O Piódão será das aldeias mais reconhecíveis e… instagramáveis de Portugal, mas o seu encanto antecede as redes sociais por séculos!

As fachadas de xisto parecem um Lego de tamanho real, justapostas umas às outras na perfeição – portas, janelas e caixilhos de um azul vivo em contraste com a pedra escura, mas condizendo com o céu límpido que se prolonga acima da encosta. O escritor Miguel Torga reconheceu que foi aqui, no Piódão, que veio despedir-se do Portugal primevo, considerando-o o “ovo embrionário” de culturas, hábitos e vivências que já não existem.

Encarrapitada num vale do Açor no concelho de Arganil, serra fustigada com regularidade por incêndios e por isso tristemente desprovida de árvores, Piódão foi um modelo à frente do seu tempo na visão de recuperação das aldeias tradicionais do centro do país. Apesar de ser dos mais célebres núcleos de xisto, na verdade faz parte da Rede das Aldeias Históricas.

Piodão

À entrada, como que a dar as boas-vindas ao viajante errante, a Igreja Matriz destaca-se com harmonia do casario castanho que aenvolve: alva, de um branco brilhante, com os quatro pináculos encimando a fachada, na companhia da pequena torre sineira. O interior é singelo e precisamente por isso gracioso, em natural consonância com o espaço rural em que se encaixa. Para lá da praça que se abre à sua frente, o visitante é irremediavelmente tomado pela obsessão de largar à conquista das ruelas empinadas. Calcorrear todos os recantos, vielas ou miradouros improvisados torna-se um imperativo de vida naquelas horas dolentes, cortado do mundo exterior, ali, no âmago de Portugal!

Bem alta, encontra-se a eira, recordação da tradição comunitária em que estas aldeias assentavam para fazer face aos desafios da vida serrana. Daqui pode apreciar-se a joalharia arquitectónica que os telhados de lajes de lousa negra constituem, como escamas lustrosas de uma besta ancestral contorcida encosta abaixo.

O centro urbano teve alguma importância no final do século XIX e chegou a existir aqui um colégio religioso fundado por uma figura grata por estas bandas, o cónego Manuel Fernandes Nogueira. Depois, o pulsar do Piódão abrandou significativamente durante décadas, resistindo a população graças à agricultura de subsistência, à criação de gado caprino e ovino e à apicultura.

Piodão

Em anos recentes, a sua popularidade trouxe sangue novo devido a um turismo diferenciado, mais focado na cultura tradicional e no usufruto de espaços naturais. Por isso nem só de Piódão se faz… uma visita ao Piódão. Um belo trilho pedestre que acompanha o rio é imperdível e a praia fluvial vizinha permite mergulhos refrescantes ao longo de quase todo o ano.

A aldeia vizinha de Foz de Égua, cujo ex-líbris são as harmoniosas pontes de pedra gémeas, arqueadas sobre duas ribeiras, é uma visita recomendada, sobretudo para apreciar a galeria ripícola bem conservada onde árvores frondosas proporcionam um apreciado abrigo do calor que sopra das colinas despidas.

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