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Premier húngaro Orbán elogia Bolsonaro: 'Mais apta definição de democracia cristã moderna'

Em ofensiva anti-imigração, ele defendeu aliança com ultradireita da Itália e da Polônia para tentar maioria nas eleições do Parlamento europeu
Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro cumprimenta primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, em Brasília Foto: MARCOS CORREA/Presidência do Brasil / AFP
Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro cumprimenta primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, em Brasília Foto: MARCOS CORREA/Presidência do Brasil / AFP

BUDAPESTE — Ao endossar publicamente a formação de uma aliança de ultradireita para as eleições do Parlamento europeu, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, não economizou críticas à França e à Alemanha e despejou elogios a governos europeus anti-imigração. Ele projetou um suposto futuro choque entre duas civilizações no continente: uma que se apoie na mistura de muçulmanos e cristãos e outra apenas cristã, na Europa Central. Mas o líder de Budapeste, que vê a migração como "a mais importante questão do futuro" europeu, apontou um exemplo de fora do continente.

— A mais apta definição da democracia cristã moderna pode ser vista no Brasil, e não na Europa — ressaltou Orbán, em entrevista a jornalistas, em Budapeste.

Um dos chefes de Estado e governo que prestigiaram a posse de Jair Bolsonaro em Brasília, Orbán destacou na entrevista a semelhança da visão dos dois sobre a imigração. O húngaro frisou que o tema "aproximou atores políticos de pensamento similar, mesmo se eles vivem em diferentes continentes". A Hungria de Orbán também foi citada no discurso de posse do chanceler Ernesto Araújo, que a mencionou entre as "nações amadas", junto com Israel, Itália e Polônia.

Orbán, da mesma forma, ressaltou ter "grande esperança" na construção de uma aliança com Itália e Polônia, cujos governos também endureceram o discurso sobre o acolhimento de estrangeiros. O líder húngaro chegou a classificar o vice-premier italiano Matteo Salvini como "meu herói". A entrevista ocorreu nesta quinta-feira, um dia depois de Salvini visitar a Polônia de olho na cooperação de eurocéticos para o pleito de maio.

Conhecido pelo ultranacionalismo e posições contra a imigração, o primeiro-ministro húngaro Orbán é uma das principais vozes da extrema direita europeia. Em novembro, o premier, que define o seu regime como uma "democracia iliberal" — de exaltação nacionalista e limitação das liberdades individuais e das instituições de controle do governo — conversou com Bolsonaro ao telefone.

A imigração tem sido a principal bandeira política de Orbán desde 2015, quando foi o primeiro líder no continente a adotar medidas extremas contra a imigração. Ele construiu uma cerca de arame farpado ao longo da divisa sul da Hungria, enquanto milhares de refugiados sírios chegavam às fronteiras da Europa. No ano passado, a Hungria aprovou uma lei que pune indivíduos ou grupos que ofereçam ajuda a imigrantes.

Depois da conversa, Bolsonaro rebateu as críticas a Orbán, que ordenou o fechamento das fronteiras húngaras durante a crise migratória causada pela guerra na Síria, em 2015. Na ocasião, o presidente brasileiro comparou a situação dos refugiados na Europa com o Brasil, que aprovou em 2017 nova lei sobre o tema.

— Eu fui contra à última lei de imigração nossa, que transformou o Brasil em um país sem fronteiras. Não podemos admitir a entrada indiscriminada de quem quer que seja aqui simplesmente porque quer vir para cá. Essa questão de imigração desordenada a Europa toda está sofrendo — ressaltou Bolsonaro.

O premier húngaro enquadra-se nos dirigentes ditos "antiglobalistas", para os quais instituições internacionais buscam interferir indevidamente na soberania dos países, e integra um novo eixo ultraconservador que toma forma no Ocidente, incluindo o vice-premier italiano Salvini, o presidente tcheco, Milos Zeman, o presidente da Polônia, Lech Kaczynski, e o presidente americano, Donald Trump.

Antes de tomar posse em Brasília, o governo de Jair Bolsonaro anunciou que retiraria o Brasil do Pacto Global de Migração da ONU. Hungria e Estados Unidos, por exemplo,  também não aderiram ao pacto. O argumento do chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, é de que a imigração deve estar "a serviço dos interesses nacionais e da coesão de cada sociedade". Bolsonaro diz que o Brasil "jamais recusará ajuda aos que precisam", mas o fará com critérios na soberania nacional e na realidade de cada país.

Na entrevista coletiva desta quinta-feira, Orbán driblou as questões sobre corrupção — um dos temas-chave da campanha de Bolsonaro. Ele ressaltou que não se envolve em assuntos de negócios e se recusou a comentar o repentino enriquecimento de amigos e parentes.