Revolução Federalista

 

Fevereiro de 1893 explode no Rio Grande do Sul a Revolução Federalista, abrangendo também os estados de Santa Catarina e Paraná. O objetivo dos Federalistas era libertar o estado gaúcho do sistema opressor de Júlio Prates de Castilhos. No principio era somente uma divergência centralizada, mas lentamente ganha força, adere esse idealismo muitos caudilhos e militares, tornando insustentável a situação do poder estadual.

 

Ocorre a princípio, com a concentração de tropas na vila de Carpintaria, divisa do estado gaúcho com o Uruguai, sob o comando de João Nunes da Silva Tavares – Barão de Itaqui. Seguindo no potreiro de Ana Correia, onde se encontra o coronel Federalista – Gumercindo Saraiva.

 

Os maragatos, como eram conhecidos os Federalistas, exigem a deposição de Júlio de Castilhos, eleito pelo voto direto. Também reinvidica um plebiscito, dando a liberdade de escolha à nova forma de governo.

 

Devido à forma idealista do movimento, os rebeldes ganham milhares de simpatizantes no panorama nacional, criando um clima de instabilidade no atual governo gaúcho, inclusive o governo republicano de marechal Floriano Peixoto no Rio de Janeiro.

 

Floriano vendo a realidade do movimento, temendo propagar-se em outros estados da república, decide enviar tropas federais sob o comando do general Hipólito Ribeiro e o coronel Antônio Moreira César, a região de conflito. O general divide em três divisões legalistas, a do norte, da capital e do centro, também é convocado a policia estadual.

 

A primeira derrota dos maragatos ocorre em Maio de 1893, próximo ao Arroio Inhanduí – Alegrete. Esse combate eternizou-se no tempo, devido à participação do senador José Gomes Pinheiro Machado ao lado dos legalistas.

 

O coronel Moreira César teve diversos confrontos com as tropas maragatas do coronel Gumercindo Saraiva, à abnegação de Gomes Carneiro, a sangrenta batalha de Inhanduí, chacina de Campo Osório, o violento confronto no Rio Canoas em Curitibanos, o cerco memorável e a chacina desumana na Lapa, Barrocas do Pico do Diabo e platonismo marcial de Itararé. Na visão dos senhores da guerra, Moreira César tinha um explosivo tempero, coragem e crueldade, não pensava muito para matar qualquer prisioneiro, usando o seu sangue frio.

 

O fato de levar uma situação ao extremo rende-lhe três promoções em dois anos. O coronel ordena a execução sumária de vários prisioneiros maragatos, sem ao menos respeitar o sagrado direito dos prisioneiros de guerra. O impiedoso coronel constrói um mundo psicótico e violento, que seria consumido por esse mesmo mundo anos mais tarde, na violenta Guerra de Canudos, no sertão baiano.

 

No mesmo ano, os almirantes: Custódio José de Melo, Saldanha da Gama e o engenheiro militar Euclides da Cunha no comando de vários oficiais, marinheiros e navios de guerra rebelam contra o presidente Floriano Peixoto, ameaçam detonar os seus canhões contra o Rio de Janeiro, se ele e os parlamentares não convocassem eleições presidenciais democráticas, saindo o poder do eixo Rio/São Paulo/Minas Gerais.

 

O movimento conta com o apoio de vários políticos, intelectuais e Rui Barbosa. Enquanto Saldanha da Gama prossegue o bloqueio e os navios no Rio de Janeiro, Custódio de Melo passa operar as costas meridionais. Decide tomar Desterro e Curitiba, onde instala um governo provisório, que possibilita ajudar os líderes revolucionários Federalistas. Meses depois, Custódio de Melo é preso na Argentina e Saldanha da Gama foge para Portugal. Rui Barbosa é obrigado asilar-se na Europa em 1893, retorna em 1895 é eleito senador pela Bahia.

 

O coronel, Marcos Gonçalves de Farias de Curitibanos promete duzentos vaqueanos a Gumercindo para auxiliar o movimento Federalista, mas consegue somente vinte e quatro vaqueanos. Devido não poder cumprir o prometido, temendo uma retaliação, coronel Marcos foge para casa de um parente nas proximidades da fazenda do Corisco.

 

A Revolução pendura todo ano de 93, alargando-se para os anos de 94 e terminando em Julho de 95, vencido pelos legalistas – Pica Paus, seguidores de Júlio de Castilhos e Floriano Peixoto. Os três anos de conflito houve mais de dez mil mortes e milhares de feridos de ambos os lados, além de deixar a economia gaúcha numa situação critica e insustentável. Frente da permanência do panorama político forjam as mortes dos irmãos Saraiva e dezenas de oficiais no objetivo de buscar asilo político na Argentina, desaparecem e morrem no completo anonimato. Custódio de Melo acompanha o grupo de foragidos, mas é preso, repatriado e encarcerado na Ilha das Cobras no Rio de Janeiro por um longo tempo, enquanto que Saldanha da Gama foge para Portugal.

 

Consequência da derrota, muitos maragatos são obrigados a emigrar para os estados de Santa Catarina e Paraná, visando fugir das perseguições dos Castilhistas ou pica-paus. Os maragatos assumem papel de destaque nas vilas de emigração, devido à coragem e experiência militar na Revolução Federalista.

 

 

Texto do livro “Revolta dos Excluídos” publicado e E-BOOK no MEC

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