O documento descreve o Iluminismo, Neoclassicismo e Pré-Romantismo no século 18. O Iluminismo surgiu na Inglaterra e Holanda no final do século 17 e se espalhou pela Europa no século 18, promovendo a razão e a ciência contra a ignorância. O Neoclassicismo se inspirou na arte clássica da Grécia e Roma. O Pré-Romantismo começou a valorizar mais o sentimento e a natureza em oposição à razão iluminista.
5. ILUMINISMO
Movimento cultural
surgiu na Inglaterra e Holanda
fins do século XVII
século XIII - através da mediação da França:
Mundo Ocidental, excluindo a Rússia
6. ILUMINISMO
A consciência de que o Iluminismo tinha de si
mesmo - imagem-símbolo mais corrente do
século XVIII: a de um sol que trespassa com a
sua coroa de raios luminosos uma massa de
nuvens negras, dissipando-as progressivamente
e derramando sobre a terra a sua luz benéfica.
Dentro desse sol, um rosto humano sorri
beatificamente.
7. ILUMINISMO
O Sol é a Razão humana que, no seu avanço,
culminante no século, dissipa as trevas do erro
e da ignorância, da estupidez e da má-fé, graças
à radiação luminosa da ciência e da «filosofia»;
o sorriso humano é a expressão da felicidade
trazida ao homem pelo progresso dos
conhecimentos e das técnicas, das artes e da
moral»
(Manuel Antunes, «Iluminismo» in Verbo – ELBC, Lisboa, Editorial Verbo, s.d., vol. 10).
8. Encyclopédie - entre 1751 e 1765
• publicada em França
(complementada, entre 1765
e 1772, por 7 volumes de
índices)
• dirigida por Diderot e
D’Alembert
• colaboradores:
Buffon
Helvétius
Voltaire
Montesquieu
Jean Jacques Rousseau.
9. Revolução inglesa de 1688-1689
«[…] a revolução inglesa de 1688-1689
funciona, a um tempo, como exemplo e como
detonador. Começado numa revolução, o
Iluminismo acabará, como movimento
significativo, noutra revolução: a Revolução
Francesa de 1789»
(Manuel Antunes, «Iluminismo» in Verbo – ELBC, Lisboa, Editorial Verbo, s.d.,
vol. 10).
10. Neoclassicismo e Iluminismo
«Convém notar que, se há evidentes pontos comuns entre o
Neoclassicismo e o Iluminismo, ambos de cariz racionalista,
também os separa uma diferença de atitudes fundamental
[…]: no domínio das ciências e técnicas caminha-se
desbravando o desconhecido, de olhos postos no futuro […]; é
o espírito do Iluminismo, com a fé no progresso indefinido; na
esfera das «artes de gosto», da literatura, continua-se a
procurar na Antiguidade modelos para «emulação»; é a
postura retrospectiva dos neoclássicos; não se buscam novos
rumos, os padrões estéticos afiguram-se encontrados para
sempre»
(Jacinto do Prado Coelho, Poetas Pré-Românticos, Coimbra, Atlântida Editora, 1970,
pp. 6-7, 2ª edição).
11. Neoclassicismo e Iluminismo
Teoria imitativa das artes -
regresso aos clássicos como
forma de combater os
exageros da estética
barroca.
Diderot olha com
desconfiança a imposição de
regras no campo das artes
12. Neoclassicismo e Iluminismo
Diderot:
«As regras e as leis do gosto seriam estorvos
para o génio; este infringe-as para ir ao sublime,
ao patético, ao grande […]. A força e a
abundância, não sei que rudeza, a
irregularidade, o sublime, o patético, eis o que
nas artes caracteriza o génio»
(apud Jacinto do Prado Coelho, Poetas Pré-Românticos, Coimbra, Atlântida Editora,
1970, p. 8, 2ª edição).
14. PRÉ-ROMANTISMO
A Razão, que, na escala dos valores humanos,
constituía a aspiração máxima e era em todos os
campos o juiz supremo, é sentida nesta frase
como um entrave à realização suprema do
homem e «torna-se ré do Sentimento»
(idem, ibidem, p. 15).
16. SÉCULO XVIII PORTUGUÊS
1. Predominância da estética barroca até
meados do século, em plena vigência de uma
feroz Inquisição (veja-se o reinado de D. João V)
17. SÉCULO XVIII PORTUGUÊS
Iluminismo e Neoclassicismo, marcas
individualizadoras ou distintivas do século, mas
representam apenas uma das suas faces.
Despotismo Esclarecido ou Iluminado -
intimamente ligado ao Marquês de Pombal.
18. SÉCULO XVIII PORTUGUÊS
A literatura neoclássica tem como figuras os
membros da Arcádia Lusitana ou Olisiponense
(1756- 1774), empenhada em combater a
literatura barroca, e os da Nova Arcádia (1790-
1794).
19. SÉCULO XVIII PORTUGUÊS
Despotismo Esclarecido - reinado de D. José,
sobretudo a partir de 1755.
O marquês de Pombal (criador), em parte, adotou
princípios teóricos expostos por alguns filósofos e
pedagogos portugueses que tinham vivido no
estrangeiro (Verney, Ribeiro Sanches, Sarmento)ou
por alguns dos seus predecessores no governo e na
diplomacia (D. Luís da Cunha, Alexandre de
Gusmão)
(A. H. de Oliveira Marques, Breve História de Portugal, Lisboa, Editorial Presença,
1995, pp. 374-375)]
20. SÉCULO XVIII PORTUGUÊS
Pré-Romantismo –
«a aurora duma literatura nova, sintomas
impressionantes duma nova forma de
sensibilidade, dum novo gosto literário» (idem, ibidem, pp. 5-6),
- período de severa repressão dos ideais
revolucionários, que coincide com os reinados
de D. Maria I e de D. João VI.
21. SÉCULO XVIII PORTUGUÊS
João Xavier de Matos (1730? – 1789)
Confluem as três estéticas literárias :
barroca,
neoclássica e
pré-romântica
22. SÉCULO XVIII PORTUGUÊS
Pré-Romantismo português :
- influências das literaturas estrangeiras,
sobretudo a inglesa e a alemã, mas também a
francesa.
- Estas influências despertaram e reforçaram certas
características muito nossas, como a melancolia, o
pendor para o fatalismo, o comprazimento na
tristeza, tão presentes já em Camões, modelo
confessado de Xavier de Matos e de Bocage.
23. SÉCULO XVIII PORTUGUÊS
Escritores estrangeiros que influenciaram
decisivamente os pré-românticos portugueses:
Thomson (The Seasons),
Young (The Nights),
Thomas Warton (The Pleasures of Melancholy),
Thomas Gray (Elegy written in a country
churchyard),
Gessner (Idílios)
Klopstock (Messias, epopeia religiosa)
24. SÉCULO XVIII EUROPEU
- época de profundas oscilações, convulsões,
vertiginosas mudanças nas mais diversas áreas
da vida.
25. SÉCULO XVIII PORTUGUÊS
Literatura:
NEOCLÁSSICOS - Correia Garção
PRÉ- ROMÂNTICOS - João Xavier de Matos,
Filinto Elísio, Tomás António Gonzaga, José
Anastácio da Cunha, Marquesa de Alorna,
Bocage, etc.
26. PRÉ-ROMANTISMO
«Agrupamos sob o nome de pré-românticos
escritores que […] se distinguem por traços que
anunciam o Romantismo, embora continuem
clássicos sob diversos pontos de vista. […]
Inovam principalmente pelas tendências morais,
pelos gostos literários, pelos modelos e fontes
que utilizam. À razão preferem o sentimento e
até a sentimentalidade melancólica, à cidade o
campo e até a natureza selvagem […].
27. PRÉ-ROMANTISMO
Alguns sofrem do constrangimento social e
aspiram à liberdade, à igualdade de condições.
Julgam reencontrar o sentimento verdadeiro, a
vida natural e livre, no homem primitivo,
bárbaro ou selvagem […]. À poesia artística
prefere-se agora uma poesia ingénua, primitiva
ou popular, livre e sincera, uma poesia natural;
coloca-se o génio acima de tudo o mais»
(Paul Van Tieghem apud Jacinto do Prado Coelho, Poetas Pré-Românticos, ed.
cit., pp.8-9).
31. 1750
dois dias depois,
nomeia o futuro
Marquês de Pombal,
Sebastião José de
Carvalho e Melo,
Secretário de Estado
dos Negócios
Estrangeiros e da
Guerra.
32. 1755 (1 de Novembro)
Intenso e devastador
terramoto atinge
sobretudo Lisboa e
constitui uma grande
catástrofe nacional,
dando azo a que o
marquês de Pombal,
pelas rigorosas e sábias
medidas tomadas,
reforce o seu prestígio.
33. 1756
Fundação da Arcádia Lusitana ou
Olisiponense, na qual se destaca Correia
Garção (1724-1772), cuja poesia Bocage
muito admirará:
Encantador Garção, tu me arrebatas,
[..]
(Bocage, Obra Completa, 1º Volume – Sonetos, Porto,
Edições Caixotim, 2004, p. 252, edição de Daniel Pires)
34. Sebastião José de Carvalho e Melo assume a
Secretaria dos Negócios do Reino, o que significa
um reforço progressivo do seu poder, como se
verá com a atribuição, pelo rei, dos títulos de
conde de Oeiras e de marquês de Pombal,
respetivamente em 1759 e 1769.
35. 1765 – 15 de setembro
Bocage nasce em Setúbal
- segundo a tradição, na Rua de
São Domingos, atualmente Rua
de Edmond Bartissol;
- na opinião de outros, na Rua das
Canas Verdes, hoje Rua de
António Joaquim Granjo).
36. Apenas vi do dia a luz brilha
Lá de Túbal no empório celebrado,
Em sanguíneo carácter foi marcado
Pelos Destinos meu primeiro instante.
[…] (Sonetos, ed. cit., p. 5)
[…]
Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura,
[…]
(Sonetos, ed. cit., p. 3)
37. 1768
O pai de Bocage, José Luís Soares de Barbosa,
bacharel em Leis, é nomeado ouvidor em Beja e
muda-se com a família para o Alentejo, onde
permanece dois anos.
38. 1770
O progenitor do futuro poeta é «acusado de não
ter prestado contas da arrecadação da décima
da comarca de Beja referente ao ano de 1769»
(Adelto Gonçalves, Bocage – O Perfil Perdido, Lisboa, Caminho, 2003. p. 73),
acabando por ser encarcerado, em 1771, na
prisão de Setúbal, donde é levado «para a
cadeia da Corte, no Limoeiro, à ordem de Sua
Majestade» (idem, ibidem, p. 74).
Só será libertado em Abril de 1777.
39. 1774
Fim da Arcádia Lusitana.
Morre a mãe de Bocage, D. Maria Joaquina Xavier Lustoff
du Bocage, e, como o marido está na prisão, Manuel
Maria e os cinco irmãos ficam sob a protecção de
familiares.
[…]
Aos dois lustros a morte devorante
Me roubou, terna Mãe, teu doce agrado;
[…]
( Sonetos, ed. cit., p.5)
40. Na meninice e na adolescência, Bocage estudou,
entre outras matérias, latim durante vários anos,
como acontecia nessa época com as pessoas
instruídas.
41. 1777
D. Maria I ascende ao trono e
exonera das suas funções o
Marquês de Pombal, que é
exilado da Corte.
43. 1780
«Diogo Inácio de Pina Manique toma
posse como superintendente da
Intendência- Geral da[s] Polícia[s do
Reino] (permanece à frente da
instituição até 1805)» (António Simões Rodrigues
[coordenador], História de Portugal em Datas, Lisboa, Círculo de
Leitores, 1994, p.182).
Em consequência das suas diretivas,
são ferozmente reprimidos os
apologistas da ideologia de
inspiração iluminista, contrária ao
Antigo Regime.
44. 1781
Bocage assenta praça voluntariamente no
Regimento de Infantaria de Setúbal, tendo como
comandante um sargento-mor entendido em
literatura e autor de um prefácio às obras de
Reis Quita, «um dos melhores poetas bucólicos
e um dos primeiros admitidos na Arcádia
Olisiponense em 1756»
(Adelto Gonçalves, Bocage – O Perfil Perdido, ed. cit., p. 93).
45. 1783
Alista-se na Companhia de Guardas-Marinhas
(Lisboa):
- aulas teóricas e práticas de náutica e
artilharia,
- lições de geometria, aritmética e língua
francesa.
Segundo a tradição, já nessa altura ganhara
fama de grande improvisador satírico nos
botequins lisboetas da Baixa Pombalina.
46. Eu me ausento de ti, meu pátrio Sado,
Mansa corrente, deleitosa, amena,
Em cuja praia o nome de Filena
Mil vezes tenho escrito, e mil beijado.
[…]
( Sonetos, ed. cit., p.183)
47. 1784
- Deserção da Companhia de Guardas-
Marinhas, por razões desconhecidas
- Após o perdão das autoridades - nomeado
guarda-marinha da Armada do Estado da
Índia.
48. 1786
Parte para o Oriente na nau Nossa Senhora da Vida,
Santo António e Madalena, com escalas no Rio de
Janeiro e na ilha de Moçambique.
Camões, grande Camões, quão semelhante
Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!
Igual causa nos fez, perdendo o Tejo,
Arrostar c’o sacrílego Gigante;
[…]
( Sonetos, ed. cit., p.199)
49. 1787
Matricula-se na Aula Real da
Marinha, em Pangim, onde
permanece durante o ano
seguinte, tendo estado
gravemente doente.
50. 1789
É nomeado «tenente de infantaria da 5ª
companhia do regimento da guarnição da praça
de Damão» (idem, ibidem, p.137) e embarca para lá na
fragata Santa Ana, desertando depois, segundo
alguns biógrafos, rumo a Macau.
51. […]
Como tu, junto ao Ganges sussurrante,
Da penúria cruel no horror me vejo;
Como tu, gostos vãos, que em vão desejo,
Também carpindo estou, saudoso amante;
Ludíbrio, como tu, da Sorte dura,
Meu fim demando ao Céu, pela certeza
De que só terei paz na sepultura.
Modelo meu tu és, mas… oh tristeza!
Se te imito nos transes da Ventura,
Não te imito nos dons da Natureza.
( Sonetos, ed. cit., p.199)
52. Das terras a pior tu és, ó Goa,
Tu pareces mais ermo que cidade,
Mas alojas em ti maior vaidade
Que Londres, que Paris ou que Lisboa.
[…]
( Sonetos, ed. cit., p.204)
53. 1790
Regressa a Lisboa, graças a um perdão cujas
causas constituem um mistério, e torna-se
membro da Academia das Belas-Letras ou Nova
Arcádia, fundada nesse ano, adotando o
pseudónimo de Elmano Sadino.
54.
55. O tempo alimentou a história, por nenhum
documento comprovada, de que, ao ausentar-se
da pátria, o poeta terá deixado, em Setúbal, a
mulher amada, Gertrudes da Cunha d’Eça,
precisamente aquela que ele vem encontrar
casada com o seu irmão Gil Francisco. Seria ela a
Gertrúria cuja beleza e traição são evocadas em
alguns poemas.
56. Da pérfida Gertrúria o juramento
Parece-me que estou inda escutando,
E que inda ao som da voz suave e brando
Encolhe as asas, de encantado, o vento.
[…]
( Sonetos, ed. cit., p.22)
Outras figuras femininas surgem, porém, nas suas composições,
inspirando-lhe os mais diversos sentimentos.
58. 1794
É expulso da Nova Arcádia,
após frequentes e acesas
desavenças com alguns
confrades, nomeadamente
com o padre José Agostinho
de Macedo, seu arqui-
inimigo.
59. Vós, ó Franças, Semedos, Quintanilhas,
Macedos e outras pestes condenadas;
Vós, de cujas buzinas penduradas
Tremem de Jove as melindrosas filhas;
Vós, néscios, que mamais das vis quadrilhas
Do baixo vulgo insossas gargalhadas,
Por versos maus, por trovas aleijadas,
De que engenhais as vossas maravilhas,
Deixai Elmano, que inocente e honrado
Nunca de vós se lembra meditando
Em coisas sérias, de mais alto estado;
E se quereis, os olhos alongando,
Ei-lo! Vede-o no Pindo recostado,
De perna erguida sobre vós mijando!
( Sonetos, ed. cit., p.241)
60. 1794
Publica:
- a 2ª edição do tomo I das Rimas, com um
importante prólogo da sua autoria,
- o Elogio Poético à Admirável Intrepidez com
que Domingo 24 de Agosto de 1794, Subiu o
Capitão Lunardi no Balão Aerostático.
61. Entre 1795 e 1797
Filia-se na Maçonaria, severamente
reprimida por Pina Manique, Intendente-
Geral das Polícias do Reino, e entrega-se,
cada vez com maior fervor, aos ideais da
Revolução Francesa.
62. Liberdade, onde estás? Quem te demora?
[…]
Da santa redenção é vinda a hora
A esta parte do mundo, que desmaia.
Oh! Venha... Oh! Venha, e trémulo descaia
Despotismo feroz, que nos devora!
[…]
Movam nossos grilhões tua piedade;
Nosso númen tu és, e glória, e tudo,
Mãe do génio e prazer, ó Liberdade!
( Sonetos, ed. cit., p.171)
63. 1797
- Radicaliza «a sua opção em favor dos ideais
iluministas, a ponto de se tornar uma das maiores,
se não a maior figura do Iluminismo português»
(idem, ibidem, p.219)
-- é preso por ordem de Pina Manique e dá entrada
na prisão do Limoeiro, na companhia do amigo
André da Ponte do Quental, sendo-lhe atribuída,
como se lê na acusação, a autoria de «papéis
ímpios, sediciosos e críticos».
- Novembro - transferido do Limoeiro para o cárcere
da Inquisição no Rossio.
64. Em sórdida masmorra aferrolhado,
De cadeias aspérrimas cingido,
Por ferozes contrários perseguido,
Por línguas impostoras criminado;
Os membros quase nus, o aspecto honrado
Por vil boca e vil mão roto e cuspido,
Sem ver um só mortal compadecido
De seu funesto, rigoroso estado;
[…]
( Sonetos, ed. cit., p.298)
65. 1798
• É levado, em Fevereiro, para o Convento de São Bento
da Saúde
• Passa, em março, graças ao empenho de José de
Seabra da Silva, ministro de Estado dos Negócios do
Reino e seu admirador, para o Real Hospício de Nossa
Senhora das Necessidades, da Congregação do
Oratório
• Começa a traduzir As Metamorfoses, do poeta latino
Ovídio (43 a. C.-18 d. C.), e outros textos importantes.
• É libertado no último dia do ano, mostrando-se,
doravante, mais cauteloso na manifestação dos seus
ideais revolucionários.
66. 1799
Publica o tomo II das Rimas
Começa a trabalhar, como tradutor, revisor de
provas e encarregado de aperfeiçoar textos
alheios, na Oficina Tipográfica do Arco do
Cego, na qual pontificavam o naturalista frei
José Mariano da Conceição Veloso e o
botânico Avelar Brotero.
67. 1799
O príncipe D. João (futuro
rei D. João VI) assume a
regência do reino por
impedimento de sua mãe, a
rainha D. Maria I, que
manifesta indícios de
demência.
68. 1800
Publica:
- a 3ª edição do tomo I das Rimas
- a tradução do poema didático Os Jardins ou a
Arte de Aformosear as Paisagens, do francês
Delille
69. 1801
Participa numa sessão académica promovida
pelo Intendente Manique, que, decerto, o julga
“curado” do seu revolucionarismo e, por
conseguinte, menos perigoso, a ponto de o
convidar a estar presente na festa por si
organizada para celebrar, no Teatro de São
Carlos, a paz com a França.
70. 1801
Publica as suas traduções de O Consórcio das
Flores, de Lacroix, e de As Plantas, de Castel
71. 1802
– Morre o pai de Bocage.
- Escreve a famosa sátira «Pena de Talião», contra
o padre José Agostinho de Macedo.
- Passa a viver no quarto andar de um prédio (nº 11,
hoje nº 25) do então Beco de André Valente (mais
tarde Travessa de André Valente), uma transversal
da atual Rua do Século, no Bairro Alto, na
companhia da irmã Maria Francisca.
72. 1802
Publica
- a 2ª edição do tomo II das Rimas
- traduzido do francês, o livro Rogério e Victor
de Sabran ou o Trágico Efeito do Ciúme.
73. 1803
Consolida a sua amizade com Nuno Álvares
Pereira de Pato Moniz, que vinha de 1801, e dá-
lhe utilíssimos conselhos de natureza literária.
74. 1804
• Apercebe-se de sintomas da doença - um
aneurisma nas carótidas.
• Luta contra grandes dificuldades de ordem
financeira.
• Publica:
- o tomo III, e último, das Rimas, dedicado à
Marquesa de Alorna, poetisa pré-romântica e sua
protetora;
- o drama para música A Virtude Laureada.
75. 1805
O seu estado de saúde agrava-se
progressivamente, para o que contribui a morte
de uma sobrinha ainda pequena.
Publica:
- Improvisos de Bocage na sua Mui Perigosa
Enfermidade, Dedicados a seus Bons Amigos ;
- Colecção de Novos Improvisos de Bocage na sua
Moléstia, com as Obras que lhe Foram Dirigidas
por Vários Poetas Nacionais.
76. A venda de tais livros e os abençoados réditos
dela resultantes muito devem a José Pedro da
Silva, íntimo amigo do poeta e proprietário do
Botequim das Parras, por ele assiduamente
frequentado.
77. 21 Dezembro de 1805
Morre e é sepultado no dia seguinte, «domingo de muita
chuva e frio, no cemitério da igreja paroquial das Mercês,
que ficava na esquina da Rua dos Caetanos com a
Travessa das Mercês, no Bairro Alto. […]. O cemitério […],
desactivado desde 1834, desapareceu de todo em 1897,
quando a área foi vendida ao proprietário de uma oficina
de carruagens. As ossadas das últimas 69 lousas –
inclusive da de nº 36, que seria a do poeta – teriam sido
levadas para a vala comum do cemitério do Alto de São
João ou dos Prazeres ou até servido como entulho para o
aterro junto ao Tejo, no Cais do Sodré» (idem, ibidem, p. 377-378).
78. Meu ser evaporei na lida insana
Do tropel de paixões, que me arrastava;
Ah! Cego eu cria, ah! Mísero eu sonhava
Em mim quase imortal a essência humana.
[…]
Deus… Oh Deus! Quando a morte à luz me roube,
Ganhe um momento o que perderam anos,
Saiba morrer o que viver não soube.
( Sonetos, ed. cit., p. 9)
79. Já Bocage não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos Céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura.
Conheço agora já quão vã figura
Em prosa e verso fez meu louco intento;
Musa!... Tivera algum merecimento
Se um raio da razão seguisse pura!
Eu me arrependo; a língua quase fria
Brade em alto pregão à mocidade,
Que atrás do som fantástico corria:
Outro Aretino fui... A santidade
Manchei!... Oh! Se me creste, gente impia,
Rasga meus versos, crê na Eternidade!
( Sonetos, ed. cit., p. 10)
82. 1813
Pato Moniz :
- Verdadeira Inéditas, Obras de Bocage,
tomo IV e 1º das suas Obras Póstumas
83. 1814
Pato Moniz :
- Verdadeira Inéditas, Obras de Bocage,
tomo V e 2º das suas Obras Póstumas
84. 1853
Inocêncio Francisco da Silva - importantíssima
edição da obra supostamente completa de
Bocage, em seis volumes:
Poesias de Manuel Maria Barbosa du Bocage,
Coligidas em Nova e Completa Edição, Disposta e
Anotada por I. F. da Silva, e Precedidas de um Estudo
Biográfico e Literário sobre o Poeta Escrito por L. A.
Rebelo da Silva.
85. 1854
«[…] Inocêncio, tendo consciência de que a obra
do vate setubalense não estaria completa sem
a publicação dos seus poemas eróticos,
burlescos e satíricos, deu à estampa,
clandestinamente, um volume que apresentava
um local de edição fictício, Bruxelas, em vez de
Lisboa […] – Poesias Eróticas, Burlescas e
Satíricas»
(Daniel Pires, «Introdução» a Bocage, Obra Completa, 1º Volume – Sonetos,
Porto, Edições Caixotim, 2004, p. XXII).
86. 1875 e 1969-1973
Teófilo Braga e Hernâni Cidade, respetivamente,
levaram a cabo edições, que «se limitaram a
reproduzir as opções de Inocêncio, não
apresentando qualquer trabalho de arquivo,
fulcral para reconstituir uma biografia lendária,
pontualmente obscura e frequentemente
deturpada, por ser perspectivada de uma forma
redutora, quando não mutiladora»
(idem, ibidem, p. VIII).
87. 2004
Início da publicação da Obra Completa de Bocage,
em 7 volumes - edição da autoria do Prof. Dr.
Daniel Pires.
Fruto de um incansável, minucioso e honesto
trabalho realizado em diversos arquivos, já viram
a luz do dia 5 volumes (I-IV e VII), o primeiro dos
quais, dedicado aos sonetos, apresenta seis
composições que nenhuma das anteriores
edições inclui. Outro soneto inédito consta
também do volume IV (p.249).
88. 2004
O editor sublinha, muito justamente, na
«Introdução» ao vol. VII (Poesias Eróticas, Burlescas
e Satíricas, Porto, Edições Caixotim, 2004), que
alguns estudiosos de Bocage [o] vincularam […] ao
anedótico, ao chocarreiro, como se um escritor com
a sua sensibilidade exacerbada, a sua inteligência
inequívoca e a sua cultura pudesse subscrever
propostas tão grosseiras» (p. LIV). Este facto levou-
o, muito criteriosamente, a considerar de autoria
duvidosa 27 poemas e de autoria alheia três
composições, textos esses aceites até hoje como
sendo de Elmano Sadino.
89. Bibliografia
Adelto Gonçalves, Bocage – O Perfil Perdido, Lisboa, Caminho, 2003
António Simões Rodrigues [coordenador], História de Portugal em
Datas, Lisboa, Círculo de Leitores, 1994
Daniel Pires [Organização e introdução por], Exposição Bibliográfica
Comemorativa dos 230 e dos 190 Anos do Nascimento e da Morte
de Bocage, Câmara Municipal de Setúbal – Biblioteca Pública
Municipal de Setúbal, 1995
Daniel Pires, «Introdução» a Bocage, Obra Completa, volumes I, II,
III, IV e VII, Porto, Edições Caixotim, 2004- 2007
90. Nota:
Revestiram-se de grande utilidade e importância
as informações disponibilizadas e os
esclarecimentos prestados, oralmente, pelo
Prof. Dr. Daniel Pires.