Paulista de 1973: O último título do Rei Pelé 

Por Victor Hugo, do Memorial das Conquistas 

Há exatos 50 anos, meio século, o Santos chegava à sua 13ª conquista estadual e o Rei do Futebol, pela última vez, erguia uma taça vestindo as cores do Peixe. 

À época, o Campeonato Paulista era disputado entre 12 equipes, em dois turnos. O primeiro foi vencido pelo Santos de forma invicta, com oito vitórias, três empates e goleadas marcantes, como 3 a 0 sobre o Corinthians, 6 a 0 contra o Juventus e 5 a 1 diante da Ponte Preta; no turno, assinalou 23 gols e sofreu apenas 5. Já no segundo turno, a Portuguesa de Desportos se sagrou campeã. 

Classificados para a grande decisão, o Alvinegro Praiano e a Lusa armaram um grande espetáculo no Morumbi. Recorde de público no estado de São Paulo, com 116.156 espectadores pagantes presentes para assistir o duelo.  

A Decisão  

A equipe do Santos, escalada por Pepe, Ídolo Eterno da nação santista, veio à campo com: Cejas, Zé Carlos, Carlos Alberto, Vicente e Turcão; Clodoaldo e Léo Oliveira; Jair da Costa (Brecha), Euzébio, Pelé e Edu. 

Comandada por Otto Glória, a Portuguesa foi escalada com: Zecão, Cardoso, Pescuma, Calegari e Isidoro; Bedeco e Basílio; Xáxá, Enéas (Tatá), Cabinho e Wilsinho. 

O Peixe atacou a equipe paulistana desde o soar do apito e assim foi até o final. Dominando toda a partida, apesar das inúmeras chances e de três finalizações do Rei terem atingido a trave, nenhum gol marcado. Após a prorrogação se encerrar com o placar ainda em 0 a 0, as equipes foram disputar a taça nas penalidades. 

Do lado santista, os cinco cobradores selecionados foram: Zé Carlos, Carlos Alberto, Edu, Pelé e Léo Oliveira. 

Pelo time luso: Isidoro, Calegari, Wilsinho, Basílio e Tatá foram os escolhidos. 

Na primeira rodada de cobranças, defesas dos goleiros de ambas as equipes, a final seguia empatada. Pela segunda cobrança, Carlos Alberto colocou no canto esquerdo e converteu; enquanto Calegari chutou fraco e Cejas defendeu novamente. 

Com o Santos já em vantagem, Edu cobrou com força e ampliou para dois gols a diferença; já Wilsinho acertou o travessão. Após mais uma cobrança desperdiçada pela equipe da Portuguesa, Cejas vibrou efusivamente com seus companheiros que já vislumbravam o título em suas mãos. 

Empolgado com a celebração do Alvinegro, o árbitro Armando Marques encerrou a partida, declarando o time santista como campeão antecipadamente. Com 2 a 0 no placar e outras duas cobranças restantes, mesmo que remotíssimas, a Lusa ainda tinha chances de igualar o placar. 

Para chegar ao empate no placar das cobranças, o time do Canindé precisaria superar Cejas nas suas últimas duas cobranças (feito que ainda não haviam conseguido), e ainda deveriam torcer para que o Rei do Futebol e Léo Oliveira – cobrador oficial do Santos –, errassem a meta. 

Um campeonato, dois campeões  

Com o erro matemático desapercebido entre as equipes, o Santos celebrou em campo como único e legítimo campeão. Já no vestiário, ambas foram notificadas do erro e chamadas para retornar ao campo para finalizar as cobranças, mas apenas a equipe santista voltou; já que a equipe da Portuguesa, orientada por seu treinador Otto Glória, deixou às pressas o Morumbi, sem ao menos tomarem banho ou trocarem de roupa, entregando a decisão do que seria feito às mãos da FPF. 

Com a iminência do início do campeonato brasileiro, sem datas disponíveis para uma nova partida de decisão, ficou decidido entre as diretorias das equipes e o então presidente da Federação Paulista de Futebol, José Ermírio de Morais, a divisão do título daquela edição do Campeonato Paulista. 

Ao sair do estádio, Armando Marques foi acusado de ter cometido um “erro de direito”, mas se justificou: “Não foi um erro de direito, foi um erro matemático. Pensei que o Santos tinha uma vantagem matemática insuperável sobre a Portuguesa. A culpa foi toda minha”. 

No dia seguinte, a FPF emitiu um comunicado informando da decisão. Quando jornalistas questionaram o assessor jurídico da Federação, se a torcida não havia sido lesada, em tom de ironia respondeu: “Que nada. A torcida até que viu futebol demais pelo preço que pagou”. 

Nesta edição, com onze gols assinalados, Pelé foi pela décima primeira vez artilheiro do campeonato paulista. Feito incomparável, inigualável e insuperável. 

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