong>do</strong> oito horas<br />

diárias <strong>de</strong> emissão em tetum, in<strong>do</strong>nésio,<br />

fataluku e português, que incluem boletins<br />

informativos, anúncios <strong>de</strong> carácter local,<br />

informações relativas às eleições e espaços<br />

<strong>de</strong> opinião pública.<br />

No outro extremo <strong>do</strong> território, perto<br />

da fronteira com <strong>Timor</strong> Oci<strong>de</strong>ntal, funciona<br />

uma outra estação <strong>de</strong> rádio—a Radio<br />

Comunida<strong>de</strong> Maliana.<br />

Após as eleições <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 2001, a<br />

Rádio UNTAET e a TVTL <strong>de</strong>ram um<br />

importante contributo para a consolidação<br />

<strong>do</strong> processo <strong>de</strong>mocrático através da transmissão<br />

em directo, durante várias horas por<br />

dia, <strong>do</strong>s trabalhos da Assembleia Constituinte,<br />

incluin<strong>do</strong> reportagens e entrevistas em<br />

tetum, português, inglês e in<strong>do</strong>nésio. Em<br />

Outubro <strong>do</strong> mesmo ano, um programa<br />

especial <strong>de</strong> rádio <strong>de</strong>dica<strong>do</strong> à questão <strong>do</strong>s<br />

refugia<strong>do</strong>s, produzi<strong>do</strong> pela Fundação<br />

Hiron<strong>de</strong>lle (Suiça) começou a ser emiti<strong>do</strong><br />

diariamente em in<strong>do</strong>nésio através da Rádio<br />

UNTAET, com o objectivo <strong>de</strong> proporcionar<br />

aos refugia<strong>do</strong>s em <strong>Timor</strong> Oci<strong>de</strong>ntal informações<br />

fi<strong>de</strong>dignas acerca das condições<br />

em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>.<br />

To<strong>do</strong>s estes orgãos <strong>de</strong> comunicação<br />

social <strong>de</strong>sempenharão um importante papel<br />

no estímulo e <strong>de</strong>fesa da <strong>de</strong>mocracia<br />

timorense nesta sua fase embrionária—<br />

colmatan<strong>do</strong> um vazio <strong>de</strong> informação que,<br />

<strong>de</strong> outro mo<strong>do</strong>, po<strong>de</strong>ria ser preenchi<strong>do</strong> por<br />

boatos e campanhas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sinformação que<br />

suscitariam inevitavelmente o <strong>de</strong>scontentamento<br />

da população.<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


Construin<strong>do</strong> novas relações<br />

Nesta era <strong>de</strong>mocrática todas as organizações<br />

da socieda<strong>de</strong> civil terão <strong>de</strong> se adaptar<br />

às novas circunstâncias e <strong>de</strong> estabelecer novas<br />

relações e parcerias—entre si, com o<br />

Esta<strong>do</strong> e com as organizações internacionais.<br />

A socieda<strong>de</strong> civil e o Esta<strong>do</strong><br />

As organizações da socieda<strong>de</strong> civil são obrigadas<br />

a interagir não só com a classe política—isto<br />

é, o presi<strong>de</strong>nte, os ministros e os<br />

<strong>de</strong>puta<strong>do</strong>s—, mas também com o sector<br />

público administrativo em geral e a Administração<br />

Pública em particular. Os grupos<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong>s direitos humanos, em especial,<br />

necessitam <strong>de</strong> conhecer e <strong>do</strong>minar profundamente<br />

os mecanismos e processos <strong>do</strong><br />

po<strong>de</strong>r judicial.<br />

Isso po<strong>de</strong>rá ser uma tarefa complexa.<br />

Algumas das questões serão <strong>de</strong> natureza<br />

pessoal, já que muitos <strong>do</strong>s representantes<br />

da socieda<strong>de</strong> civil terão agora <strong>de</strong> tratar <strong>de</strong><br />

uma série <strong>de</strong> assuntos junto <strong>de</strong> antigos colegas<br />

ou companheiros, na sua nova qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> governantes ou funcionários públicos.<br />

Outros terão <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhar papéis<br />

diferentes e por vezes sobrepostos no<br />

seio das associações comunitárias e <strong>do</strong>s<br />

orgãos políticos a que pertencem. Finalmente,<br />

numerosos membros <strong>de</strong> ONGs e <strong>de</strong><br />

associações comunitárias militam em parti<strong>do</strong>s<br />

políticos, pelo que as fronteiras entre<br />

as duas esferas ten<strong>de</strong>m a tornar-se ténues.<br />

Para muitas organizações comunitárias<br />

as relações com o po<strong>de</strong>r local revestem-se<br />

<strong>de</strong> uma importância ainda maior. As instituições<br />

da administração local terão ainda<br />

<strong>de</strong> alcançar a sua forma final, mas mesmo<br />

esta incerteza po<strong>de</strong>rá constituir uma fonte<br />

<strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s. As ONGs e as organizações<br />

comunitárias <strong>de</strong>verão procurar <strong>de</strong>sempenhar<br />

um papel activo na concepção<br />

das instituições <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r local e ter uma<br />

palavra a dizer no que toca às suas funções,<br />

ao seu mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> funcionamento e à melhor<br />

forma <strong>de</strong> estas trabalharem em parceria<br />

com a socieda<strong>de</strong> civil.<br />

Durante este perío<strong>do</strong> intermédio, é difícil<br />

prever o rumo que irá assumir o relacionamento<br />

entre a socieda<strong>de</strong> civil e o Esta<strong>do</strong>.<br />

No plano da retórica, pelo menos, parece<br />

existir um forte interesse na cooperação<br />

e no estabelecimento <strong>de</strong> parcerias. No<br />

entanto, a concretização prática <strong>de</strong>sse<br />

objectivo exigirá certas mudanças <strong>de</strong> ênfa-<br />

NOVOS PAPÉIS PARA A SOCIEDADE CIVIL<br />

se e <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> parte a parte. No caso<br />

<strong>do</strong>s grupos da socieda<strong>de</strong> civil, será necessária<br />

uma mudança <strong>de</strong> perspectiva—das<br />

tácticas e práticas da oposição para um espírito<br />

<strong>de</strong> parceria construtiva. Também o<br />

governo terá <strong>de</strong> fazer a sua parte em prol<br />

<strong>de</strong>ste relacionamento potencialmente complexo.<br />

Especificamente, <strong>de</strong>verá reconhecer<br />

o importante papel <strong>de</strong>sempenha<strong>do</strong> pela socieda<strong>de</strong><br />

civil durante a luta pela in<strong>de</strong>pendência<br />

e encontrar formas <strong>de</strong> estimular e<br />

canalizar o seu empenho e <strong>de</strong>dicação para<br />

a construção da nova nação.<br />

Na maioria <strong>do</strong>s países o Esta<strong>do</strong> exige<br />

que as ONGs estejam formalmente<br />

registadas e que a sua activida<strong>de</strong> seja regida<br />

por um quadro legal específico. Antecipan<strong>do</strong><br />

isso mesmo, o Forum das ONGs realizou<br />

em Setembro <strong>de</strong> 2001 um seminário<br />

sobre essa questão. Embora não se opusesse<br />

necessariamente à criação <strong>de</strong> legislação<br />

nesta matéria, o Fórum consi<strong>de</strong>rou que<br />

quaisquer eventuais projectos e propostas<br />

<strong>de</strong> lei <strong>de</strong>veriam resultar <strong>de</strong> um <strong>de</strong>bate mais<br />

amplo acerca das relações entre as ONGs<br />

e o Esta<strong>do</strong>.<br />

Sem uma socieda<strong>de</strong> civil forte e dinâmica,<br />

o povo <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> não po<strong>de</strong>rá<br />

alcançar um verda<strong>de</strong>iro <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano, na acepção mais plena <strong>do</strong> termo.<br />

A própria Constituição o reconhece, ao<br />

consagrar os direitos à liberda<strong>de</strong> e integrida<strong>de</strong><br />

individuais, à liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão<br />

e manifestação, à associação sindical e à<br />

<strong>de</strong>fesa <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r. Contu<strong>do</strong>, <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> necessitará também <strong>de</strong> ter instituições<br />

através das quais possam exercer esses direitos,<br />

pelo que o Governo <strong>de</strong>verá fazer<br />

tu<strong>do</strong> o que está ao seu alcance para estimular<br />

a criação e o funcionamento <strong>de</strong>ssas instituições—as<br />

quais, em última instância, são<br />

<strong>de</strong>terminantes para a soli<strong>de</strong>z da <strong>de</strong>mocracia.<br />

As relações entre as próprias organizações da<br />

socieda<strong>de</strong> civil<br />

Para além <strong>de</strong> <strong>de</strong>verem procurar estabelecer<br />

parcerias produtivas com o Esta<strong>do</strong>, as<br />

organizações da socieda<strong>de</strong> civil <strong>de</strong>verão<br />

também procurar trabalhar em colaboração<br />

umas com as outras—o que não será<br />

fácil. Afasta<strong>do</strong> o inimigo comum, é inevitável<br />

que venham ao <strong>de</strong> cima as diferenças<br />

individuais. Algumas <strong>de</strong>stas diferenças <strong>de</strong>correm<br />

simplesmente <strong>do</strong> âmbito <strong>de</strong> actuação—certas<br />

ONGs actuam, por exemplo,<br />

Muitos <strong>do</strong>s<br />

actuais membros<br />

<strong>do</strong> governo<br />

pertenceram<br />

anteriormente a<br />

grupos da<br />

socieda<strong>de</strong> civil<br />

45


Muitos <strong>do</strong>s<br />

obstáculos<br />

po<strong>de</strong>rão ser<br />

evita<strong>do</strong>s através<br />

da criação <strong>de</strong><br />

canais <strong>de</strong><br />

comunicação<br />

abertos e<br />

eficazes<br />

46<br />

na área da saú<strong>de</strong>, enquanto outras se preocupam<br />

essencialmente com a educação ou<br />

com as questões ligadas ao género. Outras<br />

ainda <strong>de</strong>dicam-se a um vasto conjunto <strong>de</strong><br />

questões mas apenas numa área geográfica<br />

específica. E enquanto algumas se <strong>de</strong>dicam<br />

exclusivamente à prestação <strong>de</strong> serviços,<br />

outras procuram aliar esse objectivo à educação<br />

e mobilização das populações. É provável<br />

que se façam também sentir as diferenças<br />

em termos <strong>de</strong> escala—entre grupos<br />

que reunem pouco mais <strong>de</strong> uma ou duas<br />

pessoas e associações que têm <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong><br />

funcionários profissionais lidan<strong>do</strong> com milhões<br />

<strong>de</strong> dólares. Esta diversida<strong>de</strong> é, em<br />

geral, um factor positivo mas po<strong>de</strong> também<br />

tornar-se uma causa <strong>de</strong> concorrência<br />

e rivalida<strong>de</strong>. <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> conta com a felicida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> ter já um Fórum das ONGs activo<br />

e dinâmico, mas o trabalho <strong>de</strong>ste<br />

Fórum ten<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>certo a tornar-se mais<br />

difícil ao longo <strong>do</strong>s próximos anos.<br />

Muitos <strong>do</strong>s possíveis obstáculos e armadilhas<br />

po<strong>de</strong>rão ser evita<strong>do</strong>s através da<br />

criação <strong>de</strong> canais <strong>de</strong> comunicação abertos<br />

e eficazes entre as várias organizações e no<br />

interior <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>las. No entanto, as<br />

organizações da socieda<strong>de</strong> civil necessitarão<br />

também <strong>de</strong> estabelecer uma comunicação<br />

franca e aberta com as comunida<strong>de</strong>s que<br />

preten<strong>de</strong>m auxiliar. Trata-se <strong>de</strong> uma tarefa<br />

difícil para as organizações sediadas em Dili,<br />

<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à escassez <strong>de</strong> infra-estruturas e <strong>de</strong><br />

meios <strong>de</strong> comunicação mas será algo <strong>de</strong><br />

essencial para a sua legitimida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>mocrática.<br />

Garantir organizações plenamente representativas<br />

é uma tarefa longa e complexa.<br />

Alguns países têm ONGs que funcionam<br />

<strong>de</strong> forma autocrática e que são pouco mais<br />

<strong>do</strong> que um veículo para as opiniões e ambições<br />

<strong>do</strong>s seus lí<strong>de</strong>res. Por isso, é necessário<br />

que as organizações da socieda<strong>de</strong> civil<br />

a<strong>do</strong>ptem <strong>de</strong>liberadamente estruturas e uma<br />

disciplina <strong>de</strong> funcionamento que as mantenham<br />

verda<strong>de</strong>iramente <strong>de</strong>mocráticas e representativas.<br />

Embora cada organização <strong>de</strong>va encontrar<br />

as suas próprias soluções, é possível<br />

retirar algumas lições das experiências passadas<br />

<strong>de</strong> outros países—da região e não só.<br />

As organizações da socieda<strong>de</strong> civil <strong>de</strong> <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> terão, em geral, muito a ganhar em<br />

procurar estabelecer relações <strong>de</strong> cooperação<br />

com tais grupos. Muitas já o fizeram e<br />

participaram em intercâmbios e visitas <strong>de</strong><br />

estu<strong>do</strong> que as ajudaram a <strong>de</strong>senvolver as<br />

suas capacida<strong>de</strong>s.<br />

Estas experiências têm si<strong>do</strong><br />

complementadas por visitas <strong>de</strong> especialistas<br />

na formação <strong>de</strong> grupos da socieda<strong>de</strong> civil<br />

provenientes <strong>de</strong> países como a Austrália, a<br />

In<strong>do</strong>nésia ou as Filipinas.<br />

Os grupos da socieda<strong>de</strong> civil em <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> po<strong>de</strong>m trabalhar com as organizações<br />

nacionais suas contrapartes noutros países<br />

em <strong>de</strong>senvolvimento. Note-se, porém, que<br />

as ONGs timorenses, em particular, têm já<br />

uma longa experiência <strong>de</strong> trabalho conjunto<br />

com ONGs internacionais. Muitas <strong>de</strong>stas<br />

têm uma longa tradição <strong>de</strong><br />

envolvimento com <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>, garantin<strong>do</strong><br />

quer solidarieda<strong>de</strong> quer apoio financeiro<br />

durante a luta pela in<strong>de</strong>pendência. Um<br />

certo número <strong>de</strong>las têm actualmente a sua<br />

representação em <strong>Timor</strong> e têm-nas utiliza<strong>do</strong><br />

para <strong>de</strong>senvolver uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s<br />

em parceria com as ONGs<br />

nacionais e com organizações comunitárias<br />

<strong>de</strong> base.<br />

As organizações internacionais<br />

No passa<strong>do</strong>, a maioria <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s à disposição<br />

das ONGs <strong>do</strong>s países em <strong>de</strong>senvolvimento<br />

provinham <strong>de</strong> ONGs internacionais.<br />

Hoje em dia, porém, a realida<strong>de</strong> é<br />

algo mais complexa. Muitos <strong>do</strong>s <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res<br />

bilaterais ou multilaterais preferem canalizar,<br />

directa ou indirectamente, pelo menos<br />

uma parte <strong>do</strong>s seus fun<strong>do</strong>s para as ONGs<br />

e OCBs—acreditan<strong>do</strong> que, nalguns casos,<br />

estas conseguem prestar serviços às populações<br />

<strong>de</strong> forma mais eficiente e eficaz <strong>do</strong><br />

que as agências estatais.<br />

Muitos <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res já estão a apoiar as<br />

organizações da socieda<strong>de</strong> civil em <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> e continuarão a fazê-lo. Isso significa<br />

que, particularmente as ONGs, se vêm<br />

obrigadas a relacionar-se com numerosas<br />

agências e potenciais <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res cujos objectivos,<br />

mecanismos <strong>de</strong> financiamento e<br />

sistemas <strong>de</strong> avaliação po<strong>de</strong>m ser bastante<br />

confusos e exigentes. Actualmente, porém,<br />

poucas são as organizações locais que conhecem<br />

a fun<strong>do</strong> o conjunto das agências<br />

internacionais que actuam no seu campo e<br />

têm ti<strong>do</strong> alguma dificulda<strong>de</strong> em distinguir<br />

entre os diferentes mandatos e activida<strong>de</strong>s<br />

das ONGs internacionais, agências<br />

especializadas da ONU, <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res bilaterais<br />

e instituições financeiras internacionais. No<br />

entanto, se preten<strong>de</strong>m que a sua actuação<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


seja mais eficaz, é necessário que estas organizações<br />

se familiarizem com todas estas<br />

complexida<strong>de</strong>s.<br />

Esse tipo <strong>de</strong> conhecimento é também<br />

vital se as ONGs locais preten<strong>de</strong>rem ser<br />

parceiros informa<strong>do</strong>s e eficazes das organizações<br />

internacionais. Certo número <strong>de</strong><br />

agências, entre as quais se contam as das<br />

Nações Unidas e as instituições financeiras<br />

internacionais—como o Banco Mundial, o<br />

Banco Asiático <strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong> e o<br />

Fun<strong>do</strong> Monetário Internacional—po<strong>de</strong>rão<br />

exercer uma influência política significativa<br />

em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>, tanto através <strong>do</strong><br />

aconselhamento e emissão <strong>de</strong> pareceres<br />

como através <strong>do</strong>s projectos por si<br />

financia<strong>do</strong>s.<br />

Compreensivelmente, muitas ONGs<br />

estão bastante preocupadas com essa influência<br />

bem como com o <strong>de</strong>sempenho passa<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>stas agências noutros países, nomeadamente<br />

nos países altamente endivida<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong> África e da América Latina, on<strong>de</strong>, frequentemente,<br />

algumas <strong>de</strong>ram muitas vezes<br />

maior priorida<strong>de</strong> ao ajustamento económico<br />

<strong>do</strong> que ao <strong>de</strong>senvolvimento humano.<br />

Para que as ONGs <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> possam<br />

efectuar uma crítica eficaz a esse tipo<br />

<strong>de</strong> práticas terão <strong>de</strong> adquirir, a nível local<br />

ou internacional, conhecimentos técnicos<br />

que lhes permitam expôr eficazmente os<br />

seus pontos <strong>de</strong> vista.<br />

As organizações da socieda<strong>de</strong> civil encontram-se,<br />

assim, numa posição complexa:<br />

uma multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> relações para<br />

gerir; uma série <strong>de</strong> culturas e valores nacionais<br />

e organizacionais distintos para conhecer;<br />

diferentes priorida<strong>de</strong>s para ser analisadas;<br />

personalida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s indivíduos com que<br />

se relacionam para serem compreendidas e<br />

relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r existentes para gerir e,<br />

por vezes, serem postas em causa.<br />

Papéis múltiplos<br />

Para além <strong>de</strong> terem <strong>de</strong> se relacionar com<br />

numerosas instituições nacionais e internacionais,<br />

as organizações da socieda<strong>de</strong> civil<br />

timorense ver-se-ão também actuan<strong>do</strong> em<br />

diferentes frentes <strong>de</strong> actuação: como lí<strong>de</strong>res<br />

<strong>de</strong> opinião e representantes da população,<br />

como supervisoras da actuação tanto<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> como <strong>do</strong> sector priva<strong>do</strong> e<br />

como presta<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> serviços. Algumas<br />

<strong>de</strong>stas organizações estão especializadas<br />

numa ou noutra <strong>de</strong>stas funções, mas a maioria<br />

acaba por ter <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhar vários<br />

NOVOS PAPÉIS PARA A SOCIEDADE CIVIL<br />

<strong>de</strong>stes papéis—os quais entram por vezes<br />

em conflito uns com os outros.<br />

Arquitectos <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

Muitas ONGs e OCBs consi<strong>de</strong>ram que o<br />

seu papel fundamental consiste em estabelecer<br />

parcerias construtivas com o Esta<strong>do</strong><br />

com vista à construção da nação e ao<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> país mas não querem<br />

fazê-lo como meros instrumentos ao serviço<br />

<strong>de</strong> opções <strong>de</strong>finidas por outros. Pelo<br />

contrário, preten<strong>de</strong>m participar no <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>do</strong>s planos <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s e na<br />

concepção das políticas <strong>de</strong> forma a assegurarem<br />

que estas combatem a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>,<br />

promovem os direitos humanos e protegem<br />

o ambiente.<br />

Fazê-lo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>, no entanto da sua capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> inovar e <strong>de</strong> apresentar pontos<br />

<strong>de</strong> vista alternativos. Alguns governos resistem<br />

a este tipo <strong>de</strong> participação mas <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> parece estar no bom caminho—nomeadamente<br />

após a participação <strong>do</strong> Fórum<br />

das ONG na Comissão Nacional <strong>de</strong> Planeamento<br />

(Caixa 3.1).<br />

Representação e pressão junto <strong>de</strong> terceiros<br />

Muitos grupos consi<strong>de</strong>ram que a sua tarefa<br />

fundamental consiste em influenciar as políticas<br />

e práticas <strong>de</strong> outras entida<strong>de</strong>s, quer<br />

governamentais quer privadas ou das<br />

organizações internacionais. As formas que<br />

essa acção <strong>de</strong> representação e pressão<br />

(‘advocacy’) que elas po<strong>de</strong>m levar a cabo<br />

variarão, no entanto, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com os<br />

objectivos e capacida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s grupos envolvi<strong>do</strong>s.<br />

Alguns limitam-se a expôr as suas preocupações<br />

aos políticos ou funcionários em<br />

Caixa 3.1<br />

A socieda<strong>de</strong> civil na Comissão Nacional <strong>de</strong> Planeamento<br />

Em 2001, a Administração Transitória<br />

<strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> criou a Comissão<br />

Nacional <strong>de</strong> Planeamento. Isto ofereceu<br />

uma oportunida<strong>de</strong> para o governo<br />

e a socieda<strong>de</strong> civil trabalharem<br />

em conjunto com vista ao <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> um plano nacional. A participação<br />

da socieda<strong>de</strong> civil teve lugar<br />

através da Comisão Consultiva<br />

da Socieda<strong>de</strong> Civil, que foi presidida<br />

por Xanana Gusmão e incluiu representantes<br />

da Igreja, <strong>do</strong> Fórum das<br />

ONGs e das associações juvenis e<br />

femininas. A tarefa principal da Comissão<br />

Consultiva era a <strong>de</strong> maximizar<br />

a participação <strong>do</strong> povo <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

no processo <strong>de</strong> planeamento e uma<br />

das formas <strong>de</strong> o fazer consistiu em<br />

garantir o envolvimento <strong>do</strong>s elementos<br />

institucionais, tanto tradicionais<br />

como mo<strong>de</strong>rnos, da socieda<strong>de</strong> civil,<br />

para assim tirar parti<strong>do</strong> das re<strong>de</strong>s e<br />

estruturas existentes.<br />

No entanto, algumas ONGs consi<strong>de</strong>ram<br />

que o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> tempo<br />

durante o qual <strong>de</strong>correram estas consultas—seis<br />

meses—foi <strong>de</strong>masia<strong>do</strong><br />

curto, ten<strong>do</strong> em conta que meta<strong>de</strong><br />

da população é analfabeta e é difícil<br />

comunicar com as áreas remotas.<br />

47


48<br />

Caixa 3.2<br />

Em 2001, muitas foram as pessoas<br />

que exprimiram a sua preocupação<br />

em relação à questão da produção<br />

<strong>de</strong> café, que afecta directamente um<br />

gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> pequenos produtores.<br />

Isto levou à realização <strong>de</strong> uma<br />

manifestação <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 2.000 camponeses<br />

no distrito <strong>de</strong> Ermera.<br />

Os camponeses pretendiam pressionar<br />

a administração e os lí<strong>de</strong>res<br />

locais e ter uma palavra a dizer no<br />

processo <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão rela-<br />

causa sem necessariamente sugerirem soluções.<br />

Outras, porém—como é o caso da<br />

Yayasan Hak—, investirão uma parte consi<strong>de</strong>rável<br />

<strong>de</strong> tempo e conhecimento na concepção<br />

<strong>de</strong> soluções <strong>de</strong> políticas consistentes<br />

e procurarão assegurar a aceitação das<br />

suas posições através <strong>de</strong> vários canais <strong>de</strong><br />

pressão. Outras organizações têm procura<strong>do</strong><br />

aumentar as suas capacida<strong>de</strong>s trabalhan<strong>do</strong><br />

em conjunto com as universida<strong>de</strong>s.<br />

Ten<strong>do</strong> em conta as diferentes capacida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>stes grupos bem como os objectivos<br />

comuns que os movem, faz to<strong>do</strong> o senti<strong>do</strong><br />

que procurem pôr em conjunto os seus<br />

recursos e actuar conjuntamente. Isso já tem<br />

si<strong>do</strong> feito através, por exemplo, <strong>do</strong>s diversos<br />

grupos <strong>de</strong> trabalho <strong>do</strong> Fórum das<br />

ONGs que se <strong>de</strong>bruçam sobre questões tão<br />

diversas como a Constituição, as relações<br />

entre as ONGs e o Esta<strong>do</strong>, a educação cívica<br />

ou uma série <strong>de</strong> questões sectoriais tais<br />

como a saú<strong>de</strong> e o ambiente.<br />

Embora gran<strong>de</strong> parte da activida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

pressão e representação seja exercida através<br />

<strong>de</strong> contactos individuais ou da acção<br />

<strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> pressão mais sofistica<strong>do</strong>s,<br />

po<strong>de</strong> também ter lugar através <strong>de</strong> acções<br />

<strong>de</strong> protesto e <strong>de</strong> manifestações. A constituição<br />

<strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> consagra o direito<br />

<strong>de</strong> reunião sem aviso prévio e reconhece o<br />

direito <strong>de</strong> manifestação.<br />

Monitorização<br />

A boa qualida<strong>de</strong> da acção governativa assenta,<br />

em toda a parte, na separação e equilíbrio<br />

<strong>de</strong> po<strong>de</strong>res. Embora esta i<strong>de</strong>ia seja<br />

tradicionalmente associada à separação <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>res entre o executivo, o legislativo e o<br />

judicial, reconhece-se hoje em dia a importância<br />

<strong>de</strong> complementar essa separação <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>res através da acção <strong>de</strong> controlo e<br />

A acção <strong>do</strong>s grupos <strong>de</strong> pressão<br />

tivos à produção, fixação <strong>do</strong>s preços<br />

e comercialização <strong>do</strong> café. Esta<br />

manifestação teve como<br />

consequência a formação <strong>de</strong> alianças<br />

entre os camponeses locais e algumas<br />

ONGs <strong>de</strong> âmbito local e nacional,<br />

como o KSI (Instituto Kadalak<br />

Sulimutuk), o Instituto <strong>de</strong> Libertação<br />

Sahe, o Conselho Estudantil para a<br />

Solidarieda<strong>de</strong> e o Centro <strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong><br />

da Economia Popular<br />

(CDEP).<br />

supervisão pela socieda<strong>de</strong> civil. Num <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, as organizações da socieda<strong>de</strong><br />

civil <strong>de</strong>verão, por isso, <strong>de</strong>sempenhar<br />

um papel importante no controlo da<br />

qualida<strong>de</strong> da actuação <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>, <strong>do</strong> sector<br />

priva<strong>do</strong> e das organizações internacionais.<br />

No entanto, só o po<strong>de</strong>rão fazer se a sua<br />

própria activida<strong>de</strong> for pautada pela qualida<strong>de</strong>—mediante<br />

uma actuação transparente,<br />

<strong>de</strong>mocrática e financeiramente responsável.<br />

Para as ajudar a fazê-lo o Fórum das<br />

ONGs está actualmente a consi<strong>de</strong>rar a elaboração<br />

<strong>de</strong> um código <strong>de</strong> conduta que<br />

permita orientar e auxiliar as várias ONGs<br />

nesse senti<strong>do</strong>.<br />

Prestação <strong>de</strong> serviços<br />

Para muitas ONGs a sua principal função<br />

consiste na prestação <strong>de</strong> serviços à população—nas<br />

áreas da saú<strong>de</strong>, habitação ou educação,<br />

por exemplo. Em certa medida, procuram<br />

colmatar as falhas resultantes das fragilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>do</strong>s serviços públicos. Bia Hula e<br />

Probem são <strong>do</strong>is exemplos <strong>de</strong> ONGs que<br />

trabalham em parceria com as comunida<strong>de</strong>s<br />

locais com vista ao <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água e <strong>de</strong><br />

saneamento básico. Mas a acção das ONGs<br />

e das OCBs po<strong>de</strong> também complementar<br />

a acção <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. Assim, enquanto o governo<br />

toma a responsabilida<strong>de</strong> pela educação<br />

formal das crianças, muitas ONGs<br />

po<strong>de</strong>rão <strong>de</strong>dicar-se ao ensino informal e,<br />

nomeadamente, às campanhas <strong>de</strong> alfabetização<br />

<strong>de</strong> adultos.<br />

Informação<br />

Ten<strong>do</strong> em conta as débeis infra-estruturas<br />

<strong>de</strong> comunicações <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>, as organizações<br />

da socieda<strong>de</strong> civil assumem uma<br />

importância fundamental na produção e<br />

divulgação da informação relativa a toda<br />

uma série <strong>de</strong> questões, incluin<strong>do</strong> o processo<br />

eleitoral, as formas <strong>de</strong> lidar com as calamida<strong>de</strong>s<br />

naturais, o papel das mulheres e<br />

os direitos humanos.<br />

Estas activida<strong>de</strong>s tornar-se-ão ainda<br />

mais importantes após o encerramento das<br />

estações <strong>de</strong> rádio e televisão apoiadas pela<br />

UNTAET. Uma vez que mais <strong>de</strong> meta<strong>de</strong><br />

da população é analfabeta, a rádio constitui<br />

um <strong>do</strong>s mais importantes meios <strong>de</strong> comunicação<br />

social. Nesse senti<strong>do</strong>, a criação <strong>de</strong><br />

estações <strong>de</strong> rádio comunitárias não <strong>de</strong>ixa<br />

<strong>de</strong> ser um sinal anima<strong>do</strong>r. Estas estações<br />

necessitarão <strong>de</strong> apoios financeiros adicio-<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


nais, embora <strong>de</strong>va sempre ficar bem claro<br />

que a sua missão consiste em satisfazer as<br />

necessida<strong>de</strong>s da comunida<strong>de</strong> e não em difundir<br />

as opiniões ou interesses <strong>do</strong>s<br />

financia<strong>do</strong>res.<br />

Para além <strong>de</strong> contribuírem para difundir<br />

a informação, as organizações da socieda<strong>de</strong><br />

civil <strong>de</strong>verão também estimular o <strong>de</strong>bate<br />

e a discussão pública acerca das futuras<br />

opções <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> e <strong>do</strong> seu lugar<br />

no mun<strong>do</strong>. Quan<strong>do</strong> as comunida<strong>de</strong>s tiverem<br />

a informação necessária e <strong>de</strong>senvolveram<br />

uma maior capacida<strong>de</strong> para analisar as<br />

circunstâncias em que se encontram, estarão<br />

em muito melhor posição para <strong>de</strong>terminar<br />

o rumo <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano<br />

<strong>do</strong> seu país.<br />

Nesta e noutras matérias, as organizações<br />

da socieda<strong>de</strong> civil ocupam uma posição<br />

intermédia entre o Esta<strong>do</strong> e as comunida<strong>de</strong>s<br />

locais. Por um la<strong>do</strong>, <strong>de</strong>vem pressionar<br />

o governo no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> que sejam tomadas<br />

medidas em relação às questões que<br />

mais as preocupam mas, ao mesmo tempo,<br />

<strong>de</strong>vem procurar estimular o<br />

envolvimento <strong>do</strong> povo <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

nessas mesmas questões e maximizar a participação<br />

da população no funcionamento<br />

da <strong>de</strong>mocracia.<br />

NOVOS PAPÉIS PARA A SOCIEDADE CIVIL<br />

No coração da <strong>de</strong>mocracia<br />

Todas as organização da socieda<strong>de</strong> civil<br />

precisarão <strong>de</strong> reavaliar os seus papéis e responsabilida<strong>de</strong>s<br />

nesta era <strong>de</strong>mocrática. Para<br />

tal, <strong>de</strong>verão ser mais informadas e mais profissionais.<br />

Verifica-se já uma tendência<br />

crescente no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> os funcionários das<br />

ONGs <strong>de</strong>sempenharem funções remuneradas—em<br />

part-time ou a tempo inteiro—<br />

, em vez <strong>de</strong> servirem como voluntários. No<br />

entanto, quer sejam dirigidas por pessoal<br />

remunera<strong>do</strong> quer por voluntários, as<br />

ONGs <strong>de</strong>verão sempre procurar confiar<br />

no seu próprio potencial moral e intelectual<br />

e não tornarem-se verda<strong>de</strong>iras organizações<br />

empresariais ou quase-parti<strong>do</strong>s políticos.<br />

Muitas das organizações que participaram<br />

no passa<strong>do</strong> nas acções <strong>de</strong> resistência tinham<br />

uma filosofia <strong>de</strong> actuação bem <strong>de</strong>finida e<br />

um objectivo central e uma visão: a libertação<br />

<strong>do</strong> seu país.<br />

Agora, no novo <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte,<br />

elas po<strong>de</strong>rão ter <strong>de</strong> olhar novamente<br />

para as visões e as filosofias <strong>de</strong> que retiraram<br />

a sua força <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a assegurarem<br />

que a sua actuação continua a ser regida por<br />

princípios éticos eleva<strong>do</strong>s e que têm, <strong>de</strong><br />

facto, algo <strong>de</strong> único a oferecer.<br />

49


50<br />

CAPÍTULO 4<br />

O horizonte da educação<br />

A educação é uma das componentes mais fundamentais<br />

<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano. A não ser que as pessoas tenham<br />

pelo menos um mínimo <strong>de</strong> educação básica, muitas<br />

das outras escolhas permanecem inacessíveis para elas.<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> tem muito caminho à sua frente: não apenas<br />

lidar com o analfabetismo mas também fazer frente à<br />

multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> línguas faladas no país.<br />

Os padrões educacionais <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

encontram-se entre os mais baixos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />

A taxa <strong>de</strong> alfabetização é <strong>de</strong> apenas 43%<br />

e existe um fosso notório entre as áreas urbanas,<br />

on<strong>de</strong> essa taxa é <strong>de</strong> 82%, e as áreas<br />

rurais, on<strong>de</strong> é <strong>de</strong> 37% (Gráfico 4.1). O analfabetismo<br />

impe<strong>de</strong> a população <strong>de</strong> <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> <strong>de</strong> expandir as suas capacida<strong>de</strong>s humanas<br />

tais como, por exemplo, alcançar<br />

melhores níveis <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ou participar <strong>de</strong><br />

forma plena na vida política e social. Porém,<br />

ele impe<strong>de</strong> também o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

global da nação, pois a literacia e a<br />

numeracia básicas são a chave para o aumento<br />

da produtivida<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalho, tanto<br />

nas empresas nacionais como nas<br />

internacionais.<br />

Não há dúvida que <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> sai a<br />

per<strong>de</strong>r quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong> com outros<br />

países da região. Na vizinha In<strong>do</strong>nésia, a taxa<br />

<strong>de</strong> alfabetização era, em 1999, <strong>de</strong> 88% e<br />

mesmo na província <strong>de</strong> Nusa Tenggara<br />

Oriental, na fronteira com <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>, essa<br />

taxa era <strong>de</strong> 81%. <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> está também<br />

bastante atrás <strong>de</strong> muitos outros países da<br />

Ásia e da região <strong>do</strong> Pacífico, como a Malásia<br />

(87%), as Filipinas (95%) ou a Papua Nova<br />

Guiné (64%).<br />

A maior parte da velha geração jamais<br />

saberá ler: actualmente, mais <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> <strong>do</strong>s<br />

chefes <strong>de</strong> família não possuem qualquer grau<br />

<strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>. No entanto, a situação <strong>de</strong>verá<br />

ser melhor na próxima geração, pois a<br />

proporção <strong>de</strong> crianças que pelo menos inicia<br />

o ensino primário tem vin<strong>do</strong> a aumentar.<br />

Em 2001, a taxa líquida <strong>de</strong> matrícula era <strong>de</strong><br />

76%. Embora este valor fosse inferior ao<br />

padrão mundial, não <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> constituir<br />

um progresso.<br />

O actual sistema <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> é uma herança <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> admi-<br />

nistração colonial, embora <strong>de</strong> duas potências<br />

coloniais distintas, cujas priorida<strong>de</strong>s<br />

eram substancialmente diferentes. Durante<br />

a maior parte <strong>do</strong> seu perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> administração,<br />

os portugueses revelaram pouco interesse<br />

na educação <strong>de</strong> massas. Apenas uma<br />

pequena proporção da população frequentava<br />

os estabelecimentos <strong>de</strong> ensino que, na<br />

sua maioria, pertenciam à Igreja Católica.<br />

Aquan<strong>do</strong> da partida <strong>do</strong>s portugueses, em<br />

1975, a taxa <strong>de</strong> alfabetização rondava<br />

apenas os 5%.<br />

Ainda assim, o número relativamente<br />

reduzi<strong>do</strong> <strong>de</strong> pessoas cujo percurso escolar<br />

<strong>de</strong>correu durante este perío<strong>do</strong> <strong>de</strong>sempenha<br />

hoje em dia um papel importante na construção<br />

da nova nação. Entre estas, incluemse<br />

pessoas que prosseguiram os seus estu<strong>do</strong>s<br />

em Portugal, algumas das quais foram<br />

fundamentais para a criação <strong>do</strong> Conselho<br />

Nacional da Resistência <strong>Timor</strong>ense (CNRT),<br />

Gráfico 4.1<br />

Literacia <strong>de</strong> adultos, 2001<br />

Taxa <strong>de</strong> literacia <strong>de</strong> adultos<br />

100%<br />

90%<br />

80%<br />

70%<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

0%<br />

Urbana Rural Homens Mulheres Total<br />

Fonte: Inquérito às famílias (2001)<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


cujo Departamento Educativo aju<strong>do</strong>u, durante<br />

o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> transição, a <strong>de</strong>linear o<br />

sistema <strong>de</strong> ensino <strong>do</strong> país.<br />

Um outro importante grupo cuja formação<br />

<strong>de</strong>correu durante o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> administração<br />

portuguesa é o <strong>do</strong>s professores<br />

primários. Concluíram quatro anos da<br />

instrução primária e receberam alguns meses<br />

<strong>de</strong> formação pedagógica, que os qualificavam<br />

para ministrar os <strong>do</strong>is primeiros<br />

anos <strong>do</strong> ensino primário. Alguns <strong>de</strong>stes professores<br />

receberam alguma formação adicional<br />

durante o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> administração<br />

in<strong>do</strong>nésia e muitos dão hoje em dia aulas<br />

<strong>de</strong> Português.<br />

A abordagem da administração<br />

in<strong>do</strong>nésia em matéria <strong>de</strong> educação foi substancialmente<br />

diferente. O Esta<strong>do</strong><br />

in<strong>do</strong>nésio estava empenha<strong>do</strong> em atingir a<br />

universalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> ensino primário e, no caso<br />

<strong>de</strong> muitas províncias, envi<strong>do</strong>u gran<strong>de</strong>s esforços<br />

nesse senti<strong>do</strong>. No entanto, os progressos<br />

alcança<strong>do</strong>s em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> foram<br />

mais lentos <strong>do</strong> que em qualquer outra parte.<br />

Ainda assim, por volta <strong>de</strong> 1985, quase<br />

todas as al<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> dispunham<br />

<strong>de</strong> uma escola primária. Esta expansão da<br />

re<strong>de</strong> escolar permitiu que muito mais crianças<br />

frequentassem o sistema <strong>de</strong> ensino<br />

mas tinhas <strong>do</strong>is problemas principais.<br />

O primeiro foi o <strong>de</strong> que o aumento<br />

quantitativo não foi acompanha<strong>do</strong> pela<br />

correspon<strong>de</strong>nte melhoria da qualida<strong>de</strong>. Na<br />

maioria das províncias da In<strong>do</strong>nésia, o<br />

ensino era <strong>de</strong> fraca qualida<strong>de</strong>: as escolas tinham<br />

falta <strong>de</strong> financiamento, <strong>de</strong> manuais<br />

escolares e <strong>de</strong> equipamento básico. Em<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>, a situação era ainda pior—<br />

embora os efeitos disso nem sempre fossem<br />

evi<strong>de</strong>ntes já que as avaliações testavam<br />

os conhecimentos <strong>do</strong>s alunos numa<br />

pequena parte <strong>do</strong>s programas escolares,<br />

sen<strong>do</strong> as notas inflacionadas para melhorar<br />

as estatísticas oficiais.<br />

O segun<strong>do</strong> problema consistia no facto<br />

<strong>do</strong> governo <strong>de</strong> Jakarta encarar o sistema<br />

<strong>de</strong> ensino como uma parte essencial <strong>do</strong><br />

processo <strong>de</strong> ‘In<strong>do</strong>nesiação’ da população<br />

timorense. Em virtu<strong>de</strong> disso, o Esta<strong>do</strong> proibiu<br />

a utilização da língua portuguesa nas<br />

escolas e exigiu que to<strong>do</strong>s os que tivessem<br />

<strong>de</strong> tratar <strong>de</strong> assuntos com a administração<br />

pública o fizessem em In<strong>do</strong>nésio. Para acelerar<br />

o processo, o governo in<strong>do</strong>nésio mobilizou<br />

para <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> um gran<strong>de</strong> número<br />

<strong>de</strong> professores vin<strong>do</strong>s <strong>de</strong> outras par-<br />

O HORIZONTE DA EDUCAÇÃO<br />

tes da In<strong>do</strong>nésia. O sucesso <strong>de</strong>sta medida<br />

não foi tão rápi<strong>do</strong> quanto espera<strong>do</strong>; foram<br />

necessários vários anos—quinze, segun<strong>do</strong><br />

alguns observa<strong>do</strong>res—para que a utilização<br />

da língua in<strong>do</strong>nésia nas escolas se generalizasse.<br />

No entanto, acabaram por conseguir<br />

assegurar que o ensino das crianças<br />

timorenses tivesse lugar numa língua diferente<br />

da que elas falavam em casa—o que<br />

dificultou ainda mais os seus progressos.<br />

Aos poucos, o número <strong>de</strong> professores<br />

timorenses aumentou. Em 1998/99, <strong>do</strong>s<br />

6672 professores primários 78% eram<br />

timorenses. No entanto, a qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> ensino<br />

era bastante fraca. A maior parte <strong>do</strong>s<br />

professores não tinha prossegui<strong>do</strong> a sua<br />

instrução muito para além da quarta classe.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, uma vez que os seus or<strong>de</strong>na<strong>do</strong>s<br />

eram muito baixos, tinham muitas<br />

vezes <strong>de</strong> aceitar outros trabalhos para sobreviver,<br />

faltan<strong>do</strong> frequentemente às aulas.<br />

Isto, por sua vez, <strong>de</strong>sencorajava as crianças<br />

e os pais. Cerca <strong>de</strong> 30% das crianças<br />

não chegavam sequer a ser matriculadas, o<br />

que se <strong>de</strong>via, em parte, a motivos culturais<br />

já que muitos pais não davam o <strong>de</strong>vi<strong>do</strong><br />

valor à educação <strong>do</strong>s seus filhos, especialmente<br />

das raparigas. Por outro la<strong>do</strong>, no caso<br />

das famílias mais pobres, os pais não tinham<br />

forma <strong>de</strong> suportar as propinas e o custo<br />

<strong>do</strong>s manuais e <strong>do</strong>s uniformes. No caso <strong>de</strong><br />

outros pais ainda, havia alguma relutância<br />

em permitir que os seus filhos fossem educa<strong>do</strong>s<br />

segun<strong>do</strong> os princípios e valores transmiti<strong>do</strong>s<br />

pelos programas in<strong>do</strong>nésios.<br />

As <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> ensino primário repercutiam-se<br />

no ensino secundário. Em<br />

1998/99, apenas 3% <strong>do</strong>s 1963 professores<br />

<strong>do</strong> 3º ciclo <strong>do</strong> ensino básico eram<br />

timorenses. No último ano <strong>de</strong> administração<br />

in<strong>do</strong>nésia, a taxa líquida <strong>de</strong> matrícula<br />

era ainda <strong>de</strong> apenas 36% no nível inferior<br />

<strong>do</strong> ensino secundário (entre os 12 e os 15<br />

anos) e <strong>de</strong> 20% no nível superior (entre os<br />

16 e os 18 anos). Os da<strong>do</strong>s para 2001 sugerem<br />

que as taxas actuais são ligeiramente<br />

inferiores no caso <strong>do</strong> ensino primário—62%<br />

e muito inferiores no nível inferior <strong>do</strong> ensino<br />

secundário (27%).<br />

Por fim, no ensino superior, o acesso<br />

ao sistema <strong>de</strong> ensino é ainda mais restrito,<br />

ten<strong>do</strong> a taxa <strong>de</strong> matrícula apresenta<strong>do</strong> valores<br />

<strong>de</strong> 3,8% em 1999 e 2,8% em 2001. A<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> foi criada em<br />

1986 com três faculda<strong>de</strong>s: Política Social,<br />

Formação <strong>de</strong> Professores e Agronomia.<br />

O aumento da<br />

quantida<strong>de</strong><br />

não foi<br />

acompanha<strong>do</strong><br />

por uma<br />

melhoria da<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

sistema<br />

educativo<br />

51


A violência terá<br />

<strong>de</strong>struí<strong>do</strong>,<br />

parcial ou<br />

totalmente, 80%<br />

a 90% <strong>do</strong>s<br />

edifícios e outras<br />

infra-estruturas<br />

escolares<br />

52<br />

Também aqui, a qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> ensino era<br />

frequentemente bastante baixa. A Universida<strong>de</strong><br />

dispunha <strong>de</strong> recursos insuficientes, utilizava<br />

méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ensino antiqua<strong>do</strong>s e tanto<br />

os estudantes como os professores registavam<br />

taxas elevadas <strong>de</strong> absentismo. Os<br />

outros estabelecimentos <strong>de</strong> ensino superior<br />

eram a Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong>stinada à<br />

formação <strong>de</strong> enfermeiros, e um instituto<br />

politécnico, on<strong>de</strong> era ministra<strong>do</strong> um curso<br />

<strong>de</strong> <strong>do</strong>is anos <strong>de</strong> engenharia e contabilida<strong>de</strong>.<br />

O Instituto Pastoral da Igreja Católica formava<br />

os professores <strong>de</strong> educação religiosa<br />

e, em 1997, foi criada uma escola privada<br />

<strong>de</strong> Economia , que oferecia cursos <strong>de</strong> contabilida<strong>de</strong><br />

e gestão.<br />

O impacto da emergência <strong>de</strong> 1999<br />

Pensa-se que a violência <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong><br />

1999 tenha <strong>de</strong>struí<strong>do</strong>, parcial ou totalmente,<br />

80% a 90% <strong>do</strong>s edifícios e outras infraestruturas<br />

escolares. Na maioria <strong>do</strong>s casos,<br />

os materiais didácticos, os registos das escolas<br />

e o mobiliário escolar foram rouba<strong>do</strong>s<br />

ou queima<strong>do</strong>s. Em resulta<strong>do</strong> disso,<br />

quan<strong>do</strong> as escolas reabriram, os estudantes<br />

nem sequer dispunham <strong>de</strong> lápis, canetas ou<br />

ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> exercícios, pois simplesmente<br />

não estavam disponíveis no país ou, quan<strong>do</strong><br />

o estavam, eram vendi<strong>do</strong>s a preços<br />

proibitivos para as famílias mais pobres.<br />

Igualmente prejudicial foi a diminuição <strong>do</strong><br />

número <strong>de</strong> professores. Embora as escolas<br />

primárias fossem principalmente <strong>do</strong>tadas <strong>de</strong><br />

professores timorenses, a maior parte <strong>do</strong>s<br />

professores <strong>do</strong> ensino secundário eram cidadãos<br />

in<strong>do</strong>nésios que, na sua maioria, <strong>de</strong>cidiram<br />

aban<strong>do</strong>nar o território. O mesmo<br />

suce<strong>de</strong>u com os funcionários administrativos<br />

das escolas, <strong>do</strong>s quais quase to<strong>do</strong>s eram<br />

in<strong>do</strong>nésios.<br />

Um problema suplementar consiste no<br />

facto <strong>de</strong> algumas das escolas construídas<br />

durante o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> administração<br />

Quadro 4.1<br />

Lega<strong>do</strong>s da educação colonial<br />

1978 1999<br />

Primário 47 escolas 788 escolas<br />

10.500 alunos 167.181 alunos<br />

Secundário 2 escolas 114 escolas<br />

nível inferior 315 alunos 32.197 alunos<br />

Secundário nenhum 54 escolas<br />

nível superior 18.973 alunos<br />

Fonte: United Nations CCA (2000)<br />

in<strong>do</strong>nésia se terem torna<strong>do</strong> redundantes.<br />

Isto suce<strong>de</strong>u <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao governo in<strong>do</strong>nésio<br />

ter procedi<strong>do</strong> à transferência forçada <strong>de</strong><br />

comunida<strong>de</strong>s inteiras para novos locais on<strong>de</strong><br />

construiu as escolas. Porém, muitas das famílias<br />

têm vin<strong>do</strong> a regressar às suas terras<br />

ancestrais. Noutros casos, as escolas não<br />

po<strong>de</strong>m ser utilizadas <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a terem si<strong>do</strong><br />

construídas pelos In<strong>do</strong>nésios em terras que<br />

não lhes pertenciam e que são actualmente<br />

objecto <strong>de</strong> litígio.<br />

Reconstruin<strong>do</strong> o sistema educativo<br />

Quan<strong>do</strong>, em finais <strong>de</strong> 1999, se registou finalmente<br />

alguma acalmia e a população<br />

começou a regressar aos centros urbanos,<br />

os timorenses liga<strong>do</strong>s à administração da<br />

educação iniciaram uma colaboração<br />

voluntária no seio da Divisão <strong>de</strong> Educação<br />

<strong>do</strong> CNRT. Esta iniciativa foi, no entanto,<br />

prejudicada pela sua inexperiência e pela<br />

cultura <strong>de</strong> gestão autocrática imposta pela<br />

In<strong>do</strong>nésia, que retirara às pessoas a confianças<br />

nas suas próprias <strong>de</strong>cisões.<br />

Entretanto, muitos <strong>do</strong>s professores primários<br />

que permaneceram em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

começaram também a trabalhar como voluntários,<br />

receben<strong>do</strong> apenas pequenos incentivos<br />

pecuniários da UNICEF, bem<br />

como alguma ajuda alimentar por parte <strong>do</strong><br />

Programa Alimentar Mundial. Embora a<br />

maioria tivesse da<strong>do</strong> aulas durante o perío<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> administração in<strong>do</strong>nésia, outros não<br />

possuíam qualquer experiência. A UNICEF<br />

disponibilizou também numerosos kits <strong>de</strong><br />

material escolar e reconstruiu os telha<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong> várias escolas primárias e secundárias.<br />

Em Maio <strong>de</strong> 2000, a UNTAET e o<br />

CNRT realizaram uma avaliação geral à<br />

competência <strong>do</strong>s professores. Este teste foi<br />

realiza<strong>do</strong> em In<strong>do</strong>nésio, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a ser essa a<br />

língua até então utilizada como meio <strong>de</strong><br />

ensino por estes professores. Do total <strong>de</strong><br />

professores que efectuaram o teste, 5000<br />

<strong>de</strong>monstraram possuir as competências<br />

necessárias para dar aulas no ensino primário,<br />

embora nem to<strong>do</strong>s tenham si<strong>do</strong> imediatamente<br />

contrata<strong>do</strong>s.<br />

No ensino secundário, a situação era ainda<br />

mais complexa. Uma vez que quase não<br />

existiam professores <strong>do</strong> ensino secundário,<br />

a administração timorense procurou encorajar<br />

os estudantes universitários a <strong>de</strong>sempenharem<br />

essas funções. Os professores<br />

assim recruta<strong>do</strong>s, que foram contrata<strong>do</strong>s<br />

para o primeiro ano lectivo “normal” que<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


Quadro 4.2<br />

Rácio alunos-professores nas escolas primárias, 2000/2001<br />

Distrito Escolas Alunos Alunos/escola Professores Rácio Intervalo <strong>do</strong>s rácios<br />

Aileu 40 13.190 330 149 89 36-147<br />

Ainaro 38 9.398 247 157 60 40-106<br />

Baucau 93 20.365 219 345 59 24-175<br />

Bobonaro 89 18.294 206 289 63 27-104<br />

Covalima 52 8.998 173 227 40 28-147<br />

Dili 61 28.333 464 475 60 17-119<br />

Ermera 62 19.076 308 376 51 27-124<br />

Liquica 38 11.989 316 195 61 30-99<br />

Lospalos 55 10.541 192 172 61 27-142<br />

Manufahi 50 10.443 209 153 68 28-243<br />

Manatuto 35 9.169 262 118 78 36-235<br />

Oecussi 43 9.932 231 146 68 37-100<br />

Viqueque 51 15.452 303 189 82 46-224<br />

TOTAL 707 185.180 262 2.991 62 24-243<br />

Nota: O intervalo <strong>do</strong>s rácios mostra a média mais alta e mais baixa <strong>do</strong>s sub-distritos da respectiva região<br />

Fonte: Ministério da Educação (2001)<br />

se iniciou em Outubro <strong>de</strong> 2000, possuiam<br />

habitualmente suficientes conhecimentos<br />

básicos mas não tinham qualquer formação<br />

pedagógica ou em matéria <strong>de</strong> gestão das<br />

aulas.<br />

Entretanto, os <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res internacionais<br />

prepararam um Programa <strong>de</strong> Revitalização<br />

<strong>do</strong> Sistema Educativo que procurava conjugar<br />

os esforços da UNTAET, CNRT,<br />

UNICEF, ONGs nacionais e internacionais,<br />

<strong>do</strong>a<strong>do</strong>res bilaterais <strong>do</strong> Banco Mundial. A<br />

primeira fase <strong>de</strong>ste programa, aprovada em<br />

Junho <strong>de</strong> 2000, consistiu num projecto <strong>de</strong><br />

13,9 milhões <strong>de</strong> dólares <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> Programa<br />

<strong>de</strong> Reabilitação Escolar <strong>de</strong> Emergência,<br />

<strong>de</strong>stina<strong>do</strong> à reconstrução <strong>de</strong> alguns<br />

edifícios e à construção <strong>de</strong> novas escolasprotótipo.<br />

Em Fevereiro <strong>de</strong> 2000 este programa<br />

proce<strong>de</strong>ra já à reabilitação <strong>de</strong> 535<br />

escolas, representan<strong>do</strong> 2780 salas <strong>de</strong> aula, à<br />

construção <strong>de</strong> três escolas-protótipo <strong>de</strong>stinadas<br />

ao nível inferior <strong>do</strong> ensino secundário<br />

e montara 54.000 peças <strong>de</strong> mobiliário<br />

escolar nas salas <strong>de</strong> aula. Em Outubro <strong>de</strong><br />

2001, os <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res aprovaram um outro<br />

programa <strong>de</strong> 13,9 milhões <strong>de</strong> dólares, <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong><br />

‘Projecto para a Qualida<strong>de</strong> Básica<br />

das Escolas’, que visava a melhoria das<br />

condições <strong>de</strong> 65 escolas primárias.<br />

No ano lectivo 2000/2001, o número<br />

<strong>de</strong> crianças matriculadas nas 707 escolas<br />

primárias <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> era <strong>de</strong> 185.180<br />

O HORIZONTE DA EDUCAÇÃO<br />

(Quadro 4.2). Na maioria <strong>do</strong>s países, o<br />

número <strong>de</strong> matrículas é habitualmente mais<br />

eleva<strong>do</strong> na 1ª classe, diminuin<strong>do</strong> gradualmente<br />

até ao 6º ano à medida que as crianças<br />

vão aban<strong>do</strong>nan<strong>do</strong> o sistema <strong>de</strong> ensino.<br />

Como indica o Gráfico 4.2, esta diminuição<br />

é especialmente acentuada em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, os primeiros anos têm<br />

habitualmente um número anormalmente<br />

Gráfico 4.2<br />

Matrículas por nível <strong>de</strong> ensino, 2000/01<br />

Alunos matricula<strong>do</strong>s (milhares)<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

1 2 3<br />

Grau<br />

4 5 6<br />

Fonte: Ministério da Educação<br />

53


O número <strong>de</strong><br />

raparigas que<br />

actualmente<br />

frequentam o<br />

ensino primário é<br />

idêntico ao <strong>do</strong>s<br />

rapazes<br />

54<br />

eleva<strong>do</strong> <strong>de</strong> alunos <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

estudantes que reprovaram em anos anteriores<br />

ou que iniciaram o seu percurso escolar<br />

mais tar<strong>de</strong> <strong>do</strong> que é habitual, frequentan<strong>do</strong><br />

por isso anos mais atrasa<strong>do</strong>s <strong>do</strong> que<br />

seria normal na sua ida<strong>de</strong>. Isto tem como<br />

consequência que a ‘taxa bruta <strong>de</strong> matrícula’,<br />

que consiste no rácio entre o número <strong>de</strong><br />

crianças que frequenta <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> nível <strong>de</strong><br />

ensino e o número total <strong>de</strong> crianças na faixa<br />

etária legalmente apropriada, possa nalguns<br />

casos atingir valores bastante eleva<strong>do</strong>s—112%<br />

no caso <strong>do</strong> ensino primário em<br />

2001.<br />

É também <strong>de</strong> assinalar que as taxas <strong>de</strong><br />

matrícula no ensino primário eram idênticas<br />

no caso <strong>do</strong>s rapazes e das raparigas. As<br />

entrevistas realizadas em Maio <strong>de</strong> 2001 no<br />

quadro <strong>de</strong> um inquérito para a UNICEF e<br />

para a Oxfam permitiram concluir que, ao<br />

nível <strong>do</strong> ensino primário, existe igualda<strong>de</strong><br />

entre os géneros (UNICEF, 2001). Aliás, em<br />

certos casos, as raparigas po<strong>de</strong>m até estar<br />

em vantagem, já que os rapazes correm um<br />

maior risco <strong>de</strong> ter <strong>de</strong> aban<strong>do</strong>nar a escola<br />

assim que têm ida<strong>de</strong> suficiente para trabalhar<br />

na agricultura familiar.<br />

No entanto, o número <strong>de</strong> matrículas<br />

constitui apenas uma parte <strong>do</strong> panorama.<br />

Muitas das crianças que se matriculam para<br />

ir à escola nunca chegam a frequentar as<br />

aulas. O referi<strong>do</strong> estu<strong>do</strong> revelou que, segun<strong>do</strong><br />

os professores, numerosas crianças<br />

eram consi<strong>de</strong>radas ‘inactivas’: nalgumas escolas,<br />

até cerca <strong>de</strong> 20% <strong>do</strong>s alunos haviam<br />

frequenta<strong>do</strong> algumas aulas mas tinham<br />

posteriormante <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong> <strong>de</strong> o fazer. Em<br />

1997/98, a taxa <strong>de</strong> repetição <strong>de</strong> anos no<br />

ensino primário em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>—14%—<br />

era uma das mais elevadas <strong>de</strong> toda a<br />

In<strong>do</strong>nésia.<br />

O Quadro 4.2 indica também o rácio<br />

aluno/professor. O valor médio <strong>de</strong> 62 alunos<br />

por professor no ensino primário é alto,<br />

o que reduz a qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> ensino ministra<strong>do</strong><br />

a cada aluno. No entanto, este valor<br />

médio oculta fortes variações entre os diversos<br />

distritos, sub-distritos e escolas. Tal<br />

como mostra o quadro, os valores variavam<br />

entre um mínimo <strong>de</strong> 17 (numa escola<br />

<strong>de</strong> Dili) e um máximo <strong>de</strong> 243 (numa escola<br />

<strong>do</strong> sub-distrito <strong>de</strong> Turiscai, em Manufahi).<br />

Estes da<strong>do</strong>s dizem respeito ao ensino<br />

público. No entanto, para além das mais <strong>de</strong><br />

700 escolas públicas, existem 173 escolas<br />

pertencentes à Igreja Católica, que cobram<br />

em média 5954 rupias por mês (0,60 dólares)<br />

e 26 escolas privadas, que cobram 9237<br />

rupias mensais (1 dólar).<br />

Obstáculos à frequência escolar<br />

Agora que <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> alcançou a sua in<strong>de</strong>pendência,<br />

alguns <strong>do</strong>s anteriores obstáculos<br />

à frequência escolar foram ultrapassa<strong>do</strong>s.<br />

Porém, muitos outros permanecem.<br />

O problema mais básico é a pobreza.<br />

Embora as escolas públicas não cobrem<br />

propinas, enviar as crianças para a escola<br />

não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> envolver custos para os pais.<br />

Fortemente ligada à questão da pobreza é a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> as crianças dispen<strong>de</strong>rem pelo<br />

menos uma parte <strong>do</strong> seu tempo em tarefas<br />

<strong>do</strong>mésticas ou no auxílio nas explorações<br />

familiares. Cerca <strong>de</strong> 10% das crianças entre<br />

os 10 e os 11 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> trabalham, quase<br />

sempre na agricultura, embora apenas cerca<br />

<strong>de</strong> meta<strong>de</strong> <strong>de</strong>stas crianças frequentem o<br />

sistema <strong>de</strong> ensino.<br />

Outro problema consiste no facto <strong>de</strong><br />

que, por muitos pais nunca terem i<strong>do</strong> à escola,<br />

eles revelarem pouco interesse na educação<br />

e não estimularem os seus filhos a ir<br />

à escola. Noutros casos, os pais concluem<br />

que a qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> ensino é tão fraca que<br />

os filhos pouco têm a ganhar em frequentar<br />

a escola, pelo que po<strong>de</strong>m perfeitamente<br />

ficar em casa.<br />

Naturalmente, estes obstáculos têm ainda<br />

mais peso se a escola fica longe <strong>de</strong> casa.<br />

Para a maioria das crianças, isso não parece<br />

constituir um gran<strong>de</strong> problema. De acor<strong>do</strong><br />

com o Inquérito aos sucos, cerca <strong>de</strong><br />

meta<strong>de</strong> das crianças não precisa <strong>de</strong> caminhar<br />

mais <strong>de</strong> 10 minutos para chegar à escola.<br />

Só em 7 <strong>do</strong>s 498 sucos é que o tempo<br />

médio necessário para as crianças chegarem<br />

à escola era superior a meia hora. No entanto,<br />

a dificulda<strong>de</strong> aumenta na estação das<br />

chuvas. Os problemas são ainda maiores<br />

nas áreas on<strong>de</strong> as escolas estão ocupadas<br />

por populações <strong>de</strong>salojadas ou não po<strong>de</strong>m<br />

ser utilizadas em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> terem si<strong>do</strong><br />

construídas em terrenos sujeitos a litígio.<br />

Questões futuras para a educação<br />

O sistema <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> está<br />

actualmente em reconstrução mas enfrenta<br />

diversos <strong>de</strong>safios <strong>de</strong> monta.<br />

A língua<br />

Ao longo <strong>do</strong>s próximos anos, uma das tarefas<br />

mais difíceis consistirá na a<strong>do</strong>pção <strong>de</strong><br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


uma nova língua. A Constituição timorense<br />

estabelece como línguas oficiais o tetum e<br />

o português. No que diz respeito ao sistema<br />

<strong>de</strong> ensino, a política a<strong>do</strong>ptada tem consisti<strong>do</strong><br />

na progressiva introdução <strong>do</strong> português<br />

como língua <strong>de</strong> instrução, com início<br />

no ano lectivo 2000/2001 na 1º e 2º<br />

classes, enquanto se ensina português como<br />

segunda língua nos níveis mais eleva<strong>do</strong>s.<br />

Depois e gradualmente a instrução em português<br />

será estendida a to<strong>do</strong> o sistema<br />

escolar.<br />

Estas medidas criaram alguns problemas,<br />

uma vez que apenas 5% da<br />

população—e, consequentemente, poucos<br />

professores—fala Português. Com vista a<br />

<strong>de</strong>terminar quais os professores que <strong>do</strong>minam<br />

esta língua, cerca <strong>de</strong> 3000 professores<br />

foram sujeitos a um teste realiza<strong>do</strong> pela Missão<br />

Portuguesa em Dili. Destes, apenas 158<br />

(5%) obtiveram aprovação, a maioria <strong>do</strong>s<br />

quais vivia em Dili ou em Baucau (Quadro<br />

4.3). Tal como este quadro revela, o distrito<br />

<strong>de</strong> Manufahi não possuía qualquer professor<br />

capaz <strong>de</strong> ensinar Português, pelo que<br />

o ensino na 1ª e 2ª classes tem si<strong>do</strong> ministra<strong>do</strong><br />

em In<strong>do</strong>nésio ou numa das línguas<br />

locais. Isso tem impedi<strong>do</strong> que os alunos adquiram<br />

as bases <strong>de</strong> Português <strong>de</strong> que necessitarão<br />

para mais tar<strong>de</strong> prosseguirem os seus<br />

estu<strong>do</strong>s em níveis mais avança<strong>do</strong>s.<br />

Tanto os professores como os funcionários<br />

administrativos das escolas necessitarão<br />

<strong>de</strong> sólidas bases <strong>de</strong> língua portuguesa.<br />

Para tal, será necessária uma planificação<br />

mais cuidada quer <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s<br />

Quadro 4.3<br />

Professores aprova<strong>do</strong>s para<br />

ensinarem Português<br />

Distrito Primário Secundário<br />

Aileu 0 1<br />

Ainaro 7 0<br />

Baucau 24 1<br />

Bobonaro 5 0<br />

Covalima 3 2<br />

Dili 45 5<br />

Ermera 2 1<br />

Lautem 3 4<br />

Liquica 18 2<br />

Manatuto 7 0<br />

Manufahi 0 4<br />

Oecussi 1 9<br />

Viqueque 11 3<br />

Fonte: Ministério da Educação<br />

O HORIZONTE DA EDUCAÇÃO<br />

programáticos, quer da carga horária <strong>do</strong>s<br />

professores <strong>de</strong> forma a permitir que estes<br />

dispendam algum tempo fora das aulas a<br />

aperfeiçoar o seu <strong>do</strong>mínio da língua. Muitos<br />

cursos <strong>de</strong> português têm si<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong> forma ad-hoc e alguns professores<br />

queixam-se <strong>de</strong> não terem retira<strong>do</strong> suficientes<br />

benefícios. Para ajudar a disseminar o<br />

português, o Governo <strong>de</strong> Portugal financiou<br />

a vinda para <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> <strong>de</strong> 141 cidadãos<br />

portugueses que se têm <strong>de</strong>dica<strong>do</strong> a<br />

ensinar Português como segunda língua nas<br />

escolas secundárias e a aperfeiçoar o <strong>do</strong>mínio<br />

da língua por parte <strong>do</strong>s professores<br />

timorenses.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> <strong>de</strong>verá<br />

voltar a analisar a importância <strong>do</strong> ensino<br />

ser ministra<strong>do</strong> na língua materna—seja ela<br />

o tetum ou qualquer uma das línguas principais.<br />

A experiência <strong>de</strong> outros países que<br />

se <strong>de</strong>pararam com problemas semelhantes<br />

sugere que as crianças apren<strong>de</strong>m com mais<br />

rapi<strong>de</strong>z se começarem por <strong>do</strong>minar a sua<br />

língua materna para, em seguida, apren<strong>de</strong>rem<br />

uma das línguas nacionais—neste caso,<br />

o português ou o tetum—como segunda<br />

língua. A auto-confiança que <strong>de</strong>riva <strong>de</strong> ser<br />

capaz <strong>de</strong> ler e escrever na língua materna é<br />

uma base cognitiva e emocional forte,<br />

<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> as crianças das capacida<strong>de</strong>s necessárias<br />

para a posterior aprendizagem <strong>de</strong> uma<br />

segunda língua. Por outro la<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> as<br />

crianças apren<strong>de</strong>m a sua cultura e as suas<br />

tradições na língua materna torna-se<br />

possível um muito maior apoio e acompanhamento<br />

por parte <strong>do</strong>s pais. Isto, por sua<br />

vez, estimula a criança no senti<strong>do</strong> da frequência<br />

regular das aulas. Alguns estu<strong>do</strong>s internacionais<br />

têm revela<strong>do</strong> que uma das principais<br />

causas <strong>de</strong> insucesso escolar é a <strong>de</strong>ficiente<br />

adaptação <strong>do</strong>s programas nacionais às<br />

características culturais e linguísticas <strong>do</strong>s<br />

alunos.<br />

Produzir materiais didácticos em to<strong>do</strong>s<br />

os dialectos locais seria certamente bastante<br />

caro—tanto <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> aos custos <strong>de</strong> impressão,<br />

como à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formar os professores<br />

para a sua utilização—, sobretu<strong>do</strong><br />

ten<strong>do</strong> em conta que alguns dialectos são<br />

fala<strong>do</strong>s apenas por um reduzi<strong>do</strong> número<br />

<strong>de</strong> crianças. No entanto, a experiência internacional<br />

revela que os benefícios po<strong>de</strong>rão<br />

justificar os custos. <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> po<strong>de</strong>rá<br />

beneficiar da experiência da Papua Nova<br />

Guiné, que introduziu recentemente no seu<br />

sistema <strong>de</strong> ensino o uso das mais <strong>de</strong> 800<br />

Quan<strong>do</strong> as<br />

crianças<br />

apren<strong>de</strong>m na sua<br />

língua materna,<br />

recebem mais<br />

apoio <strong>do</strong>s pais<br />

55


Existem em média<br />

mais <strong>de</strong> 60<br />

alunos por cada<br />

professor<br />

primário<br />

56<br />

línguas locais. Neste caso, porém, não se<br />

optou pela impressão <strong>de</strong> materiais didácticos<br />

em todas estas línguas mas sim pela elaboração<br />

<strong>de</strong> manuais e outros materiais <strong>de</strong>sprovi<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong> texto, por forma a que possam<br />

ser utiliza<strong>do</strong>s a nível nacional, ten<strong>do</strong><br />

si<strong>do</strong> proporciona<strong>do</strong> aos professores um<br />

conjunto <strong>de</strong>talha<strong>do</strong> <strong>de</strong> indicações acerca <strong>de</strong><br />

como utilizar esses materiais na sua própria<br />

língua.<br />

O actual programa <strong>de</strong> “estabilização”<br />

da gramática e <strong>do</strong> léxico <strong>do</strong> tetum é útil.<br />

No entanto, actualmente são ainda escassos<br />

os materiais didácticos existentes nesta língua<br />

—e raros ou totalmente inexistentes os<br />

materiais nas restantes.<br />

Os professores<br />

O Ministério da Educação emprega actualmente<br />

cerca <strong>de</strong> 6400 professores em to<strong>do</strong>s<br />

os níveis <strong>de</strong> ensino, <strong>do</strong>s quais 70% são<br />

homens, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> contrata<strong>do</strong>s, na sua<br />

totalida<strong>de</strong>, após o referen<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1999. A<br />

maioria são professores primários que,<br />

durante o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> administração<br />

in<strong>do</strong>nésia, concluíram o nível inferior <strong>do</strong><br />

ensino secundário, ten<strong>do</strong> posteriormente<br />

prossegui<strong>do</strong> os seus estu<strong>do</strong>s em estabelecimentos<br />

<strong>do</strong> ensino secundário superior<br />

especializa<strong>do</strong>s na formação <strong>de</strong> professores.<br />

Esta formação era habitualmente composta<br />

por <strong>do</strong>is anos no nível SPG (Sekolah<br />

Pendidikan Guru), aos quais se seguiam três<br />

anos no nível superior, <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> KPG<br />

(Kejuwan Pendidikan Guru). No ensino<br />

primário, o rácio aluno/professor é superior<br />

a 60, o que é manifestamente excessivo.<br />

A maioria <strong>do</strong>s professores <strong>do</strong> ensino<br />

secundário são, ainda hoje, estudantes universitários<br />

sem qualquer formação pedagógica.<br />

No ano lectivo 2000/2001, somente<br />

106—69 homens e 37 mulheres—<strong>do</strong>s 2091<br />

professores <strong>do</strong> ensino secundário possuiam<br />

alguma formação pedagógica.<br />

Para o futuro há duas priorida<strong>de</strong>s fundamentais<br />

quanto à profissão <strong>de</strong> professor.<br />

A primeira consistirá em aumentar o número<br />

global <strong>de</strong> efectivos, por forma a reduzir<br />

o rácio aluno/professor. No passa<strong>do</strong>,<br />

os salários baixos e as más condições<br />

<strong>de</strong> trabalho afastaram numerosos estudantes<br />

motiva<strong>do</strong>s <strong>de</strong> seguirem esta profissão.<br />

A situação actual é talvez ainda pior, uma<br />

vez que os professores <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> ter direito<br />

a habitação gratuita. To<strong>do</strong>s estes factores<br />

têm contribuí<strong>do</strong> para a <strong>de</strong>smoraliza-<br />

ção <strong>do</strong>s professores. Lamentavelmente, os<br />

professores acabam muitas vezes por <strong>de</strong>ixar<br />

os alunos regressar a casa após um dia<br />

<strong>de</strong> aulas inaceitavelmente curto. Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong><br />

a importância <strong>do</strong> papel <strong>do</strong>s professores—principalmente<br />

nas áreas rurais— tanto<br />

no interior das salas <strong>de</strong> aula como enquanto<br />

promotores <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, o<br />

governo <strong>de</strong>verá repon<strong>de</strong>rar e reajustar as<br />

suas condições laborais e salariais.<br />

A segunda priorida<strong>de</strong> consistirá na<br />

melhoria das qualificações <strong>do</strong>s professores.<br />

Aqueles que estão actualmente a estudar<br />

para virem a dar aulas <strong>de</strong>verão ser a<strong>de</strong>quadamente<br />

prepara<strong>do</strong>s. Não só terão <strong>de</strong> se<br />

familiarizar com um novo programa e com<br />

uma nova língua, como terão <strong>de</strong> saber fomentar<br />

uma aprendizagem mais activa por<br />

parte <strong>do</strong>s alunos.<br />

Actualmente os estudantes passam gran<strong>de</strong><br />

parte <strong>do</strong> seu tempo a copiar matéria <strong>do</strong><br />

quadro. Em parte, isso <strong>de</strong>ve-se à falta <strong>de</strong><br />

manuais escolares e outros materiais didácticos,<br />

mas é também uma consequência da<br />

a<strong>do</strong>pção, por parte <strong>do</strong>s professores, <strong>de</strong><br />

méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ensino antiqua<strong>do</strong>s assentes na<br />

repetição e memorização e não em estimular<br />

as crianças a adquirirem conhecimentos<br />

por elas próprias.<br />

Quanto à próxima geração <strong>de</strong> professores,<br />

a Universida<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> (UNTIL) <strong>de</strong>verá ter um importante<br />

papel a <strong>de</strong>sempenhar. Ao longo da próxima<br />

década a sua principal priorida<strong>de</strong> <strong>de</strong>verá<br />

consistir na formação <strong>de</strong> mais professores.<br />

Isso implicará uma reavaliação das priorida<strong>de</strong>s<br />

quanto às Faculda<strong>de</strong>s existentes<br />

<strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a permitir a optimização <strong>do</strong>s<br />

escassos recursos humanos e financeiros da<br />

Universida<strong>de</strong>. No caso <strong>do</strong>s professores que<br />

se encontram já no activo, este objectivo<br />

exigirá a intensificação da formação permanente<br />

através <strong>de</strong> workshops e da realização<br />

regular <strong>de</strong> encontros ao nível das escolas,<br />

bem como da criação <strong>de</strong> centros <strong>de</strong><br />

recursos pedagógicos ao nível <strong>do</strong>s distritos.<br />

O envolvimento da comunida<strong>de</strong><br />

Uma das melhores formas <strong>de</strong> promover a<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> ensino nas escolas é através<br />

<strong>de</strong> um mais profun<strong>do</strong> envolvimento das<br />

comunida<strong>de</strong>s locais. Se os pais, os professores<br />

e os restantes lí<strong>de</strong>res comunitários assumirem<br />

conjuntamente a responsabilida<strong>de</strong><br />

da gestão <strong>do</strong>s estabelecimentos <strong>de</strong> ensino,<br />

<strong>de</strong>dicarão <strong>de</strong>certo uma porção maior<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


<strong>do</strong> seu tempo e energia às escolas e ficarão<br />

mais orgulhosos daquilo que eles e as crianças<br />

da sua comunida<strong>de</strong> conseguirem atingir.<br />

Um interessante estímulo neste senti<strong>do</strong><br />

po<strong>de</strong>rá vir <strong>do</strong> “Projecto ‘100 escolas’” da<br />

UNICEF. Este projecto seleccionará 100<br />

escolas a nível nacional para servirem como<br />

mo<strong>de</strong>los on<strong>de</strong> melhorar to<strong>do</strong>s os aspectos<br />

da educação—o envolvimento <strong>do</strong>s pais e<br />

das comunida<strong>de</strong>s, a melhoria <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong> ensino, a manutenção <strong>de</strong> registos a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s,<br />

o aumento das taxas <strong>de</strong> frequência<br />

e a melhoria <strong>do</strong> moral <strong>de</strong> professores e<br />

alunos. As escolas que vierem a ser<br />

seleccionadas serão aquelas que se tiverem,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo, revela<strong>do</strong> empenhadas na a<strong>do</strong>pção<br />

das melhores práticas.<br />

Esta é outra área na qual <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

po<strong>de</strong>rá efectuar progressos. O sistema<br />

in<strong>do</strong>nésio era extremamente centraliza<strong>do</strong>,<br />

<strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> pouco espaço para as iniciativas<br />

locais <strong>do</strong>s pais e <strong>do</strong>s professores. Isso po<strong>de</strong>rá<br />

ter servi<strong>do</strong> os interesses <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

in<strong>do</strong>nésio mas <strong>de</strong>sperdiçou recursos<br />

preciosos em termos <strong>de</strong> dinamismo e<br />

empenhamento.<br />

Os currículos escolares<br />

Até agora têm si<strong>do</strong> poucos os esforços no<br />

senti<strong>do</strong> da melhoria <strong>do</strong>s currículos<br />

escolares—o que se <strong>de</strong>ve em parte à incerteza<br />

<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> transição. Os professores<br />

continuam a a<strong>do</strong>ptar os programas<br />

in<strong>do</strong>nésios na maioria <strong>do</strong>s níveis <strong>de</strong> ensino.<br />

No caso das 1ª e 2ª classes, porém, dispõem<br />

também <strong>de</strong> manuais escolares em<br />

Português que cobrem o programa tradicional<br />

<strong>de</strong>sses <strong>do</strong>is anos. Trata-se <strong>de</strong> manuais<br />

<strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong>, colori<strong>do</strong>s e atraentes,<br />

embora bastante caros. As restantes classes<br />

a<strong>do</strong>ptam um currículo dramaticamente reduzi<strong>do</strong>,<br />

que nas 4ª e 5ª classes se limita à<br />

matemática e às ciências da natureza, com<br />

o português como segunda língua. Os 3º e<br />

6º anos curriculares têm matemática, ciências<br />

da natureza e ciências sociais. Existe algum<br />

ensino ao nível da música e <strong>do</strong> <strong>de</strong>sporto<br />

mas com muito poucos materiais <strong>de</strong><br />

apoio.<br />

No ensino secundário o currículo é bastante<br />

mais abrangente, incluin<strong>do</strong> 14 disciplinas<br />

no nível inferior <strong>do</strong> secundário e 17<br />

no nível superior. Dada a escassez tanto <strong>de</strong><br />

professores como <strong>de</strong> materiais didácticos,<br />

parece ser aconselhável reduzir a varieda<strong>de</strong><br />

das disciplinas e concentrar a atenção na<br />

O HORIZONTE DA EDUCAÇÃO<br />

qualida<strong>de</strong> em vez da quantida<strong>de</strong>, assumin<strong>do</strong><br />

como priorida<strong>de</strong>s a matemática e as<br />

ciências.<br />

As principais disciplinas e conteú<strong>do</strong>s que<br />

<strong>de</strong>verão fazer parte <strong>do</strong>s currículos e <strong>do</strong>s<br />

programas <strong>de</strong>verão ser <strong>de</strong>cidi<strong>do</strong>s na sequência<br />

<strong>de</strong> consultas alargadas aos professores,<br />

pais e alunos. Esta é outra área na<br />

qual a experiência e os recursos internacionais<br />

po<strong>de</strong>rão prestar uma valiosa contribuição<br />

ajudan<strong>do</strong> quem quer que venha a elaborar<br />

os futuros currículos <strong>do</strong> sistema <strong>de</strong><br />

ensino <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> a retirar lições das<br />

práticas a<strong>do</strong>ptadas noutros países e a atingir<br />

os níveis internacionalmente aceites.<br />

O ensino técnico-profissional<br />

O ensino técnico-profissional in<strong>do</strong>nésio,<br />

ministra<strong>do</strong> nas escolas secundárias superiores,<br />

era relativamente sofistica<strong>do</strong>. No entanto,<br />

a formação proporcionada pouco<br />

tinha a ver com as reais necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong><br />

merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho; em muitos casos<br />

tratava-se apenas <strong>de</strong> “educar por educar”.<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> não po<strong>de</strong>rá permitir-se esta<br />

prática e, em colaboração com os emprega<strong>do</strong>res<br />

locais, <strong>de</strong>verá reformar o sistema<br />

<strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a proporcionar aos jovens formação<br />

em matérias para as quais existe<br />

realmente procura. De qualquer forma, a<br />

maioria das pessoas que antes asseguravam<br />

o funcionamento <strong>do</strong> ensino técnico-profissional<br />

aban<strong>do</strong>naram, pelo que <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

não terá outra opção que não seja começar<br />

<strong>de</strong> novo.<br />

Um inquérito realiza<strong>do</strong> pelo Projecto<br />

para a Melhoria das Qualificações em <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong>, financia<strong>do</strong> pela Austrália, chegou à<br />

conclusão <strong>de</strong> que as escolas <strong>de</strong>verão evitar<br />

especializar-se em <strong>de</strong>terminadas áreas <strong>de</strong>masia<strong>do</strong><br />

ce<strong>do</strong>, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong>, pelo contrário, incluir<br />

matérias como a agronomia nas disciplinas<br />

mais gerais <strong>de</strong> ciências da natureza.<br />

Existem já alguns projectos <strong>de</strong> formação<br />

técnico-profissional, incluin<strong>do</strong> alguns<br />

vocaciona<strong>do</strong>s para o sector da construção<br />

civil, que são financia<strong>do</strong>s pelo Brasil e por<br />

Portugal. No entanto, é notório que <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> precisa urgentemente <strong>de</strong> pessoas <strong>do</strong>tadas<br />

<strong>de</strong> competências básicas como as <strong>de</strong><br />

electricistas e <strong>de</strong> mecânicos. Ten<strong>do</strong> em conta<br />

a possível importância <strong>do</strong> turismo, os que<br />

vierem a trabalhar nesta área <strong>de</strong>verão <strong>do</strong>minar<br />

o Inglês. Parte <strong>de</strong>sta formação <strong>de</strong>verá<br />

ser en<strong>de</strong>reçada a quem já se encontra a<br />

trabalhar, já que é evi<strong>de</strong>nte que actualmente<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

precisa<br />

urgentemente <strong>de</strong><br />

mais pessoas<br />

<strong>do</strong>tadas <strong>de</strong><br />

competências<br />

básicas<br />

57


58<br />

Caixa 4.1<br />

A tradição <strong>de</strong>mocrática <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

É incorrecto caracterizar <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

como um país <strong>de</strong>sprovi<strong>do</strong> <strong>de</strong> raízes<br />

e princípios <strong>de</strong>mocráticos. As estruturas<br />

<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r tradicional, que permaneceram<br />

intactas ao longo <strong>do</strong> perío<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> colonização e ocupação<br />

estrangeira, reflectem sistemas<br />

económicos, sociais, políticos e culturais<br />

altamente intrinca<strong>do</strong>s e que são<br />

simultaneamente participativos e<br />

inclusivos.<br />

O breve perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r da<br />

Fretilin em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s anos '70,<br />

caracterizou-se também pela <strong>de</strong>volução<br />

<strong>de</strong> parte <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r e da autorida<strong>de</strong><br />

a mecanismos regionais <strong>de</strong> tomada<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão. Ainda mais significativo,<br />

o próprio movimento clan<strong>de</strong>stino<br />

funcionava <strong>de</strong> uma forma extremamente<br />

participativa, procuran<strong>do</strong><br />

consultar to<strong>do</strong>s os membros e utilizar<br />

os lí<strong>de</strong>res locais e as estruturas hierárquicas<br />

para fazer ouvir a voz das<br />

diversas comunida<strong>de</strong>s e alcançar<br />

<strong>de</strong>cisões <strong>de</strong> uma forma colectiva.<br />

Assim, as estratégias <strong>de</strong> educação<br />

cívica <strong>de</strong>verão envolver a participação<br />

<strong>do</strong>s lí<strong>de</strong>res locais e incorporar os processos<br />

comunitários tradicionais para<br />

muitas pessoas estão fazen<strong>do</strong> trabalhos para<br />

os quais não dispõem das competências<br />

necessárias.<br />

O ensino superior<br />

A Universida<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

reabriu as suas portas em 2000. Nessa altura,<br />

a priorida<strong>de</strong> consistia em proporcionar<br />

cursos superiores aos estudantes que haviam<br />

já frequenta<strong>do</strong> este nível <strong>de</strong> ensino, quer<br />

na In<strong>do</strong>nésia, quer em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>. Embora<br />

um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> estudantes tenha<br />

reprova<strong>do</strong> nos exames <strong>de</strong> admissão,<br />

continuaram a pressionar o Ministério da<br />

Educação para que lhes fossem proporcionadas<br />

vagas. Isso resultou num acor<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

compromisso: a criação <strong>de</strong> um curso<br />

propedêutico, segui<strong>do</strong> <strong>de</strong> um novo exame,<br />

após o qual os estudantes aprova<strong>do</strong>s teriam<br />

acesso aos diversos cursos universitários.<br />

Na prática, este último exame permitiu<br />

à maioria <strong>do</strong>s estudantes em causa frequentar<br />

a Universida<strong>de</strong> no ano lectivo 2001/02.<br />

No entanto, o excessivo número <strong>de</strong>stes alunos<br />

tem sobrecarrega<strong>do</strong> a capacida<strong>de</strong> da<br />

Universida<strong>de</strong>. A Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Economia,<br />

por exemplo, em vez <strong>do</strong> contingente anual<br />

lidar com a questão das hierarquias<br />

sociais e reflectir a realida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s processos<br />

<strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão a nível<br />

local.<br />

A socieda<strong>de</strong> tradicional timorense<br />

é profundamente hierarquizada, o que<br />

constitui um <strong>de</strong>safio para a<br />

introdução <strong>de</strong> certos conceitos <strong>de</strong>mocráticos,<br />

tais como a noção <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong>.<br />

No seio <strong>do</strong>s sistemas tradicionais,<br />

o Esta<strong>do</strong> é <strong>de</strong>sprovi<strong>do</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

para além <strong>do</strong>s elementos tradicionais<br />

que foram coopta<strong>do</strong>s pelas<br />

estruturas políticas coloniais. Os<br />

laços <strong>de</strong> parentesco da socieda<strong>de</strong><br />

timorense não incluem qualquer forma<br />

<strong>de</strong> individualismo, o que contrasta<br />

fortemente com as bases <strong>de</strong> qualquer<br />

sistema multi-partidário. Por outro<br />

la<strong>do</strong>, é pouca a confiança <strong>de</strong>positada<br />

em lí<strong>de</strong>res políticos que não<br />

possuam uma legitimida<strong>de</strong> ancestral<br />

e que não estejam liga<strong>do</strong>s a <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s<br />

objectos sagra<strong>do</strong>s e formas<br />

ancestrais <strong>de</strong> legitimação. Quaisquer<br />

iniciativas <strong>de</strong> educação cívica no<br />

senti<strong>do</strong> da educação para a cidadania<br />

<strong>de</strong>verão ter em conta estes<br />

paradigmas tradicionais.<br />

<strong>de</strong> 150 alunos viu-se a braços com mais<br />

389 alunos.<br />

A Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> po<strong>de</strong>rá<br />

vir a <strong>de</strong>parar-se com uma situação em que<br />

um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> alunos mal prepara<strong>do</strong>s<br />

po<strong>de</strong>rá vir a sobrecarregar cursos que<br />

oferecem escassas perspectivas <strong>de</strong> emprego.<br />

Por esse motivo, <strong>de</strong>verá reavaliar as suas<br />

priorida<strong>de</strong>s, procuran<strong>do</strong> ser uma instituição<br />

mais pequena e que enfatiza a qualida<strong>de</strong><br />

e que ao longo da próxima década <strong>de</strong>verá<br />

aplicar parte importante <strong>do</strong>s seus recursos<br />

na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências da Educação<br />

<strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a permitir formar a próxima<br />

geração <strong>de</strong> professores <strong>do</strong> ensino<br />

secundário. Um outro aspecto é o da qualida<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong>s professores universitários, a<br />

maioria <strong>do</strong>s quais não possui qualquer formação<br />

universitária ao nível da pósgraduação.<br />

A Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong>verá querer reavaliar<br />

as suas priorida<strong>de</strong>s e adaptar os seus cursos<br />

às necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> país. Parte muito importante<br />

<strong>do</strong>s seus recursos e <strong>do</strong>s seus alunos<br />

<strong>de</strong>verá ser concentrada na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Educação, com vista à formação da próxima<br />

geração <strong>de</strong> professores <strong>do</strong> ensino secundário.<br />

Outros cursos po<strong>de</strong>rão também<br />

ter <strong>de</strong> alterar a sua orientação, especialmente<br />

aqueles que reflectem fortemente o lega<strong>do</strong><br />

in<strong>do</strong>nésio. A Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciência Política,<br />

por exemplo, podia concentrar-se na<br />

preparação <strong>de</strong> pessoas para trabalharem na<br />

administração pública.<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> precisa <strong>de</strong> pessoas com<br />

formação universitária. Contu<strong>do</strong>, <strong>de</strong>verá<br />

fazê-lo evitan<strong>do</strong> cair na mesma armadilha<br />

em que caíram outros países em <strong>de</strong>senvolvimento,<br />

que promoveram o ensino universitário<br />

por uma questão <strong>de</strong> estatuto ou para<br />

satisfazer as necessida<strong>de</strong>s das famílias mais<br />

ricas. Pelo contrário, <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> <strong>de</strong>verá<br />

provavelmente apostar numa instituição<br />

universitária mais pequena mas com uma<br />

maior ênfase na qualida<strong>de</strong>—que eduque as<br />

pessoas segun<strong>do</strong> padrões internacionais <strong>de</strong><br />

qualida<strong>de</strong> e capazes <strong>de</strong> administrarem um<br />

Esta<strong>do</strong> mo<strong>de</strong>rno.<br />

Literacia entre os adultos<br />

Embora a priorida<strong>de</strong> imediata consista em<br />

assegurar a educação da actual geração <strong>de</strong><br />

crianças, <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> não po<strong>de</strong> ignorar a<br />

educação <strong>do</strong>s adultos. Não se trata apenas<br />

<strong>de</strong> satisfazer as necessida<strong>de</strong>s da meta<strong>de</strong> da<br />

população que teve pouco ou nenhum aces-<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


so ao sistema <strong>de</strong> ensino mas ajudar também<br />

no processo <strong>de</strong> construção da nação<br />

e, <strong>de</strong> uma forma mais geral, promover o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento humano ao permitir que<br />

as pessoas assumam um maior controle<br />

sobre as suas próprias vidas.<br />

Ten<strong>do</strong> em conta a futura importância<br />

que o português terá no futuro <strong>do</strong> país não<br />

é <strong>de</strong> admirar que a maioria das campanhas<br />

<strong>de</strong> alfabetização <strong>de</strong> adultos estejam a ser<br />

efectuadas nesta língua. Um exemplo disso<br />

mesmo é o da campanha brasileira<br />

implementada pela ‘Alfabetização Solidária’,<br />

cujo programa <strong>de</strong> alfabetização se iniciou<br />

em Junho <strong>de</strong> 2001 em to<strong>do</strong>s os distritos<br />

timorenses e que irá proporcionar formação<br />

a 3.500 adultos analfabetos.<br />

Um outro projecto brasileiro, <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong><br />

‘Telesalas’, propõe-se ensinar a língua<br />

portuguesa através da televisão. Este projecto<br />

visa melhorar o <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> português,<br />

bem como <strong>de</strong> algumas outras competências<br />

genéricas, por parte <strong>de</strong> mais 3.500<br />

pessoas. No caso <strong>de</strong>ste projecto, o grupoalvo<br />

é o <strong>de</strong> indivíduos na faixa <strong>do</strong>s 45-50<br />

anos que já possuem alguns conhecimentos<br />

<strong>de</strong> língua portuguesa. O projecto piloto está<br />

a <strong>de</strong>correr em 20 turmas <strong>do</strong> distrito <strong>de</strong> Dili,<br />

abrangen<strong>do</strong> 600 alunos, sen<strong>do</strong> que a próxima<br />

fase <strong>de</strong>verá incluir 70 turmas na totalida<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong>s distritos.<br />

Educação cívica<br />

Outra questão é <strong>de</strong>terminar quais os<br />

conhecimentos que a generalida<strong>de</strong> da<br />

população <strong>de</strong>verá possuir <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a<br />

viabilizar o novo Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>.<br />

Até agora e compreensivelmente, a<br />

educação cívica tem-se centra<strong>do</strong> nos mecanismos<br />

<strong>de</strong> votação e nas eleições. No entanto,<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento humano exige<br />

uma visão muito mais ampla e participativa<br />

da <strong>de</strong>mocracia, não apenas como um objectivo<br />

mas sobretu<strong>do</strong> enquanto processo<br />

permanente, uma forma <strong>de</strong> estar na vida.<br />

Assim, a educação cívica po<strong>de</strong>rá também<br />

procurar promover:<br />

• O conhecimento cívico—as informações e<br />

conhecimentos fundamentais <strong>de</strong> que as<br />

pessoas precisam para serem cidadãos<br />

eficazes e responsáveis;<br />

• As competências cívicas—a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

compreen<strong>de</strong>r e comparar diferentes<br />

princípios e práticas <strong>de</strong> governação. Isto<br />

inclui a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervir na vida<br />

O HORIZONTE DA EDUCAÇÃO<br />

pública <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a controlar e influenciar<br />

as políticas públicas.<br />

• As virtu<strong>de</strong>s cívicas—os traços <strong>de</strong> carácter<br />

necessários para sustentar e melhorar a<br />

governação <strong>de</strong>mocrática e a cidadania.<br />

Tais traços incluem o respeito pelo valor<br />

e pela dignida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada pessoa, a<br />

tolerância e a igualda<strong>de</strong>.<br />

Através da aquisição <strong>de</strong>stas competências,<br />

os cidadãos ficam em muito melhor posição<br />

para assegurar e aprofundar a <strong>de</strong>mocracia<br />

pela qual lutaram, toman<strong>do</strong> parte no<br />

processo <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões sobre<br />

políticas nacionais e locais. Isto po<strong>de</strong>rá exigir<br />

a combinação <strong>de</strong> formas mo<strong>de</strong>rnas e<br />

formas tradicionais <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão<br />

(caixa 4.1).<br />

Estas mesmas competências permitirão<br />

construir uma socieda<strong>de</strong> pacífica, na qual<br />

se vai progressivamente alcançan<strong>do</strong> consenso<br />

acerca <strong>de</strong> qual o comportamento que a<br />

maioria das pessoas gostaria <strong>de</strong> ver no seu<br />

novo país. De entre estas, a mais importante<br />

é a coexistência pacífica, a qual implica<br />

não só a ausência <strong>de</strong> violência entre as diversas<br />

comunida<strong>de</strong>s e no interior <strong>de</strong> cada<br />

uma <strong>de</strong>las, mas também no seio <strong>do</strong> próprio<br />

lar, on<strong>de</strong> a maior parte da violência é<br />

dirigida contra as mulheres. Mas existem<br />

muitas outras questões em relação às quais<br />

a educação cívica po<strong>de</strong>rá ser muito benéfica.<br />

Uma <strong>de</strong>las, por exemplo, consiste na<br />

informação acerca <strong>do</strong>s riscos <strong>do</strong> HIV/<br />

SIDA, que são praticamente <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong>s<br />

para a maior parte das pessoas.<br />

Em certa medida, a educação cívica terá<br />

<strong>de</strong> começar pelos professores, confian<strong>do</strong><br />

neles para comunicar i<strong>de</strong>ias não apenas nas<br />

escolas mas também para a comunida<strong>de</strong><br />

em geral, especialmente nas áreas rurais.<br />

Outras instituições <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, como a polícia,<br />

po<strong>de</strong>rão também ajudar.<br />

O horizonte da educação<br />

A educação é uma das principais questões<br />

analisadas neste relatório <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano porque colocar o sistema<br />

educativo no caminho certo é crucial para<br />

o futuro <strong>do</strong> país. A melhoria <strong>do</strong>s padrões<br />

educacionais repercutir-se-á sobre toda a<br />

socieda<strong>de</strong>. Pessoas mais instruídas estão em<br />

melhor posição para inovar e melhorar não<br />

só as suas próprias vidas mas também as<br />

vidas <strong>do</strong>s outros. Mulheres mais instruídas<br />

estão em melhor posição para cuidar da<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano exige uma<br />

visão ampla e<br />

participativa da<br />

<strong>de</strong>mocracia<br />

59


60<br />

sua própria saú<strong>de</strong> e da saú<strong>de</strong> <strong>do</strong>s seus filhos.<br />

Finalmente, pessoas mais educadas<br />

estão em melhor posição para efectuarem<br />

escolhas no que diz respeito ao <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano <strong>de</strong> si mesmas e <strong>do</strong> seu país.<br />

Planear a educação em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> será<br />

difícil. A dificultá-lo está uma gran<strong>de</strong> escas-<br />

sez <strong>de</strong> recursos e <strong>de</strong> pessoal qualifica<strong>do</strong> e<br />

as complexida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong><br />

multilingue. Porém, as opções terão <strong>de</strong> ser<br />

efectuadas o mais ce<strong>do</strong> possível se se quiser<br />

que a próxima geração tire vantagens<br />

<strong>do</strong> futuro <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> enquanto país<br />

<strong>de</strong>mocrático.<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


Capítulo 5<br />

Crescimento económico para<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento humano<br />

Progredir no <strong>de</strong>senvolvimento humano em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

significará também o início <strong>de</strong> um novo percurso económico,<br />

tornan<strong>do</strong> a agricultura mais produtiva e <strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong> outras<br />

oportunida<strong>de</strong>s, incluin<strong>do</strong> o turismo e o petróleo e o gás.<br />

Mas o <strong>de</strong>senvolvimento económico terá <strong>de</strong> se concentrar<br />

firmemente na procura <strong>de</strong> benefícios evi<strong>de</strong>ntes para a maioria<br />

<strong>do</strong> povo <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>.<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> é um país pobre, com um PIB<br />

per capita <strong>de</strong> apenas $478 em 2001 e uma<br />

frágil base económica. A agricultura proporciona<br />

ganhos reduzi<strong>do</strong>s à maioria da<br />

população enquanto, por outro la<strong>do</strong>, aparece<br />

nas cida<strong>de</strong>s uma crescente economia<br />

<strong>de</strong> serviços. No entanto, como <strong>de</strong>monstra<br />

a figura 5.1, o maior sector em valor é o da<br />

administração pública, que representa mais<br />

<strong>de</strong> um quarto <strong>do</strong> PIB.<br />

A actual estrutura económica foi, em<br />

gran<strong>de</strong> medida, moldada quer pela administração<br />

portuguesa quer pela in<strong>do</strong>nésia<br />

(caixa 5.1). Durante a era portuguesa os rendimentos<br />

provinham principalmente das<br />

plantações e a economia no seu to<strong>do</strong> estagnou.<br />

Contu<strong>do</strong>, durante o perío<strong>do</strong><br />

in<strong>do</strong>nésio a economia <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>, tal<br />

como as das outras províncias da In<strong>do</strong>nésia,<br />

sofreu uma mudança estrutural rápida: diminuição<br />

da agricultura e expansão <strong>do</strong>s serviços<br />

basea<strong>do</strong>s nos centros urbanos. Como<br />

resulta<strong>do</strong>, a contribuição da agricultura baixou<br />

<strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 60% em 1981 para 42%<br />

em 1986, para 37% em 1990 e para 25%<br />

em 1998.<br />

Gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>sta mudança foi resulta<strong>do</strong><br />

da activida<strong>de</strong> <strong>do</strong> governo e <strong>do</strong> seu<br />

investimento. Durante mais <strong>de</strong> duas décadas,<br />

os gastos governamentais representaram<br />

cerca <strong>de</strong> 20% <strong>do</strong> PIB e a construção<br />

outros 20%. Comércio, hotéis e restaurantes<br />

também aumentaram mas as manufacturas<br />

e a mineração continuaram a ser<br />

reduzidas.<br />

Esta mudança foi acompanhada por um<br />

rápi<strong>do</strong> crescimento económico. O perío<strong>do</strong><br />

inicial <strong>de</strong> <strong>do</strong>mínio in<strong>do</strong>nésio—1975-82—<br />

foi um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> consolidação e<br />

estabilização mas <strong>de</strong>pois a economia<br />

começou a crescer a uma taxa respeitável.<br />

Durante o perío<strong>do</strong> 1983-90, o crescimento<br />

real <strong>do</strong> PIB foi <strong>de</strong> 7,8% e durante o perío<strong>do</strong><br />

1990-96 a economia expandiu-se anualmente<br />

cerca <strong>de</strong> 10%. Então, em 1997 e<br />

como resulta<strong>do</strong> da crise asiática, o crescimento<br />

diminuiu para os 4% e em 1998, finalmente,<br />

a economia afun<strong>do</strong>u-se 2%.<br />

Muito <strong>de</strong>ste crescimento foi estimula<strong>do</strong> por<br />

transferências directas <strong>de</strong> Jakarta, que em<br />

mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s anos 90 representavam $150<br />

milhões por ano. O governo In<strong>do</strong>nésio estava<br />

a gastar muito mais <strong>do</strong> que o rendimento<br />

que obtinha localmente—o défice<br />

fiscal em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> foi estima<strong>do</strong> em cerca<br />

<strong>de</strong> <strong>do</strong>is terços <strong>do</strong> PIB.<br />

Enquanto o governo investia, o sector<br />

priva<strong>do</strong>, externo ou interno, estava largamente<br />

ausente. Raramente os investi<strong>do</strong>res<br />

estrangeiros entravam na província e<br />

Figura 5.1<br />

PIB por sector<br />

Administração<br />

pública p<br />

e <strong>de</strong>fesa<br />

28%<br />

Outros<br />

serviços<br />

6%<br />

Comércio,<br />

restaurantes<br />

e hotéis, 8%<br />

Fonte: Quadro Anexo 8<br />

Transportes<br />

e comunicações<br />

8%<br />

CRESCIMENTO ECONÓMICO PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO<br />

Agricultura<br />

21%<br />

Minerais e<br />

manufacturas<br />

6%<br />

Construção<br />

23%<br />

61


Muitos <strong>do</strong>s frutos<br />

<strong>de</strong> crescimento<br />

foram para nãotimorenses<br />

62<br />

mesmo os investi<strong>do</strong>res locais eram difíceis<br />

<strong>de</strong> encontrar: em mea<strong>do</strong>s <strong>de</strong> 1999 a<br />

Comissão <strong>de</strong> Investimentos registou apenas<br />

10 projectos <strong>de</strong> investi<strong>do</strong>res locais.<br />

Apesar <strong>de</strong>sta <strong>de</strong>pendência <strong>do</strong>s gastos<br />

governamentais in<strong>do</strong>nésios, a economia <strong>de</strong><br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> cresceu <strong>de</strong> uma forma marginalmente<br />

mais rápida <strong>do</strong> que a da In<strong>do</strong>nésia<br />

como um to<strong>do</strong>: durante o perío<strong>do</strong> 1983-<br />

97, o crescimento médio foi <strong>de</strong> 5,6% ao<br />

ano, compara<strong>do</strong> com 5,1% para a In<strong>do</strong>nésia.<br />

Infelizmente, muitos <strong>do</strong>s frutos <strong>de</strong>ste<br />

crescimento foram para não-timorenses.<br />

Apesar das pessoas locais terem beneficia<strong>do</strong><br />

das estradas construídas para os militares<br />

e <strong>do</strong> investimento público em saú<strong>de</strong> e<br />

educação, os principais beneficia<strong>do</strong>s foram<br />

os In<strong>do</strong>nésios. Isto incluiu funcionários<br />

públicos <strong>do</strong>s escalões mais altos e militares<br />

das forças militares, quase to<strong>do</strong>s vin<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

fora <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>. A maioria <strong>do</strong>s<br />

empresários da construção civil também<br />

vieram <strong>de</strong> fora da província.<br />

Os outros beneficiários principais foram<br />

migrantes que tinham chega<strong>do</strong> <strong>de</strong> outras<br />

partes <strong>do</strong> leste da In<strong>do</strong>nésia, os pendatang.<br />

Muitos <strong>de</strong>les eram familiares <strong>de</strong><br />

funcionários civis ou militares ou pagavamlhes<br />

subornos e <strong>do</strong>minavam o comércio e<br />

outros serviços. Entretanto, os timorenses,<br />

especialmente os que tinham educação,<br />

tinham cada vez maiores dificulda<strong>de</strong>s em<br />

encontrar trabalho. Apesar das estatísticas<br />

para o <strong>de</strong>semprego serem suspeitas, estimativas<br />

sugerem que em 1998 o <strong>de</strong>semprego<br />

aberto era <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 6% e o<br />

subemprego era <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 11%.<br />

Este perío<strong>do</strong> também viu o estabelecimento<br />

<strong>de</strong> uma economia a duas velocida<strong>de</strong>s<br />

porque embora a agricultura continuasse<br />

a empregar três quartos da força <strong>de</strong><br />

trabalho, a sua contribuição para o PIB<br />

baixou enquanto os serviços se expandiam.<br />

Por volta <strong>de</strong> 1996 <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> era uma<br />

das províncias mais pobres da In<strong>do</strong>nésia.<br />

O seu PIB per capita, então <strong>de</strong> $429, era<br />

menos <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> da média In<strong>do</strong>nésia<br />

($1.153). Os seus níveis <strong>de</strong> pobreza eram<br />

duas vezes mais altos, com cerca <strong>de</strong> 32%<br />

das famílias a viver em situação <strong>de</strong> pobreza<br />

<strong>de</strong> rendimentos. Os indica<strong>do</strong>res sociais também<br />

eram muito piores: a esperança <strong>de</strong> vida<br />

à nascença, nos 54 anos, era <strong>de</strong>z anos inferior<br />

à média da In<strong>do</strong>nésia e a taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong><br />

infantil, <strong>de</strong> 100 por mil na<strong>do</strong>-vivos,<br />

estava entre as maiores <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />

Devastação económica em 1999<br />

Apesar das pessoas <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> já serem<br />

pobres, elas empobreceram ainda mais<br />

com o início da violência que começou em<br />

30 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 1999. A <strong>de</strong>struição que se<br />

seguiu causou enorme sofrimento humano<br />

e forçou mais <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> da população a<br />

<strong>de</strong>ixar as suas casas. Mas, a violência também<br />

afectou profundamente a infraestrutura económica<br />

e social <strong>do</strong> país:<br />

• Infraestrutura social—cerca <strong>de</strong> 80% das<br />

escolas e clínicas foram completa ou parcialmente<br />

<strong>de</strong>struídas.<br />

• Agricultura—entrou em ruptura parcial<br />

e uma parte significativa <strong>do</strong>s animais foi<br />

perdida. De acor<strong>do</strong> com o Inquérito aos<br />

Sucos, as famílias per<strong>de</strong>ram 58% das cabras,<br />

48% <strong>do</strong> ga<strong>do</strong> e 47% <strong>do</strong>s porcos.<br />

• Energia—Dili per<strong>de</strong>u cerca <strong>de</strong> um terço<br />

da sua capacida<strong>de</strong> gera<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> energia.<br />

As outras capitais <strong>de</strong> distrito per<strong>de</strong>ram<br />

ainda mais—umas pelo menos 50% e<br />

outras quase 90%.<br />

• Comunicações—a maior parte das 12.000<br />

linhas telefónicas foram danificadas, os<br />

merca<strong>do</strong>s entraram em colapso e houve<br />

severos cortes nos transportes.<br />

• Administração—per<strong>de</strong>ram-se os arquivos<br />

governamentais e outros <strong>do</strong>cumentos.<br />

• Sistema bancário—os escritórios regionais<br />

<strong>do</strong> banco central, juntamente com os <strong>de</strong><br />

outros bancos, foram pilha<strong>do</strong>s ou<br />

<strong>de</strong>struí<strong>do</strong>s. Todas as transacções passaram<br />

a ser feitas em dinheiro.<br />

Quase tão grave para a economia foi, contu<strong>do</strong>,<br />

a perda <strong>de</strong> pessoas qualificadas. Na<br />

função pública, das cerca <strong>de</strong> 28.000 pessoas,<br />

quase um quarto não era timorense e<br />

ocupava as posições <strong>de</strong> topo na Administração,<br />

incluin<strong>do</strong> juízes, promotores <strong>de</strong> justiça<br />

e polícias. Como resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong>sta <strong>de</strong>struição,<br />

a economia afun<strong>do</strong>u-se dramaticamente—entre<br />

1998 e 1999 o PIB real caiu<br />

33%. A inflação disparou: entre Agosto e<br />

Outubro <strong>de</strong> 1999 os índices <strong>de</strong> preços no<br />

consumi<strong>do</strong>r para os pobres em Dili aumentou<br />

200% e o preço <strong>do</strong>s bens manufactura<strong>do</strong>s<br />

aumentou mais <strong>de</strong> 500%.<br />

Renascimento económico sob o UNTAET<br />

Em Setembro <strong>de</strong> 1999, a primeira força<br />

multinacional, INTERFET, chegou para<br />

restaurar a paz e a segurança. Entretanto,<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


várias organizações e comunida<strong>de</strong>s<br />

timorenses mobilizaram-se rapidamente<br />

para começarem o processo <strong>de</strong> reconstrução.<br />

Estas incluíam o Conselho Nacional<br />

da Resistência <strong>Timor</strong>ense (CNRT), a Igreja<br />

Católica e algumas ONGs locais.<br />

A comunida<strong>de</strong> internacional também<br />

estava a coor<strong>de</strong>nar o seu apoio. Este incluiu:<br />

• A Administração Transitória das Nações<br />

Unidas em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> (UNTAET)—em 25<br />

<strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1999, o Conselho <strong>de</strong> Segurança<br />

das Nações Unidas criou a UNTAET<br />

para administrar o território e exercer os<br />

po<strong>de</strong>res legislativo e executivo durante o<br />

perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> transição. A UNTAET teria um<br />

orçamento <strong>de</strong> $700 milhões por ano <strong>do</strong><br />

orçamento das Nações Unidas.<br />

• Missão Conjunta <strong>de</strong> Avaliação—em Outubro/Novembro<br />

<strong>de</strong> 1999, o Banco Mundial<br />

conduziu uma missão para i<strong>de</strong>ntificar os<br />

objectivos <strong>de</strong> reconstrução e estimar as<br />

necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> financiamento externo.<br />

• ‘Trust Fund’ para <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> (TFET)—<br />

Em 9 <strong>de</strong> Dezembro o Banco Mundial<br />

estabeleceu o TFET para ajudar <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

no processo <strong>de</strong> transição para a in<strong>de</strong>pendência.<br />

O TFET tem si<strong>do</strong> administra<strong>do</strong><br />

pelo Banco Mundial.<br />

• Conferência Internacional <strong>de</strong> Doa<strong>do</strong>res—em<br />

17 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 1999, em Tóquio,<br />

<strong>do</strong>a<strong>do</strong>res <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 50 países e agências<br />

internacionais garantiram um total <strong>de</strong> $523<br />

milhões para três anos para a reconstrução<br />

<strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>. Eles concordaram em <strong>do</strong>ar<br />

esta verba ao TFET para projectos <strong>de</strong><br />

reconstrução em to<strong>do</strong>s os sectores e também<br />

para contribuir para um fun<strong>do</strong> consolida<strong>do</strong><br />

para <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> (CFET), geri<strong>do</strong><br />

pela UNTAET, para pagar os custos administrativos<br />

<strong>do</strong> governo e os projectos para<br />

<strong>de</strong>senvolver as capacida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s timorenses.<br />

Apesar <strong>de</strong> inúmeros obstáculos, os<br />

<strong>do</strong>a<strong>do</strong>res conseguiram alcançar razoáveis níveis<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sembolsos e estabeleceram um<br />

conjunto <strong>de</strong> instituições <strong>de</strong> ajuda. Até à data,<br />

as maiores ajudas vieram principalmente <strong>de</strong><br />

cinco países: Japão ($129 milhões), Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s ($98 milhões), Portugal ($91<br />

milhões), União Europeia ($68 milhões) e<br />

Austrália ($44 milhões). A maior diferença<br />

entre compromissos e <strong>de</strong>sembolsos tem<br />

aconteci<strong>do</strong> para infraestruturas, enquanto os<br />

<strong>de</strong>sembolsos para a construção <strong>de</strong> capaci-<br />

da<strong>de</strong>s e assistência técnica tem esta<strong>do</strong> mais<br />

em linha com os compromissos.<br />

Perspectiva macroeconómica e fiscal<br />

Este apoio externo e a restauração da lei e<br />

da or<strong>de</strong>m ajudaram a estimular a recuperação<br />

económica. O esforço <strong>de</strong> reconstrução<br />

foi particularmente intenso em 2000/<br />

01 e 2001/02 e o investimento total está<br />

projecta<strong>do</strong> para ser em média cerca <strong>de</strong> 50%<br />

<strong>do</strong> PIB durante estes anos. O crescimento<br />

foi <strong>de</strong> 15% em 2000 e 18% em 2001. O<br />

crescimento previsto para 2001/02 é igualmente<br />

forte, <strong>de</strong> 15%, apesar <strong>de</strong> ser bastante<br />

inferior a partir daí.<br />

Apesar <strong>de</strong> ter havi<strong>do</strong> uma recuperação<br />

em muitos sectores, a maior onda <strong>de</strong> crescimento<br />

<strong>de</strong>u-se em Dili, principalmente na<br />

construção, reconstrução e expansão <strong>de</strong> serviços<br />

<strong>de</strong> apoio aos funcionários internacionais.<br />

Mas, este é apenas um impulso temporário<br />

e transformar-se-á num refluxo<br />

com a retirada gradual <strong>do</strong> pessoal das<br />

Nações Unidas durante o ano <strong>de</strong> <strong>2002</strong>. Na<br />

altura da conclusão <strong>do</strong> mandato da<br />

UNTAET, cerca <strong>de</strong> 75% <strong>do</strong> staff internacional<br />

terá já si<strong>do</strong> retira<strong>do</strong>. Dili sofrerá o<br />

embate <strong>de</strong>ste refluxo particularmente nos<br />

hotéis, restaurantes e serviços <strong>do</strong>mésticos,<br />

bem como nos rendimentos provenientes<br />

Caixa 5.1<br />

Administração<br />

Portuguesa<br />

1900-60<br />

Administração<br />

Portuguesa<br />

1960-75<br />

Economia<br />

in<strong>do</strong>nésia<br />

1975-80<br />

<strong>de</strong> guerra<br />

<strong>Desenvolvimento</strong> leva<strong>do</strong> a<br />

cabo pela In<strong>do</strong>nésia<br />

1980-99<br />

UNTAET<br />

2000-02<br />

CRESCIMENTO ECONÓMICO PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO<br />

Perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento económico<br />

<strong>Desenvolvimento</strong> agrícola<br />

Plantações <strong>de</strong> café<br />

Inauguração da companhia agrícola SAPT<br />

Introdução <strong>de</strong> novas sementes<br />

Plano <strong>de</strong> Fomento (Plano quinquenal <strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong>)<br />

Introdução <strong>de</strong> novas plantas (canela, cacau<br />

e outros frutos)<br />

Infraestrutura, agricultura, educação e saú<strong>de</strong><br />

Destruição, reabilitação, consolidação e<br />

restruturação<br />

Plano <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento a curto prazo<br />

Priorida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Plano <strong>de</strong> quinquenal <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da<strong>do</strong> à agricultura, educação, saú<strong>de</strong>,<br />

sector público, transportes e comunicações<br />

e <strong>de</strong>senvolvimento rural<br />

Reconstrução e reabilitação<br />

Criação <strong>de</strong> uma ‘bolha’ economia<br />

63


64<br />

Caixa 5.2<br />

das rendas das casas. Espera-se, no entanto,<br />

que esta inevitável contracção seja compensada<br />

por melhorias noutras áreas, como a<br />

agricultura. Para <strong>2002</strong>/03 parece provável<br />

que o crescimento global seja <strong>de</strong> zero. A<br />

partir daí uma forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

mais equilibrada e sustentável po<strong>de</strong>rá lançar<br />

o país numa senda <strong>de</strong> crescimento mais<br />

estável.<br />

O perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> transição viu também<br />

uma súbita queda na poupança <strong>do</strong>méstica.<br />

Durante o perío<strong>do</strong> 1995-97 estas representavam<br />

cerca <strong>de</strong> 20% <strong>do</strong> PIB mas tornaramse<br />

negativas <strong>de</strong> 1999 em diante. Nos próximos<br />

anos as poupanças <strong>de</strong>veriam regressar<br />

ao seu nível normal.<br />

A balança <strong>de</strong> pagamentos também foi<br />

seriamente afectada. Dada a falta <strong>de</strong> disponibilida<strong>de</strong><br />

local <strong>de</strong> muitos <strong>do</strong>s bens e<br />

serviços necessários durante o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

reconstrução, teve <strong>de</strong> se importar a maioria<br />

<strong>do</strong>s bens. Como resulta<strong>do</strong>, as contas externas<br />

tiveram enormes défices nos anos fiscais<br />

<strong>de</strong> 2000/01 e 2001/02, que terão to<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong> ser financia<strong>do</strong>s por <strong>do</strong>ações externas ou<br />

investimento estrangeiro.<br />

Uma produção familiar <strong>de</strong> milho <strong>de</strong> subsistência<br />

A família <strong>de</strong> subsistência típica produtora<br />

<strong>de</strong> milho é normalmente constituída<br />

por cerca <strong>de</strong> sete pessoas. Vivem<br />

próximo <strong>do</strong> resto da família<br />

alargada, numa al<strong>de</strong>ia e numa casa<br />

com um pequeno terreno ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />

qual a mulher da família cria normalmente<br />

uma série <strong>de</strong> vegetais. Depen<strong>de</strong>n<strong>do</strong><br />

da localida<strong>de</strong> e <strong>do</strong>s solos, estes<br />

po<strong>de</strong>m incluir batata <strong>do</strong>ce, abóbora,<br />

mandioca, batata branca, feijões,<br />

ervilha e várias sementes. Há<br />

também, normalmente, árvores <strong>de</strong><br />

fruto. A alguma distância <strong>de</strong> casa, o<br />

homem cultiva cerca <strong>de</strong> meio hectare<br />

<strong>de</strong> milho, que é planta<strong>do</strong> em<br />

consociação com abóbora, batata<br />

<strong>do</strong>ce e feijões. A produção média<br />

<strong>do</strong> terreno será <strong>de</strong> 900 Kg <strong>de</strong> milho,<br />

cerca <strong>de</strong> 130 Kg por pessoa.<br />

Nenhum <strong>de</strong>ste milho é vendi<strong>do</strong>,<br />

apesar <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r acontecer alguma<br />

(pequena) troca <strong>de</strong> géneros. O arroz<br />

<strong>de</strong> sequeiro tem uma importância reduzida,<br />

sen<strong>do</strong> cultiva<strong>do</strong> por uma minoria<br />

<strong>de</strong> famílias que obtêm baixas<br />

produções. A mandioca, taro e sagu<br />

são valoriza<strong>do</strong>s porque po<strong>de</strong>m ser<br />

consumi<strong>do</strong>s nas épocas <strong>de</strong> baixas<br />

produções <strong>de</strong> milho e vegetais.<br />

O número <strong>de</strong> cabeças <strong>de</strong> ga<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>ti<strong>do</strong>s pela família é um bom indica<strong>do</strong>r<br />

<strong>de</strong> riqueza. As famílias mais<br />

pobres <strong>de</strong> entre os pobres não têm<br />

ga<strong>do</strong> ou, na melhor das hipóteses,<br />

têm algumas aves <strong>do</strong>mésticas e talvez<br />

um porco.<br />

As que têm um pouco mais posses<br />

terão vários porcos e cabras. As<br />

famílias mo<strong>de</strong>radamente ricas têm vários<br />

bois ou búfalos enquanto as mais<br />

ricas terão muitos.<br />

Historicamente, todas as famílias<br />

das zonas rurais mais altas excepto<br />

as mais ricas subsistiram sempre fora<br />

da economia monetária. As expectativas<br />

correntes das famílias das zonas<br />

mais altas que não têm café ou ga<strong>do</strong><br />

são reduzidas.<br />

Não vêem outro futuro que não<br />

seja o da subsistência. Quan<strong>do</strong> questiona<strong>do</strong>s<br />

acerca das suas esperanças<br />

e expectativas, a maioria irá apenas<br />

encolher os ombros.<br />

Alguns dirão que querem ver os<br />

seus filhos com alguma educação. A<br />

maior parte <strong>de</strong>les acha difícil pensar<br />

noutra coisa a não ser nos problemas<br />

da vida <strong>do</strong> dia-a-dia e na permanente<br />

batalha pela sobrevivência.<br />

Os primeiros anos da nova administração<br />

irão também obrigar a significativos<br />

défices orçamentais. Isto está indica<strong>do</strong> no<br />

quadro 5.1, que foi prepara<strong>do</strong> para a Conferência<br />

<strong>de</strong> <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res em Dezembro <strong>de</strong><br />

2001, em Oslo.<br />

Isto mostra que em <strong>2002</strong>/03, <strong>de</strong> um<br />

orçamento total <strong>de</strong> $100 milhões, apenas<br />

$34 milhões po<strong>de</strong>m ser cobertos por<br />

cobrança interna <strong>de</strong> recursos, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> $64<br />

milhões para ser financia<strong>do</strong>s pela ajuda externa—apesar<br />

<strong>de</strong> este valor ser<br />

complementa<strong>do</strong> por outros fluxos <strong>de</strong> ajuda<br />

bilateral que são consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s financiamento<br />

‘fora <strong>do</strong> orçamento’. As projecções<br />

para mais anos estimam que os rendimentos<br />

internos resultantes <strong>de</strong> impostos irão<br />

crescer e que em 2005/06 <strong>de</strong>vem gerar um<br />

exce<strong>de</strong>nte orçamental.<br />

Esta alteração <strong>de</strong> rendimentos em mea<strong>do</strong>s<br />

da década é largamente o resulta<strong>do</strong> da<br />

previsão <strong>de</strong> substanciais rendimentos petrolíferos—suficientes<br />

para cobrir os gastos <strong>do</strong><br />

CFET e também para um mo<strong>de</strong>sto programa<br />

<strong>de</strong> investimentos que suceda ao<br />

TFET. No entanto, o objectivo <strong>de</strong> longo<br />

prazo é <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r mais <strong>do</strong> sector priva<strong>do</strong><br />

para os rendimentos não-petrolíferos. Isto<br />

<strong>de</strong>verá permitir que os gastos correntes<br />

aumentem 3% anualmente durante os 20<br />

anos <strong>de</strong> rendimentos <strong>do</strong> petróleo bem<br />

como permitir a realização <strong>de</strong> poupanças<br />

<strong>de</strong>stes rendimentos suficientes para financiar<br />

<strong>de</strong>spesas futuras<br />

Planean<strong>do</strong> o futuro<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> precisa <strong>de</strong> estabelecer um<br />

enquadramento para o planeamento que<br />

permita a <strong>de</strong>finição e implementação <strong>de</strong><br />

políticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. Os objectivos<br />

<strong>de</strong>vem incluir:<br />

• Reforçar e diversificar a base económica;<br />

• Promover uma distribuição mais<br />

equitativa <strong>do</strong>s benefícios <strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento;<br />

• Alargar as oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s<br />

rentáveis nos <strong>do</strong>mínios social e<br />

económico;<br />

• Aumentar a auto-suficiência económica;<br />

• Utilizar os recursos naturais <strong>de</strong> uma<br />

forma sustentável<br />

Fazer a economia <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> caminhar<br />

no senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu caminho óptimo<br />

<strong>de</strong> crescimento exigirá investimentos subs-<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


Quadro 5.1<br />

Estimativas orçamentais e <strong>de</strong> financiamento externo, <strong>2002</strong>-06 (milhões <strong>de</strong> $)<br />

Projecções orçamentais<br />

<strong>2002</strong>-03 2003-04 2004-05 total <strong>de</strong> 3 anos 2005-06<br />

Despesas correntes 67 82 85 235 90<br />

Despesas <strong>de</strong> Capital & <strong>Desenvolvimento</strong>1 30 30 30 75-105 32<br />

das quais: CFET (Administração & Justiça) 13 18 18 48 19<br />

Capital Sectorial & <strong>Desenvolvimento</strong> 17 12 12 27-57 13<br />

Despesas Totais orçamentadas1 97 112 115 310-340 122<br />

Receitas Internas<br />

Necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> financiamento externo<br />

34 51 71 156 185<br />

<strong>do</strong> sector público1 63 61 44 154-184<br />

Estimativas para projectos bilaterais:<br />

Previsões (incluin<strong>do</strong> projectos existentes) 1 50 35 25 100-120 10<br />

Necessida<strong>de</strong>s adicionais <strong>de</strong> RH: 200 postos2 10 10 10 30 10<br />

Despesas <strong>de</strong> Capital & <strong>Desenvolvimento</strong><br />

<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> transição<br />

10 5 5 20 -<br />

Estimativa <strong>do</strong> financiamento total extra-orçamento1 70 50 40 150-170 20<br />

Estimativa <strong>do</strong> total <strong>do</strong> financiamento externo 1 133 131 84 150-170 20<br />

Por memória: estimativas <strong>de</strong> <strong>de</strong>spesas TFET 51 13 0 304-354 0<br />

Notas: 1. Os números únicos representam o ponto médio <strong>de</strong> possíveis intervalos <strong>de</strong> variação. 2. As estimativas preliminares <strong>do</strong><br />

PNUD são <strong>de</strong> 24 milhões por ano. Contu<strong>do</strong>, os custos adicionais <strong>de</strong>vem ser substancialmente menos significativos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong><br />

da medida em que os postos <strong>de</strong> trabalho forem preenchi<strong>do</strong>s através <strong>de</strong> Assistência Técnica bilateral, UNVs ou outros programas<br />

<strong>de</strong> voluntários. As discrepâncias nos totais <strong>de</strong>vem-se aos arre<strong>do</strong>ndamentos.<br />

Fonte: UNTAET/ETTA/World Bank (2001)<br />

tanciais—em infraestruturas, em expansão<br />

da capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s sectores produtivos, em<br />

aumentos das capacida<strong>de</strong>s institucionais e<br />

administrativas tanto <strong>do</strong> sector público<br />

como <strong>do</strong> sector priva<strong>do</strong> e na manutenção<br />

<strong>de</strong> políticas económicas correctas e flexíveis.<br />

Irá também exigir um ambiente regula<strong>do</strong>r<br />

claro e estável. Mas, acima <strong>de</strong> tu<strong>do</strong><br />

irá necessitar <strong>de</strong> investimentos consistentes<br />

nas pessoas—na sua saú<strong>de</strong>, educação e<br />

qualificações.<br />

<strong>Desenvolvimento</strong> rural<br />

No futuro previsível, a agricultura irá continuar<br />

a empregar quase três quartos da força<br />

<strong>de</strong> trabalho. De acor<strong>do</strong> com o Inquérito<br />

aos Sucos <strong>de</strong> 2001, a agricultura é a principal<br />

fonte <strong>de</strong> rendimento em 94% <strong>do</strong>s sucos,<br />

<strong>de</strong> forma que, apesar <strong>de</strong> não ser um<br />

motor <strong>do</strong> crescimento económico—expandin<strong>do</strong>-se<br />

apenas à volta <strong>do</strong>s 6% ao ano—a<br />

agricultura produtiva <strong>de</strong>ve estar ainda no<br />

centro <strong>de</strong> qualquer estratégia <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano. Os maiores esforços <strong>de</strong>vem<br />

ser orienta<strong>do</strong>s para ajudar os agricultores<br />

pobres a aumentarem as produções<br />

<strong>de</strong> cereais (quadro 5.2), mas existe também<br />

um espaço consi<strong>de</strong>rável para <strong>de</strong>senvolver<br />

importantes culturas <strong>de</strong> plantação, particularmente<br />

café, cacau e bananas.<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> tem, em termos gerais, três<br />

tipos <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> subsistência:<br />

• Produtores <strong>de</strong> cereais nas terras altas—a maioria<br />

da população <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> viveu<br />

sempre nas montanhas, cultivan<strong>do</strong> fundamentalmente<br />

milho juntamente com mandioca,<br />

arroz e batata <strong>do</strong>ce. Das 120.000<br />

famílias produtoras <strong>de</strong> milho, cerca <strong>de</strong> um<br />

terço também tinha árvores <strong>de</strong> café <strong>de</strong> que<br />

obtinham rendimentos monetários. Um número<br />

mais pequeno também tem acesso a<br />

terras húmidas mas a maioria, provavelmente<br />

mais <strong>de</strong> 70.000 famílias que são mais pobres,<br />

têm pouca ou nenhuma hipótese <strong>de</strong><br />

obterem rendimentos monetários. Um breve<br />

perfil <strong>de</strong> uma família típica é dada na<br />

caixa 5.2.<br />

• Produtores <strong>de</strong> arroz nas terras húmidas—estes,<br />

que po<strong>de</strong>rão ser entre 6.000 e 12.000<br />

famílias, ten<strong>de</strong>m a ter uma existência com<br />

maior segurança alimentar por produzirem<br />

CRESCIMENTO ECONÓMICO PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO<br />

65


A maioria das<br />

famílias rurais<br />

estão actualmente<br />

numa situação<br />

muito incerta<br />

66<br />

principalmente arroz mas também um pouco<br />

<strong>de</strong> milho <strong>de</strong> forma a dispersar o risco.<br />

Durante a era in<strong>do</strong>nésia, muitos produziam<br />

exce<strong>de</strong>ntes mas actualmente a maioria<br />

regressou ao nível <strong>de</strong> subsistência, esperan<strong>do</strong><br />

para ver como o merca<strong>do</strong> irá <strong>de</strong>senvolver-se<br />

e quanto eles terão <strong>de</strong> gastar em<br />

inputs.<br />

• Famílias costeiras <strong>de</strong> pesca<strong>do</strong>res—provavelmente<br />

cerca <strong>de</strong> 10.000 famílias <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m,<br />

pelo menos parcialmente, da pesca, apesar<br />

da maioria <strong>de</strong>ter também um terreno com<br />

cereais, vegetais e fruta.<br />

A maioria das famílias rurais estão actualmente<br />

numa situação muito incerta. A ajuda<br />

alimentar <strong>de</strong> emergência, a reprodução<br />

<strong>de</strong> sementes e os programas <strong>de</strong> impacto<br />

rápi<strong>do</strong> funcionaram relativamente bem.<br />

Também houve projectos basea<strong>do</strong>s na comunida<strong>de</strong><br />

para a reabilitação rural, incluin<strong>do</strong><br />

esquemas <strong>de</strong> irrigação e estradas <strong>de</strong> acesso.<br />

Mas, o impacto foi <strong>de</strong>sigual e os merca<strong>do</strong>s<br />

não estão geralmente a funcionar correctamente.<br />

Os agricultores estão inseguros<br />

quanto aos serviços que o governo irá provi<strong>de</strong>nciar<br />

e que tipo <strong>de</strong> merca<strong>do</strong> se po<strong>de</strong>rá<br />

<strong>de</strong>senvolver. A caixa 5.3 indica uma divisão<br />

típica <strong>de</strong> trabalho no seio das famílias.<br />

De qualquer forma, graças às favoráveis<br />

condições climatéricas, espera-se que a<br />

agricultura cresça significativamente. Esperase<br />

que a produção <strong>de</strong> café seja <strong>de</strong> aproximadamente<br />

8.000 toneladas em 2000 e<br />

2001, recuperan<strong>do</strong> das menos <strong>de</strong> 5.000 toneladas<br />

em 1997 e 1998. As produções <strong>de</strong><br />

arroz e milho po<strong>de</strong>rão alcançar 75% <strong>do</strong>s<br />

níveis atingi<strong>do</strong>s em 1996/7.<br />

Quaisquer planos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

agrícola também têm <strong>de</strong> ser vistos como<br />

parte <strong>de</strong> uma estratégia global para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

rural—ten<strong>do</strong> em conta as<br />

necessida<strong>de</strong>s das pessoas rurais em melhores<br />

estradas, oferta <strong>de</strong> água, saneamento e<br />

Quadro 5.2<br />

Produção alimentar, 1998<br />

Tons<br />

Milho 58,931<br />

Mandioca 32,092<br />

Arroz 36,848<br />

Batata <strong>do</strong>ce 11,989<br />

Amen<strong>do</strong>ins 4,669<br />

Soja 690<br />

Fonte: Quadro anexo 9<br />

micro-crédito. Isto significa alargar os<br />

objectivos <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> forma<br />

a melhorar as condições <strong>de</strong> vida nas zonas<br />

rurais. Isto exigirá um estilo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

basea<strong>do</strong> nos pontos fortes existentes<br />

nas comunida<strong>de</strong>s rurais e dar-lhes o<br />

po<strong>de</strong>r necessário para prosseguirem as estratégias<br />

<strong>de</strong> melhoria <strong>de</strong>ssas condições <strong>de</strong><br />

vida que melhor se adaptem às suas capacida<strong>de</strong>s<br />

e circunstâncias. Uma tal estratégia<br />

<strong>de</strong>ve ser comandada pela procura, baseada<br />

nas preocupações locais e no planeamento<br />

leva<strong>do</strong> a cabo no seio da comunida<strong>de</strong>.<br />

A primeira priorida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser capacitar<br />

as comunida<strong>de</strong>s mais pobres para<br />

garantirem a sua segurança alimentar e aliviarem<br />

a sua pobreza reduzin<strong>do</strong> a sua<br />

vulnerabilida<strong>de</strong> aos choques climáticos e<br />

económicos. Isto significa, por exemplo,<br />

fornecer mais assistência aos agricultores das<br />

terras altas, ajudá-los a melhorar as suas<br />

práticas agrícolas, introduzir sistemas <strong>de</strong><br />

cultivo naturais com cereais resistentes e diversificar<br />

os produtos cultiva<strong>do</strong>s. Muito<br />

disto irá também assentar na extensão rural<br />

e noutros serviços que irão melhorar a capacida<strong>de</strong><br />

das comunida<strong>de</strong>s locais <strong>de</strong> produzirem<br />

cereais para a alimentação, silvicultura<br />

e criação <strong>de</strong> animais.<br />

Milho<br />

Para melhorar a segurança alimentar, uma<br />

das primeiras priorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ve ser o aumento<br />

da produção <strong>de</strong> milho. A maior<br />

parte <strong>de</strong>sta é composta por varieda<strong>de</strong>s tradicionais<br />

que geram colheitas reduzidas—<br />

<strong>de</strong> 700 a 1.500 quilogramas por hectare. O<br />

aumento da produção permitirá aumentar<br />

a segurança alimentar <strong>do</strong>s agricultores mas<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá, no entanto, da exploração <strong>de</strong><br />

varieda<strong>de</strong>s híbridas que sejam adaptadas às<br />

condições locais e que os agricultores possam<br />

adquirir e utilizar com algum grau <strong>de</strong><br />

segurança.<br />

Arroz<br />

As colheitas <strong>de</strong> arroz são muito reduzidas:<br />

1,5 toneladas <strong>de</strong> grãos com casca por hectare.<br />

A maior parte <strong>do</strong>s agricultores utilizam<br />

méto<strong>do</strong>s primitivos sem fertilizantes<br />

ou pesticidas. Isto significa que <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

tem <strong>de</strong> importar muito <strong>do</strong> arroz <strong>de</strong> que<br />

necessita—aproximadamente 17.000 toneladas<br />

<strong>de</strong> arroz importadas em 2000/01.<br />

Com varieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sementes mais produtivas,<br />

juntamente com fertilizantes e outros<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


inputs essenciais, <strong>de</strong>ve ser possível obter<br />

pelo menos 3,5 toneladas por hectare e satisfazer<br />

as necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> país. Contu<strong>do</strong>,<br />

actualmente <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> necessita <strong>do</strong>s instrumentos<br />

necessários para a pesquisa e testes<br />

<strong>de</strong> adaptação. Falta também o pessoal<br />

habilita<strong>do</strong>. O reduzi<strong>do</strong> número <strong>de</strong> funcionários<br />

agrícolas governamentais tem competências<br />

limitadas. Esta é claramente uma<br />

área on<strong>de</strong> a ajuda externa é necessária e têm<br />

si<strong>do</strong> feitas propostas para <strong>de</strong>senvolver os<br />

recursos necessários no quadro <strong>do</strong> Ministério<br />

da Agricultura.<br />

Ga<strong>do</strong><br />

Durante 1999 per<strong>de</strong>u-se uma parte significativa<br />

<strong>do</strong> ga<strong>do</strong>, estan<strong>do</strong> os agricultores a<br />

repor lentamente os seus stocks. As possibilida<strong>de</strong>s<br />

futuras <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

ga<strong>do</strong> incluem a criação <strong>de</strong> ga<strong>do</strong> <strong>de</strong> corte<br />

no planalto <strong>de</strong> Los Palos, na zona leste <strong>do</strong><br />

país. Deve haver também meios para melhorar<br />

a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensilagem a partir<br />

<strong>de</strong> ervas <strong>de</strong>senvolvidas inicialmente no Território<br />

<strong>do</strong> Norte da Austrália.<br />

Café<br />

Enquanto a principal priorida<strong>de</strong> será assegurar<br />

a produção <strong>de</strong> culturas agrícolas usadas<br />

na alimentação, também <strong>de</strong>verá ser<br />

importante maximizar o potencial produtivo<br />

<strong>de</strong> culturas que geram rendimentos em<br />

dinheiro para as famílias agrícolas. A principal<br />

cultura <strong>de</strong> rendimento é, <strong>de</strong> longe, o<br />

café. Este é uma fonte vital <strong>de</strong> obtenção <strong>de</strong><br />

rendimentos bem como <strong>de</strong> divisas. Mesmo<br />

após os piores anos, a produção <strong>de</strong>monstrou<br />

uma notável capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recuperação.<br />

Num bom ano <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

Quadro 5.3<br />

Café em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>, 2001<br />

Colheita 10.000 tons<br />

equivalente a grãos ver<strong>de</strong>s<br />

Valor internacional (c.i.f.) $10,2 milhões<br />

Custo ao produtor <strong>do</strong>s grãos ver<strong>de</strong>s $0,26/lb<br />

Transporte local e processamento $0,02/lb<br />

Valor interno (f.o.b.) $0,28/lb<br />

Pagamentos totais aos agricultores $5,1 milhões<br />

Transportes locais e processamento $1,2 milhões<br />

Valor interno total $6,2 milhões<br />

Famílias produtoras <strong>de</strong> café 40.000 famílias<br />

Rendimentos em dinheiro por família $127<br />

Fonte: Pomeroy, J. (2001)<br />

produziu anualmente o equivalente a cerca<br />

<strong>de</strong> 10.000 toneladas <strong>de</strong> grãos <strong>de</strong> café em<br />

ver<strong>de</strong> (quadro 5.3) que geraram rendimentos<br />

para cerca <strong>de</strong> 40.000 famílias bem como<br />

emprego sazonal para operários assalaria<strong>do</strong>s<br />

e para os envolvi<strong>do</strong>s no processamento<br />

e no transporte.<br />

A preços <strong>de</strong> 2001 isto foi estima<strong>do</strong><br />

como valen<strong>do</strong> $10 milhões nos merca<strong>do</strong>s<br />

internacionais, <strong>do</strong>s quais os agricultores<br />

po<strong>de</strong>riam esperar receber cerca <strong>de</strong><br />

meta<strong>de</strong>—o equivalente a $127 em média<br />

por família produtora <strong>de</strong> café. A produção<br />

efectiva em 1997 foi <strong>de</strong> apenas 5.000 toneladas.<br />

A violência <strong>de</strong> 1999 veio, no entanto,<br />

<strong>de</strong>pois da época da colheita e por isso não<br />

afectou a produção. Espera-se que em 2000<br />

e 2001 a produção seja <strong>de</strong> aproximadamente<br />

8.000 toneladas.<br />

Cerca <strong>de</strong> um quinto <strong>do</strong> café <strong>de</strong> <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> é <strong>do</strong> tipo robusta enquanto o restante<br />

é uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> arábica <strong>de</strong> alta qualida<strong>de</strong><br />

e muito procurada, a Hybrida <strong>de</strong> <strong>Timor</strong>,<br />

que é organicamente cultivada nas terras altas<br />

no centro <strong>do</strong> país. Este é um híbri<strong>do</strong><br />

local <strong>de</strong> arábica e robusta que apresenta a<br />

gran<strong>de</strong> vantagem <strong>de</strong> ser resistente às <strong>do</strong>enças<br />

locais e mais tolerante com o solo pobre e<br />

seco. Contu<strong>do</strong>, tal como no caso <strong>de</strong> outras<br />

produções, a quantida<strong>de</strong> produzida é<br />

pequena. O café é tipicamente cultiva<strong>do</strong> em<br />

pequenos lotes <strong>de</strong> terrenos sobrecultiva<strong>do</strong>s<br />

e com pouca poda e cobertura <strong>de</strong> folhas<br />

Caixa 5.3<br />

CRESCIMENTO ECONÓMICO PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO<br />

Divisão <strong>de</strong> trabalho numa família agrícola<br />

Preparação da comida Mulheres<br />

Tratamento das crianças Mulheres<br />

Construção da casa, etc Homens<br />

Preparação da terra Homens<br />

Plantação <strong>de</strong> milho e arroz Principalmente mulheres<br />

Cortar as ervas Homens, mulheres e crianças<br />

Corte <strong>de</strong> arroz e milho Mulheres<br />

Transporte <strong>de</strong> arroz e milho Homens<br />

Debulha Mulheres<br />

Tratar <strong>de</strong> vegetais Mulheres<br />

Venda <strong>de</strong> vegetais e frangos Mulheres<br />

Venda <strong>de</strong> vegetais e frangos Homens<br />

Lenha Homens, mulheres e crianças<br />

Guarda <strong>de</strong> ga<strong>do</strong> Homens e crianças<br />

Guarda <strong>de</strong> porcos Mulheres e crianças<br />

Guarda <strong>de</strong> cabras Mulheres e crianças<br />

Guarda <strong>de</strong> frangos Mulheres e crianças<br />

Transporte <strong>de</strong> água Mulheres e crianças<br />

67


<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> po<strong>de</strong><br />

aumentar os seus<br />

rendimentos<br />

através da<br />

melhoria da<br />

qualida<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> café<br />

68<br />

vegetais. Os agricultores apanham frequentemente<br />

os cachos ver<strong>de</strong>s e processam-nos<br />

<strong>de</strong> forma pouco eficiente da<strong>do</strong> que não têm<br />

água suficiente para uma fermentação<br />

húmida.<br />

A comercialização <strong>do</strong>s cafés <strong>de</strong> alta qualida<strong>de</strong><br />

é organiza<strong>do</strong> através da Cooperativa<br />

<strong>de</strong> Café <strong>Timor</strong> (CCT), que envolve cerca<br />

<strong>de</strong> 17.000 famílias produtoras <strong>de</strong> café.<br />

A CCT trabalha com a National<br />

Cooperative Business Association (NCBA),<br />

americana e apoiada pela USAID, que tem<br />

um programa <strong>de</strong> ajuda à produção, formação<br />

e serviços <strong>de</strong> extensão rural bem<br />

como <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> instalações<br />

para o processamento, transporte e<br />

armazenamento <strong>do</strong> café.<br />

Actualmente o preço mundial <strong>do</strong> café é<br />

muito baixo e isto tem <strong>de</strong>sencoraja<strong>do</strong> alguns<br />

produtores <strong>de</strong> colher as suas colheitas. <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> não po<strong>de</strong> fazer nada quanto aos preços<br />

mundiais, mas po<strong>de</strong> aumentar os seus<br />

rendimentos através da melhoria da qualida<strong>de</strong>,<br />

especialmente se isto permitir que o<br />

café timorense obtenha a certificação internacional<br />

como produção orgânica.<br />

Isto envolveria não só substituir árvores<br />

mas também <strong>de</strong>stinar uma parte maior da<br />

produção para processamento centraliza<strong>do</strong>.<br />

O apoio para este tipo <strong>de</strong> upgrading terá<br />

provavelmente <strong>de</strong> se basear em investimento<br />

estrangeiro no processamento<br />

complementa<strong>do</strong> com o aumento <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res<br />

<strong>de</strong> extensão rural através <strong>do</strong> governo<br />

e das ONGs.<br />

Entretanto, alguns <strong>do</strong>s produtores marginais<br />

<strong>de</strong> café po<strong>de</strong>rão ter <strong>de</strong> mudar para<br />

outras produções. Mais investimentos adicionais<br />

no café e noutras culturas <strong>de</strong> plantação<br />

estão, no entanto, limita<strong>do</strong>s por dúvidas<br />

quanto à posse <strong>de</strong> terra, com direitos à<br />

mesma que datam <strong>do</strong> tempo da administração<br />

portuguesa.<br />

Outras culturas <strong>de</strong> rendimento<br />

Da<strong>do</strong> o baixo preço <strong>do</strong> café, os agricultores<br />

em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> também <strong>de</strong>vem<br />

equacionar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> optarem por<br />

outras produções. Estas incluem a batata<br />

branca, cebolas, couves, cacau e castanha<br />

<strong>de</strong> caju, bem como ma<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> sândalo.<br />

Uma opção promissora é a baunilha, vendida<br />

a cerca <strong>de</strong> $130 por quilo nos merca<strong>do</strong>s<br />

mundiais. O NCBA tem vin<strong>do</strong> a pagar<br />

$18 por quilo o que encorajou mais agricultores<br />

a plantar esta cultura.<br />

Pescas<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> tem um gran<strong>de</strong> potencial <strong>de</strong><br />

pesca com muitas varieda<strong>de</strong>s valiosas, incluin<strong>do</strong><br />

atum, peixe serra, pargo e camarões.<br />

Cerca <strong>de</strong> 10.000 famílias <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m,<br />

pelo menos parcialmente, da pesca. Meta<strong>de</strong><br />

vive em Dili ou na ilha <strong>de</strong> Ataúro. O<br />

volume potencial <strong>de</strong> pesca tem si<strong>do</strong> estima<strong>do</strong><br />

em cerca <strong>de</strong> 600.000 toneladas anuais,<br />

apesar <strong>de</strong>, provavelmente, menos <strong>de</strong> 1%<br />

<strong>de</strong>stas ser actualmente colhida. A forma<br />

mais comum <strong>de</strong> embarcação é uma canoa<br />

escavada no tronco a par <strong>de</strong> muitas outras<br />

embarcações com motores fora <strong>de</strong> borda.<br />

Os rendimentos futuros <strong>de</strong>correntes<br />

<strong>de</strong>sta activida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m ser aumenta<strong>do</strong>s<br />

através <strong>do</strong> aumento <strong>de</strong> investimento na capacida<strong>de</strong><br />

nacional <strong>de</strong> pesca e pelo<br />

licenciamento <strong>de</strong> embarcações estrangeiras.<br />

Actualmente, o principal obstáculo é a falta<br />

<strong>de</strong> zonas <strong>de</strong> pesca internacionalmente<br />

reconhecidas. Isto tem cria<strong>do</strong> uma consi<strong>de</strong>rável<br />

incerteza e também encorajou o<br />

alastramento da pesca irregular que po<strong>de</strong><br />

estar a <strong>de</strong>gradar importantes recursos. Uma<br />

priorida<strong>de</strong> para o novo governo será, por<br />

isso, o estabelecimento <strong>de</strong> zonas económicas<br />

e pesqueiras. Isto permitirá ao governo obter<br />

receitas das licenças <strong>de</strong> pesca <strong>de</strong>, possivelmente,<br />

$2 milhões por ano, bem como um<br />

rendimento para a Marinha <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

constituí<strong>do</strong> pelas multas aplicadas.<br />

O Ministério da Agricultura e Pescas<br />

<strong>de</strong>finiu uma estratégia para as pescas <strong>de</strong><br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>. Nela se afirma que as capacida<strong>de</strong>s<br />

pesqueiras serão aproximadamente<br />

33 vezes maiores que as <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> e que a<br />

captura anual po<strong>de</strong>ria representar entre $25<br />

e $35 milhões.<br />

A estratégia <strong>de</strong> pesca <strong>de</strong>ve tomar em<br />

consi<strong>de</strong>ração questões como a<br />

sustentabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> esforço <strong>de</strong> pesca e a<br />

protecção <strong>do</strong>s interesses das comunida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> pesca<strong>do</strong>res tradicionais. As agências governamentais,<br />

a indústria local e as comunida<strong>de</strong>s<br />

locais necessitarão <strong>de</strong> trabalhar em<br />

conjunto para <strong>de</strong>scobrir formas <strong>de</strong> aumentar<br />

a sua capacida<strong>de</strong> e produtivida<strong>de</strong>.<br />

Da<strong>do</strong> que as comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesca locais<br />

não possuem ainda capacida<strong>de</strong> técnica<br />

suficiente para operações <strong>de</strong> pesca em gran<strong>de</strong><br />

escala, com a utilização <strong>de</strong> traineiras e<br />

pesca à re<strong>de</strong>, o governo terá <strong>de</strong> ce<strong>de</strong>r a<br />

maior parte das licenças a opera<strong>do</strong>res<br />

estrangeiros.<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


Silvicultura<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> gerou no passa<strong>do</strong> receitas consi<strong>de</strong>ráveis<br />

da silvicultura. Mas com a disseminação<br />

da prática <strong>do</strong> <strong>de</strong>smatamento das<br />

terras para permitir o cultivo ou a criação<br />

<strong>de</strong> ga<strong>do</strong>, reduziu-se a maior parte da antiga<br />

floresta transforman<strong>do</strong>-a em zonas <strong>de</strong> vegetação<br />

rala. Uma estimativa sugere que a<br />

activida<strong>de</strong> humana afectou a cobertura vegetal<br />

<strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 90% <strong>do</strong> território. Qualquer<br />

rendimento futuro a obter da silvicultura,<br />

seja <strong>de</strong> sândalo ou <strong>de</strong> outros produtos,<br />

terá assim <strong>de</strong> ser basea<strong>do</strong> numa cuida<strong>do</strong>sa<br />

plantação e gestão das áreas florestais.<br />

Manufacturas<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> tem uma indústria<br />

manufactureira relativamente reduzida. Em<br />

1996 as manufacturas representavam apenas<br />

3,5% <strong>do</strong> PIB, a maior parte <strong>do</strong> qual em<br />

activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pequena escala—4.000 empresas<br />

empregavam cerca <strong>de</strong> 10.000 pessoas.<br />

As empresas que empregavam mais<br />

pessoas em 1996 eram as que se <strong>de</strong>dicavam<br />

à tecelagem <strong>de</strong> roupa tradicional (tais)<br />

e mobiliário. Contu<strong>do</strong>, as empresas maiores<br />

e mais produtivas eram as relacionadas<br />

com o processamento <strong>de</strong> café e ma<strong>de</strong>ira<br />

<strong>de</strong> sândalo. Alguma da capacida<strong>de</strong> produtiva<br />

das manufacturas foi perdida em 1999,<br />

quan<strong>do</strong> os equipamentos foram enviadas<br />

para a In<strong>do</strong>nésia ou queima<strong>do</strong>s.<br />

O potencial imediato da indústria<br />

manufactureira é limita<strong>do</strong>, ten<strong>do</strong> em conta<br />

a escassez <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra especializada em<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>, os relativamente eleva<strong>do</strong>s custo<br />

<strong>de</strong> vida e salários e as fracas ligações <strong>de</strong><br />

transporte. Até agora, as tentativas <strong>de</strong><br />

encorajamento <strong>de</strong> investimentos <strong>de</strong> larga<br />

escala têm si<strong>do</strong> infrutíferas e apenas uma<br />

mão cheia <strong>de</strong> empresas relacionadas com a<br />

venda a retalho, a construção e as<br />

infraestruturas parecem ser prósperas. As<br />

melhores opções para o futuro parecem ser<br />

via investimento estrangeiro nos têxteis e no<br />

calça<strong>do</strong>.<br />

Uma estratégia para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano<br />

Um <strong>do</strong>s perigos <strong>de</strong> promover o tipo <strong>de</strong><br />

rápi<strong>do</strong> crescimento económico basea<strong>do</strong> no<br />

merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> que <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> precisa é o<br />

<strong>do</strong> alargamento das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s, particularmente<br />

entre as áreas rurais e urbanas. Al-<br />

guns <strong>de</strong>stes <strong>de</strong>sfasamentos resultam <strong>do</strong> funcionamento<br />

corrente <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s livres<br />

mas po<strong>de</strong>m ser também o resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

políticas governamentais que actuam na<br />

mesma direcção. Estes enviesamentos próurbanos<br />

po<strong>de</strong>m actuar através <strong>do</strong> sistema<br />

fiscal—taxan<strong>do</strong> implicitamente os produtos<br />

agrícolas através <strong>de</strong> preços <strong>de</strong> apoio,<br />

por exemplo—, <strong>de</strong> uma taxa <strong>de</strong> câmbio<br />

sobreavaliada ou taxan<strong>do</strong> directamente as<br />

exportações agrícolas e subsidian<strong>do</strong> as importações.<br />

As políticas também po<strong>de</strong>m<br />

actuar contra os pobres rurais se envolverem<br />

subsídios para tecnologias capital-intensivas<br />

ou se favorecerem as culturas <strong>de</strong><br />

exportação em <strong>de</strong>trimento das culturas alimentares.<br />

Há também o risco <strong>de</strong> estabelecer<br />

sistemas <strong>de</strong> posse <strong>de</strong> terra e arrendamento<br />

que favoreçam os gran<strong>de</strong>s proprietários <strong>de</strong><br />

terra e os produtores para o merca<strong>do</strong> dan<strong>do</strong>-lhes<br />

também acesso mais fácil ao crédito<br />

e aos serviços <strong>de</strong> extensão rural. Assim,<br />

o objectivo <strong>de</strong>ve ser a promoção <strong>do</strong> crescimento<br />

com equida<strong>de</strong>, crian<strong>do</strong> oportunida<strong>de</strong>s<br />

para o sector priva<strong>do</strong> ao mesmo<br />

tempo que protege os interesses <strong>do</strong>s pobres.<br />

Trabalhan<strong>do</strong> com o sector priva<strong>do</strong><br />

O futuro <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá, em<br />

última instância, <strong>do</strong> estabelecimento <strong>de</strong> um<br />

sector priva<strong>do</strong> forte que possa gerar produções,<br />

poupanças, investimento priva<strong>do</strong><br />

e comércio internacional. As políticas públicas<br />

tem, por isso, <strong>de</strong> criar um ambiente<br />

no qual o sector priva<strong>do</strong> possa expandir-se<br />

e florescer. Isto irá exigir:<br />

• Estabeleer regras claras—o governo tem<br />

<strong>de</strong> estabelecer e manter regras simples,<br />

transparentes e estáveis para as activida<strong>de</strong>s<br />

<strong>do</strong> sector priva<strong>do</strong>. Estas <strong>de</strong>vem incluir<br />

políticas <strong>de</strong> concorrência para limitar<br />

a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> práticas<br />

monopolísticas.<br />

• Investir em <strong>de</strong>senvolvimento humano—particularmente<br />

na saú<strong>de</strong> e na educação, para<br />

assegurar que os pobres po<strong>de</strong>m tirar parti<strong>do</strong><br />

das novas oportunida<strong>de</strong>s.<br />

• Estabelecer um sistema legal forte—isto<br />

significará lidar com questões tão difíceis<br />

como os direitos <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong><br />

da terra e as reivindicações sobre a posse<br />

<strong>de</strong> terrenos com eles relaciona<strong>do</strong>s,<br />

construir um sistema judicial forte e<br />

manter a lei e a or<strong>de</strong>m. Também preci-<br />

CRESCIMENTO ECONÓMICO PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO<br />

O crescimento<br />

basea<strong>do</strong> no<br />

merca<strong>do</strong> po<strong>de</strong><br />

aumentar as<br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s<br />

69


O micro-crédito<br />

precisa <strong>de</strong> ser<br />

combina<strong>do</strong> com<br />

serviços<br />

comerciais <strong>de</strong><br />

apoio<br />

70<br />

sará <strong>de</strong> legislar nos <strong>do</strong>mínios das leis das<br />

empresas, <strong>do</strong>s contratos e das falências.<br />

• Reforçar a estabilida<strong>de</strong> macroeconómica—<br />

estabelecer políticas fiscais, monetárias,<br />

comerciais e <strong>de</strong> investimentos que permitam<br />

uma eficiente afectação <strong>de</strong><br />

recursos.<br />

• Infraestruturas—assegurar abastecimentos<br />

fiáveis <strong>de</strong> energia e água, estradas apropriadas<br />

e portos e aeroportos eficientes.<br />

Crescimento pró-pobres<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> tem a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>, logo<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o seu início como país in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte,<br />

estabelecer um novo caminho <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento,<br />

seguin<strong>do</strong> um crescimento<br />

trabalho-intensivo e vira<strong>do</strong> para os pobres.<br />

Isto também significará a abertura <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s<br />

para os pobres, utilizan<strong>do</strong> esquemas<br />

<strong>de</strong> micro-crédito com serviços <strong>de</strong><br />

apoio ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> negócios<br />

apropria<strong>do</strong>s que, por exemplo, aumentem<br />

as oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> emprego para as<br />

mulheres e outros grupos que possam estar<br />

fora da força <strong>de</strong> trabalho formal.<br />

Isto sublinha a importância não só <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolver a agricultura como também <strong>de</strong><br />

assegurar o tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento equilibra<strong>do</strong><br />

que permita que os benefícios sejam<br />

dissemina<strong>do</strong>s pelo país.<br />

A economia rural <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> já está<br />

relativamente aberta ao comércio priva<strong>do</strong><br />

mas as facilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comercialização asseguradas<br />

por este são bastante primitivas.<br />

Muitas regiões rurais permanecem relativamente<br />

intocadas pelas oportunida<strong>de</strong>s que<br />

um sector priva<strong>do</strong> dinâmico <strong>de</strong>veria estimular.<br />

Aspecto fundamental para que isto se<br />

verifique será o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

infraestruturas rurais, particularmente estradas<br />

e sistemas <strong>de</strong> comunicações fiáveis que<br />

permitam o funcionamento eficiente <strong>do</strong>s<br />

merca<strong>do</strong>s agrícolas e o aumento <strong>do</strong>s preços<br />

que os agricultores mais pobres obtêm da<br />

sua produção.<br />

Ao mesmo tempo <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> <strong>de</strong>ve<br />

consi<strong>de</strong>rar um sistema <strong>de</strong> financiamento<br />

rural que aju<strong>de</strong> a aumentar o investimento<br />

nas áreas rurais e também a oferecer um<br />

local seguro para as poupanças geradas nessas<br />

áreas. Isto po<strong>de</strong>ria envolver, por exemplo,<br />

créditos <strong>de</strong> curto e médio prazo aos<br />

agricultores e comerciantes bem como<br />

créditos <strong>de</strong> investimento a processa<strong>do</strong>res<br />

<strong>de</strong> produtos alimentares, companhias <strong>de</strong><br />

camionagem e outras empresas que estão<br />

preparadas para investir nas áreas rurais.<br />

Muitas regiões <strong>do</strong> país, particularmente<br />

as produtoras <strong>de</strong> arroz, têm solos muito<br />

férteis, um clima favorável e oferecem<br />

oportunida<strong>de</strong>s para uma agricultura mais<br />

intensiva. Mas isto também precisa <strong>de</strong> investimentos<br />

públicos e priva<strong>do</strong>s no tipo <strong>de</strong><br />

pesquisa agrícola que irá indicar as melhores<br />

técnicas para assegurar condições <strong>de</strong><br />

vida sustentáveis.<br />

A melhoria das infraestruturas rurais<br />

<strong>de</strong>verá também permitir o aumento das<br />

activida<strong>de</strong>s rurais não agrícolas, incluin<strong>do</strong><br />

manufacturas pouco especializadas e trabalho-intensivas<br />

e activida<strong>de</strong>s com elas relacionadas.<br />

Aqui o objectivo <strong>de</strong>ve ser aumentar<br />

os ganhos das famílias, particularmente<br />

durante as estações baixas.<br />

Turismo<br />

Muitos pequenos esta<strong>do</strong>s insulares <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m<br />

fortemente das receitas turísticas. <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> tem muitas atracções para os turistas,<br />

sen<strong>do</strong> os merca<strong>do</strong>s mais próximos os da<br />

Austrália, da Nova Zelândia e <strong>do</strong>s países<br />

da ASEAN. Para lá da sua rica cultura<br />

nacional, <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> po<strong>de</strong> oferecer espectaculares<br />

montanhas, lagos e fontes <strong>de</strong> água<br />

quente bem como praias <strong>de</strong> areia branca e<br />

locais para a prática <strong>do</strong> surf. Também existem<br />

muitas construções coloniais interessantes,<br />

incluin<strong>do</strong> fortes e igrejas.<br />

No entanto e apesar disto o país tem<br />

recebi<strong>do</strong> relativamente poucos turistas.<br />

Durante o perío<strong>do</strong> 1989-95 as chegadas<br />

anuais <strong>de</strong> turistas internacionais rondaram<br />

apenas os 1.500 por ano. O governo<br />

in<strong>do</strong>nésio fez, em teoria, alguns esforços <strong>de</strong><br />

investimento no turismo mas obteve poucos<br />

resulta<strong>do</strong>s. Na prática, a In<strong>do</strong>nésia estava<br />

mais interessada em fechar <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

ao mun<strong>do</strong> para evitar que as pessoas testemunhassem<br />

as contínuas violações <strong>do</strong>s direitos<br />

humanos.<br />

Mas mesmo com a perspectiva <strong>de</strong> um<br />

ambiente <strong>de</strong> paz num <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte,<br />

ainda existem alguns obstáculos.<br />

Estes incluem a falta <strong>de</strong> alojamento a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>—especialmente<br />

fora <strong>de</strong> Dili—, a<br />

falta <strong>de</strong> pessoas habilitadas para gerirem as<br />

instalações turísticas—particularmente aqueles<br />

que po<strong>de</strong>m falar inglês—e também a<br />

fraqueza geral em infraestruturas, incluin<strong>do</strong><br />

o abastecimento <strong>de</strong> água e o tratamento <strong>de</strong><br />

lixo. As ligações internacionais aéreas para<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> também são limitadas. Os únicos<br />

voos são <strong>de</strong> Bali e Darwin e, sujeitos<br />

como estão a pouca competição, po<strong>de</strong>m<br />

ser bastante caros.<br />

Enquanto a falta <strong>de</strong> experiência no turismo<br />

po<strong>de</strong> ser vista como uma <strong>de</strong>svantagem,<br />

ela po<strong>de</strong> tornar-se também numa<br />

oportunida<strong>de</strong>. <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> po<strong>de</strong> evitar<br />

muitos <strong>do</strong>s inconvenientes sociais e<br />

ambientais <strong>de</strong> uma rápida expansão turística.<br />

O novo governo tem oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

estabelecer o nicho que <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> <strong>de</strong>verá<br />

ocupar no merca<strong>do</strong> turístico regional e<br />

internacional. Os turistas mais fáceis para<br />

atrair inicialmente serão os mais aventureiros<br />

backpackers. Isto será bem vin<strong>do</strong> no curto<br />

prazo mas eles não gastam muito, não po<strong>de</strong>n<strong>do</strong><br />

pois ser vistos como a base <strong>de</strong> uma<br />

indústria viável.<br />

Uma opção seria <strong>de</strong>senvolver estâncias<br />

turísticas, existin<strong>do</strong> alguns sinais favoráveis<br />

<strong>de</strong> que investi<strong>do</strong>res pioneiros po<strong>de</strong>rão estar<br />

prepara<strong>do</strong>s para o fazer. Outra opção<br />

seria capitalizar no carácter inexplora<strong>do</strong> e<br />

preserva<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> focalizan<strong>do</strong>-se<br />

no ecoturismo. Contu<strong>do</strong>, isto po<strong>de</strong> ser ainda<br />

mais capital intensivo e exigente em termos<br />

<strong>de</strong> competências; manter uma indústria<br />

ecoturística requer consi<strong>de</strong>ráveis esforços<br />

para assegurar padrões ambientais.<br />

A maior parte das formas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>do</strong> turismo exigirão investimentos<br />

e peritos estrangeiros. Algumas empresas <strong>de</strong><br />

navegação turística e mergulho já fizeram<br />

investimentos. Estes e outros <strong>de</strong>senvolvimentos<br />

em áreas turísticas po<strong>de</strong>m aumentar<br />

as instalações em acomodação, abastecimento<br />

<strong>de</strong> água, telecomunicações e transporte.<br />

Mas estas também têm <strong>de</strong> estar ligadas<br />

às priorida<strong>de</strong>s gerais <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano. Além disso, os contratos com<br />

empresas estrangeiras necessitarão <strong>de</strong><br />

maximizar o potencial <strong>de</strong> formação <strong>do</strong>s<br />

emprega<strong>do</strong>s timorenses.<br />

Isto exigirá o gran<strong>de</strong> envolvimento da<br />

comunida<strong>de</strong>. As pessoas <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

têm <strong>de</strong> ser parceiros e beneficiários <strong>do</strong> processo,<br />

<strong>de</strong> estar conscientes <strong>do</strong>s possíveis<br />

impactos negativos e positivos <strong>do</strong> turismo<br />

na socieda<strong>de</strong> e no ambiente.<br />

Petróleo e gás<br />

Um <strong>do</strong>s principais <strong>de</strong>terminantes <strong>do</strong> futuro<br />

económico <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> será a forma<br />

como ele utilizará as receitas <strong>de</strong> petróleo<br />

e gás. Apesar <strong>de</strong> haver algum petróleo e<br />

gás em terra, os maiores <strong>de</strong>pósitos encontram-se<br />

offshore, entre <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> e a<br />

Austrália. A potencialida<strong>de</strong> total <strong>do</strong>s <strong>de</strong>pósitos<br />

é <strong>de</strong>sconhecida, mas irá certamente<br />

gerar receitas substanciais no curto prazo<br />

(caixa 5.4).<br />

A incerteza que persistiu neste campo<br />

surgiu porque, quan<strong>do</strong> a Austrália e a<br />

In<strong>do</strong>nésia <strong>de</strong>senharam as fronteiras marítimas<br />

entre si, em 1972, <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> era então<br />

uma colónia portuguesa. Isto <strong>de</strong>ixou<br />

uma falha na linha <strong>de</strong> fronteira, o ‘<strong>Timor</strong><br />

Gap’. A Austrália e a In<strong>do</strong>nésia assinaram<br />

um trata<strong>do</strong> em 1991 que criou a Zona <strong>de</strong><br />

Cooperação, na qual ambos os países se<br />

dispunham a repartir igualmente os recursos<br />

<strong>do</strong> ‘<strong>Timor</strong> Gap’, numa área que<br />

correspondia à sobreposição entre as suas<br />

zonas económicas exclusivas <strong>de</strong> 200 milhas.<br />

Portugal contestou a valida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste trata<strong>do</strong><br />

no Tribunal Internacional <strong>de</strong> Justiça <strong>de</strong><br />

Haia argumentan<strong>do</strong> que, da<strong>do</strong> que a<br />

In<strong>do</strong>nésia invadiu <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> contrarian<strong>do</strong><br />

a lei internacional, não podia reclamar<br />

<strong>de</strong> forma válida a soberania e, <strong>de</strong>sta forma,<br />

não podia ter feito um acor<strong>do</strong> sobre o<br />

“<strong>Timor</strong> Gap”. Em Junho <strong>de</strong> 1995 o<br />

Caixa 5.4<br />

Em 5 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 2001, representantes<br />

da UNTAET/<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> e da Austrália<br />

assinaram o Acor<strong>do</strong> sobre o Mar<br />

<strong>de</strong> <strong>Timor</strong>, um <strong>do</strong>cumento que irá<br />

governar as operações petrolíferas <strong>do</strong><br />

Mar <strong>de</strong> <strong>Timor</strong>. Esta é a primeira vez<br />

que as Nações Unidas negociaram<br />

um trata<strong>do</strong> bilateral em nome <strong>de</strong> um<br />

país em vias <strong>de</strong> se tornar in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte.<br />

A equipa <strong>de</strong> negociação incluiu<br />

lí<strong>de</strong>res timorenses e representantes<br />

das Nações Unidas. O Acor<strong>do</strong><br />

será ratifica<strong>do</strong> como um Trata<strong>do</strong> logo<br />

a seguir à In<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong>.<br />

O Acor<strong>do</strong> também garante a continuação<br />

<strong>do</strong>s contratos estabeleci<strong>do</strong>s<br />

entre as empresas e a In<strong>do</strong>nésia ao<br />

abrigo <strong>do</strong> Trata<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1989 e relativos<br />

aos campos <strong>de</strong> Bayu-Undan e<br />

Greater Sunrise. O campo <strong>de</strong> Bayu-<br />

Undan, geri<strong>do</strong> pela Phillips Petroleum<br />

Company Australia Pty Ltd., tem reservas<br />

estimadas em 400 milhões <strong>de</strong><br />

barris <strong>de</strong> petróleo líqui<strong>do</strong> e<br />

con<strong>de</strong>nsa<strong>do</strong> (LPG) e 3,4 trilhões <strong>de</strong><br />

pés cúbicos (TCF) <strong>de</strong> gás. Os parceiros<br />

actuais <strong>de</strong> Bayu-Undan são a<br />

Phillips (50,3%), a Santos (11,8%), a<br />

Inpex (11,7%), a Kerr-McGee Corp.<br />

CRESCIMENTO ECONÓMICO PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO<br />

O Acor<strong>do</strong> sobre o Mar <strong>de</strong> <strong>Timor</strong><br />

(11,2%), a Petroz (8,3%) e a Agip<br />

(6,7%). O segun<strong>do</strong> campo é o <strong>de</strong><br />

Greater Sunrise, opera<strong>do</strong> pela<br />

Woodsi<strong>de</strong> Australian Energy, e tem<br />

reservas estimadas em 321 milhões<br />

<strong>de</strong> barris <strong>de</strong> con<strong>de</strong>nsa<strong>do</strong> e 9.16 TCF<br />

<strong>de</strong> gás. Os actuais parceiros no campo<br />

<strong>de</strong> Greater Sunrise são a<br />

Woodsi<strong>de</strong> Energy (33,4%), a Phillips<br />

Petroleum (30%), a Royal Dutch/Shell<br />

Group (26,56%) e a Osaka Gas (10%).<br />

O primeiro <strong>de</strong>senvolvimento petrolífero<br />

significativo a avançar no JPDA<br />

é a fase <strong>do</strong> gás recicla<strong>do</strong> no campo<br />

<strong>de</strong> Bayu-Undan. Espera-se que este<br />

projecto comece a produção e o<br />

processamento <strong>de</strong> gás em 2004, separan<strong>do</strong><br />

e ven<strong>de</strong>n<strong>do</strong> os líqui<strong>do</strong>s e<br />

reinjectan<strong>do</strong> o gás <strong>de</strong> volta no reservatório.<br />

O benefício estima<strong>do</strong> para<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> gás<br />

recicla<strong>do</strong> é <strong>de</strong> aproximadamente $2<br />

bilhões durante os 15 anos espera<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong> vida <strong>do</strong> campo.<br />

Uma complicação que contribuiu<br />

para o atraso na construção <strong>do</strong><br />

pipeline <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Bayu-Undan<br />

para Darwin, Austrália, é a incerteza<br />

sobre os royalties que <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> irá<br />

cobrar.<br />

71


A agricultura não<br />

<strong>de</strong>ve ser sujeita a<br />

muitos impostos<br />

nos primeiros<br />

anos<br />

72<br />

Tribunal <strong>de</strong> Justiça Internacional <strong>de</strong>clarou<br />

que, apesar <strong>de</strong> reconhecer os direitos <strong>do</strong>s<br />

habitantes locais à auto<strong>de</strong>terminação, não<br />

po<strong>de</strong>ria regulamentar esta questão da<strong>do</strong> que<br />

a In<strong>do</strong>nésia não o reconhecia como um Tribunal<br />

com jurisdição sobre ela.<br />

Quan<strong>do</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> votou pela in<strong>de</strong>pendência,<br />

a UNTAET e os lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong><br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> renegociaram o trata<strong>do</strong> e, em<br />

5 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 2001, assinaram o Acor<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> Mar <strong>de</strong> <strong>Timor</strong>. Este, mais uma vez, não<br />

fixa as fronteiras entre <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> e a<br />

Austrália mas trata os campos <strong>de</strong> petróleo<br />

e <strong>de</strong> gás como uma única entida<strong>de</strong> partilhada<br />

—a Área Petrolífera <strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong><br />

Conjunto (JPDA). Este acor<strong>do</strong> é muito mais<br />

favorável <strong>do</strong> que o anterior da<strong>do</strong> que<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> irá agora obter 90% <strong>do</strong>s rendimentos<br />

fiscais da produção da JPDA.<br />

As principais implicações <strong>de</strong>ste acor<strong>do</strong><br />

são sobre <strong>do</strong>is campos: o primeiro é o <strong>de</strong><br />

Bayu-Undan, que cai inteiramente na área<br />

JPDA; e o segun<strong>do</strong> é o campo Greater<br />

Sunrise, 20% o qual se situa na JPDA. Nas<br />

duas décadas a seguir a 2004 espera-se que<br />

os rendimentos <strong>do</strong> petróleo e gás para<br />

<strong>Timor</strong> atinjam os $7 biliões.<br />

Política fiscal<br />

Em mea<strong>do</strong>s <strong>de</strong>sta década, o governo <strong>de</strong><br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> po<strong>de</strong>rá ter custos anuais, correntes<br />

e <strong>de</strong> capital, entre os $120 milhões e<br />

os $170 milhões. As três principais fontes<br />

<strong>de</strong> financiamento serão:<br />

• Impostos internos—isto inclui impostos<br />

sobre a produção, serviços e comércio;<br />

• Fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res—isto inclui não apenas<br />

<strong>do</strong>ações, mas também empréstimos<br />

concessionais das instituições multilaterais,<br />

tais como o Banco Mundial e o<br />

Banco Asiático <strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong>;<br />

• Rendimentos <strong>do</strong> Mar <strong>de</strong> <strong>Timor</strong>—Receitas <strong>do</strong><br />

petróleo e campos <strong>de</strong> gás.<br />

Na frente interna, a agricultura terá certamente<br />

<strong>de</strong> contribuir fortemente para as receitas<br />

públicas mas é importante assegurar<br />

que nos anos mais próximos <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

invista na agricultura em vez <strong>de</strong> tentar retirar<br />

<strong>de</strong>masia<strong>do</strong> <strong>de</strong>la. O governo po<strong>de</strong> ser<br />

tenta<strong>do</strong> a usar em primeiro lugar as fontes<br />

<strong>de</strong> recursos mais disponíveis: impostos sobre<br />

a terra e as exportações agrícolas mas<br />

tributar fortemente a agricultura nesta conjuntura<br />

crucial po<strong>de</strong> revelar-se contra-<br />

producente para o crescimento económico<br />

a longo prazo.<br />

No limiar <strong>do</strong> orçamento <strong>de</strong> <strong>2002</strong>/03,<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> irá realizar uma revisão profunda<br />

<strong>do</strong> seu sistema <strong>de</strong> rendimentos. Isto<br />

permitirá explorar potenciais novas fontes<br />

<strong>de</strong> receitas: impostos sobre os utiliza<strong>do</strong>res<br />

da terra; impostos sobre o jogo ou lotarias<br />

nacionais; taxas adicionais aos utiliza<strong>do</strong>res<br />

<strong>de</strong> vários serviços e taxas e encargos locais.<br />

Ao mesmo tempo, o governo necessitará<br />

<strong>de</strong> incentivar o cumprimento das obrigações<br />

fiscais, reduzin<strong>do</strong> o contraban<strong>do</strong> ao<br />

longo da fronteira com a In<strong>do</strong>nésia e<br />

aumentan<strong>do</strong> a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cobrança<br />

<strong>do</strong>s impostos.<br />

Os fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ajuda serão também<br />

cruciais mas terão <strong>de</strong> ser cuida<strong>do</strong>samente<br />

utiliza<strong>do</strong>s. Uma área <strong>de</strong> preocupação será a<br />

<strong>de</strong> evitar recorrer a muitos empréstimos das<br />

agências multilaterais. Estes po<strong>de</strong>m ser feitos<br />

em termos concessionais mas po<strong>de</strong>m,<br />

por outro la<strong>do</strong>, acumular-se pesadamente<br />

dan<strong>do</strong> origem a uma forte dívida internacional.<br />

O governo já disse que não irá pedir<br />

empréstimos nos primeiros três anos.<br />

Gestão das receitas petrolíferas<br />

Como <strong>de</strong>vem ser geridas as receitas <strong>do</strong><br />

petróleo? A perspectiva mais comum é a<br />

<strong>de</strong> que o país não <strong>de</strong>ve utilizar todas as receitas<br />

para financiar activida<strong>de</strong>s correntes.<br />

Em vez disso, <strong>de</strong>ve aplicar pelo menos<br />

meta<strong>de</strong> <strong>de</strong>las num trust fund que irá garantir<br />

algum <strong>do</strong> valor obti<strong>do</strong> para as próximas<br />

gerações. Existe claramente um equilíbrio a<br />

ser alcança<strong>do</strong> neste <strong>do</strong>mínio: poupar uma<br />

parcela <strong>de</strong>masia<strong>do</strong> elevada significará o<br />

adiamento <strong>de</strong> algumas oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento e talvez o aumento <strong>do</strong> risco<br />

das poupanças <strong>de</strong>saparecerem <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à<br />

corrupção; poupar <strong>de</strong>masia<strong>do</strong> pouco po<strong>de</strong>,<br />

no entanto, expor o país a futuros problemas<br />

financeiros, especialmente dadas as incertezas<br />

nos preços <strong>do</strong> petróleo. <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> po<strong>de</strong>rá consi<strong>de</strong>rar uma estratégia fiscal<br />

quadripartida:<br />

1. Controlo <strong>do</strong>s gastos públicos—dar priorida<strong>de</strong><br />

aos gastos na saú<strong>de</strong> e educação a fim<br />

<strong>de</strong> aumentar as habilitações das pessoas<br />

e estimular o <strong>de</strong>senvolvimento humano.<br />

2. Evitar subsidiar os mais abasta<strong>do</strong>s—financiar<br />

alguns serviços públicos, pelo menos<br />

parcialmente, através <strong>de</strong> taxas a pagar<br />

pelos utiliza<strong>do</strong>res.<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


3. Construir a confiança <strong>do</strong>s <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res—manter<br />

um ambiente social, económico e político<br />

estável e um respeito pelos direitos<br />

humanos é não só vital para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano mas também encoraja<br />

os <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res que querem concentrar<br />

os seus recursos nos países mais<br />

pobres, mas só naqueles que têm um<br />

ambiente a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> on<strong>de</strong> a ajuda possa<br />

ser bem utilizada.<br />

4. Guardar receitas petrolíferas e <strong>de</strong> gás—usálas<br />

mo<strong>de</strong>radamente para o investimento,<br />

da<strong>do</strong> que são uma oportunida<strong>de</strong><br />

única que irá durar apenas cerca <strong>de</strong> 20<br />

anos.<br />

O <strong>de</strong>safio para <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> é a manutenção<br />

<strong>de</strong> uma disciplina fiscal suficiente para<br />

assegurar o investimento essencial no <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano e estimular as empresas<br />

privadas mas resistin<strong>do</strong> à tentação<br />

<strong>de</strong> gastar as receitas <strong>do</strong> petróleo e <strong>do</strong> gás<br />

em consumo corrente.<br />

Atrain<strong>do</strong> investimentos estrangeiros<br />

Dada a baixa taxa <strong>de</strong> poupança em <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> e a limitada disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong><br />

ou experiência empresarial, muito <strong>do</strong><br />

estímulo para o futuro <strong>de</strong>senvolvimento<br />

económico e humano através <strong>do</strong> sector<br />

formal terá <strong>de</strong> vir <strong>do</strong> investimento directo<br />

estrangeiro (IDE). O capital priva<strong>do</strong> po<strong>de</strong><br />

não só aumentar a produtivida<strong>de</strong> mas<br />

também alargar as opções <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano ao permitir que os<br />

timorenses <strong>de</strong>senvolvam as suas<br />

capacida<strong>de</strong>s através da formação e experiência<br />

que ganham por trabalharem em<br />

empresas estrangeiras.<br />

À primeira vista, <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> po<strong>de</strong> não<br />

parecer o <strong>de</strong>stino mais atractivo para os<br />

investi<strong>do</strong>res estrangeiros. A população é<br />

pequena e os níveis <strong>de</strong> consumo são baixos.<br />

A base industrial é praticamente<br />

inexistente e uma gran<strong>de</strong> proporção da força<br />

<strong>de</strong> trabalho não tem muitas das habilitações<br />

necessárias às empresas mo<strong>de</strong>rnas.<br />

Além disso, a escassez <strong>de</strong> capital interno<br />

dificulta a obtenção <strong>de</strong> crédito interno através<br />

<strong>do</strong> sistema bancário e encontrar parceiros<br />

nacionais para alguns projectos <strong>de</strong> investimento.<br />

Tal como em outros países pequenos e<br />

pobres, o <strong>de</strong>safio para <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> é a superação<br />

<strong>de</strong>stes obstáculos e a capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> atrair investimento suficiente sem com-<br />

prometer a in<strong>de</strong>pendência nacional. Esta é<br />

a razão porque é tão crítico para <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> prosseguir não só <strong>de</strong>senvolvimento<br />

económico mas também <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano. Uma estratégia <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano baseia-se na expansão das capacida<strong>de</strong>s<br />

humanas e na participação<br />

<strong>de</strong>mocrática no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão. Isto é<br />

crítico em políticas <strong>de</strong> investimento estrangeiro<br />

porque, a menos que as <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong><br />

investimento sejam obtidas através <strong>de</strong> um<br />

consenso <strong>de</strong>mocrático, po<strong>de</strong>m provocar<br />

uma reacção popular negativa e<br />

<strong>de</strong>sestabilizar tanto a economia como a<br />

socieda<strong>de</strong>.<br />

Não existe um mo<strong>de</strong>lo padrão internacional<br />

para a utilização <strong>do</strong> investimento estrangeiro.<br />

Mesmo os países <strong>de</strong> rápi<strong>do</strong> crescimento<br />

da Ásia Oriental mostram o sucesso<br />

<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los contrastantes. A República<br />

da Coreia <strong>do</strong> Sul, por exemplo, <strong>de</strong>cidiu<br />

caminhar sem muito investimento estrangeiro.<br />

O governo protegeu as empresas<br />

nacionais e financiou o investimento<br />

<strong>de</strong>stas com fun<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s bancos nacionaliza<strong>do</strong>s<br />

e compran<strong>do</strong> a maioria da tecnologia<br />

<strong>de</strong> que necessitava ou adquirin<strong>do</strong>-a através<br />

da participação limitada <strong>de</strong> empresas estrangeiras<br />

no capital <strong>de</strong> empresas nacionais.,<br />

Singapura, pelo contrário, fez to<strong>do</strong>s os possíveis<br />

por atrair investimento estrangeiro e<br />

fez gran<strong>de</strong>s esforços para assegurar que o<br />

seu ambiente económico e social era atractivo<br />

para as empresas estrangeiras que trariam<br />

consigo novas tecnologias.<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> terá <strong>de</strong> alcançar um equilíbrio<br />

entre estas duas perspectivas. Por um<br />

la<strong>do</strong>, necessita <strong>de</strong> criar as condições que<br />

permitam aos timorenses, em geral, e aos<br />

seus empresários, em particular, espaço e<br />

oportunida<strong>de</strong>s para <strong>de</strong>senvolverem as suas<br />

potencialida<strong>de</strong>s. Por outro la<strong>do</strong>, também<br />

precisa <strong>de</strong>, urgentemente, atrair IDE para<br />

<strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s sectores estratégicos.<br />

Actualmente, a maioria <strong>do</strong> investimento<br />

estrangeiro em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> é nos sectores<br />

<strong>do</strong> alojamento e <strong>do</strong>s serviços. Muita<br />

<strong>de</strong>sta activida<strong>de</strong> é sustentada pela presença<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> pessoal das Nações<br />

Unidas e outro pessoal internacional. Existe<br />

o risco real <strong>de</strong> que quan<strong>do</strong> estas pessoas se<br />

forem embora os investi<strong>do</strong>res também saiam<br />

com eles. Até agora, poucas <strong>de</strong>stas activida<strong>de</strong>s<br />

transferiram muita especialização<br />

para os funcionários <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>. Um<br />

inquérito <strong>de</strong> 2001 efectua<strong>do</strong> pelo<br />

CRESCIMENTO ECONÓMICO PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO<br />

A maioria <strong>do</strong><br />

investimento<br />

estrangeiro em<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> é nos<br />

sectores <strong>do</strong><br />

alojamento e <strong>do</strong>s<br />

serviços<br />

73


As licenças <strong>de</strong><br />

pesca po<strong>de</strong>m-se<br />

basear em joint<br />

ventures<br />

74<br />

Departamento <strong>de</strong> Assuntos Económicos e<br />

<strong>do</strong> <strong>Desenvolvimento</strong> mostrou que menos<br />

<strong>de</strong> meta<strong>de</strong> <strong>de</strong>stas activida<strong>de</strong>s estavam a<br />

<strong>de</strong>senvolver as capacida<strong>de</strong>s humanas <strong>de</strong><br />

uma forma significativa. A maioria das<br />

empresas <strong>de</strong>clararam que, para activida<strong>de</strong>s<br />

que requeriam maior preparação técnica—<br />

por exemplo, em termos <strong>de</strong> gestão ou <strong>de</strong><br />

contabilida<strong>de</strong>-, empregavam nacionais <strong>do</strong><br />

país <strong>de</strong> origem da empresa.<br />

Sectores estratégicos para o IDE<br />

O investimento estrangeiro podia dar um<br />

estímulo importante a certos sectores chave:<br />

• Agricultura—a participação estrangeira<br />

po<strong>de</strong> ser particularmente útil no cultivo e<br />

processamento <strong>de</strong> café e baunilha. Contu<strong>do</strong>,<br />

isto não seria como proprietários das terras<br />

mas como instrutores e comerciantes.<br />

• Pescas—existem algumas propostas <strong>de</strong><br />

investimento na pesca, tais como na <strong>do</strong><br />

atum e <strong>do</strong> camarão. Aqui, a cooperação<br />

entre governo, comunida<strong>de</strong>s pesqueiras locais<br />

e sector priva<strong>do</strong> po<strong>de</strong> ajudar a <strong>de</strong>senvolver<br />

as capacida<strong>de</strong>s técnicas e humanas.<br />

Contu<strong>do</strong>, o governo po<strong>de</strong> conce<strong>de</strong>r licenças<br />

<strong>de</strong> pesca sob a condição <strong>de</strong> as empresas<br />

licenciadas formarem os nacionais ou<br />

criarem joint ventures com empresas locais.<br />

• Turismo—a indústria turística <strong>de</strong> <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> necessitará <strong>de</strong> investimentos internacionais.<br />

Mas, mais uma vez, esta <strong>de</strong>ve estar<br />

condicionada às transferências <strong>de</strong> saber ao<br />

staff local.<br />

• Manufacturas—aqui, os melhores pontos<br />

<strong>de</strong> partida, tal como o foram para muitos<br />

outros países em vias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento,<br />

são provavelmente o vestuário, os têxteis e<br />

o calça<strong>do</strong>. Contu<strong>do</strong>, a competição externa<br />

nestes produtos é intensa, nomeadamente<br />

da China e <strong>de</strong> outros países Asiáticos.<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> terá <strong>de</strong> assegurar que tem a<br />

infraestrutura e a legislação laboral pronta<br />

para convencer as empresas <strong>de</strong> que este é<br />

um país on<strong>de</strong> vale a pena investir. Uma vantagem<br />

que <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> po<strong>de</strong> oferecer é<br />

que, como “país menos <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>”, tem<br />

acesso preferencial a <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s.<br />

Esta vantagem é menos importante <strong>do</strong><br />

que há umas décadas da<strong>do</strong> que as barreiras<br />

tarifárias diminuíram entretanto. Porém, alguns<br />

potenciais investi<strong>do</strong>res foram atraí<strong>do</strong>s<br />

pelo acesso <strong>de</strong> alguns países à União<br />

Europeia por intermédio <strong>do</strong> Acor<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

Cotonou, para os países da África, Caraíbas<br />

e Pacífico.<br />

Barreiras aos fluxos <strong>de</strong> IDE<br />

Dada a dimensão da concorrência, <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> terá <strong>de</strong> trabalhar muito se <strong>de</strong>seja atrair<br />

investi<strong>do</strong>res estrangeiros. Há actualmente<br />

um certo número <strong>de</strong> barreiras que são<br />

críticas:<br />

• Gestão da proprieda<strong>de</strong>—as maiores barreiras<br />

centram-se em re<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s direitos <strong>de</strong><br />

proprieda<strong>de</strong> e especificamente da posse da<br />

terra. Actualmente não existe nenhum mecanismo<br />

<strong>de</strong> registo da posse da terra. Durante<br />

o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> transição o ‘Mecanismo<br />

<strong>de</strong> Uso Temporário da Terra’ tornou alguma<br />

terra disponível para fins <strong>de</strong> investimento.<br />

Mas o cenário a mais longo prazo é incerto.<br />

Muitos indivíduos e entida<strong>de</strong>s têm<br />

vin<strong>do</strong> a alugar terras que não possuem e os<br />

investi<strong>do</strong>res sabem que se alugarem a terra<br />

arriscam-se a ter conflitos e ocupações ilegais.<br />

A resolução da questão da proprieda<strong>de</strong><br />

da terra é também crucial para promover<br />

a activida<strong>de</strong> empresarial <strong>de</strong> uma forma<br />

geral da<strong>do</strong> que os bancos exigem frequentemente<br />

títulos <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> como<br />

colateral <strong>do</strong>s empréstimos.<br />

• Utilização <strong>do</strong> dólar americano—<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

a<strong>do</strong>ptou o dólar americano como a forma<br />

mais rápida <strong>de</strong> lidar com uma súbita necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> divisas. Mas, esta po<strong>de</strong> não ser a<br />

melhor opção a longo prazo. A <strong>do</strong>larização<br />

tem as suas vantagens na imposição <strong>de</strong> disciplina<br />

monetária mas também tem a <strong>de</strong>svantagem<br />

<strong>de</strong> o país per<strong>de</strong>r um importante<br />

grau <strong>de</strong> flexibilização no lidar com as circunstâncias<br />

e os acontecimentos locais. Po<strong>de</strong>,<br />

por exemplo, consi<strong>de</strong>rar-se que as importações<br />

se tornam muito baratas e as exportações<br />

pouco competitivas—como a<br />

Argentina concluiu à sua custa. <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

também terá <strong>de</strong> competir com países, como<br />

a In<strong>do</strong>nésia, que po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>svalorizar a sua<br />

moeda para adquirir vantagens competitivas.<br />

• Custos eleva<strong>do</strong>s—muitos investi<strong>do</strong>res<br />

vêem <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> como um país com custos<br />

relativamente eleva<strong>do</strong>s. Isto resulta, em<br />

parte, <strong>do</strong>s eleva<strong>do</strong>s salários—algumas estimativas<br />

sugerem que os custos salariais em<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> são duas a três vezes mais altos<br />

que na In<strong>do</strong>nésia. Mas há também <strong>de</strong>spesas<br />

mais indirectas da activida<strong>de</strong> empresarial.<br />

A fraca infraestrutura e um sistema<br />

legal sub<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> criam situações im-<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


previstas e caras. Os investi<strong>do</strong>res, po<strong>de</strong>m<br />

por exemplo, pensar que têm todas as autorizações<br />

necessárias ao estabelecimento <strong>do</strong><br />

seu negócio e mais tar<strong>de</strong> verificarem que<br />

ainda lhes falta uma autorização vital.<br />

• Questões laborais—actualmente as leis <strong>de</strong><br />

trabalho são pouco claras acerca <strong>do</strong>s direitos<br />

e <strong>de</strong>veres <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res e não há<br />

mecanismos rápi<strong>do</strong>s para resolver as disputas<br />

laborais.<br />

• Incertezas legais—<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> <strong>de</strong>frontase<br />

com a falta <strong>de</strong> um quadro legal para a<br />

activida<strong>de</strong> empresarial. O Regulamento<br />

1999/1 da UNTAET estabelece que a<br />

maioria das leis in<strong>do</strong>nésias se aplicam em<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>, com excepção <strong>do</strong>s casos on<strong>de</strong><br />

exista regulamentação própria da<br />

UNTAET. Infelizmente, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à falta <strong>de</strong><br />

capacida<strong>de</strong> administrativa e <strong>de</strong> conhecimento<br />

das leis, esta legislação é difícil <strong>de</strong> aplicar<br />

e as empresas encontram-se vulneráveis a<br />

<strong>de</strong>cisões aleatórias e arbitrárias. Isto aplicase<br />

a muitas áreas cruciais, incluin<strong>do</strong> os seguros,<br />

falências, planeamentos urbanos, trabalho<br />

e uso da terra, bem como leis empresariais<br />

e códigos <strong>de</strong> construção civil.<br />

Linhas <strong>de</strong> orientação <strong>do</strong> IDE<br />

Durante o ano <strong>de</strong> 2001, o gabinete provisório<br />

<strong>de</strong>bateu um esboço <strong>do</strong> Regulamento<br />

e Directivas <strong>de</strong> Investimento Estrangeiro<br />

que tentava estabelecer um equilíbrio entre<br />

o valor <strong>do</strong> IDE e a sua capacida<strong>de</strong> para<br />

estimular o crescimento e a transferência <strong>de</strong><br />

tecnologia, por um la<strong>do</strong>, e qualquer perda<br />

<strong>de</strong> controlo (real ou entendida como tal)<br />

sobre a economia nacional, por outro. Porém,<br />

o <strong>de</strong>bate sobre isto ficou para<strong>do</strong> durante<br />

o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> transição. A promulgação<br />

<strong>de</strong> tal directiva iria reduzir fortemente<br />

a incerteza nos investimentos.<br />

Esta forma <strong>de</strong> regulamentação necessitaria<br />

<strong>de</strong> estabelecer diferentes categorias <strong>de</strong><br />

negócios-alguns reserva<strong>do</strong>s aos nacionais e<br />

outros aos investi<strong>do</strong>res estrangeiros sob<br />

<strong>de</strong>terminadas condições. Po<strong>de</strong>ria ser argumenta<strong>do</strong>,<br />

por exemplo, que o sector <strong>do</strong>s<br />

transportes internos não necessita <strong>de</strong> investimento<br />

estrangeiro e que po<strong>de</strong>ria ser<br />

reserva<strong>do</strong> para os nacionais. O mesmo se<br />

po<strong>de</strong>ria dizer da venda por grosso ou a<br />

retalho <strong>do</strong>s bens <strong>de</strong> consumo. Mas noutras<br />

áreas, tais como o petróleo e a distribuição<br />

<strong>de</strong> carburantes, que são mais técnicas e<br />

capital intensivas, seria mais apropria<strong>do</strong> criar<br />

joint ventures. A agricultura também po<strong>de</strong><br />

ser um sector reserva<strong>do</strong> aos nacionais, excluin<strong>do</strong><br />

talvez os projectos pioneiros e <strong>de</strong><br />

eleva<strong>do</strong> risco fortemente capital intensivos.<br />

Contu<strong>do</strong>, a aquisição e exportação da produção<br />

agrícola iria certamente beneficiar da<br />

experiência estrangeira.<br />

No la<strong>do</strong> industrial, o sector da construção<br />

já <strong>de</strong>monstrou os benefícios das joint<br />

ventures e a mesma situação iria provavelmente<br />

aplicar-se a outros sectores<br />

fortemente exigentes em organização e equipamento.<br />

Contu<strong>do</strong>, aqui seria importante<br />

estabelecer mecanismos para se assegurar<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento das capacida<strong>de</strong>s nacionais.<br />

Adicionalmente, o regime <strong>de</strong> investimentos<br />

po<strong>de</strong>ria estabelecer um montante<br />

mínimo para estes da<strong>do</strong> que isto teria também<br />

o efeito <strong>de</strong> concentrar IDE em áreas<br />

on<strong>de</strong> os recursos locais são ina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s.<br />

Questões fiscais<br />

A maior parte <strong>do</strong>s países oferecem incentivos<br />

fiscais aos investi<strong>do</strong>res, sejam eles nacionais<br />

ou internacionais. Alguns permitem<br />

regimes especiais <strong>de</strong> <strong>de</strong>preciação <strong>de</strong> capital,<br />

por exemplo, ou isentam os investi<strong>do</strong>res<br />

em certas indústrias estratégicas <strong>do</strong><br />

pagamento <strong>de</strong> direitos alfan<strong>de</strong>gários e outros<br />

impostos, particularmente se as empresas<br />

produzirem para exportação. Os<br />

países da Ásia Oriental fizeram bom uso<br />

<strong>de</strong>stas técnicas. Certamente que num país<br />

como <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>, on<strong>de</strong> a maior parte <strong>do</strong>s<br />

bens e <strong>do</strong> capital utiliza<strong>do</strong>s no sector mo<strong>de</strong>rno<br />

precisam <strong>de</strong> ser importa<strong>do</strong>s, taxar<br />

excessivamente as importações é um gran<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sincentivo para os investi<strong>do</strong>res. É,<br />

porém, necessário algum nível <strong>de</strong> impostos,<br />

da<strong>do</strong> que, com poucos contribuintes,<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>, <strong>de</strong> algum mo<strong>do</strong>, <strong>do</strong>s<br />

impostos sobre o comércio internacional.<br />

Assim, terá <strong>de</strong> alcançar um equilíbrio entre<br />

as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> curto prazo em termos<br />

<strong>de</strong> receitas fiscais e as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> longo<br />

prazo em termos <strong>de</strong> investimentos.<br />

Organizações regionais<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> alcança a sua in<strong>de</strong>pendência<br />

numa era <strong>de</strong> globalização em que é importante<br />

estabelecer relações económicas através<br />

<strong>de</strong> organizações globais e regionais. Das<br />

primeiras, a mais importante é a<br />

Organização Mundial <strong>do</strong> Comércio, sen<strong>do</strong><br />

mais ou menos inevitável a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Timor</strong> se tornar membro <strong>de</strong>la. Outra<br />

<strong>de</strong>cisão útil para <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> seria associ-<br />

CRESCIMENTO ECONÓMICO PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

<strong>de</strong>fronta-se com a<br />

falta <strong>de</strong> um<br />

quadro legal para<br />

a activida<strong>de</strong><br />

empresarial<br />

75


76<br />

ar-se aos países da África, Caraíbas e Pacífico<br />

(ACP) que subscreveram o Acor<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

Cotonou—o sucessor da Convenção <strong>de</strong><br />

Lomé—que, para além <strong>de</strong> apoio financeiro,<br />

oferece o benefício <strong>de</strong> acesso preferencial<br />

aos merca<strong>do</strong>s da União Europeia.<br />

Quanto às organizações económicas<br />

regionais, existem duas opções principais:<br />

aliar-se à Associação das Nações <strong>do</strong> Su<strong>de</strong>ste<br />

Asiático (ASEAN) ou ao Fórum <strong>do</strong> Pacífico<br />

Sul. De facto, esta escolha, que tem implicações<br />

tanto políticas como económicas, já<br />

foi, provavelmente, feita da<strong>do</strong> que a li<strong>de</strong>rança<br />

<strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> optou por reforçar<br />

as relações com a ASEAN.<br />

Isto permitirá acesso aos merca<strong>do</strong>s<br />

adjacentes para exportação e a importações<br />

mais baratas. Contu<strong>do</strong>, num prazo mais<br />

longo, po<strong>de</strong>rão surgir conflitos entre ser<br />

membro <strong>do</strong> ACP e <strong>do</strong> ASEAN. Outra entida<strong>de</strong><br />

regional é o fórum da Cooperação<br />

Económica da Ásia-Pacífico.<br />

A economia para as pessoas<br />

O arquitecto original <strong>do</strong>s relatórios <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano, o faleci<strong>do</strong> Mahbub<br />

ul Haq, era ele próprio economista e exministro<br />

das finanças. Mas, ele não tinha<br />

dúvidas sobre on<strong>de</strong> estavam as reais<br />

priorida<strong>de</strong>s:<br />

Nós estamos a re<strong>de</strong>scobrir a verda<strong>de</strong> essencial <strong>de</strong><br />

que as pessoas têm <strong>de</strong> estar no centro <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento. O propósito <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento é<br />

dar às pessoas mais opções. Uma das suas opções é<br />

o acesso ao rendimento—não só como um fim em si<br />

mesmo, mas como um meio <strong>de</strong> adquirir bem estar<br />

humano.<br />

Há medida que <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> passa <strong>de</strong> décadas<br />

<strong>de</strong> luta política para os novos <strong>de</strong>safios<br />

da in<strong>de</strong>pendência, há muitas <strong>de</strong>cisões para<br />

tomar e políticas para implementar. Algumas<br />

das <strong>de</strong>cisões mais urgentes dirão respeito<br />

ao <strong>de</strong>senvolvimento económico-—<br />

como aumentar os níveis <strong>de</strong> rendimento<br />

num <strong>do</strong>s mais novos mas também mais<br />

pobres países <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Mas o teste final<br />

<strong>de</strong> todas estas <strong>de</strong>cisões—sejam quanto à<br />

agricultura, indústria, turismo ou indústria<br />

petrolífera—é se irão ou não melhorar directamente<br />

as vidas das famílias mais pobres.<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


ANEXO<br />

Uma breve história <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

Investigações antropológicas indicam que<br />

as primeiras pessoas a chegar a <strong>Timor</strong>,<br />

aproximadamente 40.000 a 20.000 anos<br />

AC, eram <strong>do</strong> tipo Ve<strong>do</strong>-Australói<strong>de</strong>, semelhante<br />

aos Vedas <strong>de</strong> Ceilão. Uma segunda<br />

onda, que chegou cerca <strong>de</strong> 3000 anos AC,<br />

consistiu nos Melanésios, semelhantes aos<br />

que vivem actualmente na Papua Nova<br />

Guiné e em algumas ilhas <strong>do</strong> Pacífico; línguas<br />

<strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>, tal como Macassae,<br />

Bunac e outras parecem ter ti<strong>do</strong> esta origem.<br />

Provavelmente <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à natureza<br />

montanhosa <strong>do</strong> país, estes novos recém<br />

chega<strong>do</strong>s não se misturaram com os primeiros<br />

habitantes, os quais se dirigiram para<br />

as regiões montanhosas <strong>do</strong> interior. Esta<br />

po<strong>de</strong> ser uma razão pela qual <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

tem tantas línguas diferentes.<br />

Uma terceira onda, que chegou cerca <strong>de</strong><br />

2500 AC, consistiu nos ‘proto-malaios’—<br />

pessoas vindas <strong>do</strong> Sul da China e <strong>do</strong> Norte<br />

da In<strong>do</strong>china. Mesmo hoje, os chineses em<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> são uma das mais importantes<br />

comunida<strong>de</strong>s comerciais.<br />

Os portugueses colonizam <strong>Timor</strong><br />

Os portugueses atingiram a costa <strong>de</strong> <strong>Timor</strong><br />

por volta <strong>de</strong> 1515, no que é hoje o enclave<br />

<strong>de</strong> Oécussi. Porém, foi só após 1700, com<br />

a instalação <strong>do</strong> Governa<strong>do</strong>r em Dili, que<br />

eles começaram uma mais eficiente exploração<br />

comercial <strong>do</strong>s recursos. Fizeram lucros<br />

enormes com a exportação <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira<br />

<strong>de</strong> sândalo, ten<strong>do</strong> sobre-explora<strong>do</strong><br />

este recurso. Há medida que o sândalo se<br />

tornava quase extinto, os portugueses introduziram<br />

em 1815 o café, juntamente com<br />

a cana <strong>de</strong> açúcar e o algodão.<br />

O colonialismo português assegurou que<br />

a população nativa, particularmente os produtores<br />

<strong>de</strong> café, nunca conseguissem acumular<br />

muito capital. Em vez disso, as receitas<br />

das exportações <strong>do</strong> café iam largamente<br />

para os comerciantes portugueses e chineses.<br />

O <strong>de</strong>scontentamento em relação a isto<br />

foi, talvez, uma das causas <strong>de</strong> várias rebeliões<br />

timorenses—incluin<strong>do</strong> a revolta <strong>de</strong><br />

Manufahi conduzida por D. Boaventura.<br />

Após <strong>do</strong>ze anos <strong>de</strong> resistência e luta contra<br />

os portugueses, as forças <strong>de</strong> D. Boaventura<br />

UMA BREVE HISTÓRIA DE TIMOR LESTE<br />

foram finalmente esmagadas pelas tropas<br />

portuguesas em 1912.<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> permaneceu basicamente<br />

sub<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>, com uma economia baseada<br />

na troca <strong>de</strong> géneros. Nas vésperas da<br />

II Guerra Mundial, a capital, Dili, não tinha<br />

nem electricida<strong>de</strong> nem abastecimento <strong>de</strong><br />

água e apenas existiam algumas estradas.<br />

Mesmo assim, antes da Segunda Guerra<br />

Mundial o Império Japonês consi<strong>de</strong>rava<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> como sen<strong>do</strong> <strong>de</strong> importância<br />

estratégica por três razões. Primeiro, a posição<br />

geopolítica <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> facilitaria a expansão<br />

<strong>do</strong> Japão em direcção ao sul, ajudan<strong>do</strong><br />

a separar as colónias britânicas <strong>do</strong><br />

su<strong>de</strong>ste da Ásia da Austrália. Segun<strong>do</strong>, Portugal,<br />

que era um <strong>do</strong>s mais fracos po<strong>de</strong>res<br />

coloniais e tinha <strong>de</strong>clara<strong>do</strong> a sua neutralida<strong>de</strong><br />

entre o ‘Eixo’ e os ‘Alia<strong>do</strong>s’, era consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong><br />

uma presa fácil para os interesses<br />

políticos e militares <strong>do</strong> Japão. Terceiro, as<br />

reservas <strong>de</strong> petróleo e <strong>de</strong> gás no Mar <strong>de</strong><br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> po<strong>de</strong>riam ajudar a satisfazer<br />

as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> combustível <strong>do</strong>s<br />

japoneses.<br />

Quan<strong>do</strong> a II Guerra Mundial começou,<br />

os australianos e os alemães, cientes da importância<br />

<strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> como zona tampão,<br />

aterraram em Dili apesar <strong>do</strong>s protestos<br />

portugueses. Os japoneses utilizaram<br />

então a presença <strong>do</strong>s Australianos como<br />

pretexto para uma invasão em Fevereiro <strong>de</strong><br />

1942 e ficaram até Setembro <strong>de</strong> 1945.<br />

No final da guerra <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> estava<br />

em ruínas. Aproximadamente 60.000<br />

timorenses tinham perdi<strong>do</strong> as suas vidas<br />

como resulta<strong>do</strong> da ocupação japonesa e da<br />

resistência aos invasores tentan<strong>do</strong> proteger<br />

a Austrália. As pessoas também foram forçadas<br />

a dar alimentos aos japoneses, <strong>de</strong> tal<br />

forma que quan<strong>do</strong> eles finalmente se ren<strong>de</strong>ram,<br />

o cenário em <strong>Timor</strong> era <strong>de</strong> miséria<br />

humana e <strong>de</strong>vastação. A população estava<br />

próxima da inanição e a maioria das plantações<br />

<strong>de</strong> café, cacau e <strong>de</strong> borracha tinham<br />

si<strong>do</strong> aban<strong>do</strong>nadas.<br />

Uma nova era <strong>de</strong> colonização<br />

Os timorenses e os portugueses ajudaram<br />

o país a recuperar mas o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

77


78<br />

foi lento. A taxa <strong>de</strong> crescimento anual entre<br />

1953 e 1962 foi <strong>de</strong> apenas 2%. Entretanto,<br />

as Nações Unidas, através da Resolução<br />

1514 (XV) <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 1960<br />

<strong>de</strong>clarou <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> um território não<br />

autónomo sob administração Portuguesa.<br />

Portugal tentou séria e sistematicamente<br />

<strong>de</strong>senvolver <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> através <strong>de</strong> três<br />

planos sucessivos <strong>de</strong> cinco anos. O dinheiro<br />

começou a chegar e houve um súbito<br />

surto <strong>de</strong> crescimento económico que, em<br />

média foi <strong>de</strong> 6% ao ano. Não obstante, isto<br />

não foi suficiente para ultrapassar décadas<br />

<strong>de</strong> sub<strong>de</strong>senvolvimento e, em 1974, o rendimento<br />

per capita era ainda <strong>de</strong> apenas $98<br />

ao ano.<br />

A agricultura absorvia pelo menos 80%<br />

da força <strong>de</strong> trabalho, mas permanecia largamente<br />

ao nível <strong>de</strong> subsistência, representan<strong>do</strong><br />

apenas 33% <strong>do</strong> PIB em 1962. As<br />

principais exportações eram o café, com<br />

73% <strong>do</strong> total, seguidas da copra, borracha,<br />

cera e frutos <strong>de</strong> cerieira. Havia muito pouca<br />

activida<strong>de</strong> privada fora <strong>do</strong> sector <strong>do</strong><br />

comércio e as oscilações nos preços internacionais<br />

das merca<strong>do</strong>rias conduziram a<br />

numerosos défices da balança <strong>de</strong> pagamentos.<br />

Entretanto, a população estava a crescer<br />

a um ritmo <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 2% ao ano.<br />

Portugal governou <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> com<br />

uma combinação <strong>de</strong> ‘direct’ e <strong>de</strong> ‘indirect<br />

rule’, governan<strong>do</strong> as populações essencialmente<br />

através das estruturas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r tradicionais,<br />

em vez <strong>de</strong> utilizar os emprega<strong>do</strong>s<br />

civis coloniais. Isto manteve a socieda<strong>de</strong> tradicional<br />

timorense praticamente inalterada.<br />

Contu<strong>do</strong>, em 1974 a ‘transição para a<br />

<strong>de</strong>mocracia’ em Portugal teve um súbito<br />

impacto em todas as suas colónias. O clima<br />

político em Portugal mu<strong>do</strong>u para a esquerda<br />

e pela primeira vez foi dada aos<br />

timorenses a liberda<strong>de</strong> para formarem os<br />

seus próprios parti<strong>do</strong>s políticos.<br />

Após uma série <strong>de</strong> alterações nas alianças<br />

políticas, os <strong>do</strong>is principais parti<strong>do</strong>s<br />

políticos, a União Democrática <strong>Timor</strong>ense<br />

(UDT) e a Frente Revolucionária <strong>do</strong> <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte (FRETILIN) formaram<br />

uma coligação nos inícios <strong>de</strong> 1974 preparan<strong>do</strong>-se<br />

para uma eventual in<strong>de</strong>pendência<br />

sob a orientação da administração<br />

Portuguesa.<br />

Em 11 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 1975, a UDT<br />

secretamente apoiada pelo governo<br />

in<strong>do</strong>nésio, efectuou um golpe <strong>de</strong> esta<strong>do</strong>,<br />

numa tentativa <strong>de</strong> se apo<strong>de</strong>rar <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r<br />

<strong>do</strong>s portugueses e travar a ascendência da<br />

Fretilin, que na altura se tinha torna<strong>do</strong> no<br />

parti<strong>do</strong> com maior apoio popular. Durante<br />

a tentativa <strong>de</strong> golpe <strong>de</strong> esta<strong>do</strong> da UDT,<br />

morreram mais <strong>de</strong> 2.000 pessoas. A maior<br />

parte <strong>do</strong>s membros da UDT e muitos <strong>do</strong>s<br />

seus apoiantes fugiram através da fronteira<br />

para <strong>Timor</strong> Oci<strong>de</strong>ntal (In<strong>do</strong>nésio). A<br />

In<strong>do</strong>nésia permitiu-lhes a entrada se assinassem<br />

<strong>do</strong>cumentos concordan<strong>do</strong> com a<br />

integração <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> na República<br />

In<strong>do</strong>nésia. Nos primeiros dias <strong>do</strong> golpe <strong>de</strong><br />

esta<strong>do</strong>, a administração portuguesa <strong>de</strong>ixou<br />

Dili ten<strong>do</strong> i<strong>do</strong> para a ilha <strong>de</strong> Ataúro, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong><br />

à Fretilin o controlo <strong>de</strong> facto <strong>de</strong><br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>. Então, a Fretilin administrou<br />

o território até à invasão in<strong>do</strong>nésia.<br />

Em 28 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1975, numa<br />

tentativa <strong>de</strong> levar este caso às Nações Unidas<br />

e <strong>de</strong> publicitar as incursões armadas <strong>do</strong>s<br />

in<strong>do</strong>nésios no seu território, a Fretilin <strong>de</strong>clarou<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> como a República Democrática<br />

<strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> (RDTL). A<br />

RDTL, foi reconhecida por um pequeno<br />

número <strong>de</strong> países, principalmente antigas<br />

colónias portuguesas, e teve uma vida curta.<br />

Dez dias mais tar<strong>de</strong>, a 7 <strong>de</strong> Dezembro<br />

<strong>de</strong> 1975, as tropas in<strong>do</strong>nésias lançaram uma<br />

invasão em gran<strong>de</strong> escala.<br />

A ocupação in<strong>do</strong>nésia<br />

A ‘Nova Or<strong>de</strong>m’ da administração <strong>do</strong> presi<strong>de</strong>nte<br />

in<strong>do</strong>nésio Suharto estava <strong>de</strong>terminada<br />

a impedir a emergência <strong>de</strong> um novo<br />

país no arquipélago in<strong>do</strong>nésio pois temia<br />

que isso pu<strong>de</strong>sse estabelecer um prece<strong>de</strong>nte<br />

para outras ilhas, particularmente na<br />

In<strong>do</strong>nésia oriental.<br />

O resulta<strong>do</strong> foi a invasão in<strong>do</strong>nésia <strong>de</strong><br />

7 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 1975. Cerca <strong>de</strong> 60.000<br />

pessoas per<strong>de</strong>ram as suas vidas nos anos<br />

iniciais da anexação, contribuin<strong>do</strong> para um<br />

total <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 200.000 mortes durante o<br />

perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> administração in<strong>do</strong>nésia. Num<br />

esforço para assegurar um maior controlo<br />

sobre a sua nova província dissi<strong>de</strong>nte—cuja<br />

tomada pela força foi con<strong>de</strong>nada pelas<br />

Nações Unidas—, a In<strong>do</strong>nésia investiu somas<br />

consi<strong>de</strong>ráveis em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> para<br />

aumentar o seu po<strong>de</strong>r militar. Esses investimentos<br />

<strong>de</strong>ram-se principalmente em<br />

infraestruturas e no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

produções agrícolas para exportação. O<br />

governo in<strong>do</strong>nésio também empregou uma<br />

gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pessoas na função<br />

pública.<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


Na sequência da invasão, a maior parte<br />

da população dirigiu-se para as montanhas,<br />

on<strong>de</strong> sobreviveram durante três anos viven<strong>do</strong><br />

fora <strong>do</strong> controlo in<strong>do</strong>nésio. Na sequência<br />

<strong>de</strong> um forte bombar<strong>de</strong>amento aéreo<br />

<strong>de</strong>stas áreas e das suas culturas, em 1978 a<br />

maioria da população foi forçada a <strong>de</strong>scer<br />

para áreas mais baixas, on<strong>de</strong> encontraram<br />

as tropas in<strong>do</strong>nésias e muitos foram mortos.<br />

Os militares in<strong>do</strong>nésios começaram<br />

então a realojar a população restante em<br />

novos campos <strong>de</strong> realojamento então estabeleci<strong>do</strong>s.<br />

Ao restringir aos al<strong>de</strong>ãos o tempo<br />

<strong>de</strong> produção da sua alimentação, os<br />

militares in<strong>do</strong>nésios forçaram-nos a construir<br />

estradas, <strong>de</strong>rrube <strong>de</strong> árvores e ao cultivo<br />

<strong>de</strong> culturas cerealíferas para exportação.<br />

Contrariamente aos portugueses, os<br />

in<strong>do</strong>nésios favoreceram o ‘direct rule’ numa<br />

versão forte. Mas, o povo <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

nunca aceitou isto e estava <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> a<br />

preservar a sua cultura e a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional,<br />

na qual a religião e a Igreja Católica<br />

<strong>de</strong>sempenham um papel crucial.<br />

Em 1991 os militares in<strong>do</strong>nésios <strong>de</strong>ram<br />

permissão a uma <strong>de</strong>legação parlamentar <strong>de</strong><br />

Portugal para visitar <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>. Era suposto<br />

a missão preparar o terreno para um<br />

envolvimento mais sério das Nações Unidas.<br />

Contu<strong>do</strong>, a visita foi cancelada no último<br />

minuto. Os militares in<strong>do</strong>nésios passaram<br />

imediatamente ao ataque. Um jovem<br />

estudante, Sebastião Gomes, foi morto e<br />

muitos outros foram presos.<br />

A 12 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1991, milhares<br />

<strong>de</strong> timorenses marcharam em direcção ao<br />

cemitério <strong>de</strong> Santa Cruz para rezar em<br />

memória <strong>de</strong> Sebastião Gomes. As tropas<br />

in<strong>do</strong>nésias abriram fogo e mataram mais<br />

<strong>de</strong> 200 pessoas. O “Massacre <strong>de</strong> Santa<br />

Cruz” marcou um ponto <strong>de</strong> viragem na<br />

brutal ocupação <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> à medida<br />

que as chocantes imagens eram difundidas<br />

à volta <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Pessoas e organizações<br />

começaram a pôr maior pressão nos seus<br />

governos e nas organizações internacionais<br />

a favor <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>.<br />

A captura e a prisão <strong>do</strong> lí<strong>de</strong>r da resistência,<br />

Xanana Gusmão, em 1992 também<br />

chamou a atenção para a situação <strong>do</strong>s direitos<br />

humanos. A In<strong>do</strong>nésia foi sujeita a<br />

uma crescente crítica internacional por parte<br />

<strong>do</strong>s governos, agências e ONGs, culminan<strong>do</strong><br />

em Outubro <strong>de</strong> 1996 com a atribuição<br />

<strong>do</strong> prémio Nobel da Paz a <strong>do</strong>is lí<strong>de</strong>res<br />

timorenses, Bispo Carlos Ximenes Belo e<br />

UMA BREVE HISTÓRIA DE TIMOR LESTE<br />

José Ramos Horta em representação <strong>do</strong><br />

povo <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>. Isto aju<strong>do</strong>u ao crescente<br />

apoio ao movimento <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência,<br />

prossegui<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o final <strong>do</strong>s anos 80<br />

através <strong>do</strong> crescente envolvimento <strong>do</strong>s jovens<br />

nas áreas urbanas <strong>de</strong> Dili e Baucau.<br />

Em 1997 e 1998, o governo da Nova<br />

Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Suharto (Or<strong>de</strong> Baru) foi agita<strong>do</strong><br />

por uma severa crise económica, que<br />

inflamou os protestos sociais em Jacarta que<br />

levaram a um aumento cada vez maior <strong>do</strong>s<br />

pedi<strong>do</strong>s para mudanças políticas na<br />

In<strong>do</strong>nésia. À medida que a situação continuou<br />

a <strong>de</strong>teriorar-se, Suharto foi obriga<strong>do</strong><br />

a resignar e foi substituí<strong>do</strong> pelo seu vice<br />

presi<strong>de</strong>nte, Dr. Habibie.<br />

Com a preocupação <strong>de</strong> se distinguir <strong>do</strong><br />

perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> Suharto e para melhorar a imagem<br />

internacional da In<strong>do</strong>nésia, o Presi<strong>de</strong>nte<br />

Habibie afirmou que não estava na disposição<br />

<strong>de</strong> manter o ‘far<strong>do</strong>’ <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

e, em Janeiro <strong>de</strong> 1999 ofereceu ao seu povo<br />

uma ‘gran<strong>de</strong> área <strong>de</strong> autonomia’ <strong>de</strong>ntro da<br />

República In<strong>do</strong>nésia. Habibie tinha <strong>de</strong>clarou<br />

também que o Governo in<strong>do</strong>nésio estava<br />

prepara<strong>do</strong> para “<strong>de</strong>ixar ir <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>”<br />

no caso <strong>de</strong> os timorenses rejeitarem<br />

aquela proposta <strong>de</strong> autonomia.<br />

Finalmente foi acorda<strong>do</strong>, em Maio <strong>de</strong><br />

1999 e sob os auspícios <strong>do</strong> Secretário Geral<br />

das Nações Unidas, Kofi Annan, um<br />

acor<strong>do</strong> entre os governos português e<br />

in<strong>do</strong>nésio para se fazer um referen<strong>do</strong> sobre<br />

a autonomia (ou “consulta popular”<br />

como foi então <strong>de</strong>signa<strong>do</strong>). As Nações<br />

Unidas começaram a preparar-se para o<br />

referen<strong>do</strong> através <strong>do</strong> estabelecimento da<br />

Missão <strong>de</strong> Assistência das Nações Unidas<br />

para <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>, UNAMET. A 3 <strong>de</strong> Junho<br />

<strong>de</strong> 1999 as Nações Unidas içaram a<br />

sua ban<strong>de</strong>ira no solo <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>. A 30<br />

<strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 1999 os timorenses votaram<br />

maciçamente—78%—contra a autonomia<br />

e a favor da in<strong>de</strong>pendência da In<strong>do</strong>nésia.<br />

Os grupos <strong>de</strong> milícias pró-integração e as<br />

forças armadas in<strong>do</strong>nésias respon<strong>de</strong>ram<br />

com extrema brutalida<strong>de</strong>, esten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a violência<br />

e as pilhagens ao longo <strong>do</strong> país.<br />

Como resulta<strong>do</strong> das suas acções, um terço<br />

da população foi forçada a <strong>de</strong>slocar-se para<br />

campos <strong>de</strong> refugia<strong>do</strong>s em <strong>Timor</strong> Oci<strong>de</strong>ntal<br />

e nas ilhas vizinhas. Outro terço procurou<br />

refúgio nas montanhas <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>.<br />

Entre 1.000 e 2.000 pessoas foram dadas<br />

como mortas na violência. À medida<br />

que partiam, os solda<strong>do</strong>s in<strong>do</strong>nésios e as<br />

79


80<br />

milícias por eles apoia<strong>do</strong>s <strong>de</strong>struíram casas<br />

e outros edifícios, incluin<strong>do</strong> os escritórios e<br />

o equipamento das Nações Unidas e das<br />

ONGs.<br />

Na sequência <strong>de</strong> veementes protestos<br />

internacionais pelos tumultos provoca<strong>do</strong>s<br />

pelos para-militares e da pressão governamental—particularmente<br />

<strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s,<br />

Austrália e Portugal ---, o Conselho <strong>de</strong><br />

Segurança das Nações Unidas autorizou<br />

uma força multinacional (INTERFET), sob<br />

o coman<strong>do</strong> unifica<strong>do</strong> <strong>de</strong> um Esta<strong>do</strong> membro,<br />

a Austrália, a restaurar a paz e a segurança.<br />

As Nações Unidas também lançaram<br />

uma operação humanitária em gran<strong>de</strong> escala<br />

que incluíu oferta <strong>de</strong> alimentos e outros<br />

serviços básicos.<br />

A 19 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1999, a Assembleia<br />

Popular Consultiva da In<strong>do</strong>nésia reconhe-<br />

ceu formalmente os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> referen<strong>do</strong>.<br />

Depois, em 25 <strong>de</strong> Outubro, o Conselho<br />

das Nações Unidas, através da Resolução<br />

1272 (1999), estabeleceu a Administração<br />

Transitória das Nações Unidas em<br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> (UNTAET) como uma operação<br />

integrada, multi-dimensional, <strong>de</strong> paz<br />

responsável pela administração <strong>de</strong> <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> durante a sua transição para a in<strong>de</strong>pendência.<br />

Em 30 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 2001, no aniversário<br />

<strong>do</strong> referen<strong>do</strong>, <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> efectuou<br />

eleições para representantes políticos, cuja<br />

tarefa foi a <strong>de</strong> elaborar uma nova Constituição<br />

que foi aprovada a 24 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong><br />

<strong>2002</strong>. Em 14 <strong>de</strong> Abril, ocorreu a eleição<br />

<strong>do</strong> primeiro Presi<strong>de</strong>nte, ganha por Xanana<br />

Gusmão. A in<strong>de</strong>pendência estava marcada<br />

para 20 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> <strong>2002</strong>.<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


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83


84<br />

QUADRO ANEXO 1<br />

Indica<strong>do</strong>res Demográficos<br />

1985 1990 1995 1999 2001 1<br />

População total (pessoas) 630.676 747.557 839.719 779.567 794.298<br />

Taxa <strong>de</strong> crescimento anual da população (%) 3,46 2,35 -1,5 0,90<br />

População urbana (% <strong>do</strong> total) .. 7,8 9,5 9,8 23,5 3<br />

População entre os 0-4 anos (% <strong>do</strong> total) 19,2 18,0 16,6 16,2 17,1<br />

População entre os 5-9 anos (% <strong>do</strong> total) 14,0 14,3 15,6 15,1 14,9<br />

População com menos <strong>de</strong> 15 anos (% <strong>do</strong> total) 40,6 41,5 43,5 41,1 43,9<br />

População entre os 15-64 anos (% <strong>do</strong> total) 57,6 56,5 54,8 57,0 53,7<br />

População com ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 65 e mais anos (% <strong>do</strong> total) 1,8 2,0 1,7 1,9 2,4<br />

Rácio <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência (%) 79,8 78,5 81,6 78,6 82,2<br />

Urbano 77,3 71,0 73,8 69,2 74,3<br />

Rural 83,5 79,7 82,4 80,8 84,4<br />

Rácio <strong>do</strong>s sexos( homens/mulheres) .. 1,07 1,03 1,03 1,01<br />

Taxa <strong>de</strong> fertilida<strong>de</strong> total (por mulher) .. 5,7 5,1 3,8 ..<br />

Dimensão média familiar, total (pessoas) 5,1 5,0 4,9 4,7 5,1<br />

Urbano .. 5,8 6,0 4,7 4,9<br />

Rural .. 5,0 4,8 4,7 5,2<br />

Mulheres chefes <strong>de</strong> família, total (%) .. 9,4 8,9 8,9 10,0<br />

Urbano 10,2 11,7 9,8 12,1<br />

Rural 9,3 8,6 8,7 9,2<br />

Densida<strong>de</strong> populacional (pessoas/km 2 ) 2 37 50 56 57,3 55,7<br />

Notas: Para uma discussão sobre a comparabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s entre as fontes anteriores e posteriores a 1999, ver ‘Nota<br />

sobre os cálculos <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res’ na página 93. 1) A população total a meio <strong>do</strong> ano, em 2001 baseou-se nos Registos Iniciais<br />

<strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 2001 (793.000 pessoas) publica<strong>do</strong>s pela UNTAET (Registo Civil <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>, 2 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 2001) e juntan<strong>do</strong>se<br />

o número <strong>de</strong> refugia<strong>do</strong>s retorna<strong>do</strong>s em Junho <strong>de</strong> 2001 (1.298 pessoas), publica<strong>do</strong> pela UNHCR (Resumo da Repatriação<br />

Voluntária, 20 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> <strong>2002</strong>). As estatísticas sobre a população, estruturadas por grupos etários e rácio <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência<br />

basearam-se nos Registos Civis <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>. Outros indica<strong>do</strong>res (população urbana, dimensão das famílias médias e famílias<br />

chefiadas por mulheres, basearam-se nos resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s Inquéritos às Famílias <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> <strong>de</strong> 2001. 2) A área total está<br />

estimada em 14.874 quilómetros quadra<strong>do</strong>s. 3) A percentagem <strong>de</strong> população viven<strong>do</strong> em áreas urbanas em 2001 não é<br />

comparável com da<strong>do</strong>s <strong>de</strong> anos anteriores da<strong>do</strong> que se baseia em da<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s Inquéritos às Famílias <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> <strong>de</strong> 2001, o<br />

qual teve uma amostra <strong>de</strong> apenas 1.800 famílias (9.113 indivíduos) enquanto os da<strong>do</strong>s anteriores se baseavam em resulta<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong> inquéritos ou censos da era In<strong>do</strong>nésia, que tinham amostras <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 5.314 famílias (24.698 pessoas). As duas fontes<br />

também utilizaram diferentes <strong>de</strong>finições das áreas rurais.<br />

Fontes: Censos Populacionais (1980, 1990), Inquéritos Intercensos (1985, 1995), Inquéritos Sócio Económicos às Famílias,<br />

Susenas 1999, Common Country Assessment (CCA) <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> (Nações Unidas), Condições Sociais e Económicas em <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> (Pe<strong>de</strong>rsen, J. e Marie Arneberg, 1999), Inquérito às Famílias <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>, 2001.<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


QUADRO ANEXO 2<br />

Indica<strong>do</strong>res sobre esperança <strong>de</strong> vida à nascença e mortalida<strong>de</strong><br />

1993 1996 1997 1999 2001<br />

Esperança <strong>de</strong> vida à nascença, total (ano) 52,2 53,9 54,4 56,0 57,4<br />

Homens 50,7 52,3 52,6 54,2 55,6<br />

Mulheres 53,7 55,5 56,1 57,7 59,2<br />

Taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> infantil, total (por 1000 na<strong>do</strong>s vivos) 108,6 99,7 92,8 86,0 80,1<br />

Homens 118,1 108,9 101,9 94,7 88,4<br />

Mulheres 99,6 91,1 84,2 77,8 72,3<br />

Taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> infantil, total (por 1000 na<strong>do</strong>s vivos) 75,6 66,8 64,3 56,6 50,3<br />

Homens 75,9 67,6 65,7 58,0 51,8<br />

Mulheres 75,2 66,0 63,0 55,2 48,8<br />

Taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> juvenil (crianças com menos <strong>de</strong> 5 anos),<br />

total (por 1000 na<strong>do</strong>s vivos)<br />

204,6 183,5 177,6 158,8 143,5<br />

Homens 217,7 196,3 191,3 171,6 155,5<br />

Mulheres 192,3 171,5 164,6 146,7 132,1<br />

Taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> materna (por 100,000 na<strong>do</strong>s vivos) .. .. .. 420 ..<br />

Probabilida<strong>de</strong> à nascença <strong>de</strong> não sobreviver à ida<strong>de</strong> 40 anos, total (%) 45,9 41,1 39,8 35,6 32,2<br />

Homens 48,5 43,8 42,7 38,3 34,8<br />

Mulheres 43,4 38,7 37,1 33,1 29,8<br />

Probabilida<strong>de</strong> à nascença <strong>de</strong> não sobreviver à ida<strong>de</strong> 60 anos, total (%) 103,0 93,8 91,2 83,2 76,6<br />

Homens 115,3 105,6 103,3 94,5 87,2<br />

Mulheres 91,3 82,7 79,9 72,6 66,6<br />

Crianças subnutridas e com ida<strong>de</strong> inferior a 5 anos (%) .. 50,6 .. 44,5 ..<br />

Notas: Para uma discussão sobre a comparabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s entre as fontes anteriores e posteriores a 1999, ver ‘Nota<br />

sobre os cálculos <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res’ na página 93. A esperança <strong>de</strong> vida à nascença em 1997 foi calculada <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s brutos <strong>do</strong>s<br />

Inquéritos às Famílias <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> <strong>de</strong> 2001, utilizan<strong>do</strong>-se Mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> Coale-Demeney (equações Trussel) para o mo<strong>de</strong>lo<br />

Oci<strong>de</strong>ntal, sen<strong>do</strong> as estimativas para outros anos baseadas na extrapolação (curva melhor adaptada) <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo com várias<br />

estimativas provenientes <strong>de</strong> diversas fontes (incluin<strong>do</strong> as estimativas <strong>de</strong> 1997) e aplican<strong>do</strong> a mesma meto<strong>do</strong>logia (ver ‘Nota<br />

sobre o cálculo <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res’).<br />

Fontes: Censo In<strong>do</strong>nésio sobre População 1990, Inquéritos Intercenso In<strong>do</strong>nésio (SUPAS), 1995, Inquéritos Sócio Económicos às<br />

Famílias In<strong>do</strong>nésias (SUSENAS, 1993, 1994, 1996, 1997, 1998, 1999), Inquérito às Famílias <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> 2001.<br />

QUADROS ANEXOS<br />

85


86<br />

QUADRO ANEXO 3<br />

Indica<strong>do</strong>res sobre a saú<strong>de</strong>, fertilida<strong>de</strong> e planeamento familiar<br />

1993 1996 1997 1999 2001<br />

Taxa mensal <strong>de</strong> morbilida<strong>de</strong>, total (%) 20,0 20,9 22,5 18,0 13,0<br />

Urbano 24,4 20,4 19,8 17,2 ..<br />

Rural 19,6 20,9 23,3 19,0 ..<br />

Taxa mensal <strong>de</strong> morbilida<strong>de</strong> para crianças<br />

com menos <strong>de</strong> 5 anos (0-4 anos) [%]<br />

28,0 30,4 28,2 23,5 25,2<br />

Urbano 39,6 38,2 27,0 22,6 ..<br />

Rural 27,0 29,6 29,4 24,4 ..<br />

Nascimentos acompanha<strong>do</strong>s por pessoal qualifica<strong>do</strong>, total (%) 16,2 23,4 27,3 30,0 ..<br />

Urbano 44,9 53,9 52,9 62,2 ..<br />

Rural 13,5 20,0 24,3 25,4 ..<br />

Crianças vacinadas com menos <strong>de</strong> 5 anos (0-4 anos), total (%) 57,7 73,6 78,5 75,1 51,8<br />

Urbano 65,9 87,1 80,5 86,0 ..<br />

Rural 56,9 72,1 78,2 73,5 ..<br />

Taxa <strong>de</strong> visitas a instalações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnas/pessoa, total (%) 11,4 12,7 14,5 13,8 53,9<br />

Urbano 17,0 13,5 15,7 14,9 ..<br />

Rural 10,9 12,6 13,1 11,7 ..<br />

Taxa <strong>de</strong> visitas a instalações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnas<br />

<strong>de</strong> crianças com menos <strong>de</strong> 5 anos (0-4 anos), total (%) 18,0 21,1 20,5 17,9 60,6<br />

Urbano 29,9 30,7 22,7 19,0 ..<br />

Rural 16,9 20,0 18,2 15,2 ..<br />

Número médio <strong>de</strong> crianças nascidas <strong>de</strong> mulheres<br />

que nunca casaram com 35 anos e mais, total 4,7 4,5 4,4 4,2 4,2<br />

Urbano 4,8 4,7 4,2 4,5 ..<br />

Rural 4,7 4,5 4,4 4,2 ..<br />

Rácio criança-mulher, total 70,5 65,9 63,4 54,2 77,7<br />

Urbano 66,3 62,1 65,0 56,0 ..<br />

Rural 70,9 66,3 63,2 54,0 ..<br />

Taxa <strong>de</strong> utilização <strong>de</strong> contraceptivos mo<strong>de</strong>rnos, total (%) 16,7 18,7 21,9 19,9 5,6<br />

Urbano 19,7 30,0 26,3 27,1 ..<br />

Rural 16,4 17,4 21,5 19,1 ..<br />

Notas: Para uma discussão sobre a comparabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s entre as fontes anteriores e posteriores a 1999, ver ‘Nota<br />

sobre os cálculos <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res’ na página 93.<br />

Fontes: Da<strong>do</strong>s recolhi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> SUSENAS para 1993, 1996, 1997, 1999; Inquérito às Famílias <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> 2001.<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


QUADRO ANEXO 4<br />

Indica<strong>do</strong>res sobre a educação<br />

1993 1996 1999 2001<br />

Taxa <strong>de</strong> alfabetização <strong>de</strong> adultos, total (%) 35.6 40.4 40.6 43.0<br />

Urbano 69.3 79.6 80.4 81.5<br />

Rural 32.5 36.2 36.6 37.2<br />

Homens 45.3 48.6 46.9 43.1<br />

Mulheres 25.8 32.0 33.9 42.8<br />

Taxa bruta <strong>de</strong> matrícula, total (%) 52.6 55.5 59.1 56.1<br />

Urbano 55.1 57.2 63.2 60.3<br />

Rural 48.6 51.1 54.3 50.1<br />

Homens 56.8 58.1 62.1 58.4<br />

Mulheres 50.1 54.2 57.9 55.1<br />

Educação primária 83.1 90.6 94.4 111.6<br />

Educação secundária inferior 62.7 60.5 63.9 62.4<br />

Educação secundária superior 32.2 36.1 37.2 27.0<br />

Educação terciária 2.8 3.3 5.1 3.9<br />

Taxa líquida <strong>de</strong> inscrição, total (%) 38.4 41.6 45.6 41.2<br />

Urbano 40.8 43.7 49.1 47.5<br />

Rural 35.2 37.4 40.2 38.1<br />

Homens 41.1 43.2 48.5 44.9<br />

Mulheres 36.3 37.6 42.7 38.4<br />

Educação primária 65.3 71.0 74.2 76.2<br />

Educação secundária inferior 25.0 27.0 36.3 33.1<br />

Educação secundária superior 13.5 17.9 20.4 17.6<br />

Educação terciária 1.6 2.0 3.8 2.8<br />

Taxa <strong>de</strong> repetência (%) .. .. .. 14<br />

Homens .. .. .. 13<br />

Mulheres .. .. .. 15<br />

Média <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 20-54, total (anos) 3.0 3.7 3.8 3.5<br />

Homens 3.8 4.5 4.5 4.3<br />

Mulheres 2.1 2.9 3.2 3.0<br />

Urbano 6.2 8.0 7.8 7.5<br />

Rural 2.7 3.2 3.3 3.1<br />

Notas: Para uma discussão sobre a comparabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s entre as fontes anteriores e posteriores a 1999, ver ‘Nota<br />

sobre os cálculos <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res’ na página 93.<br />

Fontes: Da<strong>do</strong>s recolhi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> SUSENAS para 1993, 1996, 1997, 1999; Inquérito às Famílias <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> 2001.<br />

QUADROS ANEXOS<br />

87


88<br />

QUADRO ANEXO 5<br />

Indica<strong>do</strong>res sobre a habitação e condições <strong>de</strong> vida<br />

1993 1996 1998 1999 2001<br />

Famílias com menos <strong>de</strong> 10 m2 <strong>de</strong> área <strong>de</strong> chão<br />

per capita, como % <strong>do</strong> total 67,8 59,6 53,5 51,6 56,9<br />

Urbano 60,7 49,6 45,0 49,1 56,3<br />

Rural 68,4 60,5 54,2 51,9 57,4<br />

Famílias com chão principalmente <strong>de</strong> terra/bambu, como % <strong>do</strong> total 73,8 69,9 63,7 64,5 64,0<br />

Urbano 35,5 25,0 21,9 20,4 62,7<br />

Rural 76,8 73,7 67,6 69,8 64,8<br />

Famílias com pare<strong>de</strong> principal <strong>de</strong> bambu, como % <strong>do</strong> total 38,2 41,9 37,4 40,7 37,4<br />

Urbano 19,3 21,4 12,5 21,8 23,1<br />

Rural 39,7 43,7 39,7 43,0 55,3<br />

Famílias com telha<strong>do</strong> principal <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira/colmo/folhas,<br />

como % <strong>do</strong> total<br />

51,4 49,4 42,6 43,4 37,4<br />

Urbano 22,1 11,5 9,0 8,2 16,6<br />

Rural 53,8 52,6 45,7 47,7 50,9<br />

Famílias com electricida<strong>de</strong> como principal fonte <strong>de</strong> iluminação,<br />

como % <strong>do</strong> total<br />

16,9 22,7 27,2 30,1 35,9<br />

Urbano 53,7 72,6 80,8 83,0 75,2<br />

Rural 13,9 18,2 22,3 23,7 11,1<br />

Famílias com instalações próprias <strong>de</strong> água potável, como % <strong>do</strong> total .. 14,0 16,7 20,4 18,6<br />

Urbano .. 46,5 45,5 40,6 35,9<br />

Rural .. 11,3 14,1 18,0 7,6<br />

Famílias com água potável canalizada/bombeada, como % <strong>do</strong> total 29,1 23,9 26,0 27,6 46,3<br />

Urbano 68,1 83,6 78,4 78,2 64,9<br />

Rural 26,0 18,9 21,2 21,6 34,3<br />

Famílias com instalações próprias <strong>de</strong> saneamento, como % <strong>do</strong> total 32,4 45,8 50,8 53,6 ..<br />

Urbano 49,2 69,2 72,1 77,7 ..<br />

Rural 31,0 43,8 48,9 50,7 ..<br />

Famílias com instalações sanitárias, como % <strong>do</strong> total .. 11,0 14,4 14,2 13,8<br />

Urbano .. 39,9 53,6 54,0 51,2<br />

Rural .. 8,6 10,8 9,5 8,5<br />

Famílias com esgotos e fossas sépticas, como % <strong>do</strong> total .. 12,6 15,0 12,7 14,8<br />

Urbano .. 53,1 55,1 40,7 53,2<br />

Rural .. 9,2 11,3 9,3 12,0<br />

Para uma discussão sobre a comparabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s entre as fontes <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s pré e pós 1999, ver ‘Nota sobre o cálculo<br />

<strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res’ na página 87.<br />

Fontes: Da<strong>do</strong>s recolhi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> SUSENAS para 1993, 1996, 1998, 1999; Insan Hitawasana Sejahlera 2000; Indica<strong>do</strong>res<br />

Sociais e Provinciais <strong>de</strong> Pobreza; SUSENAS 1993-1999; Inquérito às Famílias <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> 2001.<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


QUADRO ANEXO 6<br />

Indica<strong>do</strong>res sobre pobreza e consumo<br />

1993 1996 1999 2001<br />

Número <strong>de</strong> pobres, total (em milhares <strong>de</strong> pessoas) 292,9 267,6 270,3 341,0<br />

Urbano 14,8 11,5 19,6 50,0<br />

Rural 278,1 256,1 250,7 291,0<br />

Rácio <strong>de</strong> incidência, total (% <strong>do</strong>s pobres na população total) 37,0 31,7 29,9 41,0<br />

Urbano 22,0 14,2 20,1 26,0<br />

Rural 38,4 33,6 31,1 46,0<br />

Índice <strong>do</strong> gap <strong>de</strong> pobreza, P1 (%) 2,5 2,3 2,3 2,8<br />

PÍndice <strong>de</strong> rigor <strong>de</strong> pobreza, P2 (%) 9,2 7,2 8,0 9,7<br />

Índice <strong>de</strong> Gini, total (%) 34,8 34,1 30,5 35,4<br />

Urbano 39,0 38,4 35,7 37,1<br />

Rural 33,5 31,8 28,1 32,3<br />

Consumo (médio),total (rupias/pessoa/mês) 1 28.360 38.090 78.269 346.639<br />

1º Quintil 17.693 23.763 50.007 95.906<br />

2º Quintil 29.705 39.897 82.929 158.202<br />

3º Quintil 38.634 51.889 106.742 226.439<br />

4º Quintil 51.285 68.880 142.104 336.085<br />

5º Quintil 97.794 131.346 259.127 916.061<br />

Mediana <strong>do</strong> consumo, total (rupias/pessoa/mês) 1 21.540 29.134 64.280 225.308<br />

1º Quintil 17414 23.554 50.622 96.231<br />

2º Quintil 27447 37.123 82.297 157.304<br />

3º Quintil 35908 48.567 106.203 225.308<br />

4º Quintil 48139 65.111 140.726 334.304<br />

5º Quintil 80425 108.779 219.645 620.295<br />

Parte <strong>do</strong>s alimentos no consumo 69,6 70,7 73,0 65,9<br />

Urbano 62,6 62,8 67,3 ..<br />

Rural 70,3 71,5 73,7 ..<br />

Notas: Para uma discussão sobre a comparabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s entre as fontes anteriores e posteriores a 1999, ver “Nota<br />

sobre os cálculos <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res” na página 87.<br />

Fontes: Da<strong>do</strong>s recolhi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> SUSENAS para 1993, 1996, 1999; Insan Hitawasana Sejahlera 2000; Indica<strong>do</strong>res Sociais e<br />

Provinciais <strong>de</strong> Pobreza; SUSENAS 1993-1999; Inquérito às Famílias <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> 2001.<br />

QUADROS ANEXOS<br />

89


90<br />

QUADRO ANEXO 7<br />

Indica<strong>do</strong>res sobre mão <strong>de</strong> obra<br />

1985 1990 1995 1999 2001<br />

Taxa da participação da população <strong>de</strong> 15 anos e mais<br />

na mão-<strong>de</strong>-obra, total (%) 65,6 67,0 71,8 67,3 56,0<br />

Masculino 83,0 84,0 89,6 87,6 76,2<br />

Feminino 47,5 49,1 53,4 52,4 35,6<br />

Urbano .. 54,5 64,2 63,4 52,1<br />

Rural 65,6 68,1 72,6 70,4 61,2<br />

Mão <strong>de</strong> obra à procura <strong>de</strong> trabalho (%) 0,6 1,7 5,3 5,8 7,8<br />

Masculino 0,6 1,4 3,6 3,9 6,6<br />

Feminino 0,6 2,4 8,2 8,3 10,2<br />

Urbano .. 7,3 14,6 13,8 15,3<br />

Rural 0,6 1,3 4,6 4,7 7,0<br />

Crianças <strong>do</strong>s 10-14 anos na mão-<strong>de</strong>-obra, total (%) 23,1 22,2 19,9 20,5 9,2<br />

Masculino 22,7 23,4 21,1 22,7 9,4<br />

Feminino 23,7 20,9 18,3 18,9 8,9<br />

Urbano 6,0 5,8 5,7 3,2<br />

Rural 23,1 23,6 22,3 23,1 14,5<br />

Employment structure by sector 1) (as % of total workers)<br />

Sector A 84,1 73,6 73,2 71,5 73,2<br />

Sector M 4,7 6,2 6,2 6,8 4,8<br />

Sector S 11,2 20,2 20,6 21,7 22,0<br />

Estrutura no emprego por sector 1) (como % <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res totais)<br />

Emprego próprio 45,1 43,7 52,0 51,2 59,3<br />

Trabalha<strong>do</strong>res na família 43,1 36,4 30,2 30,0 21,2<br />

Patrão 0,3 0,9 0,4 0,8 1,7<br />

Emprega<strong>do</strong> remunera<strong>do</strong> 11,5 18,9 17,4 18,0 17,4<br />

Intensida<strong>de</strong> das horas trabalhadas (% <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res totais)<br />

Menos <strong>de</strong> 25 horas/semana 30,2 27,9 26,5 26,1 14,9<br />

25—44 horas/semana 45,9 53,6 54,2 54,9 44,1<br />

45 horas e mais/semana 23,9 18,5 19,3 19,0 41,1<br />

Número <strong>de</strong> funcionários públicos .. 27.439 34.270 9.035 ..<br />

Masculino .. .. .. 25.720 ..<br />

Feminino .. .. .. 8.550 ..<br />

No sector educacional .. .. .. .. 5.125<br />

No sector da saú<strong>de</strong> .. .. .. .. 1.087<br />

Em outros sectores .. .. .. .. 2,823<br />

Notas: Para uma discussão sobre a comparabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s entre as fontes anteriores e posteriores a 1999, ver ‘Nota<br />

sobre os cálculos <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res’ na página 93. 1) Aqui, o sector industrial foi agrupa<strong>do</strong> em três categorias principais: sector A<br />

(agricultura); sector M (incluin<strong>do</strong> a mineração e transporte, indústria manufactureira, electricida<strong>de</strong>, gás, água e construção) e<br />

sector S (inclui comércio, restaurantes e hotéis, transporte, armazenamento e comunicação, financiamento <strong>de</strong> negócios e outros<br />

serviços pessoais).<br />

Fontes: Censo <strong>de</strong> População In<strong>do</strong>nésio (1990); SUSENAS 1999; Common Country Assesment para <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> (UN).<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


QUADRO ANEXO 8<br />

Indica<strong>do</strong>res económicos<br />

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001<br />

Estimativa Projecção Projecção<br />

PIB total (em milhões <strong>de</strong> US$) 1 315 368 383 390 263 312 380<br />

PIB per capita (US$) 374 429 442 424 337 2 396 3 478 4<br />

Alterações no crescimento <strong>do</strong> PIB real (%) 9 11 4 -2 -38 15 18<br />

Taxa <strong>de</strong> inflação (IPC em Dili: preços em rupias) 8 5 10 80 140 20 ..<br />

PIB real por sector (como % <strong>do</strong> PIB total) 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 ..<br />

Agricultura 27,5 24,0 24,2 24,9 25,5 21,3 ..<br />

Minas e pedreiras 0,9 1,0 1,0 1,2 1,0 1,4 ..<br />

Indústria manufactureira 3,0 3,3 3,3 3,5 3,4 3,5 ..<br />

Electricida<strong>de</strong>, gás & água 0,6 0,7 0,8 0,8 0,9 0,7 ..<br />

Construção 21,8 23,2 22,1 21,7 15,7 23,2 ..<br />

Comércio, hotéis e restaurantes 11,0 10,4 10,3 10,3 10,9 8,1 ..<br />

Transportes & comunicações 8,7 10,0 10,3 10,3 11,0 8,1 ..<br />

Finanças e serviços comerciais 3,9 3,9 4,5 4,0 5,2 4,6 ..<br />

Administração pública e <strong>de</strong>fesa 21,4 22,3 22,4 22,1 25,4 27,8 ..<br />

Serviços comunitários pessoais 1,2 1,2 1,1 1,2 1,1 1,2 ..<br />

Quotas <strong>do</strong> PIB regional<br />

a preços correntes (como % <strong>do</strong> PIB total)<br />

Covalima 4,7 4,6 4,1 4,9 .. .. ..<br />

Ainaro 4,5 5,8 5,5 4,7 .. .. ..<br />

Manufahi 6,1 6,0 4,6 5,1 .. .. ..<br />

Viqueque 5,5 5,6 5,8 6,2 .. .. ..<br />

Lautem 3,8 3,9 3,9 3,9 .. .. ..<br />

Baucau 8,0 7,9 6,9 6,0 .. .. ..<br />

Manatuto 4,5 4,3 3,9 3,4 .. .. ..<br />

Dili 30,7 30,0 33,6 34,6 .. .. ..<br />

Aileu 3,5 3,5 2,9 2,1 .. .. ..<br />

Liquiçá 5,6 5,8 5,3 5,7 .. .. ..<br />

Ermera 9,9 10,5 10,8 11,0 .. .. ..<br />

Bobonaro 6,7 6,9 6,3 7,7 .. .. ..<br />

Oecussi 5,4 5,3 5,5 4,9 .. .. ..<br />

Notas: Para uma discussão sobre a comparabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s entre as fontes anteriores e posteriores a 1999, ver ‘Nota<br />

sobre os cálculos <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res’ na página 93. 1) Calcula<strong>do</strong> na base na taxa <strong>de</strong> câmbio da parida<strong>de</strong> <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> compra<br />

constante (ano base, 1996); 2) Calcula<strong>do</strong> através da divisão <strong>do</strong> PIB total pela população estimada em 1999 (779,567<br />

pessoas); 3) Como na nota 1) com a população estimada a meio <strong>do</strong> ano 2000 (786.932 pessoas); 4) Como na nota 1) com<br />

a população estimada a meio <strong>do</strong> ano 2001 (794.298 pessoas).<br />

Fontes: Da<strong>do</strong>s PIB em 1998-2001 retira<strong>do</strong>s <strong>do</strong> IMF Statement at the Donor's Meeting on East <strong>Timor</strong> (Oslo, Dezembro <strong>de</strong><br />

2001); Da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> PIB em 1995-1997 retira<strong>do</strong>s <strong>do</strong> BPS (1999); Regional Income at District Level 1993-1998; Commom<br />

Country Assesment for East <strong>Timor</strong> (UN).<br />

QUADROS ANEXOS<br />

91


92<br />

QUADRO ANEXO 9<br />

Indica<strong>do</strong>res agrícolas<br />

1996 1997 1998 2000<br />

Terra a<strong>de</strong>quada à agricultura (hectares) .. .. .. 600.000<br />

Terra a<strong>de</strong>quada sob cultivo (% da área total <strong>de</strong> terra) .. .. .. 40<br />

Área <strong>de</strong> cultivo <strong>de</strong> arroz—terras húmidas (hectares) 17.418 12.400 12.054 ..<br />

Área <strong>de</strong> cultivo <strong>de</strong> arroz—terras secas (hectares) 2,266 1,798 1,772 ..<br />

Produção média <strong>de</strong> arroz—terras húmidas (quintal/hectare) 28,04 28,18 28,18 ..<br />

Produção média <strong>de</strong> arroz—terras secas (quintal/hectare) 16,65 16,85 16,25 ..<br />

Produção <strong>de</strong> arroz—terras húmidas (ton) 48.835 34.938 33.968 ..<br />

Produção <strong>de</strong> arroz—terras secas (ton) 3.772 3.030 2.880 ..<br />

Produção <strong>de</strong> milho (ton) 106.616 99.204 58.931 ..<br />

Produção <strong>de</strong> mandioca (ton) 53.781 41.379 32.092 ..<br />

Produção <strong>de</strong> batata <strong>do</strong>ce (ton) 15.681 14.997 11.989 ..<br />

Produção <strong>de</strong> amen<strong>do</strong>im (ton) 3.335 3.302 4.669 ..<br />

Produção <strong>de</strong> soja (ton) 1.244 783 690 ..<br />

População rural trabalhan<strong>do</strong> na agricultura<br />

(% da população rural total)<br />

79 .. .. 75<br />

População ten<strong>do</strong> a agricultura como principal fonte <strong>de</strong> rendimentos<br />

(% da população rural total)<br />

76 .. .. 70<br />

Fonte: Statistical Yearbook of In<strong>do</strong>nesia, 1996 e 1999, Common Country Assesment for East <strong>Timor</strong> (UN).<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


Nota sobre o cálculo <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res<br />

Os indica<strong>do</strong>res apresenta<strong>do</strong>s neste relatório<br />

baseiam-se nos da<strong>do</strong>s disponíveis <strong>de</strong> uma<br />

vasta gama <strong>de</strong> fontes bem como <strong>de</strong> estimativas<br />

directas e indirectas. Contu<strong>do</strong>, <strong>de</strong>ve ser<br />

enfatiza<strong>do</strong> que os da<strong>do</strong>s sobre o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> são limita<strong>do</strong>s<br />

e <strong>de</strong> confiança questionável. Diferentes<br />

fontes produzem frequentemente diferentes<br />

estimativas para os mesmos indica<strong>do</strong>res. Isto<br />

acontece principalmente para as estatísticas<br />

e os indica<strong>do</strong>res relativos a 2001. Assim, é<br />

importante utilizar os da<strong>do</strong>s <strong>de</strong> forma pru<strong>de</strong>nte,<br />

particularmente quan<strong>do</strong> se comparara<br />

o ano <strong>de</strong> 2001 com os anos antece<strong>de</strong>ntes.<br />

Os indica<strong>do</strong>res no Capítulo 1—o índice<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano (IDH), o índice<br />

<strong>de</strong> pobreza humana (IPH-1) e o índice <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento ajusta<strong>do</strong> ao género<br />

(IDG)—foram produzi<strong>do</strong>s através da aplicação<br />

<strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s habituais. Apesar <strong>de</strong> os<br />

indica<strong>do</strong>res po<strong>de</strong>rem ser utiliza<strong>do</strong>s como referência<br />

para a medição <strong>do</strong> progresso no <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano, melhorias posteriores<br />

nos da<strong>do</strong>s e nos sistemas <strong>de</strong> monitorização<br />

<strong>de</strong>verão fornecer, no futuro, indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong><br />

maior confiança.<br />

Esperança <strong>de</strong> vida à nascença<br />

Os da<strong>do</strong>s sobre a esperança <strong>de</strong> vida à nascença<br />

baseiam-se em vários inquéritos à população<br />

<strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>. Estes da<strong>do</strong>s incluem<br />

o censo à população In<strong>do</strong>nésia <strong>de</strong> 1990,<br />

o inquérito intercenso <strong>de</strong> 1995 (SUPAS), uma<br />

série <strong>de</strong> indica<strong>do</strong>res sobre as características<br />

sócio-económicas das famílias (SUSENAS<br />

1993, 1996, 1999) e os resulta<strong>do</strong>s das condições<br />

<strong>de</strong> vida das famílias <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> em<br />

2001. Da<strong>do</strong>s sobre a média <strong>de</strong> na<strong>do</strong>s vivos e<br />

o número <strong>de</strong> crianças sobreviventes <strong>de</strong> mães<br />

com ida<strong>de</strong>s entre os 15 e os 50 anos também<br />

foram integra<strong>do</strong>s no programa <strong>de</strong> software,<br />

Mortpak, o qual foi utiliza<strong>do</strong> para produzir<br />

os seguintes índices: probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> morrer<br />

antes <strong>do</strong>s 40 anos, taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong><br />

infantil, a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> morrer entre a<br />

ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 1 e 5 anos e a esperança <strong>de</strong> vida à<br />

nascença. O output <strong>do</strong> programa também cria<br />

<strong>do</strong>is mo<strong>de</strong>los com as suas variantes possíveis,<br />

embora para <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>—como para outros<br />

países em vias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento—as<br />

estimativas <strong>de</strong>stes indica<strong>do</strong>res utilizem Mo<strong>de</strong>los<br />

<strong>de</strong> Coale-Demeny (equações Trussel)<br />

com uma variante <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo Oci<strong>de</strong>ntal. Cada<br />

NOTA SOBRE O CÁLCULO DOS INDICADORES<br />

estimativa da esperança <strong>de</strong> vida e os correspon<strong>de</strong>ntes<br />

índices <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> referemse<br />

a um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> há quatro anos relativamente<br />

ao tempo <strong>de</strong> referência <strong>do</strong> respectivo<br />

inquérito. Da<strong>do</strong> que as estimativas obtidas a<br />

partir <strong>de</strong>stes índices produzem uma tendência<br />

errática, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a diferentes dimensões<br />

das amostras cobertas nestes inquéritos, as<br />

estimativas finais apresentadas neste relatório<br />

basearam-se numa extrapolação, aplican<strong>do</strong>-se<br />

a curva <strong>de</strong> regressão logarítmica que<br />

mais se ajustou. No final <strong>de</strong>sta nota apresenta-se<br />

uma explicação mais <strong>de</strong>talhada acerca<br />

da extrapolação <strong>de</strong>ste mo<strong>de</strong>lo.<br />

Literacia <strong>do</strong>s adultos<br />

As taxas <strong>de</strong> literacia <strong>do</strong>s adultos <strong>de</strong>ste relatório<br />

utilizam estimativas <strong>de</strong> séries <strong>do</strong><br />

SUSENAS (para 1993, 1996, 1997 e 1999)<br />

e o inquérito às famílias <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> realiza<strong>do</strong><br />

em 2001 (para 2001). Esta fonte <strong>de</strong><br />

da<strong>do</strong>s po<strong>de</strong> não ser exactamente comparável<br />

<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a diferenças na cobertura da amostra<br />

(ver explicações posteriores para os da<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong>mográficos). O inquérito <strong>de</strong> <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> para 2001 é a única fonte <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s<br />

sobre literacia <strong>de</strong> adultos.<br />

Rácios brutos <strong>de</strong> inscrição<br />

Os rácios combina<strong>do</strong>s <strong>de</strong> inscrição neste relatório<br />

também utilizam estimativas <strong>do</strong><br />

SUSENAS (para 1993, 1996, 1997 e 1999)<br />

e os inquéritos às famílias <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

2001 (para 2001). Tentou-se <strong>de</strong>terminar as<br />

taxas brutas <strong>de</strong> inscrição em 2001 a partir<br />

<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s oficiais da Departamento Educacional<br />

e a da UNTIL recorren<strong>do</strong>-se ao número<br />

<strong>de</strong> estudantes inscritos em cada nível<br />

<strong>de</strong> educação e a população <strong>de</strong> estudantes por<br />

faixas etárias baseada nas datas não oficiais<br />

<strong>de</strong> nascimento; estes da<strong>do</strong>s provêm <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s<br />

preliminares nos registos civis em<br />

mea<strong>do</strong>s <strong>de</strong> 2001. Os rácios brutos <strong>de</strong> inscrição<br />

obti<strong>do</strong>s a partir <strong>de</strong>ste cálculo dão uma<br />

estimativa elevada—cerca <strong>de</strong> 80—que se assume<br />

ser improvável da<strong>do</strong> que estimativas<br />

anteriores variaram entre 52 e 59.<br />

Os rácios brutos <strong>de</strong> inscrição <strong>de</strong>finem-se<br />

como o número <strong>de</strong> estudantes matricula<strong>do</strong>s<br />

em cada nível escolar em percentagem da<br />

população que pertence ao grupo <strong>de</strong> ida<strong>de</strong><br />

que correspon<strong>de</strong> àquele nível (escola primária:<br />

7-12 anos, escola secundária inicial: 13-<br />

93


94<br />

15 anos, escola secundária final: 16-18 anos<br />

e terciária: 19-24 anos). Os rácios são, pois<br />

afecta<strong>do</strong>s pela ida<strong>de</strong> e o sexo das estimativas<br />

específicas da população. Também po<strong>de</strong>m<br />

escon<strong>de</strong>r diferenças importantes entre países<br />

<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> às diferenças nos grupos etários<br />

que correspon<strong>de</strong>m a um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> nível<br />

<strong>de</strong> educação e à duração <strong>do</strong>s programas <strong>de</strong><br />

educação. A incidência <strong>de</strong> repetição po<strong>de</strong> também<br />

criar distorção nos rácios. Os rácios líqui<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong> inscrição são melhores indica<strong>do</strong>res<br />

<strong>de</strong> acesso à educação ou ao conhecimento<br />

na medida em que me<strong>de</strong>m a inscrição apenas<br />

para um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> grupo etário. Todavia,<br />

este relatório utiliza o rácio combina<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> inscrição como uma componente <strong>do</strong><br />

índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano (IDH)<br />

<strong>de</strong> forma a manter as comparações internacionais<br />

nos mol<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s relatórios <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano global.<br />

PIB per capita ($PPP)<br />

Os da<strong>do</strong>s acerca <strong>do</strong> PIB per capita ($PPP)<br />

utiliza<strong>do</strong>s neste relatório baseiam-se na <strong>de</strong>claração<br />

<strong>do</strong> Fun<strong>do</strong> Monetário Internacional<br />

(FMI) e no Encontro <strong>de</strong> Doa<strong>do</strong>res em <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> em Oslo em Dezembro <strong>de</strong> 2001. Contu<strong>do</strong>,<br />

é difícil obter estimativas para o PIB<br />

per capita <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à falta <strong>de</strong> confiança estatística<br />

não apenas para o PIB mas também<br />

para a população.<br />

Estatísticas sobre indica<strong>do</strong>res associa<strong>do</strong>s<br />

Este relatório também apresenta outros indica<strong>do</strong>res<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano. Estes<br />

provêm <strong>de</strong> várias fontes, incluin<strong>do</strong> as séries<br />

<strong>do</strong>s inquéritos in<strong>do</strong>nésios SUSENAS e o inquérito<br />

às famílias <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> 2001 (para<br />

indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> educação, saú<strong>de</strong>, fertilida<strong>de</strong>,<br />

planeamento familiar, habitação e condições<br />

<strong>de</strong> vida, pobreza e consumo), o censo à população<br />

in<strong>do</strong>nésio <strong>de</strong> 1990 e o os inquéritos<br />

intercensos SUPAS <strong>de</strong> 1985 e 1995 (para<br />

estatísticas <strong>de</strong>mográficas e <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra),<br />

as Estatísticas Anuais da In<strong>do</strong>nésia em 1996<br />

e 1999 (para estatísticas agrícolas), a <strong>de</strong>claração<br />

<strong>do</strong> FMI sobre a Reunião <strong>de</strong> Doa<strong>do</strong>res<br />

em <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> em Oslo (Dezembro <strong>de</strong><br />

2001) e o relatório BPS-Estatísticas<br />

In<strong>do</strong>nésias sobre “Rendimentos Regionais a<br />

Nível Distrital, 1993-1998” (para indica<strong>do</strong>res<br />

económicos). Quan<strong>do</strong> se fizerem comparações<br />

ao longo <strong>do</strong> tempo é importante ter<br />

em atenção esta varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> fontes.<br />

Também é muito limita<strong>do</strong> o facto <strong>do</strong>s inquéritos<br />

às famílias <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> para 2001<br />

apenas cobrir 1.800 famílias e 9.113 indivíduos—uma<br />

amostra muito menor <strong>do</strong> que a<br />

utilizada em inquéritos anteriores em <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong> durante a administração In<strong>do</strong>nésia. O<br />

inquérito SUSENAS <strong>de</strong> 1999, por exemplo,<br />

cobre 5.314 famílias e 24.698 indivíduos—<br />

uma amostra quase três vezes maior <strong>do</strong> que<br />

a <strong>do</strong>s inquéritos às famílias <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong><br />

para 2001. Esta discrepância na amostra irá<br />

obviamente afectar a comparabilida<strong>de</strong> entre<br />

as duas fontes.<br />

Esperança <strong>de</strong> vida e mortalida<strong>de</strong><br />

Os indica<strong>do</strong>res para a esperança <strong>de</strong> vida à<br />

nascença e mortalida<strong>de</strong> foram calculadas utilizan<strong>do</strong><br />

um méto<strong>do</strong> indirecto. Isto aplica-se à<br />

taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> infantil (IMR), taxa <strong>de</strong><br />

mortalida<strong>de</strong> das crianças (CMR), a taxa <strong>de</strong><br />

mortalida<strong>de</strong> para crianças com menos <strong>de</strong> cinco<br />

anos (U5MR), e a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> à nascença<br />

não se sobreviver na ida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s 40-60<br />

anos.<br />

O primeiro passo foi integrar da<strong>do</strong>s sobre<br />

o número <strong>de</strong> na<strong>do</strong>s vivos e o número <strong>de</strong><br />

crianças que sobreviveram <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com<br />

os escalões etários no programa Mortpak<br />

produzi<strong>do</strong> pelo Instituto <strong>de</strong> População <strong>Leste</strong>-Oeste,<br />

Honolulu, Hawai. Os da<strong>do</strong>s provêm<br />

<strong>do</strong> censo in<strong>do</strong>nésio da população, <strong>do</strong><br />

inquérito intercenso In<strong>do</strong>nésio <strong>de</strong> 1995, da<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong> SUSENAS <strong>de</strong> 1993 e 1999 e os inquéritos<br />

às famílias <strong>de</strong> <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> em 2001.<br />

Os resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ste procedimento produziram<br />

indica<strong>do</strong>res da taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> infantil,<br />

a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> morrer entre as ida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> 1 e 5 anos e a esperança <strong>de</strong> vida à<br />

nascença por grupos etários <strong>de</strong> mulheres.<br />

Estes indica<strong>do</strong>res são forneci<strong>do</strong>s em <strong>do</strong>is<br />

mo<strong>de</strong>los: Mo<strong>de</strong>los das Nações Unidas (Equações<br />

Palloni-Heligman) e os Mo<strong>de</strong>los Coale-<br />

Demeny (Equações Trussel). O primeiro<br />

mo<strong>de</strong>lo tem cinco variantes: América Latina,<br />

Chile, Ásia <strong>do</strong> Sul, Ásia Oriental e Geral. O<br />

segun<strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo tem quatro variantes: Oeste,<br />

Norte, Este e Sul. Tal como para a maioria<br />

<strong>do</strong>s outros países Asiáticos, o mo<strong>de</strong>lo escolhi<strong>do</strong><br />

e a variante para <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> é o<br />

mo<strong>de</strong>lo para o Oeste <strong>de</strong> Coale-Demeny<br />

(Trussel).<br />

Da<strong>do</strong> que os indica<strong>do</strong>res da esperança <strong>de</strong><br />

vida e da mortalida<strong>de</strong> obti<strong>do</strong>s a partir <strong>de</strong>stas<br />

diferentes fontes <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s geram uma tendência<br />

errática, a estimação prevista baseiase<br />

na curva que melhor se adapta, utilizan<strong>do</strong>-se<br />

uma equação <strong>de</strong> regressão.<br />

RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


Definições <strong>de</strong> termos estatísticos<br />

Coeficiente <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência: refere-se ao<br />

número <strong>de</strong> população com ida<strong>de</strong> < 15anos<br />

e > 65 anos como percentagem da população<br />

trabalha<strong>do</strong>ra com ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 15–64<br />

anos.<br />

Consumo médio: refere-se à média <strong>do</strong><br />

valor nominal <strong>do</strong>s gastos totais mensais das<br />

-famílias.<br />

Consumo, mediana: refere-se ao valor<br />

central nominal <strong>do</strong>s gastos totais mensais<br />

das famílias analisadas.<br />

Consumo, parte <strong>do</strong>s alimentos no: refere-se<br />

à média percentual <strong>de</strong> gastos em alimentação<br />

relativamente ao total <strong>do</strong>s gastos<br />

mensais das famílias.<br />

Contribuição <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res familiares:<br />

<strong>de</strong>fini<strong>do</strong> <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a Classificação<br />

Internacional da Situação no Trabalho<br />

como sen<strong>do</strong> uma pessoa que trabalha sem<br />

pagamentos numa empresa económica<br />

gerida por um familiar e que faz parte <strong>do</strong><br />

mesmo lar.<br />

Crianças vacinadas com menos <strong>de</strong> 5 (ida<strong>de</strong>s<br />

0-4), total: refere-se ao número <strong>de</strong><br />

pessoas com ida<strong>de</strong>s 0-4, que receberam alguma<br />

forma <strong>de</strong> vacinação, em percentagem<br />

da população total <strong>do</strong>s 0-4 anos.<br />

Escolarida<strong>de</strong>, número médio <strong>de</strong> anos:<br />

refere-se à média <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong><br />

completa da população com ida<strong>de</strong>s entre<br />

os 20-54 anos.<br />

Esperança <strong>de</strong> vida à nascença: o número<br />

<strong>de</strong> anos que uma criança recém nascida<br />

po<strong>de</strong> viver se os níveis prevalecentes das<br />

taxas <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> em ida<strong>de</strong>s específicas<br />

na altura <strong>do</strong> nascimento permanecerem<br />

inalteradas durante a vida da criança.<br />

Estrutura <strong>de</strong> emprego por sector principal:<br />

emprego na indústria, agricultura ou<br />

serviços <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o sistema<br />

<strong>de</strong> Classificação Internacional das Activida<strong>de</strong>s<br />

Industriais (ISIC) (revisão 2 e 3). A<br />

indústria refere-se à mineração e exploração<br />

<strong>de</strong> pedreiras, manufacturas, construção e<br />

bens públicos (gás, água e electricida<strong>de</strong>). A<br />

agricultura refere-se à agricultura, caça, silvicultura<br />

e pesca. Os serviços referem-se às<br />

vendas por grosso e a retalho; restaurantes<br />

e hotéis, transportes, armazenamento e comunicações,<br />

finanças, seguros, serviços <strong>de</strong><br />

negócios e estatais bem como serviços comunitários,<br />

sociais e pessoais.<br />

DEFINIÇÕES DE TERMOS ESTADÍSTICOS<br />

Famílias com chão principal <strong>de</strong> terra/<br />

bambu: refere-se ao número <strong>de</strong> famílias que<br />

vivem em casas com chão principal <strong>de</strong> terra/<br />

bambu em percentagem <strong>do</strong> total <strong>de</strong> famílias.<br />

Famílias com electricida<strong>de</strong> como luz<br />

principal: refere-se ao número <strong>de</strong> famílias<br />

que vivem em casas com electricida<strong>de</strong> como<br />

principal fonte <strong>de</strong> energia em percentagem<br />

<strong>do</strong> total <strong>de</strong> famílias.<br />

Famílias com esgotos ou fossas sépticas:<br />

refere-se ao número <strong>de</strong> famílias que<br />

vivem em casas com esgotos ou fossas sépticas<br />

relativamente ao total <strong>de</strong> famílias.<br />

Famílias com fontes <strong>de</strong> água potável<br />

canalizada/bombeada: refere-se ao número<br />

<strong>de</strong> famílias que vivem em casas com<br />

fontes <strong>de</strong> água potável canalizada/bombeada<br />

relativamente ao total <strong>de</strong> famílias.<br />

Famílias com instalações próprias <strong>de</strong><br />

água: refere-se ao número <strong>de</strong> famílias que<br />

vive em casas com abastecimento próprio<br />

<strong>de</strong> água potável relativamente ao total <strong>de</strong><br />

-famílias.<br />

Famílias com instalações próprias <strong>de</strong><br />

saneamento: refere-se ao número <strong>de</strong> famílias<br />

que vivem em casas com instalações<br />

sanitárias próprias relativamente ao total <strong>de</strong><br />

-famílias.<br />

Famílias com menos <strong>de</strong> 10 metros quadra<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong> área <strong>de</strong> chão per capita: referese<br />

ao número <strong>de</strong> famílias com menos <strong>de</strong><br />

10 metros quadra<strong>do</strong>s <strong>de</strong> área <strong>de</strong> chão per<br />

capita em percentagem <strong>do</strong> total <strong>de</strong> famílias.<br />

Famílias com pare<strong>de</strong>s principalmente<br />

construídas em bambu: refere-se ao número<br />

<strong>de</strong> famílias que vivem em casas com<br />

pare<strong>de</strong>s construídas principalmente em<br />

bambu relativamente ao total <strong>de</strong> famílias.<br />

Famílias com quartos <strong>de</strong> banho: referese<br />

ao número <strong>de</strong> famílias que vivem em<br />

casas com casas <strong>de</strong> banho relativamente ao<br />

total <strong>de</strong> famílias.<br />

Famílias com telha<strong>do</strong> principalmente<br />

construí<strong>do</strong> em ma<strong>de</strong>ira/colmo/folhas:<br />

refere-se ao número <strong>de</strong> famílias que moram<br />

em casas cujos telha<strong>do</strong>s são<br />

maioritariamente construí<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira/<br />

colmo/folhas relativamente ao total <strong>de</strong> famílias.<br />

Fontes <strong>de</strong> água seguras, população que<br />

não utiliza: calcula<strong>do</strong> como 100 menos a<br />

percentagem <strong>de</strong> pessoas que utilizam fon-<br />

95


tes <strong>de</strong> água melhoradas. Ver fontes <strong>de</strong> água<br />

seguras, população utilizan<strong>do</strong> fontes a utilizar as<br />

seguras.<br />

Fontes <strong>de</strong> água seguras, população que<br />

utiliza: percentagem <strong>de</strong> pessoas com razoável<br />

acesso a um a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> sistema <strong>de</strong><br />

acesso <strong>de</strong> água potável. Define-se um acesso<br />

razoável como a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<br />

ter pelo menos 20 litros diários por pessoa<br />

provenientes <strong>de</strong> uma fonte até um quilómetro<br />

<strong>de</strong> local <strong>de</strong> utilização. As fontes seguras<br />

incluem ligações às casas, poços com<br />

bombas manuais, poços protegi<strong>do</strong>s, nascentes<br />

protegidas e retenção <strong>de</strong> águas das<br />

chuvas das chuvas (não incluem ven<strong>de</strong><strong>do</strong>res,<br />

camiões cisternas, poços <strong>de</strong>sprotegi<strong>do</strong>s<br />

e nascentes).<br />

Força da mão <strong>de</strong> obra, crianças 10—14<br />

anos: refere-se à incidência <strong>de</strong> trabalho infantil,<br />

<strong>de</strong>fini<strong>do</strong> como o número <strong>de</strong> crianças<br />

<strong>de</strong> 10 a 14 anos que fazem parte da<br />

força <strong>de</strong> trabalho (a trabalhar ou à procura<br />

<strong>de</strong> trabalho) em percentagem <strong>do</strong> número<br />

total <strong>de</strong> população com ida<strong>de</strong>s entre os 10<br />

e os 14 anos.<br />

Força <strong>de</strong> trabalho: to<strong>do</strong>s os que estão<br />

emprega<strong>do</strong>s, incluin<strong>do</strong> pessoas acima <strong>de</strong><br />

uma <strong>de</strong>terminada ida<strong>de</strong> (este relatório utiliza<br />

15 anos e mais) que, durante o perío<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> referência (este relatório utiliza a semana<br />

antes <strong>do</strong> inquérito), estavam a trabalhar em<br />

empregos remunera<strong>do</strong>s, com um trabalho<br />

mas não a trabalhar ou auto-emprega<strong>do</strong>s)<br />

e <strong>de</strong>semprega<strong>do</strong>s (incluin<strong>do</strong> pessoas acima<br />

<strong>de</strong> uma ida<strong>de</strong> específica que, durante o perío<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> referência estavam sem trabalho,<br />

disponíveis e à procura <strong>de</strong> trabalho).<br />

Índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano<br />

(IDH): índice compósito medin<strong>do</strong> os resulta<strong>do</strong>s<br />

médios <strong>de</strong> três dimensões básicas<br />

<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano: uma vida longa<br />

e saudável, conhecimento e um nível <strong>de</strong><br />

vida <strong>de</strong>cente. Para <strong>de</strong>talhes sobre a forma<br />

<strong>de</strong> construção <strong>do</strong> índice ver nota técnica 1.<br />

Índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento relaciona<strong>do</strong><br />

com o género (GDI): índice compósito<br />

medin<strong>do</strong> as melhorias médias nas três dimensões<br />

básicas captadas pelo índice <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento humano—uma vida longa<br />

e saudável, conhecimento e padrões <strong>de</strong>centes<br />

<strong>de</strong> vida—mas ajusta<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma a<br />

medir as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s entre os homens e<br />

as mulheres. Para <strong>de</strong>talhes sobre como se<br />

calcula o índice, ver nota técnica 1.<br />

Índice <strong>de</strong> educação: um <strong>do</strong>s três índices<br />

que faz parte <strong>do</strong> índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimen-<br />

to humano. Baseia-se na taxa <strong>de</strong> alfabetização<br />

<strong>de</strong> adultos e na taxa bruta <strong>de</strong> inscrição<br />

nos ensinos primário, secundário e terciário.<br />

Para <strong>de</strong>talhes sobre a forma <strong>de</strong> cálculo <strong>do</strong><br />

índice, ver nota técnica 1.<br />

Índice <strong>de</strong> esperança <strong>de</strong> vida: um <strong>do</strong>s três<br />

índices que compõem Índice <strong>de</strong> <strong>Desenvolvimento</strong><br />

<strong>Humano</strong>. Para <strong>de</strong>talhes sobre a<br />

<strong>de</strong>terminação <strong>do</strong> índice, ver nota técnica 1.<br />

Índice <strong>de</strong> Gini: me<strong>de</strong> <strong>de</strong> que forma a distribuição<br />

<strong>do</strong> rendimento (ou gastos com<br />

consumo) entre indivíduos ou famílias num<br />

país ou região se <strong>de</strong>svia <strong>de</strong> uma distribuição<br />

perfeitamente igual. Um valor <strong>de</strong> 0 representa<br />

uma igualda<strong>de</strong> perfeita, um valor<br />

<strong>de</strong> 100 refere-se a uma <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

perfeita.<br />

Índice <strong>de</strong> incidência da pobreza<br />

(headcount in<strong>de</strong>x): refere-se à proporção<br />

da população que vive abaixo da linha <strong>de</strong><br />

pobreza. Ver linha <strong>de</strong> pobreza <strong>do</strong> rendimento. O<br />

índice é uma das três medidas indican<strong>do</strong><br />

mudanças no nível <strong>de</strong> pobreza entre os<br />

pobres propostas por Foster, Geer e<br />

Thorbecke (1984; a partir <strong>de</strong> agora chama<strong>do</strong>s<br />

índices FGT). Os índices FGT incluem<br />

P0 (índice <strong>de</strong> incidência), P1 (índice <strong>de</strong> gap<br />

<strong>de</strong> pobreza) e P2 (índice <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> pobreza).<br />

Índice <strong>de</strong> pobreza humana (IDH-1)<br />

para países em <strong>de</strong>senvolvimento: índice<br />

composto medin<strong>do</strong> as carências nas três<br />

dimensões básicas captadas no índice <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento humano — longevida<strong>de</strong>,<br />

conhecimento e nível <strong>de</strong> vida. Para <strong>de</strong>talhes<br />

sobre a forma <strong>de</strong> construção <strong>do</strong> índice ver<br />

nota -técnica 1.<br />

Índice <strong>de</strong> preços no consumi<strong>do</strong>r (IPC)<br />

(variação): refere-se às mudanças no custo<br />

ao consumi<strong>do</strong>r médio da aquisição <strong>de</strong> um<br />

cabaz <strong>de</strong> bens e serviços que po<strong>de</strong>m ser<br />

fixa<strong>do</strong>s ou altera<strong>do</strong>s em perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> tempo<br />

específicos.<br />

Índice <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong> da pobreza: refere-se<br />

a uma medida <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong><br />

rigor <strong>do</strong> índice, a qual é sensível às alterações<br />

da distribuição <strong>de</strong> rendimentos (ou<br />

<strong>de</strong>spesas como uma aproximação <strong>do</strong>s rendimentos)<br />

entre os pobres O índice <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong><br />

da pobreza é um <strong>do</strong>s três índices<br />

FGT. Ver índice <strong>de</strong> incidência da pobreza.<br />

Esta medida satisfaz a maioria <strong>do</strong>s axiomas<br />

<strong>de</strong> bem estar, nomeadamente “axioma<br />

da monotonicida<strong>de</strong>” (com tu<strong>do</strong> o resto<br />

constante, um <strong>de</strong>clínio nos rendimentos<br />

das famílias pobres <strong>de</strong>ve aumentar a medi-<br />

96 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


da <strong>de</strong> pobreza) e o “axioma <strong>de</strong> transferência”<br />

(com tu<strong>do</strong> o resto constante, uma transferência<br />

pura <strong>de</strong> rendimentos <strong>de</strong> uma família<br />

pobre para outra menos pobre <strong>de</strong>ve<br />

aumentar a medida <strong>de</strong> pobreza).<br />

Índice <strong>do</strong> gap <strong>de</strong> pobreza: refere-se ao<br />

gap médio <strong>de</strong> pobreza na população (P1),<br />

expresso como proporção da linha <strong>de</strong> pobreza.<br />

O índice <strong>de</strong> gap <strong>de</strong> pobreza é um<br />

<strong>do</strong>s três índices FGT. Ver índice <strong>de</strong> incidência<br />

da pobreza. Por exemplo, P1 = 0,028 significa<br />

que o défice agrega<strong>do</strong> <strong>do</strong>s pobres relativamente<br />

à linha <strong>de</strong> pobreza, quan<strong>do</strong> calculada<br />

a média <strong>de</strong> todas as famílias (pobres<br />

ou não), representa 2,8% da linha <strong>de</strong><br />

pobreza. P1/P0 é o gap <strong>de</strong> pobreza média<br />

<strong>do</strong>s pobres como proporção da linha <strong>de</strong><br />

pobreza.<br />

Índice <strong>do</strong> PIB: um <strong>do</strong>s três índices que<br />

compõem o índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano. Baseia-se no PIB per capita ($PPC)..<br />

Linha <strong>de</strong> pobreza, população abaixo da:<br />

refere-se à percentagem <strong>de</strong> população que<br />

vive abaixo <strong>de</strong> uma linha pré <strong>de</strong>terminada<br />

<strong>de</strong> pobreza estimada para <strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong>. A<br />

linha <strong>de</strong> pobreza <strong>de</strong>fine-se como um nível<br />

mínimo <strong>de</strong> gastos necessários para um indivíduo<br />

satisfazer as suas necessida<strong>de</strong>s, incluin<strong>do</strong><br />

bens alimentares e não-alimentares.<br />

Este nível mínimo foi calcula<strong>do</strong>, para <strong>Timor</strong><br />

<strong>Leste</strong>, utilizan<strong>do</strong> os da<strong>do</strong>s sobre gastos em<br />

consumo obti<strong>do</strong>s nos Inquéritos Sócioeconómicos<br />

Nacionais (Susenas) <strong>de</strong> 1993,<br />

1996 e 1999 e <strong>do</strong> Inquérito às Famílias <strong>de</strong><br />

<strong>Timor</strong> <strong>Leste</strong> em 2001. Os resulta<strong>do</strong>s das<br />

linhas <strong>de</strong> pobreza a partir <strong>de</strong>stes cálculos<br />

são 23.206 rupias/per capita/mês em 1993,<br />

32.742 rupias/per capita/mês em 1996,<br />

78.396 rupias/per capita/mês em 1999 e<br />

161.264 rupias/per capita/mês em 2001.<br />

Mão <strong>de</strong> obra à procura <strong>de</strong> trabalho: refere-se<br />

à percentagem <strong>de</strong> população com<br />

ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 15 anos e mais que estão à procura<br />

<strong>de</strong> trabalho durante uma semana antes<br />

<strong>do</strong> inquérito relativamente ao total da mão<br />

<strong>de</strong> obra com ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 15 anos e mais.<br />

Matrícula, Taxa bruta <strong>de</strong> : número <strong>de</strong><br />

estudantes matricula<strong>do</strong>s num <strong>de</strong>termina<strong>do</strong><br />

nível <strong>de</strong> ensino, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da ida<strong>de</strong>,<br />

em percentagem da população escolar<br />

com ida<strong>de</strong> oficial para estar nesse nível. Ver<br />

nível <strong>de</strong> educação.<br />

Matrícula, Taxa líquida: número <strong>de</strong> estudantes<br />

matricula<strong>do</strong>s num nível educacional<br />

e com ida<strong>de</strong> oficial para frequentar esse<br />

nível, em percentagem da população esco-<br />

DEFINIÇÕES DE TERMOS ESTADÍSTICOS<br />

lar com ida<strong>de</strong> oficial para estar nesse nível.<br />

Ver nível <strong>de</strong> educação.<br />

Média <strong>de</strong> crianças nascidas <strong>de</strong> mulheres<br />

com 35 e mais anos que nunca casaram<br />

: refere-se ao número <strong>de</strong> crianças nascidas<br />

<strong>de</strong> mulheres com 35 e mais anos que<br />

nunca casaram como percentagem da população<br />

total <strong>de</strong> mulheres com 35 e mais<br />

anos que nunca casaram.<br />

Nascimentos acompanha<strong>do</strong>s por pessoal<br />

qualifica<strong>do</strong>: percentagem <strong>de</strong> partos assisti<strong>do</strong>s<br />

por um médico (ou por um especialista,<br />

um não especialista ou uma pessoa<br />

com qualificações <strong>de</strong> parteiro/a que possa<br />

diagnosticar e tratar complicações obstétricas<br />

bem como partos normais), enfermeira<br />

ou parteira (pessoa que concluiu com<br />

sucesso o curso específico <strong>de</strong> parteira e está<br />

apta a dar a necessária supervisão, tratamento<br />

e aconselhamento às mulheres durante a<br />

gravi<strong>de</strong>z, perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> parto e pós-parto e<br />

tratar <strong>do</strong>s recém nasci<strong>do</strong>s e crianças), ou<br />

parteira tradicional e qualificada (pessoa que<br />

inicialmente adquire a sua capacida<strong>de</strong> ajudan<strong>do</strong><br />

a partos ou através da aprendizagem<br />

com outras pessoas habituadas a assistir<br />

partos e que teve formação subsequente<br />

e que está agora integra<strong>do</strong> no sistema <strong>de</strong><br />

cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>).<br />

Nível <strong>de</strong> educação: encontra-se<br />

categoriza<strong>do</strong> como primário, secundário ou<br />

terciário <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a Classificação Internacional<br />

da Educação (ISCED). A educação<br />

primária (nível 1 <strong>do</strong> ISCED) dá os elementos<br />

básicos da educação nas escolas<br />

primárias e elementares. A educação secundária<br />

(níveis 2 e 3 <strong>do</strong> ISCED) baseia-se em<br />

pelo menos quatro anos <strong>de</strong> instrução prévia<br />

no primeiro nível e dá instrução geral,<br />

especializada ou ambas na escola média,<br />

secundária, liceu, escola <strong>de</strong> formação <strong>de</strong><br />

professores a este nível e escolas vocacionais<br />

ou técnicas. A educação terciária (nível 5 – 7<br />

<strong>do</strong> ISCED) refere-se à educação em instituições<br />

como faculda<strong>de</strong>s, colégios <strong>de</strong> professores<br />

e escolas profissionais <strong>de</strong> nível superior<br />

– exigin<strong>do</strong> como condição mínima<br />

<strong>de</strong> admissão evidência da frequência <strong>de</strong> um<br />

nível equivalente <strong>de</strong> conhecimento.<br />

Peso a menos relativamente à ida<strong>de</strong>,<br />

crianças com menos <strong>de</strong> cinco anos: inclui<br />

falta <strong>de</strong> peso <strong>de</strong> forma mo<strong>de</strong>rada ou<br />

severa, que é <strong>de</strong>finida como inferior a <strong>do</strong>is<br />

<strong>de</strong>svios padrões da mediana <strong>do</strong> peso médio<br />

da população <strong>de</strong> referência.<br />

97


PIB (produto interno bruto): a produção<br />

total <strong>de</strong> bens e serviços para uso final<br />

produzi<strong>do</strong>s por uma economia, quer por<br />

resi<strong>de</strong>ntes quer por não resi<strong>de</strong>ntes, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente<br />

da afectação para satisfazer<br />

solicitações internas ou externas. Não inclui<br />

<strong>de</strong>duções para <strong>de</strong>preciação <strong>de</strong> capital físico<br />

ou esgotamento e <strong>de</strong>gradação <strong>do</strong>s recursos<br />

-naturais.<br />

PIB per capita (PPC US$): ver PIB (produto<br />

interno bruto) e PPC (parida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> compra).<br />

PNB (Produto Nacional Bruto): integra<br />

o PIB mais os rendimentos líqui<strong>do</strong>s <strong>do</strong> estrangeiro,<br />

que é o rendimento <strong>do</strong>s factores<br />

(trabalho e capital)que os resi<strong>de</strong>ntes recebem<br />

<strong>do</strong> exterior menos os pagamentos similares<br />

feitos aos não-resi<strong>de</strong>ntes que contribuem<br />

para a economia nacional.<br />

Pobres, número <strong>de</strong>: refere-se ao número<br />

absoluto <strong>de</strong> população que vive abaixo da<br />

linha <strong>de</strong> pobreza. Ver linha <strong>de</strong> pobreza, população<br />

abaixo da.<br />

População total: refere-se à população <strong>de</strong><br />

facto, o que inclui todas as pessoas actualmente<br />

presentes num da<strong>do</strong> local.<br />

População urbana: a população, a meio<br />

<strong>do</strong> ano, viven<strong>do</strong> nas áreas legalmente <strong>de</strong>finidas<br />

como urbanas.<br />

PPC (parida<strong>de</strong> <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> compra):<br />

uma taxa <strong>de</strong> câmbio que tem em consi<strong>de</strong>ração<br />

as diferenças <strong>de</strong> preços entre os países,<br />

permitin<strong>do</strong> comparações internacionais<br />

da produção real e <strong>do</strong>s rendimentos. A taxa<br />

<strong>de</strong> PPC US$, tem o mesmo po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> compra<br />

na economia nacional que $1 tem nos<br />

Esta<strong>do</strong>s -Uni<strong>do</strong>s.<br />

Probabilida<strong>de</strong> à nascença <strong>de</strong> não sobreviver<br />

a uma ida<strong>de</strong> específica: calcula<strong>do</strong><br />

como 1 menos a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sobreviver<br />

a uma ida<strong>de</strong> especificada para um<br />

da<strong>do</strong> grupo. Ver probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>, à nascença,<br />

sobreviver a uma ida<strong>de</strong> específica.<br />

Probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>, à nascença, sobreviver<br />

a uma ida<strong>de</strong> específica: probabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> uma criança recém nascida sobreviver<br />

a uma ida<strong>de</strong> específica, se sujeita aos<br />

padrões <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> para ida<strong>de</strong>s<br />

específicas.<br />

Rácio crianças–mulher: refere-se ao número<br />

<strong>de</strong> pessoas com ida<strong>de</strong>s compreendidas<br />

entre os 0—4 anos em percentagem<br />

<strong>do</strong> número <strong>de</strong> população feminina com<br />

ida<strong>de</strong>s compreendidas entre os 15 e os 45<br />

anos.<br />

Rácio <strong>de</strong> sexo: refere-se ao rácio entre o<br />

número mulheres compara<strong>do</strong> com o número<br />

<strong>de</strong> homens.<br />

Rendimentos ganhos (PPP US$), estima<strong>do</strong>s<br />

(feminino e masculino): calcula<strong>do</strong><br />

com base no rácio <strong>do</strong>s salários das<br />

mulheres para trabalho não-agrícola relativamente<br />

aos salários não-agrícolas <strong>do</strong>s homens,<br />

na parte das mulheres e <strong>do</strong>s homens<br />

que integram a população economicamente<br />

activa e na população total feminina e<br />

masculina e o PIB per capita (PPP US$). Para<br />

<strong>de</strong>talhes sobre sesta estimativa, ver nota técnica<br />

1.<br />

Rendimentos ganhos, rácio estima<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

mulheres relativamente aos homens: o<br />

rácio estima<strong>do</strong> <strong>do</strong> total <strong>do</strong>s rendimentos<br />

auferi<strong>do</strong>s por mulheres relativamente aos<br />

auferi<strong>do</strong>s por homens.<br />

Taxa <strong>de</strong> alfabetização, adultos: a percentagem<br />

<strong>de</strong> pessoas com ida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> 15 e mais<br />

que po<strong>de</strong>m, na vida <strong>do</strong> dia-a-dia e compreen<strong>de</strong>n<strong>do</strong><br />

o conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong> que estão a fazer,<br />

ler e escrever um pequeno texto.<br />

Taxa <strong>de</strong> analfabetização <strong>de</strong> adultos: calculada<br />

como 100 menos a taxa <strong>de</strong> alfabetização<br />

<strong>do</strong>s adultos. Ver taxa <strong>de</strong> alfabetização<br />

<strong>de</strong> adultos.<br />

Taxa <strong>de</strong> crescimento anual <strong>do</strong> PIB per<br />

capita: taxa anual <strong>de</strong> crescimento <strong>do</strong> PIB<br />

calcula<strong>do</strong> pelo méto<strong>do</strong> <strong>do</strong>s mínimos quadra<strong>do</strong>s,<br />

calculadas a partir <strong>do</strong> PIB per capita<br />

a preços constantes, em unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> moeda<br />

local.<br />

Taxa <strong>de</strong> crescimento populacional, anual:<br />

refere-se à taxa <strong>de</strong> crescimento anual<br />

exponencial da população para o perío<strong>do</strong><br />

indica<strong>do</strong>. Ver população, total.<br />

Taxa <strong>de</strong> fertilida<strong>de</strong>, total: número médio<br />

<strong>de</strong> crianças que uma mulher po<strong>de</strong> gerar<br />

se as taxas <strong>de</strong> fertilida<strong>de</strong> específica para<br />

a sua -ida<strong>de</strong> permanecerem inalteradas durante<br />

a sua vida.<br />

Taxa <strong>de</strong> morbida<strong>de</strong>, crianças com menos<br />

<strong>de</strong> 5 anos (ida<strong>de</strong>s 0—4), mensal:<br />

refere-se ao número <strong>de</strong> pessoas com ida<strong>de</strong>s<br />

entre os 0-4 anos, <strong>do</strong>entes no mês anterior<br />

ao inquérito, em percentagem da<br />

população total <strong>do</strong> mesmo grupo etário.<br />

Taxa <strong>de</strong> morbida<strong>de</strong>, total, mensal: refere-se<br />

ao número <strong>de</strong> pessoas que, por <strong>do</strong>ença,<br />

interrompem as suas activida<strong>de</strong>s diárias <strong>de</strong><br />

trabalho/estu<strong>do</strong> no mês anterior ao inquérito,<br />

em percentagem da população total.<br />

Taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> com menos <strong>de</strong> cinco<br />

anos: probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se morrer entre<br />

98 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE TIMOR LESTE <strong>2002</strong>


a nascença e exactamente cinco anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong><br />

expresso por cada 1.000 na<strong>do</strong>-vivos.<br />

Taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> infantil: a probabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> morrer entre o nascimento e a<br />

ida<strong>de</strong> exacta <strong>de</strong> um ano expresso por cada<br />

1.000 na<strong>do</strong>s vivos.<br />

Taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> materna registada:<br />

número anual regista<strong>do</strong> <strong>de</strong> mortes <strong>de</strong><br />

mulheres <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a gravi<strong>de</strong>z por cada<br />

100.000 na<strong>do</strong>s vivos, não ajusta<strong>do</strong> ten<strong>do</strong><br />

em consi<strong>de</strong>ração os bem <strong>do</strong>cumenta<strong>do</strong>s<br />

problemas <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> registo e <strong>de</strong> má classificação<br />

da causa <strong>de</strong> óbito.<br />

Taxa <strong>de</strong> participação da mão <strong>de</strong> obra,<br />

total: refere-se à percentagem <strong>do</strong> total <strong>de</strong><br />

mão-<strong>de</strong>-obra com ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 15 anos e mais<br />

que estão a trabalhar/emprega<strong>do</strong>s ou à<br />

procura <strong>de</strong> trabalho/<strong>de</strong>semprega<strong>do</strong>s durante<br />

a semana anterior ao inquérito em relação<br />

ao total da população com ida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

15 anos e mais.<br />

Taxa <strong>de</strong> repetição: refere-se ao número<br />

<strong>de</strong> estudantes (na escola primária e níveis<br />

secundários) que repetiram o mesmo nível<br />

<strong>do</strong> ano anterior em percentagem <strong>do</strong> total<br />

existentes durante o tempo <strong>do</strong> -inquérito.<br />

Taxa <strong>de</strong> utilização <strong>de</strong> contraceptivos<br />

com méto<strong>do</strong>s mo<strong>de</strong>rnos, total: percentagem<br />

<strong>de</strong> mulheres com ida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> 15–49<br />

anos actualmente casadas e que utilizam<br />

DEFINIÇÕES DE TERMOS ESTADÍSTICOS<br />

méto<strong>do</strong>s mo<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> contracepção em<br />

percentagem <strong>de</strong> todas as mulheres com ida<strong>de</strong>s<br />

entre os 15–49 e actualmente casadas.<br />

Taxa <strong>de</strong> visita a instalações mo<strong>de</strong>rnas<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>/pessoal, crianças com ida<strong>de</strong><br />

inferior a 5 (0-4 anos): refere-se ao número<br />

<strong>de</strong> pessoas com ida<strong>de</strong> entre os 0-4<br />

anos que visitam as mo<strong>de</strong>rnas instalações<br />

médicas (hospitais, centros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e clínicas)<br />

ou o pessoal (médicos ou outro pessoal<br />

especializa<strong>do</strong>) durante o mês anterior<br />

ao inquérito, em percentagem da população<br />

total com ida<strong>de</strong>s entre os 0-4 anos.<br />

Taxa <strong>de</strong> visita às instalações mo<strong>de</strong>rnas<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>/pessoal, total: refere-se ao número<br />

<strong>de</strong> pessoas que visitam as mo<strong>de</strong>rnas<br />

instalações médicas (hospitais, centros <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong>, clínicas) ou pessoal (médicos ou outro<br />

pessoal especializa<strong>do</strong>) durante o mês<br />

anterior ao inquérito em percentagem da<br />

população total.<br />

Trabalha<strong>do</strong>res profissionais e técnicos,<br />

mulheres: mulheres que <strong>de</strong>têm posições<br />

<strong>de</strong>finidas <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a Classificação<br />

Internacional Standard das Ocupações<br />

(ISCO-88) em termos <strong>de</strong> profissionais <strong>de</strong><br />

física, matemática, engenharia e ciências (e<br />

profissionais associa<strong>do</strong>s), ciência da vida e<br />

profissionais da saú<strong>de</strong> (e profissionais associa<strong>do</strong>s)<br />

e outras profissões e seus similares.<br />

99

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