Testemunhos de um jovem prostituto e de uma empregada doméstica, bem como registos telefónicos, levaram os juízes do processo Casa Pia a concluir que os arguidos Jorge Ritto e Ferreira Diniz se conheciam antes do julgamento, o que ambos sempre negaram, informa a Lusa.



No acórdão na íntegra entregue esta segunda-feira aos advogados, os juízes afirmam claramente na secção dedicada aos factos provados que «o arguido Ferreira Diniz conhecia o arguido Jorge Ritto».

Uma das razões para chegarem a esta certeza foi o testemunho de um jovem que admitiu ter mantido uma relação de natureza sexual com o embaixador Jorge Ritto, vivendo na sua casa e viajando inclusivamente algumas vezes para Paris, onde o diplomata estava colocado, ainda antes de fazer 18 anos.

O mesmo jovem, que assumiu prostituir-se no Parque Eduardo VII, afirmou ter sido «abordado» por Ferreira Diniz quando ainda mantinha contacto com Jorge Ritto. No seu depoimento, Ferreira Diniz afirmou que tinha sido médico do jovem e do seu pai, negando ter tido com ele qualquer contacto sexual.

«Durante o ano de 2001 quer o arguido Jorge Ritto quer o arguido Ferreira Diniz contactavam com coincidência de meses, portanto ao mesmo tempo, com a testemunha [...] e esta contactava os arguidos», lê-se no acórdão.

A existência de registo de três chamadas da clínica de Ferreira Diniz para Jorge Ritto e uma do embaixador para o consultório do médico, aliada ao testemunho de uma empregada doméstica do médico que disse ter visto o embaixador em sua casa por mais do que uma vez, ajudaram a cimentar a convicção do tribunal.

Ferreira Diniz tentou durante o julgamento «abalar a credibilidade» da empregada doméstica, alegando que teria sido despedida depois de desaparecerem coisas de sua casa, mas o tribunal não teve a impressão de que esta agisse «numa atitude de vingança para com o arguido».