HOMENAGEM

Carmen Miranda ganha mostra de filmes no Cine Humberto Mauro

A Pequena Notável foi a primeira ícone internacional do Brasil, participando de vários filmes em Hollywood

Por Paulo Henrique Silva
Publicado em 07 de fevereiro de 2023 | 07:00
 
 
 
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Com seus balangandãs, carisma de sobra e potência vocal, Carmen Miranda se tornou o primeiro grande ícone internacional do Brasil. As portas de Hollywood se abriram para ela especialmente devido ao cenário geopolítico do mundo, nos anos de 1930 e 1940, com a aproximação da relação entre Estados Unidos e América Latina. 

Pegando carona nas festividades do Carnaval, a mostra “Carmen Miranda e a Boa Vizinhança”, com início nesta terça (7)  no Cine Humberto Mauro, é uma oportunidade de conhecer o papel do cinema para a percepção internacional de nossos costumes, muitas vezes de forma estereotipada, que acabaria perdurando por décadas. 

“Esse olhar nos afetou muito porque, assim como muitos países do terceiro mundo, a percepção (de nossa identidade) é construída pelo estrangeiro”, observa Vitor Miranda, gerente da sala de exibição localizada no Palácio das Artes. Apesar de ser protagonista de uma estilização do Carnaval, a artista foi fundamental para a divulgação mundial do samba. 

Miranda destaca que a figura com turbante, sapatos de plataforma e saia com referências às frutas tropicais era uma apropriação das nossas baianas. Ele lembra que a canção “O que é que a Baiana Tem?”, de Dorival Caymmi, trazia a descrição desse figurino popularizado por Carmen, mas como uma celebração à cultura negra do país. 

“Dentro desse processo de embranquecimento da população, foi Carmen Miranda quem levou o samba a um nível nacional e, posteriormente, internacional. Nascida em uma família pobre, ela sempre teve contato com o samba. Carmen tirou o gênero das comunidades trabalhadoras negras, que não tinham a mesma plataforma de exibição que ela, e o pôs no mundo”, analisa. 

O gerente do Humberto Mauro assinala que a Pequena Notável foi a primeira mulher a assinar um contrato de rádio no país. Em Hollywood, participou de várias comédias musicais ingênuas como uma das atrizes mais bem pagas do período. “Apesar de nunca ser a protagonista, as pessoas iam ao cinema para vê-la”, destaca. 

Entre os filmes americanos com a “Brazilian Bombshell” que serão exibidos na mostra estão “Aconteceu em Havana” (1941), “Copacabana” (1947), “Entre a Loura e a Morena” (1943) e “O Príncipe Encantado” (1948). “Ela era sempre um alívio cômico, a amiga da protagonista, com todos aqueles componentes de figurinos e números musicais que até hoje saltam aos olhos”, lembra. 

Boa parte daquelas produções envelheceu mal em vários aspectos, segundo Miranda, mas elas continuam divertidas e servem para mostrar justamente como os estrangeiros e os próprios brasileiros percebiam a cultura do país.  Situações como viver uma cubana e cantar em português se tornam um exemplo de como as identidades latinas eram retratadas. 

Para fazer esse contraponto, a programação foi reforçada com outros títulos que fizeram parte da “Política de Boa Vizinhança”, como “Interlúdio” (1946), de Alfred Hitchcock. Também serão exibidos os documentários “Carmen Miranda” (1969) e “Carmen Miranda: Bananas Is My Business” (1994), que traçam um panorama sobre a trajetória da cantora. 

Outra atração acontecerá no Jardim Interno do Palácio das Artes, nesta quinta-feira (9), em celebração ao aniversário de Carmen Miranda (que nasceu, na verdade, em Marco de Canaveses, em Portugal). A festa de Carnaval “Mamãe Eu Quero” será das 17h às 22h e contará com performances artísticas e cortejo com a Cia. de Dança Palácio das Artes.  

SERVIÇO 
O quê. Mostra “Carmen e a Boa Vizinhança” 
Quando. De 7 de fevereiro a 7 de março 
Onde. Cine Humberto Mauro (avenida Afonso Pena, 1.537, centro) 
Quanto. Entrada franca

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