Novas tecnologias no setor de saúde têm ganhado relevância especial neste momento em que o mundo enfrenta os inúmeros desafios trazidos pelo coronavírus. São tecnologias e ferramentas digitais que oferecem soluções para lidar, por exemplo, com a restrição de mobilidade de médicos e pacientes, com a limitação para realizar exames e consultas de rotina e, ainda, com dúvidas sobre a melhor hora para ir ao médico ou ao hospital para tratar de algum sintoma não relacionado à Covid-19.
“A crise que vivemos atualmente traz mudanças de hábitos e regras, e tem reflexos na forma como as pessoas acessam a saúde”, afirma Luís Fernando Vieira Joaquim, sócio da indústria de Life Sciences & Health Care da Deloitte.
A telemedicina, que permite algumas formas de atendimento virtual, e que já era uma tendência no setor, tem se destacado ainda mais nesse cenário. O uso desse recurso foi liberado recentemente no país, durante o período da pandemia.
Outro aspecto cada vez mais relevante é a importância de ter ferramentas que possibilitem o melhor uso possível das imensas bases de dados existentes sobre saúde, bem como profissionais capazes de lidar com essas informações. Essa análise ajuda gestores da saúde e de governos a avaliar, por exemplo, onde estão os vetores do vírus e os padrões de disseminação, para que possam promover medidas mais assertivas de prevenção e intervenção – sejam elas locais ou mais amplas.
Para que essas ferramentas digitais funcionem, é preciso contar com uma boa infraestrutura de comunicação, suportada pelas empresas de telecomunicações.
Com o contexto da pandemia, que obriga a revisão de todos os modelos de interação e de negócios, Luís Fernando Vieira Joaquim acredita que surgirão novas oportunidades. “O surgimento de novos modelos de negócio, de financiamento, de regulação e de governança é inevitável, pois ninguém antecipou os acontecimentos atuais”, afirma.
Tecnologias fomentam um novo ecossistema
Se a pandemia evidencia a aplicação de alguns avanços tecnológicos, o fato é que o uso de ferramentas digitais na saúde já vem evoluindo há algum tempo, trazendo rupturas e novas possibilidades ao setor. Tecnologias como robótica, inteligência artificial, big data, computação em nuvem, blockchain, tecnologia de quinta geração (5G) e Internet das Coisas Médicas (IoMT) marcam uma nova era de transformação digital e interoperabilidade, moldando os sistemas de saúde do futuro, conforme apontam dois estudos recentes da Deloitte na indústria de saúde.
Um deles, "Perspectivas globais do setor de saúde 2020", trata de tendências e perspectivas para o setor da saúde, como o investimento em gestão de saúde populacional, inovação na prestação de serviços de saúde e a adoção de cuidados baseados em valor (Value Based Care), além de desafios relacionados à força de trabalho, melhoria de desempenho e sustentabilidade financeira. A outra pesquisa, "Perspectivas globais do setor de Life Sciences 2020", por sua vez, aborda os rumos que as organizações do segmento de “Life Sciences” estão tomando para desenvolver novas métricas para entendimento de dados e criar valor em um cenário de constante evolução, considerando a necessidade de atenção às experiências humanas - de pacientes, profissionais do setor de saúde e parceiros do ecossistema e seus efeitos nos resultados dos negócios. O estudo aponta a previsão de aumento nos gastos com pesquisa e desenvolvimento e oportunidades para descoberta de novos medicamentos ou reaproveitamento de medicamentos existentes com o uso de inteligência artificial, machine learning e automação.
Em ambos os estudos, a transformação digital aparece como um fator fundamental. Esse movimento permite novas formas de coordenação e direcionamento de cuidados, prestação de cuidados virtuais, como consultas por tele e videoconferência, conversas com chatbots dotados de inteligência artificial e mensuração remota de dados vitais.
As inovações tecnológicas possibilitam também a criação da cadeia de valor baseada em evidências científicas, novas abordagens que colocam o paciente no centro do cuidado e maior acesso a soluções e serviços de saúde.
Além disso, com a maior atuação de startups de tecnologia, como as de inteligência artificial, haverá espaço para entrada de agentes não tradicionais no mercado. Nesse contexto, as aquisições entre empresas que querem se manter competitivas tendem a crescer.
Foco na experiência do paciente
Os estudos ressaltam ainda o foco cada vez maior na experiência do paciente. As ferramentas tecnológicas facilitam uma abordagem mais personalizada de consultas e tratamentos, economizando tempo e recursos tanto de pacientes como de médicos e prestadores de serviços de saúde. Por outro lado, o fácil acesso aos meios digitais permite que os pacientes busquem mais informações de saúde disponíveis na internet, redes sociais e aplicativos. Este comportamento demanda mais transparência nas conversas e avaliações clínicas, maior atenção às leis e regulamentos de proteção de dados e novas estratégias para aumentar a confiança e construir melhores relacionamentos com os pacientes. O resultado é uma nova dinâmica entre pacientes, médicos e empresas que prestam serviços de saúde.
“É necessário mudar o olhar sobre a cadeia de saúde e colocar o paciente no centro. Precisamos sair do modelo ‘Hospitalocêntrico’ e entender que esse paciente, que tem acesso a uma série de recursos, está cada vez mais empoderado e consciente de sua jornada de saúde. Caminhamos fortemente para um modelo onde os indivíduos estão cada vez mais bem informados sobre o seu perfil genético e a eficácia das intervenções no setor de saúde; e estão mais engajados em melhorar sua própria saúde e expectativas de cuidados com saúde. Os pacientes são verdadeiros consumidores, eles entendem que têm opções e usam informações e dados sobre si mesmos e sobre os prestadores de serviços para terem o melhor tratamento no momento, local e custo mais convenientes”, afirma Luís Fernando Vieira Joaquim.
Em resumo, as inovações digitais são impulsionadas pela maior demanda dos consumidores por produtos e serviços personalizados, conveniência, acesso e transparência. Os custos crescentes e os desafios para sustentabilidade financeira também são fatores que impactam as organizações de saúde. Por isso, empresas públicas e privadas do setor precisam se manter atentas às inovações e tendências em tecnologia e desenvolver estratégias para o direcionamento de investimentos de curto e longo prazos que possibilitem obter previsibilidade, eficiência, vantagem competitiva, segurança e consolidação no mercado.