De Bruxelas para o Porto. A eurodeputada Marisa Matias, dirigente bloquista e antiga candidata presidencial pelo partido, prepara-se para se estrear no Parlamento português. Pelo menos, é o seu nome que encabeça a proposta de lista de candidatos a deputados que vão concorrer pelo Porto às eleições legislativas marcadas para dia 10 de março, apurou o Observador.

A saída de Marisa Matias de Bruxelas já estava definida há muito e não tem a ver com estas eleições, uma vez que, muito antes de rebentar a inédita crise política que acabou com o Governo de António Costa, a eurodeputada tinha avisado que não continuaria no Parlamento Europeu. Ao Observador, em maio, confirmava que o único plano que tinha era “não ser candidata”, fechando um ciclo de três mandatos em Bruxelas. O futuro logo se veria: “Ainda não sei o que vou fazer, se volto ao meu passado da investigação científica, pode ser uma hipótese. Ou outra coisa que não tenha nada a ver com isso”.

Ainda assim, a eurodeputada — que voltou a ser eleita para a Comissão Política do Bloco — assegurava então que continuaria a “fazer política na mesma”. Meio ano depois, a oportunidade de fazer política (muito) ativa chegou — e o Bloco quer aproveitar a aceleração do calendário, e a aproximação do final do mandato de Matias (termina em junho), para aproveitar um possível trunfo eleitoral e colocar a dirigente, pela primeira vez, no Parlamento nacional.

Apesar de o último resultado como candidata presidencial, em 2021, ter sido fraco (não passou dos 3,95%), na memória dos bloquistas continua bem viva a campanha presidencial de 2016, com que Marisa deu ao Bloco um histórico resultado de 10%.

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A dirigente continua a ser, de resto, acarinhada e valorizada no partido, que considera que a sua notoriedade e a facilidade no contacto com os eleitores, na rua, podem ser ativos fundamentais numa campanha em que o Bloco precisa de mostrar que consegue recuperar, após a hecatombe eleitoral de 2022, em que perdeu 14 deputados. Os primeiros passos estão a ser dados e a lista do Porto, proposta pela coordenação da distrital, será votada pelos militantes já na noite deste domingo, para que a preparação da campanha possa arrancar em força.

Dirigentes do núcleo duro concorrem por Lisboa

Em Lisboa, como seria de esperar, a cabeça de lista volta a ser Mariana Mortágua, desta vez a estrear-se numas listas — e numa campanha — como líder do partido. Ainda assim, o resultado da votação da lista lisboeta, que aconteceu na semana passada, trouxe algumas mexidas logo nos primeiros lugares, a começar pela saída do atual líder parlamentar, Pedro Filipe Soares.

Num artigo no Público, o dirigente bloquista justificou a decisão com a ideia de este ser um “momento de transição” e um “tempo de renovar”, de “cumprir o preceito republicano de que a representação pública tem um tempo limitado” e “dar o lugar a outros”. No Bloco, onde se assegura que a decisão foi pessoal, interpreta-se a saída também como um sinal maior desses tempos de mudança e de renovação no partido.

Pedro Filipe Soares e Catarina Martins foram eleitos deputados pela primeira vez há catorze anos, na legislatura que decorreu durante o segundo mandato do Governo de José Sócrates. O Bloco quererá assim mostrar que a renovação geracional que sempre foi prometendo assegurar continua a acontecer, como aconteceu no final da liderança de Francisco Louçã, que levou progressivamente à saída dos deputados que se tinham sentado com ele no Parlamento (à exceção de José Soeiro, que continua a manter-se como o deputado mais antigo do Bloco — entrou em 2005 — mas quase sempre em legislaturas interrompidas, ou em que esteve a substituir colegas de partido ou precisou de suspender o seu mandato — recentemente fê-lo para se dedicar durante alguns meses à academia).

Ainda assim, os nomes cimeiros da lista de Lisboa mostram uma preocupação maior com apresentar uma lista com experiência e conhecimento das campanhas do que com trazer caras novas. Fabian Figueiredo, que concorrerá em segundo lugar, faz parte do órgão de direção mais restrito do Bloco (o secretariado), dirigiu a campanha do Bloco na Madeira e já integrou as listas do partido ao Parlamento, mas só foi deputado em substituição de Pedro Filipe Soares quando este foi pai.

Já Jorge Costa, que segue em terceiro lugar (um lugar que o Bloco não conseguiu conquistar nas últimas eleições), é outro dos dirigentes do topo do Bloco e conhece bem os corredores do Parlamento, tendo estado diretamente envolvido nas negociações da geringonça. Tanto Fabian Figueiredo como Jorge Costa tinham, em 2022, abandonado as listas do Bloco anunciado que se dedicariam à “construção” do partido e ao seu “enraizamento” junto dos militantes, numa eleição que já então se previa dramática para o partido.

Na lista de Lisboa encontra-se também o nome de Anabela Rodrigues, mediadora cultural e ativista de 47 anos que faz parte da direção da associação Solidariedade Imigrante (para a defesa dos direitos dos imigrantes), e Leonor Rosas, que já nas últimas eleições fazia parte do topo da lista de Lisboa e dos principais órgãos do partido.