Escola precisa se abrir à participação de estudantes em todas as etapas

três crianças do ensino fundamental I sentadas em suas carteiras em uma sala de aula com os braços levantados, participando da aula

Em razão do Dia dos Estudantes e do Dia Mundial da Juventude, 11 e 12 de agosto, a Vivescer conversou com Miriam Abramovay sobre participação, engajamento e a importância de os estudantes apoiarem diferentes processos na escola 

Em 2016, estudantes brasileiros provaram que estão mais do que interessados nos rumos da educação e na qualidade do ensino que lhes é oferecido: centenas de escolas da rede pública – estimativas falavam, à época, em 1.100 unidades de ensino – foram ocupadas Brasil afora, em contrariedade ao teto de gastos e mudanças no ensino médio. 

O episódio provou que jovens querem participar das decisões que os envolvem. Aliás, envolvimento e participação são duas palavras que definem a abordagem adotada por escolas que valorizam os conhecimentos e posicionamentos dos estudantes e acreditam que é só com o engajamento deles que será possível realmente transformar a educação em algo que faça sentido para os alunos. 

Tanto a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) com seu conjunto de dez competências, quanto o Novo Ensino Médio, que permite ao estudante escolher os Itinerários Formativos que desejam seguir, trabalham a participação e engajamento. Entretanto, para Miriam Abramovay, coordenadora da área de Juventude e Políticas Públicas da FLACSO (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais), a participação dos estudantes, que é fundamental, deve ir além. 

“Eles devem participar de debates sobre porque a escola existe, que escola querem e na elaboração das regras de convivência desse espaço. Isso faz com que a escola tenha um clima mais positivo. Em geral, as regras são impostas, ninguém sabe o que são e são burladas. Temos que discutir o que é esse lugar e o que é necessário mudar nele”, explica.

Segundo a doutora em educação, só a partir de mudanças estruturais, que envolvem desde a formação de professores, o currículo e envolvimento de temas do interesse dos jovens, é que será possível promover uma mudança radical na escola. “Essa reviravolta tem que ser possível, pois se não for, continuaremos com os mesmos problemas de antes da pandemia, porque nada mudou. Essa é a grande oportunidade agora.”  

Formação de professores

O que significa, então, promover uma participação que vai além? Que não se limita às atividades? Além do exemplo já citado por Miriam de contar com o apoio dos estudantes na elaboração das regras de convivência no espaço escolar – o que pode acontecer a partir de assembleias periódicas, por exemplo –, também é possível envolvê-los na própria elaboração das propostas pedagógicas. 

Para isso, é importante que os educadores ampliem sua forma de dar aula, como cita Miriam, envolvendo nos conteúdos programáticos temas do universo dos alunos. “Na escola, não se discute a questão da sexualidade, do racismo, da homofobia, cultura juvenil, adolescência e juventude, violência”, enumera.  

Nesse contexto, a formação de professores se faz fundamental para que entendam as diversas maneiras possíveis de despertar o interesse dos alunos a partir de diferentes temas trabalhados no currículo. 

“Existem muitas formações de professores naquilo que é especialidade deles, mas não existem discussões mais gerais sobre cultura juvenil, o que é ser jovem no Brasil hoje e todos os assuntos que já falamos.” 

A questão do protagonismo

Quando o assunto é protagonismo, Miriam destaca senso coletivo e prefere o termo participação, fazendo mudanças para que realmente seja possível que os estudantes tenham suas vozes ouvidas na escola. “Eu acho que o protagonismo é isso: que todos possam participar efetivamente de todos os aspectos.”  

Esse debate acarreta o conceito de pertencimento ao espaço da escola, cita Miriam. Ou seja, é importante que crianças e jovens participem dos processos para que reconheçam a escola como sua e, com isso, possam potencializar sua relação com o saber. 

“A escola é a única instituição social pela qual crianças e jovens vão passar. Não existe outra. Mas não adianta falarmos que devem aprender somente as questões das disciplinas. Eles precisam sim, dos conteúdos, mas devem incorporar todas as questões relacionadas à participação, o que envolve a política, saber efetivamente o que acontece no país”, exemplifica. 

Saiba mais

A Vivescer separou alguns conteúdos que explicam a importância do engajamento e participação estudantil nos processos escolares e que podem inspirar ações, projetos e atividades: 

Tudo o que você precisa saber sobre protagonismo juvenil

Corresponsabilidade e participação ativa dos alunos fortalecem o currículo e transformam a escola

Especial Porvir: Participação dos Estudantes nas EscolasCampanha #Reviravolta da Escola.

Respostas

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *