Simplesmente Cosplay 1 – O quê e porquê?
Publicado a 02 Mar, 2020
Quem tem visitado eventos de cultura pop e geek nos últimos anos poderá ter reparado numa quantidade espectacular de pessoas vestidas de forma… diferente. O cosplay em Portugal pode já não ser novidade, mas para muitos ainda soa a estrangeirice, por isso voltemos ao início e vejamos exactamente que moda é esta e porque tem tantos adeptos.
Antes de mais, devo dizer que este texto é escrito do meu ponto de vista pessoal como “cosplayer”, isto é, como um membro praticante da arte do cosplay. Construí fatos para mim e para outros, usei fatos comprados, participei em alguns concursos e assisti a muitos mais. Ainda assim, apesar de tentar apresentar o cosplay de forma abrangente, as experiências de outros poderão ser diferentes e agradeço desde já que deixem as vossas próprias perspectivas e opiniões nos comentários abaixo.
Etimologicamente, “cosplay” é a junção das palavras “costume” (do inglês, “fato” ou “fantasia”) e “play” (do inglês, “interpretação”), ou seja, significa vestir e interpretar uma personagem. Simples. Por outro lado, a palavra nasceu no Japão na década de 80 no contexto de convenções de cultura pop, pelo que o cosplay ainda hoje está fortemente associado a esse tipo de eventos. Assim, é tão fácil argumentar que vestir e agir como o Pai Natal faz parte do espírito do cosplay como é fácil encontrar alguém que discorde. Ora, quem tem mais razão? Ninguém. É apenas a diferença entre o sentido lato e estrito da palavra. A maior diferença entre a palavra “cosplay” e a palavra “fantasia” será talvez o sentido de comunidade associado ao cosplay.
Como cosplayers temos a oportunidade de vestir a pele, calçar os sapatos e dar vida às nossas personagens favoritas, que frequentemente pertencem a animes, bandas desenhadas, videojogos, filmes e séries de televisão. Ainda assim, a imaginação é o limite e qualquer um pode vestir o que bem entender. É comum ver cosplayers vestirem personagens de sexos, cores de pele ou até espécies diferentes da sua e mesmo personagens originais criadas pelos próprios são válidas. Afinal, o cosplay é, em parte, sobre encontrar liberdade ao deixar o nosso “eu” para trás e abraçar uma personalidade diferente por umas horas.

Da esquerda para a direita: Jojo a fazer cosplay de estudante de Hogwarts (Harry Potter), Daniel de guarda imperial (Warhammer 40k) e João de Sanji (One Piece)

Motivações para entrar no mundo do cosplay são muitas e variadas. A principal, diria eu, é a diversão. Quem, em criança, nunca quis calçar os sapatos do seu herói? Além da diversão, ao longo dos anos tenho visto como o cosplay proporciona algo ainda importante: inclusão. Todas as pessoas são bem-vindas. Todas! Independentemente da idade, do género, da tom de pele, das crenças, das escolhas, das naturezas, por aí fora.
Num mundo onde cada vez há mais pessoas e, de alguma forma, nos encontramos mais desligados uns dos outros e blábláblá… Já ouviram este cliché vezes sem conta. Enfim, o cosplay, tal como qualquer outra actividade lúdica social, ajuda a criar pontes e a conhecer pessoas com os mesmos gostos e interesses, ajudando a ultrapassar as barreiras da timidez e da introversão. Em eventos, é comum sermos abordados por pessoas que gostam da personagem que estamos a imitar e, uma coisa levando a outra, damos por nós a ter boas conversas sobre os nossos assuntos preferidos e a fazer amigos.
Cosplay tem ainda um lado artístico. Muitos dos fatos e adereços usados não estão simplesmente disponíveis em lojas, pelo que os cosplayers se vêem na posição de ter que os criar ou procurar artesãos (também conhecidos como “cosmakers”) que o façam por eles. Desta forma, quem se inicia nesta arte acaba por ganhar habilidades em várias áreas de trabalhos manuais, bem como na resolução de problemas, e tem muitas oportunidades poder explorar e expandir a sua criatividade. Queridos cosplayers, sintam-se à vontade para usar essas palavras nos vossos “curriculum vitae”.

Júlia como Elsa (Frozen)

No mundo do cosplay são frequentes os concursos onde os cosplayers podem demonstrar as suas habilidades. Seja apenas em “passerelle” ou com apresentações teatrais, os cosplayers têm oportunidade de exibir os seus trabalhos e dar a conhecer as suas personagens ao público ou simplesmente dar um bom espectáculo. Por fim, para quem prefere não subir a palco, mas ainda assim se quer mostrar, as redes sociais também servem de plataforma para levar o trabalho dos cosplayers aos quatro cantos do globo.
Concluindo, cosplay é uma “cena gira” que tem muito que se lhe diga e muito que certamente não cabe num simples artigo. Nos artigos futuros irei focar nos primeiros passos para quem quer molhar o pézinho, nas apresentações também conhecidas como “skits” e muito mais.
Como nota final quero apenas deixar um agradecimento aos vários cosplayers que apareceram no evento Coimbrashoot, onde pudemos tirar estas fantásticas fotos. Ora então, da esquerda para a direita na imagem de capa, obrigado à Cristina (@cristinagomes0711 no Instagram), à Jojo Scarion (@jojoscarion), à Myriam Cosplay (@myriamiyazaki), ao João Lopes (@jota379), à Júlia Gabriela (@princess_of_frozen_hearts) e ao Pedro Daniel Ramos (@daniel_ramos.foxcosplay).
Escrito por:
Pedro Cruz
"Spawned" em Aveiro no fim do início da década de 90, apreciador de amostras de imaginação e criatividade, artesão de coisas, mestre da fina e ancestral arte da procrastinação e... por hoje já chega. Acabo isto amanhã...