Jornada Mundial da Juventude

Catarina e Pedro souberam que iam casar ao ouvir o Papa e, mais tarde, levaram o filho à JMJ

Em Roma, Catarina e Pedro perceberam que o desafio que o Papa João Paulo II lhes propunha seria alcançado através da família. Naquele momento, souberam que iam casar um com o outro. Anos depois, levaram o filho com 5 anos à Jornada Mundial da Juventude de Madrid

Catarina e Pedro souberam que iam casar ao ouvir o Papa e, mais tarde, levaram o filho à JMJ
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A Jornada Mundial da Juventude é um dos capítulos mais importantes da história de amor de Catarina Pereira e Pedro Carvalho. Em Roma souberam que, eventualmente, iam casar um com o outro. Em Colónia partilharam a experiência da gravidez. Em Madrid levaram o mais novo peregrino do grupo – o Salvador, que participou no evento com apenas cinco anos.

O casal que vive com os três filhos na freguesia da Palhaça, em Oliveira do Bairro, prepara-se para dar aos peregrinos que vêm à JMJ de Lisboa as mesmas experiências que viveram quando eram eles os jovens de mochila às costas. Na semana antes do evento, vão acolher jovens estrangeiros em suas casas e, depois, rumam em família até Lisboa.

Pedro, de 46 anos, faz parte da organização da JMJ na diocese de Aveiro e terá funções específicas durante esta semana. Salvador, de 17 anos, vai viver a experiência de peregrino com os amigos. Catarina, de 43 anos, leva os dois filhos mais novos – Sebastião e Salomão, de 13 e 10, respetivamente – para não perderem a experiência.

A poucos dias de começar o grande evento, Catarina e Pedro recordam o impacto que a JMJ teve na sua vida e na construção da sua família.

O momento em que souberam que iam casar

Apesar de já se conhecerem desde crianças, o namoro só começou anos mais tarde. Começaram a namorar no fim de 1996, quando Pedro estava na faculdade e Catarina acabava ainda o liceu. Poucos meses depois, Catarina embarcava num autocarro para Paris, naquela que seria a sua primeira experiência na JMJ. Pedro, por outro lado, não conseguiu inscrever-se a tempo e teve de ficar em Portugal, seguindo todas as notícias do evento e preparando uma surpresa para a sua amada.

“A maneira que tinha de me aproximar dela era fazer-lhe uma surpresa: recortava tudo o que saía nos jornais, fazia gravações de tudo [o que dava na televisão]. Quando ela chegou, entreguei-lhe o compêndio – penso que ainda está nos nossos arquivos”, conta Pedro.

Na altura as comunicações não eram como são hoje e o único contacto possível entre Paris e a Palhaça era por telefone fixo. Quando Catarina telefonava ao namorado com as novidades, “ele já sabia tudo, desde a temperatura elevada, ao corte do trânsito em Paris e às multidões a acampar nos Campos Elísios”, lembra.

Pedro e Catarina juntos na JMJ de Colónia, em 2005
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A chegada de Catarina a Portugal trouxe a Pedro o outro lado da experiência: as fotografias tiradas pela jovem, na altura com 18 anos, foram reveladas e adicionadas ao álbum de recortes, completando a vivência em casal.

Em 2000, Pedro já não falhou a JMJ e os dois partiram para uma aventura diferente. Na pré-jornada ficaram em sítios separados – Pedro foi para uma casa de acolhimento com um amigo, enquanto Catarina ficou na casa paroquial com mais elementos do grupo de Aveiro. Mesmo separados, o casal aproveitava os momentos de encontro para partilhar a experiência.

“Às vezes ficávamos juntos nas celebrações, lado a lado, e aproveitávamos para cochichar, trocar umas impressões e dar uma beijocas”, diz Catarina, com um sorriso. “Nós éramos namorados, mas não estávamos ali para namorar, estávamos para viver uma experiência juntos.”

Grupo de peregrinação de Aveiro na Basílica de São Pedro, Vaticano, durante a JMJ de Roma (2000).
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A cidade de Roma – com o romantismo que a caracteriza – é um ponto crucial na história deste casal, assim como o desafio lançado pelo Papa João Paulo II aos jovens no final da JMJ de 2000. Foi nesse momento que o futuro se revelou perante os dois jovens e a ideia de constituir família se começou a formar como um objetivo.

“Na missa de envio, o Papa disse aos jovens para incendiarmos a igreja, para levarmos o fogo para as paróquias. Nós ouvimos aquilo em frente a um ecrã gigante, olhámos um para o outro e percebemos que esse incendiar seria enquanto família”, explica Pedro.

Também Catarina sentiu o mesmo e, passados mais de 20 anos, não tem dúvidas: “Foi uma das melhores experiências que tivemos no início do namoro”, acrescenta, enquanto olha carinhosamente para o atual marido.

O casamento viria a acontecer anos depois, em 2004, e as JMJ estavam presentes até no convite. Uma fotografia tirada aos dois em Roma foi a escolha do casal para chamar os amigos e familiares a fazerem parte das celebrações do matrimónio.

Participar nas JMJ em família

Quando pegaram nas mochilas para participar na JMJ de Colónia (2005) já havia algo mais na relação. Catarina estava grávida do primeiro filho quando embarcou nesta aventura, com Pedro ao seu lado.

“Havia algum receio porque o período inicial é sempre mais delicado, no sentido da evolução positiva da gravidez. Durante esses dias tentei não pensar muito nisso e acreditar que o que teria de acontecer, acontecia de qualquer maneira”, conta.

O casal estava entusiasmado “pela vida nova que começava a crescer” e esse sentimento “contagiou” o grupo – incluindo nas brincadeiras sobre qual seria o nome do bebé, mesmo sem se saber se seria menino ou menina.

“Já havia um outro olhar sobre nós, por parte dos jovens e das pessoas que nos acompanhavam esta experiência. Éramos um casal novo, estávamos a aguardar, com expectativa, o desenvolvimento do nosso primeiro filho. Mas continuávamos a saltar, pular, rezar, participar em todas as atividades de forma plena, sem nos privarmos de nada”, afirma Catarina.

Dar o exemplo era um dos objetivos que o casal tinha para partilhar com os jovens que acompanhavam Catarina e Pedro. A maturidade que vinha com a idade e o facto de já ambos trabalharem permitiu-lhes também aproveitar a vertente cultural do país

“Vivemos tudo com mais calma, selecionamos bem os momentos que queríamos ver. Já trabalhávamos, o que também permitiu uma experiência cultural e social diferente das anteriores, com mais maturidade.”

O peregrino mais novo do grupo e uma “avó” adotada

A família cresceu e em 2011, nas JMJ de Madrid, o casal já tinha dois filhos – Salvador, com 5 anos, e Sebastião, com pouco mais de um ano. Enquanto Sebastião ficou com os avós, Salvador tornou-se o peregrino mais novo do grupo de Aveiro, acompanhando os pais em mais uma aventura religiosa.

“Toda a gente o mimava, toda a gente o transportava para todo o lado, nas procissões tinha o privilégio de estar às cavalitas… Havia sempre alguém que lhe oferecia um gelado. Por outro lado, houve momentos em que eu achei que ele estava a absorver tudo com um certo espanto”, lembra a mãe.

Se Salvador era o mais jovem do grupo, a irmã Maria Armanda era a mais idosa. Aos 78 anos, a religiosa cumpria um sonho antigo de participar neste evento, e acabou por se tornar numa “avó” para a criança.

Salvador, com 5 anos, participou nas atividades da JMJ de Madrid, ao lado do pai e da mãe.
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A ida da religiosa foi o cumprir de um sonho. Depois de anos a tratar da logística para que os jovens do distrito pudessem irem às JMJ, a irmã Maria Armanda integrou também o grupo. Ondina Matos, na altura diretora da pastoral juvenil da Diocese de Aveiro, lembra que a participação foi “uma das maiores alegrias" da religiosa.

“Foi muito bom perceber a alegria constante nos olhos da irmã Maria Armanda”, conta.

Catarina lembra também a relação de “companheirismo” que se estabeleceu entre a criança e a idosa, quase como se fosse uma “avó” adotada.

“Ela tinha sempre um olhar muito de avó sobre ele e sobre todos nós do grupo. Nós também tomávamos conta dela, nas dificuldades dela e sem a deixar para trás”, explica Catarina.

Grupo da diocese de Aveiro nas JMJ de Madrid.
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Durante o período das JMJ, Salvador teve uma “família alargada". Enquanto Pedro e Catarina cumpriam as funções de organização que lhes competiam, os outros jovens do grupo davam uma ajuda a cuidar da criança.

“Contámos mesmo com as outras pessoas. Foi todos por todos. Se eu não conseguia ir buscar o almoço dele, alguém levava as duas senhas e trazia a minha refeição e a dele. Havia sempre gente à nossa volta que nos ajudava”, recorda a mãe.

Passados 12 anos desta experiência, Salvador vai participar novamente numas JMJ - um pouco contrariado. Ao princípio, o jovem, que tem agora 17 anos, não queria ir a Lisboa, mas, com alguma pressão dos pais e dos amigos, acabou por se inscrever.

Lisboa: uma jornada que não estava nos planos

Pedro e Catarina pensavam que Madrid seria a última JMJ em que participariam, mas quando o Papa Francisco anunciou Lisboa como cidade anfitriã do evento, nem hesitaram. Na altura, Pedro foi convidado a fazer parte da organização do evento pela diocese de Aveiro, o que lhe permitia “retribuir” o que recebeu nas jornadas em que participou.

“Houve muita gente que nos acolheu, que fez com que nós vivêssemos a JMJ de uma maneira entusiasta e cheia alegria. Cabe-nos a nós fazer esse papel”, afirma.

O programa que Pedro ajudou a desenvolver para a pré-jornada nas várias paróquias de Aveiro tem por base as melhores experiências que a equipa viveu nas JMJ anteriores. A diocese vai receber perto de 5.000 jovens estrangeiros, que serão distribuídos por 2.000 famílias de acolhimento.

Uma dessas casas é a da família Pereira-Carvalho. O casal vai acolher dois ou três jovens, oriundos da Alemanha. Não sabem ainda quem será, mas, como afirma Catarina, isso é o que menos interessa.

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