• Marília Marasciulo
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Por que escrever à mão torna crianças (e adultos) mais inteligentes  (Foto: fotografierende/Unsplash)

Por que escrever à mão torna crianças (e adultos) mais inteligentes (Foto: fotografierende/Unsplash)

Escrever com as mãos ajuda tanto crianças quanto adultos a aprenderem mais e memorizarem melhor. É o que apontam os resultados de diferentes estudos, entre eles um conduzido por pesquisadores da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia (NTNU, na sigla em inglês), publicado em 2020 no periódico Frontiers in Psychology.

Uma das autoras da pesquisa, a professora Audrey van der Meer, defende que deveriam ser adotadas medidas nacionais na Noruega para garantir que crianças recebam um mínimo de treinamento de escrita cursiva.

Van der Meer e seus colegas fizeram algumas investigações sobre o assunto, primeiro em 2017 e, depois, em 2020. Na primeira vez, a equipe analisou a atividade cerebral de 20 estudantes; no estudo mais recente, examinou a atividade em 12 jovens adultos e 12 crianças. Até então, nenhum estudo do tipo havia incluído crianças, e a conclusão foi de que, para garantir aprendizado e memorização, a escrita à mão é melhor do que aquela usando teclado.

Ambos os estudos de Van der Meer foram conduzidos usando eletroencefalografia, um método de monitoramento que registra a atividade elétrica do cérebro. Durante o procedimento, os participantes vestiam uma espécie de capacete com 250 eletrodos, que detectam impulsos elétricos da atividade cerebral. Cada exame durou 45 minutos, e os pesquisadores receberam 500 pontos de dados por segundo.

Os resultados mostraram que o cérebro tanto nas crianças quanto nos jovens adultos fica muito mais ativo quando escrevem à mão. “O uso de papel e caneta dá ao cérebro mais ‘ganchos’ para você pendurar suas memórias. Escrever à mão cria muito mais atividade na parte sensório-motora do cérebro”, explica a cientista, em comunicado.

Segundo ela, muitos sentidos são ativados ao pressionar a caneta no papel, ver as letras que você escreve e o próprio som da escrita. “Essas experiências sensoriais criam contato entre diferentes partes do cérebro e o abrem para o aprendizado. Nós aprendemos e lembramos melhor”, detalha Audrey.

Isso não significa, porém, que o aprendizado digital não tenha aspectos positivos. Alguns professores acreditam que escrever com o teclado gera menos frustrações nas crianças, que conseguem redigir textos mais longos mais cedo, além de terem mais motivação por dominarem melhor o instrumento. A questão é que, na visão de Van der Meer, a escrita cursiva não deve ser abandonada.  “O movimento complexo das mãos e os formatos das letras têm vários benefícios. Se você usa um teclado, você usa o mesmo movimento para cada letra. Escrever à mão requer controle de seu senso motor. É importante colocar o cérebro em um estado de aprendizado sempre que possíve”, orienta.

Ela sugere, por exemplo, usar o teclado para escrever uma redação e, nas aulas, fazer as anotações à mão. “O cérebro evoluiu por milhares de anos. Se nós não o desafiarmos, ele não pode alcançar seu pleno potencial. E isso pode afetar o desempenho escolar”, alerta.