Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Presented to the
by
LIBRARYo/í/h?
UNIVERSITY OF TORONTO
Professor
Ralph G. Stanton
o-^^ #>x/_ y
COMPOSIÇÕES
POÉTICAS.
Digitized by the Internet Archive
in 2012 with funding from
University of Toronto
http://archive.org/details/composicespoeticOOseme
wM
1 ;|! ' ttfp
/3tFJj
í|JnHní
mmk
fo^^^v^^-V^V^ JU » <U^,M
COMPOSIÇÕES POÉTICAS
OFFEREGIDAS
AO SERENÍSSIMO senhor
DOM JOAÕ
PRÍNCIPE REGENTE de PORTUGAL
POR
CtLAAK»
SÓCIO DA ACADEMIA TUBUCIANA
ENTRE OS ÁRCADES
BELMIRO TRANSTAGANOi
LISBOA,
ff A REGIA OFFICIHA TYrOGHAFíCAi
W. DCCCIII,
Sunt adicta tamen , quíbus ignovissè veíimus ;
Nam neque c horda Smwn rcddit , quem vult manus , et mens*
Horat. Art. Po et. v. 345.
sereníssimo senhor.
B. M. C. S:
PROLOGO.
t ■ .n I — ■' I I I *
(i) 'Tis with our judgments as our watches , none
tio just alike, yet eaçh bilieves his own. quel-
Pope essoy on critlclsm.
131
EPISTOLA.
Já
£ 6£
Já tu contas vivendo , esses triunfos ,
Que a Fama a poucos deo depois da morte.
Vejo voar Calliope do Pindo ,
Conduzindo -te a croa ; e o douto Choro
Dos sublimes Poetas te assinalla
O lugar entre si , de lá te acena
Ce lá bradando está , que a honrallo venhas*
De Elmiro Tagídzo
SO
* 7
SONETO*
SO*
M 8 «
SONETO. A Âlcippe.
SONET O.
SONETO.
SONETO.
SONETO. A Lilia.
SO
*3 $
SONETO.
SCM
SÊ x4 «
SONETO.
SOr
H^nM
SONETO.
SONETO.
SONETO.
so*
& i8 '&
SONETO A Celia<
SOí
SONETO.
C 2 S0«*
& 20
SONETO.
SONETO, yí Laura.
S0-
& 22 ft
SONETO.
SONETO.
sa
$M$
SONETO.
SOe
>• 2) ?<**
SONETO.
SO
&*sy&
SONETO A Inalia*
SOu
&*7$
S O N E T O.
SONETO.
SONETO.
SO^
&3oí£
SONETO.
SO
&£3* £
SONETO ^ /omVz.
SO
fe£ 3z )tí
Sê\. ^+* J*\
SONETO.
SO
\
2J£ tt '&£
fcV» °° *&
SONETO.
U sa
^34^
S U N Ji T O.
SONETO À Anedia*
D%
h'Â 35 $f
SONET O.
so*
&37$
SONETO,
SO*
%M 38 yn
SONETO. A Ilvia
SONETO
sa
$40$
SONETO A Mareia.
S O N E TO.
SO*
u 4a x
SONETO
C
O E intentas, ser roeu bárbaro homicida ,
Basta Cupido , basta de tormentos ,
Tens duras frexas , tens grilhões cruentos ,
Ata-rne as frôxas mãos , rouba-me a vida.
SONETO A Natércia.
sa
dL Irene enfadada por lhe ter caindo no chão
hum caôsinho , que tinha no collo*
SONETO.
SONETO.
SO
m^yg.
SONETO A Inalià.
SO*
!&47 ■&
SONETO.
SO
K*Bft
SONETO,
%Oi
r^; 49 >:<
SONETO.
SO
5o &
SONETO.
SONETO.
T
3^à Afoes , dos Lusos inclyto Patrono
Exulta , vive teu amável filho ,
O Ceo , a quem prostrado a fronte humilho ,
Tuas preces ouvio em nosso abono.
E 2 so-
•^o íftYo Excellentissimo Senho?' Duque de Lafões»
SONETO.
SÓ.
» <o 4$
'K *'J£
SONETO.
SO
& 54 &
SONETO.
SO-
SONETO.
SO
« tf W.
SONETO.
-
&' s7 ty£
SONETO.
SG~
ST**
Mote
Hum ferro agudo no meu peito crava»
SONETO.
SO
iío mesmo Mote.
SONETO.
SO
KC 6° $
SONET O
SONETO.
SONETO.
SO
«
W 0Ò Wl
<% \«*
Mote
O fogo abrazador dos meus ciúmes*
SONETO
SONETO.
SONETO.
ODE PINDARICA
ESTROFE I.
ES-:
(i) Aifdax Japeti genus
Jgnem fraude mala ge&tibus intulit.
Htrat. L. x. Od. h
ESTROFE II.
EPO-
(1) Cacizcs , os Sacerdotes dos Mouros, que com as suas
predicas, em a Nação estando em perigo, ajuntavaÕ o Povo , e o
excitavao a tomar as armas:
Ve Jaeint. Fr. L. II. mim. 147. e Mon. Lus. "Tom. III. p* 261.
(2) Gazuas, ou Gazias he o ajuntamento de Gente coai
E P O D O II.
E P O D O III.
No fervido combate ,
Cruel impio Mavorte ,
Que usas saciar d'humano sangue a Morte £
D'horror no peito o coração te bate ;
Mas scena igual divisas
Nos Lusos Campos , que medroso pizas*
ES-
#**«
ESTROFE IV,
ANTÍSTROFE IV,
EF(>
n f> %
E P O D O IV.
ESTROFE V.
AN*
ft 74 SC
ANTÍSTROFE V,
E P O D O V.
A
3K 75 &
(i) ODE
Aos
(i) Esta Ode foi recitada na Academia de Bellas Iietras
<de Lisboa na Sessaô de % de Dezembro.
.Aos astros me# levanta
7* "^ :
Mns que diviso , ó Musa !
Sobre mim desces com sonoro adejo !
Alinha alma verga com teu peso augusto !
Inundas-me em torrentes de rnysterios !
O plectro empunho , teus preceitos sigo :
Quem , Libethride , mandas que celebre ?
Da Gloria a Soberana ,
íris de paz , bem nosso ,
Virgem três vezes , Mâi dos peccadores
Eu veio fulgurar por entre as luzes ,
Qu' á roda em turbilhões mil Soes lhe <*ggregao
Talar , cerúleo , radioso manto
Lhe cai dos hombros em ligeiras ondas.
Mas
$77 3?
Mas do fulgor divino
A n ente deslumbrada ,
Fm quadro inverso o turvo Abismo atrenta ,
(1) iiiinmas azuis no centro lhe estrepUaô )
Jflas fulgente claraò delias naô surde,
^ntes visível mesta escuridade ,
Qu' horriveis scenas de terror descobre»
De
m
f<?% 8o SÇ
ODE
JNfde os voos dirijo ! onde ine elevo j
Nas azas do Alvoroço !
Que Sane to fogo he este ,
Que dentro d 'alma scintillar presinto !
Isríienia Lyfd empunho ,
Que o Povo do Helicone
Corre ancioso em tropel por escutar mé*
5K83
"Resenho junto aos penetraes do Facto
Longo esquadrão cTArcanos
Bramindo enviperada
Surgir do Averno a Dissençaó naõ ousa*
Da misera Penúria
Nas macilentas faces
Germinaõ rosas d' Abundância filhas.
Ga Dq
3K 84 >£
Do Tejo fogein mil baixeis nadantes >
Galerno lhes sussurra
Nas velas enfunadas ,
Lançaõ algemas do Occeano aos pulsos ,
E sem qu' os rijos bronzes
Vomitem damnos , mortes
A' Pátria voltaô de trofeos cubertos :
ODE.
C5 Obre as sonoras rutilantes azas
IMeus áureos Hymnos , que do Lethes zombaô |
Hoje, Albuquerque, subirão ás nuvens
Teu grande illustre nome.
Prol-
J6C-874JE
prclle de Febo sou % o as brandas Musa?
Kegraô zelosas meus aecentos graves ,
Talvez pensasse leviano vulgo ,
Que eu decidir-nie ousava.
De
In*
(i) Cytiíerides, Nome que se dava ás Musas do monte
Cytberon da Beócia.
(2) Zambucos , Lancharas , Ca1.ahi%es embarcações dof
Mouro?.
(5) Parto Espécie de Earco dos[Mouros.
/
2£ 91 $
Invicto Heroe , teu animo nao turbaõ
Cruéis revezes da volúvel Sorte :
Tinge teu sangue com valor golfado
O lar do atroz Ceráme (i).
Na
(t) Cerame. Sobrado sustido em quatro pcs dç Arvorei
cuberto com folhas d« 01a,
5tf 9* $
ODE
JS
m 93 1
Já nao se ouvem troar formando curvas
ígneos pelouros , emulos do raio ;
!Nem Gom mareio clangor bellica tnba
Chamando à morte , â morta
Assusta , esfria , assombra ,
O terno amor , a cândida amizade.
OI
Ob
Ah
97 m
h m
•
Na firme terra , nos volúveis mares
Livre o Commercio as livres azas solta ;
(i) Foge a Penúria mái de horrendos crimes;
Porpaga-se a Abundância
Renovos mif brotando
Ao bem propicios dos Humanos todos*
ODE SAPHICAt
H a.« Ma
Na roda instável da volúvel Deosa
Marcada a sorte do Universo gira :
A nada firme persistência outorgao
Lúbricos tempos.
DITHYRAMBO.
Rou-
(1) Etliontes , os quatro cavallos do coche do Sol Py-
rois, Eôo , Phlegon, e Ethonte , deste ultimo lhes veio o
nome de Etliontes.
(2) Deifica Deidade. Entende-se Febo , pe'o templo que
teve çm Delfos Cidade da jBeocia junto do Parnaso.
& io4 :#
Que
.... "Te áulcis amice revlset
Cam Zefyris etc.
Horat. L. I. Epist. 7.
Frigora mitesctmt Zefyris.
Horat. L. IV. Ode 7.
(1} Champanha. Província da França que produz excellen*
-te vinho.
(2) Chypre. Iíhsr no Medetirraneo extensíssima noutro tem-
po consagrada a Vénus, hoje sujeita ao Turco , onde nascia
primoroso vinho.
(0 Chio. Ilha no mar Egeo no Archipelago> onde se
criava óptimo vinho muito prezado pelos antigos^
Horat. L. V. Ode 9*
Capaciores affer huc , puer } scyp/ws
Et Chia viria* . . ,
J% 117 £
Gri-
Fe-
(i) Menoles, Nome de Bacco.
Quid âicam de Dionysio , quem Maenoíem Graece , iâ
$st Latine totum furentem appe/Iant ! . . . .
Euzeb. Prep. Evang. Cap. Vo de arcanis íriysteiiis gen-
tilum.
i
(2) Coreas, Espécie de dança antiga
Cam. Lus. CanU IX. clt* 50.
Com corèas gentis usança velha
(3) Berna. Cidade opulentíssima da Itália fundada por
industra de Rómulo , irmaõ de Remo, filhos de Marte , e
Ília ; chama-se.lhe septi-colle por estar situada sobre sete
Feliz imitadora ,
■ Engrinaldando a torreada frente
» Da rama vencedora ,
» Fará do mundo tutelar Senhora.
Mas silencio ! outro brinde mais nada ;
Que já titubeio f
Que já cambaleio ,
Que já teidio cheio
De Celeste ambrozia (i) rosada
O peito , qu' anhella
Outro brinde , que já me esquecia
Do Erazil á princeza formosa
A' formosa CARLOTA mais bella
Do qu' ao raiar do dia
De Phebo a Precursora radiosa.
De CARLOTA á quem sempre á porfia
Os Risos , as Graças 3
Em
Des-
(í) Lyeu, Nome de Bacco derivado do Grego xúa lyç
Soltar.
Curam metumque Caesaris rerum juvat
J)ulci Lyaeo solvere*
Horat. L. V. Ode 9.
Qulâ TDanaeri) Danaesque nurum ; mairemque Lyaei ?
Ovid. Trist. L. If. v. 401.
Do licor que IA eu. prantado havia,
Cam. Lus. Cant. I. oit* 49.
(2) Descorado. Estes versos de quatro Syllabas chamaõ-se
quebrados de Kedondilha maior. Gabriel Ghiabrera usa mui-
to delles v, g.
Fa che cada
La rugi a da
Distilata di Rubi na*
E Camões Gane. XVI.
y$ 123 \$
Trun-
Ao
D I T H Y R A M B O.
TENOR L
tar versos a Bacco. Diz-se que o ^om da sua Lyra fazia deter
as correntes do Ebro , e do ^trirnon Rios da Trácia j atraha,
e levava após si as arvores , e os rochedos do Ismaro > e dô
Rhodope, montes altíssimos da sua Patiia : adormentou os mons-
tros do Averno , conseguindo tornar a ver a sua E posa Euri»
dice ; depois da sua morte foi collocada entre os astros a sua
harmoniosa Lyra. \ê Virg* Georg> IV. v. 454 , e Horácio
L. L Ode 12.
(1) Rumenides. Furas infernais.
Caeruieosçue implexa crinivus anguis
Eumenides.. . Virg. Georg. L* IV". v. 482
.... Ferreiçue Eumenidum tha-ami
Virg. iEneid. L. Ví. v. 280.
(2) Hydras , Quimeras etc. monstros infernais , que povoaõ*
o Averno.
Flammisque armata Chimaera
GorgQties } Harpiaeq-.ie , et forma triccrporis tmibraCè
Virg. JEi\. L. VI. v. 288,
£ das Tartareas (1) cavernns lobregas
Tiraste Euridice ;
Sabe que pleno de furor Deifico
Te excedo , e venço no doce cântico ,
Na Lyra harmónica ,
E ao Lethes (2) mando teu nome celebre^
Quando ao farfante Jacco (5) Thyrslgero
Ergo Canções insólitas ,
E ao grande , ao Sábio Lafões magnânimo f
Prole de Pi incipes ,
Teço coroas de louvor jucundo.
Tronco fecundo ,
Do
Do fértil Rheno (í)
O almo balsâmico , rúbido , nitidd
Espanca-tristezas ,
Que n'alma titiía ,
Nos olhos scintilla j
Á magoa aniquilla ^
È o mortal Coração refocila,
(i) Saboé ! Nictileu , que doçura
N'aromatica doce fluxura
O teu Vate solicito achou !
TENOR II,
K % CO*
CORO.
TENOR I.
TENOR II.
(i) Megera. Huma das três Fúrias infernaes Alécto ,Fe- Tc-
siphone , e Megera.
. , . . Et tartaream nox intempesta Megaeram,
Virg. JEneid. L. XII. v. 846.
(2) Jano. Rei de Itália exemplo de Príncipes perfeitos;
foi reverenciado em Roma como Nume : pintavaÕ-no com
duas cabeças, e a declaração da guerra era abrirem-se as por-
tas do seu Templo,
Virg. jEneid. L. VII. v. 610.
Nee custos absistit limine Janus >
Janique Ufrontls imago.
Virg. Mn. L. VII. v. 180.
Dízer-se que sopra a guerra por duas bocas he alluzaoáguerç
w,çorn que Hespanha, ç Fiança ameaçavaõ Portugal.
Feliz valhacouto
Do grande , e pequeno
O teu Vate affoito
Naô teme «s iras da cruenta Erynnis (i) ,
Quando ameaçada
A Pátria amada
Vê pelas Fúrias ,
Que o férreo carro de Bellona (2) escoltaô;
TpOR I?
TENOR IL
TIPLE.
CORO,
TENOR I.
» » — ■■ li-,, i. ,„ i , i ii i ■
Águia
(i) Ono, O Inferno.
3^ Hl 'M
AguIà (i) aos ar(7S me ^evo ali-possante
Bebo as luzes de Cynthio (2) fulgurante :
Milhões de esferas sottopostas deixo ,
E sobre os astros fulgidos errando,
Teus dons gravo , Lafões , onde fluctuando
(3) Negras nuvens naõ nublaõ nobres nomes*
Do liquor Celestial
Em men peito alegre entorno
Este copo festival ;
TENOR II.
Por-
C O Pt O.
As graças te embalao
O berço ditoso ,
E as áureas Virtudes
No seio mimoso
Te vem habitar*
TIPLE,
ual
(i) Péan. Hynino, que se cantava aos Deoses, e Qprin-*
cipalmente a Febo , e a Bacco , e também Sobrenome de
Bacco,
Hear in aít tongues consentíng Patins rlng\
Pope Essay 011 çritisism. v. i$tf*
& i4j se
Qual o ignivomo Cofanto , (l)
Flamas arroja o peito meu flagrante ,
E no incêndio voraz arde ullulante
A baça Hypicondria ,
Que em sanha , e fúria acceza
Minha alma submergia
Nos antros sinuosos da Tristeza :
Fogo os olhos meus dardejaõ f
As entranhas me chammejaô ;
As idéas me trovejaô.
Evio , a tanto estrago accode f
Vini-prenhes , roxas nuvens
Sobre os lábios me sacode ?
Que só pode
Hum vini-fero diluvio
Apagar hum tal vesuvio*
coro.
A Jacco invoquemos f
Occeano de graças ,
Deidade benigna •
TENOR L
TENOR II*
Ho-
(1) Laponuiy Regia5 septentiíonal entre a Noruega, Sué-
cia . eMoscovia, terra ffigidissima.
(2) Noruega, Paiz frigidissimo do Norte.
(5) Zemblãi Terra boreal separada da Moscov:a pelo es-
treito de Waigts, e descoberta pelos Hollandezes.
(4) Hyaâes* Ou Plêiades a quem os Latinos chamaõ Vir»
giliae , e os Portuguezes Sete Estreito , aparecem junto da cau-
da de Aries, e da boca de Tauro , dizem que fora 5 as filhas
de Atlante , que criara5 a Bacco , e este em premio as sobid
aos Ceos, e as collocou entre os Astros. Vê Hygin. L. Ih
Astr. Poet.
Dizem que trazem chuvas, por isso lhe chamaõ chuvosas^
Andfrêtn ths Plelads fmltfut sho\\rr's âescená.
Pope spring the fim Pastoral.
Hoje Estrellas , Ny rifas d 'antes j
Entre as vagas marulhosas
Os Delfins (i) vejo nadantes
N 'outros evos navegantes ;
Pelas vides pampinosas ;
Trepaõ heras vecejantes ,
Em que Cisso (2) foi mudado*
Ah ! se a tantos De os Binado (3)
Tens a forma transtornado
Muda o teu Cantor jocundo
N'um Tifeu (4) naõ bravo > e torvo
L 2 Mas
Hm' 1 . ■ ■ . ■ ,.■ --r-i
Ora mlcant Tauri septem radiantia flammis
Nouita quas Hyadas Grajus ab imbre vocat $
Pars Bacchttm nutrisse putat*
Ovid. Fást< t. Vi
(i) De7fins. deixes Cetáceos : dis-se que Acetes, é Os seus
companheiros hindo navegando com Bacco zombarão dèlle^
e este Deos em vingança osconverteo em Delfins* Vê Ovidò
Meth. L. III.
(2) Cisso» Dançante de Bacco, è seu valido, morrendo
por hum desastre , Bacco o converteo em hera , de que ao de-
pois se coroava donde lhe veio o nome de Corymbifero , por;
se chamarem Corymbos os cachos de hera. Vê Faust. í. IV*
fipig.
(3 ) Deos Binado* Bacco duas Vezes nascido como fica dito*
(4) Tyfèu, O maior dos Gigantes, que pertendêra® ei«
calar o Geo. .
& i43 W
Mas sim largo, e sitibundd *
Que beber possa dum sorvo
Quanto vinho encerra o mundo í
Porqu' bum brinde tal somente
Era digno, era decente
De louvar , Lafões amável ,
Tua Esposa incomparável:
TODOS
CORO,
Flagelle ,
Debelle ,
Sobpeie ,
Golpeie ,
As catervas murcidas
Dos mais versos ínfimos ,
Qu* intentarem pérfidos
Com seus eccos túrbidos
Profanar este dia aventurado
Consagrado
De Gassidro aos faustos annos*
Çonfundaõ-se , pasmem-se , abismem-se
De ouvir-me os humanos.
Que prazer ! Do liquor espumoso
De Borgonha , (i) do Rheno famoso
I4barei tantos copos gostoso ,
Quantos annos conta
Gassidro facundo
Com pasmo de mundo,
ÍLvohé ! que suprema alegria
A minha seria
Se agora Çassidro mais annos tivera ,
Das
Das Traições , Tyrannias , Rigores
De Jonia perjura.
Xou pequenos voadores.
3Sraõ venha es neste alnso dia
Perturbar minha alegria :
Colhei myrtos , colhei Mores ,
Enlaçai verde capella,
E com ella
Adornai a fronte liada
De Theorinda
Virtuosa ,
De Cassidro cara Esposa.
.Vai , louçaô Ganymedes Solicito,
Traze-me rápido
Da pingue Málaga (i)
O liquor trimo ,
Que prezo , e estimo
Tanto
Quantoencantadora Analia
Prezo da minha
Os beijos furtivos ,
Os ternos agrados ,
O rosto jocundo 7
O
DITHYRAMBO.
A Célia»
Na o
r i ii ■ -
Q^_
(1) Dionyso. Ou Dionysius, nome de Bacco derivado de
J)io Deus, e Niso , ou Nisa Cidade que edificou.
JDienyson Indi existimant
Auzon.
Te Dionyse pater canlmus Semeíeia -proles
Orph. in hymn. de Bacc.
(2) Evan. Voz das Baccantes nas festas de Bacco.
Çul BaccJw orgia cclebrant , et carnes çrudas eomedentes Sa«
& Itfp «&
cro furore initiantur , Evan Evan cone Iam antes , quae vox as-
ph ata , seceundum exqv.isitam Hebraeorum íinguam feminei
sexus serpentem significai' . . •
Eitrseb. Praepar. Evang. Gap. V. de arcanis myster. Gent.
(i) Que a JSlseu etc. Quando os Gigantes quizerao es-
calar o Ceo Bacco tomando a figura de Leão os destruio , e
precepitou a Rheco. Horat. L. II. Ode 19.
Tu cum parentis Regta per aráuum
Cohnrs Gigantum scanâeret ímpia ,
Rhaecum retorcisti Leotiis
Unguibus , horriblllque mala.
(5) Aquilão Ou Aquilo veato Norfee.
& 170 &
Mas guarida , que estou profligado
Da caterva dos hórridos Euros ,
Dá-me ó Célia , liunia taça depressa
Do liquos de Bordeos (i) nacarado ,
Possante ,
Brilhante ,
Cheiroso ,
Gostoso ,
Que erivergonha ao Balais (2) rutilante
No rubor , no gentil luzimento ,
Qu' intento
Yencellos ,
Frendellos ,
prostrallos ,
Deixallos
Sem vida.
Quando a taça me dás Célia querida ,
NaG he mais engraçada ,
Que tu a linda Aurora..
Dan-
(i) Nau tem mais graça. . . . Mas venha etc. A e^ta sus-
pençao de sentido he que osRhetoricos chamaÕ Aposiopeses ,
ou Reticencia» Virg. .Ãneid. L. I. v. 159. nos dá hum ele»
gante exemplo , quando Neptuno indignado brada.
Jam Coei um , terramque meo sine n '.mine venti
Miscere , et tantas audetis tollere moles ?
Quosego. . . . sed motos praestat componere fluctus.
E Gamões Lus. Cant. II. oit. 4r.
Mas moura em Hm nas mãos da bruta gente ^
Que pois eu fui, . • . e nisto de mimosa etc.
Dando sorvos, piscando os olhinhos ?
Olha alguns, qu' embriagados
Com semblante furibundo
Dentro olhando a própria imagem ,
Querem dar-lhe , e despenhados
Percipitaò-se no fundo :
Do marulho , e da voragem
Os innis íicaõ salpicados,
E as cabeças sacudindo
Dos parceiros se estaõ rindo.
Ah ! Célia , Célia amada
A' pressa agora Impina
A taça crystallina ,
Se queres ter Amor :
Porém se és meiga ,
Terna , constante ,
Fiel amante ,
De que te serve
Este liquor.
Silencio ! silencio ! ninguém me perturbe ,
Alio influxo a cantar me afervora :
Já tomo a ebórea Cithara;
Para a referta impávido
Yos desafio, leres Meonides ; (i )
Sois
afirma -se , que o vinho destas Ilhas por mais , que se beba , naò
embebeda. Quarí-
Vc Camden. descript. magnae Britann.
(1 ) Memnonia plaga. O Ori ente assim chamado de Memnon
filho da Aurora. Neste Paiz foi onde Bacco fez as suas maio*
ves conquistas.
Vê Cam. Ltts. Cant. I. oit. 50.
(2) Zona Soílgcra. Ou Zona tórrida, he aquella parte dst
esfera comprehendida entre os Trópicos de Câncer ; e Ca-
pricórnio.
(5) Titao. O Sol
Quando já meio acordado
Faz ao dia perguiçoso
Despertar do claro Ganges (i).'
Dór lie vèr entre as fuscas falanges
Como aqui , e alli guerreiro
Évio ligeiro
Toma a setta , arma o arco , aponta , mata*
E as timidas Cohortes
Com repetidas mortes
Soberbo desbarata.
Do falerno purpurino
De Mareotis (2) famosa
Evo-
Mentemque íimphatam Mareotico
Redegit in veros timores
Caesar. . . .
(1) Olympo. Monte altíssimo entre Macedónia, e a Thes-
salia , consaçrado a Jove : toma-se pelo mesmo Ceo.
Fiava Ceres alto necjuicqvam spectat olympo
Virg. Ceorg. L. I. v. 96.
(i) Antisterias. Festas que os Athenienses fazia?) pela
primavera no mez chamado Antisterion, ou floreai , e todas
*77 W.
Agora
íío Sacrosanto Isectar me embriago.
(i) Dois eus etc. Entende-se que vejo a minha figura du-
plicada como se me visse a espelho , ou tomasse a minha
sombra por outro eu , efTeito da vinolencia como se ve
nos outros quatro versos seguintes: Hm quanto ao dar ao pro-
nome eu o plural eus , entre vários exemplos que podia alle-
gar , exponho este de Heitor Pinto no seu Dialogo da Reli-
gião Cap. IIÍ, folh. 61. v. Édic, de 1591. Em mim ha dois
Eus, e i$ lo ha em iodos os homens, hum segundo a carne, ou*
tr§ segunde 9 espirito.
$£ 182 >$
A azul Esfera
Veloz transago
Por mim, Célia gentil, bum pouco espera,
Qu a Jove revoo fulmini-potente
Para que lá no Olympo fulgente
D'um íhrono luzente
A posse me dé.
Ceos ! qu' em prazeres ardo !
A Deos Célia : naõ Urdo.
Peian , Eacoo I Evohé.
O
ADVERTÊNCIA.
O TEMPLO DE GNIDO.
Sobre a majestosa
p Gnido
Nosso vôo suspendemos :
E ás faldas de bum fresco mont©
Çom brando adejo descemos.
I<03
Logo subo á fresca cima,
Nelld erigido contemplo ,
Topetando co' as esferas
Da Deosa o Sagrado Templo.
Nos
Nos Frygios campos se via
Meigo o semblante formoso 9
Nos braços terna apertando
O Pai do Teucro piedoso.
No
No topo do excelso alcaçar
Vejo hum altar magestoso t
Sobre três degráos soberbos
De Assyrio marfim lustroso.
APO
& m W.
APOLOGO I.
O Rouxinol , e a Cigarra*
N.
Hum
As horas da calma ardente
Rouxinol sonoroso
Doces gorgeios soltava
Sobre hum loureiro frondoso.
o kPOú
¥â j94 ym
BESS
APOLOGO II.
» O Touro , e o Leaâ. » (i)
De buscar a subsistência
Reinos justa obrigação :
Eu se mato he per manter-mè
Lego o que obro he com razão*
O % APCte
■*• 196 $
» A P O L O G O III. »
» O jPastor , e o Lobo. ■»
TJ
J7Jl tTm Lobo velho , e sabida
Por mal feitor conhecido ,
Hum dia tendo observado
Em densa moita escondida
Dum caõ , que guardava o gado
A vida farta , e ociosa ,
Cheio de inveja , e de enfada
Assim ergne a voz queixosa :
» Quanto infausto me imagino
» Se com a deste rafeiro
» A minha sorte combino ,
» Elle dorme o dia inteiro ,
» Dorme a noite soccegado ;
» Eu se durmo algum bocado
» He com sustos, com temores;
» Elle vive entre os Pastores,
^ TP7 %
■» He querido he estimado ,-
» Eu por todos sou odiado
:» Vivo errante , e perseguido
» Pelas brenhas escondido :
» Elle a farto sempre come ,
» Eu por vida trago fome:
» Qual será pois o motivo
» De eu viver no mal que vivo ,
» E elle em dita , e bem tamanho?
:» Talvez he , porque elle austero
5) Guarda as rezes do rebanho ?
-» E eu se algum cordeiro apanho
» Logo o mato , e dislacero ?
» Daqui vem ser elle tido
» Por fiel , por comedido
» E eu por máo , por impio , e fero
» Naõ , de vida mudar quero,
» Que já basta de andar nisto:
» Cos zagaes desta espessura
?> Passo a ver se me bem quisto r
3j E se obtenho tal ventura,
» Qual ol^tem este rafeiro ,
» Se topar algum cordeiro
» Do rebanho tresmalhado ,
» Hei de tello aprisionado
» Té (jue venha o Pegureiro
» P*j
» Para ver que eu nao apanho,
P Antes guardo o seu rebanho *•
Disse , e logo apressurado
Sai da moita onde fazia.
Muito andado na 6 teria
si APOh
$fc 200 ^
A P O L O G O IV.
O Pombo y e a Raposa,
AH
Alli tristezas morrerão ,
Fugirão males antigos ,
Inda que os novos amigos
A' pancada o receberão.
Na*
N.iquella horrenda espelunca
£ noite | e o dia consome ,
Sem ver luz , morto de fome,
J£ ainda mais prezo que nunca.
Já d'horrores combatido
O antigo estado appetece ,
Que o bem nunca se conhece
Senaô depois de perdido.
APO-
K *o7 M
A P O L O G O. V.
A Raposa , e e Lobo»
» Más
» De todos os Raposinhos,
» Que has de Compadre encontrar ,
5) Os m< is nédios , mais formosos
» Saô os meus , naõ tens que erraf. *
?> Nac
» Naô sao os da miah' amiga
» Pelos signaes que me deu. »
Disse ; e laaçando-lhe as garras
Ambos matou, e comeu.
ÁPÚ*
& 2JO &
APOLOGO VI.
Aprove á desgraça ,
Que hum Gato daninho ,
Que alli veio á caça ,
Do triste Ratinho
Cruel preza faça.
Os dentes roedores
Feroz lhe cravava ;
Envolto em suores
O triste clamava
Chiando co' as dores.
$ 211 $
He crime execrando
Buscar o sustento
O GâUi rosnando :
He; disso, e cruento
O fui lacerando.
O Caô no confíicto
Llie diz » Melhor pensa
» JVo teu próprio dieta ,
» Tu deste a Sentença,
*> Eu puno o de lie to. »
?2
Rou^
» Banhaste huma vida ,
» iVtfo pecas desculpa ;
» Q//í? além cie homicida f
» i£<?0 foste da culpa ,
*> Q//6? deixas punida,
A P O L O G O VIL
Os Fiafeiros 9 e o Goso.
Em
Em [tanto o ladino Goso
Esta aberta aproveitando ,
Nr.s restes da rez saltando
Nem migalha esperdiçou.
Em quanto se debellárao
Outro, e tu num pleito odioso,
Houve quem foi mais doloso ,
Que sem nada ambos deixou.
APO-
3g 2i d $
A P O L O G O TUI.
O Pavão , e o Burro.
J
í ÍEm Pavão, e hum Burro annoso !
N'um oiteiro se encontrarão ,
E riâô sei em qual cias linguas
Larga conversa trayáraô.
A cabeça arribitando
O pescoço entumecia ,
E sobre as peladas ancas
Da cauda as sedas abria.
Em ta o celebre Figura
De muitos seus camaradas ,
Ou por tolice , ou por moía
Levava mil pavonadas.
Hum
Hum dia estando ambos juntos
Sobre hum Íngreme rochedo }
O Píivaô soltando as azas
Voa sobre hum arvoredo.
APO,
&2I9 &
?~— ^m^^ii^^ros^
A P O L O G O IX.
5) ^d Raposa , e o filho. »
Vinheiros , e Cassadores
A' porfia lhe matava o
Quantos filhinhos paria
Apenas fora os topavao,
Fe-;
SC 2.20 ;#:
Com
Com limitado alimento
O lasso corpo nutria ;
pira qu' o filho comesse
Muitas vezes nau comia.
?> Em
*# 222 y$
t> Dis*
íí Distante desta caverna
» A caçar nunca te afoites ,
*> Porque logo que te assaltem
» Níiô terás onde te acoites.
Tor-:
Tornou pelo vezo á vinha t
Já das uvas nau fez caso ;
Entrou numa capoeira ,
Çue damno ! tudo foi razo !
Era
Fm tanto a pobre Rapoza ,
Que sem alentes estava t
Mais, rjue a falta de sustento,
A cio filho lamentava.
A
^r 227 $£
PARÁBOLA
O Avaro , e o Jumento,
O
O Avaro todo raivoso
Com paulada , que fervia ,
Puxando-o pela ar ria ta
Desta sorte lhe dizia :
Eu>
w
$ 232 ^
PARÁBOLA II.
Os Ladrões.
Vil
3J
S A T Y R A AOS VICIO S.
índice
EPISTOLA
ODES.
OTemplo de G n i d o, i83
APOLO GOS.
n h<s $
A Raposa , e o filho
PARÁBOLAS*
SATYRA,
Aos Vicias
COMPOSIÇÕES
POÉTICAS,
COMPOSIÇÕES POÉTICAS
O F F E R EC I D A S
AO SERENÍSSIMO SENHOR
DOM J O A Õ
PRÍNCIPE REGENTE de PORTUGAL
FOR SEU AUTOR
B. M. C. S.
SÓCIO DA ACADEMIA TUBUCIANA
ENTRE OS ÁRCADES
BELMIRO TRANSTAGANO.
PARTE II.
LISBOA
2JA IMPRESSÃO REGIA
■mui H JSSSSSSS
SESSSSSS
SB^
M. JDCCCMI.
Sunt delicia tamen , quilus ignovlsse velimus •
JSam nequc chorda sonum reddit , quem vuít manm , et mcns*
Horat. Art. Poet. v. 345.
*t«r
3tf. 5 ?&
IDYLLIO I.
IDYLLIO II.
Pois
■3K 9 '#.
» PoíV <7?/ <?o te?£ sonho tanto apreço deste ,
» Cancã- te em ver se gosas acordado
» O que lograr dormindo naò pudeste^
IDY-
'$. io >£
IDYLLIO III.
'O Fauno.
(i) Para poder adornai" este meu Idyllío -de expressões vi-
vas , e sentimentos expre/ssivos tomei para Protagonista o mes-
mo Deos Fauno lembrado do preceito de Horasio.
Silvis dcducti cave&nt } me judice , Fauni «te. Art, P. Y% 242,
fc?»t $
Com viçosos jasmins de quando em quando
Lhe atirava , que n'agua transparente
Hiao trémulos círculos formando :
Naô
jffaõ sei porque motivo ?ne desprezas i
'Por ti peno , por ti me inundo em pranto :
£ a ter de mim piedade na o te ave z as.
Se
pi 14 .%t
Se na íybia nasceste naò me espanto 7
Que folgues de causar cruéis pezares ,
Mas se naõ , como podes fazer tanto \
v
SC i5&
JD9 /z/^z rocha hum ribeiro despenhado
JManso lago 11 ic vem formar diante ,
De vimes , e de cannas sombreado.
Naè
& *7 W.
ITao tei) naô , que mais faça a teu respeito \
Só se queres , qu às mãos do mal vehemente
Acabe a vida em lagrimas desfeito.
P*rt. II. £ 4
& 18 '4Í
Á fonte Iium pouco esteve contemplando
Com gestos mil , depois nagua insoffrido
Mete de novo os braços titubando.
JS 1 IDY-
I D Y L L I O IV.
Belmiro , e Lereno.
Ler e no,
Com
& u >£
Com tudo o mais vaidoso dos Roupeiros
Teu canto humilde achou , tua voz rouca ,
Gil mordaz grasnador destes outeiros.
Mas
Mas se nao canto bem, se bem na 3 rimo,
Se além de rouco humildes versos urdo ,
Que sou cantor egrégio naô intimo :
Bel*
&£ ->z '<à£
s*\. 2-> *4~
Belmiro9
Que he lei teu gosto , para mim , reputa,
Lereno,
Canta os que te pedi feitos a Elvira.
BehniiOf,
Sim que de cor os tenho , eu canto , escuta.
Cântico,
As auras bullicosas
Se espreguiçaõ por entre os verdes ramos
Das arvores frondosc.s :
Sokaõ as aves meiicos reclamos :
Mas
&. 24 yx
Mas que suspeitas novas
Me gritaô n'alma , qu' tens outro objecto,
Cruel , me dás mil provas
No inquieto coração , no olhar inquieto ,
Que lium peito ancioso , huns ollios vacillantes
Saô delatores das paixões amantes.
Dos
38 25 M
Dos pobres pescadores
Intentas qu'ao mais pobre o Ceo te liguei
Da chuva , ou dos calores
Kaô tem choça , nem gruta em que se abrigue ,
E se he dono do barco em que fluetua,
A rede com que pesca naõ he sua.
Bera
JK rf &
B-em sei que he deleitoso
Ver as chinchas lançar n azul corrente ,
E em dia bonançoso
D'agua o peixe tirar no anzol pendente J
Na praia os ruivos camarões saltando,
E os carangueijos de travez andando.
Mas
3õÇ 1% ?Â
Mas quanto mais dourados
Os teus dias seraõ , se minha fores ;
Os sustos , os cuidados
A paz nao turbaráô de teus amores :
Solícitos em férvidos extremos ,
Quanto em amor se gosa , gosaremos.
No Inverno tormentoso
Quando aquilão fremente o mundo aballa ,
E o raio estrepitoso
Rompendo as nuvens serpeando estalla ,
Em meus braços na choça ouvindo amores ,
Crerás qu' estamos na estação das flores.
$ *9 m
Ao fogo ambos sentados
Grato magusto fumegar veremos ,
E esquivos a cuidados ,
Do espumante liquor brindes faremos :
Depois alegre a maô lançando á lyra
Tarei o nome resoar d'Jilvira#
£et«
Belmi?*o.
tJnicío o te>« rebanlio ao meu rebanho
feia encosta cortemos á floresta.
Lereno.
Em prazer embebido te acompanho :
Nunca nunca > passei taõ grata sestas
ÍDY-
& 32 M
-riwritiijiiii ii
IDYLLIO MAGICO.
N'
Tris-
y& s3 ?á
Triste clarão de funebre iucerna
Globos, hervas , metais lhe descobria,,
Instrumentos da magica superna :
\
Banhado em pranto , cheio de agonia
Aos pés de Pytoniso (i) macilento
O triste a causa do seu mal dizia.
Part. IL C Voa
ti ni—"- ■■
(1) Pytoniso , Nome que se dava aos Agoureiros, ou ins-
pirados por Apollo a quem chamavaÕ Pytio por ter morte
a serpente Pyton.
(2) Trivia a Lua»
¥f OA Vf
De
C 2 PÓS-
Beifi
Nes-
( 1 ) Phelonh , Herva magica.
(2) Manàregora , Herva fétida cujo çumo bebido faz som-
no lethavgico.
(j) Dictamo , Herva contra-veneno.
(4) Fetto , Herva de quem o vulgo nimiamente supersti-
cioso crê, cue a semente he hum dos maiores amavios.
(5) Nepentes , Herva contra á melancolia.
>£4i #
» Neste olho secco de estrellado Touro
» Na appariçaõ de Aldebaran (i) tirado ,
» Três vezes crava o páo do verde louro
» N agua do Merrha (2) , e do Silon (5) banhado :
» Se o vires brotar lume he fausto agouro
» Eilo se iníiamma : foi propicio o faclo !
» Ati volve o teu bem, fica seguro.
» Trina Deosa , attendeste ao meu conjuro.
CAN-
(r) Aldebaran 011 oculus Tauri , he hum a estrella meri-
dional da primeira magnitude , que está na cabeça ÚQ signo
Tauro.
(2) Merrha , lagoa cujas aguas eraô tao pestilentes , que
inficionavaÕ aos que as tocavaÕ.
(j) Silon , rio junto da lagoa dita cujas aguas erao tao
salutiferas , que com ellas se curavao immensas enfermi-
dades.
(4) Lituo O cajado, ou vara dos Nigromanticos.
$43$
CANTATA
s
Tem
Obre a frente d# náufragos escolhos
a Desgraça negro throno erguido ,
Donde lançando atravessados olhos
Do crespo mar ao dorso entumecido ,
ím verdes aras de immular naõ canoa
A humanidade cega ,
Qu em lenho frágil á incerteza entrega
A vida , e a esperança.
Se para subsistires
He força , que te exponhas
Das ondas bravas ás traições medonhas ,
A quem recorrerás , affíicto Humano ,
Qu' o riso da Ventura naõ conheces ;
Exposto ás iras do soberbo Oceano ,
Se amplo soccorro naõ obténs , pereces ;
Instados pelos Aquilos raivosos
$ 44 $•
Querem tragar-tc os mares alterosos :
Pedir favor ao Ceo he baldar preces ,
Que o Ceo acceso em ira,
Farpas de fogo contra o mundo atira.
Madrasta a pátria terra
Negando- se aos teus fúnebres lamentos
Te assolla , e te desterra :
Os mesmos elementos
Juntos a bum tempo te declaraó guerra.
Jslàs eis ! qu' entre o negrume pavoroso ,
Qif o espaço ethereo sepultar procura ,
Feliz Astro fulgura :
Serena o mar , scintilla o Sol formoso ,
Traasmontaô nuvens , furacões transmontao ,
E alegres dias no Oriente apontao :
Es tu , Virgem do Cabo , es tu, qu' assommas f
E a grande empreza d'amparar-nos tomas ;
Sempre maviosa , e cauta
DVsíeio serves á nutarite vida
Do sossobrado Nauta ,
Que por ti chama, que teu nome invoca,
Etn quanto ancioso por salvar-se lida.
Orneado navegante , mais nao temas ,
Dos hórridos tufões as crueldades >
Qu' ás soltas , furiosas tempestades
A Virgem lança rígidas algemas :
W M *H
Assim que raia sua face pura ,
Lá torna á Estigie escura
De horríveis males o cruel contagio :
Seus raios naõ dardeja a Desventura :
Nem sobre as azas do infeliz Naufrágio
A horrenda Morte victimas procura.
Salve, salve dos Lusos Protectora,
Estrella da manhãa , fonte de graças ,
Qu' os ferros do infortúnio despedaças ,
A quem submisso teu auxilio implora.
Sem temor dos pezados turvos ares ,
Das hórridas procellas ,
As ancoras sarpai dos Lusos mares ,
Marítimos devotos ,
E aos mansos ventos desfraldai as velas ,
Qu' ás vossas oblações junta os seus votos
João dos Lusos Pai , Príncipe Egrégio ;
Ao grato abrigo de seu Nome Régio ,
Curvos aos pés vereis climas ignotos ,
E a mísera Indigência
Transida , e lacrimosa ,
Achar benigno amparo , achar clemência
Nos braços d' Abundância dadivosa,
O' Lysia venturosa ,
Exulta 5 exulta de ufania cheia,
Que hum príncipe desfructas , que saneia
& 46 &
A fúria de teus clamnos procellosa:
A Virgem Mâi piedosa
De seus cultos se apraz, seus rogos ouve,
E tudo lhe concede
Quanto em ncsso favor ancioso pede*
Quem ha que te naò louve,
O' Príncipe benigno ,
De mil impérios digno ,
Se por teu Povo te disvelas tanto ?
A Mâi do immenso Deos três vezes Santo ,
Que acceita o culto , qae lhe dás profundo f
Teus dias abençoe
De mil celestes graças te coroe,
E a teus Hl us três pés sobmetta o Mundo*
ÁRIA-
Eniestaõ raivosas
As vagas frementes
Nas rochas ingentes
Dos túrbidos mares ;
Serpeia nos ares
Corisco flagrante ,
ProcelLi bramante
Oelar-nos procura ,
E a atroz Desventura
m. 47 m
Qu a terra desola
Nas ondas immoía
Mortaes a milhões»
»CANTATA»(i)
No fausto Nascimento da Sereníssima Princeza
da Beira a Senhora Dona Maria Therezá
Francisca de ^issis*
ÁRIA
» A R I A »
O mundo assola
Enyo ferina ,
Prostra , e fulmina
A gente humana.
Só Lysia ufana
Dos Ceos mimosa ,
Os fr netos gosa
Da meiga paz.
A nova Eslrella ,
Qu em seu Oriente
Nasce , e fulgura 5
Mil
Mil bens lhe augura»
liia louvemos ,
Lusos famosos ,
Quem taó ditoso*
Hoje nos faz.
AOS
30€ ?7 'M
«CANTATA»
Do
& 53 £g
De informes sombras esquadrões cerrados j
Em quanto Fcbe desmaiada , e froxa
A esfera azul , e roxa
A passo , e passo temerosa deixa.
As frias auras sussurrando acordaô
Por entre ns foi lias. da nutante selva ,
E os Zefyros brincoes pregando as azas ,
Rolaò por cima da orvalhada relva ;
A par transmontaô do Silencio triste
Os leves Som nos em confuso bando ,
Os braços a miúdo esperguicando.
* A II 1 A »
ÁRIA
Amores , e Graças
Os ares povôaõ ,
E alegres corôaõ
De fulgida Gloria
No templo brilhante
Da eterna Memoria
O nítido Instante ,
Que vio com vangloria
Ao bem qu' idolatro
No mundo nascer.
Ah ! sempre eu te veja
Dos Ntimes amado ,
Momento dourado ,
Sem que despiedoso
O Rispido Fado
Te nuble , te affronte 3
E Laura mimosa
IVlil vezes te cont®
A' sombra ditosa
Do fausto Prazer,
MÁ1
^6j &
MADRIGAL.
MADRIGAL.
MADRIGAL.
fc * MA*
& £3 ;&
■imiii iiiiiii[ii.iiiiiiMw
MADRIGAL.
MADRIGAL
A.
.Chei Marília bella
Dormindo á sombra d'um frondente arbusto,
Sentei-me junto delia ,
E eutre prazer , e susto
A face cor de rosa ,
Dando hum suspiro , com fervor lhe beijo :
Desperta f e desdenhosa ,
O sitio alimpa que levara o beijo,
pp Cruel , entaô lhe digo ,
» Em vaô limpas a face melindrosa ,
j) Que o beijo que te dei tornou comigo0
W. 70 ft
MADRIGAL.
JL Ávonios lisongeiros ,
Que espalhais meus suspiros nestes valles^
Voai , voai ligeiros ,
E à dura Jonia referi meus males :
Contai lhe as crebras dores ,
Que excitaô na minha alma seus rigores í
Mas ah ! triste demim ! vós illudidos
Xevais ás broncas penhas meus gemidos !
Reparai que o meu bem Jonia inclemente $
JJe pedra naó he toda , tem de pedra
O coração somente.
MONOLOGO I.
A LAURA
Mas
Vi 7\ &
s-
(i) .... perpetuas sopor urget, Horat. L. II. Od. 24, E
&7S $
MONOLOGO II.
Cessí
&78$
Ceos ! que horrível terror me corre as veias !
E liaó de assentir os Fados y
Que outras prisões teus alvos pulsos liguem ?
Que as foces te profane
Boca impudica de vivente impuro ?
Hão de assenlir , que rompas
S i grados votos de firmeza eterna ?
Que risques da lembrança
Tantos excessos de ternura minha ?
Sim , sim qu' os torvos evos
Existência constante a nada outorgaõ :
Depois que delirante
Sobre a minha horrorosa sepultura p
Quebradas as madeixas,
A cor perdida * em lagrimas ardentes
Os olhos affogados ,
Por mim bradares com truncadas vozes í
Depois que envolta em magoa
Tremendas juras de firmeza eterna
Fizeres a meus ossos r
A pouco , e pouco o leve , instável tempo
Da tua vaga ídéa
Irá riscando minha triste imagem:
Saudades fugitivas ,
Froxas lembranças dum já tibio affècto
Te ficarão apenas 9
Ah!
& 79 *
CAN-;
CANÇÃO
A Mareia*
Par tf 1L $ yg
$ 82 ?Á
Vé que em murchando a flor da Fresca idade ,
Vaò doies, graças, perfeições fugindo,
E os olhos mais gentis , g(~sto mais lindo
Só tristes desenganos
Despertaõ n'alma aos ávidos humanos.
í i CAN-
£ 85 SC
CANÇONETA I.
. Ue fraudes horríveis ,
"""Que horrível estrago,
Famélico Drago
Semeia entre nós ,
O collo escamoso
Arfando feroz !
Por
Os Ceos ensurdeceu*
A nossos clamores»
Marulho de horrores
Nos vem combater.
Quem pôde no mundo,
Seguro viver ?
Oh sorte ! oh prodígio !
Feliz maravilha !
H* esta , lie a Filha
Ceíeste de Abraham :
Chegou aos humanos
Geral Redempçaô.
Dissipaó-se as trevas
Funesteis do mundo ,
O Drago iracundo
Trepida <U4 horror ;
E o susto do estrago
Lhe dobra o furor,
A
y& 88 >#
A língua farpada
Em frémitos vibra t
Sanhudo equilibra
O corpo no ar ,
E a Sacra Donzella
Procura assaltar.
Toreendo-se arqueja
No jugo potente
A torva Serpente
Cuberta de horror ,
Em vao , em vaõ se arma
Pe sanha , e furor.
A
A cauda cerúlea
De negro manchada ,
Em arco vibrada
Afferra no chaô.
Ora abre , ora fecha
As fauces em vaô.
Os Ceos te bem-digao ,
Donzelia formosa , *
Vergo ntea frondosa
Do claro Jessé ;
Por quem libertado
O Mundo se vê»
Do Sol Sacrosanto
Foste inclyla Aurora ,
Feliz defensora
Dos filhos de Adam*
Tu abres as portas
Da Santa Siam.
Es
Es Mâi , Filha , e Esposa
Do Numen Superno ,
Illesa ab «terno
Da culpa geral :
Feliz oppressora
Da Serpe infernal.
A Charca incombusta
Tu és , oh Senhora ,
A quem naõ devora
A culpa voraz.
E's Jris Celeste ,
Annmicio de paz*
Celebrem-te sempre
Do Olympo os Cantores
Perennes louvores
Te dem os Mortais .•
Teus cultos se vejao
Crescer mais , e mais.
Da torva Discórdia ,
Da Inveja sedenta
Benéfica isenta
O nosso Atlieneo :
jBflil graças lhe alcança 9
Mil bênçãos do Ceo.
CAN-
&9* &
Ro-
(2) Premiada pela Academia Real das Sciencias na Sessão
ÚQ 12 de Maio de 1791.
Roxa venda a luz dos olhos
Com três voltas lhe roubava ;
Nas mãos hum arco trazia ;
E ao lado em formosa aljava
Cruéis farpas embebia»
» Ago?
$ 94 X
» Agora , onde vou depressa
» O verás. » Nisto arrancando
Do carcaz farpão fulgente ,
Vem para mim caminhando
Com torva , sombria frente.
Mas
. # Pi W.
Mas de meus rogos zombando
yy Onde estaô teus ameaços?
( Me diz com voz mofadora)
» Feriste, naô tens dois braços?
» Chega a mim , vingaste agora.
* Qm|
& 96 m
•» Quer vendo-a , quer delia ausente
y> Naô dará fim teu tormento ,
» Que te instará sem piedade ,
» A' vista o Zelo cruento ,
*> Ausente a cruel Saudade.
A fascinante Desgraça
Vem apôz do meu tormento ;
Meu grado trigo emmurchece ,
Nem curo do pobre armento ,
Que á mingua todo engafece»
CAN-:
¥â 97 y&
mrmm
CANÇONETA III.
i n| Um tosque frondente
De murtas , hum dia
Nathercia formosa
As horas dormia
Pa sesta calmosa.
ffrrt. II. 0 Ad
& ?8 $
Ao vella , nos olhos
O pranto repreza
O meigo Cupido ;
E já lhe naõ peza
Haver«3e perdido.
Gostoso os cabellos
Lhe enastra de rosas >
Em torno lhe adeja ;
E as faces mimosas
Mil vezes lhe beija.
As palmas batendo
Aos outros corria ,
Ufano , e vaidoso ;
E hum premio pedia
Do encontro ditoso.
W. 99 ti
Já ledos , e afoitos
Os Numes damninhos
O Campo atalaiaõ ,
E os tenros bracinhos
Nas Aves ensaiaõ.
Já destros sobraçao
Os coldres fulgentes ^
Os arcos formosos ,
Que tinhaõ pendente!
Nos Olmos frondosos.
G 2 0
5& io° y&
O Nume , que trouxe
A nova benigna ,
A frente occupava ,
E a tropa maligna
Risonho guiava.
Soberbo no centro
O Chefe Cupido ,
Hum ferro empunhando »
Bradava insoffrido
Ao trefego bando :
» Lethargicos somnos
» O corpo lhe rendem :
w Seus olhos traidores
» Já naõ a defendem
» Dos meus passadores.
Hk Ior M
» Rasguemos-lhe o peito ,
» Os pulsos lhe atemos ,"
» Da paz se despoje 3
» E agora veremos
5> Se ainda nos fogej
As frechas terçando
Cruéis , e ferozes
O adejo apressarão ;
Mas todos velozes
A lium tempo chegarão.
teí 102 «es
Pot
Porém liuns com outros
Tal bulha , tal guerra
Inquietos urdirão ,
Que todos em terra
De chusma cahirao.
A Nynfa desperta
A' voz estrondosa ,
E os olhos divinos
Levanta maviosa
Aos Numes ferinos.
7> O
O Nume doloso ,
Que o bando regia 9
De pejo corava ,
ti em quanto fugia
Desta arte clamava :
» Escuda-Ihe o peito
» Seu rosto alvo , e lindo S
» Como bei de rendella,
:» Se mesmo dormindo
» Naõ posso vencella?*
Ca^
Callousse , e alimpando
As lagrimas fúteis ,
N?uns cedros copados
Quebrou por inuteiç
Os ferros herwidos*
CAHi;
$ io6 $
CANÇONETA IV.
Cupido entretanto ,
Que a jura ignorava,
Ferir desejava
Hum livre Pastor.
Dirige-se a Leiunos ,
E aos Brontes pedia
Das frechas , que havia
A frecha melhor.
O Pai que o presente
Exclama severo ;
» Aqui mais naõ quero
» Ver esse aggressor*'
» Màos
& io8 >g
Já caíras , bigornas ,
Tenazes se aprontao j
|Qs Ócios transmontao
Do rancho voador»
Tornados ferreiros
Os lindos Vendados ,
Aos Brontes crestados
Causavaõ pudor.
O Mestre Vendado
Feroz , carrancudo
Ralhando por tudo
Lhes dobra o fervor»
A$
& "o £
As frechas cruentas ,
Que huns promptas deixavaô,
Os outros provavaô
Com fero clamor*
TornaVaõ de novo
Nd fragoa a mettellas ,
Porém qualquer delias
Surgia peor.
O Mestre Cupido
Bramia , raivava ;
E em vaõ demostrava
O seu dissabor.
Ao
Ao vêíla o Yendado
Exclama incessante^
Tingindo o semblante
De rúbida cor :
O Isento Belmiro
Entanto assomrhava 9
Do gado que amava
Feliz guardador.
No$
Nos olhos da Nynfd
Primeiro a prepara r
Depois Ília dispara
Com fero estridor*
c a n;ç o n e t a v.
Mansamente me encaminho
Ao lugar , donde parece
iVir o canto sonoroso ,
Receoso ,
Que pudesse
Minha vista inopinada
Ao cnntor sonoro , e doce
Perturbar a voz sagrada.
Da
?â ttfW
Da mimosa branda Psyche (i)
Em amor Amor desfeito ,
A ternura , a gentileza ,
A firmeza
De seu peito ,
A meiguice o génio brando^
Ao canoro som da Jyra
Desta sorte hia cantando :
NaS
$ 121 Jf
» Nao
Entretanto eu figurava
Ter veiculo ao Deos Vendado f;
E até já me parecia ,
Que me via
Laureado ;
Recebendo altos louvores ,
Quer nos prados , quer nos montes y
Das Serranas , dos Pastores.
Mal
3K ffl W,
Mal qu' os leves ares coita
O cruel Icialio Nume ,
Desce ao reino do tormento ,
E cruento
Por costume,
Duras farpas sacudindo
Entre os vh tartareos monstros 9
Ampla estrada foi abrindo.
tilais
Mais humano f e mais piedoso
O Cerbóro ás almas late.
De braveza suffocada
» Vai-teem paz , monstro maligno %
!Me gritou , » Numes valei me !
» Defendei- me
» Deste indigno.
Nisto aos olhos meus se esconde.
Chamo-a em vao , em vaõ lhe brado /
Que a meus ai$ nada respondo.
Entre as mãos da horrível morte *
Dando aos Ceos vozes magoadas ,
Fico absorto , e irresoluto ;
Quando escuto
Mil risadas ,
Volto o rosto , era Cupido ,
Que zombava do meu pranto
N'umas balsas escondido.
» O Diamante. y>
Ag
A*s faces o pudor , á voz o susto
Tentou roover-lhe o coração marmóreo»
Até que vendo tanto excesso inútil,
Kecorré â força dos fataes prestigies,
Kecurso extremo de paixões violentas.
Depois qu' a vara dWeleira nova
Três vezes ergue, e o ar cruza três vezes,
Outras tantas o amianto accende , e apaga ,
E sobre hum iman pondo a planta esquerda f
Assim brada ; fitando em Febe os olhos :
:» Dêa qu' abitas o Orço , a Terra , o Olvmpo t
» Se em vivo amor ardeste como en ardo ,
» Protege o encanto que tramar intento ;
5> Adamante cruel frustra meu pranto,
33 raze qn apenas o mnnmano toque
5> O sangue, qu? encerrar este eneo vaso^
?> Morto de amores pela origem delle,
5? O duro peito se lhe abrande , e mova.
Disse, e Febe, em sinal qu' a prece ouvia
Em nuvens três seu vario rosto espelha ,
E quatro luas no Orbe se divisão ;
Hum súbito relâmpago vislumbra ,
E hum sonoro torvaõ rebomba ao longe:
O fausto agouro a Déa acceita , e logo
No chão traçando hum circulo , lhe inscreva
Hum regular octogono, a quem tira
PO*
Dos oito ângulos quatro parallelas.
Depois ferindo o braço esquerdo , esmaltai
De rubro saugue o seio do eneo vaso ,
E o colloca do circulo no centro.
J> Trivía ( brada outra vez ) antes que largues
» De Geminis a Casa , vou prover-me
:» D' hervas , que podem remover aos Fados
y> Com seu , com teu auxilio , e meus conjuros
» Ao centro deste octogoho o Tyranno
» Será nas azas de hurn ttif<iõ trazido.
«METAMORFOSE II. »
» O Asinheiro* »
«METAMORFOSE III. »
» [^ Palmeira, »
M&j
% IV- <*
«METAMORFOSE IV. *
» O Suspiro. »
fe ME*
m *?* *
«METAMORFOSE V. »
» O ^í/y^o , e a Doninha »
Sus*
W. i» >H
Suspiravao num vinculo ditoso.
Entanto o rude guardador Sarpalio ,
Prole abjecta da gorgona Meduza ,
Bruto mais torpo do qu' os Faunos torpes f
Entra acaso na gruta , onde os felizes
Embebidos num êxtase gozavaõ,
O que naõ goza , quem a mor naÕ sente :
AUi de inveja , de ciúmes cego ,
De súbito assaltando o par ditoso ,
Ao Moço incauto pelas tranças prende ,
E á força intenta , segurando a Nynfà t
Libar o Néctar , que só liba Adónis.
Mas quanto podes infernal ciúme !
Mansos cordeiros, em leões convertes !
O acceso Joven de furor bramindo ,
Atroz punhal do coldre arranca ao brrato ,
E as mãos com elle fervido lhe rasga :
Aos crebros golpes o cruel sensível
Ambos deixa escapar , e ambos lhe fogem*
Mordendo-se de raiva , acceso em fúria ,
Integrando na mente árduos projectos ,
Porcura a Mãi de Amor , Vénus formosa
E assim lhe falia os olhos esquinando :
» Que fazes , que naõ vingas tanto insulto ?
» Ah ! qu' ou Deosa naõ és , ou se és nao amas !
» Em paz consentes qu' o teu caro Adónis
» Por
to Por huma vãa Napéa te abandone?
* Crè-me , falso na o h© , meus olhos foraõ
» Testemunhas fieis dos seus transportes ,
» Ambos em braços apanhei ha pouco :
» Ah ! que vingada tua affronta fora ,
» Se velozes das mãos naô me escapassem.
» Pune taõ vil traição .• de que te serve
» No Ida o premio ganhar por mais formosa * j
3) Se em ludibrio de tua gentileza
» Ha quem outrem no mundo te prefira.
» IVIas para te vingares naô careces
» Raios pedir a Jove , auxilio ás Fúrias ,
» Basta ouvir meus conselhos, e abraçallos*
» Para só de huma vez três fins obteres :
8ra«
$ 163 >^
Êrama cie raiva o Bruto , aos dois investe *
E do coldre arrancando hum ferro agudo
Traspassa o peito da infeliz Doninha ,
Que das faces murchando as vivas rosas
Se entrega á morte , que lhe gela os membros»
Mas quando o golpe na infeliz desfecha $
Do súbito successo espavorido
O moço Adónis , do carcaz arranca
Hervada frexa de pungente gume >
E unindo as pontas do flexível arco
Com força Hercúlea , qu* o furor lhe presta f
Lha crava em meio da sombria fronte.
Tinto de negros borbutôes de sangue
Sem vida o bruto cahe sobre hum dos lados $
Depois que balançando por três vezes
Amiaça em torno o chaõ com dura quéda^
O claro Jove que no ethereo assento
Lhe foi patente a fúnebre Tragedia ,
Ou por imprecação da irosa Vénus $
Ou para exemplo de ímpios 9 e perjuros $
A infausta Nynfa além da morte infausta
Converte em loura , trefega Doninha ,
E o pérfido Sarpalio horrendo , e torpe
Muda em idiondo peçonhento Sapo :
Mas trocando-lhe a espécie n'outra espécie i
íí*o lhe extingue os odiosos sentimento* >
L 2 K<m
Nem a lembrança do perjúrio antigo f
Por isso d penas a consorte encontra f
Especando no cliaô os pes damnosos,
E os olhos fascinantes envesgando ,
Espera a triste , que medrosa , e fria
Vem arraslrada por cruéis remorsos
Meter-se-lhe na immunda , infesta boca ,
Onde em castigo da perfídia sua
Recebe a morte , e cumpre a atroz sentença;
b ME-
& «?* »;
«METAMORFOSE VI, *
» ^ Toupeira* »
uMSp
£ i*p$
» ME TAMORFOSE VII. »
» O Caracol , e a Mariposa. »
NÍlXs>
Ninguém rne-lnor as vestes lhe ajustava f
Ninguém primeiro lhe trazia as settas.
Ora contra o rigor da calma estiva
Tecendo os ramos dos vergéis frondosos
De fresca sombra lhe cobria o banho :
Ora as aure s maáechas lhe enastrava
De cheirosos festões de frescas flores.
De igual soríe Limax por apr^çr-lhe
Formas imrnensas de a servir buscava ,
Humas vezes perigos arrostando
Batia as moitas» onde se escondiaõ
Velozes Corças , timidos Yeados ,
Hirsutos Javalis , rapaces Lobos ,
Outras saltando valias , ribanceiras j'
Por entre as balsas aos lebreos velose9
A rápida carreira disputava ,
E assim que a Deosa disparava o tiro ,
Primeiro que ehes lhe trazia a caça.
Até que hum dia mais que nunca afoito
Tanto amor naõ podendo conter n'alma f
Quebra as prisões do pejo silencioso ,
E com supplicas vivas , pranto amargo
A Nynfa á Deosa por consorte ped# :
Da louca pretençaô Delia zombando.
Com mil pretextos dissuadillo intenta:
Mas vendo que de instar naõ cessa o louco
» I7i W.
Por ver se as fátuas pretenções lhe afrôxa
De ssus gratos serviços obrigada ,
Esta horrorosa condição lhe intima:
5> Doute a Nynfa qu' adoras , se protestas
» Dentre d* um lustro levantar-me hum templo
a Do alvo argênteo metal em que domino ;
» Sem que meios illicitos procures
» Para erigirmo no aprazado tempo :
*> Porém naõ cuides qu' illudir-me podes
s> Que se ás propostas condições faltares ,
» O menor dos castigos que t'esperaõ
» Será , moço infeliz , a horrenda Morte.
Limax cego de amor , de paixão cego
Acceita as feras condições á Deosa*
Tanto os desejos a razaõ nos turbaõ !
Tudo fácil na idéa se nos pinta ,
Quando a vontade nos impera n'alma.
A casta Delia do que via absorta,
De novo ao louco dissuadir querendo
As árduas condições lhe expõe três vezes ,
E três vezes lhe intima a enorme pena ;
Jflas naõ podendo soffocar-lhe as chammas *
Nem como Deosa quebrantar o voto ,
Lhe entrega irada por consorte a Nynfa.
Limax vendo seu gosto coroado ,
Jalgava^se o vivente mais ditoso ,
Nos
3tf 172 5SÇ
..^
Nos transportes de amor todo embebido,
Mascarava o prazer de immensas formas;
JVlas o tempo veloz volteando os dias,
Jfi vinha o termo infausto aproximando
De erguer o promettido templo á Deosa ,
E o mesto dissabor da posse filho
JVo peito arrependido lhe cravava
Do atroz pezar , do atroz desgosto as frechas x
Falto de meios , de recursos faho ,
Medroso dos castigos sobranceiros,
Fazer* máo uso projectou da iisposa ,
F obter com ella com qu' erguesse o templo :
Mas temeroso , que o soubesse a Deosa ,
Por industria , e cautella conduzia
Hum portátil alvergue sobre as costas ,
Que a furto armava , num, e n'outro sido,
Onde a troço de prata para o templo
iVenal prostituía a infame Esposa.
Largo tempo correu sem que podeçse
Dos productos colher da sua infâmia ,
Com que formar do templo os alicerces»
Sôfrego de interesses mais lucrosos ,
Desdenhando os mortais, volvia os Numes^
E aos Numes facultava a indigna Esposa,
Febo de todos foi o que encantado
Da graça , da viveza de PapiUia ■
Quiz só gozar seus pródigos favores 4
MSP *-£ W
EPIGRAMMA I.
EPIGRAMMA II.
EPIGRAMMA Hfi
EPIGRAMMA IV.
EPI-
N» III. A hum máo Poeta que me brindou com hum li-
vro, que imprimio , e depois de seis mezes veio-me r/edlr
o importe do dito»
N. IV. A hum estulto, que comprou os xxifus versos para
dizer mal delles
$ mm
EPIGRAMMA Ve
EPIGRAMMA VI.
EPIGRAMMA VIII.
EPI-
N. VII. A hum Cirurgião, que alugava hum macho muito
manhoso, que tinha, e naõ queria que se dissesse que o alu-
gava.
N. VIII. A hummáo Poeta , que compoz huma Tragedia T
que fazia rir.
M 181 yg
EPIGRAMMA IX.
EPIGRAMMA X.
A Mareia.
EPI-
N. IX. A hum bêbado , que deo huma facada noutro sem
razão nenhuma.
k rfz y&
FPIGRAMMA XI;
EPIGRAMMA XII.
Es Satyrico tamanho,
E taô infimo Poeta ,
Que affirma gente discreta ,
Que só tu fazer podias
As satyras J que merecem
Ás tuas más Poesias,
EPIS-
N. XI. A certo Pobretão , que se jactava de representar
melhor que ninguém, principalmente em obras trágicas , e
partes patheticas.
N. XII. A hum Charlatão maldizente , que compunha tro-
vas.
M *83 '&
• ii«iiiiiii!iivimnr' ""
EPISTOLA
Com
(i) Parf.irient montes , nascetur ridículas mus.
Horat. Art. Poet. V. 139.
Com voz de trovoada irá ralhando
Poesias taes 5 que nem o Demo as pesque :
Do propósito buscaô galllcismos ,
Já desfarce naõ presta, vem de guisa ,
Por banquete repas , sommèt por cume 9
E caprichaô de ver nos seus Poemas
A torre de Babel nas varias línguas :
Nada importa que a frase seja escura ,
Bárbaro o estylo , o verso máo , com tanto ,
Que a palavra da moda naõ esqueça ,
Em Africa huma lança tem mettido,
Oufros na profissão menos Doutores
Mas em estro suppondo-se huns abortos
Gabaõ-se qu' a insultante Paderia ,
Assim qu' a voz lhes ouve nos outeiros ,
Em torno boca aberta , ouvido á escuta ,
Troca em palmas , em vivas , em obséquios
O picante dicterio , o chulo à parte ;
Se ouvir hum destes busco , vou topallo
Entre Nynfas boca es , marmanjas velhas ,
Tescôes Peraltas, que naô lem por cima,
D' improviso glozando a cada mote
De Sonetos , e Decimas chorrillos:
Sem nexo, sem lingoagem , sem cadencia;
Partos informes da loucura humana :
EPIS-
(1) O Senhor Domingos Maximiano Tones, bem conhe-
cido pelas suas bellas composições, e profunda litteratura.
(2) O Senhor Joaõ Vicente Maldonado, Author de subli-
mes, e enérgicas Poesias.
£ i8g^
EPISTOLA
Uni-
Unidas ambas , ambas cultivasse.
Quando os astros observas n'alta noite ,
De Orfeo na esfera a maga Lyra encontras*
Dos Ceos a Musa Urania ao mesmo tempo
Vates iníiue 9 Astrónomos dirige.
Os Eclipses , as fazes dos Planetas ,
O Moto das Estrellas scintillantes ,
Qu' estudo foraõ do crinito lopas (i)
Da ebúrnea lyra a voz naõ lhe abafarão ,
Nem. a vangloria de invocar as Musas.
Tratou d'Astronomid Arato (2) em versos.
(3) Hygino a Delio honrou cantando os Astros,
Mostrou Manilio (4) em metro as leis dos Orbes.
E
fart. JL ti CAN«
*»PS»
CANTILENAS ÀNACREONTICAS.
Era to me empresta
Harmónica lyra ,
E Amor lie somente
Quem versos me inspira?
N 2 Ápl
Applausos mereço
D'A!feno , e Jacindo •
Elmiro ine louva ,
E o ineiico Eurindo.
II.
Às fuscas azas
Nesta espessura
Vem despregando
A Noite escura.
Mor*
$ 197 «SÉ
Morno Silencio
Yaga adejando ,
Só Rens palustres
Saltaõ coaxando.
A tarda Lua
Sobre o horizonte
Levanta a Broxa ,
Pallida froute.
Ligeiras nuvens
O Ceo toldando ,
A luz a espaços
Lhe vaõ turbando.
Ah ! feia noire ,
Que horror profundo
Kaô vens cauzando
No triste mundo !
E o Vate de Thebas
O mesmo alcançou ,
Porque duras penhas
Cantando abrandou %
IV.
O Sol transmonta ,
Ceíia formosa,
fordando a esfera
De côr de rosa.
MC 199 MC
A furto encrespa
Zefyro frio
 limpa face
Do manso rio»
Deste penedo
N'agua pendente ,
Que d'altos fetos
Coroa a frente :
Comtigo ao lado
No pego undoso
As leves redes
Lanço gostoso.
As magas vozes
Solta entretanto ?
Alegre os ares
Teu doce canto.
Doido te escuto ;
Mas que reparo !
Volve teus olhos
Ao rio claro.
Olha
$ 200 >^
Olha em cardume
Virem das grutas
Barbudos Barbos ,
Manchadas Trutas*
D'argenteas Bogas «
D'azuis Fataças
Cheias levanto
As verdes naças.
V*
Doce Amaryllis ,
Meu bem amado %
Quem te motiva
Taô grande enfado ?
Pintas no gesto
Vivo desgosto :
Raivoso pranto
Banha o teu rosto.
Se te pergunto ,
Porque te inflammas ?
Entre suspiros
Falso me chamas.
Se exploro a cauza ,
Nada respondes ;
Co as mãos mimosas
O rosto escondes.
Falte-me 8 vida
Se fui perjuro ,
Pelos teus olhos
Aos Ceos o juro.
Cas-
>g 202 >#
VI.
Castiga os ingratos ,
Amor , desfigura
O lindo semblante
De Jonia perjura.
Palreira Andorinha ,
Que á volta d* Aurora
Sempre és do meu somno
Cruel turbadora.
Ah ! queira a Desgraça
hm paga , em castigo
Da fera impiedade ,
Que tratas commigo :
Que rompnõ teu ninho
Máos corvos infestos ,
Bem como a tyranna
Quebrou seus protestos.
VIII.
As loiras melenas
Dos olhos chorosos
Lhe aEisto , o lhe beijo
Os lábios mimosos.
Foi
% 2°6 y%
Irou-se o Frecheiro
De tal zombaria ,
E hum ferro vibrando
Assim me dizia :
Tu rombas , humano 3
Da mini ia querela ?
Pois como suspiro
Suspira por elUu
Paráfrase do Epigramma de MoscfiOé
O Amor Lavrador*
Feito Colono
Amor hum dia ,
J>í'hum torto arado
Dois bois prendia.
No braço esquerda
Tinha enfiado
Alvo cestinho
De azul tramado.
E em quanto alegra
Isto exercia ,
Aos Ceos olhando
Feroz dizia :
Se 71 a o me outorgas
Jove Potente
Farta colheita
Desta semente :
Por
& 209 M
GLOSA
Part. 11. O IU
M 210 #
II.
III.
O a Aial
Ainda depois de moito ,
Debaixo do frio cliaô ,
.Acharas teu nome escrito
Dentro do meu coração.
GLOSA.
t
Mar Tyrrheno (l) fendia
A nào de UJysses doloso, (2)
E no horisonte nubloso
Pouco a pouco se escondia :
Circe que em fúrias ardia
Brada assim do Hesperio (3) porto :
5> Uiysses , do Averno aborto ,
» Do meu mal naõ has de rir-ie ,
» Que liei-de buscar-te , e punir-te
» Ainda depois de morto.
II.
(1) O mar Tirrheno, o mar de Toscana.
• (2) Como talvez , haja , como já houve, quem repare
em ter dado a Uiysses o epitheto de doloso lembro-lhe que
Horácio L. I. Ode VI. diz.
Nec cursus duv lieis per maré U/y s sei
Onde o p;enit* duplieis naõ significa senaõ doloso , engano-
so etc. E Camões Lus. Cant. Xè Oit. 24.
Diw es -premies de Aiace merecidos
A' língua vã a de Uiysses fraudulento,
(5) Hesperio porto, entende-se porto da Itália, chamada
Ftesperia do Rei ílespero InnaÕ de Atlante.
ií.
III.
Na procella furibunda
A náo sem leme , sem mastros ,
Ora topeta nos astros ,
Ora no abismo se afunda.
De novo a Maga iracunda
Diz : » Teu mal seja infinito,
« Morre infame , e no Cocyto
» Para terror dos malvados
3j Na lista dos condemnados
» Acharás teu nome escrito.
IV.
ísfíf
gç 214 m
IV.
ÁQ
AO MESMO MOTE
I»
TP
A Ao bravo me tenho feito
Desde que lido com ligo ,
Q' ás veres mesmo conjmigo
Jogo o sôzo a teu respeito ;
Se for certo o que suspeito ,
Que tu namoras o Torto ,
Ou aqui, ou noutro porto
O tratante ha de pagallo ,
Que sou capaz de esganallo
Ainda depois de mortq.
II.
IV.
$v&
Succeda o que succeder
!Naõ hei de mudar de intento
Amar sem temer perigo
He maior merecimento.
H,
*E*lII,»'3K
III.
IV.
IV.
ENI*
•*£ 221 &
ENIGMAS , OU ADIVINHAÇOENS*
Ua , e crua me puzeraõ
Entre o fogo abrazador ,
Do tempo exposta ao rigor
Longos dias me tiveraõ :
A cor mudar me fizeraõ
Sobre pedra liza , e dura.
Hoje em quatro páos segura
Em continuas voltas ando ,
Até que extinta ficando
Mude de nome , e figura «
£í 222 )g
II.
III.
VIL
: :! * 1X-
&&U Ih P Nas-i
X.
$U&
XII.
XIII.
P A Ten*
XIV.
Se me chamaõ feminino ,
(Segundo certa patranha)
Posso o que pode o Destino :
Porém eu sou masculino
E a voz , que ninguém me estranha 4
Ou causa á gente alegria ,
Ou desgraças enuncia ;
E com meu nome na Espanha
Se affírma , nega ; e porfia.
m »9 y&
XVI.
XVII.
to
}% 23o )$
XVIII.
HEROIDE
Ser
Ser d' Ibérios Monarchas prole antiga 4
Girar teu Régio sangue em minhas veias ,
Naõ faz , qu' a $ua protecção consiga.
Mas
$ *33 $
Com*
Com tudo se meus olhos nao amasses ,
Nao deras á Naçaô tanto desgosto ,
E talvez qu' a mil sustos me poupasses.
F I M.
38Ç 237 yá
índice
IDTLLIOS,
CANTATAS.
MOs
gg 238 $
MONÓLOGOS.
!• A Laura. fi
II. ^ Lavram 76
CANÇÃO ^ .M^rsá*. S|
CANÇONETAS.
I. ^ immaculada Conceição da V. M. 85
II. A Arlnania.
IH. ^ JSfathercia*
IV, ^ Inalia* 10S
V. ^/ Jonia* 97
114
METAMORFOSES.
I. O Diamante*. l33
II« O Asinheiro* l3g
III. -^ Palmeira. 144
IV. O Suspiro, l5r
.Vi O &z/;o , e tf Doninha. l5S
"VI. ^ Toupeira. 16 $
YH, O Caracol, e a Maripoza 169
EPIGRAMMÁS. 177 até it%
EPISTOLAS.
H E R O I D E.