• Redação Galileu
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A maçonaria se desenvolveu a partir de centenárias associações comerciais europeias (Foto: Wikimedia Commons )

A maçonaria se desenvolveu a partir de centenárias associações comerciais europeias (Foto: Wikimedia Commons )

Um trecho de um vídeo antigo que mostra o presidente Jair Bolsonaro (PL) discursando em uma loja maçônica viralizou nas redes sociais nesta terça-feira (4). O assunto se tornou o mais comentado do dia, segundo aponta o Google Trends, somando mais de 500 mil pesquisas no Google pelo termo “maçonaria”. Mas, afinal, o que a Maçonaria? A seguir, entenda como surgiu a instituição, como ela atua no Brasil e no que acreditam os maçons.






Definição

O Grande Oriente do Brasil, a mais antiga instituição maçônica brasileira, define que a maçonaria é uma “instituição essencialmente filosófica, filantrópica, educativa e progressista”. Seu objetivo é “a investigação da verdade, o exame da moral e a prática das virtudes”.

As organizações maçônicas, de acordo com a entidade, pregam a liberdade dos indivíduos e de seus grupos, sejam eles instituições ou nações, e defendem a igualdade de direitos e de deveres sem distinção de religião, etnia ou nacionalidade. Contudo, a maioria das entidades maçônicas não aceita o ingresso de mulheres na ordem. Elas, bem como pessoas escravizadas e pessoas com deficiência, foram citadas como um dos grupos proibidos de praticar a maçonaria nos primeiros documentos da instituição, datados do século 18.

Origens secretas

A maçonaria se moldou a partir das fraternidades de pedreiros medievais que usavam palavras e símbolos secretos para reconhecer a legitimidade uns dos outros e, assim, proteger seu trabalho de estranhos. Durante alguns períodos, os maçons foram perseguidos, inclusive por nazistas, e precisaram ficar na clandestinidade para sobreviver.

Apesar de ainda existir suspeitas e teorias conspiratórias sobre a maçonaria, essas instituições não são mais secretas. Autoridades de vários países lhe concedem personalidade jurídica e seus objetivos estão em dicionários, enciclopédias, livros de história etc.

O segredo que ainda existe na maçonaria e não se conhece — senão por meio do ingresso na instituição — são os meios para se reconhecer os maçons em qualquer parte do mundo. E, claro, o modo de interpretar seus símbolos e os ensinamentos neles contidos.

De acordo com a entidade maçônica Grande Loja Unida do Paraná, os segredos nada mais são do que algumas alegorias e sinais que "não escondem nada sobre as intenções ou ações da maçonaria enquanto instituição". “É possível ver atividades promovidas pela ordem na sociedade, desde a filantropia até manifestos contra a corrupção, por exemplo”, afirma o site da organização.

Confronto com a Igreja

Conflitos marcantes entre maçons e a Igreja Católica ocorrem desde o século 18, marcado pelas primeiras condenações pontifícias. Mas isso se agravou no decorrer do século 19, de acordo com estudo publicado em 2006 na revista Sacrilegens pela professora Giane de Souza Castro, mestre em Ciência da Religião pela Universidade Federal de Juiz de Fora.

No século 19, o Vaticano até chamou os maçons de "a Sinagoga de Satanás" . A discussão foi ainda mais longe em 1983, quando o Vaticano emitiu uma declaração afirmando que os princípios maçônicos “sempre foram considerados inconciliáveis" ​​com sua doutrina, e declarou que a adesão estava proibida. “Os fiéis que se inscrevem em associações maçônicas estão em estado de pecado grave e não podem receber a Sagrada Comunhão”, prevê o documento.

Conflitos nacionais

No Brasil, entre 1870 e 1910, a situação se complicou com a Questão Religiosa de 1872, quando a organização maçônica, através do Parlamento e da imprensa, passou a lutar pela liberdade religiosa e pelo liberalismo. No final desse mesmo ano, os bispos de Olinda e do Pará interditaram irmandades religiosas devido ao fato de estas terem se recusado a expulsar seus frequentadores maçons.

Charge de Bordalo Pinheiro de 1875 fazendo referência à anistia dos bispos. A legenda original era: 'Afinal… deu a mão à palmatória!' (Foto: Wikimedia Commons )

Charge de Bordalo Pinheiro de 1875 fazendo referência à anistia dos bispos. A legenda original era: 'Afinal… deu a mão à palmatória!' (Foto: Wikimedia Commons )

Segundo a Biblioteca do Senado, o bispo do Pará, Antônio de Macedo Costa, juntamente com D. Vital, o bispo de Olinda, suspenderam padres maçons e interditaram a atividade dos  maçons leigos nas irmandades. Na época, a atitude dos religiosos foi de oposição ao governo, dado que o Primeiro-Ministro era Grão-Mestre da Maçonaria.

Imperador D. Pedro II apoiou o Grão-Mestre. Os bispos foram presos, processados e condenados a quatro anos de prisão com trabalhos forçados, depois recolhidos para prisão simples na fortaleza da ilha das Cobras e, por fim, anistiados.

Porém, a anistia e soltura dos bispos não foi o fim da questão. As tensões permaneceram seja por meio de bulas papais e cartas encíclicas, seja entre jornais católicos e maçônicos, conservando o forte conflito entre as duas instituições até a primeira metade do século 20.

Ilustração de antiga reunião de maçons em Londres, no Freemasons Hall (Foto: Wikimedia Commons )

Ilustração de antiga reunião de maçons em Londres, no Freemasons Hall (Foto: Wikimedia Commons )

A maçonaria é religião?

A maçonaria crê na fraternidade de todos os homens, que "são filhos do mesmo criador".  Apesar disso, a maçonaria não é uma religião, mas sim uma sociedade que afirma pregar o combate a ignorância, superstição, fanatismo, orgulho, vício, dominação e privilégios.

Com isso, a maçonaria admite pessoas de todos os credos religiosos sem nenhuma distinção — desde que acreditem em um só criador, muitas vezes chamado de "Grande" ou "Grande Arquiteto do Universo".

Outros requisitos são ser um homem livre e “de bons costumes”; consciente de seus deveres com a Pátria, seus semelhantes e consigo mesmo; e ter uma profissão lícita que lhe permita prover suas necessidades pessoais e familiares, além de sustentar obras da Instituição.

Os maçons se reúnem em templos para cerimônias ritualísticas que lhes são permitidas. Seu discurso se baseia na universalidade da natureza humana e no racionalismo, pressupostos importantes para o Iluminismo.

 Príncipe Albert, que mais tarde se tornaria o Rei George VI, com maçons escoceses. O governante se filiou na Loja Glamis No.99 na Província de Forfarshire em 2 de junho de 1936  (Foto: Wikimedia Commons )

Príncipe Albert, que mais tarde se tornaria o Rei George VI, com maçons escoceses. O governante se filiou na Loja Glamis No.99 na Província de Forfarshire em 2 de junho de 1936 (Foto: Wikimedia Commons )