Saúde

Frequência cardíaca no exercício é indicativo de risco de morte

Pesquisa brasileira descobriu relação entre recuperação cardíaca e taxa de mortalidade em pessoas com mais de 50 anos

Tabela mostra como fazer o cálculo do Gradiente de Frequência Cardíaca no Exercício, que pode ser utilizado como indicativo de risco de morte
Foto: Daniel Lima de Souza
Tabela mostra como fazer o cálculo do Gradiente de Frequência Cardíaca no Exercício, que pode ser utilizado como indicativo de risco de morte Foto: Daniel Lima de Souza

RIO - A frequência cardíaca (FC) é um dos indicativos mais estudados da fisiologia cardiovascular. Já se sabia, por exemplo, que aqueles com pulso baixo em repouso, com pulso alto no exercício e que recuperavam a FC com facilidade eram mais saudáveis. No entanto, nenhum estudo havia analisado o impacto dos índices em conjunto na saúde humana. Publicada na revista “European Journal of Preventive Cardiology”, uma pesquisa brasileira uniu as três variáveis e encontrou uma ligação importante entre o resultado dos testes e a taxa de mortalidade: pessoas com pequeno incremento ao exercício e taxa lenta de recuperação cardíaca têm 3 vezes mais chance de morrer prematuramente.

O estudo foi realizado pela brasileira Clinimex - Clínica de Medicina do Exercício -, com a colaboração de pesquisadores da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. Para encontrar a relação, os cientistas acompanharam um grupo de 1.476 pessoas com idade entre 41 e 79 anos e que não utilizavam nenhum medicamento que pudesse alterar o pulso.

Dois índices serviram como base para a pesquisa: FC de reserva, diferença entre o pulso máximo, durante o exercício, e o mínimo, em repouso; e FC de recuperação, diferença entre a frequência máxima em exercício e a frequência um minuto após o término da atividade. Eles chamaram a relação entre os dois índices de Gradiente de Frequência Cardíaca no Exercício (GFCE).

- Os resultados de cada uma dessas duas variáveis (FC reserva e FC recuperação) foram organizados em ordem numérica crescente e estratificados em quantis, de forma que os 20% menores correspondiam ao quintil 1 (Q1), com o Q5 englobavam os resultados 20% melhores - explica Claudio Gil Soares de Araújo, diretor médico da Clinimex e principal autor da pesquisa. - O escore do GFCE foi então calculado como a soma dos números dos quintis para as duas variáveis, entre GFCE 2 (Q1 e Q1) e GFCE 10 (Q5 e Q5).

A FC de reserva foi baseada nos seguintes padrões: Q1 entre 24 e 80 batimentos por minuto (bpm); Q2 entre 81 e 94; Q3 entre 95 e 104; Q4 entre 105 e 133; e Q5 entre 114 e 155. Já a FC de recuperação foi dividida em: Q1 entre 0 e 27 bpm; Q2 entre 28 e 33; Q3 entre 34 e 39; Q4 entre 40 e 45; e Q5 entre 46 e 87.

Após um acompanhamento médico de cerca de sete anos, 44 pessoas morreram por decorrência de problemas de saúde. A causa de morte não foi levada em consideração. Os pesquisadores então analisaram a relação da taxa de mortalidade com os resultados da FC. No GFCE 10, grupo com maior desempenho, o índice de mortalidade foi de 1,2%, e subiu para 13,2% no GFCE 2, de pior resultado cardíaco.

- Em uma análise ajustada por outras variáveis, os indivíduos com GFCE 2 tiveram uma taxa de mortalidade por todas as causas de 3,53 vezes maior do que os outros grupos - ressalta Araújo.

Além de apontar um método mais fácil e rápido para a análise do risco de morte, o GFCE também ajuda a desmitificar as tabelas de FC que são utilizadas como base em academias.

- As tabelinhas de frequência máxima em academias, que relacionam idade e pulso, não devem ser usadas como base - diz Araújo. - Não é um sinal de problema se o pulso passa do aceitável na tabela. Na verdade o que deve ser medido é a diferença entre o pico, o repouso e a frequência de recuperação. Você pode passar do “limite aceitável” e estar mais saudável do que pensa.

No entanto, a conta não deve ser utilizada como fator determinante de morte prematura, diz Araújo:

- Mas se a pessoa não tirou nota 10 no GFCE, ela não está condenada a morrer. Ela apenas tem 2 a 3 vezes mais chance disso acontecer, é um indicador de risco. Mas pode ser que ela viva mais do que os que tiveram melhor resultado cardíaco se procurar a orientação de um médico e se cuidar - explica. - O grande ganho é que esse é um indicativo simples e acessível, basta apenas o uso do frequencímetro e de um teste de esforço,e traz uma indicação muito prática e importante sobre o futuro da pessoa.