Uma exposição que cruza produção artística e literária de Júlio Pomar (1926-2018) com outros artistas, destacando as múltiplas conexões com a contemporaneidade vai ser inaugurada na sexta-feira no Atelier-Museu Júlio Pomar, em Lisboa.

“Guardar os olhos no bolso” é o título da mostra com curadoria de Eduardo Matos e André Cepeda, desenvolvida em colaboração com o Inland Journal – publicação independente dedicada aos textos de artistas, lançada há oito anos pelos curadores -, e que ficará patente até 18 de junho, segundo a organização.

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Nesta exposição serão apresentados os “34 Inland” já publicados, e será lançada a edição n.º 35, com um texto inédito de Pomar, artista que deixou uma importante obra escrita que o Atelier-Museu vem publicando desde o início da sua atividade, em 2013.

A mostra “destaca a importância dos textos de artistas, reconhecendo-os como veículo indispensável das suas vozes próprias, sem interferência ou crivo de mediação, e estabelece um paralelo com a vertente escrita da obra de Júlio Pomar”, indica um texto da curadoria.

Apropriando um excerto do projeto Mácula, de Aida Castro e Maria Mire para o Inland Journal 3, o título da exposição, “Guardar os olhos no bolso”, remete também para o livro que Júlio Pomar escreveu na década de 1980, “Cegueira dos Pintores”.

“A expressão traduz a ideia de que, para ver, para ir além da aparência e perscrutar o invisível, trazendo e ficcionando mundos alternativos àquele que conhecemos, é necessário fechar os olhos e sondar o interior”, explica a diretora do Atelier-Museu Júlio Pomar, Sara Antónia Matos, citada no comunicado sobre a nova mostra.

Entre cervejas e bifes, o painel de azulejos que é a última obra de Júlio Pomar

Transformando o espaço expositivo num local de consulta e de leitura e mostrando, em simultâneo, objetos e imagens referenciados em várias edições do Inland, a exposição constitui um projeto coletivo que inclui os artistas que colaboraram no jornal.

A mostra também pretende “desafiar as metodologias do museu, fazendo repensar modelos de atuação, apresentação e representação”, questionando “a própria epistemologia museológica, desconstruindo os seus códigos”, acrescenta a curadoria.

O Inland 35, com um texto de Júlio Pomar nunca publicado, parte de um corpo de escritos e reproduções fotográficas enviado de Paris para o Serviço de Belas-Artes da Fundação Calouste Gulbenkian, entre 1964 e 1966, período durante o qual o artista foi bolseiro. O lançamento da publicação será feito durante o tempo da mostra.

A exposição congrega obras de Aida Castro e Maria Mire, Associação Amigos da Praça dx Anjx, Cristina Mateus, Fernando José Pereira, Francisca Carvalho + Paulo T. Silva, Horácio Frutuoso, Isabel Baraona, João Fonte Santa, João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira, Missing Artist Foundation, Nuno Ramalho e Pizz Buin, além do próprio Júlio Pomar.

Atelier-Museu Júlio Pomar recebeu 7.536 visitantes em Lisboa e 15.000 no Côa em 2018

Alguns artistas realizaram novas obras para o espaço, e outros encontram-se representados na exposição através de imagens e objetos divulgados em algumas das edições do Inland Journal.

O ciclo de performances começa na sexta-feira, às 18h30, com Ana Deus, e continua a 19 abril, com Nuno Marques Pinto, a 27 maio, com Rebecca MorãdAlizãdeh, e 2 de junho, com António Caramelo, sempre à mesma hora.