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Sinalização focada em carro deixa pedestre perdido na Avenida Paulista

Avenida Paulista mantém sinalização por totens, criada nos anos 1970 e focada em carros; pedestre se confunde para achar ruas transversais

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Imagem mostra pessoas cruzando avenida em faixa de pedestre - Metrópoles
1 de 1 Imagem mostra pessoas cruzando avenida em faixa de pedestre - Metrópoles - Foto: William Cardoso/Metrópoles

São Paulo — A Avenida Paulista é plana e com calçadas largas, mas nem por isso a vida do pedestre que circula por ela é tranquila. Sem placas, o cartão-postal de São Paulo, com seus totens no canteiro central pensados para orientar motoristas, deixa completamente perdido quem caminha pela via.

A polêmica é antiga e remonta aos anos 1970, quando foi feita a grande modernização da Avenida Paulista. A mudança ocorreu durante a gestão do prefeito biônico Miguel Colassuono (1973-1975), em plena ditadura militar.

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Entre as várias propostas de alteração, que incluíam até uma via expressa por túnel, resistiu a sinalização das ruas por totens, desenvolvida pelo mesmo escritório que fez a programação visual do Metrô — pertencia a João Carlos Cauduro, morto no mês passado, aos 88 anos.

Ainda que elegante, a sinalização é vista como pouco funcional por pedestres. O casal de médicos Celso Pedruzzi, de 70 anos, e Ester Pedruzzi, 69, passeava pela avenida na última quinta-feira (21/9) e chegou a pensar que a Alameda Joaquim Eugênio de Lima era a Avenida Brigadeiro Luiz Antônio, por causa do totem que indicava a segunda rua à frente bem em cima da primeira.

“Sou de fora, do Espírito Santo. Acho que mereceria uma indicação mais precisava, mais detalhada”, disse o médico.

Perto dali, a atendente de banca de jornais Ana Gabriela Oliveira, de 19 anos, diz que aparecem por lá muitas pessoas perdidas ao longo do dia. “Dou mais informação do que trabalho. Vou começar a cobrar”, ironiza.

As bancas de jornais são referência para buscar informação quando as pessoas estão perdidas na Paulista. Gerente de uma delas, Fátima Costa, de 66 anos, afirma que responde centenas de vezes que a rua onde está é a Itapeva.

Cansada, Fátima chegou a improvisar uma placa ao lado da banca para orientar quem está perdido e busca a confirmação, com a inscrição “Sim, aqui é a Rua Itapeva”.

“Precisa de uma placa da prefeitura. São quatro saídas de metrô e não tem sinalização nenhuma. A pessoa tem que olhar para cima, coisa que ninguém faz, para poder enxergar”, disse.

Abrir o celular e procurar a rua na qual se pretende ir em plena Paulista é um risco gigantesco. A via é aquela que, historicamente, concentra o maior número de roubos e furtos de smartphones na cidade.

Apesar do perigo, foi justamente isso o que fex a fiscal de caixa Noeli de Souza, de 27 anos, que procurava a Rua Joaquim Eugênio de Lima, onde faria exame em um consultório. “Já estou atrasada. Até nos bairros mais pobres tem sinalização. Aqui é um lugar chique e a gente não encontra”, afirmou.

Críticas

A comunicação visual da Avenida Paulista recebeu críticas até mesmo na época em que foi implementada. “Embora tivesse uma restrição muito grande por parte dos técnicos da prefeitura na época, que queriam que a sinalização fosse baseada no Código Nacional de Trânsito, foi feito um modelo diferente, que é esse”, diz Maria da Penha Nobre.

Maria da Penha coordenou o programa de orientação do trânsito da capital paulista nos anos 1980 e conta que o projeto da Paulista foi realmente focado na circulação dos veículos e não se teve uma preocupação maior na sinalização em relação aos pedestres, apesar das críticas do técnicos a prefeitura.

“Esse projeto, posteriormente, foi tombado. Então, não se pode mexer, alterando totalmente a sinalização”, diz. Ela afirma que isso não impede que seja desenvolvido um estudo para complementar o que já existe na Paulista e cita um exemplo: “Pode ser feita uma sinalização com totens reduzidos, específica para pedestres”.

Diretor do departamento de mobilidade e logística do Instituto de Engenharia, Ivan Whately afirma que a comunicação visual da Paulista foi uma inovação e causou grande impacto nos anos 1970. “Naquela época, a tendência era de prestigiar o transporte individual e os totens atendem as necessidades da sinalização de trânsito. A cidade de São Paulo, na mesma época, chegou a ter um plano de vias expressas que, felizmente, foi abandonado”, diz.

Para Whately, é necessário implementar mudanças. “A prefeitura tem um padrão de poste com duas placas em bandeira que precisa ser implantado na área e ampliar a visibilidade, assegurando a implementação dele em todas as intersecções da avenida”, afirma.

O que diz a prefeitura

A Prefeitura de São Paulo afirma que o modelo de sinalização de logradouros instalado na Avenida Paulista foi projetado para orientar a circulação das pessoas de modo a reduzir a poluição visual antes existente. “Os totens de identificação foram pensados como forma de condensar em um só lugar todas as informações que pedestres e motoristas precisam para se deslocar pela região”, diz, em nota.

Segundo a prefeitura, anteriormente as esquinas tinham diferentes placas que disputavam a atenção das pessoas com cores e tamanhos diferentes, causando confusão a pedestres e motoristas. “A Prefeitura entende que os totens são símbolos históricos da Avenida Paulista, estão na paisagem urbana há quase 50 anos e marcam uma época”, afirma.

Já a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) diz que as sinalizações na Avenida Paulista seguem os padrões do viário da cidade e a instalação de placas seguem o regulamento dos outros órgãos envolvidos nesta região.

“Possíveis alterações nas sinalizações para pedestres seriam analisadas sob vários aspectos, visto que, o transeunte já está habituado com o padrão existente em toda cidade, o que independe da região, do bairro ou da via”, afirma, em nota.

A CET também diz que não tem conhecimento de reclamações encaminhadas à companhia referente às sinalizações da Paulista.

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