Taís Araújo: 'Não preciso falar sobre empoderamento com a minha filha'

Taís Araújo não fugiu à regra quando teve seu cabelo alisado aos 11 anos, levada por sua mãe. À época tido como um procedimento comum para muitas mulheres de cabelo crespo e cacheado, foi só aos 25 anos que a atriz descobriu, de fato, como eram seus fios. "Não tinha memória do meu cabelo, não lembrava como ele era", disse a atriz em conversa promovida pela L'Oréal, no Rio de Janeiro, em evento recente que marcou o lançamento da linha Elseve Cachos Longos dos Sonhos, entre outras novidades.

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Incentivada por seu cabeleireiro, Taís passou a deixar seus fios naturais. "Quando parei de fazer o relaxamento, demorei um tempão para aceitar", contou. "Costumo dizer que passei por duas transições: a primeira foi essa, e a segunda quando cortei o cabelo bem curtinho, depois da maternidade", revela a atriz de 44 anos. "Hoje a relação com meu cabelo é de amor. Reconheço e tenho a liberdade de mudar sem culpa, quando quiser, e como quiser, seja liso, seja cacheado."

Mãe de Maria Antônia, de 7 anos —e também de João Vicente, de 11— Tais vê pelas atitudes da filha o quanto essa nova geração não repete mais um padrão de comportamento recorrente do seu tempo. Em entrevista a Universa, ela contou que a menina toma suas próprias decisões em relação ao cabelo e que abordar o assunto empoderamento nunca foi necessário. "Não preciso ter esse tipo de conversa com a minha filha, é impressionante. Esses dias a minha mãe lavou o cabelo dela à noite e secou. Ela me ligou, aos prantos, dizendo: 'Mãe, minha avó alisou meu cabelo'. Ela não tinha alisado, mas só secado, passando a escova. Então, ela tem a liberdade de gostar do cabelo black, trançado, com trança colorida. Ela gosta dela e me ensina muito", disse a atriz. "E essa geração liga a TV e vê um monte de menina preta. Hoje a gente reconhece o negro como belo, como potente, como pertencente. Não precisei ensinar nada, ela sabe tudo."

"Tinha medo de ocupar esse lugar"

Atriz das mais admiradas de sua geração, Taís sempre foi tida como referência de mulher, profissional, mãe, ativista. "Durante muito tempo relutei em estar nesse lugar, acho que tinha medo, não sabia se era um lugar possível. Talvez por ignorância de não reconhecer a importância dele ou por achar que seria um peso. Mas a maturidade me fez ver que é um lugar que precisa existir para as outras gerações e precisa existir para mim também", afirmou. "Quando decidi ocupá-lo, vi que não era pesado, porque o que recebo de volta é tão grande que me alimenta. É uma responsabilidade, mas estou disposta a estar nele."

Há 12 anos atuando como porta-voz da L'Oréal, a diretora da marca no Brasil, Laura Parkinson, explicou a importância da parceria: "Taís é muito provocadora, ela tem um letramento sobre o tema da diversidade que nos ensina muito. Ela desafia nossa comunicação e é muito envolvida nas causas. A gente vem trazendo uma agenda muito importante de inclusão, representatividade, diversidade e ela tem todo o reconhecimento da sociedade e uma fome de transformação que amplificar a nossa voz."

Questionada sobre o que falta para outras mulheres também ocuparem esse lugar a que ela chegou, Taís reflete: "Falta que o mercado dê às mulheres negras as mesmas possibilidades. Não sou a mais talentosa, não sou a mais bonita, tive a chance de exercitar mais. E a prática leva ao aperfeiçoamento" afirmou. "Quero que as mulheres tenham possibilidades dentro da diversidade das mulheres negras, pois somos muito diferentes —de cor de pele a origem—, então o reconhecimento dessa multiplicidade de mulheres negras é necessária. Não dá para achar que é uma massa só. É importante ter um símbolo, mas que há muitas belezas diferentes. Entender a multiplicidade como riqueza é o que falta", conclui.

"É sobre entender quem você é"

No evento que contou com a presença de embaixadoras da marca, como a atriz Larissa Manoela, a modelo Maju de Araújo e a influenciadora Camilla de Lucas, a atriz Gabi Loran, atualmente no elenco da novela "Cara e Coragem", ao lado de Tais Araújo, também falou sobre a relação que conquistou com seu cabelo de cinco anos para cá. "Raspar a cabeça e começar tudo de novo foi quase um rito de renascimento para mim", falou sobre sua transição de gênero.

"Eu não sabia como era meu cabelo, não tinha referência. E cuidar do cabelo está muito ligado à descoberta da feminilidade." Gabi reconhece que o hábito do autocuidado, de hidratar os fios, começou nesse processo. "Quando você toma possa de quem você é, é gostoso entender o seu poder e o cabelo está muito ligado a isso. Definitivamente, hoje posso dizer que meu cabelo é minha coroa. Quando me olho no espelho, vejo a minha potência."