Biologia
Holandês fotografa cores e formas impressionantes de répteis e anfíbios
Conheça o trabalho de Matthijs Kuijpers, que viaja o mundo para registrar animais deslumbrantes
3 min de leituraO holandês Matthijs Kuijpers (pronuncia-se algo como “Matais Cãpersh”) passou a infância cercado de animais de estimação. “Quando criança, eu tinha meu porquinho-da-índia, meu hamster, meu periquito.” Bem, essa poderia ser uma história qualquer — mas não é. “Um dia meu irmão ganhou uma cobra de um amigo do meu pai. Depois de poucos meses, ele não gostava mais dela, achava que era chata, e eu a peguei para cuidar. Então tive uma outra cobra, e outra, e outra…”, conta ele.
A paixão por bichos que amedrontam a maioria das pessoas virou também sua profissão: Kuijpers tornou-se um fotógrafo especializado em répteis e anfíbios raros. Nas últimas três décadas, diz, foram incontáveis viagens para encontrar as mais diferentes espécies pelo mundo (veja imagem abaixo). Nessas aventuras, ele afirma já ter registrado com suas lentes aproximadamente 1,5 mil espécies.
Parte desses registros já saiu em veículos como National Geographic, BBC Wildlife Magazine, The Guardian, Time Magazine e Discovery Channel. Ele selecionou 72 animais desse vasto material para serem estrelas do seu primeiro livro de fotografia, Cold Instinct (Instinto Frio, em tradução livre).
São cobras, iguanas, lagartixas, sapos e muito mais — só que nada como provavelmente você já viu se mora em uma casa afastada da cidade ou se gosta de acampar de vez em quando. Os “modelos” de Kuijpers são rigorosamente escolhidos para surpreender o olhar. Exibem cores tão deslumbrantes que é fácil imaginar que tenham saído do universo da ficção. Podem parecer minidragões encantados, sapos usados por bruxas, cobras aliadas de vilões. A mente logo conecta essas imagens a algo mágico, mas assustador. Com essa combinação de qualidades, não parece faltar público para admirar esse tipo de trabalho.
Para bancar o lançamento, Kuijpers criou uma campanha de financiamento coletivo no site Kickstarter. Ele tinha como meta arrecadar US$ 12 mil (cerca de R$ 52 mil), mas acabou
recebendo muito mais: ao todo, 393 pessoas contribuíram com US$ 35.930 (R$ 155 mil) para tornar realidade o projeto. Agora o livro está aberto à venda geral pela internet — não só para os apoiadores iniciais.
Muito do encanto das imagens, claro, vem da própria natureza, mas os quase 30 anos de experiência também ajudaram o holandês a dar sua contribuição. Sua marca foi construída no minimalismo: sempre fotografa os bichos em um estúdio com fundo preto e nada mais, porque assim as cores vibram mais e os contornos ficam bem marcados. “O que resta é a beleza bizarra dos répteis e anfíbios em sua forma mais simples, sem cenários e sem distrações”, como explica na apresentação do projeto.
Nos bastidores, naturalmente, a coisa não é tão simples assim. Kuijpers tem dois estúdios portáteis para diferentes situações. Um é para locais extremos sem eletricidade; o outro, um pouco maior, é equipado com luzes de estúdio.
Tratadores e assistentes estão presentes, e Kuijpers se protege com luvas. Em um vídeo em que resume seu trabalho, podemos ver uma cobra tentando atacar a sua mão — felizmente protegida — enquanto segura a câmera fotográfica.
Mas, em momentos de distensão, o artista também aproveita para interagir mais à vontade com os “modelos”, o que não é difícil para quem tem diversos animais assim em casa, com o apoio da esposa e das duas filhas, conforme conta. No mesmo vídeo, Kuijpers aparece, por exemplo, completamente envolto por uma cobra-real, espécie peçonhenta natural da Índia e do sul da Ásia, enquanto se prepara, com tranquilidade, para fotografá-la.
Além da função estética, Kuijpers diz acreditar que esse tipo de imagem multicolorida e atenta aos detalhes que aprendeu a criar, por gerar menos rejeição a esses animais normalmente evitados pelos humanos, nos faz refletir mais sobre a necessidade de preservação da herpetofauna — como é chamado o conjunto de répteis e anfíbios.
A destruição do habitat, com desmatamento e introdução de novos predadores — além dos humanos, gatos selvagens são as maiores ameaças, revela —, e o tráfico são alguns dos maiores problemas para esses animais em todo o mundo. A falta de conhecimento sobre muitas das espécies é outro fator que prejudica a conservação. Estima-se que milhares desses animais nunca tenham sido sequer identificados. É preciso, portanto, prestar atenção para além das fotografias bonitas.