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    Da Ford à Chery: relembre a história da Caoa no Brasil

    Médico de formação, Carlos Alberto de Oliveira Andrade, criou um império automotivo nacional quase que por acaso

    Thiago Moreno,

    colaboração para o CNN Brasil Business, em São Paulo

    No último dia 14 de agosto, Carlos Alberto de Oliveira Andrade morreu em decorrência de um câncer aos 77 anos. Seu nome pode não ser tão conhecido, mas o império automotivo que ele criou é.

    O Grupo Caoa leva suas iniciais e partiu da distribuição de veículos para a produção de automóveis em poucas décadas. Relembre a história da empresa:

    Início por acaso

    A história que envolve o “Dr. Caoa”, apelido que recebeu por ser médico de formação, tem muito folclore. Mas o início de sua carreira no setor automotivo aconteceu ao transformar um negócio que deu errado em uma oportunidade.

    Em 1979, Carlos Alberto havia comprado um Ford Landau de uma concessionária em Campina Grande (PB). A loja, porém, foi à falência antes da entrega do carro. Ali, Carlos Alberto se dispôs a comprar os ativos da concessionária falida e deu início à história do Grupo Caoa.

    Famoso por não perder negócio, o “Dr. Caoa” aceitava diversos métodos de pagamento para fechar uma venda, incluindo cabeças de gado e até materiais de construção.

     

    Crescimento e diversificação

    A tática agressiva de Carlos Alberto o colocou em uma posição privilegiada. Já em 1993, o Grupo Caoa era o maior distribuidor de veículos Ford do Brasil. Um ano antes, em 1992, a empresa viu uma oportunidade de expansão com a reabertura das importações. A companhia do “Dr. Caoa” foi a que trouxe oficialmente veículos da marca Renault para o mercado brasileiro.

    Nesse período, a marca francesa se tornou a quinta mais vendida do Brasil. No entanto, a parceria durou pouco. O arrojo do Grupo Caoa nos negócios criou desentendimentos com os parceiros de importação.

    Em 1998, porém, a empresa deu início à importação dos veículos da Subaru, uma parceria com a montadora japonesa perdura até hoje. 

    Mas foi um ano depois que veio um dos maiores passos para a história da Caoa, com o início da importação dos carros de passeio da Hyundai, marca sul-coreana que, até então, era conhecida por veículos comerciais. Foi daí que surgiu o Hyundai Tucson no Brasil, um dos modelos de maior sucesso e mais longevo da história da marca por aqui.

    Enquanto diversificava seus negócios e ampliava as marcas com as quais atuava, a empresa nunca deixou de trabalhar no ramo de vendas de automóveis. Em 2006, o Grupo Caoa, que já era o maior distribuidor Ford do Brasil, tornou-se o maior revendedor da marca em toda a América Latina.

    O sonho da montadora nacional

    Recentemente, a Ford anunciou que não venderia a marca Troller para ninguém, apenas repassaria os ativos industriais da fábrica em Horizonte (CE). Com isso, foi decretada a morte de mais uma montadora. Porém, correndo um tanto por fora, a Caoa embarcou nessa onda de se tornar uma montadora brasileira em 2007.

    Naquele ano, a empresa conseguiu firmar um acordo com a Hyundai para a fabricação local de alguns modelos da sul-coreana. A fábrica de Anápolis (GO) consumiu R$ 1,2 bilhão em investimentos e produzia naquela época o próprio Tucson, além dos comerciais HR e HD78, e deu início à “Caoa Montadora”. Em 2012, o Grupo Caoa foi eleito como o melhor distribuidor Hyundai do mundo, concorrendo com outros 179 grupos globalmente.

    Porém, ainda no final de 2012, a própria Hyundai começou a fabricar por aqui os modelos da linha HB20 e, posteriormente, o Creta. À Caoa restaram os modelos de Anápolis e os importados, o que fez com que a relação entre as duas se complicasse. Mas o grupo nacional nunca deixou de lado o sonho de se tornar uma montadora relevante.

    Em 2017, último ano em que Carlos Alberto de Oliveira Andrade atuou como CEO do grupo, a Caoa iniciou um projeto para adquirir 50,7% das operações da chinesa Chery no Brasil, negócio concluído em 2018. Com isso, a empresa teve acesso a mais uma fábrica, localizada em Jacareí (SP), e a marca passou a se chamar oficialmente Caoa Chery.

    Hoje, a Caoa ainda produz alguns modelos da Hyundai em Anápolis e a linha de SUVs Tiggo 5x, Tiggo 7 e Tiggo 8 da Chery. De Jacareí saem o Tiggo 2 e o Arrizo 5 da marca chinesa. Em breve, o grupo deverá trazer também veículos da Exeed, marca de luxo da Chery. Como a Caoa é majoritária na operação da Chery aqui, ainda dá para dizer que o Brasil tem uma montadora nacional.

    Desde 2017, Carlos Alberto de Oliveira Andrade permaneceu atuando na Caoa como membro do conselho administrativo da empresa.

    Uma última vitória antes de partir

    Desde o início da operação própria da Hyundai no Brasil em 2012, a relação da marca com a Caoa se tornou conturbada. O contrato original previa que o grupo nacional teria uma renovação automática por mais dez anos após o final da vigência, mas a sul-coreana pretendia encerrar o acordo inteiramente.

    A questão foi parar em um tribunal arbitral em Frankfurt, na Alemanha. No final de julho, menos de um mês antes da morte de Carlos Alberto de Oliveira Andrade, o tribunal alemão decidiu em favor da Caoa, que poderá continuar a importar com exclusividade e produzir veículos da Hyundai por um período de mais de dez anos.