Roberto Sadovski

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Opinião

'A Freira 2' desperdiça sua figura central em uma experiência sem sustos

"A Freira 2" não economiza em colocar as moças de hábito em cena. Temos a irmã Irene (Taissa Farmiga), que no filme anterior triunfou ante as forças das trevas. Dessa vez ela tem uma parceira, a irmã Debra (Storm Reid), uma freira mais, digamos, rebelde. E não falta inocência em um colégio interno, uma antiga abadia, cheia de almas inocentes, volneráveis à manipulação do mal.

Quem parece escondida ao longo de "A Freira 2" é justamente Valak, demônio apresentado em "Invocação do Mal 2", de 2016, que ganhou um filme para chamar de seu dois anos depois. Se o visual da freira encapetada - interpretada por Bonnie Aarons - tornou-se tão sinônimo com esse universo do terror quanto a boneca Annabelle, ela parece estranhamente ausente no novo filme.

Ambientado em 1956, quatro anos depois dos eventos mostrados em "A Freira", o novo filme começa com um padre queimado vivo dentro de sua própria igreja em um vilarejo francês. Temendo o retorno de Valak, o Vaticano convoca a irmã Irene, que vive tranquilamente em um convento, por ela ter sido a única a enfrentar o demônio e viver para contar a história.

Ao mesmo tempo em que, acompanhada da irmã Debra, Irene pega a estrada e começa sua investigação, a trama se desdobra para recuperar o outro sobrevivente da produção original, o faz-tudo Maurice (Jonas Bloquet). Ele agora vive em um internato para garotas em outra cidade na França, um zelador prestativo que se aproxima de uma professora, Kate (Anna Popplewell, uma das crianças de "As Crônicas de Nárnia", agora no papel de mãe e mostrando o quanto estamos todos velhos).

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As duas linhas narrativas vão inevitavelmente se cruzar, quando Maurice mostra ser o novo receptáculo de Valak e a dupla Irene e Debra busca um (outro) artefato religioso capaz de conter a fúria assassina do demônio. A ameaça tem, portanto, a face de um sujeito bonzinho. Quando a entidade do mal finalmente liberta seu poder - e finalmente reaparece em seu modo "freira do capeta" -, o filme já caminha para seu clímax explosivo.

Talvez esteja justamente aí o problema de "A Freira 2". Provocar medo exige sutileza, habilidade em manipular o público ao construir uma atmosfera que revela lentamente a natureza do terror. O diretor Michael Chaves, aqui em seu terceiro filme dentro do universo construído por James Wan - ele fez "A Maldição da Chorona" e "Invocação do Mal: A Ordem do Demônio" -, não parece preocupado com sutileza, e sim com gritaria, pirotecnia e sustos fáceis.

Na prática, porém, a estratégia surte pouco efeito. Apesar de algumas cenas bem construídas - como o momento em que Valak sorge ante Irene em páginas de revistas numa banca de rua -, nada em "A Freira 2" causa medo. Talvez um certo incômodo, mais pelo som estridente do que pelos cantos escuros e cenários desoladores espalhados pelo filme. Mas nada surpreendente ou que faça ninguém perder o sono.

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Talvez a irmã Irene (Taissa Farmiga) tenho escolhido a arma para combater o monstro errado...
Talvez a irmã Irene (Taissa Farmiga) tenho escolhido a arma para combater o monstro errado... Imagem: Warner

O texto desconexo também não colabora. "A Freira 2" sugere uma investigação por parte de Irene, mas as soluções são fáceis e dependem mais de coincidências do que de perspicácia. O fato de a freira bacana ter visões premonitórias também não ganha explicação - o roteiro que ainda bagunça a narrativa de outros filmes do mesmo universo. Se a ideia é manter as produções conectadas, a turma precisa prestar mais atenção e ter mais capricho.

É inegável, contudo, que "A Freira 2" cumpre seu papel como peça nesse tabuleiro desenhado por James Wan ao longo da última década. Ele garantiu um nicho lucrativo e aparentemente inesgotável em um gênero, que, por si só, roda bem o mundo. Longe das inovações de exemplares recentes do terror, como "A Bruxa", "Corra!" e "Fale Comigo", Chaves opta por um caminho mais conservador, uma régua que padroniza todos os filmes do universo "Invocação do Mal". A criatividade sofre - assim como os sustos -, mas resta pouca dúvida que "A Freira 2" será a produção de horror mais lucrativa do ano. Em time que está ganhando...

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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