Antes de Timothe Chalamet, ou do jovem DiCaprio dos anos 90, existiu outro jovem de rosto angelical que conquistou o mundo, Björn Andrésen, o garoto de 15 anos escalado pelo diretor italiano Luchino Visconti como a personificação da beleza e da tentação no filme Morte em Veneza e que virou refém da indústria cinematográfica e de uma legião de fãs pelo mundo que extraíram dele tudo o que puderam antes de devolvê-lo à vida real novamente. Andrésen se tornou Sex Symbol com 15 anos e uma estrela de cinema, mesmo contra sua vontade.

O filme, adaptação cinematográfica da obra Morte em Veneza, de Thomas Mann, contava a história de um compositor doente, já perto da morte, mas que durante umas férias encontra um jovem com uma beleza de tal forma arrebatadora que é capaz de o rejuvenescer.

Morte em Veneza pode ter sido considerada uma obra-prima cinematográfica, mas significou apenas o começo da ruína para o jovem ator sueco, que agora na casa dos 60 anos, ainda paga o custo de sua fama precoce, conforme contado no documentário O Garoto mais Bonito do Mundo.

La fealdad de ser el chico más bello del mundo

O roteiro começa com uma sequência absurda de cenas que explicam o restante dos fatos. As imagens motram o diretor Visconti, a procura de seu pupilo, analisando jovens garotos em escolas, tirando fotos em close de seus rostos e julgando suas aparências. Mas o que era ruim fica pior quando Björn com 15 anos, entra na sala de audição, incentivado por sua avó. O diretor maravilhado com sua beleza, faz com que o jovem garoto, que acabou de conhecer, fique seminu na frente da câmera e de outras pessoas na sala, sem a presença de um responsável. Aqui a narrativa deixa claro que o que está por vir é ainda mais tenso e grave.

A exploração que viveu em Morte em Veneza o afetou tanto que mudou completamente sua vida. O que sofreu nos bastidores do filme o levou ao abuso de álcool que o acompanhou nos piores momentos da vida, inclusive na tragédia que levou seu filho, que inclusive morreu ao seu lado quando estava sob o efeito da bebida.

Björn nunca soube quem foi seu pai, perdeu a mãe cedo, ficou sob os cuidados de uma avó narcisista e um dos seus bens mais preciosos, a juventude, lhe foi roubada de um dia para o outro. O ainda jovem ator, enfrentou uma vida de consequências, que mais tarde o tornaria um homem negligente consigo mesmo e conformado com a tristeza eterna. Ainda que tenha pessoas que o querem bem por perto, ele parece não saber o que fazer com esse amor, afinal, não se sente digno dele.

Apesar de tudo, Björn não entende a gravidade do que viveu, a maior prova é a cena em que conta para a namorada que tomava pílulas vermelhas desconhecidas antes de alguns trabalhos para se sentir mais disposto, ela chora ao ouvir o relato, mas ele diz “já passou, já foi”. Björn já teve tempo o suficiente para remoer todos os detalhes bizarros por trás de sua carreira, falar deles é como tratar de algo normal, que esteve sempre com ele.

Com uma trilha tensa que potencializa a tensão da trajetória de Björn, o documentário respeita o espaço do ator, e capricha na fotografia emocional. Destaque para a cena final, significativa e íntima que com uma montagem incrível representa o perdão de Bjorn consigo mesmo, e resume toda sua trajetória.