'Não sou de cozinhar o passado': como está Esther Góes, de 'Elas por Elas'?

Esther Goes, 77, uma das sete protagonistas da primeira versão de "Elas por Elas", ainda não teve tempo de se debruçar sobre o remake da Globo e comparar com as cenas de 40 anos atrás, mas está feliz de ver a história criada por Cassiano Gabus Mendes voltar aos holofotes. Hoje, está focada em trabalhos teatrais, como a recente "Ubu Rei", e na preparação de um curso sobre o escritor francês Guillaume Apollinaire.

Uma coisa que não consigo fazer é ligar a televisão para ver novela. Praticamente impossível ter esse tempo. Também não sou de cozinhar o passado. Sou mais do presente e bola para a frente.

Em conversa com Splash, Esther conta que "Elas por Elas" é um dos trabalhos televisivos dos quais tem as melhores lembranças - assim como "Direito de Amar", seu outro xodó. Ela viveu Adriana, uma dona de uma clínica veterinária e mão solo de uma filha adolescente. Hoje, a personagem é interpretada por Thalita Carauta, que faz sua primeira protagonista.

"Eu era a mais nova e ingênua, embora talvez a mais corajosa. Era uma pessoa que segurava o tranco sozinha. Tinha o tema da mãe solo, da autonomia, havia ainda muito preconceito, havia uma falta de apoio muito grande."

A trama narra a história de sete amigas que se reencontram após 25 anos. Apesar de ter histórias diferentes, elas têm dramas que se entrecruzam. A atriz acredita que Cassiano levou bem e não caiu na competição entre mulheres. "As autoras têm um prato cheio pra desenvolver, hoje existem novas famílias, novas formas de relacionamento. Muitas coisas necessárias."

Hoje, a nova versão de "Elas por Elas" chegou ao ar semanas após falecimento de Aracy Balabanian e Maria Helena Dias —- Eva Wilma, Sandra Bréa e Mila Moreira também já partiram. Das sete protagonistas, apenas Esther e Joana Fomm estão vivas.

É incrível e difícil ver desaparecer pessoas que você conheceu tanto e que estavam aí até outro dia em plena atividade... Me lembro muito do Luiz Gustavo e o seu Mario Fofoca também, bem-humorado, Cassiano tinha disso.

Muitas atividades

Após "Elas por Elas", Esther Goes passou por diferentes emissoras. Fez "Uma Onda no Ar" (Manchete - 1994), "O Direito de Nascer" (SBT - 2001) e "Amor e Intrigas" (2007 - Record). Seu último papel na TV foi a trama bíblica Gênesis, também da Record, em 2021. No streaming, fez "Coisa Mais Linda" (2019), sucesso da Netflix com duas temporadas. "Andei por tudo quanto foi campo e nunca tive problema de trocar de emissora. Pra mim o que importa é o espetáculo, sabe?"

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Hoje, aos 77, Esther conta estar mais na ativa que nunca, estudando para novos projetos que estão por vir no teatro — a partir da Cia Ensaio Geral, fundada por ela e Ariel Borghi para criar espetáculos e estudos sobre encenação. "As pessoas não sabem que, cada projeto que a gente faz, a gente estuda muito, você tem meses de dedicação antes de pôr alguma coisa em cena".

O ator tem essa possibilidade maravilhosa que é de viver a sua arte sempre, não tem retirada nisso. Pelo contrário, quanto mais se vive, mais se quer viver e o teatro nos alimenta muito, traz muita alegria, traz força, traz desafio, traz vontade de prosseguir, de fazer melhor, de crescer, de ousar mais. Então, esse processo do teatro é uma coisa que torna a vida muito gostosa, sabe? Muito interessante.

E quem sabe não participa da atual versão de "Elas por Elas". Os autores Thereza Falcão e Alessandro Marson já revelaram o desejo em recente entrevista ao jornal O Globo. "Ninguém falou comigo ainda. Como vou saber o que elas estão pensando? Seria interessante e engraçado. Acho que eu toparia, sim. Seria muito curioso e interessante revisitar de outra maneira, né? Depende do que eles estão a fim de fazer."

Em janeiro de 2024, ela ainda apresentará um curso no MIS São Paulo intitulado "Esther Góes e a poesia de Apollinaire". Durante o curso, serão visitadas diferentes formas de encenação a partir da carreira da atriz no teatro, no cinema e na televisão, além de atividades de transposição da obra poética para a obra cênica de alguns caligramas do poeta modernista.

"É a transposição da linguagem poética para a linguagem cênica e, também, situando historicamente. Tem toda uma posição dos modernistas e dos surrealistas diante da Primeira e da Segunda Guerra, das questões macromundiais mesmo, do mundo em pânico. Tudo isso tem muito a ver com o nosso tempo, tem pontes muito interessantes para a gente reconhecer o que é a crise mundial."

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