O que é o anarquismo?

anarquia

Desde junho de 2013 as TV´s, Jornais e revistas vêm fazendo uma campanha de difamação. Acusam os trabalhadores, estudantes e a juventude de “vandalismo”. Taxam os que estão nas ruas de criminosos.  Mas entre estes um alvo tem sido priorizado: os anarquistas. Desde junho a revolta popular cresce e com ela a perseguição aos anarquistas.

Nesta campanha estão juntos os grandes jornais e redes de televisão. O Governo Federal, Estadual e os Partidos de Direita (PSDB, PMDB e toda a corja restante). Também os ditos de “esquerda” (PT, PSOL, PSTU PCdoB). A Revista Veja (órgão de calúnia e difamação oficial a serviço dos ricos e poderosos) fala:  “Anarquistas: os organizadores do caos nas passeatas”. O Jornal O GLOBO faz a campanha “PF investiga atuação de grupos anarquistas baseados no Rio”. O PSTU (partido “de esquerda”) abriu uma campanha desde junho contra os anarquistas, acusando os anarquistas de “vândalos” e depois atacando de todas as formas os “Black Bloc”.

Não é por acaso que todos os partidos de esquerda e direita, a grande mídia e o Estado atacam os anarquistas. Mas não é porque os anarquistas realizam atos de violência. Ninguém é mais violento que a polícia, não só nas manifestações, mas nas praças, favelas e ruas e campos do Brasil. Nem porque os anarquistas levam o “caos” às ruas (os governantes e empreiteiros já fazem isso).

Eles combatem o anarquismo porque o anarquismo representa uma alternativa de luta e organização para todo o povo. O que é, então, o anarquismo?

A luta contra a exploração e dominação: as ideias anarquistas

Anarquia é Ordem, Governo é Guerra Civil!” Essa ideia foi formulada pelo pensador anarquista francês Pierre-Joseph Proudhon. O pensador e revolucionário anarquista russo Mikhail Bakunin defende: “liberdade sem socialismo é privilégio e injustiça; socialismo sem liberdade é escravidão e brutalidade”. Essas duas frases expressam as principais ideais do anarquismo. O anarquismo luta pelo socialismo, ou seja, pela igualdade, contra a pobreza e exploração.

Bakunin

Mikhail Bakunin (1814-1876), revolucionário russo que deu forma mais acabada ao anarquismo.

O anarquismo quer acabar com as injustiças sociais e econômicas. O anarquismo também luta pela liberdade dos trabalhadores e dos povos oprimidos pelas ditaduras e falsas democracias.

Os anarquistas levaram suas ideias à prática através de duas maneiras. Através das  organizações de defesa dos trabalhadores (sociedades de resistência, cooperativas e sindicatos) e também através das organizações revolucionárias.

Nesse sentido, a igualdade era praticada na luta diária contra a pobreza, a exploração. Como? Reivindicando maiores salários, menores jornadas de trabalho e direitos iguais para homens e mulheres.  Os anarquistas ajudaram a construir os sindicatos e organizações de luta dos trabalhadores em diversas partes do mundo. Na Europa, nos Estados Unidos da América, no Brasil e América Latina.

Na defesa da justiça e da igualdade os anarquistas lutaram contra bancos, empresas, indústrias que sempre exploraram os trabalhadores. Os anarquistas também defenderam a liberdade dos trabalhadores. Os ricos e poderosos sempre defenderam sua própria liberdade. Mas sempre que o povo luta, os ricos e poderosos suprimem a liberdade com autoritarismo e prisões.

Como acontece hoje no Brasil, especialmente no Rio de Janeiro, a polícia usa e abusa do poder. Mata à vontade. A liberdade de votar é uma piada. As milícias, a PM e as prisões e execuções sumárias mostram que não existe liberdade para o povo.

Ao mesmo tempo, há guerra nas favelas contra os pobres, e guerra nos campos. Uma guerra de extermínio. Dezenas de indígenas e trabalhadores rurais são assassinados. Milhares de jovens pobres são executados pela polícia todos os anos. Existe uma guerra do Estado contra o povo.

Os anarquistas querem a Paz, e isso significa que é preciso Luta. Luta para desarmar os opressores, para impedir que sua violência fique impune. Assim os anarquistas lutaram e lutam contra Monarquias, Ditaduras e Governos autoritários, sempre indicando que os trabalhadores tem a capacidade política de governar a sociedade.

Lutam por paz, justiça e liberdade. E também lutaram e lutam pelo fim do capitalismo, construindo uma sociedade igualitária, sem exploração. Justiça e Liberdade, essas são as ideias que os anarquistas levam na prática na sua luta. Mas como os anarquistas agem?

A política dos anarquistas: ação direta, a greve geral e a revolução popular

Os anarquistas entendem que a sociedade é dividida em classes. Uma classe controla a riqueza e o poder, econômico e político. Essa classe dominante explora e oprime os trabalhadores. Essa classe controla o Estado, os bancos, a polícia, as prisões, o sistema de ensino. O único meio que a classe oprimida tem para manter seus direitos e interesses é sua luta e organização.

Por isso, os anarquistas entendem que essa classe oprimida (composta pelos trabalhadores do campo e da cidade, pelos pobres, negros e indígenas) deve lutar para defender seus direitos, pois nenhum Governo o fará. Essa visão de mundo é sintetizada no conceito de ação direta.

Ao contrário do que tem sido divulgado, e do que muitos pensam, ação direta não significa apenas “destruir ou confrontar” (é isso também, mas não só isso). Segundo um grande sindicalista revolucionário francês “A ação direta é uma noção de tal clareza, que é definida e explicada por sua própria declaração. Significa que a classe trabalhadora, na reação constante contra o meio ambiente atual, não espera nada de homens, ou poderes superiores a sua força, mas ele cria suas próprias condições de luta em si mesmo e chama os seus meios de ação  (…) A Ação Direta implica que a classe trabalhadora invoca noções de liberdade e autonomia, em vez de se dobrar ao princípio de autoridade, pivô do mundo moderno – e o democratismo sua última expressão –  por meio do qual seres humanos, acorrentados por mil laços, tanto morais e materiais, são  castrados de qualquer possibilidade de vontade e iniciativa”.

makhno

Trabalhadores organizados no Exército Revolucionário Insurrecional da Ucrânia (1918-1921), liderado pelos anarquistas Nestor Makhno e Piotr Arshinov.

Quer dizer, a ação direta significa que os membros da classe dominada tomaram consciência que precisam agir; que não devem esperar sua libertação de líderes, Partidos ou Governos “salvadores”. Não esperam nada da farsa eleitoral “democrática”. Ação direta expressa que os trabalhadores saíram do estado de apatia e passaram a ação. E isso exige organização e estratégia, objetivos pelos quais lutar e métodos coletivos.

Já que não é através de governos, como conseguiremos as mudanças que queremos? A política da ação direta dos anarquistas é guiada por dois objetivos. Os objetivos imediatos de melhorias parciais das condições de vida, aqueles que podem ser conquistados dentro da sociedade capitalista. E o seu objetivo maior, que é a derrubada da sociedade capitalista e a construção de uma sociedade socialista, que depende de uma revolução e da tomada do poder pelo povo. É a Liberdade e Igualdade para todos os trabalhadores.

Quais são os objetivos que lutamos dentro da sociedade capitalista? Melhores salários, direitos iguais, distribuição de terra. Hoje defendemos o passe livre e o transporte coletivo, a educação e saúde pública, melhores condições de trabalho nas escolas para professores e estudantes. Este programa reivindicativo visa orientar a luta e organização e a criação do poder coletivo da classe oprimida. Por isso vamos às ruas, por isso atuamos nas lutas dos sindicatos e nas greves.

Como lutamos? Lutamos através de protestos, ocupações, passeatas. Mas o momento mais importante da política dos anarquistas é a greve geral. É quando os trabalhadores se lançam numa luta coletiva nacional para parar a produção e mostrar sua força. A greve geral exige um alto grau de organização. Ela eleva o nível e consciência. “A luta educa”, por isso a rua é a escola dos anarquistas.

A greve geral mostra a força da classe dominada e dos trabalhadores. Ao mesmo tempo ela obriga os patrões e governos a ceder. Como aconteceu em 2013 em que os protestos forçaram a redução das passagens dos transportes coletivos com o levante popular. A greve geral potencializa ainda mais essa força popular.

A greve geral se opõe a estratégia de eleger deputados, vereadores, presidentes. Ao invés dos trabalhadores prepararem candidatos para eleições, os anarquistas entendem que eles devem investir suas energias nas greves e lutas.  Significa que acreditamos que somente pelo poder popular, que somente apostamos no desenvolvimento da força coletiva dos oprimidos em luta contra o capitalismo e o Estado.

Mas os anarquistas não lutam apenas por conquistas para hoje. Não lutamos apenas por um programa reivindicativo. Lutamos por uma nova sociedade. Por isso entendemos que esse programa revolucionário exige o fim do Estado e do capitalismo.  Nós queremos o autogoverno dos trabalhadores e dos oprimidos e o socialismo. Esse programa máximo defende para a sociedade revolucionária:

1) que todas as terra que hoje são concentradas nãos mãos de empresas, nacionais e estrangeiras, serão distribuídas justamente entre os trabalhadores rurais e povos tradicionais:

2) todas as empresas estrangeiras e nacionais privadas (fábricas, bancos, serviços financeiros, hotéis) que exploram recursos naturais e atividades econômicas serão coletivizadas, não serão mais propriedade individual ou de corporações, pertencerão aos trabalhadores e não funcionarão só para dar lucro, mas para atender aos interesses públicos e sociais;

3) todas as instituições políticas e policiais (cartórios, bancos, prefeituras, câmaras legislativas serão destruídas e extintas), todas as dívidas de trabalhadores e pessoas pobres serão canceladas;

4) as prefeituras, câmaras de vereadores e o congresso nacional, antros de corrupção, são extintos. O governo deixa de ser patrimônio dos ricos e poderosos e serão substituídos por Conselhos Populares, com representantes eleitos nas organizações populares para um Congresso do Povo. Os representantes eleitos deverão seguir as decisões dos conselhos de base; deverão receber um salário mínimo nacional e não terão privilégios especiais como acontece hoje.

5) Tomar todo o sistema educacional, de saúde, transporte e serviços públicos, acabando com o domínio do capital privado e garantindo que toda a população tenho acesso gratuito a esses serviços.

Esses são os principais pontos de nosso programa. Essa revolução é possível? Sim. Temos um longo caminho, mas o primeiro passo começa com a organização e a luta popular hoje. Os anarquistas acreditam então que o povo deve continuar lutando e aperfeiçoando sua organização.

Quando essa organização alcançar um nível superior, nacional, geral ele consegue realizar a revolução e coletivizar as terras, as indústrias, o sistema financeiro criando o seu autogoverno. Por isso o Estado, a mídia e os partidos mentem e acusam os anarquistas. Porque eles são uma ameaça a seus privilégios e seus crimes.

 Todo o Poder ao Povo!

Venceremos!

Artigo publicado no Causa do Povo nº69. Leia a edição completa CLICANDO AQUI.

camponeses_povo

Os anarquistas são homens e mulheres do povo que resolveram dar suas vidas pela libertação da classe trabalhadora.

Sobre União Popular Anarquista - UNIPA

A União Popular Anarquista (UNIPA) é uma organização política revolucionária bakuninista. A UNIPA luta pela construção do socialismo no Brasil. A estratégia revolucionária da Unipa aponta que somente a ação direta das massas e a luta de classes são capazes de realizar conquistas imediatas, econômicas e políticas, para a classe trabalhadora. A UNIPA entende que somente a revolução, que se coloca como desdobramento da luta de classes, é capaz de viabilizar a construção da sociedade socialista. A UNIPA foi formada em 2003, reunindo militantes do movimento estudantil, sindical e comunitário, alguns dos quais participavam do coletivo Laboratório de Estudos Libertários (LEL). O LEL publicou o Causa do Povo e a revista Ruptura que passaram a ser órgãos da UNIPA a partir de então. Entre em contato: unipa@protonmail.com
Esse post foi publicado em Uncategorized. Bookmark o link permanente.

3 respostas para O que é o anarquismo?

  1. Rafael Siqueira disse:

    Quanta merda! Anarquia é a ausência de autoridade e consequentemente de Estado. Tem que ser muito imbecil para acreditar em “governo do povo” como se isso não criasse uma nova classe, casta ou elite. Anarquia só existe mediante a liberdade individual. Isso inclui a liberdade econômica, ou seja, capitalismo. Imbecis!

  2. Pingback: Anarquismo, ‘Contracultura’, e o movimento Hippie | Questões Cosmológicas

  3. Recomendo a leitura do livro “as seis lições”, esse livro mostrara como o estado ataca o capitalismo, e como o capitalismo é um sistema de livres trocas. O grandes empresários, que vivem hj no brasil protegidos por um corporativismo enorme, na economia livre de mercado, não reinam, eles servem aos seus consumidores e brigam entre si na hardua competição do dia a dia por quem serve melhor e meneiro mais seus consumidores de modo a deixa-los felizes. O consumidores emglobam, desde o mais pobre até o mais rico. Capitalismo é o único sistema em que para enriquecer, é necessario tornar a vida do outro melhor.
    No brasil de hj, existe uma constante mistura entre estado e grandes empresarios, pois é claro, nenhum desses empresarios querem estar sujeitos a concorrencia e a ordens dos consumidores, por isso precisam do estado para protegelos. E como liberal, me oponho a essa relação, me oponho a intervenção do estado no mercado.

Deixe um comentário