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Bloco de Esquerda: Louçã, Catarina Martins e...? A breve história do partido do virar do milénio

Fernando Rosas, Francisco Louçã, Catarina Martins foram líderes principais do partido que nasceu em 1999, antes do virar do milénio. O Bloco de Esquerda já foi a terceira maior força política e, agora, está com pouca representatividade no Parlamento - o pior resultado em 20 anos. Conheça o caminho do partido que já sofreu várias alterações.

Bloco de Esquerda: Louçã, Catarina Martins e...? A breve história do partido do virar do milénio
JOSÉ SENA GOULÃO

Com quase um quarto século de história, o BE vai mudar o rosto da liderança uma vez que Catarina Martins sai ao fim de uma década, estando o partido reduzido a cinco deputados depois do desaire eleitoral de 2022.

Fundado em 28 de fevereiro de 1999, o BE foi a terceira força política entre as legislativas de 2015 e as de 2022, eleições antecipadas em que o pior resultado dos últimos 20 anos levou a que o partido caísse desta posição com a perda de metade dos votos e a redução de 19 para cinco lugares no parlamento.

Foi em 2015 que o BE conseguiu o melhor resultado de sempre numas eleições legislativas, ano em que integrou uma solução inédita de apoio parlamentar ao Governo minoritário socialista, batizada de 'geringonça'.

Nas primeiras eleições depois da geringonça, em 2019, conseguiu manter o mesmo número de deputados, continuou a ser a terceira força política nacional, mas perdeu cerca de 50 mil votos, não tendo havido a reedição de qualquer acordo com o PS.

Depois de viabilizar, pela abstenção, quer o primeiro Orçamento do Estado do segundo Governo de António Costa quer o orçamento suplementar de 2020, as negociações com os socialistas para o Orçamento do Estado para 2021 falharam e o BE acabou por votar contra.

No Orçamento do Estado para 2022, os bloquistas voltaram a votar contra, mas dessa vez os comunistas fizeram o mesmo e o documento chumbou, abrindo-se uma crise política que levou o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a dissolver a Assembleia da República e convocar as eleições antecipadas que se realizaram em janeiro de 2022.

Fundação e principal história eleitoral

Francisco Louçã, Luís Fazenda, Miguel Portas e Fernando Rosas foram os rostos mais visíveis da formação do BE, que nasceu em grande parte pela união de três forças políticas: o Partido Socialista Revolucionário (PSR), a União Democrática Popular (UDP) e a Política XXI.

O Tribunal Constitucional legalizou o partido a 24 de março de 1999.

Nas legislativas de estreia, a 10 de outubro de 1999, elegeu os dois primeiros deputados, sendo a bancada parlamentar constituída por Francisco Louçã e Luís Fazenda.

Dois anos mais tarde, o partido conquistou pela primeira (e última) vez uma câmara, a de Salvaterra de Magos, que perdeu nas autárquicas de 2013.

Depois de nas eleições legislativas de 2011 a bancada parlamentar do BE ter ficado reduzida a metade (de 16 para oito deputados), nas legislativas de 2015 o partido conseguiu o melhor resultado eleitoral, alcançando a maior bancada parlamentar da sua história: 19 deputados, passando assim a ser a terceira força política na Assembleia da República, depois de PSD e PS.

A 10 de novembro de 2015, o BE assinou uma posição conjunta com o PS, um dos acordos à esquerda que permitiu viabilizar o governo minoritário socialista liderado por António Costa.

Nas eleições de 2019 para a Assembleia da República os bloquistas desceram da fasquia dos dígitos alcançados em 2015 e obtiveram 9,52%, perdendo 50 mil votos.

Ainda assim, mantiveram os 19 deputados que ocupam a bancada do BE no parlamento.

Foram as eleições antecipadas de 2022, convocadas na sequência da dissolução da Assembleia da República depois do chumbo do Orçamento do Estado para 2022 também pelo voto contra dos bloquistas, que levaram o partido ao pior resultado dos últimos 20 anos: apenas cinco deputados, 4,40% (244.596 votos) e a quinta força política em percentagem de votos (se a conta for feita em deputados passam mesmo a ser o sexto partido).

Lideranças

Francisco Louçã foi formalmente eleito coordenador do partido a 8 de maio de 2005, mas já era a cara da liderança do BE, tendo a sua saída, em 2012, gerado uma fase de incerteza nos destinos bloquistas.

Na Convenção Nacional de novembro de 2012, Catarina Martins e João Semedo foram eleitos coordenadores do Bloco de Esquerda, tendo iniciado uma inédita liderança "bicéfala", modelo abandonado dois anos depois na Convenção Nacional seguinte, em 2014.

Nesse ano, o partido passou a ser dirigido por seis coordenadores: Pedro Soares, Pedro Filipe Soares, Joana Mortágua, Adelino Fortunato, Nuno Moniz e Catarina Martins, que então era porta-voz do BE.

Na reunião magna do partido em 2016 deixou de existir o cargo de porta-voz e retomou-se a figura de coordenador/a nacional, lugar ocupado por Catarina Martins.

Já na XI Convenção Nacional, em novembro de 2018, sob o lema "Agora a esquerda", a lista de continuidade e sem grandes alterações de Catarina Martins, Pedro Filipe Soares e Marisa Matias foi eleita confortavelmente e conseguiu 70 dos 80 lugares na Mesa Nacional.

Três anos depois, em 22 e 23 de maio de 2021, - com um atraso provocado por um primeiro adiamento devido à covid-19 - os bloquistas voltaram a reunir o seu órgão máximo com o mote "Justiça na Resposta à Crise", mas apenas com metade dos delegados previstos precisamente por causa da pandemia e, ao contrário do habitual, no distrito do Porto.

Dessa XII reunião magna, com cinco moções de orientação política em debate, saiu a reeleição de Catarina Martins, mas uma Mesa Nacional mais dividida, tendo a lista da direção reconduzida conseguido 54 dos 80 lugares deste órgão, uma perda de 16 mandatos em relação a 2018, enquanto a moção E elegeu então 17 lugares.

Na Convenção Nacional deste fim de semana estão apenas duas moções em debate: a moção A, encabeçada por Mariana Mortágua e onde se mantém os principais rostos do partido, e a moção E, dos críticos da atual direção e que tem como porta-voz a esta reunião magna o ex-deputado Pedro Soares.

Número de aderentes

De acordo com as contas feitas usando a documentação da convenção, à data da entrega das moções, no final de fevereiro, eram 9700 os aderentes do BE em pleno uso dos seus direitos.

Este valor representa um aumento em relação à última reunião magna já que, nessa altura e de acordo com os dados disponíveis, o partido tinha 9389 aderentes.

Órgãos estatutários

  • Convenção Nacional
  • Comissão de Direitos
  • Mesa Nacional
  • Comissão Política
  • Assembleias Distritais ou Regionais
  • Comissões Coordenadoras Distritais ou Regionais
  • Assembleias Concelhias
  • Comissões Coordenadoras Concelhias
  • Núcleos

A nova era?

O BE elege este fim de semana a sua nova liderança, numa Convenção Nacional que será a despedida de Catarina Martins após uma década, estando em debate duas moções, a de Mariana Mortágua e a de Pedro Soares.

Sob o lema, "Levar o país a sério", a XIII Convenção Nacional do BE regressa este sábado e domingo ao pavilhão do Casal Vistoso, em Lisboa, onde 654 delegados vão discutir a orientação política do partido e decidir quem vai assumir os destinos dos bloquistas após a saída de Catarina Martins.

Os bloquistas iniciarão assim um novo ciclo de liderança, numa altura em que enfrentam o desafio de uma bancada parlamentar reduzida depois dos maus resultados das legislativas antecipadas de 2022

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