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    “Hormônio do amor”, ocitocina pode ter potencial de regenerar o coração, diz estudo

    Descoberta poderá abrir caminhos para o desenvolvimento de estratégias para promover a regeneração do coração humano após um ataque cardíaco, segundo os cientistas

    Getty Images

    Lucas Rochada CNN

    em São Paulo

    A ocitocina é um hormônio produzido no cérebro conhecido pela sua capacidade de gerar sentimentos de prazer e promover laços sociais. Conhecido como “hormônio do amor”, ele também atua na regulação do processo de produção de leite materno e das contrações uterinas nas mulheres, além de regular a ejaculação, o transporte de espermatozoides e a produção de testosterona nos homens.

    Cientistas dos Estados Unidos descobriram indícios de que a ocitocina pode ter mais uma função, esta pouco conhecida: a regeneração do coração. Pesquisadores da Universidade do Estado do Michigan verificaram que, em peixes-zebra e culturas de células humanas, o hormônio é capaz de estimular que as células-tronco derivadas da camada externa do coração migrem para a camada intermediária. No chamado miocárdio elas se desenvolvem em células musculares que geram contrações cardíacas, chamadas cardiomiócitos.

    Segundo os especialistas, a descoberta poderá abrir caminhos para o desenvolvimento de estratégias para promover a regeneração do coração humano após um ataque cardíaco. Os resultados do estudo foram publicados no periódico científico Frontiers in Cell and Developmental Biology.

    “Aqui mostramos que a ocitocina, um neuropeptídeo também conhecido como hormônio do amor, é capaz de ativar mecanismos de reparo cardíaco em corações lesionados em peixes-zebra e culturas de células humanas, abrindo as portas para novas terapias potenciais para a regeneração do coração em humanos”, disse Aitor Aguirre, professor-assistente do Departamento de Engenharia Biomédica da Universidade do Estado do Michigan, autor sênior do estudo em comunicado.

    Papel dos peixes-zebra

    Os cardiomiócitos geralmente morrem em grande número após um ataque cardíaco. Por serem células altamente especializadas, elas não podem se refazer. Estudos anteriores mostraram que um subconjunto de células na camada de tecido externa do coração (chamada epicárdio) pode sofrer reprogramação para se tornarem células-tronco, chamadas células progenitoras derivadas do epicárdio, que podem regenerar não apenas cardiomiócitos, mas também outros tipos de células cardíacas.

    “Pense nas células progenitoras derivadas do epicárdio como os pedreiros que consertavam catedrais na Europa na Idade Média”, disse Aguirre. No entanto, para os humanos, a produção dessas células é ineficiente para a regeneração do coração em condições naturais.

    Os peixe-zebra podem ser um caminho para o entendimento de como regenerar corações com mais eficiência. Eles são famosos por sua grande capacidade de regeneração de órgãos, incluindo cérebro, retina, órgãos internos, ossos e pele. A recuperação do coração é feita em parte pela proliferação de cardiomiócitos, mas também por células progenitoras.

    De acordo com os autores, a chave para explicar a capacidade de reparar o coração com eficiência pode estar na ocitocina. Para chegar a essa conclusão, os especialistas descobriram que no peixe-zebra, dentro de três dias após a lesão por congelamento no coração, a expressão do RNA mensageiro da oxitocina aumenta em até 20 vezes no cérebro.

    As análises mostraram ainda que essa ocitocina viaja para o epicárdio do peixe-zebra e se liga ao receptor de ocitocina, desencadeando uma cascata molecular que estimula as células locais a se expandirem e se desenvolverem células progenitoras. Esses novas células então migram para o miocárdio do peixe-zebra para se desenvolver em cardiomiócitos, vasos sanguíneos e outras células cardíacas importantes, para substituir aquelas que foram perdidas.

    Efeito semelhante em culturas de tecidos humanos

    Os cientistas verificaram que a ocitocina tem um efeito semelhante no tecido humano em experimentos de laboratório (in vitro). A ocitocina estimula as culturas de células-tronco pluripotentes induzidas humanas a se tornarem células progenitoras com alta capacidade.

    Os autores também mostraram que a ligação entre a ocitocina e a estimulação de células progenitoras é uma via importante de sinalização conhecida por regular o crescimento, diferenciação e migração de células.

    “Esses resultados mostram que é provável que a estimulação pela ocitocina da produção de células progenitoras seja evolutivamente conservada em humanos em uma extensão significativa. A ocitocina é amplamente utilizada na clínica por outras razões, portanto, reaproveitar os pacientes após danos cardíacos não é um longo passo de imaginação. Mesmo que a regeneração do coração seja apenas parcial, os benefícios para os pacientes podem ser enormes”, disse Aguirre.

    O pesquisador destaca que os próximos passos incluem analisar a ocitocina em humanos após lesão cardíaca. “A oxitocina em si tem vida curta na circulação, então seus efeitos em humanos podem ser prejudicados por isso. Drogas especificamente projetadas com meia-vida mais longa ou mais potência podem ser úteis nesse cenário. No geral, ensaios pré-clínicos em animais e ensaios clínicos em humanos são necessários para avançar”, concluiu.