A cultura de pedir e oferecer ajuda
Quantas vezes você pede ajuda a um familiar, amigo, colega de trabalho ou desconhecido, ao longo de uma semana?
O que percebo, observando a mim mesma e às pessoas com quem já convivi e convivo, é que o “pedir ajuda” é considerado uma fraqueza e, oferecer ajuda como hábito pode levar o outro a entender que estamos sendo subservientes.
É claro que em cada país, cultura, grupo, equipe, haverá particularidades quanto a este tema.
Mas eu quero chamar sua atenção hoje a se autoperceber e notar se você não está se sobrecarregando ou ignorando o pedido de ajuda do outro por medo de parecer fraco ou subserviente.
A expressão “pedir ajuda” parece só ser aceita quando a pessoa chegou ao “fundo do poço”. Parece que só podemos pedir ajuda quando resta apenas a cabeça pra fora da areia movediça.
Porém, é preciso construir a confiança com colegas, amigos e familiares, para que ajudar, colaborar, perceber quando o outro precisa de ajuda seja algo comum. Se você exerce um papel de liderança, na sua família, no grupo de amigos, na sua equipe, vale empenhar-se em criar um ambiente de confiança, solidariedade, colaboração e reciprocidade, onde haja uma cultura do apoio mútuo.
Precisamos dos outros todos os dias
Se não aceitarmos ajuda enquanto estamos saudáveis, lúcidos, no começo dos projetos, será mais difícil fazê-lo quando estiver num momento de maior fragilidade ou pressão.
O padrão da maioria é esperar a doença para cuidar da saúde, é esperar o conflito para buscar a paz, é esperar o dia de entrega de um trabalho para buscar a solução, é viver e trabalhar em modo de emergência ou sobrevivência.
No entanto, todos os dias podem ser oportunidades para cultivarmos saúde, serenidade, bem-estar, desempenho, aprendizado. Ao invés de dedicar a mesma energia para combater a sobrecarga, a pressão, a doença, o mal estar. A energia gasta no primeiro processo é muito menor do que no segundo e você sofre menos prejuízos físicos, mentais e emocionais.
Se selecionar as pessoas, os grupos e os profissionais certos de cada área da sua vida, poderá construir uma comunidade em que cultivam a troca de conhecimento, experiência, reconhecimento e na qual poderão cultivar aquela reciprocidade e a confiança necessárias para que “pedir ajuda” seja rotina e que ninguém espere chegar ao fundo do poço para fazer isso.
Quantas pessoas você conhece que assumem o papel de super-heróis, trabalhando 16 horas, dormindo 5, comendo mal e não reservando tempo para o ócio? Seria você uma dessas pessoas?
Quantas faltas, licenças, afastamentos e quedas na produtividade terão que acontecer para que cada um de nós sejamos capazes de perceber melhor a nós mesmos e os outros?
O exercício que proponho a você é:
- Identifique, ao longo do dia, quantas vezes você se vê diante de desafios maiores do que o seu potencial de enfrentar.
- Depois de identificar, pense em que pessoas você confiaria para te ajudar neste desafio.
- Ouse pedir ajuda, mesmo que isso te faça sentir vulnerável. Como diz Brené Brown em seu livro “A coragem de ser imperfeito”: “a vida é vulnerável”.
- Observe se algum colega, amigo ou familiar precisa de ajuda. Os sinais nem sempre são tão claros.
- Desenvolva o interesse genuíno pelo outro. Afinal quando os outros estão bem, tendemos a estar também.
- Treine sua empatia para perceber os sinais de que o outro precisa de você e para saber quando ajudar o outro é mais relevante do que fazer o que você tinha programado.
- Ofereça ajuda. Respeite quando o outro não quiser sua ajuda. Mas mostre que você está disponível para ajudar, caso a pessoa mude de ideia.
- Identifique quando você está diante de um problema que precisa aprender a resolver sozinho.
- Identifique quando o outro precisa enfrentar seus desafios sozinho. E talvez até deixe claro para ele que você adoraria ajudar, mas que ele precisa passar por aquela experiência e vencê-la para aprender e desenvolver certa autossuficiência.
- Entenda os limites entre colaboração e autonomia, e que eles são diferentes para cada um.
- Cultive hábitos que mantenham uma boa saúde, nível de vitalidade, desenvolvam sua lucidez, clareza mental, autopercepção e percepção do outro.
Com este exercício diário, a intenção é ir construindo uma cultura se valorizam as emoções e os sentimentos como partes fundamentais de bons relacionamentos e melhor performance. Um ambiente em que haja confiança e reciprocidade, e todos fiquem à vontade para pedir e oferecer ajuda, e também receptivos a aceitar e retribuir, muito antes de perderem a força para lutar.
E para que isso aconteça será necessário seguir a recomendação de Brené e derrubar o mito de que “vulnerabilidade é fraqueza”. E aceitar que enfrentar a incerteza, o risco e a exposição emocional é a única maneira de viver com plenitude. E, para isso, “muitas vezes nossa primeira e maior ousadia é pedir ajuda”.
***Texto inspirado nos primeiros dois capítulos do livro A coragem de ser imperfeito, de Brené Brown.