Ouça a rádio

Ouvindo...

Times

Figo - fruta de Natal - é, na verdade, uma ‘flor invertida’; entenda

Pesquisador da Embrapa explica que tanto o figo quanto o morango são pseudofrutas, com estruturas florais voltadas para dentro. E mais: o figo selvagem come vespas, durante o processo de polinização

Muito popular na ceia de Natal, o figo é uma das primeiras frutas cultivadas pelo homem, tanto que há pinturas rupestres em cavernas com desenhos de figueiras. Mas espera aí? Fruta? Alguns botânicos dizem que o figo - assim como o morango - não é fruta e sim uma ‘flor invertida’, com estruturas florais internas. Será….?

O engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Clima Temperado, que fica em Pelotas no Rio Grande do Sul, Carlos Roberto Martins, explicou à Itatiaia que, botanicamente, há uma diferença sim. Tanto o figo quanto o morango não são considerados frutas. Mas o são, de fato, por serem produzidos, comercializados e consumidos como tais. “Eu trabalho com a árvore frutífera, então pra mim, é fruta”, brinca, bem-humorado.

Segundo ele, o figo que consumimos é, na verdade, um conjunto de órgãos florais carregados de substâncias que as tornam suculentas. “Tanto ele quanto o morango são pseudofrutos ou infrutescências”, esclarece.

Figo é uma planta carnívora? 🌾

Não! Essa é outra polêmica que envolve o ‘figo selvagem’: ele “come” vespas durante o processo de polinização. Isso mesmo! De acordo com Carlos Roberto, algumas variedades de figo, para amadurecer, precisam ser polinizadas, resultando num fenômeno biológico interessante, uma mútua adaptação entre vegetal e inseto. Uma vespa polinizadora não consegue viver muito tempo se não for no interior dos sicônios (figo) e, por outro lado, algumas variedades não amadurecem se não houver o estimulo pela polinização das vespas.

É uma troca de interesses. Para que o figo nativo crie sementes férteis, ele precisa ser polinizado. Como seu pólen fica na parte interna, apenas a vespa-do-figo consegue acessá-lo por meio de uma abertura na casca. Ou melhor, da flor. Veja o infográfico:

Mas, calma lá…. O produto que chega na nossa mesa se reproduz de uma forma diferente do figo da natureza, não necessitando de polinização.

Você pode continuar comendo, tranquilo, essa deliciosa, suave e carnuda frutinha que vai muito bem em saladas, no acompanhamento de sorvetes e pudins e na forma de doces cristalizados ou compotas.

E veganos, atenção! Podem comer figos comprados em supermercados e sacolões tranquilamente que não há vespas dentro da fruta!

Nos jardins da Babilônia 🏡

Há relatos de que o figo já era cultivado antes de Cristo, na era romana, ao redor das casas e dos palácios e até nos famosos Jardins da Babilônia de Nabucodonosor II. “É uma planta milenar”, diz Carlos Roberto. Mas os primeiros povos que a cultivaram não foram os italianos e sim os árabes, numa parte mais semiárida do sudoeste da Ásia. Com o tempo, a cultura foi introduzida também no Egito, Grécia e Itália, justamente por árabes que se estabeleceram na Europa.

Martinho Afonso trouxe pra cá 🚢

No Brasil, o figo chegou por volta de 1530, pela Expedição Colonizadora do Martinho Afonso de Souza, que também trouxe pra cá outras frutas como o marmelo e uva. Posteriormente, no século XIX, ela já tinha uma das maiores áreas de cultivo na região de São Paulo, graças também ao incentivo de imigrantes italianos que trouxeram muitas mudas de figueira em suas bagagens.

Adão se cobriu com folhas de figueira 🍃

  • A figueira é a primeira planta descrita na Bíblia. Quem se lembra? Adão se cobre com suas folhas, ao notar que está nu.
  • O nome científico da figueira é Ficus carica. Ficus é o nome da planta em latim e carica é uma referência à região da Cária, no centro-oeste da Turquia, onde a fruta é cultivada em larga escala.
  • Em termos mundiais, as principais regiões produtoras de figo ficam próximas das regiões de origem em países como Egito, Grécia, Irã, Marrocos, Turquia, Itália e Espanha, embora também se tenha grandes concentrações dessa fruta nos Estados Unidos, China, México e Brasil.

Sobre o clima e manejos 🌧️

A figueira se adapta bem às regiões de clima temperado. Embora tenha grande capacidade de adaptação a diferentes condições climáticas.

Sim, é uma planta que gosta de água e, se for irrigada, responde com aumento de produtividade e maior qualidade do fruto.

A figueira também gosta de outros sistemas de manejo, como o ‘uso da palhada’, que favorece a manutenção da umidade do solo dentro dos pomares.

Ranking Nacional

  • De acordo com o IBGE, os principais estados produtores são: São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina.
  • São Paulo se destaca pela grande produtividade. Alguns pomares chegam a produzir 20 toneladas por hectare. Mas o mais comum é a produção de 13 a 15 toneladas por hectare, e excelente qualidade dos frutos.
  • Minas vem logo na sequência produzindo em torno de 10 a 12 toneladas por hectare, de acordo com o IBGE.
  • O Brasil produz em torno de 20 mil toneladas de figo por ano.
  • Embora existam muitas cultivares, a principal delas é a cultivar roxa, de Valinhos.
  • É uma árvore frutífera com poucos problemas de doenças e pragas.
  • Considerada rústica, é uma planta que precisa de cuidados básicos como: adubação orgânica, água e poda.

Fonte: Embrapa Clima Temperado

Maria Teresa Leal é jornalista, pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação pela PUC Minas. Trabalhou nos jornais ‘Hoje em Dia’ e ‘O Tempo’ e foi analista de comunicação na Federação da Agricultura e Pecuária de MG.



Leia mais