Reportagem do jornal “Folha de S.Paulo” publicada nesta terça-feira informa que uma dirigente do PSL de Minas afirmou, em depoimento à Polícia Federal (PF), que gastos de campanha do hoje ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, foram pagos por meio de dinheiro vivo entregue a ela dentro de uma caixa branca da grife Lacoste. O pagamento, prossegue a reportagem, foi feito a dois dias da eleição de 2018.
A depoente é Ivanete Maria da Silva Nogueira, vice-presidente do PSL em Conselheiro Lafaiete, que apresentou comprovantes da contratação de panfleteiros e de um salão para eventos para a campanha a deputado do hoje ministro. Segundo ela, um assessor de Álvaro Antônio não quis receber os recibos de serviços prestados. E nenhum desses casos aparece na prestação de contas entregue à Justiça Eleitoral pelo hoje ministro.
Álvaro Antônio já foi indiciado pela PF e denunciado pelo Ministério Público nas apurações sobre uso de candidaturas laranjas do PSL. A PF, lembra a “Folha”, sugeriu a abertura de um novo inquérito para apurar a suspeita específica de caixa dois na campanha. O relato da dirigente do PSL é um dos indícios que a polícia coletou para esse pedido da segunda apuração. Cabe ao promotor do caso, Fernando Ferreira Abreu, requisitar essa investigação.
Ivanete afirma em depoimento, segundo a “Folha”, que contratou vários panfleteiros para as campanhas de Álvaro Antônio e de Celton Mesquita, candidato a deputado estadual. Também afirma que promoveu a reunião de abertura da campanha dos dois em 10 de setembro. Ela mostrou fotos do evento com a presença do hoje ministro e o contrato feito em nome e com o CNPJ de sua campanha.
Ela afirma que Álvaro Antônio lhe disse, pessoalmente, "que todas as tratativas referentes ao pagamento da campanha seriam realizadas com Jandir, seu assessor". Trata-se de Jandir Vieira Siqueira, membro do diretório estadual do PSL.
"No dia 5 de outubro de 2018 [dois dias antes da eleição], Jandir entregou à declarante a quantia de R$ 17 mil em dinheiro [...] A quantia estava guardada em uma caixa branca da marca Lacoste", afirma trecho da transcrição do depoimento.
Ainda segundo Ivanete, ela entrou em contato com Jandir após as eleições "para entregar os recibos do pessoal que havia trabalhado na campanha de Marcelo, mas Jandir disse que não precisava e que estava tudo ok. [...] Depois disso, Jandir não atendeu mais as ligações".
A entrega do dinheiro, disse ela no depoimento, foi testemunhada por um irmão do ministro, Ricardo, uma assessora do gabinete dele chamada Gricielly e por Mateus Von Rondon, hoje assessor especial do ministro, também indiciado e denunciado na investigação do laranjal do PSL. Nenhuma das pessoas que receberam pelo serviço figura na prestação de contas dos candidatos ou na do PSL-MG, segundo a investigação.
Outro lado
A defesa do ministro do Turismo afirmou à reportagem da "Folha de S. Paulo" que Ivanete não trabalhou em sua campanha e que o depoimento dela à PF "não procede". "O que pode ter ocorrido eventualmente é a distribuição e panfletagem, por parte de Ivanete, de algum material gráfico consistente nas chamadas 'dobradinhas', neles contendo a imagem do então candidato a deputado estadual Celton Mesquita e do Marcelo Álvaro como candidato a deputado federal", disse ao jornal o advogado Willer Tomaz.
"Ou seja, trata-se de campanha no interesse de Celton Mesquita, mas com residual apoio à candidatura de Marcelo. É exatamente o que ocorre com todos os candidatos de todos os partidos que se utilizam da imagem dos seus candidatos a cargos majoritários, e nem por isso se diz que a campanha se deu no interesse exclusivo do candidato."
Ainda segundo o advogado, Ivanete possui demanda em que cobra só de Mesquita os valores da campanha de 2018. "Vale lembrar ainda que consta do inquérito que essa senhora demandou apenas o Celton Mesquita cobrando pelos serviços prestados na campanha, o que comprova a inexistência de qualquer vínculo entre ela e Marcelo Álvaro."