Alimentou paixões e ódios. Governou a Madeira ao longo de 37 anos. Foi acusado de ter um pendor ditatorial. Apareceu na capa de um jornal de… cuecas. Alberto João Jardim publica agora, com a D. Quixote, as suas memórias, numa autobiografia intitulada Relatório de Combate.
A VISÃO foi ler alguns episódios contados por Alberto João Jardim sobre sete personalidades portugueses com quem se cruzou nestes anos, umas vezes de forma institucional, outras nem tanto.
A jogada de Francisco Pinto Balsemão
“Balsemão queixava-se muito de Marcelo Rebelo de Sousa, era este ainda jornalista no Expresso. E, mesmo no Governo, estava sempre de olho nele. Um dia, perguntei ao Primeiro-Ministro por que razão tinha Marcelo no Governo, já que tanto se queixava dele. Respondeu-me que ainda era a melhor maneira de o ter controlado!…”
A ajuda de Cavaco
“Quer no Governo de Sócrates, quer no Governo de Passos Coelho, o Professor Cavaco Silva, ciente das dificuldades de relacionamento político existentes, acompanhou todos os meus passos em Lisboa. Quantas vezes, antes de voltar para a Madeira, fui a Belém sem passar pelo portão oficial e sem a comunicação social saber! E o Presidente muito ajudou a Madeira, ao intervir a partir da informação que eu lhe ia transmitindo”.
As garotices e patifarias de Sócrates
“A 6 de Junho, reúno-me com Sócrates em São Bento (…). Expliquei- -lhes que podiam dar aos Açores e a quem quisessem aquilo que muito bem entendessem, desde que não tocassem no que era da Madeira. (…) Pela antipatia do encontro, percebi logo que era mesmo essa garotice que se preparavam para fazer”.
“Dei ordens para que, na Região, não fosse permitida a denúncia pública dos devedores ao Fisco e prometi à população que a informaria de todas as patifarias do Governo de Sócrates, ao qual respondi com inaugurações na ilha de Porto Santo, durante 15 dias de Agosto”.
A inteligência de Marcelo
“Marcelo é uma pessoa muito exigente, para além de ter uma comprovadíssima inteligência. Tínhamos de estar 24 horas de serviço. Eu devia atenções a Marcelo, que de resto tem a primazia intelectual, cultural e humana que se lhe reconhece”.
Desagrado com Passos
“Como podia eu apoiar Passos Coelho e seus muchachos se, quando da alteração maioritária da Lei de Finanças Regionais pela Assembleia da República, ele se posicionou contra nós, ao lado de Sócrates-Teixeira dos Santos?!”
A tentativa de Soares de o pôr a milhas
“Lembro-me de que Mário Soares, um dia em Belém, me fez esta conversa: “Vocês já têm os filhos cuidados, agora um bom fim de carreira para si era uma Embaixada.” Percebi que me queria pôr a milhas, ao que lhe respondi: “Ainda é cedo, quero continuar as minhas lutas políticas.” (…) Chegado ao Funchal, contei a conversa à Ângela. Tempos depois, Mário Soares vem a um evento importante no Funchal, que implicou eu oferecer um jantar oficial em que minha mulher ficou junto do Presidente da República. Este, pensando que ela desconhecia a conversa da Embaixada, faz-lhe a mesma proposta. A Ângela respondeu: “Só aceito duas, Pretória ou Caracas.” Soares interrogou porquê. “Porque têm piscina.” O Presidente percebeu a ironia e nunca mais nos repetiu a proposta.”
A amizade com Jorge Sampaio
“O Dr. Jorge Sampaio e senhora vêm à Madeira a 29 de Novembro de 1997 (…)É a primeira vez que conversamos. Curiosamente, e graças à habilidade de Jorge Sampaio, gera-se uma espontânea e sincera aproximação entre as pessoas, uma amizade que hoje perdura”.